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OLD Nº 51

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Nesta edição apresentamos os trabalhos de Shai Andrade, Carolina Amorim, Miguel Soll, Isis Gasparini, Kelly Andrade e uma entrevista com Lívia Aquino.

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equipe editorial

direção de arte

texto e entrevista

capa

fotografias

entrevista

email

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tumblr

instagram

Felipe Abreu e Paula Hayasaki

Tábata Gerbasi

Angelo José da Silva, Felipe Abreu

e Paula Hayasaki

Shai Andrade

Carolina Amorim, Isis Gasparini, Kelly Andra-

de, Miguel Soll e Shai Andrade

Lívia Aquino

[email protected]

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@revista_old

www.revistaold.tumblr.com

@revistaold

revista OLD#número 51

expediente

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índice

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constelações

livros

flanares

carolina amorim reflexões

shai andrade kelly andrade

miguel soll

lívia aquino

isis gasparini

exposição

especial

portfól io coluna

portfól io portfól io

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entrevista

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carta ao leitor

A edição de Novembro da OLD está plural. A rua, corpos, luz e entornos tomam nossas páginas e constroem o nosso panorama fotográfico deste mês.Começamos com um especial sobre o coletivo Flanares que, com seus onze fotógrafos, busca construir uma narrativa continua sobre a experiên-cia pública nas grandes cidades que habitam.Depois da rua, temos o corpo. Pri-meiramente com Shai Andrade, que faz do corpo negro poética central de sua produção. Carolina Amorim se-gue com uma série de intervenções visuais sobre corpos livres em seus cotidanos, em uma delicada série so-bre a naturalização da nudez.Miguel Soll se ausenta de sua zona

de conforto urbana e vai à natureza para apresentar um conjunto de fo-tografias que discute nossa relação com corpo, nudez, desejo e amor.A luz é o ponto central em Diáfano, de Isis Gasparini. A série explora como a luz molda os espaços e as es-colhas nos museus de Paris.Kelly Andrade fecha esta edição apresentando uma série de imagens sobre seu entorno, seus detalhes e suas belezas.Entre estes plurais trabalhos fotógra-ficos está uma incrível entrevista com Lívia Aquino. Uma conversa rica so-bre pesquisa, orientação e produção fotográfica.Aproveite!

por Felipe Abreu

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Disponível no site da MACKvalor R$ 300240 páginas

Paul Graham apresentou recentemente uma grande retrospectiva da sua produ-ção visual nos EUA. A mostra foi realizada

no Pier 24, em São Francisco, um dos principais centros fotográficos do mundo. Na exposição, Graham apresentou três séries: American Night, a shimmer of possibility e The Present, desenvolvi-das entre 1998 e 2011. A exposição que apresentou esta trinca foi chamada de The Whiteness of the Whale e ela acaba de ser lançada em livro, com o mesmo nome. O projeto, desenvolvido em par-ceria pela MACK e pelo Pier 24, apresenta as três grandes séries de Graham sobre a vida contem-porânea nos EUA. As imagens são acompanhadas por textos de David Chandler, Herman Melville e Stanley Wolukau-Wanambwa que potencializam ainda mais as reflexões visuais de Graham.

livros

THE WHITENESS OF THE WHALEde Paul Graham

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Disponível no site da Aperturevalor R$220152 páginas

TOUT VA BIENde JH Engström

Engström é um dos grandes criadores de fotolivros das últimas décadas. Seus tra-balhos e seu processo de edição são re-

ferência para grande parte dos apreciadores da fotografia europeia contemporânea. Depois de publicar uma série de títulos que lida-vam com a mudança e com a adaptação em novos lugares, JH Engström volta ao seu processo mais livre de produção e edição, na busca de construir poesias visuais com a sua fotografia.Seu novo livro, lançado pela Aperture, é um re-torno triunfal a esta estratégia. Tout Va Bien reúne imagens autobiográficas e metafóricas e sua edi-ção é carregada de contrastes, caminhando entra a paz de paisagens bucólicas e a tensão de noites urbanas. Este novo trabalho foi premiado com o Leica Oskar Barnack Award de 2015.

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exposição

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trás da criação artística, as obsessões e motores responsáveis pela criação de cada uma das obras na parede.Em seu texto curatorial Eder aponta que “esta exposição apresenta a produção de sete artistas visuais cujos repertó-rios, embora distintos, assinalam uma orientação pelo vértice da potência do pensamento em imagem. Os artis-tas aqui selecionados se reúnem sob o signo da busca subjetiva – sejam esses motivados por questões auto-biográficas, citações à história da arte e da fotografia ou por releituras de cunho metafísico sobre a existência.”Participam de Constelações... Ana

O curador Eder Chiodetto co-ordena, já faz um certo tem-po, um grupo de estudos

em seu Ateliê Fotô no centro de São Paulo. Os encontros semanais visam acompanhar e estimular a produção de cada um dos artistas envolvidos, trazendo discussões, leituras dos tra-balhos e um constante desejo de vê-los ir mais longe em suas produções.É deste cenário que surgem os sete artistas visuais que compõem a mos-tra Constelações, intermitências e alguns rumores na Zipper Galeria. Com Eder na curadoria, a mostra ex-plora os processos psicológicos por

CONSTELAÇÕES, INTERMI-TÊNCIAS E ALGUNS RUMORESEder Chiodetto reune parte dos fotógrafos de seu grupo de estudos no Ateliê em Fotô em uma bela exposição coletiva na Zipper Galeria.

A Zipper Galeria fica na Rua Estados Unidos, 1494.

A mostra Constelações... segue em exposição até o

dia 21 de Novembro.

Lucia Mariz, Carol Krieger, Elaine Pessoa, Marcelo Costa, Marilde Stro-pp, Natasha Ganme e Sheila Oliveira. Juntos, este time de artistas constrói um universo próprio para a mostra, no qual cada um de seus desejos e obsessões se faz presente e se multi-plica, criando uma narrativa coesa e instigante, envolvendo o espectador que passa pela galeria.

