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O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental

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Page 1: O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental

Laura Romeu Behrends

O MOVIMENTO AMBIENTALISTA COMO FONTE MATERIAL DO

DIREITO AMBIENTAL

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O MOVIMENTO AMBIENTALISTA COMO FONTE MATERIAL DO DIREITO AMBIENTAL

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ChancelerDom Dadeus GringsReitorJoaquim ClotetVice-ReitorEvilázio Teixeira

Conselho EditorialAna Maria Lisboa de MelloArmando Luiz BortoliniBettina Steren dos SantosEduardo Campos PellandaElaine Turk FariaÉrico João HammesGilberto Keller de AndradeHelenita Rosa FrancoJane Rita Caetano da SilveiraJerônimo Carlos Santos BragaJorge Campos da CostaJorge Luis Nicolas Audy – PresidenteJurandir MalerbaLauro Kopper FilhoLuciano KlöcknerMarília Costa MorosiniNuncia Maria S. de ConstantinoRenato Tetelbom SteinRuth Maria Chittó Gauer

EDIPUCRSJerônimo Carlos Santos Braga – DiretorJorge Campos da Costa – Editor-Chefe

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LAURA ROMEU BEHRENDS

O MOVIMENTO AMBIENTALISTA COMO FONTE MATERIAL DO DIREITO AMBIENTAL

Porto Alegre, 2011

Page 5: O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental

© EDIPUCRS, 2011

Daniel Motta Behrends

do Autor

Rodrigo Valls

B421m Behrends, Laura Romeu O movimento ambientalista como fonte material do direito ambiental [recurso eletrônico] / Laura Romeu Behrends. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : EDIPUCRS, 2011. 87 p.

Publicação Eletrônica Modo de Acesso: <http://www.pucrs.br/orgaos/edipucrs/> ISBN 978-85-397-0117-9 (on-line)

1. Direito Ambiental. 2. Movimentos Sociais. 3. Proteção Ambiental. I. Título.

CDD 341.347

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem como a inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a 110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

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Dedico esta obra aos meus pais, tios e avós que tanto apoiaram e incentivaram o meu crescimento profissional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus toda iluminação. Agradeço o meu tio José Alfredo, pelo conselho de cursar Direito, o ambientalista Augusto Car-neiro, por ter me emprestado a maioria dos livros para a realização deste trabalho, o amigo Rogério Mongelos, por todos os conselhos, e o Professor Doutor Orci Bretanha Teixeira, pela sua orientação.

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SUMÁRIO

Prefácio..........................................................................................9

1. APRESENTAÇÃO........................................................................10

Canção do exílio.........................................................................13

2. HISTÓRIA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA.....................142.1 Período colonial brasileiro......................................................142.2 A evolução de um pensamento..............................................152.3 1970, o ano das modificações de atitudes.............................172.4 Estocolmo, primeiro marco internacional...............................182.5 Agapan...................................................................................212.6 1980, a década da conscientização ecológica.......................222.7 Rio 92, segundo marco internacional.....................................282.8 COP 3 e o Protocolo de Kyoto..............................................292.9 Século XX, o período da inércia............................................30 2.9.1 Rio + 10, terceiro marco internacional....................31

O dia da Terra, o Grito da Terra...............................................34

3. O MOVIMENTO SOCIAL........................................................353.1 A reflexão do homem diante do desconhecido......................353.2 O início do movimento social brasileiro – 1970:.......................373.3 O mundo unido, 1970; Estocolmo, primeiro marco internacional..403.4 Ano de 1980, a campanha ambientalista não para................453.5 Constituição Federal brasileira de 1988................................493.6 Reflexão e interesse: Rio 92, segundo marco internacional...513.7 Século XXI, período neutro....................................................54

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Juramento de Henrique Luiz Roessler....................................58

4. LEIS, O MANIFESTO SE CONSUMA.....................................594.1 Brasil, período colonial..........................................................594.2 Anos de 1970: o caos virou lei...............................................614.3 As diretrizes pós-Estocolmo...................................................634.4 Década de 1980: novos rumos, novas perspectivas................674.5 Década de 1990: prudência X progresso..............................714.6 O futuro do meio ambiente após a Rio 92.............................724.7 Século XXI: o ontem é a consequência do hoje....................75

5. CONCLUSÃO..........................................................................79

REFERÊNCIAS...........................................................................81

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PREFÁCIO

Devido às grandes modificações climáticas em nosso planeta, fi-camos preocupados em como lidar com elas, o que está ocasionando tantas catástrofes e grandes alarmes, partidos em várias sociedades. É necessário sabermos quando e onde tudo começou, na história do Direito Ambiental, para conseguirmos entender os grandes prejuízos – e quan-do começaram a gerar grandes repercussões – e através disso, revertê-los, podendo lidar da melhor maneira possível com a presente situação. O movimento ambientalista inspira o sentimento de um povo re-voltado com empresas que a cada dia abrem as portas e poluem cada vez mais o meio ambiente, sem culpa, sem remorsos, muitas vezes sem ter consciência das consequências de seu ato, pautado em um desejo de soberania.

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1. APRESENTAÇÃO

O meio ambiente pede socorro. O homem observa a natureza e não se reconhece nela, a ponto de destruí-la sem culpa. Precisamos da natureza para sobreviver, dela tiramos nosso sustento, tanto na alimen-tação quanto no social. A natureza é a fornecedora primária dos recursos essenciais para o desenvolvimento de qualquer projeto. Através dela, conseguimos o dinheiro para continuarmos crescendo; desmatamos para desenvolver o potencial da sociedade. Quando olhamos para o passado e vemos grandes erros da hu-manidade, ficamos horrorizados, mas logo justificamos, dizendo que a sociedade não era desenvolvida, ainda não possuía um conhecimento, um amadurecimento para tudo que colocava em prática, por isso os erros, as ignorâncias. Mas e hoje, quando os erros ainda persistem, e, às vezes, até mais graves? Será que a sociedade ainda não aprendeu com o erro do passado? Com as consequências atuais, percebemos, o crescimento, a ga-nância, sempre por mais e mais, persistem; todos se solidarizam quando toneladas de peixes morrem nos rios, mas ninguém faz nada quando mais uma indústria abre as portas e começa com mais uma poluição atmosférica. Parece que precisamos de números, de situações catastróficas, para con-seguirmos refletir sobre esse absurdo e tentar mudar uma realidade provo-cada por nós, que se tornou uma prática cultural e que hoje é fundamental para nossa rotina. Não enxergamos outra solução, outro exercício que não seja desmatar, construir, progredir e, finalmente, obter o retorno: milhões de reais. Apenas paramos para pensar em outra proposta quando a natureza reage de forma negativa ao nosso ato, caso contrário prosseguimos sempre em linha reta sem olhar para outros horizontes. Desta maneira, onde o mundo vai parar? É uma pergunta diária de qualquer homem, um pouco sensível, em relação a tudo o que está acontecendo. Por sorte, não são poucos os que se revoltam e lutam por justiça, por dias melhores. É nestes passos que o movimento ambien-talista se desenvolveu, criou raízes e, hoje, tanto jovens como adultos, protestam para que a natureza seja protegida e suas, raridades preser-vadas. Um exemplo disto é o Greenpeace, e tantas outras ONGs, com propostas incríveis para a preservação da natureza.

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Todo esse evoluir está sendo possível porque a sociedade está presente constantemente na busca da harmonia, da evolução de todo um contexto social. Conforme Toennies, “sociedade é o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vínculo associativo, um interesse comum impossível de obter-se pelos esforços isolados dos indivíduos”. Para que todo o objetivo seja alcançado é ne-cessária uma estrutura fundada em propósitos positivos. A interpretação organicista da sociedade pode ser explicada por duas teorias, a teoria orgânica e a teoria mecânica; através delas, obtêm-se respostas e so-luções para problemas passados, possibilitando-nos lidar positivamente com fatos futuros, sem a criação de barreiras para a evolução. Através da sociedade criamos os movimentos sociais, que repre-sentam a luta constante de um povo em busca de melhorias para toda a humanidade, porque a sociedade é forma e ordem, ou seja, a base para que a comunidade consiga atingir os objetivos propostos. Tudo que é importante para a sociedade vira lei, por isso, desde 1916, com o Código Civil Brasileiro, já apresentava sinais de preocupa-ção com o meio ambiente, dispondo no seu antigo Artigo 5841 sobre “a proibição de construções capazes de poluir ou inutilizar para o uso ordi-nário a água de poço ou fonte alheia”. Nesta época ainda não se falava em ambientalistas, mas sim em ecologistas; eram pessoas preocupadas com os maus-tratos dados aos animais. Os primeiros ecologistas são dos EUA. Não havia um defensor global, mas sim grupos, cada um com tipos de defesas diferentes. Os que protegiam a vegetação, os que pro-tegiam os animais, os que protegiam a água. Como a matéria não se desenvolveu de maneira global, o Código Civil de 1916 a apresentava de forma não aprofundada nem específica, porque o tema ainda não alcançava as proporções que hoje se tem. Por ser vista como infinita, a natureza era usada de qualquer forma; não se tinha cuidados específicos para a utilização dos recursos, árvores eram cortadas sem ser repostas, animais eram mortos por hobby de caçadores, as poluições de fábricas não eram medidas, não havia controle. Para que uma fiscalização se o bem é interminável? Não existia essa necessidade. O movimento ecológico é aquele responsável pela melhoria da qualidade de vida da geração presente, e pela garantia desta para as gerações futuras. “Foi através deste pensamento prático que na década 1 Constituição Federal, Código Civil e Código de Processo Civil. 8ª. Edição. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007.

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de 20”,2 foi criado por um órgão federal, o Serviço Florestal, para que houvesse a conservação da natureza. Esse foi um marco histórico por-que, a partir dele, foram originados outros movimentos, proporcionando a criação de novas instituições, possibilitando a conscientização de novas pessoas rumo à preservação ecológica. A Sociedade de Amigos das Árvo-res é um exemplo disto. Criada em 1930 por Alberto Sampaio, essa socie-dade convocou a primeira conferência brasileira de proteção à natureza. Ao passo do desenvolvimento, várias instituições governamentais e não governamentais foram criadas em prol do meio ambiente. Mas o que unificou todo o movimento foi o Roessler.3 Conforme Augusto Carnei-ro, ambientalista gaúcho, ele é o fundador da ecologia política no Brasil. Uma de suas frases de grande impacto foi “a história universal comprova que os povos que se desfizeram de seus recursos naturais, cujo maior é a floresta, empobreceram, se tornaram escravos e desapareceram do mundo”.4 Ele nos quis dizer, com essas sábias palavras, que, quando o homem desmata, justificando o ato por causa do progresso, ele está se matando, porque se for destruído o essencial, o complemento fica de fora. O caminhar que fizemos no passado é o mesmo do presente, não regredimos em nada, pelo contrário, cada vez mais andamos acele-radamente para frente; a tecnologia nos fascina, o desenvolvimento nos persegue. Esse pensar não é errado, porque o ser humano é curioso, mas devemos utilizar toda a nossa racionalidade prudentemente, e isso começa a se tornar presente quando a natureza se manifesta mostrando ao homem seu caminhar torto.

2 MARCONDES, Sandra Amaral. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005.3 CENTENO, Ayrton Roessler: O primeiro ecopolítico. Porto Alegre: JÁ, 2006.4 Entrevista Augusto Carneiro.

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Canção do exílio Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabiá;As aves que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabiá.

Minha terra tem palmeiras,Que tais não encontro eu cá;Em cismar – sozinho, à noite –Mais prazer encontro eu lá;Minha terra tem palmeiras,Onde Canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu’inda aviste as palmeiras,Onde canta o sabiá.5

5 DIAS, Gonçalves. Coleção Nossos Clássicos. Poesia. 9. Rio de Janeiro: Agiar, 1979 p.11.

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2. HISTÓRIA DO MOVIMENTO AMBIENTALISTA:

2.1 – Período colonial brasileiro:

A formação cultural do Brasil é consequência da colonização por-tuguesa; a percepção que se tinha era de uma natureza infinita; perante essa ideia, iniciou-se o processo de exploração territorial. Sem ter pre-ocupação com os outros habitantes da região, tais como passarinhos, araras, coelhos... a natureza foi degradada e transformada. Essa base negativa influenciou as futuras gerações brasileiras, porque continuam desmatando e desrespeitando todo um ecossistema, com o intuito de proporcionar a todos melhores condições de vida, gerando empregos e lucros para o governo.

A maior parte da agressão contra a Natureza, em todo o mundo, tem origem na exploração irracional da ter-ra, que começa com a apropriação injusta e a do Bra-sil é a mais injusta de todas.6

O deslumbramento de conhecer uma nova terra e explorar suas riquezas encantou demais os velhos aventureiros, a ponto de anularem os moradores das terras e se intitularem donos,7 para terem a possibili-dade de explorar sem medo do revés. A ignorância era tanta que tinham a plena convicção de que a natureza renascia: a cada árvore cortada, outra surgia naturalmente. Os colonizadores não conheciam a terra, nem tiveram a chance de conhecê-la.

6 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.100. 7 Em 22 de abril de 1500 chegavam ao Brasil 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. À primeira vista, eles acreditavam tratar-se de um grande monte e chamaram-no de Monte Pascoal. No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil. Após deixarem o local em direção à Índia, Cabral, com a incerteza de que a terra descoberta era um continente ou uma grande ilha, alterou o nome para Ilha de Vera Cruz. Após exploração realizada por outras expedições portuguesas, foi descoberto que se tratava realmente de um continente, e novamente o nome foi alterado. A nova terra passou a ser chamada de Terra de Santa Cruz. Somente depois da descoberta do pau-brasil, ocorrida no ano de 1511, nosso país passou a ser chamado pelo nome que conhecemos hoje: Brasil. SUA PESQUISA disponível em: <http://www.suapesquisa.com/historia/descobrimentodobrasil/> Acesso em: 20 Ago. 2009.

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2.2 – A evolução de um pensamento:

No século XVII, a preocupação com a natureza já se estabelecia, porque através dela era possível observar as mudanças de todo um meio físico. O desmatamento descontrolado era uma das transformações mais visíveis, pois é capaz de mudar todo um ciclo de vida de uma determinada região; pássaros migram por não ter mais seus ninhos, consequentemente, toda uma cadeia alimentar a partir das aves se modifica por não encon-trar mais, naquela região, o que dependia para sobreviver. Neste período, não existia uma estimativa das consequências dos atos praticados, por isso estudiosos, notando as modificações, se dedicam ao tema ambiental. No Brasil, Frei Vicente Salvador é um destes, com o seguinte pensamento:

Pois o pau-brasil não era uma árvore qualquer, mas sim o primeiro elemento da natureza brasileira, possí-vel de ser explorado em larga escala, para benefício do mercantilismo europeu.8

O melhor que o homem pode fazer, para seu benefício, é preser-var o que é seu, é evoluir, se desenvolver, para que seus atos não se tornem catástrofes futuras. A natureza possui características próprias; se não fosse o homem com rapidez modificá-la, ela própria se transformaria por causa dos efeitos naturais criados por ela mesma. O ser humano agiu rápido, com derrubadas de árvores, com queimadas, aterramento de banhados, fez surgir num breve espaço de tempo uma natureza sem vida. Onde havia pássaros, agora só restavam campos imensos. Devido à grande derrubada de árvores eles rumaram em busca de um habitat parecido com o anterior em que viviam.

Em 1939, no auge da navegação fluvial no Rio Grande do Sul, um desconhecido funcionário da Capitania dos Portos, setor do Rio dos Sinos, São Leopoldo, Henri-que Luis Roessler, começou a se interessar pela defe-sa da Natureza, de forma pioneira no Brasil, intervindo na caça, pesca, desmatamento, poluição e fazendo Educação Ambiental através de boletins.9

8 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 22.9 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.15.

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A terra modificada possibilitou que a agricultura se apossasse do espaço, virando grandes campos de plantações; para que a semente vin-gasse eram utilizadas substâncias químicas, pois eram muito eficazes no combate a pragas de insetos, devido ao alto índice de desequilíbrio am-biental. Animais antes importantes para a biodiversidade10 começaram a se tornar uma ameaça, e atitudes como criações de venenos, principal-mente o DDT,11 foram utilizadas no combate de enfermidades. Tornou-se uma atitude perigosa a utilização de venenos nas plan-tas, mas ao mesmo tempo decisiva para o homem; caso não combates-se as pragas, morreria por causa delas. O surto de mosquitos causador da malária foi uma epidemia mundial e até hoje existente na África.

Se antes era motivo de preocupação, virou realidade. A vida se modificou com preventivos de pragas na na-tureza, acabando com certas espécies de vida animal. O homem também sente esses maléficos efeitos que ele mesmo compôs. Almejando lucros, destruiu a na-tureza e alterou seu mundo.12

Durante o século XX, o mundo viveu uma fase de crescimento, em que o desmatamento e a despreocupação com o meio ambiente re-presentavam o desenvolvimento para o progresso. “Isso porque, a po-luição era vista como um mal necessário”.13 Com o grande avanço do descaso com a biodiversidade, e os seus efeitos começando a atingir o homem, foi neste momento, na década de 1970, que o mundo começou a se preocupar com danos causados pela poluição.

10 É a diversidade da natureza viva. Este uso coincidiu com o aumento da preocupação com a extin-ção, observado nas últimas décadas do Século XX. Pode ser definida como a variedade e a variabili-dade existente entre os organismos vivos e as complexidades ecológicas nas quais elas ocorrem. Ela pode ser entendida como uma associação de vários componentes hierárquicos: ecossistema, comuni-dade, espécies, populações e genes em uma área definida. BIODIVERSIDADE. in WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Biodiversidade> Acesso em 23 Ago. 2009.11 É o primeiro pesticida moderno largamente usado após a Segunda Guerra Mundial para o com-bate dos mosquitos causadores da malária e do tifo. Trata-se de inseticida barato e altamente efi-ciente a curto prazo, porém a longo prazo, de acordo com a bióloga norte-americana Rachel Carson, que denunciou em seu livro Primavera Silenciosa que DDT causava doenças como o câncer e interferia na vida animal causando por exemplo o aumento de mortalidade dos pássaros. DDT. in WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/DDT> Acesso em 23 Ago. 2009.12 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969. 13 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.131.

