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O RECONHECIMENTO DO ALUNO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS COMO SUJEITO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM Maria de Fátima Furlan 1 RESUMO Este Artigo Cientifico apresenta o resultado da participação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – realizado na Universidade Estadual de Maringá, sob a orientação da Professora Dra. Regina Lúcia Mesti 2 . Com o objetivo de analisar pesquisas educacionais e documentos oficiais para compreensão do processo de aprender e seu reconhecimento na organização do trabalho pedagógico com jovens, adultos e idosos. O Projeto de Intervenção Pedagógica foi desenvolvido em forma de grupo de estudos, com professores do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos. Nessa oportunidade de estudo e reflexão sobre a organização do trabalho pedagógico articulando os eixos – cultura, trabalho e tempo, conforme orientações das Diretrizes Curriculares para Jovens e Adultos do Estado do Paraná, constatamos a possibilidade de valorizar o conhecimento do aluno como ponto de partida e a necessidade de investigação e sistematização do conhecimento científico. PALAVRAS CHAVE: Educação de Jovens e Adultos. Prática Pedagógico. Eixos Articuladores. ___________________________________________________________________ RECOGNITION OF STUDENT OF YOUTH AND ADULTS AS SUBJECT OF KNOWLEDGE AND LEARNING ___________________________________________________________________ ABSTRACT This Article shall present the result of program participation for Educational Development - PDE - held at the State University of Maringa, under the guidance of Prof. Dr. Regina Lúcia Mesti. In order to analyze educational research and official documents for understanding the process of learning and recognition in the organization of educational work with young people, adults and seniors. The Educational Intervention Project was developed in the form of study group, with teachers of the Center of Basic Education for Youths and Adults. At that time of study and reflection on the organization of educational work articulating axles - culture, work and time, according to guidelines of the Curriculum Guidelines for Youth and Adults in the State of Paraná, found the opportunity to enhance the student's knowledge as a starting point and need for research and systematization of scientific knowledge. Key words: Education, Youth and Adults. Educational Practice. Axes Articulators. ___________________________________________________________________ 1 Pedagoga do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – Professor Manoel Rodrigues da Silva – Maringá - PR 2 Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá – Mestre em Educação e Doutora em Comunicação e Semiótica. 1

O RECONHECIMENTO DO ALUNO DE EDUCAÇÃO DE … · ADULTOS COMO SUJEITO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM Maria de Fátima Furlan1 RESUMO ... conhecimento do aluno como ponto de partida

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O RECONHECIMENTO DO ALUNO DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS COMO SUJEITO DO CONHECIMENTO E APRENDIZAGEM

Maria de Fátima Furlan1

RESUMO

Este Artigo Cientifico apresenta o resultado da participação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – realizado na Universidade Estadual de Maringá, sob a orientação da Professora Dra. Regina Lúcia Mesti2. Com o objetivo de analisar pesquisas educacionais e documentos oficiais para compreensão do processo de aprender e seu reconhecimento na organização do trabalho pedagógico com jovens, adultos e idosos. O Projeto de Intervenção Pedagógica foi desenvolvido em forma de grupo de estudos, com professores do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos. Nessa oportunidade de estudo e reflexão sobre a organização do trabalho pedagógico articulando os eixos – cultura, trabalho e tempo, conforme orientações das Diretrizes Curriculares para Jovens e Adultos do Estado do Paraná, constatamos a possibilidade de valorizar o conhecimento do aluno como ponto de partida e a necessidade de investigação e sistematização do conhecimento científico.

PALAVRAS CHAVE: Educação de Jovens e Adultos. Prática Pedagógico. Eixos Articuladores.

___________________________________________________________________

RECOGNITION OF STUDENT OF YOUTH AND ADULTS AS

SUBJECT OF KNOWLEDGE AND LEARNING

___________________________________________________________________

ABSTRACT

This Article shall present the result of program participation for Educational Development - PDE - held at the State University of Maringa, under the guidance of Prof. Dr. Regina Lúcia Mesti. In order to analyze educational research and official documents for understanding the process of learning and recognition in the organization of educational work with young people, adults and seniors. The Educational Intervention Project was developed in the form of study group, with teachers of the Center of Basic Education for Youths and Adults. At that time of study and reflection on the organization of educational work articulating axles - culture, work and time, according to guidelines of the Curriculum Guidelines for Youth and Adults in the State of Paraná, found the opportunity to enhance the student's knowledge as a starting point and need for research and systematization of scientific knowledge.

Key words: Education, Youth and Adults. Educational Practice. Axes Articulators.

___________________________________________________________________

1 Pedagoga do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos – Professor Manoel Rodrigues da Silva – Maringá - PR2 Professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá – Mestre em Educação e Doutora em Comunicação e Semiótica.

