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O processo de Ensino e Aprendizagem: O elemento central na (re)construção da identidade profissional do professor Relatório Final de Estágio . Orientadora: Paula Maria Fazendeiro Batista Diogo Galvão Cabral Borba Lopes Porto, julho de 2017 Relatório de Estágio Profissional apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao Grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário e do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº74/2006 de 22 de fevereiro

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O processo de Ensino e Aprendizagem:

O elemento central na (re)construção da

identidade profissional do professor

Relatório Final de Estágio

.

Orientadora: Paula Maria Fazendeiro Batista

Diogo Galvão Cabral Borba Lopes

Porto, julho de 2017

Relatório de Estágio Profissional apresentado à

Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

com vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos

conducente ao Grau de Mestre em Ensino da

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário

e do Decreto-lei nº 74/2006 de 24 de março e o

Decreto-lei nº74/2006 de 22 de fevereiro

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II

Ficha de Catalogação

Lopes, D. (2017). O processo de ensino e aprendizagem: Um elemento central

na (re)construção da identidade profissional do professor. Relatório de Estágio

Profissional. Porto: D. Lopes. Relatório de Estágio profissionalizante para a

obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico

e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

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III

Dedicatória

Ao meu GRANDE PAI

Por ser omnipresente, por ter-me incutido os melhores valores que

conheço e por ser o melhor exemplo de humildade, respeito, tolerância e

confiança que tenho.

À minha MÃE

Pelo incansável apoio que me deu durante 29 anos e por ser o melhor

exemplo de força, resiliência, responsabilidade e valentia que conheço.

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IV

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V

Agradecimentos

Ao meu PAI e à minha MÃE, por serem os pilares da minha vida, por estarem sempre ao

meu lado e me apoiarem incondicionalmente em todos os momentos. Por me darem força para

enfrentar os desafios e nunca me deixarem desistir perante as dificuldades. Sem vocês não seria

o que sou hoje e o que serei para sempre.

À minha professora orientadora, Paula Batista, pela compreensão e disponibilidade que

demonstrou e pela ajuda que me deu no meu processo de formação inicial.

Ao meu professor cooperante, Luís Paulo Vieira, por me ter cedido uma das suas turmas

e pelo acompanhamento contínuo no decorrer do estágio profissional.

À professora Cecília Ferreira e ao professor Gonçalo Ferreira, por terem acreditado nas

minhas capacidades e me terem cedido, por um período de tempo, as suas turmas, dando-me

uma oportunidade de viver experiências diferentes.

Aos professores Bruno Pimentel, Flávio Soares, Mónica Franco e Renato Gonçalves, por

me terem cedido as suas turmas na semana de PTI e pela disponibilidade contínua que

demonstraram.

À professora Gabriela Porto pela disponibilidade que demonstrou em ajudar na produção

do estudo de investigação,

Aos professores José Carlos Cabral, Rita Araújo, Derta Ponte, Luís Alves e Luís Arruda

pelo acolhimento.

Ao meu colega do núcleo de estágio Rúben Amaral, pela partilha e entreajuda.

Aos meus amigos, por me acompanharem, ouvirem e aturarem nos bons e maus

momentos.

Ao Tiago Reis e à professora Ana Isabel Araújo pela disponibilidade imediata.

À Escola Secundária das Laranjeiras e os seus elementos, por me acolherem e

envolverem na comunidade escolar.

Aos meus alunos, por me ensinarem a lidar com eles e por apadrinharem o meu percurso

neste estágio.

A todos, muito obrigado por me ensinarem e ajudarem a ser professor.

Sejam Felizes!

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VI

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VII

Índice Geral

Dedicatória ................................................................................................................................ III

Agradecimentos ....................................................................................................................... V

Índice Geral .............................................................................................................................. VII

Índice de Tabelas .................................................................................................................... XI

Índice de Figuras ................................................................................................................... XIII

Índice de gráficos ................................................................................................................... XV

Resumo ................................................................................................................................... XVII

Abstract.................................................................................................................................... XIX

Introdução .................................................................................................................................. 1

I- Enquadramento Biográfico ................................................................................................ 7

1. Reflexão autobiográfica ..................................................................................................... 9

1.1.Apresentação: Quem sou eu? ..................................................................................... 9

1.2. O percurso académico e profissional ................................................................... 11

1.2.1. O trajeto académico ............................................................................................ 11

1.2.2. Elementos da experiência profissional ......................................................... 12

II -Enquadramento Institucional, legal e funcional do estágio ................................... 15

2. Enquadramento institucional, legal e funcional do estágio ................................... 17

2.1.Caracterização geral do estágio .............................................................................. 17

2.2. A Escola como instituição ....................................................................................... 18

2.3. A Escola Cooperante ................................................................................................. 21

2.3.1. As Instalações desportivas .............................................................................. 23

2.3.2. O departamento de Educação Física e Desporto ....................................... 24

2.4. O Núcleo de estágio ................................................................................................... 25

2.5. A minha turma: os meus alunos ............................................................................ 26

III-Enquadramento da Prática Profissional ...................................................................... 29

3.1. A (re)construção da identidade profissional do professor ............................. 31

3.1.1. A formação de professores .............................................................................. 35

3.1.2. O lugar do estágio no contexto da formação inicial .................................. 37

3.1.3. O estágio em perspetiva .................................................................................... 39

3.1.4. Os primeiros passos no mundo do trabalho docente ............................... 42

IV - Organização e Gestão do processo Ensino/Aprendizagem ................................ 47

4.1. O ensino da EF: conceções e entendimentos .................................................... 49

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VIII

4.1.1. Ser Professor e ser professor de EF: que desafios? ................................ 49

4.1.2. Legitimação da Educação Física no currículo escolar ............................. 52

4.2. O processo de planeamento enquanto ato de antecipação do ensino ........ 57

4.2.1. Análise documental: o primeiro passo ......................................................... 59

4.2.1.1. Programas Nacionais de Educação Física ........................................... 59

4.2.1.2. Documento de Organização e Gestão da Escola Cooperante ......... 64

4.2.2. Planeamento Macro: Anual............................................................................... 67

4.2.3. Planeamento Meso: Unidades Didáticas ...................................................... 70

4.2.4. Planeamento Micro: Planos e estrutura das aulas ..................................... 74

4.3. Realizar o planeado: ensinar ................................................................................... 80

4.3.1. As primeiras quatro aulas… ................................................................................. 80

4.3.2. As aulas com várias matérias .......................................................................... 83

4.3.3. Práticas pedagógicas centradas no aluno e no professor ...................... 85

4.3.3.1. A lecionação de aulas ao 2º ciclo ............................................................ 89

4.3.3.2 A lecionação de aulas ao 7ºAno................................................................ 91

4.3.4. Os Modelos de Ensino que balizaram a minha intervenção .................... 92

4.3.4.1. Modelo de Instrução Direta ....................................................................... 95

4.3.4.2. Modelo Desenvolvimental ......................................................................... 97

4.3.4.3. Modelo de Educação Desportiva ........................................................... 100

4.3.4.4. Modelo de Competências para os Jogos de Invasão ...................... 106

4.3.4.5. Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo ..................................... 109

4.3.5. Marcas das dimensões de atuação pedagógica presentes nos modelos

de ensino ........................................................................................................................ 112

4.3.5.1.Instrução........................................................................................................ 112

4.3.5.2. A gestão, a disciplina e o clima das aulas .......................................... 118

4.4. A avaliação das aprendizagens ............................................................................ 120

4.4.1.Indicadores da avaliação patentes no DOG ................................................ 122

4.4.2.Estratégias utilizadas para a avaliação ........................................................ 126

V - Atividades do estágio para a escola e para a comunidade ................................ 131

5.1. Desporto Escolar ...................................................................................................... 133

5.1.1. Atividades Desportivas Escolares (ADES) ................................................. 134

5.1.2. Jogos Desportivos Escolares ........................................................................ 136

5.1.3. Megasprinter – fase escola ............................................................................. 137

5.1.4. Megasalto e Megasprinter – fase ilha .......................................................... 139

5.1.5. Corta-mato – fase escola e fase ilha ............................................................ 141

5.1.6. Núcleo de Atividades de Exploração da Natureza ................................... 143

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IX

5.1.7. Supertaça Escolar ............................................................................................. 144

VI- Desenvolvimento Profissional .................................................................................... 151

6.1. Reflexões .................................................................................................................... 153

6.1.1. As reuniões: momentos de aprendizagem e de partilha ........................ 158

6.1.2. O diretor de turma: elemento chave na relação escola-família ............ 161

6.1.3. As observações: elementos balizadores e enriquecedores das próprias

práticas ........................................................................................................................... 164

6.1.4. Professor a Tempo Inteiro (PTI) .................................................................... 168

6.1.5. Diário de Bordo .................................................................................................. 170

VII - A (in)disciplina na sala de aula: Um estudo numa escola secundária na região

autónoma dos Açores ............................................................................................................ 173

Resumo ................................................................................................................................... 175

Abstract................................................................................................................................... 177

7.1.Introdução ................................................................................................................... 187

7.2.Pertinência do estudo .............................................................................................. 187

7.3.Contextualização Teórica ........................................................................................ 189

7.3.1. Entre o significado e o conceito de Disciplina e de Indisciplina .......... 190

7.3.2.Causas de indisciplina ...................................................................................... 191

7.4.Objetivos ...................................................................................................................... 192

7.4.1.Geral ....................................................................................................................... 192

7.4.2.Específicos ........................................................................................................... 192

7.5.Metodologia ................................................................................................................. 192

7.5.1. Participantes ....................................................................................................... 192

7.5.2. Instrumentos ...................................................................................................... 192

7.5.3. Procedimentos de análise .............................................................................. 194

7.5.4. Resultados .......................................................................................................... 195

7.5.4.1. Comportamentos de indisciplina no ano letivo de 2016/2017 ....... 195

7.5.4.2. Análise comparativa dos dados de 2016/2017 com 2008/2009 ...... 200

7.6. Discussão ................................................................................................................... 204

7.7. Conclusão ................................................................................................................... 206

7.8.Referências Bibliográficas ...................................................................................... 207

VIII - Considerações Finais ................................................................................................ 209

8.1. Perspetivas futuras .................................................................................................. 211

8.2. O que mudou e deve mudar futuramente? ........................................................ 211

8.3.Concluindo... ............................................................................................................... 213

Referências Bibliográficas ................................................................................................. 215

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X

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XI

Índice de Tabelas

Tabela 1 - Matérias nucleares do 2º ciclo ............................................................................ 62

Tabela 2 - Matérias nucleares do 3º ciclo ............................................................................ 62

Tabela 3 - Matérias alternativas do 2º e 3º ciclos ............................................................... 63

Tabela 4 - Matérias nucleares e alternativas definidas pela EC para o 3º ciclo ............ 65

Tabela 5 - Plano anual ............................................................................................................ 68

Tabela 6 - Exemplar do cabeçalho do plano de aula ......................................................... 74

Tabela 7 - Exemplar de um plano de aula ........................................................................... 76

Tabela 8 - Avaliações do 3º ciclo definidas no DOG ........................................................ 123

Tabela 9 - Transformação dos dados em classificação final do período para o 9ºano

................................................................................................................................................... 124

Tabela 10 - Transformação dos dados em classificação final do ano letivo ................ 124

Tabela 11 - Opções de organização curricular para o 9º ano ........................................ 124

Tabela 12 - Transformação da pontuação obtida para a aptidão física em classificação

final ........................................................................................................................................... 125

Tabela 13 - Avaliação para alunos com condições particulares .................................... 126

Tabela 14- Número de participações disciplinares e reincidências por grau de

gravidade ................................................................................................................................. 195

Tabela 15 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por

ciclo de ensino ........................................................................................................................ 197

Tabela 16 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por

sexo .......................................................................................................................................... 197

Tabela 17 - Número de participações disciplinares de acordo com o ciclo de ensino, o

sexo e a gravidade ................................................................................................................. 199

Tabela 18 - Número de reincidências de acordo com o ciclo de ensino, o sexo e a

gravidade ................................................................................................................................. 200

Tabela 19 - Relação entre o número de alunos com participações disciplinares nos

anos letivos de 2008/2009 e 2016/2017 ............................................................................. 201

Tabela 20 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por

ciclo de ensino em 2008/2009 e 2016/2017 ...................................................................... 202

Tabela 21 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por

sexo em 2008/2009 e 2016/2017 ........................................................................................ 203

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XII

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XIII

Índice de Figuras

Figura 1 - Pavilhão polidesportivo da EC ............................................................................ 23

Figura 2 - Sala de Ginástica da EC ...................................................................................... 23

Figura 3 - Piscina da EC ......................................................................................................... 23

Figura 4 - Sala de Judo da EC .............................................................................................. 23

Figura 5 - Campo de relvado sintético da EC ..................................................................... 24

Figura 6 - Pista de Atletismo da EC ...................................................................................... 24

Figura 7 - Exemplar de ficha de encaminhamento dos alunos ................................. 193

Figura 8 - Exemplar do documento de análise das participações disciplinares .......... 194

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XIV

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XV

Índice de gráficos

Gráfico 1 - Percentagem de reincidências por grau de gravidade ................................ 196

Gráfico 2 - Percentagem de participações disciplinares por grau de gravidade ......... 196

Gráfico 3 - Percentagem de alunos com participações disciplinares e reincidências por

ciclo de ensino ........................................................................................................................ 197

Gráfico 4 - Percentagem de alunos reincidentes em comportamentos de indisciplina

................................................................................................................................................... 198

Gráfico 5 - Percentagem de alunos com participações disciplinares por sexo ........... 198

Gráfico 6 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e

reincidências nos anos letivos de 2008/2009 e 2016/2017 ............................................. 201

Gráfico 7 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e

reincidentes por ciclo de ensino em 2008/2009 e 2016/2017 ......................................... 202

Gráfico 8 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e

reincidentes por sexo em 2008/2009 e 2016/2017 ........................................................... 203

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XVI

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XVII

Resumo

O presente documento foi realizado no âmbito da unidade curricular de Estágio

Profissional integrada no segundo ano do Segundo Ciclo de estudos em Ensino

da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, da Faculdade de

Desporto da Universidade do Porto. O documento retrata o estágio de um

estudante estagiário (o autor) realizado numa escola secundária situada em uma

das ilhas dos Açores, a ilha de São Miguel. A entrada nesta escola foi o regresso

a uma cidade que me viu crescer e que me desperta sentimentos intensos,

conquanto foi aqui que começaram a ser criadas as minhas crenças e conceções

relacionadas com o mundo que me rodeia, onde se inclui a Educação, a Escola,

a Educação Física e o Desporto. No decorrer deste ano de estágio foram várias

as partilhas de experiências, crenças, conceções, sentimentos e emoções que

me levaram a refletir e a reformular a forma de atuar enquanto profissional

docente. Neste relatório procuro identificar, descrever e analisar, de forma crítica

e refletida, as experiências que me marcaram e que contribuíram para a minha

formação enquanto professor. Neste espaço escolar tive a oportunidade de

ensinar e aprender com todos os elementos da comunidade educativa, isto

independentemente do seu estatuto e idade. Desde os professores aos alunos,

passando pelos auxiliares e pelos restantes membros da comunidade escolar,

todos me ajudaram a aprender e acredito que também a ensinar - “Ninguém é

tão grande que não possa aprender nem tão pequeno que não possa ensinar”

(Esopo, s.d.). Esta é a frase que levarei comigo no início desta minha longa,

trabalhosa e gratificante atividade que é a de ser professor. A produção deste

relatório representa o culminar de um processo recíproco de ensino e de

aprendizagem que foi fundamental para a construção da minha identidade

profissional. Em termos de estrutura, o documento está organizado em oito

capítulos: 1) Enquadramento Biográfico; 2) Enquadramento institucional, legal e

funcional do estágio; 3) Enquadramento da prática profissional; 4) Organização

e Gestão do processo ensino-aprendizagem; 5) Atividades do estágio para a

escola e para a comunidade; 6) Desenvolvimento da prática profissional; 7)

Estudo sobre a Indisciplina na sala de aula da EC; 8) Considerações finais;

PALAVRAS-CHAVE: Estágio Profissional, Identidade Profissional, Ensino-

Aprendizagem, Reflexão, (In)disciplina.

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XVIII

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XIX

Abstract

This report was produced during the practicum training, include on Master Degree

in Teaching of Physical Education in elementary and secondary education of

Faculty of Sport, University of Porto. The document depicts the practicum, of a

pre-service teacher (the author), in a high school at São Miguel Island, Azores.

Teaching at this school meant coming back to the city where I grew up.

Accordingly, this comeback brought along intense feelings associated with the

fact that it was here that my beliefs and conceptions in regards to the world

around me, where includes Education, School, Physical Education and Sport.

During the practicum training year, I had the opportunity to learn an immense

amount of valuable information. Experiences, beliefs, conceptions, feelings and

emotions came all into play in a way that allowed me to reflect and reformulate

the way I perceive myself as a professional in what comes to way I place myself

as professional teacher. In this document I identity describe and analyse

thoroughly the moments that have marked me as a professional, a human being,

and above all, as a teacher that result from the combination of these two. This

practicum training gave me the opportunity to teach and learn immensely with all

the people involved, regardless of their position and age – teacher, staff and

students. Everyone involved is also part of this project and all contributed to teach

me to teach. “No one is so big that can’t learn and so small that can’t teach”. This

phrase represents all that I take with me now starting my – hopefully – long

hardworking but gratifying teaching career. This document comprises all the

experiences I have gained during this teaching and learning process, helping me

define and construct my professional identity. The document is structured and

organized in eight chapters: 1) Personal Background; 2) Practicum training

farming; 3) Professional Practice Framework; 4) Organization and management

of teaching and learning process; 5) practicum training activities for school and

community; 6) Development of professional practice; 7) Study about indiscipline

in the cooperating school classroom; 8) Final considerations.

KEYWORDS: Practicum Training, Professional identity, Teach and learn

process, Reflection, (In)discipline.

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XX

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XXI

Lista de Abreviaturas

ADES – Atividades Desportivas Escolares

EC – Escola Cooperante

EF – Educação Física

EP – Estagio Profissional

FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

MAPJ – Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo

MCJI – Modelo de Competências para os jogos de Invasão

MD – Modelo Desenvolvimental

MED – Modelo de Educação Desportiva

NE – Núcleo de Estágio

PC – Professor Cooperante

PEE – Projeto Educativo de Escola

PFI – Projeto de Formação Individual

PNEF – Programa Nacional de Educação Física

PO – Professora Orientadora

PTI – Professor a Tempo Inteiro

RE – Relatório de Estágio

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XXII

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1

Introdução

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2

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3

Introdução

De acordo com Rodrigues e Ferreira (1998), o estágio é um momento, por

excelência, de reflexão que assume particular interesse na formação de

professores por convergir os saberes teóricos da formação inicial e os saberes

práticos da experiência profissional e da realidade social de ensino. Por sua vez,

Queirós (2014) refere que o estágio profissional (EP) pode ser entendido como

um terreno de construção da profissão docente, sendo um conjunto de

momentos fundamental na estrutura formal de socialização inicial na profissão.

Esta foi a ambiência onde decorreu o EP retratado neste documento.

Aprender a ser professor é um processo complexo que despoleta um

turbilhão de sentimentos, emoções, incertezas e reformulações de crenças e

conceções. Neste processo a conjugação entre o aprender e o ensinar está

especialmente vincada na atividade que o aspirante a professor exerce na

escola. Por conseguinte, a integração do futuro professor no contexto real de

ensino, a escola, é fundamental para que este possa iniciar o processo de

construção da sua identidade profissional como professor.

O presente documento relata, de forma refletida e crítica, o percurso de

um estudante estagiário, o autor, que se caracterizou pela construção e

reconstrução de crenças, pensamentos, metodologias e formas de atuação

pedagógica que, por sua vez, se foram reformulando a partir de um processo de

ensino e de aprendizagem recíproco. Este Relatório de Estágio (RE) foi

produzido no âmbito da unidade curricular de EP integrada no segundo ano do

Segundo Ciclo de estudos em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e

Secundário, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP).

No contexto da formação inicial o estágio profissional é um espaço, por

excelência, de aprendizagem e socialização sujeito a um acompanhamento

permanente. Esta prática de ensino supervisionada teve lugar numa escola

situada numa das ilhas do arquipélago dos Açores, a ilha de São Miguel. O foco

principal da atividade direcionou-se ao 9º ano de escolaridade, reportando

também outras experiências de lecionação de aulas de EF ao 2º ciclo de

escolaridade, mais especificamente ao 6º ano de escolaridade, e ainda ao 7º ano

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4

de escolaridade. A intervenção profissional com o 9º ano e com o 7º ano foi

realizada na escola cooperante (EC) e com o 6º ano foi realizada numa escola

próxima da EC.

O trajeto percorrido durante este ano letivo envolveu tarefas de natureza

distinta. Para além da prática pedagógica, nomeadamente nos 2º e 3º ciclos, no

desporto escolar, nas atividades desportivas escolares e nos jogos desportivos

escolares, englobou a organização e logística de atividades extracurriculares

constituintes do plano anual de atividades, o trabalho realizado com o diretor da

turma, a participação em várias reuniões inerentes à EC e ao estágio, a

observação de todas as aulas dos membros do núcleo de estágio (NE) e a

observação de algumas aulas de outros professores da EC, incluindo uma do

professor cooperante (PC).

Esta “viagem” teve o acompanhamento contínuo dos elementos do NE,

de entre eles dois colegas estudantes-professores, o PC e a professora

orientadora (PO) que, embora não estivesse sempre fisicamente presente,

acompanhou de muito perto todo o percurso. A partilha de crenças, sentimentos,

emoções, métodos e formas de atuar no âmbito profissional, quer com o NE,

quer com os professores, alunos, auxiliares e restantes membros da comunidade

escolar foram elementos que despoletaram inúmeras reflexões sobre o que é ser

professor que, por sua vez, levaram a um processo gradual de (re)construção da

minha identidade profissional. Assim, a produção deste RE foi realizada com o

intuito de descrever, de forma pormenorizada e reflexiva, as aprendizagens e

experiências que ocorreram durante o EP.

Face ao exposto, este RE não é mais do que o culminar de um intenso

processos formativo que decorreu ao longo do ano de estágio, cuja organização

e estrutura se apresenta da seguinte forma: 1) Enquadramento Biográfico; 2)

Enquadramento institucional, legal e funcional do estágio; 3) Enquadramento da

prática profissional; 4) Organização e Gestão do processo ensino-aprendizagem;

5) Atividades do estágio para a escola e para a comunidade; 6) Desenvolvimento

da prática profissional; 7) Estudo sobre a Indisciplina na sala de aula da EC; 8)

Considerações finais;

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No primeiro capítulo é realizada uma reflexão autobiográfica e descrita a

experiência académica, profissional e desportiva. No que concerne ao segundo

capítulo é contextualizado o EP. Relativamente ao terceiro capítulo, é abordado

o tema da identidade profissional e como a formação de professores e o estágio,

no contexto da formação inicial, podem influenciar a sua (re)construção. Quanto

ao capítulo quatro estão descritos alguns entendimentos relativos à disciplina da

EF e aos seus desafios atuais, bem como o processo de planeamento,

realização e avaliação do processo ensino-aprendizagem que decorreu no EP.

No quinto capítulo são apresentadas, de forma descritiva e refletida, as

atividades realizadas na escola em prol da comunidade. Relativamente ao sexto

capítulo são mencionados os aspetos que contribuíram para a minha formação

profissional, nomeadamente as reflexões, as reuniões, as tarefas realizadas no

âmbito da direção de turma, as observações e os desafios que me foram

lançados (a semana de professor a tempo inteiro, a lecionação de aulas ao 2º

ciclo e a lecionação de aulas de substituição ao 7º ano). No capítulo 7 é

apresentado um estudo sobre a indisciplina na sala de aula da EC. Finalmente,

no capítulo oito são evocadas as minhas considerações finais.

Neste EP esteve bem patente que processo ensino-aprendizagem é um

processo contínuo, bilateral e que “não tem idade nem experiência”, isto é, ocorre

tanto dos mais experientes para os menos experientes, como dos menos

experientes para os mais experientes, bem como dos mais novos (alunos) para

os mais velhos (professores) e vice-versa. De facto, existe sempre algo a ensinar

e a aprender com alguém. Tal como refere o pensador, fabulista e antigo escritor

grego Esopo (s.d.), cuja altura da sua existência permanece desconhecida,

“Ninguém é tão grande que não possa aprender nem tão pequeno que não

possa ensinar”.

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I- Enquadramento

Biográfico

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1. Reflexão autobiográfica

1.1.Apresentação: Quem sou eu?

O meu nome é Diogo Galvão Cabral Borba Lopes, nasci no dia 26 de Maio

de 1988 na cidade de Ponta Delgada situada na ilha de São Miguel, Açores. Os

meus pais também são naturais desta cidade, tendo ambos desenvolvido aqui a

sua atividade profissional: o meu pai como diretor de um banco e a minha mãe,

ainda hoje no ativo, como professora numa escola secundária.

O gosto pelo desporto surgiu desde cedo, talvez pelo facto de sempre ter

estado rodeado de pessoas que o praticavam com os mais variados objetivos:

pelo prazer, ou pela necessidade de melhorarem a saúde ou por serem

profissionais de desporto. De entre as influências destaco a do meu tio que,

sistematicamente, me oferecia adereços do Futebol Clube do Porto na

esperança que um dia pudesse vir a ser um adepto fervoroso deste clube, as do

meu pai, que acompanhei muitas vezes nas suas caminhadas na praia e nos

jogos de futebol do Clube União Micaelense e do Clube Desportivo Santa Clara

e as do meu avô paterno, que foi diretor do Clube União Micaelense. A

acrescentar a essas influências, os meus momentos de lazer eram passados na

rua ora com uma bola nas mãos ou nos pés ora com um skate ou sobre uma

bicicleta. Para além disso, frequentei campos de férias desportivos nas férias de

verão, ou seja, desde tenra idade que estive ligado ao desporto e ao exercício

físico. Na verdade, durante a minha infância, tudo o que me fazia sentir bem

estava relacionado com o movimento. Acredito piamente que este conjunto de

experiências e vivências gratificantes, que me davam prazer, levaram-me a olhar

para o desporto como algo que contribui para uma mudança positiva na vida das

pessoas, pois, de facto, foi algo bastante gratificante para mim.

Quando aos 7 anos de idade ingressei no Clube União Micaelense, como

jogador de futebol, senti que era um elemento peculiar da minha equipa não só

por ter algum jeito como também por ser aquele rapaz que só vê uma bola de

futebol. Os meus colegas de equipa muitas vezes elogiavam-me e faziam-me

sentir um importante elemento da equipa. Nessa fase senti que o desporto não

se resumia às componentes técnica e tática do jogo, era muito mais do que isso.

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Senti que no desporto, poderia fazer amizades, aumentar a minha autoestima e

autoconfiança e sentir-me como elemento pertencente a um grupo. Esta

experiência foi, sem dúvida, um ponto de viragem no meu entendimento sobre o

que era o desporto. A partir daí, decidi que também queria contribuir para uma

mudança positiva na vida das pessoas utilizando, para isso, o exercício físico e

o desporto. Assim, procurei levar os meus amigos a praticarem desporto e/ou

exercício físico e tendia a acompanhar/observar, sempre que podia, os

professores, os treinadores e os dirigentes desportivos na sua intervenção. Essa

atividade observadora acabou por fazer com que começasse a organizar treinos

com os meus amigos.

Esta foi, sem dúvida, uma fase da vida que me marcou muito e que

considero que me marcará para sempre, pois definiu traços da minha

personalidade e características pessoais que prezo e que faço questão de não

perder.

Enquanto pessoa penso que sou responsável, autónomo, comprometido,

sociável, bastante reflexivo (por vezes chego a ser ‘acusado’ de pensar demais),

entusiasta e honesto. Penso que possuo as características de um líder, pois em

todos os lugares por onde passei e onde a minha função era liderar um grupo de

pessoas fui, na minha opinião, bem-sucedido. Penso que este aspeto se deve

ao facto de conseguir, na maioria das vezes, motivar as pessoas que estão

comigo, principalmente se eu assumir o papel de líder. Gosto de correr riscos,

conquanto me sinto motivado por desafiar o desconhecido ou o relativamente

desconhecido. A monotonia desmotiva-me e desgasta-me porque não suporto

viver no tédio, isto é, estar sem fazer nada que considere útil, produtivo e/ou

divertido. Perceciono-me como sendo uma pessoa, graças aos meus pais,

professores e treinadores, educada, bem formada e com um espírito cooperativo

e de grupo desenvolvidos. Gosto dos meus amigos e da minha família e sinto-

me bem quando percebo que faço parte da vida deles.

Quanto aos aspetos negativos penso que sou demasiado perfecionista e

tenho dificuldade em não guardar ressentimento, quando considero que fui

desconsiderado. Com efeito, embora demore algum tempo até acontecer,

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desligo das pessoas que considero que não me trarão nada de novo e que, ao

mesmo tempo, entram sistematicamente em confronto comigo. Outro aspeto que

me carateriza é que e não gosto de debater assuntos da minha vida pessoal com

ninguém, contudo gosto de ajudar os outros.

Estas características pessoais enunciadas resultaram, como o

evidenciado anteriormente, do desporto, mas também da convivência com as

pessoas com quem fui lidando ao logo do meu percurso, quer informalmente,

quer em contextos organizados nos quais lidei com pessoas de várias faixas

etárias, de diferentes classes sociais e com interesses distintos, designadamente

nas escolas e instituições onde passei a maior parte da minha infância.

1.2. O percurso académico e profissional

1.2.1. O trajeto académico

O meu percurso académico iniciou-se no colégio São Francisco Xavier,

onde frequentei o 1º ciclo, de seguida passei pela da Escola Básica Integrada

Canto da Maia, onde frequentei o 2º ciclo e despois fui aluno da Escola

Secundária Antero de Quental, onde frequentei o 3º ciclo e o secundário. Em

2007 fui para Coimbra e ingressei no curso de Gestão de Empresas sabendo,

de antemão, que aquele não era o caminho que queria seguir na vida. De facto,

no ano seguinte, transitei para o curso de Desporto e Lazer na Escola Superior

de Educação de Coimbra tendo completado a licenciatura em 2012 com a

classificação final de 15 valores.

Participei em torneios escolares nacionais de basquetebol e em torneios

interescolares de basquetebol e voleibol. Também fui fã de ténis mas nunca

cheguei a competir formalmente. Apenas jogava com os meus amigos e

realizava treinos e torneios internos no Clube de Ténis de São Miguel.

Exatamente por isso, e ansiando integrar o mundo do trabalho, após a

licenciatura resolvi não frequentar o mestrado de imediato pelo que, realizei a

minha matrícula na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto dois anos

mais tarde, em 2014.

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1.2.2. Elementos da experiência profissional

Como experiência no mundo do trabalho tenho a destacar alguns

trabalhos tendo sido alguns remunerados e outros não: 1) Monitor num campo

de férias de crianças e jovens, em Ponta Delgada; 2) Treinador de futebol do

escalão de traquinas da Associação Académica de Coimbra; 3) Instrutor Fitness

e professor de natação no ginásio Virgin Active, Porto; 4) Treinador de Futebol

no Clube União Micaelense, tendo passado por todos os escalões de formação

e veteranos mas, com especial incidência nos escalões Sub.11 e Sub.13; 5)

Professor de Expressão e Educação Físico Motora no Colégio de São Francisco

Xavier, em substituição ao professor titular; 6) Coordenador do campo de férias

do Colégio São Francisco Xavier, no Verão de 2014; 7) Treinador de futebol do

escalão de Sub.13 do Nogueirense Futebol Clube;

No que respeita à experiência como monitor tive a oportunidade de

acompanhar, durante o período de férias de verão, um grupo de crianças com

idades compreendidas entre os 8 e os 10 anos, na panóplia de atividades que

perfazem um campo de férias. Desde idas à praia e à piscina, até á prática de

desportos individuais e coletivos, tais como o ténis, a natação, o futebol e o

voleibol, foram inúmeras as atividades que puseram à prova a minha capacidade

de gerir um grupo com as características específicas desta faixa etária. Ser um

dos responsáveis pela segurança e bem-estar deste grupo de crianças foi algo

que me desafiou, pois, pela primeira vez, pude perceber que o cumprimento de

regras é fundamental, designadamente para a segurança das crianças. Os

momentos em que as crianças iam para a água do mar brincar e os momentos

em que era necessário controlá-las nos passeios realizados na rua foram

aqueles que mais me marcaram – nesses momentos senti que deveria redobrar

a minha atenção e encontrar mecanismos de controlo mais eficientes e eficazes.

Também enfrentei este tipo de desafios quando exerci funções de coordenador

de um campo de férias. Nesta experiência, acrescentou-se ainda o desafio de

realizar por completo o planeamento, realização e avaliação de todas as

atividades a realizar. Esta foi uma tarefa que contribuiu para a aquisição de

conhecimento acerca das burocracias necessárias à operacionalização do

projeto que envolvia atividades fora das instalações do campo de férias, como

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por exemplo a necessidade de obter autorizações da autarquia e da câmara

municipal.

No que concerne ao conjunto de experiências enquanto treinador de

futebol, os desafios e exigências dos vários grupos desportivos por que passei,

foram muito semelhantes. Todos os clubes mencionados tinham e têm a mesma

conceção relativamente ao futebol de formação - todos olhavam para o futebol

como um meio de utilizar o desporto para formar homens, isto é, como um meio

de transmitir valores de cidadania, como a cooperação, a entreajuda, a amizade

e a tolerância a todas as crianças ajudando-as, desta forma, a integrarem-se no

meio onde estão inseridas. No pensamento dos representantes máximos destes

clubes, e também no meu, antes de se formar um jogador de futebol é necessário

formar uma pessoa. Essa conceção esteve e está na base de todo trabalho que

desenvolvi e desenvolvo atualmente.

A minha experiência no ginásio Virgin Active foi aquela que talvez me

tenha desafiado mais até hoje. Aqui, tive de conseguir conversar, perceber e lidar

com pessoas de todas as faixas etárias e com vários tipos de problemas

pessoais e sociais. Nesta minha experiência percebi que muitas pessoas se

sentem sozinhas, mesmo tendo família, e a forma que têm de se abstrair da

monotonia do seu quotidiano ou de esquecer-se, por momentos, dos seus

problemas é dialogando connosco. Este foi um grande desafio, pois obrigou-me

a ter e passar constantemente uma energia positiva e alegre, mesmo quando

estava num dia menos bom. Na verdade, neste contexto, este foi o principal

desafio. Para além disso, a aquisição de conhecimentos relacionados com a

fisiologia do exercício, com o treino e com a anatomia humana, foram

exponenciais. O facto de ter que levar à prática os conhecimentos teóricos

adquiridos foi um processo de transformação exigente. Para além disso, esta

exigência foi fundamental, levando-me a pesquisar na procura de soluções para

os diversos clientes.

A minha primeira experiência enquanto professor foi no primeiro ciclo.

Esta foi uma experiência única, mas muito cansativa - os alunos deste ciclo de

ensino são muito energéticos e têm muitas dificuldades de concentração e de

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organização. Sendo a minha primeira experiência enquanto professor, as

dificuldades na preparação das sessões foram enormes. No decurso desta

experiência fui percebendo, por mim próprio, os erros que ia cometendo e

adotando estratégias na procura de os diminuir. Desses erros destaco o elevado

tempo de instrução e a seleção de exercícios pouco motivadores e interessantes.

À medida que ia diminuindo o tempo de instrução e ia percebendo que atividades

os alunos gostavam mais, ia notando que as aulas decorriam com maior fluidez

e a aprendizagem começava a ter lugar.

Foram estes trabalhos, em especial o de treinador e o de professor, que

despoletaram em mim a curiosidade e o anseio em aprender mais sobre como

ensinar desporto. De facto, as dificuldades e as dúvidas que sentia quando

queria ensinar algo aos meus jogadores e alunos levaram-me a realizar muitas

reflexões, sendo que a principal se baseava na tentativa de responder à questão:

Como posso aumentar a eficácia do meu ensino?. Após várias reflexões em

torno destas temáticas, decidi que teria de frequentar um curso relacionado com

o ensino do desporto para crianças e jovens. Daí a decisão de me candidatar a

dois mestrados: ao mestrado de Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico

e Secundário na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e ao mestrado

de Treino Desportivo na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa. Entrei

nos dois sendo que optei pelo mestrado de Ensino da Educação Física nos

Ensinos Básico e Secundário tendo sido a cidade do Porto um dos fatores que

me fizeram optar por este mestrado.

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II -Enquadramento Institucional,

legal e funcional do estágio

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2. Enquadramento institucional, legal e funcional do estágio

2.1.Caracterização geral do estágio

Tendo em conta o indicado no Regulamento de Estágio1, o EP é uma

unidade curricular que “incorpora o espírito do ordenamento jurídico da formação

de professores do ensino básico e secundário – Decreto-Lei nº 344/89, de 11 de

Outubro, e as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 79/2014 de 14 de Maio

-, que a prática pedagógica constitui uma componente fundamental dos cursos

de formação de professores conferentes de qualificação profissional. Tem ainda

em conta o Regulamento Geral dos segundos Ciclos da Universidade do Porto,

e o Regulamento Geral dos segundos ciclos da FADEUP” (p. 2). A sua

organização é da responsabilidade do professor regente em cooperação com a

Comissão Científica e com a Comissão de Acompanhamento do Curso de

Mestrado de Ensino da Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário.

O EP integra uma componente prática e uma componente teórica sendo

todo o acompanhamento, orientação e supervisão da responsabilidade de um

orientador da FADEUP e um da EC. A avaliação, conforme veiculado no referido

regulamento, tem em conta o desenvolvimento de competências pedagógicas,

didáticas e científicas associadas a um desempenho profissional crítico e

reflexivo apoiado na ética profissional. Do ponto de vista da operacionalização,

no decurso do EP são realizadas atividades letivas, que decorrem em mais do

que um ciclo de ensino e não-letivas, inseridas nas normas e orientações da EC,

nomeadamente no que concerne ao seu projeto educativo, projeto curricular,

projeto de departamento, no qual se insere a disciplina de EF, o projeto das

atividades desportivas escolares e o projeto curricular de turma. Para além disso,

também estão previstas atividades de observação e colaboração em momentos

de educação e ensino e atividades incluídas nos ciclos de formação realizados

na FADEUP.

1 Regulamento da unidade curricular de Estágio Profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em ensino da Educação Física nos ensinos básico e secundário 2016/2017, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

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2.2. A Escola como instituição

A Escola, enquanto instituição, é uma comunidade educativa, com uma

determinada autonomia pedagógica e administrativa que tem uma direção em si

própria e que, em primeira instância, se responsabiliza perante a comunidade

que serve. Nessa comunidade participam professores, alunos, funcionários,

pais/encarregados de educação, município, associações sociais, económicas,

culturais e científicas. Para Brasil (citado por Nakayama et.al., 2010, p. 281), a

escola tem o compromisso de criar oportunidades para que os seus alunos

construam atitudes, valores e conhecimentos que os ajudem a tornarem-se

cidadãos críticos, éticos e participativos nos contextos que integram.

A Escola deve ser interpretada como uma comunidade de aprendizagem

e não apenas de ensino (Sallan, 1999) e como um espaço de relações pessoais

e interpessoais onde estão patentes várias influências, isto tendo em conta quem

integra o meio onde esta está inserida. É o local privilegiado para a concretização

da educação para a cidadania, pois cabe ao sistema educativo desenvolver na

comunidade educativa os saberes e as práticas de uma cidadania ativa. Não é

por acaso que a revisão curricular em Portugal, anunciada em 1999, apresentava

uma escola constituída por cidadãos com direitos e deveres de professores,

alunos e funcionários. Nessa escola, a participação ativa na construção de um

mundo melhor, em que se respeitava a igualdade e a diferença, parte do

conhecimento e compreensão do que estava à nossa volta. Já na revisão

curricular apresentada no Decreto-Lei 139/2012 é indicada a importância do

aumento da qualidade e do sucesso escolar no futuro do nosso país. Esse

aumento de qualidade e sucesso escolar passa por “um aumento da autonomia

das escolas na gestão do currículo, por uma maior liberdade de escolha das

ofertas formativas, pela atualização da estrutura do currículo, nomeadamente

através da redução da dispersão curricular, e por um acompanhamento mais

eficaz dos alunos, através de uma melhoria da avaliação e deteção atempada

de dificuldades” (p. 3476). Mais ainda, “pretende-se que a educação para a

cidadania enquanto área transversal seja passível de ser abordada em todas as

áreas curriculares, não sendo imposta como uma disciplina curricular isolada

obrigatória, mas possibilitando às escolas a decisão da sua oferta nos termos da

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sua materialização disciplinar autónoma” (p. 3476). No que concerne à avaliação

interna da qualidade e sucesso, esta é realizada a partir de provas e exames que

levem à obtenção de “resultados fiáveis sobre a aprendizagem, fornecendo

indicadores da consecução das metas curriculares e dos conteúdos disciplinares

definidos para cada disciplina” (p. 3476).

Na Escola, o projeto educativo e o regulamento interno são os

documentos mais importantes, no quais se expressa a vontade coletiva da sua

comunidade e a operacionalização da sua autonomia.

A questão do Projeto Educativo de Escola (PEE) aparece suportada por

uma conceção política da sociedade que assenta num modelo democrático

participativo com relevo no papel de intervenção da sociedade civil. Assenta na

conceção de democracia, do sistema educativo em vigor no nosso país,

designadamente na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do

Sistema Educativo (Costa, 1991). Para o mesmo autor, o PEE é um documento

pedagógico que é elaborado pela comunidade educativa e que estabelece a

identidade da escola, adequando o quadro legal em vigor no momento à situação

concreta. Este documento apresenta o modelo geral de organização e os

objetivos pretendidos pela instituição e é o ponto de referência orientador na

coerência e unidade da ação educativa. A sua estrutura apresenta três grandes

suportes teóricos: a política educativa, a teoria pedagógica e a análise

organizacional.

Do ponto de vista pedagógico, a referência imediata é aquela que faz do

trabalho de projeto, a metodologia fundamental do projeto educativo, “afirmando-

se na defesa de uma escola viva, autónoma, criativa e de um educando como

sujeito ativo em construção onde o direito à diferença aparece como requisito

fundamental para a construção de projetos pedagógicos que, recusando a

perpetuação dos valores do sistema, apostam no desafio da mudança”

(Carvalho, citado por Costa 1991, p. 16). Nesta perspetiva, a pedagogia que

marca o projeto parece estar identificada com a especificidade própria do ser

humano. Assim, estamos perante uma conceção pedagógica que tem vindo a

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marcar procedimentos didáticos direcionados ao aluno, na sua individualidade,

e que centram a sua ação na construção da sua própria aprendizagem.

Do ponto de vista administrativo-organizacional, o PEE é um instrumento

útil, à semelhança do regulamento interno, para a concretização dos objetivos

que a comunidade educativa considerar alcançar.

Segundo o estipulado no regulamento interno da EC2, este é “um

documento definidor do regime de funcionamento da Escola, de cada um dos

seus órgãos de administração e gestão, das estruturas de orientação e dos

serviços de apoio educativo, da especificidade de instalações e equipamentos,

bem como dos direitos e deveres dos membros da comunidade escolar” (p. 1).

Aplica-se a todos os membros da comunidade educativa, nomeadamente aos

alunos, ao pessoal docente e pessoal não docente, aos pais e encarregados de

educação, aos visitantes e utilizadores das instalações e espaços escolares, aos

representantes das autarquias locais e aos representantes das atividades de

carácter cultural, artístico, científico, ambiental e económico.

Foi com base nestas documentações que a minha atividade na escola se

processou durante este ano letivo. A sua consulta e análise foram fulcrais para

perceber melhor o espaço escolar em que me iria mover no exercício da função

de professor e para atuar em conformidade com a restante comunidade

educativa de forma a ajudar a EC a atingir os seus objetivos.

2 Regulamento Interno da Escola Cooperante, 2014-2017.

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2.3. A Escola Cooperante

A EC situa-se em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, e faz parte das

escolas da Região Autónoma dos Açores. Criada pelo Decreto Regulamentar

Regional nº6ª/86/A, de 31 de Março, foi construída com um design do arquiteto

Farelo Pinto e enriquecida no Séc. XXI, ao nível do espaço envolvente. A escola

é servida por um complexo desportivo com grandes potencialidades e está

rodeada de jardins e zonas de lazer.

O seu logótipo é da autoria do prof. João Pedro Vaz de Medeiros e o seu

hino, “Programando o Futuro”, do músico Aníbal Raposo e de Helena Lavouras

(voz), tendo sido aprovado pela assembleia da escola em 2004. Dadas as suas

condições técnico-funcionais e as suas características arquitetónicas, a EC foi

galardoada, em 2000, com o prémio de excelência pela Organização de

Cooperação e de Desenvolvimento Económico (OCDE).

Em termos de infraestruturas, a escola tem dois andares, nos quais as

salas de aula se distribuem. No primeiro andar existem ainda cinco espaços para

trabalho docente. Relativamente aos espaços públicos é de destacar: A

biblioteca, que funciona no primeiro piso. Por cima, no segundo piso, tem uma

sala de leitura, que funciona junto a um núcleo de Educação Especial, ao Serviço

de Psicologia, à Coordenação de cursos do PROFIJ, à coordenação do

Programa Oportunidade e à equipa de saúde escolar. O anfiteatro, com 200

lugares, dispõe de acesso independente da entrada principal do edifício e serve

a comunidade, em geral. O refeitório, utilizado por toda a comunidade educativa,

proporciona, em média, 140 refeições diárias e acolhe eventos para a angariação

de fundos para projetos dos alunos e para assinalar datas comemorativas. O

pátio interior é destinado, principalmente, ao convívio dos alunos nos intervalos

das aulas. A área exterior, com uma horta e espaços descobertos com jardins e

árvores, permitem o contacto permanente com a natureza. O Complexo

Desportivo das Laranjeiras, contíguo à escola, integra diferentes espaços e

equipamentos desportivos e tem uma gestão é autónoma. O complexo

desportivo, cedido pelo Serviço de Desporto de São Miguel, é utilizado para as

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aulas de Educação Física (EF) e de Desporto e nos tempos extracurriculares

serve toda comunidade.

