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0 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - FHS CURSO DE PSICOLOGIA Vânia do Nascimento Sampaio O SENTIMENTO MATERNO MEDIANTE A DEFICIÊNCIA MENTAL DA FILHA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE Governador Valadares 2010

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE - UNIVALE

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - FHS

CURSO DE PSICOLOGIA

Vânia do Nascimento Sampaio

O SENTIMENTO MATERNO MEDIANTE A DEFICIÊNCIA

MENTAL DA FILHA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE

Governador Valadares

2010

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Vânia do Nascimento Sampaio

O SENTIMENTO MATERNO MEDIANTE A DEFICIÊNCIA

MENTAL DA FILHA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE

Monografia apresentada ao curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Vale do Rio Doce, como requisito parcial à obtenção do título de graduação em Psicologia. Sob a orientação da Profa. Ms. Adelice Jaqueline Bicalho.

Governador Valadares

2010

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Vânia do Nascimento Sampaio

O SENTIMENTO MATERNO MEDIANTE A DEFICIÊNCIA

MENTAL DA FILHA: CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de bacharel em Psicologia, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, ____ de ____________________ de_____ . Banca Examinadora:

______________________________________________________ Profa. Ms. Adelice Jaqueline Bicalho – Orientadora

Universidade Vale do Rio Doce

______________________________________________________ Prof. Omar de Azevedo Ferreira

Universidade Vale do Rio Doce

______________________________________________________ Prof. Ms.Walter Willian Pereira Barreto

Universidade Vale do Rio Doce

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Dedico este trabalho de conclusão de curso

de maneira especial aos meus pais,

ao meu amor Rivaldo, e aos amigos

que me incentivaram e acreditaram

no meu esforço e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao autor da vida, o DEUS da esperança e da realização de sonhos!

Agradeço a Aurora e Antônio Conrado meus pais, que com suas orações e sorrisos me

protegiam no seu aconchego e caminhavam os mesmos caminhos que os meus!

Minha família, em especial os meus irmãos que se orgulharam de cada realização e

obstáculos alcançados por mim!

Minha irmã Maria Cândida, que assim como uma mãe “suficientemente boa” mostrou-

me que diante das incertezas, seria melhor arriscar e que as possibilidades de acertar eram

viáveis a mim. Eu te amo!!

Ao meu amor Rivaldo, obrigada, pois com carinho abraçou meus desejos e o fez como

os dele. À sua família deixo minha gratidão como prova de amor!

Agradeço a família UNIVALE, pelas amizades construídas, pelas oportunidades

recebidas e pelos ensinamentos adquiridos.

Aos mestres, muito obrigada por compartilhar seus saberes, de forma especial

agradeço à professora e amiga Adelice que, além dos ensinamentos acadêmicos, ensinou - me

a amar o lindo oficio de ser psicóloga.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9

1 DEFICIÊNCIA MENTAL - (DM) .................................................................................... 12

1.1 HISTÓRICO DA DEFICIÊNCIA MENTAL .......................................................... 12

1.2 DEFICIÊNCIA MENTAL E A SOCIEDADE. ....................................................... 14

1.3 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES E DEFINIÇÕES DA DEFICIÊNCIA MENTAL. .................................................................................................................... 16

1.3.1 Sistema 92 da America Association on Mental Retardation – AAMR. ................. 16

1.3.2 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM – IV ................ 18

1.3.3 Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento - CID – 10 ............... 19

1.3.4 Sistema 2002 da American Association on Mental Retardation – AAMR ........... 19 2 A DEFICIÊNCIA MENTAL NO CONTEXTO FAMILIAR ............................................. 24

2.1 RELAÇÃO MÃE E FILHA: UMA LEITURA PSICANALÍTICA...........................29

2.2.1- Relação Mãe e Filha Deficiente Mental .............................................................. 33

3 SOBRE A PESQUISA ..................................................................................................... 37

3.1 MÉTODO .............................................................................................................. 37

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA ............................................. 39 3.2.1 PAOPE - Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial.....39 3.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA .............................................................................. 40

3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .............................................................. 41

4 CONSIDERAÇOES FINAIS ......................................................................................... 512

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................54

APÊNDICE ......................................................................................................................... 62

ANEXO – QUESTIONARIO .............................................................................................. 63

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LISTAGEM DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Sistema 92 da America Association on Mental Retardation - AAMR ........... 17

Figura 2- Sentimento materno ao saber da deficiência mental da filha.......................... 41

Figura 3- Permanência dos sentimentos de origem sobre a deficiência mental.............. 44

Figura 4- Recebimento de orientação a cerca da deficiência mental da filha................. 46

Figura 5- Pessoas que informaram sobre a deficiência mental da filha, para a mãe....... 46

Figura 6- Verificação se mães e filhas recebem acompanhamento psicológico............. 49

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RESUMO

Em função das perspectivas de inclusão da pessoa com deficiência mental, sua saúde física, odontológica e psicológica ganha destaque sendo objeto de recentes estudos. A psicanálise, nestes estudos, vem contribuir discutindo sobre a constituição do sujeito com deficiência mental, sujeito este que se faz na relação materna, na díade mãe/filha. O objetivo principal é demonstrar, com base na psicanálise, quais os sentimentos que permeiam a relação da mãe para com sua filha deficiente mental, essa atendida no Pólo Integrado de Assistência Odontológica ao Paciente Especial - PAOPE - no ano de 2009. Pretendeu-se ainda, conceituar e caracterizar a deficiência mental nessas pacientes, correlacionando a relação mãe e filha sob o olhar psicanalítico. A metodologia utilizada foi o método quantitativo e qualitativo baseado em uma pesquisa bibliográfica, que orientou teórica e metodologicamente a pesquisa de campo empreendida através de aplicação das entrevistas com as mães dos sujeitos selecionados no PAOPE, entre a faixa etária de sete aos trinta e três anos. A relevância desta pesquisa consiste na informação para os interessados sobre o sentimento das mães para com filhas portadoras de deficiência mental. Além de colaborar com profissionais que lidam com pessoas com esse tipo de deficiência e também com a família do portador da deficiência, se revestindo de importância para o futuro trabalho dos estagiários de psicologia e odontologia no PAOPE.

Palavras Chave: Deficiência mental. Sentimento materno. Psicanálise.

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ABSTRACT

Depending on the prospects for inclusion of people with mental disabilities, physical health, dental and psychological care is highlighted as an object of recent studies. Psychoanalysis, in these studies contributes discussing the constitution of the subject with intellectual disabilities, this guy who makes the mother-infant relationship in the dyad mother / daughter. The main objective is to demonstrate, based on psychoanalysis, what are the feelings that permeate the relationship of mother's affection toward her daughter mentally deficient, that served in the Hub Integrated Dental Care Patient Special - PAOPE - in 2009. It was still intended, conceptualize and characterize the mental disability in these patients, correlating the mother and daughter under the gaze of psychoanalysis. The methodology used was qualitative and quantitative method based on a literature review, method and theory, which guided the fieldwork undertaken through the application of interviews with the mothers of the subjects selected in PAOPE between the ages of seven to thirty-three years . The relevance of this research consists of information for those concerned about the feelings of mothers with daughters for mentally handicapped. In addition to collaborating with professionals dealing with people with such disabilities and also with the family of bearer of disability, be of importance for the future work of the trainees in psychology and dentistry in PAOPE.

Keywords: Mental retardation. Maternal feelings, Psychoanalysis.

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INTRODUÇÃO

A Deficiência mental é a designação que caracteriza os problemas que ocorrem no

cérebro e levam a um baixo rendimento, mas que não afetam outras regiões ou áreas

cerebrais. Em minha trajetória acadêmica no curso de psicologia tive grande interesse a

respeito da deficiência mental, tendo inclusive participado de algumas propostas voltadas para

o tema, entre elas as disciplinas que abordavam o mesmo (tópicos especiais em psicologia).

Mas, foi à disciplina Psicologia dos Portadores de Necessidades Especiais (PPNE) que me

despertou maior interesse e que me fez decidir pelo estágio obrigatório do 7º período, sob

supervisão do Prof. Walter Willian Barreto no Pólo Integrado de Atendimento Odontológico

ao Paciente Especial - PAOPE, realizando atividades como: entrevistas psicológicas com as

mães dos pacientes que submeteriam ao tratamento odontológico, intervenção no momento do

atendimento junto às mãe e aos estagiários, esclarecimento a respeito da importância de um

atendimento sem agressões psicológicas e da melhor atitude para com os pacientes a fim de

evitar choros, resistências e ou situações traumatizantes.

Trabalhei também com os estagiários da odontologia, da nutrição, da enfermagem com

palestras informativas tendo como referência bibliográfica as funções maternas em Winicott

(2005), para que pudessem entender a importância da participação da mãe no atendimento, o

respeito pelo universo infantil, as suas limitações e a melhora no atendimento para que o

processo pudesse ser amigável e não traumático.

A família constitui o esteio indispensável em que o ser humano se apóia para construir as bases da personalidade. A partir dessa perspectiva desenvolvimentista, é fácil imaginar que para este autor, a família continua exercer influencia na criança que cresce no adolescente e até no adulto. Se essa influência descreve uma curva decrescente, ela nunca pára por completo (WINNICOTT, 2005 in J.D. Nasio).

E, desta forma, fui convidada a permanecer no estágio como extensionista por mais

um ano e seis meses, o que equivale a dois anos de atuação no setor do Materno Infantil. A

partir de então comecei a observar nas dependências do PAOPE, onde são feito os tratamentos

odontológicos de pacientes com vários tipos de deficiências, dentre eles a deficiência mental,

a rotina das mães dos pacientes, e a atitude para com seus filhos. Desta maneira, decidi

pesquisar mais sobre a deficiência mental e, sobretudo os sentimentos das mães e a relação

que tinham no cuidado destes filhos.

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Em janeiro de 2009, com a oportunidade de participar do Projeto Rondon, no

município de Rorainópolis em Roraima, onde foi realizado o trabalho proposto no referido

projeto, deparei- me com a angústia por parte dos familiares, dos gestores e dos professores,

quando se tratava do tema inclusão escolar, principalmente quando falávamos da inclusão da

pessoa com deficiência mental.

Sendo assim, este foi também um fator que me impulsionou a persistir no propósito de

pesquisar e saber mais sobre a Deficiência Mental, especificamente saber como se dava a

relação das mães com suas filhas com esta deficiência. De como a psicanálise poderia

contribuir com os inúmeros questionamentos, sentimentos e dificuldades por parte das

pessoas, que por ignorância, medo ou despreparo se sentem imobilizadas e restritas no trato e

no contato com a deficiência mental.

O objetivo geral desta pesquisa é demonstrar, quais os sentimentos permeiam a relação

da mãe com sua filha deficiente mental, atendida no PAOPE no ano de 2009. Objetivou – se

ainda, de maneira especifica; conceituar e caracterizar a deficiência mental, identificar

pacientes femininas atendidas no PAOPE em 2009 e a relação com suas mães, correlacionar a

ligação da mãe com a filha deficiente mental e os sentimentos maternos percebidos nesta

ligação e por fim relacionar as dificuldades apontadas pela mãe no convívio com a filha

deficiente mental em atendimento no PAOPE no ano de 2009.

E estes objetivos só foram propostos, a partir do problema questionado, sobre quais os

sentimentos permeiam a relação das mães de filhas com deficiência mental, em tratamento

odontológico no PAOPE?

O presente trabalho foi subsidiado pelo o método quantitativo, com contribuições

qualitativas que baseou- se em uma pesquisa bibliográfica, que orientou teórica e

metodologicamente a pesquisa de campo empreendida

A pesquisa foi desenvolvida a partir das etapas, a saber, respeitando as limitações tratadas adiante:

1º) Pesquisa bibliográfica;

2º) Levantamento dos dados em prontuários, verificação de anamnese das pacientes do

sexo femininas não órfãs, cujo tenham diagnóstico de deficiência mental com a idade

entre sete anos a trinta e três anos e que estejam em tratamento odontológico no ano de

2009 no Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial – PAOPE;

3º) Pesquisa de campo, aplicação questionário nos sujeitos selecionados, se adequados

aos critérios do item 2;

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4º) Tabulação, Análise e compreensão dos dados, conforme a problematização

proposta.

O cenário desta pesquisa é a Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, localizado

no município de Governador Valadares em Minas Gerais. A amostra foi de mulheres, não

órfãs de mãe, com diagnóstico de deficiência mental e que estejam em tratamento no ano de

2009 no Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial - PAOPE.

O estudo aconteceu no período de 24 de agosto de 2009 a 18 de março de 2010, no

setor do Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial – PAOPE, na

Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

O presente trabalho foi dividido em quatro capítulos: No primeiro capítulo aborda – se

o histórico da deficiência mental, desde a antiguidade até os tempos atuais, verificando os

possíveis fatores sócios – econômicos e culturais que regem a sociedade a comportamentos

diversos sobre o tema proposto, ainda no primeiro capitulo, verifica também, a respeito da

classificação e das definições sobre a deficiência mental. No segundo capítulo, aborda a

deficiência mental no contexto familiar, a grande dificuldade no que diz respeito à vinda de

um filho com deficiência mental, a aceitação e o acolhimento familiar, e faz uma leitura

psicanalítica sobre a relação que se dá entre mãe e filha nas questões simbólicas, subjetivas e

no que esta relação pode interferir no desenvolvimento do infans e na feminalidade da mãe. E

por fim, no terceiro capítulo, se faz uma discussão sobre a pesquisa, caracteriza o campo da

pesquisa e analisa os dados.

