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OBESIDADE E QUALIDADE DE VIDA NA ESCOLA · 1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná, disciplina de Biologia, NRE Área Metropolitana Norte, Col. Est. Prof. Manoel Borges

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1 Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná, disciplina de Biologia, NRE Área Metropolitana Norte,

Col. Est. Prof. Manoel Borges de Macedo. Licenciada em Biologia e em Pedagogia, pós-graduada em

Psicopedagogia. Turma PDE-2016.

2 Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Curitiba, Departamento Acadêmico

de Química e Biologia. Licenciada em Ciências Biológicas, mestre em Ciências Biológicas (Entomologia),

doutora em Ecologia e Conservação.

OBESIDADE E QUALIDADE DE VIDA NA ESCOLA

Maria Aparecida Pereira Lovato1

Jana Magaly Tesserolli de Souza2

RESUMO

Hábitos alimentares pouco saudáveis, vasta oferta de alimentos hipercalóricos e estilo de vida

sedentário contribuem para o surgimento de indivíduos acima do peso recomendado. A escola é um

local importante para a prevenção da obesidade, pois possibilita um trabalho de reeducação nutricional

aliado ao incentivo à atividade física. O presente trabalho buscou promover uma reflexão acerca dos

problemas relacionados ao sobrepeso e à obesidade no ambiente escolar e incentivar os estudantes a

adotarem hábitos alimentares mais saudáveis, contribuindo assim para a melhoria da saúde física e da

autoestima. Para tanto, além de discutir aspectos teórico-práticos na disciplina de Biologia, aplicou-se

uma abordagem interdisciplinar envolvendo professores de outras disciplinas (Língua Portuguesa,

Matemática, Artes e Educação Física). Constatou-se que, entre os estudantes do 1º ano do Ensino

Médio participantes do projeto, 15% encontravam-se acima do peso e 36% afirmaram não praticar

atividade física. Além das ações pedagógicas em sala de aula, o projeto culminou em uma feira na qual

houve a participação da comunidade externa (cooperativa de produtores orgânicos e Secretaria

Municipal de Saúde) e a apresentação/exposição dos trabalhos e produções dos estudantes. No Grupo

de Trabalho em Rede, vários cursistas forneceram valiosas sugestões para enriquecimento do projeto.

A avaliação dos estudantes e dos professores envolvidos no projeto foi positiva em relação à proposta

interdisciplinar, com conteúdos contextualizados e mais adequados à realidade escolar. Houve

unanimidade entre eles sobre a importância do tema na escola e sobre a eficiência na forma como o

projeto propôs encaminhamentos didático-pedagógicos para abordar o tema.

Palavras-chave: Alimentação saudável. Interdisciplinaridade. Sobrepeso.

INTRODUÇÃO

Crianças, adolescentes e jovens são extremamente influenciados por imagens

midiáticas de corpos “perfeitos”. Como afirma Neto e Campos (2010), as pessoas

sofrem por não se adequar aos padrões de beleza impostos, seja por falta de

condições financeiras seja por outras condições que não permitem atingir tais

padrões. Há muitas crianças, adolescentes e jovens com sobrepeso ou obesidade,

que podem apresentar dificuldades de aceitação, com graves consequências na

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autoestima, no relacionamento interpessoal, na convivência com os colegas e no

rendimento escolar. Outro aspecto preocupante diz respeito à influência da obesidade

na saúde de crianças, adolescentes e jovens (IBGE, 2010), sendo que pesquisas

apontam seus efeitos e as dificuldades para reverter tal situação. Destaca-se, assim,

que a alimentação adequada e o estilo de vida saudável podem prevenir a obesidade.

O ambiente escolar é marcado por situações que influenciam diretamente na

vida das crianças, adolescentes e jovens. Quando eles não conseguem seguir certos

modelos, ficam isolados e frustrados em seus empreendimentos pessoais. É o caso

dos estudantes com sobrepeso. A escola é, sem dúvida, o lugar onde se acentuam

questões relacionadas à obesidade. Segundo Ramos (2000), a escola se destaca

como espaço privilegiado para o desenvolvimento de ações que propiciem melhoria

na qualidade de vida, saúde e estado nutricional dos estudantes. A escola é um

ambiente conveniente para a promoção da saúde, incluindo a execução de programas

de incentivo à alimentação saudável e à atividade física (SCHMITZ et al., 2008).

Faz-se necessário enfrentar a obesidade na escola, contribuindo com o

desenvolvimento psicossocial de crianças, adolescentes e jovens, o que se reflete em

seu processo de aprendizagem. Dessa maneira, o presente trabalho buscou, em uma

perspectiva interdisciplinar, promover uma reflexão acerca dos problemas

relacionados ao sobrepeso e à obesidade e incentivar os estudantes a adotarem

hábitos alimentares mais saudáveis, contribuindo assim para a melhoria da saúde

física e da autoestima dos mesmos. Para tanto, houve a necessidade de se

reconhecer e identificar na escola situações-problema inerentes ao sobrepeso e

obesidade; investigar as causas e consequências do referido problema e buscar

alternativas de enfrentamento da situação; realizar atividades teórico-práticas com

vistas à resolução do problema; e propor mudanças de hábitos alimentares pouco

saudáveis para outros mais adequados, contribuindo para uma melhoria da qualidade

de vida na comunidade escolar. Há que se considerar que os Parâmetros Curriculares

Nacionais (BRASIL, 1997) alertam sobre a importância que as concepções

relacionadas à saúde, valorizando hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis,

sejam abordados em todas as áreas do conhecimento e possam ser contextualizadas

na realidade escolar.

