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O PROCESSO DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO RIO PARNAÍBA NO TRECHO URBANO BAIRRO SACY ATÉ O ENCONTRO COM O RIO POTY, EM TERESINA-PI. Naiany Clímaco de Lima Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected] Sonayra de Quadros Melo Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected] Talga Rodrigues Cardoso Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected] Orientadora: Maria Suzete Sousa Feitosa Professora Doutoranda da Universidade Estadual do Piauí –UESPI [email protected] 1 INTRODUÇÃO Atualmente as preocupações com a degradação ambiental tornam urgente a compreensão da temática ambiental. O índice de consumo e a conseqüente industrialização esgotam ao longo do tempo os recursos da Terra, que levaram milhões de anos para se compor. Muitos desastres naturais são causados pela ação do homem no meio ambiente. É importante haver um processo participativo e sustentável, cada um fazendo a sua parte e respeitando o ciclo de cada ser existente no planeta (BERRY, 1991). De acordo com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, o conceito de degradação ambiental é “alteração adversa das características do meio ambiente” (art.3º, inciso II), conceito amplo que abrange vários casos como prejuízo à saúde, ao bem-estar das pessoas, às atividades sociais e econômicas, à biosfera, etc. Assim, degradação ambiental pode ser conceituada como qualquer alteração adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como uma alteração adversa da qualidade ambiental. Em outras palavras, degradação ambiental corresponde a impacto ambiental negativo (SÁNCHEZ, 2008).

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O PROCESSO DE DEGRADAÇÃO AMBIENTAL DO RIO PARNAÍBA

NO TRECHO URBANO BAIRRO SACY ATÉ O ENCONTRO COM O RIO POTY,

EM TERESINA-PI.

Naiany Clímaco de Lima

Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected]

Sonayra de Quadros Melo

Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected]

Talga Rodrigues Cardoso

Aluna do Curso de Especialização em Geografia e Ensino da UESPI [email protected]

Orientadora: Maria Suzete Sousa Feitosa

Professora Doutoranda da Universidade Estadual do Piauí –UESPI [email protected]

1 INTRODUÇÃO

Atualmente as preocupações com a degradação ambiental tornam urgente a

compreensão da temática ambiental. O índice de consumo e a conseqüente industrialização

esgotam ao longo do tempo os recursos da Terra, que levaram milhões de anos para se

compor. Muitos desastres naturais são causados pela ação do homem no meio ambiente. É

importante haver um processo participativo e sustentável, cada um fazendo a sua parte e

respeitando o ciclo de cada ser existente no planeta (BERRY, 1991).

De acordo com a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, o conceito de

degradação ambiental é “alteração adversa das características do meio ambiente” (art.3º,

inciso II), conceito amplo que abrange vários casos como prejuízo à saúde, ao bem-estar

das pessoas, às atividades sociais e econômicas, à biosfera, etc.

Assim, degradação ambiental pode ser conceituada como qualquer alteração

adversa dos processos, funções ou componentes ambientais, ou como uma alteração

adversa da qualidade ambiental. Em outras palavras, degradação ambiental corresponde a

impacto ambiental negativo (SÁNCHEZ, 2008).

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Nas últimas décadas, principalmente os ambientes aquáticos vêm sendo

ameaçados pelas ações indevidas do ser humano, as atitudes comportamentais do homem,

desde que ele se tornou parte dominante dos sistemas, têm uma tendência em sentido

contrário à manutenção do equilíbrio ambiental.

No perímetro urbano, principalmente nas grandes e médias cidades, é perceptível

o aumento do nível de poluição. A fumaça de veículos, lixo nas ruas e grandes lixões, rios,

lagoas e córregos contaminados por resíduos, chaminés de fábricas despejando gases

tóxicos, essas e outras são causas do desequilíbrio ambiental.

