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    IHU ON-LINERevista do Instituto Humanitas Unisinos

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    As imagens nos olham. Como ver o que nos

    olha?

    Massimo Canevacci: A palavra e o olhar. Uma relao que est na base da democracia ocidental

    Didier Ottaviani:Dante, poeta do Absoluto e das metforas divinas

    Anna Carolina Regner:Uma nova relao entre regras e prticas a partir de Paul Feyerabend

    Tiago Lopes: As novas relaes entre as imagens tcnicas e a identidade das cidades

    Erick Felinto: A inveno de um mundo pelas imagens sintticas

    Rita Cod: Uma sntese cultural entre filosofia helnica, poesia, msica e medicina

    Crditos: Ricardo

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    As imagens nos olham. Como ver o que nos olha?

    O que vemos, o que nos olha (So Paulo: Edi-tora 34, 2010) o ttulo do livro de Georges Didi-Hu-berman que inspira a realizao da XI Semana da Imagem na Comunicao,

    que ocorre de 20 a 23 de maio no

    campus da Unisinos, em So Leopol-do, e a edio da revista IHU On-Line

    desta semana.

    Participam desta edio Massimo Canevacci, filsofo e antroplogo ita-liano, professor visitante na IEA-USP,

    que sustenta que h uma espcie de

    crise do olhar, onde o desafio ter uma

    atitude e um treino para olhar.

    Erick Felinto de Oliveira, profes-sor na Universidade Estadual do Rio

    de Janeiro UERJ, discute a questo

    de que vivemos em um espao onde

    as imagens sintticas, feitas por com-putador, no necessariamente corres-pondem ao olhar humano.

    Tiago Ricciardi Correa Lopes, professor dos cursos de especializa-o em Cultura Digital e Redes Sociais

    e TV e Convergncia Digital, na Unisi-

    nos, aborda o tema das imagens, suas

    produes e consumos na composi-o identitria das cidades.

    Sonia Montao, professora no Curso de Comunicao Digital da Uni-sinos, reflete sobre o acolhimento e

    fechamento a imagens audiovisuais

    no YouTube para pensar como elas

    nos olham neste espao digital.

    Flvio Dutra, fotgrafo, profes-sor do Curso de Jornalissmo da Unisi-nos, pensa na relao das imagens a

    partir do fazer fotogrfico.

    Cybeli Moraes, coordenadora do Curso de Comunicao Digital da

    Unisinos, reflete sobre a pausa audio-visual tentando compreender o que

    as imagens dizem e quais so seus

    fluxos.

    Completam a edio mais duas

    entrevistas. Didier Ottaviani, filsofo

    francs, debate a obra de Dante, Rita de Cssia Cod dos Santos, expe a obra Exortao aos Gregos de Cle-mente de Alexandria e que ela tradu-ziu para o portugus.

    Nesta semana estaro no Insti-tuto Humanitas Unisinos - IHU, Anna

    Carolina Regner, filsofa, abordando o tema Razo, mtodo e cincia em Feyerabend.

    Heloisa Helena Barboza, profes-sora da UERJ, proferir a conferncia

    A pessoa na era da biopoltica: auto-nomia, corpo e subjetividade.

    E o tema Pesquisa aplicada e o

    uso das engenharias em prol da so-ciedade, ser debatido por Jefferson

    Gomes, gerente executivo do Senai, Braslia e por Celso Peter, responsvel pela construo do ITT CHIP Insti-tuto Tecnolgico de Semicondutores Unisinos.

    Os eventos fazem parte da prepa-rao do XIV Simpsio Internacional IHU Revolues Tecnocientficas,

    Culturas, Indivduos e Sociedades A modelagem da vida, do conhecimen-to e dos processos produtivos na tec-nocincia contempornea, que ocor-rer de 21 a 24 de outubro de 2014.

    As respectivas entrevistas podem ser

    lidas nesta edio.

    A todas e todos uma tima leitu-ra e uma excelente semana!

