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OÁSIS #156 EDIÇÃO ITATIAIA Um tesouro no alto da serra POEIRA DE ESTRELAS Bailarinos nus e farinha de trigo na magia da dança GELO DO ÁRTICO EM PERIGO Aumenta a velocidade do derretimento O FEITIÇO DO SAMBA

Oásis - Brasil 24/7 · reconhecer que se trata de uma alma mestiça: branca, negra e índia. E fica ... cedidas aos negros era aquela de organizar suas festas, cantar, dançar e

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Oásis#156

Edição

ITATIAIAUm tesouro no alto da serra

POEIRA DE ESTRELASBailarinos nus e farinha de trigo na magia da dança

GELO DO ÁRTICO EM PERIGOAumenta a velocidade do derretimento

O FEITIÇO DO SAMBA

2/53OÁSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

D o mesmo modo que nas demais civilizações de tipo xamânico, essencialmente baseadas no pensamento mágico e no culto às forças da natureza, as religiões africanas consideram que a música

e a dança não constituem apenas formas de arte ou diversão. o alcance e o poder dessas atividades vai muito mais longe: o canto e a dança são as formas por excelência da meditação e da oração africanas. as pontes pelas quais pode-se passar do território profano àquele sagrado. o branco reza e medita em silêncio, na tentativa de alcançar estados superiores de consciência mais próximos à divindade; o negro africano canta e dança com o mesmo objetivo. o samba deriva diretamente da música ritual africana. Por isso o sentido de religiosidade sempre presente nessa música impregna também, de modo consciente ou inconsciente, todo o chamado “mundo do samba”. o imenso território por onde transitam compositores, cantores, músicos e dançarinos sambistas, bem como os que simplesmente apreciam esse gênero musical. não por acaso um dos mais conhecidos sambas brasilei-

O samba deriva diretamente da música ritual africana. POr issO O sentidO de religiOsidade semPre Presente nessa música imPregna também, de mOdO

cOnsciente Ou incOnsciente, tOdO O chamadO mundO dO samba

OÁSIS . Editorial

por

Editor

PEllEgriniLuis

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ros chama-se Samba em feitio de oração. dentre os muitos elementos das tradições negras africanas que deram notável contribuição para a formação e o enriquecimento da cultura bra-sileira, a música ocupa talvez o primeiro lugar. E, da música africana que desabrochou no Brasil, o samba sempre foi o rei. Sua influência foi e conti-nua sendo marcante não apenas na nossa estrutura econômica e cultural, mas também no idioma, nos costumes, nos trajes, na religião, na cozinha, na arte, na dança. Se hoje podemos falar de uma alma brasileira, temos de reconhecer que se trata de uma alma mestiça: branca, negra e índia. E fica realmente difícil saber qual das três contribuições é a mais importante.

o samba, sua origem e significado, é o tema da nossa matéria de capa nesta semana de carnaval.

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m 1988, ano do centenário da abolição dos escravos, vivia ainda na periferia de São Paulo uma ex-escrava africana. Cha-mava-se Tertulina, e afirmava ter 114 anos de idade. Muito lúcida, apesar de quase inválida, E

no carnaval, quando as grandes escolas desfilam na avenida, o samba vive a sua apoteose. na pista ou nas arquibancadas, sob o fascínio do cintilar ouro e prata das roupas dos sambistas, impregnados pelos ritmos quentes das baterias, ninguém consegue reprimir uma energia mágica que sobe pela espinha e se esparrama por todo o corpo. é o feitiço do samba. música popular na aparência, oração e meditação africana na realidadePor: Luis PeLLegrini

ela dizia que nada acontecia por acaso, nada era gratuito. No seu entender, tudo na vida e no mundo, mesmo os episódios aparentemen-te mais banais, possuíam significado e impor-tância espiritual. Quando lhe perguntei qual o significado espiritual da vinda dos africanos para o Brasil, sua resposta estava pronta e era surpreendente: “Viemos trazer o samba”.

A mais brasileira das danças e das músicas, o samba, entendido como razão espiritual da vinda ao Brasil do povo negro. Como propó-sito oculto do tráfico de milhões de escravos que aqui chegaram e ficaram, submetidos por muitas gerações a quase quatro séculos de so-frimentos no cativeiro. A ideia à primeira vista parece pouco ou nada racional. Para entendê--la é preciso voltar o pensamento ao continen-te negro e tentar assimilar a maneira africana de ver as coisas. Para começar, convem dizer que, do mesmo modo que nas demais civiliza-ções de tipo xamânico, essencialmente basea-das no pensamento mágico e no culto às forças da natureza, as religiões africanas consideram que a música e a dança não constituem apenas formas de arte ou diversão. O alcance e o po-der dessas atividades vai muito mais longe: o canto e a dança são as formas por excelência da meditação e da oração africanas. As pontes pelas quais pode-se passar do território profa-no àquele sagrado. O branco reza e medita em silêncio, na tentativa de alcançar estados supe-riores de consciência mais próximos à Divin

