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O SERVIÇO SOCIAL E A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TECNOLÓGICA: relato de experiência de estágio no Instituto Federal da Bahia campus Salvador
Ingrid Barbosa Silva1
Resumo: O presente artigo tem por objetivo relatar a experiência de estágio supervisionado em Serviço Social através da articulação entre a Universidade Federal da Bahia – UFBA e o Instituto Federal da Bahia – IFBA campus Salvador. Objetiva não só descrever as etapas do estágio e a realização do projeto de intervenção no espaço, mas também realizar reflexões sobre a importância da inserção dos Assistentes Social nesse espaço e principalmente da sua atuação na Política de Educação, reforçando a garantia da permanência dos estudantes no IFBA.
Palavras-chave: Educação. Estágio supervisionado. Relato de experiência.
Abstract: The purpose of this article is to report the supervised internship experience in Social Service through the articulation between the Federal University of Bahia - UFBA and the Federal Institute of Bahia - IFBA Salvador campus. It aims not only to describe the stages of the internship and the realization of the project of intervention in space, but also to reflect on the importance of the insertion of the Social Assistants in this space and mainly of its action in the Education Policy, reinforcing the guarantee of the permanence of the students in the IFBA.
Keywords: Education. Supervised internship. Case studies.
1Graduanda de Serviço Social. Universidade Federal da Bahia – UFBA. E-mail: [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como principal objetivo, relatar a experiência de estágio
curricular obrigatório do curso de graduação em Serviço Social da Universidade Federal da
Bahia – UFBA, em fase de execução junto ao Instituto Federal da Bahia – IFBA campus
Salvador, estando o Serviço Social inserido na Diretoria Adjunta Pedagógica e de Atenção
ao Estudante – DEPAE, na Coordenação de Atenção ao Estudante – CAE.
A experiência de estágio tem como propósito central propiciar o estudante a ter o
contato real com o campo de atuação do trabalho do assistente social e experiências vividas
na práxis ligada à teoria adquirida academicamente, contribuindo de forma positiva no
processo de ensino/aprendizagem do ponto de vista prático, teórico e reflexivo. A relação
teoria e prática tão discutida no exercício da formação profissional passa a ser cada vez
mais refletida a partir do momento em que a/o estagiária/o passa a conhecer essas ações
desenvolvidas no cotidiano do profissional na instituição.
Nesse sentido, o estágio obrigatório é subdividido em três fases: Estagio I que
tem o caráter mais exploratório do espaço sócio-ocupacional onde a/o estagiária/o está
inserida/o, é o momento em que podemos analisar a instituição, identificar as
particularidades do espaço e principalmente do trabalho das/os assistentes sociais. Nesse
período é importante desenvolver exercícios e reflexões para investigação e é fundamental
compreender sobre a política setorial da qual rege a atuação do Serviço Social e
posteriormente intervir nas diversas expressões da questão social.
O Estágio II busca da continuidade ao processo anterior, porém é o momento de
aprofundar nas análises e compreensão das competências da profissão no espaço e a partir
de um olhar mais investigativo, desenvolver projeto de intervenção principalmente nas
demandas e necessidades postas ao Serviço Social.
Por fim, a última etapa, o Estagio III corresponde à execução, à análise e à
avaliação da realização do projeto de intervenção, ressaltando na instituição o trabalho do
assistente social. Esse processo, em sua dimensão, deve ter relevância tanto para a
construção da vida profissional da/o estagiária/o, para a instituição onde está inserida/o e
também para o público alvo a quem o projeto se destina.