    IHUIHU On-Line a revista semanal do Instituto Humanitas Unisinos IHU ISSN 1981-8769.

    IHU On-Line pode ser acessada s segundas-feiras, no stio www.ihu.unisinos.br.

    Sua verso impressa circula s teras-feiras, a partir das 8h, na Unisinos.

    Apoio: Comunidade dos Jesutas Residncia Conceio.

    REDAO

    Diretor de redao: Incio Neutzling ([email protected]).Editora executiva: Graziela Wolfart MTB 13159 ([email protected]).Redao: Mrcia Junges MTB 9447 ([email protected]),Patricia Fachin MTB 13062 ([email protected]) e Ricardo Machado MTB 15.598 ([email protected]).Reviso: Isaque Correa ([email protected]).

    Colaborao: Csar Sanson, Andr Langer e Darli Sampaio, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores CEPAT, de Curitiba-PR.Projeto grfico: Agncia Experimental de Comunicao da Unisinos Agexcom.Editorao: Rafael Tarcsio ForneckAtualizao diria do stio: Incio Neutzling, Patricia Fachin, Luana Nyland, Natlia Scholz, Wagner Altes e Mariana Staudt

    Instituto Humanitas Unisinos

    Endereo: Av. Unisinos, 950, So Leopoldo/RS. CEP: 93022-000

    Telefone: 51 3591 1122 ramal 4128.

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    Diretor: Prof. Dr. Incio Neutzling. Gerente Administrativo: Jacinto Schneider ([email protected]).

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    LEIA NESTA EDIOTEMA DE CAPA | Entrevistas

    5 Massimo Canevacci: A palavra e o olhar. Uma relao que est na base da democracia ocidental

    9 Erick Felinto de Olveira: A inveno de um mundo pelas imagens sintticas

    12 Tiago Ricciardi Correa Lopes: As novas relaes entre as imagens tcnicas e a identidade das cidades

    14 Ba da IHU On-Line

    15 Sonia Montao: Os vnculos entre o audiovisual e os dispositivos contemporneos

    18 Flvio Dutra: A imagem como sntese da fotografia e do fotgrafo

    20 Cybeli Moraes: Caminhos para ver o que nos olha

    DESTAQUES DA SEMANA24 REPORTAGEM DA SEMAnA: Didi e a descoberta de ser visto

    26 EnTREVISTA DA SEMAnA: Didier Ottaviani: Dante, poeta do Absoluto e das metforas divinas

    32 LIVRO DA SEMAnA: Uma sntese cultural entre filosofia helnica, poesia, msica e medicina

    35 Destaques On-Line

    IHU EM REVISTA37 Agenda de eventos

    EnTREVISTA DE EVEnTOS

    38 Anna Carolina Regner: Uma nova relao entre regras e prticas

    42 Celso Peter: Semicondutores: a grande revoluo das ltimas dcadas

    44 Helosa Helena Barboza: A pessoa na era da biopoltica

    46 Retrovisor

    47 Sala de Leitura

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    www.ihu.unisinos.br

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    A palavra e o olhar. Uma relao que est na base da democracia ocidentalLiberar as coisas de serem teis a poltica antropolgica no cntrica colocada no fluxo da constelao metafetichista, a aposta do professor de antropologia cultural, arte e culturas digitais.

    Por Ricardo Machado

    Abandonar a perspectiva filosfica cls-sica, reforada por Marx, de que o ser humano a medida de todas as coisas apenas um dos desafios para deslocarmos a ideia antropocentrista do olhar. A crise do olhar, de desenvolver uma atitude e um treino para aprender a olhar, um olhar que modifi-ca o olho, claro, talvez nesse sentido poderia aceitar a crise do olho. Mas uma crise cons-trutivista, que pretende ir alm do atual e no de miopizar (outro pssimo neologismo) os olhos. A democracia ocidental baseada sobre a relao entre palavra e olhar. gora a praa e na praa eu posso escutar o poltico porque posso v-lo, provoca Massimo Canevacci, em entrevista por e-mail IHU On-Line. A crise antropocntrica para mim significa distribuir os olhos em cada sujeito da natureza, com-

    plementa. O professor apresenta a palestra Etnografia ubqua e composio polifnica das imagens contemporneas, na segunda-feira, 20-05-2012, no Auditrio Central da Unisinos, das 20h s 22h.