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2.3 – 1970, o ano das modificações de atitudes:

Na década de 70, não existia o termo “Direito Ambiental”, pois ele significa, “o conjunto de normas e princípios tendentes à preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida”.14 Segundo Augusto Carneiro, o que existiam eram ecologistas.15

O movimento conservacionista surgiu de uma ideia nova: a Ecologia, e, em sua forma e filosofia atuais, é muito recente. O que é novo, é a crise ambiental e, quando esta começou a se tornar explícita e generali-zada, aparecem os idealistas que compreenderam que a luta seria global e que teriam que entrar em ação.16

Os estudos, nesta época, eram realizados separados por dife-rentes esferas da natureza. A defesa mais em voga se realizava em prol dos animais, porque estes eram muito maltratados; um dos maiores de-fensores dos animais foi o norte-americano Henry David Thoreau. A im-prudência e o descaso fizeram com que, nessa época, existissem muitos caçadores que praticavam atrocidades com animais indefesos, só por mero prazer. “Os animais eram tratados com a maior estupidez, com a maior monstruosidade”.17

No Brasil, Henrique Luis Roessler é um dos primeiros ambien-talistas, ele defende os animais, as plantas e faz a primeira campanha para a diminuição da poluição. Por ser tão presente e preocupado com as atitudes das pessoas, se tornou um alvo fácil diante dos outros, tanto que uma destas um dia lhe enviou um pacote pelo correio, em que constava um pedaço de polenta com 11 cabeças de passarinhos e um bilhete anô-nimo, dizendo: “Seu burro, convença-se de que a luta só terminará quando morrer o último passarinho”.18

14 SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.463. 15 Ecologia designa a ciência que estuda as relações dos seres vivos com o meio ambiente. SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.505.16 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.17.17 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 de Janeiro de 2009.18 CENTENO, Ayrtin. Roessler: O primeiro ecopolítico. Porto Alegre: Já, 2006, p.67.

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2.4 – Estocolmo, primeiro marco internacional:

O ano de 1970 é marcado pelo agravamento dos problemas am-bientais, pois é o período das grandes transformações no mundo. Re-aliza-se em 1972, a Conferência de Estocolmo, com o objetivo de criar novas políticas de gerenciamento ambiental. “Por força das denúncias e debates sobre o assunto, a ONU promoveu em 1972, em Estocolmo, uma reunião mundial”.19

A conferência gerou uma declaração de princípios concernentes a questões ambientais, estabeleceu um plano de ação mundial, pelo qual convoca todos os pa-íses, os organismos das Nações Unidas e todas as or-ganizações internacionais a cooperarem para a busca de soluções para uma série de problemas ambientais.20

Nesta conferência, o Brasil se mostrou muito confiante em rela-ção as suas ideologias, mostrando-se intransigente perante os outros Estados participantes deste encontro. O país estava tão certo de suas atitudes que não se importava com as consequências da sua irrespon-sabilidade; na Conferência, a delegação brasileira se pronunciou assim:

O Brasil prefere ter um ar menos puro, um solo menos puro, águas menos puras, mas uma indústria que dê condições econômicas ao povo e ao governo para se desenvolver.21 A única preocupação que a política bra-sileira tinha, era de, não ficar aquém dos países de-senvolvidos. Um caso exemplar foi a mortandade de peixes na Ponta do Hermenegildo. A Borregaard nos anos 70, é um símbolo do descaso com o ambiente.22

19 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.18.20 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.189.21 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 65.22 BONES, Elmar. Pioneiros da Ecologia: breve história do movimento ambientalista do Rio Gran-de do Sul. Porto Alegre: Já, 2007, p. 35.

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A conferência deu origem ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente,23 que estimulou a ONU24 a promover regras internacionais para a proteção do mesmo. O programa criado pela conferência de Esto-colmo tem o objetivo de coordenar as ações internacionais de proteção ao meio ambiente. Este programa tem um significado muito grande para todo o mundo, porque ele fez com que diversos países poluentes criassem consci-ência e adotassem métodos de preservação ao ecossistema, não deixando que, com isso, suas produções diminuíssem, muito menos seus lucros.

O planejamento racional constitui importante tema na Declaração de Estocolmo, pois é por meio de ações planejadas que se podem verificar os impactos am-bientais decorrentes e estabelecer as necessárias medidas para evitar a ocorrência de danos.25

Um exemplo desta grande conquista é justamente o Brasil; mesmo contrariado com as propostas recebidas em Estocolmo, mais tarde se cons-cientiza da importância de sua terra e adota métodos antipoluentes. “Sirkis afirma que o início do movimento ecopolítico no Brasil foi marcado pelo epi-sódio da árvore em que, a 25 de janeiro de 1975, o estudante Carlos Dayrell nela subiu, impedindo sua derrubada”.26 O mais recente sistema adotado foi no Nordeste, obtendo seu primeiro Centro27 de Regeneração de CFC, onde ocorrerá a purificação de gás que danifica a camada de ozônio e agrava o efeito estufa. Estocolmo foi o marco das mudanças em todo o mundo, esti-mulando a criação de novos sistemas ecológicos e atitudes preventivas.

Independente da posição adotada pelo Brasil na con-ferência, o fato é que, logo após essa reunião, o presi-

23 O PNUMA, estabelecido em 1972, é a agência do Sistema ONU responsável por catalisar a ação internacional e nacional para a proteção do meio ambiente no contexto do desenvolvimento susten-tável. Seu mandato é prover liderança e encorajar parcerias no cuidado ao ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e povos a aumentar sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações. ONU-BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/agencias_pnu-ma. php> Acesso em: 27 Ago.2009.24 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco, Califórnia, por 51 países, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial. ONU-BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/agencias_pnuma. php> Acesso em: 27 Ago.2009.25 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.34. 26 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 92.27 PNUD. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/meio_ambiente/index.php?lay=mam> Acesso em: 27 Ago. 2009.

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dente da República Emílio Garrastazu Médici assinou o Decreto n° 73.030, em 30 de outubro de 1973, que institui a Secretaria Especial do Meio Ambiente e o uso racional dos recursos naturais no Brasil.28

Esse decreto fez com que milhares de brasileiros mudassem suas atitudes, beneficiando, assim, o meio ambiente. Sua importância reside no fato de que, a partir dele, foram criadas dezoito estações ecológicas, que totalizaram 3,2 milhões de hectares protegidos. Hoje, a Secretaria Especial é conhecida como Ministério do Meio Ambiente; foi criada no governo de Itamar Franco, em 19 de outubro de 1992, e

Tem como missão promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento, a proteção e a recuperação do meio ambiente, o uso sustentável dos recursos naturais, a valorização dos serviços ambientais e a inserção do desenvolvimento sus-tentável na formulação e na implementação de po-líticas públicas.29

Quando muitos não tinham mais esperanças, já determinando o dia do fim, os seres humanos foram prudentes em seus atos e lideraram a marcha para o progresso. “Eles previram isso porque as agressões eram crescentes, mas de repente nasceu o movimento ecológico que pede aos governos que criem leis restritivas e as leis evitaram isso”.30 Notado o grande desespero, o homem se une e vence. Através de pequenos atos a sociedade superou obstáculos, criou leis e fundou instituições.

Os nossos movimentos, em quase todas as manifesta-ções, são essencialmente políticos. Havendo contínua atividade ecológica, principalmente reivindicatória, ela é sempre política e geralmente positiva.31

Um dos objetivos da manifestação ambientalista é a recuperação de espaços degradados; são com atitudes que os resultados positivos

28 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.190.29 AMBIENTE Disponível em: <http://www.ambiente.gov.br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=88> Acesso em: 29 Ago. 2009.30 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 de Janeiro de 2009.31 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.31.

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são conquistados. Sempre que há conscientização, os impactos negati-vos são reduzidos; por isso os efeitos aparecem em grande escala.

O Instituto Florestal foi criado em 26 de janeiro de 1970 pelo Decreto n° 52.370. Tem entre seus objeti-vos a proteção, a pesquisa, a recuperação e o mane-jo da biodiversidade e do patrimônio natural e cultu-ral a ela associados.32

Este instituto sediado em São Paulo foi pioneiro no país, pois criou mecanismos avançados para a preservação do meio ambiente, sendo seus estudos e tecnologias repassados para a esfera federal. Instituto que possui até hoje atividades ligadas à pesquisa e meios de desenvolvimento para melhor adequação de nossos avanços científicos, sem prejudicar o meio físico. No dia 29 de abril de 2009, foi aprovado o Plano33 de Manejo de Estação Ecológica de Assis.

2.5 – Agapan:

No Rio Grande do Sul, no dia 27 de abril de 1971, em Porto Alegre, foi criada a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), sendo seu principal fundador José Lutzenberger, para a “conscientização ecológica e a luta, por meio de todos os meios legais possíveis, pela pre-servação do patrimônio natural”.34 Ter lógica em seus atos, respeitar o pró-ximo e ser apaixonado pelos encantos da sua terra são atitudes básicas de um povo consciente e idealizador de um futuro melhor.

Assim, no curso de todas as culturas humanas, mais cedo ou mais tarde, surgem as tendências de prote-ção ativa da Natureza; um povo que se descuidasse

32 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 191.33 É uma atualização do Plano original elaborado em 1995, ao qual foram agregadas informações detalhadas sobre os solos e a fauna, para os quais as informações originais eram deficientes. Para esses levantamentos, o Instituto Florestal contou com recursos de compensação ambiental da ATE – Transmissora de Energia S/A. IFLORESTAL Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/noti-cias/news10.asp> Acesso em: 30 Ago. 200934 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 193.

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desse elemento, teria falta de um requisito essencial da verdadeira cultura humana total, e indigno da terra, como que a pródiga mão do Criador o presenteou.35

Henrique Luis Roessler, há 42 anos, advertia que o problema do desmatamento descontrolado era a contínua mudança de ministros, es-colhidos por causa de alianças partidárias e não por terem competência para o exercício de suas atividades. O povo liderado por um ambienta-lista ferrenho, José Lutzenberger, fez a diferença para os gaúchos, mos-trando-lhes os problemas ambientais, obtendo, assim, a conscientização de muitos para a sua proteção da natureza. A Agapan tornou a luta mais efetiva e de forma justa fez com que o futuro de toda uma nação não ficasse apenas na palavra, e sim que acontecesse de fato. “A história Universal comprova que os povos que se desfizeram de seus recursos naturais, cujo maior é a floresta, empobreceram, se tornaram escravos e desapareceram do mundo”.36 A responsabilidade proporcionou o surgimento de novas gera-ções. Fica claro que, quando o povo é unido, fatos supostamente im-possíveis tornam-se possíveis, e foi justamente isso que aconteceu na sociedade brasileira. No mesmo passar, demonstrando sua angústia a cada árvore cortada, e quanto a cada animal indefeso sendo caçado, sem ninguém que os protegesse, o homem fez com que direitos antes ignorados fossem observados pela sociedade.

2.6 – 1980, a década da conscientização ecológica:

A conscientização ecológica marcou os anos 80. Nesse período foi necessária a implantação de uma instituição de planejamento am-biental. Por existirem tantas modificações no mundo, não era suficiente apenas ter um controle do que cada país fazia, foi necessária a criação de um planejamento para que os impactos negativos fossem minimiza-dos. “Ler, ler e ler é a solução inicial, só assim poderemos combater os políticos indiferentes ou inimigos declarados”.37 35 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p.79.36 CENTENO, Ayrton. Roessler, o primeiro ecopolítico. Porto Alegre: Já, 2006. 37 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 57.

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Nessa década surge o termo reciclagem: “reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que é jogado fora”.38

O crescimento descontrolado causou o desequilíbrio ecológico; a prepotência e a ganância das pessoas fizeram com que ignorassem os aspectos desfavoráveis. Os primeiros sinais dados apareceram nos anos de 1980, com o aquecimento global, a chuva ácida, a desertificação e o buraco na camada de ozônio. Em meio a tantos problemas, o Brasil enfrentava manifesta-ções de seu povo, para conquistar a democratização no país. Esta con-quista fez com que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente entrasse em vigor, em 1981, no governo de Fernando Collor de Mello. O período de 1980 é o ápice das manifestações populacionais, devido ao grande tempo de censura vivido pelos brasileiros na fase da ditadura, dos anos de 1960 e 1970. “Nós não negamos a miséria do povo, com a qual o governo convive tão bem, como também convive apaticamente com a destruição da Natureza e com a poluição”.39 O movi-mento ambientalista torna-se não mais uma manifestação desesperada, atuada por uma população em prantos, vendo seu fruto partido; ago-ra, significa a colheita dos louros plantados em décadas passadas. São grupos unidos desenvolvendo trabalhos de conscientização através de ações comunitárias, para a inclusão de uma geração com a outra. A legislação ambiental é a consequência dos movimentos hu-manos, em prol da natureza. Antes da Constituição Federal, uma das leis que regiam a proteção ambiental era a Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política e o Sistema Nacional do Meio Am-biente. Para a complementação da lei eram utilizados o Código Florestal e o Código das Águas, entre outros. A Lei maior de 1981 teve grande significado no início da década de 80: “propôs as primeiras ações civis públicas”. Nessa época, não existia nenhuma lei que disciplinasse essa ação, por isso, “só mais tarde em 1985, com a Lei 7.347, é que as ações públicas passaram a ser utilizadas com eficácia”.40

Nosso movimento ecológico não é contra a indústria, mas devemos pensar na função social das indústrias e

38 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 201.39 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 59.40 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.15.

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ver que poluição e progresso não são a mesma coisa. Poluição não é sinônimo de progresso; chegou a hora de se criarem novos conceitos de desenvolvimento. A poluição não devia ser sinônimo de progresso, pois sabemos que a poluição é controlável, e, quando você não controla a poluição, você está transferindo essa poluição para a comunidade global.41

Dia 5 de outubro de 1988, no governo de José Sarney, foi promul-gada a Constituição Brasileira, trazendo no seu corpo textual um capítulo inteiro dedicado às questões ambientais. No parágrafo 1° do artigo 225 enumera os deveres do Poder Público, sendo o inciso VI o mais interes-sado na continuação da preservação da natureza: “Promover a educa-ção ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.42

A Constituição Federal é o resultado da conquista do povo. Quando há um manifesto existe a esperança de que ele seja ouvido e, principalmente de que o problema seja solucionado. O descaso com a natureza representou uma atrocidade tão grande que a justiça foi feita. A maior felicidade de um manifestante foi dada na promulgação da Cons-tituição Federal, e isso significa que a luta não foi em vão, os desejos de reparação foram ouvidos, respeitados. “A vida humana depende dos demais seres vivos para se manter neste planeta. Somos apenas um elo da cadeia biológica”.43 A natureza é vista como uma só; o respeito por ela se estabiliza; não podemos separar uma coisa da outra, porque somos fruto de sua própria criação. Preservação consiste no respeito de cada um diante daquilo que indiretamente lhe pertence. Não somos dono do universo, foi-nos permitida a sua utilização com prudência, e não para causarmos a sua destruição. A vida é um privilégio de todos, não podemos ser egoístas a ponto de não enxergarmos o que está do nosso lado. “Na Amazônia vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta”.44 É a maior floresta tropical do mundo. O desrespeito que até hoje se tem, é devido ao mesmo pensamento da colonização, a terra é 41 FELDMANN, Fábio, advogado das vítimas de Cubatão. Audiência Pública da CMMAD, São Paulo, 1985.42 Política Nacional de Educação Ambiental – Lei n° 9.795/99.43 Edward Wilson. MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005.44 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 209.

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imensa, nunca se acabará. Precisamos viver dignamente para evoluir, assim, podendo evoluir para viver. Será, então, que a Amazônia representa o equilíbrio da biodiversi-dade na Terra? Essa pergunta começou a ser questionada na década de 1980, quando as primeiras modificações climáticas foram sentidas; por cau-sa do desmatamento, o nível de carbono aumentou na camada de ozônio, propiciando um ar impuro, resultando em diversas doenças respiratórias. O Brasil, quando descoberto, era como os portugueses diziam, um Éden, ao passo que em Portugal já se tinha uma cidade evoluída, já modificada pelo homem. O Brasil então se torna a esperança de vida para o planeta. Apesar da degradação sofrida, ainda representa a base da existência.

Na Amazônia vivem e se reproduzem mais de um terço das espécies existentes no planeta. Ela contém um quinto da disponibilidade mundial de água doce e um patrimônio mineral não mensurado. A Amazô-nia possui o maior rio do mundo, tanto em extensão quanto em volume de água, o Amazonas.45

A Mata Atlântica é outro alvo fácil, “ocupando 5% de territoriali-dade original, exerce influência positiva para mais de 80% da popula-ção brasileira”.46

Nas cidades, áreas rurais, comunidades caiçaras e indígenas, ela regula o fluxo dos mananciais hídricos, assegura a fertilidade do solo, controla o clima e pro-tege escarpas e encostas das serras, além de preser-var um patrimônio histórico e cultural imenso.47

Sendo de suma importância para o Brasil, no dia 3 de dezembro de 2003, o projeto de lei, criado por Fabio Feldmann foi aprovado, tor-nando-se a Lei 11.428 de 22 de dezembro de 2006. “Ela dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, e dá outras providências”.48 A providência demorou a chegar, mas no momen-to exato foi instituída, evitando que a última mata fosse riscada do mapa.

45 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 209.46 Idem, p. 210.47 Idem, p. 210.48 Lei 11.428, de 22 de dezembro de 2006.

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A caminhada para a preservação da natureza estava tão evidente na sociedade que não podíamos ficar só com a Constituição Federal, preci-sávamos de órgãos do governo motivados, progredindo na mesma direção do povo. Por isso, dia 22 de fevereiro de 1989, a Lei 7.735 deu início aos trabalhos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA49), representando a fusão de quatro secretarias já existentes: a Secretaria do Meio Ambiente (SEMA50), a Superintendência da Borracha (SUBHEVEA51), a Superinten-dência da Pesca (SUBEPE52) e o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF53). Os objetivos da criação e de sua permanência são:

1 – reduzir os efeitos prejudiciais e prevenir acidentes decorrentes da utilização de agentes e produtos agro-tóxicos, seus componentes e afins, bem como seus re-síduos; 2 – promover a adoção de medidas de controle de produção, utilização, comercialização, movimenta-ção e destinação de substâncias químicas e resíduos potencialmente perigosos; 3 – executar o controle e a fiscalização ambiental nos âmbitos regional e nacional; 4 – intervir nos processos de desenvolvimento gera-dores de significativo impacto ambiental, nos âmbitos

49 IBAMA é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA). É o órgão executivo responsável pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e desenvolve diversas atividades para a preservação e conservação do patrimônio natural, exercendo o controle e a fiscalização sobre o uso dos recursos naturais (água, flora, fauna, solo, etc.) Também cabe a ele realizar estudos ambientais e conceder licenças ambientais para empreendimentos de impacto nacional. IBAMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Instituto_Bra-sileiro_do_Meio_Ambiente_e_dos_Recursos_Naturais_Renov%C3%A1veis> Acesso em 30 Ago. 2009.50 A Secretaria Estadual do Meio Ambiente, criada em 1999, é o órgão central do Sistema Estadual de Proteção Ambiental, responsável pela política ambiental do RS. SECRETARIA ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE. Disponível em: <http://www.sema.rs.gov.br/> Acesso em: 30 Ago. 2009.51 Decreto nº 77.386 - de 5 de abril de 1976. “Art. 1º A Superintendência da Borracha - SUDHEVEA, autarquia criada pela Lei nº 5.227, de 18 de janeiro de 1967, vinculada ao Ministério da Indústria e do Comércio, com sede e foro no Distrito Federal, tem como finalidade executar a Política Econômi-ca da Borracha, em todo território nacional”.52 Decreto nº 73.632, de 13 de fevereiro de 1974. “Art. 1º - Proibir a pesca de arrasto pelos sistemas de porta e de parelhas por embarcações maiores que 10 TAB (dez toneladas de arqueação bruta), nas áreas costeiras do Estado de São Paulo, a menos de 1,5 (uma e meia) milhas da costa”.53 O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal era uma autarquia do governo brasileiro vincu-lada ao Ministério da Agricultura, encarregado dos assuntos pertinentes e relativos a florestas e afins. Foi extinto por meio da Lei n° 7.732, de 14 de fevereiro de 1989, e transferiram-se seu patrimônio, os recursos orçamentários, extraorçamentários e financeiros, a competência, as atribuições, o pessoal, inclusive inativos e pensionistas, os cargos, funções e empregos para o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, de acordo com a Lei n° 7.735, de 22 de fevereiro de 1989. INSTITUTO BRASILEIRO DO DESENVOLVIMENTO. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: 01 Set. 2009. <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Instituto_Brasileiro_de_Desenvolvimento_Florestal> Acesso em: 01 Set. 2009.