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1. Introdução

O estudo realizado sobre questões referentes ao conhecimento,

aprendizagem, prática pedagógica e os eixos temáticos – cultura, trabalho e

tempo - na Educação de Jovens e Adultos nasceu na própria escola, no

trabalho diário com alunos jovens, adultos e idosos e na valorização de suas

histórias de vida, com trabalhos e expectativas diferentes dos encontrados

na educação básica regular. Esse projeto foi possível devido a participação

do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

O Documento Síntese de Programa de Desenvolvimento Educacional

PDE, (2007), instaura uma nova concepção de Formação continuada que

integra a valorização dos professores que atuam na Rede Pública Estadual

de Ensino do Paraná. É uma política pública que estabelece o diálogo entre

os professores da Educação Superior e os da Educação Básica, por meio de

atividades teóricas e práticas, tendo como resultado a produção de

conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar. Dessa forma, tem

como objetivo proporcionar aos professores da rede pública estadual

subsídios teóricos metodológicos para o desenvolvimento de ações

educacionais sistematizadas, que resultem em redimensionamento de sua

prática.

O Programa de Desenvolvimento Educacional assume como

referenciais os princípios político-pedagógicos da Secretaria de Estado da

Educação - SEED, explicitados nas Diretrizes Curriculares para a Educação

Básica estabelecendo assim, os parâmetros básicos para a implementação

do programa, estipulando os seguintes eixos norteadores (PARANÁ, 2007,):

a. compromisso com a diminuição das desigualdades sociais;

b. articulação das propostas educacionais com o desenvolvimento

econômico, social, político e cultural da sociedade;

c. defesa da educação básica e da escola pública, gratuita de

qualidade, como direito fundamental do cidadão;

d. articulação de todos os níveis e modalidades de ensino;

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e. compreensão dos profissionais da educação como sujeitos

epistêmicos;

f. estímulo ao acesso, à permanência e ao sucesso de todos os alunos

na escola;

g. valorização do professor e dos demais profissionais da educação;

h. promoção do trabalho coletivo e da gestão democrática em todos os

níveis institucionais;

i. atendimento e respeito à diversidade cultural.

O professor participante do programa tem dois anos para a realização

das atividades, em nosso caso, o período para desenvolvimento desse

projeto foi entre os anos de 2008 e 2009. No primeiro ano, o professor PDE

se afasta integralmente das atividades diárias da escola, ficando

inteiramente disponível para os estudos em questão. Eles são realizados,

em sua maioria, dentro de uma instituição de ensino superior. Várias

instituições participam desse processo. A Universidade Estadual de Maringá

–UEM – proporcionou para nós o suporte teórico e metodológico por meio de

cursos ministrados por vários professores e, nas diversas áreas do

conhecimento em forma de palestras, fóruns e apresentações de trabalhos,

como por exemplo, seminários. A UEM também foi a responsável pelos

orientadores que trabalharam diretamente com os professores participantes

do Programa de Desenvolvimento Educacional, contribuindo na organização

e desenvolvimento das várias atividades solicitadas pelo Programa.

A professora Regina Lúcia Mesti tem feito o trabalho de orientação

auxiliando-nos nesses dois anos, colaborando na elaboração do Projeto de

estudo e de intervenção pedagógica na escola, no Grupo de Trabalho em

Rede – GTR, na formulação da unidade temática, na implementação do

trabalho pedagógico na escola, na elaboração do Artigo Cientifico e, em

todas as demais atividades solicitadas pelo Programa.

As fontes documentais utilizadas para a revisão bibliográfica e ainda,

a constituição da fundamentação teórica sobre

conhecimento/aprendizagem e prática pedagógica na Educação de Jovens e

Adultos foram os Documentos Oficiais sobre a Educação de Jovens e

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Adultos, no âmbito Federal e Estadual e, norteamo-nos em autores como

Paulo Freire e Marta Khol de Oliveira.

Sentimos a necessidade de uma breve retomada histórica sobre essa

modalidade para compreendermos conceitos de conhecimento,

aprendizagem, prática pedagógica e os eixos temáticos – cultura, trabalho e

tempo – e, percebemos a importância de uma educação de qualidade

voltada especialmente para os jovens, os adultos e idosos.

A história sobre a Educação de Jovens e Adultos, não é recente, teve

início com a colonização portuguesa que tinha a necessidade de alfabetizar

os adultos, mas, foi no período republicano, principalmente a partir dos

anos de 1990 que ocorreram grandes acontecimentos acarretando em um

avanço significativo para a Educação de Jovens e Adultos, primeiramente

com a obrigatoriedade do Ensino Fundamental e, depois a Educação Básica.

Identificamos nesse período, a ênfase nos estudos sobre questões

como conhecimento, aprendizagem e prática pedagógica na Educação de

Jovens e Adultos e novas políticas educacionais com propostas de novas

metodologias para um ensino fundamental e, posteriormente uma educação

básica de qualidade.

Os estudos e discussões sobre conhecimento, aprendizagem e prática

pedagógica foram apresentados nos Fóruns Estaduais de Educação de

Jovens e Adultos e Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos –

ENEJAS - que promoveram seminários regionais e nacionais e, contaram

com a participação dos segmentos envolvidos com o EJA, como as

secretarias estaduais e municipais, organizações não-governamentais,

empresas privadas, universidades, sindicatos, etc.

