10
Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 O projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul” como uma experiência interdisciplinar Luceni Hellebrandt Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Tatiana Walter Universidade Federal do Rio Grande [email protected] Danieli Veleda Moura Universidade Federal do Rio Grande - [email protected] Clara da Rosa Pereira Universidade Federal do Rio Grande - [email protected] Lucia de Fátima Socoowski de Anello Universidade Federal do Rio Grande [email protected] Eixo temático: Institucionalização da Interdisciplinaridade Resumo O presente artigo apresenta a avaliação de um projeto de pesquisa sob a ótica dos membros de sua equipe. A partir de inquietações motivadas pela epistemologia interdisciplinar enquanto contributo para a formação acadêmica e profissional de estudantes, um questionário foi formulado e enviado a cada um dos membros da equipe do projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul”. A intenção de investigar pontos positivos e pontos negativos da experiência vivenciada no projeto, composto por equipe multidisciplinar, bem como identificar ações que possibilitam o trabalho de equipes formadas com pessoas de diversas áreas do conhecimento e as experiências aprendidas para a formação profissional, foi realizada através da análise de conteúdo dos questionários respondidos, e serviram como base para dialogar com pressupostos teóricos de autores que discutem a interdisciplinaridade enquanto contribuição epistemológica. Com os resultados apresentados neste artigo, confirmamos os ganhos de uma abordagem interdisciplinar para lidar com temáticas complexas, bem como os ganhos pessoais ao passar pela experiência interdisciplinar. Palavras-chave: formação acadêmica e profissional; ações para trabalho em equipe; multidisciplinaridade; interdisciplinaridade

O projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado ... · A intenção de investigar pontos positivos e pontos negativos da experiência vivenciada no projeto, composto por equipe

Embed Size (px)

Citation preview

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

O projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou

aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul” como uma experiência

interdisciplinar

Luceni Hellebrandt Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Tatiana Walter Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]

Danieli Veleda Moura Universidade Federal do Rio Grande - [email protected]

Clara da Rosa Pereira Universidade Federal do Rio Grande - [email protected]

Lucia de Fátima Socoowski de Anello Universidade Federal do Rio Grande – [email protected]

Eixo temático: Institucionalização da Interdisciplinaridade

Resumo

O presente artigo apresenta a avaliação de um projeto de pesquisa sob a ótica dos membros de sua equipe. A

partir de inquietações motivadas pela epistemologia interdisciplinar enquanto contributo para a formação

acadêmica e profissional de estudantes, um questionário foi formulado e enviado a cada um dos membros da

equipe do projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca artesanal e/ou aquicultura

familiar no estado do Rio Grande do Sul”. A intenção de investigar pontos positivos e pontos negativos da

experiência vivenciada no projeto, composto por equipe multidisciplinar, bem como identificar ações que

possibilitam o trabalho de equipes formadas com pessoas de diversas áreas do conhecimento e as

experiências aprendidas para a formação profissional, foi realizada através da análise de conteúdo dos

questionários respondidos, e serviram como base para dialogar com pressupostos teóricos de autores que

discutem a interdisciplinaridade enquanto contribuição epistemológica. Com os resultados apresentados

neste artigo, confirmamos os ganhos de uma abordagem interdisciplinar para lidar com temáticas

complexas, bem como os ganhos pessoais ao passar pela experiência interdisciplinar.

Palavras-chave: formação acadêmica e profissional; ações para trabalho em equipe; multidisciplinaridade;

interdisciplinaridade

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

2

1. Introdução:

O trabalho analisa a experiência do projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da

pesca artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul”, a partir da avaliação dos

membros da equipe de trabalho. O objetivo principal foi o de analisar a experiência que envolveu

participantes de diversas áreas do conhecimento, frente aos princípios discutidos por teóricos da

interdisciplinaridade, tal como o trabalho seminal de Julie Thompson Klein, que entende a

interdisciplinaridade como uma integração, ultrapassando a justaposição de disciplinas que caracteriza a

multidisciplinaridade (KLEIN, 1990:56).