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especial

UMA NOVA VOZ DA RUADepois de passado o olho do furacão, os principais fotógrafos deste movimento continuam a produzir, apresentando sua visão sobre a situação atual da vida brasileira, sobre o que se faz pú-blico ao estar na rua.

Depois de passado o olho do furacão, os principais fotógrafos deste movi-mento continuam a produzir, apre-sentando sua visão sobre a situação atual da vida brasileira, sobre o que se faz público ao estar na rua. Foi dentro deste cenário que surgiu o coletivo Flanares, reunindo onze fo-tógrafos de rua e suas visões particu-lares de seus caminhos diários. O grupo nasceu de uma troca de e-mails entre Ricardo Perini e Gus-tavo Gomes. “Foi a partir de uma

A efervescência das ruas que marcou o Brasil em 2013 pas-sou. Nossas ruas continuam

tensas, mas a violência e os grandes movimentos sociais de dois anos atrás já não se fazem ver tão clara-mente. Foi em 2013 que a fotografia de rua brasileira se viu transformada, em um período em que uma série de jovens fotógrafos registrou as tensões sociais, a vida cotidiana e o surrealis-mo marcante dos centros urbanos brasileiros em suas fotografias.

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conversa sobre nossas influências de fotografia de rua que percebemos a falta de um coletivo no Brasil que reunisse fotógrafos com um estilo contemporâneo, que é mais presen-te nos coletivos estrangeiros”, aponta Ricardo. Flanares carrega em seu nome sua abordagem e seu estilo em relação à rua. Há um caminhar constante, que não depende de eventos marcantes para produzir. É uma busca pelo coti-diano urbano, por apresentar a visão única de cada fotógrafo sobre o seu entorno. Os fotógrafos do grupo estão espa-lhados por Brasil e Europa, convi-vendo em distintas realidades urba-nas. Apesar da distância geográfica, há uma união visual forte entre os trabalhos do coletivo. Há um forte jogo com luz e sombra, reenquadra-

mentos e uma narrativa que, muitas vezes, se baseia no surreal ou no ab-surdo para se construir. Com esta abordagem os fotógrafos do Flanares transmitem o caos urbano em que estamos inseridos com uma poética delicada, que foge do óbvio e busca seus próprios caminhos visuais.“Curto sair de câmera na mão e foto-grafar sempre que possível. Entre um deslocamento e outro a cidade vai se revelando pra mim. Tento, na medi-da do possível, andar por ai como se nunca tivesse transitado por ali an-tes, é aquele olhar livre que busca um enquadramento incomum, ou às ve-

zes situar, às vezes individualizar lo-calidades, pessoas, etc. Eu acredito, e tenho fé, que o que motiva um grupo a por os pés nas ruas e fotografar é o fato de as pessoas estarem dispostas a construir processos juntos, de ma-neira horizontal, umas ligadas às ou-tras a fim de conversar, discutir, pro-duzir, construir, dialogar, e sempre buscar aquela desculpa pra tomar a cerveja no bar.” Assim Wesley Barba, um dos membros do coletivo, resume suas metas e as do Flanares nos mo-mentos de produção visual.É marcante perceber como nos últi-mos anos a fotografia de rua ganhou

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Há um caminhar constante, que não depende de eventos

marcantes para produzir. É uma busca pelo cotidiano urbano,

por apresentar a visão única de cada fotógrafo sobre

o seu entorno.

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um novo fôlego e se tornou peça fundamental na compreensão da fotografia contemporânea. Há uma mudança visual clara, que foge da estética mais formalista, que busca o instante decisivo a todo custo. Ago-ra o que se vê é uma produção mais pautada pela cor, pelos detalhes e por uma construção mais subjetiva da ro-tina urbana. “Importante notar que este renascimento teve início mais ou menos 5 anos atrás, sobretudo por causa da Internet, onde sites de compartilhamento de imagens, como o Flickr, possibilitaram um encontro de fotógrafos do mundo todo que já praticavam a fotografia de rua e de outros que se iniciavam no gênero. De fato vivemos em um tempo onde os conceitos tradicionais já não são os grandes motivadores da produção que vem surgindo atualmente.” Mar-celo Argolo e Wesley Barba comen-tam este processo de transformação

visual no qual estão profundamente envolvidos. Assim os onze fotógrafos do Flanares vão construindo uma imensa narrati-va visual da vida urbana no ocidente. Há na produção do time uma busca pela construção de um diário visual, que não se fecha em pequenos ciclos narrativos, mas que busca construir um grande e complexo panorama de nossas cidades. É desta forma, mais livre e complexa, que a fotografia de rua se transforma e se reinventa, sempre trazendo novos e talentosos fotógrafos à nossa atenção.

especial

Fotografias de: Pedro Ferrarezzi, Gustavo Gomes, Fabio Costa, Ar-

non Gonçalves, Victor Dragonetti, Guilherme Botelho, Kelson Fontine-

le, Marcelo Argolo, Wesley Barba, Ricardo Perini e Paulo Marinuzzi.

Texto por Felipe Abreu

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SHAI ANDRADESem título

Shai Andrade apresenta uma série de complexos re-tratos na OLD. Com o corpo negro como centro da sua poética visual, a fotógrafa apresenta seus perso-

nagens em contato constante e profundo com o ambiente ao seu redor, construindo uma delicada interação entre ho-mem e natureza. Seu olhar direto busca apresentar o que há de mais profundo em cada um de seus retratados, tra-zendo não só o exterior para as imagens apresentas, mas uma personalidade, desejos e aflições para cada uma das pessoas que se posta em frente à sua câmera.

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O corpo negro é a poética do meu

trabalho. É onde me reconheço e

transponho o registro: estou ali.

Shai, nos conte sobre o seu começo na fotografia.A fotografia sempre foi muito pre-sente na minha infância. Lembro de minhas tias e minha mãe com a câmera na mão, registrando meus momentos pela casa, e delas me dei-xarem bater as ultimas duas poses do filme. Eu adorava caçar rolos de negativos pelas gavetas da casa de minha avó e correr pra luz pra tentar adivinhar qual imagem se revelaria ali. Cada filme uma ansiedade, uma surpresa. Aos 15 anos decidi procu-rar um curso de fotografia, e nunca mais parei. Não sei que caminho se-guiria se não fosse o de sentir e re-gistrar.