    Massimo Canevacci doutor em Letras e Fi-losofia pela Universidade La Sapienza URS, na Itlia, de onde natural. Foi professor visitante na UFSC (2010-2011) e na UERJ (2012). Pesqui-sa etnografia, comunicao visual, arte, cultura digital. Desde maro deste ano professor visi-tante na IEA-USP. autor de livros como Antro-pologia da comunicao visual (Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2001), Antropologia do cinema (So Paulo: Editora Brasiliense. 1990), Fake in China (Macei: Edufal, 2011) e Fetichismos vi-suais (So Paulo: Atelier Editorial, 2008).

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Em que medida o antropocentrismo condiciona nosso olhar sobre as imagens?

    Massimo Canevacci A filosofia clssica afirmou com Demcrito1 que o homem a medida de todas as coi-sas e Marx2 repetiu esta citao no

    1 Demcrito de Abdera (480 a. C. - 380 a. C.), filsofo grego sucessor de Leuci-po de Mileto. Sua fama decorre do fato de ter sido o maior expoente da teoria atmica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe composto por elementos indivisveis chamados to-mos. (Nota IHU On-Line)2 Karl Heinrich Marx (1818-1883): fil-sofo, cientista social, economista, histo-riador e revolucionrio alemo, um dos pensadores que exerceram maior influ-ncia sobre o pensamento social e sobre

    seu livro mais famoso. O inteiro pen-

    samento humanista baseado sobre

    os destinos da humanidade no sculo XX. Marx foi estudado no Ciclo de Estudos Repensando os Clssicos da Economia. A edio nmero 41 dos Cadernos IHU Ideias, de autoria de Leda Maria Paulani tem como ttulo A (anti)filosofia de Karl Marx, disponvel em http://migre.me/s7lq. Tambm sobre o autor, confira a edio nmero 278 da IHU On-Line, de 20-10-2008, intitulada A financeirizao do mundo e sua crise. Uma leitura a par-tir de Marx, disponvel para download em http://migre.me/s7lF. Leia, igual-mente, a entrevista Marx: os homens no so o que pensam e desejam, mas o que fazem, concedida por Pedro de Alcnta-ra Figueira edio 327 da revista IHU On-Line, de 03-05-2010, disponvel para download em http://migre.me/Dt7Q. (Nota da IHU On-Line)

    este assunto. Isso foi, ainda que em parte, elemento decisivo para afirmar a centralidade do ser humano (mais o homem) autnomo e livre que do os condicionamentos religiosos ou ir-racionalisticamente mticos.

    Esta viso humanstica no con-texto histrico atual tem alguns li-mites. a relao entre humanismo e antropocentrismo que precisamos fo-calizar melhor. Com o segundo concei-to, entende-se que o centro com rela-o natureza o antropos (isto no homem, mas homem e mulher). Esta centralidade precisa ser questionada. A natureza em geral (seja a chamada primeira natureza, seja a chamada segunda natureza objetos, merca-

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    dorias, etc.) virou territrio de domnio da razo instrumental que achava a po-tencialidade de extrair coisas infinitas.

    O centrismo a tendncia a cen-tralizar sobre um elemento (tnico, sexual, esportivo, individual) em con-traposio aos outros. Uma antropo-logia progressiva deseja criticar cada forma de centrismo. Em relao ao especfico antropocentrismo, precisa-mos elaborar um pensamento prtico, diria um treino filosfico descentrado, pelo qual cada pessoa poderia ima-ginar que uma floresta perdida, uma coisa banal, um objeto biogrfico, uma onda do mar, o www, a obra de Michelangelo3 um centro. Dessa ma-neira, configuramos uma constelao mvel policntrica, polifnica e poli-morfa: e o ser humano parte desta constelao, nunca mais o centro.