A V CONFITEA – Conferência Internacional sobre Educação de Adultos

-realizada em 1997, em Hamburgo na Alemanha, foi demarcada na história

da Educação de Jovens e Adultos por ter provocado um intenso movimento

mundial de preparação para discussão sobre o tema da aprendizagem, do

conhecimento de adultos, entre outros.

Clara Di Piero acompanhou e coordenou os trabalhos sobre os acordos

estabelecidos durante essa Conferência.

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A 5ª Confintea estabeleceu um vinculo entre a educação de jovens e adultos e o desenvolvimento sustentado e equitativo da humanidade. Seus principais temas e intenções foram consolidados na Declaração de Hamburgo, na qual se detalha um conjunto de recomendações que devem ser seguidas por agentes governamentais e não governamentais. Juntamente com a Declaração de Hamburgo foi estabelecida a Agenda para o Futuro, com estratégias de implementação e acompanhamento das ações e intenções acordadas durante a conferência (PIERO, 2003, p.05).

E, ainda:

A 5ª Confintea desenvolveu um conceito ampliado de educação de jovens e adultos, pelo qual não basta criar programas de alfabetização, é preciso proporcionar aos indivíduos oportunidades de educação básica e integral, compreendendo a formação para o trabalho e a promoção dos direitos humanos, da saúde e do meio (PIERO, 2003, p.23).

Outro ponto de extrema importância para a solidificação da Educação

de Jovens e Adultos foi a Lei de Diretrizes e Bases 9394, promulgada em 20

de dezembro de 1996 e ainda em vigor, na qual essa modalidade de ensino

passa fazer parte da Educação Básica nas etapas de Ensino Fundamental e

Médio.

Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria. §1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. §2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do trabalhador na escola, mediante ações integradas entre si (site www.portal.mec.gov.br. Acesso em: 22/10/2008 e 04/08/2009).

Nas discussões sobre a Educação de Jovens e Adultos como direito e

dever do Estado, começa com a Alfabetização de Adultos e, na década de

90 com o Ensino Fundamental, em seguida a Educação Básica, que se

preocupa em estabelecer leis que assegurem o direito do aluno em

participar do seu processo de conhecimento e aprendizagem. Esses

princípios educacionais são considerados na elaboração das Diretrizes

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Curriculares Nacionais promulgada em 10 de maio de 2000, que propõem

ainda, a organização do currículo e define que:

• as especificidades de tempo e espaço para os seus educandos;

• o tratamento presencial dos conteúdos curriculares;

• a importância em se distinguir duas faixas etárias (jovens e adultos)

consignadas nesta modalidade de educação;

• a formulação de projetos pedagógicos próprios e específicos dos

cursos noturnos regulares e os de EJA.

O documento citado acima, as Diretrizes Curriculares do Estado do

Paraná; o Projeto Político Pedagógico, foram constituídos em fontes

documentais que apresentam os conceitos como Conhecimento,

Aprendizagem, Prática Pedagógica e os Eixos Articuladores - Cultura,

Trabalho e Tempo, como também, baseados nos ensinamentos dos livros de

Paulo Freire e Marta Khol de Oliveira.

Essa investigação sobre os conceitos já citados, apareceram nas

diferentes etapas do Programa de Desenvolvimento Educacional, quando

desenvolvemos os trabalhos de Revisão Bibliográfica, Projeto de

Intervenção, Grupos de Estudos e na própria elaboração de Artigo Cientifico.

Para o percurso de interações dos sujeitos epistêmicos envolvidos no

estudo, foi necessária a análise dos conceitos, e a reflexão sobre a Prática

Pedagógica apresentados nesse artigo cientifico.

2. Eu, Professora Como Sujeito Epistêmico

Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar. Foi assim, socialmente aprendendo, que ao longo dos tempos mulheres e homens perceberam que era possível – depois preciso – trabalhar maneiras, caminhos, métodos de ensinar (FREIRE, 2008, p. 23-24).

Desde o início a nossa preocupação estava em buscar subsídios para

a organização do trabalho pedagógico do aluno de Educação de Jovens e

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Adultos, no seu processo de ensino e aprendizagem, para isso analisamos

documentos e autores que partem de princípio que os Jovens e adultos

podem e devem participar do seu processo de conhecimento.

Constamos o que foi proposto por nós nesse Projeto de Estudo no

inicio do programa, em fevereiro de 2008,.Está muito explicito nas Diretrizes

Curriculares do Estado do Paraná e em outros documentos oficiais.

Na segunda etapa, a partir de julho de 2008, propomos-nos a escrever

uma unidade temática com o título: “O Reconhecimento do aluno de

Educação de Jovens e Adultos como sujeito do conhecimento e

aprendizagem”, para ser utilizado no grupo de estudos.

A terceira etapa, a Intervenção Pedagógica na escola, foi realizada

com um grupo de estudos, em nossa escola de origem, com professores da

Educação de Jovens e Adultos das diversas áreas de conhecimento

(pedagogia, história, geografia, português, matemática, inglês, biologia,

física e química) que como nós, tem a preocupação com o tema e vem

buscando subsídios que fundamentam o trabalho pedagógico com seus

alunos.

