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7 IESUS IESUS O Sistema de Informação de Atenção Básica como O Sistema de Informação de Atenção Básica como Fonte de Dados para os Sistemas de Informações Fonte de Dados para os Sistemas de Informações sobre Mortalidade e sobre Nascidos Vivos* sobre Mortalidade e sobre Nascidos Vivos* Informe Epidemiológico do SUS 2001; 10(1) : 7 - 18. Maria Helena Prado de Mello Jorge Maria Helena Prado de Mello Jorge Resumo No Brasil, a subenumeração dos dados dos Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) e sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS) é fato reconhecido. A atual ampliação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) do MS, que gera dados para o Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB/MS), fornece a oportunidade de avaliar sua contribuição para sanar parcial ou totalmente as deficiências de cobertura do SINASC e do SIM. Com esse objetivo, foram comparados os totais dos dados de 1998, informados pelos três Sistemas (SINASC, SIM e SIAB), verificando-se, em 92, 9 e 19 municípios do Ceará, de Sergipe e do Tocantins, respectivamente, que a informação do SIAB ultrapassa o total de nascidos vivos coletados pelo SINASC. Da mesma forma, em 43 e 48 municípios de Sergipe e de Tocantins, os dados do SIAB apresentaram-se em maior número do que o total de óbitos fornecido pelo SIM. Quanto aos óbitos menores de um ano, em 53 municípios do Sergipe, 125 do Ceará e 42 do Tocantins, o total do SIAB foi maior do que o do SIM. São propostos métodos para comparar os dados baseando-se em notificações dos fatos vitais. Tais formulários seriam preenchidos pelos agentes comunitários do PACS e encaminhados às Secretarias Municipais de Saúde que, por sua vez, após eliminação das possíveis duplicações, os transfeririam às Secretarias Estaduais e, dessa forma, suplementariam os dados do SIM e do SINASC. Palavras-Chave Sistemas de Informação; Natalidade; Mortalidade. Summary The existence of under enumeration in the Live Birth and Mortality Information Systems of the Brazilian Ministry of Health (SINASC and SIM) is well known. The current enlargement of the Program of Health Community Agents of the Ministry of Health (PACS/MH), which produces data for the Basic Care Information System (SIAB), gives the opportunity to evaluate its contribution in improving, partially or completely, the insufficient coverage of the two Systems: SINASC and SIM. With this objective, the total number of events reported in 1998 by the three systems (SINASC, SIM and SIAB) was compared. It was verified that in 92, 9 and 19 municipalities of the States of Ceará, Sergipe and Tocantins, respectively, the number of live births informed in SIAB was larger than the total collected by SINASC. In relation to death information, SIAB presented a higher number than SIM, in 43 municipalities in the State of Sergipe and 38, in the State of Tocantins. Regarding to deaths under one year of age, the total informed by SIAB was higher than SIM data in 53, 125, and 42 municipalities of the States of Sergipe, Ceará and Tocantins, respectively. A method of comparison of the three systems is proposed based on the notification of vital events. Notification cards would be filled by the community agents and delivered to the Municipalities Health Offices. After duplication verification the cards would be delivered to the State Health Offices, to complete the Mortality and Live Birth Information Systems. Key Words Health Information System; Live Birth; Mortality. * Trabalho apresentado na 2 a Reunião dos Comitês Assessores de Mortalidade e Nascidos Vivos, em setembro de 2000, em Brasília, e cujos resultados originaram reuniões entre os técnicos do CENEPI e da Secretaria de Políticas Públicas, responsáveis pelo SIAB. Endereço para correspondência: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, 715. São Paulo/SP. CEP: 01246-940. Tel.: (11) 3066-7744 / FAX: (11) 282-2920. E-mail: [email protected] / [email protected] Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo Sabina Léa Davidson Gotlieb Sabina Léa Davidson Gotlieb The Basic Care Information System as a Data Source for The Basic Care Information System as a Data Source for the Mortality and Live Birth Information Systems the Mortality and Live Birth Information Systems Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

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O Sistema de Informação de Atenção Básica comoO Sistema de Informação de Atenção Básica comoFonte de Dados para os Sistemas de InformaçõesFonte de Dados para os Sistemas de Informações

sobre Mortalidade e sobre Nascidos Vivos*sobre Mortalidade e sobre Nascidos Vivos*

Informe Epidemiológico do SUS 2001; 10(1) : 7 - 18.