Quais são os temas que mais te inte-ressam na fotografia?

Logo que iniciei na fotografia, pro-duzia muitos auto-retratos. Foi um bonito processo de reconhecimento do meu corpo, e que muito colabo-rou para o reconhecimento do corpo do outro no meu trabalho. Mas é no documental e no autoral que melhor se encaixam a minha produção hoje em dia, são temas onde me sinto li-vre pra retratar, fantasiar.

Qual o papel do corpo na sua produ-ção visual? O corpo negro é a poética do meu trabalho. É onde me reconheço e transponho o registro: estou ali. Cada traço e cada marca passados de ge-ração em geração carregam a minha identidade. Então para mim, o corpo é pertencimento e ancestralidade, tanto na existência quanto na foto-grafia.

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Suas fotografias têm uma integra-ção constante entre corpo e ambien-te. Quais são seus objetivos com esta construção?Os ambientes são em sua maioria passagens, paisagens tangíveis, que ali estão e ali permanecerão. O meu papel naquele instante é registrar o corpo em fusão com o espaço, seja ele qual for. A fotografia são sentidos aguçados.

O quanto de você está presente em cada um destes retratos?Eu estou por inteira em cada um dos meus retratos. É como construir um álbum de família.

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CAROLINA AMORIMNuances

O tempo é um ponto crucial na produção visual de Carolina Amorim. Suas fotografias não tem pressa. Cada imagem produzida pela fotógrafa é feita com

calma e dedicação essenciais para traduzir a delicadeza das rotinas e dos corpos apresentados. Suas intervenções visu-ais trazem um aspecto lúdico às imagens, que ganham nova camada de sentido com cores, costuras e desenhos. Nuan-ces é uma série sobre o corpo, mas mais do que isso, é um trabalho sobre intimidade, confiança e dedicação.

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O tempo faz refletir, questionar, e antes uma

imagem que era “reflexo” do retratado,

acaba sendo um “reflexo” de mim mesma.

Carolina, como começou seu interesse pela fotografia?A partir do momento que comecei a registrar despretensiosamente a minha família quando criança, no-tei meu encanto pela imagem cria-da com o aparato da máquina foto-gráfica. Pela fotografia descobri que podia criar uma nova realidade. Du-rante a faculdade de Comunicação Social estagiei como cinegrafista e isso reforçou mais o meu interesse pela imagem. Posteriormente fiz uma especialização em Comunicação em Imagem na PUC RJ, onde pesquisei a fotografia como espelho distorcido da sociedade. Percorri vários temas na minha fo-tografia, e na prática me especializei em fotografia para o setor de alimen-

tação e cultura na empresa Malague-ta Comunicação, da qual sou sócia. Hoje, estudo os limites da fotografia enquanto linguagem, a importân-cia em considerar os contextos de produção e as intervenções antes, durante, e após a realização de uma imagem de base fotográfica.

Nos conte sobre a produção do ensaio Nuances.O projeto Nuances começou há dois anos, a partir de estudos fotográficos com o tema corpo. Todas as fotos fo-ram feitas com máquinas analógicas. Hoje tenho um pequeno laboratório em casa, que me permite pensar e ex-plorar as imagens produzidas. Foto-grafei amigos, atores, artistas, minha família, outras famílias, e para cada

ensaio usava até dois filmes de 35mm e um de 120mm.

Como você definiu o processo de in-tervenções nas fotografias? Como elas alteram o significado da imagem ori-ginal?Seja dentro do laboratório, ou pin-tando, costurando, percebo a impor-tância do tempo no processo de pro-dução da imagem. Olhar para uma imagem e explorar suas potenciali-dades narrativas. Um processo cria-tivo que se inicia através de estudos e pesquisas, entra no campo imagi-nativo, depois a escolha do aparato e

carolina amorim

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ma o despir foi inevitável. Continuo hoje com meus estudos em fotografia expandida, duplas exposições, pinho-le e processos manuais.

Quais foram os principais desafios na produção e construção deste ensaio? Tive o apoio de grandes amigos fo-tógrafos e da minha família, que me incentivaram a dar segmento ao pro-jeto. Altos e baixos fazem parte de todo processo criativo. Entender a importância do tempo no trabalho analógico, e lidar com a ansiedade e criação são um aprendizado, que só o tempo ensina. Próximo passo é ter o livro em mãos. Agüenta coração!

revelação, para assim entrar nos pro-cessos de ampliação e intervenções. O tempo faz refletir, questionar, e an-tes uma imagem que era “reflexo” do retratado, acaba sendo um “reflexo” de mim mesma.

Você diria que o corpo é o objeto cen-tral do seu trabalho?Hoje, posso dizer que sim, que meus olhos estão voltados para os corpos, mas amanhã não sei. Como eu venho trabalhando há um longo tempo com fotografia de comida, precisei explo-rar outros temas, me desafiar. Antes de voltar para a fotografia analógica, produzi e vivi muito o imediatismo das imagens digitais. Com o nascimento da minha filha co-mecei a explorar mais o tema corpo. A maternidade fez com que eu ques-tionasse o tempo no corpo, desta for-

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MIGUEL SOLLNatural

Miguel Soll apresenta corpos nus, livres, em busca de contato e conhecimento. Suas fotografias são leves, rápidas e sem pudores. Com esta série, Mi-

guel sai de seu ambiente de conforto essencialmente urba-no e se arrisca a fotografar na natureza, buscando construir um “natural” contemporâneo, unindo o idealismo dos anos 70 ao niilismo urbano dos anos 2000. Natural explora não só os corpos, mas como lidamos com a nudez em tempos cada vez mais pudicos.