A relevância desta pesquisa consiste, na informação para os interessados no assunto

sobre o sentimento das mães de filha com deficiência mental, o que certamente colaborará

com profissionais que lidam com pessoas com esta deficiência e sua família. Também se

reveste de importância para o futuro trabalho dos estagiários de psicologia e odontologia no

PAOPE - Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial.

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1 DEFICIÊNCIA MENTAL - (DM)

1.1 HISTÓRICO DA DEFICIÊNCIA MENTAL

É de suma importância conhecer o que diz respeito à concepção da deficiência mental,

que de certa forma esteve próximo das concepções sócio-econômicas do homem e da

sociedade. Este capítulo se destina atracar percurso histórico sobre o conceito de deficiência

mental.1

Na antiguidade a deficiência era vista e tratada conforme as idéias da sociedade

clássica e classista da época, cujas crianças deficientes mentais eram abandonadas ao relento

(ARANHA, 1995; CASARIN, 1999; PESSOTI, 1984; SCHWARTZMAN, 1999). Entende -

se que essa atitude era coerente com as idéias morais que norteavam aquela época,

valorizando o individuo em sua eugenia e perfeição, e para a validação desta afirmação

segundo Pessoti (1984), (...) em Esparta, crianças portadoras de deficiências físicas ou

mentais eram consideradas sub-humanas, o que legitimava sua eliminação ou abandono.

Miséis (1977), se refere à Grécia baseando - se no texto de Platão a fim de demonstrar

o quanto naquela época se valorizava e cultuava a perfeição em relação ao corpo: Quanto aos

filhos de sujeitos sem valor e ais que foram mal constituídos de nascença, as autoridades os

esconderão como convém, num lugar secreto que não deve ser divulgado (A República)

(MISÉIS, 1977, apud CARVALHO, 1997, p. 14).

Na idade média a deficiência era atribuída a um fenômeno metafísico e ou espiritual,

conforme a influência da igreja cristã a deficiência mental era atribuída ao divino ou ao

demoníaco. Sendo que esta concepção se refletiu na forma de tratamento das pessoas

deficientes que, a partir de então, foram percebidos como possuidores de uma alma, portanto

passaram a serem vistos como filhos de Deus, deixando assim de serem abandonados, sendo

acolhidos em instituições de caridade. Porém ao mesmo tempo em que esta concepção do

bom cristão foi surgindo, ainda assim os deficientes mentais eram vistos como produtos da

união da mulher e do demônio, o que lhes davam o direito de queimar mãe e filho

(SCHWARTZMAN, 1999), tantas práticas de maus tratos, punições e torturas que aconteciam

1A construção deste capítulo tem como base a pesquisa bibliográfica intitulada: Deficiência Mental e Educação Inclusiva: Desafios para a Psicologia Escolar e Educacional, defendido no ano de 2007 por AMARAL, Nádia, sob a orientação de FERREIRA, Omar A, foi de grande valia como literatura e muito utilizada neste capítulo.

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no trato com os deficientes onde imperava a ambivalência da caridade e do castigo

(ARANHA e PESSOTI 1995, 1984).

No século VIII, na Inglaterra e na França predominava a cultura de que “os portadores

de deficiência mental eram protegidos por lei, portanto, tendo direito a um tutor e a um

curador para cuidar dos seus bens, chegando mesmo a gozar da tutela do próprio rei

(CARVALHO, 1997, p.16). Desta forma se confirma que, em algumas culturas, os portadores

de deficiência recebem melhor tratamento e enquanto noutras são rejeitados e até

assassinados.

Acontece no final do século XV a revolução burguesa e, com ela, a mudança na

concepção de homem e sociedade, o que contribui também para a mudança no que diz

respeito à concepção da deficiência, que passa a ter a conotação voltada para a economia da

época, e assim o individuo com deficiência era tido como um não produtivo. Neste mesmo

período, com o avanço da medicina, a deficiência mental que antes era ligada a questões

espirituais passa a ser vista como um problema organicista.

A concepção da deficiência nos séculos XVI e XVII fora ampliadas em todas as áreas

de conhecimento equivalendo a muitas atitudes diante da deficiência mental. Foi com John

Locke (1690), que surge à concepção naturalista onde a mente passa ser entendida como uma

página em branco, o que faz da deficiência mental ser considerada em estágios: Carências de

idéias e operações intelectuais semelhantes aos de um recém nascido. Alguns pesquisadores

apontam como a origem da crença na educabilidade da pessoa com deficiência mental.

As tentativas educacionais iniciaram - se no século XVIII, quando o médico e

reeducador de surdos - mudos Jean M.Gaspard Itard (1744 - 1938), atendeu Victor o menino

selvagem encontrado nas florestas de Aveyrton, na França. Porém apenas no século XIX

surgiram às observações a respeito da responsabilidade pública, quando Esquirol (1772 -

1840) cria o primeiro termo para o retardamento mental, idiotia. Ele separa idiotismo

adquirido, curável, do idiotismo congênito, que para ele, será a idiotia; o idiotismo adquirido

tornar-se a forma aguda da demência (BERCHERIE, 2001, p.130).

Diante desta concepção patogênica os idiotas não obtinham tratamentos e nem

conhecimentos educacionais, Bercherie (2001), esclarece que Philippe Pinel (1754 -1826), o

médico francês em seu “Tratado da Mania” já descrevia o idiotismo:

... uma obliteração das faculdades intelectuais e afetivas do conjunto da atividade mental, ficando o sujeito reduzido a uma existência vegetativa, com alguns resquícios de manifestações psicológicas: devaneios, sons semi-articulados, crises de agitação (BERCHERIE, 2001, p.130).

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O estado (idiotismo) poderia ser, adquirido e curável ou congênito e irreversível, o

pioneiro na definição da loucura como doença, diferencia o idiotismo da demência, do delírio

geral maníaco e do delírio parcial melancólico, e entende a deficiência mental como uma

questão da neuropatologia. Bercherie (2001), citado ainda Georget sendo o primeiro aluno de

Esquirol, que com sua obra diferencia a idiotia do delírio ou outras doenças, dando o

significado a idiotia adquirida com o termo de estupidez, o que concebe os idiotas verdadeiros

monstros em termos intelectuais.

A partir das discussões e idéias dos autores Philippe Pinel e Bercherie (2001), se

percebe é uma divisão da loucura do adulto e da doença congênita ou adquirida precocemente

na infância, observadas nos adolescentes e nos adultos, surge - se então o conceito de

psiquiatria da criança, considerando que a idiotia seja a loucura da criança, incluindo as

moções dos transtornos epiléticos.

No século XX, conforme cita Amaral e Ferreira (2007), se proliferou as idéias a

respeito da deficiência mental ampliando os modelos, metafísico, médico, educacional,

determinação social e o sócio - histórico, porém mesmo diante destes modelos a deficiência

mental continua sendo um fenômeno que ocorre no sujeito, portanto ele é portador de

deficiências.

O sistema sócio - econômico capitalista pressupõe que a deficiência mental ampliando

seja sinônimo de improdutividade e desvio, uma vez que o capitalismo exige produção

igualmente a todos os indivíduos inclusive aos deficiência mental, e estes que não atingem o

grau de exigência em relação à produção necessária, são tidos como desviantes.

A partir das informações antes citadas, o que se percebe no histórico da deficiência

mental, em termos de sociedade, é que a responsabilidade é do próprio deficiente por suas

deficiências e a contemporaneidade percorre caminhos atrelados a estas mesmas idéias.

1.2 DEFICIÊNCIA MENTAL E A SOCIEDADE

Algumas idéias construídas socialmente merecem destaques por serem impregnadas

da noção do que vem ser a deficiência mental, sendo vista como uma condição desvalorizada

do indivíduo deficiente.

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O significado da deficiência mental, por sua vez, possui duas funções “isto é, a de

determinar como a pessoa deficiência mental vai se comportar na sociedade e, também, os

padrões de conduta dos outros ao interagirem com esta pessoa.” (GLAT, 1995). A partir de

então estas idéias evidência a construção de que a deficiência é parte do contexto social em

que a pessoa vive.

Segundo Omote (1995), o deficiente mental possui algumas limitações em suas

capacidades e desempenhos; porém, há outras pessoas em nossa sociedade que também são

limitadas e que não são consideradas deficientes. Esse autor afirma que:

... o nome 'deficiente' refere-se a um status adquirido por estas pessoas. Daí, temos preferido utilizar o termo 'pessoa deficiente' a utilizar o termo 'pessoa portadora de deficiência'. Nesse modo de encarar a deficiência, uma variável crítica é a audiência, porque é ela que, em última instância, vai determinar se uma pessoa é deficiente ou não (OMOTE, 1995,p. 57, aspas do autor).

Segundo Bueno (1997), na atualidade alguns termos são usados para referir ao

deficiente mental, tais como “necessidades especiais” ou “necessidades educativas especiais”.

Incluindo todos que apresentam algum tipo de necessidade educativa especial, e desta forma

estes conceitos podem se perder na precisão e significar a incorporação de um grande número

sobre os quais não se tem a certeza efetiva de algum tipo de necessidade especial.

Os autores Omote (1995) e Martins (1996), trazem a discussão em relação ao termo

desviante, que atribuem a uma concepção impregnada da própria noção de deficiência mental

do qual se opõem e julgam que a concepção de desvio tem uma relação direta com as práticas

coletivas no trato com as pessoas deficientes, temos ainda Glat (1995), que justifica tais

comportamentos de rejeição da sociedade às pessoas deficientes mentais, como reflexo da

própria fragilidade social, pois tudo o que é diferente e anormal chama atenção e pode causar

variadas reações. Ainda se tratando da concepção desviante, para os autores Biklen e Duchan

(1994), esta advém de uma concepção de deficiência mental pautada pelo modelo médico, o

qual “classifica os indivíduos em categorias diagnósticas baseadas em seus sintomas e na

estrutura psicológica que presume que o comportamento reflete habilidades fixas” (p. 173). E

desta forma pressupõe uma normalidade adotada como comparativo a deficiência mental, e a

crítica por parte destes autores é de que, essa idéia normativa de deficiência mental em que

pessoas tidas como “normais”, seja um parâmetro de comparação e diagnóstico da deficiência

mental.

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1.3 SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÕES E DEFINIÇÕES DA DEFICIÊNCIA MENTAL

Esta nova classificação traz importantes implicações no sistema de prestação de serviços

as pessoas com Deficiência mental. E essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual,

que seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de

adaptação. Na sociedade ainda é muito presente a cultura do preconceito, da discriminação e da

caridade frente à deficiência mental.

Neste século o grande marco é o movimento de inclusão social, que luta pela efetivação

das leis para o reconhecimento dos direitos do deficiente mental, numa proposta de não

aceitação a discriminação que inferiorize a deficiência mental, deste modo já existe mudanças e

perspectivas multidimensional em andamento.

Todo este movimento precisou de muito tempo, de muitas discussões, e grandes foram

às dificuldades ao longo das pesquisas. Culturalmente se mantêm a idéia da deficiência mental

de maneira inferior, excludente e preconceituosa em relação ao sujeito que apresenta algum tipo

de característica ou sintomas da deficiência.

1.3.1 Sistema 92 da America Association on Mental Retardation – AAMR.

Segundo Carvalho e Maciel (2003) apud Amaral e Ferreira (2007), a AAMR sediada

em Washington, foi criada em 1876. Desde então, vem liderando o campo de estudo sobre

deficiência mental, definindo conceituações, classificações, modelos teóricos e orientações de

intervenção em diferentes áreas. Dedica-se à produção de conhecimentos, que tem publicado

e divulgado em manuais contendo avanços e informações relativos à terminologia e

classificação. Desde o primeiro manual, editado em 1921, revisões se sucederam na seguinte

ordem cronológica: 1933, 1941, 1957, 1959, 1961, 1973, 1977, 1983, 1992 e o atual, de 2002.

De acordo com Evangelista (2003), a American Association on Mental Retardation

(AAMR - 92) se refere ao retardo mental como uma limitação substancial no funcionamento e que

se manifesta antes dos 18 anos, caracterizado por funcionamento intelectual significativamente

abaixo da média havendo concomitantes limitações relatadas em duas ou mais das áreas de

habilidades adaptativas, que serão resumidas na figura 1.

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Figura 1: Tabela do Sistema 92 da America Association on Mental Retardation – AAMR

Áreas de habilidades adaptativas Comunicação: Inclui capacidade de compreender e de expressar informações por

meio de condutas simbólicas ou condutas que não sejam simbólicas, tais como: expressão facial, movimento corporal, toques e gestos.

Cuidados Pessoais: Relacionados com anseio, alimentação higiene e aparência pessoal. Atividade da vida do lar: Correspondentes ao funcionamento dentro do lar, que incluem os

cuidados pessoais, as tarefas e planejamentos diários, e à segurança cotidiana.