A EC funciona em regime diurno, proporcionando anualmente

oportunidades educativas a mais de setecentos alunos. Atualmente apresenta

uma oferta formativa que se foca no ensino regular (3º ciclo e secundário),

PROFIJ (empregado de mesa/bar, operador informático, operador agrícola,

cozinheiro, cozinha e informática) e cursos profissionais (gestão desportiva,

animador sociocultural e técnico de apoio de saúde).

A unidade orgânica conta ainda com um pessoal não docente e com um

corpo docente estáveis e empenhados, visando uma ação educativa eficaz. O

corpo docente da escola organiza-se e distribui-se por oito departamentos

curriculares, de entre eles: 1) Departamento de Artes e Tecnologias; 2)

Departamento de Ciências Físico- Químicas e Geográficas; 3) Departamento de

Ciências Naturais; 4) Departamento de Ciências Sociais e Humanas; 5)

Departamento de Educação Física e Desporto; 6) Departamento de Línguas

Germânicas; 7) Departamento de Línguas Românicas; 8) Departamento de

Matemática.

De acordo com o projeto curricular da EC3, “a escola debate-se com as

baixas expectativas dos estudantes, quanto à própria formação, com a sua

desmotivação, em relação ao estudo, e com o seu desinteresse face ao

conhecimento, traduzindo-se em comportamentos desadequados, em situações

de indisciplina e na indesejável diluição de uma cultura de cidadania. Acresce-

se a tudo isto situações sociais e familiares complexas e problemáticas e

relações interpessoais muitas vezes intolerantes e agressivas. Há ainda a referir

o pouco envolvimento das famílias no processo educativo dos seus educandos

e a modesta participação e colaboração dos pais e encarregados de educação

na vida da comunidade educativa” (p. 2).

3 Projeto Curricular de Escola 2008-2009, Escola Secundária das Laranjeiras

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2.3.1. As Instalações desportivas

O Complexo Desportivo das Laranjeiras é um espaço multifuncional

anexo à escola, integrado no Parque Desportivo Regional, que está disponível

para as aulas de EF durante o horário diurno (das 08h30m às 17h45m). A riqueza

deste complexo desportivo expressa-se quer na quantidade, quer na qualidade

das instalações e equipamentos de que dispõe, nomeadamente: 1) Pavilhão

desportivo, com as dimensões 44x22 metros com bancada e ar condicionado; 2)

Sala de ginástica, com as dimensões de 21x21 metros; 3) Sala de judo, com as

dimensões de 12x12 metros; 4) Piscina de 25 metros com água aquecida, ar

condicionado e bancada; 5) Polidesportivo exterior em piso de relva sintética; 6)

Pista de atletismo, em piso sintético, com 6 corredores em volta de um campo

de futebol relvado natural e com bancadas ao redor; 7) Sala de treino físico.

Figura 1 - Pavilhão polidesportivo da EC Figura 2 - Sala de Ginástica da EC

Figura 4 - Sala de Judo da EC Figura 3 - Piscina da EC

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2.3.2. O departamento de Educação Física e Desporto

O corpo docente que compõe o Departamento de Educação Física e

Desporto é constituído por treze professores, sendo alguns efetivos, outros

contratados e outros afetos. Destes treze professores, oito são do sexo

masculino e cinco são do sexo feminino. De entre todos estes membros existem

professores com experiência no atletismo, na natação, no basquetebol, no ténis

e na ginástica, mas, a maioria dos professores, apresenta mais experiência no

futebol pois três deles exercem atualmente as funções de treinador de futebol de

formação e dois deles já a exerceram. Este grupo de professores apresenta

conceções distintas no que respeita à prática desportiva e à EF. Relativamente

à competição, alguns focam-se mais na obtenção de resultados desportivos,

outros focam-se mais no desenvolvimento de valores de cidadania.

Relativamente à EF, uns utilizam modelos bastante diretivos, outros utilizam

modelos mais abertos. Independentemente das suas conceções e experiências,

todos os professores respeitam o documento orientador do departamento

designado documento de organização e gestão (DOG). É de salientar que,

embora alguns não concordem com parte das diretrizes inscritas no documento,

são um grupo de professores que adota posturas coerentes e agem de acordo

com os princípios e decisões tomadas no seio do grupo.

O DOG resulta da conjugação do disposto nos “Deveres Profissionais” do

Estatuto da Carreira Docente dos Educadores de Infância e dos Professores dos

Ensinos Básico e Secundário, com o explicitado nos descritores do parâmetro

5.2 “Exercício de Cargos” do Formulário e Relatório de Avaliação do

Figura 5 - Campo de relvado sintético da EC Figura 6 - Pista de Atletismo da EC

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Desempenho Docente, pelas competências atribuídas ao departamento

curricular, aprovadas no Decreto Legislativo regional n.º 13/2013/A, de 30 de

agosto, e com o identificado nos campos de análise dos domínios do referencial

para uma escola de excelência do Modelo de Autoavaliação da Qualidade nas

Escolas, legalmente enquadrado pelo Decreto Legislativo Regional n.º

29/2005/A, de 6 de dezembro, e o estabelecido no Regulamento de Gestão

Administrativa e Pedagógica dos Alunos (RGAPA), Portaria n.º 75/2014, de 18

de novembro da Secretaria Regional da Educação e Formação.

Este documento estabelece as normas gerais e os procedimentos a

observar pela EC na matéria referente às características, organização e gestão

da EF e do desporto escolar. Dele fazem parte as normas para a implementação

das opções de organização curricular a serem cumpridas por todos os

professores no que respeita às modalidades, formas de avaliação e a sua

transformação em classificação final, tanto no ensino regular, como no

profissional, no PROFIJ e nos programas especializados. Também faz parte

deste documento a bateria de testes de condição física a implementar, as

atividades de enriquecimento curricular, as regras gerais das aulas de EF e as

normas de utilização dos espaços. O plano curricular do curso de Técnico de

Apoio à Gestão Desportiva também está bem explícito, tal como a bibliografia

referenciada e adotada, o desporto escolar, o regimento do departamento, o

plano de formação do pessoal docente e as fichas de autoavaliação.

2.4. O Núcleo de estágio

O núcleo de estágio em que estive inserido era composto por mim, por

dois colegas, ambos oriundos da ilha de S. Miguel, e pelo PC, oriundo da ilha do

faial. Os três estagiários têm idades compreendidas entre os 24 e os 32 anos e

ambos gostam de futebol, sendo este o seu desporto de eleição. Já o PC tem no

basquetebol o seu desporto de eleição.

Desde o início do ano letivo que verifiquei que entre os elementos do

núcleo de estágio existiam conceções, crenças e metodologias bastante

distintas, sendo essa diferença mais visível de mim para os meus colegas. Este

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facto originou inúmeros debates que, por sua vez, foram orientados pelo PC.

Este, na maior parte das vezes, proporcionava intencionalmente o confronto de

ideias e apelava constantemente à nossa capacidade de argumentação. Alguns

desses debates resultaram em ideias pouco conclusivas demonstrando, na

minha opinião, a enorme pluralidade existente no seio deste núcleo. Foi um

núcleo com ideias bastante diversificadas, o que trouxe vantagens e

desvantagens. A principal vantagem foi a de poder verificar a influência de várias

metodologias e modelos no processo ensino-aprendizagem e a principal

desvantagem foi o constante confronto de ideias que, por vezes, criou um

ambiente de algum mal-estar no núcleo, o qual foi sendo atenuado com o

decorrer do ano letivo.

Após o término deste ano, faço um balanço pouco positivo do nosso

trabalho enquanto grupo, pois fiquei com a sensação que poderia ter existido

mais trabalho em equipa. O facto de cada um de nós pensar de formas bem

diferentes e na maioria das vezes opostas, não ajudou a que existisse mais

vezes, trabalho conjunto.

2.5. A minha turma: os meus alunos

O conhecimento dos fatores psíquicos, físicos, sociais, económicos e

hábitos quotidianos dos alunos são, segundo Bento (1986), fundamentais para

o êxito da condução do processo de ensino. Partindo deste entendimento,

considerei importante conhecer as características pessoais dos meus alunos e

o contexto de onde vieram para, desta forma, melhor compreender os seus

comportamentos e atitudes e, assim, poder adotar estratégias que favorecessem

a eficácia da minha prática pedagógica.

Neste ano letivo fiquei responsável por lecionar as aulas de EF de uma

turma do nono ano de escolaridade do ensino regular. Os alunos da turma

provinham de uma classe económica relativamente baixa, reflexo do agregado

familiar direto cujas habilitações não lhes permitiram aceder a empregos

minimamente bem remunerados. Havendo até, inclusivamente, alunos que já

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tinham habilitações mais altas do que os seus encarregados de educação. Este

perfil económico permitiu-me perceber algumas coisas, designadamente as

dificuldades de alguns alunos na aquisição do material necessário para as aulas,

a ausência de ajuda na realização dos trabalhos de casa e de outras tarefas

escolares, a necessidade de realizarem outras tarefas em casa, para além das

tarefas escolares, e os conflitos familiares que marcavam alguns alunos.

Existiam muitos alunos que, pela sua idade, deveriam frequentar um ano

escolar mais adiantado. A média de idades dos alunos, no ano civil de dois mil

e dezassete, era de quinze anos e meio sendo que uma das alunas era maior

de idade. Esta foi uma fase peculiar na vida destes estudantes e um ano muito

importante ao nível da progressão académica pois, para além de ser um ano

que encerra um ciclo de estudos, foi um ano em que houve a possibilidade de

passar para o ensino secundário, facto muito importante para esses alunos

uma vez que já se “atrasaram” demasiado. Registaram-se sete alunos que

tiveram retenções, sendo que cinco deles foram no sétimo ano e dois deles no

oitavo ano.

A turma tinha um aluno de 17 anos com necessidades educativas

especiais. Este teve avaliações personalizadas e apoio educativo em várias

disciplinas. De referir que o seu percurso académico, neste ano letivo e nos

anos letivos transatos, foi especialmente acompanhado por todos os

professores da turma.

No que respeita ao desempenho físico-motor, a maioria dos meus

alunos apresentavam dificuldades, principalmente nos jogos desportivos

coletivos. Apenas oito dos dezoito alunos que compunham a turma

apresentavam predisposição para a prática desportiva. Os restantes tinham de

ser sistematicamente motivados pois abstinham-se constantemente de praticar

exercício físico. Essa abstenção deveu-se, sobretudo, à consciência das

dificuldades motoras que tinham nas várias modalidades. No que respeita à

aptidão física apenas cinco alunos demonstraram possuir um nível acima da

média, de forma mais ou menos consistente, e três alunos demonstraram

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enquadrar-se na zona saudável. Os restantes dez alunos não demonstraram,

no geral, possuir condições para ultrapassar os níveis abaixo da zona saudável

de aptidão física.

Relativamente à cultura desportiva, a larga maioria dos alunos

demonstrou desconhecer a regulamentação básica e os conteúdos técnicos

e/ou táticos das várias matérias lecionadas. Quase todos os alunos

dominavam, aceitavelmente, a regulamentação de apenas uma matéria,

aquela que lhes despoletava mais interesse.

Quanto à componente relacional, os alunos demonstraram, no início do

ano, ser um grupo saudável e com um relacionamento gerador de bom

ambiente quer nas aulas, quer fora delas.

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III-Enquadramento da

Prática Profissional

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3.1. A (re)construção da identidade profissional do professor

Uma profissão pressupõe um saber específico que vai além do saber do

senso comum, a partir do qual os profissionais orientam o seu serviço no sentido

de atingir os seus objetivos, estando sempre sujeitos a um código deontológico

que baliza as suas intervenções profissionais no campo ético. Toda a profissão

tem uma associação profissional que zela pelos interesses dos profissionais. No

caso da profissão docente, os professores devem assumir-se como produtores

da sua própria profissão.

Para Alonso (1988), um bom professor deve possuir um determinado

conjunto de características de entre elas: 1) A competência, que é a capacidade

que o professor tem para ciar, organizar e modificar condições de aprendizagem

para facilitar essa mesma aprendizagem aos alunos. A definição de competência

docente é muito ampla dada a diversidade de variáveis a ter em conta

(sociológicas, psicológicas, didáticas e associadas às atitudes e perceções dos

professores). Um profissional docente para exercer bem a sua função deve

possuir um conjunto de conhecimentos, linguagens, valores, técnicas e

destrezas que no fundo formam a sua cultura profissional. O profissionalismo é

a prática associada à teoria em que o professor sabe o que ensina, como ensina

e porque ensina. Associada à competência docente está a competência

pedagógica onde se englobam um determinado conjunto de conhecimentos

(curricular, do conteúdo, pedagógico, de procedimentos, de valores e de

normas), capacidades (de trabalho cientifico, organizativas, construtivas,

didáticas, comunicativas, sugestivas, percetivas, expressivas e culturais),

habilidades (componentes automatizadas da ação do ser humano) e hábitos de

reflexão sobre a prática docente que levam à continuidade dessa mesma prática;

2) A autonomia, associada à capacidade que o professor tem para tomar

decisões responsáveis e operacionalizá-las, isto é o professor tem liberdade de

escolher, desde que de forma criteriosa e fundamentada, o que pretende em

função das alternativas que lhe são possíveis. 3) Abertura à inovação, que é a

capacidade de adaptar a profissão às mudanças técnicas e sociais, tendo o

professor que intervir de forma refletida e intencional como agente dessa

mudança para poder preparar as novas gerações para o futuro, capacitando-as

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para o processo de adaptação/readaptação evitando, assim, grandes desajustes

entre a vida escolar e a vida real. Para isso, os professores devem frequentar

uma formação teórica e prática que os capacite para lidar com todo o tipo de

alunos, com ou sem necessidades especiais, e para conseguir fazer uma

reflexão crítica sobre a Educação e sobre as propostas de mudança. Essa

formação deve também enaltecer a importância do professor ser criativo,

comunicativo, confiante, curioso, reflexivo, recetivo, independente e liberal.

De acordo com Roldão (2007, p. 94-95), as características da profissão

docente englobam: 1) O reconhecimento social da especificidade da função, na

medida em que as conceções escolares, o currículo escolar e as escolas são

construídos para satisfazer as necessidades de alfabetização da população e

para suscitar o interesse nas questões políticas e socias; 2) O domínio de um

saber específico, porque a complexidade da função docente obriga a uma

conjugação de saberes onde se inclui o saber científico, o saber cientifico-

didático e o saber pedagógico que, por sua vez, estão em constante atualização.

O conhecimento profissional docente e os saberes distinguem-se pela

capacidade que o professor tem de, através do saber técnico e artístico,

organizar esses saberes e transformá-los em situações de aprendizagem a partir

da sua capacidade de improvisar e criar, da atualização constante do

conhecimento através da reflexão da prática e sobre a prática, de pesquisas, de

questionamentos e da capacidade de (des)construir o conhecimento através da

comunicação, transmissão e discussão de assuntos pertinentes com os outros;

3) O poder de decisão, na medida em que um professor está constantemente a

tomar decisões e, desta forma, é fundamental que tenha a capacidade de tomá-

las nas alturas e locais adequados; 4) A pertença a um corpo coletivo porque

partilha, regula e defende o exercício da sua função.

Nóvoa (2009, p. 205) refere que os profissionais de excelência devem

possuir outro conjunto de características, de entre elas: 1) O conhecimento, na

ótica da construção de práticas docentes, baseadas no contexto histórico, teórico

e metodológico, que conduzam à aprendizagem dos alunos e a respostas a

problemas pessoais, sociais e culturais; 2) A cultura profissional, baseada na

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compreensão das conceções e currículos escolares, no sentido de orientarem a

sua formação para esses mesmos currículos e assim ajustarem-se aos contextos

onde se inserem; 3) O tato pedagógico, apoiado na relação e comunicação entre

o professor e o aluno que, por sua vez, é fundamental para desenvolver a

capacidade e diversidade de raciocínio no aluno. 4) O trabalho de equipa, pois a

complexidade da função docente obriga a uma constante troca de experiências

práticas e reflexões sobre as mesmas para que se possa aumentar o

conhecimento profissional; 5) O compromisso social, na medida em que um

profissional docente deve ter a capacidade de transmitir ao público a importância

da escola e do currículo escolar no processo educativo;

Enquanto líder numa sala de aula, o professor deve refletir e atuar

pedagogicamente com o objetivo central de desenvolver e/ou ajudar os alunos a

descobrirem as suas potencialidades. Este, enquanto membro de uma

comunidade educativa, deve ser proactivo, no que respeita à adoção de

estratégias, para favorecer e atingir os objetivos delineados pela escola e pelo

poder político. Deve também realizar reflexões, conjuntamente com outros

professores, no sentido de avaliar os projetos ou os programas em prática. O

professor é uma voz ativa no processo de ligação aluno-escola-encarregado de

educação, isto no sentido de transmitir a vida escolar dos educandos e também

de tentar perceber os comportamentos que estes adotam para, desta forma, se

necessário, tentar aproximá-los dos comportamentos gerais que são adotados

pelos membros da sociedade onde estão inseridos.

Para além de ser importante perceber quais as características que deve

possuir um bom professor é também importante perceber que estas se

enquadram num mundo direcionado para a globalização e, consequentemente,

para as alterações sociais daí resultantes (Cardoso, Batista & Graça, 2016).

Estas alterações levam à necessidade de atribuir importância à (re)construção

da identidade profissional dos professores.

A formação e reformulação da identidade profissional do professor é um

processo complexo que envolve fatores normativos, cognitivos e emocionais a

partir dos quais se encontram valores pessoais e profissionais que, por sua vez,

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expressam a motivação, a atitude e o compromisso dos professores na sua

atuação profissional (Cardoso, Graça & Batista, 2016). Estes autores indicam

que as configurações da identidade e a forma como esta é percebida pelos

professores no exercício da sua função dependem “das práticas discursivas que

pontuam o contexto social, das experiências vividas e da fase em que se

encontram na carreira, das suas relações com os colegas e com os alunos, da

cultura organizativa das instituições e dos acontecimentos da vida pessoal” (p.

381). Para além disso, segundo Entwistle (citado por Cardoso, Batista & Braça,

2016, p. 382), todas as experiências prévias que o professor experienciou

durante a sua vida até à profissionalização condicionam de forma positiva ou

negativa o futuro do professor filtrando as mensagens ligadas ao programa de

formação inicial. A identidade profissional é, ao longo do percurso profissional,

confirmada ou reformulada pelos professores no seio da comunidade e a partir

dos conhecimentos que fundamentam a prática profissional.

Todos os autores evidenciados neste ponto indicam, cada um à sua

maneira, que a construção da identidade profissional do professor é um processo

complexo, dinâmico, aberto e contínuo que se constrói e reconstrói na profissão,

a partir das vivências/experiências com os outros (carácter social) e do

significado que damos a essas vivências/experiências (carácter pessoal). Esta

resulta da componente genética, da individualidade de cada um para com o outro

e/ou da posição numa determinada instituição.

Nóvoa (2009) refere ainda que a construção da identidade profissional do

professor tem início na sua própria experiencia de vida, o “eu pessoal”, passa

pela formação inicial e tem como estrutura fundamental os primeiros anos de

serviço, através do qual ele começa a solidificar o seu “eu profissional”. Carrega

(2012) indica que essa construção vai sendo reformulada ao longo de todo o

percurso profissional do professor. A (re)construção da identidade profissional

de um professor é uma realidade que aparece constantemente, podendo esta

entrar em confronto com a sua identidade pessoal. Cabe-lhe saber gerir essas

diferenças e atuar, profissionalmente, tendo em conta os objetivos delineados e

o contexto em que se insere.

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Face ao exposto, pode assumir-se que a identidade profissional do

professor é um processo em constante mudança que resulta não apenas da sua

formação e da socialização profissional, mas também das experiências

singulares (familiares, escolares, profissionais, sociais) que cada professor teve

ao longo da sua vida.

3.1.1. A formação de professores

Segundo García (2013), as teorias e as investigações sobre a escola,

enquanto organização, e sobre o desenvolvimento e a inovação curricular do

ensino servem como ponto de partida para se ir construindo um discurso que

integre as componentes mais importantes da formação de professores. A

formação de profissionais docentes é, segundo o mesmo autor, uma área de

crescente preocupação e interesse para investigadores e formadores, sendo a

vertente formativa fundamental para poder responder eficazmente aos desafios

do sistema educativo. Já Queirós (2014) refere que embora não seja linear que

os bons profissionais tenham tido todos boas formações ou que boas formações

façam bons profissionais, o facto é que a qualidade dos professores traduz, em

certa medida, a formação que tiveram. É neste espaço que a formação da

identidade profissional do professor se começa a processar.

Um fator que me parece ser fulcral na formação de professores é a sua

qualidade. “Nunca se falou tanto em qualidade como nos dias de hoje” (Shigunov

& Neto, 2016, p. 54). Os autores Ramos (1992), Gomes (1994) e Mezomo (1997)

defendem que a qualidade pode ser aplicada no sistema de educação em função

das exigências e transformações que ocorrem. Esta é muito difícil de ser medida

e estimada pois cada caso refere-se aos seus parâmetros de comparação. Para

Costa e Piéron (citados por Shigunov & Neto, 2016, p. 59), as variáveis

estudadas para determinar a qualidade dos professores são as suas

características, o desempenho dos alunos, o contexto e a tipologia da matéria

ensinada, logo as formações de professores devem ir ao encontro destas

variáveis.

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De acordo com Shigunov e Neto (2016), a formação de professores é um

tema muito complexo e com várias vertentes de estudo, sendo elas, de acordo

com Nóvoa (2009), a científica, a pedagógica e a técnica. Para este último autor,

a formação deve basear-se na aquisição de uma cultura profissional que tenha

como base os próprios professores. Shigunov e Neto (2016) referem que a

formação de professores deve seguir três premissas básicas: i) os fins e

objetivos da formação pretendida, considerando os princípios biológicos,

psicológicos e evolutivos do ser humano sem descurar, obviamente, as questões

políticas do país onde é realizada a formação; ii) a formação do cidadão, que

passa pelas questões religiosas e culturais, pela visão da evolução do mundo

em termos globais e pelo entendimento governamental e a iii) formação de mão-

de-obra especializada, que se resume à colocação em prática das duas

primeiras premissas. Para além disso, os autores afirmam que a formação de

profissionais ligados à transmissão de conhecimento e formação de outros deve

ter como preocupação a formação de profissionais éticos, responsáveis,

conscientes, competentes e, sobretudo, humanos. Para Demo, Mello, Siedentop

e Walberg (citados por Shigunov & Neto, 2016, p. 59), o ato de ensino, apesar

de envolver uma hierarquia de poder, não deixa de ser uma relação, sendo os

diferentes aspetos envolvidos no ato do ensino dependentes dela. Assim, a

formação de professores, para além de se focar no desenvolvimento do

conhecimento pedagógico, científico e técnico, deve ter uma forte componente

de aprendizagem relacional - desenvolvimento das capacidades sociais e de

cidadania dos alunos e capacidade de refletir -, para que se desenvolvam

conhecimentos e competências no âmbito das interações e do relacionamento

pessoal.

Na formação de professores, muitas vezes é esquecido ou é pouco

valorizado, o facto da atividade docente ser uma “atividade profissional

eminentemente ética”. Logo, segundo Graça, Batista e Queirós (2016), a

formação de profissionais docentes tem de basear-se em regras éticas,

nomeadamente no que respeita à relação com os atores educativos e na

prestação de serviços de qualidade. Esta é uma área que deverá ser potenciada

e desenvolvida urgentemente, sendo a formação inicial de novos profissionais

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docentes uma forma excelente para o fazer. Não obstante, parece-me lógico que

essa formação deve ir além das regras éticas, embora sejam estas que balizem

a atuação profissional dos professores, e chegar aos conhecimentos gerais e

específicos da futura atividade profissional. De acordo com Shigunov e Neto

(2016), a busca de melhores condições de ensino têm de incorporar a melhoria

da formação académica, onde se enquadra a realização de um estágio, e da

ação pedagógica do professor na sala de aula.

3.1.2. O lugar do estágio no contexto da formação inicial

Para Esteves (1995), a entrada no mundo do trabalho implica a transição

da faculdade para a escola. Nesse período, normalmente destacam-se os

aspetos positivos da profissão e as práticas ideais. Essa transição passa pela

realização de um estágio profissional, ainda enquadrado no contexto da

formação inicial, que de acordo com Pimenta (2011) deve dar ao futuro professor

a oportunidade de compreender a complexidade das práticas institucionais

“oferecendo” métodos e conhecimentos para que possa atuar e realizar análises

críticas e reflexivas.

Segundo as normas orientadoras de estágio da FADEUP4 “O estágio

profissional visa a integração no exercício da vida profissional de forma

progressiva e orientada, através da prática do ensino supervisionada em

contexto real, desenvolvendo as competências profissionais que promovam nos

futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz de responder aos

desafios e exigências da profissão. Essas competências profissionais,

associadas a um ensino da Educação Física e Desporto de qualidade, baseiam-

se num Perfil Geral de Desempenho do Educador e do Professor” (p. 3). Ao

contrário da maioria das profissões, os professores estagiários, de um momento

para o outro, passam a ter um conjunto de responsabilidades que se

assemelham muito às dos professores que são profissionais há muitos anos

4 Normas Orientadoras do Estágio Profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em ensino da Educação Física nos ensinos básico e secundário, 2016-2017, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

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(Queirós, 2014). Nesse sentido, e tal como referem Alarcão, Leitão & Roldão

(2009), a prática pedagógica supervisionada assume um papel central na

formação inicial de professores e, mais ainda, no momento de realização do

estágio. Neste quadro, a presença de um orientador da faculdade e de um PC,

é essencial no processo de acompanhamento do estudante na inserção gradual

na vida profissional.

Sabucedo, Abellas e Campos (2011) identificaram benefícios para os

orientadores e para os estudantes no processo de orientação do estágio. Os

benefícios para os orientadores definidos por estes autores englobam o

desenvolvimento pessoal e profissional, a aprendizagem sobre a própria prática,

a apreensão de novas ideias e perspetivas, a melhoria da capacidade de

comunicação e a satisfação com o seu desempenho. Já os benefícios para os

estudantes englobam o apoio ao desenvolvimento profissional, a ajuda para a

realização da aprendizagem e para a reflexão e a socialização.

Durante o processo de orientação, os orientadores têm um conjunto de

papéis e funções a desempenhar. Koç (2011) indica que o PC tende a ser visto

como um guia ou um conselheiro, isto é, alguém que apoia o formando. Neste

sentido, Mosher e Purpel (citados por Batista & Borges, 2015, p. 438) apontaram

seis características que o PC deve possuir: 1) A sensibilidade para se aperceber

dos problemas e das causas; 2) A capacidade para analisar, avaliar e

concetualizar os problemas e hierarquizar as causas de origem; 3) A capacidade

de comunicar eficazmente a fim de perceber as opiniões e os sentimentos dos

professores e exprimir as suas próprias opiniões e sentimentos; 4) A

competência em desenvolvimento curricular e em teoria e prática de ensino; 5)

Os skills de relacionamento interpessoal; 6) A responsabilidade social assente

em noções bem claras sobre os fins da educação.

No que respeita às funções a exercer, e tal como refere o estudo de

Gervais (citado por Batista & Borges, 2015, p. 24), onde participaram vários

professores cooperantes, o PC deve ter em atenção os aspetos de ordem

pessoal e de ordem didática. Os aspetos de ordem pessoal englobam, segundo

Gervais & Molina (2005): 1) A observação da sua prática; 2) Analisar situações;

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3) Exprimir adequadamente a sua apreciação; 4) Justificar as suas ações; 5)

Antecipar reações; Já os aspetos de ordem didática englobam a condução do

estagiário a: 1) Exprimir uma intenção; 2) Exprimir uma auto-apreciação; 3)

Precisar de onde veio a ideia de utilizar os meios ou ferramentas que utiliza; 4)

Antecipar a utilização possível de outros meios ou ferramentas didáticas.

Face ao exposto pode-se deduzir que o papel do PC se reveste de

complexidade, pois não somente ele tem que acompanhar, orientar, suportar o

estagiário no seu processo de formação, como deve estabelecer uma relação

baseada na confiança, para poder criticar construtivamente, dar feedbacks

oportunos e confortar conceções e metodologias. Toda a sua prática deve

procurar desenvolver, de forma gradual e progressiva, uma postura auntónoma,

crítica e reflexiva ao estagiário, com recurso a várias ferramentas, de forma a

torná-lo responsável pelas suas decisões e ações (Batista & Borges, 2015).

Cabe ainda ao PC construir laços sociais entre os estagiários e os restantes

membros da comunidade escolar de forma a que estes se sintam parte dela.

Na fase inicial do estágio foi o que aconteceu. O PC apresentou-nos a EC

e os elementos da sua comunidade (professores, auxiliares, etc). Após conhecer

todas as pessoas que estariam direta e indiretamente envolvidas no EP e

analisar os documentos que regulariam a minha atividade no estágio, construi

um conjunto de expectativas relacionadas com as dificuldades, oportunidades,

sentimentos e emoções que expectava encontrar no estágio.

3.1.3. O estágio em perspetiva

Na fase inicial do estágio percebi que este seria um ano difícil e de muito

trabalho, mas também percecionei que seria um ano repleto de novas

experiências que me ajudariam a evoluir enquanto pessoa e profissional. Percebi

que deveria organizar e gerir muito bem o meu tempo de forma a poder

corresponder, com sucesso, à enorme quantidade de trabalho a realizar e, ao

mesmo tempo, poder usufruir e aprender com as experiências que não estavam

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diretamente relacionadas com o trabalho obrigatório da unidade curricular. Esta

imagem inicial está patente no excerto do diário de bordo a seguir apresentado:

“Hoje começaram a ser marcadas as datas dos trabalhos mais exaustivos.

Sinto que não terei tempo suficiente para produzi-los com a qualidade que

gostaria. Sou e sempre fui perfecionista, mas face à quantidade de tarefas

que tenho realizar, prevejo que muitas delas ficarão aquém daquilo que

sou capaz. No entanto, estou pronto para dar o melhor de mim. Se o

resultado final não for aquele que pretendo não será por falta de esforço

e de dedicação.” (Diário de Bordo dia 07/10/2016)

Do ponto de vista da orientação, e porque entendo que a orientação e a

supervisão são fundamentais para conseguir levar a cabo todo o trabalho que

pretendia realizar em contexto de estágio, esperei que a minha PO e o PC me

ajudassem a identificar, a refletir, a resolver e a ultrapassar erros, problemas e

dificuldades: o objetivo foi que me ajudassem a tornar num melhor profissional

de educação. Acredito que não há outra maneira de lidar com os problemas ou

dificuldades senão aprender a analisá-los, a adotar estratégias e a escolher e

comparar soluções, reconhecendo erros e assumindo a necessidade de

recomeçar sempre que seja necessário. Afinal, estes foram os princípios que

esperei transmitir aos meus alunos.

Para além disso, criei um conjunto de expectativas relacionadas com os

diferentes tipos de pessoas que conheci no meio escolar. Expectei que teria

condições para me relacionar bem e aprender com todas elas, principalmente as

do departamento de educação física e desporto.

Relativamente à integração na EC, esperei poder entender a escola no

que respeita aos espaços físicos, recursos materiais e opções curriculares, bem

como a sua dinâmica traduzida no seu projeto educativo e no seu regulamento

interno. Considerei que só assim me iria sentir parte da comunidade escolar em

que passaria o ano de estágio. Isto porque considero que a integração na escola

é fundamental, pois a função docente não se esgota no contexto de sala de aula.

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A integração na escola também abrange o grupo disciplinar de EF, a direção da

escola, os outros grupos disciplinares, os funcionários, os conselhos de turma, o

conselho pedagógico, os pais e encarregados de educação.

A atividade da Escola não é indiferente ao contexto social, cultural,

económico e político em que está inserida. Mas, tais influências deixam sempre

uma margem de atuação àqueles que têm ao seu cargo as tarefas de ensino e

gestão pedagógica podendo, a partir daí, surgir iniciativas inovadoras. O

professor é um elemento chave e decisivo nestes processos de mudança, por

isso, quando iniciei o estágio expectei que este me desse a possibilidade de

inovar nos objetivos, nas orientações curriculares e nas práticas pedagógicas.

Esperei ter a oportunidade de mostrar, através da minha atuação na sala de aula

e fora dela e nas atividades extracurriculares, que promover a tomada de decisão

é fulcral para formar alunos autónomos, responsáveis e comprometidos; e que a

formação desses valores é fundamental para se atingir o sucesso do processo

ensino-aprendizagem e, consequentemente, o sucesso escolar. Também previ

um ano desafiador no que respeita à minha atuação na sala de aula, mais

especificamente no que respeita ao controlo da turma e ao planeamento de aulas

que motivassem os alunos e que influenciassem positivamente a sua

aprendizagem. Não é fácil atribuir igualdade de oportunidades e proporcionar um

ensino comum e justo para todos, isto tendo em conta que não existem dois

alunos iguais. Porém, a disciplina de EF diferencia-se das outras nesse aspeto

uma vez que, durante as aulas, é possível ir ao encontro das necessidades de

aprendizagem de todos os alunos ao mesmo tempo. Nesse sentido, esperei

poder aprender a aplicar métodos de ensino que vão ao encontro das

necessidades e exigências tendo em conta as diferenças pessoais dos alunos,

quer ao nível do desenvolvimento das capacidades físicas, quer ao nível do

desenvolvimento das capacidades cognitivas e socio-afetivas, na procura que a

integração social de todos os alunos pudesse ser uma realidade.

A avaliação é parte integrante do processo ensino-aprendizagem sendo

constituída por saberes, competências, conhecimentos e atitudes, muitos deles

transversais. Face a este pressuposto, esperei também poder aprender a avaliar

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a criatividade, a solidariedade, a capacidade de trabalhar em equipa/grupo e a

tolerância, uma vez que são a base da formação de um ser humano enquanto

parte integrante de uma sociedade.

No início deste ano letivo esperei que a conjugação entre o ensinar e o

aprender estivesse especialmente vincada na minha atividade. Não que a

aprendizagem e o ensino não se façam durante toda a vida, mas esta

conjugação é mais evidente no estágio, porquanto se é simultaneamente

professor e estudante. Deduzi que o estágio fosse uma experiência única de

formação acompanhada e que fosse um conjunto de momentos bastante úteis

para poder transitar para a profissão de forma adequada na medida em que a

minha interação, enquanto professor, com o mundo real seria um processo que

iria ocorrendo de forma progressiva e orientada.

3.1.4. Os primeiros passos no mundo do trabalho docente

Antes de iniciar efetivamente o estágio, e muito devido ao trabalho que

realizei no primeiro ano da minha formação inicial de professor, estava ciente de

alguns dos desafios que me iriam surgir e de algumas experiências boas e

menos boas que provavelmente iria passar ao longo do meu percurso enquanto

estagiário.

A fase inicial desta minha “caminhada” caracterizou-se por alguns

momentos peculiares. De entre os marcantes destaco os seguintes: o primeiro

dia em que entrei na escola para conhecer as suas instalações e o PC; a primeira

reunião de departamento; a primeira reunião geral de professores e o primeiro

dia de aulas, em que conheci os alunos da minha turma residente.

No primeiro dia de estágio conheci o PC e a escola que me acolheu. Este

foi, sem dúvida, um momento importante porque foi o dia em que pude iniciar

relações com parte da comunidade onde iria estar inserido ao longo do ano

letivo. Fomos apresentados ao nosso PC que, por sua vez, nos apresentou à

restante comunidade escolar, presente na escola naquele momento, e nos deu

a conhecer as instalações da escola. Fiquei muito satisfeito com as condições

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que pude observar para a lecionação das aulas de EF. Senti que teria condições

excelentes para poder aprender e ensinar, não só porque a escola tinha

excelentes espaços para a prática desportiva, mas também porque tinha

material/equipamento variado e de qualidade.

No dia seguinte, conheci, numa reunião de departamento, os elementos

que compunham o departamento de EF e desporto da EC e percebi que já

conhecia alguns dos professores tendo, inclusivamente, já trabalhado com

alguns deles noutros contextos. Este facto colocou-me mais à-vontade, isto

embora pense que mesmo que não os conhecesse seria igualmente bem

recebido. O facto de existir uma interação positiva entre professores da área é

fundamental para que se possam debater questões associadas à eficácia e

diversidade das metodologias utilizados no processo de ensino-aprendizagem.

Embora os meus diálogos não tenham sido produtivos com todos os professores,

nesta matéria, o facto é que existiram vários professores que demonstraram

curiosidade em conhecer as ideias que trouxe da FADEUP e confrontá-las com

as suas próprias ideias levando, algumas vezes, à reconfiguração de

entendimentos e processos. Penso que essa abertura, por parte dos

professores, é fundamental na medida em que ajuda na construção de uma base

de trabalho comum e coerente entre todos os elementos do departamento.

Hutchings e Huber (citado por Nóvoa 2009, p. 8) referem que o reforço das

“comunidades de prática” é importante para a construção de um espaço

conceptual que visa elaborar perspetivas comuns sobre os desafios da formação

pessoal, profissional e cívica dos alunos. Assim, a interação entre estagiários,

professores no início de carreira e professores mais experientes torna-se

importante para o enriquecimento e coerência da atuação pedagógica que, na

prática, beneficiará os alunos. Através dessas comunidades de prática “reforça-

se um sentimento de pertença e de identidade profissional que é essencial para

que os professores se apropriem dos processos de mudança e os transformem

em práticas concretas de intervenção” (Nóvoa, 2009, p. 210). Ao aperceber-me

que já conhecia alguns professores do departamento de EF e desporto da EC

senti-me satisfeito porque pensei que iria integrar-me na comunidade de forma

relativamente fácil.

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“Sinto-me satisfeito porque reparei que conheço parte dos professores

que compõem o Departamento de Desporto e Educação Física tendo,

inclusive, já trabalhado com alguns deles noutros contextos. Este facto

levará a que, provavelmente, tenha mais facilidade em me integrar no

grupo de professores da disciplina.” (Diário de Bordo dia 08/09/2016)

No mesmo dia ainda participei numa reunião geral de professores. Esta

reunião serviu, sobretudo, para conhecer professores de outras áreas e alguns

elementos ligados ao conselho executivo da escola. Além disso, tive a

oportunidade de conhecer alguns projetos e programas desenvolvidos pela

escola com a finalidade de aumentar o sucesso dos alunos. Este foi um dia muito

importante! Foi nele que comecei a integração na EC e no departamento de EF

e desporto. Foi neste momento que senti que iria ser professor desta escola.

No dia 16 de setembro de 2016 teve início o ano letivo. Foi um dia

extremamente especial para mim, pois foi o dia em que conheci os alunos da

turma que iria ficar sob a minha responsabilidade. Foi um momento caracterizado

por muita ansiedade que, por sua vez, foi desaparecendo à medida que a aula

foi decorrendo. Penso que essa ansiedade resultou do facto de não saber como

os meus alunos iriam reagir ao saber que o seu professor de EF era um

estagiário.

“Este foi um dia especial para mim pois foi o primeiro em que exerci as

funções de um professor de Educação Física sozinho, dentro de uma sala

e com alunos. Desde o primeiro momento em que me reuni com o

professor cooperante, no início deste mês, que me senti ansioso por

começar as minhas atividades letivas dentro da “sala de aula”. Essa

ansiedade acompanhou-me até ao dia de hoje. Mas, por mais estranho

que possa parecer, no momento em que esperava pelos alunos na sala

de ginástica essa ansiedade desapareceu. Não sei explicar porquê mas

senti-me calmo e confiante. Esses sentimentos foram, sem dúvida,

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fulcrais para que a aula tivesse decorrido bem.” (Diário de bordo dia

16/09/2016)

Na passagem para a profissão, os professores, tal como eu enquanto

estagiário, têm a tendência em pensar que já conhecem tudo o que há a

conhecer no ensino pelo motivo de passarem, anteriormente, demasiados anos

na escola. Segundo Flores (1999), este facto não é sinónimo de facilitação,

pode ser precisamente o oposto pois é na familiaridade, e não na estranheza,

que se originam os problemas. Siedentop e Tannehill (2000) designam este

fenómeno de “superfamiliarização” com o ensino. Ao se aperceberem que

afinal não estão tão familiarizados como pensam, os estudantes e professores

iniciantes entram naquilo que Esteves e Huberman (citados por Queirós, 2014,

p. 72) chamam de “choque com a realidade”. Este “choque” existe porque

coloca à prova todos os seus conhecimentos, conceções e crenças num

confronto, usualmente agitado, com o contexto onde está inserido, resultando

no aparecimento de dificuldades, anseios e incertezas que têm de ser geridos

adequadamente sob pena de se abandonar a profissão (Queirós, 2014). A

gestão dos sentimentos e emoções e as interações com os elementos da

comunidade escolar levam a (re)construir a forma de atuar que, por sua vez,

leva à (re)construção da identidade do professor.

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IV - Organização e

Gestão do processo

Ensino/Aprendizagem

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4.1. O ensino da EF: conceções e entendimentos

O mundo em que vivemos na atualidade é o resultado de uma evolução

constante e rápida que temos assistido ao longo dos tempos. Foram várias as

alterações que ocorreram num mundo cada vez mais povoado, onde o acesso à

informação é cada vez maior e a educação ocupa cada vez mais espaço na vida

das pessoas. “…ninguém pode pensar adquirir, na juventude, uma bagagem

inicial de conhecimentos que lhe baste para toda a vida, porque a evolução

rápida do mundo exige uma atualização contínua dos saberes, mesmo que a

educação inicial dos jovens tender a prolongar-se.” (Delors et al., 1998, p. 103).

Já na década de 90, os autores referiam que a educação estava em plena

mutação. As possibilidades de aprender, oferecidas pela sociedade exterior à

escola, multiplicam-se em todos os domínios, enquanto a noção de qualificação,

no sentido tradicional, em muitos setores modernos de atividade, é substituída

pelas noções de competência evolutiva e capacidade de adaptação.

As missões que cabem à educação e as múltiplas formas de que esta se

pode revestir fazem com que englobe os processos que levam as pessoas,

desde a infância até ao fim da vida, a um conhecimento dinâmico do mundo, dos

outros e de si mesmas. O fator globalização é algo que provoca muitas

alterações e adaptações nas crenças e conceções, tanto da população, em

geral, como dos elementos da comunidade educativa, em específico, aportando

um enorme conjunto de desafios aos professores, os atores principais, que estes

devem conseguir responder.

4.1.1. Ser Professor e ser professor de EF: que desafios?

Atualmente, “tem vindo a ser atribuído aos professores um papel

determinante na construção da mudança educacional e curricular, quer se trate

de inovações planificadas pelo poder central, quer de propostas com carácter

mais descentralizado ou que emergem da periferia, neste caso das escolas e

dos seus contextos” (Leite & Fernandes, 2010, p. 198). Cada vez mais se tem

apostado em atribuir autonomia às escolas no sentido de lhes dar alguma

flexibilidade para produzirem o seu próprio currículo tendo em conta a

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características específicas do seu contexto. Nesse sentido, é fundamental que

os professores sejam proativos e estejam predispostos a contribuir para a

mudança assumindo-se como construtores do currículo. No entanto, o facto de

os professores trabalharem e agirem, muitas vezes, sem saberem muito bem o

que se espera deles, “numa frustrante sucessão de números, indicadores de

desempenho, comparações e competições, de tal maneira que a satisfação da

estabilidade é cada vez mais ilusória” (Ball, 2002, p. 10) e na qual o princípio da

incerteza se instala, cria uma grande insegurança com que têm de lidar e

superar.

De acordo com Leite e Fernandes (2010), a atuação dos professores é

feita num registo de partilha e de construção coletiva que também deve

responder às solicitações das famílias e de outros elementos da comunidade

educativa. Esta ação é concretizada a partir das diretrizes político-educativas

que, algumas vezes, são contraditórias, isto é, ora empurram os professores

para modos de trabalho pedagógicos e curriculares assentes numa visão de

inovação e de criatividade, ora os faz recuar para processos de trabalho

fortemente enraizados numa lógica técnico-burocrática e de grande

conformidade com as diretrizes centrais do ministério da educação. Assim, “os

professores têm de saber gerir essas diferentes esferas de ação de modo a que,

por um lado, não se sintam desqualificados profissionalmente e, por outro, não

deixem passar para a imagem pública uma imagem de si como maus

profissionais” (p. 199).

Face ao exposto, não é de admirar que os professores estejam

constantemente sujeitos à pressão social, sendo, por vezes, considerados os

causadores de todos os problemas do Sistema Educativo Português (Leite &

Fernandes, 2010). Por outro lado, também são considerados como os principais

agentes de mudança. Neste sentido, é possível que os professores

“desempenhem melhor o seu papel na construção de inovações se possuírem e

mobilizarem um conjunto de novas competências e capacidades,

nomeadamente a de problematizar e de refletir coletivamente sobre os

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quotidianos escolares e o que fazer para se concretizar o princípio da equidade

e da justiça social” (Leite & Fernandes, 2010, p. 200).