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Não há nada menos naturalizado

do que corpos nus, ao menos fora

das artes, cotidianamente.Miguel, nos conte sobre o seu começo na fotografia.Comecei a fotografar com uns 14 anos, usando a primeira câmera digi-tal que tive, uma Nikon Coolpix. Nes-se inicio era algo muito lúdico, mui-ta foto de paisagem e macro, o que enchia meu flickr e me incentivava a ir fotografando e compartilhando cada vez mais. Em 2009 o grêmio do meu colégio ofereceu um curso de fotografia bem básico, mas que me uniu com amigos que também já fo-tografavam e me trouxe alguma base de composição, enquadramento, etc, o que me fez me apaixonar cada vez mais. Foi só no fim desse ano (2009) que realmente comecei a “levar mais a sério”, quando comecei a fotogra-far com uma câmera analógica do

meu pai, uma Pentax K1000. A partir daí fui agenciado pela foto e nunca mais saí.

Como o desenvolvimento da série Na-tural?O desenvolvimento dela foi todo completamente orgânico. A série foi feita pra uma zine digital que criei com amigos no colégio, a FCMag. A cada edição nós lançávamos um tema e cada membro criava um ensaio se baseando naquilo e o dessa edição era justamente “natural”. Eu sou uma pessoa absurdamente urbana, e grande parte das minhas referências são do meio urbano, principalmente o snapshot e toda tendência jovem de uma fotografia crua, meio futuris-ta, sobre a relação e a transformação

do corpo na cidade e eu sempre me sentia um pouco incomodado com essa ideia comum nas artes de que a representação do natural necessi-ta passar pelo nu e pela natureza. Eu acho que a nossa natureza de agora é o oposto disso, nós não nos senti-mos confortáveis com os nossos cor-pos, não nos sentimos confortáveis com o nosso ambiente e a fuga para a natureza representa também uma fuga de nós mesmos, uma tentativa de não reconhecer de que a nossa relação com a natureza e com o que julgamos ser o natural mudou. Não há nada menos naturalizado do que

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Há uma sensualidade e uma leveza muito grandes nas série. Qual o clima que você buscou criar na sua constru-ção?Clima de amizade, de confraterni-zação. Não deixei a história fechada em “temos que criar isso”, fomos simplesmente agindo. Era algo como “nossa, que luz bonita, podem deitar aí?”. Até o momento dos cliques eu não procurava controlar tanto, só su-geria situações e deixava o modelo e as modelos livres para agir como qui-sessem.

Como você buscou equilibrar estética e manifesto na produção desta série? Não foi nem um pouco algo pensa-do. Como disse, o ensaio aconteceu muito organicamente, nunca tive a pretensão de fazer uma série política ou algo do tipo. Tudo foi muito livre,

corpos nus, ao menos fora das artes, cotidianamente. Eu queria de algu-ma forma retratar a necessidade de buscar formas de mediar a realidade “natural” que vivemos e a idealização que fazemos dela, e acho que uma das únicas maneiras de quebrar isso é através de drogas, de buscar formas de artificializar a nossa percepção do mundo e se conectar com algum su-posto transcendente. Eu tinha como referências o trabalho dos fotógrafos Ryan McGinley e Ren Hang e sabia que queria trabalhar com o nu, jus-tamente por essa questão, e também porque era algo que nunca tinha fei-to. Chamei alguns amigos que sabia que iriam topar e, sem muita pre-paração, fizemos as fotos na casa da minha mãe e fomos organicamente criando cenas e situações, bebendo, fumando, se explorando.

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não tinha em mente um resultado final, um discurso, só a vontade de explorar aquela situação, de criar ter-ritórios onde pudéssemos interagir livremente. Acho que o equilíbrio possa ter se dado justamente por isso. Embora soubesse o que queria falar, não tentei limitar a experiência para criar aquilo, mas busquei em criar uma verdade na situação que estava acontecendo. Acho que essas fotos de um pouco de performance nelas: criar um espaço, uma realidade, para então documentar ela.

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LÍVIA AQUINOOLD entrevista

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Lívia Aquino é uma das grandes pes-quisadoras de fotografia no Brasil. Editora do blog Dobras Visuais, foi professora no SENAC entre 2000 e 2008, e agora é coordenadora da pós-graduação em fotografia na FAAP, im-portante centro de formação de jovens e talentosos fotógrafos. Recentemen-te Lívia foi uma das contempladas no Prêmio Marc Ferrez e publicará sua dissertação de doutorado: Picture Ahead: a Kodak e a construção de um turista-fotógrafo.

Sua formação inicial é em psicologia, mas logo você migrou para as artes, com um foco especial na fotografia. Como se deu essa mudança? O que te moveu a concentrar seus estudos na fotografia?Minha aproximação se deu primeira-mente com a fotografia, depois com a arte. Logo após o término da gradu-

ação eu me mudei para São Paulo e isso acarretou muitas mudanças, en-tre elas uma busca por outro campo de atuação. Trabalhei por três anos em uma produtora de animação e lá percebi algum interesse em fotogra-fia quando comecei a operar os pro-gramas de edição, como o photoshop. A partir dessa experiência fui estudar fotografia em cursos livres no Senac, onde atuei profissionalmente por dez anos, inicialmente como assistente e depois como professora. O que me moveu e me move ainda é esse espa-ço de aprendizagem, o lugar da pes-quisa que se desdobra em distintas práticas e que produz sentidos na minha trajetória.

Você foi uma das contempladas com o Prêmio Marc Ferrez deste ano, que pos-sibilitará a publicação da sua pesqui-sa de doutorado. Nos conte um pouco

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sobre sua pesquisa e sobre o livro que será publicado.Na tese Picture Ahead: a Kodak e a construção de um turista-fotógrafo, que eu defendi no ano passado no Instituto de Artes da Unicamp, com apoio da Fapesp, eu trato da fotogra-fia do amador e sua construção his-tórica no campo do turismo. Reflito principalmente sobre a criação de práticas sociais e sobre as transfor-mações na percepção da experiência da viagem entre fins dos séculos XIX e XX. Eu nomeio como turista-fotó-grafo um sujeito que comporta tanto o turista quanto o fotógrafo amador, mas se constitui, sobretudo, no en-trelaçamento dos dois já que se en-contram implicados na compreensão do uso do tempo livre, dos desloca-mentos no mundo moderno e de ri-tuais de afirmação social com base na demonstração de poder econômico