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dade; o negro africano canta e dança com o mesmo objetivo. O samba deriva diretamente da música ritual africana. Por isso o sentido de religiosidade sempre presente nessa música impregna também, de modo consciente ou incons-ciente, todo o chamado “mundo do samba”. O imenso ter-ritório por onde transitam compositores, cantores, músicos e dançarinos sambistas, bem como os que simplesmente apreciam esse gênero musical. Não por acaso um dos mais conhecidos sambas brasileiros chama-se Samba em feitio de oração. Por causa de tudo isso, o que a velha Tertulina queria realmente dizer era: “Viemos trazer o nosso modo de entrar em contato com Deus”.

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Muitos elementos das tradições negras africa-nas, como é notório, de-ram notável contribuição para a formação e o en-riquecimento da cultura brasileira. Sua influência foi marcante não apenas na nossa estrutura eco-nômica e cultural, mas também no idioma, nos costumes, nos trajes, na religião, na cozinha, na arte e sobretudo na mú-sica e na dança. Se hoje podemos falar de uma alma brasileira, temos de reconhecer que se trata de uma alma mestiça: bran-

ca, negra e índia. E fica realmente difícil saber qual das três contribuições é a mais importante.

Nos tempos da escravidão uma das únicas liberdades con-cedidas aos negros era aquela de organizar suas festas, cantar, dançar e se adornar. A música e a dança foram, inicialmente, os grandes derivativos da presença africana no Brasil devido ao inegável pendor natural do negro para a música e a expressão corporal. Essas festas dos escravos tinham quase sempre um fundo religioso, e era nelas que os africanos conseguiam perpetuar as suas tradições. Mas isso passava em geral despercebido pelos senhores portugueses e pelas autoridades da igreja católica, os quais pareciam

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acreditar que tudo não passa-va de folguedos lícitos daque-la gente “primitiva”. Por tal razão, era comum que as festas dos escravos aconte-cessem na frente ou ao lado das próprias igrejas. Essa proximidade com os templos cristãos favoreceu o proces-so de sincretismo religioso afro-brasileiro. Vários san-tos e figuras da Igreja foram assimilados a divindades e a heróis do panteão africano, criando um sistema religioso repleto de figuras híbridas até hoje vigente na umbanda e em outros cultos similares. Ao longo dos séculos várias modalidades de música e de dança foram cultivadas e desenvolvidas pelos negros no Brasil. No início deste século várias delas se fundiram para dar origem à grande síntese musical que é o samba. Uma dessas modalidades que convergiram para o samba foram os pregões dos “negros de ganho”, escravos que per-corriam as ruas das cidades do Brasil colonial vendendo toda sorte de produtos em benefício de seus patrões. Esses negros criaram um riquíssimo estilo de canções destinadas, originalmente, a exaltar as qualidades das mercadorias ofe-recidas.

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Outra modalidade foram os acalantos, as canções de ninar criadas pelas mães-pretas, as escravas encarregadas de criar os filhos dos brancos muitas vezes desde o nascimento de-les. O lundu, que segundo antropólogos apareceu no seio das comunidades da etnia banto, foi a primeira manifestação coreográfica dos negros brasileiros. Nele encontramos uma fonte importante para a criação do samba como dança. A princípio o lundu era uma dança febricitante e sensual, las-civa, de caráter nitidamente erótico. Adquiriu depois re-quintes urbanos cheios de langor, com letras irreverentes,

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satíricas e maliciosas. No lundu os dançarinos formavam um círculo. Uma mulher dirigia-se para o centro, com me-neios provocantes. Um homem seguia os seus requebros e movimentos. Os instintos entravam em ebulição e a volúpia apoderava-se dos dançarinos. Dançavam em volteios sensuais, até que a mulher caia nos braços do homem, em evidente atitude de entrega, e escon-dia o rosto com um lenço para ocultar a emoção. O malicioso gingado escandalizava a burguesia branca, in-capaz de perceber o verdadeiro significado daquela dança: ela era a memória viva de ritos arcaicos da fertilidade. Para o samba contribuiu também a tradição nordestina do

