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INSTITUTO DE FORMAÇÃO E PESQUISA WILHELM REICH JORGE IVAN HMELJEVSKI O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO Rio de Janeiro, Fevereiro de 2015

O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO · Figura 1 - Sete Segmentos da Couraça - Fonte: Adaptado de Baker (1980, pp. 66 e 67) Os segmentos da couraça tomam a forma de anéis de compressão muscular

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INSTITUTO DE FORMAÇÃO E PESQUISA WILHELM REICH

JORGE IVAN HMELJEVSKI

O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO

Rio de Janeiro, Fevereiro de 2015

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IFP Reich – Instituto de Formação e Pesquisa Wilhelm Reich Jorge Ivan Hmeljevski

O Segmento Diafragmático 2

Jorge Ivan Hmeljevski

O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO

Este trabalho foi aprovado como requisito para a conclusão do Curso de Formação de Analistas Reichianos do Instituto de Formação e Pesquisa Wilhelm Reich.

Professores Revisores do Trabalho:

Prof.a Denise Dessaune, Psicóloga.

Prof.o Henrique J. Leal F. Rodrigues, Dr.

Prof.o Nicolau Maluf Jr., Dr.

Professores Coordenadores do Instituto de Formação e Pesquisa Wilhelm Reich:

Prof.a Denise Dessaune, Psicóloga.

Prof.o Henrique J. Leal F. Rodrigues, Dr.

Prof.o Marcus Vinicius de A. Câmara, Dr.

Prof.o Nicolau Maluf Jr., Dr.

Prof.o Pedro V. Castel, Me.

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RESUMO

Este trabalho aborda o segmento diafragmático na terapia reichiana. Inicialmente o assunto é contextualizado em termos dos segmentos de couraça propostos por Wilhelm Reich. Em seguida, é feita a apresentação anatômica do diafragma e de seu funcionamento biomecânico na respiração, além da descrição de algumas de suas funções fisiológicas e expressivas como segmento de couraça. A compreensão das funções e disfunções do diafragma é feita considerando também contribuições de autores pós e neo-reichianos, no entanto, sempre tendo como referencia básica a proposta teórica de Wilhelm Reich. Defende-se que a adequada compreensão do segmento diafragmático implica na consideração tanto das suas especificidades quanto de sua integração com outros segmentos, em especial com o cervical, torácico, abdominal e pélvico. Por fim, são citadas algumas disfunções do segmento diafragmático e são comentadas algumas possibilidades de intervenções terapêuticas.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Sete Segmentos da Couraça .......................................................................................... 7 Figura 2 - Segmentos da Couraça como Cinturões de Compressão ............................................. 7 Figura 3 - Vista Superior do Diafragma ....................................................................................... 12 Figura 4 – Vista Frontal do Diafragma ......................................................................................... 12 Figura 5 - Tendão do Diafragma .................................................................................................. 14 Figura 6 – Iliopsoas ...................................................................................................................... 15 Figura 7 - Diafragma na Inspiração e na Expiração ..................................................................... 17 Figura 8 - Ação dos Músculos Expiratórios Acessórios ............................................................... 19 Figura 9 - Corpo humano formado por tubos e diafragmas ....................................................... 23 Figura 10 - Biomecânica da Hiperlordose Diafragmática ............................................................ 33 Figura 11 - Efeitos do Encouraçamento Diafragmático na Coluna Lombar e Cervical ................ 35

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Grupos Musculares Inspiratórios Acessórios ............................................................. 18

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 6

1.1. Contexto de Desenvolvimento do Trabalho ................................................................. 6

1.2. Considerações Metodológicas .................................................................................... 10

2. ANATOMIA SIMPLIFICADA DO MÚSCULO DIAFRAGMA ................................................. 11

3. PRINCIPAIS RELAÇÕES ANATÔMICAS DO MÚSCULO DIAFRAGMA ................................. 13

3.1. Relações entre o Diafragma e o Tórax: o Sistema Suspensor do Diafragma .............. 13

3.2. Relações entre o Diafragma, o Abdômen e a Pelve: o Iliopsoas ................................. 14

4. BIOMECÂNICA RESPIRATÓRIA ......................................................................................... 16

4.1. Músculos Inspiratórios Acessórios .............................................................................. 18

4.2. Músculos Expiratórios Acessórios ............................................................................... 18

5. OUTRAS FUNÇÕES DO MÚSCULO DIAFRAGMA .............................................................. 19

6. O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO DA COURAÇA MUSCULAR ........................................... 20

6.1. A Anatomia Emocional de Keleman ............................................................................ 23

6.2. A Função Bioenergética do Diafragma ........................................................................ 25

6.3. Disfunções do Segmento Diafragmático ..................................................................... 27

6.4. A Hiperlordose Diafragmática e a Espondilite Anquilosante ...................................... 32

6.5. Intervenções Terapêuticas no Segmento Diafragmático ............................................ 36

7. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 42

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 43

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Contexto de Desenvolvimento do Trabalho

De acordo com Reich, o princípio básico da vegetoterapia é "o restabelecimento da motilidade1 biopsíquica através da anulação da rigidez (encouraçamento) do caráter e da musculatura" (REICH, 2004, p. 17). A partir deste princípio básico é possível destacar a existência de dois aspectos funcionalmente equivalentes na rigidez do organismo: a couraça do caráter e a couraça muscular. Além disso, depreende-se deste princípio que essas couraças implicam no restringimento da motilidade biopsíquica – a qual a vegetoterapia objetiva reestabelecer.

Assim, o enrijecimento do organismo apresenta tanto aspectos corporais (couraça muscular), quanto aspectos psíquicos (couraça do caráter). No bloqueio da motilidade biopsíquica, estes aspectos são equivalentes e reciprocamente determinantes ou, conforme afirma Reich “[...] a couraça de caráter e a couraça muscular são funcionalmente idênticas” (REICH, 2004, p. 274).

A motilidade biopsíquica, por sua vez, pode ser compreendida como a possibilidade do corpo biológico e do psiquismo se moverem espontaneamente e involuntariamente, possibilidade esta que, para o organismo enrijecido, é limitada no grau do seu enrijecimento. No entanto, assim como a rigidez somática e a psíquica são dois aspectos de uma única couraça, a motilidade biológica e a motilidade psíquica são dois aspectos de uma única motilidade: a da bioenergia2. Assim, o encouraçamento implica fundamentalmente no bloqueio do livre fluxo de bioenergia pelo organismo e este bloqueio se manifesta como rigidez biológica e psíquica. Eis porque podemos considerar que a couraça, antes de tudo, é uma couraça bioenergética.

Lowen afirma que “Para Reich, o objetivo do tratamento era o desenvolvimento no paciente de sua capacidade de se entregar totalmente aos movimentos espontâneos e involuntários do corpo, os quais fazem parte do processo respiratório” (LOWEN, 1984, p. 20). Portanto, Lowen ratifica que o objetivo da vegetoterapia é devolver a motilidade do organismo, no entanto, acrescenta que esta motilidade é parte do processo respiratório. De nossa parte, lembramos que os movimentos espontâneos e involuntários do corpo envolvem, além dos aspectos biomecânicos destes movimentos, fluxos bioenergéticos. Assim, ao considerar que estes movimentos involuntários fazem parte do processo respiratório, também iremos considerar que a respiração, na qual o diafragma tem papel fundamental, guarda relação íntima com o funcionamento bioenergético do organismo.

A couraça é apresentada por Reich (2009b, p. 341) como sendo disposta em sete segmentos: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico. A Figura 1 ilustra a localização destes segmentos no corpo.

1 Por motilidade entendemos movimentos espontâneos e involuntários. Movimentos voluntários são referidos como mobilidade. 2 O termo bioenergia deve ser entendido de modo amplo, como sendo a "energia da vida" e englobando tanto seus aspectos somáticos quanto psíquicos. Também consideramos que o termo bioenergia diz respeito às correntes de energia orgone organísmica pelo corpo. Nesse sentido, a bioeletricidade é apenas uma das manifestações da bioenergia, pois esta não se restringe a um fluxo de eletricidade bioquímica.

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Figura 1 - Sete Segmentos da Couraça - Fonte: Adaptado de Baker (1980, pp. 66 e 67)

Os segmentos da couraça tomam a forma de anéis de compressão muscular que comprimem o corpo no sentido transversal (horizontal) e impedem que a bioenergia flua livremente pelo corpo. A ação destes anéis interrompe o fluxo de bioenergias tanto no sentido longitudinal (vertical), quanto no sentido centrífugo (radial), comprometendo a pulsação natural do organismo. A Figura 2 simboliza a atuação destes cinturões de contenção no bloqueio da pulsação e fluxo energético espontâneos do corpo.

Figura 2 - Segmentos da Couraça como Cinturões de Compressão - Fonte: Keleman (1985, p. 69)

Para Reich, "um segmento de couraça compreende aqueles órgãos e grupos de músculos que têm um contato funcional entre si e que podem induzir-se mutuamente a participar no movimento expressivo emocional" (REICH, 2009b, p. 342). É dizer que participa de um segmento de couraça o conjunto de músculos e órgãos que funciona de modo relativamente independente dos músculos e órgãos de outros segmentos para expressar (ou bloquear a expressão) de emoções naquela parte do organismo.

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Em nosso entendimento, a expressão Segmentos da Couraça poderia ser considerada como sinônimo de Segmentos Expressivos ou Segmentos Bioenergéticos. A utilização da palavra Couraça enfatiza a participação dos segmentos no processo de encouraçamento bioenergético, ou seja, na função defensiva e na disfunção do segmento (cronicidade das defesas). No entanto, o entendimento de que um segmento compreende estruturas que participam “no movimento expressivo emocional” é do próprio Reich (REICH, 2009b, p. 342). Por isso entendemos que os segmentos não estão envolvidos exclusivamente no bloqueio (couraça) do fluxo de bioenergia pelo organismo, mas também tomam parte na livre expressão bioenergética no organismo saudável.

Também destacamos que, apesar do nome Couraça Muscular – o qual remete ao sistema muscular, também é o próprio Reich quem inclui no conceito de couraça os órgãos localizados nos respectivos segmentos corporais. Ainda que a ênfase do processo de encouraçamento esteja nos músculos, diversas estruturas corporais (provavelmente todas) contidas em cada segmento atuam no processo de motilidade ou bloqueio da motilidade bioenergética.

Reich destaca que os anéis de contenção dos segmentos da couraça não seguem "o percurso de um músculo ou de um nervo; são completamente independentes dos processos anatômicos" (REICH, 2009b, p. 341). Nesse sentido, ele considera que "a função vegetativa do corpo ignora os limites anatômicos, que são indicações superficiais" (REICH, 2004, p. 256).

Todos os segmentos envolvem um conjunto de músculos e podem envolver também apenas partes de músculos, por exemplo, o músculo reto abdominal que participa de mais de um segmento da couraça devido à sua grande extensão. Portanto, não é a anatomia de algum músculo ou nervo, isoladamente, e nem mesmo o contorno de um grupo de músculos que servirá de critério para determinar quais são os segmentos da couraça. Consideramos que é neste sentido que os segmentos podem ser considerados completamente independentes dos processos anatômicos.

Por outro lado, ainda que a expressão emocional não esteja restrita pelos limites anatômicos, é a estrutura anatomofisiológica que serve de substrato para o fluxo bioenergético (ou seu bloqueio). Além disso, uma vez que na terapia reichiana podem ser realizadas intervenções diretas sobre o corpo do paciente, consideramos relevante um estudo básico da anatomofisiologia dos segmentos nos quais o terapeuta reichiano intervém.

A contenção realizada pelos anéis de couraça decorre do fato de que os músculos e órgãos que participam da expressão emocional sofrem um espasmo3 que elimina sua motilidade e causa a estase4 da bioenergia. É importante notar que esse espasmo representa o aspecto somático da repressão psíquica (REICH, 2004, p. 256). Para Reich, esse espasmo "não é um 'resultado', uma 'expressão' ou um 'acompanhante' do mecanismo de repressão", mas é "a parte mais essencial do processo de repressão” (REICH, 2004, p. 254).

Consideremos o exemplo da repressão de um impulso de chorar (REICH, 2004, p. 256). Neste caso, para conter o choro, a pessoa espontaneamente tensiona a musculatura da boca, do

3 Uma contração involuntária e, em geral, não percebida (inconsciente). 4 Uma retenção do fluxo bioenergético que se acumula no local contraído. A bioenergia fica "ligada" na contração crônica dos músculos onde permanece acumulada.

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queixo e da garganta. O espasmo destes músculos bloqueia o fluxo da bioenergia, impede a expressão emocional daquele impulso e contribui para a geração da estase bioenergética no local da contração. Este processo serve, em última instância, como uma maneira da pessoa conter a expressão emocional diante de uma situação na qual ela considera, ainda que inconscientemente, não poder expressar livremente suas emoções. O sucesso desse processo de contenção emocional leva a pessoa a utilizá-lo repetidamente, de modo que ele se torna automático e inconsciente. Os músculos envolvidos, por sua vez, passam a sofrer de um espasmo crônico, ou seja, permanente.

Importa notar que a livre expressão emocional e o bloqueio dessa expressão não se restringem necessariamente a apenas um dos segmentos da couraça. Eles podem se fazer presentes, por exemplo, num olhar sutil de desconfiança, quase imperceptível e localizado basicamente no segmento ocular, mas também num choro convulsivo profundo que envolve os olhos, boca, garganta, peito, diafragma, abdômen e pelve, ou seja, praticamente todo o organismo e todos os segmentos da couraça. Quanto mais intensas forem as emoções vivenciadas, maior será a carga bioenergética envolvida e quanto mais livre e desimpedido for o fluxo da bioenergia pelo organismo, mais o corpo como um todo participará da expressão emocional. Os segmentos, portanto, podem atuar em conjunto, de modo integrado, seja para promover a expressão emocional ou para bloqueá-la através da interrupção do fluxo de bioenergias no corpo.