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e conhecimento. Parto de uma re-lação entre a fotografia e o turismo operando como dispositivo, conceito elaborado por Michel Foucault. Essa dupla atua em conjunto ao logo des-se período criando discursos e deli-mitando modos de ação relacionados aos registros da viagem, como o dese-jo de conhecer e guardar os lugares e, com isso, apoderar-se deles como conquistas. Desse modo, eu chego na Kodak como uma peça fundamental no processo de popularização da fo-tografia no mundo e, consequente-mente, na construção dos modos de produzir, consumir e compreender imagens. Por meio da publicidade, de estratégias de negócio, da elabo-ração de um sistema educativo e de ampla cadeia de produção, a Kodak atua na criação de valores relativos à importância do registro da viagem e destaca o fato de que sua rememora-

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feiras de antiguidades, nos acervos. As que são feitas atualmente também já estão jogadas em hds, blogs e nu-vens, mas mesmo considerando algu-mas atualizações, a fotografia cumpre um papel muito semelhante para o amador. Sobre a outra pergunta, eu a decuparia em duas partes. Prime-ro penso que a fotografia do amador sempre foi banal no sentido da sim-plicidade e do ordinário, em parte por isso ela é tão potente como ob-jeto de pesquisa. Não atribuiria um sentido negativo ao banal que pode estar presente no fotográfico. Segun-do, é preciso pensar com muito cui-dado nessa relação entre fotografia e memória para que, isso sim, não se banalize. Sempre provoco meus alu-nos para que depurem a noção de memória que estão tratando, para que ela não se torne uma espécie de entidade, “a memória” ou “a memória

No seu doutorado você pesquisa a re-lação entre a Kodak e criação da fi-gura turista-fotógrafo. Você vê essa relação profundamente transformada na contemporaneidade? Você vê uma banalização do ato fotográfico e uma desvinculação da fotografia como um objeto de memória?Sobre a primeira pergunta, se com-preendo esse contemporâneo atre-lado à fotografia digital eu diria que a maior transformação não está na fotografia e sim no seu modo de cir-culação, principalmente ligado aos aparelhos de telefonia e internet. A fotografia digital utilizada pelo ama-dor potencializou o que acontecia, as pessoas já fotografavam demasia-damente, só que essas imagens não circulavam como nos dias de hoje.Podemos perceber como elas acon-teceram em massa, elas estão por aí, nas caixas de sapato, nos álbuns, nas

ção pode ser obra do amador. Refli-to, portanto, como o turista-fotógrafo torna-se um sujeito produtor de par-te do mundo-imagem, pelo desejo de posse e status que a fotografia e o tu-rismo carregam, mas, especialmente, pela busca de uma fotografia que está sempre a sua espera. Susan Sontag em Sobre fotografia já apontava nos anos 1970 a ideia de mundo-imagem e o lado predatório da fotografia na sua relação com o turismo. A propo-sição para o Prêmio Marc Ferrez en-volve a publicação da tese em livro. Estou editando o formato, limpando o que é especifico para uma pesquisa acadêmica e adaptando para o livro. Também propus um posfácio já que a tese tem um foco na Modernida-de, assim, a ideia é poder refletir um pouco como o debate que atravessa aquele momento respinga na atuali-dade.

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fotográfica”. Nem tudo o que se atri-bui a essa relação parece fazer senti-do, a memória virou um lugar de jus-tificativas fáceis e, por isso, um tanto perigosas.

A pós-fotografia é um dos grandes te-mas de discussão nos últimos anos, defendendo, de certa forma, o aban-dono do click por parte do fotógrafo. Você vê este como um dos principais caminhos para a fotografia contempo-rânea? Nos últimos anos a fotografia está atravessando um processo de trans-formação ligado ao mercado de atua-ção do fotógrafo. Diferente de outros meios, ela sempre esteve presente tanto como objeto da arte como da cultura de massa e esse ruído é uma condição de existência da fotografia. Penso que devemos conviver com essa condição ambivalente antes de

querer encontrar soluções que aten-dam a uma demanda de um amplo mercado de produção cultural. Digo isso pois eu acho perigosa a ideia de apontarmos caminhos para alunos ou para os leitores dessa revista, por exemplo. O artista produz o trabalho a partir de suas inquietações com o mundo, das dúvidas da sua existên-cia, do diálogo com outros, da ma-terialidade das coisas, de como tudo isso gera condições de ação para uma prática artística. Se aquilo que comumente chamamos de resulta-do será ou não absorvido pelo meio cultural, artístico ou pelo mercado é outro momento, é sempre um segun-do momento, mas não é o principal. Entendo que se não for desse modo pode virar uma fórmula a ser seguida e talvez esse seja um caminho perni-cioso. Assim, não posso dizer “aban-done o click e você chegará na foto-

grafia contemporânea” ou qualquer outra proposição nesse sentido. O caminho é do sujeito que produz a partir daquilo que faz sentido na sua trajetória, portanto, reconhecer qual é o seu já é um grande feito. O que eu me sinto a vontade para dizer é: resista a qualquer receita que o leva-rá a “ser contemporâneo”.

Há também uma discussão profunda sobre a importância da edição e da construção de narrativas em trabalhos fotográficos contemporâneos. Você vê a fotografia como uma arte que se fa-vorece quando apresentada em séries? A busca por criar uma narrativa deve ser uma preocupação central na pro-dução de um fotógrafo?A resposta anterior pontua essa per-gunta. Veja, estamos lidando nova-mente com palavras perigosas como edição, narrativa, seriação. São

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expressões que como as outras – me-mória, fotografia contemporânea, click – se perdem se não contextua-lizarmos os trabalhos. Eu sei que sou chata com as palavras, mas é que elas dizem muito quando estão inscritas e quando são replicadas. Precisamos ficar atentos para que elas não virem regras, ser lúcidos diante de um meio que nos diz “faça isso para alcançar aquilo”. A ideia de “dever” fazer algo como uma preocupação para que a produção atinja determinados luga-res, agentes, meios é muito perversa. Não trabalho com essa orientação, essa é a minha resistência, é o lugar em que eu tento permanecer fiel aos meus princípios. Penso que o desas-sossego do artista é o seu trabalho, a sua produção e aquilo que diz res-peito à ela e, novamente, se isso se desdobra como produto no meio cul-tural é um segundo momento. Logo,

se a produção está muito atrelada às ansiedades desse meio significa, para mim, que é preciso recuar e voltar para às intenções do trabalho e de quem produz.