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maracatu, que permanece viva até hoje, e que é uma das mais impressionan-tes danças dramáticas do repertório afro-brasileiro. O maracatu deriva do mito da “coroação dos reis do Congo”, e é um elemento-chave no pro-cesso de criação da co-reografia das escolas de samba contemporâneas. Trata-se de um cortejo luxuoso, de grande pom-pa. Tem rei, rainha, prín-cipes, damas e nobres da corte, embaixadores. Os dançarinos conduzem ricos estandartes e um grande chapéu-de-sol,

significando a presença do sol protetor, cobrindo as pessoas reais. À frente dos cortejos do maracatu costuma desfilar uma mulher que conduz na ponta de um bastão uma bonequi-nha ricamente adornada. Esta boneca é a calunga, divinda-de secundária do culto banto relacionada à ideia de “mora-da dos mortos”, ou cemitério. A presença desse símbolo no maracatu serve provavelmente para estabelecer uma cone-xão entre a festa dos vivos e a presença dos antepassados mortos. Igrejas, conventos e instituições religiosas do Brasil escrava-gista também possuíam escravos. Até hoje os historiadores não conseguem entender como essas organizações católicas

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conciliavam os princípios da doutrina cristã com a explo-ração do homem pelo homem através da escravidão. Mas o fato é que os religiosos tam-bém desfrutavam do trabalho dos seus escravos que, pelo menos, costumavam ser mais bem tratados que os demais. Alguns desses escravos que possuíam talentos musicais naturais eram usados nas ati-vidades religiosas musicais. Recebiam para isso educação musical formal tanto para o canto quanto para o manejo de instrumentos. Esses co-nhecimentos, fora do âmbito das igrejas e conventos, aca-baram sendo frequentemente aplicados à música da tradi-ção africana original. Desse contato surgiram importantes sínteses musicais que conferiram à música popular brasileira níveis de grande erudição. Parte desse material foi posterior-mente recolhido e largamente utilizado por compositores brasileiros modernos como Villa-Lobos, Camargo Guarnieri, Capiba, Waldemar Henrique, etc. Todo esse imenso acervo musical desembocou no samba, a música que melhor exprime a alma brasileira, e que atinge o seu ápice expressivo no período do carnaval. Mas, de todos os afluentes musicais que convergiram para

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a formação do grande rio do samba, o mais importante foi aquele que nasceu nos terreiros de candomblé, os templos da religião xamânica africana transplantada no Brasil. O samba nasceu nos terreiros. Seu nome deriva das sambas, as mulheres encarregadas da organização ritualística da-quela religião. Nos festejos do carnaval essas mulheres apa-reciam como figuras de destaque pelo seu modo de dançar e pelo molejo das cadeiras. O povo oferecia dinheiro, o cor-tejo parava. Formava-se uma roda, a samba no meio a sam-bar acompanhada de palmas. A certa altura ela se agachava, com as mãos nos quadris, e depois se levantava, num rebo-lar originalíssimo. A seguir, batendo palmas, a samba

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tirava outra companheira que, por sua vez, entrava na roda. O samba antigo possuía letra curta e tinha ênfase no aspec-to rítmico. Modernamente tornou-se estilizado em várias modalidades como o samba-canção (ênfase na melodia), samba-de-breque (para se dançar em salões), samba-batu-cada (com grande participação dos instrumentos de percus-são e instrumentos de corda como o violão e o cavaquinho). Em todas as etnias africanas que vieram para o Brasil, os instrumentos musicais são considerados objetos sagrados. Cada um deles está ligado a um ou mais princípios divinos, e sua presença é visível e obrigatória nos cultos.

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No caso dos atabaques, grandes instrumentos de percussão de uso in-dispensável nos rituais do candomblé e de cer-tas linhas de umbanda, essa sacralidade atinge níveis extraordinários. Os atabaques são consi-derados divindades em si mesmos, e como tais são objetos de culto e de pre-paração ritualística. Os atabaques são “vestidos” com tecidos nas cores dos orixás (divindades do panteão africano) que representam, e saudados como presenças sagradas não apenas pelos fiéis

mas inclusive pelos outros orixás que se manifestam através dos transes dos médiuns. O atabaque contem as vozes dos orixás, que “falam” através do seu som e dessa forma trans-mitem a sua energia e o seu poder. A ritmologia litúrgica africana é uma das mais ricas do mundo. Há muitas centenas de variedades rítmicas já clas-sificadas, correspondendo cada uma delas a alguma divin-dade ou a “qualidades” específicas de divindades. Por exem-plo, o ritmo alujá costuma ser atribuído ao orixá Xangô; o ritmo ilú ao orixá Oxalufã; o ritmo aguerê ao orixá Iansã; o ritmo ijexá ao orixá Oxum. Cada variedade rítmica possui também uma ou mais funções específicas na complicada