Maria Helena Prado de Mello JorgeMaria Helena Prado de Mello Jorge

ResumoNo Brasil, a subenumeração dos dados dos Sistemas de Informações sobre Nascidos Vivos(SINASC) e sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS) é fato reconhecido. A atualampliação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) do MS, que gera dadospara o Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB/MS), fornece a oportunidade de avaliarsua contribuição para sanar parcial ou totalmente as deficiências de cobertura do SINASC edo SIM. Com esse objetivo, foram comparados os totais dos dados de 1998, informados pelostrês Sistemas (SINASC, SIM e SIAB), verificando-se, em 92, 9 e 19 municípios do Ceará, deSergipe e do Tocantins, respectivamente, que a informação do SIAB ultrapassa o total denascidos vivos coletados pelo SINASC. Da mesma forma, em 43 e 48 municípios de Sergipe e deTocantins, os dados do SIAB apresentaram-se em maior número do que o total de óbitos fornecidopelo SIM. Quanto aos óbitos menores de um ano, em 53 municípios do Sergipe, 125 do Ceará e42 do Tocantins, o total do SIAB foi maior do que o do SIM. São propostos métodos paracomparar os dados baseando-se em notificações dos fatos vitais. Tais formulários seriampreenchidos pelos agentes comunitários do PACS e encaminhados às Secretarias Municipaisde Saúde que, por sua vez, após eliminação das possíveis duplicações, os transfeririam àsSecretarias Estaduais e, dessa forma, suplementariam os dados do SIM e do SINASC.

Palavras-ChaveSistemas de Informação; Natalidade; Mortalidade.

SummaryThe existence of under enumeration in the Live Birth and Mortality Information Systems ofthe Brazilian Ministry of Health (SINASC and SIM) is well known. The current enlargementof the Program of Health Community Agents of the Ministry of Health (PACS/MH), whichproduces data for the Basic Care Information System (SIAB), gives the opportunity toevaluate its contribution in improving, partially or completely, the insufficient coverage ofthe two Systems: SINASC and SIM. With this objective, the total number of events reportedin 1998 by the three systems (SINASC, SIM and SIAB) was compared. It was verified that in92, 9 and 19 municipalities of the States of Ceará, Sergipe and Tocantins, respectively, thenumber of live births informed in SIAB was larger than the total collected by SINASC. Inrelation to death information, SIAB presented a higher number than SIM, in 43 municipalitiesin the State of Sergipe and 38, in the State of Tocantins. Regarding to deaths under oneyear of age, the total informed by SIAB was higher than SIM data in 53, 125, and 42municipalities of the States of Sergipe, Ceará and Tocantins, respectively. A method ofcomparison of the three systems is proposed based on the notification of vital events.Notification cards would be filled by the community agents and delivered to theMunicipalities Health Offices. After duplication verification the cards would be deliveredto the State Health Offices, to complete the Mortality and Live Birth Information Systems.

Key WordsHealth Information System; Live Birth; Mortality.

* Trabalho apresentado na 2a Reunião dos Comitês Assessores de Mortalidade e Nascidos Vivos, em setembrode 2000, em Brasília, e cujos resultados originaram reuniões entre os técnicos do CENEPI e da Secretaria dePolíticas Públicas, responsáveis pelo SIAB.Endereço para correspondência: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo,715. São Paulo/SP. CEP: 01246-940. Tel.: (11) 3066-7744 / FAX: (11) 282-2920.E-mail: [email protected] / [email protected]

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

Sabina Léa Davidson GotliebSabina Léa Davidson Gotlieb

The Bas ic Care Informat ion System as a Data Source forThe Bas ic Care Informat ion System as a Data Source forthe Mortal i ty and L ive B irth Informat ion Systemsthe Mortal i ty and L ive B irth Informat ion Systems

Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

Informe Epidemiológicodo SUS

Int roduçãoIntroduçãoO conhecimento relativo à existência

de subenumeração de mortes - e, dentreessas, principalmente a de menores de umano - não é novo. Desde fins da décadade 40, reiniciando-se nos anos 70, algunsautores chamavam a atenção para o fatode que, no Brasil, particularmente em áreasmenos desenvolvidas, a situação do sub-registro de óbitos podia ser comprovadapela existência de número não desprezívelde cemitérios clandestinos. Essa é aterminologia usada por pesquisadores daárea específica de estatísticas de saúdepara designar locais onde são feitossepultamentos sem a exigência de qualquerdocumentação ou registro relativo àspessoas falecidas. Vários trabalhos foramfeitos mostrando sua ocorrência, com orelato dos problemas encontrados, com olevantamento de hipóteses, bem comoapresentando sugestões para a resoluçãodesses problemas.1-5

Situação análoga ocorria em todo opaís, quanto ao registro civil de nascimentovivo. As causas mais freqüentes pelasquais as famílias deixavam de promovero registro de nascimento de criançaseram, em geral, ligadas ao custo dessesregistros e à legitimidade da filiação.6-8 Oregistro de nascidos mortos, consideradotambém como obrigatório pela leibrasileira (Lei dos Registros Públicos),9

apresentava dificuldade equivalente.10,11

Visando solucionar, ou ao menosminimizar, esse estado de coisas, algunsinvestimentos foram feitos no setor,culminando com a promulgação da Leinº 9.534, de 10 de dezembro de 1997,12

que, finalmente, liberava de quaisquerônus os registros de nascimentos vivose mortos e de óbitos, no país.