O projeto surgiu através de uma demanda institucional, como será explicitado abaixo, porém, além

da demanda institucional, foi intenção primordial que as atividades desenvolvidas viessem a acrescentar no

histórico acadêmico e, também, contribuindo na formação profissional dos membros da equipe, de forma

que incluísse aprendizados que fossem além daqueles adquiridos na base curricular de suas áreas de

conhecimento originais. Para avaliar este objetivo do projeto foram formulados questionários para os

membros da equipe do projeto avaliarem o mesmo.

Esta avaliação foi feita levando em consideração uma ideia de continuum, explorada por Pombo

(2007) ao debater a terminologia para o que Minayo (2010:437) entende como “estratégia para

compreensão, interpretação e explicação de temas complexos”, Pombo (2007:4 - 5) coloca que:

[...] há a possibilidade de avançar uma proposta terminológica assente em dois princípios

fundamentais: a) aceitar estes três prefixos: multi ou pluri, inter e trans [...] enquanto três grandes

horizontes de sentido e, b) aceitá-los como uma espécie de continuum que é atravessado por alguma

coisa que, no seu seio, se vai desenvolvendo. (grifo da autora)

Desta forma, o presente artigo avança no sentido de, através da análise de um projeto constituído por

uma equipe multidisciplinar, entender como as avaliações dos membros da equipe contribuem na

constituição da interdisciplinaridade enquanto epistemologia para lidar com temáticas complexas.

1.1. O projeto:

Em 2011, a Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo do Rio Grande do Sul

(SDR/RS) contatou o Laboratório de Gerenciamento Costeiro da Universidade Federal do Rio Grande

(LabGerco/FURG) demandando um projeto para subsidiar tomadores de decisões na análise de entraves e

potenciais das políticas públicas voltadas ao setor pesqueiro artesanal e de aquicultura familiar no RS.

Como comentado anteriormente, desde o início do projeto houve preocupação, por parte das

coordenadoras de execução do projeto, que este repercutisse na formação dos membros da equipe,

entendendo o contato com diferentes áreas do conhecimento como algo benéfico para os membros da

equipe, além de condição impreterível para lidar com a complexidade do tema proposto.

A equipe se constituiu com pessoas de diversas áreas: Oceanografia, Geomática, Aquicultura,

Educação Ambiental, Economia, Direito, Ciências Sociais, História, Gestão Ambiental e Gerenciamento

Costeiro, sendo alunos de graduação, mestrado e doutorado, de dois campi da FURG, em cidades

equidistantes 130 km, e tem duração prevista até o final do ano de 2013.

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

3

2. Procedimentos Metodológicos:

Para avaliar o aprendizado interdisciplinar da equipe, um questionário foi enviado para cada uma das

25 pessoas que, em algum momento, participaram do projeto. As questões exploram desde a área de

formação de origem, existência de experiências multidisciplinares anteriores ao projeto, pontos positivos e

pontos negativos de trabalhar com equipe multidisciplinar, ações desenvolvidas durante o projeto com vistas

a permitir o trabalho interdisciplinar, e as contribuições multidisciplinares para a formação profissional.

As respostas foram reunidas e analisadas à luz da contribuição da experiência do projeto para a

discussão sobre interdisciplinaridade, como o apoio do software gratuito Weft QDA1 foi realizada uma

análise de conteúdo (FONSECA JÚNIOR, 2008) através da identificação, na visão dos respondentes, de: i)

quais os pontos positivos de trabalhar com pessoas de outras áreas do conhecimento; ii) quais os pontos

negativos de trabalhar com pessoas de outras áreas do conhecimento; iii)quais as ações realizadas durante o

projeto que permitiram o trabalho conjunto com pessoas de diversas áreas do conhecimento; e iv) como a

experiência de trabalhar em um projeto multidisciplinar contribui para a formação profissional.

Durante o período proposto para a avaliação – julho e agosto de 2013, o questionário foi enviado

duas vezes, em formato eletrônico, via e-mail, para as 25 pessoas citadas anteriormente, dos quais, 18

responderam e constituíram o corpus de análise.

