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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X O VESTIR-SE NEGRA COMO DEMONSTRAÇÃO DE PODER: O VESTUÁRIO DAS MULHERES NEGRAS EM FOTOGRAFIAS DO RIO DE JANEIRO (1850-1888) Beatrice Rossotti 1 Resumo: Trazemos como objetivo do trabalho a ser apresentado apontamentos iniciais que buscam tratar das representações que mulheres africanas e afro-brasileiras inseridas no cenário urbano do Rio de Janeiro oitocentista tomam posse para construir seus espaços de inserção mediante as demais personagens, sejam componentes da elite branca ou negros e negras, e também para romper com a condição de mercadoria imposta a elas enquanto escravizadas ou forras. Para tal, focamos nas indumentárias das mulheres negras, forras e escravizadas, presentes em fotografias produzidas no Brasil entre os anos de 1850 e 1888. Palavras-chave: Fotografias. Mulheres Negras.Vestes. Representação Social. Rio de Janeiro. O presente trabalho tem como objetivo apontar aspectos da pesquisa inicial que desenvolvo partindo da análise de fotografias do Rio de Janeiro, com o recorte temporal entre 1850 e 1888, com as quais pretendo refletir sobre a busca de representações sociais por meio de indumentárias e adornos das mulheres negras na sociedade urbana deste território. A inserção da população negra nas Américas, entre os séculos XVI e XVIII,estava atrelada ao acentuado tráfico negreiro transatlântico, o que intensificou as relações das costas do Brasil e do continente africano. Interações essas que se davam no âmbito comercial desde período anteriores que mesclavam materiais, posteriormente com pessoas. As gentes de diferentes origens, que cruzavam o oceano, traziam consigo marcas e experiências que formulavam quem eram e como se relacionavam com os novos espaços em que seriam inseridos, a mando do sistema escravagista que se reestruturava em novos moldes ao passo que se orientava a suprir uma nova demanda externa por trabalho desses escravizados que passam a pertencer ao cenário atlântico. A escravidão no continente africano teve prevalente utilização dos rivais derrotados como escravizados pelos povos vencedores 2 . No entanto, essa esquematização de usufruto da 1 Aluna do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, na linha de Cultura, Poder e Representações, orientada pela Professora Doutora Mariana de Aguiar Ferreira Muaze. Rio de Janeiro, Brasil - [email protected]. 2 Algumas pesquisas, como de Paul Lovejoy (2002), priorizam analisar o fenômeno da escravidão com base na interpretação dos impactos do tráfico negreiro, outros, como John Thornton (2004), realizam a sua análise voltada para o fenômeno da escravidão dentro do continente africano.

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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O VESTIR-SE NEGRA COMO DEMONSTRAÇÃO DE PODER: O VESTUÁRIO

DAS MULHERES NEGRAS EM FOTOGRAFIAS DO RIO DE JANEIRO (1850-1888)

Beatrice Rossotti1

Resumo: Trazemos como objetivo do trabalho a ser apresentado apontamentos iniciais que

buscam tratar das representações que mulheres africanas e afro-brasileiras inseridas no

cenário urbano do Rio de Janeiro oitocentista tomam posse para construir seus espaços de

inserção mediante as demais personagens, sejam componentes da elite branca ou negros e

negras, e também para romper com a condição de mercadoria imposta a elas enquanto

escravizadas ou forras. Para tal, focamos nas indumentárias das mulheres negras, forras e

escravizadas, presentes em fotografias produzidas no Brasil entre os anos de 1850 e 1888.

Palavras-chave: Fotografias. Mulheres Negras.Vestes. Representação Social. Rio de Janeiro.

O presente trabalho tem como objetivo apontar aspectos da pesquisa inicial que

desenvolvo partindo da análise de fotografias do Rio de Janeiro, com o recorte temporal entre

1850 e 1888, com as quais pretendo refletir sobre a busca de representações sociais por meio

de indumentárias e adornos das mulheres negras na sociedade urbana deste território.