No sentido dessa atuação conjunta dos segmentos da couraça, Reich (2009b, p. 347) apresenta o exemplo do trabalho com o reflexo de vômito para a liberação de um bloqueio bioenergético no pescoço produzindo também um afrouxamento no quarto e no quinto segmentos (tórax e diafragma). Reich esclarece que:

Não eliminamos um anel de couraça após outro de maneira rígida e mecânica. Trabalhamos sobre um sistema vital integrado [...] o afrouxamento de um segmento de couraça libera energia que, por sua vez, ajuda a mobilizar anéis em níveis superiores e inferiores (REICH, 2009b, p. 347).

Portanto, constatamos que a abordagem reichiana considera cada segmento individualmente, mas também a interação dos segmentos numa expressão unitária. Também no sentido da interação entre os diversos bloqueios do organismo, Baker afirma:

Qualquer dos segmentos pode não ser responsivo enquanto não forem liberadas outras partes [...] a cada liberação de um segmento, a couraça dos segmentos anteriores tornará a aparecer e exigir nova atenção, pois o organismo não está acostumado ao movimento e tenta recuperar sua imobilidade anterior (BAKER, 1980, p. 68).

Acrescentamos que não se trata apenas do organismo estar acostumado com o movimento, pois para cada novo segmento desbloqueado, poderão se manifestar bloqueios mais profundos nos segmentos anteriormente liberados.

Os bloqueios dos segmentos são estruturados por camadas superpostas e a progressão gradual do desbloqueio do fluxo bioenergético no sentido longitudinal do corpo, ou seja, ao longo dos segmentos, passa a permitir uma maior intensidade e mobilidade da bioenergia no

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organismo, portanto, impactando camadas mais profundas dos segmentos previamente e parcialmente desbloqueados. Eis porque o trabalho de desencouraçamento é feito de modo recursivo no sentido longitudinal (céfalo-caudal) e também no sentido centro-periferia, a partir do bloqueio mais superficial para o mais profundo.

Neste texto optamos por abordar as particularidades de apenas um dos sete segmentos da couraça: o segmento diafragmático. No entanto, como os segmentos interagem entre si, não perderemos a visão da expressão emocional integral do organismo. Por isso, além do segmento diafragmático, serão consideradas suas relações com outros segmentos da couraça e suas atuações conjuntas, ainda que não nos aprofundemos em detalhes destes outros segmentos.

1.2. Algumas Considerações Metodológicas

As ideias contidas neste texto não são baseadas somente na obra de Wilhelm Reich. No desenvolvimento do texto também foram consideradas ideias de autores neo-reichianos e pós-reichianos, ainda que não tenha sido feita uma abordagem sistemática das ideias destes autores. Ao abordarmos conceitos de Keleman, Souchard, Lowen, Navarro e outros autores junto dos conceitos propostos por Reich, de modo algum consideramos que suas concepções do funcionamento humano sejam de todo equivalentes ou de todo compatíveis. No entanto, ainda que as ideias desses autores possam ter pontos de divergência fundamentais, elas também contêm pontos de convergência ou, pelo menos, pontos passíveis de conciliação a partir de uma compreensão mais ampla, em nossa opinião, a concepção reichiana. Assim, entendemos que didaticamente e dentro de contextos específicos, é possível fazer comparações e lançar mão do modelo proposto por um autor para elucidar conceitos e mesmo para ampliar as propostas de outro autor.

Consideremos, por exemplo, que Souchard detalhou o funcionamento biomecânico do diafragma de um modo mais amplo e mais exato do que Reich. Com as devidas ressalvas, a função biomecânica detalhada por Souchard é passível de compreensão dentro do paradigma reichiano, pois este é mais abrangente e, dentre outras funções, também contempla a biomecânica. Por outro lado, o contrário não é verdadeiro. A função biomecânica descrita por Souchard e nem mesmo as teorias de Souchard de modo geral permitem explicar adequadamente uma série de fenômenos e dinâmicas bioenergéticas abordadas na teoria de Reich.

O exemplo da biomecânica do diafragma conforme apresentada por Souchard ilustra nossa ressalva de como as teorias dos diferentes autores devem ser entendidas dentro do contexto específico dos exemplos neste trabalho. A concepção mais ampla, capaz de abranger mais fenômenos e dinâmicas (concepção reichiana), pode englobar outras concepções menos amplas (p.e., a concepção de Souchard), ainda que em geral a explicação dos fenômenos precise ser ampliada ou modificada. Por fim, ainda que nos utilizemos dessas comparações e citemos algumas convergências e divergências entre autores, não abordaremos exaustivamente as diferenças conceituais entre suas teorias, pois isso exigiria um aprofundamento que extrapolaria em muito o escopo deste trabalho.

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2. ANATOMIA SIMPLIFICADA DO MÚSCULO DIAFRAGMA

O diafragma é o maior e o principal músculo do segmento diafragmático, portanto, analisaremos sua anatomia para aprofundarmos o entendimento deste segmento da couraça. Além disso, também abordaremos as relações biomecânicas entre o diafragma e algumas das estruturas corporais às quais ele é adjacente.

De acordo com Souchard (1989a, p. 12) o diafragma é um músculo assimétrico, formando uma abóboda de concavidade inferior que separa o tórax do abdômen. Esse músculo compreende duas porções: uma porção muscular e periférica, graças à qual o diafragma insere-se no contorno do tórax (costelas) e da coluna, e outra porção tendínea e central chamada de centro tendíneo ou centro frênico.

A porção muscular do diafragma pode ser dividida em três partes: a vertebral, a costal e a esternal. A porção muscular vertebral corresponde à sua parte de trás, na qual se dá a inserção do músculo na coluna vertebral. Essa inserção ocorre entre a primeira e quarta vértebras lombares (de L1 até L4) através de feixes de músculos conhecidos como pilares do diafragma. A porção muscular costal do diafragma corresponde à sua parte lateral. Ela origina-se na face interna das últimas costelas e termina ao encontrar o centro tendíneo. Por fim, a porção muscular esternal é formada por feixes de músculos originados da parte posterior do processo xifóide (esterno) (SOUCHARD, 1989a, p. 12-13).

A respeito da fixação do diafragma na coluna vertebral, enquanto Souchard diz que a inserção dos pilares do diafragma na coluna ocorre entre as vértebras L1 e L4 (primeiras vértebras lombares), Reich afirma que as inserções posteriores do diafragma ocorrem entre as vértebras T10 e T12 (REICH, 2009b, p. 350), portanto, nas últimas vértebras torácicas. Com o objetivo de esclarecer essa contradição, foram consultados Standring (2010, p.1007) e Vigué (2007, p.113), a partir dos quais foi possível determinar que a informação correta é aquela obtida de Souchard (1989a, pp. 12 e 13).

O centro tendíneo é uma lâmina fibrosa que se encontra no centro do diafragma. É neste centro que se localizam os três grandes orifícios que permitem a passagem da aorta, do esôfago e da veia cava. Nessa passagem, a aorta, o esôfago e a veia cava normalmente estão aderidos ao diafragma. A Figura 3 e a Figura 4 permitem visualizar a anatomia do diafragma.

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Figura 3 - Vista Superior do Diafragma - Fonte: Adaptado de Souchard (1989a, p. 16)

Figura 4 – Vista Frontal do Diafragma - Fonte: Google Imagens (adaptado)

A inervação do diafragma é realizada pelo nervo frênico. Este é um nervo simpático que se origina na coluna cervical (no plexo5 cervical) e distribui-se no diafragma, sendo responsável, dentre outras coisas, pelo seu funcionamento motor. Ao distribuir-se, o nervo frênico direito liga-se à hemicúpula direita do diafragma e o nervo frênico esquerdo à sua hemicúpula esquerda. Se um destes nervos sofre uma lesão, o respectivo lado do diafragma pode se paralisar.

5 Um plexo é um é um complexo entrelaçamento de nervos, ou seja, uma rede de neurônios.

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Como ainda será descrito mais adiante, o segmento diafragmático da couraça muscular não fica restrito ao músculo diafragma, sendo constituído também pelas vísceras logo abaixo dele. Ao abordarmos as principais relações anatômicas do músculo diafragma, ressaltaremos a relação deste músculo com as vísceras, no entanto, sem aprofundar os detalhes anatômicos destas, pois consideramos que tal aprofundamento encontra-se fora do escopo deste trabalho.

3. PRINCIPAIS RELAÇÕES ANATÔMICAS DO MÚSCULO DIAFRAGMA

Na face superior do diafragma estão os pulmões e o coração. O coração não só apoia-se sobre o diafragma, mas também adere a ele através do ligamento6 freno-pericárdico. Em termos dos segmentos da couraça, os pulmões e o coração fazem parte do segmento torácico.

Na face inferior do diafragma encontra-se, do lado esquerdo, o estômago e do lado direito o fígado. O estômago está suspenso do diafragma pelo ligamento gastro-frênico e o fígado pelo ligamento falciforme. Além disso, também são encontrados na face inferior: o baço, este aderido ao diafragma pelo ligamento freno-esplênico; as supra-renais; o pâncreas; e as extremidades superiores dos rins. Por fim, atrás e acima do estômago (entre o estômago e o diafragma) encontra-se o plexo solar7. Todas estas vísceras, estruturas conjuntivas e linfáticas fazem parte do segmento diafragmático conforme proposto por Reich (2009b, pp. 349 e 350).

O esôfago passa através do diafragma ao unir a cavidade oral (a faringe) ao estômago. Também atravessam o diafragma a veia cava e a artéria aorta.

Percebemos que o músculo diafragma, ocupando um lugar central no segmento tóraco-abdominal, está em contato direto com diversos órgãos. Pelo lado de baixo ele está em contato direto com a massa visceral formada pelo estômago, fígado e outros órgãos; e pelo lado de cima com o coração, os pulmões e com uma rede conjuntiva que tem importância significativa na funcionalidade do diafragma. Veremos em seguida como o músculo diafragma, além desse contato direto com os órgãos ao seu redor, também se relaciona com o tórax e o abdômen a partir de outras estruturas anatômicas.

3.1. Relações entre o Diafragma e o Tórax: o Sistema Suspensor do Diafragma

No tórax existe uma rede aponeurótica8, fascial9 e ligamentar que segura o coração em seu lugar. Através dessa rede de tecido conjuntivo, o coração adere firmemente ao esterno, à coluna dorsal e à coluna cervical. Como o coração também adere ao diafragma, essa estrutura limita as possibilidades de deslocamento do diafragma e faz com que ele fique relativamente suspenso na base do crânio, na coluna cérvico-dorsal e na porção superior do tórax (esterno).

6 Ligamento é um feixe de tecido conjuntivo fibroso, denso, resistente e inelástico que une entre si duas cabeças ósseas de uma articulação (ligamento articular) ou mantém no seu local fisiológico habitual um órgão interno (ligamento suspensor). O ligamento freno-pericárdico prende o centro tendíneo do diafragma à base do pericárdio. O pericárdio, por sua vez, é uma formação similar a uma “bolsa” (uma fáscia) que envolve o coração. 7 Também chamado plexo celíaco. 8 As aponeuroses (ou aponevroses) são membranas achatadas formadas por tecido conjuntivo denso, similares a tendões, encontradas prendendo os músculos do tórax aos ossos da caixa torácica. 9 A fáscia é uma lâmina de tecido conjuntivo que envolve cada músculo, protegendo e evitando o atrito e coordenando seus movimentos; forma assim uma bainha de contenção.

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Souchard (1989b, p. 18) afirma que essa rede é muito solida, portanto, destinada a esforços repetitivos. Ele a chama de tendão do diafragma10.

Para Souchard (1989, p. 18), o entendimento mais difundido entre os estudiosos do tema é que a limitação dos movimentos de contração e expansão do diafragma se dá somente pelo papel das vísceras abdominais, no entanto, ele demonstra que além das vísceras, os movimentos do diafragma também são influenciados pelo tendão do diafragma (SOUCHARD, 1989b, p. 24). Assim, Souchard defende que o deslocamento do músculo diafragma é freado, por baixo, pela massa visceral e, por cima, pelo tendão do diafragma. A Figura 5 (A) ilustra como está disposta essa rede conjuntiva no tórax e a Figura 5 (B) esquematiza seu papel de freio limitador da amplitude do movimento do diafragma.

Figura 5 - Tendão do Diafragma - Fonte: adaptado de Souchard (1989b, p. 25)

3.2. Relações entre o Diafragma, o Abdômen e a Pelve: o Iliopsoas

Dissemos que o músculo diafragma se movimenta apoiado sobre as vísceras, no entanto, a relação do diafragma com a parte inferior do corpo vai além disso. Se pelo lado de cima o diafragma guarda intima relação com os pulmões e coração e até mesmo com a coluna cervical através do tendão do diafragma, pelo lado de baixo o diafragma guarda íntima relação com as vísceras, mas também com a coluna lombar, com a musculatura abdominal e até mesmo com a pelve.

O papel da musculatura abdominal, em especial do músculo transverso como antagonista do diafragma na expiração de grande amplitude será descrito mais adiante neste trabalho. Importa-nos agora a relação do diafragma com a pelve através do músculo iliopsoas.

10 Não confundir o tendão do diafragma, que é uma estrutura conjuntiva torácica, com o centro tendíneo, que é a parte central do músculo diafragma.

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O músculo psoas e o músculo ilíaco frequentemente são diferentes em suas porções abdominais, no entanto, tornam-se indistinguíveis no quadril. Por isso, o conjunto muscular psoas e ilíaco, conforme apresentado na Figura 6, frequentemente é chamado de iliopsoas.

