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O que é anarquia verde?

Black and Green Network

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Esta obra é livre. Pode e deve ser reproduzida no todoou em parte, além de ser liberada a sua distribuição.

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O que é anarquia verde?

Por favor, note que estas opiniões não repre-sentam qualquer "movimento" ou "organização".São pensamentos coletados endossados por vá-rios anarquistas verdes.

Isto não é para ser a palavra final sobre o assunto.Entre em contato se você tem algo a contribuir.

"… a luta contra a Sua-história, contra o Levi-atã, é sinônimo de vida, é parte da autodefesa dabiosfera contra o monstro que está deixando-a empedaços. E a luta não está de modo algum termi-nada, ela continua enquanto a besta for animadapor seres vivos." - Fredy Perlman

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Recusa da ideologia

Preste bem atenção: Não há ideologia "anar-quista verde" ou "anarco-primitivista". Anarquis-tas são definidas essencialmente pelo desejo epelas ações em direção a um modo de vida que édefinido pelo que não está presente. Anarquiasignifica essencialmente "antiautoritária", e comoé fácil de ver, isso significa coisas diferentes.Não há uma visão 'anarquista' única.

Os "ismos" utilizados aqui são somente pararazões convencionais, para se identificar comuma crítica maior. Anarquistas são aquelas queprocuram um mundo livre de dominação e dehierarquias: o que significa a abolição de todosos poderes do Estado. O prefixo 'verde' apontapara a extensão dessas estruturas autoritárias,ou seja, aponta mais para a tecnologia, o indus-trialismo e a própria civilização (embora estastrês categorias não se apliquem a todas as anar-quistas verdes, veja a seguir mais informaçõessobre as várias vertentes).

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Uma ideologia é um sistema de crença rígidaque tem uma crítica, plano de ação e visão, en-carnada por organizações, plataformas e assimpor diante. Uma parte da crítica anarquista verdetem sido a compreensão do papel deste tipo deinstituição de "pensamento em grupo". A esquer-da se segura forte na ideologia como um meiopara a revolução, enquanto nós sentimos que opacote completo não serve para despertar as pes-soas para o seu próprio potencial, só lhes dá algode novo para regurgitar. Nós sentimos que a ide-ologia é uma ferramenta da civilização, uma par-te da totalidade do pensamento civilizado quemantém as pessoas num estado vegetativo cons-tante. Nossos interesses estão em realizar ummundo de seres autônomos, não autômatos.

Isso deu razão para esquerdistas criticaremanarquistas verdes por não serem "organizados"e terem apenas visões soltas. No entanto, senti-mos que este é um passo importante se quiser-mos voltar a ser seres inteiros.

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Anarquia não é democracia

Apesar dos esforços em favor de aspirantes apopulistas para provar o contrário, a anarquia é,por definição, diferente da democracia (mesmoque seja democracia direta ou social). Ter que to-car nesse ponto parece um pouco mesquinho,mas é difícil olhar para a enorme quantidade deliteratura anarquista sem ver a maior parte delacomo nada mais do que "democracia radical"vestida de retórica anarquista.

Anarquia significa ausência de governo. De-mocracia é uma forma de governo. O sufixo‘cracia’ significa poder, e democracia significapoder do povo. Para descer mais um degrauaqui, um governo é uma organização que mediatodas as atividades sociais, econômicas e políti-cas de um determinado povo. Então anarquia,por definição, não é democracia.

Anarquistas partem da rejeição completade todas as instituições ou estruturas autoritá-rias por princípio. Todos os governosimpõem-se sobre a Terra e a Vida. Enquantoeles existirem, a autonomia não pode existir.Tendo isso em mente, sigamos.

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Anarquias verdes?

Não existe apenas uma vertente da “anarquiaverde” e há certamente muitas divisões entre nós,como há em todas as perspectivas políticas. Oprincípio unificador entre os anarquistas verdes éuma compreensão ecologicamente orientada dasrelações de poder. As diferenças surgem principal-mente a partir da extensão com que consideramosque a domesticação pode, ou deve, ser derrubada.

Não conseguimos nem desejamos listar todasas diferentes vertentes do anarquismo verde.Queremos enfatizar que essas categorias são usa-das para simplificar. Nós não temos nenhum inte-resse em restrições ideológicas e não tenho fé ab-soluta em tais resumos. As distinções apontampara críticas específicas e são utilizadas somentepor razões convencionais.