A inserção da população negra nas Américas, entre os séculos XVI e XVIII,estava

atrelada ao acentuado tráfico negreiro transatlântico, o que intensificou as relações das costas

do Brasil e do continente africano. Interações essas que se davam no âmbito comercial desde

período anteriores que mesclavam materiais, posteriormente com pessoas.

As gentes de diferentes origens, que cruzavam o oceano, traziam consigo marcas e

experiências que formulavam quem eram e como se relacionavam com os novos espaços em

que seriam inseridos, a mando do sistema escravagista que se reestruturava em novos moldes

ao passo que se orientava a suprir uma nova demanda externa por trabalho desses

escravizados que passam a pertencer ao cenário atlântico.

A escravidão no continente africano teve prevalente utilização dos rivais derrotados

como escravizados pelos povos vencedores2. No entanto, essa esquematização de usufruto da

1Aluna do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, na

linha de Cultura, Poder e Representações, orientada pela Professora Doutora Mariana de Aguiar Ferreira Muaze.

Rio de Janeiro, Brasil - [email protected]. 2Algumas pesquisas, como de Paul Lovejoy (2002), priorizam analisar o fenômeno da escravidão com base na

interpretação dos impactos do tráfico negreiro, outros, como John Thornton (2004), realizam a sua análise

voltada para o fenômeno da escravidão dentro do continente africano.

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mão de obra de vencidos, passou a ser utilizada para suprir a demanda de trabalho nos

espaços americanos e a servir à lógica do tráfico escravagista transatlântico, quando passam a

massificar a dinâmica de aprisionamento de outros negros para alimentar esse mercado

interoceânico.

O território brasileiro ganhou destaque na compra de africanos escravizados. Segundo

os autores da obra Cidades Negras: Africanos, crioulos e espaços urbanos no Brasil

escravista do século XIX,os escravizados tiveram como destino principal a cidade do Rio de

Janeiro, espaço urbano americano que mais recebeu escravizados africanos para o comércio.

(Araújo 2006, p. 10). Mesmo que o tema das quantidades de escravizados, que saíram do

continente africano, ainda seja debatido entre os estudiosos, Alberto da Costa e Silva afirma

que o Brasil era o destino de mais de 40% dos africanos vendidos na América, dos quais 60%

entraram pelos portos do Rio de Janeiro. (apud Brasil, 2016, p.116)

A maioria dentre escravizados que entravam no Brasil era composta por homens,

entretanto havia uma parcela feminina, que veio a ter fundamental importância nas

articulações construídas por meio de práticas comerciais no espaço urbano do Rio de Janeiro.

Com base nesse pressuposto, analisaremos as representações que as mulheres

africanas e afro-brasileiras inseridas no cenário urbano do Rio de Janeiro oitocentista tomam

posse para construir seus espaços de inserção tanto referente aos seus diferentes, quanto

distinção social para com os seus pares negros. Para isso usaremos a análise das

indumentárias e adornos que essas mulheres negras, forras e escravizadas, utilizavam ou eram

levadas a utilizar em fotografias produzidas no Brasil entre os anos de 1850 e 1888.3

Ao travarmos contato com estudos que se debruçam sobre fontes que tratam do vestir

como expressão de poder nos cenários sociais, econômicos e políticos, podemos examinar as

vestes e adornos de mulheres negras comerciantes no Rio de Janeiro oitocentista como uma

tentativa de ilustrar sua ascensãofinanceiro e inserção social. Segundo Maria de Fátima S.

Mattos,o vestir-se serve como modo de distinção social, expressa por meio da celebração

3O recorte temporal foi pensando o marco da década de 1850 referente ao período de disseminação das técnicas

fotográficas pelo mundo, incluso o território brasileiro, ao passo que optamos pelo limite de 1888 por ser o ano

da abolição da escravatura, a partir do qual altera-se a condição de negros e negras no âmbito institucional

brasileiro.