O Dobras Visuais tem uma coleção marcante de textos sobre pensamento e produção fotográfica. Como foi cria-do este projeto? Quais são seus princi-pais objetivos com o blog?O blog existe há seis anos e é um es-paço onde compartilho a minha pes-quisa, o que observo e reflito a par-tir da fotografia na sua relação com a arte, a literatura e a cultura visual. Ele surgiu em um período que fiquei longe da sala de aula e senti necessi-dade de criar novos diálogos. O Do-bras já tem um pequeno apanhado do que eu consumo, leio e vejo. Tal-vez seja um lugar para que eu possa dar vazão às minhas obsessões como

leitora e ao quanto a fotografia é uma presença ruidosa na busca por um sentido que nunca se encerra, como o que trabalho na seção O que é fo-tografia?. O trabalho é muito atrelado à minha trajetória de pesquisa e gos-to quando outros pesquisadores se identificam com o material do blog. Nesse sentido, o Dobras não é um lugar de informações sobre o meio, mas um tipo de caderno de notas em que vou assinalando pensamentos, citações, pessoas com quem convivo e que gentilmente contribuem para o blog.

Você é coordenadora da pós-gradua-ção em fotografia na FAAP. Nos conte um pouco sobre o processo de criação do curso, que concentra parte consi-derável dos principais pensadores da fotografia no Brasil.O curso, criado há cinco anos pelos

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nham em relação com outros campos para que as pesquisas acerca do fo-tográfico sejam contaminadas porou-tras leituras, práticas e provocações. Qualquer espaço de discussão sobre ele torna-se mais interessante na me-dida da ampliação dessas relações.

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O caminho é do sujeito que produz a partir daquilo que faz

sentido na sua trajetória, portanto, reconhecer qual é o seu já

é um grande feito. O que eu me sinto a vontade para dizer é:

resista a qualquer receita que o levará a “ser contemporâneo”.

pesquisadores Rubens Fernandes Jr e Ronaldo Entler, tem como objetivo refletir sobre as relações entre a fo-tografia e a Comunicação Social, as Ciências Humanas e as Artes. Traba-lhamos com a perspectiva de desen-volvimento de projetos que tenham como eixo um pensamento artístico e/ou crítico a partir do fotográfico.Sim, contamos com uma equipe de professores muito bacana, todos en-volvidos com a produção do curso e muito parceiros nessa empreitada. Mas é preciso ponderar que há mui-tos pesquisadores de fotografia es-palhados nas universidades do país, não seria justo dizer que concentra-mos parte considerável deles.

Qual a importância de criar espaços de discussão e pensamento sobre foto-grafia no Brasil? Você acha que temos um bom cenário de ensino formal de

fotografia? Penso que sim, temos um bom ce-nário de lugares que possibilitam o estudo do fotográfico dentro das universidades, diluídos em distintos departamentos e com esses pesqui-sadores que assinalei anteriormente. Para aqueles que querem estudar há sempre espaço, mas é preciso garim-par o que mais se aproxima da sua pesquisa, dos seus anseios. Isso não é fácil e nem tampouco rápido, demora um tempo para encontrar. Acho im-portante que esses lugares se mante-

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ISIS GASPARINIDiáfano

Isis produziu a série Diáfano durante uma residência de seis meses na Cité Internationale des Arts, em Paris. A série explora a ambigüidade na construção das mostras

em alguns dos principais museus da capital francesa. Há um constante jogo entre mostrar e esconder, construir um acervo visível que se adéqüe a questões políticas e ideoló-gicas de cada uma dessas casas. Assim Diáfano revela e es-conde as obras que fotografa e discute o papel da luz nesse processo, a transformando em um objeto ativo, construtor da narrativa visual desta série.

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Muitas vezes, as próprias imagens que acu-mulo no meu arquivo parecem apontar cami-nhos para que possam coexistir de uma outra forma dentro de um mesmo trabalho.

Isis, como surgiu seu interesse pela fo-tografia?Sou encantada pela história e pelo passado. Olhar fotos P&B, desco-brir câmeras e traquitanas antigas, estudar arte e cinema são interesses que se cruzam em algum momento e apontam para o desejo de investigar a fotografia. Desde a infância, tinha também um fascínio pelo retrato, que se manifestava na pintura, algo a que me dediquei muitos e muitos anos. Um pouco antes de começar a graduação em artes, resolvi fazer um primeiro curso de fotografia. Meu pai tinha uma câmera analógica que já estava parada havia muito tempo, e mais alguns slides, negativos velhos e um carrossel... Aquilo me encan-tava.

Nos conte sobre a produção de Diáfano.Diáfano foi realizado em 2014, quan-do participei por seis meses do pro-grama de Residência Artística da Cité Internationale des Arts, em Pa-ris (com apoio da FAAP). Estava bastante interessada nos an-tigos palácios que se converteram em museus. Para mim, esses lugares carregam uma ambiguidade: às ve-zes, eles demonstram sua preocupa-ção com um “tornar visível” um pa-trimônio e, outras vezes, demarcam suas decisões institucionais, seja ao realizar uma política cultural supos-tamente inclusiva, ou seja pela esco-lha mediada por questões políticas e econômicas. Na ocasião, eu freqüen-tava diariamente museus e outros

espaços expositivos e, nessas visitas, o modo como as instituições se esfor-çam para lidar com a entrada de luz natural x artificial, passou a me cha-mar atenção. Foi então que comecei a coletar imagens dos lugares em que a luz impunha seu desenho.

