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    Ofcio

    doPsicanalista

    Regulamentao

    Formaov e r s u s

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    Ofcio

    doPsicanalista

    Regulamentao

    Formaov e r s u s

    Coletnea Criada naArticulao das EntidadesPsicanalticas Brasileiras

    COMISSO DE ORGANIZAOSonia AlbertiWilson Amendoeira

    Edson LannesAnchyses LopesEduardo Rocha

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    2009 Casapsi Livraria, Editora e Grca Ltda. proibida a reproduo total ou parcial desta publicao, para qualquer nalidade,

    sem autorizao por escrito dos editores.1 edio

    2009

    EditoresIngo Bernd Gntert e Christiane Gradvohl Colas

    Assistente EditorialAparecida Ferraz da Silva

    CapaDanilo Pasa

    Produo GrfcaAna Karina Rodrigues Caetano

    Editorao EletrnicaSergio Gzeschnik

    PreparaoChristiane Gradvohl Colas

    RevisoFlavia Okumura Bortolon

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Ofcio do psicanalista: formao versus regulamentao/ comisso de orga-nizao Sonia Alberti [et al.] So Paulo: Casa do Psiclogo, 2009.

    Outros organizadores: Wilson Amendoreira, Edson Lannes, AnchysesLopes, Eduardo Rocha. Coletnea criada na articulao das entidadespsicanalticas brasileiras.

    ISBN 978-85-7396-630-5

    1. Psicanlise como prosso 2. Psicanalistas 3. Psicanalistas - Formaoprossional I. Alberti, Sonia. II. Amendoreira, Wilson. III. Lannes, Edson.IV. Lopes, Anchyses. V. Rocha, Eduardo.

    09-02466 CDD-150.195

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Psicanlise como prosso 150.195Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Reservados todos os direitos de publicao em lngua portuguesa

    Casapsi Livraria, Editora e Grfca Ltda.Rua Santo Antnio, 1010Jardim Mxico CEP 13253-400 Itatiba/SP BrasilTel.: (11) 4524-6997 Site: www.casadopsicologo.com.br

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    Sumrio

    Pelo rum de debates: uma apresentao................................. 7Sonia Alberti

    PRIMEIRA PARTE - Histria .................................................. 21

    A articulao das entidades psicanalticas brasileiras ................. 23Wilson Amendoeira

    Histria das tentativas de regulamentao no Brasil .................. 33Edson Soares Lannes

    Uma ao no Congresso Nacional ............................................ 45Maria Ida Fontenelle e Vania Otero

    Apresentao das reunies da Articulao das EntidadesPsicanalticas Brasileiras ............................................................ 51Anchyses Jobim Lopes e Maria Mazzarello Cotta Ribeiro

    SEGUNDA PARTE - O que est em jogo, hoje? ....................... 61

    A psicanlise leiga: da ormao do psicanalista ..................... 63Letcia Balbi, Mauricio Lessa e Paulo Becker

    A psicanlise leiga .................................................................. 71

    Ablio Luiz Canelha Ribeiro Alves e Luciana Abi-Chahin Saad

    Leiga por rigor: o que impossvel regulamentar na psicanlise? .. 79Luciano Elia

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    A regulamentao, a psicanlise e as psicoterapias .................... 89Maria Idlia de Ges, com a colaborao de Eduardo de Carvalho

    Rocha e Fernanda Costa-Moura

    Regulao e perverso .............................................................. 99Maria Cristina Perdomo e Maria Helena Saleme

    TERCEIRA PARTE - Psicanlise, cincia e religio .................. 105

    Psicanlise, cincia e religio..................................................... 107Antonia Portela Magalhes, Gracinda Peccini e

    Isabel Martins Considera

    Ao redor da cincia e da religio ............................................... 115Romildo do Rgo Barros

    QUARTA PARTE - Psicanlise na Universidade ....................... 125

    A ormao analtica no ocorre na Universidade ..................... 127Rita Franci Mendona

    Entre ensinar psicanlise e ormar psicanalistas ......................... 137Ana Maria Sigal

    A psicanlise na Universidade ................................................... 147Denise Maurano

    APNDICE .............................................................................. 155

    Maniesto de Entidades Brasileiras de Psicanlise ...................... 157

    Ps-escrito de A psicanlise leiga (Sigmund Freud, 1927) ...... 167

    Entrevista sobre a Articulao ................................................... 181

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    Pelo frum de debates:uma apresentao

    Sonia AlbertiEscola de Psicanlise dos Fruns

    do Campo Lacaniano

    Uma nova preocupao ganha cada vez mais ora nosltimos dois anos de reunies da Articulao das EntidadesPsicanalticas Brasileiras, que se realizam na cidade do Rio de

    Janeiro: como levar o nosso debate para a comunidade de psica-nalistas, de estudantes e de prossionais ans? Vrias propostas

    surgiram e, entre elas, a de um livro que pudesse esclarecer emotivar um interesse para por que no? ajudar a promover,no uturo, um possvel rum das entidades psicanalticas bra-sileiras em torno do tema em discusso, aberto aos membrosdessas entidades e ao pblico em geral.