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regional e nacional; 5 – monitorar as transformações do meio ambiente e dos recursos naturais; 6 – executar ações de gestão, proteção e controle da qualidade dos recursos hídricos; 7 – manter a integridade das áreas de preservação permanentes e das reservas legais; 8 – ordenar o uso dos recursos pesqueiros em águas sob domínio da União; 9 – ordenar o uso dos recursos florestais nacionais; 10 – monitorar o status da conser-vação dos ecossistemas, das espécies e do patrimônio genético natural, visando à ampliação da representa-ção ecológica; 11 – executar ações de proteção e de manejo de espécies da fauna e da flora brasileiras; 12 – promover a pesquisa, a difusão e o desenvolvimento técnico-científico voltados para a gestão ambiental; 13 – promover o acesso e o uso sustentado dos recursos naturais; 14 – e desenvolver estudos analíticos, pros-pectivos e situacionais verificando tendências e cená-rios, com vistas ao planejamento ambiental.54

Os anos 80 se formaram pela rebeldia de grupos da sociedade e pela prudência do governo. O sistema era novo, mas as atitudes eram velhas. O povo estava acostumado a só dizer sim, sem saber o porquê, agora fortalece o seu não para os que vos dirigem. Pessoas de astúcias e vontades, atuantes empolgadas, felizes com a liberdade; povo sem noção do espaço, mas livre para estudá-lo. Com novas regras se tiveram muitas modificações, a principal exi-gência era a agilidade e o comprometimento do Estado, perante o seu meio físico. “As reivindicações eram feitas para o combate da caça, da preserva-ção de florestas, da fauna e uma campanha contra a poda de árvores”.55

Podendo se manifestar, a sociedade não se conforma com a lentidão e o descaso de políticos. É necessário que o cidadão atue de outras formas, não mais só pedindo atenção a poderosos. Em 1992, criou-se a Rede de Organização Não-Governamental da Mata Atlântica (RMA). As ONGs foram fundadas pouco a pouco, e essa atitude finda os anos 80 e dá início aos anos 90. “A fase que se abre nos anos 90 é de intenso envolvimento entre organizações não governamentais ambienta-listas, sócioambientais e o setor empresarial”.56

54 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 234 e 235.55 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 83.56 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 242.

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2.7 – Rio 92, segundo marco internacional:

Foi realizada, em 1992, no Rio de Janeiro, a Conferência das Na-ções Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Sua realização foi de extrema importância porque “se constatou que no final do século a questão ambiental ultrapassava os limites das ações isoladas e localizadas para tornar-se uma preocupação de toda a humanidade”.57 O problema é grande, e há tempo o manifesto está sendo feito em prol do meio ambiente, e ainda sofremos com o descaso de muitas pessoas, tanto que os impactos ambientais são sentidos a todo instante. O inverno se tornou um grande outono e no verão há muitas chuvas e catástrofes em zonas de encostas. A conferência Rio 92 une diversos países, para mais uma vez relembrar os ensinamentos e os comprometimentos feitos em Estocolmo: “busca-se, a partir daí, estabelecer uma parceria global mediante a cria-ção de novos níveis de cooperação entre os Estados, os setores-chave da sociedade e os indivíduos”.58 Regras existem, planejamento se faz, motivação transborda, mas o respeito se desdenha. Décadas entram e saem, e os problemas ficam; as soluções se tornam cada vez mais difíceis, porque, quanto mais se evolui financeiramente, mais ficamos pobres de espírito. E quem sofre? Nós mesmos. A declaração do Rio sobre o Meio Ambiente59 representa o quan-to precisamos de ajuda, para conseguirmos pôr em prática nossos idea-lismos e propostas de salvação do meio físico. Eis que:

Nós somos a Terra, os povos, as plantas e animais, as chuvas e oceanos, o respiro das florestas, o fluir dos mares. Honramos a terra como abrigo de todos os se-res vivos. Acalentamos a beleza e a diversidade da vida na Terra. Saudamos a capacidade de renovação como fundamento de toda a vida na Terra. Reconhecemos o espaço dos povos Indígenas na Terra, seus territórios, costumes e sua singular relação com a Terra. Ficamos estarrecidos perante o sofrimento humano, a pobreza e

57 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 242.58 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 43.59 Meio Ambiente é o lugar onde habitam os seres vivos, formando um conjunto harmonioso de condições essenciais para a existência da vida como um todo. (SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.39).

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os desatinos que os desequilíbrios do poder causam à Terra. Sentimo-nos partícipes na responsabilidade de proteger e reabilitar a Terra e em assegurar um uso equi-tativo e sábio dos recursos, almejando um equilíbrio eco-lógico e novos valores sociais, econômicos e espirituais. Nessa ampla diversidade, nós configuramos uma uni-dade. Nosso lar comum está sempre mais ameaçado60.

Com o preâmbulo da Carta da Terra61 citado anteriormente, verifica-se que o ser humano e o meio ambiente são vistos como unos, não há dis-tinção de um para o outro. Somos parte do mesmo conjunto, precisamos de toda a biodiversidade para sobreviver; é pensando nela que o homem tem que agir, porque são de pequenos atos que transformamos realidades. A partir de atitudes individuais o sistema se modifica, para melhor ou para pior, dependendo da nossa consciência em buscar o equilíbrio; nossas atitudes têm que ser movidas por esperanças, não deixando uma barreira desmoti-var anos de estudos e planejamentos científicos.

2.8 – COP 3 e o protocolo de Kyoto:

Durante a COP 3, realizada em Kyoto, no Japão se aprovou o Protocolo de Kyoto62 “seu objetivo consiste na conservação da diversi-dade biológica, no uso sustentável de seus componentes e na repartição justa e equitativa dos benefícios derivados dos recursos genéticos”.63 Significa que tanto países desenvolvidos quando países subdesenvolvi-dos têm a obrigação de mudar regras, pondo fim aos gases poluentes, evitando que o efeito estufa progrida e que novas catástrofes ambientais aconteçam. É conscientizando que alcançaremos metas plausíveis.

60 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 247.61 A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma so-ciedade global no século XXI, que seja justa, sustentável e pacífica. REVIVERDE. Disponível em: <http://www.reviverde.org.br/CARTAdaTERRA.pdf>. Acesso em: 01 Set. 2009.62 O Protocolo de Kyoto é um instrumento internacional, ratificado dia 15 de março de 1998, que visa reduzir as emissões de gases poluentes. Estes são responsáveis pelo efeito estufa e o aqueci-mento global. O Protocolo de Kyoto entrou oficialmente em vigor dia 16 de fevereiro de 2005, após ter sido discutido e negociado em 1997, na cidade de Kyoto, no Japão. SUA PESQUISA. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/geografia/protocolo_kyoto.htm>. Acesso em: 02 Set. 2009.63 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 42.

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As áreas naturais, que poderiam representar a maio-ria da superfície da Terra, são agora apenas mostras das paisagens que têm valor ecológico e científico, pois são museus e em consequência são laoratórios ao ar livre à nossa disposição, tendo valor educativo e recreativo, e, finalmente, são a nossa herança da Natureza que muitos só pensam em derrubar.64

A natureza é a nossa maior herança. Proporciona os maiores espetáculos, nos fazendo felizes a cada instante. Suas cores, seus movimentos, seus encantos são simples, mas de uma importância sem fim; um pequeno pingo de água faz toda a diferença para a planta recém-germinada; o pequeno passo de uma criança é o início de um recomeço de história. Podemos, sim, reverter o nosso presente e é com atitudes, primeiramente parecendo não ter valor, que farão toda a diferença no amanhã.

2.9 – Século XXI, o período da inércia:

O século XXI se estabelece com o comprometimento de pôr em prática regras estabelecidas em conferências passadas. Estocolmo e Rio 92 são as bases iniciais deste novo século. Diferentemente de dé-cadas anteriores, agora o Brasil não se preocupa em criar novas regras ou se misturar em rebeldias; se mostra mais cauteloso em suas metas. Antes o que importava era a criação de ONGs, conferências, institutos... Hoje utilizamos essas bases e damos vida a novos projetos; o importan-te é conscientizar crianças, passar informações a novas gerações, com o objetivo de que elas, sim, revolucionem o mundo. As novas empresas já estão estabelecendo funcionamentos eco-lógicos em seus projetos, e antigas instalações começaram a aderir a campanhas ambientalistas, como: preservar a água, reciclar papel, lixo, diminuir o desperdício de energia, entre outras. “A gente sai à rua, con-versa sobre Natureza, pureza das águas, sobrevivência dos animais e não encontra um que seja contrário a essas realidades”.65

64 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 107.65 Idem, p. 108.

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2.9.1 – Rio + 10, terceiro marco internacional:

No ano de 2002 foi realizada a Cúpula Mundial do Desenvolvi-mento Sustentável ou Rio + 10, para que os acordos firmados no Rio 92 fossem avaliados. As atitudes dos países envolvidos na conferência são de extrema relevância na caminhada sócioambiental. Já temos toda a base, a estrutura foi sedimentada, o acordo foi feito, portanto, a Rio + 10 serve apenas como impulso de pormos a teoria na prática.

Não foi isso que ocorreu. Na verdade, muito pouco foi visto sobre metas determinadas e prazos para cumprimento. O acordo que se chegou com relação à energia gerada com base em fontes renováveis fi-cou apenas com o apelo para que se amplie seu uso, sem metas e prazos.66

Os resultados pretendidos não são colhidos como o planejado, porque se exige grande disponibilidade de dinheiro, e tudo que envol-ve muito capital, sem lucros significativos para o governo, não vale a pena, pois o que importa é o grande giro de capital em cofres públicos. Infelizmente chegamos ao século XXI com esse pensamento matuto. É verdade, energia renovável, atitudes ecológicas são caras, mas a longo prazo se tornam muito econômicas; mas por que esperar tanto se desmatando eu ganho muito dinheiro no ato de meu comando? A impaciência e o imediatismo são os graves defeitos da hu-manidade; a correria em que vivemos nos faz agir sem pensar no futuro, só percebemos a importância daquilo que temos, quando as perdemos. “Um número cada vez maior de plantas e animais está sendo ameaçado ou até mesmo extinto, e a causa principal é a perda de seu ambiente ou habitat”.67

O progresso descompassado nos faz crer que se, só hoje po-luirmos, amanhã, respeitarmos as regras o nosso deslize vai ser sana-do. Trata-se de in accouting for envirommental assets. “um país pode pôr abaixo suas florestas, erodir seu solo, levar sua fauna silvestre à extinção. Mas os índices de sua performance econômica não serão

66 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 299.67 Idem, p. 301.

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afetados se esses bens desaparecerem”.68 O empobrecimento será tomado por progresso. Podemos até equilibrar um resultado, mas di-ficilmente revertê-lo. Pensando nisso, em 22 de agosto de 2002, Fer-nando Henrique Cardoso criou o maior parque de floresta tropical do mundo, cujos objetivos são:

Assegurar a preservação69 dos recursos naturais e da diversidade biológica, bem como proporcionar a realização de pesquisas científicas e o desenvolvi-mento de atividades de educação, recreação e turis-mo da respectiva área.70

Seguindo o exemplo do antigo presidente da república, Luiz Iná-cio Lula da Silva, no dia 14 de outubro de 2003, criou a primeira floresta nacional, cujos objetivos são:

Promover o manejo de uso múltiplo dos recursos na-turais, manter e proteger os recursos hídricos e da biodiversidade, recuperar áreas degradadas, promo-ver a educação ambiental e apoiar o desenvolvimento de métodos de exploração sustentável do Cerrado.71

Os dois projetos têm apenas um ano de diferença e as propos-tas são as mesmas. A ideia de sustentabilidade é o foco a ser segui-do, é a esperança do século XXI. O direito sustentável se resume na ideia de que “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente”.72 Preservar, desenvolver, pro-teger e promover educação se tornam medidas ecológicas básicas de ambos os governos. O caminho a ser seguido foi dado, agora só nos resta esperar, porque “a semeadura é livre. A colheita é obrigatória”.73 Tantos anos de rebeldia, anos de lutas serviram na conscientização de gerações, seus méritos refletem 68 CARNEIRO, Augusto. A História do Ambientalismo. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2003, p. 125.69 Proteger de algum dano futuro; Defender; Resguardar. PRESERVAÇÃO. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.wiktionary.org/wiki/preservar> Acesso em: 02 Set. 2009.70 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 306.71 Idem, p. 316.72 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p. 44.73 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 324.

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até hoje. Batalhamos por conquistas e obtivemos vitórias; mais dia ou menos dia, o êxito pleno será alcançado e o desespero cessará.

“Ofereço estas mal traçadas rinhas,Estas mal traçadas vinhas aos ex-caçadoresQue tiveram compaixão de suas vítimas.

E por amar tanto o mato e os bichosConheceram o mato e os bichosE porque existe uma maneira deAmar sem matar.

Como fazem os fotógrafosA quem dedico estas mal traçadas,Caprichadas linhas

Estas cem traçadas minhas,Já que dez traçadas tinhas.Te espero no chão macio da floresta

Com amor, com carinhoCom floresta e passarinho”.74

(Antônio Carlos Jobim).

74 Poema de Antônio Carlos Jobim.

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O dia da Terra, o Grito da Terra

Na terra ferida,Na terra que nós amputamosNa terra que nós envenenamos Esquecendo que dela vem a nossa vida

Sou Gaia75, a Mãe da TerraO único planeta vivo a volta do solO lar planetário da humanidade

Ar, água e terra, atmosferaOs oceanos, rios e lagosAs florestas, os campos e os banhados,todos são organismos de um só corpoPor seu intermédio, eu Gaia,Respiro, me alimento e me renovo

Não permitas eu sejam consumidas minhas florestas,conspurcadas minhas águas,penetradas minhas entranhas para depósitos de venenos,rasgado meu manto protetor de ozônio

Lembra-te A minha vida é tua vidaE a vida dos filhos de teus filhosHoje, amanhã e para todo sempre.76

75 Em 1987 criou-se a Fundação Gaia, que, entre as várias atividades para a promoção do desenvolvimento sustentável, trata da difusão da agricultura regenerativa, educação ambiental e reciclagem de lixo urbano.MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.194. A Fun-dação Gaia nasceu da vontade de possibilitar uma ampliação da atuação na luta ambiental de seu fundador e presidente, José Lutzenberger. FGAIA. Disponível em: <http://www.fgaia.org.br/> Acesso em: 03 Set. 2009.76 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.192.

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3. O MOVIMENTO SOCIAL:

3.1 – A reflexão do homem diante do desconhecido:

O movimento de preservação do meio ambiente foi uma decisão louvável, de sociedades desenvolvidas, que viviam num risco incalculá-vel devido à industrialização realizada de maneira errônea. Sem saber os danos que poderiam causar poluindo e desmatando, os Estados Unidos e países da Europa, que se encontram no rol de Estados desenvolvidos, continuaram num ritmo acelerado rumo ao caos total. A conscientização permitiu que atitudes mais prudentes evitassem novos fatos cruéis como desmatamentos ilegais, violência contra os animais, havendo, assim, a conservação do meio em que vivemos. A campanha é global e os resulta-dos positivos aparecem a todo o momento; através de leis e regulamentos todos puderam participar e idealizar dias melhores.

A proteção do ambiente não faz parte da cultura nem do instinto humano. Ao contrário, conquistar a natu-reza sempre foi o grande desafio do homem, espécie que possui uma incrível adaptabilidade aos diversos locais do planeta e uma grande capacidade de uti-lizar os recursos naturais em seu benefício. Essas características fizeram com que, ao longo do tem-po, a natureza fosse dominada pelo homem que, no entanto, não se preocupou com os danos que esse desenvolvimento causava.77

O interesse em proteger e prevenir as atitudes das pessoas, para o salvamento da natureza,78 era pensando na sua própria sobre-vivência. A exploração dos recursos naturais79 existia porque o meio 77 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.20.78 A expressão natureza aplica-se a tudo aquilo que tem como característica fundamental o fato de ser natural, ou seja, envolve todo o meio ambiente existente que não teve intervenção antrópica. NATUREZA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Natureza> Acesso em: 05 Set. 2009.79 Recursos naturais são elementos da natureza com utilidade para o homem, com o objetivo de desenvolver a civilização e garantir a sobrevivência e o bem-estar da sociedade. Podem ser renováveis, como a energia do sol e do vento. Já a água, o solo e as árvores que estão sendo con-

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ambiente era visto como algo separado do ser humano, percebida a relação nossa com o ecossistema,80 a mudança se inicia. Notamos o nosso envolvimento com as outras vidas planetárias, quando nossos ataques de descaso por elas são sentidos por nós. “Arriscamos e mui-to nossos esforços e não conseguimos moldar a natureza, à nossa satisfação e convivência”;81 um dos primeiros sinais foi a mudança de temperatura, pois não temos mais a percepção clara de uma estação ou outra. O homem, portanto, sente a necessidade de estudar a Terra, pois saber lidar com ela é o melhor jeito de protegê-la.