A luz e a sombra são presenças quase sólidas nesta série, não só de contras-te. Como se deu essa construção esté-tica?Encontrar as luzes e seus respectivos problemas no que diz respeito à vi-sibilidade da obra de arte no espaço expositivo foi, de fato, o que motivou

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fio. Aqui, como em outros trabalhos, uma pesquisa teórica caminha junto à produção das imagens, o que gera a preocupação em apontar algumas questões que sejam acessíveis ao público, ainda que não fiquem com-pletamente demarcadas. Ao escolher esse tipo de espaço e a própria luz como ponto de partida, foi importan-te evidenciar sua materialidade, mas depois disso, certamente, as leituras extrapolam a intenção que eu tinha no momento de realizá-las... Eu es-pero.

Como você busca ressignificar os ob-jetos tão carregados de história que você fotografa nesta série?Acho que talvez o maior desafio es-teja aqui! Como reordenar ou re-combinar as imagens que existem no mundo? Como uma “boa”

a realização desse trabalho. Passei a percorrer os museus me colocando em lugares menos “ideais” de con-templação buscando ruídos provoca-dos pela luz. As imagens foram muito pouco tratadas e pós-produzidas (ao contrário do que ocorre em um tra-balho anterior “Corpo vidente, corpo visível”, em que a intervenção nas imagens é mais evidente). Sendo as-sim, a construção estética se deu pela edição e seleção das imagens que en-trariam no recorte final, mais do que por um desenho prévio do que pode-ria vir a ser o trabalho.

Quais os desafios e metas desta nar-rativa construída através de espaços e objetos?Me parece ser: achar a medida en-tre o sensível e o reflexivo, o literal e o poético, isso é sempre um desa-

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acumuladora de imagens e histórias, me vejo constantemente no exercí-cio de ressignificá-las. Muitas vezes, as próprias imagens que acumulo no meu arquivo parecem apontar cami-nhos para que possam coexistir de uma outra forma dentro de um mes-mo trabalho. Em outros momentos, sinto que chego com uma pergunta específica para então gastar um certo tempo tentando encontrar a respos-ta... Ou muitas delas.

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KELLY ANDRADEEntorno

Entorno é uma série sobre mudanças, sobre o enten-dimento de aceitar o lugar em que você se encontra. As imagens deste ensaio apresentam uma realida-

de recém descoberta, que seduz o fotógrafo e o convida a apresentar cada novo detalhe deste espaço que é ao mesmo tempo rotina e novidade. Kelly Andrade produziu esta série depois de um período de grandes mudanças em sua vida e Entorno se apresentou como uma forma de aceitar e se interessar pelo novo espaço que Kelly passou a ocupar no mundo.

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Fotografo num estado quase contemplativo, buscando vestígios da força da natureza que possam ser comparadas com a força do homem.

Kelly, nos conte sobre seu começo na fotografia.Isso é um até um pouco engraçado, pois na verdade nunca gostei de fo-tografia! Explico. Quando criança não gostava de “sair na foto”, sempre achei constrangedor e de certa for-ma um gesto agressivo o de fotogra-far alguém, nas fotos de família por exemplo, onde você pode naquele momento estar discutindo, brigan-do com alguém e de repente vem alguém com a máquina (hoje com o celular) e diz “olha a foto!”. É in-crível, todo mundo pára, olha, sorri e pronto, clique feito podemos se-guir nossas vidas reais... Com isso, com esse sentimento estranho que eu tinha pela fotografia, minha en-trada nesse mundo se deu já com 30

anos, quando, por influência de uma amiga, iniciei um curso de básico de fotografia, aprender ISO, foco, es-sas coisas, eu não gostei muito dis-so, achei meio “técnico” demais mas gostava das pessoas, dos professores, da cerveja que tomávamos antes, depois e até durante as aulas... Foi quando um professor do curso, um rapaz até mais novo do que eu come-çou a nos apresentar grandes nomes da fotografia, que eu leigamente não conhecia.

Como surgiu o ensaio Entorno?O primeiro clique de Entorno, foi uma forma de aceitar uma grande mudança interior. Saí de de São Pau-lo em 2007 e vim morar em Itatiaia no estado do RJ. Em 2012 decidi que

tinha que voltar para São Paulo, mi-nha família aceitou (3 filhos e meu marido) e voltamos. Passamos o ano de 2013 na capital e foi quando fui me dando conta do quanto eu tinha mudado! Eu não era mais a mesma e a cidade já não tinha a mesma gra-ça de antes, e decidi voltar para Ita-tiaia, a família mais uma vez aceitou, mas agora com uma condição. Eu ti-nha que de fato “aceitar” esta cidade como meu novo lar, e perceber qual era de fato o meu ENTORNO, esta-va decidido e voltamos. Alguns dias depois da nossa volta, tinha chovido bastante, e depois que a chuva parou

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odo da manhã e com o dia um pou-co mais úmido. O que eu quero (e continuo buscando, já que o projeto segue) com o Entorno é aquela pri-meira sensação, o cheiro, o silêncio, e a porque não a solidão! Busco uma beleza silenciosa eu diria, por isso quando vou ao Parque chego lá antes da portaria abrir, quero ser a primei-ra a entrar nesse parque de aproxi-madamente 28.000 hectares.

Você vê o vazio como um elemento narrativo? Como você o usa neste tra-balho?O vazio é um grande elemento den-tro deste projeto, não apenas narra-tivo mas também essencial para que eu consiga captar o que o Entorno está oferecendo sem me deixar dis-trair com qualquer tipo de ruído. O silêncio só é interrompido pelo

decidi sair de casa para fotografar, sai pela rua de terra, e pela primeira vez me senti apaixonada por esse lugar! O cheiro da terra, a luz que entrava pelas frestas das copas das árvores e ia batendo e iluminando tudo deva-gar, com calma...foi mágico.

Como você buscou explorar o espaço ao seu redor para a produção da sé-rie? O que você queria mostrar neste espaço?A maioria das imagens da série foram feitas nas ruas bem próximas à mi-nha casa, uma outra parte foi feita no Parque Nacional do Itatiaia que está apenas há uns 12km daqui. Uma pe-quena parte da fotografias eu conse-gui captar em viagens a Campos do Jordão e Santo Antonio do Pinhal, mas precisei seguir de certa forma o mesmo ritual, sair sozinha, no perí-

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barulho das folhas das árvores ba-lançando, pelos bugios, e pelos meus próprios sapatos amassando as folhas secas caídas pelo chão. Fotografo num estado quase contemplativo, buscan-do vestígios da força da natureza que possam ser comparadas com a força do homem. Vestígios do homem que não está, mas esteve. Vestígio de nós mesmos, de nossas amarras de nossas mudanças internas e de nosso força.A ideia é a de que possamos fazer uma analogia entre a força da natu-reza e a do homem na busca pelo seu espaço mais primitivo, sua origem mais pura.