    A Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras um movimento criado em 2000, que visa deender a psican-lise tal como Sigmund Freud a conceituou, diante dos campos

    de poder tanto econmico, quanto poltico estabelecidosno nal do sculo XX, a m de garantir um espao no qualela possa seguir com seu crescimento e consolidao de acordo

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    com sua tica genuna, sua relao particular com a cincia esua eccia que nem sempre se reduz teraputica. Como po-der ser lido nos primeiros textos dessa coletnea, a Articulaoj tem uma histria, alm de conquistas que podero parecerpequenas, mas que oram de monta, ruto de grande trabalhoe investimento tanto das entidades aqui representadas, quantode alguns de seus membros que participaram e/ou participamdo movimento. As entidades que constituem a Articulao so,necessariamente, de ormao de psicanalistas, o que no im-pede que outras instituies que no tm tal enoque possamse interessar pelo movimento, assinar seus maniestos a convite

    da Articulao caso com eles se identiquem, apostar no seusucesso, e vir em nosso auxlio a cada vez que isso or preciso.

    Ao mesmo tempo, as entidades psicanalticas que compem aArticulao se reconhecem como instituies de ormao depsicanalistas, o que por si s j um enorme avano na hist-ria da psicanlise, tendo em vista o ato de que ela tambma histria de inmeras rupturas. Um movimento de entidadespsicanalticas que podem se encontrar para debaterem juntas

    em deesa da psicanlise alvissareiro. Que ele tenha surgido deuma necessria anidade encontrada entre as entidades, cujasrelaes at ento oram, na sua maioria, bastante diceis, ecujas dierenas as undamentam, tal como a alta undamentao desejo, j , sem dvida, um de seus grandes sucessos! No in-cio, isso talvez no teria sido possvel sem a participao, tantodo Conselho Federal de Medicina, quanto do Conselho Federalde Psicologia, que se interessaram em sua constituio, mas emrelao aos quais a Articulao hoje independente, com umaautonomia que, s vezes, implica opinies divergentes e ques-tionamentos. Alm da Articulao das Entidades Psicanalticas,ao longo desses anos criaram-se runs de discusso em outras

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    regies do pas e alguns debates internos s Entidades promo-vem o entrecruzamento das inormaes sobre o andamento decada um deles.

    Como se poder ler nos textos de Wilson Amendoeira,da Federao Brasileira de Psicanlise instituio que rene asdierentes sociedades da IPA no Brasil , e no texto de EdsonLannes, um dos membros undadores do Crculo Psicanalticodo Rio de Janeiro, no de hoje que psicanalistas percebem, naplis, a necessidade de vir a pblico deender o lugar da psica-nlise no mundo. De certa orma, isso az parte da histria dapsicanlise desde sua origem e, por isso, esses textos constituem

    o incio do livro: eles contextualizam, na histria, o movimen-to da Articulao. Tanto no mundo, quanto particularmenteno Brasil, ocorreram momentos nos quais se tornou necess-rio retomar os undamentos que especicam e particularizama psicanlise em relao a todos os outros campos de saber ede prtica, numa luta vigilante pela singularidade de seu dis-curso e do poder que dele emana, de orma que nem questeseconmicas, nem de raa ou de credo, nem mesmo ditaduras

    aniquilassem os anos de trabalho obtidos pela contribuio decada psicanalista que suportou assumir esse lugar a partir de suaprpria relao com a causa reudiana.

    Em 2000, o que motivou a criao do movimento da Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras oi, maisuma vez, um eroz ataque que o discurso da psicanlise co-meava a sorer. No mundo, vinha de inmeros projetos delei por uma regulamentao da psicanlise, tendo em vista,sobretudo, a poltica da sade subvencionada pelo Estado. NoBrasil, havia uma particularidade a mais: o impressionante ata-que de instituies que deturpam completamente os conceitosda psicanlise em cursos e programas de treinamentos, como

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    o caso, por exemplo, de alguns grupos dos hoje chamadosnovos evanglicos.

    O texto de Maria Ida Fontenelle Associao Psicanalticade Porto Alegre e Percurso Psicanaltico de Braslia e de VaniaOtero tambm do Percurso Psicanaltico de Braslia umcurto relato do que , at hoje, a atuao da Articulao dasEntidades Psicanalticas junto Cmara dos Deputados, das di-culdades e dos apoios que tivemos.

    Maria Mazzarello Cotta Ribeiro e Anchyses Jobim Lopes,ambos do Crculo Brasileiro de Psicanlise, tiveram o cuida-do de rever todas as atas de nossas reunies e azer um texto,

    atravs do qual o leitor poder ter uma pequena idia das ques-tes em debate nesses oito anos de Articulao. No se tratade um resumo das atas, mas do resultado de uma leitura delas,discutida por ambos os autores para tornar pblico o teor denossas preocupaes, as diculdades encontradas ao longo des-ses anos e os avanos que julgamos ter realizado. O paradigmadesses avanos a publicao de dois maniestos, cada um emum momento preciso do movimento, em pocas distintas, mas

    ambas de grande diculdade. Pela primeira vez na histria dapluralidade das instituies psicanalticas oi possvel escrever epublicar dois textos assinados por uma gama de entidades psica-nalticas, como se poder vericar no Apndice deste livro. Nelese encontram: 1) os dois Maniestos datados e a lista dos queos subscreveram; 2) o texto de Freud que undamenta ambos osManiestos e que apresentamos, integralmente, na traduoeita por Eduardo Vidal, da Escola Letra Freudiana, que incluio trecho indito: o Ps-escrito de A anlise leiga (1927); 3)a traduo de uma entrevista a uma revista rancesa, surpresacom a possibilidade de uma articulao como a nossa conseguirse realizar.