Anarco-primitivismo: Essa crítica olha paraos milhões de anos de coexistência humana sel-vagem dentro da comunidade da vida como umolhar para a “natureza” e a capacidade humana.

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O que é compreendido a partir disso é que, con-trariamente aos mitos dos civilizados, seres hu-manos, dada a chance, não são maus, embora opoder corrompa absolutamente.

A crítica olha para a domesticação como o iní-cio de um processo que nos trouxe até onde nósnos encontramos agora. Nosso entendimento éque não apenas as relações capitalistas são opres-sivas, mas que a agricultura sedentária deu lugar àpropriedade e, assim, ao poder. Este ponto mostrao início do processo de remover a nós mesmos do“outro” e partir para uma relação “coisificada”com o mundo, onde todas as coisas são vistascomo objetos para nosso uso ou manipulação.

Alguns dos principais pontos de discordân-cia quanto a essa crítica estão em suas impli -cações. John Zerzan alega que para derrubar acivilização seria preciso a abolição do pensa-mento simbólico, enquanto outros diriam quea cultura simbólica é uma realização superior,mesmo concordando sobre a necessidade derejeitar o sedentarismo agrícola.

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Anti-civilização: Essa crítica é semelhante aoanarco-primitivismo, mas tende a afirmar que oanarco-primitivismo idealiza certos povos ou tem-pos. A convenção desta vertente é remover essa ba-gagem que anarco-primitivistas tendem a carregar.

Anarquismo verde: Esse termo é usado comoum termo geral para aqueles que não utilizam qual-quer das categorias acima e isso não significa quehá consistência entre eles, logo este título amplonão se destina a agrupar essas pessoas inteiramente.

As distinções dentro desta categoria encon-tram-se principalmente nas questões sobre quãolonge para trás devemos olhar para compreen-der a capacidade de destruição da civilização.Alguns diriam que a domesticação e agriculturapodem ser ecologicamente “sustentáveis” e pre-feríveis. Outros afirmariam que a tecnologia emsi não é um problema inerente.

O princípio unificador encontra-se na baseecológica e na compreensão do Estado Megatec-nológico como destrutivo.

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As vertentes filosóficas acima mencionadas ten-dem a ser acompanhadas por outro fator (emboranão necessariamente tão divisivo ou particular):

Revolucionários: Aqueles que procuram ummovimento de massas e a revolução como meiopara um mundo anarquista.

Insurrecionais: Aqueles que buscam a revol-ta aqui e agora como um meio para abolir o siste-ma de uma forma mais individual.

Raramente há uma verdadeira separação aqui,mas a distinção tende a ter um impacto maior so-bre as abordagens para destruir a totalidade daexistência civilizada.

A grande disputa é que os dois não são inse-paráveis e que qualquer ato de revolta é umgolpe contra a ordem civilizada. Alguns pode-riam apontar que a insurreição é o terreno fértilda revolução. Para um exemplo de debate entreas duas posições, ver Ted Kaczynski, “Atinjaonde dói", e Primal Rage, ”Atinja onde dói,mas no momento certo”.

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Uma nota sobre a ecologia social

A ecologia social de Murray Bookchin e seuInstituto de Ecologia Social tem sido vista comoparte da anarquia verde. Vários grupos de anarquis-tas verdes têm publicamente denunciado que estavertente não tem relação alguma com a anarquia.

As municipalidades libertárias são inerente-mente autoritárias, utopias democráticas que pro-curam apenas criar uma civilização verde. Nósnão temos nenhum interesse em nos relacionarcom aqueles que procuram ativamente reformar econtinuar com uma realidade tão destrutiva.

Bookchin defende a ideia dos seres humanoscomo a parte “consciente” da natureza, e por issoresponsável por ela. Sentimos que isso é apenasoutra forma de dominação sobre a natureza. Bo-okchin também acredita que é possível derivarum sistema ético dos princípios ecológicos, o queconsideramos ser uma ilusão. Os fenômenos danatureza não possuem caráter moral, e nesse casointerpretar a prevalência da cooperação ou da

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competição na natureza depende mais da pers-pectiva adotada pelo observador do que da reali-dade observada. Ao mesmo tempo, essa aborda-gem supostamente moral não aponta para nenhu-ma prática revolucionária viável.