Nessa perspectiva, podemos entender que, essa construção profissional onde
se vivencia um confronto entre teoria e prática como algo de suma importância para o seu
conhecimento e crescimento, sabendo que o estágio supervisionado é o único momento de
aproximação do fazer profissional, enquanto graduanda/o, faz-se necessário ressaltar o
quanto essa dimensão formadora é indispensável para a consolidação do projeto ético-
político da profissão. O Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, em sua Cartilha
Estágio Supervisionado – Meia formação não garante direito, reforça essa perspectiva:
As Diretrizes Curriculares do Curso de Serviço Social, aprovadas pela ABEPSS em 1996, apontam pressupostos, princípios e diretrizes para nortear o projeto pedagó- gico de cada unidade de formação profissional e tratam o estágio supervisionado como um momento ímpar do processo ensino-aprendizagem, elemento síntese da relação teoria-prática, da articulação entre pesquisa e intervenção profissional, e que se consubstancia como exercício teórico-prático, mediante a inserção do/a aluno/a nos diferentes espaços ocupacionais das esferas pública e privada. (CFESS, 2013, p.11)
Com isso, o artigo apresenta o histórico da instituição, a inserção dos
assistentes sociais no espaço sócio-ocupacional e a relevância dos três processos de
estágio supervisionado, na perspectiva de compartilhar a desafiadora e rica experiência
vivenciada em uma instituição centenária e consolidada como o IFBA, na qual o Serviço
Social tem um papel extremamente importante, trabalhando com a Política de Assistência
Estudantil necessária para garantir a inclusão, permanência e direitos dos estudantes no
espaço sócio-ocupacional.
2. DESENVOLVIMENTO: A educação profissional e tecnológica na Bahia e em Salvador
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), criado
pela Lei nº 11.892/2008, é resultado das mudanças promovidas no antigo Centro Federal de
Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA). A história do Centro Federal de Educação
Tecnológica da Bahia começa quando, em 2 de Junho de 1910 nasceu a Escola de
Aprendizes Artífices da Bahia no Largo do Relógio de São Pedro. A escola começou a
funcionar oferecendo cursos nas oficinas de alfaiataria, encadernação, ferraria, sapataria e
marcenaria, e tinha como função principal proporcionar para a população em situação de
vulnerabilidade socioeconômica a inserção no mercado de trabalho, não havendo
preocupação com a formação teórica que era passada aos alunos. Essas escolas surgem
como respostas do governo federal ao aumento da população nas cidades e são
direcionadas as classes menos favorecidas.
Após a criação dessa escola, o ensino profissional na Bahia passa por diversas
transformações de caráter político e econômico, mudando inclusive o seu nome por diversas
vezes, com objetivo de acompanhar as suas transformações estruturais e expansão, como
pode ser visto no Quadro 1, até os dias atuais, denominando-se IFBA:
TABELA 1 – Mudanças na nomenclatura do IFBA de 1909 até 2009
NOME INSTITUCIONAL DECRETO/LEI
ANTERIOR ATUAL - Escola de Aprendizes e Decreto nº 7.566/1909
Artífices da Bahia
Escola de Aprendizes e Artífices da Bahia
Liceu Industrial de Salvador Lei nº 378/1937
Liceu Industrial de Salvador Escola Técnica de Salvador Decreto-Lei nº 4.127/1942
Escola Técnica de Salvador Escola Técnica Federal da
Bahia (ETFBA) Lei nº 4.759/1965
Escola Técnica Federal da Bahia (ETFBA)
Centro Federal de Educação Tecnológico da Bahia
(CEFET-Ba) Lei nº 8.711/93
Centro Federal de Educação Tecnológico da Bahia (CEFET-Ba)
Instituto Federal da Bahia
(IFBA) Lei nº 11.892/2008
Fonte: Cem anos de Educação Profissional no Brasil, EDUFBA, (2009, p.18)
Após treze anos em expansão, com a determinação da Lei nº 378, de 13 de
janeiro de 1937, a escola transforma-se em Liceus Industriais, que tiveram cinco anos de
existência em Salvador, oferecia o ensino profissional em diferentes ramos e graus, a
exemplo do secundário. Vale ressaltar que somente nesse momento, com a nova
Constituição, que o ensino profissionalizante é considerado dever do Estado, porém, o
mesmo só assume a educação profissionalizante a partir da década de 1940, tendo como
foco preparar mão-de-obra para o mercado de trabalho.
De Liceu a “Escola Técnica de Salvador”, a partir da determinação da Lei nº
4.127 de 25 de fevereiro de 1942, que disponibilizava o ensino industrial básico e ensino
técnico. As escolas profissionalizantes passam a ser federais, com isso a nomenclatura é
alterada e levam o nome do seu estado, passando a se chamar Escola Técnica Federal da
Bahia (ETFBA). No ano de 1993 a ETFBA uniu-se ao Centro de Educação Tecnológica da
Bahia (CENTEC), para atender interesses de ambas e dessa união consolida-se o Centro
Federal de Educação Tecnológica da Bahia (CEFET-BA). Já em 2008, são criados os
Institutos Federais de Educação, Ciências e Tecnologia – IFBA, com isso o Ministério da
Educação, em conjunto com as instituições que compõem a Rede Federal de Educação
Profissional, Cientifica e Tecnológica, iniciaram as comemorações do centenário de criação
da Educação Profissional no Brasil.