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    Entre as circunstncias da criao e dos dierentes momen-tos da Articulao reeridos na primeira parte dessa coletnea, eo seu apndice com o texto que a undamenta e aqueles que elaj conseguiu produzir, o leitor encontrar uma segunda parte dovolume na qual so discutidas as questes da atualidade rentes quais a psicanlise no pode se urtar, se quiser manter umespao na plis. Para apresentar tais questes, oi eito um traba-lho quase hercleo de dilogos entre entidades psicanalticas. Asposies dos autores que representam, cada um, uma instituio no meu caso, a Escola de Psicanlise dos Fruns do CampoLacaniano , no so necessariamente concordantes, mas mani-

    estam um intenso interesse em dialogar com colegas de outrasinstituies, ao mesmo tempo que demonstram haver pontosespeccos para discusso; a psicanlise exige certas tomadasde posio! Dentre elas, a mais importante: toda psicanlise leiga. porque h pontos sobre os quais no h discusso, que a

    Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras persiste apsoito anos de trabalho em conjunto, sem ser instituio, mas ummovimento pronto a entrar em ao, pronto a tomar posio a

    cada vez que perceber conjunturas que extrapolam a psicanli-se, colocando em perigo o lugar dela no mundo.Com eeito, a Anlise leiga , por si s, um texto es-

    crito para deender tanto o psicanalista Theodor Reik comoj no incio dessa segunda parte observam os textos da EscolaLetra Freudiana e da Escola Lacaniana de Psicanlise quan-to a psicanlise tal como a queria Freud. Era no seu rigor eem sua submisso verdade que [Freud] ancorava sua corajosadeterminao crtica, mais do que em paixes ideolgicas ou li-belos panfetrios, em cuja permanncia e eetividade ele poucoacreditava, observa o texto de Luciano Elia, do Lao AnalticoEscola de Psicanlise. Como escrevem os autores da Escola

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    Lacaniana de Psicanlise, Freud sabia que, ao longo da hist-ria, as hostilidades contra a psicanlise se repetiriam, s vezesde orma mais velada, outras, mais evidente, e que qualquertentativa de regulamentao da psicanlise que venha de ora adeixar num uturo sombrio e atal.

    Por isso julgamos importante introduzir nessa coletnea adenio do campo da psicanlise em relao ao da cincia, dareligio e mesmo da losoa como acrescenta o texto da PrxisLacaniana/Formao em Escola, de Antonia Portela Magalhes:apesar de se undar em associao com a cincia e compartilharcom ela a Weltanschauung, a psicanlise privilegia uma outra

    relao com a verdade, sempre transitria, mas intrnseca, co-mo se v at mesmo especicado para a psicanlise no CdigoBrasileiro de Ocupaes (c. o texto de Edson Lannes). A ver-dade debitria do que aqui identicado ou como enda(pela Prxis Lacaniana/Formao em Escola), ou como racha-dura tica (pelo texto da Escola Brasileira de Psicanlise), doistermos que se articulam questo reudiana do mal-estar nacultura. Problematizada nos dois textos de orma semelhante

    quanto relao da psicanlise com a cincia, a intrincada ques-to reudiana do mal-estar na cultura com a religio abordadade duas ormas: de um lado, a psicanlise vai na contramodo culto ao Pai Prxis Lacaniana/Formao em Escola , deoutro, se h total incompatibilidade entre tratamento analticoe religio, Romildo do Rgo Barros da Escola Brasileira dePsicanlise observa a importncia da psicanlise como laosocial indito. Desse modo, conclui-se que h muito o que apro-undar sobre o debate entre psicanlise e religio.

    Uma das questes que ocupou inmeras reunies daArticulao diz respeito aos problemas da relao entre psica-nlise e psicoterapias. O texto redigido pelo Tempo Freudiano

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    Associao Psicanaltica demonstra como as psicoterapias neces-sariamente implicam uma clnica em que o paciente deve estarreerido a um modelo por mais aberto que este seja e diantedo qual o psicoterapeuta o guardio, o guia, o mestre de umsaber. Assim tambm escreve o Departamento de Formao emPsicanlise do Instituto Sedes Sapientiae, em So Paulo:

    A anlise buscada como modo de cumprir regras de orma-o conduz a uma anlise burocrtica e desvitalizante que,mais uma vez, signica o m da psicanlise. Isto posto nosignica ignorar as diculdades que cada uma das institui-

    es enrenta para levar o processo de ormao a dar comoresultado um analista. Evidenciar as diculdades um passoadiante, regulamentar para evit-las um passo atrs.