A atual tomada de consciência da necessidade de preve-nir-se contra a degradação do meio ambiente forçou os países a reconhecer que, no universo do planeta Terra, existe somente um único meio ambiente e a única ma-neira de ter-se uma regulamentação racional em relação a ele seria unificar os vários meios ambientes – local, nacional, regional ou internacional – num único sistema normativo, determinado pelo direito internacional.82

Antes de haver esse cuidado, a terra foi muito explorada, pois não existia conscientização a respeito do assunto. O que vigorava era o desenvolvimento, a determinação em prol da exploração e toda degradação significava progresso, não importando as consequências, o presente era o que interessava. Todo tipo de recurso foi utilizado, não importava a qualidade, mas sim a quantidade; além do uso de inseticidas, que degrada o meio ambiente.

As substâncias químicas são os fatores sinistros das radiações e transformação da própria natureza do mundo e a vida que nela palpita, elas saem dos la-boratórios aos borbotões, entrando no uso geral, fora

siderados limitados, são chamados de potencialmente renováveis. E ainda não renováveis como petróleo e minérios em geral. RECURSO NATURAL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Recurso_natural> Acesso em: 06 Set. 2009. 80 Ecossistema designa o conjunto formado por todas as comunidades que vivem e interagem em determinada região e pelos fatores abióticos que atuam sobre essas comunidades. ECOSSISTEMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Ecossistema> Acesso em: 06 Set. 2009.81 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969.82 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP. Manole, 2003, p.39.

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dos limites da experiência biológica; Abusam do uso do DDT e do carbono, causadores de doenças, trans-formando-se em agentes de morte.83

A degradação ambiental se desenvolveu, porque o desenvolvi-mento econômico, na maioria das vezes, foi colocado em primeiro lugar; o que importa é o presente, a realização de um projeto, as consequên-cias, que se apresentam no futuro, interessam apenas às novas gera-ções. Devido a essa ideologia, o meio ambiente não foi respeitado e sofreu enormes prejuízos que na maioria das vezes, infelizmente, não são recuperáveis; a fauna e o solo um dia modificados dificilmente serão recuperados por causa do grande complexo que é o bioma84 natural.

3.2 – O início do movimento social brasileiro – 1970:

O movimento social ambientalista reage, não podemos mais viver ignorando o que nos acontece na volta; o descaso com o meio ambien-te se torna repugnante. “A fase de denunciar já passou, agora é preciso agir”.85 A falta de cuidados e o desinteresse causam insatisfação. É ne-cessário que algo seja feito, para que atos impensados sejam punidos. Se continuarmos agindo sem prudência, pagaremos o preço do descaso com nossas próprias vidas. A iniciativa, para que a modificação seja feita, vem de um novo pensamento, relacionado à Ecologia.86 “O ecologismo se estrutura a partir do cidadão, que reivindica sua participação nas decisões políticas que afetam o seu destino e o destino da humanidade”.87

83 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969.84 Chama-se bioma a um conjunto de ecossistemas. Mais além, biomas são um conjunto de diferentes ecossistemas. O bioma são as comunidades biológicas, ou seja, as populações de organismos da fauna e da flora interagindo entre si e interagindo também com o ambiente físico chamado biótopo. BIOMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Bioma> Acesso em: 07 Set. 2009.85 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.65.86 A Ecologia é o estudo das interações dos seres vivos entre si e com o meio ambiente. Foi o cientista alemão Ernst Haeckel, em 1869, quem primeiro usou este termo para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem, além da distribuição e abundância dos seres vivos no planeta Terra. ECOLOGIA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Ecologia> Aces-so em: 7 Set. 2009.87 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p.177. Denominação utilizada

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O movimento conservacionista surgiu de uma ideia nova: a Ecologia. Tudo o que houve anteriormen-te não caracterizava um movimento ecologista ou movimento conservacionista, aqui ou em qualquer parte do mundo.88

Um dos primeiros revolucionários foi Henrique Luis Roessler, na década de 70, no Rio Grande do Sul. Seu envolvimento com a história ambiental foi de grande valia, porque era um homem determinado e preocupado com a causa ambiental; seu envolvimento foi enorme, seu interesse, e, principalmente, seu amor pela natureza foram as princi-pais características que encantaram os adeptos à ideia ambientalista, fazendo com que, seu nome fosse reconhecido internacionalmente e ficasse na história.

Sem que se pudesse imaginar, o homem especial fazia acontecer uma guinada para o extremo oposto do pre-visto, que surpreendia quem não estivesse acostuma-do com seu jeito autêntico e absolutamente incomum.89

Roessler foi um ambientalista incomum capaz de aproximar o homem da natureza sem destruí-la, porque mostrou a ele que a vida ecológica é a forma mais correta de se conhecer sua própria vida. Na mesma época, José Antônio Lutzenberger, ao lado de outros adeptos, funda a Agapan, associação esta, que redobra a luta ecológica. “Foi fundada a Agapan em 27 de abril de 1971”.90 Sem a censura da ditadura, os ambientalistas podiam se manifestar em prol da natureza. Lutzenberger e Carneiro são alguns dos que fundaram a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural. A primeira manifestação vitoriosa da Agapan foi o caso da árvore, em Porto Alegre, em frente à Faculdade de Direito da UFRGS. Um estudante chamado Carlos Alberto Dayrell subiu em uma árvore para que ela não fosse cortada. A prefeitura tinha o intuito de derrubar todas as árvores da João Pessoa para a construção de uma via elevada, com o propósito de amenizar o tráfego de carros que

pela FEPAM.88 Entrevista realizada com Augusto Carneiro no dia 21 Janeiro de 2009. 89 ROESSLER, Maria Luiza. O homem do rio. Porto Alegre: AGE, 1999, p.72.90 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.193.

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conforme o horário fica caótico. “A manifestação foi vitoriosa, uma vez que a prefeitura mudou os planos para a construção do viaduto, e a árvore não foi derrubada”.91

No curso de todas as culturas humanas, mais cedo ou mais tarde, surgem as tendências de proteção ativa da natureza. Um povo que se descuidasse desse elemento, teria falta de um requisito essencial da ver-dadeira cultura humana total e seria indigno da terra, com que a pródiga mão do Criador o presenteou.92

Outra manifestação social proporcionada pela Agapan foi a respeito das ilhas de Porto Alegre. Em 1974 foi feita uma campanha para que as ilhas do Guaíba não fossem urbanizadas. Foi realizada com o objetivo de preservar diversas espécies que vivem no lugar. Passarinhos e gaivotas eram alguns dos animais ameaçados caso o projeto fosse colocado em prática. Devido ao êxito da instituição e pela ousadia de Hilda Zimmermann, não houve urbanização.

Fizemos a primeira campanha para conservação das ilhas. Foi muito importante porque, conjuntamente com os vereadores e deputados, constatou-se que Porto Alegre não tinha direito de urbanizar as ilhas.93

O movimento representa a insatisfação das pessoas perante sua realidade; a Agapan foi de extrema importância para a população brasileira e, principalmente, para o povo gaúcho, já que é uma asso-ciação estabelecida no Rio Grande do Sul. Ela demonstrou que se queremos modificar uma realidade é pondo em prática nossas vonta-des que conseguiremos os nossos propósitos. Quem vive na inércia não sai da rotina. O envolvimento de adeptos ao ambientalismo dian-te de uma causa é o que faz a diferença, e é através de iniciativas que devemos, sempre, fazer o que é mais correto; devemos preservar a natureza e salvar espécies. No Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural manifesta suas conquistas e, no mesmo período,

91 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.193.92 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia. Porto Alegre: Já, 2007, p. 33.93 Idem, p.163.

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o mundo também está em alerta. É necessária a realização de uma conferência, e assim foi feito, em 1972: Estocolmo foi a sede para a discussão e planejamento sobre o meio ambiente.

3.3 – O mundo unido, 1970; Estocolmo, primeiro marco internacional: A natureza sofre com a degradação, pois o desrespeito e o de-senvolvimento descontrolados geram impacto ambiental94 a ponto de sentirmos suas consequências. “A complexidade que os problemas am-bientais assumiram fazem que seus contornos e limites escapem a ob-jetivações mais apressadas”.95 É preciso sentir os efeitos nocivos; só as-sim é que tomamos o partido para solucionar um problema; a preserva-ção ambiental só foi colocada em prática quando deslizamentos de terra ficaram rotineiros, quando os efeitos da poluição começaram a matar as pessoas, ou deixá-las com doenças respiratórias, como a asma.

Foi a partir da indicação do Conselho Econômico Social das Nações Unidas, em julho de 1968, que surgiu a ideia de organizar-se um encontro de paí-ses para criar formas de controlar a poluição do ar e da chuva ácida, dois dos problemas ambientais que mais inquietavam a população dos países centrais.96

A Conferência de Estocolmo se realizada “em 05 a 16 de junho de 1972”97 tem como objetivo discutir os problemas ambientais no planeta; o descaso com o meio físico era tão grande, que foi necessá-rio a realização de uma conferência internacional, para que o mundo 94 Impacto Ambiental é todo efeito no meio ambiente causado pelas alterações e/ou atividades do ser humano. Conforme o tipo de intervenção, modificações produzidas e eventos posteriores, pode-se avaliar qualitativa e quantitativamente o impacto, classificando-o de caráter “positivo” ou “negativo”, ecológico, social e/ou econômico. IMPACTO AMBIENTAL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Impac-to_ambiental> Acesso em: 08 Set. 2009.95 SILVA – SÁNCHES, Solange S. Cidadania ambiental: novos direitos no Brasil. São Paulo: Hu-manitas, 2000, p.25.96 RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2000, p.73.97 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.44.

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ficasse consciente dos problemas, e, com isso, evitasse que novos incidentes ocorressem. Devido ao grande alarde, Estocolmo obtém êxito, conseguindo reunir diversos países, ficando conhecida como o primeiro marco internacional ambientalista.

La conferencia destacaba que uno de los principales aportes que la ciencia y la tecnología podían hacer para el desarrollo económico y social de los pueblos consistía en descubrir, evitar y combatir los riesgos que amenazan al medio ambiente y buscar la solución a SUS problemas.98

Um dos propósitos da chamada em Estocolmo era esclarecer a todos a situação crítica pela qual o mundo estava passando, assim como apresentar as possíveis soluções para que todos pudessem se engajar e obter melhores condições para se viver, “Pois o núcleo da atenção não se restringia a um recurso ambiental, ou a uma espécie em perigo, mas abordava o meio ambiente como um todo”.99 O meio ambiente é enfatizado com significativa preocupação, porque, se uma mudança enérgica não ocorresse, o planeta entra-ria em um grande processo de extinção, envolvendo várias espécies, ocasionando um desequilíbrio ambiental gravíssimo. Devido ao que foi dito neste evento, mudanças de atitudes de diversos países, que antes agiam de forma equivocada, foram observadas e o meio am-biente passou a ser tratado com mais responsabilidade. Entretanto ao contrário do que muitos poderiam pensar, nem todos estavam feli-zes com as modificações. Nesta Conferência já se previa um impasse entre países de-senvolvidos e países subdesenvolvidos; o desacordo entre os países industrializados com os não industrializados era nítido. Os estados já expandidos não queriam a evolução dos estados que ainda não eram, tudo por uma questão de receio. Nesta época, as pesquisas de impactos ambientais ainda eram muito recentes, se tinha dúvidas, em não mais haver desmatamentos para construção de indústrias ou se isso ainda era possível ou, ainda, sobre até onde esses atos seriam prejudiciais.

98 ECHECHURI, Héctor. Diez años despues de Estocolmo. Desarrollo, Medio Ambiente y supervivencia. Madri, Espanha, 1983, p.15.99 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.31.

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Já nas reuniões preparatórias à Conferência de Es-tocolmo, ficaria evidente a oposição entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, na retórica da época.

O impasse entre continuar desenvolvendo ou a estagnação real-mente se sucedeu em Estocolmo, mas após este fato, as consequências positivas da conferência foram vistas internacionalmente. Conforme Guido Fernando Silva Soares, o “reflexo dela traçou o ordenamento interno de diversos Estados. Numa visão global, vários tratados e convenções fo-ram adotados”.100 Já para Maria Luiza Machado Granziera, a Conferência teve importância mundial, mas os impactos ambientais continuam, dando exemplos de diversos acidentes ocorridos no mundo, como no caso a se-guir, por exemplo: “10/06/1976. Seveso, Itália. Acidente industrial provo-cado por empresa suíça. Tanques de armazenagem romperam, liberando TCDD101 na atmosfera e atingindo parte no norte da Itália”.102 Estocolmo foi o primeiro resultado do movimento social interna-cional. O resultado da conferência ficou expressamente declarado em 26 princípios, que resumem a preocupação e o envolvimento global103 diante do tema. Os assuntos referidos são:

O meio ambiente como direito humano, desenvolvi-mento sustentável, proteção da biodiversidade, luta contra a poluição, combate à pobreza, planejamento, desenvolvimento tecnológico, limitação à soberania territorial dos Estados, cooperação e adequação das soluções à especificidade dos problemas.104

100 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p. 47.101 A 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina, também conhecida como TCDD ou (popularmente) como dioxina de Seveso, é considerada um poluente organoclorado altamente tóxico. A TCDD é apenas produzida para pesquisas laboratoriais, contudo pode ser gerada na produção de pesticidas, no branqueamento do papel, cloração, fundição do cobre, etc. Além disso, pode ainda ser gerada em incêndios, incinerações, fumaça do tabaco ou vulcões. TCDD. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/TCDD> Acesso em: 08 Set. 2009.102 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.38.103 Um exemplo de envolvimento global é a Alpro. A indústria está muito ciente da sua responsabili-dade social pelo planeta e pelos que nele habitam. Esta preocupação genuína é fortemente incutida pela nossa política de empresa. Fazemos tudo quanto podemos, para apoiar ativamente projetos em prol do bem das pessoas e da natureza. ALPRO SOJA. Disponível em: <http://alprosoja.pt/alpro/PT_pt/believe/global_involvement/index.html> Acesso em: 09 Set. 2009.104 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental: Atlas, 2009, p. 32.

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Com o auxílio da ONU,105 a realização da conferência em Estocol-mo resultou em consequências positivas: “Medidas preventivas passarão a constituir a preocupação central dos Estados, após a realização da Con-ferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano”.106 A partir dela, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi instituído, visando coordenar as ações nacionais e internacionais do desenvolvimento sustentável107 e a proteção da fauna e da flora, ou seja, de todo um ecossistema ameaçado. “A criação do PNUMA não foi fácil. Os países periféricos eram contra, pois acreditavam que ele seria um ins-trumento utilizado para frear o desenvolvimento”;108 mas em longo prazo, nada disso ocorreu, pois o programa permite que o progresso continue, a única delimitação é que isso seja feito de uma maneira prudente. Com o objetivo de conter os problemas ambientais dos Estados, a ONU teve grande importância na campanha da conscientização ambien-tal; a sua ideologia é que, se todos tiverem unidos em prol de uma causa, não importando qual seja, iremos obter a vitória: “Praticar a tolerância e viver em paz, uns com os outros, e unir as nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais”.109 Conter as desarmonias significa progredir, e se isso for feito o desenvolvimento será realizado com res-ponsabilidade. “A missão da ONU parte do pressuposto de que diversos problemas mundiais podem ser mais facilmente combatidos por meio de uma cooperação internacional”.110

A Organização das Nações Unidas é uma instituição internacional formada por 192 Estados soberanos,

105 A Organização das Nações Unidas (ONU) nasceu oficialmente em 24 de outubro de 1945, data da promulgação da Carta das Nações Unidas, que é uma espécie de Constituição da entidade, assinada na época por 51 países, entre eles o Brasil. Criada logo após a 2ª Guerra Mundial, o foco da atuação da ONU é a manutenção da paz e do desenvolvimento em todos os países do mundo. ONU BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php> Acesso em: 09 Set. 2009.106 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p. 37.107 Desenvolvimento sustentável é um conceito sistémico que se traduz num modelo de desenvol-vimento global que incorpora os aspectos de desenvolvimento ambiental no modelo de desenvol-vimento sócioeconómico. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponí-vel em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Desenvolvimento_sustent%C3%A1vel> Acesso em: 10 Set. 2009.108 RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto, 2001, p.82.109 RANGEL, Vicente Marotta. Direito e relações internacionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.27.110 ONU BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/conheca_hist.php> Acesso em: 11 Set. 2009.

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fundada após a 2ª Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores padrões de vida e direitos humanos.111

A cooperação e o interesse populacional, por uma natureza mais limpa, eram alguns dos objetivos dos manifestantes na década de 70; esse período significa mudanças de ideias e, principalmente, de atitudes. O caminho conservacionista é longo e a devastação é grande; não podía-mos apenas esperar que os governos tomassem a iniciativa com projetos de preservação, por isso o fim dos anos 70 é marcado pelo surgimento de ONGs112 e essa nova ideia marca o início dos anos 80. A organização não governamental mais conhecida internacional-mente é o Greenpeace. Fundando no início da década de 70, “adota uma política de ação direta não violenta para chamar a atenção da opi-nião pública e dos meios de comunicação”.113 O Greenpeace114 se for-mou, porque um grupo de americanos se revoltou em prol de uma causa nobre, a preservação do meio ambiente, porque nesta época, os EUA faziam muitos testes nucleares. Insatisfeitos com as atitudes america-nas, manifestaram sua indignação fundando esta ONG, para que seus propósitos tivessem uma repercussão mais expressiva.

A história conta que em 15 de setembro de 1971 esse grupo levantou âncora no porto da cidade de Vancouver, Canadá. Seu surgimento se deu quando um grupo de ativistas resolveu se opor aos testes nucleares dos Estados Unidos.115

111 ONU BRASIL. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/conheca_onu.php> Acesso em: 11 Set. 2009. 112 As Organizações não governamentais são associações do terceiro setor, da sociedade civil, que se declaram com finalidades públicas e sem fins lucrativos, que desenvolvem ações em diferentes áreas e que, geralmente, mobilizam a opinião pública e o apoio da população para modificar de-terminados aspectos da sociedade. ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Organiza%C3%A7%C3%A3o_n%C3%A3o_governamental> Acesso em: 12 Set. 2009.113 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.195.114 A organização, criada em 1971 no Canadá por imigrantes americanos, é financiada com dinheiro de pessoas físicas apenas, não aceitando recursos de governos ou empresas. Tem atualmente cer-ca de três milhões de colaboradores em todo o mundo - quarenta mil no Brasil - que doam quantias mensais que variam de acordo com o país. GREENPEACE. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Greenpeace> Acesso em: 13 Set. 2009.115 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.195.

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O movimento social é um só, independente da época, povo ou região o propósito é o mesmo. Se o que queremos é a preservação e a proteção, com um dos objetivos, de obtermos melhores condições de vida, é assim que vamos agir, utilizaremos todos os meios possíveis para que os resultados se realizem da melhor maneira, beneficiando a todos e ajudando a natureza a se reconstituir.