Vimos que o diafragma tem sua inserção na coluna lombar através dos pilares do diafragma. O músculo psoas major (um dos componentes do iliopsoas), por sua vez, está inserido logo abaixo dos pilares do diafragma, dando-lhes suporte. Na realidade, os dois músculos estão ligados pela fáscia toracolombar11. Entendemos ser relevante que praticamente à mesma altura em que o diafragma e o psoas se encontram, também está disposto o plexo solar, cuja importância bioenergética foi ressaltada por Reich (2004, pp. 259 a 262).

Figura 6 – Iliopsoas – Fonte: Zygote Body

O iliopsoas interfere diretamente no posicionamento do quadril, por exemplo, na anteversão ou na retroversão pélvica, bem como na tensão ou relaxamento da musculatura do períneo (diafragma pélvico). Além disso, o psoas é o único músculo que liga o tórax com as pernas, possibilitando tanto a postura ereta quanto o caminhar (possivelmente influenciando a qualidade do grounding12). Koch (2010) afirma que o psoas é muito relacionado com o medo, bem como com a resposta de luta ou fuga do organismo. Ela ainda defende que o psoas influencia desde a dor lombar e a ansiedade até os orgasmos e o prazer (KOCH, 2005).

11 Além do diafragma e do psoas maior, também o quadrado lombar e o transverso abdominal inserem-se na fáscia toracolombar na região do diafragma, portanto, sofrendo influencia direta deste músculo. 12 Para Lowen (1982), grounding significa entrar em contato com o chão, não apenas literalmente, mas também no sentido oposto a ter uma “obsessão” e a estar no ar. Significa estar enraizado e em contato com a sua realidade, sentindo-se mais seguro, com mais base e com maior capacidade de suportar as intensidades emocionais.

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O Segmento Diafragmático 16

Sem nos aprofundarmos em demasia em especificidades do iliopsoas, interessa-nos em particular que ele sofre grande influência do diafragma e vice-versa. A partir do contato em cadeia entre os músculos diafragma, iliopsoas e da musculatura do períneo, ocorre uma transmissão do funcionamento ou da disfunção do diafragma até a pelve e, possivelmente, também no sentido contrário. Em nosso entender, um músculo diafragmático espástico, ou seja, um segmento diafragmático encouraçado, implicará numa tendência à espasticidade do iliopsoas. A tensão crônica e o encurtamento deste, por sua vez, também se propagarão para a musculatura do períneo. A atuação desse conjunto ficará evidente na Hiperlordose Diafragmática e na Espondilite Anquilosante, as quais ainda serão comentadas neste trabalho.

4. BIOMECÂNICA RESPIRATÓRIA

A função bioenergética básica do diafragma está intimamente ligada à respiração. Navarro afirma que:

A respiração é um meio de comunicação e expressão independente da palavra: a tristeza diminui a profundidade da respiração, o prazer aumenta. Os ansiosos respiram superficialmente, irregularmente, prolongando as inspirações à custa da expiração, sempre incompleta. As emoções influenciam a respiração, é comum ver-se uma respiração entrecortada, e suspiros no caso de angústia, uma dificuldade de respirar em caso de medo,

ou ainda uma sensação de sufocamento ou opressão torácica (NAVARRO 1995, p.74).

No entanto, antes de abordarmos os aspectos bioenergéticos da atuação do diafragma, parece-nos oportuno esclarecer como se dá, em regra, o funcionamento biomecânico da respiração. Para isso, consideraremos dois extremos como pontos de referência entre os quais irá variar a intensidade da respiração: uma respiração de pequena amplitude e uma de grande amplitude (SOUCHARD, 1989a, p. 25).

A respiração de pequena amplitude é econômica, ela movimenta somente o centro tendíneo do diafragma e movimenta levemente as costelas inferiores do tórax. Num primeiro momento, que corresponde à inspiração, o diafragma se contrai e seu centro tendíneo se abaixa. Além disso, as costelas inferiores se levantam e se abrem. Estes movimentos ampliam a cavidade torácica, puxando a pleura13 e expandindo os pulmões. Após a inspiração, começa o movimento de expiração, o qual ocorre de forma passiva, ou seja, apenas pelo relaxamento do diafragma. Ao relaxar, as propriedades elásticas do diafragma fazem com que seu centro tendíneo volte a subir e as costelas desçam novamente. A elasticidade natural do tecido pulmonar tende a retrair os pulmões e também colabora no movimento de retorno ao estado inicial da respiração. A Figura 7 ilustra esse processo.

13 A pleura é uma membrana dupla, similar a um saco, que envolve os pulmões. Ela é composta por duas camadas, uma externa (parietal, ligada à cavidade torácica) e uma interna (visceral, ligada aos pulmões). Quando o tórax se expande, é a pleura que é puxada pela expansão e, com isso, puxa os pulmões, expandindo-os também.

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Figura 7 - Diafragma na Inspiração e na Expiração - Fonte: adaptado de Keleman (1985, p. 44)

Na respiração de grande amplitude, a contração do diafragma (inspiração) implica numa grande descida do seu centro tendíneo, bem como numa maior elevação e abertura das costelas inferiores. No entanto, em certo ponto de sua descida, o centro tendíneo é freado por cima pelo tendão do diafragma e por baixo pelas vísceras, limitando assim a capacidade do diafragma em ampliar ainda mais a inspiração. Diante da necessidade de uma respiração ainda mais ampla, também ocorre a mobilização da coluna lombar e o acionamento da musculatura inspiratória acessória. Esta musculatura permitirá obter uma abertura de outras costelas, além das inferiores, e assim ampliar ainda mais o gradil torácico e a capacidade de inspiração. Já na expiração, que normalmente é um processo passivo, poderão entrar em ação os músculos expiratórios acessórios para que possa ocorrer o retorno à posição inicial.

Em qualquer amplitude respiratória podemos destacar o importante papel que a massa visceral desempenha como polia de reflexão do diafragma. Na contração do diafragma, isto é, quando se dá o processo inspiratório com a descida do centro tendíneo, é a pressão contrária do fígado, pelo lado direito e do estômago pelo lado esquerdo que causa, num movimento de alavanca, a flexão da musculatura diafragmática costal de modo a fazer subir e abrir as costelas inferiores do tórax. Nesse processo, é interessante notar que o “O estômago cria uma polia de reflexão menos resistente que o fígado, a hemicúpula diafragmática esquerda desce ligeiramente mais que a direita” (SOUCHARD, 1989b, p.28).

Em relação à troca gasosa que ocorre nos pulmões, podemos dizer que ela obedece à Lei de Boyle14. O aumento de volume dos pulmões durante a inspiração faz com que sua pressão interna diminua e torne-se menor que a pressão do ambiente. Como o ar flui do local de maior pressão para o de menor, ele entra nos pulmões até que a pressão interna dos pulmões iguale novamente a pressão externa. Num processo inverso ao da inspiração, na expiração ocorre a subida do diafragma e isso implica na diminuição do volume pulmonar, portanto, implica no aumento da pressão gasosa nos pulmões e esta se torna maior que a do ambiente. Agora o fluxo de gases ocorrerá no sentido do pulmão para o ambiente até que as pressões internas e externas do corpo se igualem novamente. A troca gasosa nos pulmões baseada nessa

14 Simplificadamente a Lei de Boyle-Mariotte (geralmente citada apenas como Lei de Boyle) enuncia que a pressão e o volume de certa quantidade de gás confinado são inversamente proporcionais, ou seja, se o volume do gás aumenta, sua pressão diminui e vice-versa.

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diferença de pressão ocorre sempre da mesma maneira, qualquer que seja a amplitude respiratória.

4.1. Músculos Inspiratórios Acessórios

Vimos que os músculos inspiratórios acessórios são acionados basicamente nas inspirações de grande amplitude. Eles podem ser organizados em quatro grandes grupos: os inspiratórios torácicos, os escapulares, os nucais e os espinhais. A musculatura que faz parte de cada grupo muscular inspiratório acessório é mostrada na Tabela 1.

NUCAIS Esternocleidomastóideos; escalenos; trapézio superior; e subclávio. ESCAPULARES Peitoral menor; trapézio médio; peitoral maior; elevador da escápula;

romboides; serrátil anterior; e grande dorsal. ESPINHAIS Multífido; semi-espinhal do tórax e do pescoço; semi-espinhal da cabeça;

rotadores lombares, torácicos e cervicais; dorsal longo; iliocostal; e espinhal do tórax.

TORÁCICOS Basicamente os intercostais: intercostais externos; intercostais médios e internos; subcostais; supracostais; e serrátil posterior superior.

Tabela 1 - Grupos Musculares Inspiratórios Acessórios – Fonte: Souchard (1989b, p. 32 e ss.)

A musculatura inspiratória acessória tem como função ampliar a capacidade de inspiração além da capacidade obtida somente pela ação do diafragma e da abertura das costelas inferiores. O funcionamento dos músculos inspiratórios acessórios na respiração de grande amplitude continua sendo baseado no diafragma, mas os músculos espinhais passam a oferecer pontos de apoios em torno da escápula, nuca e cabeça para a ação complementar dos músculos inspiratórios escapulares, nucais e torácicos na ampliação do gradil torácico (SOUCHARD, 1989b, p. 54). Os inspiratórios nucais, por exemplo, atuam levantando a clavícula e abrindo as primeiras costelas superiores. Nesse caso, podemos dizer que a pessoa está "respirando com a nuca".

A variedade de grupos musculares inspiratórios acessórios decorre do fato de que dependendo da atividade desenvolvida, pode ser impossível acionar um ou mais desses grupos, devendo assim ser usada alguma alternativa. Por exemplo, no basquete, a cabeça, nuca e escápula são constantemente mobilizados e os músculos inspiratórios destes grupos têm sua disponibilidade limitada para a respiração. Nesse caso, apenas os músculos espinhais e torácicos serão demandados. Já numa corrida, por exemplo, a cabeça permanece livre e é possível fazer uso dos inspiratórios escapulares (SOUCHARD, 1989a, p. 27). Essa diferença nas possibilidades de demandar a musculatura inspiratória acessória é uma das causas de algumas atividades físicas serem mais cansativas do que outras.

4.2. Músculos Expiratórios Acessórios

Normalmente a respiração é um processo passivo que é desencadeado pelo simples cessar da contração dos músculos inspiratórios. No entanto, durantes esforços, gritos, tosse e atividades de grande dinâmica, pode entrar em ação a musculatura com função expiratória. Basicamente é a estrutura muscular em torno do abdômen que pode atuar nesse sentido.

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Podemos apontar como músculos expiratórios acessórios: oblíquo interno; oblíquo externo; transverso do abdome; reto do abdome; piramidal do abdome; quadrado lombar; serrátil posterior inferior; e transverso do tórax (SOUCHARD, 1989b, p. 56).

A atuação dos músculos expiratórios é no sentido de contrair o abdômen, com isso comprimir as vísceras e empurrar a cúpula do abdômen para cima. Isso faz com que os pulmões se retraiam e a pessoa expire. A Figura 8 ilustra esse processo.

Figura 8 - Ação dos Músculos Expiratórios Acessórios - Fonte: Souchard (1989b, p. 68)

Alguns autores, por exemplo, Keleman (1985, p. 44) afirmam que os músculos abdominais normalmente são acionados na expiração por serem antagônicos ao diafragma. Souchard (1989b, p. 56) discorda e afirma que, em geral, os abdominais só são demandados acessoriamente por ocasião de respirações de grande amplitude (grandes esforços). Em nossa opinião, ambos estão parcialmente corretos. Entendemos que a musculatura abdominal normalmente não deveria ser acionada na expiração de pequena amplitude, no entanto, boa parte das pessoas contrai essa musculatura permanentemente de modo involuntário. Trata-se de mais um sintoma neurótico que muitas vezes é valorizado, por exemplo, na postura de “barriga para dentro e peito para fora”.

5. OUTRAS FUNÇÕES DO MÚSCULO DIAFRAGMA

A principal função do diafragma é a respiração, no entanto, essa não é a sua única função. Além da função respiratória, também podemos considerar, dentre outras funções do diafragma, a de fonação, a digestiva, a circulatória e a estática15. Do ponto de vista dos segmentos da couraça muscular, temos especial interesse na função e disfunção bioenergética do diafragma, por isso o aspecto bioenergético terá uma abordagem diferenciada no texto.

Em termos do aparelho fonatório humano, Souchard (1989a, p. 32 e ss.) nos ensina que o diafragma e os pulmões atuam como a fonte de ar que permite às cordas vocais produzir sons na laringe e modificá-lo na faringe (boca e nariz). O fornecimento deste ar é um processo expiratório, ou seja, ocorre no relaxamento e subida do diafragma. Como nossa voz é

15 Por "estática" entendemos a função de levantamento de peso (SOUCHARD, 1989a. p.24).

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modulada, o fornecimento adequado do som implica no controle da subida e, eventualmente, no bloqueio do diafragma durante essa subida, quando necessário para a produção de determinados sons. Esse bloqueio só é possível porque o diafragma encontra-se sempre firmemente apoiado nas vísceras. Lowen também reconhece essa função quando afirma que “A respiração também encontra-se diretamente relacionada com a emissão de voz, que é uma outra atividade vibratória do corpo” (LOWEN, 1984, p. 41). Sem aprofundar a questão, assinalamos que esta função do diafragma é muito ligada a aspectos psíquicos uma vez que está diretamente relacionada com a fala (a palavra) e a produção de sons em geral, inclusive e principalmente para a expressão emocional (gritos, lamentos, grunhidos, etc.).