    As diculdades emanam da prpria relao, j apontadapor Freud, entre transerncia e resistncia, e se na clnica psica-naltica o saber est do lado do inconsciente (Tempo Freudiano

    Associao Psicanaltica), o terapeuta s o por transerncia,

    na realidade esvaziado de qualquer saber. H, ento, um pon-to impossvel na relao da psicanlise com as psicoterapias, apsicanlise no podendo ser simplesmente mais uma dentre elas,mesmo se, s vezes, o tratamento com um psicanalista possa terapenas uma eccia teraputica. , na realidade, por causa datranserncia que a psicanlise no tem como ser regulamentada!

    E tambm por causa da transerncia mola mestra do tra-tamento psicanaltico que surge toda polmica sobre as relaesentre psicanlise e universidade. o ltimo tema dessa coletnea,discutindo o ensino da psicanlise, a ormao do psicanalista eas dierentes incurses das articulaes epistemolgicas que dissodecorrem. O Centro de Estudos Lacanianos, o Departamento de

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    Psicanlise do Instituto Sedes Sapientiae e o Corpo FreudianoEscola de Psicanlise enriquecem essa coletnea com um verda-deiro debate sobre a psicanlise na universidade, questo queno deixa de ser polmica para muitos psicanalistas! A orma-o psicanaltica certamente disjunta da pedagogia, na medidaem que a experincia de mergulhar no inconsciente em transe-rncia nos deronta com um saber de uma orma absolutamentesingular o que, no entanto, no invalida o ato de a psicanlisecontar com um sistema de relaes objetivas que constituem umcorpo de idias, enunciado como disciplina (Ana Maria Sigal,Departamento de Psicanlise do Instituto Sedes Sapientiae). Isso

    leva a supor que, dierentemente da particularidade da transmis-so da psicanlise na ormao do analista, ela pode circular nombito universitrio. Se, para uns no se justica na universidadeo ensino de temas como, por exemplo, diagnstico e tratamen-to das estruturas clnicas, pois, para a eetiva transmisso dosmesmos tornam-se necessrios os pr-requisitos transerenciaisbsicos (c. Rita Mendona, do Centro de Estudos Lacanianos),a partir de outros pontos de vista podemos levantar a questo so-

    bre se possvel o ensino da psicanlise na universidade ter algumpoder de desvirtuar a psicanlise, j que impossvel, de todomodo, investigar psicanaliticamente uma questo ora do mbitopuramente formativo que se processa no interior de uma anli-se e da superviso (Ana Maria Sigal). Distinguir a ormao doanalista e o ensino da psicanlise na universidade seria, portanto,a priori. Ponto de vista compartilhado por Denise Maurano, doCorpo Freudiano Escola de Psicanlise, que lembra como JacquesLacan j respondia a essa questo em seu tempo:

    quando perguntado sobre por qu, ao nal do ensino querecebem [os estudantes do seu curso], no poderiam tornar-se

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    psicanalistas, responde que a psicanlise no se transmitecomo qualquer outro saber. No porque a psicanlise notenha nada a saber ou seja avessa questo do saber, masporque ela pe em questo a uno mesma do saber, a un-o do saber para o sujeito e para a sociedade.

    De modo que, talvez, a prpria psicanlise tenha uma un-o na universidade: a de relativizar a prpria questo do saber.Dar conta disso no seria tambm contribuir para a deesa deum espao da psicanlise na plis?

    Este livro produto de muito trabalho e de muito investi-

    mento das pessoas e das entidades que compem a Articulao.Como se pode ler no texto que a Escola Letra Freudiana assina,o que nos une entre entidades constitudo, por um lado,

    pelos princpios enunciados por Freud em seu texto, e orespeito aos conceitos undamentais da Psicanlise, co-mo a Pulso, O Inconsciente, a Transerncia, a Libido e aRepetio. [Por outro lado, pela disposio] a pagar o pre-

    o de trabalhar com esta orientao mnima e se ancorandonela para abrigar a dierena e a alteridade, renunciando Unidade Ideal.

    Finalmente, este livro tambm nossa orma de justi-car a tomada de posio dentro da Articulao das EntidadesPsicanalticas Brasileiras: no h viglia para garantir um espao psicanlise no mundo que no inclua a luta pela no regula-mentao da psicanlise pelo Estado ou por quaisquer rgos,na medida em que a psicanlise, desde Freud, s se sustenta emduas regras: a da associao livre, por parte do analisando, e ade se abster como sujeito, por parte do psicanalista.

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    Para alm das discusses que cada participante daArticulao leva a eventos internos em suas instituies, a ten-tativa de promover esse debate com um pblico mais amplono nova nas atividades da Articulao. Desde sua criao jocorreram pelo menos quatro eventos abertos para a comuni-dade em geral e pblico a m ou seja, que no se restringiramao pblico intra-institucional de cada sociedade e/ou escola: emmaio de 2003, organizado pela Escola Letra Freudiana (no Riode Janeiro); em setembro de 2004, dois eventos organizadospelo Instituto Sedes Sapientiae (em So Paulo) e pela EscolaBrasileira de Psicanlise (em Belo Horizonte) e, em agosto de

    2005, no bojo de um evento organizado pelo Programa de Ps-graduao em Psicanlise da Universidade do Estado do Rio de

    Janeiro, em associao com a Universidade Federal do Riode Janeiro e a Ponticia Universidade Catlica do Rio de

