o Trabalho de Enfermagem Hospitalar

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    O TRABALHO DE ENFERMAGEM HOSPITALAR:Uma Visão Ergonômica

    Maria Yvone Chaves Mauro, Antonio José Cupello, Carla Christina Chaves Mauro

    Maria Yvone Chaves Mauro Deptº de Enfermagem de Saúde PúblicaFaculdade de Enfermagem/UERJRio de Janeiro/BRASILE-mail: [email protected]

    Palavras Chave : Ergonomia Hospitalar; Análise Ergonômica; Trabalho de Enfermagem

    Resumo

    Estudo ergonômico do trabalho de enfermagem numa clínica médica de um hospital universitário,tomando-se como fundamento teórico as premissas: saúde e segurança no local de trabalho; duraçãodo trabalho e lazer adequados à manutenção da saúde; conteúdo organizacional que não favoreça àocorrência de problemas bio-psico-sociais no trabalhador OIT (1977), DEJOURS (1999),ESTRYN-BEHAR (1996), GRANDJEAN (1998), OTERO (1993), MAURO(1995) e VIDAL(2000). Objetivou-se abordar a interação dos fatores pessoais (higidez e fadiga), as circunstânciasdo trabalho real (organização, treinamento, comunicação e apoio à equipe) e as questões ambientais(mobiliário, planta física, equipamentos e riscos ocupacionais) que afetam o desempenho dotrabalhador de enfermagem. Considerando que a identificação do trabalho real depende dasobservações ergonômicas e das informações objetivas sobre movimentação, postura, desempenhocognitivo e controle emocional exigidos da tarefa, utilizou-se o método científico (conjunto de procedimentos) caracterizado pelas técnicas de LEVANTAMENTO DE OPINÃO,OBSERVAÇÃO e PESQUISA-AÇÃO (pesquisa e intervenção). A demanda ergonômica constoude 18 leitos de doentes acamados, direção do serviço e equipe composta de 05 depoentes. Foramrealizadas sete horas e trinta e oito minutos (7:38 hs) de observação em diferentes horários. Osresultados das observações levaram ao seguinte diagnóstico ergonômico: a) os constantesdeslocamentos propiciaram intensa sobrecarga física no sistema osteomuscular, dor na coluna emembros inferiores e fadiga; b) a variabilidade de atividades, leva à exigência de muita atenção econcentração em relação as responsabilidades que lhes são impostas, propiciando o estresse; c) ainsuficiência de recursos humanos, materiais e equipamentos inadequados, levam a sobrecargafísica, mental e emocional. Recomenda-se portanto: adequação do efetivo de pessoal, treinamento

    quanto à postura inadequada, integração da equipe, melhoria do ambiente físico e suprimento e/oureposição necessária de material.

    Key words: Hospitalar Ergonomy; Ergonomic Analysis; Nursing Work

    Abstract

    Ergonomic study of nursing work on a clinic of a university hospital taking as theoreticalfundament the premises: health and security on the labor loca; adequate duration of work andleisure to the maintenance of health; organizational containing which does not favour theoccurrence of biopsicosocial problems on the worker OIT (1977), DEJOURS (1999), ESTRYN-BEHAR (1996), GRANDJEAN (1998), OTERO (1993), MAURO (1995) and VIDAL (2000). Itaimed the approach of the interaction of personal factors (rigidity and fatigue), the

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    circumstances of the real work (organization, training, communication and support to the team) andthe environmental issues (furniture, physical plant, equipment and occupational risks) that affect the performance of the nursing worker. Considering that the identification of the real work depends onthe ergonomic observations and of the objective information about movements, posture, cognitive performance and emotional control demanded on the task, it was proceeded the scientific method

    (conjoint of procedures) characterized by the techniques of opinion INQUIRY, observation andresearch-action (research and intervention). The ergonomic demand included 18 beds of sick persons, direction of the service and team composed by 05 deposers. The observation lasted sevenhours and thirty-eight minutes (7:38) on different times. The results of the observations leaded tothe following ergonomic diagnostic: a) the constant displacements propitiated an intense physicaloverload on the osteo-muscular system, column pain and inferior members and fatigue; b) thevariability of activities leads to the exigency of attention and concentration related to theresponsibilities imposed to them, propitiating the stress; c) the insufficiency of human resources,inadequate materials and equipment lead to physical, mental and emotional overcharge. Therefore itis recommended: adaptation of the effective of personnel, training related to the inadequate posture,integration of the team, improvement of the physical environment and supply and/or necessaryreplacement of the material.