O Grupo de estudos foi realizado de abril a junho de 2009, num total

de 32 horas, divididas em oito encontros de 4 horas/dia.

Para colaborar com a discussão nos grupos de estudos, propomos

uma questão central que perpassou por todos os encontros: qual a

concepção de conhecimento e aprendizagem para cada um dos autores e

documentos e, qual a contribuição para a realização do trabalho pedagógico

com os nossos alunos?

Iniciamos o grupo de estudos com a leitura do texto “Ensinar,

aprender: leitura de mundo, leitura das palavras” – Paulo Freire (1997), que

permitiu aos professores uma reflexão a respeito da importância do nosso

trabalho na Educação de Jovens e Adultos e ainda, quanto os nossos alunos

podem contribuir no próprio processo de aprendizagem pois, “a

aprendizagem é um processo contínuo, não existe ensinar sem aprender”

(FREIRE, 1997, p. 01).

Vale ressaltar um trecho do debate dos professores de História e

Geografia: “... além do conhecimento prévio trazido pelo aluno, na vivência

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do aluno, na experiência e no diálogo, confrontando assim realidade, teoria

e prática” (Grupo de Estudos em 14/03/2009).

No segundo encontro, após a leitura do texto: “Jovens e Adultos como

sujeitos do conhecimento e aprendizagem” – Marta Khol de Oliveira (1999),

outra questão de indagação surgiu durante o debate com os professores:

Como esses jovens e adultos pensam e aprendem?; sua condição de não

crianças, a condição de (ex) excluídos da escola e membros de

determinados grupos culturais; como as pessoas envolvidas no trabalho

pedagógico estabelecem relações de aprendizagem?.

Segundo os professores do grupo de estudos foi possível perceber

“que as escolas, na sua maioria, não estão preparadas para atender esse

grupo de jovens e adultos. Precisamos de muitas ações como essa, estudar

em grupo e participar de experiências e capacitações” (Grupo de Estudos

em 11/04/2009 - professores de Física e Química).

Reconhecer com a leitura prévia das Diretrizes Curriculares de

Educação de Jovens e Adultos (Curitiba, 2006), a importância do trabalho

pedagógico que é desenvolvido nos Centro Estadual de Educação Básica

para Jovens e Adultos (CEEBJA), e atende um público, na sua maioria,

jovens, adultos idosos e trabalhadores que procuram a escola como

possibilidade de escolarização e novos conhecimentos.

Este documento já tem sido estudado com os professores nos

encontros organizados pela equipe pedagógica da escola, possibilitando

assim uma maior reflexão e participação na busca de alternativas para o

desenvolvimento do trabalho pedagógico com esses alunos. A reflexão dos

eixos norteadores – Cultura, Trabalho e Tempo – esteve presente no

destaque apresentado pelos professores da disciplina de Língua Portuguesa:

“Na Educação de Jovens e Adultos os vínculos entre educação, escola e

trabalho situam-se numa perspectiva mais ampla do ser humano, sua

formação intelectual e moral, sua autonomia e liberdade individual e

coletiva, sua emancipação” (Grupo de Estudos em 25/04/2009).

Identificar qual a concepção de conhecimento e aprendizagem e

ainda, a importância da organização do trabalho pedagógico nessa

modalidade de ensino foi nosso desafio enquanto professor participante do

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Programa de Desenvolvimento Educacional, quando nos propomos a

desenvolver uma Unidade Temática que foi posteriormente estudada no

grupo de estudos. A unidade temática elaborada por mim em parceria com

a professora Orientadora – Regina Lúcia Mésti:”O Reconhecimento do aluno

de Educação de Jovens e Adultos como sujeito do conhecimento e

aprendizagem”, possibilitou a reflexão e constatação por parte dos

professores que “não podemos homogeneizar os educandos, o seu

desenvolvimento é um processo de constante transformação” (Grupo de

Estudos em 16/05/2009 - professores de Matemática).

Estudamos também, outras unidades temáticas produzidas por

colegas professores pedagogos atuantes na EJA e participantes do Programa

de Desenvolvimento Educacional que tem como título: “Direitos e Desafios

na Educação de Jovens e Adultos” – Ângela Mirtes de Souza e a “Prática

Pedagógica e o processo de aprendizagem do Aluno da Educação de Jovens

e Adultos” – Marisa de Jesus Canini Cezar. As utilizações dessas unidades

temáticas possibilitaram a reflexão, a análise e o reconhecimento da

importância de nosso trabalho enquanto educador junto aos alunos jovens,

adultos e idosos e, também a necessidade de organizar novos estudos com

os professores, que relataram da dificuldade de estudar sobre o tema

proposto. “Em nossa prática pedagógica muitas vezes não estamos

preparados para atender esse grupo de jovens e adultos e idosos conforme

suas especificidades. Há, portanto, uma falta de sintonia entre essa escola e

os alunos que dela se servem” (Grupo de Estudos em 23/05/2009 –

professores de Língua Portuguesa).