Por outro lado, o contato estreito com a massa visceral abaixo do diafragma faz com que ele também exerça funções no aparelho digestivo. O esôfago, por exemplo, atravessa o diafragma e encontra o estômago, o qual está aderido à hemicúpula inferior esquerda do diafragma. Souchard (1989a, p. 48) afirma que o encaminhamento do bolo alimentar pelo esôfago é realizado pela ação das fibras musculares do próprio esôfago, mas também com a ajuda do diafragma. Este se abaixa na inspiração e causa um efeito de bomba que dilata o esôfago e facilita a passagem do bolo alimentar. Além disso, Souchard (1989a, p. 48) afirma que “durante contrações-relaxamentos vigorosos (tosse, espirro), as fibras do diafragma fecham o esôfago e evitam o refluxo do bolo alimentar” e complementa que neste caso “O diafragma desempenha papel de esfíncter entre esôfago e estômago”. Obviamente a ação do diafragma no aparelho digestivo não ocorre somente sobre o esôfago. O estômago, por exemplo, é permanentemente massageado pela ação do diafragma na respiração.

Em termos circulatórios, é preciso considerar que o diafragma é ricamente vascularizado e que existe uma importante massa sanguínea na região abdominal. Através da pressão e descompressão que exerce na fronteira tóraco-abdominal, o diafragma desempenha um papel de bombear essencial à circulação de retorno desse sangue. Esse mesmo papel de massagem e bombeamento também atua no sistema linfático, portanto, com consequências para o sistema imunológico do indivíduo.

A função estática do diafragma diz respeito à sua participação nos esforços físicos. Em todo esforço físico intenso, bloqueamos o diafragma. Supondo que uma pessoa faça um esforço para levantar um grande peso, para firmar sua coluna a pessoa contrairá seus músculos abdominais, fechará sua glote, contrairá seu períneo e bloqueará seu diafragma. Esse bloqueio por todos os lados gera uma grande pressão interna no tórax e no abdômen, fornecendo a firmeza necessária para a coluna sustentar o esforço. Souchard (1989a, p. 34) acrescenta que “Quando o gesto é premeditado, abaixamos frequentemente o diafragma através de uma inspiração profunda”. Portanto, tendemos a respirar fundo e prender a respiração para realizar o tipo de esforço descrito.

6. O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO DA COURAÇA MUSCULAR

O estudo do segmento diafragmático de acordo com o livro A Função do Orgasmo (REICH, 2004, p. 259) permite constatar que Reich descreve o encouraçamento muscular em diferentes partes do corpo humano, mas não o faz através de uma segmentação sistemática

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destas partes. Por outro lado, no livro Análise do Caráter (REICH, 2009b, p. 341), Reich apresenta didaticamente os sete segmentos da couraça muscular, inclusive o diafragmático.

Na cronologia das obras reichianas, o livro A Função do Orgasmo foi publicado originalmente no ano de 1942 e não sofreu ampliações posteriores de seu conteúdo. Por outro lado, embora a primeira edição do livro Análise do Caráter tenha sido publicada em 1932, esta obra sofreu ampliações posteriores significativas. Assim, o capítulo "A Linguagem Expressiva da Vida", na qual consta a descrição dos sete segmentos de couraça muscular, só foi inserido por Reich na no livro Análise do Caráter em 1948, em sua terceira edição. Portanto, as informações a respeito da couraça muscular foram publicadas originalmente no livro A Função do Orgasmo e, seis anos após, na terceira edição do livro Análise do Caráter.

A partir das considerações de Reich envolvendo o segmento diafragmático no livro A Função do Orgasmo (REICH, 2004, p. 259), é possível destacar alguns pontos que consideramos relevantes:

1. A importância do diafragma para a respiração e desta para a produção bioenergética do organismo como um todo. Ressaltamos que na ocasião da publicação original do livro A Função do Orgasmo, Reich considerava que esta produção bioenergética era um processo meramente bioquímico. Posteriormente ele descobriu que na realidade o corpo processa energia orgone e que o metabolismo aeróbio do organismo é uma manifestação parcial desse processamento.

2. Existem afetos específicos da região diafragmática: são sensações de prazer e de desprazer sentidas nesta região do corpo quando desbloqueada. Reich afirma, por exemplo, que todos têm medo de “levar um chute no estômago” e esse medo origina diversas fantasias. Além disso, cita também as fantasias das crianças sobre a gravidez16.

3. O diafragma, além de seus afetos específicos, também tem significativa influência nos afetos dos outros segmentos de couraça. Do ponto de vista da quantidade de bioenergia mobilizada pelo diafragma, seu funcionamento e sua disfunção impactam na produção de sensações de prazer e de angústia em todo o corpo. Em termos biomecânicos, o diafragma relaciona-se a diversas outras partes do corpo, como ainda será abordado neste texto.

4. Reich descreve o funcionamento do diafragma de modo integrado com outros músculos e órgãos. Ao tratar da respiração ele afirma, por exemplo, que “em estado de apreensão os ombros são involuntariamente levados para frente [...] Às vezes são também forçados para cima” (REICH, 2004, p. 260). Além disso, ele relaciona diretamente a atuação do diafragma com os músculos abdominais e com a pelve (os quais posteriormente, no livro Análise do Caráter, viriam a configurar os segmentos abdominal e pélvico). Por exemplo, ele relata o caso de uma paciente que prendia a respiração, tencionava a parede abdominal e encolhia as nádegas. Tudo isso para amortecer a “barriga” e suas sensações abdominais.

5. Por fim, destacamos a grande importância que Reich atribui ao plexo solar. Reich descreve a pressão que o diafragma contraído exerce por cima e o abdômen pela frente do plexo solar e como essa dupla pressão interfere na função de produção bioenergética deste plexo.

16 A gravidez, com o aumento do útero, implica numa pressão permanente no diafragma que passa a atuar de modo diferente do usual. Não abordamos essa situação neste trabalho, mas consideramos que ela é relevante e merecedora de estudo.

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No livro A Função do Orgasmo (REICH, 2004, pp. 259 e ss.), Reich descreveu a dinâmica que ocorre com o travamento do diafragma criando uma tensão abdominal17 como resultado da compressão por cima, pelo diafragma; pela frente e pelos lados, pela musculatura abdominal; por trás, pela coluna; e, por baixo, pela pelve. Reich (2004, p. 259) também afirmou que “a tensão abdominal tornou-se um fator indispensável do nosso trabalho. As perturbações respiratórias nas neuroses são os sintomas que resultam das tensões abdominais”. Destacamos a importância fundamental que Reich dá ao processo de inibição respiratória, pois ele considera que “como mecanismo fisiológico para a supressão e repressão dos afetos, a inibição respiratória era o mecanismo básico da neurose em geral” (REICH, 2004, p.261).

Ao analisarmos as considerações posteriores de Reich conforme publicadas no livro Análise do Caráter (REICH, 2009b), constatamos uma maior sistematização da abordagem da couraça muscular. Neste livro ele já trata os segmentos separadamente e descreve especificamente o segmento diafragmático como sendo:

Um anel de contração que se estende desde o epigástrio e a parte inferior do esterno, seguindo ao longo das costelas inferiores em direção às inserções posteriores do diafragma, isto é, às décima, décima primeira e décima segunda vértebras torácicas18. Compreende essencialmente o diafragma, o estômago, o plexo solar, o pâncreas, o fígado e dois feixes de músculos salientes que se estendem ao longo das vértebras torácicas inferiores (REICH, 2009b, p. 350).

Portanto, vemos que Reich considera que este segmento de couraça é formado não só pelo músculo diafragmático e as costelas inferiores nas quais se insere, mas também pelos órgãos viscerais contidos logo abaixo dele. Além disso, ele refere-se a “dois feixes de músculos salientes que se estendem ao longo das vértebras torácicas inferiores”. Por esta descrição, entendemos que Reich se refere principalmente ao músculo eretor da espinha (ou sacro-espinhal), sendo este composto por três músculos: o iliocostal, o longuíssimo e o espinhal.

No livro Análise do Caráter (REICH, 2009b), Reich afirma que o segmento diafragmático, em termos de função expressiva, é independente do tórax. Acrescenta ainda que "Isso é confirmado pelo fato de que o bloqueio do diafragma permanece inalterado, mesmo após a dissolução da couraça torácica e irrupção da raiva e das lágrimas" (REICH, 2009b, p. 349). Este ponto de vista é simplesmente reproduzido por Baker (1980, p. 82), quando este afirma que o diafragma e os órgãos abaixo dele não dependem da motilidade do peito para seu funcionamento.

Consideramos que os entendimentos de Reich a respeito dos segmentos da couraça conforme expostos, primeiro, no livro A Função do Orgasmo (REICH, 2004) e, posteriormente, no livro Análise do Caráter (REICH, 2009b) são complementares. Por um lado, reconhecemos que o segmento diafragmático permite expressões emocionais limitadas ao próprio segmento e até especificas do músculo diafragmático (descrição feita por Reich no livro Análise do Caráter), no

17 Ao tratar das “tensões abdominais”, Reich se refere às tensões criadas na cavidade abdominal pelo conjunto diafragma, músculos abdominais, coluna e pelve. Esse conceito não deve ser confundido com a ideia de “tensões nos músculos abdominais”, o que seria muito diferente. 18 Conforme visto anteriormente neste trabalho, Souchard (1989a, pp. 12 e 13) apresenta a informação correta de que a inserção do diafragma se dá na coluna lombar, entre as vértebras L1 e L4.

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entanto, percebemos que este segmento também funciona expressivamente de modo significativo com os segmentos adjacentes, para cima interagindo com os segmentos torácico e cervical e, para baixo, com os segmentos abdominal e pélvico (descrição feita por Reich no livro A Função do Orgasmo).

Consideramos que algumas ideias apresentadas por Keleman podem ser úteis na compreensão da complementaridade entre a função expressiva específica do segmento diafragmático e a expressão emocional integrada deste segmento com os seus segmentos adjacentes. Portanto, vejamos aquilo que nos interessa na anatomia emocional proposta por este autor.

6.1. A Anatomia Emocional de Keleman

A palavra diafragma tem sua origem no grego antigo e pode ser entendida como “barreira de separação”. Em termos anatômicos, quando falamos em diafragma, geralmente isso nos remete ao músculo responsável pela respiração, ou seja, o diafragma torácico. No entanto, este não é o único diafragma que existe no corpo humano. Na anatomia, esta palavra é usada para designar várias membranas, músculos ou ligamentos que são usados para separar uma cavidade de outra. Assim, além do diafragma torácico, o corpo também possui outros diafragmas, por exemplo, o pélvico, o cervical, o tímpano e a íris.

Keleman (1985) nos apresenta o corpo humano como sendo composto da combinação de espaços, camadas e tubos pulsáteis. Para ele, os esfíncteres e diafragmas regulam a interação entre estes tubos e a realidade exterior ao corpo. Deste ponto de vista, podemos considerar que o corpo humano é constituído de três tubos pulsáteis principais separados por diafragmas: o tubo inferior equivale à cavidade abdominal e está localizado entre o diafragma pélvico (períneo) e o diafragma torácico; o tubo intermediário equivale à cavidade torácica e está localizado entre o diafragma torácico e o diafragma cervical (composto pelo conjunto faringe-laringe); o tubo superior equivalente à cabeça e este localizado entre o diafragma cervical e o diafragma no topo da cabeça. A Figura 9 (A) e a Figura 9 (B) mostram esquematicamente a visão do corpo composto por três tubos principais separados por diafragmas.

Figura 9 - Corpo humano formado por tubos e diafragmas – Fonte: Keleman (1985, pp. 16 e 45)

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Embora não sejam abordagens equivalentes, podemos traçar um paralelo entre os conceitos propostos por Keleman e as ideias de Souchard. Este defende que a função respiratória do diafragma é indissociável da relação que ele estabelece com as estruturas logo abaixo dele (massa visceral, musculatura abdominal e períneo) e também da relação com as estruturas logo acima dele, situadas entre o diafragma torácico e o diafragma cervical (SOUCHARD, 1989a, p. 32). É dizer que o diafragma torácico, por estar entre a cavidade abdominal e a cavidade torácica, interfere diretamente no funcionamento dos segmentos presentes nestas duas cavidades (ou tubos, de acordo com Keleman).

Em termos biomecânicos, estas ideias não se afastam daquelas apresentadas por Reich no livro A Função do Orgasmo (REICH, 2004). Naquela ocasião, como já mostramos, Reich apresentou como a dinâmica respiratória influencia os ombros e também a cavidade abdominal. Alinhado com esse entendimento de Reich, Souchard (1989a, p. 65) afirma, por exemplo, que “Toda concentração do diafragma provoca uma hiperpressão intra-abdominal que pesa sobre o períneo e o tensiona enquanto toda expiração cria uma depressão e o relaxa”. Além dessas implicações do bloqueio diafragmático em relação à parte inferior do corpo, Souchard (1989a, 1989b) também nos mostra como o tendão do diafragma, a partir do interior do tórax, também influencia diretamente no funcionamento do diafragma.

Navarro (1995, p. 91), por sua vez, afirma que o bloqueio do diafragma faz com que ele se transforme "numa barreira entre as duas partes do corpo, em vez de ser o traço de união entre sua parte de cima e sua parte de baixo". Ele afirma que “A mensagem do superego19, aliás, valoriza todas as emoções localizadas acima do diafragma, enquanto que tudo que provém de baixo é considerado vil” (NAVARRO, 1995, p. 91).

Já a dicotomia apresentada por Reich em torno do diafragma é da ordem do movimento expressivo vivo e pode ser contemplada na afirmação de que:

A linguagem corporal traduz-se facilmente para a linguagem verbal, e o movimento expressivo é imediatamente inteligível quando trabalhamos com os quatro segmentos superiores [...] Assim que a couraça do segmento do diafragma é dissolvida, já não temos mais condições de traduzir a linguagem do movimento para a linguagem verbal (REICH, 2009b, p. 355).