3. Justificativa do eixo escolhido:

O eixo proposto para enquadramento deste artigo foi o “Institucionalização da Interdisciplinaridade”,

por contemplar a avaliação do projeto e contribuir na discussão sobre estrutura curricular e formação

profissional interdisciplinar.

4. Resultados:

O questionário permitia a classificação dos respondentes em três funções dentro do projeto: 1)

Estudante/bolsitas – na qual se enquadra a maior parte do quadro da equipe, com concessão de auxílio

financeiro; 2) Coordenação – de acordo com o projeto apresentado ao órgão financiador; 3) Apoio

técnico/administrativo – pessoas que já exerciam esta função dentro do Laboratório de Gerenciamento

Costeiro, contatadas para dar apoio organizacional, sem financiamento específico advindo do projeto. Os

dados dos questionários enviados e respondidos por cada função podem ser conferidos na Tabela 1.

Tabela 1: Questionários enviados X Questionários respondidos, de acordo com a função no projeto

Função exercida Nº de questionários enviados Nº de questionários

respondidos

Estudante/bolsista 21 16

Coordenação 2 2

Apoio técnico/administrativo 2 --

As formações acadêmicas escritas nos questionários respondidos estão descritas no Quadro 1,

demonstrando uma diversidade de formações, tanto em nível técnico, de graduação ou pós-graduação.

1 O Weft QDA é uma ferramenta de auxílio à análise de dados textuais, tais como muitos dados provenientes de pesquisa

qualitativa. É classificado como software free and open-source, ou seja, programa de computador gratuito e de base (de

programação) aberta. Pode ser obtido através do site: http://www.pressure.to/qda/

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

4

Quadro 1: Formação Acadêmica dos integrantes do projeto

Nível Técnico Curso Técnico em Biocombustíveis

Curso Técnico em Desenho Arquitetônico

Graduação

Tecnologia em Gestão Ambiental

Licenciatura em História

Bacharelado em Direito

Oceanologia

Licenciatura em Educação Física

Bacharelado em Ciências Sociais

Pós-Graduação – Mestrado

Gerenciamento Costeiro

Educação Ambiental

Ciências da Engenharia Ambiental

Pós-Graduação – Doutorado

Educação Ambiental

Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e

Sociedade

Interdisciplinar em Ciências Humanas

Dos 18 questionários respondidos, 8 pessoas já tinham experiência de trabalho em equipes

multidisciplinares antes de participar deste projeto, distribuídos de acordo com a função dentro do projeto,

conforme a Tabela 2:

Tabela 2: Função exercida X Experiência multidisciplinar pregressa

Função exercida (N=18) Já havia trabalhado em

equipe multidisciplinar

Nunca havia

trabalhado em

equipe

multidisciplinar

Estudante/bolsista (N=16) 6 10

Coordenação (N=2) 2 --

4.1. Pontos Positivos

Quando questionados sobre os pontos positivos de trabalhar com pessoas de outras áreas do

conhecimento, as respostas mais frequentes variaram em quatro principais categorias: i) a diversidade dos

pontos de vista; ii) tomar conhecimento de outras interpretações sobre o mesmo problema; iii) a troca de

conhecimentos; iv) as habilidades adquiridas. Além destes quatro eixos, outros pontos positivos foram

citados de maneira menos frequente. As respostas estão classificadas de acordo com as categorias

encontradas e conceituadas na Tabela 3.

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

5

Tabela 3: Pontos Positivos de trabalhar em equipe com pessoas de diversas áreas do conhecimento

Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)

Diversidade dos pontos de vista

Respostas que se enquadram nesta categoria

foram citadas na maioria dos questionários.

Evidenciam a importância destacada aos

múltiplos olhares sobre um mesmo objeto de

pesquisa.