Outro desafio relaciona-se com a busca de comportamentos afetivos

positivos num mundo cada vez mais globalizado. Shigunov e Neto (2016)

referem que toda a ação educativa imerge num contexto de valores e atitudes

que um professor deve possuir para que possa servir de exemplo aos seus

alunos. Para serem consistentes e firmes, os professores devem interiorizar e

adotar comportamentos que são fundamentais serem adquiridos pelos alunos

para conviverem numa sociedade, isto mesmo que estes não vão totalmente ao

encontro das suas crenças.

As aulas de EF são aquelas em que a dimensão relacional é mais visível

e utilizada, pelo que a interiorização e adoção de comportamentos relacionais

adequados torna-se mais importante uma vez que essas experiências são

vividas com maior intensidade.

No que respeita aos desafios que os professores de EF, especificamente,

têm de ser capazes de dar respostas, destaco a lecionação de aulas

motivadoras. Pessoalmente, considero ser um dos principais desafios a par da

legitimação da disciplina no currículo escolar.

Relativamente às aulas propriamente ditas, Shigunov e Neto (2016)

defendem que a EF deveria ser orientada para uma aprendizagem da cultura

motora mas, sobretudo, para a criação de experiências excitantes, alegres, ricas

e complexas de forma a fazer emergir as capacidades individuais de cada ser

humano. Assim, cabe ao professor de EF atualizar-se constantemente, no que

respeita às várias formas, técnicas e metodologias de ensinar, para poder propor

aulas motivantes que concorram para a aprendizagem dos seus alunos.

O mais importante desafio a ser superado, urgentemente, pelos

professores de EF provém do facto de a disciplina enfrentar sérios problemas de

legitimação. Importa assim, que os professores de EF tenham a capacidade de

argumentar em favor da disciplina, contribuindo para a sua valorização por todos

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e, assim, conseguir que se entenda que, de facto, esta é uma disciplina essencial

no currículo.

4.1.2. Legitimação da Educação Física no currículo escolar

Graça (2012, p. 9) refere que a EF é uma disciplina constituinte do

currículo escolar que se renova continuamente nos discursos de prática. É um

terreno partilhado e disputado por tradições, comunidades de prática e retóricas

de legitimação. É, por isso, importante atribuir atenção às suas fontes de

legitimação, à sustentabilidade, ao seu valor educativo e ao seu contributo para

o fortalecimento da Educação.

Não é novidade que a EF tem sido desvalorizada pela sociedade, na

medida em que é considerada uma disciplina pouco relevante e, por isso,

dispensável. Segundo Renson (citado por Batista e Queirós, 2015, p. 33), a EF

“tem assumido um significado marginal ou secundário para a educação”, sendo

que este posicionamento decorre da crença de que a EF apenas trata o físico

(Batista & Queirós, 2015), o que não é verdade. Se tivermos em consideração

as diretrizes da American College of Sport Science (ACSM), um cidadão para

ser considerado fisicamente ativo deve realizar atividade física de intensidade

moderada a vigorosa entre trinta e sessenta minutos por dia, em cinco dias por

semana. O tempo semanal total destinado à EF é de cento e trinta e cinco

minutos semanais totais (não de prática efetiva) e em alguns casos menos

tempo, o que não chega nem perto desse tempo. Isto significa que, apesar de a

EF ter uma “palavra a dizer” relativamente à promoção da saúde e adoção de

estilos de vida ativos e saudáveis, a dimensão física, no que respeita aos ganhos

para a saúde, não constitui o valor central desta disciplina. Neste âmbito, Sallis

et al. (1997) reporta que a duração e intensidade das aulas de EF se situa nos

três minutos de atividade moderada a vigorosa por aula. Estes baixos valores

servem “de argumento para deixar de se entender os objetivos de saúde e

aptidão física como meras consequências naturais ou subprodutos de um ensino

de habilidades desportivas que não equaciona deliberadamente nem controla a

quantidade e qualidade da atividade física.” (Graça, 2012, p. 105). Assim sendo,

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não é de todo correto afirmar que a EF, por si só, seja uma forma de combater o

elevado sedentarismo e obesidade infantil registados nos dias de hoje no nosso

país. É correto, sim, afirmar que a saúde é um objetivo incontornável da EF mas

numa perspetiva de contribuir para a promoção de hábitos de vida saudável e

ativa.

Para Graça (2016, p. 15), a EF, tal como qualquer outra disciplina

constituinte do currículo escolar, apresenta um grande valor educativo que, por

sua vez, se afirma a partir do aumento da capacidade de compreender e atuar

no mundo, do contributo para a melhoria do bem-estar e da realização das

pessoas e da melhoria da sociedade. A dimensão proposicional (sobre o

movimento), a dimensão funcional (por entre o movimento) e a dimensão

experiencial/autotélica (apresenta objetivos para além de si própria) englobam

as suas dimensões educativas (Arnold, 1980). É uma disciplina emancipadora,

no sentido que prepara para uma participação relevante, humana e autónoma

na vida social e cultural e dá oportunidades de sucesso a todos, tendo como

referência o quadro institucional da escola. Nenhuma instituição social consegue

cumprir melhor a missão da EF do que ela própria (Crum, 1993). De facto, “A

incumbência pedagógica própria e insubstituível da educação física liga-se à

especificidade da sua matéria, àquilo que só ela está em condições de atender

e possibilitar” (Graça, 2016, p. 15). Esta disciplina deve ser vista como um meio,

por excelência, de conhecer, trabalhar, aprender e desenvolver o corpo

utilizando o movimento e o desporto como ferramentas principais. Não existe

nenhuma outra disciplina no currículo escolar que permita lidar com o próprio

corpo e aprender a utilizá-lo. A EF deve ser vista como uma disciplina essencial

no currículo também porque ao desenvolver as capacidades físicas e

condicionais permite aos alunos desenvolver competências que os ajudem a

participar em atividades físicas, desportivas e corporais e a superar todos os

constrangimentos físico-motores existentes, inevitavelmente, na vida diária.

Cada vez mais, os elementos constituintes da nossa sociedade valorizam

o seu corpo trazendo essa valorização repercussões bem vincadas ao nível da

autoestima, autoconfiança, autorrealização (Rose, 2001). A cultura corporal ou

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de movimento assume uma dimensão de tal forma significativa na vida do

cidadão atual que a escola deve ser chamada não só a reproduzi-la, como

também a promovê-la, de modo a que o indivíduo se aproprie dela, criticamente,

para exercer a sua cidadania. Para Bracht (1999) a introdução dos indivíduos no

universo da cultura corporal ou da cultura do movimento de forma crítica é tarefa

da escola e mais especificamente da EF. Por conseguinte, a EF deve ser

entendida como uma disciplina curricular que utiliza o desporto como uma forma

específica de lidar com o que Bento (1999, p. 66) chama de “corporalidade”,

enquanto sistema de comportamentos culturais associados a conceções, regras

e normas socioculturais. Assim, é fundamental que a Escola seja chamada a

desenvolver nos alunos a cultura corporal, não de uma forma reprodutiva, mas

sim com uma postura crítica e reflexiva, sendo a EF um meio por excelência para

o fazer.

Para Crum (1993), a EF adota a aquisição da condição física, a

estruturação consciente do comportamento motor e a formação pessoal, social

e cultural como os seus papéis principais, isto é, a EF deve basear-se nos

conteúdos do desporto, enquanto fenómeno cultural, social e biológico. Logo, é

necessário incorporar atividades, baseadas nos valores do desporto, com

intencionalidade educativa interligadas ao campo cultural e, ao mesmo tempo,

suscetíveis de proporcionar prazer aos alunos. Essas práticas devem promover

a partilha de responsabilidade com outras áreas tendo em vista a formação de

cidadãos, a descoberta das suas potencialidades e o desenvolvimento das suas

competências. Como advogam Batista e Queirós (2015, p. 39), a EF “é a única

disciplina em que o exercício físico é um meio fundamental para atingir objetivos

educativos”.

Logicamente, existe sempre espaço para melhorar. A EF, para aumentar

a sua qualidade, necessita de adotar novas metodologias e estratégias que

interliguem novas experiências e aprendizagens que dão significado cultural

àquilo que se faz, pois a construção do conhecimento e da aprendizagem situam-

se num contexto histórico e cultural (Batista & Queirós, 2015). São necessárias

melhorias na qualidade dos processos de ensino e aprendizagem para formar

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cidadãos desportivamente cultos e fisicamente educados (Hardman, citado por

Batista & Queirós, 2015, p. 33). Essa mudança poderá passar pela utilização de

modelos de ensino mais centrados no aluno uma vez que estes promovem mais

um ensino cooperativo, significativo e direcionado às suas experiências culturais.

Como menciona Graça (2012, p. 110) “Dispomos hoje, felizmente, de

alternativas curriculares robustas e validadas, tanto no plano teórico como no

terreno da prática, para encetar um processo de revivificação do ensino da

educação física”.

Na teoria da aprendizagem sociocultural defende-se que a construção do

conhecimento dá-se a partir de um contexto social sendo, por isso, a

comunicação e a interação fundamentais para a aprendizagem (Säljö; Wertsch,

citados por Batista e Queirós, 2015, p. 37). Importa ainda ter em conta que a

vontade de aprender e a própria aprendizagem se relacionam com o significado

que cada indivíduo atribui ao mundo que o rodeia (Rogoff, Säljö, Wertsch citados

por Batista e Queirós, 2015) e que o conhecimento é construído a partir de um

contexto histórico e cultural dando, assim, ênfase à extrema importância das

práticas sociais na aprendizagem.

No que respeita ao desporto, são utilizadas várias formas de interação,

sejam elas verbais ou não verbais e nas dimensões física ou comunicacional

(Säljö, 2009), o que leva a que a comunicação seja utilizada concomitantemente

ao movimento e que, por isso, se crie uma ponte entre a aprendizagem cognitiva

e a aprendizagem corporal. Desta forma verifica-se que a aprendizagem e o

conhecimento surgem a partir da interação com o meio envolvente onde “o saber

é visto como um saber experiencial, que envolve os sentidos, as perceções, a

ação mente-corpo e a reação. Como atestam Batista e Queirós (2015, p. 38)

“conhecer este valor ao corpo no processo educativo implica reconhecer o corpo

como fonte de conhecimento”. Assim, dá-se a desconstrução da dualidade

corpo-mente na medida em que no processo de aprendizagem não se deve

pensar que são duas coisas distintas. É imprescindível reconhecer o corpo como

um meio para adquirir conhecimentos e entendê-lo como um todo onde estão

inseridos processos físicos e cognitivos que estão interligados como um só.

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Nesse sentido, facilmente se percebe que a EF extravasa o físico, entendido

apenas como um meio para realizar movimento, incorporando também o

relacionamento e o sentimento, utilizando o corpo para desenvolver as

dimensões física, socio-afetiva e cognitiva.

No meu entendimento, a diminuição da carga horária e não contabilização

da nota de EF para o cálculo da média final do ensino secundário leva-me a

acreditar que a disciplina assume um papel secundário no currículo escolar. Essa

descredibilização decorre da crença social de que a EF não é direcionada para

o desenvolvimento cognitivo mas para o desenvolvimento das capacidades

físicas como a força, a resistência e a velocidade e para a melhoria da saúde.

Face ao exposto considero que a EF tem sido injustamente tratada pelas

pessoas que não lhe dão valor educativo. Para mim, não há dúvidas de que esta

disciplina vai muito para além do físico. No seu contexto, o desporto emerge

como matéria de ensino onde a corporalidade, os sentimentos e o

relacionamento individual e social são as principais formas de atuação

pedagógica dos professores e de aprendizagem dos alunos. Neste

entendimento, Bento (1999) refere que é dever do professor de EF ajudar o aluno

a compreender os seus sentimentos e o seu relacionar-se na esfera da cultura

do movimento e do desporto enquanto formas específicas de lidar com o corpo,

ou seja, enquanto sistema de comportamentos culturais, com normas e regras

específicas.

Este conjunto de conceções e entendimentos sobre o que é ser professor,

quais os seus principais desafios e como este deve atuar de modo a promover o

sucesso do processo de ensino-aprendizagem, torna muito importante o

processo de planeamento e preparação da sua atividade profissional.

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57

4.2. O processo de planeamento enquanto ato de antecipação do ensino

De acordo com Bento (2003), o planeamento é uma das tarefas

primordiais a serem realizadas pelos profissionais docentes. Este assume-se

como uma esfera de decisão na qual o professor define os objetivos a alcançar

no processo ensino-aprendizagem e investe o seu tempo e energia. O mesmo

autor defende que a qualidade de ensino é tanto maior quanto mais elevado for

o nível de planeamento e de preparação. É uma tarefa que atribui

intencionalidade e coerência à prática educativa e pedagógica do professor,

tendo como principal finalidade o sucesso dos alunos. Com efeito, o

planeamento não passa de um conjunto de intenções e projetos que ajudam o

professor a definir e atingir objetivos, contudo importa enaltecer o facto de

existirem fatores incontroláveis/imprevisíveis que podem por em causa a

aplicação na íntegra do planeado. Todo o planeamento está dependente das

circunstâncias e constrangimentos criadas pelo contexto sobre o qual foi

produzido, pelo que, por vezes, pode e deve ser alvo de alterações e/ou

reajustes. Assim, o facto de o planeamento ser aberto e dinâmico também apela

à capacidade de adaptação e improvisação do professor, que são duas facetas

que podem ser melhoradas com a experiência. Quanto mais experiência tiver um

professor maior é a sua capacidade de antever problemas e solucioná-los, no

entanto a capacidade de se adaptar a novos contextos e improvisar estará

sempre presente. Tal como evidencia Bento (2003, p. 16), “O ensino real tem

naturalmente mais facetas do que aquelas que podem ser comtempladas no seu

planeamento e preparação. No processo real de ensino existe o inesperado,

sendo frequentemente necessário uma rápida reação”.

Durante este ano letivo tentei realizar o planeamento de modo a conjugar

a aprendizagem dos meus alunos, fator principal da antecipação, e a minha

própria aprendizagem, a partir de um processo recíproco e cooperativo. Na

realização dos três níveis de planeamento definidos por Bento (2003), o macro

(planeamento anual), o meso (unidade didática) e o micro (planos de aula) tentei

projetar a matéria tendo como pano de fundo vários modelos e estilos de ensino.

Deste modo, tentei planear de forma a, por um lado, proporcionar um conjunto

de experiências diversificadas aos alunos, sem colocar em causa a sua

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aprendizagem, e, por outro lado, ir em busca da minha identidade profissional.

Partindo do entendimento que tinha sobre as minhas características pessoais e

daquilo que pensava que deveria ser um bom professor de EF, tentei antever

quais os modelos e estilos de ensino que se adequavam mais à minha

personalidade, à minha forma de lidar com o processo ensino-aprendizagem e

às necessidades de aprendizagem dos meus alunos. O facto de o meu PC estar

sempre atualizado relativamente às minhas intenções trouxe-me mais conforto

e confiança em poder experienciar situações muito diversificadas, no fundo no

processo de busca do meu espaço enquanto professor.

Rink (2014) defende que na entrada para a profissão, os professores

iniciantes devem ter capacidade de definir objetivos a atingir e uma atenção

redobrada na ligação entre os mesmos e os meios para os conseguir, isto no

sentido de adotarem uma postura e uma ação coerentes na sua prática. Este é

um processo, segundo a autora, trabalhoso e, por vezes, frustrante que se vai

tornando mais fácil à medida que o professor vai ganhando experiência. Desta

forma, o processo de elaboração do planeamento foi realizado e pensado com

muito esforço e de forma extremamente cuidadosa. Em muitos momentos tive

de justificar minuciosamente as minhas decisões, pelo que no decurso do

processo de planeamento e preparação, tive que ter uma atenção redobrada na

coerência entre os objetivos, as práticas e os documentos orientadores. O facto

de utilizar modelos, metodologias e estratégias distintas daquelas que os

restantes membros do núcleo conceptualizava levou-me a ter que justificar,

constantemente, as decisões tomadas, isto por mais insignificante que estas

pudessem parecer.

A análise dos Programas Nacionais de EF (PNEF), do documento de

organização e gestão da EC e a conjugação entre os meus entendimentos e

conceções patentes na documentação analisada foram a base para planear e

preparar o ensino. Apesar de ser trabalhoso e, por vezes, saturante, o facto é

que foi uma das tarefas que mais contribuiu para a aquisição de conhecimentos,

potenciou a minha aprendizagem e ajudou-me a construir, gradualmente, a

minha identidade profissional. Acredito que foi a partir da partilha do

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59

conhecimento que pude ensinar e aprender com todas as pessoas que estavam

diretamente envolvidas no meu EP, de entre elas os alunos, os meus colegas do

núcleo de estágio e o PC.

4.2.1. Análise documental: o primeiro passo

4.2.1.1. Programas Nacionais de Educação Física

A projeção do ensino implica, em primeira instância, que o professor

conheça o programa nacional da disciplina, na medida em que é este é um dos

elementos que norteia o trabalho a desenvolver. Conhecer as diretrizes, as

conceções inscritas no programa e a forma de aceder permite chegar a um

objetivo que é comum para todos os professores da área disciplinar, neste caso

da EF, isto pese embora a forma como cada professor atinge esse objetivo seja

subjetiva. Bento (2003) defende que todo o planeamento deve iniciar-se a partir

da conceção e dos conteúdos dos programas nacionais ou normas

programáticas do ensino. Assim sendo, pode deduzir-se que estes documentos

servem de guião ao professor, que em conjunto com outros professores de EF e

de outras disciplinas o utiliza como meio de alcançar a finalidade primária do

processo de ensino-aprendizagem - o desenvolvimento integral dos alunos.

No meu EP, tive o prazer de lecionar aulas de EF ao terceiro ciclo, durante

todo o ano letivo, e ao segundo ciclo, na semana de PTI. Face a este contexto

de lecionação, neste ponto são analisadas as indicações programáticas destes

dois ciclos de ensino.

Os programas de EF do segundo e terceiro ciclos apresentam os objetivos

em estreita articulação com um conjunto de finalidades. Para os atingir, estão

explicitadas um conjunto de orientações metodológicas onde constam decisões

não apenas ao nível do currículo dos alunos, mas também decisões ao nível dos

recursos espaciais, temporais e humanos.

As finalidades visam a melhoria da aptidão física numa perspetiva da

qualidade de vida, saúde e bem-estar, sendo elas melhorar a aptidão física,

conhecer os processos fundamentais das adaptações morfológicas, funcionais

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e psicológicas (aptidão física), promover o gosto pela prática regular de

atividades físicas, aprofundar a compreensão da importância da atividade física

como fator de saúde e componente de cultura, o desenvolvimento multilateral e

harmonioso e a formação de hábitos, atitudes e conhecimentos, nomeadamente

no que respeita à higiene, à ética desportiva, à consciência cívica e à formação

de valores pessoais e sociais como a cooperação, a solidariedade e a

responsabilidade.

Em ambos os ciclos de ensino são traçados objetivos comuns a todas a

áreas, nomeadamente a procura do êxito pessoal e de grupo, a análise e

interpretação das atividades físicas aplicando conhecimentos sobre a técnica, a

organização e a participação e ética desportiva, o conhecer e aplicar hábitos

higiénicos, o zelar pela sua segurança e segurança dos companheiros e estimar

o material. Também são traçados objetivos relativamente ao desenvolvimento

do nível funcional das capacidades condicionais e coordenativas. No segundo

ciclo, especificamente, essas capacidades são a resistência geral de longa

duração, força rápida, velocidade de reação simples e complexa, velocidade de

execução, velocidade de frequência de movimentos, velocidade de

deslocamento, flexibilidade, força resistente e destreza geral e direcionada.

Neste ciclo de ensino, os alunos devem ainda conhecer os processos

fundamentais das adaptações morfológicas, funcionais e psicológicas que

permitam compreender os diferentes fatores da aptidão física. No terceiro ciclo,

especificamente, essas capacidades são a resistência geral de longa e média

duração, a força resistente; a força rápida; a velocidade de reação simples e

complexa, a velocidade de execução, a velocidade de deslocamento e de

resistência e as destrezas geral e específica. Neste ciclo de ensino, os alunos

devem ainda conhecer e aplicar diversos processos de elevação e manutenção

da Condição Física de uma forma autónoma no seu quotidiano e conhecer e

interpretar fatores de saúde e risco associados à prática das atividades físicas.

Realizando uma análise vertical dos programas de EF, do primeiro ao

décimo segundo ano de escolaridade, nota-se que existe uma estrutura coerente

tanto nos objetivos como na organização dos conteúdos das várias matérias de

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ensino. Desde o primeiro ano de escolaridade, a EF é uma disciplina que se

propõe a desenvolver nos alunos as dimensões cognitiva, socio-afetiva e motora

através do desenvolvimento progressivo e gradual de competências a elas

associadas.

Cada ciclo de ensino é composto por um conjunto de matérias nucleares,

que têm caráter obrigatório, e matérias alternativas que são de carácter

facultativo, sendo adotadas localmente em função das características próprias

ou condições espaciais e materiais existentes em cada escola. Todas as

matérias apresentam um conjunto de objetivos comuns, sendo eles: 1) O

desenvolvimento das capacidades físicas condicionais e coordenativas; 2)

Aprendizagens dos processos de desenvolvimento e manutenção da condição

física; 3) Aprendizagem dos conhecimentos relativos à interpretação e

participação nas estruturas e fenómenos sociais extraescolares, no seio dos

quais se realizam as atividades físicas. Para além disso, o conteúdo de cada

matéria está especificado em três níveis, sendo eles o introdutório, que inclui as

habilidades, técnicas e conhecimentos que representam a aptidão específica ou

preparação de base, o elementar, onde se discriminam os conteúdos que

representam o domínio da matéria nos seus elementos principais e já com

carácter mais formal e o avançado, que estabelece os conteúdos e formas de

participação nas situações típicas da atividade referente, correspondentes ao

nível superior que poderá ser atingido no âmbito da disciplina de EF.

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62

As Tabelas 1,2 e 3 ilustram as matérias nucleares e alternativas dos ciclos

de ensino supramencionados.

Tabela 1 - Matérias nucleares do 2º ciclo

Matérias nucleares do 2º ciclo

Matérias 5º Ano 6º Ano

Jogos Avançado Avançado

Futebol Elementar Elementar

Voleibol Introdutório Elementar

Basquetebol Introdutório

Andebol Introdutório

Ginástica no solo Elementar Elementar (cont.)

Ginástica de aparelhos Introdutório Parte Elementar

Atletismo Parte introdutório Conclusão Introdutório

Patinagem Parte Elementar Parte Elementar

Dança Parte Elementar Parte Elementar

Outras (orientação, natação, luta etc).

Tabela 2 - Matérias nucleares do 3º ciclo

Matérias nucleares do 3º ciclo

Matérias 7º Ano 8º Ano 9ºAno

Futebol Elementar Avançado Avançado

Basquetebol Elementar Elementar Parte Avançado

Andebol Introdutório Elementar Conclusão Elementar

Voleibol Elementar Conclusão Elementar

Parte Avançado

Ginástica no solo

Elementar Elementar Parte Avançado

Ginástica de aparelhos

Elementar Elementar Elementar e

Parte avançado

Ginástica Acrobática

Introdutório Conclusão Introdutório

Elementar

Patinagem (hóquei)

Elementar Elementar Elementar

Raquetas (opção

badmínton ou ténis)

Badmínton – Introdutório

Badmínton e ténis - Elementar

Badmínton e ténis - Elementar

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Tabela 3 - Matérias alternativas do 2º e 3º ciclos

Matérias alternativas

Áreas Matérias para 2º ciclo Matérias para o 3º ciclo

Jogos Desportivos

Coletivos

Corfebol, Hóquei em campo, Râguebi;

Atividades físicas e desportivas

Corfebol, Hóquei em campo, Râguebi, Softbol/Basebol,

Ginástica Rítmica, Ténis de mesa, Lutas, Judo, Corridas

em patins, natação.

Atividades Rítmicas e expressivas

Danças sociais, Danças tradicionais portuguesas,

Aeróbica

Raquetes Ténis de mesa

Combate Judo

Natação Natação pura

Tiro com arco Tiro com arco

Jogos tradicionais populares

Jogo do pau português Jogo do pau português

Atividades de exploração da

natureza

Campismo/Pioneirismo, Canoagem,

Ciclocrosse/cicloturismo, Montanhismo, Prancha

à vela e Vela.

Campismo/Pioneirismo, Canoagem,

Ciclocrosse/cicloturismo, Montanhismo, Escalada,

Prancha à vela, Vela, Tiro com arco, Golfe.

Realizando um pequena reflexão relativamente aos programas

supramencionados penso que, em termos gerais, estão bem estruturados e

relacionados entre si. Verifica-se uma coerência no que respeita às finalidades

e objetivos e existe uma extensão coerente do segundo ciclo para o terceiro ciclo.

Não obstante esta leitura geral, considero que existem alguns aspetos que

carecem de uma reflexão mais aprofundada.

Os objetivos são claros e bem esquematizados. O facto de contemplarem

todos os movimentos utilizados na vida diária e serem direcionados a

modalidades específicas torna-os funcionais e, por isso, adequados. O enfoque

dado à condição física e à componente social também emerge como adequado,

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no entanto é necessário perceber que a melhoria da aptidão física não é um

desígnio passível de ser alcançado na maior parte dos casos porque o tempo

destinado às aulas e, consequentemente, à prática efetiva em EF é muito

reduzido. É então um dever dos professores de EF incutir hábitos de vida

saudável para que a prática de exercício físico exista fora das aulas e fora da

escola e, assim, se possa promover melhorias na aptidão e condição física dos

alunos.

Relativamente aos programas específicos de algumas matérias penso

que poderiam ser mais realistas. O caso do futebol é, na minha opinião, o mais

gritante. O ensino desta matéria inicia-se com o nível elementar no 2º Ciclo.

Assim, assume-se como pressuposto de partida que os alunos antes de

iniciarem a aprendizagem do futebol já dominam os aspetos básicos da matéria.

Penso que este pressuposto não está correto e, tal como nas restantes matérias,

deveria existir um nível introdutório para o futebol. Como se não bastasse o

programa nacional prevê a realização do jogo 7x7 para os níveis elementar e

avançado. O ensino de um jogo com essa complexidade exige um conjunto de

condições espaciais que a larga maioria das escolas do nosso país não tem, pelo

que a realização do jogo 5x5 seria, na minha opinião, o jogo com a complexidade

mais adequada.

4.2.1.2. Documento de Organização e Gestão da Escola Cooperante

A planificação do processo educativo é muito complexa e pluridimensional

uma vez que a sua orientação é proveniente das indicações gerais e centrais e

das indicações locais associadas a cada situação específica. Os documentos

orientadores locais devem respeitar as normas orientadoras centrais, no entanto

devem ser adaptados à realidade contextual da escola (Bento, 2003). Assim, é

fundamental que os professores identifiquem e interpretem a realidade onde

estão inseridos para, posteriormente, adaptarem adequadamente o ensino ao

contexto da escola.

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O Documento de Organização e Gestão (DOG) da EC foi produzido e

aprovado pelo departamento de EF e Desporto da escola e nele estão

plasmadas as normas gerais e os procedimentos relacionados com as

características, organização e gestão da EF e do Desporto Escolar. Fazendo uso

da autonomia que lhe foi atribuída, o departamento fez algumas adaptações ao

currículo nacional devido às suas extraordinárias condições espaciais e

materiais. Nesse sentido, algumas matérias, que no PNEF são indicadas como

alternativas, passaram a nucleares e outras que são indicadas como nucleares

passaram a alternativas. Esta opção é justificada pela criação de um currículo

em que a diferenciação da oferta educativa marca presença. A Tabela 4 indica

as matérias nucleares e alternativas para o terceiro ciclo do Ensino Básico

Tabela 4 - Matérias nucleares e alternativas definidas pela EC para o 3º ciclo

Matérias NUCLEARES ALTERNATIVAS

Categoria

s A B C D E F

Especifica

ção

Desportos

Coletivos Ginástica Atletismo Natação

Desp de

Combat

e

Outras

7.º Ano

ANDEBOL

VOLEIBOL

Basquetebol

Futebol

Solo

Aparelhos (boque,

plinto, mini-tramp, b.

fixa, trave)

Acrobática (pares e

coreografia)

60m

Peso e/ou bola

Comprimento

Meio fundo

Crol

Costas

JUDO

Badminton

Escalada

Danças Sociais

Corfebol

Beisebol

Golfe, Etc.

8.º Ano

BASQUETE

BOL

FUTEBOL

Andebol

Voleibol

Solo

Aparelhos (=7º ano

+ paralelas)

Acrobática (trios e

coreografia)

4x80m

Altura

Barreiras

Dardo

Meio fundo

Revisão 7º

ano

Bruços

JUDO

Badminton

Escalada

Danças Sociais

Corfebol

Beisebol

Golfe, Etc.

9.º Ano

FUTEBOL

ANDEBOL

VOLEIBOL

BASQUETE

BOL

Avaliação –

o melhor (fut

e and ou

volei e

basquete)

Solo

Aparelhos

Acrobática

Avaliação – a

melhor

100m

4x100m

Triplo salto

Dardo

Meio fundo

Avaliação –

Média entre

todas

Consolidaç

ão

8º ano

JUDO

Badminton

Escalada

Danças Sociais

Corfebol

Beisebol

Golfe, Etc.

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Em termos gerais verifica-se que, de acordo com as orientações

programáticas e com as instalações desportivas de que a escola dispõe, a

matéria de natação passou a obrigatória em detrimento da patinagem e a matéria

de judo passou a obrigatória em detrimento da dança. Segundo o DOG, é no

terceiro ciclo que se deverá garantir o tratamento do conjunto de matérias de EF

conferindo-lhe o desejável cunho eclético, sendo no nono ano que se deve

proceder à revisão das matérias e aperfeiçoamento ou recuperação dos alunos.

Este processo deve ter por referência a realização equilibrada e completa do

conjunto de competências previstas para o terceiro ciclo, pelo que as indicações

são no sentido de todas as turmas abordarem, em cada ano letivo, o conjunto de

matérias inscritas nas categorias A, B, C, D e E5 e pelo menos uma matéria da

categoria F.

Para cada matéria estão destinados quatro níveis de desempenho

distintos: 1) Nível não introdutório; 2) Nível Introdutório; 3) Nível Elementar; 4)

Nível avançado. O nível não introdutório é o único nível que difere dos níveis

estipulados pelo PNEF. Para enquadrar um aluno num determinado nível este

deve realizar todos os conteúdos do(s) nível(eis) anterior(es) e pelo menos 50%

dos conteúdos associados a esse nível. Um aluno que se enquadra no nível não

introdutório é aquele que não apresenta pelo menos 50% das competências

inscritas no nível introdutório de uma determinada matéria.

Foi com base no PNEF e, sobretudo, no DOG que projetei o processo de

planeamento do ensino no decurso do EP. O DOG é o documento que norteia

todo o trabalho dos professores de EF da EC e eu, como professor estagiário,

não fugi à regra e cingi-me às suas diretrizes.

5 A – Desportos Coletivos; B – Ginástica; C – Atletismo; D – Natação; E – Desportos de Combate;

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67

4.2.2. Planeamento Macro: Anual

O planeamento anual é um documento que serve de guião numa

perspetiva global ao nível da estruturação, organização e calendarização das

matérias de ensino no decorrer de todo o ano letivo. De acordo com Bento

(2003), é um plano que não incorpora pormenores acerca da atuação

pedagógica do professor, apenas visa situar e concretizar o programa de ensino

no local e pessoas envolvidas. Não obstante, requer a realização de análises,

determinação de objetivos, distribuição de espaços, das aulas e das matérias e

de reflexões em função dos documentos orientadores, nomeadamente o PNEF,

o DOG, o mapa de instalações, o material existente e o contexto escolar, entre

outros elementos.

A análise dos documentos orientadores, coadjuvada com o

reconhecimento do contexto e das condições da escola, bem como a consulta e

análise do mapa de instalações, foram tarefas fulcrais para a realização do

planeamento anual. Segundo a política adotada pelo departamento de EF e

Desporto da EC, a distribuição das turmas pelos espaços é orientada segundo

seis mapas com um espaço temporal que varia entre as duas e as três semanas,

isto é, de duas em duas semanas ou de três em três semanas ocorre a alteração

de um mapa e com isso a alteração de pelo menos uma instalação. Isto significa

que cada turma terá a oportunidade de passar pela mesma instalação um

mínimo de duas vezes por ano letivo. Face a este quadro, o planeamento anual

que elaborei teve em conta estes constrangimentos e as decisões que tomei

foram em função do supramencionado, aliadas à avaliação das características e

capacidades que os alunos demonstraram na avaliação inicial e nas informações

existentes, através do diálogo com os seus anteriores professores, sobre os anos

anteriores (Tabela 5).

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Tabela 5 - Plano anual

Mês/ Dia

Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho

1

2 Atletismo Aberto Auto e hétero

3 Atletismo Natação Fut And

4 Natação Judo

5 Teste teorico

6 Judo Vol. Bas. Bad

7 Ginástica Vol. Bas Bad

Ginástica

8 Fut. And

9 Testes CF Atletismo

10 Atletismo Natação Fut And

11 Ginástica Judo

12 Vol Bas Bad

13 Judo/teste teórico

Vol. Bas Bad

14 Fut And Natação Ginástica

15 Fut And

16 Apresentação Auto e hetero Atletismo

17 Atletismo Ginástica Teste CF

18 Ginástica Judo Aberto

19 Vol. Bas Bad

20 Natação Vol. Bas Bad

21 Fut And Natação Fut And Atletismo

22 Judo

23 Ginástica Supertaça

24 Vol. Bas. Bad Ginástica Teste teo

25 Ginástica Atletismo

26 Teste CF

27 Natação Natação

28 Fut And Fut And Atletismo

29 Judo

30 Ginástica Vol. Bas Bad

31 Vol. Bas Bad Auto/hétero

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A análise da Tabela 5 coloca em evidência que o número de aulas

previstas foram de 94 sessões (as aulas da semana da supertaça escolar foram

contabilizadas). De entre essas sessões, 1 foi destinada à apresentação, 3

sessões para os testes de condição/aptidão física, 3 sessões para a realização

da auto e hétero avaliação, 3 sessões para a realização do teste teórico, 13

sessões de natação, 15 sessões de ginástica, 13 sessões de futebol em paridade

com andebol, 11 sessões de judo, 14 sessões de atletismo, 13 sessões de

Voleibol em paridade com o Basquetebol e o Badmínton e 3 sessões em “aberto,

isto é, sem atribuição de uma matéria específica.

A decisão por não atribuir uma matéria específica a 3 das sessões deveu-

se ao facto de considerar ser importante ter algum espaço para poder ensinar

conteúdos que, por algum motivo imprevisível, não conseguisse ensinar durante

as aulas previstas. Essas 3 aulas poderiam também servir para reforçar algumas

aprendizagens, realizar uma análise da retenção de aprendizagens ou, até,

proporcionar um conjunto de experiências, logicamente no âmbito da prática de

exercício físico, diferente daquele que foi estipulado no planeamento anual, por

exemplo uma aula de zumba, um workshop de malabarismo, uma aula de

escalada, uma aula de corfebol ou uma aula de beisebol.

Durante o ano verifiquei que a maioria dos alunos tinha dificuldades na

realização da sequência de ginástica no solo. Assim, decidi atribuir mais 3 aulas

para a exercitação da sequência e destinar as 3 aulas em “aberto” para a

exercitação dos conteúdos da ginástica acrobática. Essa decisão veio no sentido

de verificar que a sala de judo, sala onde se destinavam as aulas em “aberto”,

possuía as condições ideais para a prática da acrobática. Ainda, na penúltima

aula do ano letivo, foi possível realizar uma aula de zumba que, por sua vez, foi

conduzida por uma das alunas da turma.

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4.2.3. Planeamento Meso: Unidades Didáticas

Após estruturar todo o planeamento anual procedi à realização das

unidades didáticas aplicadas às várias matérias que lecionei durante este ano

letivo a saber: Futebol, Andebol, Voleibol, Basquetebol, Atletismo, Ginástica

(aparelhos, solo e acrobática), Natação, Judo e Badmínton.

O planeamento das unidades didáticas são etapas claras do ensino e da

aprendizagem que devem garantir uma sequência metodológica coerente e

lógica da matéria de ensino remetendo às aulas um contributo significativo para

o desenvolvimento dos alunos (Bento, 2003).

Tendo em conta a rotatividade indicada nos mapas de instalações e as

estratégias que utilizei para organizar as matérias a lecionar, a produção destas

unidades teve de ser feita num espaço de tempo relativamente curto. Foi uma

tarefa trabalhosa e intensa, mas que norteou a minha prática pedagógica e

aumentou o meu conhecimento acerca das matérias em foco.

Para construir as unidades didáticas baseei-me no modelo de estrutura

do conhecimento proposto por Vickers (1990), o qual foi desenvolvido

especialmente para professores de EF e treinadores. Este reflete um

pensamento transdisciplinar, identifica e estrutura uma matéria de ensino numa

hierarquia de conhecimento, em estreita articulação com as estratégias

utilizadas para o ensino. A autora dividiu o modelo em oito módulos que, por sua

vez, estão divididos em três fases. A fase de Análise é constituída pelos módulos

um (Análise da modalidade desportiva em estruturas de conhecimento), dois

(Análise do envolvimento) e três (Análise dos alunos). A fase de Decisão é

constituída pelos módulos quatro (Determinação da extensão e sequência dos

conteúdos), cinco (Definição dos objetivos), seis (Configuração da avaliação) e

sete (Criação de progressões de ensino). A fase de Aplicação materializa o

módulo oito que incorpora os diferentes níveis de planeamento em que pode ser

aplicada: planos de aula, unidades didáticas, planos anuais e programas

individuais, bem como currículos escolares e programas de desenvolvimento do

desporto.

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71

Na construção do módulo um, a opção foi pela abrangência, pois

reconheci a utilidade que um documento destes podia ter no meu futuro

enquanto professor de EF. Embora este deva ser adaptado à turma para a qual

se destina, existem informações que são transversais e que, portanto, podem

ser extravasadas para qualquer contexto. Assim, elaborando uma estrutura de

conhecimentos bastante completa, considerei que poderia adaptá-la, no futuro,

a qualquer turma. Embora o meu PC tenha vincado bem a sua opinião de ser

mais pragmático na construção deste módulo, o facto é que não o fui porque

pensei, e continuo a pensar, que este poderá ser útil no futuro

independentemente do ano de escolaridade que venha a lecionar. O facto de me

ter sido dada liberdade para construir os modelos de estrutura de conhecimento,

permitiu-me tomar esta decisão de estender um pouco mais este módulo. A sua

construção baseou-se na análise minuciosa das categorias transdisciplinares

(cultura desportiva, habilidades motoras, conceitos fisiológicos e conceitos

psicossociais).

Relativamente ao segundo módulo analisei e descrevi o contexto e o

envolvimento onde se iria ocorrer a prática. A compreensão e o conhecimento

de todos os recursos espaciais, temporais, materiais e humanos foi fundamental

para perceber como poderia adaptar e planear a minha prática pedagógica.

No módulo três realizei a caracterização dos alunos da turma em relação

ao seu desempenho e conhecimentos relativos a cada matéria de ensino. Esta

tarefa revelou-se importante para perceber qual o ponto de partida da minha

abordagem à matéria de ensino.

Numa das reuniões com a PO, esta desafiou-nos a construir um módulo

(o 8 da UD) tendo por base o módulo quarto. Até ao momento o módulo

destinado à determinação da extensão e sequência de conteúdos foi realizado a

partir da produção de uma tabela que continha os dias das aulas, os conteúdos

e a letra inicial da função didática destinada a cada aula. Desta forma, a consulta

do documento não permitia observar a forma como se iriam exercitar os

conteúdos e quais os objetivos das diferentes aulas. Assim, foi-nos proposto que

realizássemos uma tabela que fosse além, isto é, que não indicasse apenas a

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função didática, mas sim a tipologia das tarefas e seu nível de complexidade,

bem como a sequência de objetivos. De facto, após a realização de inúmeras

unidades didáticas e com o espaçamento temporal existente entre parte das

aulas das diferentes matérias, tornava-se difícil, até para mim, o produtor do

documento, interpretar rapidamente o que se pretendia apenas com recurso ao

módulo 4 no seu formato inicial. De facto, nela apenas podia observar a(s)

função(ões) didática(s) correspondentes às aulas. Após a realização da tabela

sugerida pela professora orientadora foi muito mais fácil interpretar o que se

pretendia para cada aula, bem como projetá-las e prepará-las. A elaboração

deste módulo foi o que suscitou mais debates, trocas de argumentos e apoio à

bibliografia. Foram momentos de reflexão e ponderação sobre o quê e o porquê

de ensinar. Foi na elaboração deste módulo, que as conceções, metodologias e

pensamentos começaram a emergir, originando muitos debates. O facto de os

elementos do núcleo terem formas bastantes distintas de olhar para o ensino

não gerou, por vezes, consensos no entanto, gerou conclusões válidas e lógicas.

Destes debates retiro sobretudo a noção de que existem vários “caminhos” para

se chegar ao mesmo fim e que o facto de um “caminho” estar correto não

significa que o seu oposto esteja errado.

Depois de determinar o que ensinar e porque ensinar foram determinados

os objetivos de aprendizagem, módulo cinco. O grande desafio foi o de garantir

que os objetivos fossem claros, realistas (atingíveis), balizados no tempo e

mensuráveis. Esta era a forma que me permitiria verificar se o processo-ensino

aprendizagem estava a produzir efeitos positivos, bem como o garante que o

processo fosse portador de intencionalidade educativa.

Com os objetivos traçados, dei início à configuração da avaliação

produzindo o módulo seis. Neste módulo construí grelhas de avaliação

(formativa e sumativa) que me permitiram verificar se os objetivos estavam a ser

atingidos, caso não estivessem deveria, logo após a avaliação formativa,

mudar/adaptar o planeamento ou redefinir objetivos, e atribuir um nível de

desempenho aos alunos.

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73

No módulo 7, criei, adaptei e selecionei algumas progressões

pedagógicas que considerei que me ajudariam a atingir os objetivos que

estabeleci. O processo de criação, adaptação e seleção das progressões

dependeu das respostas que os alunos iam dando aos exercícios que eram

propostos. Caso o aluno tivesse dificuldades no nível mais simples da

progressão, esta era mais simplificada. Caso o aluno não estivesse a

compreender o que se pretendia com determinada progressão, por vezes, eram

criadas alterações para facilitar essa compreensão. A manipulação da

complexidade e dificuldade das progressões, para as modalidades individuais

teve como base a tipologia de tarefas que caracteriza o Modelo

Desenvolvimental de Rink (1996), descrito no ponto 4.3.4.2. deste relatório. Para

as modalidades coletivas, exceto para o voleibol, foi utilizada a tipologia de

tarefas que caracteriza o modelo de competências para os jogos de invasão

descrito no ponto 4.3.4.4. deste relatório. Para o voleibol, foi utilizada a tipologia

de tarefas que caracteriza o modelo de abordagem progressiva ao jogo descrito

no ponto 4.3.4.5. deste relatório.

Em síntese, após algumas reuniões com a PO e o PC fui entendendo que

deveria ser mais pragmático na construção dos modelos de estrutura do

conhecimento. Embora pense que fui sendo cada vez mais direto na construção

dos documentos, na definição de objetivos e na forma como iria pretender

alcançá-los, penso que existiu muita informação igual, em matérias distintas, que

poderia ser dispensada. Essa quantidade de informação transversal a todas as

matérias tornou os documentos extensos e com informação “desnecessária”. Tal

como no planeamento anual, apesar de trabalhoso foi uma tarefa que me

enriqueceu bastante e tornou-me um profissional mais competente, na medida

em que adquiri e consolidei o conhecimento relativo às matérias de ensino e do

tratamento dos conteúdos a ensinar nas diferentes matérias.

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74

4.2.4. Planeamento Micro: Planos e estrutura das aulas

Para Bento (2003), as aulas exigem uma boa preparação e planeamento

pois é um ponto de convergência entre o pensamento e a ação do professor.

Estas devem ter como fim último a estimulação do desenvolvimento dos alunos.

Os planos de aula assumem, assim, um papel crucial de orientação da prática

pedagógica do professor. Segundo o mesmo autor, o plano de aula deve

englobar a matéria de ensino, as condições existentes e as características dos

alunos, sendo que a ligação entre estes três aspetos é fundamental para um

planeamento de qualidade.

No início do ano letivo, o PC pediu-nos para produzir ou escolher uma

estrutura de plano de aula, que fosse utilizado por todos ao longo do estágio.

Assim sendo, e após algumas pesquisas, reflexões e trocas de ideias, o núcleo

chegou a um entendimento e criou uma estrutura de plano de aula com as

características que serão mencionadas a seguir.

A primeira tarefa foi construir um cabeçalho onde constasse a informação

geral sobre a aula. A figura seguinte representa um exemplar do cabeçalho.

Tabela 6 - Exemplar do cabeçalho do plano de aula

PLANO DE AULA

Professor Cooperante:

Professor Estagiário:

Ano:

Turma:

N.º de

Alunos:

Aula nº:

Sessão nº

Data:

Hora:

Tempo total:

Tempo útil:

Unidade Temática:

Função Didática:

Local:

Espaço:

Material:

Objetivos da Aula

Habilidades Motoras Cultura Desportiva

Fisiologia do Treino e Condição

Física Conceitos Psicossociais

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As informações patentes no cabeçalho do plano de aula (Tabela 6) são

relevantes na medida em que ajudam o professor a situar o plano de aula no

tempo e no próprio processo ensino-aprendizagem. A consulta destes dados

permite ao professor verificar em que “ponto” da unidade didática se situa

podendo tomar decisões mais adequadas a partir daí. O facto de o professor ter

muitas turmas, muitas aulas e muitas matérias a ensinar durante o ano letivo

torna ainda mais importante estes dados pois o professor pode, em determinada

altura do ano, ter dificuldades em situar-se no tempo e no espaço.