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ritualística dos cultos afro--brasileiros. Os ritmos dos pontos canta-dos (hinos litúrgicos) consti-tuem um dos principais fato-res que mantêm o movimento das energias físicas e espiri-tuais no decorrer dos rituais afro-brasileiros. Praticamente toda cerimônia desses cultos é acompanhada e sustentada pela presença da música e da dança. Cada ritual, seja ele aberto ao público ou fecha-do e reservado a iniciados, é entendido como uma opera-ção alquímica e energética, onde há carga e descarga de componentes energéticos. No ritual ocorre uma grande in-teração de campos de energia de variados tipos. Existe uma ciência e uma sabedoria na criação e no desenvolvimento dessas interações de campos energéticos, e seu domínio é privilégio dos “pais de santo” e “mães de santo” (chefes de culto) competentes. Por isso, do início ao fim de um culto de candomblé ou da maioria das linhas de umbanda, os ataba-ques tocam o tempo todo. Seu som ritmado modula e con-duz os fluxos de energia de modo a que nada fique estagnado e se deteriore. O som rítmico emitido pelos atabaques é também um estí-mulo fundamental para a produção do fenômeno dos “es-

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tados de transe mediúnico”. Cada orixá possui a sua frequ-ência vibratória ou rítmica própria. Tal frequência existe ao mesmo tempo na natureza, no elemento natural que corres-ponde àquele orixá - por exemplo, no caso do orixá Iemanjá trata-se da vibração da água do mar -, e no interior da pes-soa que, usando esse mesmo exemplo, é “filho de Iemanjá”, ou seja, alguém que “carrega” dentro de si, como princípio energético predominante, aquela mesma vibração de Ie-manjá. Submetido ao estímulo sonoro de um dos ritmos de Iemanjá, o “filho” desse orixá dança e ao dançar desperta e potencializa a sua “Iemanjá interna”. Quando esta estiver bastante ativada, estabelece-se o “transe”, que nada mais é

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do que a conexão mais ou menos profunda e bem sucedida das energias do orixá interno com as energias daquele mes-mo orixá na natureza. Não apenas a música e a dança, mas toda a herança social, cultural, artística e religiosa da cultura africana transplanta-da no Brasil, convergem e se amalgamam no grande carna-val das escolas de samba. As maiores estão no Rio de Janei-ro, mas elas existem hoje na maioria das cidades brasileiras. Cada uma delas congrega milhares de músicos e dançarinos que passam praticamente o ano todo preparando o grande desfile de carnaval.

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Fantasias luxuosas, damas, príncipes e nobres da corte, nostálgicas recordações dos senhores e senhoras euro-peus dos séculos passados, ecos das antigas realezas africanas, criam o imen-so espetáculo dos desfiles. Hoje os enredos das escolas de samba podem usar qual-quer tema, do passado, do presente e até do futuro, e esses temas podem ser bra-sileiros ou estrangeiros. Mas no início os enredos esta-vam diretamente ligados à história do Brasil e à memó-ria arrebatada do continen-te negro, seus heróis e seus deuses, as primeiras aspira-

ções de liberdade, suas brincadeiras e alegrias para sobre-pujar o banzo (melancolia extrema do negro escravo que se deixava morrer de nostalgia da terra de origem e da liberda-de perdida). Eram histórias que refletiam os seus costumes e a sua ascensão social. Das cozinhas e senzalas (recintos onde eram trancados os escravos) às grandes avenidas; do povo humilde para a gente importante e para turistas de todo o mundo. Sociólogos entendem hoje a escola de samba como uma manifestação popular ritualística, no sentido de que projeta num discurso simbólico aspectos cruciais da estrutura da

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sociedade brasileira. Como manifestação carnavalesca, ela adquiriu enorme projeção a partir dos anos 30. Pro-gressivamente consolidou seu predomínio sobre outras expressões populares a ponto de se converter em símbolo identificador não só do “es-pírito” carioca como também da imagem que se tem proje-tado do homem brasileiro. “Os negros”, diz Roger Bas-tide em Brasil, Terra de Con-trastes, “não contentes por terem transferido da África seus próprios divertimentos, invadiram também o folclore português e cristão e o afri-canizaram em parte”. Como explica ainda Bastide, se o carnaval europeu, como aquele de Veneza, é o triunfo do indivíduo, que escapa durante três dias à atmosfera cinzenta da vida cotidiana para participar da alegria da multidão, o carnaval afro-brasileiro é, ao con-trário, coletivo. São os clãs tribais, as “nações”, que se diri-gem em grandes grupos, com seus reis e rainhas, com suas oriflamas e seus animais totêmicos, das favelas e subúrbios proletários para o centro da cidade. Nas escolas de samba, os mestres de samba exercem rigoroso comando. Revivem assim a antiga estrutura social que a escravidão destruíra. Voluptuoso e telúrico, apenas na aparência o samba de car-