A compreensão do trabalho pedagógico com Jovens Adultos e Idosos

pode ser entendida com a análise do documentário Paulo Freire,

apresentado por Moacir Gadotti e Angela Antunes que possibilitou ainda o

conhecimento e a reflexão sobre conceitos e o trabalho do autor. Para os

professores a percepção de como o nosso trabalho é necessário e

importante. Como citou uma professora da disciplina de Língua Portuguesa

após assistir o vídeo: “Mudar é difícil, mas é possível” (Documentário sobre

Paulo Freire em 16/05/2009).

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No início dos estudos em grupo os obstáculos devido a preconceitos

surgiram, estávamos analisando produções de autores conhecido por todos,

mas que muitas vezes, interpretados de forma equivocada, como por

exemplo, a inversão da proposta de Paulo Freire “seria um facilitador de

conteúdos, assim tudo que o aluno fazia estava bom.” Após as leituras e

análise do documentário foi possível um maior conhecimento sobre o autor

e o significado do seu trabalho para a educação de jovens e adultos, além

do sentimento e necessidade de conhecer as propostas e obras

educacionais. Ouvimos depoimentos de professores que participaram do

estudo, “Nossa, o trabalho de Paulo Freire é sério e apaixonante, antes eu

tinha uma outra visão” (Professora da disciplina de Língua Portuguesa, após

assistir ao documentário), ou um outro depoimento dos professores de

Matemática que durante o estudo do texto de Paulo Freire “Leitura do

Ensinar, aprender leitura de mundo, leitura das palavras” relataram: “Ao

ensinar outras pessoas a respeito de um conteúdo pessoa que ensina,

muitas vezes aprende mais que as pessoas que estão ali para aprender.

Para ensinar precisamos estudar, dedicar, ler, refazer nosso saber para

obter êxito em todos os objetivos traçados”. Ou seja, como está no texto

“Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é

perceber suas relações com os outros objetos” (FREIRE, 1997, p.05).

A indagação norteadora dos estudos e discussões em grupo

possibilitou as reflexões acima sobre a importância da organização do

trabalho pedagógico na educação de jovens e adultos e ainda, auxiliou os

professores para constatarem a necessidade de aprofundamento a respeito

dos conceitos de conhecimento, aprendizagem, prática pedagógica e os

eixos articuladores – cultura, trabalho e tempo. Foi uma oportunidade de

conhecimento, de reflexão de troca, e o mais importante de reflexão da

nossa própria realidade, do nosso contato direto com as pessoas envolvidas

nesse processo de aprender.

3. Organização do trabalho pedagógico de um CEEBJA

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Essa análise e reflexão sobre o aluno de Educação de Jovens e adultos

como sujeito do conhecimento e da aprendizagem foi possível por fazermos

parte de uma escola que no trabalho com alunos jovens, adultos e idosos

sempre procurou respeitar seus educandos, buscando subsídios teóricos e

metodológicos que orientassem seus educadores nesse processo de

conhecimento e aprendizagem.

Na análise da proposta de organização do trabalho pedagógico, nas

Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná e no Projeto Político Pedagógico

de um Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos, fica nítido

nos documentos a necessidade de se repensar o trabalho pedagógico:

[...] da reorganização e da reorientação do trabalho pedagógico na EJA está o desafio de desenvolver processos de formação humana, articulados a contextos sócio-históricos, a fim de que se reverta à exclusão e se garanta aos jovens, adultos e idosos o acesso, a permanência e o sucesso no início ou retorno desses sujeitos à escolarização básica como direito fundamental (PARANÁ, 2006, p.16).

É necessário destacar que o Centro Estadual de Educação Básica para

Jovens e Adultos em questão, apresenta uma organização de trabalho

presencial, na forma de atendimento coletivo e ou individual dos alunos. Os

componentes curriculares são organizados por disciplina, com uma carga

horária que, embora diferenciada, contempla todos os conteúdos que

integram a Base Nacional Comum, os quais estão contidos na proposta

pedagógica curricular de cada disciplina e no Projeto Político Pedagógico da

escola.

A organização coletiva de estudo se dá através de cursos ou aulas

com horários e dias preestabelecidos pela escola com um cronograma de

início e término de cada disciplina. Essa organização se destina,

preferencialmente, aos que podem frequentar as aulas com regularidade.

No atendimento individual o aluno pode organizar seus horários e dias de

estudo dentro dos períodos oferecido pela escola (manhã, tarde e noite)

para cumprir o que cada área propõe (leituras, atividades, provas, etc.),

sempre com a presença e orientação do professor. Os alunos podem cursar

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uma ou no máximo quatro disciplinas, dependendo de sua disponibilidade

para o estudo.

4. O perfil dos alunos de EJA

Os alunos que estudam na Educação de Jovens e Adultos são, na sua

maioria, trabalhadores que apresentam diferentes experiências de vida e,

muitas vezes, não conseguiram concluir seus estudos por vários motivos,

entre eles, a dificuldade de organizar o seu horário de frequência escolar.

Essas características do aluno trabalhador justificam, conforme as Diretrizes

Curriculares do Estado do Paraná, a necessidade de uma proposta

pedagógica diferenciada, como a apresentada nos Centros de Educação

Básica para Jovens e Adultos.