    Janeiro. Os quatro pargraos que seguem registram mui re-sumidamente esses quatro acontecimentos. Como escreve aEscola Letra Freudiana, no Rio de Janeiro:

    A Escola Letra Freudiana, comprometida e engaja-da no movimento de Articulao das entidades psicanalticasbrasileiras, promoveu em sua Jornada Formao e uno dopsicanalista, ocorrida na PUC-RJ em maio de 2003, uma mesaredonda em torno da questo O que regula a psicanlise? emque participaram psicanalistas convidados de dez instituies doRio de Janeiro (Tempo Freudiano, Crculo Psicanaltico do Riode Janeiro, Escola Brasileira de Psicanlise, Escola de Psicanlisedos Fruns do Campo Lacaniano, Sociedade Brasileira dePsicanlise do Rio de Janeiro e Escola Letra Freudiana), BeloHorizonte (Aleph Escola de Psicanlise e Instituto de EstudosPsicanalticos IEPSI) e Paris (cole de Psychanalyse Sigmund

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    Freud). A transcrio da ala de cada participante encontra-se pu-blicada na revista da Escola Letra Freudiana A anlise leiga da formao do Psicanalista ano XXII n 32 (2003).

    Em 11 de setembro de 2004, Ana Maria Sigal, pe-lo Departamento de Psicanlise do Sedes Sapientiae de SoPaulo, organizou um evento com um debate de vrios colegasda Articulao com membros da instituio. Reunio aber-ta por Mrio Lcio Alves Baptista, da Federao Brasileirade Psicanlise, com as seguintes palavras: Antes de mais na-da, eu gostaria de dizer que esta uma reunio da Articulao

    das Entidades Psicanalticas Brasileiras. So sessenta e quatroinstituies que se renem periodicamente no Rio de Janeiro,e ns convidamos a Ana [Bock] que est assumindo desde hpouco tempo o Conselho Federal de Psicologia, a pedido daplenria da Articulao para alguns esclarecimentos e inorma-es. [...] A articulao se organizou h mais ou menos cincoanos como um movimento pela no regulamentao da psi-canlise. [... Gostaramos de] saber se h alguma mudana na

    posio do Conselho, que oi uma posio sempre de apoio no regulamentao da Psicanlise ao que Ana Bock retrucouimediatamente que Com o problema do surgimento de vriasescolas de psicanlise, temos sido procurados por psiclogos pa-ra uma orientao quanto ao que valido ou no, reconhecidoou no pelo Conselho, [nisso] tem questes que ogem do rumdo Conselho de Psicologia [e, por isso] nos integramos desde oincio ao movimento da Articulao [...]. No temos nenhumainteno de intererir no caminho daquilo que vem sendo pensa-do e decidido pelo grupo de Articulao das Entidades, RicardoMoretzsohn como Representante do Conselho oi designado aazer parte desse grupo e acompanhar o trabalho e reiterar o

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    apoio do CFP, vai continuar nessa posio.1 Para alm des-sa questo, na reunio tambm oram discutidas as posies daento recm-undada Associao Brasileira de Psicoterapia, par-ticularmente aquela que advogaria por mais semelhanas do quedierenas entre as psicoterapias, includa nelas a psicanlise.Questo que aproundada na segunda parte deste livro, nostextos da rubrica O que est em jogo, hoje?.

    Uma semana depois, em Belo Horizonte, no dia 18 desetembro de 2004, aconteceu, na Assemblia Legislativa deMinas Gerais, o Colquio A utilidade social da Psicanlise a Regulamentao em questo. Organizado pela Escola

    Brasileira de Psicanlise, contou com a presena de 250 par-ticipantes, procedentes dos vrios cantos do Brasil, e de vriasinstituies psicanalticas, a saber: Sociedade Psicanaltica de SoPaulo (IPA), Escola Letra Freudiana, Escola de Psicanlise dosFruns do Campo Lacaniano, Percurso Psicanaltico de Braslia,

    Associao Psicanaltica de Porto Alegre, Crculo Psicanalticode Minas Gerais, Crculo Brasileiro de Psicanlise, GREP, Alephe IEPSI de Belo Horizonte. Participaram ainda: o Vereador de Belo

    Horizonte Jos Tarcsio Caixeta, o Deputado Federal de MinasGerais Srgio Miranda, o jurista Menelick de Carvalho, o ProessorRicardo Menezes, da Faculdade de Medicina da UFMG e repre-sentantes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).2

    Finalmente, um ano depois, em 3 de setembro de 2005,por ocasio de um grande evento organizado pelo Programade Ps-graduao em Psicanlise da Universidade do Estado do

    1 Maiores informaes sobre esse evento podem ser obtidas pelo site http://www.sedes.org.

    br/Departamentos/Psicanalise/Textos%20Discuss%C3%A3o%20Psican%C3%A1lise/reuniao_grupo_articulacao.htm

    2 Da Sinopse do Colquio: A utilidade social da Psicanlise A Regulamentao emquesto, publicada pelo Movimento Mineiro de Psicanlise em http://mmpsicanalise.org/textos/sinopse09set04.htm

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    Rio de Janeiro, intitulado Psicanlise e psicoterapia no campoda sade mental, que contou com uma coordenao trplice de Sonia Alberti, pela UERJ, de Ana Cristina Figueiredo,pela UFRJ e de Ana Maria Rudge, pela PUC-Rio , oi realiza-da uma mesa de debates intitulada Mesa da Articulao dasEntidades Psicanalticas, na qual se apresentaram vrios tra-balhos.3 Essa mesa oi por mim coordenada e debateu questesque, de to pertinentes, originaram o interesse do colega rancsMarie-Jean Sauret a publicar nossa experincia na Frana, oque se deu dois anos depois (traduo da publicao, no apn-dice deste volume).

    provvel que a tentativa que azemos aqui para justicarnossa tomada de posio levante novas questes que poderiamser aproundadas num rum em nvel nacional.