Em nossa opinião, o diafragma desempenha um papel muito relevante no sentido de permitir a integração do organismo numa manifestação unitária, quando funcionando saudavelmente ou, por outro lado, desempenha um papel de grande impacto na cisão e fragmentação da personalidade quando bloqueado. Consideramos que o diafragma saudável bombeia a bioenergia pelo corpo, no entanto, quando bloqueado, passa a ter o efeito contrário, ou seja, de forte interrupção do fluxo bioenergético através do organismo. Embora estas ideias não tenham sido apresentadas exatamente nestes termos por Reich, a princípio elas não nos parecem contrariar preceitos fundamentais de seu pensamento.

19 Neste caso, o termo usado por Navarro é o de sentido psicanalítico.

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6.2. A Função Bioenergética do Diafragma

Dentre as referências pesquisadas, o modelo de Keleman (1985), que trata o corpo humano como uma estrutura formada por tubos, camadas e diafragmas, parece-nos útil para representar a função bioenergética deste segmento.

Reich apontou que "O processo vital consiste em uma contínua alternância entre expansão e contração" (REICH, 2004, p. 246), ou seja, consiste numa pulsação. Ele demonstrou que essa pulsação está presente em todos os seres vivos, seja num simples organismo unicelular ou num organismo complexo como o corpo humano.

A abordagem de Keleman (1985) está alinhada com essas descobertas de Reich. Keleman (1985, p. 13) afirma que todo nosso organismo pulsa em ondas que se manifestam desde o nível celular até no corpo como um todo. Para ele, os diafragmas em nosso corpo são estruturas que servem de bombas propulsoras dessas pulsações bioenergéticas ao longo do organismo.

Além disso, Keleman (1985, p. 28) considera que o bombeamento realizado pelos diafragmas gera a pressão interna que organiza os espaços dentro do corpo e ajuda a manter integra sua estrutura. As ondas e a pressão interna, por sua vez, criam padrões pulsáteis que determinam os tipos de emoções que sentimos, sejam eles prazerosos ou angustiantes (KELEMAN, 1985, p. 28).

O diafragma torácico é o maior dos diafragmas de nosso corpo e, em nosso entendimento, é a mais potente bomba a promover o fluxo longitudinal de bioenergia a partir da cavidade central de nosso organismo. Consideramos que a função respiratória utiliza o movimento de pulsação bioenergética do diafragma para promover a troca gasosa nos pulmões. A potência do diafragma, em nossa opinião, reflete-se na intensidade emocional que ele é capaz de produzir.

O coração, embora também seja uma bomba por excelência, parece-nos especialmente ligado com o fluxo radial da bioenergia no organismo através da circulação sanguínea, ou seja, no sentido centro-periferia. Além disso, o coração e o diafragma estão intimamente conectados: não só pelo ligamento freno-pericárdico e pela função respiratória, mas também pela complementaridade de suas funções bioenergéticas de pulsação.

A opinião de que o diafragma é uma bomba bioenergética também é compartilhada por Boggio (2008). De acordo com este autor:

O segmento diafragmático (quinto segmento) está conectado a todos os segmentos, é nossa bomba de energia e é o que regula a função emocional e energética da respiração. Do ponto de vista bioenergético, é o núcleo vital mais importante, o canalizador da pulsação vital e da circulação energética. (BOGGIO, 2008, p. 10, tradução nossa).

Lowen afirma que “A respiração leva ao movimento que é o veículo para a expressão do sentimento” (LOWEN, 1984, p. 42). Isso implica que a ênfase do tratamento recai em deixar a respiração se processar o mais plena e profundamente possível. Quando essa condição é obtida, ou seja, quando se dá um suficiente desbloqueio dos sete segmentos da couraça, as

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ondas respiratórias produzem um movimento de ondulação do corpo, o reflexo do orgasmo20 (LOWEN, 1982, p.20).

Isso não quer dizer que o reflexo do orgasmo será plenamente obtido somente a partir do desbloqueio do segmento diafragmático. O próprio Reich (2009b, p. 356) esclarece que este não é o caso, pois em geral, após o desbloqueio do diafragma, a pelve ainda encontra-se bloqueada. No entanto, esse reflexo já começa a se manifestar:

Assim que o diafragma se expanda e se contraia livremente, isto é, que a respiração funcione de forma plena e espontânea, o tronco se esforça, a cada expiração, por se dobrar na região do abdome superior. Em outras palavras: a extremidade cefálica faz um esforço para frente, em direção à extremidade pélvica. [...] Essa é a imagem do reflexo do orgasmo quando se apresenta a nós pela primeira vez (REICH, 2009b, p. 356).

Portanto, quando o diafragma funciona adequadamente e a respiração é plena, as chamadas correntes vegetativas (ou fluxos bioenergéticos) pelo corpo manifestam-se com uma intensidade fisicamente perceptível na motilidade corporal.

Lowen considera que “prazer é a percepção do fluxo rítmico da excitação no corpo” (LOWEN, 1984, p. 202). Ressaltamos que de um ponto de vista estritamente reichiano, podemos considerar que esta afirmação de Lowen é verdadeira, no entanto, é bastante simplificadora, uma vez que o conceito de prazer pode ser bem mais abrangente do que essa mera percepção. De qualquer maneira, não é porque esta ideia é limitada que ela se torna equivocada. Entendemos que a percepção citada por Lowen faz parte daquilo que podemos considerar como prazer a partir de um ponto de vista reichiano. Quando Lowen qualifica o fluxo percebido como sendo “rítmico”, consideramos que esse fluxo é harmonioso, ou seja, que ele não sofre bloqueios ou distorções.

Uma vez que o segmento diafragmático esteja desbloqueado e que o comprometimento dos segmentos abdominal e pélvico não o impeça, o livre fluxo bioenergético pelo corpo promove uma sensação difusa e generalizada de bem estar corporal. Trata-se de uma sensação de prazer que se manifesta em todo o organismo e que se reflete em emoções como alegria e felicidade. Assim, o funcionamento relativamente desbloqueado do diafragma é uma condição necessária para o fluxo rítmico das excitações corporais, portanto, para a percepção difusa de prazer em todo o corpo.

Lowen também afirma que:

As tensões musculares que bloqueiam o livre fluxo de excitação e sentimentos são frequentemente encontradas no diafragma, nos músculos que circundam a pelve e nas coxas. O relaxamento desses músculos por métodos físicos e psicológicos faz com que as pessoas comecem a se sentir

"ligadas" (LOWEN, 1982, p. 76).

20 O reflexo do orgasmo não deve ser confundido com o orgasmo sexual. Entendemos o reflexo do orgasmo como um padrão de movimentos rítmicos espontâneos do organismo que se manifesta com a respiração quando a pessoa obtém certo grau de desbloqueio corporal e capacidade de entrega e abandono às próprias sensações. Esses movimentos são reflexos das correntes bioenergéticas (ou vegetativas) que fluem livremente pelo organismo.

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No contexto do texto de Lowen, o termo ligadas refere-se a unidas, conectadas ou ainda integradas. De fato, quando o diafragma funciona adequadamente, a pessoa sente-se mais inteira, com os aspectos de sua personalidade integrados numa manifestação unitária.

Além disso, a pessoa nesse estado de bem estar pode se sentir conectada com um "algo maior". Trata-se do desenvolvimento de uma sensação de integração do ser humano à natureza. Lowen afirma que “Grosso modo, encontramos prazer sensorial em estímulos que se harmonizam com os ritmos e tonos de nosso corpo” (LOWEN, 1984, p. 201). Além disso, ele complementa que a “harmonia entre os ritmos internos da pessoa e os ritmos externos da natureza é a base para que se sinta identificação com o cosmo, a mais profunda raiz de prazer e alegria” (LOWEN, 1984, p. 193).

Com isso não estamos afirmando que uma respiração livre conduz automaticamente para uma experiência de identificação com o cosmos. No entanto, percebemos que o desbloqueio da respiração atua no sentido de integrar o ritmo da pulsação do corpo com a pulsação da energia orgone21 no ambiente. Em outras palavras, consideramos que pode ocorrer um alinhamento e uma ressonância entre a pulsação da bioenergia no corpo do indivíduo que passou pelo desbloqueio respiratório e a energia orgone presente na natureza, em especial em ambientes como matas, rios, montanhas e praias, refletindo essa ressonância em sensações de pertencimento e plenitude que podem levar ao estado de identificação cósmica mencionado por Lowen.

Além dessas sensações agradáveis, o diafragma também está relacionado com a percepção de emoções como o medo, a raiva e a tristeza. A pessoa cujo diafragma está desbloqueado sentirá livremente essas emoções nas ocasiões em que se manifestarem. No entanto, essas emoções podem se apresentar com muita intensidade em função da grande mobilização bioenergética que o diafragma é capaz de promover. A incapacidade de suportar essas emoções devido a sua alta intensidade (alta carga bioenergética) pode ser uma das causas do bloqueio do diafragma, pois é uma forma de amortecer as sensações provenientes desse segmento.

Baker, por exemplo, afirma que o segmento diafragmático retém uma "raiva assassina violenta" (BAKER, 1980, p. 83). Embora a expressão “assassina” usada por este autor remeta a uma conotação negativa a respeito das emoções retidas neste segmento, entendemos que essa afirmação diz respeito à intensidade da raiva retida em função da grande quantidade de bioenergia que o segmento diafragmático é capaz de mobilizar.

6.3. Disfunções do Segmento Diafragmático

Sabemos que a respiração ocupa um lugar de importância fundamental no funcionamento do organismo. Gaiarsa defende que ela "está na base de toda a fenomenologia psicológica, em paralelo com seu valor biológico" (GAIARSA, 2010, p. 14). É por isso que as disfunções do diafragma, principal músculo respiratório, têm um grande impacto em diversas disfunções psicorporais do ser humano.

21 Energia Orgone é um tipo de energia identificada por Reich, com atributos particulares e que está presente em todo o cosmos. A energia orgone no organismo equivale à bioenergia.

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Além dos problemas localizados no próprio músculo, problemas na cavidade torácica e na cavidade abdominal podem implicar em disfunções no diafragma. Uma pressão excessiva no abdômen ou uma pressão negativa no tórax podem causar a subida do diafragma (eventração do diafragma), assim como uma pressão excessiva no tórax ou uma pressão negativa no abdômen pode causar sua descida. A obesidade, por exemplo, faz com o diafragma desloque-se para cima22, enquanto a asma brônquica faz com que ele desloque-se para baixo.

Ao tratar das disfunções do diafragma, é importante ter claro que praticamente todo bloqueio diafragmático é inspiratório. A contenção da respiração ocorre na fase de inspiração, ou seja, quando o diafragma se contrai, portanto, o bloqueio do diafragma se dá com os pulmões “cheios de ar” (ar residual). Nesse sentido, Souchard afirma que “Excetuando-se certos casos de problemas neurológicos ou edema pulmonar, não existe insuficiência inspiratória, apenas insuficiência expiratória” (SOUCHARD, 1989, p. 87). Portanto, a dificuldade respiratória da maioria das pessoas consiste na relativa incapacidade de soltar o ar, ou seja, de expirar adequadamente.

Souchard também considera que “Toda insuficiência respiratória do pulmão (bronquite, asma...), toda afecção de um dos seus constituintes (pleuresia, atelectasia...) levam a um bloqueio em inspiração” (SOUCHARD, 1989, p.89). Sempre que alguma parte dos pulmões tiver sua capacidade respiratória comprometida, a pessoa fará um esforço para que as partes ainda funcionais dos pulmões compensem a insuficiência das partes problemáticas. Esse esforço será no sentido inspiratório e isso levará a uma contração crônica do diafragma. Portanto, enfermidades pulmonares (segmento torácico) podem levar ao encouraçamento do diafragma. Por outro lado, sabemos que essa via é de mão dupla: um encouraçamento do diafragma originado por problemas emocionais também pode se refletir em doenças orgânicas nos pulmões, coração e vísceras, dentre outras estruturas orgânicas adjacentes ao diafragma.

Em função de sua proximidade e atuação conjunta, problemas nas vísceras podem repercutir diretamente sobre o diafragma. A aerogastria e a aerocolia, por exemplo, podem fazer subir a hemicúpula diafragmática esquerda. Já a hemicúpula direita do diafragma pode sofrer efeitos de uma inflamação, abscesso ou quisto do fígado. O sofrimento esôfago-gástrico e a hérnia de hiato são outras disfunções diretamente relacionadas ao diafragma.

Ao se referir às inúmeras patologias do segmento diafragmático, Navarro assinala que:

O bloqueio do diafragma pode ser mais ou menos delimitado conforme as zonas do músculo, à direita (perigo para o fígado), à esquerda (perigo para o baço), atrás (perigo para os rins) e à frente (perigo para o estômago e o

pâncreas) (NAVARRO, 1995, p. 99).

Já as lesões na inervação do diafragma podem causar a paralisia de uma das hemicúpulas ou de ambas. Essas lesões não precisam estar restritas ao próprio diafragma, uma vez que o nervo frênico sai do pescoço e passa por dentro do tórax, estando sujeito a lesões em todo seu percurso. 22 A gestação também implica numa subida do diafragma. Embora não seja uma situação patológica, este deslocamento também está relacionado às importantes alterações emocionais pelas quais passa uma gestante. Além disso, o diafragma tem papel fundamental no trabalho de parto. A relação do diafragma com a gravidez é complexa e demanda um estudo amplo que foge do objetivo deste trabalho.