Habilidades Sociais: Referente ao intercâmbio social, que inclui todo processo de interação com os outros, responder aos indícios situacionais pertinentes, reconhecer sentimentos, adequar - se as condutas e às leis e mostrar um comportamento sócio-sexual adequado. Estão relacionadas às atividades de vida no lar e aplicação das habilidades acadêmicas funcionais.

Uso de recursos comunitários: Utilização adequada dos recursos da comunidade como transportes, supermercados, serviços públicos de saúde, educação, lazer, dentre outros. Também se referem ao comportamento na comunidade, à comunicação de preferências e necessidades, a interação social e à aplicação das habilidades acadêmicas funcionais.

Independência: Consiste nas habilidades relacionadas com aprendizagem e o seguimento de horários, de finalização de tarefas necessárias ou exigidas, de resolução de problemas em situações tanto novas quanto familiares e condições de auto defesa.

Saúde e Segurança: Referente à manutenção da própria saúde, ao reconhecimento de seu estado físico, ao tratamento e prevenção, aos primeiros cuidados, a sexualidade e considerações básicas de segurança, tais como: seguimento de regras ou leis, atuação com desconhecidos e pedidos de ajuda. Estão incluídos os hábitos pessoais e a aplicação das habilidades acadêmicas funcionais.

Habilidades acadêmicas: Referem - se às habilidades cognitivas e aquelas que correspondem ao aprendizado escolar, cuja aplicação se dá na vida pessoal. Essas habilidades não dizem respeito ao alcance de determinado nível acadêmico, mas aquisição e utilização delas, tendo por finalidade uma vida independente.

Trabalho: Correspondem as habilidades relacionadas com o trabalho onde o indivíduo deve ter conduta social adequada e condições de execução da atividade que esta realizando, sempre aplicando as habilidades acadêmicas funcionais.

Fonte: American Association on Mental Retardation (AAMR - 92) apud EVANGELISTA, 2003.

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1.3.2 Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais - DSM – IV

O DSM - IVé uma classificação categorial. Estabelece categorias descritivas com base

em sintomas e comportamentos, agrupando-os em síndromes ou transtornos (não

necessariamente mentais). A inclusão do retardo mental entre suas categorias deve-se a essa

abrangência, não significando sua identificação como transtorno mental.

Publicado em 1994, o DSM - IV é posterior ao Sistema 2002 da AAMR. Desse modo,

adotou do Sistema 92 a terminologia retardo mental bem como sua definição:

Funcionamento intelectual significativamente abaixo da média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo, em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, auto cuidado, vida doméstica, habilidades sociais / interpessoais, uso de recursos comunitários, auto-suficiência, habilidades acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança. O início deve ocorrer antes dos dezoito anos de idade (LUCKASSON e COLS, 1992, p. 5).

Para ajustar a categoria da deficiência mental ao formato de critérios, como aplica aos

transtornos mentais incluídos em sua categorização, os autores do DSM - IV consideraram:

a) As limitações do funcionamento intelectual, como critério A;

b) As limitações nas habilidades adaptativas, como critério B;

c) A idade de início das manifestações ou sinais da deficiência, como critério C.

O DSM - IV (2000) continua-se adotando uma classificação de deficiência mental

proposta pelo manual da AAMR de 1959, definindo as seguintes categorias:

a) retardo mental leve (nível de QI 50-55 até aproximadamente 70);

b) retardo mental moderado (nível de QI 35-40 até 50-55);

c) retardo mental severo (nível de QI de 20-25 até 35-40);

d) retardo mental profundo (nível de QI abaixo de 20 ou 25).

O DSM-IV acrescenta uma categoria - retardo mental de gravidade inespecificada,

aplicando-a quando as condições deficitárias da pessoa não permitem mensuração da

inteligência.

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1.3.3 Classificação de transtornos mentais e de comportamento - CID – 10

O CID - 10 consiste num sistema categorial de descrições diagnósticas com base na

organização de síndromes. Segundo Carvalho e Maciel (2003), o CID – 10 “a exemplo do

DSM-IV, declara - se um modelo categórico e caracteriza-se por uma inspiração organicista.

Sua afinidade com o DSM-IV resulta de intercâmbio entre seus elaboradores.”

Em relação à deficiência mental, o CID-10 admite a mensuração de QI como

definidora da deficiência e, com base nesse índice, aplica seu sistema de classificação. A

exemplo do DSM - IV adota a classificação proposta pela AAMR de 1959 a 1983, com

algumas reformulações:

a) Retardo mental leve;

b) Retardo mental moderado;

c) Retardo mental grave;

d) Retardo mental profundo;

e) Outro retardo mental;

f) Retardo mental não especificado.

Admitindo o caráter sumário da classificação, os autores da CID-10 admitem a necessidade de

um sistema mais amplo e específico para a deficiência mental.

1.3.4 Sistema 2002 da American Association on Mental Retardation – AAMR

O atual modelo proposto pela AAMR, o Sistema 2002, consiste numa concepção

multidimensional, funcional e bioecológica de deficiência mental, agregando sucessivas

inovações e reflexões teóricas e empíricas em relação aos seus modelos anteriores. Apresenta

a seguinte definição de retardo mental (expressão adota por seus proponentes):

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Deficiência caracterizada por limitações significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, como expresso nas habilidades práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de idade (LUCKASSON E COLS, 2002, p. 8, apud CARVALHO e MACIEL 2003, p. 4).

Segundo Carvalho e Maciel (2003), o que pode ser retirado desta atual definição é que,

não represente um atributo da pessoa, mas um estado particular de funcionamento conforme trata

o Sistema 2002. O alerta destes autores é de que: “Para que o diagnóstico se aplique, é necessário

que as limitações intelectuais e adaptativas, identificadas pelos instrumentos de mensuração,

sejam culturalmente significadas e qualificadas como deficitárias”. (2003, p.4)

É necessário que faça uma investigação ampla do histórico biopsicossocial, e as

interações deste individuo a fim de avaliar tais comportamentos se são aceitos e incentivados

culturalmente pelo meio circundante.

Alguns parâmetros influenciam essa qualificação: (a) os padrões de referência do meio circundante, em relação ao que considera desempenho normal ou comportamento desviante; (b) a intensidade e a natureza das demandas sociais; (c) as características do grupo de referência, em relação ao qual a pessoa é avaliada; (d) a demarcação etária do considerado período de desenvolvimento, convencionada e demarcada nos dezoito anos de idade. Os indicadores de atraso devem manifestar-se, portanto, na infância ou adolescência (CARVALHO e MACIEL, 2003, p. 4).

A proposta é baseada segundo Carvalho e Maciel (2003), num modelo teórico

multidimensional da AAMR (2002), que explicam a deficiência mental segundo cinco

dimensões, que envolvem aspectos relacionados à pessoa; ao seu funcionamento individual no

ambiente físico e social; ao contexto e aos sistemas de apoio, estão a seguir.

Dimensão I: Habilidades Intelectuais

A inteligência é concebida como capacidade geral, incluindo “raciocínio,

planejamento, solução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de idéias complexas,

rapidez de aprendizagem e aprendizagem por meio da experiência” (LUCKASSON e

COOLS, 2002, 40 apud CARVALHO E MACIEL (2003).

As habilidades intelectuais são objetivamente avaliadas por meio de testes psicométricos

de inteligência. A dimensão intelectual passa a constituir, no Sistema 2002, um dos indicadores de

déficit intelectual, considerado em relação às outras dimensões. Desse modo, a mensuração da

inteligência continua com muito peso, mas não é suficiente para o diagnóstico da deficiência. Os

seguintes requisitos são recomendados no processo avaliativo:

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... (a) a qualidade dos instrumentos de medida, considerando a validade dos testes e a adequação de seu uso; (b) a qualificação do avaliador para a aplicação e interpretação dos resultados dos testes empregados; (c) a seleção dos informantes quanto à sua legitimidade para fornecer dados sobre a pessoa que está sendo diagnosticada; (d) a contextualização ambiental e sociocultural na interpretação dos resultados do processo avaliativo; (e) a história clínica e social do sujeito; (f) as condições físicas e mentais associadas, que possam interferir nos resultados avaliativos das habilidades intelectuais (CARVALHO e MACIEL 2003, p 5).

Os instrumentos recomendados pela AAMR para mensuração da inteligência são: a

Wechsler Intelligence Scale for Children - WISC-III, Wechsler Adult Intelligence Scale -

WAIS-III, o Stanford-Binet-IV, a Kaufman Assesment Battery for Children.

Dimensão II: Comportamento Adaptativo

O comportamento adaptativo é definido como o “conjunto de habilidades conceituais,

sociais e práticas adquiridas pela pessoa para corresponder às demandas da vida

cotidiana.” (LUCKASSON e COOLS, 2002, p.40 apud CARVALHO E MACIEL, 2003,

p.5). Limitações nessas habilidades podem prejudicar a pessoa nas relações com o ambiente e

dificultar o convívio no dia a dia.

Segundo as pesquisas feitas por Carvalho e Maciel (2003), do qual subdivide as

habilidades conceituais, em sociais e práticas que constituem áreas do comportamento

adaptativo, explicadas a seguir.

a) Habilidades conceituais – relacionadas aos aspectos acadêmicos, cognitivos e de

comunicação. São exemplos dessas habilidades: a linguagem (receptiva e expressiva);

a leitura e escrita; os conceitos relacionados ao exercício da autonomia;

b) Habilidades sociais – relacionadas à competência social. São exemplos dessas

habilidades: a responsabilidade; a auto-estima; as habilidades interpessoais; a

credulidade e ingenuidade (probabilidade de ser enganado, manipulado e alvo de

abuso ou violência etc.); a observância de regras, normas e leis; evitar vitimização;

c) Habilidades práticas – relacionadas ao exercício da autonomia. São exemplos: as

atividades de vida diária: alimentar-se e preparar alimentos; arrumar a casa; deslocar-

se de maneira independente; utilizar meios de transporte; tomar medicação; manejar

dinheiro; usar telefone; cuidar da higiene e do vestuário; as atividades ocupacionais -

laborativas e relativas a emprego e trabalho; as atividades que promovem a segurança

pessoal.

As análises feitas pelas autoras citadas em relação aos dois sistemas AAMR

compreendem que:

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A definição de retardo mental proposta no Sistema 2002 diferencia-se do Sistema 92 quanto às habilidades adaptativas. Enquanto o Sistema 92 especifica essas habilidades em 10 grupos, a serem avaliadas sem instrumentos objetivos de mensuração, o Sistema 2002 indica a avaliação objetiva do comportamento adaptativo, categorizado em 3 grupos. Essa diferenciação pode ser constatada comparando-se as definições de deficiência mental dos dois sistemas (CARVALHO e MACIEL 2003, p. 6).

Conforme as referidas autoras destacam que o sistema 2002 indica para a avaliação do

comportamento adaptativo a utilização de instrumentos objetivos de mensuração, tais

instrumentos, existentes em quantidade e diversidade nos Estados Unidos, não estão

disponíveis com padronização brasileira. Os seguintes são recomendados: Vineland

Adaptative Behavior Scales (VABS), AAMR Adaptative Behavior Scales (ABS), Scales of

Independent Behavior (SIB-R), Comprehensive Test of Adaptative Behavior-Revised

(CTAB-R) e Adaptative Behavior Assesment System (ABAS).

Uma discussão proposta por Carvalho e Maciel (2003), é do questionamento sobre o

uso de instrumentos objetivos na avaliação das habilidades adaptativas, tendo em vista os

componentes subjetivos, interativos e contextuais que constituem o comportamento adaptativo.

Dimensão III: Participação, interações, papéis sociais

Essa dimensão ressalta a importância da participação na vida comunitária. “Em relação ao

diagnóstico da deficiência mental, dirige-se à avaliação das interações sociais e dos papéis

vivenciados pela pessoa, bem como sua participação na comunidade em que vive”. (CARVALHO

e MACIEL, 2003, p.6). A observação e o depoimento são procedimentos de avaliação indicados

para essa dimensão, tendo em vista a consideração dos múltiplos contextos envolvidos e a

possibilidade diversificada de relações estabelecidas pelo sujeito no mundo físico e social

Dimensão IV: Saúde

De acordo com Carvalho e Maciel (2003), as condições de saúde física e mental

influenciam o funcionamento de qualquer pessoa. Facilitam ou inibem suas realizações. A

AAMR (2002), indica a necessidade de contemplar, na avaliação diagnóstica da deficiência

mental, elementos mais amplos, de modo a incluir fatores etiológicos e de saúde física e

mental.

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Dimensão V: Contextos

A dimensão contextual considera as condições em que a pessoa vive, relacionando-as com

qualidade da vida. Os níveis de contexto considerados estão de acordo com a concepção de

Bronfenbrenner (1979), incluindo:

a) O microssistema, o ambiente social imediato, envolvendo a família da pessoa e os

que lhe são próximos;

b) O mesossistema, a vizinhança, a comunidade e as organizações educacionais e de

apoio;

c) O macrossistema, o contexto cultural, a sociedade, os grupos populacionais.

São considerados na avaliação diagnóstica as práticas e valores culturais; as oportunidades educacionais, de trabalho e lazer, bem como as condições contextuais de desenvolvimento da pessoa. São consideradas, também, as condições ambientais relacionadas ao seu bem-estar, saúde, segurança pessoal, conforto material, estímulo ao desenvolvimento e condições de estabilidade no momento presente. (CARVALHO e MACIEL, 2003, p. 6).