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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os maus hábitos alimentares, a oferta de alimentos hipercalóricos e o estilo de

vida sedentário do mundo atual contribuem para o surgimento de indivíduos obesos

(LEVITAN; NARDI, 2006). Segundo a Organização Mundial de Saúde, desde 1980 os

níveis de obesidade no mundo duplicaram (WHO, 2012). Este dado é preocupante,

uma vez que a obesidade causa muitas doenças, como diabetes, hipertensão arterial,

colesterol, apneia do sono, entre outras. É comum a pessoa obesa negligenciar o risco

que a obesidade causa à saúde. Por isso, é importante discutir e refletir sobre o

assunto, com clareza e objetividade.

A obesidade infantil representa, em nosso meio, um grave problema de saúde

pública, atingindo todas as camadas sociais do país. Constitui-se em um agravo tanto

para a saúde atual como para a saúde futura. A prevenção da obesidade significa

diminuir, de maneira menos onerosa e mais prática, a incidência das doenças crônico-

degenerativas, tanto na população infantil quanto na adulta (MELLO; LUFT; MEYER,

2004).

A obesidade resulta de uma interação entre fatores genéticos e ambientais. Os

primeiros se relacionam à grande variabilidade biológica existente entre indivíduos

quanto ao armazenamento do excesso de energia ingerida, variabilidade esta

condicionada por seu patrimônio genético. Entre os segundos fatores, podem ser

citados os hábitos influenciados diretamente pelos pais, que podem moldar as

preferências alimentares das crianças, assim como a prática de atividade física. Na

maioria das vezes, esses hábitos adquiridos na infância persistem na vida adulta.

Disso procede a hipótese de que os fatores ambientais são decisivos na manutenção,

ou não, do peso saudável. Portanto, os fatores genéticos são causa suficiente na

determinação do sobrepeso e obesidade, mas nem sempre necessária, sendo

possível que a sua influência seja reduzida ou aumentada através de modificações no

micro e macro ambiente em que vivem as pessoas (OLIVEIRA et al., 2003).

Wright e colaboradores (2001) realizaram uma pesquisa cujo objetivo principal

era verificar se a obesidade na infância aumentava o risco de obesidade na vida

adulta, apresentando os fatores de risco associados. O resultado encontrado por eles

foi que existe um risco, mas a magreza na infância não se constitui em fator protetor

para a obesidade em outras fases da vida. Além disso, eles afirmaram que o Índice

de Massa Corpórea (IMC) na infância está relacionado positivamente com o IMC do

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adulto, e que crianças e adolescentes obesos têm maior risco de óbito prematuro na

fase adulta (WRIGHT et al., 2001). Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria

(2008), a obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações

(dislipidemias, diabetes, distúrbios hormonais, distúrbios ortopédicos), como também

a uma maior taxa de mortalidade.

A escola é um local importante onde um trabalho de prevenção à obesidade

pode ser realizado, pois crianças e adolescentes fazem pelo menos uma refeição nas

escolas, o que possibilita um trabalho de reeducação nutricional aliado ao incentivo à

atividade física. Sendo a escola um espaço de troca de conhecimentos e de

convivência, a experiência alimentar adquirida na escola pode ser levada ao âmbito

familiar, destacando-se a importância de uma merenda escolar de qualidade (ABERC,

2008).

A Sociedade Brasileira de Pediatria (2008, p. 54) ressalta a importância da

escola no combate à obesidade, através da capacitação dos profissionais envolvidos

no trabalho com crianças e adolescentes; da orientação dos pais sobre a alimentação

dos filhos, tanto em casa como no ambiente escolar; e ainda do estímulo à prática de

atividades físicas.

A Biologia pode contribuir no combate à obesidade através do estudo do

processo de nutrição, desde a ingestão de alimentos, digestão, absorção,

metabolismo e excreção. Também, enfatizando as necessidades de nutrientes

individuais no processo de crescimento e desenvolvimento. Cabe ao professor de

Biologia refletir sobre essas questões com seus alunos e, se possível, contar com a

colaboração de professores de outras disciplinas, numa proposta interdisciplinar,

tornando mais efetiva a resolução do problema do sobrepeso e obesidade na escola.

Como exemplo de abordagem interdisciplinar deste tema, tem-se um projeto realizado

em uma escola do estado do Ceará por Bezerra e colaboradores (2010), no qual o

tema alimentação saudável foi trabalhado por meio da criação de um livro de receitas

saudáveis na disciplina de Língua Portuguesa, atividades físicas nas aulas de

Educação Física e outras abordagens que geralmente envolviam mais de uma

disciplina (BEZERRA; ALCÂNTARA; OLIVEIRA-SILVA, 2010).