Tomas conhecimento de outras interpretações

sobre o mesmo problema

Em vários questionários foi destacada a

importância de ter um contato com áreas de

conhecimento diferentes da sua de origem, e

de como estas outras áreas do conhecimento

interpretam o objeto de pesquisa

Troca de conhecimentos

Esta expressão “troca de conhecimentos”

repete-se na maioria dos questionários,

destacando a importância do fluxo de

conhecimento entre os diversos membros da

equipe.

Habilidades adquiridas

Os respondentes destacaram as habilidades

adquiridas nos trabalhos realizados com

pessoas de diversas áreas do conhecimento.

Habilidades como ouvir, expressar-se de

forma mais clara e objetiva, aumento de

criatividade, identificar e lidar com os

limites disciplinares, solidariedade e

coleguismo foram algumas citadas. Além

destas várias citações que remetem ao

desenvolvimento de tolerância e paciência

foram observadas.

Outras respostas menos frequentes

Algumas outras respostas apareceram com

menos frequência nos questionários. Elas

remetem ao trabalho dinâmico, à riqueza de

conteúdo, ao conforto e segurança de ter

presente na equipe pessoas que dominam

áreas diferentes, aprendizado de ferramentas

de análise e metodológicas diversas e

amplitude de debates.

4.2. Pontos Negativos

Os aspectos negativos de trabalhar com pessoas de diversas áreas do conhecimento, apontados nos

questionários respondidos se concentram em três principais categorias: i) falta de clareza compreensível para

todos os membros da equipe; ii) divergência de discursos; iii) sobrecarga de tarefas. Outras respostas foram

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

6

citadas com menos frequência e estão sintetizadas, junto com as três categorias com mais frequência de

respostas, na Tabela 4.

Tabela 4: Pontos Negativos de trabalhar em equipe com pessoas de diversas áreas do conhecimento

Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)

Falta de clareza compreensível para todos os

membros da equipe

Algumas respostas evidenciaram a

dificuldade em perceber claramente o

objetivo das atividades exigidas.

Divergência de discursos

Respostas que destacam a dificuldade de

compatibilizar diferentes discursos

próprios de áreas de conhecimento

específicas.

Sobrecarga de tarefas Destaque para a sobrecarga de atividades

mencionada por alguns respondentes

Outras respostas menos frequentes

Algumas respostas que apareceram com

menos frequência, mas que, com igual

importância, indicam os pontos negativos

do trabalho com pessoas de diferentes

áreas do conhecimento: A diferença de

ritmo de trabalho dos membros da equipe,

erros de interpretação frente aos fatos

analisados, dificuldade de reconhecimento

e cientificidade na coleta e análise de

dados, a necessidade de um tempo maior

para produzir em conjunto tendo em vista

uma padronização de conceitos, um maior

desgaste dos membros da equipe tendo em

vista a necessidade de se apropriar de

diversos temas e conceitos, e a necessidade

e muita organização para que o trabalho

flua.

4.3. Ações que permitem o trabalho em conjunto de pessoas de diferentes áreas do

conhecimento

Quando questionados sobre as ações observadas que permitiram que pessoas de diferentes áreas

trabalhassem em conjunto durante a execução do Projeto, as respostas foram em dois sentidos: i) ações

organizacionais e estruturais; ii) atividades desenvolvidas. As respostas estão sintetizadas na Tabela 5.

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

7

Tabela 5: Ações que possibilitaram o trabalho em equipe de pessoas de diversas áreas do conhecimento

Ações Exemplos citados

Ações organizacionais e estruturais

Orientação metodológica;

Nivelamento da equipe;

Reuniões semanais;

Oficinas metodológicas;

Oficinas de discussão de resultados;

Oficinas de preparação para apresentações em

eventos;

Ações de inclusão e comunicação entre os

membros: divulgação por igual das

informações (lista de e-mails) e

compartilhamento de arquivos (dropbox);

Divisão das tarefas;

Envolvimento da equipe para execução das

tarefas;

Agenda estabelecida para execução das

atividades;

Acompanhamento e monitoramento da

coordenação.