    Nossa coletnea composta por textos de psicanalistasque tm, cada um, seu estilo. No espere encontrar o desenvol-vimento linear de idias em captulos; trata-se de uma coletneade textos, produtos de trabalhos realizados dentro das institui-es psicanalticas, mas em interseo com a elaborao de oito

    anos de debates na Articulao. So relatos de uma prtica, a dapsicanlise na sua relao com outros discursos e a do trabalhoda psicanlise pelo seu lugar no mundo, no incio de um novomilnio que, insistimos, pode contar com ela pelo que ns, psi-canalistas, nos azemos responsveis.

    3 Os trabalhos foram: o do convidado internacional, Marie-Jean Sauret, A situao da psi-canlise na Frana. Introduo ao debate; Denise Maurano, do Corpo Freudiano Escolade Psicanlise, A situao da psicanlise no Brasil em 2005; Romildo do Rego Barros

    da Escola Brasileira de Psicanlise, Histria da Articulao das Entidades PsicanalticasI, Wilson Amendoeira, da Federao Brasileira de Psicanlise, Histria da Articulaodas Entidades Psicanalticas II, Marisa Queiroz, da Sociedade de Psicanlise da Cidadedo Rio de Janeiro, O trip da formao analtica, e da Escola Letra Freudiana, MauroRabacov A particularidade do conceito de gozo e Paulo Becker O saber leigo.

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    A articulao das entidadespsicanalticas brasileiras

    Wilson AmendoeiraFederao Brasileira de Psicanlise1

    A discusso e as iniciativas sobre a prossionalizao dapsicanlise ocorrem h muitos anos em nosso pas e, ao longodeste tempo, constituram um embate que oi sustentado pelospsicanalistas que a elas se opunham. Foi marca de todos os pro-jetos o ato de nenhum deles ter partido da iniciativa de suasinstituies, nem ter recebido qualquer tipo de apoio mais am-

    plo para sua ormulao e, embora possam ter ganho o apoiode alguns prossionais ou de uma ou outra instituio, o queimporta que todos oram combatidos e arquivados.

    O que h, ento, de to dierente agora, se vrias tentativasj receberam o rechao da comunidade psicanaltica brasileira,a qual se mostrou exitosa em arquivar todas as tentativas deregulamentar a prosso?

    O que h de novo o surgimento de ormaes psicanal-

    ticas oerecidas por agncias vinculadas a grupos ora do campoormado pelas instituies reconhecidas como psicanalticas,

    1 Federa todas as instituies brasileiras da Associao Psicanaltica Internacional (IPA).

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    sendo que a maior delas, vinculada a igrejas evanglicas, apre-goa contar, atualmente, com 85 turmas ormadas e mais de trsmil psicanalistas espalhados pelo pas, alegando ser a maior so-ciedade psicanaltica da Amrica Latina.

    J, em 1998, a ento Associao Brasileira de Psicanlise,atualmente Federao Brasileira de Psicanlise, antevendo aspossibilidades de expanso destas entidades, entrou com repre-sentaes no Ministrio Pblico, baseadas no Cdigo de Deesado Consumidor, por propaganda enganosa, pois a prosso,no sendo regulamentada, s nos possibilitava este questiona-mento judicial. Este modelo oi seguido, posteriormente, pelo

    Conselho Federal de Psicologia (CFP), atravs de suas represen-taes nos estados.

    Entretanto, precisvamos constituir um rum que reu-nisse as entidades psicanalticas brasileiras, visando uma maioreetividade em nossas aes. Este passo oi dado atravs do con-vite eito pela Federao Brasileira de Psicanlise e pelo ConselhoFederal de Psicologia, com a colaborao do Conselho Federalde Medicina e da Associao Brasileira de Psiquiatria, s vrias

    entidades do campo psicanaltico que cobriam uma grande par-cela dos prossionais que se dedicavam seriamente ao estudoe prtica da psicanlise apesar das divergncias de concep-o sobre os requisitos para a ormao de prossionais parauma reunio inicial e exploratria, que se realizou em junho de2000. Este oi o marco zero deste movimento.

    Fazamos nossas as preocupaes de Freud, as quaiso levaram a undar a Associao Psicanaltica Internacional(International Psychoanalytical Association IPA), com o ob-jetivo de criar normas para a ormao de uturos analistas eevitar distores e descaminhos na psicanlise, no curso da ex-panso de sua prtica e que eram, mais do que nunca, bastante

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    atuais. Sua nase na exigncia de que ningum deveria praticara psicanlise se no tivesse adquirido este direito atravs de umaormao especca tambm bastante atual.