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Navarro defende que “É a partir do nível do diafragma que encontramos as somatizações clássicas, que são certamente expressão de uma neurose” (NAVARRO, 1995, p. 91). Para ele, os distúrbios gastrointestinais, ou seja, do segmento diafragmático, estão entre as manifestações somáticas mais evidentes de distúrbios emocionais (NAVARRO, 1995, pp. 92 e 93). Em suas considerações, Navarro aborda desde o vômito e as cólicas do bebê, passando pelo cardioespasmo, gastrite, úlcera gástrica, doenças hepatobiliares e chegando até à pancreatite aguda. Em todos os casos ele apresenta uma interpretação emocional das causas dos distúrbios somáticos do segmento diafragmático.

A participação fundamental do bloqueio diafragmático nas disfunções emocionais foi inicialmente destacada por Reich ao afirmar que “toda neurose implicará em bloqueios diafragmáticos” (REICH, 2004, p. 259). Além disso, podemos considerar que esse bloqueio está diretamente relacionado com o início do encouraçamento muscular do organismo de um modo geral, como se depreende da afirmação de Baker de que "a couraça aparece primeiro no diafragma, numa contração inspiratória" (BAKER, 1980, p. 65). A afirmação de Baker encontra fundamento no relato que Reich (1983, p. 106 e ss.) faz de uma criança com apenas cinco semanas de vida nas quais ele constatou o início do encouraçamento muscular a partir de dificuldades respiratórias (bronquite e tensão da musculatura intercostal).

Para Reich (2004, p. 247), a energia biofísica (bioenergia) é gerada principalmente na região abdominal do organismo (incluindo o segmento diafragmático), nos grandes centros do sistema nervoso autônomo, essencialmente no plexo23 solar, no plexo hipogástrico e no plexo lombossacral. Ela é transmitida pelo sistema nervoso, mas também através dos fluidos em movimento pelo organismo, em especial o fluxo sanguíneo.

De modo geral, a contração crônica da musculatura (couraça muscular) restringe a livre circulação dos fluidos corporais, em especial a circulação sanguínea e, ao fazer isso, também restringe a circulação da energia biofísica que tem no sangue um importante veículo de transporte pelo corpo. Como consequência do bloqueio do fluxo bioenergético, as sensações corporais ficam diminuídas e tanto a angústia quanto o prazer são sentidos com menor intensidade.

A atitude inspiratória, prendendo o ar com os pulmões cheios, decorre principalmente de uma contração crônica do diafragma. Em função dessa contração ocorre uma redução da troca gasosa na respiração, portanto, diminuindo o metabolismo celular e a bioenergia disponível no organismo. Além disso, a contração duradoura da musculatura diafragmática diminui a mobilidade dos fluídos corporais no centro do corpo, em especial do fluxo sanguíneo, e realiza uma pressão sobre o plexo solar, interferindo na produção e transmissão da bioenergia desse centro nervoso.

Essas alterações fisiológicas ocorrem para garantir que o organismo produza menos bioenergia, tenha menos mobilidade e, em consequência, para que haja uma diminuição das sensações corporais. A pessoa dificulta a própria respiração como uma maneira de sentir

23 Um plexo é um aglomerado de células nervosas. O plexo solar, por exemplo, fica acima do estômago, logo abaixo do diafragma.

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menos e, consequentemente, de sofrer menos. No entanto, ao limitar sua sensibilidade de um modo geral, a pessoa também limita sua capacidade de sentir prazer.

Para Lowen (1982, pp. 110 e 190), a tensão do diafragma está fortemente ligada com a ansiedade de cair. Ele argumenta que a contração diafragmática reduz o fluxo de excitação que se encaminha para a metade inferior do corpo, prejudicando assim o contato da pessoa com sua base. Nesse sentido ele afirma que “A perda da energia nas pernas e pés produz uma perda de contato com o chão” (LOWEN, 1982, p. 190) e complementa que “A ansiedade de cair e os distúrbios respiratórios são dois aspectos de um único processo” (LOWEN, 1982, p. 190), ou seja, do encouraçamento do segmento diafragmático. No entanto, Lowen (1982, p. 192) reconhece que nem todos os neuróticos sofrem de ansiedade de cair.

Em nossa opinião, a percepção de Lowen a respeito daquilo que ele denomina como ansiedade de cair pode estar relacionada com a propagação da contração do diafragma para o músculo iliopsoas, conforme já descrita neste trabalho. No entanto, fazemos a ressalva de que esse entendimento de Lowen não corresponde ao conceito reichiano de ansiedade de queda (angústia de cair).

Reich afirma que a angústia de cair é uma consequência de um retraimento brusco da bioenergia das extremidades do organismo e que os órgãos afetados por esse retraimento causam uma perda no sentido de equilíbrio do corpo (REICH, 2009a, p. 398). Além disso, para Reich a angústia de queda está sempre na raiz da angústia do orgasmo, uma vez que uma contração inconsciente do corpo logo antes do orgasmo (uma inibição da expansão) é sentida como uma queda (REICH, 2009a, pp. 184-185).

Ao considerarmos o caso descrito por Reich de um bebê de três semanas que apresentou uma forte ansiedade de cair (REICH, 2009a, p. 393 e ss.) obviamente não caberia falar em “perda de contato com o chão”, conforme proposto por Lowen. Assim, a manifestação da ansiedade de queda num bebê indicaria a possibilidade dessa sensação ser consequência da retração busca da bioenergia, conforme defendido por Reich. Portanto, enquanto Lowen atribui a ansiedade de queda ao encouraçamento do diafragma e a perda de contato do corpo com a sua base, Reich atribui essa angústia de cair a um retraimento rápido da bioenergia das extremidades do corpo, sendo que esta sensação também se apresenta por ocasião do avanço do desencouraçamento, na proximidade da saúde, quando surge mais intensamente a angústia do orgasmo.

Ao falar de sua proposta terapêutica – a Bioenergética, Lowen afirma que ela “está interessada pela forma como o indivíduo conduz o amor” (LOWEN, 1982, p. 74). Nesse sentido, ele diz que “Dos nossos corações flui o calor que nos une ao mundo em que vivemos. Essa quentura é o sentimento de amor. O objetivo de toda a terapia é ajudar a pessoa a aumentar sua capacidade de dar e receber amor [...]” (LOWEN, 1982, p. 77). Portanto, para Lowen o coração é o órgão por excelência relacionado com o amor e importa como ocorre a sua expressão bioenergética. Lowen (1985, p. 75) também defende que a boca e a garganta são os canais de comunicação primários do amor. A expressão do amor por estes canais ocorre no aleitamento materno, nos beijos e nas palavras que o expressam. Além disso, pode haver uma importante expressão dessa emoção pelos braços e mãos (carícias e abraços) e pelo sexo quando consiste num ato de amor.

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Para que essas expressões múltiplas de amor sejam possíveis, o indivíduo precisa estar relativamente saudável. Os bloqueios em diversos níveis corporais, por exemplo, na garganta, diafragma e pelve, podem impedir a manifestação do amor. No entanto, um dos distúrbios mais comuns a impedir a manifestação do amor é a dissociação das metades superior e inferior do corpo, sendo esta uma consequência do bloqueio diafragmático. É por isso que Lowen diz que “Onde quer que exista um grau de dissociação, os movimentos respiratórios naturais não fluem livremente através do corpo” (LOWEN, 1985, p. 76) e acrescenta que “as tensões musculares crônicas que bloqueiam o livre fluxo de excitação e sentimentos são frequentemente encontradas no diafragma [...]” (LOWEN, 1985, p. 76).

Dessas observações de Lowen concluí-se que o bloqueio diafragmático e seus consequentes problemas respiratórios impactam diretamente na capacidade de amar do indivíduo. Esse impacto se dá pelo aprisionamento do coração num tórax imobilizado por uma contração crônica do diafragma, por baixo; por uma contração crônica da garganta, por cima; e por contrações crônicas envolvendo a própria caixa torácica e os ombros.

Em relação ao diafragma, Navarro afirma que a manifestação emocional ligada ao seu funcionamento é a ansiedade (NAVARRO, 1995, p.90). De certo modo, esse ponto de vista também é compartilhado por Lowen, o qual afirma que “Toda dificuldade em respirar causa ansiedade” (LOWEN, 1984, p. 33). Neste caso, não se trata especificamente da ansiedade de cair, mas da ansiedade de modo geral. Para Navarro, o medo associado ao segmento ocular é transmitido pelo sistema nervoso simpático para o diafragma e este “se ‘bloqueia’, criando a ansiedade, que não é mais do que o temor da ocorrência de um perigo ou punição” (NAVARRO, 1995, p. 90). Assim, o medo (expectativa de um perigo ou punição) causaria o bloqueio do diafragma e a suspensão da respiração seria a causa da sensação de ansiedade.

Navarro também considera que o bloqueio diafragmático é o principal bloqueio a determinar o tipo de caráter masoquista (NAVARRO, 1995, p.90). Após a suspensão da respiração em função do medo, o indivíduo inconscientemente provocaria fatos que lhe permitissem concretizar sua expectativa, ou seja, ele buscaria o desprazer visando por logo um fim ao seu estado de ansiedade, podendo assim recobrar seu fôlego (NAVARRO, 1995b, p. 69 e ss.). Navarro também afirma que “Na medida em que todos nós somos mais ou menos ansiosos é evidente que todos possuímos traços caracteriais masoquistas causados por uma situação energética defeituosa no nível do diafragma” (NAVARRO, 1995, p. 92). Ainda ao se referir ao masoquista, ele defende que “pode acontecer dele explodir: na realidade trata-se de uma descarga súbita do diafragma que, hipertenso, deve mover-se para permitir a sobrevivência. O indivíduo tem, então, reações violentas e inesperadas” (NAVARRO, 1995, p. 92).

Nós concordamos com Navarro que todos os neuróticos sofrem de algum grau de ansiedade e que o tipo de reação explosiva descrita por ele ocorre em pessoas com fortes bloqueios diafragmáticos. Também concordamos que todos os neuróticos têm bloqueios diafragmáticos (respiratórios), bem como traços masoquistas. No entanto, não concordamos com o ponto de vista de Navarro de que o bloqueio diafragmático é o principal determinante do tipo de caráter masoquista. Certamente não é porque em algum grau os bloqueios diafragmáticos e os traços masoquistas de caráter coexistem em todos os neuróticos que se estabelece uma relação causal entre eles.

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Além disso, entendemos que a defesa que Navarro realiza da causalidade entre bloqueio diafragmático e tipo de caráter masoquista não encontra respaldo na descrição que Reich faz desse tipo de caráter. Para Reich, a gênese do masoquismo encontra-se numa regressão à fase anal a partir de um exibicionismo fálico gravemente frustrado na infância, portanto, o traço anal seria o principal traço do caráter masoquista (REICH, 2009b, pp. 238 e 239). Navarro reconhece a importância do traço anal, mas lhe atribui uma importância acessória ao distúrbio, afirmando que ele nem sempre está presente neste tipo de caráter (NAVARRO, 1995b, p. 72).

Uma vez que o bloqueio diafragmático está presente em todos os tipos de caracteres, obviamente ele também está presente no masoquista. Pode-se argumentar que o bloqueio diafragmático é mais intenso nesse tipo de caráter do que nos demais e parece que este realmente é o caso. No entanto, ainda que este bloqueio seja relevante no masoquista, ele não nos parece ser a causa (origem) desse tipo de caráter, mas sim uma consequência, ainda que esta consequência seja importante para a manutenção desse tipo de caráter.

Em relação às reações violentas e inesperadas citadas por Navarro, parece-nos que a capacidade de contenção do músculo diafragma chega num limite a partir do qual a excitação excedente pode desencadear um processo explosivo, ou seja, uma descarga súbita e intensa de uma grande quantidade de bioenergia bloqueada no segmento diafragmático. Entendemos que essas explosões são incompatíveis com o tipo de caráter masoquista que “suporta tudo” e dá vazão lenta e gradual ao seu excesso de carga a partir de reclames, gemidos e artifícios similares.

6.4. A Hiperlordose Diafragmática e a Espondilite Anquilosante

Em relação às patologias do segmento diafragmático de couraça, Reich afirma que “A manifestação evidente desse anel de couraça é a lordose da coluna vertebral. Geralmente o terapeuta consegue colocar a mão entre as costas do paciente e o divã” (REICH, 2009b, p. 350).

Souchard (1989a, p. 37) revela-nos como se desenvolve biomecanicamente essa hiperlordose a partir da crispação24 diafragmática em inspiração. Basicamente podemos dizer que essa contração crônica do músculo diafragmático exerce tração da coluna lombar para cima e para frente a partir dos pilares do diafragma. Essa tração também é reforçada por trações do músculo transverso e do psoas. A Figura 10 (A) ilustra como a tensão crônica desses músculos age para criar a hiperlordose diafragmática e a Figura 10 (B) mostra a direção das resultantes de forças causando a hiperlordose diafragmática e a anteversão pélvica.

24 A crispação é a contração de um músculo ou nervo.

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Figura 10 - Biomecânica da Hiperlordose Diafragmática – Fonte: adaptado de Souchard (1989a, pp. 37 e 38)

Portanto, a hiperlordose diafragmática é resultado da ação de músculos dos segmentos diafragmático, abdominal e pélvico atuando em conjunto. Este processo está de acordo com a descrição reichiana da “tensão abdominal” (REICH, 2004, p. 156 e ss.), ou seja, ratifica a importância de uma visão integrada da atuação dos segmentos de couraça presentes na parte abdominal do corpo (segmentos diafragmático, abdominal e pélvico).

Reich reconheceu que a hiperlordose diafragmática era associada ao encouraçamento do diafragma, mas não podemos afirmar que ele sabia como esse sintoma se processa anatomofisiologicamente. Ele também percebeu uma associação entre a tensão nos ombros (elevados e para frente) com a inibição da respiração, mas não descreveu a biomecânica subjacente a este sintoma. Souchard (1989b) nos explica como se dá – biomecanicamente, a relação entre o encouraçamento do diafragma com o encouraçamento cervical, torácico, abdominal e pélvico.