Na mesma lógica foram indicados a função didática, que segundo Bento

(2003) caracteriza as tarefas essenciais do processo de ensino por partes,

etapas ou fases, os conteúdos (organizados por níveis de aprendizagem), o

local, o espaço e o material a serem utilizados na aula. Também foram indicados

os objetivos da aula relativamente às quatro categorias transdisciplinares: as

habilidades motoras, os conceitos psicossociais, a cultura desportiva e os

conceitos fisiológicos – que espelhavam as competências que pretendia que os

alunos adquirissem e dominassem no final da aula. Para Bento (2003, p. 110), “

Os objetivos em Educação Física devem orientar a ação do educador para um

desenvolvimento sistemático da capacidade de rendimento corporal – entendida

esta como um pressuposto complexo do rendimento total da sua personalidade”.

Assim, a definição dos objetivos é fulcral pois são estes que orientam o professor

na intervenção na aula.

Na estrutura central do plano de aula, comtemplou-se os conteúdos, as

condições de exercitação e as componentes críticas.

No que respeita aos conteúdos, Bento (2003) refere que, tal como os

objetivos, constituem uma categoria didática determinante no processo

pedagógico, porque influenciam decisivamente a estrutura, organização

metodológica no momento de preparação e realização do processo de ensino, e

porque a sua natureza e diversidade refletem a incumbência e determinação

social do processo pedagógico. Os conteúdos definidos nos planos de aula

também foram ao encontro das categorias transdisciplinares evidenciadas

anteriormente.

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No que respeita às condições de exercitação, Bento (2003) indica que o

grau de dificuldade e o volume dos exercícios corporais devem ser calculados

corretamente, a fim de garantir a realização dos objetivos e o desenvolvimento

dos alunos. A dificuldade e o tempo destinado a cada exercício deve ir ao

encontro das necessidades de aprendizagem dos alunos e da sua resposta ao

solicitado.

As componentes críticas foram introduzidas com o objetivo de me ajudar

a selecionar, observar e controlar os aspetos essenciais a reter em cada

exercício para atingir os objetivos. De acordo com Bento (2003, p. 148), “o ensino

alcança eficácia apenas quando não se perde em coisas secundárias de pouca

monta, quando a sua linha principal orientada para resultados é seguida com

sequência quando o interesse e a atividade dos alunos são permanentemente

direcionados para ela.”

Tabela 7 - Exemplar de um plano de aula

PA

RT

E

CONTEÚDOS SITUAÇÕES DE

APRENDIZAGEM ORGANIZAÇÃO

METODOLÓGICA

COMPONENTES CRÍTICAS/ OBJETIVOS

COMPORTAMENTAIS/

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Segundo Bento (2003), as tarefas da parte inicial da aula são importantes,

na medida em que não devem ser entendidas apenas como um “aquecimento”

mas sim, como tarefas que incorporam a preocupação de criar uma situação

pedagógica, psicológica e fisiológica favorável à realização do objetivo principal

da aula. A parte inicial das minhas aulas foi destinada ao tratamento de questões

administrativas (faltas de presença e de material, utilização indevida de

adereços, etc), à transmissão dos objetivos e tarefas a realizar na parte

fundamental da aula, à organização da aula e à preparação do corpo para as

atividades a desenvolver, através de exercícios de desenvolvimento geral,

pequenos jogos e de elementos para a aprendizagem ou aperfeiçoamento dos

exercícios a realizar na parte fundamental. Com efeito, nesta parte da aula foram,

por vezes, exercitados e/ou introduzidos alguns conteúdos da própria aula ou

da(s) aula(s) transata(s), sendo que, na maioria das vezes, foram conteúdos

associados à cultura desportiva e às habilidades motoras.

Relativamente à parte fundamental da aula, Bento (2003, 158) indica que

“o professor tem a tarefa de realizar os objetivos e de transmitir os conteúdos

propriamente ditos”. Segundo o autor, é nesta parte que predominam a

concordância dos objetivos e conteúdos da parte inicial e final da aula. Nesse

sentido, a parte fundamental das minhas aulas serviu para introduzir, exercitar,

consolidar e/ou avaliar todos os conteúdos da aula, prioritariamente os

associados às habilidades motoras, à cultura desportiva e aos conceitos

psicossociais. Foi nesta parte que dei ênfase ao propósito central da aula.

Para Bento (2003), a organização da parte final da aula deve ser

direcionada para o retorno à calma e para a criação de condições favoráveis às

aulas seguintes, se for o caso. De acordo com o autor, esta parte da aula atinge,

em regra, cinco minutos podendo ser mais baixo no caso dos últimos anos de

escolaridade. A parte final das minhas aulas serviu para exercitar e avaliar os

conteúdos associados aos conceitos fisiológicos, realizar o retorno à calma e

transmitir informações sobre a aula e sobre a(s) próxima(s) aula(s). Também

serviu para realizar reflexões conjuntas com os alunos, sobre os acontecimentos

que tinham ocorrido na aula. A realização de uma reflexão geral é fundamental

porque ajuda os alunos a perceberem o que, em termos gerais, fizeram correta

e incorretamente e, a partir daí, como podem melhorar o seu desempenho motor,

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e socio-afetivo. A reflexão também se revela importante para o professor na

medida em que o ajuda a perceber o que os alunos retiveram da aula. No

momento imediatamente antes dos alunos abandonarem o espaço da aula,

esforcei-me por transmitir a informação associada à aula seguinte de forma

motivadora e concisa com o intuito de despoletar a curiosidade dos alunos e

anseio de participarem.

A cada uma das partes da aula e a cada situação de aprendizagem foi

indicado o tempo, na forma de hora e na forma de minutos. Penso que esta

estratégia ajuda o professor não só a situar-se no plano de aula, como também

na hora do dia evitando atrasos no horário de saída da aula. O tempo de cada

exercício era definido de acordo com a sua relevância para atingir o objetivo geral

da aula e de acordo com a resposta dos alunos, isto é, se os alunos tivessem

demasiado sucesso ou falta dele, o exercício era alterado/adaptado de forma a

promover que os alunos trabalhassem na sua zona de desenvolvimento

proximal.

Planear uma aula é fundamental não só para melhorar a eficácia da

mesma, como também para ajudar o professor a esquematizar e a agir de forma

mais coerente e adequada no processo de ensino-aprendizagem. A construção

de um plano de aula obriga a antever acontecimentos e a escolher estratégias

para solucioná-los ou evitá-los. Além disso, auxilia o professor no decorrer da

própria aula na medida em que é um documento que serve de suporte à sua

atuação pedagógica, podendo ser consultado sempre que necessário. Tive uma

preocupação constante em conjugar o planeamento das aulas com o que tinha

projetado no planeamento anual e nas unidades didáticas. Embora na maior

parte das vezes fosse possível conjugar, na verdade existiram aulas em que não

foi possível dar seguimento ao planeado, havendo lugar a adaptações do

planeamento. As condições meteorológicas e o nível de desempenho dos alunos

no decorrer das aulas foram as duas principais causas da adaptação do

planeamento. Por exemplo, planeei ensinar o lançamento do dardo na primeira

parte da unidade didática de atletismo, contudo face às condições

meteorológicas adversas tive que planear uma aula em que o conteúdo principal

era a técnica de corrida pois, ao contrário do lançamento do dardo, este conteúdo

pode ser exercitado adequadamente no pavilhão. Penso que o facto de ser

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inexperiente não me levou a pensar que as aulas ao ar livre, no inverno,

poderiam não se realizar. A produção de um plano de aula alternativo é uma

estratégia a utilizar pois auxilia o professor em momentos peculiares do seu

trabalho, nomeadamente quando, imediatamente antes da aula, surgem

acontecimentos imprevisíveis, como o referido anteriormente.

A planificação e operacionalização dos planos de aula trouxeram-me

algumas dificuldades e incertezas que me levaram a refletir e pesquisar. Essas

reflexões e pesquisas foram fundamentais para melhorar a minha capacidade de

estruturar o pensamento e atribuir mais coerência às minhas aulas. As

dificuldades na planificação englobaram: 1) As dúvidas sobre que exercícios

selecionar/adaptar/criar; 2) A seleção das componentes críticas para cada

situação e nível de aprendizagem; 3) Por vezes, a seleção de progressões

pedagógicas coerentes e significativas em termos de aprendizagem; 4) Como

planificar um conjunto de aulas, da mesma unidade didática, coerente e

progressivo. Já as dificuldades sentidas no decorrer das aulas foram: 1) Motivar

os alunos para a prática desportiva em matérias com alguma exigência

cardiorrespiratória; 2) Numa fase inicial do ano, promover o espírito cooperativo

nas atividades a realizar; 3) Adaptar/alterar exercícios que não estavam a

resultar, isto é, que não estavam a ter o efeito que pretendia, quer ao nível da

aprendizagem, quer ao nível da motivação.

A elaboração de inúmeros planos de aula e a sua realização ao longo do

ano permitiu-me concluir que são raras as vezes que o planeado para uma aula

acontece escrupulosamente desse modo. Na verdade, acabam por existir, quase

sempre, situações que não eram expectáveis. Mencione-se a título de exemplo,

o tempo destinado a cada exercício, que raramente foi exatamente o que foi

planeado.

As constantes adaptações aos acontecimentos que se vão sucedendo na

aula levaram a que melhorasse a minha capacidade de atuar. O facto de gostar

de arriscar e o conhecimento e a boa relação que tive com os meus alunos desde

muito cedo, aliada a essa capacidade de improvisação, levou-me a aumentar o

desejo de experimentar várias metodologias nas minhas aulas. A lecionação de

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aulas com várias matérias, por exemplo, foi algo que nunca tinha experienciado

na minha formação inicial e que arrisquei.

4.3. Realizar o planeado: ensinar

Após o processo de planeamento iniciei a prática pedagógica, que se

reportou as múltiplas atividades, pois para além da central - lecionação de aulas

de EF, onde apliquei diversos modelos de ensino e utilizei as dimensões de

atuação pedagógica do professor (Siedentop, 1998) – tive responsabilidades

noutras áreas no âmbito desportivo escolar, realizadas na EC e fora dela. Foram

inúmeras as experiências que me levaram a realizar avanços e recuos do

planeado inicialmente e contribuíram para o aprender a ser professor, num

processo continuado de construção da minha identidade profissional. De todas

as aulas que lecionei destaco as primeiras quatro aulas pois foram essas que

puseram à prova, de uma forma mais vincada, a minha capacidade de liderança.

4.3.1. As primeiras quatro aulas…

A minha relação com os meus alunos iniciou-se no dia dezasseis de

setembro de dois mil e dezasseis. Foi um dia especial para mim pois foi a minha

primeira experiência enquanto professor. Tal como indico no diário de bordo,

“Este foi um dia especial para mim pois foi o primeiro em que exerci,

sozinho, as funções de professor de Educação Física, dentro de uma sala

e com alunos. Desde a primeira reunião com o professor cooperante que

comecei a sentir-me ansioso por estra prestes a começar as atividades

letivas. Essa ansiedade acompanhou-me até ao dia de hoje. Mas, por

mais estranho que possa parecer, no momento em que esperava pelos

alunos, na sala de ginástica, essa ansiedade desapareceu. Não sei

explicar porquê mas senti-me calmo e confiante. Esses sentimentos

foram, sem dúvida, fulcrais para que a aula tivesse decorrido bem”. (Diário

de Bordo 16/09/2016).

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A ansiedade que senti até ao momento imediatamente antes de entrar

para a sala deveu-se, sobretudo, ao facto de não saber como os alunos iriam

reagir quando soubessem que iriam ter um professor estagiário sem experiência.

Nas reuniões iniciais com o PC abordámos diversos temas, sendo que um

deles foi acerca do que dizer na primeira aula do ano letivo. O professor sugeriu

que refletíssemos sobre esse tema para, numa reunião posterior, debatermos

em torno das nossas reflexões e chegarmos a um consenso. Na reunião

seguinte, e após debatermos diferentes pontos de vista, chegamos à conclusão

que uma breve apresentação do nosso percurso académico e desportivo, a

definição de regras e rotinas gerais a adotar na disciplina de EF, que segundo

Rosado e Ferreira (2011) devem ser entendidas como reguladoras de

interações, a transmissão de informações associadas à configuração da

avaliação e a verificação dos gostos pessoais dos alunos, seriam o foco da nossa

primeira abordagem.

No início da aula, e antes de falar sobre os temas combinados, decidi falar

um pouco sobre mim tentando manter uma postura alegre e bem-disposta para

“quebrar o gelo” que naturalmente existe no primeiro encontro. Penso que esta

foi uma boa estratégia porque desde esse momento senti que os alunos

mudaram um pouco a sua postura, que inicialmente era cética. Alguns deles

começaram a adotar uma postura proativa e, muitas vezes, falavam

simultaneamente dificultando a eficácia da comunicação. Esse tipo de

acontecimentos, que foram ocorrendo ao longo da aula, serviu para ir

introduzindo algumas regras e rotinas que pretendia que fossem cumpridas nas

aulas de EF.

Após esta abordagem inicial dei voz aos alunos, um de cada vez,

apresentaram-se e falarem um pouco sobre si. Nesse momento fui percebendo

que tipo de alunos tinha. Assim, fui retirando informações acerca dos seus

gostos, atitudes, comportamentos e alguns pensamentos que me permitiram

traçar o primeiro perfil geral de cada aluno e da turma.

Uns dias antes, na primeira reunião de departamento, fui informado que a

minha turma era um pouco problemática no que respeita ao comportamento e à

motivação para a prática. Por conseguinte, tive consciência que o primeiro

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contacto que teria com os alunos seria muito importante para que o início do ano

letivo decorresse bem. Atendendo a esta informação, a minha estratégia foi a de

tentar fazer com que os alunos olhassem para mim como um professor afável,

cujo principal interesse era ajudar e não dificultar. Penso que a primeira

impressão que se tem de uma pessoa é fundamental para criar um sentimento

que, na maioria das vezes, perdura durante algum tempo. Foi com base nessa

premissa que norteei a forma como me dirigi aos alunos e os conduzi, nas aulas

seguintes, a adotarem os comportamentos que pretendia.

Na segunda e terceira aulas do ano, os alunos testaram-me

imediatamente. Começaram a adotar muitos comportamentos fora da tarefa com

o intuito de perceber até onde poderiam chegar, isto é, até onde eu os deixava

fazer o que queriam. Como não esperava este tipo de comportamento, por parte

dos alunos, perdi o controlo da aula.

“Relativamente aos exercícios, fiz algumas adaptações e algumas

alterações. Estas deveram-se ao facto de ter perdido o controlo da aula…”

(Reflexão 27/09/2016).

Num determinado momento da aula exaltei-me com os alunos, chamei-os

e iniciei um discurso mais rígido relembrando as regras e rotinas a cumprir. Os

alunos perceberam imediatamente a mensagem que queria transmitir e

alteraram imediatamente o seu comportamento. Penso que o facto de ficarem

com uma boa primeira impressão a meu respeito ajudou a que por um lado, se

esquecessem rapidamente da minha exaltação e por outro, tivessem não só

melhorado significativamente o seu comportamento na aula como também

participado ativamente na aula seguinte. A mudança repentina de

comportamento levou-me a acreditar que tinha “ganho” os alunos e que eles já

me tinham reconhecido autoridade, facto este que foi verificado na aula seguinte

destinada à ginástica de aparelhos.

“Antes de iniciar a aula pensei que iria ter dificuldades em promover a sua

fluidez, isto porque, em aulas anteriores, os alunos mostraram muitos

comportamentos desviantes. O facto é que isso não aconteceu. Os alunos

mostraram-se empenhados e cumpriram escrupulosamente toda a

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orgânica da aula, facilitando bastante o cumprimento dos objetivos.”

(Reflexão dia 30/09/2016).

4.3.2. As aulas com várias matérias

Durante o EP fui desafiado pelo PC a planear e lecionar aulas em que

ensinasse duas e três matérias distintas em simultâneo. Para além de ser uma

experiência nova, pois na formação inicial não tive essa vivência, seria uma

forma de proporcionar aos meus alunos aulas com vários estímulos que

poderiam potenciar mais a sua motivação. Desde modo, aceitei o desafio pois

considerei que era fulcral para a construção da minha identidade profissional

experimentar várias formas de projetar e atuar no ensino. De facto, nunca

coloquei de parte, e até foi um fator de motivação, experimentar situações e

metodologias com as quais não me sentia totalmente confortável. Na minha

opinião, a formação de bons profissionais também passa pela experimentação

do desconhecido e pelo sentir, isto é, penso que o facto de observar outros

professores ou outras aulas, por si só, não é suficiente para adquirir uma

bagagem que nos permita, na prática, responder aos desafios que são

colocados. Neste intento, e saindo da “minha zona de conforto”, optei por

lecionar badmínton, voleibol e basquetebol numa unidade didática e futebol com

o andebol noutra unidade didática. Desta minha experiência retiro algumas

vantagens e desvantagens que serão enumeradas de seguida.

Relativamente às vantagens, de destacar que: 1) São proporcionados

diferentes estímulos subjacentes às diferentes matérias de ensino, o que

melhora o dinamismo da aula. É atribuída importância às vivências intencionais

e variadas, sem descurar a qualidade da aprendizagem e o alcance dos objetivos

do processo. Segundo o relatório de estágio produzido por Oliveira (2016), a

aprendizagem pode existir e ser efetiva em aulas onde é estimulado o ensino de

matérias distintas. Na minha opinião, nos jogos desportivos coletivos, se o

objetivo é saber jogar e compreender o jogo, faz sentido existir uma dispersão

de estímulos; 2) Permite que haja um menor espaçamento temporal na

lecionação de uma determinada matéria, levando a uma menor probabilidade de

esquecimento dos seus pressupostos e, assim, evita-se o reinício do ensino dos

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conteúdos. No entanto, esta é uma ideia que carece de comprovação; 3) O facto

de existir uma prática transferível em algumas matérias, por exemplo os

conteúdos táticos do andebol e do futebol, aumenta o tempo de prática de alguns

conteúdos mesmo que utilizados em contextos diferentes; 4) Facilita a gestão do

tempo e da organização da aula uma vez que automatizadas as rotinas da

montagem da aula (rede de badmínton e voleibol, por exemplo) na primeira aula,

utiliza-se menos tempo de organização nas aulas posteriores; 5) Pode ser um

fator de motivação para os alunos, que resulta numa maior disponibilidade para

a prática;

“Esta aula serviu também para explicar aos alunos como serão

organizadas as restantes aulas desta unidade didática. Penso que esta é

uma forma eficaz de criar rotinas que, por sua vez, são fundamentais na

redução dos tempos de transição entre exercícios bem como a diminuição

do tempo para organizar a aula (montagem e desmontagem de

equipamento) e consequentemente para o aumento do tempo de

exercitação e do tempo potencial de aprendizagem.” (Reflexão dia

6/01/2017)

“Os alunos já apresentam rotinas fortes, o que favorece a rápida transição

entre exercícios aumentando assim o tempo potencial de aprendizagem

e, assim, a própria aprendizagem.” (Reflexão 13/01/2017)

“Mesmo sendo esta aula destinada à exercitação de várias matérias não

significa que os alunos não possam aprender. A prova disso é que a maior

parte dos alunos, comparativamente à primeira aula desta unidade

didática, estão a melhorar a sua performance no jogo. Por exemplo, no

voleibol a maior parte dos alunos já conseguem fazer jogadas a 2 e 3

toques, no badmínton já iniciaram o jogo em oposição e no basquetebol

já compreendem e executam, por vezes é certo, a posição de tripla

ameaça, o passe e corte, a ocupação racional do espaço e a marcação

individual.” (Reflexão aula dia 30/01/2017)

Relativamente às desvantagens, de realçar que: 1) Obriga a uma grande

capacidade de adaptação do professor aos variados contextos provocados pelas

condições de prática (regras, questões de segurança, etc); 2) O facto de utilizar

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modelos demasiadamente abertos e práticas pedagógicas centradas no aluno

pode levar, por vezes, à transformação da aula num espaço de recreio e mais

ainda se os alunos não forem responsáveis, comprometidos e autónomos; 3) A

realização de 3 matérias distintas torna as aulas de 35 minutos (tempo efetivo)

demasiado pequenas e por isso pouco adequadas para este tipo de metodologia.

“…penso que o facto de esta unidade didática ser constituída por 3

matérias distintas e o facto de os alunos não terem muita capacidade para

utilizar a pouca autonomia que lhes é dada tem uma influência negativa

no que respeita à qualidade da prática” (reflexão dia 13/01/2017)

4.3.3. Práticas pedagógicas centradas no aluno e no professor

No decurso do EP várias foram as questões que se colocaram acerca do

ensino centrado no aluno. Este tema constituiu um dos focos principais dos

debates realizados entre os estagiários e o PC. Nestes debates, a minha

capacidade de argumentação foi colocada à prova diversas vezes. Esta

necessidade de justificar o facto de pensar que centrar o ensino no aluno seria

mais favorável do que centrar o ensino no professor levou-me a realizar várias

pesquisas. De facto, acredito que o ensino centrado no aluno é o mais indicado,

no entanto é necessário criar condições para que os alunos possam aprender

uns com os outros e consigo próprios. Caso não consigam devem-se adotar

estratégias para, progressivamente, os ir tornando mais construtores da sua

própria aprendizagem. Nesse sentido, deve utilizar-se modelos de ensino mais

autocráticos e, progressivamente, em função das respostas que os alunos nos

vão dando, ir utilizando modelos de ensino mais abertos.

Numa fase inicial penso que é necessário perceber que tipo de alunos se

pretende formar. De seguida, é necessário perceber o que se pensa

relativamente ao papel do professor e do aluno no processo ensino-

aprendizagem, não esquecendo que o que importa é o que o aluno aprende e

não o que o professor ensina. Pese embora estes dois fatores estejam

intimamente interligados, não são a mesma coisa. Posteriormente, penso que é

importante perceber que tipo de tarefas de aprendizagem devem ser construídas

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86

e propostas e, por fim, que tipo de intervenção deve ter o professor e os alunos

nessas tarefas.

A análise do reajustamento do PNEF, elaborado em 2001, colocou em

evidência que a conceção veiculada no documento é de uma EF centrada no

valor educativo do exercício físico pedagogicamente orientado para o

desenvolvimento multilateral e harmonioso do aluno. Esta conceção baseia-se

na apropriação das habilidades técnicas e conhecimentos, no aumento das

capacidades do aluno e na formação de aptidões, valores e atitudes

proporcionados pela realização de exercício físico intenso, saudável, gratificante

e culturalmente significativo. No fundo, o que está em causa é a qualidade da

participação do aluno na atividade educativa, para que esta tenha uma

repercussão positiva, profunda e duradoura. Esta preocupação engloba quatro

princípios fundamentais: 1) Garantir uma prática de exercício físico que permita

a descoberta das possibilidades de aperfeiçoamento pessoal e dos

companheiros; 2) Promover a autonomia, através da atribuição, reconhecimento

e exigência de responsabilidades efetivas aos alunos quer nas questões

organizativas, quer no tratamento das matérias; 3) Valorizar a criatividade, pela

promoção e aceitação da iniciativa dos alunos; 4) Promover e orientar a

socialização e a cooperação efetiva entre alunos6.

“Quanto aos conceitos psicossociais penso que acertei exatamente

naquilo que os alunos necessitam de desenvolver, a autonomia. Tenho a

perceção de que estes alunos sempre foram habituados com modelos que

não atribuem uma importância tão grande à autonomia como o Modelo da

Educação Desportiva. Penso que é um ótima oportunidade para

desenvolver esse valor nos meus alunos.” (Reflexão do dia 21/10/2017)

É legítimo questionarmo-nos se o papel do aluno na sua própria

aprendizagem passa por ser apenas um recetor de informação para,

posteriormente, a aplicar diretamente ou se é um construtor ativo de significados

na resolução autorregulada de problemas. Não me parece de todo desadequado

olhar para a formação do aluno como um meio para desenvolver a tomada de

decisão e o seu pensamento crítico, para construir conhecimentos com base no

6 Programa de Educação Física: Reajustamento. 3º Ciclo do ensino básico, 2001.

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87

relacionamento social e para desenvolver a capacidade de construir o próprio

conhecimento. Comparativamente aos modelos mais autocráticos, a utilização

de modelos mais abertos oferecem mais possibilidades aos alunos de, através

da cooperação com os colegas, da sua criatividade e da sua iniciativa, poderem

ir construindo conhecimentos. Nesse sentido, a utilização de modelos mais

abertos favorece a formação de alunos construtores do seu próprio

conhecimento.

De acordo com Panutto et. al. (2015), hoje o desafio da educação é tornar

a sala de aula dinâmica, interativa, colaborativa, propondo ao aluno atividades

motivadoras, que possam ser desenvolvidas estimulando a criatividade, com

significado e propósitos. Sabemos que aprendemos de formas diferentes e que

isso deve ser considerado no momento de apresentar uma proposta de ensino.

Ainda para McGaughtry (2006), a instalação progressiva de uma cultura

autêntica de participação pode ser decisiva no empenhamento e nas

aprendizagens, permitindo aos estudantes mais oportunidades de controlo sobre

o seu próprio ambiente de aprendizagem. Para Batista e Queirós (2015), os

estilos e modelos de ensino utilitaristas baseados na reprodução do

conhecimento e sem espaços flexíveis para a criatividade e a inovação, embora

não retirem o valor à prática de exercício físico, não apresentam significado

educativo. Por sua vez, Carlson (1995) indica que ambientes cooperativos

podem promover aprendizagens, o empenhamento, as emoções e interações

pessoais positivas.

Face ao exposto pode-se deduzir que a utilização de uma estratégia

progressiva que permita que os alunos, aos poucos, possam ir encontrando a

sua forma de aprender, é correta. Nesse sentido, a utilização de modelos e

estilos de ensino que vão, progressivamente, atribuindo mais protagonismo aos

alunos no processo ensino-aprendizagem deve ser uma realidade. Tal como

referem Rosado & Ferreira (2011), o abandono dos modelos instrucionais

autocráticos deve ser uma realidade pois, desta forma, é propiciado um maior

sentimento de controlo e uma participação mais ativa por parte dos alunos

potenciando, desta forma, a sua aprendizagem.

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Assim sendo, parece que a autonomia é um conceito que deve estar

sistematicamente presente na sala de aula, pois só uma pessoa autónoma é que

consegue ser produtora da sua própria aprendizagem e não um mero reprodutor

de conhecimento. É importante desenvolver nos alunos a capacidade de utilizar

a autonomia para que esta possa ser reproduzida fora da escola. Desta forma,

estaremos a contribuir para a formação de seres autónomos, tal como é refere o

PNEF nos seus princípios fundamentais.

Um estudo realizado por Grant et al. (2011) concluiu que o professor é o

denominador comum no aumento do sucesso dos alunos, logo este é um agente

de ensino fundamental para o alcance dos objetivos educativos. O professor para

trabalhar a autonomia nas aulas e formar seres autónomos é importante que seja

um facilitador e mediador da aprendizagem. Se os alunos apresentarem um nível

de desempenho e de capacidade de utilizar a autonomia muito baixos, pode ser

necessário que o professor explique (transmita informação) e demonstre,

contudo deve preocupar-se em, progressivamente, ir abandonando esse tipo de

atuação. O professor deve colocar problemas aos alunos e ir guiando o seu

percurso até ao alcance das respostas ajudando-os a entender o porquê de

determinadas escolhas. Mesquita (2004) refere que as crianças sentem grande

necessidade de estarem por dentro das iniciativas em que participam. Este facto

reivindica a partilha de estratégias e decisões entre o professor e os seus alunos.

A autora defende que realizar tarefas em que os alunos não entendem a sua

razão, nem as suas vantagens/desvantagens, é uma atuação desajustada face

ao facto da sociedade atual impor, cada vez mais, aos jovens a adoção de uma

atitude autónoma, responsável e comprometida.

As aulas de EF devem propiciar uma ampla gama de oportunidades

motoras, a fim de que o aluno explore a sua capacidade de movimentação,

descubra novas expressões corporais, domine o seu corpo em várias situações,

experimente ações motoras com novos implementos e ritmos variados, entre

outros aspetos. O professor deverá procurar que os alunos quando realizam as

ações motoras compreendam o seu significado e as formas de execução (Daolio,

1996).

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89

4.3.3.1. A lecionação de aulas ao 2º ciclo

Entre os dias vinte e quatro de janeiro a nove de fevereiro de dois mil e

dezassete foi proposta uma atividade que consistia em lecionar uma unidade

didática a uma turma do segundo ciclo. Esta atividade foi realizada numa escola

diferente da EC mas situava-se igualmente em Ponta Delgada. A minha tarefa

consistiu em lecionar a matéria de basquetebol a uma turma do sexto ano

constituída por vinte e quatro alunos, sendo doze do sexo masculino e 12 do

sexo feminino.

Na primeira aula observei que os alunos eram muito infantis e verifiquei

muitas semelhanças entre os seus comportamentos e os comportamentos dos

alunos do primeiro ciclo que tive o prazer de ensinar na minha primeira

experiência no ensino da EF, em 2014.

Os alunos da turma do sexto ano eram muito barulhentos,

desconcentravam-se muito facilmente e apresentavam, na sua maioria, algumas

dificuldades motoras, pelo que decidi selecionar exercícios muito simples e

pouco complexos. Face a este diagnóstico, tentei, ao longo das aulas, não alterar

muito a estrutura dos exercícios de forma a ajudar os alunos a perceberam

rapidamente o que pretendia. Segundo Kendler (citado por Rosado & Mesquita,

2011, p. 72) “a técnica mais utilizada para avaliar a capacidade dos processos

de memória é a recordação, técnica essa que consiste em fazer repetir o que foi

aprendido anteriormente”. Assim, bastava-me mencionar algumas palavras-

chave e os alunos sabiam imediatamente qual a atividade a realizar, uma vez

que a pouca informação fornecida promovia um alto grau de afunilamento

instrucional. Para Rosado et. al. (2008), as perdas sucessivas de informação

podem chegar aos sessenta por cento designando-se esse fenómeno, segundo

Rosado e Mesquita (2011), afunilamento instrucional. Do ponto de vista didático

importa encontrar os meios para reduzir esse afunilamento, e diversas

estratégias comunicacionais têm esse objetivo.” (Rosado, A., & Mesquita, I.,

2011, p. 72).

Com estas estratégias, iria poupar muito tempo de instrução utilizando-o

para a prática. Por outro lado, decidi adotar um estilo de ensino mais diretivo

porque, tendo em conta o tempo disponível, seria muito difícil atingir os objetivos

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delineados pelo professor titular da turma utilizando um estilo mais centrado no

aluno. Uma das desvantagens dos estilos mais centrados no aluno é, na minha

opinião, a necessidade de se atribuir mais tempo aos alunos para poderem

exercitar os conteúdos pois estes promovem a procura e a descoberta. Assim

sendo, em todas as aulas indiquei as tarefas a realizar, monitorizando-as e

indiquei explicitamente os comportamentos que pretendia observar por parte dos

alunos. Para além disso, tendo em conta que os alunos da turma apresentavam

o mesmo nível de desempenho, decidi realizar os mesmos exercícios para todos

os alunos. Um aspeto que justifica o baixo nível de desempenho dos alunos no

basquetebol deve-se, na minha opinião, ao facto de estes nunca terem

experienciado a modalidade num contexto organizado.

Ao longo das aulas fui confrontado com várias dificuldades que, embora

já tivesse experienciado, no momento que lecionei no primeiro ciclo, me puseram

à prova. De entre essas dificuldades destaco a pouca capacidade que alguns

alunos tiveram em compreender a organização de um exercício simples, o facto

de ter lidar com muito barulho (os alunos eram barulhentos mas não eram mal

educados, apenas utilizavam esse comportamento por estavam habituados) no

momento que estava a instruir e o facto de, quando estava a chover, ter um

espaço extremamente reduzido para o número de alunos da turma. Este último

é um facto que eu, enquanto estagiário, não estou habituado pois a EC tem

ótimas condições e, portanto, não apresenta problemas a esse nível.

Após esta experiência chego à conclusão que prefiro trabalhar com alunos

mais velhos. Os alunos deste ciclo de ensino, nomeadamente desta turma, ainda

adotam comportamentos demasiado infantis. Senti que os alunos não têm a

noção dos seus comportamentos nem das suas repercussões. É necessário

estar sempre atento aos alunos e “chamar a atenção” constantemente, o que

leva a um enorme desgaste emocional.

Para o futuro mais do que retirar uma experiência do ensino do

basquetebol, retiro a experiência de lidar com crianças do sexto ano de

escolaridade. Para mim essa foi a experiência que mais me marcou pois foi a

que me dificultou mais. O controlo de tantos alunos com esta faixa etária e com

este comportamento não é nada fácil. Na Escola, deveriam ser obrigatórias

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91

turmas mais reduzidas. Dever-se-ia considerar um número máximo de 15 alunos

por turma. Com as condições espaciais e materiais que existem, turmas de 24

alunos são muito grandes para poder controlar o processo adequadamente e

para promover aprendizagens significativas para todos.

4.3.3.2 A lecionação de aulas ao 7ºAno

No dia vinte e três de março de dois mil e dezassete, o PC desafiou-me a

lecionar as aulas de uma das professoras da escola. O facto de esta professora

não poder estar presente nesse dia deu-me a oportunidade de ter mais uma

experiência na lecionação de aulas de EF, mais especificamente de ginástica de

aparelhos, a turmas do sétimo ano de escolaridade. Ao receber este desafio

fiquei muito satisfeito porque demonstrou, desde logo, que os professores

confiavam no trabalho que estava a desenvolver.

Uns dias antes destas aulas, encontrei-me com a professora titular da

turma que me indicou as características gerais dos alunos, os objetivos gerais

das aulas e a metodologia que costumava a utilizar. Ao tomar conhecimento dos

objetivos e da metodologia reparei que estes não eram muito desfasados daquilo

que costumava a utilizar nas minhas aulas. A sua metodologia tanto na ginástica

como na natação (uma das observações realizadas a esta professora foi na

matéria de natação) é centrada no aluno pelo que, desde o início, que me revi

na sua forma de atuar dentro da “sala de aula”.

Relativamente à experiência propriamente dita penso que consegui atingir

todos os objetivos propostos, adaptar-me facilmente às rotinas criadas pela

professora nas aulas anteriores, ter um bom controlo sobre as suas turmas e

propor progressões pedagógicas adequadas. Numa fase inicial senti que poderia

ter algumas dificuldades, uma vez que deveria pensar rapidamente em

estratégias de organização e realização de exercícios de forma a promover que

todos trabalhassem na sua zona de desenvolvimento proximal. O facto de não

conhecer bem os alunos, os seus nomes e as suas potencialidades/dificuldades

colocou à prova a minha capacidade de observar e detetar rapidamente as

necessidades de aprendizagem de cada aluno e de, posteriormente, adaptar os

exercícios de modo a que, por um lado, não consumisse tempo de aula na

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organização, retirando tempo de prática, e, por outro lado, criasse progressões

que fossem ao encontro dessas mesmas necessidades de aprendizagem.

É importante salientar que os alunos foram muito respeitadores, no

entanto ainda demonstraram comportamentos demasiado infantis que, por

vezes, dificultaram a minha instrução. O facto de serem muito barulhentos e de

se desconcentrarem com alguma facilidade levou-me a interromper o meu

discurso algumas vezes originando um aumento ”desnecessário” do tempo de

instrução e, consequentemente, uma diminuição do tempo de prática motora.

Penso que esta experiência foi positiva na medida em que permitiu-me

perceber, mais uma vez, a diferença que existe entre lecionar aulas de EF ao

sétimo ano e lecionar aulas de EF ao nono ano. No sétimo ano os alunos, são

mais barulhentos, infantis e demoram um pouco mais de tempo a perceber o que

se pretende. O facto de os alunos não me conhecerem e vice-versa pode ter

originado mais dificuldade na compreensão das informações transmitidas, no

entanto penso que este não foi um entrave ao bom funcionamento das aulas.

4.3.4. Os Modelos de Ensino que balizaram a minha intervenção

Metzler (2011) refere que a utilização de modelos de instrução é uma

ferramenta valiosa para o planeamento e desenvolvimento do ensino. Segundo

o mesmo autor, um modelo de instrução é um conjunto de orientações

educativas e princípios teóricos de atuação pedagógica que é desenhado para

ser utilizado em toda uma unidade de instrução incluindo o planeamento, a

implementação e a avaliação dessa unidade, o que significa que também estão

subjacentes métodos, estratégias e estilos de ensino. É uma estrutura global e

coerente para o ensino e treino no desporto que clarifica os objetivos de

aprendizagem em torno de grandes propósitos. Os modelos de ensino

perspetivam a natureza das tarefas de aprendizagem, os papéis de professores

e alunos, os recursos didáticos necessários, o envolvimento social e a

organização da aula desejável para implementar e avaliar o programa de

instrução bem como os seus efeitos no processo ensino-aprendizagem sendo

um agrupamento de estratégias que engloba todo o processo de formação em

função de determinadas orientações educativas e princípios pedagógicos.

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93

Tal como destaca Rink (2001), os modelos de ensino utilizados devem ir

ao encontro dos envolvimentos de aprendizagem. Neste entendimento, pode

considerar-se que o bom professor é aquele que consegue ajustar

adequadamente o modelo de ensino ao contexto onde se insere (Metzler, 2011).

Por conseguinte, a escolha do(s) modelo(s) deve atender, principalmente, às

características dos alunos e características do professor, uma vez que os

modelos baseiam-se muito nas interpretações pessoais de cada um.

Cada modelo de ensino engloba uma variedade de orientações sendo que

alguns direcionam-se a um processo de ensino-aprendizagem mais centrado no

professor e outros mais centrado no aluno. Os processos centrados no aluno

conferem maior liberdade para a descoberta, para iniciativa dos alunos e para o

desenvolvimento da sua autonomia, pelo que deve haver uma preocupação em

equilibrar o apoio que é dado e a necessidade de exercitar a autonomia, de modo

a criar condições para promover uma prática contínua de atividades desportivas

(Mesquita e Graça, 2011b).

Embora se deva promover o desenvolvimento da capacidade de utilizar a

autonomia, é necessário controlá-la para poder chegar a índices mais elevados,

principalmente no que respeita à tomada de decisão. Por exemplo, os alunos da

minha turma apresentaram, no início do ano, dificuldades em utilizar a autonomia

na sua forma mais pura e de tomar decisões ajustadas sem terem um apoio

constante.

“Quanto aos conceitos psicossociais penso que acertei exatamente

naquilo que os alunos necessitam de desenvolver, a autonomia. Tenho a

perceção de que estes alunos sempre foram habituados com modelos que

não atribuem uma importância tão grande à autonomia. (Reflexão do dia

21/10/2016)

Assim, pensei em utilizar, numa fase inicial, modelos mais centrados no

professor e, gradualmente, ir aplicando modelos cada vez mais centrados no

aluno. No entanto, fui verificando que, embora os alunos se esforçassem, a

estratégia não estava a resultar.

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94

“(…) penso que os alunos continuam a demonstrar dificuldades em ser

autónomos no entanto verifico que estão empenhados em melhorar.”

(Reflexão do dia 28/10/2016)

Após uma reunião com a PO, percebi que um dos erros que tinha

cometido foi o de, numa fase inicial, não adotar mecanismos de controlo da

autonomia, de autorregulação. Este facto levou a que algumas aulas fossem um

pouco confusas e sem muito significado no que respeita à aprendizagem. Ao

aperceber-me disso, decidi adotar alguns mecanismos de controlo e de

autorregulação, como a construção de skill cards com progressões de conteúdos

e com a explicitação das componentes críticas fundamentais. Para além disso,

dei oportunidade aos alunos de construírem os seus próprios exercícios para

exercitarem os conteúdos associados à condição física.

“(…) estou a adotar mecanismos de controlo da autonomia dos alunos.

Penso que esta estratégia tem sido uma mais-valia pois orienta-os no

processo. Apesar de lhes serem prescritas algumas normas a cumprir, o

facto é que os alunos têm a oportunidade de tomarem decisões a respeito

da forma como pretendem aprender e dos desafios que pretendem

ultrapassar.” (Reflexão do dia 07/03/2017).

Em termos gerais, considero que existiu uma boa evolução dos alunos

neste campo e que no futuro se continuar a ser trabalhada, os alunos podem

evoluir ainda mais. Os meus alunos, após possuírem algo com que se guiar, no

caso os skill cards, conseguiram orientar-se melhor e construir exercícios que os

ajudavam a atingir os seus objetivos.

“Para além do já evidenciado, verifiquei que os alunos desenvolveram a

capacidade de utilizar a autonomia pois já foram capazes de, tal como foi

pedido dias antes desta aula - construir um exercício de condição física.

Embora este pareça um curto passo, na minha opinião revela evolução

dos alunos. Penso que, aos poucos, a turma irá conseguir ser autónoma,

comprometida e responsável” (Reflexão do dia 21/03/2017).

Nesta última aula, surpreendentemente, os alunos conseguiram

organizar-se sem a minha ajuda e contribuíram de forma autónoma para

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95

que todas as características do MED estivessem presentes” (Reflexão do

dia 27/03/2017).

Neste percurso progressivo de passagem de um ensino mais centrado no

professor para um ensino mais centrado no aluno, vários foram os modelos de

ensino que utilizei no percurso do EP, pelo que nos pontos seguintes estes serão

objeto de uma abordagem mais específica.

4.3.4.1. Modelo de Instrução Direta

De acordo com Mesquita & Graça (2011b), o Modelo de Instrução Direta

(MID) prevaleceu no ensino da EF durante largos anos. Para estes autores, o

modelo é caracterizado por centrar no professor a tomada de praticamente todas

as decisões associadas ao processo ensino aprendizagem, nomeadamente no

que respeita à prescrição de exercícios e ao envolvimento dos alunos. Todo o

controlo administrativo (regras, rotinas, etc) é realizado pelo professor com o

intuito de obter a máxima eficácia nas atividades desenvolvidas pelos alunos.

Para isso, os segmentos temporais devem ser organizados de modo a que o

tempo de aula tenha um tempo de prática motora substancialmente elevada,

apelando, assim, ao sentido de responsabilidade e compromisso dos alunos

para com as tarefas.

Decidi iniciar o ano letivo e algumas unidades didáticas utilizando este

modelo sobretudo porque pensei ser fulcral estruturar o início da minha

intervenção pedagógica com o estabelecimento de regras e rotinas para que as

aulas posteriores se pudessem desenrolar com maior fluidez.

As matérias onde a utilização deste modelo foi mais nítida foram as

individuais, nomeadamente a natação, a ginástica de aparelhos e o atletismo.

Nestas matérias também foi bem visível a utilização do Modelo Desenvolvimental

(MD) de Rink (1996) que será explicado no ponto seguinte. Esta opção encontra

eco no entendimento de Mesquita e Graça (2011b), que referem que o facto de

serem matérias compostas por habilidades motoras em contexto fechado torna

mais pertinente a decomposição dessas mesmas habilidades em progressões

pedagógicas bastante específicas.

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96

As principais características, definidas por Rosenshine (1983) utilizadas

foram a revisão da matéria dada nas aulas anteriores, a apresentação das

tarefas, habilidades e conteúdos e a sua monitorização e avaliação/correção

sistemática.

“Após as tarefas de análise e a exercitação das técnicas de transmissão,

iniciei a revisão da matéria lecionada na aula anterior que, por sua vez,

teria ligação com esta matéria, isto é, a técnica de corrida iria interligar-se

à corrida de velocidade (novo conteúdo) que, por sua vez, se ligaria à

corrida de estafetas, onde se enquadram as técnicas de transmissão.

Segundo o indicado por Rosado e Mesquita (2011b), realizar uma reflexão

da aula anterior ajuda os alunos a estabelecerem uma ligação entre o que

se aprendeu e o que se vai aprender” (Reflexão do dia 10/01/2017).

A decisão de me focar neste modelo justifica-se pelo desconhecimento

dos alunos, que era de tal forma elevado que, na minha opinião, seria muito difícil

aprenderem de forma minimamente autónoma. O facto de utilizar este modelo

levou a uma participação dos alunos ativa e, na minha opinião, a uma

aprendizagem significativa que se refletiu numa melhoria de performance no

decorrer das aulas dedicadas a este conjunto de matérias. Tal como referem

Graça e Mesquita (2011b, p. 51), “…embora o termo Instrução Direta sugestione

alguma passividade, a eficácia deste modelo está associada à participação ativa,

empenhada e responsabilizada dos alunos.”.

É de salientar que as aulas tiveram exercícios organizados por segmentos

temporais. No caso da ginástica de aparelhos, os alunos exercitaram cada

estação num determinado período de tempo. No caso do atletismo, mais

propriamente na técnica de corrida e na natação, os exercícios eram realizados

por vagas sendo que os alunos de cada vaga realizavam-nos ao mesmo tempo.

De referir que a condução destas aulas estava centrada em mim, pelo que

indicava explicitamente todos os comportamentos que pretendia que os alunos

realizassem em todos os exercícios.

Com o avançar das aulas de atletismo, ginástica e natação, e após uma

resposta positiva dos alunos às exigências da aula e a uma melhor compreensão

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dos procedimentos, fui, gradualmente, atribuindo mais autonomia aos alunos.

Deixei de monitorar as tarefas de forma tão sistemática e promovi uma avaliação

cooperativa entre alunos sobre a sua própria prestação em função das

componentes críticas indicadas nas aulas anteriores, reforçadas na própria aula

e indicadas nos skill cards, no caso do atletismo.