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Quem não é mestre do nu não pode entender os princípios da arquitetu-ra.A frase acima é atribuída a Miche-langelo. Ela chegou até mim durante uma leitura do livro de Richard Sen-nett, Carne e pedra. Estava envol-to pelas ideias de representação do corpo humano nas pedras que dão relevo a uma cidade. Também me en-volviam projetos fotográficos sobre a relação cidade e natureza. Estamos, assim, diante do corpo e da cidade, dos nus e da arquitetura.

Formalmente, tomamos a ideia sin-tetizada no título do livro de Sennett para pensar que coletivamente a ci-dade representa uma visão do corpo humano materializado na pedra. As noções de volume, textura e forma podem nos revelar uma visão do que imaginam os urbanistas, os cons-trutores de cidades, sobre o corpo de carne e osso e seus significados. Do ponto de vista da arquitetura te-mos um movimento de aproximação, como se focássemos na árvore e não na floresta. Nosso olhar se aproxima e nos faz ver com mais detalhes a casa, o edifício, recortados do con-junto. Um paralelo pode, então, ser traçado com a foto de um corpo nu. Quando a imagem revela as pessoas no cotidiano, em contato com outras pessoas ou sozinhas, mas em ambos

os casos, vestidas, é como se tivessem um véu cobrindo-as. Nossa visão fica mais opaca. A imagem da pele, dire-ta, exposta, acrescenta algo no ato de fotografar, na relação com a fotogra-fia e com os corpos. Talvez esse algo mais seja a luz de cada um de nós. Oscar Niemeyer nos dizia que sua inspiração para os desenhos arqui-tetônicos se originava das imagens de corpos nus de mulheres. Em uma foto em que ele aparece no espaço de seu atelier pode-se ver na parede em frente a sua mesa de trabalho uma imagem de derrières femininas que lembram uma sucessão de dunas de areia. Também nos assalta a memória o domo convexo do congresso nacio-nal em Brasília. Vamos, pois, nos ins-pirar com a luz da arquitetura e do corpo.

Angelo José da Silva é professor de socio-

logia na Universidade Federal do Paraná e

fotógrafo. Suas pesquisas mais recentes fo-

cam o espaço urbano e o grafite.

DESNUDANDO O CORPO

reflexões

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reflexões

Do ponto de vista da arquitetura temos um movimento de aproximação, como se focássemos na árvore e não na floresta.

coluna

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[email protected]

MANDE SEU PORTFÓLIO

Fotografia de Candice Japiaçu.Ensaio completo na OLD Nº 52.

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A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação nes-te nicho requer uma série de conhecimentos especí-ficos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, im-pressão e comercialização desse tipo de produto.

Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de com-preender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimen-to de todos os procedimentos necessários para rea-lizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influen-ciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho.

Visando uma apresentação realista do ramo, a estru-tura do curso conta com a participação de três convi-dados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos.

A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informa-ções sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIAFINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ in

for

me

pu

bli

cit

ár

io

Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalis-mo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamen-tos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorpo-rar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significa-dos que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.

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A venda de fotografias impressas com alta qualidade e durabilidade é uma opção ainda pouco explorada por muitos fotógrafos, uma vez que a atuação nes-te nicho requer uma série de conhecimentos especí-ficos. Ao perceber essa demanda, o IIF criou o curso Fine Art: Pós-Produção e Mercado, ministrado por Alex Villegas, que oferece uma formação abrangente no que se refere ao tratamento, a pós-produção, im-pressão e comercialização desse tipo de produto.

Durante o curso, o aluno tem a oportunidade de com-preender este amplo mercado, que inclui galerias de decoração, galerias de arte, colecionadores e museus. É oferecido um panorama mercadológico: quem são os compradores e quais são os tipos de trabalho que lhes interessam. A parte técnica inclui o conhecimen-to de todos os procedimentos necessários para rea-lizar as impressões, desde o tratamento da imagem

digital e escolha de formato de arquivo, até as opções de papel, tinta e outras especificidades que influen-ciarão no resultado final da impressão. Outros temas a serem abordados são a montagem e a conservação do trabalho.

Visando uma apresentação realista do ramo, a estru-tura do curso conta com a participação de três convi-dados do fotógrafo responsável: um crítico de arte, um galerista e um fotógrafo atuante no ramo. Além disso, os alunos fazem duas visitas: a primeira a uma exposição e a outra a um ateliê de impressão, para entender de perto os diversos aspectos técnicos.

A próxima turma do curso Fine Art começa no dia 14 de abril e termina no dia 23 de julho. Mais informa-ções sobre o curso no site: http://www.iif.com.br/site/fine-art/

INSTITUTO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIAFINE ART: PÓS-PRODUÇÃO E MERCADO DEPOIMENTOs DE QUEM FEZ in

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Segundo Gilberto Grosso, fotógrafo dedicado ao experimentalis-mo e aluno da última turma de Fine Art: pós-produção e mercado, o curso possui “uma abordagem ampla, conceitual e prática sobre o que é a arte e o mercado das imagens em fine art. Do princípio da criatividade e conceitos, passando pelos processos e equipamen-tos/materiais, à divulgação, exposição e venda das obras. Enfim, é um curso que todos os profissionais da imagem deveriam incorpo-rar aos seus currículos”.

Para Edgar Kendi, designer, o aprendizado vai muito além das técnicas de impressão: “Compreendi que para se chegar ao Fine Art não basta apenas fotografar belas imagens e imprimi-las em um bom printer, é preciso compreender toda carga de significa-dos que a imagem carrega em si e transmiti-los materializados em suportes que contribuam para tal fim”, diz.

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