Não podemos simplesmente mudar o tempo em que o aluno

permanece na escola ou a sua organização mas, como Oliveira (1999)

afirma, faz-se necessário uma adequação da escola, oferecendo assim

currículos, programas e uma organização do trabalho pedagógico a esses

alunos trabalhadores jovens, adultos e idosos. Nossa preocupação é que a

proposta de oportunidade de escolarização se efetive na prática pedagógica

das escolas e que represente uma possibilidade para o conhecimento.

As Diretrizes Curriculares de Educação de Jovens e Adultos do Estado

do Paraná apresentam estudos e propostas sobre o processo de ensino e

aprendizagem e organização do trabalho pedagógico numa constante busca

da educação de qualidade para todos.

Estas Diretrizes são destinadas aos educandos jovens, adultos e idosos, como sujeitos de conhecimento e aprendizagem, de sua história e condição socioeconômica, sua posição nas relações de poder, sua diversidade étnico-racial, territorial, geracional e cultural, dentre outras (PARANÁ, 2006, p.16).

As Diretrizes Curriculares (2007), enfatizam ainda que a educação de

jovens e adultos tenha como finalidade e objetivo, a formação humana e a

cultura geral e contempla:

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• O seu papel na socialização dos sujeitos, agregando elementos e valores que os levem à emancipação e à afirmação de sua identidade cultural;

• O exercício de uma cidadania democrática, reflexo de um processo cognitivo, crítico e emancipatório, com base em valores como respeito mútuo, solidariedade e justiça;

• Os três eixos articuladores do trabalho pedagógico com jovens, adultos e idosos – cultura, trabalho e tempo.

Todo esse enfoque requer dos Centros de Estudos de Educação Básica

para Jovens e Adultos um comprometimento coletivo dos que atuam nessa

modalidade de ensino (professores, equipe pedagógica, direção,

coordenações, alunos e comunidade) a busca de uma educação de

qualidade, desenvolvidos nos processos educativos e definidos no Projeto

Político Pedagógico.

Assim com a perspectiva de organizar o trabalho pedagógico,

destacamos nessa pesquisa documental os eixos articuladores, cultura,

trabalho e tempo, que estão presentes nas Diretrizes Curriculares do Estado

do Paraná, como conceitos que devem estar articulados e inter-relacionados

no trabalho pedagógico como um processo de seleção da cultura.

A cultura (PARANÁ, 2006) como eixo principal, norteará a ação

pedagógica, pois se encontram presente em várias manifestações humanas,

inclusive o trabalho e o tempo. Ela é também, o elemento de mediação

entre o indivíduo e a sociedade que se desenvolve por meio de um “sistema

de significações” envolvendo todas as formas de atividade social. O foco

está na diversidade cultural, que permite estabelecer relações a partir dos

conhecimentos adquiridos, para a reconstrução de novos saberes, “a cultura

compreende toda forma de produção da vida material e imaterial e compõe

um sistema de significações envolvido em todas as formas de atividade

social.” (WILLIANS, 1992 apud, Paraná 2006, p.32).

A cultura como principio educativo apresentados nas Diretrizes

Curriculares do Estado do Paraná afirma que os conteúdos de cada

disciplina, devem ser contextualizados. A dimensão sócio-histórica dos

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conceitos articulada ao mundo do trabalho, à ciência, às novas tecnologias,

enfim a tudo que possa contribuir para o conhecimento.

A cultura, entendida como prática de significação não é estática e não se reduz à transmissão de significados fixos, mas é produção, criação e trabalho, sob uma perspectiva que favorece a compreensão do mundo social, tornando-o inteligível e dando-lhe um sentido (PARANÁ, 2006, p.35).

O trabalho, outro eixo articulador, ocupa a base das relações humanas

que vão se desenvolvendo ao longo da história, “a sociedade organiza-se de

modo a produzir bens necessários à vida humana, uma vez que as relações

de trabalho e a forma de dividi-lo e organizá-lo compõem sua base

material” (ANDERY, 2006, apud, Paraná 2006, p.35).

Nas Diretrizes o eixo trabalho, por sua vez, compreende a forma de

produção da vida material a partir da qual se produzem distintos sistemas

de significação. Ou seja, é a ação pela qual o homem transforma a natureza

e transforma-se a si mesmo. Miguel Arroyo, um dos pesquisadores que

contribuí na elaboração das Diretrizes Curriculares afirma:

A ênfase no trabalho como princípio educativo não deve ser reduzido à preocupação em preparar o trabalhador para atender às demandas do industrialismo e do mercado de trabalho nem apenas destacar as dimensões relativas à produção e às suas transformações técnicas (ARROYO, 1998, p.52).

O trabalho como princípio educativo contribui para a formação

intelectual e moral, a autonomia, a liberdade individual e coletiva e,

consequentemente, para a emancipação.

Quanto ao eixo tempo, consiste na valorização dos diferentes tempos

necessários à aprendizagem do educando de Educação de Jovens e Adultos,

ou seja, o aluno vem para a escola com o objetivo de participar, aprender e

compreender e concluir sua escolaridade, atendendo às exigências do

mundo do trabalho.