Os rios formadores de bacias hidrográficas urbanas têm um caráter fundamental

de diferenciação, quando comparados com os pertencentes às bacias hidrográficas

florestais, rurais ou mesmo agrícolas. A quantidade de superfície impermeável pode ser

utilizada como um indicador para se prever o quão graves podem ser essas diferenças. Em

muitas regiões urbanas, havendo um valor tão baixo quanto 10% de cobertura impermeável

da bacia hidrográfica já é suficiente para ocorrer a degradação, sendo que se torna mais

severa quando maior se torna a cobertura impermeável (SCHUELER, 1995, apud

ARAÚJO, ALMEIDA e GUERRA, 2005).

Para Araújo (2008), grande parte dos danos ambientais que ocorrem na superfície

terrestre estão situados nas bacias hidrográficas. Nesse sentido, é preciso conhecer a sua

formação, constituição e dinâmica, para que as obras de recuperação não sejam apenas

temporárias e sem grande eficácia.

Em meio a este contexto esta pesquisa trata de um estudo sobre o processo de

degradação ambiental do rio Parnaíba, tendo como área pesquisada o trecho urbano Bairro

Sacy até o encontro com o rio Poty em Teresina, capital do Piauí-Brasil.

O estudo realizado na capital piauiense foi motivado pela observação de que o

trecho urbano que recebe mais impactos ambientais ao Rio, pertence à cidade de Teresina,

e também em razão da importância que o Parnaíba representa para o Piauí, tanto no aspecto

econômico, ecológico, histórico e social.

O objeto de estudo desta pesquisa, o Rio Parnaíba, de acordo com Rodrigues

(2001) é o segundo maior rio do Nordeste, nasce na Chapada das Mangabeiras, nos limites

do Estado do Piauí com o Tocantins e percorre 1.337 km até desembocar no Oceano

Atlântico, em forma de Delta. O Rio conta com 143 afluentes, dos quais a maioria é

formado por riachos, que têm nascentes em regime temporário, se tornando perenes ao se

aproximarem de suas desembocaduras.

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2 OBJETIVOS

O objetivo geral desta pesquisa foi analisar e apresentar a situação de degradação

ambiental do rio Parnaíba em Teresina-PI, no trecho urbano compreendido entre o Bairro

Sacy até o encontro com o rio Poty. Como objetivos específicos foram estabelecidos: a)

conhecer o histórico de degradação ambiental da área; b) analisar a aplicabilidade das

políticas públicas; c) identificar os principais impactos ambientais na localidade.

3 METODOLOGIA

Para a elaboração desta pesquisa utilizou-se como procedimentos metodológicos,

uma abordagem descritiva e qualitativa associada à pesquisa bibliográfica, que serviram

como referencial teórico para que se tivesse uma melhor compreensão sobre o objeto a ser

pesquisado, bem como um contato direto dos pesquisadores com o ambiente.

Os procedimentos usados para a coleta de dados foram através de visitas para

obtenção de fotos e informações, observações in loco, aplicação de questionários, a fim de

formar um diagnóstico participativo com a população de lavadores de carro que trabalham

as margens do rio e entrevistas a ONGS e entidades públicas.

4 RESULTADOS OBTIDOS

A ocupação humana crescente e desordenada em torno das bacias hidrográficas

coloca desafios para o profissional da área de degradação ambiental. Conforme a

urbanização acontece, as mudanças na hidrologia natural na área tornam-se inevitáveis

(SCHUELER, 1995, apud ARAÚJO, ALMEIDA e GUERRA, 2005).

Teresina, a capital do Estado do Piauí, se encontra encravada na confluência dos

Rios Parnaíba e Poti, este um dos seus maiores afluentes. O Parnaíba, nosso objeto de

estudo, desempenha um importante papel na identidade e na vida do Teresinense. Apesar

disso, o Parnaíba vem sofrendo constantes agressões que nos leva a repensar a ação da

sociedade sobre sua utilização como fator econômico.