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METODOLOGIA

O projeto de implementação pedagógica foi desenvolvido no Colégio Estadual

Prof. Manoel Borges de Macedo, em Rio Branco do Sul, pertencente à Área

Metropolitana Norte do Núcleo Regional de Educação, com a participação de

estudantes do 1º ano do Ensino Médio, turno matutino.

A proposta de trabalhar questões que envolvem a obesidade no contexto

escolar, suas causas e consequências, surgiu da inquietação e da necessidade de

enfrentamento a este grave problema social. Por isso, iniciou-se o trabalho com a

apresentação à equipe diretiva, pedagogos e demais docentes, a fim de sensibilizá-

los para a causa da obesidade e toda a conjuntura que envolve as crianças e

adolescentes no âmbito escolar. Neste momento, os professores de todas as

disciplinas ministradas no 1º ano do Ensino Médio foram convidados a participar do

projeto. Entretanto, as disciplinas inseridas de fato no projeto foram Língua

Portuguesa, Matemática, Biologia, Artes e Educação Física. Posteriormente, foi

apresentada a proposta para os estudantes que realizariam as atividades, isto é, o

público-alvo da pesquisa.

A interdisciplinaridade, prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais

(BRASIL, 1997), norteou o aspecto pedagógico para além de uma prática conteudista,

mas que pudesse envolver os professores e estudantes no projeto, visando uma

possível mudança de atitude e de postura diante dos fatos e situações que envolvem

estudantes com obesidade e sobrepeso. Para Severino (1998), a interdisciplinaridade

exigida na esfera do campo pedagógico não diz respeito apenas a requisitos para a

formação do cientista, mas também para as formações profissional e social. Sendo

assim, o projeto educacional envolvendo interdisciplinaridade é necessário tanto

individualmente como para a sociedade, pois assim o indivíduo alcança seu papel de

cidadão, garantindo tal condição para as gerações futuras.

Para tanto, buscou-se a interação entre disciplinas e áreas do conhecimento

visando a ruptura do conteúdo fragmentado e isolado do contexto. O projeto teve como

norteadores de desenvolvimento metodológico: a pesquisa diagnóstica, a pesquisa-

ação e a pesquisa descritiva.

Tendo em vista a necessidade de primeiramente conhecer o público-alvo e o

ambiente no qual ele estava inserido, confrontando hipóteses com dados provenientes

da realidade, a pesquisa diagnóstica foi essencial. Um questionário foi aplicado no

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início da implementação na escola, buscando descobrir o perfil dos estudantes e de

sua família acerca do sobrepeso, obesidade, preferências alimentares e realização de

atividade física.

A pesquisa-ação foi base da metodologia de trabalho, a partir de uma

intervenção planejada e do envolvimento do pesquisador em relação ao grupo incluído

no problema a ser avaliado, ou seja, professores e estudantes, com o objetivo de

examinar os efeitos dessa intervenção. Moreira e Caleffe (2008, p.92) afirmam que:

A pesquisa ação na escola e na sala de aula é um meio: a) de sanar problemas diagnosticados em situações específicas, ou melhorar de alguma maneira um conjunto de circunstâncias. b) de treinamento em serviço, portanto, proporcionando ao professor habilidades, métodos para aprimorar sua capacidade analítica e fortalecimento da autoconsciência; c) de introduzir abordagens adicionais e inovadoras no processo ensino-aprendizagem e aprender continuamente em um sistema que normalmente inibe a mudança e a inovação; d) de proporcionar uma alternativa à solução de problemas na sala de aula.

O referencial teórico serviu de sustentação para as hipóteses levantadas e

conclusões acerca do conteúdo. A observação precisa da realidade, diálogos, debates

e pesquisas bibliográficas foram recorrentes em todo o processo de estudo e ação do

projeto.

Ao final do projeto, tornou-se necessário descrever o contexto e seus sujeitos,

bem como todos os passos da atuação/aplicação do projeto e os resultados

encontrados. Sendo assim, o projeto apresentado contou com pesquisa descritiva,

uma vez que, além de descrever situações e fatos, buscou-se também analisar se as

hipóteses e os objetivos foram atingidos no cotidiano escolar. Conforme Gil (2008,

p.28), esta pesquisa tem como objetivo primordial “a descrição das características de

determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre

variáveis”.

Em relação à aplicação das atividades propostas na Produção Didático-

Pedagógica, os professores das disciplinas envolvidas trabalharam pelo menos um

dos conteúdos de sua respectiva disciplina abordando o tema do projeto. Buscou-se,

assim, promover uma reflexão ampla acerca dos problemas causados pela má

alimentação, pelo sedentarismo e pela falta de investimento em qualidade de vida.

Inicialmente foi feita uma dinâmica usando balões e frases de impacto para

sensibilização dos estudantes a respeito do tema obesidade.