De acordo com Souchard (1989b, p.80 e 84), anatomicamente, é possível dividir a musculatura em termos de músculos dinâmicos e músculos estáticos. Os músculos dinâmicos, dentre outras características, produzem pequenas trações e grandes deslocamentos sendo seu principal papel realizar o movimento corporal. Inversamente, os músculos estáticos produzem uma forte tração e pequenos deslocamentos, sendo sua principal função resistir ao movimento.

Na manutenção da postura, são os músculos estáticos que têm a função de sustentar o corpo em pé uma vez que são eles que resistem à força gravitacional. Assim, a musculatura estática é demandada quase permanentemente, possuindo naturalmente um tônus elevado. A musculatura inspiratória acessória (nucal, escapular, torácica e espinhal), pertence a esta categoria de músculos, portanto, desempenha a função de sustentação e naturalmente possui elevado tônus muscular.

Souchard (1989b, p.88) também afirma que toda a agressão, seja ela psíquica ou somática, aumenta o tônus muscular. Portanto, os músculos estáticos, os quais já têm naturalmente um alto tônus em decorrência de sua função de sustentação, diante de agressões, inclusive

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emocionais, tendem a se contrair, encurtar e enrijecer ainda mais, sendo exatamente isto que ocorre com os músculos inspiratórios acessórios.

Como se não bastasse, os músculos estáticos podem estar envolvidos numa espiral mórbida de contração do organismo. O problema ocorre porque eles sofrem de histerese25. Isso quer dizer que após uma contração, eles não retornam ao seu comprimento original na mesma velocidade com que foram contraídos. Assim, ainda que o estímulo de contração já tenha cessado, esses músculos tendem a relaxar muito lentamente, demorando mais tempo para relaxar do que o tempo que levaram para se contrair. Supondo que depois de encerrada uma contração, o estado de relaxamento inicial do músculo ainda não tenha sido alcançado novamente e ele receba um novo estímulo de contração, então o músculo tenderá a se contrair ainda mais intensamente do que da primeira vez, pois sua nova contração já iniciará de um estado de contração prévio.

Ao abordar os efeitos do medo (apreensão) sobre a respiração, Reich descreve como se dá a contração nos ombros do indivíduo:

Imagine que você está assustado, ou que prevê um grande perigo. Involuntariamente aspirará o ar e prenderá a respiração. Como a respiração não pode cessar inteiramente, você logo respirará outra vez, mas a expiração não será completa. Será superficial. Você não expirará plenamente, mas apenas aos pouquinhos. Em estado de apreensão, os ombros são involuntariamente levados para frente, e permanecem nessa atitude rígida (REICH, 2004, p.259).

A descrição de Reich corresponde ao resultado da hipertonicidade dos músculos inspiratórios escapulares. Souchard (1989a, p.42) afirma que nos ombros, os músculos serrátil anterior, peitoral menor e peitoral maior (inspiratórios escapulares), tendem a se contrair cronicamente e levantar os ombros ao mesmo tempo em que estes são rotacionados para frente.

Outro exemplo das consequências do processo de hipertonicidade dos músculos inspiratórios ocorre na couraça cervical. O encouraçamento diafragmático, o qual em regra é inspiratório (abaixando o centro tendíneo do diafragma) pode ter como efeito uma sobrecarga do tendão do diafragma, sendo que este tendão se sustenta na nuca. Essa solicitação permanente faz com que os músculos esternocleidomastóideos e escalenos (inspiratórios nucais) também se contraiam cronicamente, causando um achatamento da coluna cervical (SOUCHARD, 1989a, p.42). A Figura 11 simboliza a sustentação nucal do diafragma como uma corda e ilustra esse processo.

25 Histerese é a tendência de um material ou sistema de conservar suas propriedades na ausência do estímulo que as gerou.

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Figura 11 - Efeitos do Encouraçamento Diafragmático na Coluna Lombar e Cervical - Fonte: Souchard (1989b, p. 91)

A contração crônica do diafragma, transverso e psoas, conforme ilustrada na Figura 10, implica ainda numa relevante consequência para o segmento pélvico. Souchard afirma que:

Toda crispação inspiratória crônica do diafragma exerce uma tensão sobre o períneo através da massa visceral e da tendência à horizontalização do sacro. O períneo é então distendido ao nível de seus bordos e segura-se ao nível dos esfíncteres.

Todo comportamento assimétrico dos ilíacos ligado a essa horizontalização do sacro, toda rotação vertebral lombar levará a uma lesão sacro-ilíaca e púbica (SOUCHARD, 1989a, p. 65).

Assim, a hiperlordose diafragmática propaga-se desde o diafragma cronicamente contraído até o períneo, inclusive podendo implicar numa contração, por exemplo, do esfíncter anal. A lesão sacro-ilíaca e púbica referida por Souchard, por sua vez, nos leva a fazer algumas especulações a respeito da doença chamada Espondilite Anquilosante.

A Espondilite Anquilosante é uma doença autoimune caracterizada por uma inflamação crônica que afeta principalmente a coluna e os ossos entre a coluna e a pélvis, ou seja, as articulações sacroilíacas. Frequentemente ela implica numa rigidez crescente da área afetada, causando dor e perda de movimentos. Chiarello (2005 apud SAMARA, 2012, p. 6) afirma que nos quadros graves podem ocorrer lesões nos olhos (uveíte), coração (doença cardíaca espondilítica), pulmões (fibrose pulmonar) e rins. Varella (2014) afirma ainda que os quadros graves também podem lesionar intestinos (colite ulcerativa) e pele (psoríase).

De acordo com Samara (1985, apud MARQUES, 2012, p.5), no quadro clínico da Espondilite Anquilosante:

Ocorre retificação da lordose lombar com atrofia dos músculos da região glútea, acentuação da cifose torácica e, com o envolvimento cervical, pode ocorrer um deslocamento anterior do pescoço. Se houver contratura do

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músculo iliopsoas, os joelhos se flexionam para compensar (SAMARA, 1985 apud MARQUES, 2012, destaque nosso).

A medicina não conhece as causas dessa doença, no entanto, no quadro clínico descrito constatamos a presença de alguns elementos característicos da Hiperlordose Diafragmática: a acentuação da lordose torácica, a acentuação da lordose cervical e a contratura do iliopsoas, ou seja, toda a contração da cadeia de músculos, ligamentos e fáscias que une o pescoço à pelve e que resulta de uma atitude inspiratória crônica, fruto de dificuldades emocionais.

As doenças que decorrem de um transtorno da função natural de pulsação do organismo são chamadas por Reich de biopatias (REICH, 2009a, p. 154). Assim, uma fratura, a febre amarela, um coma alcoólico, a sífilis, etc. não são consideradas biopatias. Estas doenças podem perturbar a pulsação bioenergética do organismo, mas o fazem secundariamente, como consequência da enfermidade. Para Reich, somente os casos que iniciam como um transtorno na pulsação bioenergética é que são considerados biopatias, ainda que tenham como consequência um quadro secundário de disfunções orgânicas (REICH, 2009a, p.154).

Baseados nas características da Espondilite Anquilosante, levantamos a hipótese de que esta doença é uma biopatia e que sua etiologia está relacionada a processos bioenergéticos intimamente relacionados a distúrbios respiratórios.

Devemos reconhecer que o mecanismo de supressão emocional através do bloqueio respiratório, inicialmente ocorre com a contração do diafragma, mas não se limita a ele. A musculatura inspiratória acessória, normalmente acionada em esforços que demandam uma respiração de grande amplitude, também sofre uma contração permanente com o bloqueio respiratório decorrente de agressões emocionais. Essa contração, conforme vimos, reflete-se nos músculos inspiratórios escapulares (levantando e rotando os ombros), nos inspiratórios nucais (hiperlordose cervical), no iliopsoas e até mesmo na musculatura do períneo.

Perceber a relação do bloqueio respiratório com o encouraçamento torácico, cervical e pélvico é de grande importância, pois uma dor na região pélvica, por exemplo, poderia ser considerada como fruto de um encouraçamento localizado especificamente neste segmento, quando na realidade se trata de uma contração generalizada do organismo e que possivelmente tem um encouraçamento diafragmático precedendo, influenciando e sendo influenciado pelo encouraçamento pélvico.

Assim, consideramos que o encouraçamento do organismo típico da Espondilite Anquilosante pode ser largamente determinado pelo bloqueio respiratório. Além disso, consideramos que o transtorno na pulsação bioenergética do organismo que, segundo Reich, origina as biopatias em geral (REICH, 2009a, p.154), possa ter dentre suas causas primárias o encouraçamento do segmento diafragmático.

6.5. Intervenções Terapêuticas no Segmento Diafragmático

Antes de abordarmos as intervenções terapêuticas no segmento diafragmático da couraça muscular, fazemos a ressalva de que, em nossa opinião, o ideal é não utilizar estas técnicas

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indiscriminadamente, mas aplicá-las dentro de um processo terapêutico coerente e cujos resultados possam ser integrados à personalidade do paciente de modo saudável.

Além disso, as disfunções relacionadas com o diafragma (e também com outros segmentos) podem variar desde uma simples estase bioenergética decorrente, por exemplo, da abstinência sexual prolongada, até graves distúrbios físicos nos músculos e órgãos do segmento diafragmático e dos segmentos adjacentes. Portanto, o terapeuta deve ser criterioso em relação às técnicas a serem aplicadas, bem como àquelas a serem evitadas.

Por fim, no contexto deste trabalho não cabe uma descrição detalhadas das diversas técnicas terapêuticas. Limitaremos-nos a citá-las e a referenciá-las de modo que o leitor interessado possa aprofundar seu conhecimento consultando as obras originais com o objetivo de encontrar um maior detalhamento das técnicas.

Reich também faz suas ressalvas em relação às intervenções terapêuticas no segmento diafragmático. Ele afirma que para o desbloqueio do segmento diafragmático “Só há uma pré-condição: a couraça dos segmentos superiores deve ter sido dissolvida antes” (REICH, 2009b, pp. 355 e 356). Em mais de uma passagem do livro Análise do Caráter ele insiste neste ponto e ainda acrescenta que “se os segmentos superiores forem adequadamente afrouxados, a dissolução da couraça diafragmática será apenas uma questão de tempo” (REICH, 2009b, p. 351). Obviamente trata-se de tempo de aplicação do processo terapêutico adequado.

Por outro lado, é comum, embora não seja uma regra, que logo no início das intervenções corporais na terapia reichiana já se trabalhe sobre a respiração e o diafragma. O próprio Reich também o fazia. Esta abordagem não esta em desacordo com a advertência feita por ele mesmo, pois neste caso se busca um aumento da carga bioenergética do organismo pela ampliação da respiração e não um processo de desbloqueio profundo e completo do segmento diafragmático. Este aumento de carga no início da terapia, dentre outras coisas, serve para evidenciar os principais bloqueios bioenergéticos no organismo do paciente.

Enfim, consideramos que a regra geral é respeitar a ordem céfalo-caudal e periférico-central no desbloqueio dos segmentos da couraça, tanto muscular quanto caracterial (neste caso, por exemplo, com o aprofundamento gradual das interpretações). No entanto, também consideramos que esta regra geral admite exceções, sendo a necessidade do paciente mais relevante do que qualquer padrão pré-determinado de atuação.

Retomando as intervenções terapêuticas de Reich, destacamos sua afirmação de que:

A respiração forçada no segmento do tórax ou a liberação repetida do reflexo do vômito podem impelir o organismo à pulsação orgástica. A estimulação dos músculos do ombro por meio de beliscões pode ter o mesmo efeito (REICH, 2009b, p. 351).

Eis que Reich intervém terapeuticamente sobre a respiração não só no segmento diafragmático, mas também no torácico (tórax e ombros), estando sua afirmação de acordo com uma intervenção nos músculos inspiratórios acessórios.

Em relação aos “beliscões nos ombros”, Reich não se aprofunda nesta questão, mas entendemos se tratar de um modo de liberar a estase de bioenergia acumulada de modo

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superficial nessa musculatura. Além disso, quando o “beliscão” é executado de acordo com a respiração, pode levar a um aprofundamento da respiração, a reações de susto, de prazer ou outras manifestações corporais. As cócegas também tem um efeito similar de liberação da estase superficial, em especial quando aplicadas na musculatura intercostal (musculatura inspiratória acessória torácica). Neste caso, após a liberação de uma primeira camada superficial da estase bioenergética, risadas intensas podem colaborar no desbloqueio do diafragma.

Em relação à respiração forçada citada por Reich, relembramos que ela deve ter ênfase expiratória. Conforme já vimos, em regra o bloqueio neurótico do diafragma é inspiratório. Nesse sentido, Reich afirma:

Se pedirmos ao paciente que respire conscientemente, ele sempre inspirará. A expiração, como ação espontânea, é estranha a ele. Se lhe pedirmos para expirar, terá de fazer um considerável esforço. Quando consegue expirar um pouco, o corpo assume automaticamente uma atitude que vai contra a expiração (REICH, 2009b, p. 350).

Consideramos que esse detalhe é muito importante. As práticas, actings e intervenções terapêuticas reichianas no segmento diafragmático devem ter como premissa a ênfase na expiração. No entanto, a expiração deve ser na forma de um suspiro, ou seja, na forma de uma soltura e entrega ao relaxamento que permita ao ar sair dos pulmões naturalmente. Enfatizar a expiração, portanto, não significa forçar os abdominais para expelir o ar com mais força. Isto ainda caracterizaria uma tentativa de controle voluntário sobre a expiração, quando se busca o oposto: uma rendição ao movimento expiratório espontâneo do corpo.