Segundo Carvalho e Maciel (2003), a importância dos sistemas de apoio vem sendo

enfatizada desde o Sistema 92 da AAMR. Os apoios são identificados como mediadores entre

o funcionamento do sujeito e (...) dimensões focalizadas no modelo teórico. Quando

necessários e devidamente aplicados, os apoios desempenham papel essencial na forma como

a pessoa responde às demandas ambientais, além de propiciarem estímulo ao

desenvolvimento e à aprendizagem da pessoa com deficiência mental ao longo da vida.

Para Turk (2003), o modelo de apoio proposto pela AAMR nos Sistemas 92 e 2002

representa um paradigma inovador. Dá sentido ao diagnóstico, cujo objetivo principal consiste

em identificar limitações pessoais, a fim de desenvolver um perfil de apoio adequado, na

intensidade devida, perdurando enquanto durar a demanda.

Todos os sistemas e formas de classificações nos modelos propostos, são de muita

importância para a compreensão dos estudos e pesquisas empreendidos na compreensão e

entendimento a deficiência mental ampliando. Mas. Não se pode perder de vista que os

critérios de diagnóstico, qualquer que seja não abarca o sujeito deficiência mental ampliando

na sua subjetividade. Mas é saber de todos, que na realidade, muitos são os erros cometidos e

displicências no trato com o deficiente mental. As instituições de acolhimento e atendimento

na pessoa de alguns profissionais estão despreparadas, as informações a cerca do “problema”

ainda são pouco esclarecedoras, e muito ainda se deve fazer, porém não é propósito a partir

desta crítica, desmerecer o quanto foi feito até aqui.

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2 A DEFICIÊNCIA MENTAL NO CONTEXTO FAMILIAR

A família é considerada o primeiro universo de relações sócias, e deve proporcionar

especialmente ao deficiente mental um ambiente de crescimento e desenvolvimento, já que o

mesmo requer atenção e cuidados específicos. É de competência da família no que diz

respeito à influência no desenvolvimento de suas crianças que se dá primordialmente, através

das relações estabelecidas por meio de uma via fundamental que é a da comunicação tanto

verbal como não verbal. Segundo Rey e Martinez (1989), “a família representa, talvez, a

forma de relação mais complexa e de ação mais profunda sobre a personalidade humana,

dada a enorme carga emocional das relações entre seus membros” (p. 143).

Conforme Dessen & Lewis (1998), a interação dos membros familiares aponta que o

desenvolvimento do individuo não pode ser isolado do desenvolvimento da família, que

constitui um grupo com dinâmicas de relação diversificadas, cujo funcionamento muda em

decorrência de qualquer alteração que venha a ocorrer em um de seus membros ou no grupo

como um todo.

Para Kreppner (1992), a rede de relações da família possui características específicas

de unicidade e complexidade, constituindo um contexto em desenvolvimento, cuja

complexidade das relações familiares que pode, também, ser entendida por meio da

perspectiva da família como um ambiente não compartilhado, onde as relações desenvolvidas

entre seus membros geram experiências diferenciadas para cada um. Portanto, cada membro

da família vivencia, de maneira particular, a chegada de uma criança com deficiência. É com

intensidade o impacto sentido pela família ao se deparar com algum tipo de deficiência em

um dos seus membros “esse momento é traumático, podendo causar uma forte

desestruturação na estabilidade familiar” (BRITO e DESSEN, 1999).

Os autores Petean e Taveira (1995), apontam para um momento inicial sentido como o

mais difícil para a família, a qual tem que buscar a sua reorganização interna que, por sua

vez, depende de sua estrutura e funcionamento enquanto grupo e, também, de seus membros,

individualmente.

A partir da descoberta da deficiência mental, o processo se torna longo e a família

passa por vários desafios de superação e então muitos sentimentos permeiam desde o choque,

a negação, a raiva, a revolta a rejeição e dentre outros. Na tentativa de alcançar a aceitação de

sua criança com deficiência mental, a família tenta uma reconstrução do ambiente familiar,

afim preparar para incluir essa criança como um membro integrante da família. Segundo

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Casarin(1999), “a reorganização familiar fica mais fácil quando há apoio mútuo entre o

casal”.

Conforme (DESSEN, 1997 E KREPPNER, 1992) “o ambiente pode também dificultar

essa reorganização interna da família, principalmente porque o nascimento de uma criança,

por si só, já acarreta alterações que constituem um desafio para todos os membros

familiares”.

A reorganização familiar de forma equilibrada equivale a variadas maneiras e depende

dos recursos psicológicos utilizados. Conforme (GALLIMORE, COOTS, WEISNER,

GARNIER E GUTHRIE, 1996),“as adaptações das famílias de criança (...) apresentam um

panorama misto de continuidades e mudanças em seus padrões de interação até a segunda

infância da criança”.

O que sugere estes autores é que em todas as idades, a adaptação da família está

relacionada às características da criança, as quais exercem um impacto direto na rotina diária

dos membros familiares.

O nascimento de um filho é um acontecimento que vem provocar diversas

interferências no dinamismo familiar. Barbosa (2005), relata que desde as sociedades

primitivas, até a nossa civilização contemporânea (nos diferentes processos de aculturação do

homem, suas crenças, seus temores, seus valores e seus mitos) na maioria das famílias, o

nascimento de um filho deficiente faz desmantelar todo um castelo de sonhos, conscientes e

inconscientes dos pais. A autora expressa, ainda, que existe uma inversão de sentimentos

principalmente, porque os padrões de beleza e perfeição são pré - estabelecidos socialmente.

Então o nascimento do filho com deficiência causa choque, e a alegria é substituída por

tristeza, frustração, revolta, angustia e insegurança.

Apoiados em Amiralian (1986), concorda-se que maioria das famílias tem poucas

experiência com a espécie de mudanças que surgem na estrutura familiar, de modo a poder

lidar satisfatoriamente com um filho que é diferente em seu padrão de desenvolvimento e

conduta, e para o qual são necessários expectativas e objetivos divergentes dos valores sociais

assimilados. Segundo a autora, a presença de uma criança deficiente ou prejudicada cria uma

situação nova, nunca enfrentada anteriormente, caracterizando então uma crise. Ainda com

base em Amiralian (1986), a decisão de ter um filho está significativamente relacionada com a

satisfação das necessidades e desejos da pessoa.

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É algo agradável, que dá prazer, e algumas vezes passa a constituir a representação do ego-ideal que o individuo se sente incapaz de atingir. Considerando a expectativa de recompensa e gratificação, não é de surpreender que os pais reajam ao nascimento de uma criança deficiente como se tivesse perdido um ente querido, ou como se tivesse passado por um trauma, permanentemente enfraquecedor. Além disso, os pais vêem os seus filhos como extensões de si mesmos, e não estão jamais preparados para o nascimento de criança deficiente, que vem confirmar suas fantasias de inferioridade e representar a realidade manifesta do objeto interno ruim. (AMIRALIAN, 1986, p. 46).

A literatura pesquisada por (BRITO & DESSEN, 1999; CASARIN, 1999;

CUSKELLY & DADDS, 1992; LEARY & VERTH, 1995; SLOPER, KNUSSEN, TURNER

& CUNNINGHAM, 1991), tem demonstrado uma grande variedade de reações e sentimentos

vivenciados pela família, sugerindo que cada uma apresenta recursos diferentes para enfrentar

as dificuldades com suas crianças deficientes. O nascimento de uma criança deficiente mental

pode provocar várias reações e sentimentos dentro da família, bem como mudar a estrutura

familiar estabelecida antes de seu nascimento.

O que de modo geral se apresenta segundo (ALI & COLS, 1994; BRITO & DESSEN,

1999), é que as pressões vindas do meio social geram sentimentos desagradáveis, levando os

genitores a limitarem as atividades culturais de seus filhos deficientes, bem como os contatos

com amigos, parentes e vizinhos.

O fato é que para algumas famílias, sair de casa com o filho portador de necessidades

especiais, torna-se um verdadeiro martírio e é claro que quanto maior o grau de

comprometimento neuropsicomotor, maior é a dificuldade pela locomoção (BARBOSA,

2005).

A sociedade desempenha um papel fundamental na determinação de costumes,

valores, normas e padrões de comportamento nas famílias. E a forma como estes mesmos

padrões serão devolvidos à sociedade, depois de introjetados e vividos na sua originalidade,

pode tornar-se uma maneira de modificação social, e, por tudo isto se considera de suma

importância o estudo das raízes da dinâmica familiar das pessoas consideradas portadoras de

deficiência.

Segundo Buscaglia (1997), é a sociedade que freqüentemente define a deficiência

como uma incapacidade, algo indesejado e com limitações para quem a apresenta, geralmente

maiores do que as realmente existentes, já que é ela quem define os padrões de beleza e

perfeição. Dessa forma, faz com que a pessoa com deficiência sofra as conseqüências dessa

determinação através de estigmatizações, segregações e atitudes errôneas, baseadas em

princípios igualmente errôneos como o de que a pessoa não tem interesse ou habilidade para

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se integrar à sociedade.

De acordo com os autores (CAREY, 1982; COOKE E LAWTON, 1984; HOLMES E

CARR, 1991), ao longo dos anos, continuam sendo as mães as responsáveis pela maior parte

dos cuidados com os filhos, com variada ajuda de outros membros da família e muito pouco

da comunidade.

Outro dado importante que alguns estudos comprovam é em relação aos níveis altos de

estresse em genitores de crianças deficiente mental, conforme (DYSON, 1997; HORNBY,

1995; LAMB & BILLINGS, 1997; SLOPER & COLS., 1991), é que as mães apresentam

níveis superiores aos dos pais devido ao fato de as mães ficarem, geralmente, responsáveis

pela maior parte dos cuidados adicionais dispensados à criança deficiente mental, elas tendem

a relatar níveis mais altos de estresse.

De outro lado as pesquisas comprovam que pais se sentem freqüentemente, menor

satisfação com a vida familiar, como um resultado de demandas extras de acomodação à

criança deficiente.

Porém os dados de Dyson (1997), já mostram que o estresse parental está relacionado

à própria avaliação do genitor e do seu cônjuge a respeito do funcionamento da família, em

aspectos como educação, promoção do crescimento pessoal e habilidade para manter o

sistema familiar. O que indica que fatores internos como externos colaboram para aumentar o

estresse vivenciado pelos genitores que exercem, direta ou indiretamente, influência nas

interações e relações familiares.

Segundo Rodrigues, Morgan e Geffken (1992), são diversas as formas usadas como

enfrentamento e que podem ser: procura por informações sobre a deficiência, e as fantasias de

satisfação de desejos, de como eles poderiam lidar com as situações difíceis e de como seria o

progresso no desenvolvimento de sua criança.

De acordo com Amiralian (1986), as expectativas dos pais de uma criança divergente

estão, na maioria das vezes, no nível de realização de uma criança normal, e neste sentido

quaisquer realizações desta criança estão sempre aquém daquilo que é esperado. Podemos

desta maneira, compreender porque a criança deficiente apresenta, na maioria das vezes, uma

auto-imagem negativa e baixo nível de aspirações.

Os autores Lamb e Billings (1997), afirmam que os pais freqüentemente têm

expectativas mais altas em relação aos filhos do que às filhas; eles ficam particularmente

desapontados quando um filho é diagnosticado como tendo retardo mental.

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Observa-se freqüentemente que a vida de uma pessoa excepcional tende a gravitar em torno de suas incapacidades, ao invés de gravitar em torno de suas aptidões, por que este é o enfoque em torno do qual vive a família. A incapacidade de que é portadora se transforma no foco das vivencias e propósitos familiar. Pode - se observar a ocorrência de mudança drástica na vida familiar, por exemplo, a família restringe quase totalmente sua vida social em nome da dificuldade trazida pelo filho. A criança excepcional passa a ser vista como geradora de problemas para o grupo familiar, sendo dificilmente aceita e considerada participante ativa das relações familiares. Isto leva a uma posição isolada e marginal, que pode transferir para todas as outras situações sociais de que venha a participar (escola, vizinhança e etc) (AMIRALIAN, 1986, p. 48).

Os sentimentos dos pais de criança que apresentam qualquer deficiência seja física,

mental ou emocional, caracteriza - se pelo oscilante conflito entre a esperança de que as

coisas não sejam como pensam e o conhecimento é com um estranhamento de que, alguma

coisa de fato está errada. Adotando os pressupostos freudianos, podemos dizer que cada

pessoa enfrenta a realidade colocando em ação os mecanismos psíquicos de defesa que,

consciente ou inconsciente, considera capaz de atuar sobre a realidade ou modificá-la. Sobre

tais mecanismos e suas funções.

Chamamos de mecanismo de defesa os diversos tipos de processos psíquicos, cuja finalidade consiste em afetar um evento gerador de angustia da percepção consciente. Os mecanismos de defesas são funções do Ego e, por definição, inconscientes. O Ego situa-se em parte no consciente e em parte no inconsciente. Como sede da angustia, ele é mobilizado dia de um sinal de perigo e desencadeia uma série de mecanismos repressores que impedirão a vivência de fatos dolorosos, os quais o organismo não esta pronto para suportar. Por situar-se em parte no inconsciente, poderá mobilizar mecanismos inconscientes que não serão percebidos pelo sujeito. Nem será percebido pelo evento doloroso, tampouco o mecanismo que o reprimiu. O conceito de mecanismo de defesa surge nos trabalhos de Freud e é desenvolvido principalmente por sua filha Ana Freud, em o Ego e os mecanismos de defesa (AMIRALIAN, 1986 apud DAVIS; FIORI; RAPPAPORT, 1981).