    A Associao Psicanaltica Internacional oi undada em1910, com a misso de coordenar o movimento psicanalticomundial, preservando a psicanlise e contribuindo para o seudesenvolvimento.

    Durante toda a expanso inicial do movimento psicanal-tico desenvolveu-se uma postura, apoiada na atitude do prprioFreud com os primeiros dissidentes, Jung e Adler, de que bastavareivindicar o uso exclusivo dos termos: psicanlise para a pes-

    quisa, o corpo de conhecimentos e prtica assistencial, criados edesenvolvidos por ele, Freud, e seus seguidores; e psicanalista pa-ra aqueles que tivessem se submetido ormao especca paraesta prtica, dentro dos padres estabelecidos pela IPA, para quese dirimissem controvrsias e apropriaes indevidas do termopsicanlise e da prtica clnica correspondente.

    Os padres estabelecidos pela Associao PsicanalticaInternacional denem o processo de ormao de um psicana-

    lista como sendo composto por sua anlise pessoal, eita comum analista qualicado, seus estudos tericos e a superviso doseu trabalho clnico inicial.

    Como expusemos em texto anterior, que serviu de base aum Maniesto que constar como anexo,

    Esta trade congura a ormao como um ocio, e o psi-canalista aprende e ganha qualicao em ocinas osinstitutos de ormao onde, artesanalmente, no contatocom outros analistas, desenvolve sua anlise pessoal, rea-liza seus seminrios para o aprendizado terico e tcnicoe tem o seu trabalho supervisionado. A ormao de cada

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    psicanalista um processo permanente, que se amplia noseu dilogo com os textos clssicos e com os produzidos poroutros analistas, conrontados com a sua experincia pesso-al na relao com seus analisandos, mesmo quando j estqualicado como psicanalista. Esta qualicao, portanto,no se ajusta aos modelos que podem sorer algum tipo decerticao por instituies de ensino ou rgos reguladorespblicos; se existe um indicador, ele ser, certamente, o dequal a instituio que orma, quem so seus componentes,que padres so seguidos.

    Essa qualicao, ancorada na conabilidade depositadanas instituies e nos atributos de seu corpo societrio, gerou ovezo de que esta qualidade destacaria os psicanalistas e os ariadistintos de qualquer aventureiro que no tivesse o preparo e aqualicao para o exerccio do ocio.

    Quanto viso legal da qualicao vale lembrar, comoregistro histrico, que o nico documento com cunho norma-tizador oi o Aviso Ministerial n 257, do Ministrio da Sade,

    expedido em 06/06/1957, por solicitao da Dr Adelheid Koch,ento presidente da Sociedade Brasileira de Psicanlise de SoPaulo, e que respaldava as normas da Associao PsicanalticaInternacional. Constitui o nico documento normativo at hojeexistente, rmado pelo ministro da sade Maurcio de Medeiros,e acolhia o exerccio de psicanalistas leigos, no-mdicos, desdeque ossem ormados e credenciados pela IPA, mas impunhaa necessidade de um mdico indicar o tratamento e se manterresponsvel por ele.

    O que importante para o nosso tema a mudana gradual,a partir dos anos de 1960, do campo psicanaltico, pois ele vai seexpandindo e surgem outras instituies, ora da International

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    Psychoanalytical Association, que se propem a ormar analis-tas, com variaes nos requisitos e na modelagem do processode ormao, mas mantendo os princpios gerais como estabe-lecidos no incio do sculo passado e ampliando a parcela dosprossionais, liados a vrias outras escolas, que se dedicam aoestudo e prtica da psicanlise.

    Nestes anos, a viso da psicanlise como uma prossoesteve presente em vrias tentativas de regulamentao, come-ando pelos seis projetos apresentados de 1975 a 1980, quemantinham o trao comum de serem ormulados revelia dospsicanalistas.

    O primeiro projeto de maro de 1975, tendo sido apre-sentado pelo deputado Francisco Amaral, e chegou a ser, depoisde apresentado, apoiado pela diretoria de uma das sociedadesliadas ABP, mas repudiado pela direo desta, sendo segui-do, no mesmo ano, pelo do deputado Clio Fernandes; ambosse solveram no ano em que oram apresentados. O terceiro oiapresentado pelo deputado Otvio Ceccato, em dezembro de1977 e arquivado em maro de 1979. O quarto oi oerecido

    pelo senador Nelson Carneiro, em novembro de 1978 e, porter perdido prazos de tramitao, oi arquivado em maro de1979 posio raticada em maro de 1980. Em 1979, tivemoso do deputado Pacheco Chaves e um outro do deputado SimoSessim; ambos no chegaram ao plenrio para aprovao, sendoo ltimo arquivado em evereiro de 1983. Em 1980, oi a vez doprojeto do deputado Rui Codo, de So Paulo, que, no entanto,aps gestes de psicanalistas paulistas, tambm oi retirado porseu autor.

    Esse era o cenrio no momento de nossa primeira reunio.A segunda ocorreu em 30 de setembro do mesmo ano, contoucom um maior nmero de participantes e evoluiu para esboar

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    uma Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras, com-posta pelos representantes das vrias instituies presentes.