    I. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, a visão de Ergonomia Hospitalar avançou com o objetivo de assimilar

    um amplo espectro de atividades incluindo as dos setores de internação, ambulatorial,administrativos, de logística (cozinha, lavanderia, central de esterilização, serviço de manutenção ede gráfica) e atividades técnicas (laboratórios de análises funcionais, serviços de radiologia e centrocirúrgico).

    A maioria dos estudos realizados em Ergonomia Hospitalar, tentaram identificar junto aosadministradores, estratégias ergonômicas em desenvolvimento, visando conciliar as cargas detrabalho à níveis aceitáveis de cuidados (Estryn-Behar, 1996). Nestes estudos o estresse e os problemas osteomusculares são os determinantes mais freqüentes dos problemas de saúde dostrabalhadores de enfermagem hospitalar e da conseqüente perda da qualidade dos cuidados por elesexecutados. Esta afirmativa leva em consideração que a qualidade do cuidado de enfermagem, emgeral, mantém uma relação direta entre os problemas de saúde dos executores das atividades xdoenças dos clientes assistidos o que contribui para a existência de fatores bio-psico-sociais queinterferem no trabalho de enfermagem.

    A Ergonomia no setor hospitalar estuda a interação dos fatores pessoais (fadiga, rigidez,idade, treinamento), as circunstâncias do trabalho (organização do trabalho, escalas, mobiliário, planta física, equipamentos, comunicação, apoio psicológico dentro da equipe de trabalho), e as

    questões ambientais que afetam o desempenho do trabalho.Em estudo realizado no Hospital Universitário selecionado para o desenvolvimento desta

    análise ergonômica, foi verificado numa pesquisa com estudantes de enfermagem quando nodesempenho de suas atividades, que 43% deles sentiam algum mal estar na coluna lombar, o queatribuíram como causa, os esforços repetidos de levantamento de peso (do doente) na prestação decuidados; no final do plantão 90% tinham dor nos membros inferiores; 73% dor nas costas e 57%no pescoço, sendo que 96% davam cuidados integrais para 2 a 6 pacientes durante o plantão e saiamfatigados, e referiram que o intervalo de repouso não era suficiente para recuperação do seuestresse físico.

    Estes estudos apontaram para a necessidade de uma análise ergonômica das atividadesdesenvolvidas pela equipe de enfermagem, nesta Unidade Hospitalar.

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    Neste sentido e para cumprir um requisito do Curso de Especialização em Ergonomia – CESERG/COPPE/UFRJ, nos propusemos a realizar uma Análise Ergonômica da Atividade deEnfermagem em um Hospital Universitário do Estado do Rio de Janeiro, visando a melhoria dascondições de trabalho num setor selecionado.

    II. METODOLOGIA2.1. Abordagem Metodológica:

    De acordo com VIDAL (2000), a metodologia recomendada e adotada no estudo em questão,resumidamente procurou seguir as quatro fases distintas da Análise Ergonômica do Trabalho,necessitando de uma visão um pouco mais estratégica e de negócio, à saber: 1)INSTRUÇÃO DADEMANDA que envolveu: o estabelecimento da proposta; focalização do problema com o auxílioda gerência e outros elementos envolvidos (Entrevista com elementos do nível central,intermediário e local); estabelecimento dos problemas prioritários a serem resolvidos (a partir daanálise da demanda e levantamento das prioridades) através da verbalização; 2)ANÁLISEERGONÔMICA DO TRABALHO: desenvolvimento de observações assistemáticas e sistemáticas baseado em instrumento; registro de informações sobre o funcionamento dos serviços e do setorobjeto de estudo; levantamento de estatísticas: dados demográficos e das condições de trabalho com base em questionários; análise dos resultados. 3)PLANEJAMENTO DAS MELHORIAS – DIAGNÓSTICO FINAL: planejamento das intervenções com o auxílio de designer, arquitetos,engenheiros e outros; 4)IMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES: orientação das intervenções ( o que nãofoi atingido neste estudo) utilizando estratégias de argumentação convincente e de negociação.2.2. População