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naval é puro divertimento. Toda a sua base rítmica e me-lódica corresponde à música litúrgica que veio da África, e que faz flutuar, acima da grande loucura carnavalesca, a pungente nostalgia da terra dos antepassados. O samba é um dos recursos de que os negros brasileiros dispõem para compensar a exploração econômica e as in-justiças sociais de que, ainda hoje, são vítimas. Quem canta seus males espanta, diz a letra de um samba. Ao som dos tambores, do violão, do pandeiro e do tamborim, nos mor-ros do Rio de Janeiro, nos pagodes da periferia de São Pau-lo, o negro afugenta suas penas cantando-as. Tristezas de

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amor, falta de dinheiro, ciúmes, a violência do preconceito, a psicologia negra e mulata revela-se nas palavras desses sambas. Mas elas também descortinam toda a poesia do povo, o amor pela natureza, a ternura pelo mar, o vigoroso pulsar da vida. No carnaval, como a ilustrar o mito da fênix que renasce das próprias cinzas, as nações africanas retornam sob a forma de escolas de samba. Sob o feitiço do samba, tudo volta às origens: os totens reaparecem, os mestiços voltam a ser ín-dios, os brancos encontram de novo, na barafunda dos se-xos e das classes sociais, as raízes profundas das saturnais romanas.

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No samba, as duas civili-zações, a dos terreiros xa-mânicos da África e a das igrejas barrocas de Portu-gal, não contrastam uma com a outra, mas se in-terpenetram, se harmoni-zam, dando origem a um amálgama espiritual que energiza o Brasil. Como escreveu Roger Bastide, “O cintilar contínuo do ouro corresponde, no do-mínio da vista, ao barulho do tantã no domínio da audição; ambos são um apelo para sair da vida profana e entrar no mun-do sagrado”.

O samba brasileiro é a prova evidente de que as duas civi-lizações, a católica europeia e a xamânica africana, que pa-recem tão afastadas uma da outra, não precisam se chocar como forças antagônicas, mas podem, como disse ainda Bastide, “compor uma única música a duas vozes: o órgão barroco e o tambor febril; os santos óleos do batismo e dos moribundos, e o azeite de dendê que escorre das pedras sagradas da África; a mística dos santos e a mística dos orixás”.

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EITATIAIAUm tesouro no alto da serra

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uase à beira da Via Dutra, entre as duas maiores me-trópoles do país, São Paulo e Rio de Janeiro, está lo-calizado o nosso primeiro parque nacional. Esse sim-ples fato já bastaria para tornar o Parque Nacional do Itatiaia um exemplo do que temos de melhor para mostrar aos brasileiros (e, em tese, aos estrangeiros que a Copa do Mundo e a

Olimpíada trarão) em termos de conservação da natureza, certo? Nem tanto.

Qmais antigo parque nacional do brasil, com localização privilegiada – entre são Paulo e rio de Janeiro, perto da via dutra –, o itatiaia é um símbolo da imensa beleza natural do nosso país e da sua também enorme negligência em administrá-lo

Por eduardo araia

Desfrutar desse patrimônio natural implica usar a infraestrutura oferecida pelo respon-sável pelo equipamento (leia-se Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiver-sidade, o ICMBio – ou, no frigir dos ovos, a União), sobretudo em termos de acesso e apoio, e aí a situação fica delicada, para dizer o mínimo. Uma estrada federal espantosa-mente precária para a importância (inclusive simbólica) do lugar e carência de funcioná-rios são as evidências mais gritantes da falta de verbas crônica com que o setor é obrigado a conviver.

Mas quem quiser encarar o desafio não irá se arrepender. Itatiaia é um tesouro que merece não uma, mas várias visitas. Para começar, são dois parques em um, com aces-sos diferentes; cada um deles tem diversos e peculiares atrativos, que um fim de semana dificilmente consegue esgotar. Adeptos de caminhadas, de montanhismo, observadores de pássaros, pessoas que gostam de natureza ou querem sossego num lugar sem a onipre-sença de celulares e internet vão ter razões de sobra para apreciar a viagem.

Itatiaia (“pedra cheia de pontas”, em tupi) está situado no maciço de mesmo nome, na Serra da Mantiqueira, em terras do sudoeste do Rio de Janeiro (nos municípios de Resen-de e Itatiaia) e do sul de Minas Gerais (Bo

caina de Minas, Alagoa e Itamonte), quase na divisa com São Paulo. Seus 30 mil hectares (300 km2) abrangem desde terrenos mais baixos, cobertos por Mata Atlântica, até algumas das nossas mais elevadas montanhas, como o Pico das Agulhas Negras (2.787 metros de altitude, o sétimo maior do País).

As terras onde hoje se assenta o parque pertenciam ao primeiro grande empresário brasileiro, o Visconde de Mauá. O Ministério da Fazenda adquiriu-as em 1908 para instalar dois núcleos agrícolas destinados a colonos estrangeiros. Como a iniciativa fracassou, os terrenos

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foram repassados ao Ministério da Agricultura, que em 1929 criou ali uma estação biológica.