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4.1 Degradação Ambiental do rio Parnaíba

A navegação no rio Parnaíba já desempenhou um papel muito importante no

passado. A partir da década de 40, entrou em decadência, devido aos graves problemas

ecológicos, como o uso inadequado das áreas ribeirinhas, a depredação de suas matas

ciliares, as agressões sofridas nas nascentes, principalmente pela ação do fogo, por

substâncias poluentes lançadas em seu curso, além de escoamento de esgotos domésticos,

problemas estes que vem cada vez mais se agravando.

Ao longo do trecho estudado foi possível detectar impactos ambientais

perceptíveis, como o acúmulo de lixo na margem e no leito do rio (Figura 1). Caso de

agressão ambiental que refletem hábitos cotidianos, neste caso, tanto de moradores que

vivem próximos, como de transeuntes e dos lavadores de carros que utilizam aquele espaço

como local de trabalho e renda, e usuários que ali freqüentam.

Figura 1 : Acúmulo de lixo na margem do rio

Fonte: Talga Cardoso (2010)

Os moradores, lavadores de carros, e também as pessoas que visitam aquela área

com intuito de terem os seus veículos lavados, terminam descartando na margem do rio,

sem maiores cuidados, objetos como: latinhas de cerveja, garrafas PET, sacos plásticos e

papéis, lixos domésticos, comprometendo assim a vida do rio Parnaíba.

Para os lavadores de carros que trabalham na margem do rio Parnaíba, aquele

espaço é o meio onde a vida é tornada possível, retiram do trabalho que realizam naquele

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trecho a sustentabilidade familiar. A água usada para lavar os carros é puxada do rio por

meio de bombas elétricas.

Porém, ao tempo em que, produz impactos positivos, gerando emprego e renda,

também percebe-se os impactos socioambientais, como o que acontece no Rio Parnaíba,

onde a água utilizada na lavagem dos carros é devolvida ao rio contaminada com sabão,

detergentes e produtos de polimento.

O espaço social é, primeiramente ou em sua dimensão material e objetiva, um

produto da transformação da natureza (do espaço natural: solo, rios, etc.) pelo trabalho

social. Palco das relações sociais, o espaço é, portanto, um palco verdadeiramente

construído, modelado, embora em graus muito variados de intervenção e alteração pelo

homem, das mínimas modificações induzidas por uma sociedade de caçadores e coletores

(impactos ambientais fracos) até um ambiente construído e altamente artificial como uma

grande metrópole contemporânea (fortíssimo impacto sobre o ambiente natural) passando

pelas pastagens e pelos campos de cultivo, pelos pequenos assentamentos e etc. (SOUZA,

1997).

Outro impacto ambiental negativo que o rio vem sofrendo, é o desmatamento das

margens (Figura 2). As margens do rio Parnaíba são formadas por solos de predominância

areia em sua composição (areno-argilosos).

Figura 2 : Desmatamento das margens

Fonte: Talga Cardoso (2010)

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Existem residências bem próximas às margens do rio, o que entra em discordância

com o artigo 4°, inciso III da Lei Federal n.º 6.766/1979, que dispõe sobre o Parcelamento

do Solo Urbano, alterado pela Lei Federal n° 10.932/2004, que determina “ao longo das

águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias e ferrovias, será

obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo

maiores exigências da legislação específica.”

As matas ciliares sofrem pressão antrópica pelo processo de urbanização, na

construção de hidrelétricas; na abertura de estradas, assim como para a implantação de

culturas agrícolas e de pastagens. Este processo de degradação das formações ciliares, além

de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das mesmas, resulta em

vários problemas ambientais. As matas ciliares funcionam como filtros, retendo defensivos

agrícolas, poluentes e sedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetando

diretamente a quantidade e a qualidade da água e conseqüentemente a fauna aquática e a

população humana. São importantes também como corredores ecológicos, ligando

fragmentos florestais e, portanto, facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico

entre as populações de espécies animais e vegetais. Ainda, em regiões com topografia

acidentada, exercem a proteção do solo contra os processos erosivos (MARTINS, 2001).