    Paralelamente, o encaminhamento da questo ganhou im-pulso em 13 de dezembro de 2000, quando oi apresentado Cmara um novo projeto, do deputado Eber Silva, do Rio de

    Janeiro. Era mais uma tentativa de regulamentao da pros-so e imps uma terceira reunio das entidades, realizada emabril de 2001, na qual se aprovou a redao de um maniesto(Apndice 1), subscrito por todas as entidades psicanalticas pre-sentes, o qual, aps circular por e-mail em todo o pas, recebeu65 assinaturas institucionais e mais o apoio de dez instituies

    no psicanalticas.O Maniesto representava um posicionamento e uma atitu-

    de de combate ativo das entidades reunidas na Articulao. Apsum processo de trabalho intenso junto aos deputados, unindoesoros das instituies com os de colegas de vrias linhagenspsicanalticas que atuaram em Braslia, conseguimos realizaruma Audincia Pblica, convocada pelo deputado Freire Junior,para esclarecimentos e aproundamento da compreenso acerca

    das posies deendidas pelas entidades psicanalticas reunidas,o que levou o projeto Eber Silva a ser arquivado. Este passo nosolveu a questo, pois um novo projeto, desta vez do deputadoSimo Sessim, oi apresentado em 2003; aps inmeras reunies,conversas com o deputado Sessim e com o deputado WalterFeldman, relator do projeto, ele nalmente oi retirado por seuautor em 3 de agosto de 2004.

    O encaminhamento uturo depende da avaliao que acomunidade psicanaltica zer de sua capacidade de deenderposies que considere adequadas para preservar a psicanlisee o campo psicanaltico. Buscando esta avaliao, a FEBRAPSIrealizou, em 2001, uma pesquisa interna, entre seus membros

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    e psicanalistas em ormao nos seus Institutos, na qual apre-sentava trs propostas, visando auscultar o que pensam seuspsicanalistas sobre a questo da prossionalizao:

    1) Regulamentao

    A partir da denio dos parmetros mnimos para que umprossional seja reconhecido como psicanalista, seriam estipula-dos rgos e procedimentos assemelhados aos que regulamentame scalizam o exerccio prossional em outras atividades. Esta oi

    a opo de 91 votantes, 27% do total de respostas.

    2) Regulao

    Validamos, junto a outras instituies psicanalticas, umaentidade que credenciaria todas as instituies consideradas co-mo pertencendo ao campo psicanaltico. Esta entidade avalizaria

    as instituies componentes e seria a interace com a sociedade,em questes que digam respeito ao exerccio prossional. Estaopo recebeu 117 votos, 35% do total.

    3) Manuteno de posio atual

    Mantermos a nossa postura histrica de oposio a qual-quer regulamentao ou regulao do campo prossional, pelosmotivos expostos no Maniesto, que consta no apndice. Estaopo recebeu 129 votantes, 39% do total de respostas.

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    Pela distribuio das respostas acima, tendemos a manternossa postura histrica, embora a questo que se torna relevantepasse a ser a identicao das medidas e das atitudes polticasque a Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras podeadotar para preservar esse campo de uma maneira mais eeti-va, para que consigamos ter uma representatividade e voz nasociedade civil, sem que a Articulao vire uma entidade or-malizada. Que sejamos ouvidos sobre qualquer tema que digarespeito ao nosso campo, sem consideraes quanto a quais sonossas escolhas sobre o curso do desenvolvimento emocionaldo homem, ou de como concebemos a transmisso da psican-

    lise, ou de como se orma um psicanalista, qual a tcnica queatende nosso reerencial terico, se somos reudianos, kleinia-nos, bionianos, lacanianos, kohutianos ou se, simplesmente,somos psicanalistas.

    Para nalizar, numa ilao pessoal, e levando em conside-rao o desenvolvimento desta questo na Amrica do Norte ena Europa, sua relao com a regulamentao das psicoterapiasem vrios pases europeus2, e a nossa experincia brasileira, tan-

    to no enrentamento quanto no ato de instituies psicanalticasdas mais diversas origens estarem reunidas h sete anos, vencen-do o estranhamento inicial, lanando pontes de cooperao e deao neste terreno espinhoso da prtica prossional, exponhoo que entendo como possibilidades de regulao. Podemos al-canar um projeto que esteja centrado no reconhecimento deuma entidade supra-institucional, constituda de representaesdos vrios campos e escolas psicanalticas, como as presentesna Articulao das Entidades Psicanalticas Brasileiras, que

    2 Para uma apresentao detalhada deste desenvolvimento, ver: Roudinesco, Elisabeth.(2004). Le patient, le thrapeute et lEtat. Paris, Librairie Arthme Fayard.

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    credencie instituies que atendam os padres de ormao aserem estabelecidos em conjunto, e que torne pblica a relaode instituies que so reconhecidas por ela como ormadorasde psicanalistas, sem qualquer intererncia do Estado, ou dealgum dos seus poderes constitucionais. Esta instituio seria anatural interace entre o movimento psicanaltico, os poderesconstitudos, os representantes do povo e a sociedade civil.