Conforme debate entre os autores que pautaram a discussão acerca da expectativa dos

genitores, muito são as dificuldades de enfrentamento vivenciadas pelos familiares de um

deficiente mental, desde o diagnóstico até adaptação na rotina diária que é necessário no trato

que demanda a doença. Mas também é um fator quase que determinante a maneira como a

sociedade reage e age diante da deficiência mental, colocando a família como um todo em

angustia e desapontamento devido à recepção e preconceito por parte de um grande grupo

desinformado. Outro fator de imensa relevância é a descrença por parte dos genitores no

desenvolvimento do deficiente mental, que acaba levando-os a proteção exagerada,

impossibilitando a independência e o progresso dentro das possibilidades do deficiente

mental. Um fato perceptível é a mudança na relação do casal, e mesmo as diferenças no

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contato a partir do nascimento de uma criança deficiente, que em muitos casos o

compromisso fica a critério da mãe em assumir o cuidado necessário, habitual sozinha, razões

estas discutidas ao longo do próximo item.

2.1 RELAÇÃO MÃE E FILHA: UMA LEITURA PSICANALÍTICA

Antes de falar da relação mãe e filha, é preciso entender o que é a mulher na

psicanálise. A feminilidade tem lugar de grande importância nas obras escritas por Freud, já

que a psicanálise de certo modo nasceu da leitura de Freud feita sobre a histeria.

O enigma do desejo feminino desafiou Freud em toda a sua trajetória. Se no inicio ele

buscou encontrar a chave da sexualidade feminina, ainda que reconhecendo que isso era

muito mais fácil para os artistas, mais tarde ele constatou que pouco sabia sobre a vida sexual

da menina, usando a metáfora do “continente negro” para referir – se ao mistério da

feminilidade. “Que não nos envergonhe essa diferença; com efeito, inclusive a vida sexual da

mulher adulta contínua um continente desconhecido (dark continent) para psicologia”

(ZALCBERG apud FREUD, 2003, p. 25).

Segundo Campos (1999) apud André (1986), a definição do feminino como um “não -

lugar” um vazio leva a afirmar que “o significante da identidade feminina não existe”.

Com base na concepção freudiana tem-se tentado entender a mulher, o que parece

impossível, pois partiu - se do principio de uma falta, a falta do pênis. O desejo de ter um

filho é originalmente o desejo de possuir o pênis que a mãe não deu e que a menina espera

obter do pai.

Esta “falta” do órgão se confunde com outra falta, que pode ser sentida como “vazio”.

Assim sendo, a verdadeira “falta” é o que é mostrado, o vazio, este mesmo vazio de onde se

nasce, visto que o útero é um órgão oco. A gravidez dá a sensibilidade ao “órgão oco”, ao

vazio. É dali que se vê; do nada, do vazio, do desconhecido.

De acordo com Pommier (1991), o ser feminino recebeu desde sempre sua definição

canônica na maternidade. Ser mãe parece trazer uma solução para as incertezas da identidade,

mesmo que tal resposta não deixe de ser acompanhada pela angustia, quando se realiza.

A literatura descreve o período gestacional como sendo cercado por uma atmosfera de

magnitude que não combina com a imperfeição. É um período de exacerbadas crenças e mitos

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em torno do que a mulher deve ou não fazer para garantir a integridade física e mental da

criança que está sendo gerada. Até os pensamentos são censurados quando surgem

preocupações com a saúde do bebê, e, por mais que o pai esteja envolvido com a gestação

cabe somente à mulher o papel de provedora neste momento. É dela que sairão os elementos

essenciais para a formação física do bebê. É a ela que se dirá o que é saudável ou não fazer,

desde a qualificação dos alimentos a ingerir, aos hábitos a serem evitados ou cultivados e as

práticas a abolir.

As cobranças implícitas da sociedade são constantes e mostram à gestante sua

responsabilidade, e certamente sua condenação, se algo indesejável ocorrer (AFLABTIDA,

2000). As mulheres, falam de um desejo íntimo o qual elas não podem definir claramente,

elas tem uma necessidade de ter uma criança para serem mais seguras e, sobretudo mais

mulheres.

No desejo feminino, conforme a psicanálise, a questão da castração é primordial,

tornar-se mulher é conseqüência resultante de seus efeitos, é o que distingue o menino da

menina. Na forma feminina do complexo de Édipo, “o filho vem cauterizar” a ferida narcísica

aberta pelo complexo de castração e selar a escolha de objeto para além do ser masculino

concreto que é o pai, a gravidez está ainda situada no gozo fálico (CAMPOS, 1999).

Lacan (1969), aponta que a criança pode ocupar o lugar de sintoma que representa a

verdade familiar, como pode tornar-se o objeto da fantasia materna, a criança tanto pode

preencher a falta da mãe como dividi-la. E é fundamental que a criança divida a mãe e a

mulher, se a criança somente preenche a mãe, ela pode sucumbir com desejo do par familiar

ou ficar aprisionada com objeto do fantasma materno.

Zalcberg (2003) apud Freud (2003), sabiamente não abre mão do vinculo PAI-FILHA,

procurando manter a arquitetura estrutural do Édipo. A cada filha cabe encontrar uma

articulação entre os dois pólos, materno e paterno pelos quais irá se constituir mulher. Freud

entende que a mulher não é um ser dado desde o início. Cabe a menina, para tornar-se mulher,

um encargo trabalhoso e continuo. Mais do que ser a feminilidade é tornar-se.

Ainda em Zalcberg (2003) apud Freud (2003), não só buscava avançar o saber da

psicanálise sobre a espinhosa questão da mulher, mas também a distinção da diferença sexual.

A atividade sexual da menina era primeiramente dirigida à mãe é o que levou inicialmente ao

desvio na compreensão do processo de desenvolvimento da sexualidade feminina.

A figura da mãe, ser humano semelhante e fundamental na formação do sujeito

“filho”, mas também e, sobretudo, nome da função que simboliza esse ser na estrutura.

Conforme Winnicott (1987), “Para toda mulher, há sempre três mulheres: ela menina, sua

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mãe e a mãe da mãe”. A relação mãe e filha é a relação mulher - mulher, ou seja, a fertilidade

que a mulher - mãe dá à mulher - filha, como uma potencialidade de ser mulher. (CAMPOS,

1999)

Antes de abordar a questão de como Freud considerava a menina um menino, tendo

que abrir mão de sua sexualidade ativa, quão longe ele estava de reconhecer que, se a menina

era um menino, não era em função de uma suposta sexualidade masculina em si, mas porque

ela assim se constitui na relação com a mãe. Ambos, meninos e meninas, ocupam frente ao

desejo materno o lugar de falo, o que determina que, de início, ambos são meninos para a

mãe.

Esse “empuxo à virilidade” tem conseqüências para a menina que podem perdurar,

mantendo sua relação intensa com a mãe através de um complexo de masculinidade. O

deslocamento objetal, da mãe para o pai, nunca se faz por completo e, ainda que a intervenção

paterna seja fundamental para a constituição da menina como sujeito, ela não é resolutiva de

seu Édipo, não lhe fornecendo o modelo de uma identificação feminina. Esta identificação

deve ser buscada em sua relação com a mãe. Freud chega à conclusão de que para a menina a

elaboração do Édipo é mais complexa e ela talvez nunca chegue a sair completamente deste

enredo, tanto no que diz respeito à relação edípica com o pai, como em relação ao laço pré-

edípico com a mãe. Este último fica como um resto não elaborado, mas cujas vicissitudes

serão fundamentais para a compreensão dos destinos da feminilidade da menina.

O significante do desejo da mãe para Lacan é um significante primordial que rege a

vida da criança e a marcará para sempre. No caso da menina, ele vai chamar a atenção para a

existência de certa nostalgia da filha em relação à mãe, indicando que o corte simbólico

introduzido pelo pai não é total. A operação edípica deixa um “resto” no destino feminino,

fazendo com que a mulher tenha mais propensão a ficar alienada no “desejo da mãe”. Lacan

dá a esse “resto”, a especificidade da relação mãe e filha em um campo que se constitui “para

além do Édipo”. Lacan afirma que “a filha espera mais ‘substância’ da mãe do que do pai.”

(ZALCBERG 2003, p. 155).

Na saída do Édipo, a menina volta-se para o pai, mas também para a mãe, à espera que

esta lhe forneça um significante do sexo feminino. Busca inglória, porque este significante

inexiste. Contudo, é junto à mãe que ela busca o recobrimento imaginário de sua falta “real”

na constituição de uma imagem feminina. “O processo pelo qual o olhar da mãe funciona em

nível de objeto que leve à construção de uma imagem é particularmente importante para a

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menina; ela, mais do que um menino, depende de uma cobertura para um corpo para o qual

falta um significante feminino” (ZALCBERG, 2003, p. 155).

A cativação imaginária da filha no olhar da mãe tem suas conseqüências paradoxais,

do sentimento de aprisionamento ao medo da perda do amor. A dificuldade de se separar da

mãe que marca o destino da mulher. É nos percalços da relação com esta linhagem – da

“catástrofe” e da “devastação à mascarada” – que cada menina construirá o seu caminho

como mulher, em um processo de invenção e criação da feminilidade.

Intimidade e continuidade revelam que mãe e filha são dois pólos do mesmo ser:

mulher. Criativa ou destrutivamente, a filha busca na mãe sua identidade; a mãe busca

realização na existência da filha. Uma existência dá sentido à outra.

Diante das discussões entres os autores utilizados neste capitulo como embasamento

teórico, se percebe o quão difícil é chegar a um consenso no que diz respeito aos desejos e a

definição do feminino na psicanálise. A concepção Freudiana utiliza em sua tese a falta

feminina, do qual ele atribui ao desejo pela função do órgão masculino (pênis) e ainda sugere

a gestação de uma criança para o preenchimento desta falta, que já é trazida desde o período

da castração, de maneira que, a gestação além de levar a mulher a um total vislumbre

fantasmático no que diz respeito às expectativas e fantasias que giram em torno do filho

idealizado é considerado uma oportunidade a ela de ganho frente ao universo masculino.

Considerando, assim, a gravidez como o preenchimento do vazio ocupante não pela função do

órgão masculino (pênis), mas sim por um filho que se fez presente a principio como parte de

seu universo íntimo tendo apenas a mãe como fonte de sobrevivência.

Neste momento em que a mãe acaba de receber o filho a relação entre ambas é de

extrema intimidade, e mesmo que o pai queira fazer parte deste contexto, neste exato

momento pode ser que ele não consiga romper a díade, pois a maternagem atribui um

significado de pose dificultando o rompimento. Desta forma, mesmo que se pareça um tanto

quanto egoísta a relação entre mãe e filho, ainda assim é de suma importância para o alicerce

da personalidade e o desenvolvimento emocional deste filho pois estabelecerá assim as suas

relações posteriores.

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2.2.1- Relação mãe e filha deficiente mental

Segundo Jerusalinsky e Coriat (1983), o nascimento de um filho com deficiência mental

afeta a função materna, uma vez que a mãe tem que se deparar com o luto da perda do filho

imaginado e, portanto, sente o recém chegado como um impostor e, ao mesmo tempo, um

estranho. Na realidade, ocorre em desencontro entre a mãe e o filho, impossibilitando, desta

forma, um vínculo suficientemente eficaz para que, a partir disso, o sujeito possa emergir.

Grande é a importância das idéias que as mães têm de seus filhos antes mesmo do nascimento, e quanto essas idéias estão estreitamente ligadas à sua história, seja por querer repetí-la ou, o oposto, por querer transformá-la em um feixe de significações totalmente diferentes. Assim, a forma como a mãe cuidará de seu filho é, numa certa medida, previsível antes do nascimento deste (JEAMMET, 1989, p. 15 ).

Nos casos em que há a presença de um fator orgânico, a criança não tem que fazer face

apenas a uma dificuldade inata, mas ainda à maneira como a mãe utiliza esse defeito num mundo

fantasmático. Nestes casos, a relação de amor mãe-filha sempre terá um ressaibo de morte,

embora seja negada, disfarçada em amor sublime, algumas vezes em diferença patológica, outras

vezes em recusa consciente. Mas as idéias de homicídios existem, mesmo que nem todas as mães

possam tomar consciência disso.