Desde 1913, porém, o botânico Al-berto Loefgren já defendia a con-versão da área em parque nacio-nal. Debatida naquele ano numa conferência na Sociedade de Geo-grafia do Rio de Janeiro, a ideia foi endossada por vários outros pes-quisadores. O parque, porém, só foi criado em 1937, por decreto do então presidente Getúlio Vargas. Em 1982, outro decreto, do presi-dente João Figueiredo, adicionou aos 12 mil hectares iniciais outros 18 mil hectares – e, ao avançar sobre propriedades com escritura lavrada, produziu um imbróglio cuja solução se arrasta há décadas

(ver quadro).

O parque tem dois grandes ambientes. O primeiro é a úmida e verdejante parte baixa, mais recomendada para quem não faz tanta questão de frio e prefere programas menos exigentes (cerca de 90% dos pouco menos de 100 mil visitantes de 2013, pelas estatísticas do parque). Ali se concentra a maior parte das mais de 1.200 espécies animais do parque, como macacos (entre os quais o ame-açado mono-carvoeiro), preguiças, lobos-guarás, cachor-ros-do-mato e jaguatiricas. As aves são um espetáculo à parte: mais de 300 espécies diferentes – entre as quais

beija-flores, codornas, juri-tis, pica-paus, sabiás, tuca-nos e gaviões – produzem um festival de cantos que cativa os visitantes urba-nos. Os pássaros do Itatiaia já constituem um chamariz especial no parque, atraindo pessoas do Brasil e do Exte-rior.

Como efeito da passagem dos colonos no início do século 20, boa parte da co-bertura original de árvores se perdeu, substituída por espécies plantadas pelos moradores. A riqueza vege-tal, porém, impressiona – há desde cedros, ipês, paineiras e várias espécies de canelas até o raro pinheiro-do-paraná, além de fartura de sa-mambaias.

Mas muita gente quer mesmo é conhecer as cachoeiras e piscinas naturais da área. Itatiaia é um divisor de águas das bacias dos rios Paraíba do Sul e Grande, e vários cur-sos d’água nascem ali. Os destaques da parte baixa são os rios Campo Belo e Maromba, cujas águas cristalinas formam algumas das principais atrações locais. A cerca de 1.150 metros de altitude, por exemplo, o Maromba despenca 40 metros para formar a famosa cachoeira Véu da Noiva, e logo a seguir desce para outra queda d’água

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e uma piscina natural que leva o nome do rio. O Cam-po Belo forma as belas cachoeiras e piscinas naturais de Itaporani e Poranga, além do Lago Azul – uma ampla e sedutora piscina natural cuja proximidade do Centro de Visitantes a torna concorridíssima. A água é fria em to-dos esses locais, mas o banho vale a pena. Outro aviso importante: rústica, a trilha que leva ao Véu da Noiva exige um bom par de tênis e razoável condição física.

Dois mirantes enriquecem os atrativos da parte baixa. Três Picos, ponto situado a 1.662 metros de altitude, no fim de uma trilha de seis quilômetros no meio da mata,

propicia uma vista privilegiada do vale do Paraíba do Sul, da Mantiqueira e da Serra do Mar. O Mirante do Último Adeus, a dois quilômetros da entrada do parque, ofere-ce belas vistas do vale do Rio Campo Belo e da Serra do Mar.

Quem gosta de informações didáticas sobre o lugar em que está deve conhecer o Centro de Visitantes, a pouca distância da entrada do parque. Ali estão o Museu Re-gional da Fauna e Flora (com um bom acervo de plantas, mamíferos, répteis, aves e insetos da região), uma biblio-teca técnico-científica, um auditório com 64 lugares e um

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laboratório científico. Exposições temporárias ajudam a movimen-tar a programação do local.

Na parte alta do parque, também chamada de Planalto, a paisagem muda drasticamente. Depois de vencer um trecho da BR-485 que faz o precário trajeto da parte baixa parecer uma autoestrada alemã, o visitante se vê diante de um planalto com altitude média de 2.450 metros, marcado por várzeas, vegetação mais rasteira, temperaturas inferiores às da ou-tra seção do parque (que podem inclusive chegar a -15 °C no inver-no) e grandes formações rocho-sas. É um cenário aberto, propí-cio a caminhadas e escaladas. E também traiçoeiro: as variações

climáticas e a possibilidade de se perder tornam arris-cado percorrê-lo sem ter ao lado um guia ou alguém que conheça bem a região.