Atividades desenvolvidas

Revisão Bibliográfica seguindo um roteiro de

investigação;

Construção de banco de dados;

Saídas de campo em equipe;

Elaboração em conjuntos dos roteiros para

entrevistas;

Elaboração, discussão e validação dos

relatórios técnicos;

Organização das informações em um SIG –

Sistema de Informações Georreferenciadas.

4.4. Experiências para a formação profissional

Das experiências aprendidas durante o Projeto, que contribuirão para a formação profissional dos

membros da equipe, duas foram citadas com mais frequência: i) visão diversificada sobre um mesmo objeto,

permitindo alcançar um melhor resultado; ii) lidar com pessoas de formação diferente, aprendendo a

trabalhar em equipe. Além destas duas categorias de respostas, várias outras respostas foram citadas em

menor frequência. A síntese das respostas encontra-se na Tabela 6.

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

8

Tabela 6: Experiências aprendidas no trabalho com pessoas de diversas áreas, que contribuem para a

formação profissional

Categoria Conceito da categoria (tipo de resposta)

Visão diversificada sobre um mesmo objeto,

permitindo alcançar um melhor resultado

Várias respostas apontaram o aprendizado

de encarar um mesmo objeto a partir de

diferentes perspectivas como uma

experiência que contribui na formação

profissional dos membros da equipe

Lidar com pessoas de formação diferente,

aprendendo a trabalhar em equipe

Várias respostas citaram a experiência de

lidar com uma equipe formada por pessoas

de diferentes áreas do conhecimento como

um aprendizado importante para a

formação profissional, na medida de

aprender a trabalhar em equipe e lidar com

a diversidade de opiniões, teorias e

conhecimentos

Outras respostas menos frequentes

Algumas respostas apareceram uma única

vez no corpus analisado, mas que

apresentam relevância por citarem os

aprendizados para a formação profissional:

Agilidade em projetos;

Gerenciamento e escolha de informações

pertinentes;

Organização de atividades;

Dialogar com outras áreas permitindo

lançar questionamentos sobre a própria

área de atuação;

Possibilidade de atuação mais prática em

áreas tradicionalmente mais teóricas, e

vice-versa;

Interesse por novas áreas do

conhecimento;

Valorização e afirmação de opiniões

individuais;

Expansão das possibilidades de atuação

profissional;

Familiaridade com linguagem proveniente

de outras áreas do conhecimento.

5. Discussões:

A partir dos resultados apontados na avaliação do projeto, observamos as seguintes colocações de

Minayo (2010:439) para a discussão sobre a prática da interdisciplinaridade:

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

9

[...] é preciso lembrar que no tratamento de um objeto de forma interdisciplinar de acordo com sua

especificidade existem várias nuances: (1) sempre uma disciplina terá prioridade sobre outras por ser

a que tem mais tradição, história e acúmulo de conhecimento sobre o assunto; (2) é evidente que essa

preeminência nãopode se constituir na anulação da contribuição das outras disciplinas; (3) o trabalho

interdisciplinar nunca deve pospor a contribuição que vem de uma disciplina; (4) e na articulação

entre disciplinas, é preciso que cada uma das áreas apresente conceitos e teorias capazes de ampliar e

complexificar a compreensão do objeto. [...] a relevância do conhecimento vem sempre das

disciplinas em colaboração.

Com esta perspectiva, e com base nos resultados compilados nas tabelas apresentadas, podemos

dialogar com Minayo de forma a constatar que não houve predominância de uma disciplina sobre as outras

durante a execução do projeto, uma vez que a temática abordada não se enquadra inteiramente em nenhuma

das áreas de conhecimento de origem dos membros da equipe. Desta forma, e com base nas respostas

descritas, sobretudo na Tabela 3, podemos afirmar que não houve anulação da contribuição das disciplinas

envolvidas no projeto. Ainda de acordo com os pontos positivos mencionados na Tabela 3, e baseando-se

também na ausência desta informação nos pontos negativos (Tabela 4), podemos observar que não houve

hierarquia para a contribuição das disciplinas, e ainda, que as diversas áreas contribuíram em colaboração

para o desenvolvimento do projeto.