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visual, que no caso dos nossos estudos, atribui-se às vestimentas e adornos das mulheres

africanas e afro-brasileiras4. (Mattos,2011, p.163)

Ao se preocuparem com suas vestes e adornos,essas mulheres desafiaram costumes em

uma sociedade branca brasileira que se apropriada de modos e costumes que vinham da

Europa.O vestir-se como traço de distinção era uma busca marcada dentro das sociedades

europeias, um exemplo disso, é a tentativa de reservar aos abastados o uso de determinados

vestuários e adornos,verificada por meio de documentos oriundos da sociedade monárquica

francesa. Segundo Michèle Fogel, em História Social da Moda, éditos promulgados entre

1485 e 1660, mesmo extintos nos territórios europeus no pós-Revolução Francesa, ainda

estavam enraizados nos olhares dos locais, assim como atravessavam oceanos. (apudCalanca,

2011, p.48)

Outro exemplo do uso de valores europeus para medir, ou mesmo avaliar, o cotidiano

brasileiro são os casos dos relatos de mulheres viajantes, muitas delas de origem europeia, que

visitaram o Brasil. Em suas narrativas, algumas dessas viajantes observavam, com certa

surpresa, a utilização, pelas mulheres negras que circulavam pelos espaços urbanos, de

produtos europeus, como roupas e acessórios suntuosos. Essa aproximação é exposta pela

historiadora Miriam Lifchitz Moreira Leite, em seu texto Mulheres Viajantes no século XIX,

no qual apresenta a baronesa Émile de Langsdorff, em viagem ao Brasil acompanhada de seu

marido, ministro plenipotenciário da França. (Leite, 2000, p.139) A baronesa adiciona em

seus relatos a sua perplexidade ao perceber que as negras no Brasil eram “moralmente

iguais”aos brancos que eram seus senhores, por conta das vestimentas e adornos que usavam

em comum.

Segundo Silvia Escorel em sua dissertação Vestir poder e poder vestir: O tecido e a

trama cultural nas imagens do traje negro (Rio de Janeiro – século XVIII) o uso de adornos e

tecidos também era uma prática comum em territórios africanos e servia, assim como no

continente europeu, para diferenciar as camadas enriquecidas. (Escorel, 2000, p.45.) Logo,

não só de aparato europeu viviam as mulheres negras comerciantes do Rio de Janeiro, pois as

4A articulação entre vestes e adornos africanos e europeus encontra-se analisada, no período setecentista, pela

estudiosa Silvia Escorel em sua dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História Social, no ano

de 2000, o que amplia nossos olhares para pensarmos como tais vínculos se constroem para além do nosso

recorte temporal. Para isso a historiadora afirma: “Pela combinação de elementos lusitanos com outros da

tradição africana, a massa heterogênea de escravos, livres e forros desenvolveu novos códigosvestimentares. No

cotidiano, se vestia de acordo com seu papel social que variava (...). Mulheres eram donas do mercado de

quitanda ou cortesãs, vendedoras de rua, lavadeiras, atrizes, mucamas, babás, costureiras e donas de casa.”

(ESCOREL, 2000, p.147).

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mesmas exerciam e construíam possibilidades de escolhas, o que acabava por mesclar

influências europeias e africanas. Essa possibilidade de escolha culminava na combinação

estética social que poderia ser visualizada pelo uso mútuo de panos da costa, camizu,

turbante, balangandãs, muitas joias – que foram adaptadas aos gostos de suas donas, que

ganharam o nome de “Joias de Crioula” – assim como, saias longas, babados, anáguas e

pencas, atribuídos aos costumes europeus.

Segundo Vilmara Rodrigues, no texto Negras senhoras: o universo material das

mulheres africanas forras, “viver em liberdade exigia a criação de recursos que lhes

garantisse um certo reconhecimento”.(Rodrigues, 2005, p.7.) É refletindo sobre a criação

dessa necessidade de prestígio que pretendemos abordar em nossa pesquisa como as vestes e

adornos usados por algumas dessas mulheres negras comerciantes podem ser apresentadas

como formas de ilustrar sua ascensão financeira e social. Acreditamos que os modos

femininos de vestir-se podem ser considerados enquanto estratégias de autopreservação e

ruptura da condição de mercadoria que era imposto às mulheres negras no processo de venda

e exposição de seus corpos em outros territórios urbanos.