O reconhecimento deste fato está, por outro lado, ligado, na maioria das vezes, a um

desejo de suicídio, o que evidencia que se trata de uma situação em que a mãe e o filho não são se

não um, na medida em que toda a depreciação da criança é sentida pela mãe como depreciação de

si própria. Tudo isto porque a enfermidade de um filho atinge o narcisismo da mãe, fazendo, com

que haja uma perda brusca de toda referência de identificação, o que implica a possibilidade de

comportamentos impulsivos. Trata-se de um pânico diante de uma imagem de si que já não se

pode nem reconhecer nem amar. Quando o filho nasce saudável, os pais têm a ilusão de que ele

vai corresponder à imagem construída por eles. Por outro lado, ao nascer um bebê com

necessidades especiais, os pais não conseguem ter esta ilusão de que ele vá corresponder ao bebê

imaginário. Ocorre, então, um rompimento no narcisismo parental, tendo efeitos sobre a

constituição subjetiva da criança. Culpabilizam o bebê por ter vindo no lugar do bebê imaginário

que não nasceu e, neste sentido, desejam que ele morra. Não raramente, age este desejo

inconscientemente. A direção de cura se dá através da denegação deste desejo de morte, para

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poder refazer um projeto para o filho e para que eles possam convocar esta criança através do

olhar antecipatório (MANNONI, 1995).

Quando uma criança nasce com problemas orgânicos à família passa por uma elaboração

de luto acompanhado por sérios sentimentos de incapacidade. Neste sentido, o terapeuta poderá

ajudar esta família em sua reconstituição, facilitando a entrada desta criança com necessidades

especiais na constituição familiar.

Qualquer que seja a mãe, o nascimento de uma criança nunca corresponde exatamente ao que ela espera. Na medida em que aquilo que deseja no decurso da gravidez é, antes de mais nada, a recompensa ou a repetição de sua própria infância, o nascimento de um filho vai ocupar um lugar entre os seus sonhos perdidos: um sonho encarregado de preencher o que ficou vazio no seu próprio passado, uma imagem fantasmática que se sobrepõe à pessoa real do filho ( MANNONI,1995).

Com o nascimento, vem o confronto entre o filho imaginário, idealizado, e o filho real

que se impõe com sua existência. É bastante complexo o que se passa na cabeça de uma

mulher ao gerar um filho e, desde a concepção, o filho desempenha para a mãe um papel

muito precioso no plano fantasmático, uma vez que esse filho é a principio uma espécie de

evocação alucinatória de alguma coisa da infância materna que foi perdida (BARRETO,

2005).

Spitz (2000), trata da relação inicial mãe e filho para formação da personalidade e da

saúde. Ensina que da mesma forma que a mãe influencia o filho, também recebe sua

influência. A privação ou ausência pode provocar doenças de carência afetiva.

Incluir uma criança portadora de deficiência na sua própria família não significa adaptá-la ao

que é esperado, mas sim de aceitação e de rompimento de muitos mitos. É preciso, em um

primeiro momento, entender o que é a deficiência em específico, sem enfatizar seus

problemas e atrasos que poderá ter, mas entender do que esta criança é capaz, para que assim

a família proporcione ao seu filho o máximo de suas potencialidades. A mãe neste momento

terá um papel muito marcante para a criança, no que Winnicott (2005), define como a mãe

suficientemente boa, quando desempenha as funções que fará com que esta filha com

deficiência mental advir como sujeito, que mostrará toda sua capacidade, desejos e

potencialidades presentes e futuras, ou seja, as que só faltam incentivos para acontecer.

O nascimento de uma criança com deficiência mental para uma mãe pode ser um

impacto que pode alterar o seu equilíbrio, trazendo sentimentos de negação, luto, raiva,

tristeza, culpa, e além de afetar também toda a estrutura familiar. Em nossa sociedade,

geralmente é a mãe quem estará mais próxima da filha no momento do nascimento e, assim

sendo, os cuidados podem representar uma enorme responsabilidade para ela.

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No caso da deficiência de um bebê ser identificada logo ao nascimento, a dificuldades da mulher exercer a maternagem, já que ela esbarra em sentimentos de luto pela criança esperada. Dessa forma, sentimentos e cuidados mais simples, esperados da mãe para com seu filho, como olhar em seus olhos, segurar no colo, alimentá-lo podem ser geradoras de intensa dificuldade tanto por limitações do bebê (deficiências físicas, alteração de tônus muscular) como pela confusão emocional vivenciada pela mãe neste momento (MELO, 2000, p. 40 ).

A mãe convive com um filho percebido como alguém que, ao mesmo tempo, é e não é

humano, o que antes, quando se esperava pelo bebê ainda no ventre da mãe, não era

concebido. Esta reflexão vai ao encontro e explicitado por diversos autores, (MILLER, 1995;

OMOTE, 1980), a respeito do luto pelo filho perfeito que não nasceu, remetendo os pais a

uma facticidade que lhes impõe a necessidade de refazer perspectivas, de redimensionar suas

existências.

A percepção, à aceitação desta mãe a respeito da condição da filha é de grande

estranheza pelo diferente que gera sentimentos de ansiedade e de invalidez já que o seu desejo

permeava pelo o sonho de uma criança “normal” nos parâmetros da saúde e da exigência do

social. E diante destas situações desconhecidas tantos questionamentos surgem, em relação a

si e a forma de como irá conduzir e cuidar desta criança que possui uma deficiência da qual

ela também não sabe como lidar.

Nas experiências das mães com as filhas com deficiência mental, é possível perceber

que elas não estão preparadas para gerar crianças com deficiência e que essa possibilidade

sequer passa em seus pensamentos, porém depois do nascimento da filha, as mães se sentem

no dever de saciar todos os desejos por parte da filha afim de uma proteção excessiva, que

muitas vezes atrapalha no desenvolvimento emocional da filha e na sua própria condição de

feminilidade.

A irrupção na realidade de uma imagem de corpo enfermo produz um choque na mãe: no momento em que, no plano fantasmático, o vazio era preenchido por um filho imaginário, eis que aparece o ser real que, pela sua enfermidade, vai não só renovar os traumatismos e as insatisfações anteriores, como também impedir posteriormente, no plano simbólico, a resolução para a mãe do seu próprio problema de castração (MANNONI, 1999, p. 36).

As mães não conseguem explicar a deficiência das filhas, sentem-se confusas e

perdidas frente a tantas coisas novas que passam à enfrentar, os sentimentos conflitante, a

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falta de controle, o enfrentamento de novas realidades, promovem estresse, dor e tristeza,

aliados ao amor e carinho que sentem pela criança e medo do que pode vir à acontecer.

Segundo Buscaglia (1993), a cruel dolorosa realidade de ser subitamente presenteado

com uma criança portadora de uma deficiência permanente e o sentimento de total

incapacidade para mudar a situação não são coisas fáceis de aceitar. Portanto, é normal, a

princípio questionar, culpar, rejeitar e até mesmo odiar a si mesmos e a criança. É normal

tentar evitar a dor, expulsando-a da mente, fugindo ou disfarçando, negando a sua existência e

fantasiando seu fim.

Apesar dessas constatações, há nos estudos de Dellabrida (2000), relatos das mães

sobre a experiência de ter esse filho, a maioria descreve como algo sublime que redirecionou

suas vidas, ensinando valores essenciais para a existência e compreensão da condição

humana. De maneira consciente ou inconsciente tentam acreditar que suas experiências

transcendem o normal, tentando desta maneira aplacar toda a dificuldade existente na

convivência diária com o filho.

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3 SOBRE A PESQUISA

3.1 MÉTODO

Neste capítulo pretende-se abordar o caminho percorrido ao longo do trabalho

realizado, a fim de melhor apresentar os procedimentos metodológicos, a problematização e

as respostas encontradas, bem como os entraves e descobertas na realização desta pesquisa.

Faz-se lembrar que o presente trabalho teve como base, o método quantitativo e qualitativo

baseado numa pesquisa bibliográfica, que orientou teórica e metodologicamente a pesquisa de

campo empreendida.

A pesquisa bibliográfica precede todo estudo mais aprofundado de uma questão cientifica. Seu principal objetivo é identificar e sistematizar o que já foi publicado sobre o tema estudado. Geralmente, é indispensável a qualquer tipo de estudo científico, seja empírico ou teórico, Convite na seleção, leitura e sistematização de todo o material da pesquisa em pauta (SIQUEIRA, 2005, p.50).

Do ponto de vista metodológico, não há contradição, assim como não há continuidade,

entre investigação quantitativa e qualitativa. Ambas são de natureza diferente. A investigação

quantitativa atua em níveis de realidade e tem como objetivo trazer à luz dados, indicadores e

tendências observáveis. A investigação qualitativa, ao contrário, trabalha com valores,

crenças, representações, hábitos, atitudes e opiniões (Minayo & Sanches, 1993). As

experiências das pesquisas de campo, baseadas em uma perspectiva mais pragmática e menos

orientada para um sectarismo epistemológico, sugerem que da combinação das duas

abordagens (cada uma no seu uso apropriado) é possível obter ótimos resultados.

A pesquisa foi desenvolvida a partir das etapas, a saber, respeitando as limitações tratadas adiante:

1ª) Pesquisa bibliográfica;

2ª) Levantamento dos dados em prontuários, verificação de anamnese das pacientes do

sexo femininas não órfãs, com diagnóstico de deficiência mental de idade entre 7 anos a 33

anos e que estivessem em tratamento odontológico, no ano de 2009 no Pólo Integrado de

Atendimento Odontológico ao Paciente Especial – PAOPE / UNIVALE;

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3ª) Pesquisa de campo, aplicação de questionário nos sujeitos selecionados, se

adequados aos critérios do item b;

4ª) Tabulação, Análise e interpretação dos dados, conforme a problematização

proposta.

O cenário desta pesquisa foi a Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE,

localizado no município de Governador Valadares em Minas Gerais. A amostra foi de

mulheres, não órfãs de mãe, com diagnóstico de deficiência mental e que estivessem em

tratamento, no ano de 2009, no Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente

Especial - PAOPE.

A entrevista (APENDICE 1) feita com as mães ocorreu nas dependências do Pólo

Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial – PAOPE, localizado na rua: Israel

Pinheiro, número 2000 no Bairro Universitário em Governador Valadares na Universidade

Vale do Rio Doce – UNIVALE, durante o tempo em que as mães aguardavam para que as

suas filhas fossem atendidas pelos estagiários da odontologia. A aplicação se deu de maneira

individual, sendo que em cada pergunta, a mãe poderia assinalar mais de uma resposta. 2

Os sujeitos da pesquisa foram nove mães de filhas portadoras de deficiência mental,

em atendimento odontológico no setor do Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao

Paciente Especial – PAOPE, na Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, sendo que todas

as suas filhas passam, no setor pela equipe que é composta de: Médico Pediatra, Terapeuta

Ocupacional, Assistente Social, Fonoaudiólogo, Fisioterapeuta e Psicólogo.

A escolha do campo onde serão colhidos dados, bem como os participantes é proposital, isto é, o pesquisador os escolhe em função das questões de interesse do estudo e também das condições de acesso e permanência no campo e disponibilidade do sujeito (ALVES MAZZOTTI, 2001, apud por ARRUDA, 2004, p.87).

O estudo aconteceu no período de 24 de agosto de 2009 a 18 de março de 2010, no

setor do Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial – PAOPE, na

Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

2 O local onde aconteciam as entrevistas foi em uma sala de aproximadamente 3 metros por 2 metros e meio, contendo uma mesa, três cadeiras e alguns brinquedos para quando necessário receber alguma criança, depois de feita as entrevistas com as mães, muitas vezes eu também acompanhava o atendimento odontológico das filhas deficientes mentais a fim de observar os seus comportamentos.

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3.2 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA

3.2.1 - PAOPE - Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial.

A implantação do Pólo Integrado de Atendimento Odontológico ao Paciente Especial,

em 25 de agosto de 1995, vai ao encontro as necessidades de uma clientela praticamente

desassistida no que se refere à promoção de saúde, por oferecer uma assistência odontológica

especializada aos portadores de deficiência mental pura ou associada a outras patologias

(Síndrome de Down, Paralisia Cerebral, entre outras), mas, mais do que ser um espaço

humanizado para o atendimento, esta solidificada no tripé que compõe a base da instituição

universitária, que é a prática de ensino da pesquisa e da extensão. A UNIVALE acredita na

transmissão e construção continuada do conhecimento em sua aplicação junto às comunidades

que fazem parte do seu raio de abrangência. Está é a missão da universidade que se faz

presente e de forma concreta no PAOPE, um projeto de extensão.

O PAOPE é localizado na rua: Israel Pinheiro, número 2000 no Bairro Universitário

em Governador Valadares na Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, foi implantado

em agosto de 1995, e aprovado pela UNIVALE, vinculado a Faculdade de Ciências da Saúde

– FACS, com o objetivo de prestar assistência odontológica ao paciente especial, pacientes

estes, portadores de doença mental “pura” ou associada a outras patologias.

A equipe especializada do PAOPE é composta pelos seguintes profissionais;

Atendente de consultório, Enfermeiro, Fisioterapeuta, Fonoaudiólogo, Médico, Odontológo,

Psicólogo, Assistente Social, Terapeuta Ocupacional e a Secretária. A equipe trabalha de

forma integrada empregando varias técnicas de abordagem e estratégias clínicas, favorecendo

o tratamento odontológico ambulatorial dos pacientes especiais. Num trabalho conjunto da

equipe, os pacientes e seus familiares são assistidos em suas relações psico-sócio-econômico e

culturais, buscando minimizar as inúmeras dificuldades apresentadas por essa clientela, com

relação a abordagem a integração dos mesmos à nova situação que irão vivenciar.