    Constituíram-se sujeitos do estudo, os Auxiliares de Enfermagem que trabalham nasEnfermarias 11 e 12 do Hospital Universitário Pedro Ernesto – HUPE, com a participação da Chefede Enfermagem e do Coordenador da Coordenadoria de Enfermagem do hospital, totalizando seis(06) trabalhadores.2.3. Instrumentos de Coleta

    Foram utilizados vários procedimentos técnicos e instrumentos de coleta de dados, bem como: entrevista não estruturada com funcionários do setor para definir o direcionamento da pesquisa

    e seleção de contatos; entrevista semi-estruturada que foi aplicada com o Coordenador Geral(administração em nível superior), Chefe de Enfermagem da Unidade (administração em nívelintermediário) visando a localização dos funcionários de enfermagem da unidade (executores dasatividades) para planejar as observações; questionário estruturado cujos dados foram coletadosdos Auxiliares de Enfermagem; formulário para a coleta de dados de identificação e estatísticas; observação assistemática da ambiência; observação participante sistemática, através de uma

    planilha com dados relativos à atividade, em média de sete (07) horas de observação das atividadesrealizadas em diferentes horários e dias; Conversa-ação utilizada na validação dos resultados.2.4. Contexto do Estudo

    Tendo em vistas observações que antecederam esta pesquisa e com base em dados estatísticossobre pesquisa sobre condições de trabalho e absenteísmo dos profissionais de enfermagem,escolhemos como local para a Análise Ergonômica de Atividade no Curso de Especialização emErgonomia Contemporânea de 2000, um Hospital Universitário da Cidade do Rio de Janeiro.

    III. DEMANDA ERGONÔMICA

    3.1. Primeiros Contatos

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    Foram entrevistados: Coordenador de Enfermagem do Hospital, da alta direção, e quedispõe de poder junto a Administração Superior; Chefe de Enfermagem da Unidade das ClínicasMédica 11 e 12; Estudantes de enfermagem. 3.2. Problemas Apontados

    Os conteúdos das entrevistas deram origem a uma Pesquisa de Opinião, realizada com setefuncionários Auxiliares de Enfermagem e a Enfermeira Chefe da Unidade que revelaram acerca daRealização da Atividade: a)Apresentaram problemas em relação à POSIÇÃO MAISDESCONFORTÁVEL no desempenho de sua atividade: 40% na mobilização do pacientedependente; 20% ao abaixar as grades da cama; 20% na manipulação do cliente com flexão dotronco e 20% em banhos no leito; b)Apresentaram problemas em relação à QUEIXAS MAISFREQUENTES:50%-lombalgias; 20% - cansaço; 20%-dor nas pernas e 10% - dificuldade derespirar.

    3.3. Demanda à ser Estudada:De acordo com as entrevistas e visitas realizadas, além dos dados e aspectos levantados pela

    pesquisa bibliográfica, admitiu-se como Demanda Ergonômica as indicações: a)DaCoordenadoriade Enfermagem do Hospital, que manifestou grandePREOCUPAÇÃO com a freqüência,absenteísmo e queixas do grupo de profissionais de enfermagem quanto ao trabalho desenvolvido,notadamente nas enfermarias com pacientes mais graves e dependentes de cuidados deenfermagem; b)DasQUEIXAS FREQUENTES dos trabalhadores de enfermagem entrevistados,sobre o cansaço e dores decorrentes do trabalho no final da jornada, e tentativa de EVASÃO defuncionários das Unidades de Internação para o Ambulatório, como forma de aliviar a carga detrabalho e c)DosRESULTADOS DE PESQUISA realizada com os trabalhadores de enfermagemdo Hospital, os quais justificaram a proposta demandada.

    IV. ANÁLISE GLOBAL4.1. Contingências e Contexto da Empresa

    Trata-se de um Hospital Universitário localizada na Zona Norte da Cidade do Rio de Janeiroque integra a rede de Sistema Único de Saúde, como hospital de nível terciário. Teve sua origem noDepartamento Nacional de Saúde, sendo que a 50 anos foi vinculado à Universidade; é mantidocom verba estadual e recursos originários de serviços prestados à população através do SUS.