Na disciplina de Educação Física, foi realizada a pesagem e a aferição da altura

dos estudantes. Cada estudante calculou o seu Índice de Massa Corpórea (IMC), com

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base no seu peso e altura. Posteriormente, os estudantes fizeram uma pesquisa sobre

outras técnicas de avaliação da obesidade. Além disso, o professor suscitou uma

reflexão sobre a importância da atividade física no dia a dia.

Na disciplina de Matemática, os estudantes tabularam os dados de peso, altura

e IMC calculados na aula de Educação Física e construíram gráficos para visualizar

os padrões encontrados para a turma.

Na disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, foi proposta a leitura de textos

de diversos gêneros (poesia, conto, crônica, publicidade, etc.) com o tema obesidade,

objetivando a discussão, análise e compreensão do assunto.

Nas artes plásticas, algumas esculturas e pinturas foram marcadas por obras

de arte retratando corpos acima de um peso pré-estabelecido pela sociedade

mercantilista, que vende a magreza como forma de felicidade e ideal de beleza. Na

disciplina de Artes, artistas como Botero, Da Vinci e Arcimboldo foram lidos e

reproduzidos a partir da visão dos estudantes no universo da análise do corpo.

Alguns cartazes ilustrados, tanto informativos quanto de caráter motivacional,

com o tema sobrepeso/obesidade, foram produzidos pelos estudantes e expostos nos

diversos espaços da escola.

A disciplina de Biologia preocupou-se em discutir especialmente os perigos de

uma dieta pouco saudável. Para enfatizar a importância de uma alimentação saudável

para a qualidade de vida e o problema das doenças causadas pela obesidade, foi

proferida uma palestra, com vídeos e diálogo para sanar dúvidas recorrentes entre os

estudantes, visando uma reflexão e análise da alimentação comum no ambiente

escolar e familiar. Além disso, foram abordados temas como pirâmide alimentar,

dietas perigosas, alimentos orgânicos e receitas saudáveis. Propôs-se aos estudantes

a construção um mapa conceitual usando termos abordados durante o projeto.

Como evento de culminância, ao final do projeto realizou-se uma feira de

exposição dos trabalhos dos estudantes e respectivos professores, com seminário de

apresentação do conteúdo estudado. Na oportunidade, produtores locais expuseram

e comercializaram produtos orgânicos. Houve um intenso trabalho de divulgação nas

mídias locais, buscando trazer a comunidade para a escola e inseri-la no projeto.

Além da implementação pedagógica, ao longo do desenvolvimento do projeto

foi proposto o Grupo de Trabalho em Rede (GTR). O GTR é uma formação continuada

para professores da rede pública de ensino do Estado do Paraná. Consiste em uma

oportunidade de socializar o projeto do PDE de forma reflexiva e ativa, compartilhando

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ideias, experiências e vivências com professores que muitas vezes estão em cidades

distantes e inseridos em realidades escolares bastante distintas. Todas as etapas

ocorrem de modo virtual, através da plataforma e-escola. O GTR divide-se em três

etapas: 1) aprofundamento teórico acerca do tema proposto; 2) discussão sobre o

projeto de intervenção pedagógica na escola e a produção didático-pedagógica; 3)

sugestão de atividades sobre o tema e elaboração de um plano de ação a ser aplicado

na escola do cursista. Cada etapa passou por um estudo teórico acompanhado da

descrição de atividades desenvolvidas na escola sobre o assunto. Esta metodologia

é extremamente valiosa para a formação do educador que pode, ao mesmo tempo,

conhecer, refletir e agir de forma mais coerente com a sua realidade. Houve o

acompanhamento de todas as atividades pelo professor PDE, o qual ficou responsável

pela avaliação de cada cursista.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Do projeto inicial à implementação pedagógica houve uma constante discussão

e revisão das estratégias a serem utilizadas na implementação para a obtenção dos

resultados esperados. A dinâmica proposta pelo PDE, para a implementação do

projeto na escola, é extremamente interativa, isto é, o professor PDE está sempre

dialogando com a escola – direção, professores, estudantes e funcionários –, pois a

efetivação do projeto depende da participação e do envolvimento de todos. Neste

contexto foi possível divulgar e sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância

e relevância do tema.

Dentre as atividades propostas inicialmente, algumas não puderam ser

realizadas, como o mapa conceitual e o questionário diagnóstico para os alunos do 6º

ano (para comparação das respostas dos estudantes entre os níveis Fundamental e

Médio). Isso ocorreu em virtude de dificuldades logísticas, da necessidade de

investimento de tempo em outros conteúdos dentro de cada disciplina, entre outros

motivos.

Receptividade da Comunidade Escolar

Houve interesse de muitos professores em participar do projeto. A adesão do

grupo docente previsto inicialmente foi total em um primeiro momento. Porém, ao

longo das atividades aconteceram mudanças: desistência por parte de alguns

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professores e adesão posterior de outros (não previstos anteriormente). Sugestões de

atividades foram bem aceitas, uma vez que o projeto serviu de motivador para um

trabalho mais dinâmico e contextualizado, além de participativo e desafiador, à medida

que exigia reflexão e ação no ambiente escolar e muito envolvimento dos estudantes.