Até hoje, entretanto, os problemas nãoestão resolvidos, e os Ministérios da Justiçae da Saúde, bem como o Poder Judiciário e oPrograma Comunidade Solidária d aPresidência da República, continuam apreocupar-se com o assunto e a tentarequacionar possíveis soluções.

Quanto à utilização das estatísticasrelativas a esses eventos, o Ministério da

Saúde, principal usuário dos dados advindosdos sistemas oficiais de informação sobrenascimentos e óbitos, tem optado por utilizarestimativas desses valores. Essa Instituição,na elaboração de suas políticas públicas paraa área materno-infantil, baseia-se nocomportamento de indicadores de saúdeque, em nível de numerador, de denomi-nador, ou ambos, dependem dos dados denascimentos e óbitos (coeficiente denatalidade, coeficiente de mortalidadeinfantil e seus componentes, coeficiente demortalidade perinatal, coeficiente denatimortalidade, coeficiente de mortalidadefetal, coeficiente de mortalidade materna,entre outros).

Ao calcular essas taxas, o Ministérioda Saúde, a Fundação Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE),algumas outras Instituições e a própriaRede Interagencial de Informações para aSaúde (RIPSA) em seus Indicadores eDados Básicos para a Saúde13,14 o fazemcom dados estimados. Isso acontece, porexemplo, com a mortalidade infantil, combase em pressuposto de que os dadosoficiais não são completos, deixando adesejar do ponto de vista quantitativo. Umadas principais falhas, quando se usam estasestimativas indiretas, seria a incapacidadede detectar mudanças de curto prazo nosindicadores, em decorrência de interven-ções na área de saúde.

Uma forma de avaliar essa situaçãoé a que se baseia nas razões entre osnúmeros de eventos informados eestimados (nascimentos e óbitos, e emespecial os de menores de um ano) pelaFundação IBGE, segundo unidades dafederação. Verifica-se que, em algumasáreas, seus valores são extremamentebaixos, o que mostra as possíveis falhasde cobertura dos sistemas.

Assim, com referência ao SINASC(Sistema de Informações sobre NascidosVivos), em 1997, a razão para o país foiigual a 87,2%,1 variando entre 43,1% naParaíba e cerca de 50% no Piauí e noMaranhão até razões maiores que 100%nos Estados das Regiões Sudeste, Sul eCentro-Oeste, exceção feita aos Estados

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volume 10, nº 1janeiro/março 2001

de Minas Gerais (56,9%) e de MatoGrosso (90%). Quanto a Minas Gerais, épreciso esclarecer que o Sistema não seencontrava ainda totalmente implantado.

Relativamente aos óbitos (coberturamédia de 80%), Maranhão e Piauí tambémapresentaram os piores desempenhos, nãoalcançando, sequer, a metade desse valor.Quanto às mortes de menores de um ano,a razão média obtida para o país foi depouco mais de 55%, enquanto nas RegiõesSul e Centro-Oeste a previsão de coberturafoi de cerca de 75%, na Região Sudeste,90%, e nos Estados do Norte e Nordesteos óbitos informados não atingiram 50%dos estimados.

Como conseqüência, o IDB-98,14 aoapresentar a taxa de mortalidade infantilpara estados brasileiros, em apenas umapequena parcela deles (São Paulo, Rio deJaneiro, Mato Grosso e Rio Grande do Sul)admite basear sua informação em dadosprovenientes do Sistema de Informaçõessobre Mortalidade (SIM) e do Sistema deInformações sobre Nascidos Vivos(SINASC), justificando esse procedimentoem razão da cobertura inadequada dosdados de nascimentos e óbitos para grandenúmero de áreas do país (para essas, oscoeficientes são estimados). Para o IDB-99/00 (no prelo) as estimativas passam aser referidas para 20 unidades da federação,e em sete Estados (Espírito Santo, Rio deJaneiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina,Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul)as taxas de mortalidade infantil sãocalculadas diretamente com os dados doSIM e do SINASC (informação verbal).

Com relação ao Coeficiente deMortalidade Infantil, os valores obtidospelos sistemas oficiais SIM e SINASC eas estimativas feitas pelo IBGE bem comoas apresentadas por Simões,15 também,não são iguais. As diferenças entre elessão explicadas em razão da coberturaincompleta do número de óbitos demenores de um ano e de nascidos vivos,bem como de cálculos feitos por métodosindiretos, com diferentes metodologias.