    IHU On-Line possvel enxer-gar fora de um critrio antropocntri-co e etnocntrico?

    Massimo Canevacci Sim, pos-svel, mas complicado pela resistn-cia no somente econmica de colocar a estrutura produtiva como centro ins-trumental das relaes com o mundo, mas tambm pela longa histria psico-cultural que imaginou (e praticou) este centrismo como a base da autoafirma-o do sujeito racional. Este modelo histrico est claramente em crise.

    A universidade expandida nas culturas digitais poderia elaborar uma sua filosofia antropolgica e talvez um projeto pragmtico para mudar o posicionamento poltico de cada sujeito. Vou resumir de maneira bas-tante sinttica o que tenho pensado: uma viso, uma imaginao exata de olhar em direo de um metafetichis-mo, um fetichismo alm do poder reificado das mercadorias ou de uma poltica autocentrada, poderia precur-sar uma viso onde o dualismo entre orgnico e inorgnico, objeto e sujei-to, mercadoria e coisa, ser e natureza, tendencialmente v a acabar. Imagi-no um movimento de libertao dos objetos inorgnicos que eu gosto de chamar facticidade. Liberar as coisas de ser til a poltica antropolgica no cntrica colocada no fluxo da constelao metafetichista.

    3 Michelangelo (Miguel ngelo) di Ludovico Buonarroti Simoni (1475-1564) foi um pintor, escultor, poeta e arquite-to renascentista italiano. (Nota da IHU On-Line)

    IHU On-Line Que diferenas percebe entre olhar e ver? Em uma sociedade imagtica como a nossa, como se apresenta essa dicotomia?

    Massimo Canevacci Esta distin-o muito difcil de precisar. O voca-bulrio no nos ajuda muito. Eu posso olhar tudo sem ver nada. Talvez seria possvel elaborar uma clareza neste du-alismo que, obviamente, eu no gosto. Penso a disposio de um sujeito a um olhar passivo como maravilhosa. Passi-vo no significa, porm, inconsciente, subordinado, feminilizado. Um olhar que inclua o ver e que se oponha di-cotomicamente. A comunicao visual que prolifera na frente e talvez na in-terioridade dos nossos olhos a me-todologia que precisamos aplicar. Uma metodologia nunca mais externa, mas interna dos corpos dos olhos. Um cor-po cheio de olhos.

    IHU On-Line O senhor, em outra entrevista, considerou que o tema da XI Semana da Imagem Para entender as imagens: como ver o que nos olha? um convite a nos tornarmos olho. Como explicar essa afirmao?

    Massimo Canevacci Eu sei que a dimenso polissensorial sempre mais constitutiva de um ser humano mais aberto e, de novo, polimorfo. Ao mesmo tempo, acho que os olhos e o olhar em geral continuam a ser muito mais importantes que o cheirar, o pro-var/palatar e o ouvir. A msica atual (mas acho a msica em geral) pare-ce que no tem sentido sem v-la no hic et nunc da sua prpria elabo-rao. s vezes, ver a musica mais importante que ouvi-la. Lembro um fragmento do livro de Thomas Mann4, Doctor Faustus5, onde ele afirma que

    4 Thomas Mann (1875 - 1955): roman-cista alemo, considerado como um dos maiores do sculo XX. Recebeu o prmio Nobel da Literatura em 1929. Foi o ir-mo mais novo do romancista Heinrich. Ganhou repercusso internacional, aos 26 anos, com sua primeira obra, Os Bud-denbrooks (Buddenbrooks), romance que conta a histria de uma famlia protes-tante de comerciantes de cereais de L-beck ao longo de trs geraes. (Nota da IHU On-Line)5 Doutor Fausto uma obra com a qual Thomas Mann constri um universo social de artistas e intelectuais. Narrada pelo amigo e professor Zeitblom, a his-tria do msico Adrian Leverkhn, que, como o Fausto da lenda, vende a alma ao Diabo a fim de viver o suficiente para realizar sua grande obra.