Contudo, foi um trabalho exaustivo que alguns professores aplicassem, de fato, as

atividades sugeridas. Diante de muitos conteúdos programáticos e um currículo

geralmente engessado e pouco flexível, era esperado que alguns professores

tivessem dificuldade em colocar em prática o projeto em sua totalidade.

Os estudantes, por sua vez, demonstraram interesse e envolvimento com o

tema: pesquisaram, produziram e apresentaram seus trabalhos e conclusões com

segurança e equilíbrio. Pela exposição realizada na escola com materiais elaborados

pelos próprios estudantes e pela desenvoltura que demonstraram ao expor suas

ideias sobre o tema, pôde-se perceber que muitos entenderam e assimilaram a

proposta de trabalho e a importância do assunto.

Parcerias com Entidades Externas

Buscou-se, no início do projeto, parcerias especialmente para a realização da

feira – atividade final do projeto. Com a Secretaria Municipal de Agricultura, não

obtivemos bons resultados. Por outro lado, a Cooperativa Provale de agricultores foi

bem mais receptiva, entendeu a proposta, participou da feira e comprometeu-se em

viabilizar a comercialização dos produtos orgânicos semanalmente, em frente ao

colégio. A Secretaria Municipal de Saúde, por sua vez, apoiou fortemente a iniciativa

da feira, disponibilizando serviços de aferição da pressão, teste do diabetes e cadastro

para realização de exames de mamografia para todos os que visitaram a feira.

Dependendo da disponibilidade de tempo e de espaço na escola, houve envolvimento

e participação da comunidade externa.

Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

Durante o GTR, os cursistas foram motivados a refletir e a avaliar as atividades

propostas pelo professor PDE, com vistas a uma mudança de atitude em seu cotidiano

escolar, caso o tema proposto tenha aderência com a sua realidade.

Percebeu-se, ao longo das atividades, o envolvimento dos cursistas, desde as

leituras e pesquisas, até as conclusões e sugestões para o desenvolvimento do tema

na escola. Como exemplo, alguns professores ressaltaram a importância da prática

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de uma alimentação saudável dentro da escola, questionando o uso de enlatados e

embutidos no preparo da merenda escolar e a venda de doces na cantina comercial,

dentre outras práticas incoerentes com a proposta de alimentação saudável mas

presentes em sua realidade escolar.

Apesar destas constatações, existem resoluções e leis específicas que tratam

sobre a alimentação na escola. Em agosto de 2006 foi publicada uma resolução com

o objetivo de promover uma alimentação saudável no contexto escolar, seguindo os

mesmos princípios da Portaria nº 1010 de 8 de maio de 2006 (BRASIL, 2006a), e

ainda atribuindo ao Ministério da Educação a responsabilidade de propor ações que

estimulem hábitos alimentares saudáveis, como consta na Resolução/CD/FNDE nº

32, de 10 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006b). Há ainda a Lei nº 11.947/2009 -

Resolução 38/2009 do Conselho Deliberativo do Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação (FNDE), que estabelece que uma cota mínima de 30% dos recursos do

Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) sejam gastos com alimentos

provenientes diretamente de agricultores ou de empreendimentos rurais familiares,

cooperativas e associações de agricultura familiar (BRASIL, 2009).

Outros professores, durante o GTR, afirmaram que é função da escola

promover reflexão e discussão sobre o papel da mídia na divulgação de produtos

alimentícios pouco nutritivos, porém muito atrativos e fáceis de vender.

Na proposta de desenvolver um projeto na escola com o tema, uma das etapas

do GTR, apareceram muitas sugestões possíveis de serem colocadas em prática.

Uma delas abordaria a relação existente entre a má alimentação (embutidos,

corantes, conservantes, etc.) e doenças. A proposta seria exercitar com os estudantes

a leitura e análise de rótulos de alimentos (valor nutricional, armazenamento,

conservação, etc.) a fim de que eles possam colocar isso em prática na hora da

compra. Embora tenha sido sugerida, por professores do GTR, a inclusão da disciplina

de Química neste projeto interdisciplinar, justifica-se a ausência em virtude de o

currículo do 1º ano do Ensino Médio (público alvo escolhido para o projeto) não

contemplar a referida disciplina nesta série.

Foram muitas as sugestões e propostas que enriqueceram o projeto e que

certamente podem ser úteis para os próximos trabalhos.

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Implementação na Escola

Aplicar o projeto, na etapa de implementação das atividades propostas, foi

fundamental para avaliar os objetivos e testar as hipóteses acerca do tema proposto:

“Alimentação saudável e qualidade de vida”. Considerando o desenvolvimento das

atividades de forma interdisciplinar, pôde-se observar a Produção Didático-

Pedagógica aplicada de forma peculiar nas diferentes disciplinas.

A adesão dos docentes à proposta e a participação dos estudantes

possibilitaram ações pedagógicas que foram ao encontro dos estudos e pesquisas

realizados anteriormente, confrontando dados, argumentos e fatos relevantes sobre o

tema em estudo.