3.4 – Ano de 1980, a campanha ambientalista não para:

Se o ano de 1970 representa as mudanças de atitudes da popula-ção em relação ao seu meio físico, a década de 80 é o símbolo da cons-cientização ecológica, da luta pela democratização. Isso porque muitas pessoas envolvidas com a campanha ambientalista pensaram em suas atitudes antes de agir. Nessa linha, em 1980, o Institudo Brasileiro de De-senvolvimento Florestal - IBDF criou o projeto Tamar,116 que “tem o objetivo de salvar e proteger as tartarugas marinhas do Brasil”.117 Até esse projeto não havia nenhum trabalho de preservação dos animais do mar. A iniciati-va propiciou regramentos legislativos em prol do ambiente ameaçado. Nesse patamar a Política Nacional do Meio Ambiente foi instituí-da. Em 31 de agosto de 1981, a Lei n° 6.938, “reflete a preocupação da sociedade brasileira em assegurar o desenvolvimento do país, garantin-do a preservação dos recursos naturais”.118 Esta lei proporcionou novas diretrizes para o direito brasileiro, responsabilizando os causadores da destruição natural, e permitiu a cobrança de indenização por dano am-biental. No seu art. 2° dispõe:

A Política do Meio Ambiente tem por objetivo a preser-vação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental

116 O trabalho do projeto foi iniciado na Bahia, Espírito Santo e Sergipe, estendendo-se em seguida para o resto do Brasil, por meio de um levantamento efetuado pelo período de dois anos por toda a costa brasileira, o que permitiu um retrato da situação das tartarugas marinhas (MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.224). Mais tarde, o trabalho de preservação das tartarugas atingiu uma diretriz internacional promulgada pelo Decreto n° 3.842, de 13 de junho de 2001, referente à convenção interamericana para a proteção e a conservação das tarta-rugas marinhas (SCHMIDT, Caroline Assunta; FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Tratados inter-nacionais de direito ambiental: textos essenciais ratificados pelo Brasil. Curitiba: Juruá, 2004, p.91).117 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.224.118 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.67.

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propícia à vida, visando interesses da segurança nacio-nal e à proteção da dignidade humana.119

Antes desta lei, o que vigorava era o Decreto-Lei n° 1.413, de 1975, “que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provoca-da por atividades industriais”;120 a Lei n° 6.803, de 1980, “que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição”;121 e a Lei n° 6.902, de 1981,“que dispõe sobre a criação de Es-tações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental”.122 A propositura dessa nova lei teve como um de seus objetivos, o que é tratado no art. 4°, inc. III da mesma: “estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambien-tal e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais”.123

A Política Nacional do Meio Ambiente possui uma organização sistemática, responsabilizando tanto a União, quanto os Estados e os municípios, na proteção e no melhoramento da qualidade de vida. “O objetivo é a qualidade ambiental propícia à vida das presentes e futuras gerações”.124 Para que seus propósitos dessem resultados foi criado o Sistema Nacional do Meio Ambiente, SISNAMA.

A atuação do SISNAMA se dará mediante articulação coordenada dos órgãos e entidades que o constituem observado o acesso da opinião pública às informa-ções relativas às agressões ao meio ambiente e às ações de proteção ambiental, na forma estabelecida pelo CONAMA.125

Juntamente ao SISNAMA, que tem por finalidade “estabelecer uma rede de agências governamentais, visando assegurar mecanismos capazes de implementar a Política Nacional do Meio Ambiente”,126 o CO-NAMA é outro sistema constituído por representantes do governo de

119 Política Nacional do Meio Ambiente. Art.2° da Lei n°6.938/81.120 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.67.121 Idem, p.67.122 Idem, p.67.123 Política Nacional do Meio Ambiente. Art.4°, inc.III da Lei n°6.938/81.124 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.134.125 CONAMA. Disponível em: <htt://www.mma.gov.br/port/conama/estr.cfm> Acesso em: 14 Set. 2009.126 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.182.

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todos os Estados; é o órgão consultivo e deliberativo do Sistema Nacional do Meio Ambiente que está taxativo no art. 7° da mesma lei, o qual dispõe:

É criado o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, cuja composição, organização, competên-cia e funcionamento serão estabelecidos, em regula-mento pelo Poder Executivo.127

A proposta destas instituições era de criar bases legislativas, para que o ambiente possuísse forças normativas. A Lei n° 6.938/81 serviu de incentivo para a prática ambientalista. Se antes existiam pessoas que não respeitavam o meio ambiente agora ficam obrigadas, pois a lei regulamen-ta uma sociedade e o que ela estabelece deve ser feito. “A legalidade nos sistemas políticos exprime basicamente a observância das leis, o procedi-mento da autoridade em consonância estrita com o direito estabelecido”.128 A Política Nacional do Meio Ambiente inovou o sistema ambiental e pro-porcionou a dignidade entre a natureza e o homem; quem desrespeitar as normas será punido e responsabilizado pelos seus atos ilícitos. Impulsionados a essas ideologias, o termo desenvolvimento sus-tentável é elaborado tendo por objetivo um fim ecológico, para que o desequilíbrio não ocorra, “O que significa pensar sobre os efeitos do processo de crescimento econômico no padrão de vida da sociedade”.129 O conceito foi dado em 1987, no Relatório Brundtland, sendo “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”.130 No que se refere à ideia de desenvolvimento sustentável, a reci-clagem é uma de suas consequências, que visa preservar a natureza e, ao mesmo tempo, permite que o desenvolvimento não pare; se temos o direito de consumir, devemos ser conscientes e reciclar o material que sobrar. “No círculo virtuoso cada um faz a sua parte. Mas principalmente, cada parte entende o círculo como um todo”.131 Reciclar é idealizar um mundo mais limpo. O livro de Elizabeth Grimberg e Patrícia Blauth

127 Política Nacional do Meio Ambiente. Art. 7° da Lei n°6.938/81.128 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2006, p.120.129 OLIVEIRA, Gilson Batista, Souza–Lima, José Edmilson. O desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba, São Paulo: ANNABLUME, 2006, p. 15. 130 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.203.131 GONÇALVES, Pólita. A reciclagem integradora dos aspectos ambientais, sociais e econô-micos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p.41.

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– Coleta seletiva, reciclando materiais, reciclando valores,132 reciclar vai além do lixo seco e lixo orgânico, é uma questão de educação, de res-peito com o bem que é de todos.

A radicalidade da política é, em síntese, uma inclina-ção devota à contestação, às reações entusiásticas em favor das mudanças, às sublevações na perspec-tiva de se salientarem os ideais políticos modernos de liberdade, igualdade e fraternidade.133

Precisamos de todo o ecossistema para viver, estudamos, pes-quisamos, mobilizamos o mundo através de conferências, sabemos dos possíveis efeitos que a degradação pode gerar, então, por que existem tantos desmatamentos e crueldades nas matas e florestas brasileiras? O interesse humano não tem limites, tudo que lhe convém é feito; não é de hoje que criamos campanhas, levantamos bandeiras e realizamos estudos em prol do meio ambiente. A teoria é muito perfeita, rica em detalhes, mas na prática, na maioria das vezes, o que vale é sempre o dinheiro, a prepotência do querer mais; para isso, não pensamos em árvores, passarinhos, queremos mais é pôr as mãos no dinheiro, fa-zemos qualquer coisa para tê-lo. O interesse em preservar a natureza só foi valorizado quando percebemos que sem ela nada mais existiria, e, com isso, não teria mais desenvolvimento, ou seja, exploração dos recursos naturais para desenvolvimentos de empresas.

A Mata Atlântica134 é um exemplo desse descaso. A legislação existe, o governo é consciente das atrocidades que acontecem e nada é feito, por quê?

A Mata Atlântica é considerada atualmente um dos mais ricos conjuntos de ecossistemas do planeta de diversidade ecológica. É uma das florestas tropicais

132 GONÇALVES, Pólita. A reciclagem integradora dos aspectos ambientais, sociais e econô-micos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p.34.133 ALEXANDRE, Agripa Faria. A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro: uma contribuição à crítica do movimento. Blumenau, Florianópolis: Edifurb, 2000, p.75.134 Logo em seguida ao descobrimento, grande parte da vegetação da Mata Atlântica foi destruída devido à exploração intensiva e desordenada da floresta. O pau-brasil foi o principal alvo de extração e exportação dos exploradores que colonizaram a região e hoje está quase extinto. O primeiro con-trato comercial para a exploração do pau-brasil foi feito em 1502, o que levou o Brasil a ser conhecido como “Terra Brasilis”, ligando o nome do país à exploração dessa madeira avermelhada como brasa.MATA ATLÂNTICA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Mata_Atl%C3%A2ntica> Acesso em: 15 Set. 2009.

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mais ameaçadas do mundo. É o ambiente de maior biodiversidade do Brasil.135 A preocupação em preser-var o ambiente foi gerada pela necessidade de ofere-cer à população futura as mesmas condições e recur-sos naturais de que dispõe a geração presente.136

Uma região tão rica, por isso, explorada. Essa é a Mata Atlântica.

Se não fossem os ativistas, as futuras gerações não a conheceriam. “Há milhares de ONGs, órgãos governamentais e grupos de cidadãos espalha-dos pelo país que se empenham na preservação e revegetação da Mata Atlântica”.137 Preservar era a solução, mas como, diante de tantas atitudes aberrantes, foi necessária mais que uma campanha, em 1986 fundou-se o SOS Mata Atlântica,138 “a entidade ambientalista brasileira com maior apelo popular, com mais de 70.000 filiados”.139 As diversas tonalidades de flores e plantas, a sutileza e o encato do piar dos pássaros fazem com que a Mata Atlântica seja de uma pureza sem fim, de uma riqueza que é um explendor; que pena não ter sido reconhecida e preservada antes. Feliz-mente que o “tarde de mais” não chegou. O apelo serviu como parâmetro para que o avanço do desmatamento fosse contido.

3.5 – Constituição Federal brasileira de 1988:

Com o progresso da legislação ambiental, não podíamos admitir uma Constituição Federal defasada. O primeiro passo foi dado com a Lei n° 6.938/81, que proporcionou novos comportamentos diante da nature-za. A CF/88 é criada para reforçar a campanha ambiental.

135 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.210.136 OLIVEIRA, Gilson Batista; SOUZA - LIMA, José Edmilson. O desenvolvimento sustentável em foco: uma contribuição multidisciplinar. Curitiba, São Paulo: ANNABLUME, 2006, p. 21.137 MATA ATLÂNTICA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Mata_Atl%C3%A2ntica> Acesso em: 15 Set. 2009.138 SOS Mata Atlântica é uma entidade privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. Seus principais objetivos são defender os remanescentes da Mata Atlântica, valorizar a identidade física e cultural das comunidades humanas que os habitam e conservar os riquíssimos pa-trimônios naturais, históricos e culturais dessas regiões, buscando o seu desenvolvimento sustentado. MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.235 e 236.139 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.235.

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Em 05 de outubro de 1988, promulgou-se a Consti-tuição Federal, contendo normas sobre as relações entre o homem, o meio ambiente e a ordem eco-nômica e trazendo, para o plano constitucional, as principais regras contidas na Política Nacional do Meio Ambiente, além de uma abordagem de cida-dania ambiental.140

Com a Constituição Federal reforçando as mudanças de pa-radigmas, o movimento social é fortalecido; a preservação ambiental está protegida pela lei maior, pois o Estado apresenta-se do lado dos ambientalistas. Esta conquista representa todo o esforço de um grupo ativista em prol de uma causa ambientalista, e “sendo o meio ambiente um objeto do interesse de todos, insere-se no rol dos bens tutelados pelo Poder Público”.141 Se esse reconhecimento foi valorizado é porque o assunto é de significativa importância, portanto, devemos respeitar e seguir suas orientações.

O direito foi consumado nas leis com o intuito de proporcionar segurança a todos, garantindo, assim, que estes não fossem violados. Entretanto, é em relação ao sentimento de respeito que ainda há dúvi-das, porque o homem em situação de desigualdade sente dificuldades de honrar seu semelhante.

A Constituição Federal, em seu corpo textual, no art. 225, se de-dica ao meio ambiente dispondo que “constitui uma inovação no direito constitucional brasileiro, em matéria ambiental, pois, utilizando instru-mentos que já constavam na Lei n° 6.938/81, elevou ao nível da Cons-tituição a temática ambiental”.142 O direito de usufruir o meio ambiente é um consenso claro, expresso no art. 225 da CF: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”.143

A década de 80 ficou marcada por várias lutas e conquistas. É nessa época que um dos maiores ativistas do Brasil atua, Chico Mendes é o nome dele. Por ser guerreiro e certo de suas ideologias foi perseguido, e enquanto os porcos capitalistas não o mataram, não 140 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.75.141 Idem, p.76.142 Idem, p.75.143 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Código Civil e Código de Processo Civil. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.97.

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sossegaram. “Durante o ano de 1988 foi cada vez mais ameaçado e perseguido, principalmente por ações organizadas após a instalação da UDR no Acre”.144

Apesar dos empecilhos no caminho, o movimento seguiu com seus propósitos. O abalo sentido, pela perda de uma grande figura desta campanha, serviu de incentivo para os sobreviventes dessa “guerra”. Criamos campanhas, conscientizações, estudamos os fatos e continua-mos reverenciando a natureza e enfatizando a importância dela na vida de todos. Preservar é cultivar riquezas, é ser benevolente em seus atos e responsável perante aquilo que lhe foi cedido.

O estudo realizado em prol do meio ambiente, para alguns, não serviu como estímulo de novas condutas porque, mesmo sabendo os danos que podem surgir devido a atitudes esdrúxulas, ainda vivemos num mundo onde as ideias são controversas. Ao mesmo tempo em que preservamos uma árvore, derrubamos uma floresta; isso fica claro quando presenciamos um fato que nos deixa sem palavras, em que o sentimento fica sem reação, e só depois nos perguntamos: onde este mundo vai parar? Infelizmente, a resposta se direciona ao caos total, e é por isso que o movimento ambiental é tão persistente e tenta, de to-das as formas, conscientizar mais e mais pessoas. Quem sabe um dia, o respeito seja conquistado e o meio ambiente enfim, seja referência a uma batalha vitoriosa.

3.6 – Reflexão e interesse: Rio 92, segundo marco internacional:

A problemática ambiental segue na década de 90. Apesar de já existirem muitos adeptos da campanha de preservação do meio ambiente, o mundo ainda sofre com o descaso, devido ao significado número de indivíduos não unidos pela causa ambiental. Por essas ra-zões, novamente, a necessidade de nos reunirmos em uma conferên-cia, para relembrarmos o que ficou acertado anteriormente e criarmos estratégias, com a finalidade de solucionar os problemas da época. “Com a participação de 178 governos e a presença de mais de 100

144 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.240.

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chefes de estado ou de governos, a ECO-92,145 foi a maior conferência já realizada pelas Nações Unidas”.146

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente intensi-fica a campanha em salvar a natureza. Devido ao fato de haver grupos divergentes de opiniões é necessário um melhor esclarecimento de pen-dências que não foram expostas claramente no passado. Aquilo que po-deria estar gerando confusão, neste encontro, tenta-se esclarecer: por exemplo, o termo desenvolvimento sustentável é referido com mais pre-cisão, proporcionando a clareza de sua proposta.

O alcance, porém, do desenvolvimento sustentável não ocorre apenas com palavras e teorias, mas com uma transformação no modo de vida das pessoas e dos Estados, alterando os processos de consumo e a forma de exploração de recursos naturais.147

Com o término das palestras, realizadas no Rio 92, o mundo pode refletir e pensar em seus atos; com as propostas bem definidas, ago-ra não existem mais desculpas para continuar errando e ocasionando danos irreparáveis a Terra. Será que desta vez os resultados positivos viriam? “A partir da ECO-92, o direito internacional do meio ambiente passará a consagrar o enfoque da necessidade de regulamentações”.148 O primeiro resultado, do ECO-92, foi a criação de duas convenções mul-tilaterais, assinada por todos os participantes da conferência. “A Con-venção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima149 e a Convenção sobre a Diversidade Biológica”.150

145 Realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro. O seu objetivo principal era buscar meios de conciliar o desenvolvimento sócioeconômico com a conservação e proteção dos ecos-sistemas da Terra. ECO-92. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/ECO-92> Acesso em: 16 Set. 2009.146 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.55 e 56.147 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.40.148 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.79.149 Este tratado foi firmado por quase todos os países do mundo e tem como objetivo a estabilização da concentração de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera em níveis tais que evitem a interferência perigosa com o sistema climático. QUADRO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MUDANÇA DE CLIMA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%A3oQuadro_das_Na%C3%A7%C3%B5es_Uni-das_sobre_a_Mudan%C3%A7a_do_Clima> Acesso em: 16 Set. 2009.150 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP:

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Em seguida, obteve-se outro resultado importante da conferên-cia, que foi a “fixação de princípios normativos do direito internacional do meio ambiente para o futuro, subscritos em três documentos”,151 sendo seu principal resultado a Agenda 21.152 Este documento “con-siste em um programa de proteção ambiental para o século XXI, trata de praticamente todos os aspectos relacionados ao meio ambiente, fixando metas gerais a serem cumpridas”. A crítica que se faz, em relação à Agenda 21, é que só foram indicados os objetivos, esque-cendo-se de mencionar como conseguir os recursos financeiros para pôr em prática as suas ideologias.

Daí a dificuldade na obtenção de eficácia das Agen-das 21, pois cabe a negociação caso a caso, para identificarem-se as formas de financiamento de cada ação a ser implementada e quem a financiará.153

Mesmo existindo alguns programas não muito esclarecedores, exemplificando com a Agenda 21, o envolvimento populacional mar-cou, novamente, a história ambiental; com mais opções de programas ecológicos, o povo pôde prosseguir sua trajetória ambientalista. “O re-sultado de uma tomada de consciência da necessidade de minimizar os efeitos deletérios continuam sendo necessárias à moderna vida em sociedade”.154 A Rio 92 proporciona que a esperança de um futuro mais promissor seja retomada na sociedade, permitindo que as pessoas não desistam das atitudes ecologicamente corretas. Se Estocolmo não ob-teve os resultados esperados, a conferência do Rio os teria.