Dentre as três abordagens terapêuticas citadas por Reich – os beliscões nos ombros, a respiração torácica forçada e o reflexo do vômito, esta última é a mais enfatizada pelo autor. Reich afirma que “O reflexo do vômito afrouxa o segmento diafragmático rápida e radicalmente” (REICH, 2009b, p. 357) e esclarece:

Conseguimos liberar o segmento diafragmático da couraça fazendo o paciente liberar, repetidas vezes, o reflexo do vômito, enquanto lhe ordenamos rigorosamente não suspender a respiração durante o esforço para vomitar, e sim continuar a inspirar e a expirar normalmente (REICH, 2009b, p. 355).

Navarro, por sua vez, apresenta intervenções terapêuticas na forma de actings, os quais ele define como “movimento proposto pelo terapeuta reichiano ao paciente durante a sessão de vegetoterapia, visando à mobilização de determinados músculos e consequente afrouxamento do bloqueio energético” (NAVARRO, 1995, p. 13). Em relação aos actings que atuam no segmento diafragmático, Navarro afirma:

Revisando os actings respiratórios, podemos considerar que:

1) O acting do “gato” age direta e ativamente sobre o diafragma; 2) O acting da “respiração simples”, descendo os ombros, age

ativamente sobre a respiração nucal e escapular, além do diafragma;

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3) O acting da “respiração do remador” age ativamente sobre a respiração nucal, escapular e diafragmática, e passivamente sobre a respiração pélvica;

4) O acting da “respiração de medusa” age direta e ativamente sobre todos os componentes respiratórios (NAVARRO, 1996, p. 79).

Os actings propostos por Navarro, além de posturas e movimentos expressivos, também utilizam a vocalização da vogal "a". Entendemos que esta vocalização atua de modo integrado sobre o diafragma e sobre os segmentos acima dele, fazendo uso da função de fonação (com todas suas implicações psíquicas).

É interessante notar que os actings propostos por Navarro atuam também sobre grupos musculares inspiratórios acessórios, em especial a musculatura nucal e escapular. Nesse sentido, Navarro afirma:

De fato, temos uma respiração escapular e nucal, em que a atividade diafragmática é ajudada e reforçada pela ação dos músculos occipital, escaleno, espinhal e escapular; e uma respiração pélvico-abdominal, pela intervenção dos músculos transversos, particularmente importantes na expiração. Lembremos que o abdômen e a pélvis têm estreitas relações, de tipo agonista-antagonista, com o períneo, chamado de diafragma de baixo (NAVARRO, 1996, p. 78).

Existe, portanto, uma preocupação de Navarro com a relação entre os diferentes segmentos e com um trabalho de desencouraçamento integrado. Isso se reflete nos actings que contemplam os músculos inspiratórios nucais e escapulares, mas também pelo fato de que na sua metodologia de trabalho, que também segue o sentido céfalo-caudal, as intervenções corporais são recursivas, ou seja, para cada novo segmento que se trabalha, sistematicamente revisitam-se os segmentos anteriores. Assim, nas sessões destinadas a trabalhar com o diafragma, também voltarão a ser realizados, por exemplo, actings sobre o segmento cervical. Entendemos que o retorno concomitante a segmentos anteriores, bem como as intervenções pélvicas são importantes em função das relações que o diafragma estabelece com todo o corpo.

Souchard também nos apresenta várias possibilidades terapêuticas. Suas técnicas são apresentadas dentro do contexto do método da Reeducação Postural Global (RPG), do Stretching Global Ativo (SGA) ou das Autoposturas, no entanto, em nosso entendimento são passíveis de uso adaptado e criterioso dentro da terapia reichiana. Assim, dependendo do tipo de disfunção e das características do paciente, Souchard (1989a, 1989b) propõe abordagens diferentes e complementares:

− Manobras (massagens) de relaxamento diafragmático;

− Correções posturais manuais que o terapeuta faz no paciente;

− Práticas respiratórias, por exemplo, a “Reeducação Através da Expiração Profunda” ou a “Reeducação pelo Trabalho Paradoxal do Diafragma”.

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As autoposturas apresentadas em Souchard (1996?, 1997a, 1997b) são uma série de práticas que podem ser utilizadas pelo próprio paciente, sozinho, com o objetivo de obter um desbloqueio diafragmático, ainda que parcial.

Dentro do contexto da Bioenergética, Lowen propõe Exercícios Bioenergéticos com a finalidade de permitir que a pessoa perceba sua respiração, bem como alivie seu estresse e suas dores. Esta proposta aproxima-se, portanto, da proposta de autoposturas de Souchard. No livro Exercícios de Bioenergética, Lowen (1985, p.40) apresenta os seguintes exercícios específicos para a respiração:

− 5 - Respiração Abdominal;

− 5A - Variação: Balanço da Pelve;

− 5B - Variação: Expiração;

− 6 - Respiração e Vibração;

− 63 - Respiração Básica.

Para a realização destes exercícios, Lowen propõe dois "mandamentos": primeiro não prender a respiração. Se a pessoa perceber que está prendendo sua respiração, deve dar um suspiro. Segundo, emitir um som. O suspiro deve ser audível. Assim, o trabalho de Lowen também passa a incluir a fonação, de modo similar à proposta de Navarro.

Lowen afirma que “O exercício bioenergético básico de respiração é feito arqueando-se as costas para trás sobre um cobertor enrolado num banquinho de 60 cm de altura” (LOWEN, 1984, p. 39) e descreve os detalhes de tal prática. Este exercício, posteriormente, passou a ser feito com um banco específico (stool). Além disso, Lowen (1984, p. 40) descreve o uso do grounding e afirma que o mesmo estimula a respiração abdominal, ou seja, uma respiração com a musculatura abdominal relaxada.

Apesar da indicação dos exercícios bioenergéticos, Lowen afirma que:

Exercícios de respiração ajudam um pouco, mas não fazem nada para reduzir a tensão e restaurar o padrão respiratório natural. É preciso entender esses padrões de respiração natural e saber por que eles se desorganizam (LOWEN, 1985, p. 35).

Ainda na mesma linha, segundo Lowen:

Exercícios respiratórios simples geralmente ajudam muito pouco a superação dos problemas associados a uma respiração perturbada. As tensões musculares e os conflitos psicológicos que evitam a respiração profunda não são atingidos por esses exercícios (LOWEN, 1984, p. 37).

A explicação de Lowen para essas afirmações é que “trabalhar com as tensões musculares exclusivamente, sem a análise das defesas psíquicas e sem a evocação dos sentimentos reprimidos, não compõe um processo terapêutico” (LOWEN, 1982, p. 107). Não obstante, ele afirma que mesmo assim “é tão importante que cada pessoa se mantenha em contato com seu corpo e reduza seu nível de tensão que encorajamos todos os nossos pacientes a praticarem os exercícios bioenergéticos” (LOWEN, 1982, p. 107).

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Nós concordamos com essas afirmações de Lowen e consideramos que são válidas não só para os exercícios bioenergéticos ou para as práticas de reeducação corporal de Souchard, mas também para os actings de Navarro, para a Massagem Reichiana e para as intervenções corporais propostas pelo próprio Reich. Nenhuma destas técnicas é plenamente eficaz quando feita de modo mecânico ou ainda desvinculada de um processo terapêutico adequado que contemple a análise das resistências do caráter. É por isso que Reich afirmou:

As atitudes de caráter podem ser dissolvidas pela superação dos encouraçamentos musculares exatamente como as atitudes musculares podem ser dissolvidas pela remoção das atitudes de caráter. [...] Mas a experiência prática logo nos ensina que é tão inadmissível excluir uma forma de trabalho quanto a outra (REICH, 2004, p. 274).

Por outro lado, ainda que alguns destes exercícios e práticas sejam feitos fora de um processo terapêutico adequado, eles não são isentos de valor se forem realizados conscientemente, com atenção ao próprio organismo e sensações. Neste caso, eles colaboram no sentido de aliviar parcialmente a estase bioenergética e ampliar a autoconsciência corporal do indivíduo em relação aos seus bloqueios emocionais.

Por fim, citamos a Massagem Reichiana desenvolvida por Blanca Rosa Añorve e introduzida no Brasil por Denise Dessaune (DESSAUNE, 1988). Essa massagem consiste na manipulação direta da musculatura do paciente a partir de técnicas que permitem desbloquear a energia da couraça muscular e liberar as emoções retidas na couraça. Essa manipulação pode ser feita tanto sobre a musculatura inspiratória acessória, quanto sobre o próprio diafragma, neste caso em especial a parte do diafragma acessível ao toque, ou seja, a sua porção muscular costal (inserção nas costelas inferiores).

Com a breve apresentação destas técnicas, não pretendemos esgotar as possibilidades de intervenção na couraça diafragmática. Precisamos considerar que diversas culturas, em diferentes épocas e lugares, já conheciam a importância da respiração para a saúde do ser humano e utilizavam as mais diversas técnicas respiratórias nesse sentido26. Isso faz com que o interessado na pesquisa do assunto se depare com muitas teorias e diversas práticas respiratórias das quais pode fazer uso. Assim, caso o terapeuta reichiano opte por utilizar alguma destas técnicas, o ideal é que o seu funcionamento seja compreendido do ponto de vista reichiano, sendo julgada a sua adequação a partir deste paradigma.

Independente da técnica utilizada, consideramos que não é apenas a aplicação da técnica em si que proporcionará o resultado terapêutico adequado. Os actings, por exemplo, podem ser realizados mecanicamente, quando não passariam de curiosos "exercícios". Por outro lado, eles podem ser realizados em contato27, dentro de uma relação terapêutica, ocasião em que mostram seu valor no desbloqueio saudável da couraça muscular. No caso da Massagem Reichiana, Dessaune afirma que:

26 Vide, por exemplo, as práticas respiratórias milenares do Taoismo na China e da Yoga na Índia. 27 Trata-se de contato vegetativo, ou seja, da capacidade da pessoa perceber suas próprias correntes vegetativas, suas emoções e seus pensamentos (em síntese, sua “realidade interna”), bem como estabelecer uma relação profunda com outra pessoa a partir desta capacidade (ou seja, com a sua “realidade externa”).

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A principal característica da "massagem reichiana" é que diferentemente das demais massagens, a intervenção objetiva sempre a maior aproximação possível com a emoção (não necessariamente com a catarse). Nesse sentido, portanto, a relação terapeuta/paciente ocupa um lugar fundamental, ou seja, a relação tem que estar carregada, tem que haver contato para que a intervenção seja bem-sucedida (DESSAUNE, 1988).

Assim, nessa mesma linha de raciocínio consideramos que práticas das mais diversas origens podem ser utilizadas como meros "exercícios respiratórios" ou podem ser adaptadas para funcionar como actings terapêuticos se forem bem compreendidas e utilizadas.

7. CONCLUSÃO

Iniciamos este trabalho a partir de uma visão geral dos segmentos da couraça muscular propostos por Reich. Sem entrarmos em detalhes de todos os segmentos, nos propusemos a fazer um aprofundamento específico do segmento diafragmático.

O estudo do segmento diafragmático iniciou com a anatomofisiologia do músculo diafragma, principal músculo deste segmento. Além disso, também abordamos as relações do diafragma com as vísceras constituintes do segmento diafragmático e com órgãos e estruturas de outros segmentos da couraça: o tendão do diafragma (segmentos cervical e torácico) e o iliopsoas (segmento abdominal e pélvico).

Depois de visualizar os principais aspectos anatomofisiológicos e as relações do segmento diafragmático, abordamos a biomecânica da respiração, não só a partir da relação do diafragma com os pulmões, mas também considerando a atuação dos músculos inspiratórios acessórios (nucais, escapulares, torácicos e espinhais) e dos músculos expiratórios acessórios. O estudo anatomofisiologico do músculo diafragma completou-se com uma rápida visão de algumas de suas funções além da respiração: a de fonação, a digestiva, a circulatória e a estática.

A partir da visão anatomofisiológica evoluímos para uma descrição da função bioenergética do segmento diafragmático. Para isso foi apresentado o modelo de anatomia emocional de Keleman, a partir do qual se destacou a função de bomba bioenergética do diafragma. Vimos que o segmento diafragmático tem importância fundamental no funcionamento saudável de todo o corpo humano e, portanto, também é uma peça chave nas disfunções bioenergéticas do organismo como um todo.

O estudo da disfuncionalidade do segmento diafragmático da couraça começou por seus problemas específicos, mas em seguida adotou-se uma visão mais ampla, considerando como a disfunção deste segmento determina e é determinada pela disfunção de outros segmentos. Nessa linha, destacaram-se os exemplos da Hiperlordose Diafragmática e da Espondilite Anquilosante, bem como a possibilidade do distúrbio respiratório estar na base do transtorno da pulsação bioenergética característico de todas as biopatias.

Por fim, foram apresentadas diversas possibilidades de atuação terapêuticas no segmento diafragmático. As intervenções citadas não foram aprofundadas, mas foram referenciadas de modo a permitir ao leitor interessado um maior detalhamento das intervenções citadas.

Page 43: O SEGMENTO DIAFRAGMÁTICO · Figura 1 - Sete Segmentos da Couraça - Fonte: Adaptado de Baker (1980, pp. 66 e 67) Os segmentos da couraça tomam a forma de anéis de compressão muscular

IFP Reich – Instituto de Formação e Pesquisa Wilhelm Reich Jorge Ivan Hmeljevski

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Ao realizar este trabalho, visitamos diversas fontes de informação a respeito do segmento diafragmático, em especial aquelas relacionadas com o trabalho terapêutico reichiano. Isso teve como objetivo obter uma visão geral ampla o suficiente para permitir aprofundamentos posteriores. Nesse sentido, entendemos que os aprofundamentos possíveis são inúmeros, pois a importância e a complexidade do segmento diafragmático da couraça muscular tornam as suas possibilidades de estudo praticamente inesgotáveis.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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