Logo após a apresentação do projeto aos estudantes, realizou-se um

questionário sobre alimentação e estilo de vida, a fim de conhecer os hábitos e

construir um perfil do grupo. Além das questões básicas sobre sexo, idade, peso e

altura, houve outras que se referiam à percepção acerca do seu peso (sim/não),

prática de atividade física (sim/não), ocorrência de pessoas com sobrepeso ou

obesidade na família (sim/não), e preferências alimentares (1/2/3), sendo 1- doces e

guloseimas; 2- frutas; e 3- prato com feijão, arroz, carne e salada. Foram pesquisados

33 estudantes, com idade entre 14 e 16 anos, dos quais 18 eram do sexo masculino

e 15 do sexo feminino. Os resultados foram apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 - Percepção de sobrepeso e fatores que influenciam no desenvolvimento da obesidade.

Com sobrepeso

(segundo auto percepção)

Realização de Atividade física

Sobrepeso ou obesidade na

família

Preferências alimentares

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO 1 2 3

Masculino (18) 02 16 11 07 05 13 06 05 07

Feminino (15) 04 11 10 05 05 10 09 02 04

Considerando a importância da atividade física para a saúde e o bem-estar,

percebe-se, pelo resultado acima, que ainda falta adesão por parte dos estudantes,

pois 36% deles afirmam não praticar atividade física (Tabela 1). É um número

relevante para o contexto, especialmente por se tratar de adolescentes. Em relação à

ocorrência de familiares com sobrepeso/obesidade, quase um terço afirmou pertencer

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a este grupo (Tabela 1). Isso pode ser preocupante, uma vez que a ocorrência de

distúrbios de comportamento alimentar é bastante influenciada pela história familiar

(SIGULEM et al., 2001). Quando foram questionados se eles se consideravam acima

do peso, cerca de 20% dos alunos afirmou que sim, com destaque para as meninas

(Tabela 1). O primeiro passo para uma mudança de atitude é reconhecer que se está

acima do peso. Reforça-se o dado anterior com o registro das preferências

alimentares, sendo que mais de um terço prefere doces e guloseimas (item 1) a pratos

mais saudáveis (itens 2 e 3) (Tabela 1). A preferência por frutas (item 2) foi baixíssimo.

Comer frequentemente feijão, arroz, carne e salada (item 3) é mais comum; contudo,

entre os pesquisados, apenas um terço registrou esta preferência. Isso pode ocorrer

em virtude de um estilo de vida marcado pela ausência de um adulto que prepare as

refeições diariamente.

Pedraza e colaboradores (2017), em estudo semelhante, realizado com

escolares em Campina Grande, na Paraíba, obteve um índice de excesso de peso de

21,5% dos estudantes, sendo 9,2% de obesidade. Além disso, houve uma análise

detalhada dos hábitos alimentares, que demonstrou resultados semelhantes ao do

nosso estudo: a predileção por industrializados e alimentos ricos em gordura pela

maioria dos estudantes (PEDRAZA et al. 2017).

Das disciplinas envolvidas, somente Língua Portuguesa não executou as

atividades por completo. Em Artes, a professora demonstrou interesse em

desenvolver atividades diversificadas com a temática e envolveu a turma em um

ambiente criativo. Utilizando material reciclável, produziu-se, em Artes, esculturas com

formato mais saliente para reproduzir corpos acima do peso ou obesos (Figura 1),

além de pinturas em quadros com a temática, explorando cores e formas, sem perder

de vista a arte e o olhar do artista em sua obra, sem preconceito ou discriminação.

As professoras de Educação Física e de Matemática auxiliaram os estudantes

no cálculo do IMC (índice de massa corpórea). A partir dos valores obtidos, foi feita

uma classificação dos estudantes em peso normal ou sobrepeso. Os valores obtidos

foram tabulados na aula de Matemática, conforme a Figura 2. A professora de

Educação Física também orientou uma pesquisa sobre as técnicas de avaliação da

obesidade. Sobre a atividade laboral no ambiente escolar (inicialmente proposta), não

houve tempo disponível para a sua realização.

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Figura 1 - Esculturas produzidas pelos estudantes na disciplina de Artes.

Figura 2 - Distribuição dos estudantes nas categorias Peso normal ou Sobrepeso, com base no IMC (Índice de Massa Corpórea). A categoria “Ausentes” incluiu os casos em que os estudantes não estiveram presentes na aula em que a atividade foi realizada, e também os casos em que os estudantes não quiseram ter o seu peso aferido. (Autoria própria)

55%

15%

30%

Diagnóstico dos estudantes baseado no IMC

PESO NORMAL

SOBREPESO

AUSENTES

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Em Biologia, pôde-se perceber o envolvimento dos estudantes, que

absorveram o conteúdo por meio da pesquisa realizada no laboratório de informática

(Figura 3) sobre temas diversificados, incluindo as dietas perigosas e também tipos

de cardápio. Foram confeccionados cartazes (Figura 4) a serem expostos no colégio

para conhecimento de todos os estudantes sobre o que é uma alimentação saudável

e adequada. O professor de Biologia trabalhou também, em sala de aula, o tema da

pirâmide de atividade física (um tema que foi inserido posteriormente no projeto, não

constando na Produção Didático-Pedagógica). Houve também a apresentação dos

alunos sobre o conteúdo estudado, nos seminários realizados em sala de aula e

durante a feira. Cada grupo ficou responsável por um dos seguintes temas: dietas

alimentares perigosas; aditivos alimentares; cálculo renal e outras doenças renais;

hipertensão e colesterol; pirâmide alimentar; doença celíaca; consumo de milho e soja

na alimentação; e obesidade.