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Conceitos e temas centrais

Civilização

Estamos vendo o ponto final da civiliza-ção: a busca pela completa dominação da na-tureza, interna e externa, produzindo um esta-do de neurose universal.

Paul Shepard disse que o passo para a en-genharia genética, incluindo a clonagem hu-mana, está implícito na primeira etapa: a do-mesticação. O desejo de controlar é a pedraangular da civilização. A lógica interna dessaorientação em relação ao mundo e à vida estáchegando à sua conclusão.

O espírito fundador da civilização começa,muito provavelmente, numa gradual divisão detrabalho ou especialização. As desigualdades sur-giram por meio do poder afetivo de vários tiposde especialistas. O caminho para a civilizaçãofoi pavimentado pela domesticação dos animais,das plantas e dos nossos próprios antepassados,

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apenas 10.000 anos atrás, o que deu fim a um es-tado de anarquia natural que prevaleceu durantecerca de dois milhões de anos.

Antes da civilização existia um amplo tempode lazer, autonomia e igualdade de gênero consi-derável, uma abordagem não destrutiva do mundonatural, a ausência de violência organizada e fortesaúde e robustez. A civilização inaugurou as guer-ras, a submissão das mulheres, o crescimento po-pulacional, o trabalho pesado, as hierarquias arrai-gadas, e virtualmente todas as doenças conheci-das, só para citar alguns de seus “benefícios”.

A civilização começa e se baseia na renúnciaforçada da liberdade instintiva e do Eros. Ela nãopode ser reformada, portanto é nossa inimiga.

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Domesticação

A domesticação começou no (então) Crescen-te Fértil, no Oriente Próximo (atual Iraque), cer-ca de 12.000 anos atrás, embora tenha levado al-guns milhares de anos para que este processo, oua propriedade e poder que ele produziu, exigissea defesa militar e a estratégia de controle socialda civilização. A domesticação foi o primeiro atona série que conduz à modernidade.

A domesticação é o processo no qual os sereshumanos domam, controlam, reproduzem e mo-dificam geneticamente outras formas de vida. Étambém o processo pelo qual populações nôma-des antigas mudaram para uma existência seden-tária. O primeiro tipo de domesticação, a do con-trole humano sobre a vida, necessita de uma rela-ção totalitária tanto com a terra, com as plantas ecom os animais. Considerando que a vida selva-gem compete por recursos de modo limitado (ra-ramente usa um recurso mais do que o necessá-rio); a domesticação destrói esse equilíbrio. Apaisagem domesticada (pastagens, campos

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agrícolas, e até certo ponto, até a horticultura e ajardinagem) requer o fim do compartilhamentoaberto dos recursos que existem ou existiram ante-riormente naquela paisagem. A paisagem domesti-cada é a afirmação de que “isto já foi de todomundo, agora é meu”. Indiscutivelmente esta no-ção de posse estabeleceu as bases para uma hierar-quia enquanto propriedade e poder surgiam. A do-mesticação não somente muda a ecologia da pai-sagem de livre para totalitária, mas também escra-viza as espécies que são domesticadas. Enquantoo trigo e o milho, suínos e equinos estavam dan-çando livremente no caos da natureza, eles foramcolocados sob o controle de captores humanos queliteralmente torcem seus genes à sua vontade. Ge-ralmente, quanto mais um ambiente é controlado,menos sustentável é: os tipos mais sustentáveis dedomesticação são as práticas de horticultura dejardineiros que trabalham com, e não contra, os ci-clos naturais e são de pequena escala.

O segundo tipo de domesticação, a dos pró-prios seres humanos, envolve muitos custos emcomparação ao modo de forrageamento nômade.

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Vale a pena notar aqui que a maioria das mudançasfeitas na passagem do forrageamento nômade paraa domesticação não foram feitas de forma autôno-ma, elas foram feitas na ponta da espada e da pisto-la. Há apenas dois mil anos atrás a maioria da po-pulação mundial era de caçadores-coletores, agoraesses são 0,01% da população. Este fato não é umresultado de uma decisão coletiva e informada daspessoas livres de seguir no caminho da civilização.