O cadastramento do paciente deve ser feito pela família ou responsável do paciente,

que deve procurar a secretária do PAOPE e fazer a inscrição no Campus II da UNIVALE,

portando os documentos necessários do deficiente e do responsável (certidão de nascimento,

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ou carteira de identidade, comprovante de renda, comprovante de residência e identidade do

responsável).

O PAOPE oferece estágios supervisionados para alunos dos cursos de odontologia,

psicologia, serviço social e enfermagem da UNIVALE. O PAOPE através da equipe

multiprofissional oferece cursos de capacitação a profissionais odontológos interessados em

prestar atendimento aos pacientes especiais. (ANEXO 1 - FLUXOGRAMA)

3.3 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

As limitações na realização da pesquisa ocorreram em três momentos; dois se referem

ao comitê de ética e o terceiro na busca por referencial teórico.

Com relação ao Comitê de Ética, o envio do projeto se deu por duas vezes, sendo que os

avaliadores apontaram limitações na elaboração do mesmo, não na relevância da pesquisa,

mas na qualidade técnica de alguns itens.

Na primeira avaliação, a negação foi dada sem especificar as restrições, deixando

vagos os critérios e ajustes a serem feitos. Procurou-se a correção com auxílio de outros

docentes e alunos pesquisadores, foram feitas modificações e reenviado ao comitê em tempo

hábil.

A segunda resposta demorou a ser dada, e somente foi após a procura pelo referido

órgão. Desta vez o avaliador foi mais preciso e detalhado sobre os critérios e itens que

inviabilizaram o projeto. Assim, em função do tempo escasso para a correção solicitada e

novo envio, optou-se pela continuidade da pesquisa, porém resguardando-se o fato de não

poder publicá-la, e tampouco seus dados, apenas citando a mesma em escritos futuros para

fins científicos. Esta decisão se deu com pesar, mas com muita consciência e

responsabilidade.

Com relação ao referencial teórico, a limitação se deu em função de não encontrar

textos mais recentes para subsidiar a análise qualitativa dos dados obtidos, mesmo assim esta

análise se deu seguindo o merecido rigor científico.

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3.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Figura 2 – Gráfico do sentimento materno ao saber da deficiência mental da filha.

Ao investigar sobre os sentimentos das mães ao descobrir a deficiência mental da

filha, foram apontados em algumas entrevistas, mais de um sentimento, visto que esta questão

propiciava estas escolhas. A demonstração dos dados contidos no gráfico revela que o

sentimentos de tristeza e de alegria, obteve o mesmo percentual, em alguns a entrevistada

apontou a presença destes dois sentimentos simultâneos ao saber da deficiência mental da

filha. Este aspecto revela o já descrito, na teoria psicanalítica, da ambivalência de sentimentos

advindos com a maternidade.

A ambivalência da mãe, segundo Benhaim, Michéle (2007), apresenta a figura da mãe

e a representação do “ódio” sentido pela mesma. As revelações em relação à dimensão

imaginária, não simbólica, que o ódio pode constituir. A loucura de um gozo materno que o

parto obriga a mulher a atravessar, pois quando o corpo sai do corpo o real aparece. Deste

modo, dar a vida supõe um luto não apenas da criança no útero, mas também daquela que

acaba de nascer. Ter um filho é justamente não mais o ter. Da impossibilidade da fusão

mãe/filho, acontece um ódio imaginário que adianta-se ao amor. Da necessária desfusão, do

reconhecimento num retorno ao feminino subsistirá o “ódio suficientemente bom”, simbólico.

Mãe e filho têm de iniciar logo o luto de um e de outro. Para cada um, o objeto está para

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sempre perdido. Inicialmente, a criança não tem o objeto, ela é o objeto, e, no caso, perdido.

Progressivamente a ilusão que acomete a mãe e o filho de serem um só, se perde e prepara a

criança para a “capacidade de estar só”.

Outro sentimento que se destaca nesta pesquisa é o medo, medo este, do inesperado do que visto como diferente.

Uma criança necessita sentir que é objeto de prazer e orgulho para sua mãe, assim como sua mãe precisa sentir que seu filho é uma continuidade de sua personalidade, na personalidade de seu filho, ambos precisam se sentir profundamente identificados um com o outro (BOWLBY, 1995, p. 73).

É difícil, com o impacto da notícia do nascimento de uma criança deficiente, ter esta

perspectiva de continuidade e de troca. É necessário que haja uma reestruturação para que a

aceitação e o desejo por este filho ocorram.

Já os sentimentos, pena de si, pena da filha e insegurança, aparecem com os mesmos

percentuais. Na opção de outros, onde as mães poderiam expressar livremente, cabe descrever

a resposta desta mãe que foi:

“Não teve diferença em relação aos outros filhos, se Deus me deu é porque eu dava conta”. (Mãe

questionário 5)

Os sentimentos de impotência, rejeição e raiva não apareceram nas escolhas das mães

entrevistadas, mas nota - se em suas falas expressas no gráfico a seguir. Diferentemente dos

sentimentos relatados pelas mães, em pesquisa realizada por Leary e Verth (1995), na qual

relataram mágoa e sofrimento em relação à difícil situação de suas crianças deficientes

mentais. A culpa foi também relatada por essas mães, porém, com uma freqüência menor. Já

na pesquisa de Ali, Al-Shatti, Khaleque, Rahman, Ali e Ahmed (1994), esse sentimento foi

relatado tanto pelos pais como pelas mães, os quais se responsabilizavam pela deficiência

mental de suas crianças. Há grandes dificuldades pelos genitores, em relação à forma mais

adequada para lidar com as situações de se ter uma criança deficiente mental na família, ora

condescendentes, ora impacientes e, às vezes, revelando atitudes de depreciação em relação

ao próprio filho conforme (PETEAN, 1995).

Sobre os sentimentos verbalizados e descritos anteriormente podem estar revestidos de

valores socialmente construídos, e vêem nos filhos a negação, a tristeza, o descontentamento,

e ao mesmo tempo a impotência.

A chegada de uma criança diferente da esperada pode alterar o equilíbrio, afetando

todos os membros da família. Sentimentos de choque, negação, raiva, tristeza e culpa,

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freqüentemente aparecem, independente da gravidade do caso de deficiência e os pais sentem

necessidade de buscar uma explicação para o acontecido como se fosse um castigo a eles

destinado.

Segundo Buscaglia (1997), é a sociedade que freqüentemente define a deficiência

como uma incapacidade, algo indesejado e com limitações para quem a apresenta, geralmente

maiores do que as realmente existentes, já que é ela quem define os padrões de beleza e

perfeição.

Em nossa sociedade, geralmente é a mãe quem estará mais próxima do filho e, assim

sendo, os cuidados podem representar uma enorme responsabilidade para ela. Entretanto,

mesmo considerando este fato, não faz sentido conceber somente a perspectiva da mãe, já que

ela não é apenas mãe do filho com deficiência, mas também mulher e, possivelmente, mãe de

outros filhos.

Melo (2000), revela que, no caso da deficiência de um bebê ser identificada logo ao

nascimento, esta família poderá se deparar com as dificuldades da mulher exercer a

maternagem, já que ela esbarra em sentimentos de luto pela criança esperada. Dessa forma,

sentimentos e cuidados mais simples, esperados da mãe para com seu filho, como olhar em

seus olhos, segurar no colo, alimentá-lo podem ser geradoras de intensa dificuldade tanto por

limitações do bebê (deficiências físicas, alteração de tônus muscular) como pela confusão

emocional vivenciada pela mãe neste momento.

A percepção dos pais sobre a condição dos filhos envolve aspectos que causam

estranhamento. Relatam o contato com o incomum, que perpassa a convivência com um filho

diferente, algo que, em seu entendimento, parecia impossível acontecer. Esta é uma pessoa

diferente das outras, à medida que este é um filho, gera sentimentos de ansiedade e tristeza.

“Ela anda era o meu único medo”; (Mãe questionário 1 )

“A deficiência da minha filha, me faz ver as coisas de maneira mais possível!”; (Mãe questionário 7)

A deficiência é sentida como desumanizadora, retirando da pessoa a igualdade com as

outras, não sendo vista como uma possibilidade existencial, uma vivência que teria por

pressuposto sentimentos de prazer e satisfação. Os relatos revelam a possibilidade do não ser,

isto é, os pais convivem com um filho percebido como alguém que, ao mesmo tempo, é e não

é humano, o que antes, quando se esperava pelo bebê ainda no ventre da mãe, não era

concebido.

Estas reflexões vão ao encontro do explicitado por diversos autores (Miller, 1995;

Omote, 1980), a respeito do luto pelo filho perfeito que não nasceu, remetendo os pais a uma

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facticidade que lhes impõe a necessidade de refazer perspectivas, de redimensionar suas

existências.

Figura 3 – Gráfico da permanência dos sentimentos de origem sobre a deficiência mental.

Questionou - se as mães, se o sentimento permanece hoje da mesma forma do início, e

houve uma pequena discrepância entre as respostas positivas e negativas. A fim de

complementar este questionamento, foi verificada na mesma questão sobre quais sentimentos

mudaram, e as respostas foram diversas conforme segue abaixo:

• “Ela anda era o meu único medo”; (Mãe questionário 1 )

• “Estou mais feliz”; (Mãe questionário 2)

• “Aumentou, vivo em função dela, se Deus me ama eu amo minha filha”; (Mãe questionário 3)

• “Hoje eu aceitei e me sinto muito bem!”; (Mãe questionário 4)

• “Continuo gostando dela da mesma maneira!”; (Mãe questionário 5)

• “Nada”; (Mãe questionário 6)

• “A deficiência da minha filha, me faz ver as coisas de maneira mais possível!”; (Mãe questionário 7)

• “Hoje me sinto mais experiente”; (Mãe questionário 8)

• “Hoje sou mais feliz, mais alegre!”. (Mãe questionário 9)

É possível verificar que a maneira como a família percebe o filho, está ligada ao modo de

como reconhece - o com deficiência, separando o filho, enquanto sujeito. O impacto sentido

pela família com a chegada de uma criança com algum tipo de deficiência é intenso.

Permanência dos Sentimentos de Origem

55,50%

44,50% Sim

Não

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Segundo Brito e Dessen (1999), esse momento é traumático, podendo causar uma forte

desestruturação na estabilidade familiar. O momento inicial é sentido como o mais difícil

para a família Petean (1995), a qual tem que buscar a sua reorganização interna Taveira

(1995), que, por sua vez, depende de sua estrutura e funcionamento enquanto grupo e,

também, de seus membros, individualmente. A família passa, então, por um longo processo

de superação até chegar à aceitação da sua criança com deficiência mental: do choque, da

negação, da raiva, da revolta e da rejeição, dentre outros sentimentos, até a construção de

um ambiente familiar mais preparado para incluir essa criança como um membro integrante

da família.

Segundo Casarin (1999), a reorganização familiar fica mais fácil quando há apoio mútuo

entre o casal. Nesse caso, o ambiente familiar pode contribuir para o desenvolvimento e

crescimento da criança deficiência mental. Contudo, o ambiente pode também dificultar

essa reorganização interna da família, principalmente porque o nascimento de uma criança,

por si só, já acarreta alterações que constituem um desafio para todos os membros familiares

(DESSEN, 1997; KREPPNER, 1989).

As figuras 4 e 5 serão analisados em conjunto, por entender que desta maneira haverá

complementação dos assuntos, com maior embasamento para as discussões, e questionamentos.

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Figura 4 – Gráfico do recebimento de orientação a cerca da deficiência mental da filha.

Figura 5 – Gráfico das pessoas que informaram sobre a deficiência mental da filha, para a mãe.

Pessoas que Informaram sobre a DM

66,67% 0,00%

11,11%

22,22% Médico

Professor

Mãe

Vizinha

Recebimento de Orientação acerca da DM

55,50%

44,50%

Sim Não

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Das mães entrevistadas sobre orientação acerca da deficiência mental da filha, grande

parte não obteve orientação em relação à deficiência mental da filha. Vale analisar a maneira

como a área da saúde encara e percebe a deficiência mental, como vem trabalhando ou

mesmo informando a estas mães sobre o diagnóstico de seus filhos, o que não é foco desta

pesquisa, abrindo campo para maior investigação.

Sabe-se que as práticas médicas de atenção às pessoas com deficiência, os

diagnósticos, os tratamentos de reabilitação e o processo de desinstitucionalização

manicomial trouxeram, na década de 60, nos países nórdicos, segundo Mrech (1999), a idéia

de que as pessoas com deficiência poderiam e deveriam participar da sociedade, desde que se

adaptassem às normas e valores sociais. Como alternativa ao modelo de atendimento

segregativo em instituições fechadas, como asilos e casas-lares, surge à idéia de integrar as

pessoas com deficiência, desde que elas pudessem se adaptar às normas estabelecidas

socialmente. Naquele contexto, a instituição correcional ou assistencial assumia um duplo

papel social, o de preparar para uma integração social futura, que na maioria das vezes não

ocorria, e ao mesmo tempo manter as pessoas com deficiência no lugar de marginalizados.

Apesar da existência de diversas causas, grande parte dos registros de deficiência

mental não possui uma causa conhecida (KOVÁCS, 1992). Mesmo assim, o fator orgânico

ainda predomina em muitas concepções de deficiência mental, prevalecendo, nos diversos

espaços institucionais, as visões clínica e patológica da deficiência mental como enfoque

central no lidar com as pessoas deficientes mentais.