    Dispõe hoje de 600 leitos com 30 enfermarias comuns e 10 unidades especiais. Sua produçãoem 1999 foi de aproximadamente 16.000 internações com 8.000 cirurgias e 1.500.000 atendimentosambulatoriais. O hospital conta com 2.400 funcionários além de docentes e alunos de graduação e pós-graduação. O pessoal de enfermagem é composto de 1.240 funcionários, sendo 187Enfermeiros, 999 Auxiliares de Enfermagem e 54 Auxiliares de Serviços Gerais.4.2. Setor / População Escolhida

    Foram escolhidas as Enfermarias 11 e 12 , que têm um efetivo de 22 Auxiliares deEnfermagem, na faixa etária de 35 a 50 anos, 90% do sexo feminino, que trabalham em 03 turnos(12 hs - 04 dias / 03 noites / 12 x 60 hs).

    As Enfermarias contam cada uma com 09 leitos, normalmente todos ocupados com pacientese estão dispostos uma de cada lado do Posto de Enfermagem (que é central). Os banheiroslocalizam-se numa das extremidades das enfermarias, cada uma delas tem acesso à uma varanda, eambas tem saída para o corredor do hospital.

    V. ANÁLISE FOCAL E PRÉ DIAGNÓSTICO

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    5.1. Critérios de EscolhaEste quadro fundamentou-se basicamente em:1) CRITÉRIO DE QUEIXAS durante a entrevista/questionário com os Auxiliares de

    Enfermagem e pesquisa de absenteísmo, caracterizando como mais evidenciados: Doresna coluna; Cansaço; Dores nas pernas

    2) CRITÉRIO DE SIMBOLISMO porque o resultado deste estudo poderá permitir umaGENERALIZAÇÃO com semelhantes atividades na mesma instituição.

    5.2. Grupo de TrabalhoLevando em consideração a importância da formação de um Grupo de trabalho, que objetiva

    dar um suporte ao local de observação, segundo a metodologia da AET, no trabalho proposto foiescolhido um grupo formado pela chefia de enfermagem, o grupo de auxiliares de enfermagemobservados, e os próprios ergonomistas, buscando ao longo da análise através do método deconversa-ação, validar as observações.5.3. Características Objeto de Análise

    Sobrecarga física e queixas de dor - A atividade desenvolvida com pacientes acamadosdependentes de cuidados pessoais exige sobrecarga física e longas caminhadas entre enfermaria e posto de enfermagem e longos períodos de posição em pé, resultando queixas de dor cervical,lombar e nas pernas no final da jornada.

    Estresse e Cansaço – Além do trabalho exigir muita responsabilidade, há um grandevolume de trabalho em relação a quantidade de pessoal.

    Mobiliário – Na grande maioria os equipamentos estão deteriorados (enferrujados), o queacaba exigindo sobre-esforço para regulagem de altura dos mesmos, em relação ao trabalhador. 5.4. Pré-Diagnóstico

    As atividades dos Auxiliares de Enfermagem estão concentrados nos cuidados à pacientesadultos, com sobrepeso e dependentes no leito (cama), necessitando ajuda para MOVIMENTAÇÃOno leito e TRANSPORTE MANUAL da cama para a cadeira de rodas, maca ou vice-versa. Estasatividades exigem uma SOBRECARGA FÍSICA do profissional e muitas vezes são realizadas comPOSTURAS INDADEQUADAS em relação à biomecânica corporal. A situação verificada leva áqueixas freqüentes de DOR NAS COLUNA VERTEBRAL e PERNAS.

    VI. OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA6.1. Características Focadas da Atividade

    Partindo das características objeto de análise (sobrecarga física e queixas de dor, estresse ecansaço e mobiliário), do enunciado do pré-diagnóstico, partiu-se para a identificação das queixasobserváveis, através da técnica de Observação Sistemática. Vale ressaltar a importância de um bom planejamento das observações sistemáticas, que, segundo Vidal (2000) “são características e propriedades mensuráveis da atividade de trabalho.”

    Nos primeiros contatos com a atividade, no momento das observações globais, foramdestacadas algumas questões da atividade da auxiliar de enfermagem, como sobrecarga física,estresse, cansaço, inadequação do mobiliário, porém no desenvolvimento das observaçõessistemática, pode-se observar que não só estas questões estavam interrelacionadas, como outrasapareceriam no decorrer das observações, incluindo a grande quantidade de deslocamentos, e avariabilidade de atividades a serem executadas pelas auxiliares.

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    Foi determinado um Planejamento da Observação onde foi determinado 3 dias de observação,sendo que em um deles houve uma troca de turno, totalizando 7:38 hs de tempo observável.