O Sistema de Informações sobreMortalidade, quando criado, em 1975/76,

pretendia incluir, entre suas fontes, tantoas informações do Registro Civil quanto osdados informais. Em meados da década de90, com base no que fora adotado peloSINASC - de uma via do documento básicopermanecer na instituição de saúde ondehavia sido gerado - o SIM implantou maisuma via da Declaração de Óbito (DO). Arecomendação do Ministério da Saúde era ade que esta deveria ser retirada diretamentepelo órgão responsável pelas estatísticas desaúde, em nível local; com esse proce-dimento, almejava-se poder alcançarcobertura de maior número de eventos, jáque se passava a depender menos do registrocivil, ou seja, para os óbitos ocorridos nohospital, mesmo que não viessem a serregistrados, o Serviço de Saúde passaria aconhecê-los, na medida em que retiraria aDO de sua própria fonte geradora - hospital.Com relação às informais, entretanto, o fatonunca chegou a se concretizar, em razãodas inúmeras dificuldades encontradas.

Recentemente, após a implantação, nopaís, de alguns programas específicos doMinistério da Saúde, abrem-se novasperspectivas para essa possibilidade. Assim,o Programa de Agentes Comunitários deSaúde (PACS), que objetiva prepararpessoas da própria comunidade paratransmitir informações básicas de saúde àpopulação, e o Programa de Saúde daFamília (PSF), que, além dessas noções,oferece tratamento primário , ambosiniciados na década de 90, prevêem umcadastramento das famílias atendidas, comlevantamento de dados demográficos,socioeconômicos, culturais, relativos aomeio ambiente, bem como os referentes àmortalidade e morbidade. Esses Programas,idealizados para aproximar os serviços desaúde da população, têm gerado significativaquantidade de dados que, hoje, estãoreunidos no Sistema de Informação deAtenção Básica (SIAB). O sistema produzrelatórios, cujo objetivo é permitir conhecera realidade sociossanitária da populaçãoacompanhada, avaliar a adequação dosserviços de saúde oferecidos, readequá-lossempre que necessário, visando, em últimaanálise, melhorar a qualidade dos serviços de

O Sistema deO Sistema deInformaçõesInformaçõess o b r es o b r eMortal idadeMortal idade( S I M ) e o( S I M ) e oSistema deSistema deInformaçõesInformaçõessobre Nascidossobre NascidosVivos (SINASC)Vivos (SINASC)são ineficientessão ineficientespara cobrir ospara cobrir osdados dedados denascimentos enascimentos eóbitos em grandeóbitos em grandenúmero de áreasnúmero de áreasdo Brasil.do Brasil.

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

saúde prestados.16 Com relação, especifi-camente, aos eventos vitais, nascimentos eóbitos passam a ser conhecidos localmenteem sua quase totalidade, dependendo dacobertura dos Programas.

Visto que os Programas estão seampliando sensivelmente17,18 e, segundoinformações verbais, em alguns municípiosa abrangência é praticamente integral,justifica-se este trabalho. Com base noprincípio pelo qual, cada vez mais, énecessário e importante usar os dados dossistemas oficiais de informação - quedevem, assim, ser aprimorados - objetiva-se sugerir um modo viável para incorporaràs informações do SIM e do SINASCaquelas obtidas por fontes alternativas, nocaso, o SIAB, um sistema de informaçõestambém oficial do Ministério da Saúde.

Embora o SIAB esteja voltado à atençãobásica, é indiscutível que poderá contribuir,de forma bastante efetiva, para, no caso deserem descobertos eventos não incluídos nasestatísticas do SIM e do SINASC, aumentara sua cobertura.

MetodologiaMetodologiaO material de trabalho é constituído

por dados de óbitos (totais e de menoresde um ano) e nascimentos vivos,provenientes do SIM e SINASC e dosobtidos por meio do banco de dados doSIAB, todos cedidos pelo CENEPI/FUNASA/MS.

As informações do SIM e doSINASC provêm respectivamente dosdocumentos DO e DN que seguem fluxoestabelecido e têm críticas já discutidasem outros trabalhos.19-23

O número de nascidos vivos do SIABprovém da Ficha B-GES (ficha deacompanhamento da gestante) onde éanotado o resultado de cada gravidezacompanhada pelo Programa. É importantesalientar que a definição de nascido vivoadotada no Programa de Saúde da Família étambém a usada internacionalmente, razãopela qual os eventos podem ser compa-rados.16 O número de óbitos (totais e demenores de um ano) provém da ficha D,consolidado no relatório SSA-2. Embora aidéia inicial deste trabalho fosse estabelecer

a ligação (linkage) entre os registros desseseventos nos bancos referidos (SIAB versusSINASC e SIAB versus SIM) isso não foipossível em razão de o banco de dados doSIAB não apresentar os eventos individua-lizados mas, sim, já tabulados, mostrandoapenas suas freqüências totais.

Para o projeto piloto, selecionaram-se os Estados do Ceará e Sergipe, naRegião Nordeste, e Tocantins, na RegiãoNorte, cujos dados, relativos ao ano de1998, foram coletados.