Diante desse breve histórico revela-se o constante movimento de ampliação e
de reconfiguração da educação profissional, começando com a Escola de Artífices
Aprendizes e no seu centenário integrando a Rede Federal de Educação Profissional,
Cientifica e Tecnológica, em nível nacional, que tem, dentre outros objetivos, oferecer
educação de qualidade e contribuir para a redução das desigualdades sociais no país.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), é uma
instituição de caráter público, criada no dia 29 de dezembro de 2008, de acordo com a Lei nº
11.892, de 29 de dezembro de 2008, mas a alteração na nomenclatura ocorreu somente em
2009, ano de comemoração do centenário do Instituto na Bahia. A educação profissional e
tecnológica, ao longo de sua trajetória passou por diversas transformações que acarretaram
novas exigências profissionais, dentre elas, a necessidade do profissional do Serviço Social
nos Institutos Federais (IFs). A ampliação das vagas oferecidas, as novas modalidades de
ensino toda essa nova configuração exigiu desses profissionais novas competências e
estratégias de dar respostas às refrações da questão social, objeto de trabalho do Serviço
Social.
A expansão da Rede Federal de Ensino no Brasil trouxe significativas mudanças
para o âmbito da educação profissional e tecnológica. Um novo perfil de estudantes lhes foi
apresentado, alunos oriundos de outros municípios, cidades e até estados, uma maior
inserção de estudantes de camadas mais populares, estudantes provenientes de escolas
públicas, diversidade sexual, religiosa, étnico racial, inserção de mais negros, deficientes,
indígenas e quilombolas, estudantes em situação de vulnerabilidade, ou seja, as demandas
assumiram um caráter para além da seleção socioeconômica para a concessão de auxílios
estudantis.
Para responder a essas demandas que são as concessões de bolsas e auxílios
e ao mesmo tempo tentando suprir as necessidades apresentadas pelos usuários, o Instituto
possui uma Política de Assistência Estudantil – PAE aprovada em 2010 pelo Conselho
Superior (CONSUP), que é um arcabouço de princípios e diretrizes que orientam a
elaboração e implantação de ações que garantam o acesso, a permanência e a conclusão
de curso dos estudantes do IFBA. A política foi elaborada a partir da problematização do
programa focalista que se tinha (Programa de Assistência ao Educando) e a partir das
inquietações do grupo de assistentes sociais que ingressou à Instituição no processo de
expansão dos seus campi. A concepção de Assistência Estudantil do IFBA é atualmente
explicitada no documento já mencionado, afirmando:
A Política de Assistência Estudantil é um arcabouço de princípios e diretrizes que orientam a elaboração e implementação de ações que garantam o acesso, a permanência e a conclusão de curso dos estudantes do IFBA, com vistas à inclusão social, formação plena, produção de conhecimento, melhoria do desempenho acadêmico e ao bem estar biopsicossocial (IFBA, 2010, p.02).
Tal conceito denota a ideia de que há diversas políticas sociais envolvidas no
âmbito do acesso e permanência dos estudantes, sendo estas de diversas áreas de
atuação, a saber: Educação, Assistência Social, Saúde, Juventude, Ações Afirmativas,
dentre outras. Fazem parte dessa política nove programas universais, onde todo e qualquer
estudante pode participar. E o Programa de Assistência e Apoio aos Estudantes (PAAE), em
que o aluno passará por uma seleção socioeconômica, ou seja, para participar é necessário:
inscrição pelo site do IFBA; posteriormente os alunos passam por uma entrevista social com
uma das assistentes sociais; entregar toda a documentação que comprovem renda,
questões de saúde e a composição familiar; visita domiciliar, de acordo a situação do aluno
se for necessário; encaminhamentos pedagógicos e psicológicos, sendo que durante o
programa são realizados acompanhamentos sociais com os alunos e seus familiares,
controle da frequência com relação à alimentação, participação nas atividades, reuniões,
palestras e seminários.