No término deste ano letivo, considero que a utilização deste modelo é

benéfica quando os alunos apresentam pouco ou nenhum conhecimento relativo

à matéria de ensino. Assim, torna-se importante dotar os alunos de alguns

conhecimentos para que estes, a partir daí, possam partir para a descoberta.

Este método também se revela vantajoso no ensino de conteúdos

decomponíveis, isto é, que são passíveis de serem subdivididos e exercitados

em partes/movimentos mais simples e menos complexas, realizados num

contexto fechado, e com uma abordagem passo a passo numa lógica de

progressão. Penso ainda que este modelo traz vantagens no que respeita ao

controlo da turma, uma vez que dá pouco espaço aos alunos de adotarem

comportamentos de indisciplina. Desta forma, numa turma constituída por alunos

com muitos comportamentos de indisciplina faz sentido utilizar este modelo.

Por outro lado, quando os alunos já estão dotados de conhecimentos que

os permitem explorar a matéria de ensino e quando estes apresentam algumas

competências para trabalhar autonomamente, este modelo passa a ser menos

vantajoso na medida em que, de certa forma, inibe os alunos de construírem o

seu próprio conhecimento e de desenvolverem competências como a autonomia.

4.3.4.2. Modelo Desenvolvimental

O MD de Rink (1996) assenta na conceção de que um bom

desenvolvimento do conteúdo pode melhorar efetivamente a aprendizagem e

que não é possível aprender tudo de uma vez sob pena de não se aprender

nada. O modelo subentende ainda que a prática, por si só, não proporciona

aprendizagens consistentes e duradouras (Mesquita & Graça, 2011b). Nesse

sentido, a matéria de ensino exige um tratamento didático materializado na

complexidade e dificuldade das tarefas propostas que é criada em função da

capacidade de resposta dos praticantes. Para Famose (1990), o ajustamento da

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dificuldade pressupõe a consideração das particularidades de cada sujeito, pelo

que o ajustamento das condições de prática é balizado mais pela modificação

das características das tarefas do que pelos comportamentos manifestados.

Outra noção importante é que a seleção ou criação das tarefas a realizar

deve ir ao encontro das necessidades de aprendizagem dos alunos e deve ter

em conta um conjunto de ações com exigência crescente, mas passíveis de

serem concretizadas (Mesquita & Graça, 2011b). De facto, segundo Bento

(1987), para se retirar bons níveis de desempenho dos alunos é necessário

estabelecer uma relação entra a zona de desenvolvimento atual e a zona de

desenvolvimento próximo isto é, organizar tarefas específicas em que os

objetivos sejam difíceis, mas atingíveis.

Segundo Mesquita & Graça (2011b), com este modelo o professor pode

facilitar a aprendizagem se estruturar e sequenciar os conteúdos de uma forma

criteriosa e lógica (progressão), visando o aperfeiçoamento e consolidação na

execução dos conteúdos (refinamento) e proporcionando a aplicação dos

conteúdos em situações inabituais ou de competição (aplicação).

Para Famose (1990), o conceito de progressão, no que respeita às

atividades desportivas, representam um conjunto de tarefas que vão se

aproximando paulatinamente da tarefa final. Relativamente a esse conceito,

Mesquita & Graça (2011b, p. 53) indicam que “a manipulação da complexidade

das tarefas é sustentada pela estruturação de progressões, devendo estas

obedecer à organização de conteúdos, baseada na passagem do simples para

o complexo, do fácil para o difícil e do conhecido para o desconhecido”. Os

conteúdos são organizados através de ligações constantes entre o que foi

adquirido e o que deverá ser adquirido numa perspetiva de evolução crescente

(Bento, 1987).

Face ao exposto, e para Mesquita & Graça (2011b), importa construir uma

sequência lógica de relações entre conteúdos, objetivos e níveis de

desempenho. Segundo estes autores, esta organização é construída, numa

perspetiva simplista de articulação vertical, onde se vão adicionando elementos

até atingir o produto final, e de articulação horizontal, onde se estabelecem

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variantes com níveis de dificuldade semelhante. Estas duas articulações são

utilizadas geralmente de forma intercalar até se atingir o objetivo final.

Quanto ao conceito de refinamento, vem no sentido aumentar a qualidade

da execução das ações motoras (Mesquita & Graça, 2011b) e é definido por Rink

(1993) como um movimento fulcral na estruturação e condução do ensino

centrando-se na definição e uso estratégicos dos elementos de execução.

Mesquita e Graça (2011b) indicam que o refinamento é o afinamento das

componentes críticas associadas a uma tarefa tanto sob o ponto de vista motor,

como sob o ponto de vista percetivo e decisional. A sua operacionalização

baseia-se na identificação de palavras-chave e no recurso ao feedback. Já a sua

aplicação consiste em realizar tarefas de competição e de autoavaliação

criteriosamente selecionadas, permitindo, assim, a contextualização dos

conteúdos de aprendizagem (Mesquita & Graça, 2011b).

No decurso do ano letivo, utilizei este modelo no ensino de matérias,

conteúdos e habilidades de natureza fechada, nomeadamente no atletismo,

natação e ginástica de aparelhos.

“Também utilizei, na conjugação das tarefas a realizar, o Modelo

Desenvolvimental de Tarefas, nomeadamente um conjunto de tarefas em

progressão que me permitiram chegar ao produto final (técnica de

corrida). (Reflexão do dia 03/01/2017).

Estas matérias são compostas por movimentos cíclicos e/ou sujeitas a

condições pontuais e estereotipadas, sendo que o que prevalece é a dimensão

mecânica de execução. Deste modo, pode deduzir-se que a influência da tomada

de decisão é substancialmente baixa, sobretudo se compararmos com as

matérias mais abertas. Desta forma, uma sequência de aprendizagem da base

para o topo, que é utilizada neste modelo (Mesquita & Graça, 2011b), faz mais

sentido em matérias com estímulos e comportamentos previamente conhecidos.

No caso do judo, nas situações em que percebia que os alunos não

conseguiam aplicar as técnicas em situação de “randori”, recorri a este modelo.

De facto, em muitos momentos constatei que os alunos não conseguiam adquirir

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as competências essenciais, em termos mecânicos do movimento, para realizar

adequadamente o conteúdo, pelo que pensei ser pertinente iniciar uma

aprendizagem da base para o topo e, com isso, utilizar os fundamentos deste

modelo.

“No que concerne aos exercícios penso que adequei-os corretamente aos

alunos. Utilizei progressões pedagógicas para a técnica o-soto-gari pois

verifiquei que os alunos não estavam a conseguir realizá-la corretamente

partindo da posição de pé” (Reflexão do dia 18/11/2016)

O recurso a este modelo é, na minha opinião e à semelhança do MID,

uma ótima estratégia para ensinar conteúdos decomponíveis e de natureza

fechada, numa abordagem passo a passo. Por outro lado, em matérias com

conteúdos de natureza mais aberta, como os jogos desportivos coletivos, penso

que não é de todo adequado utilizá-lo dada a aleatoriedade do jogo. No jogo é

muito difícil antever o tempo e o espaço onde os acontecimentos surgem pelo

que o ensino dos conteúdos tem de ser feita, na minha opinião, com o fator

imprevisibilidade presente.

4.3.4.3. Modelo de Educação Desportiva

De acordo com Siedentop (1994), o Modelo de Educação Desportiva

(MED) é um modelo instrucional que no contexto da EF é criado para

proporcionar aos alunos experiências desportivas ricas e autênticas, indo ao

encontro da necessidade de conferir um cunho afetivo e social às aprendizagens.

Este é um modelo curricular que oferece um plano compreensivo e coerente para

o ensino do desporto na escola, preservando e reavivando o seu potencial

educativo. Inclui três eixos fundamentais que se revêm nos objetivos educativos

da EF sendo eles, o da competência desportiva, o da literacia desportiva e o

entusiasmo pelo desporto, na senda do propósito central de formar pessoas

desportivamente cultas, competentes e entusiastas.

O autor supracitado integrou, neste modelo, seis características do

desporto no sentido de garantir a autenticidade das experiências desportivas,

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sendo elas a época desportiva, a filiação, a competição formal, o registo

estatístico, a festividade e os eventos culminantes.

As épocas desportivas substituem as unidades didáticas e foram criadas

com o argumento que quanto maior for a diversidade das atividades oferecidas,

mais bem informado estará o aluno, maior é a probabilidade de ir ao encontro

das suas preferências pessoais, logo maior é a probabilidade de este incluir,

voluntariamente, uma atividade desportiva na sua vida diária.

No contexto da EF, face à habitual curta duração da generalidade das

unidades didáticas, para não falar em todas, é muito difícil a construção de uma

época desportiva e, consequentemente, não permite que os alunos tenham

tempo suficiente para adquirir aprendizagens significativas específicas de uma

matéria.

“Apesar de todas estas boas características do MED, que comprovei,

penso que ao nível da aprendizagem dos conteúdos específicos das

matérias deixa um pouco a desejar. Penso que o facto de as unidades

didáticas serem demasiado pequenas e de o modelo requerer que os

alunos vão à descoberta daquilo que devem aprender, dificulta o

processo. Penso que se as unidades didáticas fossem maiores a

aprendizagem poderia ocorrer de forma mais significativa. O facto de

existirem muitas matérias a ensinar em pouco tempo torna difícil atribuir

muito tempo para uma das matérias. (Reflexão das aulas 70 e 71).

Outra característica marcante do modelo é a filiação. Para Hastie (1998),

a preocupação em diminuir os fatores de exclusão, lutando por harmonizar a

competição com a inclusão, por equilibrar a oportunidade de participação e por

evitar que esta se reduza ao desempenho de papéis menores por parte dos

alunos menos dotados, constitui uma característica que ilustra a particularidade

do MED. Este facto tem ainda mais relevância porque os alunos menos aptos

sentem que têm menos atenção por parte do professor e são mais criticados

pelos colegas (Portman, 1995). Assim, a formação de equipas heterogéneas

serve para desenvolver relações de cooperação e entreajuda na aprendizagem

a partir da promoção da integração e, consequentemente, do sentido de pertença

a um grupo.

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“Desde o início da época desportiva, unidade didática, que sinto uma

melhoria na inclusão de todos os alunos nas respetivas equipas. Todos

os alunos, progressivamente, foram entendendo que qualquer elemento

da sua equipa era importante e que, portanto, o sucesso de um seria o

sucesso de todos, independentemente do nível de habilidade de cada um”

(Reflexão do dia 21/03/2017).

Para as matérias de futebol e andebol, a competição formal, quadro

competitivo, foi projetado logo no início da época, sendo que, para além dos

resultados das competições, são atribuídas pontuações às equipas que tenham

fair-play, realizem os registos estatísticos individuais e de equipa, adotem

comportamentos promotores de um bom ambiente de aprendizagem e outros

fatores que o professor e os alunos considerarem relevantes. No que respeita a

esta característica estrutural do MED, considero que foi a que tive mais

dificuldades em incrementar. Os meus alunos, nas primeiras aulas, tiveram

dificuldade em preencher as fichas de estatísticas e em distribuir funções pelos

elementos das suas equipas. Penso que foi atribuída demasiada liberdade aos

alunos levando a que se sentissem um pouco perdidos. Contudo, após começar

a utilizar mecanismos de controlo de autonomia, o problema foi resolvido.

Na última aula foi realizado um evento culminante onde a festividade e a

aprendizagem foram as “palavras de ordem”. Nos momentos que antecederam

a aula estava cético relativamente à postura dos alunos nesta aula, mas o facto

foi que estes surpreenderam e aderiram efusivamente à aula demonstrando uma

grande evolução na capacidade de se organizar, de incutir festividade na aula e

de ajudarem-se mutuamente, mesmo alunos de equipas opostas.

Para Mesquita & Graça (2011b), a elevada autonomia conferida aos

alunos com a utilização deste modelo exige boas competências de organização

e gestão. O conjunto de excertos das minhas reflexões que se apresenta de

seguida ilustra a evolução que fui sentindo ao longo desta época desportiva

relativamente à capacidade de se organizarem e gerirem.

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Numa fase inicial percebi que os alunos eram demasiado desorganizados

e que tinham muitas dificuldades em, sozinhos, encontrarem soluções para os

desafios que surgiam.

“Quanto aos conceitos psicossociais penso que acertei exatamente

naquilo que os alunos necessitam de desenvolver, a autonomia. Tenho a

perceção de que estes alunos sempre foram habituados com modelos que

não atribuem uma importância tão grande à autonomia como o Modelo da

Educação Desportiva. Penso que é um ótima oportunidade para

desenvolver esse valor nos meus alunos” (Reflexão do dia 21/10/2016).

Na aula seguinte, verifiquei uma ligeira melhoria na organização e percebi

que o facto de ser a segunda aula com as mesmas características ajudou os

alunos a organizarem-se, pois a informação transmitida e as tarefas a serem

realizadas eram exatamente as mesmas.

“…penso que os alunos continuam a demonstrar dificuldades em ser

autónomos no entanto verifico que estão empenhados em melhorar. Este

modelo é muito favorável ao desenvolvimento da autonomia pelo que

penso que estamos no caminho certo” (Reflexão do dia 28/10/2016).

Nas aulas seguintes reparei que os capitães de duas das três equipas

existentes já estavam a demonstrar comprometimento face à disciplina de EF.

Na aula de cidadania, no dia anterior, tinha constatado que os alunos

relembravam sistematicamente os elementos da sua equipa e os outros colegas

para chegarem atempadamente à aula e com a documentação necessária à sua

realização.

Duas das alunas “têm vindo a demonstrar comprometimento face à

disciplina, pois não só se fazem acompanhar constantemente de todo o

material necessário para a aula, como também relembram os seus

colegas, mesmo os das equipas adversárias, para o trazerem…”

(Reflexão do dia 08/11/2016).

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A partir deste momento fui observando algumas melhorias nos alunos, ao

nível da capacidade de utilizarem a autonomia e de se ajudarem uns aos outros,

embora numa das aulas os alunos não o tenham demonstrado, talvez porque

nesse dia a sua pré-disposição para realizar a aula não fosse muita.

“Concluindo, penso que esta aula, no geral, decorreu bem e que consegui

facilmente atingir o meu objetivo. Os alunos estão a melhorar a sua

capacidade de trabalhar em cooperação e já apresentam mais facilidade

em utilizar a autonomia que lhes é dada” (Reflexão do dia 15/11/2016).

Após adotar mecanismos de controlo da autonomia, como entregar alguns

exercícios num skill card para os alunos escolherem os conteúdos que queriam

exercitar em função daquilo que necessitavam, e utilizar um estilo mais diretivo

verifiquei que a aula decorria com mais fluidez e que os alunos realizavam as

tarefas de forma mais segura, isto é, como mais certeza daquilo que faziam.

“Penso que o modelo de ensino que estou a tentar implementar desde o

início da unidade didática, o Modelo de Educação Desportiva, está a

ganhar corpo. Este facto deve-se sobretudo, na minha opinião, à mudança

da forma como estou a interagir com os meus alunos. O facto de ser mais

diretivo em alguns momentos da aula ajuda-os a orientar-se. Às vezes,

pequenas dicas podem fazer toda a diferença… Comparando esta aula

com as aulas anteriores verifico que os alunos já têm mais capacidade de

utilizar a autonomia que lhes é dada. Por iniciativa própria já ajudam,

corrigem e ensinam os colegas sejam eles companheiros de equipa ou

não” (Reflexão do dia 10/03/2016).

Na aula seguinte comecei a observar que os alunos já estavam a sentir-

se como parte de um grupo, a sua equipa, e já conseguiam realizar as tarefas

administrativas com maior eficiência.

“Nesta aula foi notória uma evolução do Modelo de Educação Desportiva.

Apesar de parte dos alunos demonstrarem muitas dificuldades na

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execução dos conteúdos técnicos e táticos, a verdade é que senti que a

filiação, a realização dos registos estatísticos e a festividade já tiveram

mais visibilidade” (Reflexão do dia 21/03/2017).

Na última aula desta unidade didática pude finalmente observar as

características do modelo. Foi uma aula de avaliação sumativa onde os alunos

sabiam que estavam a ser avaliados. Este facto pode por um lado ter

influenciado o comportamento dos alunos. Não obstante, penso que provaram

que conseguiam aplicar todas as características do modelo sem a minha ajuda.

“No entanto, com o tempo, os alunos começaram a compreender melhor

o processo de ensino que caracteriza o MED e foram aderindo

progressivamente. Nesta última aula, surpreendentemente, os alunos

conseguiram organizar-se sem a minha ajuda e contribuíram de forma

autónoma para que todas as características do MED estivessem

presentes” (Reflexão do dia 27/03/2017).

Por fim, e refletindo sobre a minha prestação, penso que o facto de ter

atribuído uma autonomia exagerada aos meus alunos e ter lecionado mais do

que uma matéria, utilizando este modelo, levou a que muito tempo de aula se

perdesse em questões organizativas entre grupos, o que prejudicou a

aprendizagem no que respeita ao domínio motor. Apesar de, numa fase mais

adiantada da época desportiva, ter utilizado mecanismo de controlo da

autonomia penso que não fui a tempo de contribuir significativamente para a

aprendizagem dos meus alunos, em termos da execução dos conteúdos

técnicos específicos.

Face ao exposto concluo que o MED promove a formação de alunos

autónomos, responsáveis, cultos e comprometidos, no entanto é necessário

saber utilizá-lo. Penso que o facto ter utilizado este modelo com duas matérias

e sem ter nenhuma experiência não foi uma boa opção. Por outro lado, penso

que a adoção de mecanismos de controlo de autonomia é fundamental para que

os alunos e eu, enquanto professor, possamos controlar o trabalho que está a

ser realizado e verificar se os objetivos estão a ser atingidos.

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“No cômputo geral penso que os alunos melhoraram bastante os aspetos

associados à cultura desportiva e aos conceitos psicossociais no entanto,

é necessário trabalhar mais os aspetos associados às habilidades

motoras pois estes ainda não apresentaram melhorias significativas”

(Reflexão do dia 17/03/2017).

“Após o término destas épocas desportivas penso que, numa próxima

oportunidade, devo melhorar o seguinte:1) Aplicar apenas uma matéria. A

aprendizagem de duas matérias aliada ao facto de os alunos iniciarem a

época desportiva sem saber utilizar a excessiva autonomia que lhes foi

dada tornou as primeiras aulas um pouco confusas devido ao excesso de

informação a reter; 2) Logo na primeira aula, adotar mecanismos de

controlo da autonomia por exemplo, entregar uma folha, a cada equipa,

com exercícios padrão para exercitar alguns conteúdos sendo que cada

equipa seleciona o que entender; 3) Entregar uma ficha que as regras

básicas dos jogos destinados à matéria lecionada;” (Reflexão do dia

27/03/2017).

4.3.4.4. Modelo de Competências para os Jogos de Invasão

O Modelo de Competências para os Jogos de Invasão (MCJI) é

influenciado pelas conceções dos modelos de educação desportiva, descrito no

ponto anterior e o modelo de ensino dos jogos para a sua compreensão. Este,

segundo Graça e Mesquita (2011a), foi concebido para que os alunos aprendam

não só a participar com sucesso nas formas modificadas dos jogos, como

também a desempenhar outros papéis de organização da prática desportiva.

Segundo os autores supramencionados, este modelo apresenta dois grandes

grupos de competências, sendo eles a competência como jogador em jogos de

invasão (Modelo de ensino dos jogos para a sua compreensão) e a competência

em realizar funções de apoio e coordenação (MED).

O desenvolvimento da primeira competência assenta, segundo Mesquita

e Graça (2011a), em três tipos de tarefas: 1) As formas básicas de jogo, que são

versões modificadas do jogo formal, mas com o mesmo tipo de estrutura global,

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que vão ao encontro do nível de jogo dos alunos permitindo que estes exercitem

as suas competências motoras, cognitivas e sociais. A partir delas podem-se

determinar necessidades de aprendizagem ou aplicar e consolidar essa mesma

aprendizagem; 2) As formas parciais de jogo, que são utilizadas para simplificar

determinadas partes jogo, sem o descontextualizar e descaracterizar,

preservando a relação cooperação/oposição e o seu objetivo. De acordo com

Mesquita e Graça (2011a), as formas parciais de jogo facilitam o jogo na medida

em que permitem que os alunos se concentrem nos problemas e exigências de

execução de uma das partes das formas básicas de jogo atribuindo mais

oportunidades de apreciar, confrontar e mobilizar capacidades para ultrapassar

os desafios; 3) As tarefas baseadas no jogo, que visam o desenvolvimento dos

meios necessários para responder aos problemas criados no jogo. Estas

restringem as possibilidades de escolha de soluções ou as tornam óbvias, de

maneira a enfatizar os mecanismos de execução num contexto bastante

simplificado. Estas tarefas foram utilizadas nas matérias de basquetebol,

andebol e futebol e foram realizadas com o objetivo de melhorar a capacidade

dos alunos de compreenderem o jogo, na sua imprevisibilidade, e desta forma

poderem tomar decisões adequadas. Tal como referem Garganta et al. (2013, p.

202), pelas suas características o jogo requer uma “elevada versatilidade

percetiva, decisional e motora reclamando o recurso de habilidades de natureza

aberta, o que significa que a execução das mesmas, mais do que estar

dependente do executante, quando considerado isoladamente, abre-se para

tempos e espaços em que o jogo decorre”

“Como em todo o jogo, o que interessa é conseguir jogar. Nesse sentido,

mais do que estar atento à eficiência e eficácia de todas as determinantes

técnicas associadas aos conteúdos destas modalidades, foquei-me na

tomada de decisão dos alunos e na sua capacidade de manter a fluidez

do jogo bem como um nível de intensidade elevado” (Reflexão do dia

06/01/2017).

Numa fase inicial, os alunos tiveram algumas dificuldades em selecionar

os exercícios que deveriam realizar porque não compreendiam bem como

deveriam exercitar os conteúdos. A sua tendência era realizar exercícios

analíticos. Após a minha intervenção, junto de cada grupo, os alunos começaram

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a entender que poderiam e deveriam a partir do jogo ir reduzindo o grau de

complexidade e dificuldade do mesmo até perceberem que o exercício estava a

ser difícil mas atingível.

A segunda competência visa desenvolver a capacidade de organização

dos alunos e uma prática responsável e autónoma, bem como competências de

autorregulação da sua aprendizagem. A utilização destas competências exige,

segundo Graça e Mesquita (2011a), a aquisição de competências e habilidades

necessárias às tomadas de decisão (capitão de equipa, responsabilidade pelo

material utilizado, pelo espaço e pelas condições de segurança) e à realização

de funções de apoio e coordenação, quer como jogador quer como não jogador

(observador, anotador, treinador). Nesse sentido, as aulas foram organizadas de

modo a que duas das três equipas jogassem e a restante realizasse tarefas

administrativas, tais como arbitrar, realizar o registo de estatística, fazer de

árbitro assistente e treinador. Ao fim de algum tempo as equipas trocavam de

funções.

“Existiram 2 árbitros em cada jogo. Um arbitrava em metade de um campo

e outro arbitrava na outra metade. Cada árbitro tinha um “assistente” que

o ajudava na marcação das faltas e na realização das sinaléticas. Os

restantes elementos ajudavam os alunos que realizavam as estatísticas

por meio de observação. Penso que essa estratégia foi bem pensada

porque permitiu aos alunos desenvolverem conhecimentos associados à

cultura desportiva (sinaléticas, principais faltas) e aos conceitos

psicossociais (autonomia, cooperação), a desenvolverem capacidades de

observação (fundamentais na aprendizagem) e a integrarem-se na aula

mesmo sem realizar exercício físico” (reflexão do dia 28/10/2016).

Durante a aplicação deste modelo fui tomando a consciência que atribui

demasiada autonomia aos alunos. Este facto levou a que as primeiras aulas

fossem um pouco confusas e a que os alunos sentiram-se um pouco perdidos.

Com o tempo fui retirando autonomia até perceber onde existia um equilíbrio

entre a minha intervenção e a capacidade dos alunos serem autónomos.

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“Nesse sentido, a minha presença e intervenção junto das equipas e dos

capitães será constante sendo reduzida progressivamente à medida que

vou pensando ser adequado” (Reflexão do dia 13/01/2017).

“Concluindo, penso que iniciei as épocas desportivas atribuindo

demasiada autonomia aos alunos, mais do que aquela que conseguiam

utilizar, o que levou a alguma confusão nas primeiras aulas. (Reflexão do

dia 27/03/2017).

Para os autores supramencionados, este modelo também é caracterizado

pela formação de grupos heterogéneos e equilibrados. A formação destes

grupos é feita com o objetivo de promover uma aprendizagem cooperativa.

“A minha instrução foi emitida apenas ao capitão e os meus feedbacks

foram emitidos para a equipa. Penso que esta é a forma correta de

organizar a transmissão de informação pois assim dou uma oportunidade

à equipa e ao seu capitão de dialogarem e chegarem a um consenso

promovendo assim o trabalho em equipa e uma aprendizagem

cooperativa” (Reflexão do dia 08/11/2016).

Este modelo apresenta, como já evidenciado, algumas parecenças com o

MED e, consequentemente, as dificuldades sentidas foram aquelas já

evidenciadas no ponto anterior. Acresce ainda o facto de os alunos terem

dificuldades em compreender as vantagens de aprender a jogar a partir do jogo

e não a partir de exercícios analíticos. Contudo, após a minha intervenção,

realizada maioritariamente a partir do questionamento, os alunos começaram a

entender como deveriam aprender a jogar.

4.3.4.5. Modelo de Abordagem Progressiva ao Jogo

De acordo com Mesquita et. al. (2013), o Modelo de Abordagem

Progressiva ao Jogo (MAPJ) constituiu um dos temas eleitos tanto na

investigação como na docência. Segundo estes autores, a sua criação e

aperfeiçoamento derivou da necessidade de “criar um modelo que fornecesse

uma estrutura global e coerente, que clarificasse os objetivos de aprendizagem

em torno de grandes propósitos, que perspetivasse a natureza das tarefas de

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aprendizagem, que equacionasse os papéis do treinador/professor e dos

praticantes, que acautelasse a coexistência de práticas de aprendizagem

percussoras da aquisição do sentido e do valor do Desporto, da partilha de

experiências de aprendizagens autênticas e entusiásticas e da equidade de

oportunidades” (p. 75).

Este modelo acolhe, então, as ideias do modelo de educação desportiva

e do modelo do ensino do jogo para a sua compreensão, no entanto apresenta

algumas diferenças relativamente ao modelo de competências para os jogos de

invasão, descrito anteriormente.

Para Mesquita et al. (2013), a instabilidade e descontinuidade na relação

com bola, por esta não poder ser tocada ou agarrada, aliada ao facto de todo o

terreno de jogo se constituir como alvo, impõe a necessidade de serem tomadas

decisões num limite de tempo muito reduzido. Ao mesmo tempo, o elevado nível

de exigência na dimensão técnica, criado pela regulamentação e pela elevada

velocidade de processamento de informação derivada da brevidade dos

contactos com a bola, reclama ao jogador/aluno grande capacidade adaptativa.

Assim, a melhoria da performance é mais influenciada pela execução técnica do

que nos jogos de invasão, no entanto não é retirada a extrema importância de

se compreender o jogo e de se fazer da aprendizagem um processo de procura

de soluções. Desta feita, este modelo privilegia uma aprendizagem holística

referenciada ao jogo.

Segundo os autores supracitados, neste modelo o jogo, desde a sua

versão mais simples (1x1) até à sua versão mais complexa (6x6), constitui uma

linha de atuação no processo ensino-aprendizagem, a partir da qual se

estruturam as atividades, trata-se o conteúdo e manipulam-se os

constrangimentos. A estrutura curricular deste modelo baseia-se na passagem

por quatro etapas de aprendizagem, com adaptações regulamentares, sendo

que, na primeira pretende-se que o aluno seja capaz de enviar a bola por cima

da rede incutindo fluidez ao jogo, na segunda pretende-se que o aluno seja

capaz de se deslocar para receber a bola e reenviá-la de seguida, conferindo um

maior dinamismo ao jogo, na terceira pretende-se aumentar a capacidade

adaptativa, a partir da qual é melhorada a organização ofensiva e na quarta

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pretende-se que o aluno consiga atuar numa organização defensiva em função

do ataque adversário, conferindo mais intensidade ao jogo.

O conjunto de tarefas que se ajusta a este modelo englobam as tarefas

de aquisição, as tarefas de estruturação e as tarefas de adaptação, todas elas

realizadas em função do nível dos alunos.

As tarefas de aquisição são realizadas em condições de interferência

contextual baixa e consistem nas respostas às necessidades de um domínio

técnico base para poder incutir fluidez no jogo, pois a capacidade de jogar é

limitada e enviesada por constrangimentos de ordem técnica.

As tarefas de estruturação são realizadas em condições de interferência

contextual moderada e promovem o comportamento tático e o uso das

habilidades técnicas em função dos acontecimentos do jogo, quer no que

respeita à sua lógica (tarefas de encadeamento), quer no que respeita ao seu

fluxo (jogo cooperativo).

As tarefas de adaptação são realizadas em condições de interferência

contextual alta e integram o jogo em oposição desenvolvendo a antecipação, a

imprevisibilidade e a inteligência tática. Nestas tarefas pretendes a aquisição dos

princípios táticos elementares e a aplicação das ações sem bola.

Em qualquer uma das tarefas podem ser realizadas modificações por

exagero, que consistem em dificultar as tarefas para promover a melhoria da

performance, ou modificações por representação, que consistem em facilitar as

tarefas para tornar a prática do jogo acessível.

A matéria de voleibol e de badmínton foram as matérias em que utilizei

este modelo na sua forma quase pura. Foram distribuídos skill cards aos alunos

com várias atividades para a complexidade do jogo 2x2 (a seleção desta

complexidade do jogo foi feita após a avaliação diagnóstico). Após a apreciação

dos skill cards, os alunos selecionaram as tarefas que deveriam exercitar para

melhorar o seu nível de jogo. No final de cada aula, eram realizadas competições

interequipas, sendo que após estas competições os alunos deveriam realizar

uma reflexão autocrítica com o intuito de perceber o que precisariam de melhorar

para poderem jogar melhor na aula seguinte. Após essa reflexão os alunos

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selecionavam um dos exercícios dos skill cards ou recorriam à minha ajuda no

sentido de lhes sugerir outros exercícios.

Este modelo apresenta a vantagem de utilizar exercícios progressivos,

com modificações por representação (manipulação da complexidade do jogo) e

por exagero (enfatizar o que se revela essencial), para ensinar a jogar. O facto

de se ir aumentando e diminuindo a dificuldade do jogo, como por exemplo

diminuição ou aumento do espaço, para levar à melhoria da performance do jogo

também se evidenciou como uma mais-valia do modelo.

4.3.5. Marcas das dimensões de atuação pedagógica presentes nos

modelos de ensino

Para Siedentop (1998), a eficácia pode ser medida através do empenho

produtivo dos alunos que, por sua vez, é medido no decorrer do processo de

aquisição de aprendizagens ou apenas a partir do resultado final apresentado

após esse processo. Na fase de processo de aquisição de aprendizagens, o

autor indica quatro dimensões de atuação pedagógica do professor sendo elas

a instrução, a gestão, o clima e a disciplina. Todas estas dimensões estiveram

presentes ao longo das aulas independentemente dos modelos de ensino

aplicados.

4.3.5.1.Instrução

Esta dimensão de atuação pedagógica do professor foi utilizada em todas

as aulas independente do modelo utilizado. Contudo, a estratégia utilizada para

instruir os alunos foi diferente no MID e MD comparativamente ao MED, ao MCJI

e ao MAPJ.

Durante as sessões onde foram aplicados o MID e o MD, o processo

instrucional a que recorri baseou-se no veiculado por Rosado e Mesquita (2011),

isto é, na apresentação da matéria previamente aprendida, na apresentação da

nova habilidade ou conteúdo, na monitorização elevada da atividade motora dos

alunos e na correção sistemática da prestação dos alunos em função dos

objetivos traçados. Nestas aulas os alunos limitaram-se a realizar as tarefas por

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mim propostas e a escutar/observar as minhas informações que, por sua vez,

foram transmitidas a partir de preleções, demonstrações, questionamentos e

feedback’s.

As preleções foram realizadas cumprido os cinco critérios de exposição

indicados por Rosado e Mesquita (2011) que são: 1) Emitir apenas a informação

relevante; 2) A informação deve ser emitida de forma clara e fluida para que os

ouvintes a possam entender facilmente; 3) A sua duração deve ser prevista no

planeamento da sessão devendo realizar-se nos momentos antes da atividade,

nos momentos de repouso e no final da sessão; 4) O professor deve adotar um

posicionamento espacial de modo a que os alunos o possam ver e ouvir

adequadamente; 5) Devem-se combinar sinais (gestos) informativos;

Relativamente ao primeiro critério – emitir a informação relevante - emiti,

sempre que pude, a menor quantidade de informação possível. Porém, existiram

alguns momentos que que verificava que os alunos estavam a ter dificuldades

em compreender a informação que transmitia, principalmente nas primeiras

aulas das unidades didáticas, nas quais a quantidade de informação que tinha

para transmitir era maior, conforme está patente nas seguintes reflexões:

“Como me apercebi que estava a emitir demasiada informação e que tinha

pouco tempo de aula disponível, optei por não introduzir alguns conteúdos

que tinha planeado” (Reflexão dia 07/10/2016).

“Relativamente à instrução alterei a minha atuação relativamente às

outras aulas. Nos momentos em que percebi que os alunos estavam

fisicamente exaustos decidi parar a atividade e explicar as componentes

críticas associadas às técnicas de projeção e de imobilização. Nessa

explicação tentei ser o mais conciso possível e indicar apenas a

informação que considerei relevante, pois, assim, os alunos tiveram a

possibilidade de reterem melhor a informação” (Reflexão do dia

06/12/2016).

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No que respeita ao segundo critério – instrução clara e fluida - penso que,

de uma forma geral, a minha instrução foi clara, concisa e direta levando a que

a população alvo, os meus alunos, a compreendessem.

“Quanto à instrução, penso que fui claro, conciso e direto na informação

que transmiti, isto porque os alunos, após a instrução, não fizeram

perguntas e realizaram os exercícios da forma de acordo com o solicitado”

(Reflexão do dia 14/10/2016).

Quanto ao terceiro critério - planear o tempo de instrução - em todos os

meus planos de aula estão bem definidos os tempos que pretendia utilizar para

a instrução, no entanto durante as aulas existem sempre acontecimentos que

não são fáceis de prever pelo que a instrução, embora fosse planeada, sofreu

sempre alterações. Em muitos momentos utilizei os tempos de repouso ou de

recuperação ativa para emitir informação que considerava relevante para a

própria aula ou para aulas posteriores.

“Uma vez criados os problemas de fluidez da aula, optei por atribuir mais

tempo aos exercícios de condição física aproveitando os tempos de

recuperação para esclarecer as dúvidas relativas ao funcionamento da

mesma, para que, em aulas futuras, não houvesse perdas de tempo com

questões organizativas” (Reflexão do dia 21/10/2016).

No que concerne ao quarto critério – adotar um posicionamento espacial

adequado - penso que na maioria das vezes tive em conta o meu posicionamento

espacial e o dos meus alunos. Não obstante esta preocupação, por vezes,

existiram momentos em que alguns alunos adotaram um posicionamento

espacial desajustado. Este foi um dos elementos que ganhei consciência em

resultado do alerta do PC.

“Na parte final da aula, quando estava a realizar uma reflexão final percebi

que um dos alunos estava muito longe, pelo que não estava a ouvir o que

eu dizia. Nesse momento, percebi que teria de repetir toda a informação,

utilizando, assim, mais tempo de aula, desnecessariamente” (Reflexão do

dia 30/09/2016)

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115

“(…) existiram algumas alterações relativamente ao posicionamento dos

alunos nos momentos de instrução muito por “força” do facto de a aula ser

realizada em espaço aberto e num local que apresenta muitas diferenças

comparativamente aos outros, isto é, é muito amplo e as condições para

as trocas de informação não eram favoráveis pois existia muito ruído,

dificultando, assim, a transmissão da informação verbal” (Reflexão do dia

25/11/2016).

No que respeita ao último critério – combinar gestos informativos - não

combinei nenhum gesto específico com os meus alunos durante todo o ano

letivo. O recurso que utilizei para restringir a quantidade de informação fornecida

foram as palavras-chave. Segundo Temprado (citado por Rosado & Mesquita,

2011, p. 96), a utilização de informações apropriadas como as palavras-chave

conduzem o praticante às respostas corretas criando condições para que a

performance permaneça mesmo na ausência dessas informações.

“Quanto à instrução, considero que fui conciso e direto na informação e

que a selecionei bem, utilizando pontos-chave (como empurrar o chão)

para a transmitir. (Reflexão do dia 25/11/2016).

Simultaneamente à preleção fui realizando demonstrações. Os autores

Rink e Werner (1989) indicam que a demonstração é uma estratégia instrucional

que, em parceria com a exposição, assume um papel fundamental para o

sucesso da instrução na medida em que permite que o aluno também obtenha

informação visual daquilo que é suposto reproduzir. Estas direcionaram-se tanto

para o conteúdo específico que estava a abordar como também para a circulação

que se deveria realizar, caso o exercício apresentasse várias tarefas a realizar

em locais diferentes. O recurso a várias formas de demonstração e os resultados

que obtive permitem-me afirmar que esta estratégia foi muito eficaz na

transmissão aos alunos daquilo que pretendia que eles fizessem. É um facto que

Kwak (2005) concluiu, no seu trabalho, que houve uma maior eficácia na

execução de habilidades e na recordação das mesmas quando os praticantes

usufruíam de explicações verbais e demonstrações completas, acompanhadas

de palavras-chave.

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116

“Uma das principais razões a que atribuo o sucesso da minha instrução

foi a utilização informação verbal e visual no momento de explicar os

exercícios. O facto de os alunos, para além de ouvirem, observarem como

se deveriam realizar os exercícios permitiu-lhes absorver um grande

conjunto de informação em pouco tempo...” (Reflexão do dia 30/09/2016).

“No decorrer da exercitação fui observando a prestação dos alunos e,

sempre que necessário, parava o exercício e voltava a explicar e a

demonstrar o que pretendia que estes executassem, reforçando os

aspetos positivos que observava na execução da tarefa” (Reflexão do dia

25/11/2016).

Por vezes, também recorri aos alunos como agentes de ensino para

realizarem a demonstração. Esta estratégia foi importante não só para captar a

atenção do próprio aluno e dos seus colegas, como também para aumentar a

motivação dos alunos em geral.

“Penso, também, que o facto de utilizar vários alunos para demonstrar os

exercícios aumenta a sua motivação para realizar a aula” (Reflexão do dia

07/10/2016).

Outra estratégia utilizada foi a distribuição de alguns skill cards que

continham figuras ilustrativas das tarefas a realizar, bem como as suas

componentes críticas. Estes cartões foram distribuídos aos alunos numa altura

em que pretendia que este adquirissem um pouco mais de autonomia, ou seja,

no momento em que queria deixar de ser muito interventivo.

“No início da aula percebi, através da realização de um questionamento,

que os alunos só sabiam a informação que constava nos skill cards que

foram entregues na aula anterior. Este facto leva-me a concluir que os

alunos se preocuparam em ler o skill card que lhes foi entregue,

demonstrando algum trabalho autónomo da sua parte” (reflexão do dia

21/04/2017).

O questionamento também foi utilizado em todas as aulas

independentemente do modelo utilizado, no entanto a forma e o momento em

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117

que foi utilizado revestiu-se de contornos distintos no MID e no MD

comparativamente ao MED, ao MCJI e ao MAPJ. Para Vacca (2006), a utilização

do questionamento permite, entre outros aspetos, verificar se os alunos

compreenderam a informação transmitida, promover a reflexão, solicitar a

apreciação das execuções e pensamentos, controlar os aspetos de carácter

organizativo e aumentar a frequência de interações entre o professor e o aluno.

Durante as aulas onde foram utilizados o MID e o MD utilizei o

questionamento em muitos momentos, fundamentalmente com o objetivo de

verificar o grau de compreensão dos alunos e, consequentemente, para avaliar

o processo de ensino. O recurso a este método foi feito na procura de seguir o

indicado por Rosado e Mesquita (2011), isto é, após um período de informação,

após a apresentação de matéria nova, após a apresentação de tarefas motoras

e após ou durante uma demonstração.

“Utilizei o questionamento para verificar se os alunos perceberam a

mensagem que pretendia transmitir e, sempre que necessário, voltava a

explicar aquilo que percecionava que eles não tinham percebido”

(Reflexão do dia 25/11/2016).

No caso das aulas onde foram utilizados o MED, o MCJI e o MAPJ, o

questionamento também foi muitas vezes utilizado, mas com o intuito de fazer

os alunos pensarem/refletirem e criticarem os acontecimentos passíveis de

serem realizados, isto é, o meu objetivo foi conduzir os alunos à resposta correta

e não dar-lhes a resposta e verificar se perceberam, como foi feito nas aulas sob

a égide do MID e do MD.

Os feedbacks de natureza prescritiva, de reforço positivo e negativo,

avaliativa e descritiva foram também utilizados em todas as aulas realizadas

durante este ano letivo. Para Rink (2014) o feedback é uma informação relativa

ao desempenho demonstrado por um aluno, isto é, é uma reação do professor à

prestação do aluno que pode ter o objetivo de informar, reforçar e/ou motivar.

Esta ação de reforço é particularmente valorizada quando o seu fim é motivar os

alunos para desempenhos superiores e promover o incremento da atenção, do

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esforço e da persistência (Rosado & Mesquita, 2011). Tendo esta noção,

procurei planear, na medida do possível, e recorrer a esta ferramenta

pedagógica durante das aulas, independentemente do modelo que estivesse a

ser utilizado no momento.

“É ainda de salientar a capacidade que uma das alunas teve em superar

o seu receio de emergir a face na água. Esta é uma aluna que necessita

de ser constantemente encorajada porque tem tendência a desistir logo à

primeira dificuldade” (Reflexão do dia 27/09/2016).

“No decorrer da aula verifiquei que os alunos foram melhorando o seu

rendimento na execução das habilidades motoras. O facto de existirem

feedbacks corretivos e positivos oportunos (emitidos no momento em que

o aluno realizava a tarefa) e de existirem várias repetições e progressões

pedagógicas levou a que essa melhoria fosse uma realidade”. (Reflexão

do dia 03/01/2017).

4.3.5.2. A gestão, a disciplina e o clima das aulas

Para Hastie e Siedentop (1999), o sistema de gestão, o sistema

instrucional e o sistema social são três fatores preponderantes na criação de

ambientes positivos de aprendizagem.

Relativamente à gestão, as aulas onde predominaram o MID e o MD a

gestão foi feita com monitorização elevada do material utilizado, do tempo,

estrutura e circulação em cada exercício, do tempo de repouso (ativo ou passivo)

e do tempo de instrução nas fases inicial e final das aulas.

“O facto de esta aula ter apenas 25 minutos efetivos de prática, isto é,

dos 45 minutos totais, 10 foram destinados ao seu início e término

(equipar e desequipar) e 10 foram destinados ao manuseamento do

material (organizar e arrumar)” (Reflexão do dia 30/09/2016)

“Embora cada estação (total 5 estações) tenha três tarefas: realizar o

conteúdo específico, realizar a ajuda e realizar exercício de condição

física penso que na próxima aula, com a ajuda do capitão e subcapitão,

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119

os problemas associados à circulação dos alunos dentro de cada estação

e entre estações estarão melhor automatizados.” (Reflexão do dia

07/10/2016).

Nas aulas onde predominaram o MED, o MCJI e o MAPJ, a gestão do

tempo de aula foi feita com monitorização elevada apenas do tempo de

exercitação, isto é, os alunos podiam exercitar o que entendessem, face aos

objetivos que propunham, durante um determinado período de tempo,

normalmente durante metade da aula. Após esse tempo eram realizados jogos

formais que duravam o mesmo tempo e que era organizados de modo a que

todas as equipas jogassem umas com as outras.

“Os alunos já apresentam rotinas fortes, o que favorece a rápida transição

entre exercícios aumentando assim o tempo potencial de aprendizagem

e, assim, a própria aprendizagem” (Reflexão do dia 13/01/2017)

Relativamente ao sistema social, de acordo com McGaughtry, Tischler e

Flory (2008), a satisfação pessoal dos professores e dos alunos, a manutenção

da disciplina, o empenhamento nas tarefas e o crescimento individual e do grupo

no domínio sócio-afetivo é muito estimulado pelo ambiente relacional. Esse

sistema pode ser classificado, segundo os autores, em três dimensões, sendo

elas a relação professor-alunos, as relações entre alunos e o ambiente social da

escola.

Na relação professor-alunos, maioritariamente utilizada nas aulas onde

predominavam o MID e o MD, Rosado e Ferreira (2011) defendem que a

otimização do ambiente de aprendizagem deve incorporar “um ambiente

caloroso e vivencial, de consideração e cuidado, numa orientação clara para o

aluno” (p. 190), a partir do qual níveis elevados de participação podem ser

conseguidos. Para estes autores é necessário compreender as variáveis do

ambiente relacional (motivação, ambiente humano e relacional, a estrutura e

coesão de grupos, a gestão de conflitos e emoções, o empenhamento e a

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participação e o desenvolvimento pessoal e social), entre as quais sobressaem

a afetividade.