Buscando delinear tais representações nos atos de serem vistas como marcas políticas

das experiências dessas mulheres negras comerciantes, direcionamos nossos olhares para

fotografias que as capturavam. Com relação as fontes a serem analisadas, pretendemos

construir uma série de fotografias, na qual ainda estamos trabalhando e não delimitamos até o

momento da apresentação do trabalho quais exclusivamente iremos trabalhar5

Pensando no cenário do século XIX, a fotografia, apoiada em uma linguagem visual e

padrões que já se encontravam presentes em outros tipos de representações artísticas, como

pinturas e litografias, é difundida por diversos espaços sociais. E são nas imagens

selecionadas que pretendemos buscar o que a estudiosa Ana Maria Mauad trata em seu texto

Através da imagem: fotografia e imagem, “há que se considerar a fotografia como uma

determinada escolha realizada num conjunto de escolhas possíveis, guardando esta atitude

uma relação estreita entre a visão de mundo daquele que aperta o botão e faz ´clic`.”

(Mauad,2008,p.4).

O ato de ser fotografado passou a fazer parte do conjunto de códigos de

comportamento, que poderia ser interpretado como uma espécie de tentativa de igualar o

5Até o dado momento fotógrafos como Marc Ferrez, Cristiano Junior, Revert Henrique Klumb e Alberto

Henschel se destacaram na busca pela montagem de uma série fotográfica, que nos comtemple em nossa

produção acadêmica, ou seja, captam mulheres negras em suas imagens, em diferentes espaços e atuações.

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habitante do Rio de Janeiro ao civilizado europeu6. A população abastada do território

brasileiro buscava nessas representações imagéticas o reflexo da construção de suas distinções

sociais7.

A procura de se demostrar um alto grau de civilidade para o mundo europeu fica nítida

na representação do cotidiano brasileiro oitocentista, quando pensamos a intensa circulação de

periódicos como jornais e revistas entre a população do país, que traziam consigo matérias

destinadas a disseminar os modos e vestes europeus. Enfatiza-se uma espécie de modelo de

conduta social, que limitava regras e direcionamentos sobre as vestes e os modos como

homens e, principalmente, mulheres deveriam ser vistos trajados em seu cotidiano

Com base nas relações que se construíram em prol da formação de um modo de vestir

no Brasil, pretendemos articular as imagens com artigos publicados nesses periódicos8 que

tratam especificamente de trajes e acessórios a serem utilizados nos ambientes brasileiros e

que intensificam suas produções ou mesmo surgem no século XIX. Estes artigos em muitos

momentos retratavam os vestuários europeus colocando os mesmos como parâmetro para os

modos brasileiros. Junto a isso, pesquisaremos manuais de etiqueta e civilidade9 que chegam

ao Brasil no século XIX, mas circulam na Europa desde o século XIV, como tratados e regras,

que trazem consigo a ideia de distinção e bons costumes europeus.

Para confrontar as mediações de condutas europeias com a construção de espaços de

manobra dessas mulheres negras, vincularemos as relações de entrada das fazendas, gêneros e

objetos de importação dos territórios africanos que chegam ao Rio de Janeiro, na segunda

metade do século XIX, também encontradas na Biblioteca Nacional, com as fotografias que

iram compor o nosso corpus documental.