    Em cada observação, puderam ser constatadas particularidades do dia de trabalho em questãorelacionadas a atividade da auxiliar de enfermagem Essas particularidades foram anotadas comocaracterísticas de cada momento de observação e, gradativamente, possibilitaram melhorcompreensão da atividade em estudo.

    VII. RESULTADOS, VALIDAÇÃO E DIAGNÓSTICO7.1. Resultados

    Desde as primeiras observações a maior incidência de reclamações eram em relação a posiçãodesconfortável além dos problemas em relação ao cansaço e dor nas pernas, no desempenho de suaatividade. Em relação a estas questões, verifica-se nos resultados durante as observações, que asauxiliares tomam posturas variadas no decorrer da sua atividade, sendo as de maior prevalência:andando (37%), em pé (23%) e inclinada (22%).

    Verifica-se que a questão da postura é um agravante não só pelos mobiliários inadequados,mas sim pela variabilidade de atividades desenvolvidas pelo pessoal de enfermagem, sendorelatada algumas a seguir: aplicar medicamento (31 min), preparo de medicação (40 min) , prepararo banho (11 min), alimentar o paciente (17 min), confortar o paciente (19 min), banho no leito (23min), observar o paciente (3 min), atender chamado paciente (5 min) , trocar a roupa de cama ( 2min) , higiene oral (1 min), depositar roupa suja (1 min) , circulando ( 31 min), transportar pacienteda cama para cadeira de roda (20 min), transportar paciente na cadeira de roda (20 min), ajudar paciente no banho (46 min) , anotar medicação e sinais vitais (17 min), atender o telefone (6 min), passando o plantão (11 min), interferência (5 min), conversa com supervisor (5 min), fazendocurativo (4 min), ajudando os estagiários (4 min), arrumando o leito (4 min), etc...

    Todas estas atividades se somadas, no período de observação, tem um tempo de atividaderelativamente curto, porém demandam uma quantidade muito grande de deslocamentos, cerca de119 deslocamentos em 7:38 hs minutos observáveis. Este resultado demonstra que o deslocamento,questão não apontada nas características objetos de análise, passa a ser de vital importância para oentendimento da atividade de auxiliar de enfermagem.

    7.2.

    Validação

    2%

    2%

    4%37%

    10%

    23%

    22%

    EM PÉSENTADOINCLINADOBRAÇOS LEVANTADOSAGACHADOANDANDOTORSÃO

    Gráfico 1 – POSTURAS ADOTADAS DURANTE A REALIZAÇ O DA ATIVIDADE DE AUXILIAR DE

    ENFERMGEM –HUPE/UERJ, 2000

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    As hipóteses formuladas foram validadas com os dois grupos distintos, onde houve a participação tanto da chefia como das auxiliares de enfermagem.

    Com os Funcionários que validaram que a SOBRE CARGA estaria relacionada àVARIABILIDADE, SIMULTANEIDADE e EXCESSIVA responsabilidade sobre os poucosfuncionários, o que não permite tempo para pausa, alimentação e repouso noturno (consentido),além de sobrecarga em relação s atividades NORMAIS e EMERGENCIAIS sobre os funcionáriosna jornada ( muita coisa acontece e tudo ao mesmo tempo). Também foi validado que as posiçõesem pé (23%) e andando (37%) são as mais desgastantes e a maior parte do tempo é gasto com osdeslocamentos (119 vezes em 7:38 hs ) o que leva a uma relação direta a hipótese do ESTRESSE eCANSAÇO.

    Uma NOVA HIPÓTESE surgiu, pois na maior parte das observações realizadas foiencontrado a relação de 02 AUXIARES para 18 PACIENTES , o que supõe mais sobrecarga detrabalho, devido a FALTA DE PESSOAL

    Com asChefias de Enfermagem e Treinamento em relação as QUEIXAS RELATADAS,foram validadas as dores na coluna vertebral e nas pernas, sensação de CANSAÇO e ESTRESSE e pausas e descanso INSUFICIENTES. Foram relatada que como PROBLEMAS SITUADOS eramdestacados a falta de RECURSOS HUMANOS, um número de MATERIAIS INSUFICIENTES emrelação às necessidades, planta física não FUNCIONAL em relação ao conforto, MOBILIÁRIOSincompatíveis em relação a estatura dos funcionários (armários e camas), falta de TREINAMENTOe poluição SONORA interna e externa, entre os que perturbavam o processo de trabalho de suaequipe.