Para a complementação dos dadosdo SINASC (ou do SIM), há necessidadede serem distinguidas situações diferentes:

1º) os dados não apresentamintersecção, isto é, os totais informadospor cada um dos Sistemas (SINASC eSIAB ou SIM e SIAB) são excludentes,referindo-se a conjuntos diferentes(Figura 1). Por se considerar poucoprovável sua ocorrência, não houve nestetrabalho, simulação admitindo estasituação;

2º) os dados apresentam intersecção,isto é, existe um subconjunto de eventoscomuns, pertencentes tanto a um sistemacomo ao outro (SIM e SIAB ou SINASC eSIAB). Esta intersecção pode ser parcial outotal, conforme as Figuras 2 e 3. Até omomento, não há possibilidade de seremreconhecidos os eventos comuns aos doisSistemas, como anteriormente referido.Portanto, restou admitir que, caso aquantidade observada no SIAB fosse maior,a sua contribuição seria representada peladiferença numérica entre os totais de eventospor ele coletado e pelo SIM (ou SINASC),pressupondo-se que todos os pertencentesao SIM (ou SINASC) também teriam sidocoletados pelo SIAB (Figura 2, situação B).

Ainda na situação de intersecção,existe a possibilidade de que o totalcoletado pelo SIM (ou o SINASC) sejamaior do que o do SIAB. Este fato ocorreunas capitais dos estados analisados, ondese pressupôs que todos os eventoscaptados pelo SIAB já estavam contidosno SIM (ou SINASC).

A Figura 3 simula uma perfeitaequivalência entre os fatos vitaispertencentes ao SIAB e ao SIM (ou

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Figura 2 - Hipóteses de intersecção entre os dados dos Sistemas

Figura 1 - Hipótese de não-intersecção entre os dados dos Sistemas

A

B

C

SIAB SINASCSIAB SIM

SIAB SIM SIAB SINASC

SIAB SIABSIM SINASC

SIMSIAB SIAB SINASC

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

SINASC). Considera-se, entretanto, quea probabilidade de sua ocorrência sejamínima.

Sabe-se que, com maior probabili-dade, o SIAB atua mais intensamente nosmunicípios do interior dos estados; comodecorrência, nas análises mais detalhadas,foram excluídas as informações relativasàs capitais dos estados, em todos ossistemas. Complementarmente, emfunção de haver no SIM e no SINASCeventos em que o município de residênciaera ignorado, estes também foramexcluídos.

O enfoque dado a este trabalhoconsistiu em admitir como modelo asituação B, da Figura 2. Para tanto, foramanalisados os totais de eventos em cadaum dos Sistemas (SIM, SINASC e SIAB)em cada um dos municípios pertencentesaos três estados selecionados. Somentenaqueles em que o total do SIAB superouo total do SIM (ou do SINASC) foianalisado o ganho possível de informação.

Cabe ressaltar que, no Ceará,segundo informação obtida na SecretariaEstadual de Saúde, para o ano de 1998, oSIAB só foi alimentado com dados doPACS e do PSF, a partir do segundosemestre, visto que o Estado possuíasistema próprio de informação. Por essarazão, para nascidos vivos e óbitos demenores de um ano, os dados usados nestetrabalho foram os existentes na referidaSecretaria e correspondentes ao anocalendário.24 Relativamente aos óbitostotais, nesse Estado, trabalhou-se com osdados de julho a dezembro, motivo peloqual algumas avaliações deixaram de serfeitas.

Resultados e discussãoResultados e discussão

Nascimentos vivosFoi observado que, para os três

Estados, o SINASC captou maior númerode nascimentos do que o SIAB. A razãoentre os totais oriundos dos dois sistemasvariou de 1,5 no Ceará a 2,7 no Tocantins.Ao serem retirados os dados das capitais ereferentes a municípios ignorados, asrazões diminuem, embora, ainda perma-neçam altas, no Tocantins (Tabela 1).

O fato de o SINASC ter coberturamais completa é esperado em função de opróprio manual do SIAB prever: “aoidentificar um nascido vivo que não possuaDeclaração de Nascido Vivo (DN) a equipedo programa deve providenciar a suaemissão”.16 Cabe dizer que este incentivo àutilização da DN já constitui, por si mesmo,um aspecto bastante importante. Comodecorrência, poder-se-ia pensar que nãohaveria contribuição possível do SIAB aoSINASC. Todavia, procedendo-se àdistribuição dos nascimentos por municípiode residência, verifica-se que, em algunsdeles, os totais informados pelo SIAB sãomaiores que os do SINASC. Para Sergipe,isto ocorreu em 12,2% dos municípios epara o Tocantins, a proporção foi de 16,2%.A possível contribuição seria de 201 nascidosvivos em Sergipe e 496, no Tocantins,imaginando a ocorrência da situação B daFigura 2, referida anteriormente. Éimportante salientar que, no Ceará, 50,6%de seus municípios (excluindo o da Capital)apresentaram, no SIAB, maior número denascidos vivos que o verificado peloSINASC, dando uma contribuição de 7.629nascidos vivos desconhecidos do SINASC,adotando, também, a mesma hipótese.