6“Sob o império do retrato grupos sociais se distinguiam, construindo através de marcas visuais a sua identidade

social. O retratado, escolhendo a pose adequada para a mise-en-scène do estúdio fotográfico, evidenciava a

adoção de um determinado estilo de vida e padrão de sociabilidade.” In: MAUAD, Ana Maria. Entre retratos e

paisagens, as imagens do Brasil oitocentista. Studium, Campinas, n. 15, p.1, 2004. 7“No âmbito privado, através do retrato de família, a fotografia também serviu de prova. O atestado de um certo

modo de vida e de uma riqueza perfeitamente representada através de objetos, poses e olhares”. MAUAD, Ana

Maria. Através da imagem: fotografia e história. Revista Tempo, Rio de Janeiro, v. 1, n. 2, p. 2-3,1996. 8Trataremos de jornais que se apresentam no arquivo da Biblioteca Nacional e tiveram como temática em

especial o demonstrativo de modas para as mulheres no Brasil. Temos como proposta selecionar entre os

seguintes jornais: Arquivo das Famílias – publicação entre 1881 e 1882; O Bisbilhoteiro – ano de 1889; Echo

das Damas – entre os anos de 1879 e 1888; O Espelho – entre os anos de 1859-1860; Jornal das Senhoras –

entre os anos de 1852 e 1855; Marmota Fluminense – entre os anos de 1852 e 1857; Recreio do Belo Sexo – ano

de 1856 O Sexo Feminino – entre os anos de 1873-1889. 9Entre estes manuais temos: Neves (1875), Pimentel (1877), Siqueira (1845), Verardi (1900) e Elementos de

Civilidade (s.d.). Todos citados na obra de Maria do Carmo Teixeira Rainho (2002) intitulado: A cidade e a

Moda.

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Sendo isso, pretendemos utilizar as imagens que retratam o vestuário das mulheres

negras articulando-as com nossos questionamentos e com os debates apresentados pelas obras

que discutimos até aqui. Almejamos desse modo, compreender o sentido do uso de vestes e

adornos femininos pelas mulheres negras, na segunda metade do século XIX no Rio de

Janeiro, e sua associação com a distinção social e com estratégias de ruptura da condição de

mercadoria.

O fato de um recorte atribuído ao gênero das personagens que aqui são representadas

se justifica pela ausência da temática feminina negra na historiografia. Logo, o estudo tem o

intuito de contribuir para a visibilidade das mulheres negras dentro do cenário da História

brasileira, lidando com um grupo maior que englobe escravizadas e libertas.

Segundo Michelle Perrot, em A História feita de greves, excluídos & mulheres, a

história das mulheres está junto à história dos homens, pois o conhecimento histórico se faz

relacionando ambos sujeitos, por isso é de extrema importância que nós, enquanto

historiadores e historiadoras, passemos a escrever história enquanto resultado da relação

desses sujeitos.(PERROT, 1996, p.191-200.) No entanto, aos termos contato com as

produções históricas, percebemos que há uma grande defasagem, ou mesmo ausência,na

inserção do feminino na discussão na historiografia tradicional. Quando abordamos as

nomenclaturas homens e mulheres, também tocamos no que vem a ser uma relação definida

socialmente de costumes e deveres pré-definidos para cada sexo. Sendo assim, pensamos

mulheres quanto indivíduo limitado por normatizações sociais que as atribui “deveres e

direitos”, o nascer mulher, traz diferentes deveres e pseudodireitos atribuídos ao intuito de

direcionar e delimitar os espaços e práticas femininas.

Durante o desenvolvimento dos estudos sobre mulheres10,elas foram vistas como uma

categoria, o que trouxe à tona uma imagem única e universal dessa mulher a ser analisada. No

entanto, no final dos anos 70, essa imagem foi rompida e tornaram-se visíveis as diferenças

femininas. Colocou-se em xeque o dito “sujeito histórico universal”, que anteriormente a

historiografia tradicional tratava como o homem branco europeu, e quando transferida para a

10Um aspecto da história das mulheres que a distingue particularmente das outras é o fato de ter sido uma história

a um movimento social: por um longo período, ela foi escrita a partir de convicções feministas. Certamente toda

história é herdeira de um contexto político, mas relativamente poucas histórias têm uma ligação tão forte com

um programa de transformação e de ação como a história das mulheres. Quer as historiadoras tenham sido ou

não membros de organizações feministas ou de grupos de conscientização, quer elas se definissem ou não como

feministas, seus trabalhos não foram menos marcados pelo movimento feminista de 1970 e 1980.Cf: TILLY,

Louise A. Gênero, história das mulheres e história social. Cadernos Pagu, n. 4, p. 29-62, 1994. p. 31.