    Quanto a SOBRECARGA FÍSICA, foram validadas como principais causas oTRANSPORTE de paciente, higiene corporal, higienização de Leito, constantesDESLOCAMENTOS dentro da enfermaria, POSTURAS inadequadas, além de EquipamentosDESGASTADOS e falta de MANUTENÇÃO.7.3. Diagnóstico

    Os constantes DESLOCAMENTOS e POSTURAS INADEQUADAS propiciam intensaSOBRECARGA FÍSICA no sistema osteomuscular, o que leva a queixas de dor na coluna e pernase sensação de cansaço.

    A VARIABILIDADE de atividades leva a exigência de muita atenção e concentração dosAuxiliares de Enfermagem, em relação as responsabilidades que lhes impõe a situação paraimplementação dos planos terapêuticos sem erro, o que os leva ao ESTRESSE

    A DEFICIENCIA de recursos humanos e materias, e equipamentos inadequados levam aSOBRECARGA FÍSICA, MENTAL E EMOCIONAL, pela responsabilidade de atender todas asnecessidades dos pacientes apesar das dificuldades evidenciadas

    VIII. RECOMENDAÇÕESRecomenda-se Quanto aos DESLOCAMENTOS e SOBRECARGA FÍSICA e

    VARIABILIDADE DE ATIVIDADES, uma ADEQUAÇÃO do efetivo de pessoal em relação aonúmero de pacientes à serem assistidos, com base nos parâmetros do Conselho Federal deEnfermagem.

    Quanto as POSTURAS INADEQUADAS recomenda-se TREINAMENTO do pessoal, alémda ADEQUAÇÃO de altura dos mobiliários com base nos parâmetros antopométricos dos

    Auxiliares.

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    Outra importante questão é em relação aos DESGASTES EMOCIONAL e MENTAL, ondesugere-se maior INTEGRAÇÃO da equipe de enfermagem com as equipes médicas, de farmárcia,da engenharia de manutenção, rouparia, etc, visando o atendimento das necessidades dos pacientes, para minimizar o ESTRESSE dos Auxiliares. Outra dedida de melhoria seria a do AMBIENTEFÍSICO, atendendo as necessidades de conforto dos Auxiliares, além de SUPRIMENTO e

    REPOSIÇÃO de materiais necessários à realização das atividades sem estresse.IX. ESTRATÉGIAS DE IMPLANTAÇÃO

    O encaminhamento de um Relatório com o DIAGNÓSTICO e RECOMENDAÇÕES aoDiretor do Hospital, Diretor de Recursos Humanos, Coordenadoria e Chefia de Enfermagem, é umadas mais importantes estratégias, assim como uma Reunião com o Comitê acima paraesclarecimento e discussão das necessidades evidenciadas neste levantamento, especialmente noque se refere ao efetivo de pessoal (18 leitos de clínica médica necessitam de 05 auxiliares deenfermagem/dia, 04 auxiliares/noite, 01 enfermeira 24 horas e 20% de pessoal para cobertura deférias e folgas).

    Como estratégia fundamental para implantação também indicamos a Negociação com oserviço de engenharia de manutenção para priorizar as necessidades de adequação de mobiliários eequipamentos além de Negociação com o Diretor do Hospital, para agilizar recursos financeiros e priorizar reformas do espaço físico da enfermaria.

    X. CONSIDERAÇÕES FINAISComo no estudo da atividade de auxiliar de enfermagem, pôde-se observar que a organização

    do trabalho é muito complexa; sugere-se um aprofundamento da análise da variabilidade daatividade, assim como detalhar os deslocamentos realizados por este trabalhador, através de umatabulação de tempo/deslocamento, objetivando a diminuição de sobrecarga da atividade e atémesmo a posterior indicação de revisão do efetivo do setor de enfermagem.

    O que se pretendeu com esta pesquisa não foi esgotar o estudo da atividade de auxiliar deenfermagem, mas sim levantar mais campos de pesquisa nesta área que muito ainda tem-se aexplorar. É certo que as conclusões aqui relatadas não poderão ser aplicadas indiscriminadamenteem outras atividades relacionadas ao exercício da enfermagem, sendo necessário conhecimentosespecíficos sobre a variabilidade das atividades em cada local de trabalho, porém esta pode servir de ponto de partida para novos estudos que utilizem essa abordagem.

    XI. BIBLIOGRAFIA

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