O caminho da domesticação envolveu maisdo que a escravidão de populações. Ele criouinúmeras patologias para os criadores dessaprática. Vários exemplos incluem um declínio nasaúde nutricional devido à dependência de dietassem diversidade. Cerca de 40 a 60 doenças sãointegradas às populações humanas para cada es-pécie domesticada (gripe, o resfriado comum, tu-berculose…). O surgimento de excedentes é usa-do para alimentar uma população fora de equilí-brio e invariavelmente envolve a propriedade e ofim da partilha incondicional, problemas resul-tantes da proximidade com excrementos, o surgi-mento de ambientes ideais para parasitas, e a ca-pacidade de doenças serem carregadas a longasdistâncias e por um longo tempo.

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Industrialismo

O industrialismo é a existência de sistemas deprodução mecanizados e complexos que sãoconstruídos sob o poder centralizado e a explora-ção das pessoas e da natureza. A crítica ao indus-trialismo é uma extensão natural da crítica anar-quista ao Estado, porque o industrialismo é ine-rentemente imperialista, genocida, ecocida e pa-triarcal. A fim de manter uma sociedade industri-al, você deve conquistar e colonizar terras paraadquirir recursos não renováveis para abastecer elubrificar a máquina. Este colonialismo/imperia-lismo é racionalizado pelo racismo, sexismo, echauvinismo cultural. No processo de adquirirestes recursos não renováveis, você deve forçaras pessoas para fora de suas terras. E, a fim defazer as pessoas trabalharem nas fábricas queproduzem as máquinas, você deve escravizar aspessoas, ou acumular os recursos que dependempara sua sobrevivência, como forma de coagi-losa entrar nas minas e trabalhar nas fábricas, ou su-jeitando-as ao sistema industrial. O industrialismo

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não pode existir sem centralização maciça por-que não pode existir sem especialização. A domi-nação de classe é uma ferramenta do sistema in-dustrial que nega às pessoas o acesso ao conheci-mento, tornando as pessoas impotentes e fáceisde explorar. Além disso, o industrialismo requerque os recursos sejam transportados por longasdistâncias, a fim de perpetuar a sua existência, eesse globalismo elimina a autonomia local e au-tossuficiência. O industrialismo é inerentementepatriarcal porque é essencialmente anti-vida eobjetificador por sua própria natureza. Aos olhosdo empresário, as mulheres e a natureza estãoaqui para o ganho material dos homens. A visãode mundo mecanicista está por trás do industria-lismo. Esta é a mesma visão de mundo que temjustificado a escravidão, o extermínio e a submis-são das mulheres. Deveria ser óbvio para todosque o industrialismo não é apenas opressivo paraos humanos, mas também é ecologicamente des-trutivo. Industrialismo significa sugar a terra comoperações de mineração e extração de petróleo;

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contaminando os ecossistemas, o ar e a água comagentes químicos. A energia nuclear, a espinhadorsal da economia industrial avançada, pode embreve tornar este planeta inabitável, se não forimpedida. Por estas e outras razões, nós somosabsolutamente contra o industrialismo.

Tecnologia

A tecnologia é mais um processo ou conceitodo que uma forma estática. É um sistema com-plexo que envolve divisão de trabalho, extraçãode recursos e expropriação para o benefício da-queles que implementam o processo. A tecnolo-gia é distinta das ferramentas simples em muitosaspectos. Uma ferramenta simples é um uso tem-porário de um elemento dentro de nosso entornoimediato, que ajuda numa tarefa específica. Fer-ramentas não envolvem um sistema complexoque alienam o usuário da sua ação. Na tecnologiaesta separação é visível, criando uma experiênciamediada que leva a várias formas de dominação.

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Nossa dominação aumenta toda vez que umanova tecnologia de “economia de tempo” é cria-da, uma vez que exige a construção de mais tec-nologia para suportar, alimentar, manter e reparara tecnologia original. Isto levou muito rapida-mente ao estabelecimento de um sistema tecnoló-gico complexo que parece ter uma existência in-dependente das pessoas, e onde as relações depoder entre o "inventor" e a "invenção" favore-cem claramente os interesses da própria máqui-na. Os subprodutos do sistema tecnológico estãopoluindo tanto nosso ambiente físico quanto psi-cológico. Vidas roubadas a serviço da máquina edo efluente tóxico de combustíveis do sistematecnológico, ambos estão nos afogando. A tecno-logia está replicando-se agora para algo seme-lhante a uma senciência artificial. O sistema tec-nológico é uma infecção planetária, impulsiona-da por seu próprio sucesso, rapidamente ordenaum novo tipo de ambiente, projetado para a efi-ciência mecânica e o próprio expansionismo tec-nológico. É questionável se a classe dominante