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crescente história das mulheres, construiu um estereótipo feminino baseado na mulher branca

europeia.

Rachel Soihet e Joana Maria Pedro afirmam, em seu texto A emergência da pesquisa

da História das Mulheres e das Relações de Gênero que, atualmente devemos enfocar no

desenvolvimento de formas mais eficientes de levantar legitimidade da constituição de um

novo campo de estudos, que para elas deve unir a História das mulheres com as Relações de

Gênero. (Soihet; Pedro, 2007, p.288.) Considerando esse novo campo, trataremos do que vem

a ser a ideia desse sujeito histórico que seria a mulher, em específico: africana ou afro-

brasileira, escravizada ou liberta, vivendo no contexto da escravidão moderna atlântica.

Segundo a historiadora Louise A. Tilly, em Gênero, História das mulheres e História

Social, a tarefa intelectual de transpor a barreira inicial que foi a busca e a inserção na

produção acadêmica dessas personagens mulheres ao longo da História foi e ainda é urgente,

no entanto, desde que os trabalhos de pesquisa passaram a buscar as mulheres no campo da

História, como sujeitos imersos nos processos históricos, surgiram desafios ainda mais

específicos, que é o caso de tratar mulheres negras. (Tilly, 1994, p. 29-62)

Devemos pensar o avanço dos estudos, também, como reflexo de uma forte

movimentação feminina, que buscou construir espaço para as mulheres no cenário político.

Muitas feministas que buscavam esses avanços igualitários entre os sexos, na segunda metade

do século XX, foram nesses estudos iniciais, buscar arcabouço teórico para suas bandeiras

políticas, assim como também produzir pesquisas neste campo.

Sendo assim, buscamos tratarmos de mulheres negras, lidando com o feminino como

um eixo temático, mas atentas ao conteúdo racial que direciona os nossos olhares. Ser mulher

negra, nesse cenário social dominado, pensado e gestado para e por homens brancos, faz com

que o destacar-se visualmente tenha um peso maior para com as construções de relações

sociais11.

Outro aspecto apresentado em nosso estudo são os contatos que se davam em meio a

um cotidiano permeado por pessoas advindas de espaços e nações diversas, muitas vezes

forjadas ou ressignificadas no espaço brasileiro

11Os acadêmicos geralmente falavam da experiência negra quando na verdade estavam se referindo somente à

experiência dos homens negros. Significativamente, descobri que, quando se falava das “mulheres”, a

experiência das brancas era universalizada como representação de todo o sexo feminino; e que, quando se

mencionavam os “negros”, o ponto de referência eram os negros do sexo masculino. Cf.: HOOKS, Bell.

Ensinando a Transgredir. A educação como prática de liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2013. p. 163.

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Pensando na questão das ditas nações africanas, alguns estudiosos, como Carlos

LíbanoSoares em seu trabalho Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no

Rio de Janeiro 1835 -1900, apresentam ideias parciais sobre a questão de identidades

africanas. Tal assunto enfoca uma diversidade do modo de lidar com essas marcações de

origens africanas, que em alguns casos, e em diferentes momentos, podem ser

alteradas.(Soares, 2001, p.55-78.)Alguns episódios podem ser verificados como no momento

da chegada dos escravizados no Brasil, para suprir demandas de compradores, ou quando os

próprios escravizados passavam a se identificar por determinadas nações ao construírem redes

de solidariedade e relações no novo espaço de vivência. Sobre esse tema, afirma:

A “nação” podia ser articulada pelo africano dependendo das conjunturas políticas,

ou da própria política interétnica entre os africanos. Apesar de originalmente

atribuída pelos traficantes de escravos, europeus ou africanos, a “nação” podia, com

o tempo, ser alterada, de forma a corresponder aos interesses de associação. As

irmandades são o exemplo mais gritante desta dinâmica da diáspora. Anúncios de

escravos fugitivos volta e meia exibiam cativos que ocultavam a própria origem

“nacional” para enganar seus captores.(SOARES, 2001, p. 65).