Manole, 2003, p.56. A Convenção da Biodiversidade foi o acordo aprovado durante a Rio-92, por 156 países e uma organização de integração econômica regional. Foi ratificada pelo Congresso Nacional Brasileiro e entrou em vigor no final de dezembro de 1993. Os objetivos da convenção são a conservação da biodiversidade, o uso sustentável de seus componentes e a divisão equitativa e justa dos benefícios gerados com a utilização de recursos genéticos. BIODIVERSIDADE. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/ECO-92#Conven.C3.A7.C3.A3o_da_Biodiversidade> Acesso em: 17 Set. 2009.151 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.56.152 O principal documento produzido na Rio-92, o Agenda 21, é um programa de ação que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional. Ele concilia métodos de proteção am-biental, justiça social e eficiência econômica. ECO-92. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/ECO-92> Acesso em: 18 Set. 2009.153 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.48.154 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.116.

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Após cinco anos da ECO-92, em Kyoto, no Japão, foi realizado um acordo internacional, em que países desenvolvidos têm o dever de minimizar os efeitos dos gases emitidos por suas indústrias; esse ter-mo é conhecido como Protocolo de Kyoto. O “Protocolo prevê que os países desenvolvidos devem reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa em pelo menos”,155 5,2%. Países em desenvolvimento, como o Brasil, não precisam cumprir a determinação do Protocolo; fi-cando ratificado pelo Decreto Legislativo156 n° 144, de 20/06/2002.

3.7 – Século XXI, período “neutro”:

O século XXI se inicia perante as propostas elaborados na con-ferência da ECO-92.157 “Diante desse cenário estava mais do que clara a necessidade de se enfrentar a questão ambiental, coibindo as práticas que, em nome de um progresso não sustentável, estavam causando da-nos irreparáveis à saúde”.158 Fazer o correto significa salvar a vida de to-dos; o meio ambiente é a base da existência do planeta, porque através dele as espécies vivem e se reproduzem. Sem essa base não podemos ter a esperança de um futuro.

Mesmo a Rio 92 tendo colaborado para o surgimento de novos projetos ecológicos, “três foram às contribuições mais expressivas”.159 não foi suficiente para extinguir todos os atos de crueldade ambiental; 155 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.42.156 Idem, p.42.157 Os encontros ocorreram no centro de convenções chamado Rio Centro. A diferença entre 1992 e 1972 (quando teve lugar a Conferência de Estocolmo) pode ser traduzida pela presença maciça de Chefes de Estado, fator indicativo da importância atribuída à questão ambiental no início da dé-cada de 1990. ECO-92. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/ECO-92> Acesso em: 19 Set. 2009.158 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.39.159 SOARES, Guido Fernando Silva. A proteção internacional do meio ambiente. Barueri, SP: Manole, 2003, p.73. Em primeiro lugar, a reafirmação do princípio da necessidade de se constituir as condições para se estabelecer uma igualdade jurídica entre os Estados, a partir do reconhecimento de uma desigualdade de fato entre eles. Em segundo, o dever de os Estados fortalecerem a noção de cooperação internacional entre eles, no que se refere a qualquer medida de preservação do meio ambiente, seja ela local, nacional, regional, internacional, não mais como um princípio ético e desejável, mas com um dever jurídico e obrigatório. Em terceiro, a introdução do conceito de susten-tabilidade, qualidade particular que deverá impregnar quaisquer decisões, políticas governamentais ou normas votadas pelos Estados, conceito que deverá gerar deveres que podem ser exigidos dos próprios Estados e dos particulares submetidos às jurisdições deles.

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o homem continua prejudicando o meio ambiente com expressivos danos para a natureza; após dez anos realiza-se em Joanesburgo, na África do Sul, a Rio + 10.160

Como forma de aferir o andamento da implanta-ção das propostas estabelecidas em 1992, discu-tindo e avaliando os acertos e falhas ocorridos nas ações relativas ao meio ambiente mundial.161

A realização da Rio + 10 não traz novos assuntos, “os temas abordados nessa reunião referem-se à energia limpa e renovável, às consequências do efeito estufa, à conservação da biodiversidade, à pro-teção e uso da água...”162 porque os problemas são os mesmos de vinte anos atrás; por mais que os avisos já tenham sido mencionados, dos transtornos que destruir a natureza causaria, isso não foi relevante para alguns comandantes, tanto que o desmatamento continua e a falta de atuação dos responsáveis pela natureza persiste.

O alcance, entretanto, do ecodesenvolvimento, dentro de um propósito estratégico, planejado, operacional-mente viável e coordenado em bases científicas e tec-nológicas sólidas, depende ainda de um significativo aumento de integração interdisciplinar.163

O Brasil e o mundo vivem com muitas teorias, leis e decretos, mas

na prática somos primariamente desinformados e inconsequentes, diante de nossa bela e diversificada natureza. “A recorrência e a reverência ao mundo vida constituem um modo acertado de reafirmação dos valores e normas da ética iluminista que embasam a ação comunicativa ideal”.164

160 O objetivo principal da Conferência seria rever as metas propostas pela Agenda 21 e direcio-nar as realizações às áreas que requerem um esforço adicional para sua implementação, porém, o evento tomou outro direcionamento, debatendo quase que exclusivamente sobre problemas de cunho social. Houve também a formação de blocos de países que quiseram defender exclusivamen-te seus interesses, sob a liderança dos EUA. ECO-92. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/ECO-92> Acesso em: 20 Set. 2009.161 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009 p.49.162 Idem, p.49.163 ALEXANDRE, Agripa Faria. A perda da radicalidade do movimento ambientalista brasileiro: uma contribuição à crítica do movimento. Blumenau, Florianópolis: Edifurb, 2000, p.26.164 Idem, p. 84.

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Com novas perspectivas e projetos, a Rio + 10 se finda, e com ela a esperança que o amanhã chegue com mais respeito e amor ao próximo, para que obtenhamos o êxito e a conclusão de ideias geniais criadas em prol do planeta.

Ao final do encontro, estabeleceram-se metas para os próximos dez anos, sendo que a principal delas foi o comprometimento dos países participantes em reduzir pela metade a população sem acesso à água potável e saneamento básico até 2015.165

Essa determinação referida foi outorgada pelos países participan-tes, porque, principalmente, a população sem acesso às informações é que ocasionam mais destruição ao planeta. Através de pequenos in-centivos dados pelo governo a essas pessoas, como um saneamento básico adequado, água potável e, principalmente, estudo, será possível haver mudanças de atitudes por parte dessa parcela da sociedade. Com instrução, as mudanças serão sentidas por todos e os problemas estag-nados. “No Brasil, um resultado concreto foi o início do Programa Áreas Protegidas da Amazônia, que prevê a criação e a implementação de 500 mil km2 de parques e reservas na Amazônia até 2012”.166

No século XXI é posta em xeque a ideia de um comprometimen-to ecológico, só dependendo de nossos atos, para que a conservação da natureza permaneça por muitos anos; sendo realizada discretamen-te, nos põem a impressão de que nada acontece e o meio ambiente esta abandonado. Isso é logo repensado quando empresas aderem a sistemas ecologicamente corretos; uma atitude recente, e que esta agradando muito, são os condomínios ecologicamente corretos.

A DIAMETRO167 é uma construtora gaúcha que está utilizando métodos que ajudam na preservação do meio ambiente. Sua recente construção foi o Residencial Gaia, localizado no bairro Santana, em Por-to Alegre. Nesta obra constam várias mudanças expressivas, tais como: 165 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.49.166 Idem, p.49.167 Atuando desde 1981 na área de incorporações imobiliárias e, prestação de serviços a terceiros como construtora, a DIÂMETRO já entregou um grande número de prédios residenciais e comerciais, além de diversas obras para clientes, como sedes de empresas e, pavilhões industriais. Aliando projetos criativos e racionais com a qualidade na execução e nos acabamentos, a DIÂMETRO conquistou credibilidade e a confiança do mercado, resultando em vínculos e parcerias duradouras com seus clientes. DIAMETRO. Disponível em: <http://www.diametro-construtora.com.br/index.html> Acesso em 20 Set. 2009.

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sistemas de captação de água da chuva e de tratamento de esgoto, coleta seletiva de lixo, torneiras com temporizadores, iluminação com sensor de presença, uso de lâmpadas de baixo consumo, hidrômetros e gasômetros individuais...

Em face da incerteza ou da controvérsia científica atu-al, é melhor tomar medidas de proteção severas do que nada fazer. É, em realidade, implementar o direito ao meio ambiente às futuras gerações.168

A campanha ambientalista segue por todas as décadas, se re-nova e se atualiza, seguindo o parâmetro de sociedades, adéqua-se ao novo. Se antes o movimento ambiental seguia um ritmo mais radical, em que o povo ia para as ruas manifestar sua indignação, hoje, essa maneira não é muito empregada, preferimos atitudes menos revoltadas e resultados mais expressivos. Sabemos que o tempo urge, e o meio fí-sico não pode esperar, por isso, muitas vezes, agimos por conta própria, plantando árvores, adotando praças. E é devido a isso que processos ambientais não são o melhor caminho a ser seguido, preferem-se atos extrajudiciais, para que o dano seja reparado o quanto antes e o ambien-te não sinta tanto o desgaste sofrido.

168 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito Ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.57.

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Juramento de Henrique Luiz Roessler

Juro solenemente,como filho do Brasil,orgulhoso de suas belezas e riquezas naturais,zelar pelas suas florestas,sítios e campos,protegendo-os contra o fogo e a devastação,fomentar o reflorestamento,conservar a fertilidade do solo,a pureza das águas e a perenidade das fontes e impedir o extermíniodos animais silvestres, aves e peixes.169

169 BONES, Elmar. Pioneiros da ecologia: breve história do movimento ambientalista do Rio Gran-de do Sul. Porto Alegre: Já, 2007, p.6.

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4. LEIS, O MANIFESTO SE CONSUMA:

4.1 – Brasil, período colonial

É diante do caos que agimos prudentemente; quando sentimos as consequências de atitudes ilícitas, muitas vezes, buscamos agir de outra forma, para evitar que o malefício se repita. Infelizmente, não são todos que agem assim, tornando vidas alheias caóticas, pois deixam de lado o bom senso e a coerência por sonhos utópicos. Essa realidade acompanha a cultura brasileira desde a época colonial, em que os portu-gueses exploravam o pau-Brasil, visando à expansão de seu comércio. O propósito era a descoberta de terras magicamente encantadoras, uma diversidade de riquezas que cegaram os colonizadores pela ganância ao ponto de desmatarem sem remorsos.

Os colonizadores estabeleceram com a nova terra uma relação meramente utilitária. E, como já dizia o mais antigo dos nossos historiadores Frei Vicente do Salvador, queriam servir-se da terra, não como senho-res, mas como usufrutuários, só para a desfrutarem e a deixarem destruída.170

A realidade expansionista desenfreada propiciou o início de uma manifestação em prol do meio ambiente. Por ter sido de grande valia, pro-duziu uma das primeiras vitórias legislativas “em 11 de outubro de 1640 e [foi] reiterada em 17 de março e 09 de setembro de 1641, bem como pelo edital de 1° de março de 1644, que impunha multas aos infratores”.171 Quem propiciou as primeiras mudanças no Brasil foram os holandeses, que “editaram leis ambientais que proibiram o abate da árvore de cajueiro e determinaram ainda o cuidado com a poluição das águas”.172 Fazer cum-prir a lei não era uma das tarefas mais fáceis, vivíamos num período onde em que o desgaste ambiental era rotina e o incomum tornava-se cada dia mais instigante. Com o intuito de conter estes estrangeiros a lei foi feita,

170 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.27. 171 Idem, p. 48.172 Idem, p. 48.

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e prevenir novos atos de atrocidades era a meta, mas não eram todos que a cumpriam, por isso, “não obtendo a legislação o efeito desejado, a autoridade legal lançava mão da mesma legislação e a reeditava, com agravamento da pena, na tentativa de que fosse cumprida”.173

A fase colonial foi marcada por muito desrespeito com a nature-za, e a legislação foi feita com o intuito de conter os avanços desmedi-dos de um povo desregrado pelo capitalismo. A importância que o meio ambiente já implicava, nesta época, fica nítida pelo fato ocorrido em 17 de outubro de 1754, quando “autoridades proibiram o corte de todas as árvores produtoras de madeiras presentes em terras de uso exclu-sivo da coroa, visando à preservação das espécies adequadas à cons-trução naval”.174 Nota-se que, a preocupação da época, em relação à natureza, era de que, se ela não fosse explorada adequadamente, projetos futuros não se consumariam, então a preservação deveria ser posta em prática, para que, mais tarde, a natureza estivesse mais forte. Isto fica mais claro quando o Rei Dom José, em 9 de julho de 1760, expede um alvará “demonstrando preocupação com o corte desmedi-do de árvores cuja consequência poderia ser a falta delas com sérias implicações para o comércio”.175

O meio ambiente, na maioria das vezes, foi conservado para que futuras explorações vingassem; por ser de uma riqueza extraordinária atraiu pessoas sem valores, prepotentes e incrédulas, que transformaram a natureza em um grande palco de homicídios. Por ter um valor apenas econômico, o explorador nunca foi condenado e a devastação era realiza-da diariamente sem existir um basta; os valores eram outros e a curiosida-de falava mais alto; conhecer o desconhecido se tornava o maior prazer de estrangeiros ambiciosos, realizados a cada árvore que caia ao chão. Em 1861, sob orientação de Dom Pedro II:

O primeiro ministro da agricultura, Manuel Felizardo de Souza e Mello, publicou a Decisão n° 557 com as instruções provisórias para o plantio e conservação das florestas da Tijuca e das Paineiras, definindo re-gras de conservação e reflorestamento.176

173 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 48.174 Idem, p. 66.175 Idem, p. 67.176 Idem, p.106. O termo reflorestamento tem sido utilizado para todo tipo de implantação de

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Com os manifestos ecológicos, no período colonial, os recursos naturais foram mais valorizados, e a conscientização social proporcionou a criação do Parque Nacional do Rio de Janeiro, “em 06 de julho de 1961, pelo Decreto n° 50.923, de Jânio Quadros”.177 Mesmo o povo mostrando-se introspectivo para as mudanças, elas ocorreram; decretos foram criados e a transformação de atitudes propiciou uma nova conduta do homem diante de seu semelhante. Por ser um número pequeno de simpatizantes, o dano ambiental prosseguiu chegando a um ponto em que, se nada fosse feito, a vida terrestre estaria ameaçada.

4.2 – Anos de 1970: o caos virou lei:

Neste estar melancólico chegamos à década de 1970, em que o Brasil e o mundo viviam num estado de alerta constante. O desgaste am-biental era tanto que a perspectiva de vida tornava-se um delírio fantás-tico. Apesar de que, nas décadas anteriores, existisse uma preocupação com a natureza, ela não passava disso, o alarde era feito, às vezes vira-va decretos, mas quem cumpria? Quem fiscalizava? Não existiam essas pessoas e o meio ambiente acabava ficando em segundo plano; só saiu desta categoria quando mostrou a sua verdadeira sabedoria deixando o homem horrorizado com as perspectivas que se aproximavam caso uma medida mais drástica não fosse tomada.

Com as mudanças climáticas e catástrofes relevantes, os Estados foram surpreendidos pelas reações que a natureza produziu, mostrando-nos que o caminho seguido causaria grande prejuízo à vida de todos. Essas reações aconteceram devido à ignorância do homem em relação ao seu meio. Visando um futuro mais próspero, criaram-se diversos de-cretos, leis e institutos, com o objetivo de conter a natureza do ilícito; uma destas consequências foi a criação do Instituto Florestal.

florestas, porém não é correto falar em reflorestamento em uma área que nunca foi coberta por floresta. Por isso, o termo aplica-se apenas à implantação de florestas em áreas naturalmente flo-restais que, por ação antrópica ou natural, perderam suas características originais. REFLORESTAMENTO. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Reflo-restamento> Acesso em: 21 Set. 2009.177 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.107.

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Em 26 de janeiro de 1970 pelo Decreto n° 52.370, foi estabelecido no Brasil o Instituto Florestal, que tem en-tre seus objetivos a proteção, a pesquisa, a recuperação e o manejo da biodiversidade e do patrimônio natural e cultural a ela associados, pela perspectiva do desenvol-vimento sustentável do Estado de São Paulo.178

O Instituto Florestal possibilitou que pesquisas mais detalha-

das a respeito do meio ambiente fossem realizadas, permitindo melhor compreensão do objeto estudado instigando o interesse e questiona-mentos, de como, quando e quem poderia atuar e regredir o avanço da crueldade empregado no meio físico. Este questionamento é feito, porque não basta ter a boa vontade de querer modificar uma prática cultural, são necessários o comprometimento e a união dos cidadãos para, para que resultados mais expressivos sejam percebidos e copia-dos pelos demais. Uma possível atividade realizada pelo Instituto por causa da junção das pessoas é o “monitoramento da vegetação natural e do reflorestamento em todo o Estado, com base em tecnologia de ponta (geoprocessamento em bases cartográficas digitais)”.179

Envolvidas em prol da natureza, as legislações ambientais co-meçaram a aparecer e, principalmente, serem mais eficazes, quando exemplos internacionais, ditados pela Conferência de Estocolmo e mani-festações nacionais, lideradas pela Agapan no Rio Grande do Sul, mos-traram a realidade a que estávamos submetidos, sendo necessária a implementação de uma nova meta na sociedade, enquanto houvesse tempo, para que o prejuízo não fosse maior. O princípio 17, ditado por Estocolmo, “aborda a efetividade das normas jurídicas, ao dispor sobre a necessidade de haver instituições nacionais competentes, com a tarefa de planejar a utilização dos recursos ambientais”.180 178 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.191. Se-diado em São Paulo, o Instituto Florestal, na década de 1970, foi o pioneiro no país na adaptação e desenvolvimento dos planos de manejo das áreas naturais, repassando a tecnologia para a esfera federal. Também nessa mesma década a instituição realizou o zoneamento econômico florestal, com o objetivo de orientar a atividade florestal no Estado de São Paulo, tanto para a proteção ambiental como para atividades econômicas. Administra 851.910,03 hectares de florestas naturais e implanta-das em 86 Unidades de Conservação, o que compõe 3,4% do território paulista, incluindo 10% do que sobrou a nível nacional da biodiversidade da Mata Atlântica. INSTITUTO FLORESTAL. In: WIKIPÉ-DIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Instituto_Florestal> Acesso em: 22 Set. 2009.179 IFLORESTAL. Disponível em: <http://www.iflorestal.sp.gov.br/institucional/index.asp> Acesso em: 22 Set. 2009. 180 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.35.