É através dessa política que os assistentes sociais trabalham para o
fortalecimento das garantias dos direitos aos usuários. A Política de Assistência Estudantil
do IFBA é um documento normativo construído por vários profissionais das diferentes áreas,
com ações que garantam inclusão, permanência e formação plena aos estudantes. A
assistência estudantil faz parte de uma das estratégias de democratização do ensino no
âmbito do governo Lula, aliada ao Programa de Apoio os planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI), o Programa Universidade para Todos
(PROUNI) e as políticas de Ações Afirmativas.
As demandas e respostas dos assistentes sociais na Educação do IFBA
campus Salvador, estão nesse quadro abaixo:
TABELA 2 – Atribuições dos Assistentes Sociais no IFBA
Demandas Respostas
Estudantes que precisam de auxílios e bolsas de assistência estudantil; Instituição precisa
Seleção e/ou estudos socioeconômicos (Processo seletivo do PAAE)
Permanência dos estudantes bolsistas Acompanhamento dos estudantes bolsistas
Expressões da “questão social” e temas comuns que precisam ser refletidos e trabalhados entre
os estudantes
Desenvolvimento de atividades socioeducativas e reflexivas com os estudantes
Estabelecer parcerias / Realização de visitas técnicas e convites a outras Instituições
Sistematizar o exercício profissional, repassar informações sobre o Serviço Social e Instituição aos gestores e usuários, elaborar novas normas
e critérios.
Planejar, elaborar, registrar e publicizar
Capacitação dos assistentes sociais Participar e realizar eventos
Aproximar a família da escola Ações envolvendo a família
Situações pessoas e questões de direitos trabalhistas dos servidores e terceirizados
Ações objetivando a qualidade de vida do servidor
Integração entre estudantes, servidores e comunidade extrema
Ações que envolvem os diversos segmentos
Fonte: Heide, 2013
Referente ao quadro acima, observa-se que a demanda de trabalho maior das
assistentes sociais no IFBA é referente a seleção socioeconômica. Os processos de
inscrição, entrevistas, visitas domiciliares, acompanhamento de frequências nas aulas,
reuniões e atividades dos projetos, são todas as atividades e instrumentos que englobam
esta ação, dentre outras.
2.1 O SERVIÇO SOCIAL DO IFBA CAMPUS SALVADOR: relato da experiência de estágio
supervisionado
A inserção da primeira assistente social no corpo de profissionais do IFBA foi no
ano de 1994 no campus de Barreiras-BA. Dez anos após a sua chegada no ano de 2004, a
instituição convoca outra assistente social para atuar no campus de Salvador/BA. Essas
contratações posteriormente foram ampliadas no âmbito da política de expansão do Estado
e sua inserção se processou pela motivação primeira da instituição em atribuir a esses
profissionais a competência de atuar no alto índice de evasão escolar. Explicar porque o
profissional de Serviço Social deve ser inserido na Educação e refletir sua atuação neste
campo perpassa por relacionar a concepção adotada com os objetivos, princípios,
competências e atribuições profissionais.
O público alvo dos assistentes sociais no IFBA campus Salvador, são
estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Porém, isso não restringe o
atendimento profissional para com os demais estudantes que procuram a setor
CAE/DEPAE. Os profissionais e as estagiarias fazem o acolhimento e encaminham os
estudantes de acordo com suas demandas e necessidade. Essas demandas postas ao
Serviço Social nada mais é que, as expressões da questão social. No IFBA, as
expressões/manifestações da questão social são identificadas principalmente a partir das
entrevistas sociais no processo seletivo do PAAE, realizadas com os estudantes; no
acompanhamento social, realizado pelas assistentes sociais onde é feito um
acompanhamento da vida acadêmica/social/familiar do estudante garantindo assim mais
conhecimento da realidade no qual o estudante está inserido e no conselho técnico onde a
equipe multidisciplinar se reuni e apresenta um diagnóstico dos acompanhamentos
estudantis, tendo como prioridade garantir a permanência dos estudantes, evitando a
evasão/desistência. Essas manifestações estão relacionadas entre a ligação da escola com
as famílias; as relações interpessoais dentro e fora da sala de aula; as demandas que os
estudantes trazem referente a situação econômica do conjunto familiar; uso de drogas; a
convivência com o mundo que está a sua volta; a questão da precariedade laboral também
é uma forma de identificação da questão social; violação de outros direitos como falta de
emprego, habitação, saúde, saneamento básico, exclusão social, violência domesticas, etc.