Figura 3 - Pesquisa realizada no laboratório de informática durante a aula de Biologia.

No decorrer do projeto, uma acadêmica do curso de Medicina da Universidade

Estadual de Ponta Grossa (UEPG) proferiu uma palestra sobre alimentação saudável

e qualidade de vida, e ainda sobre as doenças causadas pela obesidade. Durante

essa atividade foi proposto um momento para os estudantes sanarem suas dúvidas a

respeito dos hábitos alimentares e suas consequências para a saúde.

Na feira, houve a visitação de quatro escolas estaduais. A professora da sala

de recurso (classe de alunos que apresentam déficit de aprendizagem e/ou

necessidades especiais), juntamente com seus alunos, fizeram a abertura da feira

com a música “Comer, comer”, através da linguagem de sinais. A professora de

Matemática realizou a pesagem de visitantes para verificar o Índice de Massa

Corpórea. Outros professores (que não estavam envolvidos no projeto no início)

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demonstraram interesse em participar da feira, expondo atividades dos alunos

realizadas em sua disciplina.

Houve participação do Grêmio Escolar na divulgação da feira, no registro

fotográfico dos eventos, na logística e organização do ambiente para a palestra e para

as atividades da feira. Neste último evento, o Grêmio realizou o resgate de

brincadeiras antigas, na quadra, como proposta de atividade física.

Figura 4 - Exemplos de cartazes produzidos pelos estudantes sobre alimentação saudável.

O projeto tomou uma dimensão maior do que estava previsto, mas isso foi

importante para a divulgação e a construção de uma ideia voltada à alimentação

saudável como pilar para o enfrentamento da obesidade e conquista da qualidade de

vida.

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Avaliação do Projeto feita por Estudantes e Professores

Com o objetivo de mensurar e avaliar os resultados obtidos na visão dos

estudantes e professores, aplicou-se um questionário com questões abertas sobre as

ações realizadas no projeto.

Aos estudantes as questões versaram sobre relevância do conteúdo, das

atividades propostas e da dinâmica de aplicação, abordando mais especificamente:

mudanças de atitude em casa; aprendizado para a vida; preferência por trabalhar os

conteúdos contextualizados no projeto ou pelo livro didático.

Aos professores coube uma reflexão sobre o desenvolvimento do projeto:

dificuldades encontradas, interferência negativa no cronograma da disciplina,

motivação dos alunos para a realização das atividades, influência da proposta de

interdisciplinaridade no processo de ensino-aprendizagem, eficiência na abordagem

dos conteúdos da disciplina pela perspectiva do projeto ou de acordo com o livro

didático.

Figura 5 - Frequência das respostas dos estudantes para quatro questões presentes no questionário referente à avaliação do projeto. As perguntas foram: 1- O projeto proporcionou alguma mudança de atitude na sua casa? Se sim, cite qual foi ela. 2- De tudo o que foi aprendido durante o projeto, algo lhe chamou a atenção e será levado para a sua vida? Exemplifique. 3- O tema do projeto foi trabalhado em diferentes disciplinas. Você achou que foi legal trabalhar o mesmo tema nos diversos conteúdos das disciplinas de Biologia, Matemática, Artes, Português e Educação Física? Ou você achou que ficou maçante? 4- Os conteúdos das diversas disciplinas foram contextualizados por meio do projeto. Você acha que o conteúdo foi aprendido de maneira satisfatória, ou seria melhor que o livro didático tivesse sido seguido “à risca”? (Autoria própria)

0

5

10

15

20

25

30

Mudanças em casa Aprendizado para aVida

Motivação peloProjeto

Preferência porConteúdos

Contextualizados

Avaliação do projeto pelos estudantes

SIM NÃO OUTRA RESPOSTA

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Considerando a faixa etária (de 14 a 16 anos), isto é, adolescentes do 1º ano

do Ensino Médio, há ainda no grupo alguns que apresentam dificuldades de

entrosamento e de participação e, às vezes, não compreendem (ou resistem em

compreender) a proposta de um trabalho diferenciado. Esta é a realidade da escola

deste século. Entretanto, na análise das respostas ao questionário (Figura 5), a

diferença entre as mudanças de atitude não ocorridas em casa e o aprendizado para

a vida sugere que houve assimilação do conteúdo por parte dos estudantes, porém

ainda não houve grande impacto no cotidiano da família. Abreu (2010) ressalta a

importância da família no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e no

incentivo à atividade física. Muitas vezes os pais não percebem em seus filhos o

sobrepeso ou a dificuldade em atingir o peso saudável, o que torna o processo ainda

mais difícil. Pela análise da terceira e quarta respostas (Figura 5), o parecer dos

estudantes é positivo em relação a uma proposta interdisciplinar e voltada para a

abordagem de projetos, com conteúdos contextualizados e mais coerentes com a

realidade dos estudantes.