Tendo como pressuposto a afirmação do autor, a origem africana das mulheres que

circularam no espaço do Rio de Janeiro oitocentista tem influência nos modos e produtos que

as mesmas, e suas descendentes, legitimaram como representantes de riqueza, e que, por isso,

buscaram usá-los. Essas influências são elementos que buscaremos compreender por meio da

análise da adaptação de diferentes costumes e parâmetros de vestir, que tornavam visível a

hierarquia social, acabando por gerar um novo modelo, que incorporava elementos e códigos

europeus aliados às culturas africanas.

Existiam mulheres negras com capital financeiro, que atuavam em espaços públicos,

lidando com gente de todos os tipos em diferentes articulações, pois quanto mais enriquecida

mais influência e contato tinham com homens brancos da elite do Rio de Janeiro. Dando

espaço para uma possível dualidade no que concerne ao prestígio nessa sociedade. Como

participar de um ambiente que ao mesmo tempo que lhe excluía, com base numa ideia de

inferioridade vista por características físicas, também lhe conferia status social, conforme sua

condição financeira?

Ao afirmarmos que essas mulheres negras mostram seu acúmulo de pecúlio nos

espaços de vestir-se, lidamos com a ideia da construção de uma “moda a brasileira”, como

uma das estratégias para ganharem visibilidade nos ambientes onde interagiam. O ser visto e

o vestir-se são apresentados como ato político, por Amanda Gatinho Teixeira, em seu texto

Sob os signos do poder: a cultura objetificada das joias de crioulas afro-brasileiras, que

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aborda como o uso das joias passa a ser um ato de resistência cotidiana, pois são nos

acessórios que as mulheres negras mesclam padrões africanos com influências europeias e,

em muitos casos, islâmicas. (Teixeira, 2013, p.17)

Tratamos de uma sociedade majoritariamente analfabeta, em que o adornar-se, com

tecidos e joias fica responsável por mostrar funções e distinções hierárquicas. O peso da

aparência era tamanho que assim como na Europa, como já mencionado, também no Brasil

lida-se com leis que buscam delimitar os usos e, considerados, abusos, de determinados

recursos materiais. Um exemplo é a Pragmática contra o luxo,12 um documento no qual Dom

João V se pronuncia sobre o luxo que teve conhecimento de existir nas vestes usadas na

colônia das américas e adverte dos possíveis males que podem atrair com o uso de tal, entre

eles a ruína dos bons costumes.

No caso das mulheres negras, a inserção em determinados espaços se dava por meio

de suas práticas comerciais. Muitas delas tinham contatos com diversos universos sociais,

como outras comerciantes que compravam seus produtos ou senhoras brancas que as

recebiam em suas portas para assim adquirir mercadorias que necessitavam sem saírem de

casa13.O circular entre diferentes mundos faz, ao nosso ver, com que essas mulheres

comerciantes busquem reconhecimento e legitimidade para tal. Segundo Sophia Mappa,

citada por Mara Rúbia Sant´Anna, em seu texto Teoria da Moda: sociedade, imagem e

consumo:

Toda estratégia de poder constituída implica um reconhecimento de não “ser“

combinado com um “de ser”, ou seja, aquele que é seduzido pela estratégia o é por

considerar-se alguém desprovido de um “ser” que o outro possui e a intensidade

dessa sedução será maior quanto maior for a intenção de “ser” como aquele que já o

é. Consequentemente, aquele que “é” tem um poder legitimado e sua estratégia é

eficaz, ele não apenas influencia, ele, principalmente, torna-se modelo e tem a priori

delegado a vontade de outrem, que não é outra que não a dele próprio.(apud

MAPPA, 2009, p.41.)