O tempo dos educandos de EJA é definido pelo período de escolarização e por um tempo singular de aprendizagem, bem

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diversificado, tendo em vista a especificidade dessa modalidade de ensino que considera a disponibilidade de cada um para a dedicação aos estudos (PARANÁ, 2006, p.33).

Toda essa reflexão sobre os eixos temáticos tem como preocupação a

aprendizagem do aluno trabalhador e, é analisada nas Diretrizes

Curriculares Nacionais de Educação de Jovens e Adultos que considera a

escola como um espaço democrático de conhecimento.

[...] a universalização do ensino fundamental, até por sua história, abre caminho para que mais cidadãos possam se apropriar de conhecimentos avançados tão necessários para a consolidação de pessoas mais solidárias e de países mais autônomos e democráticos. E, num mercado de trabalho aonde a exigência do ensino médio vai se impondo, a necessidade do ensino fundamental é uma verdadeira corrida contra um tempo de exclusão não mais tolerável (BRASIL, 2000, p.08).

5. Processos de significação do sujeito do conhecimento e

aprendizagem

Durante os dois anos de estudo e pesquisa no Programa de

Desenvolvimento Educacional, tivemos momentos significativos de

aprendizagem enquanto sujeito epistêmico. Alguns conceitos foram

surgindo nesse percurso de estudo e reflexão sobre o reconhecimento do

aluno como sujeito do conhecimento e aprendizagem, conceitos estes

como: educação, prática pedagógica, conhecimento e aprendizagem, que

posteriormente foram compartilhados com outros educadores de Educação

de Jovens e Adultos por meio da realização do grupo de estudos.

Em nosso estudo fomos percebendo na proposta de Paulo Freire que a

Educação de Jovens, adultos e idosos deveria ser analisada, refletida,

estudada e divulgada com os educadores envolvidos nesse processo, pois

como nós buscam constantemente alternativas para a melhoria do ensino e

aprendizagem dos educandos.

Para Paulo Freire (2008) a educação teria de ser, acima de tudo, uma

tentativa constante de mudança de atitude, levando o homem a uma nova

postura diante dos problemas de seu tempo e espaço, de modo que ele

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pudesse substituir antigos hábitos de passividade por novos hábitos de

participação.

O autor afirma ainda, que todo o aprendizado deve processar-se

intimamente associado à tomada de consciência da situação real vivida pelo

educando, através de uma participação livre, em que o diálogo seja

estratégia e condição essencial de aprendizagem e o educador respeite

seus educandos e os estimule a serem sujeitos do seu processo de

conhecimento e aprendizagem.

Nesse respeito pelo aluno que devemos tomar como ponto de partida

o que ele já sabe, já vivenciou e, o trabalho pedagógico deve ser uma troca

constante.

As relações entre a educadora e os educandos incluem a questão do ensino, da aprendizagem, do processo do conhecer – ensinar – aprender, da autoridade, da liberdade, da leitura, da escrita, das virtudes da educadora, da identidade cultural dos educandos e do respeito devido a ela. A prática educativa é um desastre quando deixa de existir uma relação coerente entre o que a educadora diz e o que ela faz (FREIRE, 1997, p.96).

Para o autor o conhecimento, a aprendizagem e a prática pedagógica

devem acontecer em um espaço de respeito, diálogo, troca de experiências,

é neste contexto que o educador poderá contribuir significativamente na

aprendizagem de seus alunos de forma clara e efetiva respeitando-os assim

como sujeitos participativos desse processo de aquisição do conhecimento.

A prática educativa tem de ser, em si um testemunho rigoroso de decência e de pureza. Uma critica permanente aos desvios fáceis com que somos tentados, às vezes ou quase sempre, a deixar as dificuldades que os caminhos verdadeiros podem nos colocar. [...] Não é possível pensar seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. (FREIRE, 2008, p.33)

Dentro desta perspectiva, temos que repensar alguns conceitos, pois,

em nossa cultura, estamos acostumados a ver o professor como um sujeito

que vai transmitir conhecimento e o aluno que vai receber esse

conhecimento.

16

Paulo Freire chama o educador a repensar sua conduta, seu trabalho

junto ao educando, em uma de suas obras o autor questiona como aprender

a discutir e a debater como uma educação que se impõe?

Ditamos idéias. Não trocamos idéias. Discursamos aulas. Não debatemos ou discutimos temas. Trabalhamos sobre o educando. Não trabalhamos com ele. Impomos-lhe uma ordem a que não adere, mas se acomoda. Não lhe propiciamos meios para pensar autêntico, porque recebendo as fórmulas que simplesmente lhe damos, guarda. Não as incorpora, porque a incorporação é o resultado de busca de algo que exige, de quem o tenta, esforço de recriação e de procura. Exige reinvenção (PARANÁ, 2006, p.104).