“Quanto ao clima da aula, penso que foi positivo. O que me leva a pensar

isso é o facto de os ver sempre a sorrir. Também penso que se

empenharam em realizar todos os exercícios. Uma das alunas, na fase

inicial do exercício, não queria realizar os conteúdos da ginástica no solo

mas acabou a aula realizando o rolamento à frente e à retaguarda, com a

minha ajuda, tendo sido aplaudida pelos colegas de turma. Penso que

consegui, pelo menos por um momento, que ela superasse o receio que

tinha em realizar rolamentos” (reflexão do dia 23/09/2016)

A relação entre alunos, que foi maioritariamente promovida nas aulas

onde predominavam o MED, o MCJI e o MAPJ, na senda do veiculado por

Rosado e Ferreira (2011) – o professor deve procurar interações amigáveis,

prestáveis e com baixo nível de conflitualidade, isto é, deve existir uma

comunicação efetiva onde as ideias são partilhadas e aceites por todos os

elementos.

“(…) e uma reunião de grupo com uma das equipas pois esta criou alguns

conflitos entre os seus elementos. Penso que a minha intervenção, que

se baseou em fazer os alunos perceberem que devem negociar objetivos

e formas de os atingir, foi bem aceite.” (Reflexão do dia 13/01/2017).

4.4. A avaliação das aprendizagens

Para Bento (2003), a análise e avaliação, juntamente com o planeamento

e a realização, são as principais tarefas do professor na sala de aula. Rink (2014)

entende a avaliação como um processo de reunião de informação com a

finalidade de realizar apreciações do processo e do produto, entendidos como

elementos interdependentes e complementares. Para além disso, serve para

problematizar a ação pedagógica e não apenas para atribuir um conceito ao

aluno (Betti & Zuliani, 2002). Para Luckesi e para Gimeno, (citados por Betti &

Zuliani, 2002, p. 78), “a avaliação pode ser definida como um julgamento de

valor, que se baseia em dados relevantes para a tomada de decisões”.

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121

De acordo com Betti e Zuliani (2002), a EF, embora apresente

características e dificuldades comuns às restantes disciplinas, apresenta

algumas particularidades específicas, nomeadamente o facto de a avaliação não

ser isolada dos outros processos educativos, ou seja, existe um processo

mediador entre o que se observa do aluno e o que lhe é atribuído, para além dos

processos de avaliação serem pobres em relação às metodologias utilizadas.

Para estes autores, “as conceções de avaliação dependem das condições mais

gerais de metodologia, relação professor-aluno e aprendizagem” (p. 77). Neste

sentido, Lüdke & Mediano (1992), indicam duas tipologias de conceptualizar a

avaliação, a tradicional e a progressista ou construtivista. Na tradicional, o

professor transmite os conhecimentos e o aluno aprende de forma passiva e a

avaliação mede apenas habilidades cognitivas em que não há possibilidade de

reformular o processo. Na progressista ou construtivista, o professor orienta a

aprendizagem, realiza diagnósticos, tendo em conta a capacidade de

aprendizagem do aluno. Para além disso, autoavalia-se e o aluno é um sujeito

crítico que também se autoavalia. Este modo de avaliar tem carácter contínuo e

possibilita a reformulação do processo. É nesta conceção de avaliação

progressista que a EF se situa, sendo processada não apenas a partir do

rendimento intelectual, mas considerando também os aspetos da personalidade,

como as dimensões afetiva, social e corporal (Betti & Zuliani, 2002).

Um aspeto muito importante a ter em conta é que é fundamental o

professor refletir criticamente sobre o que avaliar e para quê avaliar (Betti &

Zuliani, 2002). Para além disso, segundo Gimeno (citado por Betti & Zuliani,

2002, p. 79), o professor tem que ter em consideração a capacidade limitada de

interpretar as informações provenientes do contexto, na procura de perceber que

a informação mais útil é aquela que se consegue controlar e integrar nas

decisões que se toma conscientemente. Nesse sentido, o professor deve

selecionar informação que seja o menos subjetiva possível para, desta forma,

realizar uma avaliação aproximada a outra que outro professor faria se estivesse

no lugar dele.

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122

4.4.1.Indicadores da avaliação patentes no DOG

No que respeita à avaliação diagnóstico, o DOG estabelece um conjunto

de objetivos que se prendem sobretudo com a avaliação do nível de prestação

inicial dos alunos e as suas possibilidades de desenvolvimento nas várias

matérias da EF, nomeadamente identificar alunos “críticos” e matérias

prioritárias, recolher informações que permitam desenhar um plano de turma e

orientar a formação de grupos caso a heterogeneidade assim o permita.

Segundo este documento, “as situações de avaliação diagnóstica devem ser

entendidas (para os alunos) como situações de aprendizagem "normais", pelo

que os alunos devem passar por elas várias vezes ao longo do período de

avaliação diagnóstica. Como se trata de uma avaliação de características

prognósticas, deve ser um processo de ensino/aprendizagem "normal" para que

possam ser também equacionados os diversos ritmos de aprendizagem. Nesse

sentido, além da recolha de informação necessária, o professor deve

acompanhar as situações de aprendizagem emitindo feedbacks, tentando que

os alunos melhorem” (p. 7). Foi neste contexto que realizei um conjunto de

avaliações diagnóstico utilizando algumas vezes uma aula apenas para uma

matéria e em outras ocasiões utilizando uma aula para mais de uma matéria

(duas ou três matérias). Estas avaliações foram realizadas na primeira aula de

cada unidade didática. Em todas as aulas destinadas à avaliação diagnóstico, a

partir de uma lista de verificação, retirei ilações sobre o comportamento geral dos

alunos da turma e registei alguns casos específicos que me permitiram delinear

alguns objetivos transversais em algumas matérias, principalmente no que

respeita à dimensão sócio-afetiva, pois algumas delas apresentavam conteúdos

semelhantes e, portanto, uma aprendizagem transferível.

Na EC, o DOG refere todas as diretrizes que devem ser respeitadas pelos

professores relativamente às avaliações. No que respeita à transformação dos

dados da avaliação em classificação final, o documento prevê a seguinte

distribuição de cotação para os domínios cognitivo-operatório e atitudinal-

comportamental (Tabela 8):

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123

Tabela 8 - Avaliações do 3º ciclo definidas no DOG

Domínios Áreas 3.ºCiclo Total

Domínio cognitivo operatório

Atividades físicas 60%

80% Aptidão física 10%

Conhecimentos 10%

Domínio atitudinal /

comportamental

Participação efetiva 5%

20% Empenhamento 5%

Comportamento 5%

Atividades de crédito (Atividades da escola)

5%

Relativamente às referências para o sucesso veiculadas nos PNEF, no

que respeita às atividades físicas, e adaptado no DOG, a referência para o

sucesso afere-se pelos níveis plasmados no programa (Introdutório, Elementar

ou Avançado) ou nível não introdutório, que o aluno consegue atingir em cada

uma das matérias lecionadas. Assim, considera-se que um aluno se situa no

nível não introdutório se não realiza pelo menos metade dos conteúdos definidos

para o nível introdutório; no nível introdutório quando realiza pelo menos metade

dos conteúdos definidos para este nível; no nível elementar quando realiza pelo

menos metade dos conteúdos definidos para este nível e todos os elementos do

nível introdutório e no nível avançado quando realiza pelo menos metade dos

conteúdos definidos para este nível, bem como todos os elementos dos níveis

anteriores. A transformação dos níveis numa escala classificativa faz-se do

seguinte modo: se numa determinada matéria o aluno se enquadrar no nível não

introdutório tem zero pontos; se for no nível introdutório tem um ponto; se for no

nível elementar tem dois pontos; se for no nível avançado tem três pontos. No

final de cada período contabiliza-se o total de pontos que o aluno acumulou nas

quatro melhores matérias e no final do ano letivo é contabilizado o total de pontos

que o aluno acumulou nas sete melhores matérias. Atendendo a este processo,

a classificação final do período e do ano letivo, na área das atividades físicas, é

determinada tendo por base a escala apresentada nas Tabelas 9 e 10.

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124

Tabela 9 - Transformação dos dados em classificação final do período para o 9ºano

Tabela 10 - Transformação dos dados em classificação final do ano letivo

De referir ainda que no final dos dois primeiros períodos são selecionadas

as quatro melhores matérias independentemente da categoria a que pertencem.

No final do ano são selecionadas as sete melhores matérias, tendo

obrigatoriamente de existir uma matéria de cada categoria, exceto da categoria

A, que pode contribuir com duas matérias (futebol/andebol e

voleibol/basquetebol).

Tabela 11 - Opções de organização curricular para o 9º ano

Matérias NUCLEARES ALTERNATIVAS

Categorias A B C D E F

Especificação Desportos

Coletivos Ginástica Atletismo Natação

Desportos

de

Combate

Outras

9.º Ano

FUTEBOL

ANDEBOL

VOLEIBOL

BASQUETEBOL

Avaliação – o

melhor (fut e

and ou volei e

basquete)

Solo

Aparelhos

Acrobática

Avaliação –

a melhor

100m

4x100m

Triplo salto

Dardo

Meio fundo

Avaliação –

Média entre

todas

Consolida

ção

8º ano

Judo

Badminton

Escalada

Danças Sociais

Corfebol

Beisebol

Golfe, Etc.

9.º ano – final do período

Total de pontos Níveis de classificação

0 1

até 3 2

4 ou 5 3

6 4

7 5

9.º ano – final do ano

Total de pontos Níveis de classificação

6 1

7 2

8 3

9 4

10 5

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125

Após ter questionado os alunos que matéria preferiam, os que emitiram

opinião mostraram-se interessados em aprender badmínton, pelo que foi esta a

matéria alternativa escolhida.

Relativamente à aptidão física, foi aplicada nos três períodos a bateria de

testes composta por quatro exercícios proposto pelo Fitnessgram: teste de força

superior, teste de força média, o sit and reach e o teste da milha ou teste do vai-

vem. Os resultados dos alunos são comparados com as respetivas tabelas de

referência. Se o aluno estiver abaixo da zona saudável de aptidão física tem zero

pontos, se estiver dentro da zona saudável de aptidão física tem um ponto e se

estiver acima da zona saudável de aptidão física recebe dois pontos. Após

realizar os quatros testes contabiliza-se o número total de ponto e atribui-se uma

nota em função do descrito na tabela 12:

Tabela 12 - Transformação da pontuação obtida para a aptidão física em classificação final

Total de pontos Classificação do 3.º ciclo

0-1 1

2 1,5

2,5 2

3 2,5

4 3

5 3,5

6 4

7 4,5

8 5

Para finalizar a avaliação do domínio cognitivo-operatório, O DOG define

que os conhecimentos são avaliados através de um teste teórico por período e,

caso o professor pense ser necessário, a partir da realização de um relatório ou

trabalho, bem como pela utilização na prática dos conhecimentos,

designadamente no que se refere aos regulamentos.

Quanto ao domínio atitudinal/comportamental, o DOG prevê a atribuição

de cinco ponto se o aluno realizar sempre um determinado comportamento,

quatro pontos se realizar quase sempre determinado comportamento, três

pontos se realizar a maioria da vezes determinado comportamento, dois pontos

se realizar algumas vezes determinado comportamento, um ponto se raramente

realizar determinado comportamento e zero ponto se nunca realizar um

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comportamento. Essa avaliação é feita a partir de uma avaliação formativa

implícita e contínua realizada em todas as aulas. Após determinar o valor para

cada comportamento é determinada a média do total de pontos obtidos nos

quatro comportamentos, sendo esse o valor que corresponderá a vinte por cento

da classificação final.

Em situações particulares, nomeadamente quando um aluno apresenta

um atestado médico que refere que está impedido de realizar exercício físico nas

aulas de EF, a avaliação assume outra configuração. Esta foi uma situação com

que me deparei, pelo que considerei pertinente evidenciá-lo neste relatório. A

Tabela 13 ilustra como é calculada a classificação final de um aluno que

apresenta condições particulares:

Tabela 13 - Avaliação para alunos com condições particulares

Domínios Áreas 3.ºCiclo Total

Domínio cognitivo operatório

Teste (s) 30%

80% Trabalho (s) 20%

Aplicação prática dos conhecimentos

30%

Domínio atitudinal comportamental

Participação 5%

20% Empenhamento 5%

Comportamento 5%

Atividades de crédito 5%

4.4.2.Estratégias utilizadas para a avaliação

Face ao exposto, e no sentido de realizar uma avaliação justa e adequada,

nas várias matérias lecionadas utilizei várias modalidades de avaliação, de entre

elas a avaliação diagnóstico, a avaliação formativa e a avaliação sumativa. O

recurso a estas três modalidades de avaliação foi essencial na estruturação e

controlo da minha prática pedagógica, designadamente pelo facto de me permitir

retirar ilações sobre a qualidade do processo ensino-aprendizagem que

ministrava aos meus alunos - isto a partir da verificação se os objetivos tinham

sido ou não alcançados e da deteção de dificuldades. Esta postura crítica e

reflexiva levou-me, muitas vezes, a questionar a minha prática pedagógica,

originando muitas dúvidas que me levaram a realizar pesquisas e a debater com

o meu PC e com os meus colegas do núcleo de estágio.

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127

Relativamente à avaliação formativa, Vickers (1990) indica que é uma

modalidade de avaliação que permite ao professor acompanhar a evolução da

prestação do aluno, verificar se os objetivos delineados estão a ser atingidos e

detetar possíveis dificuldades o obstáculos não detetados anteriormente. Os

alunos devem ser informados sobre as conclusões que resultam dessa avaliação

para, desta forma, estarem a par do seu sucesso ou insucesso no processo

ensino-aprendizagem e, a partir daí, refletirem sobre o seu percurso adotando

uma postura crítica e reflexiva sobre o seu desempenho. Essa postura, aliada ao

comprometimento, responsabilidade e autonomia, pode ajudar os alunos a

descobrirem soluções para as suas dificuldades e, a partir daí, construírem a sua

própria aprendizagem com a ajuda do professor caso seja necessário. No

contexto prático do meu EP, a rotação obrigatória criada pela organização dos

mapas de instalações proporciona a existência de uma avaliação formativa com

dois objetivos, sendo eles: verificar se as opções tomadas estão a influenciar

positivamente a concretização dos objetivos delineados e atribuir um nível de

desempenho aos alunos que, por sua vez, pode ser utilizado para o cálculo da

classificação final do aluno no término do período. Nesse sentido, a última aula

do período de uma determinada matéria, exceto no terceiro período, foi

destinada à realização de uma avaliação formativa explícita e pontual. No

entanto, esta também teve um carácter contínuo e implícito uma vez que foi

utilizada em todas as aulas e algumas vezes tida em conta na atribuição de um

nível de desempenho ao aluno no final do período. A única matéria em que não

existiu uma avaliação formativa explícita foi no judo porque esta matéria foi

lecionada na sua totalidade no primeiro período, pelo que considerei não ser

necessário realizar uma avaliação formativa de carácter formal e explícito pois a

emissão de feedbacks chegou, na minha opinião, para que os alunos

percebessem o que deveriam melhorar e/ou manter para terem sucesso. Para

além disso, no decorrer das aulas fui facilmente percebendo quais as

dificuldades e potencialidades dos alunos pois é uma modalidade desportiva

individual e onde a realização adequada das técnicas e das componentes críticas

são facilmente visíveis.

Para Vickers (1990), a avaliação sumativa ocorre no final de uma unidade

didática. É a modalidade de avaliação que melhor possibilita a decisão

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relativamente à progressão ou retenção do aluno numa determinada matéria.

Esta compara resultados globais sobre o desenvolvimento de conhecimentos,

competências, capacidades e atitudes do aluno. É uma forma de certificação

social na medida em que posiciona o desempenho do aluno face ao desempenho

da turma face ao processo ensino-aprendizagem e aos objetivos delineados. No

contexto a que fui sujeito na EC, as avaliações sumativas que realizei foram

parciais e interligadas a avaliações formativas explícitas, exceto no terceiro

período, pois o final de todas as unidades didáticas sucederam-se no final do

ano letivo, com exceção do judo. Estas avaliações sumativas parciais

permitiram-me traduzir numa nota mensurável no final de cada período para,

posteriormente, atribuir uma classificação quantitativa a cada aluno. As grelhas

de cada matéria foram debatidas entre os elementos do núcleo de estágio, nas

reuniões de grupo, e com o PC. As decisões tomadas foram no sentido de que

as grelhas de avaliação deveriam ter os conteúdos que constam no programa

nacional de EF, de forma implícita ou explícita, e que estes conteúdos deveriam

estar divididos pelos níveis de desempenho propostos pelo mesmo programa,

sendo que se o aluno não realizasse pelo menos metade dos conteúdos

associados ao nível introdutório seria enquadrado no nível não introdutório.

Relativamente aos padrões de referência da avaliação, Vickers (1990)

indica que a avaliação pode ser referenciada à norma ou ao critério. No que

respeita à avaliação com referência à norma, os objetivos são estabelecidos de

acordo com valores de referência à escala nacional comparando os resultados

dos alunos com valores tabelados (exemplo: Fitnessgram). Esta referência da

avaliação levanta o problema de não ter em conta a evolução dos alunos ao

longo do processo ensino-aprendizagem. A avaliação referente ao critério define

objetivos a partir de uma escala de apreciação, ou outro instrumento construído

pelo(s) professor(es), em função dos objetivos, focando-se em indicadores

objetivos tendo em conta a natureza da tarefa e utilizando exercícios critério

(Vickers, 1990). Desta forma, é possível determinar o nível do aluno

comparando-o com o ideal de realização e não com o desempenho de outros

alunos. Atendendo a esta caraterística da avaliação criterial, na construção das

grelhas de avaliação das diferentes modalidades de avaliação procurei fazê-la

neste registo.

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129

Para além disso, também se decidiu que após a realização de todas as

avaliações sumativas correspondentes ao período ir-se-ia proceder a uma

“humanização da nota” isto é, após obter um valor de classificação final seria

realizada uma reflexão sobre se de facto correspondia ao real valor do aluno. Na

larga maioria dos casos o valor da classificação final foi aquele que foi atribuído

no final de cada período e do ano letivo.

Com o intuito de verificar qual a perceção que os alunos tinham acerca do

se sucesso, ou ausência dele, no processo ensino-aprendizagem, para

posteriormente a comparar com a avaliação realizada por mim e pelo professor,

foram realizadas autoavaliações e heteroavaliações, entre mim, os alunos e o

PC, no término de cada período em relação a todas de cada as matérias que

tinham sido avaliadas. Essa tarefa reflete muito a capacidade que os alunos têm

em perceber como se estão a desempenhar no processo ensino-aprendizagem.

Esta autoavaliação permitiu-me perceber se os alunos tinham a consciência do

que sabiam e do que não sabiam, bem como do que conseguiam fazer e não

conseguiam fazer. Cheguei à conclusão que alguns alunos, poucos, não tinham

a noção das suas competências em determinadas matérias, nomeadamente no

voleibol e no atletismo. Este pensavam possuir mais competências do que

aquelas que realmente tinham, ou demonstravam ter.

Por último, importa referir de forma reforçada, a dificuldade de que se

reveste o processo de avaliação, até pelo grande cariz subjetivo, isto não

obstante a tentativa de a tornar objetiva, designadamente com a elaboração de

documentos orientadores, de critérios e normas. Na verdade, aquilo que

avaliamos depende daquilo que vemos que, por sua vez, tem um pouco de

subjetividade. Aquilo que vemos está subjacente às nossas crenças, ideias e

perceções próprias que originam, por vezes, interpretações algo distintas a

sujeitos distintos, ou seja, há possibilidade de duas pessoas diferentes

observarem duas coisas diferentes no mesmo comportamento.

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130

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131

V - Atividades do estágio para a

escola e para a comunidade

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133

A integração na comunidade escolar e o conhecimento do meio regional

e local da escola é um fator importante na vida profissional de um professor, pois

é nesse contexto que a sua prática profissional é exercida. Nesse sentido, faz

parte do EP participar num conjunto de atividades, incorporadas no contexto

escolar, que ajudem o estagiário a integrar-se na EC e a entender o contexto

onde esta se insere.

Neste capítulo estão evidenciadas todas as atividades em que estive

envolvido no meu EP. Essas atividades tiveram como objetivos centrais

contribuir para a promoção do sucesso educativo e da disciplina de EF, reforçar

o papel do professor de EF na escola e promover a prática de exercício nos

alunos.

5.1. Desporto Escolar

Segundo Pina (2002), o desporto escolar assume um importante papel no

desenvolvimento da dimensão cívica dos jovens praticantes, na medida em que

contribui para a aprendizagem das regras da cooperação e da competição

saudável, dos valores da responsabilidade e do espírito de equipa, do esforço

para atingir as metas desejadas e da importância do cumprimento de objetivos

individuais e coletivos. A prática de qualquer modalidade de formação e/ou

orientação desportiva proporciona o desenvolvimento de competências físicas,

técnicas e táticas com visíveis benefícios na formação integral dos jovens.

Há ainda a realçar outras dimensões, também elas de grande importância

na formação da conduta pessoal, social e desportiva dos alunos, sendo elas a

aprendizagem de competências de gestão e planeamento de atividades

desportivas, a experiência de exercer as funções de árbitros/juízes,

cronometristas, dirigentes, bom como consolidar a avaliação dos fatores de risco

da prevenção e do combate ao consumo de substâncias ilícitas ou de

comportamentos menos saudáveis. Para além disso, a existência de atividades

escolares propicia mais e melhor relacionamento entre o aluno e a escola. Como

refere Bento (2004), a escola necessita de entusiasmo, riso e alegria. É

fundamental que se goste da escola e o desporto pode contribuir para que tal

aconteça. A criação de dias desportivos, com competições, torneios internos e

externos, pode contribuir para integrar mais vida na escola e a escola na vida.

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134

Com o intuito de melhorar a minha prática pedagógica e de experienciar

um conjunto de situações diferentes daquelas que estava habituado, realizei um

conjunto de atividades, individualmente e em grupo, que serão descritas de

seguida.

5.1.1. Atividades Desportivas Escolares (ADES)

Segundo o indicado no DOG, o PEE, nomeadamente no que se refere aos

seus princípios e valores orientadores, estabelece como ponto de partida os

principais problemas diagnosticados na sua realidade. Efetuado este diagnóstico

são apontadas linhas orientadoras para a ação educativa com vista à construção

de uma escola mais eficaz no seu processo educativo. As ADES, que incorporam

as atividades extracurriculares, não são alheias a estas orientações e inserem-

se em algumas linhas de rumo apontadas no PEE, de entre elas: 1) Dinamizar

práticas desportivas que valorizem atitudes construtivas face à vida e à partilha

e que desenvolvam o sentido da pertença à escola e à comunidade; 2) Promover

atividades positivas de ocupação para a promoção de estilos de vida benéficos

para a saúde; 3) Envolver os jovens em projetos que contribuam para a sua

formação integral; 4) Desenvolver atividades de enriquecimento curricular nos

domínios desportivo e artístico.

Para dar resposta às necessidades educativas da EC, no que respeita às

atividades físicas e desportivas, o departamento nomeou dois professores de EF

como membros responsáveis pela organização de atividades que permitissem

cumprir os objetivos supramencionados. Nesta senda, surgiu a ideia de se

organizar um campeonato de futebol intraescola, no qual os escalões fossem

organizados segundo a idade dos alunos. Nesse campeonato também

participaram professores, sendo que os membros organizadores e os estagiários

foram elementos fixos de uma equipa.

Nestas atividades exerci as funções de árbitro e de jogador de uma

equipa. Esta foi mais uma experiência que valeu pela socialização porque em

termos de conhecimento e de aprendizagem, quer do jogo quer de organização,

não me trouxe novas aprendizagens significativas, pois desde pequeno que me

interesso e participo em atividades desta natureza.

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135

Esta foi a primeira atividade desportiva organizada em que os elementos

do núcleo de estágio e os professores do departamento de EF e desporto da EC

que estão ligados ao futebol participaram juntos. Foi, sem dúvida, muito

importante no início de relações com a maior parte dos professores de EF da

escola que nos acolheu. A participação nestas atividades serviu para conhecer

melhor os professores do departamento de EF e interagir com mais frequência

com alguns alunos.

O facto de se ter escolhido a modalidade de futebol teve a vantagem de

garantir muitos participantes, sobretudo do sexo masculino, no entanto, teve

como desvantagem o facto de ser apenas mais uma competição da “modalidade

do costume” e de não promover o conhecimento e a prática de modalidades

diferentes daquelas que se praticam na escola e mais especificamente na EF.

À parte disso, penso que o planeamento e organização da atividade foi

bem conseguido pelos professores organizadores e bem coadjuvado pelos

demais participantes. Os únicos “contratempos” que existiram prenderam-se no

facto de algumas equipas não terem comparecido à hora marcada para realizar

o seu jogo. A forma que se utilizou para prevenir a existência de mais

acontecimentos como este foi a de banir a equipa do campeonato, caso esta não

comparecesse duas vezes ao encontro pré-programado. Penso que o facto de

esse aviso ter sido direcionado explicitamente a uma das equipas e ser

observado pelas outras levou a que todas elas se tornassem mais cuidadosas

no momento de ponderar em não comparecer nos encontros.

Quanto à função de árbitro, a principal dificuldade que senti foi a de

controlar as emoções dos jogadores. O facto de estes serem demasiado

competitivos leva a que, quando os acontecimentos não são do seu agrado, haja

demasiadas contestações às decisões de arbitragem. Penso que esse é um

problema usual e, provavelmente, sem solução uma vez que faz parte da nossa

cultura. Basta olhar para o futebol profissional e percebemos porque acontecem

estes comportamentos. Os jogadores profissionais são ídolos para muitos alunos

pelo que estes têm a tendência de reproduzir os seus comportamentos mesmo

sabendo que não são os mais corretos. De acordo com Lana (2011, p. 41), “O

reconhecimento do fã é mais que um processo de identificação de valores: em

função de sua dedicação especial, ele encarna em sua própria conduta os

atributos importantes de seu ídolo.”. A mesma autora refere ainda que “Ao se

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136

sentirem estimulados de maneira especial por determinados personagens de

séries televisivas, os fãs repensam – e, especialmente, deixam visíveis – os

posicionamentos e as atualizações do pano de fundo comum que guia a

coexistência social” (p.38). Por outro lado, o facto de existir demasiada

competitividade leva à existência de muitos contactos físicos suscetíveis de

várias interpretações e, por isso, rapidamente contestadas pelos jogadores.

Apesar desta dificuldade faço um balanço bastante positivo desta

experiência, pois foi uma forma bastante fácil de me integrar no grupo de

professores que compõem o departamento de educação física e desporto e de

interagir com parte dos alunos da escola. Essa interação, embora durante os

jogos possa não ter sido excelente, foi saudável, positiva e enriquecedora nos

momentos extracompetição, principalmente ao nível da socialização.

5.1.2. Jogos Desportivos Escolares

A EC participou nos jogos desportivos escolares na modalidade de futsal

feminino e masculino. Atendendo ao pedido do coordenador do Departamento

de Educação Física e Desporto fiquei responsável por constituir, treinar e orientar

a equipa de futsal feminino. Esta tarefa, face ao facto de existirem algumas

restrições relativamente à idade das participantes, à pouca motivação para

participarem, já evidente em anos anteriores, e a parca disponibilidade horária,

iria, aparentemente, dificultar a tarefa de constituir uma equipa. Assim, numa

fase inicial, as expectativas não eram positivas, pois no ano transato não tinha

sido possível constituir uma equipa.

Perante estas informações, comecei o percurso procurando motivar

alunas a participar. A equipa acabou por se constituir facilmente, com um número

de participantes superior ao necessário. Assim, decidi realizar um treino de uma

hora a fim de conhecer as jogadoras e de selecionar dez delas para representar

a escola.

Na quarta-feira, dia quinze de março, foi combinado um treino no campo

sintético da escola, ao ar livre. Compareceram todas as participantes e

realizámos o nosso treino combinando o nosso sistema tático e treinando um

esquema tático. No final do treino senti que as participantes estavam

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entusiasmadas em participar na competição e em saber qual seria a

convocatória final, o que revela que existiu a tal motivação que tinha faltado no

ano letivo anterior.

Na quarta-feira seguinte, dia vinte e dois de março, participamos no

torneio de futsal feminino, fase ilha. No decurso da competição, exerci as funções

de treinador da equipa e fui coadjuvado pelo PC. Desta experiência retiro ilações

muito positivas. A nossa equipa não foi vencedora da competição mas senti que

todas as alunas estavam muito satisfeitas por terem participado. Existem valores

no desporto que passam despercebidos a quem só o vê como uma questão de

alcance de resultados desportivos. Na segunda parte do primeiro jogo, as

jogadoras preocuparam-se mais em discutir umas com as outras e em colocar

em causa as decisões do árbitro. No tempo de transição entre o primeiro e o

segundo jogo, conversei com as jogadoras e transmiti-lhes a necessidade de

existir respeito por todos e da necessidade de trabalhar em equipa, isto antes de

se pensar em jogar e em ganhar. As jogadoras compreenderam e melhoram

significativamente os seus comportamentos no segundo jogo, vencendo-o.

O principal sentimento positivo que emergiu resultou do facto de uma das

jogadoras que, segundo ela, nunca tinha tido sucesso no desporto ser a

protagonista do segundo jogo – foi ela que converteu a grande penalidade que

nos deu a vitória. Após a conversão dessa grande penalidade as jogadoras

festejaram muito. Esta foi uma experiência que pelo menos esta aluna nunca irá

esquecer, pois foi a primeira vez que sentiu que teve uma influência significativa

na sua equipa, experienciando todos os sentimentos positivos que o sucesso

desportivo proporciona.

5.1.3. Megasprinter – fase escola

Esta foi a segunda atividade para a escola e comunidade em que tive o

prazer de participar. Foi a primeira vez que, juntamente com todos os

professores que compõem o Departamento de Educação Física e Desporto, fiz

parte da organização de uma atividade que mobilizou mais de 80 alunos da EC.

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138

Em termos gerais penso que atividade decorreu bem, apesar do

“contratempo” que surgiu e que será explicado mais à frente. Todos os

professores se mostraram empenhados em exercer as funções que lhes foram

incumbidas e os alunos, apesar do nervosismo, mostraram grande motivação

em participar, tanto na função de corredores, como de adeptos. Houve uma

grande mobilização da escola para esta atividade e registou-se um aumento do

número de participantes relativamente ao ano letivo transato.

Apesar de toda a atividade ter sido bem organizada houve algo que não

foi bem pensado, nomeadamente o facto de o juiz de partidas ter um apito na

mão e, simultaneamente, ter que fazer as vozes de partida. O facto de a partida

ser realizada com um apito levou a que a maior parte dos alunos, numa fase

inicial, partisse antes do tempo. Eu, como juiz de partida, deveria dizer “aos seus

lugares”, “pronto” e dar o sinal de partida. Ao dar esse sinal realizava um

movimento com o membro superior para colocar o apito na boca. Nesse

momento a maior parte dos alunos que iriam correr reagiam levando a que

partissem antes do sinal sonoro. Face ao facto de nos termos apercebido da

dificuldade e consequentes falsas partidas, um colega estagiário ficou a

coadjuvar-me, sendo ele a realizar o sinal sonoro. A partir daí verificámos que

os alunos começaram a partir de forma legal ficando, assim, resolvido o

problema.

Segundo Rolim e Garcia (2013, p.65) “O atleta está imóvel aguardando o

sinal de partida. Ele sabe que esse sinal é um tiro; sabe também qual a resposta

que terá de efetuar. O estímulo é sempre o mesmo, assim como a resposta. Por

via disto diz-se que é uma reação simples (estímulo único, resposta única, sendo

ambos pré-conhecidos). O contrário desta reação é a complexa ou composta

(estímulos vários com possibilidades de múltipla escolha de resposta”.

Apesar de a resposta ser sempre a mesma por parte dos alunos, o facto

é que existiu mais do que um estímulo no momento antes de ser coadjuvado

pelo meu colega (o meu gesto e o sinal sonoro), levando a muitas falsas partidas

devido à complexidade da reação.

Numa próxima edição desta atividade ou nas fases de ilha e regional

penso que seria preferível utilizar outro sinal sonoro em substituição ao apito.

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Penso que o tiro é bastante eficaz pois permite dar o sinal sonoro sem realizar

gestos. Na impossibilidade de adquirir uma arma (facto que aconteceu nesta

edição), a opção de o juiz de partida ser coadjuvado parece-me ser minimamente

viável. Penso ser preferível a utilização da arma pois ser a mesma pessoa a dizer

“aos seus lugares”, “pronto” e dar o sinal de partida leva a que haja maior

proximidade nos intervalos de tempo entre estas indicações comparativamente

a serem duas pessoas a realizarem essas tarefas. O facto dos intervalos de

tempo serem semelhantes facilita, na minha opinião, a reação dos alunos ao

último estímulo levando, consequentemente, à diminuição das falsas partidas.

Um acontecimento que me deixou triste foi o de nenhum aluno da minha

turma ter participado. Penso que o facto de a maior parte dos meus alunos não

gostar da modalidade de atletismo levou a que não quisessem participar, mesmo

sabendo que teriam justificação das faltas às aulas e que cinco por cento da nota

final do período resultaria da participação neste tipo de atividades.

5.1.4. Megasalto e Megasprinter – fase ilha

O Megasalto e o Megasprinter, realizados na ilha de São Miguel, são

atividades destinadas aos alunos de todas as escolas sejam elas públicas ou

privadas. Os seus principais objetivos são promover a prática de atividade física

às crianças e jovens da nossa ilha, detetar talentos e promover a socialização

entre os mesmos e os professores.

Ambas as atividades são compostas por várias fases sendo que de entre

elas estão a fase escola, a fase ilha, a fase regional e a fase nacional. A fase

escola do Megasalto e do Megasprinter foi realizada em dias distintos, no

Complexo Desportivo das Laranjeiras, e a fase ilha de ambas as atividades foram

realizadas no mesmo dia, ao mesmo tempo e no mesmo complexo. Este evento

ocorreu na quarta-feira, dia dezoito de janeiro de 2017, na pista de atletismo do

Complexo Desportivo das Laranjeiras e foi organizado pela Direção Regional do

Desporto juntamente com a colaboração de um dos professores do

departamento de EF e desporto da EC, que foi o responsável pela organização

da fase escola, dos alunos do 10º ano do Curso Profissional de Gestão de

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140

Instalações Desportivas da Escola Secundária das Laranjeiras e do nosso

Núcleo de Estágio.

Tal como ocorreu na fase escola, o evento da fase ilha sofreu alguns

contratempos devido às adversidades causadas pelo clima. A existência de

precipitação levou a alguns atrasos nas competições, contudo não puseram em

causa a sua realização.

Em todas as atividades exerci as funções de acompanhamento dos

praticantes da nossa escola nos momentos anteriores à competição

propriamente dita, de fotógrafo do evento e de organização do pódio. De todas

estas funções destaco o acompanhamento dos alunos e a função de fotógrafo,

pois foram estas que me ajudaram a socializar com a comunidade. O facto de

acompanhar alunos de outras turmas permitiu que existisse bastante

comunicação ajudando-me, desta forma, a conhecer e perceber outras

perspetivas/pensamentos, no fundo conhecer outras pessoas. O facto de ser

fotógrafo levou-me a expandir ainda mais a minha interação porque me permitiu

comunicar com alunos e professores de outras escolas. É certo que já conhecia

alguns deles de outros contextos, mas, a partir dessa interação, fui conhecendo

mais pessoas ligadas à Escola e à Educação. Apesar de não falarmos

especificamente de assuntos associados à Escola penso que a tarefa de

fotógrafo foi positiva porque pode ter sido uma “porta de entrada” para ser bem

recebido numa possível instituição que venha a trabalhar no futuro. O facto de

dialogar com vários professores e alunos pode levar a que não seja, futuramente,

um elemento totalmente estranho, isto caso entra numa instituição de que eles

fazem parte.

Quanto à organização do evento penso que foi boa mas que poderia

melhorar em um ou outro aspeto. Este evento contou com a participação de

muitos alunos. O facto de a realização dos saltos e sprints serem um pouco

morosos levou a que o evento se tivesse prolongado demasiado. Os

organizadores optaram por utilizar apenas duas caixas de areia para a realização

da competição de saltos. Penso que se utilizassem as quatro caixas de areia

disponíveis (duas para o sexo masculino e duas para o sexo feminino), a

atividade não teria sido tão prolongada e saturante, quer para os observadores

quer para os praticantes. É certo que esse tempo de espera poderia ter sido,

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como foi, utilizado para interagirem uns com os outros, mas chegou uma altura

em que percebi que todos, ou quase todos, os participantes estavam saturados

do evento e que pretendiam que este acabasse rapidamente.

Em síntese, estas vivências em atividades extra aulas, foram

fundamentais à socialização para a profissão de professor. O facto de conhecer

e socializar com alunos e professores de outras escolas, além de formativo,

também se poderá revelar positivo para o meu futuro, enquanto profissional, pois

existe sempre a possibilidade de trabalhar com eles no futuro – como professor,

no caso dos alunos ou como colega, no caso dos professores.

5.1.5. Corta-mato – fase escola e fase ilha

A décima sétima edição do corta-mato escolar da EC contou com a

presença dos alunos de todos os anos de escolaridade. Foi uma atividade que

promoveu o convívio entre alunos e professores e que, em termos gerais,

decorreu sem nenhum percalço.

Esta atividade tem muitas características que se associam ao MED na

medida em que: 1) Os alunos são, de certa forma, os mediadores da sua própria

performance e aprendizagem, bem como da performance e aprendizagem dos

seus colegas pois gerem o seu esforço durante a prova e podem ajudar os seus

colegas a melhorar os resultados dando-lhes sugestões; 2) Alguns alunos

exerceram funções de corredores e outros de organizadores do evento; 3) Foi

promovida a festividade; 4) Foram entregues prémios aos alunos.

Estas caraterísticas sugerem que esta atividade tem um importante papel

formativo na medida em que estimula o desenvolvimento de valores pessoais

importantes, como o trabalho de equipa, a cooperação, a autonomia, e a

resiliência. Também promove o aumento da cultura e literacia desportiva e da

capacidade de gerir um evento desportivo. Para mim, não há dúvidas que esta

é uma atividade que promove o desenvolvimento de pessoas desportivamente

cultas, competentes e entusiastas, tal como referem Mesquita e Graça (2011a).

Nesta atividade tinha sido designado para três tarefas: colocar e retirar o

pódio para a entrega dos prémios, entregar os prémios e acompanhar os alunos

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na caminhada. Mas, como pode sempre acontecer na organização de uma

atividade, surgiram algumas alterações de “última hora”, sendo que a alteração

das minhas funções foi uma delas. Para além de colocar e retirar o pódio para a

entrega dos prémios, tive a função de registar a chegada dos alunos que

participaram na caminhada, a função de registar os vencedores de todas as

corridas que ocorreram no evento (os primeiros três alunos a chegar) e a função

de fotógrafo do evento.

Não escondo que essa alteração de funções motivou-me pois foi

constituída por tarefas que me davam mais vontade de realizar na medida em

que, durante a prova, ia simultaneamente tirando fotografias, realizando vídeos

e registando as chegadas dos alunos. Foi um conjunto de tarefas que me obrigou

a estar sempre ativo e a deslocar-me para vários locais não havendo, por isso,

“tempos mortos”. No final da atividade verifiquei que todos os meus registos

estavam corretos e ajudei a arrumar o material que foi utilizado na atividade.

Ainda verifiquei que o professor responsável máximo pela atividade ficou

satisfeito com o conjunto de fotografias e vídeos que consegui.

No campo social/pessoal, penso que esta atividade foi mais uma

oportunidade de contactar e comunicar com os professores que compõem o

departamento de EF e desporto da EC e com um ou outro professor de outros

departamentos que participaram também no evento. Pessoalmente, troquei mais

ideias relativas ao evento e a outros assuntos com dois dos professores mais

velhos do departamento pois a própria organização da atividade a distribuição

de espaços assim o proporcionou.

Relativamente ao papel da EF, mais propriamente do desporto, penso que

este evento foi uma ótima oportunidade de incutir, ainda mais, hábitos de vida

saudável no que respeita à prática de exercício físico. Penso que o facto de os

alunos conviverem, serem premiados e gostarem dessas atividades leva-os a

olhar com “bons olhos” para o desporto e para o seu próprio rendimento

aumentando, assim, a probabilidade de praticarem, continuarem a praticar ou

aumentarem a sua prática desportiva fora da escola. Penso que todas as

escolas, apoiadas pelas respetivas câmaras, ainda deveriam investir mais na

qualidade e quantidade deste tipo de eventos e promover mais a sua

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participação pois, na minha opinião, esta é uma boa estratégia para combater o

elevado sedentarismo que se regista atualmente na nossa população jovem (que

é o futuro).

Em suma, penso que a atividade decorreu bem e que foi uma ótima

oportunidade de contactar com a comunidade escolar e de incutir hábitos de vida

saudável nos nossos alunos.

5.1.6. Núcleo de Atividades de Exploração da Natureza

O núcleo de atividades de exploração da natureza foi criado no âmbito do

Laranjeiras Clube, clube desportivo escolar com sede na EC. Este foi organizado

e dirigido pelo nosso núcleo de estágio e tinha como principais objetivos:

promover a prática de exercício físico num contexto ligado à natureza e promover

comportamentos positivos relacionados com a preservação do meio ambiente.

Para além deste objetivos centrais, o núcleo de estágio pretendia dotar os

participantes de capacidades físico-motoras e técnicas ligadas às modalidades

das várias atividades desenvolvidas, contribuindo, assim, para o

desenvolvimento das capacidades físicas e condicionais, para a promoção de

uma vida ativa e saudável e para o desenvolvimento de valores como o esforço,

a resiliência, a superação, a cooperação e a amizade. Perspetivamos ainda

promover uma maior e melhor socialização entre os alunos da escola.

Numa fase inicial foram planeadas algumas atividades, de entre elas o

BTT, a escalada, o treino funcional, orientação, rappel, canoagem e o paintball.

Estas eram atividades que seriam realizadas fora da escola, no entanto o baixo

número de participantes não permitiu a abertura do clube havendo, por isso,

necessidade de cancelar algumas atividades. Foram realizadas apenas a

escalada, o BTT e o rappel no Complexo Desportivo das Laranjeiras cedido à

nossa escola pelo Serviço de Desporto de São Miguel. Devido a esse baixo

número de participantes, o núcleo encerrou no fim do mês de fevereiro, pelo que

as atividades tiveram lugar durante 5 meses (de outubro a fevereiro) e durante 2

horas por semana exceto nas semanas de interrupção letiva. Nos meses de

janeiro e fevereiro fui o único representante do núcleo de estágio nestas

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atividades pois o grupo de participantes era extremamente baixo (quatro) e todos

eles eram meus alunos.

O facto de os alunos não mostrarem interesse em participar nas atividades

organizadas pelo núcleo deveu-se, na minha opinião, ao horário escolhido. Os

alunos normalmente acabavam as aulas às quartas-feiras à tarde e às sextas-

feiras à tarde. Ao acabarem as aulas pretendiam regressar a casa ou realizar

outras atividades com os amigos fora da escola, o que é compreensível pois

estes passam muito tempo por semana no mesmo local. A opção do horário

deveu-se ao facto de ser a única hipótese de compatibilizar os horários dos três

elementos do núcleo de estágio.

Esta atividade foi bastante positiva pois permitiu não só conhecer mais

alunos da escola que nos acolheu (embora não fossem muitos), como também

relembrar, lecionar e melhorar o ensino de algumas das modalidades que podem

ser lecionadas na escola no contexto da EF. O ganho de experiência enquanto

formador foi significativo pois o facto de lecionar modalidades em que não tenho

“à-vontade” total levou-me a “sair da zona de conforto” e procurar colmatar as

minhas lacunas realizando pesquisas para suprir as minhas dificuldades e

dúvidas. Saio desta atividade com a consciência de que ainda tenho muito a

aprender nestas modalidades, mas que aumentei o meu conhecimento

comparativamente ao início deste ano letivo.

5.1.7. Supertaça Escolar

A Supertaça Escolar é um evento desportivo que conta com 22 edições e

que é organizado pelo departamento de EF e desporto da EC. Este evento é

direcionado aos alunos de todas as escolas do ensino básico e secundário da

cidade de Ponta Delgada. Durante três dias consecutivos, dias 23, 24 e 25 de

Maio, as três escolas da referida cidade realizaram competições de várias

modalidades desportivas de entre elas o futebol, o voleibol, o basquetebol, a

ginástica e o atletismo. Para cada modalidade desportiva existiram dois

escalões, sub15 e sub19, contrariamente às primeiras vinte edições. Esta divisão

por escalões surgiu no ano passado e deveu-se, sobretudo, ao facto de, em anos

transatos, verificar-se que as equipas das escolas eram constituídas

maioritariamente por alunos do secundário não dando oportunidade aos alunos

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do 3º ciclo de participarem. Sendo o objetivo principal desta atividade promover

aos alunos a prática de exercício físico na escola de forma organizada e

devidamente orientada, parece-me que foi uma boa decisão pois permitiu que

mais alunos pudessem participar.

Sem dúvida, este evento é uma ótima oportunidade de promover a

socialização entre alunos e professores das várias escolas e de desenvolver nos

alunos todos os valores ligados ao desporto. Para além disso, é uma forma de

mostrar à sociedade o nível de performance dos nossos alunos podendo-se, a

partir daí, detetar talentos e ajudar a que alguns deles pratiquem desporto fora

da escola, seja num contexto federado ou não.

Para ser sincero, só comecei a perceber a grandeza desta competição no

dia 18 de Maio. Nesse dia, foi realizada uma conferência de imprensa com o

objetivo de apresentar o evento à comunicação social. Nesta conferência

estiveram presentes vários órgãos da comunicação social, professores, pessoal

não docente e alunos. À mesa estavam o vereador da Câmara Municipal de

Ponta Delgada, o vice-presidente do conselho executivo da EC e o nosso PC.