No entanto, tomar como base a hipótese de que utilizar vestes e adornos, que também

possuíam influencias europeias,seria uma busca por ser aquele que tem o poder legitimador,

pode gerar a visão ilusória de que essas mulheres negras somente copiavam os costumes das

mulheres brancas. Logo, faz-se necessário, demarcar essas construções como produções em

que interagem peças africanas e europeias.

12D. João V (24 de maio de 1749). Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis. 13Suely Creusa de Almeida (2013, p.207-227) articula a ideia de que a rua não era um espaço de convívio para

essas mulheres ditas “bem-nascidas”, pois também poderia significar que elas estavam a exercer algum tipo de

trabalho manual, o que não era bem visto no período entre os séculos XVI e XVIII, e se perpetuava quanto

costume no século posterior.

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Não pretendemos apenas fazer um estudo descritivo do que enxergamos nas

fotografias a serem trabalhadas, pois compreendemos que nenhuma roupa – leia-se vestes e

adornos – tem poder sozinha, e que, para tal, é necessária uma pessoa que a vista– além de ao

menos um outro olhar - o do outro sobre ela. Sendo assim, buscamos nos corpos dessas

mulheres o que Philipe Perrot, afirma a transmutação de um corpo biológico em um corpo

social. (apud Sant’Anna, 2009, p.77.) As vestes e adornos que trabalharemos tornam-se um

código carregado de significados com um caráter simbólico, que se constrói junto com o ato

de vestir-se, dessas mulheres.

A busca pela inserção nos espaços sociais não deve ser vista como um caminhar

unilateral que construa a submissão e a tentativa de copiar os modelos vestidos pelas mulheres

brancas. Mas, sim, como a interpretação da necessidade da construção de novos códigos

sociais que mesmo não legitimados por esferas institucionais, são vistos nas ruas do Rio de

Janeiro e interpretados em comum acordo como ilustrações do enriquecimento.

Segundo Maria Giuseppina Muzzarelli, no capítulo: Um outro par de mangas,inserido

no livro Estudar a Moda: Corpos, vestuários, estratégias, organizado por Paolo Sorcinelli,

uma roupa além de representar acontecimentos que unem as esferas pessoais e coletivas,

assim como, aspectos sociais, econômicos e políticos: “É uma cunha fincada no corpo da

história que permite, se manejada com competência e sensibilidade, nela penetrar e, a partir

do seu interior, colher os elementos importantes de uma época e de um ambiente”

(MUZZARELI, 2008, p.29).

Sendo assim, o trabalho que apresentamos os apontamentos iniciais tem por objetivo

investigar a construção das representações visuais, que as mulheres africanas e afro-

brasileiras, participantes do cenário urbano do Rio de Janeiro na segunda metade do século

XIX, se apropriaram para expressar sua distinção social mediante as demais personagens,

sejam componentes da elite branca ou negros e negras, e também para romper com a condição

de mercadoria imposta a elas enquanto escravizadas ou forras. Para isso, pretendemos traçar

relações entre fontes imagéticas e análises historiográficas que nos possibilite identificar a

importância das vestes e adornos, enquanto representação de perfis das mulheres negras que

buscavam demonstrar sua riqueza e transpassar o estigma social que carregavam.

Referências

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To dress as a black woman as a demonstration of power: black women’s clothing in

photographs of Rio de Janeiro (1850-1888)

Abstract: This article aims to present initial notes that seek to deal with the representations of

which African and Afro-Brazilian women inserted in the ninteenth-century Rio de Janeiro

urban scenario take posession to construct their insertion space among other characters,

whether they are of the white elite or black men and women., and also to break with the

condition of merchandise imposed on them as enslaved or freed enslaved. To this end, we

focused on the black, freed enslaved and enslavedwomen’s clothing, present in photographs

produced in Brazil between the years 1850 and 1888.

Keywords: Photographs. Black Women.Clothing.Social Represetation. Rio de Janeiro.