Outra teória muito importante, nesses dois anos de estudos, foi da

educadora Marta Khol de Oliveira que faz uma análise da escola e do

currículo que deveria ser ofertado para a Educação de Jovens e Adultos, faz-

se necessário, segundo a autora, a adequação da escola a um grupo que

não é o “alvo original” da instituição (crianças e adolescentes), oferecendo

assim currículos, programas e métodos adequados a esses alunos jovens,

adultos e idosos.

O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do adolescente. Traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da etapa da vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação com a criança) e provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem (OLIVEIRA, 1999, p.60).

Outra referência que fez-se necessária nestes estudos, foi a de análise

documentais como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de

Jovens e Adultos, as Diretrizes Curriculares para a Educação Pública do

Estado do Paraná. Com esse estudo fomos percebendo que os documentos

vêm trazendo essas discussões e, que a Educação de Jovens e Adultos deve

ser entendida como parte de um processo dialógico da prática pedagógica

17

dos educadores, de sua permanente formação e devem assegurar espaços

de reflexão, reescrita e atualização, pela constante construção de uma

educação de qualidade e contempla que:

O educando da EJA torna-se sujeito na construção do conhecimento mediante a compreensão dos processos de trabalho, de criação, de produção e de cultura. Portanto, passa a se reconhecer como sujeito do processo e a confirmar saberes adquiridos para além da educação escolar, na própria vida. Trata-se de uma constante comprovação de que essa modalidade de ensino pode permitir a construção e a apropriação de conhecimentos para o mundo do trabalho e o exercício da cidadania, de modo que o educando ressignifique suas experiências socioculturais (PARANÁ, 2006, p.28).

Na prática sabemos que essas mudanças não são fáceis e não

acontecem repentinamente, necessitam de muitos estudos, debates,

reflexões. É por meio dessas ações de estudos, no espaço escolar e ou fora

dele, que poderemos organizar o trabalho pedagógico de qualidade com

alunos jovens, adultos e idosos. As Diretrizes Curriculares enquanto

documento assegura também a oferta de “políticas públicas e recursos

próprios para manter e melhorar a qualidade do ensino nas escolas. De fato

a Educação de Jovens e Adultos se articula a um compromisso do Estado em

atender essa demanda” (PARANÁ, 2006, p. 28).

Esse processo de estudo, reflexão e conhecimento para mim

enquanto sujeito epistêmico trouxe muita inquietação e, ao mesmo tempo,

o sentimento e a necessidade de realiar cada vez mais estudos no que se

referem à Educação de Jovens e Adultos e Idosos.

6. Considerações finais

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Partindo dessas inquietações, desde o início de nossa participação no

Programa de Desenvolvimento Educacional, buscamos subsídios que

pudessem auxiliar a organização do trabalho pedagógico e a compreensão

do processo de conhecer do aluno jovem, adulto e idoso. Tivemos sempre

como tema “O reconhecimento desse aluno como sujeito do conhecimento

e da aprendizagem”.

Nesta perspectiva elaboramos o projeto de intervenção pedagógica e

promovemos grupo de estudos com professores que trabalham no Centro

de Educação Básica para Jovens e Adultos, que como nós buscam

constantemente subsídios para a organização do trabalho pedagógico com

qualidade e tem procurado articular os eixos – cultura, trabalho e tempo e

valorizar o conhecimento das experiências dos alunos como ponto de

partida, mas manter a necessidade de empreender a investigação e

sistematização do conhecimento cientifico a ser desenvolvido com seus

alunos.

Podemos afirmar que foi para os envolvidos um momento

significativo de estudo, reflexão e troca de experiência no que se refere à

implementação desses princípios educacionais em sala de aula.

Constatamos a riqueza em aprendizagem com essa forma de desenvolver o

estudo dos eixos articuladores e de valorizar o processo de aprender do

aluno e professor.

A analise das pesquisas educacionais e das Diretrizes Curriculares da

Educação de Jovens e Adultos (Paraná, 2006), foi considerada como parte

de um processo dialógico da prática pedagógica dos educadores e sua

permanente formação. Como afirma o próprio documento em questão, os

espaços de reflexão, reescrita e atualização, devem assegurar a construção

de uma educação de qualidade para todos. A Educação de Jovens e Adultos

tem como finalidade e objetivo, manifestos nessas Diretrizes a formação

humana, a cultura geral e os três eixos articuladores do trabalho

pedagógico – cultura, trabalho e tempo que são elementos de toda ação

pedagógica curricular definidos a partir da concepção de currículo, como

processo de seleção da cultura e do perfil dos alunos de Educação de Jovens

e Adultos.

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Nossa reflexão como sujeito epistêmico e professora pedagoga são de

que a continuidade do estudo permitiu identificar a relação entre o processo

de aprendizagem do jovem, adulto e idoso e a forma de organização do

trabalho pedagógico em sala de aula. Essa especificidade, uma vez

compreendida pelo professor permite que o mesmo vivencie a dialogicidade

com a cultura, o trabalho e o tempo, e essa significação interfere na

realização da investigação na educação de jovens, adultos e idosos. Como

afirma Paulo Freire (2008) Sem a curiosidade que me move, que me

inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino.

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