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4.3 – As diretrizes pós-Estocolmo:

Seguindo o raciocínio discutido na Conferência de Estocolmo, em 1972, “que marcou os anos 70 como a década do ambientalismo global fazendo um elo entre meio ambiente e desenvolvimento”;181 existiam pre-ocupações da sociedade em relação ao meio físico, por causa da pers-pectiva negativa que se tinha para o futuro, sendo necessária, em 1973, a elaboração de um texto normativo que fosse eficiente em suas metas: o Decreto 73.030/73 trata sobre a Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA) e foi implementado na sociedade brasileira “com o intuito de orientar a política de conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais no Brasil”.182

O sistema ecológico tem como base os recursos naturais,183 e sem eles muitos projetos deixariam de ser consumados. A Secretaria Especial foi muito importante para que o desenvolvimento ambiental fosse realizado com prudência. O meio ambiente é muito rico e vasto, ficando complexo o bastante, a ponto de apenas uma instituição em prol da causa não ser suficiente; em 1975, pelo Decreto 76.470/75, cria-se o programa de conservação do solo. É um dos primeiros programas184 de conservação focado em uma parte específica do meio ambiente. Em seu art.1° contempla-nos de um modo geral alguns de seus objetivos:

181 MOTA, José Aroudo. O valor da natureza: Economia e política dos recursos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001, p.36.182 O primeiro secretário da Sema foi Paulo Nogueira Neto, que exerceu o cargo de secretário espe-cial do Meio Ambiente por doze anos, de 1974 a 1986. Durante sua gestão, foram instituídas dezoito estações ecológicas, que totalizaram 3,2 milhões de hectares protegidos, e áreas de proteção ambien-tal (APA). MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.190.183 Recursos naturais são elementos da natureza com utilidade para o Homem, com o objetivo do desenvolvimento da civilização, sobrevivência e conforto da sociedade em geral. Podem ser renováveis, como a energia do Sol e do vento. Já a água, o solo e as árvores que estão sendo considerados limitados, são chamados de potencialmente renováveis. E ainda não renováveis, como o petróleo e minérios em geral. Recurso natural é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção. O termo surgiu pela primeira vez na década 1970, por E.F. Schumacher no seu livro intitulado Small is Beautiful. RECURSO NATURAL. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/Recurso_natural> Acesso em: 23 Set. 2009.184 Outro programa focado apenas em uma matéria foi o Código de Águas, estabelecido pelo De-creto n° 24.643, de 10 de setembro de 1934; este regulamento tratou dos vários aspectos jurídicos relativos a esse recurso, seja em matéria de direito civil, seja em sede de direito administrativo. Embora tenha sido um instrumento moderno à época de sua edição, o Código de Águas não foi regulamentado em todas as matérias, o que ocasionou um desequilíbrio ambiental. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.190 e 191.

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Art.1° É criado o Programa Nacional de Conservação dos Solos - P.N.C.S., sob a supervisão do Ministério da Agricultura, com o objetivo de promover, em todo o território nacional, a adoção das práticas de con-servação do solo, assim entendidos a manutenção e o melhoramento da sua capacidade produtiva.185

Este Decreto favoreceu mudanças de tratamento do solo,186 per-mitindo que a terra fosse explorada com maior cuidado propiciando um correto desenvolvimento; uma adoção milenar, como se refere Maria Luiza Machado Granziera, “é o caso das curvas de nível, nas agricul-turas em áreas elevadas, em que as plantas ficam dispostas em linhas paralelas ao solo e não perpendicularmente a ele”.187 Tacitamente em seu Artigo 4°, o decreto menciona os efeitos e as consequências àque-les que, por ventura, não respeitarem a legislação em vigor:

Art. 4º Nos Estados onde já existam atividades de conservação do solo, executadas por pessoa jurídica de direito público ou de direito privado, o Ministério da Agricultura poderá promover a celebração de con-vênios, com o objetivo de proporcionar ajuda técnico-financeira para acelerar e intensificar os trabalhos de interesse do Programa.188

O solo é a base da vida, porque é a partir dele que espécies se re-produzem e novos projetos progressistas podem se efetivar; “o solo em sua totalidade tem matérias orgânicas contidas nas folhas e na grama, que são puxadas para o subsolo para que sejam finalmente incorporadas ao solo”.189 Somos os responsáveis pelo bem da vida, e é agindo com coerência e respeitando as diferenças que poderemos viver dignamente.

A prudência propicia uma melhor desenvoltura permitindo que interesses se concretizem. Por ser de extrema importância, uma das

185 Art. 1°, do Decreto n° 76.470, de 16 de outubro de 1975. 186 Segundo Odum e Barret, o solo não é apenas um fator do ambiente para os organismos, mas também é produzido por eles. De modo geral, solo é o resultado líquido da ação do clima e dos organismos, especialmente a vegetação e os micróbios, sobre a rocha-mãe na superfície da Terra. ODUM, Eugene; BARRET, Gary. Fundamentos da ecologia. Trad. da 5. Ed. norte-americana. São Paulo: Thomson Learning, 2007, p.187.187 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009,p.221.188 Art. 4°, do Decreto n° 76.470, de 16 de outubro de 1975. 189 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969.

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preocupações existentes é em relação à grande carga de poluição que o meio ambiente concentra nas primeiras camadas superficiais. O uso de inseticidas e os testes nucleares são exemplos desta enorme espes-sura poluente que fere a estrutura planetária e contamina um de nossos meios de sobrevivência, que é o alimento. “Considerando que o solo abri-ga ou faz parte integrante dos ecossistemas, a sua proteção diz respeito à manutenção do equilíbrio ambiental”.190 Com o intuito de responsabilizar os causadores da poluição, o Decreto-Lei n° 1.413, de 14 de agosto de 1975, “dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais”.191 Este decreto refere-se apenas a processos industriais, porque é neste sistema em que a poluição ocorre com mais in-tensidade, devido ao uso de substâncias químicas perigosas que causam verdadeiros estragos na natureza.

Enquanto que no Brasil uma das preocupações era com o solo, no exterior a preocupação direcionava-se à salvação de espécies que com-põem a diversidade da fauna e da flora. O Decreto n° 76.623, de 17 de novembro de 1975, “dispõe sobre a convenção do comércio internacional das espécies da fauna e flora selvagens em perigo de extinção”.192 Salvan-do os animais em risco será mais difícil ocorrer um desequilíbrio ambien-tal, porque se as espécies estiverem em equilíbrio é muito provável que todo o seu habitat também esteja em perfeita sintonia, por isso a impor-tância de cuidar o todo e não apenas uma área em específico. Para haver o controle, o Artigo VIII prevê algumas medidas que devem ser adotadas pelas partes envolvidas, objetivando o cumprimento do tratado vigente.

As partes adotarão as medidas apropriadas para ve-lar pelo cumprimento das disposições desta Conven-

190 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.220.191 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.593. Decreto-Lei n° 1.413, de 14 de agosto de 1975. Art. 1° - As indústrias instaladas ou a se instalarem em território nacional são obrigadas a promover as medidas necessárias a prevenir ou corrigir os inconvenientes e prejuízos da poluição e da contaminação do meio ambiente. Art. 2° - Compete exclusivamente ao Poder Executivo Federal, nos casos de inobservância do disposto no artigo 1° deste Decreto-Lei, determinar ou cancelar a suspensão do funcionamento de estabelecimento industrial cuja atividade seja considerada de alto interesse do desenvolvimento e da segurança nacional. 192 SCHMIDT, Caroline Assunta; FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Tratados internacionais de direito ambiental: textos essenciais ratificados pelo Brasil. Curitiba: Juruá, 2004, p.29. Decreto n° 76.623, de 17 de novembro de 1975; em seu Artigo I, a, estabelece a definição de espécie, que é toda espécie, subespécie ou uma população geograficamente isolada. E em seu Artigo I, b, define o que seriam espécimes qualquer animal ou planta, vivo ou morto.

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ção e proibir o comércio de espécimes em violação das mesmas, medidas que incluirão sancionar o co-mércio ou a posse de tais espécimes, ou ambos; e prever o confisco ou devolução ao Estado de explo-ração de tais espécimes.193

Apesar de existirem legislações em prol da sobrevivência ambien-

tal, em 19 de dezembro de 1979 entra em vigor a Lei n° 6.766,194 “que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano”;195 este é um regulamento que não visa à preservação, à conservação do solo, e sim se relaciona à sua estrutura, como deve ser administrada. Nota-se que de uma lei a outra, a respeito do solo, se passou apenas cinco anos, e os proble-mas ambientais continuaram, mas os interesses já se mostravam outros, focando-se mais a base econômica e não a base conservacionista.

Diante desse cenário estava mais do que clara a ne-cessidade de se enfrentar a questão ambiental, coi-bindo as práticas que, em nome de um progresso não sustentável, estavam causando danos irreparáveis à saúde, à vida humana e ao meio ambiente.196

A legislação ambiental tem seus manejos, direcionando-se ao lado mais vantajoso; “o fato de um espaço ser declarado como protegido não lhe garante a proteção”.197 Quando a natureza se mostra interes-sante aos planos do governo, as leis são cumpridas e respeitadas, mas passando-se os anos, caso o proveito indique outro caminho, faz com que setores se adaptem as novas diretrizes, assim possuíram status e respeito de autoridades ambiciosas, podendo até gerar gratificações a quem as cumprir. “O fundamento para tal assertiva é que o direito ao meio ambiente dá maior relevância ao objeto”.198

193 SCHMIDT, Caroline Assunta; FREITAS, Mariana Almeida Passos de. Tratados internacionais de direito ambiental: textos essenciais ratificados pelo Brasil. Curitiba: Juruá, 2004, p.33.194 Art. 2° da Lei 6.766 de 19 dezembro de 1979. O parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento ou desmembramento, observadas as disposições desta lei e as das legisla-ções estaduais e municipais pertinentes. 195 Lei 6.766 de 19 dezembro de 1979.196 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.39.197 Idem, p.325.198 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ao meio ambiente: ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, 92.

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Mesmo existindo tantas controvérsias no sistema ambiental, pro-gramas educacionais culturais, como a Conferência de Estocolmo, a Aga-pan, outras ONGs e, principalmente, os movimentos sociais, foram funda-mentais na década de 70, para que, mais tarde, legislações infraconstitu-cionais surgissem e fossem eficazes, proporcionando uma melhor condi-ção de vida a todos. O Decreto-Lei n° 1.413, de 14 de agosto de 1975, sobre o controle de poluição é uma referência importante desta década.

4.4 – Década de 1980, novos rumos, novas perspectivas:

O direcionamento foi dado, as metas a serem cumpridas também; precisamos estar preparados para tudo, pois empecilhos existirão devi-do a interesses divergentes da população. Mesmo com tanta diversidade compreendemos que sem o meio ambiente não poderemos viver, porque ele faz parte de nós. Tivemos esta certeza quando a nossa imprudência gerou resultados controversos ao que esperávamos. E foi pensando des-sa maneira que os anos 80 fixaram-se neste tema para que novas diretri-zes mobilizassem todos ao envolvimento humanitário natural.

No início da década foi preciso medir os danos ambientais exis-tentes, cujo resultado impulsionaria o legislativo a criar manejos que ini-bissem o ato de progressistas irresponsáveis, fazendo-os repararem a deterioração causada devido a seus atos ilícitos. A Lei n° 6.803, de 2 de julho de 1980, “representa um avanço na legislação ambiental brasileira. Isso porque, entre outros aspectos, estabeleceu de forma clara a exigibi-lidade da avaliação de impacto ambiental”.199

Esta meta, introduzida na Lei anterior, proporciona a compreensão da matéria natural, permitindo que o povo reflita sobre o que seria meio ambiente e por que devemos preservá-lo. É por isso que a Lei n° 6.902, de 27 de abril de 1981, “dispõe sobre a criação de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental”,200 para que o povo fique informado e não cometa mais atrocidades, podendo viver em harmonia em seu meio. Não basta apenas haver boas intenções para que o funcionamento progrida corretamente, é necessária uma fiscalização. Estabelecendo-se um ano 199 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.215.200 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p.218. Ambas podem ser criadas pela União, pelo Estado ou pelo município.

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após a estas normas, a Lei n° 6.938/81,201 onde discorre sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecendo mecanismos de formulação e aplicação das normas jurídicas ambientais. Em seu Artigo 3°, I, esta-belece o conceito de meio ambiente: que seria “o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e bio-lógica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.202 Já em seu Artigo 2° estão objetivadas algumas de suas metas:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dig-nidade da vida humana, atendidos alguns princípios.203

Um desses princípios está estabelecido no inciso II, que se re-fere à “racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar”.204 Nota-se que o solo, mais uma vez, é citado em uma lei devido a sua grande importância, pois representa a base da vida de todo um ecos-sistema, ou seja, “é onde se edificam as coisas, ou onde germinam e dão frutos as plantas”.205 Se existir poluição neste setor toda estrutura da vida estará comprometida: “O homem dando um passo em falso pode desembocar na destruição do solo”.206

A Lei207 de Política do Meio Ambiente foi bastante eficaz, pro-porcionando inovações no direito brasileiro, e um exemplo disso foi a destas foi à responsabilização do agente pelo dano ambiental causado; 201 Esta lei de Política Nacional do Meio Ambiente foi alterada pela Lei nº 8.028, de 12 de abril de 1990, e é regulamentado pelo Decreto nº 99.274, de 06 de junho de 1990.202 Art.3°, I, da Lei n° 6.938/81.203 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.606. Art. 2° da Lei n° 6.938, de agosto de 1981.204 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.606. Art. 2°, inc.II da Lei n° 6.938, de agosto de 1981.205 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 2007, p.1324.206 CARSON, Rachel. Primavera Silenciosa. São Paulo: Melhoramentos, 1969.207 Pouco antes da Lei n° 6.938/81, três normas de cunho ambiental já trataram de temas que foram retomados por ela: o Decreto-Lei n° 1.413, de 14 de agosto de 1975, que dispõe sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais; a Lei n° 6.803, de 2 de julho de 1980, que dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críti-cas de poluição; e a Lei n° 6.902, de 27 de abril de 1981, que dispõe sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.67.

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outra questão importantíssima foi a legitimidade para a propositura de uma ação de indenização por prejuízo ambiental. Diante de tantas re-formas, a jurisprudência teve melhor assistência, no momento de pro-ferir uma sanção ao agente poluidor. Almejando melhores resultados, em 31 de janeiro de 1984, estabelece-se no rol da legislação infracons-titucional a Lei n° 89.336, que “dispõe sobre as Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico”.208 Cabe ao CONAMA esta-belecer normas, para que o bem seja utilizado de um modo coerente. Esta determinação encontra-se arrolada no Artigo 4° e artigos seguin-tes desta mesma lei. Com o êxito das propostas ambientais, prosseguimos. A cam-panha é feita com o objetivo de atingir a todos, mas por haver discor-dância de pensamentos, nem todos cumprem as determinações pro-feridas; por existirem estes empecilhos consuma-se a Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, que “institui a ação civil pública209 de respon-sabilidade por danos causados ao meio ambiente”. Tendo essa alter-nativa fica mais fácil denunciar um erro de um agente; através deste subsídio manifestamos nossas vontades de querer proteger aquilo que é um bem de todos. O movimento ambientalista brasileiro proporcionou grandes re-alizações, com consequências positivas, como a criação de diferentes leis, que foram instituídas ao longo dos anos; conferências, passeatas, são outras alternativas em prol da causa que revolucionaram o pensa-mento de muitas gerações envolvidas na causa ambientalista, sendo seu feito mais glorioso em 1988, quando a Constituição Federal brasi-leira modificou-se, dedicando um artigo de seu corpo textual à matéria de direito ambiental. O Artigo 225 da CF disciplina a matéria de meio ambiente ressalvando que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público

208 Lei n° 89.336, de 31 de janeiro de 1984. Em seu artigo 1° consideram-se Reservas Ecológicas as áreas de preservação permanente mencionadas no artigo 18 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, bem como as que forem estabelecidas por ato do Poder Público.209 A ação civil pública é o instrumento processual, previsto na Constituição Federal brasileira e em leis infraconstitucionais, de que podem se valer o Ministério Público e outras entidades legi-timadas para a defesa de interesses difusos, interesses coletivos e interesses individuais homo-gêneos. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. In: WIKIPÉDIA. 2009. Disponível em: <http://pt.WIKIPEDIA.org/wiki/A%C3%A7%C3%A3o_civil_p%C3%BAblica> Acesso em: 24 Set. 2009.

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e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.210

Dessa forma, o meio ambiente consegue se desenvolver e recu-perar-se do dano sofrido anteriormente. A campanha visa o cumprimento das leis existentes, e, principalmente, a educação do povo, para que se sensibilize e perceba o mal que está causando permitindo-se viver melhor, com mais dignidade. A manifestação ambiental se perpetua desde os primórdios e felizmente conquistou muitas vitórias. A algumas delas são as quanti-dades de leis que, de acordo com a Constituição Federal, formam uma corrente muito sólida, tendo como resultados a reparação do erro por aquele que o cometeu. Salvar o meio ambiente é questão de honra, e foi pensando exatamente assim que o assunto tornou-se uma campanha global. “Significa dizer que a movimentação dos diversos atores sociais está deveras interligada; que seus efeitos serão propagados sem qual-quer limitação territorial”.211 Se antes era necessário o alarde para que países se reunissem e discutissem sobre a esfera ambiental, em plena década de 80 isso não é mais preciso. Conscientes dos danos, consumados por atitudes ilícitas, elaboramos novas diretrizes, torna-mo-nos influenciados por acertos anteriores, pois eles representam a base desta luta, visando com isso, revolucionar nossos Estados e criar novos espaços para que futuras regras adéquem-se à estrutura social, adaptando-nos à realidade presente, proporcionando o efetivo cumprimento das normas jurídicas.212

210 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.97 da Constituição Federal brasileira. 211 OLIVEIRA, Cláudia Alves de. Meio ambiente cotidiano: a qualidade de vida na cidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.05. 212 Um exemplo desta adequação da legislação brasileira em futuras normas fica evidente na Lei n° 65 de 22 de dezembro de 1981, que serviu de base, para que, o Decreto n° 8.186 de 07 de março de 1983 fosse estabelecido dois anos depois de sua vigência. Coletânea de legislação ambiental de Porto Alegre. Porto Alegre: Secretaria Municipal do Meio Ambiente, 2004, p.12 e 13.