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(que ainda se beneficia economicamente e politi-camente do sistema tecnológico) realmente temqualquer controle sobre este monstro agora. Osistema tecnológico metodicamente destrói, eli-mina, ou subordina o mundo natural, e não per-mite que a terra se restaure e nem mesmo entrenuma relação simbiótica. A tecnologia estáconstruindo um mundo adequado apenas paraas máquinas e seu ideal é a mecanização detudo que encontra. Se quisermos ser mais doque servomecanismos, ou lacaios da tecnolo-gia, temos de reconhecer seu domínio sobrenós e trabalhar para desmantelar o sistema quefoi construído em torno das necessidades dasmáquinas, e não da vida livre.

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Revolução

A trágica ironia das revoluções é que muitasdas revoluções “bem sucedidas” nos tempos mo-dernos na verdade reduziram o nível da liberdadee da autenticidade na sociedade. Isto acontecequando as causas da opressão e da alienação nãosão abordadas; quando o deus do progresso/de-senvolvimento/dominação da natureza é cada vezmais plenamente obedecido.

Para a revolução ter significado e substância,para ser libertadora, certas instituições até entãoinquestionáveis devem ser desfeitas. A civilizaçãoé a fonte de todas as dominações: patriarcado, di-visão do trabalho, domesticação da vida, guerra…

Os “revolucionários” que não conseguem com-preender e agir contra esses fundamentos, que sódesejam reorganizar ou reformar o conjunto da tec-nologia e do capital, oferecem apenas um prolonga-mento do que é tão profundamente censurável.

Para nós, se essa palavra tem algum sentido,ela implica no desmantelamento da coisa toda.

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Esquerdismo e liberalismo

Os dois principais meios ou abordagens falhase exauridas para a mudança nos últimos tempostêm sido o liberalismo e o esquerdismo.

O que realmente resta a ser dito sobre a perspec-tiva liberal ou a reforma? É um masoquismo semfim, tempo e energia desperdiçada em busca de mi-galhas insignificantes, enquanto a sociedade e a bi-osfera tornam-se cada vez mais empobrecidas e ar-ruinadas. Os liberais de todos os tipos, incluindopraticamente todos os pacifistas, continuam em ne-gação quanto ao aprofundamento da crise em todosos lugares. Alguns deles aparentemente nunca irãoacordar para a profundidade e o alcance do que estáerrado. Eleitores fiéis e recicladores, eles se agar-ram à palpavelmente falsa alegação de que um sis-tema destrutivo pode de alguma forma ser resgata-do, pode de alguma forma servir à Vida.

Quanto à esquerda, onde ela pode ser distin-guida do liberalismo, achamos difícil imaginarum beco sem saída mais desacreditado. Falhouuniversalmente em termos do indivíduo e em ter-mos da natureza. É um peso morto.

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Basicamente, ela aparece em duas formas. Aprimeira é mais abertamente reformista, em queobjetivos mais “radicais” ficam escondidos das“massas” que procura atrair. Manipulação e faltade transparência definem este tipo de esquerdis-mo. A forma abertamente “radical” é quase sem-pre autoritarismo puro e simples. Os chamadoscomunistas lutam em vão contra essa bagagem,tentando defender retoricamente um suposto sen-tido “verdadeiro” do termo “comunismo”.

Na medida em que os anarquistas se apegamà esquerda e se definem em seus termos (comoos anarco-sindicalistas), eles não chegam a lu-gar algum. Tecnologia, produção, hierarquia,governo, destruição ecológica e “progresso”continuam sendo ideias inquestionáveis pelamaioria das pessoas que se identificam com aesquerda. Mesmo nas suas melhores oportunida-des, a esquerda falhou miseravelmente, e asperspectivas atuais são ainda piores, agora quesuas estratégias são conhecidas por todos.

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População

A população mundial está fora de equilíbrio,e não estamos sugerindo uma estratégia para li-dar com isso, mas achamos que há dados sobreessa situação que devem ser conhecidos. Nosúltimos 200 anos a curva de crescimento da po-pulação humana mudou de um “S” típico demamíferos para um “J” típico de vírus. Essenci-almente, isso significa que a população foi au-mentando dramaticamente a uma taxa ecologi-camente letal e este é um comportamento popu-lacional muito semelhante ao dos vírus que con-somem o hospedeiro até que ambos morram.Esta é uma realidade muito grave que os movi-mentos sociais anteriores não consideravam enem tinham as ferramentas para considerar.