Figura 3 - Hipótese de total correspondência entre os dados dos Sistemas

SIAB SIABSINASCSIM

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Em termos de ganho para oSINASC, verifica-se que o acréscimopercentual variou entre 0,6%, emSergipe, e 7,8%, no Ceará (Tabela 2).

Óbitos totaisA situação relativa à captação de

óbitos totais pelos dois sistemas, SIM eSIAB, nos estados, permite verificar quea do SIM é sempre maior, sendo asrazões, em Sergipe e no Tocantins,respectivamente, iguais a 2,3 e 2,4. Coma exclusão dos eventos relativos àscapitais, esse valor passa a ser 2,1 noTocantins, sendo surpreendente o casode Sergipe, onde se verifica que o SIAB

coleta um número um pouco maior deóbitos do que o próprio SIM, com razãoigual a 0,99 (Tabela 3).

Relativamente ao Ceará, considerandoapenas os óbitos ocorridos no segundosemestre, pelos motivos anteriormenteapresentados, nota-se que as razões entreos totais fornecidos pelo SIM e SIAB foram1,47 (para o Estado como um todo) e 1,04com a exclusão dos eventos de Fortaleza ede residência em município ignorado.

Analisando os municípios do interiordos Estados, constata-se que em 43municípios de Sergipe (58,1%) e 38 deTocantins (32,8%) houve maior número deeventos coletados pelo SIAB (Tabela 4).

Tabela 1 - Número de nascidos vivos segundo Sistema de Informações e respectivas diferença e razão, emSergipe, Ceará e Tocantins - 1998

Sistema por área Sergipe Ceará Tocantins

q Total do EstadoSINASC** (1)SIAB** (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

q Sem Capital*SINASC (1)SIAB (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

41.67720.20321.474

2,1

139.08589.97149.114

1,5

25.7659.566

16.1992,7

31.32918.43812.891

1,7

98.31989.971

8.3481,1

22.2608.579

13.6812,6

* Com exclusão dos dados de Capitais e de residentes em município ignorado.** SINASC = Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos; SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica.

Tabela 2 - Número total de municípios (com exclusão da Capital), número de municípios onde o SIAB*informa maior número de nascidos vivos do que o SINASC*, possível contribuição quantitativa e novos

valores do total de nascidos vivos em Sergipe, Ceará e Tocantins - 1998

Situação Sergipe Ceará Tocantins

Total de municípios

No

%

9

12,2

92

50,6

19

16,2

Municípios onde o SIAB é maiordo que o SINASC

Possível contribuição do SIABNo

%

201

0,6

7.629

7,8

496

2,2

Novos valores dos Nascidos Vivos

74 182 116

31.530 105.948 22.756

* SIAB = Sistema de Informações de Atenção Básica;SINASC = Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos.

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

A contribuição desses municípios,diante da hipótese referente à situaçãoB (Figura 2), levaria a um maior incremento,comparativamente aos verificados com osnascidos vivos. A percentagem de ganho seria7%, no Tocantins, e 23,7%, em Sergipe. Aanálise relativa ao Estado do Ceará não pôdeser realizada por falta de informações.

Óbitos de menores de um anoDiante de sua importância, os óbitos

de menores de um ano, por serem compo-nentes essenciais para a elaboração deindicadores de nível de saúde, princi-palmente na área materno-infantil, foramestudados separadamente.

A avaliação dos dois sistemas (SIMe SIAB) mostra que, do ponto de vista

da cobertura desse evento, as diferençassão menores do que aquelas apresentadaspara os óbitos totais, para os Estados deSergipe e Tocantins (Tabela 5).

Excluindo-se os eventos referentesàs capitais, nos dois sistemas, bem comoos óbitos de residentes em localignorado, no SIM, verifica-se que, noTocantins, a razão foi de 1,3; de novo,no Estado de Sergipe, o SIAB capta maiseventos do que o SIM, com razão de0,36; o mesmo acontecendo no Ceará,onde a razão foi igual a 0,77 (Tabela 5).

Analisando os resultados provenientesdos dois sistemas, nos diferentes municípiosdas três unidades da federação, com exceçãodas capitais, nota-se que, em 71,6% dascidades de Sergipe, houve predomínio do

Tabela 3 - Número de óbitos por Sistema de Informações e respectivas diferença e razão - Sergipe, Ceará eTocantins - 1998

Sistema por área Sergipe Ceará* Tocantins

q Total do EstadoSIM*** (1)SIAB*** (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

q Sem Capital**SIM (1)SIAB (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

9.5194.1155.4042,31

14.78210.034

4.7481,47

4.1041.6812.4232,44

3.7423.790

- 480,99

9.7719.377

3941,04

3.5171.6461.8712,14

* Refere-se ao segundo semestre do ano.** Excluídos os óbitos das Capitais e de residentes em município ignorado.*** SIM = Sistema de Informações sobre Mortalidade; SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica.