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4.5 – Década de 1990: prudência X progresso:

Ensejar melhores condições de vida à população é o principal objetivo das pessoas que têm o poder213 legislativo sob comando; essa faculdade, presente na estrutura das cidades, permite que leis sejam produzidas com o propósito de assegurar que as normas sejam cumpri-das e postas ao conhecimento de todos. Não bastassem todas essas séries referidas, indispensáveis a ordem dos Estados, elas ainda con-cedem ao povo o livre-arbítrio, permitindo que as modifiquem, quando estas não forem cláusulas pétreas, fazendo com que o regulamento permaneça coerente com a realidade presente. “Quanto menor a con-testação e quanto maior a base de consentimento e adesão do grupo, mais estável se apresentará o ordenamento estatal, unindo a força ao poder e o poder à autoridade”.214 Respeitar as normas e se adaptar a elas são manifestos singelos que nos libertam do egoísmo. Cuidar dos outros permite que vivamos com mais dignidade. Um dos problemas mais agravantes desta década é a poluição sonora: devido ao ritmo acelerado do desenvolvimento, transfor-mando regiões silenciosas em verdadeiras sinfonias, o CONAMA elabora a Resolução n° 002 de, 08 de março de 1990, em que “institui o Programa Nacional de Educação e Controle da Poluição Sonora215 – silêncio”.216 O objetivo desta resolução está arrolado em seu Artigo 1°, sendo um deles o do tópico “a”, “promover cursos técnicos para capacitar pessoal e con-trolar os problemas de poluição sonora nos órgãos de meio ambiente estaduais e municipais em todo o país”.217 Compete ao IBAMA, no Arti-go 3° da resolução, coordenar o programa, para que as demais atribui-ções previstas sejam cumpridas.213 Elemento essencial constitutivo do Estado, o poder representa sumariamente aquela energia que anima a existência de uma comunidade humana num determinado território, conservando-a unida, coesa e sólida. Com o poder se entrelaçam a força e a competência, compreendida esta última como a legitimidade oriunda do consentimento. BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2006, p.115. 214 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. São Paulo: Malheiros, 2006, p.116.215 Poluição Sonora é a emissão de sons ou ruídos desagradáveis que, ultrapassados os níveis legais e de maneira continuada, pode causar, em determinado espaço de tempo, prejuízo à saúde humana e ao bem-estar da comunidade. SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.390. 216 Disposição geral da Resolução n° 002, de 8 de março de 1990217 Art. 1°, a, da Resolução n° 002, de 8 de março de 1990.

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Diversos são os problemas ambientais, sendo importantíssi-ma a presença de instituições ou órgãos competentes, para que rea-lizem a devida fiscalização. Outro problema sério, desta época, trata-se “sobre cargas deterioradas, contaminadas, fora de especificação ou abandonadas”.218 Se o material não for tratado ele prejudica gravemente toda uma estrutura ao seu redor, tanto em poluição de rios, mares, quan-to de solos, vegetações e, também, do ar.

Devido a sua quantidade, concentração ou caracte-rísticas físicas, químicas ou infecciosas pode causar um incremento da mortalidade ou de enfermidades irreversíveis, ou contribuir, de forma significativa, para referido incremento.219

Visando uma fiscalização mais eficiente, a Resolução n° 002, de 22 de agosto de 1991, tem o propósito de estagnar a problemática, tra-zendo em seu Artigo 2° quem tem competência para esse trabalho, sendo o Órgão Federal do Meio Ambiente, juntamente com outros órgãos que possuem aptidão para o cumprimento da matéria disposta. De acordo com o regulamento, a Constituição Federal de 1988, em seu Artigo 225, pará-grafo 1°, V, dispõe sobre este controle: “controlar a produção, a comercia-lização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente”.220 Considerada uma prática criminosa, em seu art. 4°, da Resolução n° 002/91, incrimina solidariamente o importador, transportador e embarcador, pois facilitam que a prática ilícita seja consumada.

4.6 – O futuro do meio ambiente após a Rio 92:

A indiferença gritante das pessoas em virtude dos problemas ambientais fez com que, em 1992, fosse realizada mais uma vez, uma conferência internacional, para que fossem discutidas as consequências de um avanço sem métodos. As legislações vigentes não foram capazes 218 Disposição geral da Resolução n° 002, de 22 de agosto de 1991. 219 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.369.220 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.97. Art. 225, parágrafo 1°, V, da CF.

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de conter a degradação ambiental, pois o querer progredir possuía uma eficácia muito maior a qualquer lei. A proposta do Rio 92 permite que o desenvolvimento continue, mas algumas regras deveram ser cumpridas permitindo que todos fiquem satisfeitos com os resultados. “O efeito não teria sido paralisar práticas destrutivas, mas normatizá-las e instituciona-lizá-las ainda mais”.221

Se aprendemos algo da cúpula da Terra de 1992, no Rio, é que o objetivo dos principais agentes de poder da cúpula não foi de restringir ou reestruturar econo-mias e práticas capitalistas para auxiliar a salvar os comuns ecológicos em rápida deterioração, mas sim reestruturar os comuns para acomodar capitalistas perseguidos por crises.222

Resultando positivamente, a Rio 92223 influenciou na propositura de futuras legislações; “tem como objetivo estabelecer uma nova e equitativa parceria mundial através da criação de novos níveis de cooperação entre os Estados, os sectores-chave das sociedades e os povos”.224 Por ter essa proposta expansionista agradou os compulsivos por progresso, sendo que umas das primeiras propostas, após a conferência, foi à Resolução n° 005, de 05 de agosto de 1993, que “dispõe sobre a destinação final de resíduos sólidos”.225 Conforme seu art. 2°, a norma só será aplicada, caso o dano ocorra em portos, aeroportos, terminais ferroviários e rodoviários e estabelecimentos prestadores de serviços de saúde. Por consequência, a sanção a ser aplicada esta disposta no Artigo 21 da resolução:

Aos órgãos de controle ambiental e de saúde com-petentes, mormente os partícipes do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente, incumbe a aplicação desta Resolução, cabendo-lhes a fiscali-

221 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.43.222 Idem, p.43.223 A Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 1992; reafirma a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente Humano, adotada em Estocolmo a 16 de junho de 1972. RANGEL, Vicente Marotta. Direito e rela-ções internacionais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p.509. 224 RANGEL, Vicente Marotta. Direito e relações internacionais. São Paulo: Revista dos Tribu-nais, 2005, p.509.225 Resolução n° 005, de 05 de agosto de 1993.

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zação, bem como a imposição das penalidades pre-vistas na legislação pertinente, inclusive a medida de interdição de atividades.226

A conscientização permitiu que novas leis fossem instituídas e ge-rassem efeitos promissores. Por não aceitarmos mais indiferenças com a natureza a criação de uma legislação punitiva teria que ser estabelecida, para que os infratores, ainda não convencidos dos problemas que seus atos iriam resultar, tivessem a obrigação de reparar o dano. Atendendo essa necessidade a Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, “dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente”,227 deixando claro, em seu Artigo 2° que, “quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade”.228 Conforme a gravidade do dano, a pena será aumentada, assim como se a consequência findar numa perda não muito expressiva, a sanção será atenuada. As regras para a aplicação das penas estão arroladas no Artigo 6° desta mesma lei de crimes ambientais. Propor uma lei que realmente seja eficaz, significa que ela vai se cumprida na íntegra, simplesmente punir o causador do dano já é uma grande vitória. O “ponto principal da vinculação do Poder Público e das entidades privadas ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pode ser considerado a efetiva aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais ambientais”.229 A Lei230 mencionada anteriormente prevê este ajustamento im-portantíssimo na legislação brasileira; sem ela, caçadores, irresponsá-veis, mandantes, entre outros, continuariam na prática criminosa deterio-rando o meio ambiente sem um controle. O problema vai existir por muito

226 Art. 21 da resolução n° 005 de 05 de agosto de 1993. 227 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.183.228 ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.637. Art.2° da Lei n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.229 TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha. O direito ambiental ao meio ambiente: ecologicamente equilibrado como direito fundamental. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2006, p.115. 230 As normas ambientais são mandamentos que condicionam as atividades públicas e particulares. Sua finalidade é impedir que tais atividades causem danos ao meio ambiente. Sendo normas legais, devem ser cumpridas por todos os seus destinatários. Seu descumprimento gera responsabilidade de cunho administrativo, civil e penal, conforme determinado no art. 225 parágrafo 3° da Constituição Federal. GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito ambiental. São Paulo: Atlas, 2009, p.270.

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tempo ainda, mas ficarmos parados esperando qual estrago virá, é que não podemos nos permitir. É agindo e educando as futuras gerações que a utopia se tornará uma realidade diária.

4.7 – Século XXI: O ontem é a consequência do hoje:

Iniciar um novo século com perspectivas positivas, não é tarefa fácil; fomos catequizados num período de muita controvérsia e insegu-rança, fazendo-nos ver problemas, em qualquer ato desigual, que não sejam semelhantes aos nossos parâmetros morais e éticos, em que “o estudo dos juízos de valor seria a compreensão que o homem tem da necessidade de preservar ou conservar os recursos naturais essenciais à perpetuação de todas as espécies de vida”.231 Fatos desumanos, hoje, por muitos, não são contestados, porque nos sentimos impotentes diante das crueldades ambientais. E por que isso acontece? É devido ao descaso dos responsáveis pelo serviço de fiscaliza-ção. Nota-se que o agente capaz não toma as devidas providências, então como um cidadão comum poderá agir perante tal estupidez? A Constituição Federal brasileira prevê em seu Artigo 225, parágrafos 1°, as medidas de assegurar a efetividade do direito, atribuindo ao Poder Público o comando de fiscalizar e punir o agente irresponsável.

O cumprimento desse mandato constitucional se leva a cabo fundamentalmente mediante normas de direito pú-blico e o papel central que desempenha a Administração, o que é consequência do caráter de interesse ou bem jurídico coletivo que possui o meio ambiente e da neces-sidade de que sua proteção se realize.232

As perspectivas ditadas no século passado têm o dever de pro-piciar segurança à população. “Os instrumentos regulatórios exercem poder de polícia e subsidiam a gestão ambiental”.233 A base legislativa

231 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.12.232 CUTANDA, Blanca Lozano. Derecho ambiental administrativo. 4. ed. Madrid: Dykinson, 2003, p. 91. 233 MOTA, José Aroudo. O valor da natureza: economia e política dos recursos naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001, p. 123 e 124.

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nós possuímos, o que falta é permitir que ela seja eficaz, e isso é pos-sível se pusermos em prática nossa vasta teoria, permitindo que os interesses coletivos sejam postos em primeiro plano, e o individual em segundo lugar, fazendo com que a coletividade tenha vez neste siste-ma legislativo democrático.

A garantia do meio ambiente sadio e equilibrado para as gerações presentes e futuras está diretamente re-lacionada à valoração conferida pela comunidade ao seu patrimônio ambiental.234

Seguindo os ditames anteriores, a Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000, “Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VI da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza”.235 Um dos objetivos desta lei está taxativo em seu art. 4°, XII, pretendendo “favorecer condições e promover a educação e interpre-tação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico”;236 principais métodos utilizados neste período, é em relação à educação ambiental, ela “deve estar fundamentada na ética ambiental” 237, pois não adianta nada termos leis completas se não sabemos funda-mentá-las corretamente, desqualificando, com isso, a norma vigente. Com o propósito de melhor administrar as normas presentes e proporcionar novas diretrizes a futuras legislações, realiza-se, em 2002, a Conferência Rio + 10, sediada em Joanesburgo, em que se elaboram novas estratégias, visando um melhor cumprimento da le-gislação já vigente. Esta nova reunião internacional permitiu que cada vez mais, países com culturas diferentes ficassem unidos globalmen-te. “O processo de globalização surge no contexto de mundialização dos espaços, alterando profundamente a gestão econômica, social e ambiental”,238 em prol de uma causa, permitindo que a regra seja culti-vada e vigente em diversos territórios do mundo.

234 OLIVEIRA, Cláudia Alves de. Meio ambiente cotidiano: a qualidade de vida na cidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.02. 235 Dispositivo inicial da Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000.236 Art.4°, XII, da Lei n° 9.985, de 18 de julho de 2000.237 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de direito ambiental. São Paulo: Saraiva, 2009, p.11.238 OLIVEIRA, Cláudia Alves de. Meio ambiente cotidiano: a qualidade de vida na cidade. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p.06.

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A Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável terminou com um apelo do presidente da África do Sul para que a sociedade civil pressione os governos a cum-prir os compromissos assumidos em Joanesburgo.239

A Lei n° 5.790, de 25 de maio de 2006, “dispõe sobre a compo-sição, estruturação, competências e funcionamento do Conselho das cidades – CONCIDADES”.240 Este regulamento criado após o Rio + 10, tem por objetivo administrar as cidades brasileiras, propiciando com isso condutas prudentes dos agentes em suas devidas atividades; em seu art. 3°, refere-se à competência da lei, sendo que, em seu inciso II, dispõe o seguinte propósito,

Acompanhar e avaliar a implementação da Política Nacional do Desenvolvimento Urbano, em especial os programas relativos à política de gestão do solo urba-no, de habitação, de saneamento ambiental, de mobi-lidade e transporte urbano, e recomendar as providên-cias necessárias ao cumprimento de seus objetivos.241

Com melhor administração as cidades puderam se desenvolver, resultando no que vemos hoje, mas será que esta nova cadeia resultou em benefício a todos? A resposta é não, porque se o desenvolvimento sustentável, proposto há dez anos, e revivido há oito anos, fosse o ca-minho mais coerente, o meio ambiente não responderia negativamente como tem feito nos últimos tempos; cidades onde furacões não existiam, sendo uma realidade conhecida apenas nos Estados Unidos, agora, em pleno território brasileiro, também passar por esses efeitos climáticos. “Os representantes dos 191 países presentes na conferência não soube-ram ou talvez não quiseram mudar o rumo do mundo, que vê a pobreza se multiplicar e a degradação ambiental ameaçar a vida do planeta”.242 Devido a incertezas, dúvidas e medos que a população sofria com a chegada do século XXI, muitas pessoas se mataram, pois o que se ouvia era que com a chegada do ano 2000 acabaria o mundo. Mas o

239 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 300.240 Disposição inicial da Lei n° 5.790, de 25 de maio de 2006. 241 Art. 3° da Lei n° 5.790, de 25 de maio de 2006. ABREU FILHO, Nylson Paim. Constituição Federal, Legislação Administrativa, Legislação Ambiental. Porto Alegre: Verbo Jurídico, 2007, p.680.242 MARCONDES, Sandra. Brasil, amor à primeira vista. São Paulo: Peirópolis, 2005, p. 300

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que foi previsto não aconteceu, e o homem se sentiu mais forte, pois se nem o seu ato ilícito foi capaz de derrubar a vida universal, então significa que suas diretrizes estão corretas, tanto que hoje ainda sofremos com o problema de desmatamento na Floresta Amazônica e com a poluição desmedida de indústrias. “A natureza também tem direitos, os animais têm direito à vida e as plantas têm direito à existência. Então, preço e valor, neste enfoque, não representam uma igualdade”.243 Onde vamos parar? Este é o grande clichê do momento, mobilizando várias pessoas com o pensamento, “o mundo está acabando”, e ninguém está se dando conta.

243 MOTA, José Aroudo. O valor da natureza: economia e política dos recursos naturais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001, p.87.

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5. CONCLUSÃO

O ser humano, diante do desconhecido, age como um ingênuo. Suas atitudes causam danos irreparáveis, comprometendo toda a estru-tura de um ecossistema dependente de seu ciclo de vida. Por estarmos inseridos em uma grande diversidade nos deslumbramos facilmente, encorajando-nos a práticas devastadoras. A curiosidade em conhecer o porquê das diferenças, nos leva a criações geniais, capazes de nos levar a práticas delituosas sem sentirmos remorsos, tudo em prol da ciência e, principalmente, do desenvolvimento. O povo, sem saber o que fazer diante de tantos atos errôneos, decide se unir, dando início ao movimento ambientalista. Um de seus objetivos é reprimir impulsos impensados de soberanos dispostos a tudo pelo poder absoluto, pessoas essas que não medem esforços para ter aquilo que desejam, ainda que com isso prejudiquem sua própria espé-cie. O meio ambiente é o alvo para que o progresso aconteça, porque ele é o conjunto de influências decorrentes da atuação sobre os organismos vivos e os seres humanos. Neste âmbito desesperador fica clara a importância de uma cons-cientização internacional, para que o problema ambiental seja sanado. Por afetar generalizadamente um todo, realiza-se um primeiro encontro internacionalmente de países, ficando conhecida como a Conferência de Estocolmo. Tem como objetivo prevenir as pessoas dos malefícios que surgiriam devido ao descaso com o meio em que vivemos. Reunindo diversos países traz novas regras e atitudes que deveriam ser seguidas para que o ambiente pudesse se desenvolver normalmente, não permi-tindo que novos atentados contra o mesmo acontecessem. Não bastando esse apelo, países subdesenvolvidos continuaram poluindo, tornando o planeta cada dia mais poluído e sujo. Foi neces-sário que após vinte anos outra conferência fosse realizada, desta vez sediada na cidade do Rio de Janeiro, sendo conhecida como a Rio 92. A antiga cobrança de resguardar o bem da vida agora tinha que ser res-peitada, porque o meio ambiente estava muito desgastado. Criar leis, decretos, fazer passeatas, entre outros manifestos, estavam fora de co-gitação. O homem, por ser egoísta, só respeita o que lhe convém, e foi a partir disto que começamos a discutir sobre o que era desenvolvimento sustentável. Um termo que significa desenvolver, preservar o ambiente

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sempre, ou seja, ao mesmo tempo em que devemos desenvolver pre-cisamos cultivar o meio primário, reciclando o material usado, para que não haja um desequilíbrio ambiental. Com várias leis, o desmatamento diminuiu; contudo nem todo o território brasileiro está regulado nesta ordem de preservação, ocasio-nando, assim, novas desordens ambientais, sem um controle legítimo, fazendo com que o ambiente sofra, mais uma vez, por causa das mãos cruéis de homens progressistas inconsequentes. Esta é a vida em que estamos inseridos, vivemos paralelamente com a desordem e a razão, ao mesmo tempo em que queremos o bem do planeta, desejamos o nosso sustento, os nossos bens, isso porque vivemos num mundo onde o giro econômico é a base da nossa sobrevi-vência. É preciso mais do que uma percepção do que se passa, mas sim o respeito perante todos, independente de sua posição social. É neces-sário nos conscientizarmos de que dinheiro não se come, e sem árvores e sem animais, não haverá mais vida no planeta. O problema é muito sério, e enquanto as leis progridem, os atos retrocedem, porque a prepotência vigora mais no país do que as pró-prias regulamentações. É importante então que, novamente, haja uma conferência internacional, para que os mesmos problemas sejam discuti-dos e que se criem soluções aos novos obstáculos. A Rio + 10, realizada em Joanesburgo tem o objetivo de conscientizar a sociedade em relação às normas implantadas e a preservação do meio ambiente. Não basta apenas o legislativo fazer sua parte, é preciso que nós façamos a nossa também, visando que, todo o sistema fique harmônico, facilitando o pro-cesso de conscientização ecológica global. Pequenas atitudes farão a diferença no futuro. É reciclando ideias que se modificam atitudes. Diante de uma enorme devastação, o homem desesperado age com seriedade, tornando-se consciente de que a solu-ção para o fim da desordem ambiental está em suas mãos.

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