Agora temos muitas ferramentas para entenderisso e o problema não pode ser apresentado comoum dos muitos “problemas” que poderemos resol-ver depois da eventual revolução. A resolução des-ta questão não deve, no entanto, equivaler à cria-ção de meios de controle da população, pois esta

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seria uma abordagem autoritária. Como anarquis-tas, não temos meios para impor um número“sustentável” de pessoas. Nós escolhemos disse-minar a compreensão e conscientização sobre oproblema para possibilitar a ação autônoma. Oque é necessário abordar na questão da popula-ção é uma compreensão do contexto. Isso podeincluir a população mundial, regiões, hábitos deconsumo, etc… De particular importância paraos anarquistas verdes seria uma compreensão doscontextos de limites locais do número de pessoase dos hábitos de consumo. As populações maisinsustentáveis têm menos a ver com densidadepopulacional, e mais a ver com comportamentocultural. Os milhares de milhões de produtoresrurais, literalmente metade da população domundo, enquanto responsáveis em muitos luga-res pelo desmatamento e a degradação da terrasão, em termos ecológicos, muito menos impac-tantes do que a destruição causada pelo compor-tamento cultural (os hábitos de consumo) domundo urbanizado. Embora seja verdade que a

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população atual está fora de equilíbrio e se dirigepara uma queda catastrófica, a culpa é das popu-lações mais responsáveis pela destruição ecológi-ca, e não simplesmente dos números por si sós.

Neste contexto, o problema é maior do que ocrescimento populacional. É a dominação de cul-turas urbanas cujos comportamentos são muitomais impactantes e destrutivos do que do cresci-mento de populações não industrializadas.

Como antiautoritários, esperamos que as co-munidades autônomas vivam dentro de suas pos-sibilidades, e temos fé de que os desequilíbriosgerados pelo imperialismo, o capitalismo e a glo-balização diminuam rapidamente uma vez que osistema industrial se vá, e os nativos do planetapossam voltar para os modos de vida que foramroubados e perdidos. E isso vai ser baseado naautonomia coletiva e na consciência ecológica,não na autoridade do Estado.

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Solidariedade indígena

Um movimento revolucionário que não abor-da a realidade dos habitantes originais da terra éum movimento fadado ao fracasso. Acreditamosque uma das razões que os movimentos revoluci-onários passados falharam miseravelmente emsuas tentativas de criar uma sociedade igualitáriae livre é que eles têm não tratado adequadamenteas questões relativas ao direito dos povos indíge-nas à soberania ou à autodeterminação.

Movimentos que não tentam construir rela-ções igualitárias com as comunidades indígenas enão apoiam suas lutas por autonomia nunca terãoo apoio dessas comunidades. Na verdade, se ummovimento supostamente “revolucionário” nãoaborda a questão da descolonização, ele prova-velmente só contribui para a marginalização dospovos nativos e transforma-os em inimigos.

Movimentos estatistas têm sido genocidas emsua prática em relação às populações indígenas.Estes movimentos consideram povos indígenas

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como coisas “pré-capitalistas” que se interpõemno caminho da evolução socialista e do progressoindustrial. As condições enfrentadas pelos povosindígenas sob os governos revolucionários e co-munistas na Rússia, China, Vietnam, Nicarágua,Peru, Colômbia e em outros lugares têm divergi-do muito minimamente das condições opressivasque enfrentam sob os governos capitalistas.

O movimento anarquista não compartilha dahistória brutal do movimento comunista de sub-jugar os povos indígenas, mas a maioria dosanarquistas não aborda a realidade dos povos in-dígenas. Isto é extremamente lamentável, porqueo movimento anarquista encontra aliados natu-rais do movimento da soberania indígena.

Muitos anarquistas consideram as questões in-dígenas como “nacionalistas” e, portanto, irrele-vantes. Isto é extremamente falho porque sustentaque qualquer cultura distinta que toma medidascontra um poder colonial é “nacionalista”. Algunsmovimentos indígenas são de fato “nacionalistas”,mas não no sentido de um Estado-nação, mas sim

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em termos de uma cultura distinta com os costu-mes distintos que tem o direito de existir livre-mente dentro de sua própria região. Os esforçosdos povos nativos para declarar sua soberaniamuitas vezes são totalmente consistentes com odesejo anarquista quanto à descentralização.