A mata ciliar é de extrema importância, pois protege a margem dos rios da erosão,

dá abrigo a diversos animais e possui uma vegetação muito rica e diversificada. Com a

destruição dessa vegetação, como vem acontecendo com a margem do rio aqui pesquisado,

o solo se desagrega com maior facilidade, pois perde sua proteção natural (vegetação

original), lançando os sedimentos das margens nas calhas dos rios.

Dentre os problemas citados nesse presente trabalho, o assoreamento merece uma

atenção um pouco especial, visto que ele é oriundo dos outros problemas mencionados.

Atividades como extração da mata ciliar, e da vegetação em torno do rio, contribuem para

acabar com a perenidade do rio, aumentando o processo erosivo, culminando com o

assoreamento do rio Parnaíba (Figura 3).

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Figura 3: Assoreamento do rio

Fonte: Talga Cardoso (2010)

Outro tipo de degradação identificado, foi a emissão de esgotos “ in natura” no rio

em toda a extensão do trecho estudado (Figuras 4 e 5). Esta forma de degradação é

apontada por inúmeros autores como sendo uma das principais responsáveis pela

contaminação das águas superficiais, podendo resultar em sérios prejuízos à qualidade da

água. O lançamento de esgotos in natura dentro desse rio constitui-se em risco potencial

para a população usuária das águas assim como para quem consome pescado deste recurso

hídrico.

Figura 4: Emissão de esgotos “in natura”

Fonte: Talga Cardoso (2010)

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Figura 5: Emissão de esgotos “in natura”

Fonte: Talga Cardoso (2010)

Pela ação predatória do homem, as margens do Parnaíba vêm sendo degradadas

através de queimadas ocorridas sazonal e sistematicamente, num processo secular, com a

conseqüente erosão das margens, pois elas destroem parte da vegetação ciliar, provocando

o assoreamento do leito com seus resultados nefastos, em um processo destrutivo, onde os

bancos de areia no seu leito já atingem pontos críticos, impedindo, no período de estiagem,

a livre passagem de embarcações mesmo daquelas de pequeno porte.

5 CONCLUSÕES

Atividades antrópicas aliadas à falta de consciência por parte da população, a

ausência de fiscalização e a omissão dos poderes públicos são fatores que contribuem

significativamente para intensificação dos processos de degradação deste rio.

Todos os órgãos fiscalizadores e regularizadores do uso da água, até agora, têm se

mostrado impotentes para, pelo menos, minimizar o problema, e além disso, também, a

sociedade não tem se mostrado sensibilizada com os problemas ambientais que o rio vem

enfrentando, para assim encontrar soluções para os mesmos, criando uma nova postura

comprometida com responsabilidade social e qualidade ambiental.

Sendo assim, portanto, cabem aos demais seguimentos da sociedade junto ao

poder público (secretarias municipais, estaduais e federais) fiscalizar e cobrar dos órgãos

gestores do meio ambiente para que sejam efetivadas as alternativas para diminuir o

impacto da atuação negativa dos agentes que poluem o rio Parnaíba.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Gustavo Henrique de Sousa, ALMEIDA, Josimar Ribeiro de, e GUERRA,

Antonio José Teixeira. Gestão Ambiental de áreas degradadas.- 3ª ed. – Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 2008.

BERRY, T. O Sonho da Terra. Petrópolis: Vozes, 1991. Disponível em:<http://www

.ecoviagem.com.br/fique-por-dentro> .

CUNHA, Sandra Baptista da, GUERRA, Antonio José Teixeira (organizadores). Impactos

ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

MARTINS, S.V. Recuperação de Matas Ciliares. Viçosa: Editora Aprenda Fácil, 2001.

RODRIGUES, Joselina Lima Pereira. Estudos Regionais do Piauí. Teresina, 2001.

SÁNCHEZ, Luiz Enrique. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. São

Paulo: Oficina de Textos, 2008.

SOUZA, M. L. de (1997). Algumas Notas sobre a Importância do Espaço para o

Desenvolvimento Social. In: Território 3, LAGET/UFRJ, Garamond, PP. 13-35.