As possibilidades de ação dos assistentes sociais do IFBA, para amenizar as
diversas expressões da questão social, já mencionadas, é trabalhar junto com os
profissionais em equipe multidisciplinar, indicando possíveis alternativas a problemáticas
sociais vivenciadas pelos estudantes, o que refletirá em um melhor enfrentamento da vida
escolar, garantindo o direito à educação.
Nessa perspectiva, trazendo essa discussão para a vivência de estágio, que é
um espaço recorrente por oportunizar o estudante a ter conhecimento, reflexão das ações
sobre o trabalho profissional no espaço sócio-ocupacional inserido, e para o caso em
particular, acerca da Política de Assistência Estudantil do IFBA. Conforme as exigências do
Estágio Supervisionado II em elaborar um projeto de investigação e intervenção profissional,
a ser aplicado na referida instituição, a proposta do meu projeto de intervenção faz relação
com o PAAE. Os estudantes, além de receberem os auxílios solicitados (de acordo com a
disponibilidade orçamentário-financeira e com a análise socioeconômica realizada pela
assistente social), são acompanhados quanto à frequência, desempenho escolar e demais
dificuldades que se apresentem. Este acompanhamento não ocorre no sentido de controle
ou cobrança, mas sim em uma perspectiva pedagógica que possibilite atender as demandas
dos estudantes, que por vezes se manifestam nas notas obtidas ou na ausência às aulas.
Entende-se que a realização deste acompanhamento é fundamental para que a assistência
estudantil se efetive, pois, a vulnerabilidade se expressa de diferentes formas, e não se
restringe apenas à questão financeira.
Pensando nisso, o projeto de intervenção teve como principal objetivo, realizar
oficinas de capacitação que contemplem o processo de formação dos estudantes do curso
de química, da modalidade de ensino integrado, contemplados com bolsa estudo no PAAE.
A escolha por essa amostra inicial, desse grupo de estudantes, surgiu pelo fato da minha
supervisora de campo já realizar o acompanhamento social e por ser o curso com maior
número de ingressantes por ano no instituto, sendo quatro turmas do 1º ano da modalidade
integrado.
O projeto piloto realiza a discussão da importância da assistência estudantil,
principalmente na perspectiva de direito e como um dos mecanismos que objetiva garantir a
permanência aos estudantes na escola, consistiu também em mapear as demandas dos
alunos no que se refere às necessidades postas no processo de formação educacional, que
estejam interferindo no desempenho e na frequência dos estudantes. E trazer esse
levantamento, como ponto de partida para a efetivação do projeto de intervenção na
instituição. A escolha metodológica de realizar oficinas, surgiu por entender, a partir de
leituras sobre o método de Paulo Freire, que esse é o processo operacional prevê uma
formação linear e que as trocas de saberes é uma construção coletiva de conhecimento, de
analises e reflexões sobre o tema a ser realizado. O ponto de partida para a realização do
projeto baseou em trazer uma amostra do público alvo, referente ao universo de estudantes
do instituto, que são assistidos pelo PAAE, foram identificados 45 estudantes do curso de
química integrado que recebem bolsa estudo. Esse mapeamento foi feito através do
resultado do processo seletivo anual.