Vegetação rasteira não significa desinteressante. Ali se encontram espécies não encontradas em outras regiões do Brasil. Há, por exemplo, belos exemplares de orquíde-as terrestres, bromélias, quaresmeiras, brincos-de-prin-cesa, margaridas e lírios. Também mais modesta, a fauna local tem como destaques os ameaçados gavião-real e suçuarana e dezenas de espécies de anfíbios, como o sapo flamenguinho e o lagarto mabuia.

As montanhas, com o Pico das Agulhas Negras à fren-te, são o grande chamariz dessa região. Um dos passeios mais populares tem como destino a Serra das Pratelei-ras, de cujo topo se aprecia uma imponente vista do vale do Paraíba do Sul. A área tem diversas vias de escalada, com vários graus de dificuldade, e seus arredores contêm muitos lagos e formações rochosas atraentes, como a Pe-dra da Tartaruga e a Pedra Assentada. A Pedra do Altar, com uma face desafiadora, é outra preferência dos mon-tanhistas. Para quem sentir saudade de água corrente, a Cachoeira de Aiuruoca, acessível por uma trilha de seis quilômetros, será um regalo para os olhos (mas a água certamente vai estar gelada).

Itatiaia, enfim, reserva atrações para os mais variados

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gostos, e nem mesmo o “fator Brasil” de despreparo e negligência do país com suas riquezas naturais é capaz de diminuí-lo. Se, enfim, o governo federal olhar com a de-vida atenção seus parques nacionais, esse merece – por história, geografia e patrimônio natural – ser transfor-mado num case de excelência na área.

Nó fundiário

Setenta e quatro anos depois da criação de seu primeiro parque nacional, o Brasil ainda está longe de saber o que quer exatamente dessas áreas. Não surpreende, portan

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to, que o muito bem localizado Itatiaia tenha meios de acesso ruins e poucos funcionários para atender os cerca de 100 mil visitantes anuais. Tampouco causa surpresa ali a falta de regularização fundiária – um problema que, afirma o presidente do ICMBio, Rômulo Mello, atinge 40 milhões dos 78 milhões de hectares das unidades de con-servação federais.

A lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), do ano 2000, diz que parques nacionais não po-dem conter propriedades privadas; seus donos teriam de ser desapropriados e indenizados o mais rápido possível.

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Nos 18 mil hectares incorpora-dos ao Itatiaia em 1982 há vários imóveis particulares instalados legalmente ali há muito tempo (o Hotel Donati, por exemplo, foi fundado em 1931, antes da cria-ção do parque). Sem dinheiro para indenizá-los, o governo fe-deral foi empurrando a situação com a barriga. Enquanto isso, as propriedades se tornaram áreas de preservação permanente, su-bordinadas a regras de uso espe-cíficas.

Para desfazer o imbróglio, a As-sociação dos Amigos do Itatiaia (AAI), que reúne os proprietários, tentou em 2008 converter 1.300 hectares do parque (nos quais fica a maioria das casas e hotéis) em

Monumento Natural, área protegida que comporta imó-veis particulares. Um ano depois, porém, o então minis-tro do Meio Ambiente, Carlos Minc, rejeitou a proposta e decidiu dar sequência a um plano do ICMBio para enfim implementar o parque.

Em dezembro de 2010, dois dos imóveis em litígio pas-saram para a União, num negócio divulgado pela direção do parque como início das desapropriações. O processo avançou nos anos seguintes, com novos acordos, aqui-sições e até uma doação (em 2011). Mas, com a falta de sintonia entre os dois lados (e as projeções de gastos com

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o abrigo rebouças, na Parte aLta do Parque itatiaia

HoteL do YPê, com Linda vista Para a entrada do Parque

HoteL são gotardo, bem no aLto e requintado

HoteL donati, um dos mais tradicionais do Parque

indenizações feitas a partir dos consideráveis valores pagos aos ex-donos dos imó-veis negociados em 2010), a certeza é que essa disputa não termina tão cedo. Os visitantes do Itatiaia torcem pela melhor solução para a coletividade – que reverta, naturalmente, numa infra-estrutura capaz de acolhê--los como merecem.

SERVIÇO

Como ir: 1) Parte baixa – A partir do km 316 da Via Du-tra (altura de Itatiaia), pela BR-485. 2) Parte alta: pela BR-354 (Rio–Caxambu), que começa no km 330 da Dutra; no trecho denominado Garganta do Registro, a estrada se liga a outro segmento da BR-485, que leva à segunda entrada do parque.