Tabela 4 - Municípios (com exclusão da Capital), onde o SIAB* informa maior número de óbitos que o SIM* epossível contribuição no número dos óbitos em Sergipe, Ceará e Tocantins - 1998

Influência dos SIAB nos óbitos Sergipe Tocantins

Total de municípios

No

%

43

58,1

38

32,8

Municípios onde o SIAB > SIM

Possível contribuição do SIABNo

%

1.160

23,7

265

7,0

Novos valores do total de óbitos

74 116

4.902 3.782* SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica; SIM = Sistema de Informações sobre Mortalidade.

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total de óbitos informado pelo SIAB emrelação aos coletados pelo SIM. No Ceará,esse valor foi de 68,7% e, no Tocantins,bem menor (36,2% dos municípios).

É interessante verificar que o ganhopropiciado pela possível inclusão dosdados do SIAB aos do SIM, em Sergipe,foi de 658 óbitos de menores de um ano,909, no Ceará, e 145, no Tocantins, comacréscimos de 68,8%, 32,3% e 25,2%,respectivamente (Tabela 6).

Coeficiente de mortalidade infantilCom base nos resultados obtidos e

calculando-se uma taxa de mortalidadeinfantil corrigida, verifica-se ter havidoum ganho importante no seu significado

numérico. Estes dados, ainda que nãocompletos, em razão dos pressupostosadotados, permitem reconhecer que esseindicador assume valores mais próximos darealidade do que os anteriormente consi-derados. Dessa forma, os aumentos nastaxas foram, respectivamente, de 23% noCeará, 30% em Tocantins e 219% emSergipe, lembrando que os valorescorrespondem às taxas estaduais, nãoincluídos os eventos das capitais (Tabela 7).

Considerações FinaisConsiderações FinaisAinda que o trabalho tenha sido feito

com base em pressupostos, possivelmentenem sempre totalmente verdadeiros, é de sever que o contato direto dos membros das

Tabela 5 - Número de óbitos de menores de um ano por Sistema de Informações e respectivas diferença erazão em Sergipe, Ceará e Tocantins - 1998

Sistema por área Sergipe Ceará Tocantins

q Total do EstadoSIM (1)SIAB (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

q Sem Capital*

SIM (1)SIAB (2)Diferença (1) - (2)Razão (1) / (2)

1.3708435271,6

4.0373.648

3891,1

5443531911,5

298819

- 5210,36

2.8123.648- 8360,77

431332

991,30

* Excluídos os óbitos das Capitais e de residentes em município ignorado.

Tabela 6 - Municípios (com exclusão da capital) onde o SIAB* informa maior número de óbitos em menoresde um ano do que o SIM* e possível contribuição quantitativa do SIAB no número de óbitos de menores de um

ano em Sergipe, Ceará e Tocantins - 1998

Influência do SIAB nos óbitos Sergipe Ceará Tocantins

Total de municípios

No

%

53

71,6

125

68,7

42

36,2

Municípios onde o SIAB > SIM

Possível contribuição do SIABNo

%

658

68,8

909

32,3

145

25,2

Novos valores do total de óbitos

74 182 116

956 3.721 576

* SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica; SIM = Sistema de Informações sobre Mortalidade.

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

equipes do Programa de Saúde da Família,principalmente, os agentes comunitários desaúde, constitui-se, ao menos nos municípiosmenores e mais afastados dos grandescentros, em uma excelente fonte de infor-mações sobre os eventos vitais.

A partir dessa constatação, duasrecomendações podem ser elaboradas:1ª) que os agentes de saúde incentivem a

população a promover os seus registrosa partir de declarações de nascido vivoe de óbito que os próprios agentes emédicos dos Programas poderiam

fornecer, como aliás, já vem ocorrendocom relação à DN;

2ª) que seja incluída, entre as atividades dosagentes, a elaboração de uma notificaçãopara cada nascimento e cada óbito,ocorridos em suas áreas de atuação, eo encaminhamento às SecretariasMunicipais de Saúde ou SecretariasEstaduais (na dependência do fluxo dainformação de cada área). É necessárioesclarecer que esta notificação nãocorresponde àquela já prevista noManual do SIAB, mas diz respeito a

uma notificação especial, comvistas a comunicar o eventoaos responsáveis pelo SIM epelo SINASC.

Com relação à primeiraidéia, como aliás já comen-tado anteriormente, asituação já vem ocorrendorelativamente aos nasci-mentos vivos. Mesmoassim, entretanto, o trabalhopermitiu apontar maiorcobertura do SIAB emrelação ao SINASC, emvárias áreas, com contribui-ção que, embora pequena,possibilita aumentar onúmero de nascidos vivos noEstado, diminuindo, com

* Com exclusão dos eventos nas Capitais e de residentes em município ignorado.** SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica.