Sobre as respostas de quem informou a elas sobre a cerca da deficiência mental da

filha: As respostas constam; ter o médico como informante, outras afirmam ter percebido

sozinha a deficiência mental da filha. E um dado curioso verbalizado por uma das mães, foi

ter dito que a “sua vizinha é quem percebeu e lhe falou sobre a filha ter um problema ou

deficiência” (mãe do questionário 9). Tal conduta materna, vem remeter á possibilidade da

mãe fazer uso do mecanismo de negação frente a deficiência mental da filha, a ponto de não

perceber o fato e negá-lo inconscientemente

Negação é a tentativa de não aceitar na consciência algum fato que perturba o Ego. Os adultos têm a tendência de fantasiar que certos acontecimentos não são, de fato, do jeito que são, ou que na verdade nunca aconteceram. Este vôo de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo. A notável capacidade de lembrar-se incorretamente de fatos é a forma de negação encontrada com maior freqüência na prática psicoterápica (FREUD, Anna.1936; FENICHEL, 1945) baseado no livro "Teorias da Personalidade"- J. Fadiman, R. Frager - Harbra – 1980.

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Segundo Mannoni (1981), o filho com deficiência dificilmente poderá fazer parte das

expectativas maternas, dificultando uma afirmação positiva de sua identidade pessoal, como

mulher e também como mãe.

Após estas informações obtidas a partir dos gráficos três e quatro, vale um

questionamento quanto a quem informou estas mães sobre a deficiência mental de suas filhas

e de que maneira foi dado a noticia a elas. Ressalta se aqui a importância da existência e do

papel do Psicólogo no contexto Hospitalar, cabendo a ele como parte da equipe, acompanhar

a família e orientar estas mães sobre o filho que veio contra - dizendo o desejo e a expectativa

de todos.

Geralmente, o bebê com deficiência mental nasce prematuro ou com complicações

durante o parto; necessitando de passar por um período na UTI neonatal. Enquanto isto a

família vive a espera, por vezes angustiante; cabendo ações interventivas do psicólogo

hospitalar.

O nascimento prematuro traz desapontamento e sentimento de incapacidade, culpa e medo de perda, que favorece a situação de estresse e, muitas vezes, compromete a afetividade entre pais e filhos. Em decorrência da internação do bebê em uma UTI Neonatal, exige-se especial atenção aos pais, pois, essa separação é permeada de ansiedade e expectativas, sobretudo, quanto ao diagnóstico e tempo de permanência, pois longa internação ameaça à integridade do bebê, que possibilita predisposição de infecção e demais complicações clínicas. (CRUZ, Ana. OLIVEIRA, Márcia. CARDOSO, Maria. LÚCIO, Ingrid, 2010)

Alamy (2003), conceitua a Psicologia Hospitalar como “o ramo da psicologia

destinado ao atendimento de pacientes portadores de alguma alteração orgânico-física, que

seja responsável pelo desequilíbrio em uma das instâncias bio - psico- social”.

Ainda afirma Alamy (2003), que a Psicologia Hospitalar é “uma psicologia dirigida a

pacientes internados em hospitais gerais, sem deixar de se estender aos ambulatórios e

consultórios, com sua atenção voltada para as questões emergenciais advindas da doença e/ou

hospitalização, do processo do adoecer e do sofrimento causado por estas, visando o

minimizar da dor emocional do paciente e da sua família”, o que s e aplica no caso do

nascimento de um filho com deficiência da seguinte maneira:

Além disso, o trabalho do psicólogo deve ser realizado de modo a encorajar a família a trabalhar juntos durante a crise que se desencadeia, ajudando o pai a e mãe a conversarem sobre suas dificuldades um com o outro na medida em que tentam chegar a soluções satisfatórias (GEARA, 2005, p.42).

Segundo Amiralian (1986), a primeira etapa de orientação familiar consiste em auxiliar

os pais a uma aceitação emocional da criança excepcional, que pode ser definida como a

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concordância entre os fatores internos (sentimento dos pais) e os fatores externos (a realidade

da situação). Sé então os pais terão condições de propiciar situações que favoreceram o

desenvolvimento pleno de seus filhos.

11,11%

88,89%

11,11%

88,89%

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

F ilha Mãe

Ac ompanhamento P s ic ológ ic o rec ebido por Mãe e F ilha

S im

Não

Figura 6 – Gráfico da verificação se mãe e filha recebem acompanhamento psicológico.

A fim de verificar se mãe e filha recebem algum tipo de acompanhamento psicológico,

um dado curioso surgiu, é que em mesma proporção das mães disseram sim, que mães e filhas

fazem algum tipo de acompanhamento psicológico. Enquanto a outra metade das

entrevistadas, disseram não, que mães e filhas, não fazem nenhum acompanhamento

psicológico.

O atendimento psicológico é de suma importância porque objetiva auxiliar a família e

o próprio sujeito deficiente mental na construção da suas subjetivações em torno da

organização psíquica saudável. O psiquismo se estrutura a partir de uma alienação entre mãe e

filho, ou entre a pessoa que ocupa o lugar de mãe, o que é necessário num determinado

momento para que haja um investimento de desejo na criança (DOR, 1989, p.77).

Com a contribuição de Mannoni (1981), sabe-se que o deficiente mental traz sempre

um discurso coletivo; para este ser é muito difícil falar, pois ele é falado. De acordo com

Mannoni (1981), o deficiente mental cria uma situação dual, tornando-se objeto de um dos

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pais. Acaba-se formando, em certos momentos, entre o deficiente mental e sua mãe um só

corpo, confundindo-se o desejo de um com o desejo do outro, impedindo-o, até certo ponto,

de construir um conhecimento oriundo do outro.

Seguindo o pensamento dessa autora psicanalista, a mensagem do pai, ou seja, a

função paterna, nunca chega até o deficiente mental. Ele está fadado a permanecer numa certa

relação fantasmática com a mãe que, pela ausência mesmo do significante paterno, deixa-o

reduzido ao estado de objeto, sem esperança alguma de ascender ao nível de sujeito. Pelo

contrário, a impossibilidade, para o deficiente mental, de estabelecer uma identificação

significante, deixa-o sem defesa contra as situações de dependência dual. Ele não tem a

possibilidade de se interrogar sobre a sua falta, de ser porque essa falta, tomada ao nível da

realidade pelos que o rodeiam, vai levá-lo a não sofrer e a preencher um vazio, o seu vazio

intelectual, escolar, sem que nunca se coloque a questão de saber se esse vazio real não se

duplica, na mãe, pela sua própria falta de ser, cujo acesso se acha raramente barrado para a

criança pelo significante paterno (MANNONI, 1981, p. 40).

Compreendendo a autora Amiralian (1986), diz que com o traumatismo da perda e as

frustrações decorrentes desta, o ego, precariamente estruturado, se esfacelando e o sujeito não

consegue mais ajustar as diferentes situações da vida. Desta forma será então imprescindível o

atendimento clínico psicoterápico, no atendimento da família e ao deficiente mental, a

problemática orgânica desencadeadora do problema emocional do sujeito deverá ser

considerada não como um fator fundamental de seu tratamento, mas sim uma condição

secundária. Os fatores fundamentais são as situações da história de vida do sujeito que não

foram suficientemente elaboradas e, portanto tornaram frágeis, o seu ego e precárias as suas

defesas.

Ainda citando Amiralian (1986), o psicólogo deverá trabalhar com a pessoa

excepcional considerando a incapacidade não como uma condição fundamental do processo

terapêutico, mas como um elemento a mais que compõe o quadro de sua história particular.

O aconselhamento, a técnica psicoterapia de apoio a mãe, sobre a filha, deverá ser

freqüentemente oferecida com o objetivo de melhorar o seu ajustamento pessoal e familiar.

Um dos aspectos fundamentais a considerar no aconselhamento é aceitação de uma

incapacidade sem se subjugar a uma inferioridade generalizada. Vale esclarecer sobre a

definição de sentimento e emoção, pois durante esta pesquisa foi utilizado o termo em grande

proporção.

Os sentimentos são informações que todos seres biológicos são capazes de sentir nas

diferentes situações que vivenciam, todo ser é dotado de sentimentos e eles são diferentes

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entre si. À parte do cérebro que processa os sentimentos e emoções é o sistema límbico. O

termo sentimento é muito usado para designar uma disposição mental ou algum propósito de

uma pessoa para outra, sendo assim, os sentimentos seriam ações decorrentes de uma decisão,

além das sensações físicas que são sentidas como conseqüência de amar, por exemplo.

Por vezes confundem-se sentimentos com emoções, mas de certa forma são bem

diferentes. Os sentimentos são duradouros e fáceis de esconder. Já as emoções espontâneas e

têm uma parte corporal (mãos suadas, agitação, choro, riso, melancolia…). As emoções são

necessárias para comunicar, para nos adaptarmos com sucesso a nossa sociedade e assim

conseguir sobreviver. Há uma ligação com as relações precoces (relação – mãe/filho), em que

o filho tem expressões corporais para garantir a sua sobrevivência.

Ao contrário dos sentimentos, as emoções são muito difíceis de esconder, pois são

corporais e espontâneas. Mas por vezes os sentimentos tomam conta das emoções, daí por

vezes, a confusão destes dois conceitos.

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4 CONSIDERAÇOES FINAIS

Este trabalho fundamentou-se em conceitos literários a respeito da deficiência

mental, da relação da mãe e filha e da contribuição que á abordagem psicanalítica pode trazer

ao tema. Muitas foram às respostas encontradas diante deste trabalho, tantas também foram

às dúvidas surgidas a cada título verificado, a cada subtítulo utilizado e a cada discussão nas

supervisões orientadas. A literatura usada nesta pesquisa trouxe muitas informações acerca

dos sentimentos que permeiam a relação entre mãe e filha, principalmente no que diz respeito

à deficiência mental.

Foi percebido ao longo desta pesquisa, que a cultura da sociedade frente à deficiência

mental tem grande influência no comportamento materno. Pois na medida em que estas mães

se deparam com uma “possível imperfeição” do seu fruto / filha, só remete assim a suas

deficiências pessoais, inconscientes e conscientes que a partir da não aceitação social e dos

julgamentos excludente os tornam mais difícil para superar.

Todavia, deve-se ressaltar a importância do empenho e da união familiar para não

sobrecarregar a mãe no cuidado e no “exagero” diante da deficiência mental da filha. É

também de suma importância a presença do PAI enquanto lei, para a completude no formato

da tríade.

Vale abordar a importância da nova proposta de conceituação em relação à

deficiência mental, pois contribui no diagnóstico identificando o deficiente mental numa

condição individual, e exige um minucioso cuidado cujo trabalho deverá ser feito por uma

equipe multidisciplinar, exemplo este assertivo, como no caso do PAOPE, setor este citado na

pesquisa.

A descoberta da pesquisa foi, sobretudo, a necessidade da intervenção do psicólogo

no âmbito do hospital como um profissional de auxilio a família do deficiente mental.

Sobre os sentimentos maternos encontrados na pesquisa, constam os sentimentos de

tristeza, de alegria, de medo, pena de si, pena da filha e o sentimento de insegurança.

Conclui - se que, a relação entre mãe e filha se dá entre desejos e medos, independente

de uma deficiência como fator inicial, pois antes mesmo do nascimento de suas filhas já

existe expectativa acerca da maternagem. A maneira como realizam e almejam estes sonhos é

questionável, pois no momento em que não foram capazes de atingir suas realizações

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enquanto filhas, acabam introjetando a responsabilidade do desejo, mesmo depois de mulher,

para um sujeito que também deseja, pensa e realiza, mesmo com a limitação da deficiência

mental.

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APÊNDICE

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APÊNDICE A – QUESTIONARIO

Este questionário se destina a coletar dados para uma pesquisa monográfica sobre os

sentimentos que cercam a relação da mãe com sua filha deficiente mental atendida no

PAOPE. Sua colaboração é muito importante. Desde já agradeço!

1- Qual foi o seu sentimento ao saber que sua filha tem deficiência mental?

( ) Tristeza

( ) Alegria

( ) Impotência

( ) Rejeição

( ) Pena de si

( ) Medo

( ) Pena da filha

( ) Raiva

( ) Insegurança

( ) Outros __________________________________

2 - Esses sentimentos permanecem hoje da mesma forma do início?

( ) Sim

( ) Não

2.1 - O que ou quais mudaram?

3 - Após saber que a filha é deficiente mental, houve orientação acerca do problema

( ) Sim

( ) Não

4 - Quem informou?

( ) Médico

( ) Escola

( ) Não buscou ajuda

( ) Outros

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5 - Como é ter uma filha com deficiência mental?

6 - A sua filha freqüenta algum grupo social?

7 - Houve algum tipo de preconceito de alguém do grupo social que sua filha

freqüenta?

8 - Você e sua filha fazem algum tipo de tratamento psicológico?

( ) Sim Filha ( ) Não Filha

( ) Sim Mãe ( ) Não mãe

9 - O que você acha que seria necessário para melhorar os sentimentos desenvolvidos

por parte das mães de filhas deficientes mentais?

10 - Você acha que o seu sentimento interfere no tratamento odontológico da sua

filha? De que maneira?

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ANEXO A – FLUXOGRAMA PAOPE

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