Nesta apresentação foram fornecidas informações gerais sobre o evento

havendo também um espaço para o esclarecimento de dúvidas. Após o término

da conferência percebi que efetivamente este é um evento com alguma história

e que atualmente mobiliza e capta a atenção de muita gente. Este facto

surpreendeu-me um pouco pois, apesar de saber que era um evento muito

conhecido, não pensei que tivesse a dimensão que tem. Segundo o nosso PC

este é o maior evento desportivo dos açores organizado única e exclusivamente

por uma escola.

A preparação para este evento iniciou-se simultaneamente ao início deste

ano letivo. Desde a primeira reunião do departamento que se foi abordando

alguns temas associados à Supertaça Escolar. Desde a análise dos resultados

desportivos e organizativos dos anos transatos até à divisão de tarefas foram

alguns os debates que ocorreram durante as reuniões. Logicamente, houve mais

debates e decisões mais consistentes nas reuniões que antecederam o

momento do evento. Um dos temas que me despertou mais interesse foi “Qual

o objetivo da supertaça? Competir para ganhar ou competir por competir?”. De

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facto este tema suscitou várias interpretações e opiniões distintas. Alguns

professores são da opinião que a Supertaça é para ganhar e, portanto, o número

de treinos que cada jogador faz não é relevante mas sim a sua qualidade tático-

técnica. Outros professores pensam que a prioridade é oferecer aos alunos todos

os benefícios associados ao desporto quer na dimensão físico-motora, quer nas

dimensões social e cognitiva e, também, promover a experiência de sucesso aos

alunos que raramente ou nunca têm essa oportunidade.

Na minha opinião, a Supertaça Escolar e o Desporto Escolar devem ser

uma forma de transmitir aos alunos todos os benefícios do desporto promovendo

a prática desportiva dentro e fora da escola e, desta forma, contribuindo para a

melhoria da saúde das nossas crianças e jovens. A elevada taxa de obesidade

infantil existente no nosso país é um problema demasiado sério e deve ser

combatido urgentemente. A Escola deve ser chamada a intervir nesse campo e

utilizar o desporto para tal é uma estratégia, na minha opinião, excelente. Para

além disso, é possível promover o sucesso desportivo a alunos que nunca o

tiveram e esse pode ser um meio para fazê-los olhar para o desporto e para a

prática desportiva de forma positiva. Utilizando alunos que já estão habituados

ao sucesso desportivo e que praticam desporto regularmente fora da escola não

ajuda a aumentar o número de praticantes de desporto num contexto

extraescolar. Nesse sentido, penso que dever-se-ia utilizar outra estratégia para

selecionar os alunos que participam no evento. Os alunos federados também

são alunos da escola e, como tal, também devem ter o direito de participar.

Assim, penso que balizar o número de atletas federados em cada equipa poderia

ser uma solução. Organizar um escalão apenas para atletas federados também

poderia ser outra solução. Desta forma, seria possível garantir que todos os

alunos iriam beneficiar do evento e que os objetivos associados à melhoria da

saúde (incutir hábitos de vida saudável), à promoção da prática desportiva e do

sucesso desportivo e à permanência de mais alunos na escola seriam atingidos

com maior facilidade.

Ainda na preparação do evento, em uma das reuniões ficou decidido que

uma das minhas funções seria organizar treinos e dirigir uma equipa de futebol

feminino no escalão de sub.19. À partida, e após falar com vários professores,

adivinhava-se uma tarefa difícil pois perspetivava-se que não iria ser fácil arranjar

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jogadoras para criar uma equipa. Esse pensamento deveu-se ao facto de apenas

duas jogadoras que fizeram parte da equipa no ano passado poderem fazer parte

da equipa deste ano. Ao ter esse conhecimento comecei por tentar cativar

algumas alunas a realizarem os treinos agendados para todas as quartas-feiras

das 14h30min às 15h30min. Fui observando quais as alunas que estavam

realmente interessadas e quais as suas melhores amigas para também tentar

cativá-las. Fui às salas de aula das turmas das alunas que pensava que estariam

mais motivadas e tentei motivar as suas amigas em experimentar. Certo é que,

em nenhum dos treinos tive menos de dez alunas e em alguns treinos marcaram

presença 16 alunas. Penso que consegui passar a mensagem adequadamente

e que as alunas predispuseram-se em ficar na escola às quartas-feiras para

praticar desporto. Entre a saída de algumas jogadoras e a entrada de outras,

durante os quase três meses de treinos, fui verificando quais as que tinham mais

aptidão, bem como aquelas que realmente queriam fazer parte da equipa e

aquelas que participavam nos treinos apenas como uma forma de lazer. Como

só uma das jogadoras era federada, a única guarda-redes, um dos critérios de

seleção passou por escolher aquelas que marcaram presença em mais treinos

(não contando as faltas justificadas pois existiram alunas que não vinham ao

treino de futebol para ir ao treino de basquetebol, por exemplo) e aquelas que

mostravam real vontade em participar. Na convocatória final, de entre 11

jogadoras tive, devido à regulamentação, de escolher 10 sendo os critérios de

seleção, aqueles evidenciados anteriormente.

Outra expectativa que foi criada, por alguns professores, durante o

período de seleção foi qual o nível de desempenho que a nossa equipa iria

demonstrar nos jogos. O facto de se pensar, como o referido anteriormente, que

seria difícil criar uma equipa levou também a pensar que esta poderia ter

resultados pouco positivos. Neste campo, penso que a equipa também superou

as expectativas mesmo não tendo ganho nenhum jogo. Todos os jogos

terminaram com o resultado de 1-1 pelo que o facto de não se ter perdido

nenhum jogo acaba por resultar num balanço positivo. Curiosamente o jogo

realizado pelas nossas adversárias acabou também com 1-1 levando a que as 3

equipas terminassem em primeiro lugar contribuindo, assim, com 3 pontos para

a classificação final de cada escola. A nossa equipa foi uma das três formadas

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pela nossa escola que ficou em primeiro lugar. Tendo em conta que cada escola

formou 10 equipas penso que, no geral, o nosso resultado foi positivo.

No cômputo geral, penso que consegui superar as expectativas

relativamente à construção da equipa e à participação contínua das jogadoras.

Pelo que percebi (não fiz nenhum estudo pormenorizado) os treinos de futebol

do escalão de sub.19 feminino foram aqueles que contaram com mais

presenças, o que demonstra que o objetivo de manter as alunas na escola a

praticar desporto foi atingido. Retiro também ilações muito positivas

relativamente ao relacionamento social das jogadoras da equipa. Em todos os

treinos e em todos os jogos da competição as jogadoras estavam bem-dispostas,

sorridentes e motivavam-se constantemente umas às outras. Esse tipo de

comportamentos levou a que se criasse um espírito bastante positivo e um

ambiente bastante favorável no seio do grupo.

Durante o evento e principalmente no momento de entrega dos prémios

às equipas percebi que o MED estava presente na sua forma mais pura. Para

Siedentop (1996), as características do MED estão associadas ao contexto

desportivo e englobam as épocas desportivas (com treinos), a filiação, a

competição formal, o registo estatístico, a festividade e o evento culminante. A

Supertaça Escolar acaba por ser um evento culminante realizado após um longo

período de treinos (às quartas-feiras). Nesse evento culminante participaram

várias equipas da mesma escola levando a que os elementos dessas equipas e

os próprios alunos que não participaram diretamente se sentissem pertencentes

a um grupo, o da sua escola. O registo estatístico de cada jogo foi realizado pelos

alunos do curso profissional de desporto e foi entregue ao secretariado no final

de cada jogo. Existiram árbitros federados que muitas vezes dialogavam com os

alunos sobre as regras específicas de cada modalidade contribuindo, assim,

para um aumento da sua cultura desportiva. A festividade foi observada na

cerimónia de abertura, na cerimónia de encerramento e nos momentos das

competições.

Para encerrar, internamente, o evento, os elementos do departamento de

EF e desporto da EC realizaram um almoço onde, entre outros assuntos,

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debateram-se os resultados desportivos e organizativos da XXII edição da

Supertaça Escolar.

Apesar de todos esses aspetos positivos houve algo que não decorreu da

melhor forma. No fim-de-semana imediatamente anterior à semana do evento,

tive alguns problemas familiares que levaram a que a minha participação fosse

menor do que aquela que gostaria. Apesar de, legalmente, ter direito a 5 dias

sem ir à escola decidi marcar presença porque penso que, devido à

especificidade do evento e do facto de estar num ano de estágio, seria uma

oportunidade que não deveria desperdiçar, mesmo não estando nas melhores

condições psicológicas. As minhas funções de acompanhamento da equipa

mantiveram-se e foram escrupulosamente cumpridas mas, as tarefas de

organização (secretariado, organização e manutenção do material, distribuição

de águas, etc) não foram sempre cumpridas. Em alguns momentos tive de me

ausentar da escola não estando, por isso, presente em alguns momentos em

que supostamente deveria estar. O PC soube do sucedido e compreendeu o

porquê da minha ausência não se opondo, por isso, à mesma.

Em jeito de considerações finais sugeria algumas pequenas alterações:

1) Penso que só deveria existir uma taça (a supertaça) que seria entregue

apenas à escola vencedora. Os restantes prémios seriam medalhas que, por sua

vez, seriam entregues às equipas participantes. Desta forma penso que o nome

supertaça faria mais sentido; 2) Penso que dever-se-ia planear o início das

competições de cada dia para as 9h30 em vez das 9h. Os alunos, normalmente,

chegam às suas escolas às 8h30 e o tempo que demoram a chegar à nossa

escola leva que hajam sempre atrasos no início dos primeiros jogos. O atraso

dos primeiros jogos resulta no atraso dos seguintes. Assim, perspetivar o início

do primeiro jogo para as 9h30 e obrigar a que a ficha de jogo seja entregue meia

hora antes pode ajudar a que não hajam atrasos no início das competições e

assim que os horários possam ser cumpridos. 3) Na modalidade de ginástica

penso que facilitaria o trabalho dos juízes se os alunos entregassem uma folha

com a sequência que pretendem realizar na sua apresentação. Por vezes, o

atleta quer realizar um conjunto de determinados conteúdos mas pode enganar-

se e realizar outro levando a que o juiz fique na dúvida do que o atleta pretendia

realmente fazer. 4) Penso que seria positivo existir um maior espaçamento de

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tempo entre as competições mais exigentes fisicamente, como o futebol e o

basquetebol. Como os jogos são realizados consecutivamente, as equipas que

jogam duas vezes seguidas ficam em desvantagem relativamente à equipa que

faz os seus jogos de forma intercalada. Desta forma, se o futebol e o basquetebol

fosse intercalado com outra modalidade, este desfasamento seria menos injusto.

Por exemplo, poder-se-ia intercalar o basquetebol com o voleibol.

Concluindo, apesar dos contratempos criados por alguns problemas

familiares, penso que atingi os objetivos delineados para esta Supertaça Escolar

e consegui superar as expectativas criadas relativamente ao futebol feminino no

escalão de sub.19. A elevada presença e motivação das alunas durante todo o

processo, bem como o bom relacionamento entre elas foi algo que me agradou.

Penso que este evento foi muito bem organizado e gerido, no entanto existem

sempre aspetos que podem melhorar. Este evento é algo realmente grandioso e

não tenho dúvidas que a XXIII edição da supertaça será novamente um sucesso.

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VI- Desenvolvimento

Profissional

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A melhoria da minha prática e o processo de (re)construção de uma

identidade de profissional foi sendo estruturada ao longo do ano de estágio. Para

isso, contribuíram um alargado conjunto de tarefas e atividades que me

proporcionaram experiências significativas em relação ao meu entendimento

sobre o que é ser professor. Estas experiências e a partilha de ideias com os

elementos do núcleo de estágio e com os restantes professores de EF da EC

permitiram-se perceber melhor o modo de levar à prática, de forma coerente,

eficaz, eficiente e significativa, as minhas conceções e planeamentos.

A produção de um diário de bordo, onde escrevi alguns dos meus

sentimentos, emoções, preocupações e observações foi uma das ferramentas

que se revelou importante para a (re)construção da minha identidade

profissional, na medida em que a passagem para o papel do que pensava sobre

determinado acontecimento específico, ajudou-me a perceber melhor o que

sentia e como deveria agir em relação a esse acontecimento, mais ainda levou-

me a refletir sobre o que um professor sente e como age. De facto, a realização

de reflexões, tanto escritas como apenas pensadas, individuais ou de grupo,

foram a base para o desenvolvimento da minha prática profissional. Neste

reconhecimento, perspetivo que as reflexões são algo que estarão sempre

presente na minha vida profissional, isto porque almejo tornar-me um

professor/profissional de excelência.

6.1. Reflexões

De acordo com Oliveira e Serrazina (2002, p. 30), “a palavra “reflexão”

sugere um pensamento sério e austero distante da ação, com conotações

próximas de meditação e introspeção. Neste caso está a falar-se de um processo

mental que acontece quando se olha para determinadas ações do passado”.

Para estas autoras, um pensamento reflexivo ou crítico está intimamente

interligado a um conjunto de crenças, princípios e hipóteses associados a um

conjunto de dados suscetíveis de várias interpretações. A ideia de reflexão

associa-se ao modo como se lida com os problemas da prática profissional, com

a incerteza e com a disponibilidade de encarar outras hipóteses, descobrindo

novos pontos de vista e novas soluções a partir de um equacionar e reequacionar

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de problemas. O processo reflexivo requer que o professor realize uma

autoanálise sistemática, implicando abertura de espírito, análise rigorosa e

consciência social, pois, tal como refere Schön (1992), este é um processo que

é realizado num contexto de conversação coletiva e confere um poder

emancipatório ao professor, incluído no contexto social e cultural em que se

insere, pois é a partir destes que a sua ação recai.

De acordo com Oliveira e Serrazina (2002), o desenvolvimento da prática

dos professores reflexivos baseia-se na sua própria investigação-ação que, por

sua vez, se enquadra no seu contexto escolar ou na “sala de aula”. Essa prática

é alimentada pelo espirito crítico, relacionado com as teorias da educação, sendo

um processo sujeito a avanços e recuos sistemáticos que conduzem a

transformações e investigações futuras.

Para Bento (2003, p. 175) “sem uma reflexão posterior acerca das aulas,

sem uma avaliação crítica do próprio trabalho, verifica-se imediatamente um

retrocesso dos resultados em todos os aspetos do ensino: da aprendizagem, da

docência, da sua planificação, preparação e realização”. Este facto atribui ainda

mais importância às práticas reflexivas, não só porque é um requisito para que

não haja quebra na qualidade da prática profissional, mas também por promover

a sua melhoria. Nesse sentido, a prática reflexiva foi algo que sempre esteve

presente durante o meu EP.

De acordo com Schön (1992), uma reflexão pode ser realizada em três

momentos distintos: na ação, depois da ação - sobre a ação e sobre a reflexão

na ação. Os dois primeiros momentos caracterizam-se por serem reativos e

distinguem-se por um deles ser durante a prática (na ação) e o outro logo após

a prática (sobre a ação). Para este autor, é na reflexão sobre a ação que se

consciencializa o conhecimento tácito, procuram-se crenças erradas e

reformula-se o pensamento. De acordo com Oliveira e Serrazina (2002), os

professores que refletem na ação e sobre a ação estão num processo

investigativo de auto compreensão realizado com o fim de melhorar a qualidade

do ensino procurando constantemente criar condições para melhorar a

aprendizagem. O terceiro momento caracteriza-se por ser orientado para o

futuro, na medida em que se revisitam contextos políticos, sociais, pessoais e

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culturais em que a ação ocorreu para, posteriormente, tentar compreender novos

problemas, descobrir soluções e orientar ações futuras. Este momento de

reflexão é aquele que, segundo Schön (1992), promove mais o desenvolvimento

profissional e ajuda o professor a construir a sua própria forma de conhecer.

A maioria das reflexões que realizei foram direcionadas às questões

específicas da EF, nomeadamente das aulas que lecionei e das aulas que os

meus colegas do núcleo lecionaram. Com o objetivo de melhorar a minha prática

pedagógica realizei reflexões de todas as aulas, sendo as mais ponderadas as

sobre a ação e as sobre a reflexão na ação. Estas foram realizadas

maioritariamente na forma escrita e ajudaram-me a perceber como se estava a

desenrolar o processo ensino-aprendizagem e como poderia atuar de forma a

aumentar a sua eficácia. Realizar as reflexões por escrito foi uma estratégia

positiva, na medida em que consegui organizar e estruturar melhor o meu

pensamento, ajudando-me a recordar o conteúdo acerca do qual tinha refletido.

Possuir uma “base de informações”, escrita, sobre possíveis problemas que

podem ocorrer e possíveis soluções a utilizar no futuro é, na minha opinião, uma

boa estratégia para futuramente resolver e/ou atenuar problemas ou, até mesmo,

antecipá-los e/ou evitá-los. É certo que quando for um profissional docente não

irei realizar reflexões escritas tão minuciosas de forma continuada, mas estas

deverão estar sempre presentes mesmo que realizadas apenas mentalmente ou

sobre a forma de notas. Não é por acaso que Bento (2003) reforça a ideia que

renunciar às atividades de reflexão é errado uma vez que estas são fulcrais na

preparação da futura aula, pois proporciona maior exatidão do nível de partida

dos alunos e é decisiva na qualidade da atuação do professor, sendo, por isso,

fulcral na melhoria da eficácia do ensino.

A reflexão deve ser guiada através da comparação entre os objetivos

delineados e o processo que leva ao seu alcance com os resultados alcançados

e o que realmente se verificou (Bento, 2003). Foi nesse sentido que as minhas

primeiras reflexões foram construídas. Senti uma evolução na sua qualidade ao

longo do ano: numa fase inicial eram apenas direcionadas para situações

particulares (um acontecimento específico, uma instrução mal feita, uma

progressão que não resultou, etc.), normalmente associadas às categorias

transdisciplinares e às dimensões de atuação pedagógica do professor

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(Siedentop, 1998), mas, após uma reunião com a professora orientadora,

percebi que estas estavam a tornar-se repetitivas e carentes de suporte teórico.

Com o intuito de me ajudar a melhorar a qualidade das minhas reflexões, a

professora orientadora apresentou-me os níveis de reflexão referenciados por

Larrivee (2008), a saber: 1) Uma reflexão com foco nas atividades de ensino,

ações e/ou habilidades normalmente considerando acontecimentos isolados; 2)

Uma reflexão que considera a teoria e a razão na prática; 3) Reflexão que

examina as consequências éticas, sociais e políticas do ensino;

Após conhecer estes níveis de reflexão, iniciei uma outra fase em que

investiguei no sentido de encontrar literatura que suportasse as minhas

decisões. De seguida comecei a introduzir pensamentos e questões políticas e

sociais, associadas à Educação no nosso país, dando às reflexões uma maior

versatilidade, profundidade e alcance. De salientar que nem todas as reflexões

apresentaram estes três níveis pois estavam dependentes dos acontecimentos

que iam ocorrendo. O facto é que o conhecimento destes três níveis foi essencial

para que pudesse produzir reflexões diferentes das que habitualmente produzia

e mais variadas em termos de conteúdo. De seguida são apresentado três

excertos que ilustram os níveis mencionados:

As atividades de ensino

“Existiram 2 árbitros em cada jogo. Um arbitrava em metade de um

campo e outro arbitrava na outra metade. Cada árbitro tinha um

“assistente” que o ajudava na marcação das faltas e na realização das

sinaléticas. Os restantes elementos ajudavam os alunos que realizavam

as estatísticas por meio de observação. Penso que essa estratégia foi

bem pensada porque permitiu aos alunos desenvolverem conhecimentos

associados à cultura desportiva (sinaléticas, principais faltas) e aos

conceitos psicossociais (autonomia, cooperação), a desenvolverem

capacidades de observação (fundamentais na aprendizagem) e a

integrarem-se na aula mesmo sem realizar exercício físico.” (Reflexão da

aula do dia 28/10/2016)

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A teoria e a razão da prática

“O facto de este ser um jogo desportivo de invasão pode estar na origem

de um menor rendimento dos meus alunos pois estes necessitam de

constantemente procurar novas soluções. Este facto está intimamente

interligado ao processamento cognitivo e à capacidade de o transformar

em movimento.” (Reflexão da aula do dia 20/01/2017)

As consequências éticas, sociais e políticas do ensino

“O objetivo da Educação passa por ajudar os alunos a identificar-se com

o que aprendem e com o processo de aprendizagem. Assim, não se deve

conceber o ensino apenas como um campo de alcance dos objetivos do

professor, mas sim como um processo de comunicação e entendimento,

no qual os alunos também são sujeitos (Bento, 2003). Nesse sentido,

deve-se dar liberdade aos alunos para poderem tomar decisões sobre

como querem e devem aprender fomentando as relações sociais e as

diferenças nas condições de aprendizagem e nos objetivos a alcançar.”

(Reflexão da aula do dia 14/03/2017)

As reflexões que realizei, e que iam além das questões específicas da EF,

ajudaram-me a compreender melhor a função do professor, o seu papel

enquanto formador e qual o valor educativo do desporto, enquanto conjunto de

atividades escolares que proporciona experiências motoras, cognitivas e,

sobretudo, sociais.

Foi com base nos momentos definidos por Schön (1992) e nos níveis

definidos por Larrivee (2008) que procurei, a partir do 2º período do ano letivo,

realizar reflexões sobre todas as atividades em que participei durante o EP -

reuniões com os professores da EC, com o departamento de EF e desporto e

com o PC, aulas lecionadas e que os meus colegas lecionaram, atividades

realizadas para escola e para a comunidade e outras tarefas específicas do

estágio, nomeadamente as tarefas a realizar no âmbito da direção de turma, as

observações realizadas às aulas lecionadas pelos professores de EF da EC e a

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atividade de professor a tempo inteiro (PTI). Essas reflexões, juntamente com a

produção de um diário de bordo, onde foram exprimidas algumas das minhas

emoções, sentimentos e preocupações, foram, conforme mencionado,

fundamentais à construção da minha identidade como professor.

6.1.1. As reuniões: momentos de aprendizagem e de partilha

No término do EP, e em retrospetiva ao experienciado, não tenho dúvidas

que as reuniões, sejam elas gerais de professores, de direção de turma, de

departamento ou de conselho de turma, são muito importantes na atividade

docente. De facto, os espaços de reunião são momentos importantes para o

debate, troca de ideias e para partilha de conhecimentos e experiências que

despoletam reflexões fundamentais para o alcance de objetivos comuns.

As reuniões gerais, sobretudo a primeira, foram muito importantes porque

me permitiram conhecer parte da comunidade educativa, entender a escola,

conhecer os seus projetos e programas e tomar conhecimento dos seus eventos

anuais. Nestas reuniões, a minha participação foi de mero assistente, no entanto

serviu para perceber a forma como estas se organizam e processam e a forma

como os professores interagem uns com os outros. Estes momentos ajudaram-

me ainda a sentir parte integrante do grupo dos professores.

Nas reuniões de direção de turma foram explicitadas todas as funções e

tarefas dos diretores de turma, bem como foram tomadas decisões acerca de

assuntos importantes para a escola, designadamente a reformulação da ficha de

encaminhamento de alunos para a sala de encaminhamento disciplinar. Estas

decisões foram muito importantes pois a EC debate-se com muitos

comportamentos de indisciplina por parte dos alunos. Este panorama, associado

ao interesse da escola em verificar se as medidas de combate à indisciplina,

tomadas nos últimos anos, tiveram efeitos positivos, acabou por justificar a

temática do estudo que o núcleo de estágio definiu – A indisciplina em contexto

de sala de aula.

As reuniões de departamento foram aquelas em que senti uma maior

união por parte dos participantes. O facto de o número de participantes ser

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menor, de sermos todos professores de EF e debatermos assuntos que visavam

a melhoria da qualidade da nossa oferta educativa e dos eventos desportivos

extracurriculares levou a que se proporcionassem mais oportunidades de

participação, tanto dos professores como dos estagiários. De salientar que os

professores do departamento nos deram liberdade para participar nas reuniões,

sem nenhum constrangimento. De facto, todos se mostraram disponíveis para

nos ouvir e isso ajudou a sentir-me como parte integrante do grupo. Destas

reuniões retiro, principalmente, a sua enorme importância na edificação de uma

boa coordenação entre os elementos, na procura da melhoria da qualidade da

oferta educativa, da qualidade do processo ensino-aprendizagem e da

organização dos eventos desportivos escolares. Destaco também a elaboração

de uma ata de uma das reuniões, conquanto foi a primeira vez que tive a

oportunidade de o fazer. Tendo em conta que esta é uma tarefa que,

seguramente, fará parte das nossas obrigações no futuro considero que foi

importante passar por esta experiência.

Quanto às reuniões do conselho de turma, destaco o facto de o meu PC

permitir que fornecesse as informações dos alunos associadas à EF e, para além

disso, me desafiasse a coadjuvá-lo numa delas, embora de uma forma pouco

autónoma. Desta experiência retiro a importância de todos os professores da

turma se reunirem com o objetivo debater as estratégias a adotar para potenciar

a aprendizagem dos alunos, isto tendo em conta a deteção das suas principais

dificuldades e potencialidades. Um facto desmotivante foi o de perceber que o

PC não se mostrou disponível para me desafiar a conduzir uma destas reuniões.

Tal como a realização da ata, esta também é uma experiência pela qual irei

passar no meu futuro, pelo que teria sido importante passar por ela. Deixar-me

conduzir uma das reuniões não seria, na minha opinião, um “risco” assim tão

grande pois o PC estaria presente e poder-me-ia corrigir ou orientar sempre que

eu fizesse algo errado ou menos adequado.

As reuniões com o PC também foram muito importantes na medida em

que foram momentos em que o núcleo de estágio aproveitou para partilhar

ideias, pensamentos, sentimentos, emoções e metodologias que, por sua vez,

ajudaram na realização de reflexões e, consequentemente, no aumento do

conhecimento. O facto de os elementos do núcleo possuírem conceções e

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experiências muito distintas originou alguns debates muito “acesos”, o que nem

sempre resultou num bom ambiente de trabalho. Não obstante a tensão que por

vezes se criou, à medida que o ano letivo foi decorrendo, a capacidade de ceder

foi maior resultando num ambiente mais favorável. Pessoalmente, alterei a

minha postura porque fui entendendo que, por vezes, não vale a pena debater

assuntos quando o outro lado não se interessa em ouvir e/ou possui

constantemente opiniões opostas. O facto de debatermos muitas vezes sobre o

mesmo assunto levou a que, em determinados momentos, me sentisse saturado.

Com o tempo fui percebendo que a estratégia de ceder, quando percebia que o

debate não resultava em nenhuma ideia nova ou significativa, resultava num

ambiente positivo. Destas reuniões retiro, sobretudo, que o pluralismo interno é

positivo para a aquisição de conhecimento mas tem limites, isto é, quando

existem demasiadas diferenças entre os intervenientes, por vezes, pode não ser

positivo. Um exemplo dos debates realizados é apresentado a seguir com um

excerto de uma reflexão de uma das aulas que lecionei.

“Uma das críticas de que a minha aula foi alvo é a de não promover

aprendizagens significativas das habilidades motoras quando existe

competição entre grupos heterogéneos. O facto de serem realizadas

equipas heterogéneas não implica necessariamente que se trabalhe

apenas para alguns alunos. Todos podem trabalhar na sua zona de

desenvolvimento proximal. “A manipulação das condições de prática pode

ser efetuada em muitos sentidos e em referência a aspetos distintos, entre

os quais Rink (1993) salienta: (1) a organização de situações parcelares

nas progressões; (2) a organização espacial da atividade prática e do

material envolvido; (3) a focalização das condições de prática,

nomeadamente o número de praticantes envolvidos na situação; (4) a

expansão do número de diferentes possibilidades de respostas; (5) a

estabilização das sequências das tarefas.” (Mesquita & Graça citado por

Rosado & Mesquita, 2011). Assim, um jogo de voleibol, por exemplo, pode

ser jogado, seja ou não em competição, com um número diferente de

jogadores em cada equipa, ou com uma dimensão do campo diferente em

cada equipa ou com regras específicas para cada aluno (por exemplo um

aluno com mais dificuldades pode dar 2 toques antes de passar a bola).

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161

Desta forma é possível que todos trabalhem na sua zona de

desenvolvimento proximal em grupos heterogéneos.” (Reflexão das

sessões do dia 30/01/2017)

6.1.2. O diretor de turma: elemento chave na relação escola-família

A Escola apresenta como principal função formar cidadãos críticos, éticos

e participativos. O cumprimento desta função implica a participação dos

encarregados de educação na vida escolar dos seus filhos, pois estes, segundo

Rego (2003), partilham funções sociais, políticas e educacionais com a Escola.

De acordo com Abreu (2012), a colaboração das famílias é um fator fundamental

para o desenvolvimento das crianças. Segundo o mesmo autor, para mostrar a

importância da participação da comunidade na escola, de forma a integrar o

conhecimento aprendido no mundo é “imprescindível que ocorra integração

entre a escola e a comunidade atendida, com reconhecimento e valoração dos

saberes extracurriculares e efetivação de parcerias no trabalho educativo…

Devemos considerar que todos os participantes do processo educativo têm a

capacidade de elaboração de propostas para a melhoria da educação” (p. 282).

Nesse sentido, cabe à escola viabilizar o acesso dos encarregados de educação

às ações escolares (Nakayama et. al., 2010) e à própria escola. É fundamental

que exista uma interação construtiva entre a escola e a comunidade, isto

considerando que todos os participantes podem e devem elaborar propostas

para a melhoria da Educação. Essa interação deve ser caracterizada pelo

diálogo e pela confiança, devendo a Escola proporcionar “encontros” a fim de

conhecer os recursos da comunidade e os aspetos da sua realidade com vista à

melhoria do processo ensino-aprendizagem (Nakayama et al., 2010). Assim,

partindo deste pressuposto, pode-se deduzir que uma colaboração positiva entre

os encarregados de educação e a Escola é um fator fundamental para o

desenvolvimento dos alunos enquanto cidadãos e pessoas possuidoras de saber

aplicável ao mundo e contexto onde vivem.

De acordo com Roldão (1995), o diretor de turma (DT) é um professor

coordenador de professores e, conjuntamente, um agente do sistema de gestão

da escola, com responsabilidades na gestão global do conselho de turma a que

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preside. É um gestor pedagógico que, segundo Boavista & Sousa (2013), tem

três funções centrais: a relação com os alunos, a relação com os restantes

professores da turma e a relação com os encarregados de educação. Face a

este quadro, o DT pode ser considerado um “elo de ligação” entre os

professores, os alunos e os encarregados de educação. Essa ligação existe com

o principal objetivo de transmitir aos encarregados de educação todos os aspetos

associados à vida escolar dos seus educandos. Deste modo, o DT desenvolve

o seu trabalho em colaboração com todos os atores diretamente implicados no

PE e na vida escolar do aluno, criando um ambiente propício ao seu

desenvolvimento e formação integral (Torres, 2007). Ainda, na perspetiva da

mesma autora, o DT é um facilitador da integração escolar dos alunos ajudando

também na promoção do seu sucesso escolar e na participação dos

encarregados de educação no processo educativo do seu educando.

O meu trabalho de direção de turma foi feito com a ajuda do meu PC, que

era o diretor da minha turma residente. Desde o início do ano que fui informado

de todo o trabalho a realizar, pelo que fui observando, durante as horas semanais

de atendimento, todas as funções e tarefas adstritas à função de DT. Desde as

questões burocráticas até ao contacto direto (telefónico e presencial) com alguns

encarregados de educação fui percebendo como se processa o trabalho do DT.

Aprendi a organizar e a colocar toda a informação associada à vida escolar dos

alunos, quer no dossier de turma, quer no programa INOVAR, nomeadamente

as justificações de faltas, o lançamento das avaliações finais e a seleção dos

documentos necessários a serem assinados pelos encarregados de educação.

Também presenciei o atendimento aos encarregados de educação e aprendi

muito sobre a forma como devemos comunicar com eles, nomeadamente no que

respeita ao ajustamento do vocabulário utilizado aos conhecimentos deles, à

postura serena e tranquila que se deve adotar e manter durante os encontros e

a necessidade de demonstrar real preocupação com o bem-estar e sucesso dos

educandos. Em alguns momentos, um dos encarregados de educação

demonstrou alguma agressividade no seu discurso e verifiquei que o PC

manteve um discurso calmo e sereno, resolvendo alguns potenciais conflitos.

Também coadjuvei o PC numa reunião do conselho de turma, destinada à

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avaliação do segundo período, e presenciei a entrega de notas aos

encarregados de educação em todos os períodos.

De todas estas experiências e aprendizagens destaco o desconhecimento

que tinha das inúmeras tarefas que cabem ao DT realizar, bem como das suas

funções, designadamente o facto de este ser principal facilitador da integração

social dos alunos da “sua” turma na escola e de ser um elemento de equilíbrio

entre os restantes professores da turma e os alunos, gerindo e resolvendo

conflitos. É certo que no primeiro ano de mestrado tivemos a oportunidade de

obter essa informação, em termos teóricos, mas, o facto de ter e sentir esta

experiência levou-me a obter uma visão mais realista das exigências do seu

trabalho, conforme espelham os excertos a seguir apresentados:

“Na etapa final deste primeiro período ensino que já começo a ter mais

noção sobre as funções e importância de um diretor de turma. Este é um

elemento de equilíbrio entre os professores da turma na medida em que

tenta resolver problemas que surgem entre os professores da turma, isto

no que respeita às decisões que tomam relativamente às atividades a

desenvolver, nomeadamente quando são sobrepostas. Por outro lado, é

um elemento que é visto pelos alunos como o responsável máximo da

turma, pelo que pode intervir em caso de algum professor não a conseguir

controlar em termos disciplinares ajudando a encontrar soluções para a

resolução de problemas. É também o elo de ligação entre os

pais/encarregados de educação e os alunos na medida em que é através

dele que a vida escolar dos alunos é transmitida.” (Diário de bordo dia

02/12/2016)

“Este foi a primeira vez que entreguei, juntamente com o professor

cooperante, as notas dos meus alunos aos encarregados de educação.

Este foi um momento interessante porque permitiu-me estar mais próximo

dos encarregados de educação e observar a forma que o professor

cooperante tem de comunicar com eles e vice-versa. A forma calma e

direta que o professor tem em transmitir a informação penso que foi bem

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vista pelos encarregados de educação que, na minha perspetiva, não

querem “perder” muito tempo com informações muito precisas, exceto as

informações sobre as notas dos seus educandos. Um dos encarregados

de educação colocou dúvidas sobre as faltas da sua educanda pondo em

causa, indiretamente, o profissionalismo do professor que, por sua vez,

não perdeu a serenidade e calma no seu discurso levando o término do

encontro a “bom porto”.” (Diário de Bordo dia 16/12/2016)

6.1.3. As observações: elementos balizadores e enriquecedores das

próprias práticas

De acordo com Sarmento (2004), a observação é um processo de

aprendizagem adquirida pela reflexão crítica que os profissionais fazem sobre os

seus comportamentos. Esta assume-se como um poderoso instrumento que visa

analisar o processo pedagógico e humano tão importante para o

desenvolvimento do desempenho dos profissionais. Assim, a partir da

observação, é possível que o docente identifique dificuldades e problemas na

sua prática pedagógica e que, posteriormente, procure formas de os solucionar.

Acresce ainda que a observação também serve para que o docente verifique

quais as suas potencialidades para, desta forma, poder mantê-las no sentido de

aumentar a eficácia do seu desempenho.

Tal como o referido nas Normas Orientadoras do EP7, uma das tarefas a

realizar pelos estagiários é elaborar e colocar em prática um plano de

observações sistemáticas aos elementos do núcleo de estágio e aos professores

de EF da escola cooperante. Rink (2014) entende que a observação sistemática

e a análise do processo de instrução consiste em recolher e analisar um conjunto

de informações objetivas. Segundo a mesma autora é fundamental decidir o que

observar, decidir qual o instrumento a utilizar para a recolha de informação e

aprender a usá-lo, recolher os dados, analisar e interpretar a informação

significativa e promover e monitorar mudanças na instrução.

7 Normas e Orientadoras do Estágio Profissional do ciclo de estudos conducente ao grau de mestre em ensino da educação física nos ensinos básico e secundário 2016/2017, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

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165

Face ao exposto, o nosso núcleo construiu um documento onde

constavam, justificadamente, as fichas de observação que utilizámos para

observar o desempenho dos professores e dos nossos colegas do núcleo.

Algumas dessas fichas foram adaptadas pelo núcleo e outras foram utilizadas

na sua íntegra. A escolha/construção dessas fichas baseou-se na intenção que

tínhamos em retirar informação objetiva, que tivesse significado e que levasse à

reflexão por parte da pessoa observada.

Nas duas primeiras observações definimos como critério de observação, os

incidentes críticos com o intuito de compreendermos quais os principais

incidentes ocorridos na aula e quais os aspetos que devem ser tidos em conta

para melhorarmos a atuação do professor. As observações que se seguiram

focaram-se nas dimensões de atuação pedagógica do professor definidas por

Siedentop (1998): 1) Instrução; 2) Gestão; 3) Clima; 4) Disciplina; No entanto,

também se debruçaram sobre os incidentes críticos, mas de uma forma mais

generalizada, isto é, também eram registados os acontecimentos marcantes que

aconteciam, isto pese embora não fossem o foco da observação. Foram estas

dimensões, que o núcleo se comprometeu a observar pois considerou relevante

a sua melhoria para a promoção de ambientes de aprendizagem favoráveis.

Foram observadas duas aulas de cada dimensão.

A terceira e a sétima observações foram destinadas à observação da

gestão do tempo de aula (Sarmento, 2004). Nesta dimensão o foco passou pela

comparação do tempo de prática (potencial de aprendizagem) com o tempo que

o professor e a turma utilizaram para em tarefas de organização e o tempo que

o professor utilizou para instruir os alunos. Essa comparação foi realizada com

o intuito de perceber como este processo pode ser otimizado de forma a

aumentar o tempo potencial de aprendizagem.

Na quarta e oitava observações, o foco passou pela qualidade da

instrução. Nesta dimensão pretendíamos observar o ciclo de feedback e a

frequência da utilização de palavras-chave. O ciclo de feedback é decisivo na

aprendizagem dos alunos, uma vez que este tem o poder de alterar

comportamentos e execuções técnicas, melhorando-os. Antes de construirmos

o documento de observações, eu e os meus colegas do núcleo observámos as

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aulas uns dos outros e constatámos que após a emissão do feedback, o

professor, por vezes, não verificava se tinham existido as alterações pretendidas

no comportamento. Para além disso, verificámos que o recurso a palavras-chave

era muito reduzido, o que levava ao aumento da quantidade de informação

transmitida e, consequentemente, ao aumento do tempo de instrução. Segundo

Rink (1994), utilizar palavras-chave é uma estratégia que deve ser pensada e

utilizada com frequência pois é um fator de eficácia para a aprendizagem motora.

A quinta e nona observações foram destinadas à observação da disciplina

(comportamento dos alunos). Nesta dimensão pretendíamos verificar a

frequência de comportamentos fora da tarefa e/ou desviantes, tentando

compreender o que poderia causar estes acontecimentos, e se o comportamento

do professor era adequado ou promotor destes mesmos comportamentos.

Assim, tivemos em consideração a circulação do professor, se este promovia

longos períodos de espera e se intervinha quando se observava

comportamentos inadequados dos alunos.

Na sexta e décima observações pretendíamos observar o clima da aula.

De acordo com o modelo integrado de liderança de Duda e Balaguer (citado por

Rosado & Ferreira, 2011, p.196), o clima motivacional é fundamental na

promoção de ambientes positivos de aprendizagem, tendo os profissionais uma

grande influência na criação desse mesmo clima na medida em que podem

gerar, a partir das atividades propostas, relações, professor-aluno e aluno-aluno,

que favoreçam esse mesmo clima. Esta dimensão, quando influenciada

positivamente, demonstra ser promotora de um maior empenho por parte dos

alunos pois alunos mais motivados demonstram mais predisposição para realizar

as tarefas da aula. Especificamente pretendíamos observar as interações entre

o professor e dos alunos e dos alunos entre si e se a natureza das tarefas eram

motivantes para os alunos.

Todas as observações foram alvo de reflexões escritas e debatidas

verbalmente pelo núcleo nos momentos imediatamente após às aulas que foram

alvo de observação e nas reuniões periódicas com o PC. Assim, existiu partilha

de ideias e de sugestões em dois momentos distintos. O primeiro momento é

importante pois o professor observado tem a oportunidade de perceber e sentir

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alguns aspetos peculiares e, muitas vezes, isolados daquilo que aconteceu e

que poderia melhorar, aspetos esses que por serem tão peculiares não são tão

significativos se não forem indicados no momento. Já o segundo momento é

importante, porquanto permite a realização de um debate de forma mais refletida

e pensada levando a uma partilha de ideias mais aprofundada, tal como se pode

constatar pelo teor dos excertos seguintes:

“Adotar um posicionamento espacial que permita obter uma visão geral

da turma no momento de emitir feedbacks e instruir. O facto de o professor

estar, por vezes, de costas não permitiu que observasse alguns

comportamentos dos seus alunos.” (Reflexão da observação 1 – dia

16/11/2016)

“Chegar a todos os alunos em todos os exercícios não é fácil sobretudo

quando existem muitos que precisam de correções. Tendo uma turma

empenhada, um ensino cooperativo poderia ajudar a resolver

parcialmente este problema” (Reflexão da observação 2 – dia 22/11/2016)

“Mais de ¼ do tempo da aula foi destinado ao fornecimento de informação

aos alunos. Penso que este tempo deve ser reduzido ao máximo sob pena

de proporcionar o desinteresse e desmotivação dos alunos para a prática.

O recurso a palavras-chave, a transmissão apenas da informação

essencial e uma correta ocupação no espaço são formas de minimizar o

tempo de instrução.” (Reflexão da observação 7 – dia 19/04/2017)

“… penso que as progressões são adequadas, no entanto é necessário

perceber a resposta que os alunos estão a dar aos exercícios propostos.

Tendo em conta que o modelo desenvolvimental de tarefas tem uma

lógica de progressão, é necessário que os alunos dominem as

componentes críticas das tarefas de introdução para se poderem realizar

tarefas de extensão e, posteriormente, de exercitação e de aquisição. O

facto de se progredir numa atividade sem que os alunos adquiram as

componentes básicas da anterior pode resultar numa aprendizagem

pouco significativa para a generalidade dos alunos.” (Reflexão da

observação 9 – dia 3/05/2017)

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Os excertos anteriores ilustram alguns dos aspetos que foram por mim

observados e alvo de debate nas reuniões realizadas pelo núcleo. Estes foram

alguns momentos importantes para o meu desenvolvimento enquanto

profissional docente pois permitiram-me “treinar” a observação, isto é, exercitar

e melhorar a minha capacidade de observar os acontecimentos que ocorriam na

aula. O facto de ocorrerem muitos acontecimentos ao mesmo tempo dificulta a

seleção da informação pertinente e a remoção de informação dispensável.

Nesse sentido, é importante melhorar a capacidade de selecionar a informação,

sendo a observação uma ótima atividade para isso.

6.1.4. Professor a Tempo Inteiro (PTI)

A semana de PTI foi uma atividade proposta pelo PC e teve como

principais objetivos experienciar um horário completo de professor e, ao mesmo

tempo, lecionar aulas de EF a turmas com características distintas daquela que

lecionava.

Para organizar esta semana tive de compatibilizar o meu horário com os

horários dos professores uma vez que deveria lecionar todas as aulas de EF de

várias turmas sem deixar de lecionar as minhas aulas de EF e exercer as funções

de diretor de turma da minha própria turma. Esta tarefa não foi fácil porque,

embora a grande maioria dos professores se tenha mostrado empenhada em

ajudar, um dos professores recusou ceder a sua turma originando-me grandes

dificuldades na formulação do horário.

Após todo o processo de planificação, iniciei a minha atividade de PTI. Na

semana de vinte a vinte e quatro de fevereiro, lecionei aulas de EF a várias

turmas do terceiro ciclo e do secundário. O facto de lecionar várias matérias a

vários alunos com diferentes faixas etárias no mesmo dia foi, para mim, um

grande desafio. Senti necessidade de estar preparado para os mais variados

tipos de dificuldades, sendo a adaptação ao novo contexto o fator mais

desafiante. Outro fator que me desafiou foi o facto de não conhecer bem os

alunos das turmas e de não ter rotinas implementadas devendo, desta forma,

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cingir-me às rotinas criadas pelos professores titulares. De facto, encontrei

turmas com comportamentos e rotinas bastante diferenciadas. Algumas eram

bem organizadas, autónomas, responsáveis e comprometidas, outras nem tanto.

Observei que alguns alunos de algumas turmas adotavam comportamentos que

não se adequam ao espaço aula. A perceção que ficou é que a atuação dos

professores dessas turmas era propícia a esses mesmos comportamentos. Em

algumas aulas senti que os alunos estavam habituados a fazer da EF uma

espécie de recreio supervisionado. Contudo, no cômputo geral penso que as

turmas e as rotinas e dinâmicas estabelecidas pelos seus professores eram

potenciadoras do processo de ensino-aprendizagem.

Após a lecionação da primeira aula senti um maior à-vontade porque

percebi, através da prática, que era capaz de me adaptar facilmente a um

contexto diferente daquele que estava habituado. Durante a semana e durante

as aulas fui recebendo feedbacks positivos, tanto dos professores, como dos

alunos, que me elevaram a autoestima e aumentaram a confiança em mim

próprio. Dois dos professores e uma das turmas demonstraram explicitamente a

sua satisfação pela aula.