Tabela 7 - Número de nascidos vivos e de óbitos de menores de um ano e taxa de mortalidade infantil (por 1.000nascidos vivos) antes e depois da inclusão de informações do SIAB**- Sergipe*, Ceará* e Tocantins* - 1998

Evento Antes do SIAB Depois do SIABNascidos Vivos

SergipeCeará

Tocantins

31.32998.31922.260

31.530105.948

2.756

Óbitos de < 1 ano298

2.812431

9563.721

576

SergipeCeará

Tocantins

Taxa de Mortalidade Infantil

SergipeCeará

Tocantins

9,528,619,4

30,335,125,3

Figura 4 - Sugestão de modelo de ficha de notificação de nascido vivo

Nome da mãe

Residência Município

Dados do recém-nascido

Sexo Peso Data do nascimento

Local de nascimento (anote se hospital ou domicílio)

Município de ocorrência

Teve Declaração de Nascido Vivo?

Foi registrado no cartório?

Local e data Agente

Ficha de Notificação de Nascido Vivo (Comunicação do SIAB* ao SINASC*)

* SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica; * SINASC = Sistema de Informaçõessobre Nascidos Vivos.

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isto, o nível de subenu-meração desse evento. Dessaforma, sugere-se ao Minis-tério da Saúde que os agentesde saúde, para cada nascidovivo descoberto em razão desuas visitas, façam umanotificação às SecretariasMunicipais de Saúde, confor-me modelo a seguir (Figura 4).

No que se refere aosóbitos, apesar de ser ex-tremamente importante a suainclusão no sistema, existe oproblema da causa de morte,assunto já bastante discu-tido, mas sobre o qual não há,ainda, na doutrina, enten-dimento uniforme. Tem sidocomentado, e parece seropinião da maioria, que as causas de mortedeclaradas por leigos não devam seragregadas àquelas declaradas por médicos.Entretanto, considera-se fundamental que oSIAB faça a comunicação para que, ao menosdo ponto de vista quantitativo, a correçãopossa ser feita.

Dessa forma, pode-se concluir que,relativamente às mortes, a segunda idéiaparece ser a mais recomendável. Imagina-se, então, que, descoberto um caso de óbito,os agentes devam preencher uma notifi-cação que seria enviada à SecretariaMunicipal de Saúde (que, por sua vez, aenviaria à Secretaria Estadual), instância naqual seria verificado se essa morte já estariaou não incluída no Sistema, a partir dasinformações constantes na ficha apre-sentada a seguir (Figura 5).

Nesse nível, se for constatado que oóbito já se encontra no SIM, a notificaçãoé apenas arquivada; caso contrário, no nívelestadual, o caso deve ser incorporado aoSistema, sugerindo-se que passe a haver,na Declaração de Óbito oficial, quando estavier a sofrer modificação de desenho, umaanotação especial, referindo que se trata deum óbito notificado pelo SIAB.

É importante salientar que os dadosaqui apresentados referiram-se à situaçãoB (Figura 2), isto é, caso em que houveintersecção dos dados provenientes dos

dois sistemas, e que o total do SIAB foimaior do que o total do SIM (ouSINASC). Entretanto, caso houvesse doisconjuntos completamente diferentes, acontribuição do SIAB seria muito maior.Portanto, pode-se afirmar que o ganhoreal está entre o mínimo apresentado pelasituação B e o máximo, por esta últimahipótese.

Apesar de não ter sido possívelconhecer a real cobertura dos ProgramasPACS e PSF, nestas áreas, mas, imaginandoque ela pudesse ser ainda expandida,provavelmente o ganho seria tambémmaior.

A despeito da simulação realizada,verifica-se que os valores das novas taxasde mortalidade infantil, para o Ceará,Sergipe e Tocantins, mostram-se aindabem distantes das estimativas feitas peloIBGE ou por Simões15. A hipótese a seraventada seria a de que, possivelmente,estes últimos valores, estariam superes-timando a real situação. Recomenda-seque pesquisas operacionais locais sejamrealizadas, a fim de detectar onde está averdade.

AgradecimentosAgradecimentosAs autoras agradecem a Roberto Men

Fernandes, do CENEPI da FundaçãoNacional de Saúde, Ministério da Saúde,

Figura 5 - Sugestão de modelo de ficha de notificação de óbito

Nome

Residência Município

Sexo Peso Data do óbito

Local do óbito (anote se hospital ou domicílio)

Município de ocorrência

Teve Declaração de Óbito?

Foi registrado no cartório?

Local e data Agente

Ficha de Notificação de Óbito (Comunicação do SIAB* ao SIM*)

Teve assistência médica?

Qual a causa da morte?

* SIAB = Sistema de Informação de Atenção Básica; * SIM = Sistema de Informações sobreMortalidade.

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SIAB como fonte para o SIM e SINASC

pela prestimosa colaboração ao fornecer astabulações relativa aos dados solicitados.

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