Onde ficar – Parte Baixa: Hotel Donati (fones 24.3352-1110 e 24.3352-1509, site www.hoteldonati.com.br, e-mail [email protected]) – Esse hotel a cerca de 850 metros de altitude, que já hospedou Vinícius de Moraes e o pintor Alberto Guignard, harmoniza rustici-dade e conforto na dose certa, com culinária saborosa e guias para passeios. Hotel do Ypê (fone 24.3352-1453, site www.hoteldoype.com.br) – A 1.250 metros de al-

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titude, o Ypê também investe na fórmula alimentação ca-prichada e contato facilitado com a natureza por meio de guias. Parte Alta: Abrigo Rebouças – Essa opção ofereci-da pelo parque, a 2.540 metros de altitude, tem capaci-dade reduzida; as reservas são feitas pelos telefones (24) 3352-1292 e (24) 3352-8694. Hotel São Gotardo (fone 35.3363-9000, site www.hotelsaogotardo.com.br) – Opção requintada, tem uma vantagem para quem deseja visitar o Planalto: fica na frente da entrada do parque, a 1.750 metros de altitude.

Outras informações: site www.icmbio.gov.br/par-na_itatiaia, fones 24.3352-1292 e 24.3352-8694.

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IAPOEIRA DE ESTRELASBailarinos nus e farinha de trigo na magia da dança

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corpo humano desde sem-pre fascina os artistas plásticos de todas as áre-as. Agora chegou a vez do fotógrafo francês Ludovic Florent dar o seu recado. Em seu estúdio parisiense ele usou poucos recursos

para criar imagens de extraordinária beleza. Bastaram-lhe muitos quilos de farinha de tri-go envolvendo os corpos de bailarinos desnu-dos para que surgisse em suas fotos toda uma magia de formas e movimentos ao mesmo tempo eróticos e espirituais.

A série de imagens chama-se Poussières d’étoiles (poeira de estrelas) .

Oludovic florent, fotógrafo francês, criou belas imagens de bailarinos nus dançando em meio a nuvens de poeira. O efeito é surpreendente

Por: equiPe oásis Fotos: Ludovic FLorent HttP://www.LudovicFLorent.com

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GELO DO ÁRTICO EM PERIGOAumenta a velocidade do derretimento

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m toda a região ártica, ao re-dor do Polo Norte, a calota de gelo está diminuindo a uma velocidade superior à pre-vista. Sua espessura média passou, em 40 anos, de 3,1 metros a 1,8 metro (ou seja, houve uma diminuição de

cerca 40%. A área de extensão dos gelos, por seu lado, diminuiu 3% no período de uma década. Portanto, verifica-se que o

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Que os gelos do Polo norte estão derretendo por causa do aquecimento global é coisa que se sabe há bastante tempo. mas ver esse gelo desaparecer em apenas 60 segundo produz um pouco de arrepio. este vídeo foi realizado a partir de imagens do Ártico obtidas por satélites nos últimos 25 anos, e mostra o gradual porem inexorável afinamento da sua calota glacialPor: equiPe oásisvídeo: nasa-noaa

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gelo se funde mais rapidamente em espessura que em extensão, e isso, para os especialistas, e ainda mais grave, porque significa que estamos reduzindo os ge-los perenes. Diversas hipóteses foram formuladas na tentativa de se descobrir as causas do fenômeno, e elas vão desde causas naturais como a flutuação do clima polar, até o aquecimento global devido ao efeito serra. No segundo caso, que seria o mais grave, poderíamos estar caminhando para uma total desaparecimento dos gelos do Polo Norte e para uma sensível transformação do clima no hemisfério setentrional.

A camada de gelo que recobre a maior parte do Ártico sempre foi chamada pelos geólogos de “camada pluria-

nual”, ou “camada espessa”. Hoje, muito pouco do gelo antigo ainda resta. O vídeo de animação que mostra-mos abaixo mostra mapas do gelo marinho de 1987 até o final de outubro de 2013. No vídeo, a expressão “Age class 1” significa “gelo do último ano”, ou seja, o gelo que se formou ao longo do inverno mais recente. O “ol-dest ice” (9+) é gelo que se formou há mais de 9 anos. Este vídeo de animação foi produzido pelo NOAA cli-mate.gov, baseado nos mais recentes dados colhidos pelos cientistas.

Por um lado é possível se observar a expansão e con-tração anual dos gelos segundo as estações do ano; por outro lado nota-se o progressivo desaparecimento do gelo mais velho e espesso: exatamente o gelo capaz de resistir à chegada do verão e de constituir uma base segura para a formação das camadas sucessivas.

De 1987 a outubro de 2013 a porção de mar coberta por gelo de pelo menos 4 anos de idade (indicado em azul e branco) passou de 26% para 7%. Notamos tam-bém uma prevalência da cor azul, indicando o gelo jo-vem, formado no último ano até o presente momento. No verão, esse gelo recente derrete, escorrendo através do Estreito de Fram, a leste da Groenlândia, e deixan-do o mar descoberto. Essa animação criada pelo NOAA foi recentemente apresentada no encontro anual da American Association for the Advancement of Science.

Video NOAA. Assista aqui.

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