Nosso movimento precisa perceber que a lutados povos nativos é uma questão que deveria serde grande preocupação para todos os que se con-sideram adversários de opressão. Os povos indí-genas sempre estiveram envolvidos em lutas con-tra o Estado, o expansionismo industrial, e a ex-ploração das empresas. Eles são as únicas comu-nidades que têm mantido uma relação relativa-mente harmoniosa com o mundo natural. Elestêm realizado batalhas impressionantes contra ostatus quo. Estas batalhas muitas vezes têm o ob-jetivo de forçar as empresas para fora de uma ter-ra sagrada, rejeitando as leis arbitrariamente im-postas e ordenanças do Estado, e atacando desen-volvimentos industriais que ameaçam o bem-estar dos seres humanos e dos animais. Estas

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questões são totalmente consistentes com o anar-quismo, e aqui encontramos o potencial de alian-ças poderosas entre anarquistas sinceros, ecolo-gistas radicais e povos nativos.

A solidariedade anarquista para com os povosnativos não deve assemelhar-se, de modo algum,à apropriação cultural, cuja ideia de “solidarieda-de” com os nativos realmente consiste em roubarsuas tradições e explorá-los para ganho pessoal.Em vez disso, nossa solidariedade com os nati-vos deve ser genuína, concreta, e, mais importan-te, igualitária. Quando o nosso apoio é recebidopor eles, devemos nos juntar a eles na linha defrente da batalha contra a dominação colonial.

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Sabotagem econômica

É surpreendente que tantos anarquistas insur-recionais permitam-se serem arrastados para adrenagem de energia dos debates retóricos comliberais que tentam transformar questões estra-tégicas em questões morais. Suas tentativas dedefinir a destruição da propriedade e a sabota-gem econômica como “violentas” e, assim, con-trolar a raiva daqueles que identificaram clara-mente os seus opressores e que estão se levantan-do contra sua ordem. Reverência pela proprieda-de é a lealdade ao capitalismo e aos valores dosistema que alguns de nós queremos seriamentedestruir, não reformar. Sabemos que o nosso ini-migo adora a propriedade, e que a fonte de seupoder, no mundo que eles criaram, é a sua propri-edade roubada, e não temos qualquer reverênciapor qualquer coisa que o sistema usa para nosoprimir. Se nós estamos tentando uma verdadeirafuga da prisão desta sociedade, se estamos pron-tos para fazer um movimento contra nossosopressores, enquanto ainda há tempo, então nós

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temos que atacar onde dói, e isso não vai a ser re-alizado através de voto ou vigílias de paz. Nossoinimigo, a megamáquina, tem que ser enfraqueci-da antes que possa ser completamente destruída, eisso pode ser muito mais eficaz com golpes empontos de pressão, com a intenção de prejudicarsua capacidade de se espalhar e se replicar. Movi-mentos como a Frente de Libertação da Terra de-monstraram que a sabotagem econômica pode sereficaz ao barrar ou atrasar ações específicas e suasconsequências destrutivas. Nossa tarefa agora éderrubar este sistema em sua totalidade.

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Violência revolucionária

Enquanto a maioria de nós se esforça para umaexistência pacífica e harmoniosa com a Vida, é im-portante reconhecer o contexto em que estamosatualmente. A maioria das pessoas está vivendo emcondições deploráveis, não porque não se tornaram“civilizadas” ou “modernas”, mas porque são for-çadas a ser a força de trabalho dos privilegiados.Aqueles de nós que vivem em “boas condições”também sofrem com a extrema alienação, a deteri-oração física, as distorções psicológicas e o vazioespiritual. Não há dúvida de que estamos todos ra-pidamente nos dirigindo num caminho de sentidoúnico para o colapso final. É importante assumir aresponsabilidade por esta situação e agir agora.

A noção de insurreição ou a promoção e insur-gência de revolta com a finalidade de libertação éinerente a ser anarquista revolucionário. Isso podeassumir muitas formas, mas a reforma dos sistemasde dominação não pode ser visto como revolucio-nário. Enquanto a maioria das ações anarquistaspode ser considerada não violenta, não pode haverlimitação definida em nossa resistência.

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