A avaliação dos professores foi positiva em relação à interdisciplinaridade e à

abordagem dos conteúdos na perspectiva de projetos. Eles afirmaram que não houve

interferência negativa no programa da disciplina, uma vez que os conteúdos

trabalhados estavam previstos no currículo daquele ano/série. Contudo, alegaram a

falta de tempo para a realização de projetos no contexto escolar, pois no Ensino Médio

é necessário abordar muitos conteúdos mediante o tempo disponível. Portanto, há

necessidade de se repensar esta etapa da vida escolar com uma Base Nacional mais

efetiva e significativa.

Houve unanimidade, por parte de estudantes e professores, sobre a

importância do tema na escola e sobre a eficiência na forma como o projeto propôs

encaminhamentos didático-pedagógicos para abordar o tema. Contudo, levantaram-

se questões acerca da participação total/efetiva de alguns professores. Há, ainda, na

escola uma preocupação com o conteúdo programático, notas, faltas, etc., tornando

difícil promover mudanças na prática de um ensino tradicional e conteudista, pouco

preocupado com a aplicação dos conteúdos e pouco comprometido com o contexto

do estudante.

Por outro lado, numa avaliação geral, pode-se afirmar que o projeto atendeu as

expectativas, uma vez que quase todas as atividades propostas foram realizadas com

êxito, o que foi destacado na avaliação feita pelos estudantes e pelos professores.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Participar do PDE é uma excelente oportunidade de estudo, pesquisa,

questionamento, reflexão sobre a prática, enfim, de uma formação ampla, que vai

além do material, mas perpassa as ações do docente. O retorno à universidade faz

uma grande diferença ao educador, que nem sempre tem, em seu cotidiano, a

oportunidade de um estudo teórico sistematizado, usando fontes atualizadas.

Em relação à temática do projeto, foi muito importante refletir sobre o grave

problema da obesidade na escola e, em equipe, buscar alternativas para enfrentar o

problema. Os professores estão sempre envolvidos com um conteúdo previsto, uma

data a cumprir e, por isso, acabam muitas vezes não encontrando tempo para o que

é realmente pertinente no ambiente escolar. É necessário “estudar” na escola o que

faz sentido, o que tem importância. Cortella (2017) afirma que “importância vem de

importar, pôr para dentro”. Do contrário, para quê? A obesidade e a qualidade de vida

muito interessam aos estudantes que vivem em uma sociedade marcada por

estereótipos de corpos perfeitos a qualquer custo. A obesidade, por sua vez, distancia

o jovem e o adolescente deste contexto e, pior ainda, traz doenças físicas e sociais.

Cabe à escola viabilizar tempos e espaços de reflexão e de discussão continuada

sobre este polêmico assunto. Trazer e compartilhar informações e transformá-las em

conhecimento adquirido, para uma mudança de comportamento e atitude. Isso é

aprendizagem.

Sem a ousadia demasiada de responder a todas as questões ou tentar resolvê-

las, o presente trabalho procurou, de forma simples, na perspectiva do “aprender

junto”, abrir um caminho para refletir sobre a importância das pequenas atitudes do

dia a dia, em se tratando de alimentação e qualidade de vida. Continuar as atividades

nos anos seguintes e realizar exposições, palestras, seminários foram sugestões dos

estudantes para dar continuidade ao trabalho. Sugere-se, ainda, que as escolas

aproveitem o Dia Mundial da Alimentação Saudável (16 de outubro) para trabalhar

este tema com estudantes, professores, demais funcionários e comunidade externa.

AGRADECIMENTOS (da primeira autora, Maria Aparecida Pereira Lovato)

Agradeço primeiramente a Deus pela força e coragem durante esta caminhada. Ele que colocou

pessoas tão especiais ao meu lado, sem as quais certamente eu não teria dado conta!

Agradeço imensamente à minha orientadora, Prof.a Dra. Jana Magaly Tesserolli de Souza, pela

dedicação, paciência e reconhecimento da minha vontade de aprender e produzir bons resultados no

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PDE. Neste percurso, a identificação profissional e o estímulo recebido da orientação me fortaleceram

para seguir com constância e persistência o árduo caminho da aprendizagem e do conhecimento.

Agradeço à Vera, minha irmã, e a Ana, minha filha, pelas valiosas sugestões ao longo do trabalho e

pela leitura crítica do artigo, apoiando minhas ideias e propostas. Ao Everton, meu sobrinho, agradeço

pelo apoio técnico e pelo tempo dispensado na construção dos gráficos. Valeu muito!

REFERÊNCIAS

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