O facto de não haver um planeamento escrito e extremamente

pormenorizado das aulas leva a que haja mais genuinidade na atuação

pedagógica. Assim, as minhas intervenções e adaptações dos exercícios foram

realizadas em função do que os alunos iam demonstrando na concretização dos

mesmos, isto é, as alterações das tarefas, tanto ao nível da dificuldade, como da

complexidade e da própria estrutura, foram feitas à medida que verificava que

os alunos não estavam a trabalhar na sua zona de desenvolvimento proximal.

Após passar por esta experiência deduzo que a vida de um professor é

muito cansativa principalmente se este residir longe da sua escola. Um grande

espaçamento entre as aulas torna os dias demasiado compridos e com pouco

tempo para descanso. Outro elemento que sobreveio foi que um professor de

qualidade tem que realizar o seu trabalho com paixão e investir constantemente

na sua formação.

Um professor de EF deve acompanhar sempre a evolução dos

conhecimentos da matéria que leciona e os ideais e valores que estão

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intrínsecos nos seus alunos. Desta forma, consegue aproximar-se deles de

modo a poder, através da EF, promover comportamentos de cidadania positivos,

ajudando os alunos a descobrirem as suas potencialidades e a adquirirem

competências significativas ao nível do conhecimento teórico e prático.

6.1.5. Diário de Bordo

A realização de um diário de bordo foi uma tarefa que foi realizada de

forma mais ou menos contínua. Esta serviu para colocar por escrito os meus

pensamentos, observações, sentimentos e emoções relativamente a alguns

acontecimentos que ocorreram na EC. Na fase final do estágio revisitei o diário

e refleti acerca do escrito – reflexão sobre a reflexão na ação. O excerto seguinte

ilustra um exemplo de um desses acontecimentos.

“No dia de hoje aconteceu algo insólito na escola. Um dos nossos alunos

usou repetidamente palavreado inapropriado dirigindo-o aos funcionários,

ameaçando, até, agredir uma das professoras. Quando estava a descer

as escadas tive o desprazer de observar esse acontecimento sem, no

momento, conseguir decidir como haveria de reagir. Bem sei que partir

para a agressão não é uma hipótese, mas, para falar a verdade, vontade

não me faltava. Mesmo com os funcionários a falarem calmamente com o

aluno, numa fase inicial, para tentar tranquilizar a situação, este mostrou-

se cada vez mais agressivo e mal-educado dirigindo palavras ofensivas

aos funcionários, à professora e às suas famílias. Após perceberem que

aquela estratégia não estava a resultar, a professora e os funcionários

aumentaram o tom/volume de voz para se tentarem impor ao aluno. O

facto é que nada disso resultou e o aluno recusou-se a acompanhar um

deles ao conselho executivo. Apercebendo-se disso, a professora foi ao

gabinete do presidente da escola relatar o sucedido e, por agora, espera-

se que os pais sejam contactados e que o aluno seja suspenso da escola

por uns dias. No que respeita à minha atuação fiquei, sinceramente, sem

saber como agir uma vez que a única solução que encontrava no

momento era levar o aluno ao conselho executivo à força, pois o aluno

além de se recusar ir, ficava cada vez mais ofensivo. No entanto, acabei

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por não atuar pois não tinha a certeza das consequências de tal decisão

e, por isso, deixei que quem tinha mais experiência com este tipo de

situações, a resolvesse. O aluno acabou por fugir dos funcionários para

fora da escola, não tendo sido, nesse momento, confrontado com as

consequências do seu comportamento.” (Diário de bordo dia 13/12/2016)

Esta tarefa revelou-se bastante útil para a reconfiguração de alguns

contornos da minha identidade como professor. Esta reconstrução decorreu da

atribuição de novos significados aos acontecimentos que ocorreram ao longo do

estágio.

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VII - A (in)disciplina na sala de aula:

Um estudo numa escola secundária na

região autónoma dos Açores

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A Indisciplina na sala de aula: um estudo realizado numa escola

secundária da região autónoma dos Açores

Resumo

A indisciplina dos alunos é um dos fenómenos que se tem vindo a mostrar cada

vez mais presente nas escolas e nas pesquisas no campo educacional (Pirola &

Ferreira, 2007). O presente estudo teve como objetivo caracterizar os casos de

indisciplina na sala de aula da escola cooperante nos 1º e 2º períodos do ano

letivo 2016/2017 e compará-los com os resultados do estudo realizado no ano

letivo de 2008/2009, isto no sentido de indagar se as medidas educativas

aplicadas desde esse ano letivo levaram a uma diminuição dos casos de

indisciplina. Adicionalmente pretendeu-se ainda identificar a gravidade dos

comportamentos de indisciplina mais frequentes, analisar e caracterizar os casos

de indisciplina por ciclo de ensino e por sexo e analisar os casos dos alunos

reincidentes em comportamentos de indisciplina por ciclo de ensino. A amostra

foi constituída por todos os alunos que foram alvo de participações disciplinares

no ano letivo de 2016/2017, num total de 224. A recolha e análise dos dados foi

realizada a partir da análise das fichas de registo dos alunos que foram enviados

para a sala de encaminhamento disciplinar e dos registos de indisciplina dos

alunos que foram alvo de participações disciplinares e de reincidências em

comportamentos de indisciplina. Relativamente aos procedimentos estatísticos

recorreu-se a uma análise descritiva, designadamente a frequência absoluta e a

frequência relativa. A comparação dos dados deste estudo com os dados obtidos

no ano letivo de 2008/2009 teve por base as frequências relativas, na medida

em que o número de alunos e a oferta educativa é diferente comparativamente

ao ano letivo 2016/2017. Os resultados revelaram que os comportamentos de

indisciplina mais frequentes foram as violações dos deveres de respeito e

correção nas relações com os elementos da comunidade escolar (grau 2), que

os alunos do 3º ciclo foram aqueles que apresentaram mais comportamentos de

indisciplina e reincidências, que os rapazes apresentaram mais comportamentos

de indisciplina e reincidências do que as raparigas e que as medidas educativas

aplicadas aos alunos que adotaram comportamentos de indisciplina, desde o

ano letivo 2008/2009, aparentemente, não foram eficazes.

Palavras-chave: Indisciplina, Disciplina, Medidas Educativas, Escola.

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The indiscipline in classroom: a study in a secondary school in Azores

Abstract

The students’ indiscipline is a phenomenon present in schools and an important

topic for researchers (Pirola & Ferreira, 2007). The present study aimed to

characterize the cases of indiscipline in the classroom of the cooperating school

in the 1st and 2nd periods from the school year 2016-2017 and to compare them

with the results of the study carried out in 2008-2009.The purpose is to determine

if the educational measures applied since that school year led to a decrease in

school indiscipline. It is also intended to identify the severity of the most frequent

indiscipline behaviors, to analyze and characterize the cases of indiscipline per

educational level and by sex, and to analyze the cases of students who repeated

acts of indiscipline. The sample comprised students who had discipline referral

forms in the 2016- 2017 school year, a total of 224. The data were collected and

analyzed based on the analysis of students register forms that were sent to the

school office referral and students who had discipline referral forms. Concerning

the statistical procedures, a descriptive analysis was used, namely absolute

frequency and relative frequency. The comparison of the data of this study with

the data acquired in the 2008- 2009 school year was based on the relative

frequencies, since the number of students and the educational offer is different

compared to the 2016-2017 school year. The results revealed that the most

frequent indiscipline behaviors were violation of duties of respect and negative

attitudes toward school community (level II); that the 3rd level students were those

who revel more behavioral problems and recidivism; that boys reveal more

indiscipline and recidivism than girls; and the educational measures applied to

those students since the school year 2008- 2009 apparently were not effective.

Keywords: Indiscipline, Discipline, Educational Measures, School.

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7.1.Introdução

Este estudo foi realizado no âmbito da unidade curricular de Estágio

Profissional constituinte do 2º ciclo de estudos do mestrado em Ensino da

Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário da Faculdade de Desporto

da Universidade do Porto, em resposta à componente investigativa que o

professor deve ser capaz de realizar na sua atividade profissional. De facto, ser

capaz de investigar a própria prática ou temáticas importantes para a

comunidade educativa, é uma competência essencial do professor.

Neste pressuposto e em associação com a informação transmitida pelo

professor cooperante numa reunião de seminário, relativa à necessidade que a

escola tinha de realizar um estudo que pudesse esclarecer dúvidas

relativamente à tipologia de comportamentos de indisciplina adotados pelos

estudantes, mais especificamente perceber se o número e gravidade de

comportamentos de indisciplina tinha aumentado desde o estudo realizado em

2008/9, emergiu a temática da indisciplina como foco do estudo de investigação

dos estagiários.

Segundo Garcia (2006), a indisciplina tornou-se uma forte motivação

indesejável para a realização de reflexões e mudanças na escola. As tensões

derivadas da ausência progressiva, declarada por professores, de disciplina e

respeito reclamam pela necessidade de rever posições, valores, projetos,

intenções e diversos pressupostos e racionalidades. Face a este ambiente, que

gradualmente se foi instalando nas escolas, a temática da indisciplina emerge

como um assunto transversal à escola e a todas as áreas disciplinares.

7.2.Pertinência do estudo

Durante o meu percurso no estágio, foi minha intenção realizar um trabalho

que tivesse utilidade prática para a escola que me acolheu e para a sua

comunidade. Nesse sentido, e face ao exposto, considerei que seria fundamental

perceber quais os problemas com que a escola se deparava ao nível da

indisciplina, para, assim, ajudar a detetar a sua origem e contribuir para a adoção

de estratégias capazes de diminuir esta tipologia de comportamentos.

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188

Após muitas horas semanais passadas na escola, o diálogo com os

professores e restantes funcionários e uma análise detalhada dos documentos

mais importantes, o projeto educativo, o projeto curricular e o regulamento

interno, detetei que a indisciplina era, de facto, um problema que afetava muito

a escola.

O Projeto Curricular 2008-2009 da escola cooperante refere que “Atualmente,

a escola debate-se com as baixas expectativas dos estudantes quanto à própria

formação, com a sua desmotivação em relação ao estudo e com o seu

desinteresse face ao saber, o que se traduz em comportamentos desadequados,

em situações de indisciplina e na indesejável diluição de uma cultura de

cidadania. Acresce-se a tudo isto situações sociais e familiares complexas e por

vezes problemáticas e relações interpessoais muitas vezes intolerantes e

agressivas. Há ainda a referir o pouco envolvimento das famílias no processo

educativo dos seus educandos e a modesta participação e colaboração dos pais

e encarregados de educação na vida da comunidade educativa”8(p.2).

A indisciplina que se observa atualmente na escola cooperante é uma

problemática que tem constado de forma recorrente, nos assuntos a tratar nas

reuniões do Conselho Pedagógico. Face a este panorama, este órgão

pedagógico solicitou ajuda aos vários departamentos curriculares com o fim de

encontrar medidas para extinguir os comportamentos de indisciplina. Assim, o

nosso intuito foi ajudar caraterizar a realidade da escola ao nível dos

comportamentos de indisciplina. Pessoalmente, centrei-me somente na

caraterização da tipologia dos comportamentos de indisciplina na sala de aula,

em comparação com o estudo de 2008/9. O facto de se perceber qual o nível de

ensino e o sexo em que os comportamentos de indisciplina são mais frequentes

é, segundo Januário, Rosado e Mesquita (2006), um indicador que ajuda a

determinar o foco da intervenção profissional para gerir situações de indisciplina.

Numa fase inicial é, então, de extrema importância verificar se as medidas

educativas aplicadas desde o ano 2008, primeiro ano em que se realizou um

estudo sobre a indisciplina na sala de aula, até ao ano 2017 surtiram efeitos

positivos na melhoria dos casos de indisciplina e motivação dos alunos no que

8 Projeto Curricular de Escola 2008-2009, Escola Secundária das Laranjeiras.

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189

respeita à sua formação. Percebendo se as medidas educativas estão a trazer

ou não benefícios para a melhoria da indisciplina dos alunos, é possível tomar

decisões sobre quais as estratégias a utilizar para promover a melhoria dos

comportamentos dos alunos na sala da aula, bem como a sua motivação.

7.3.Contextualização Teórica

A função da Escola na sociedade atual tem vindo a ser muito estudada nas

últimas décadas pois, cada vez mais se observa um elevado número de crianças

a quem a Escola atribui muitas dificuldades de aprendizagem ou problemas

comportamentais. Com efeito, a indisciplina dos alunos, é um dos fenómenos

que se tem vindo a mostrar cada vez mais presente dentro das escolas e nas

pesquisas no campo educacional (Pirola & Ferreira, 2007).

De acordo com Ishee (2004), os problemas da indisciplina no âmbito

educativo são comuns em todas as áreas do currículo. Segundo Fernandez

(1991), estes chegam a produzir consequências negativas no processo ensino-

aprendizagem, pois limitam o tempo de aprendizagem do aluno e geram

preocupação por parte dos professores que, em última instância, abandonam a

profissão.

A suposta relação indissociável entre educação e a disciplina está-se a

desfragmentar devido ao facto de as expectativas dos educadores, associadas

a determinadas formas de disciplina nas escolas, não estarem ligadas aos

esquemas de racionalidade construídos pelo pensamento moderno. Para Parrat-

Dayan (2012), os discursos dos educadores indicam que os problemas de

indisciplina advêm da perda de valores, que se reflete na conduta dos alunos,

associada a mudanças negativas nos processos de socialização das suas

famílias, pelo que se pensa que para solucionar os problemas de indisciplina, a

escola deveria recuperar os limites que foram perdidos na sociedade por meio

de aplicação de sanções.

A ideia de indisciplina ainda veiculada nas escolas e desejada pelos

educadores é de algum modo paradoxal (Garcia, 2006). De acordo com o autor,

os estudos sobre indisciplina avançam sob diferentes motivações e em busca de

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190

diferentes respostas. De entre essas motivações está a de recuperar o fio

condutor da educação como prática de regulação social, isto enquanto afirma a

sua finalidade emancipatória. Na base dessa busca está a suposição de que nas

escolas podemos produzir uma outra forma de disciplina, emancipatória, capaz

de derivar outra perspetiva para pensar os problemas recorrentes de indisciplina

nas escolas. Essa busca representa um paradoxo na tensão entre as intenções

da educação, dividida entre regulação e emancipação.

Para Januário, Rosado e Mesquita (2006) e para Parrat-Dayan (2012), os

comportamentos de indisciplina são uma ameaça à criação de um clima

pedagógico favorável e, consequentemente, à aprendizagem. Assim, é

fundamental reduzi-los para que se possa potencializar a aprendizagem indo,

desta forma, ao encontro do propósito da existência da escola.

7.3.1. Entre o significado e o conceito de Disciplina e de Indisciplina

O termo disciplina tem sido descrito por vários autores, ao longo do tempo,

de acordo com diversas perspetivas. A palavra (e.g. disciplina) tem a mesma

origem da palavra "discípulo", que significa "aquele que segue", e segundo o

dicionário9 o termo possui o significado de: 1) Conjunto de regras ou ordens que

regem o comportamento de uma pessoa ou coletividade; 2) Observância das

regas - Obediência; 3) Capacidade de controlar um determinado comportamento

de forma a respeitar as regras ou conseguir resultados; 4) Conjunto de

conhecimentos específicos que se ensinam em cada cadeira de um

estabelecimento escolar; 5) Autoridade; 6) Castigo – Mortificação; 7) Correias

para açoitar;

Para Vassalo (2002), desde o século XVIII que a ideia de indisciplina é

antagónica à de disciplina, ou seja, pode-se deduzir que se um aluno não adotar

comportamentos disciplinados significa que está a adotar comportamentos

indisciplinados. Já Garcia (2006) advoga que a indisciplina, quando pensada em

contraste com a disciplina, é um conceito que está articulado à rutura e negação

de esquemas norteadores e reguladores da escola. As expressões de

9 Dicionário da Língua Portuguesa, dicionários editora, 2011

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191

indisciplina habitualmente refletem transgressões a parâmetros e esquemas de

regulação da escola. Assim, podem ser pensadas como formas de rutura no

contrato social subjacente às relações e intenções pedagógicas, na escola, cujo

eixo é o processo ensino-aprendizagem. Segundo o mesmo autor, entre os

professores, o termo refere-se a determinadas contrariedades observadas no

quotidiano das suas práticas pedagógicas que decorrem de ruturas e tensões

produzidas por alunos, tanto nos acordos sancionados pela escola,

particularmente na sala de aula, como em relação às expectativas implícitas

sobre a conduta na escola.

Outra interpretação para o termo indisciplina vem daquilo que Charlot

(2002) chama de incivilidade. As incivilidades são ruturas ao nível das regras e

expectativas implícitas de convivência, dos pactos sociais das relações humanas

e cujo sentido deveria ser do domínio público desde a infância. No espaço

escolar, segundo Abramovay, et al. (2004), as incivilidades expressam-se de

formas variadas e complexas sendo a contestação da ordem escolar, a recusa

do trabalho e a violência exemplos de incivilidades que ameaçam o bom

funcionamento da escola e a convivência que ali ocorre.

7.3.2.Causas de indisciplina

Romi e Freund (1999) referem que as condutas indisciplinadas são, quase

sempre, consequência de uma série de fatores desfavoráveis que atuam sobre

o pensamento dos educandos. Estes são categorizados em: 1) Fatores

sociodemográficos, associados às condições de pobreza e às famílias

monoparentais; 2) Fatores educativos, associados aos estilos de ensino

adotados na escola e às características pessoais dos alunos e dos professores.

Nesta categoria os estilo de ensino mais diretivo e autocrático propicia mais

comportamentos de indisciplina (Matsagouras, 1999). Também os alunos que

apresentam um temperamento elevado, problemas de personalidade e condutas

antissociais têm mais tendência a adotar comportamento de indisciplina que, por

sua vez, causam problemas aos professores pois inibem a fluidez da aula; 3)

Fatores sociais, na medida em que os comportamentos dos alunos são reflexo

do seu contexto social (ausência de padrões comportamentais adequados,

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192

publicidade, televisão, etc); 4) Fatores familiares, nomeadamente os problemas

associados aos divórcios, incumprimento de castigos e promessas, o controlo

parental escasso ou excessivo, etc);

7.4.Objetivos

7.4.1.Geral

Caracterizar os casos de indisciplina na sala de aula nos 1º e 2º períodos

do ano letivo 2016/2017 em comparação com um estudo realizado no ano letivo

de 2008/2009, na procura de inferir se as medidas educativas aplicadas ao longo

deste tempo contribuíram para a diminuição dos casos de indisciplina na escola.

7.4.2.Específicos

1) Identificar a gravidade dos comportamentos de indisciplina mais frequentes;

2) Analisar e caracterizar os casos de indisciplina por ciclo de ensino e por sexo;

3) Analisar os casos dos alunos reincidentes em comportamentos de indisciplina

por ciclo de ensino.

7.5.Metodologia

7.5.1. Participantes

A amostra foi constituída por todos os alunos que foram alvo de

participações disciplinares no ano letivo de 2016/2017, perfazendo um total de

224 alunos.

7.5.2. Instrumentos

Para identificar os casos de indisciplina foram consultados os

documentos, que estavam em posse do conselho executivo, onde constam todas

as participações disciplinares aplicadas aos alunos que adotaram

comportamentos de indisciplina nos 1º e 2º períodos do ano letivo de 2016/2017.

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193

Esses documentos foram produzidos a partir da recolha e análise das fichas da

sala de encaminhamento disciplinar que eram preenchidas sempre que um aluno

fosse alvo de uma participação disciplinar.

Na Figura 7, pode-se observar um exemplar de uma ficha de

direcionamento dos alunos para a sala de encaminhamento disciplinar, a

preencher pelo professor quando o aluno adota um comportamento de

indisciplina sancionado com uma participação disciplinar. Nesta ficha pode ser

observada a descrição dos comportamentos os graus de gravidade (do menos

grave – 2, ao mais grave – 6).

Figura 7 - Exemplar de ficha de encaminhamento dos alunos

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194

Na Figura 8, pode observar-se um exemplar de um documento de

análise das participações disciplinares, produzido pelos professores de uma

das alunas da escola a quem foram aplicadas participações disciplinares.

Figura 8 - Exemplar do documento de análise das participações disciplinares

7.5.3. Procedimentos de análise

A partir dos registos retirados da sala de encaminhamento disciplinar

(Figura 1), que constam na base de dados do programa INOVAR e que nos

foram fornecidos pelo conselho executivo (Figura 2), foi contabilizado o número

de participações disciplinares e reincidências, aluno a aluno. Entenda-se por

reincidência, a existência de participações disciplinares após a aplicação de uma

das medidas educativas disciplinares, ou seja, uma reincidência é uma

participação disciplinar aplicada após a primeira participação disciplinar. É de

salientar que todas as indicações que continham o grau 1 não foram

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195

contabilizadas porque para este nível de gravidade não é aplicada qualquer

participação disciplinar.

De seguida, as participações disciplinares foram separadas por grau de

gravidade, por ciclo de ensino e por sexo e, posteriormente, foi realizada uma

análise estatística descritiva dos dados, designadamente por recurso às

frequências absolutas e relativas. Após esta fase foi realizado um cruzamento

de informação de forma a identificar qual o ciclo de ensino e sexo que

apresentava mais participações disciplinares, bem como a gravidade desses

mesmos comportamentos. Finalmente, esta informação foi comparada com a

informação obtida no estudo anterior realizado no ano letivo 2008/2009.

Uma vez que existiram algumas alterações estruturais face ao ano letivo

2008/2009, nomeadamente no que respeita à oferta educativa e ao número de

alunos que frequentavam a escola, a análise comparativa foi realizada em função

das frequências relativas.

7.5.4. Resultados

7.5.4.1. Comportamentos de indisciplina no ano letivo de 2016/2017

Analisando a Tabela 14 e os Gráficos 1 e 2, observa-se que a larga

maioria das participações disciplinares e das reincidências foram de grau 2, grau

de gravidade mais reduzido, seguido dos graus 3, 4, 5 e 6 respetivamente.

Assim, verifica-se que o número dos comportamentos de indisciplina e das

reincidências foi tanto maior quanto menores eram os graus de gravidade.

Tabela 14- Número de participações disciplinares e reincidências por grau de gravidade

Graus 2 3 4 5 6 TOTAL

Participações

disciplinares 633 97 14 11 7 762

Reincidências 433 68 10 10 7 528

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196

Analisando a Tabela 15 constata-se que existe um maior número de

participações disciplinares no 3º ciclo, seguido do PROFIJ, o curso profissional,

a educação especial e o ensino secundário. Relativamente às reincidências em

comportamentos de indisciplina verifica-se a mesma hierarquia com a exceção

da educação especial que apresentou mais reincidências do que o curso

profissional.

No entanto, a partir da análise do Gráfico 3, é possível verificar que os

alunos do PROFIJ foram os que apresentaram uma maior percentagem de

participações disciplinares e reincidências nos comportamentos de indisciplina,

seguidos dos alunos da educação especial, 3º ciclo, do curso profissional e do

secundário. Verifica-se ainda que mais de metade dos alunos do PROFIJ foram

alvo de participações disciplinares, contrariamente aos restantes ciclos de

ensino, e que mais de metade dos alunos que foram alvo de participações

disciplinares no 3º ciclo, PROFIJ e na educação especial reincidiram em

82

12,9

1,9 1,9 1,3

2

3

4

5

6

83,1

12,7

1,8

1,5

0,9

2

3

4

5

6

Gráfico 2 - Percentagem de participações disciplinares por grau de gravidade

Gráfico 1 - Percentagem de reincidências por grau de gravidade

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197

comportamentos de indisciplina, contrariamente aos dos cursos profissionais e

do ensino secundário.

Assim, pode afirmar-se que a hierarquia dos ciclos de ensino, no que

respeita à percentagem das participações disciplinares e das reincidências em

comportamentos de indisciplina, é igual.

Tabela 15 - Número de alunos com participações

disciplinares e reincidências por ciclo de ensino

Total de Alunos

Nº de alunos com

participações

Nº de alunos reincidentes

3º Ciclo 306 90 60

Secundário 131 9 4

PROFIJ 117 64 48

Profissional 121 34 14

Ed. Especial

68 27 19

Total 743 224 145

A análise da Tabela 16 e dos Gráficos 4 e 5 colocam em evidência que os

rapazes foram alvo de mais participações disciplinares e reincidiram mais que

raparigas. O diferencial nas reincidências em comportamentos de indisciplina é

maior do que o diferencial nas participações disciplinares (41 reincidências e 32

participações disciplinares).

Tabela 16 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por sexo

Participações disciplinares

Reincidências

Nº Alunos 128 93

Nº Alunas 96 52

Total 224 145

Nível de ensino

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

% Alunos com PD

% Alunos reincidentes

Gráfico 3 - Percentagem de alunos com participações disciplinares e reincidências por ciclo de ensino

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198

A análise da Tabela 17, relativa ao cruzamento das informações

associadas às participações disciplinares por grau de gravidade, ciclo de ensino

e sexo, coloca em evidência que houve mais participações disciplinares no 3º

ciclo, sendo que estas foram maioritariamente aplicadas aos rapazes e com o

grau 2 de gravidade. O segundo grupo com mais participações disciplinares são

aos rapazes do PROFIJ, também elas na sua maioria de grau 2. Em terceiro

lugar aplicaram-se mais participações disciplinares de grau 2 aos alunos da

educação especial, sendo a sua maioria rapazes. O grupo seguinte são os

alunos do curso profissional, com participações de grau 2, sendo a sua maioria

raparigas e, por último, aparece o ensino secundário com participações

disciplinares de grau 2 aplicadas aos rapazes.

É possível também verificar que os alunos da educação especial, PROFIJ

e 3º ciclo foram os que tiveram participações disciplinares de grau 6 e de grau 5,

sendo que apenas 3 participações de grau 5 foram aplicadas ao sexo feminino

e as restantes 15, de entre elas 7 de grau 6, foram aplicadas aos rapazes.

64,1

35,9

Masculino

Feminino

57,1

42,9

Masculino

Feminino

Gráfico 5 - Percentagem de alunos com participações disciplinares por sexo

Gráfico 4 - Percentagem de alunos reincidentes em comportamentos de indisciplina

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199

Tabela 17 - Número de participações disciplinares de acordo com o ciclo de ensino, o sexo e

a gravidade

Nível de ensino Número de participações disciplinares

Total

2 3 4 5 6

3º Ciclo Género

Masc. 255 15 1 1 272

Fem. 88 8 2 1 99

TOTAL 343 23 2 2 1 371

Secundário Género

Masc. 8 2 10

Fem. 4 1 5

TOTAL 12 2 1 15

PROFIJ Género

Masc 136 17 3 2 3 161

Fem. 57 4 61

193 21 3 2 3 222

Profissional Género

Masc 13 12 25

Fem 15 13 7 35

28 25 7 60

Educação Especial

Género

Masc. 41 20 1 5 3 70

Fem. 16 6 2 24

TOTAL 57 26 1 7 3 94

Total de participações disciplinares 762

Já a Tabela 18, relativa às reincidências em comportamentos de

indisciplina, retrata que existe mais reincidências no 3º ciclo, sendo que estas

foram maioritariamente aplicadas aos rapazes e com o grau 2 de gravidade. De

seguida existiram mais reincidências no PROFIJ, incorridas maioritariamente

pelos rapazes e com o grau 2 de gravidade. O ciclo de ensino seguinte é a

educação especial, onde houve mais reincidências nos rapazes,

maioritariamente de grau 2. Em penúltimo lugar está o curso profissional com

uma ligeira vantagem de reincidências nas raparigas, no entanto o grau de

gravidade apresentado maioritariamente é o 3 e pelos rapazes. Por fim, está o

ensino secundário com um número reduzido de reincidências,

comparativamente aos restantes ciclos de ensino, sendo que a sua maioria foi

realizada pelos rapazes e com grau 2 de gravidade.

É possível também verificar que, tal como nas participações disciplinares,

os alunos da educação especial, PROFIJ e 3º ciclo foram os que tiveram

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200

reincidências de grau 6 e de grau 5, sendo a sua larga maioria da educação

especial e apenas 2 dos 17 comportamentos de indisciplina reincidentes foram

adotados por raparigas.

Tabela 18 - Número de reincidências de acordo com o ciclo de ensino, o sexo e a gravidade

Nível de ensino Número de reincidências

Total

2 3 4 5 6

3º Ciclo Género

Masc. 204 15 1 1 221

Fem. 51 3 54

TOTAL 255 18 1 1 275

Secundário Género

Masc. 4 4

Fem. 1 1 2

TOTAL 5 1 6

PROFIJ

Género

Masc. 100 16 2 2 3 123

Fem. 29 2 31

TOTAL 129 18 2 2 3 154

Profissional

Género

Masc. 3 9 12

Fem. 4 4 6 14

TOTAL 7 13 6 26

Educação Especial

Género

Masc. 30 14 1 5 3 53

Fem. 7 5 2 14

TOTAL 37 19 1 7 3 67

Total de reincidências em comportamentos de indisciplina 528

7.5.4.2. Análise comparativa dos dados de 2016/2017 com 2008/2009

A análise dos dados indicados na Tabela 19 permite constatar que apesar

de a escola ter mais alunos no ano letivo de 2008/2009, existiram mais

participações disciplinares no ano letivo de 2016/2017. Neste último ano letivo

existem até, inclusive, mais participações disciplinares do que alunos na escola.

Quanto ao número de reincidências verifica-se que não existe um diferencial

muito grande entre o ano letivo de 2008/2009 e o ano letivo de 2016/2017. Face

a estes dados pode afirmar-se que os comportamentos de disciplina, por aluno,

aumentaram exponencialmente.

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201

Tabela 19 - Relação entre o número de alunos com participações disciplinares nos anos

letivos de 2008/2009 e 2016/2017

Ano letivo 2008/2009 Ano letivo 2016/2017

Total de alunos da escola 1126 743

Total de PD 541 762

Total de Reincidências 552 528

Analisando o Gráfico 6 é possível verificar que existiu uma maior

percentagem de participações disciplinares e reincidências em comportamentos

de indisciplina no ano letivo de 2016/2017. Verifica-se também que houve uma

discrepância maior na percentagem das participações disciplinares

comparativamente às reincidências.

Gráfico 6 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e

reincidências nos anos letivos de 2008/2009 e 2016/2017

O gráfico 7 evidencia que, em percentagem, existiram mais participações

disciplinares e mais reincidências em comportamentos de indisciplina no ano

letivo de 2016/2017 em todos os ciclos de ensino, exceto na percentagem de

participações disciplinares do secundário que no ano letivo de 2008/2009 foi

ligeiramente maior. Destaca-se a grande diferença na percentagem de

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

% total de alunos com PD % total de alunos reincidentes

2008/2009 2016/2017

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202

reincidências no 3º ciclo que foi substancialmente superior no ano letivo de

2016/2017.

Tabela 20 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por ciclo de ensino em 2008/2009 e 2016/2017

Por ciclo de ensino Ano letivo 2008/2009

Ano letivo 2016/2017

Nº alunos com PD 3º Ciclo 178 90

Nº alunos reincidentes 3º Ciclo 23 60

Nº alunos com PD no Secundário 31 9

Nº alunos reincidentes Secundário 2 4

Gráfico 7 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e reincidentes

por ciclo de ensino em 2008/2009 e 2016/2017

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

% alunos PD 3º ciclo % alunos reincidentes 3ºciclo

% alunos PD Secundário % alunos reincidentesSecundário

2008/2009 2016/2017

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203

No que concerne ao gráfico 8, a análise realça que não existe uma

diferença substancial na percentagem das participações disciplinares dos

rapazes e raparigas nos anos letivos de 2008/2009 e 2016/2017, no entanto, no

ano letivo 2016/2017, os rapazes levam uma ligeira vantagem, tal como as

raparigas no ano letivo de 2008/2009. Por outro lado, já se notam diferenças nas

reincidências em comportamentos de indisciplina. A percentagem de

reincidências dos rapazes no ano letivo 2016/2017 é maior, tal como nas

raparigas no ano letivo 2008/2009.

Tabela 21 - Número de alunos com participações disciplinares e reincidências por sexo em 2008/2009 e 2016/2017

Por sexo Ano letivo 2008/2009 Ano letivo 2016/2017

Nº de alunos com PD 133 128

Nº de alunos reincidentes 17 93

Nº de alunas com PD 105 96

Nº de alunas reincidentes 20 52

Gráfico 8 - Relação de percentagem de alunos com participações disciplinares e reincidentes

por sexo em 2008/2009 e 2016/2017

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

% alunos PD % alunos reincidentes % alunas PD % alunas reincidentes

2008/2009 2016/2017

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204

7.6. Discussão

Face aos resultados obtidos fica evidente que o que está evidenciado no

projeto curricular de escola no ano de 2008/2009, ainda continua bem presente,

porquanto não só existem muitos comportamentos de indisciplina na escola

como têm vindo a aumentar substancialmente.

Para uma das ex-coordenadoras da sala de encaminhamento disciplinar,

não é de estranhar o aumento do número de participações disciplinares no 3º

ciclo, pois esta considera que “os resultados ao longo dos anos têm obedecido

a um padrão constante na incidência de maior número de PD no 3º Ciclo”

(20/06/2017).

Em termos dos comportamentos, as participações disciplinares mais

frequentes e também as reincidências foram a violação dos deveres de respeito

e correção nas relações com os elementos da comunidade escolar. Este é o grau

de gravidade mais reduzido, o que implica uma sanção menos severa -

marcação de uma falta disciplinar e tentativa de comunicar com os encarregados

de educação. Para além disso, este é o grau de gravidade mais subjetivo, isto é,

não implica a realização de um comportamento que não deixe margem para

dúvidas, como é o caso de injúrias ou agressões físicas, que está mais

dependente do critério do professor.

O facto de os alunos do secundário serem aqueles que apresentam

menos participações disciplinares e reincidências também não é de estranhar,

pois este é um ciclo de ensino frequentado pelos alunos que apresentam mais

motivação para os estudos.

Uma possível justificação para o facto dos alunos do 3º ciclo

apresentarem mais participações disciplinares comparativamente aos restantes

grupos, pode estar relacionado com os ambientes escolares de proveniência dos

alunos do 7º ano de escolaridade e com a fase que estão a atravessar, a

adolescência.

O maior número de rapazes do que raparigas existente na escola pode

explicar o maior número de participações disciplinares e reincidências ser maior

nos rapazes do que nas raparigas.

A ex-coordenadora, professora nesta escola há largos anos, ancorada em

Parrat-Dayan (2012), defende que “a escola é o reflexo da sociedade e a nossa

sociedade está esvaziada de valores e de cidadãos conscientes do seu lugar no

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205

mundo, na região, na ilha, no concelho, na freguesia, na comunidade, na escola

e na família. A indisciplina e os comportamentos dos alunos que os levam a

serem mandados sair da sala de aula com posterior encaminhamento para a

SED são, muitas vezes, o reflexo do ambiente familiar em que vivem e uma forma

de chamar à atenção para problemas que os afligem e que não conseguem

partilhar ou resolver” (20/06/2017). Desta forma, a alteração constante que se

tem assistido ao longo dos anos pode justificar o facto de existir um aumento

exponencial de participações disciplinares no ano letivo 2016/2017

comparativamente ao ano letivo 2008/2009.

Não obstante esta realidade, considero que não é adequado esquecer a

forma como os professores olham para a indisciplina e a forma como atuam

sobre ela. Garcia (2006) defende que a escola poderia instaurar um outro diálogo

ou reinventar o que entende por diálogo. Se nas escolas se destaca a queixa

dos professores sobre a 'falta de respeito', por exemplo, não se trata apenas de

garantir respeito a este ou aquele sujeito social. O mesmo autor defende que o

respeito precisa antes de ser reinventado. Nesse sentido, deve haver uma

partilha de opiniões e estratégias a utilizar que possam contribuir para a

resolução de indisciplina.

A coordenadora da sala de encaminhamento disciplinar afirma que “a

escola não pode pactuar com quem não se esforce, alhear-se de quem necessita

e sofre, ser permissiva e não punir quem desrespeita as regras básicas de

cidadania. Mas, a capacidade de organização, formação e credibilidade de uma

Escola passa pela atuação de todos e de cada um dos seus elementos,

assegurando a coordenação de procedimentos e formas de atuação no espírito

de aceitação das nossas diferenças. Tem de ser um espaço de partilha na sua

verdadeira dimensão, na promoção de uma cultura de qualidade, exigência e

responsabilidade na efetiva aquisição de saberes e de competências”

(20/06/2017).

Neste âmbito, seria pertinente perceber que tipo de metodologias são

utilizadas pelos professores para ensinar. Tal como refere Matsougras (1999),

os estilos demasiado diretivos e autocráticos podem resultar em

comportamentos de indisciplina. Nesse sentido, estudar a forma como os

professores dirigem as suas aulas para posteriormente tentar alterar as suas

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metodologias, caso sejam potenciadores de comportamentos de indisciplina,

poderia resultar numa diminuição dos comportamentos de indisciplina.

7.7. Conclusão

Em percentagem, existiram mais comportamentos de indisciplina e

reincidências no ano letivo 2016/2017 comparativamente ao ano letivo

2008/2009. Desta forma, pode considerar-se que as medidas educativas

aplicadas aos alunos que adotaram comportamentos de indisciplina, desde o

ano letivo 2008/2009, não foram eficazes.

Os dados evidenciaram que os comportamentos de indisciplina mais

frequentes foram as violações dos deveres de respeito e correção nas relações

com os elementos da comunidade escolar (grau 2).

Os alunos do 3º ciclo foram aqueles que apresentaram mais

comportamentos de indisciplina e reincidências.

Os rapazes apresentaram mais comportamentos de indisciplina e

reincidências do que as raparigas.

Face ao exposto será necessário realizar uma revisão das medidas

educativas aplicadas aos alunos que adotam e reincidem em comportamentos

de indisciplina. Também será importante realizar uma partilha, entre professores,

sobre os comportamentos que serão considerados impróprios principalmente

nos que se referem ao grau 2 - as violações dos deveres de respeito e correção

nas relações com os elementos da comunidade escolar.

(Abramovay, 2004; Charlot, 2002; Fernandez, 1991; Garcia, 2006; Grilo, Leite,

Fonseca, & Nobre, 2009; Ishee, 2004; Januário, 2006; Matsagouras,

1999;Parrat-Dayan, 2012; Pirola & Ferreira, 2007; Romi & Freund, 1999;

Vassalo, 2002)

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207

7.8.Referências Bibliográficas

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208

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209

VIII - Considerações Finais

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211

8.1. Perspetivas futuras

Relativamente ao meu futuro próximo espero poder ingressar como

professor de EF numa escola situada na região autónoma dos Açores durante

alguns anos. Estou também convicto que nunca deixarei de procurar formações

que me possam ajudar a evoluir enquanto profissional e enquanto pessoa, pois

acredito que só bons profissionais e boas pessoas podem formar bons

profissionais e boas pessoas.

Num futuro a médio/longo prazo espero lecionar aulas de EF fora do meu

país. Este é um desejo que tenho pois o facto de conhecer outras culturas e

outras formas de encarar a Educação e o Desporto cativa-me bastante.

Conhecer novas pessoas, novas metodologias, novos pensamentos e novas

formas de ver o mundo irá enriquecer-me bastante enquanto profissional e

enquanto pessoa.

8.2. O que mudou e deve mudar futuramente?

Desde o início deste ano letivo que tive o objetivo de melhorar as minhas

competências enquanto professor e experienciar várias formas de atuar no

processo de ensino-aprendizagem. Sabia de antemão que seria um ano de muito

trabalho, esforço e dedicação, mas também um ano de muitas aprendizagens,

experiências e convivências que iria levar comigo para a vida. De facto, este foi

um ano caracterizado por várias experiências dentro e fora da “sala de aula” que

me provocaram mudanças enquanto pessoa e enquanto profissional.

No EP pude perceber melhor o que é a Escola, como se organiza e como

funciona. Este foi, sem dúvida, um fator determinante para compreender melhor

onde estou inserido e perspetivar onde me poderei inserir no futuro enquanto

profissional docente.

O relacionamento com a comunidade educativa revela-se essencial para

o sucesso do professor, pois quem trabalha num ambiente positivo, de

entreajuda e de cooperação tem maior probabilidade de aumentar a qualidade

do seu trabalho, uma vez que as trocas de ideias, os debates e as reflexões são

formas excelentes de melhorar a prática pedagógica, o sucesso dos alunos e,

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consequentemente, o sucesso do professor. É um facto que o meu

relacionamento com a comunidade educativa foi mais intenso com os

professores de EF e com os auxiliares do que com os professores de outras

disciplinas. Neste ano de estágio centrei-me muito na minha atividade enquanto

professor de EF deixando, por vezes, para segundo plano a minha atividade

enquanto professor de uma Escola. Penso que devo melhorar este aspeto e

dialogar mais com outros professores pois a escola e os seus membros

trabalham em função de um objetivo comum, embora cada um tenha a sua cota

parte.

No contexto da EF, este foi um ano em que tive a oportunidade de trazer

para a prática os meus conhecimentos, crenças e conceções. Tive várias

experiências utilizando vários modelos e estilos de ensino em variados

contextos, na busca da minha identidade profissional, dentro e fora da sala de

aula. Nesta procura pude perceber qual a forma de atuar que mais se adequa às

minhas características.

Em nenhum momento da minha vida trabalhei tão exaustivamente com

pessoas que pensam de uma forma tão diferente da minha. Apesar de nem

sempre ser fácil penso que esta foi uma experiência positiva porque por um lado

me advertiu para o que posso encontrar no meu futuro profissional e, por outro,

permitiu-me refletir sobre outras formas de interagir e de pensar. Dos constantes

e exaustivos debates retiro que o pluralismo interno é positivo mas, por vezes, a

cedência torna-se essencial para evitar conflitos e, assim, promover um bom

ambiente de trabalho. Não vale a pena debater ideias quando se percebe que

esse debate não chegará a uma ideia minimamente conclusiva e só gerará

controvérsias que perturbarão o bom funcionamento de um grupo. Isto não quer

dizer que não se defenda aquilo em que se acredita, mas essa defesa deve

terminar no momento em que pelo menos uma das partes não se interessa em

ouvir a opinião da outra ou se interessa apenas em contestá-la.

Atualmente, sem dúvida, apresento um conjunto de competências

associadas à vida do professor na Escola muito superior comparativamente ao

início deste ano letivo.

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213

Após o término deste estágio saio com a sensação de que os alunos

aprendem mais com quem gostam, isto é, o facto de um aluno “olhar” para o

professor de uma forma positiva vai predispô-lo mais a aprender com ele, pelo

que o sucesso do processo de ensino-aprendizagem passa por um bom

relacionamento sócio-afetivo entre o professor e o aluno.

8.3.Concluindo...

Este foi um ano repleto de experiências e de oportunidades de aprender

e ensinar que me fizeram crescer como pessoa e foram fundamentais na

(re)construção da minha identidade profissional. Aprendi muito com os meus

alunos e com os professores da EC e acredito que também lhes ensinei algo.

Percebi que “ninguém é tão grande que não possa aprender nem tão pequeno

que não possa ensinar” (Esopo, s.d.) e que o processo ensino-aprendizagem é

bidirecional sendo que todos só têm a ganhar se nele participarem de forma

humilde e construtiva.

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214

(Abreu, 2012; Alarcão, 2009; Alonso, 1988; Arnould, 1980; Ball, 2002; P.

Batista, & Queirós, P., 2015; P. Batista & Borges, 2015; Jorge Bento, 1999;

J. Bento, 2004; Jorge Olímpio Bento, 1986; J.O. Bento, 1987; Jorge Olímpio

Bento, 2003; Betti, 2002; Boavista, 2013; Bracht, 1999; Cardoso, 2016;

Carlson, 1995; Carrega, 2012; Costa, 1991; Crum, 1993; Daolio, 1996;

Delors, 1998; Esteves, 1995; Famose, 1990; Flores, 1999; García, 2013;

Garganta & al., 2013; Gervais & Derosiers, 2005; Gomes, 1994; Amândio

Graça, 2012, 2014; A. Graça, 2016; A Graça, Batista, & Queirós, 2016; A

Graça & Mesquita, 2011a; A Graça & Mesquita, 2011b; Grant, 2011; Hastie,

1998; Hastie & Siedentop, 1999; Koç, 2011; Kwak, 2005; Lana, 2011; Leite &

Fernandes, 2010; Ludke & Mediano, 1992; McCaughtry, 2006; McCaughtry,

Tischler, & Flory, 2008; I. Mesquita, 2004; I. Mesquita, et al., 2013; Metzler,

2011; Mezomo, 1997; Nakayama, 2010; Nóvoa, 2009; Oliveira, 2016;

Panutto, 2015; Pimenta, 2011; Pina, 2002; Queirós, 2014; Ramos, 1992;

Rego, 2003; J. Rink, 1993; J Rink, 1996; J. Rink, 2001; J. Rink, 2014; J Rink

& Werner, 1989; Rodrigues & Ferreira, 1998; M Roldão, 1995; M. Roldão,

2007; Rolim, 2013; A. Rosado, & Ferreira, V., 2011; A. Rosado, & Mesquita,

I., 2011; Rosado, Mesquita, Breia, & Januário, 2008; Rose, 2001;

Rosenshine, 1983; Sabucedo, Abellás, & Campos, 2011; Säljö, 2009; Sallan,

1999; Sallis, 1997; Sarmento, 2004; Shigunov, 2016; D. Siedentop, 1994,

1998; D. Siedentop, & Tannehill, D., 2000; Torres, 2007; Vacca, 2006;

Vickers, 1990)

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215

Referências Bibliográficas

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