Após esse mapeamento seria realizado um acompanhamento mensal dos
estudantes para fortalecimento da materialização das oficinas. Esse acompanhamento
consistiria de forma sistemática, buscando conhecer suas necessidades, expectativas e
dificuldades na formação e no entendimento da política de assistência estudantil. Porém, o
IFBA passou por um processo de ocupação dos estudantes, absolutamente legítima, em
defesa da manutenção dos recursos integrais para a educação pública brasileira e teve
duração de dois meses. Com isso, todo esse processo de acompanhamento planejado com
os estudantes foi impossibilitado de acontecer, pelo fato do período e duração dessa última
fase do estágio curricular. Diante disso, a não realização desses acompanhamentos com os
estudantes, não pode ser atingido a coleta das demandas e a análise das mesmas que
seriam subsídios para a elaboração dos conteúdos das oficinas, o que foi um ponto
negativo, no sentido de não poder analisar de forma mais aprofundada essas demandas,
tanto para o Serviço Social como para a equipe multi do setor CAE/DEPAE. Com isso, foi
definido entre eu e minha supervisora de campo que, a primeira oficina seria sobre a própria
Política de Assistência Estudantil, tema definido como ponto de partida, e partir dessa
primeira oficina seria definido, pelos estudantes presentes, o tema dos demais encontros
assim como o quantitativo de oficinas.
Após isso, foi definido a data da realização do projeto, o local e o horário. Dos 45
estudantes, público alvo, compareceram apenas nove pessoas, o que tornou a oficina
esvaziada, mas não impossibilitou a realização da mesma. Comecei explicando o porquê
daquela atividade, os objetivos do projeto e suas finalidades. Por fim, foi apresentado
também a proposta da oficina, definidas em três pontos: primeiro buscar opiniões, dúvidas e
sugestões referente o tema da oficina; segundo, buscar realizar o debate acerca da política
de assistência, situando-a no contexto local do campi, objetivando-se agregar as
especificidades e diversidades de impacto da política na vida dos estudantes atendidos pelo
programa e o terceiro, tratar a oficina como um espaço de formação linear, fazendo
levantamento de questões, debates, discussões, reflexões e proposições e principalmente
tratar proposta da oficina como um espaço de interação e troca de saberes de forma
dinâmica e coletiva, transformando esse espaço em um ambiente que garanta integração e
proximidade entre os sujeitos participantes com os próprios mediadores.
Posterior a isso, comecei a oficina com uma dinâmica, a cada estudante foi
entregue uma tira de papel em branco, solicitei que eles escrevessem no papel a primeira
palavra ou frase que lhes vem na cabeça quando eles ouvem “ASSISTÊNCIA
ESTUDANTIL” ou “PAAE”. Ressaltei ainda que, não existe uma resposta certa ou errada e
não precisa pensar muito, se não lembrasse de nada podia escrever “nada” ou “não sei”.
Recolhi todas as tirinhas dobradas e pus dentro de uma vasilha. Expliquei que, a cada
palavra ou frase aberta, seria o ponto de partida do dialogo da oficina. Minha supervisora foi
anotando no quadro tudo o que foi mencionado. O que mais surpreendeu foi a quantidade
de tirinhas que definia a assistência estudantil como uma ajuda, ajuda no sentindo da
doação/caridade e não no sentido de direito/acesso a uma política que visa não só a
subsidiar financeiramente, mas na permanecia do usuário no espaço sócio-ocupacional.
Esse momento de conversa, foi bastante importante e alarmante ao mesmo
tempo, no sentido de trazer para a discussão, enquanto categoria que, a maioria dos
usuários da política de assistência ali presentes, não conhecem de fato o seu real
significado, ou pode até conhecer, mas acaba distorcendo, na grande maioria das vezes,
sua função política e social dentro da instituição, reproduzindo o que já se ouve por vários
lugares, de que o trabalho profissional não seleciona realmente quem de fato precisa. Isso
foi dito na discussão, no sentindo de cobrança de efetivação de uma investigação mais
concisa na hora de selecionar os estudantes para participar do PAAE.
Importante lembrar que, o IFBA conta hoje com mais de 5 mil estudantes,
aproximadamente 1.200 alunos usuários do PAAE, e que a equipe profissional do setor
CAE/DEPAE, principalmente do Serviço Social é pequena. Atualmente conta com quatro
assistentes sociais ativas, sendo que uma está afastada para o doutorado. As condições de
trabalho, condições objetivas são desafiadoras. É muito difícil realizar visita domiciliar de
cada estudante, uma vez que, a própria instituição não pode subsidiar isso. Ocasiona então,
uma distorção dos estudantes no sentindo de duvidar do processo de análise
socioeconômica realizado pelos assistentes sociais via documentação, realizada no
processo seletivo, não seja realmente verdadeira. Porém, nos enquanto profissionais,
trabalhamos o tempo todo esclarecendo e deixando bem claro para os usuários da política e
para os que não são usuários também que, a comprovação da documentação trazida tem
que ser de fato a realidade do estudante, e que a não legitimidade dessas informações pode
desencadear a expulsão do programa, devolução da quantia recebida indevidamente e será
encaminhado medidas relativas a ação penal.