Assim também, com base nos resultados compilados nas tabelas, podemos avaliar o projeto

enquanto atividade interdisciplinar, sem a preocupação destacada por Minayo (2010:436) de que “uma

confusão muito comum, na área acadêmica, é dizer que se realiza uma atividade interdisciplinar, quando na

verdade o que colocamos em ação é a colaboração interprofissional para a solução de problemas ou para a

execução de um programa”, ou o alerta de Pombo (2007:2) de que “o que está subjacente a esta mera

inventividade de cenários é sempre a ideia embrionária – e muito ingênua – de que a simples presença física

(ou virtual) de várias pessoas em torno de uma mesma questão, criaria automaticamente [...] uma

discussão[...] interdisciplinar.”. Os aprendizados destacados na Tabela 6 comprovam uma compreensão

interdisciplinar sobre o projeto executado e, também, para as futuras atuações profissionais dos membros da

equipe.

Desta forma, avaliamos o projeto “Análise das cadeias produtivas do pescado oriundo da pesca

artesanal e/ou aquicultura familiar no estado do Rio Grande do Sul” de acordo com Pombo (2007:5) como

“algo que, quando se ultrapassa essa dimensão do paralelismo, do pôr em conjunto de forma coordenada, e

se avança no sentido de uma combinação, de uma convergência, de uma complementaridade, nos coloca no

terreno intermédio da interdisciplinaridade” e também, de acordo com Minayo (2010:437), uma vez que

houve a capacidade de “ultrapassar as fronteiras das disciplinas pelo investimento articulado e a contribuição

das diferentes disciplinas em jogo, num processo de investigação que inclui articulação de teorias e

conceitos, métodos e técnicas e, não menos importante, do diálogo entre as pessoas”, conforme Tabela 5.

Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

10

Também, de acordo com os dados apresentados na Tabela 6, podemos concordar com Pombo

(2007:13) quando a autora destaca a “fecundação recíproca das disciplinas, da transferência de conceitos,

de problemáticas, de métodos com vista a uma leitura mais rica da realidade” (grifo da autora) de forma que

se perceba “na aproximação interdisciplinar, haver a possibilidade de se atingirem camadas mais profundas

da realidade cognoscível”.

É assim também que os dados apresentados confirmam a afirmação que faz Minayo (2010:441) de

que “a pessoa e o produto de um pesquisador que passou ou vai passando pela experiência interdisciplinar é

totalmente diferente da que realiza univocamente em sua disciplina”, de forma que podemos confirmar que o

objetivo inicial de contribuir na formação acadêmica e profissional dos membros da equipe do projeto foi

cumprido com sucesso.

6. Considerações Finais:

De acordo com os pontos positivos e negativos do trabalho em equipe multidisciplinar, as ações

desenvolvidas no projeto e as experiências e aprendizados para a formação acadêmica e profissional, foi

possível pontuar aspectos que possibilitaram o desenvolvimento de um projeto com equipe multidisciplinar

e com abordagem interdisciplinar.

A análise das respostas dos membros da equipe do projeto contribui para a discussão da

interdisciplinaridade, como se dá, com a contribuição de quais ações, e, sobretudo, entendendo quais os

pontos considerados negativos, para aprimoramento em trabalhos futuros, que envolvam equipes

multidisciplinares, mas com perspectiva de construção de conhecimento interdisciplinar.

Referências:

FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa. “Análise de Conteúdo”. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antônio (Orgs.)

Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. São Paulo, 2ª Ed. SP: Editora Atlas, 2008.

KLEIN, Julie Thompson. Interdisciplinarity: history, theory and practice. Wayne State University Press.

Detroit, 1990.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. Disciplinaridade, Interdisciplinaridade e Complexidade. In: Revista

Emancipação, Universidade Estadual de Ponta Grossa. Ponta Grossa, (10) 2, p. 435 – 442. 2010.

POMBO, Olga. Epistemologia da Interdisciplinaridade. Conferência proferida no Colóquio

“Interdisciplinaridade, Humanismo e Universidade”. Disponível em: http://www.humanismolatino.online.pt

Porto, 2007.