Por fim, a proposta de elaboração de cartazes, essa proposta tem por finalidade
trabalhar a reflexão de tudo que foi discutido sobre o tema da oficina. Depois da produção
dos cartazes, cada estudante falou o porquê da mensagem no cartaz, e logo em seguida
fizemos a avaliação daquele espaço, da oficina. Foi questionado por nós (eu, minha
supervisora e a estagiaria), qual seria outras formas de aproximação do Serviço Social, das
profissionais/estagiárias com eles, além da realização dessas oficinas temáticas.
Questionamos também qual seria a possibilidade de construção desses espaços em turnos
opostos, por conta da dificuldade dos horários, das aulas, das monitorias, etc. Os
estudantes disseram que acha muito importante essa aproximação, e que sente esse
distanciamento, sente a falta desse acompanhamento mais de perto do Serviço Social e que
esse espaço pode ser um ponto de partida.
Foi importante ouvir esses relatos, porque levando isso para o corpo profissional
do setor como estratégia de projeto para acompanhar esses usuários da política, e
principalmente desconstruir e construir pensamentos/ideias/achismos sobre o trabalho
profissional e sua importância na operacionalidade da política de assistência no instituto. É
importante criar espaços onde esses estudantes sintam-se mais encorajados de falar,
muitas vezes, até de assuntos mais particulares, mas que de uma forma mais subjetiva o
assistente social identifique a demanda, as expressões da questão social dentro daquele
espaço.
Referente as próximas oficinas, aos temas e sugestões, os estudantes não falaram
muito, houve apenas uma indicação que foi sobre orientação profissional. Muitos alegaram
que não vê esse tipo de discussão no instituto, e que sentem necessidade de participar de
espaços assim. Ao meu ver, essa falta de sugestão dos temas poderia ter sido bem mais
positiva se tivesse acontecido o acompanhamento inicial com eles, mas infelizmente não foi
possível.
Essa realização do projeto de intervenção me trouxe alguns sentimentos,
principalmente no sentido ter mais coragem e acreditar de que somos capazes apesar dos
estraves da vida social, institucional e particular. Esse espaço, essa etapa que se fecha na
minha vida acadêmica agregou não só experiência e conhecimento, e não só também a
relação tão esperada entre teoria e práxis, mas me possibilitou lidar/conhecer/desvendar
diversas situações do dia-a-dia da profissão. O IFBA é um espaço rico, e a cada dia tem-se
necessidade de ir contra a todos as diversas demandas postas ao setor CAE/DEPAE, mais
especificamente ao Serviço Social. Vivenciar o cotidiano e compreender suas demandas
multifacetadas, reveladas nos campos de estágio, constituem momentos de reflexão,
criticidade e de aprendizagem. Vale lembrar que, a medida que o estágio assume seu
caráter educativo, ele contribui para a superação da imediaticidade e da fragmentação da
realidade.
3. CONCLUSÃO
A busca pelo conhecimento é uma tarefa árdua e desafiante que envolve
múltiplas determinações colocadas pela dinâmica da realidade. Significa o olhar sobre o
simples, sobre o que está posto, mas com a intenção de desvendar esse simples que oculta
elementos concretos que só se revelam em um processo de observação e investigação.
De acordo com a discussão acima, o estágio supervisionado em Serviço Social
em parceria com os supervisores de campo e acadêmicos é de extrema importância para
garantir uma formação profissional com mais qualidade. O estágio é um espaço de
enfrentamento, reflexão, esclarecimento e conhecimento das manifestações da questão
social, matéria prima para o trabalho profissional, por tanto, a manutenção da garantia dessa
etapa na formação do discente é essencial para o enfrentamento e os desafios postos a
profissão nos diversos espaços sócio-ocupacionais.
REFERÊNCIAS
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IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: Trabalho e Formação Profissional. 25º ed. São Paulo, Cortez, 2014.