    algumas obras musicais supremas, tipo a arte da fuga de Bach6, deveria ser lida, no musicada. Mas cada clip mais banal de Vdeo Music aceito mais pela qualidade das imagens que pelo estilo musical. Ou seja, a monta-gem das imagens parte constitutiva do ritmo, mais que os instrumentos musicais ou a voz do cantor(a). Partici-par ao vivo na primeira fila de um con-certo rock ou de uma opera de Puc-cini7 diferente de escutar ao morto no prprio CD. O olhar fixa a msica e favorece um entendimento sensorial melhor que o simples escutar.

    MultissensorialidadeQuero dizer que a multissenso-

    rialidade importante sem duvida, mas que, ao mesmo tempo, no cor-po polimorfo multissensorial o olho ainda antropologicamente dominan-te. Queria lembrar a anlise de Freud8

    6 Johann Sebastian Bach (1685-1750): msico e compositor alemo do perodo barroco da msica erudita, alm de or-ganista notvel. considerado um dos maiores e mais influentes compositores da histria da msica, ainda que pouco reconhecido na poca em que viveu. Mui-tas das suas obras refletem uma grande profundidade intelectual, uma expresso emocional impressionante. O IHU, dentro das comemoraes da Pscoa 2007, ofe-receu trs audies comentadas sobre o compositor, divididas em 29 e 30 de mar-o deste ano, sob conduo da Prof. Dr. Yara Caznok, da UNESP. Em 29 de maro o tema foi A expresso musical da f em Bach e Mozart, quando fez uma audio comparada do Credo das Missas BWV 232, de Bach, e K427, de Mozart. No mesmo dia, Caznok comentou o Oratrio de As-censo BW 11, de Bach. Em 30 de maro, conduziu a audio comentada de A paixo de Cristo segundo So Joo BWV 245. No evento Pscoa IHU 2009, Caznok conduziu o IHU Idias Uma narrativa do mistrio em Johann Sebastian Bach, com a audio co-mentada de Ich hatte viel Bekmmernis, BWV21. (Nota da IHU On-Line)7 Giacomo Puccini (1858-1924): Compo-sitor de peras italiano. Suas peras esto entre as mais interpretadas atualmente, entre essas esto La bohme, Tosca, Ma-dama Butterfly e Turandot.1 2 Algumas das rias das suas peras, como O mio babbino caro de Gianni Schicchi, Che gelida manina de La bohme e Nessun dorma de Turandot tornaram-se parte da cultura popular. (Nota da IHU On-Line)8 Sigmund Freud (1856-1939): neuro-logista e fundador da Psicanlise. Inte-ressou-se, inicialmente, pela histeria e, tendo como mtodo a hipnose, estudava pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, interessado pelo inconscien-te e pelas pulses, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hip-nose em favor da associao livre. Estes elementos tornaram-se bases da Psican-lise. Freud, alm de ter sido um grande

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    sobre a mutao radical do Homo sapiens quando transita de uma cen-tralidade sexual baseada no nariz afirmao da supremacia do olhar. Homo sapiens tal porque aprendeu a olhar nos olhos do outro o prazer do amor. O cheiro do (e no) amor ainda importante, mas a irresistvel higienizao desodorada do corpo pode ser interpretada como uma de-clarao de subordinao ao olhar. Os olhos no podem ser higienizados ou de-olhado, par inventar um ps-simo neologismo. Eu sou o olho que apreende continuamente o desejo intelectual de imaginar o que ainda no existe. Um olho pensante. Olhos reflitentes. Agora digo o seguinte: a extrema sensualidade do olho fica na sua impossibilidade de ser acariciado, beijado, penetrado. A histria do olho no s aquela de Bataille9: nele no olho se coagula o mximo desejo de possu-lo sem possibilidade nenhuma de conseguir este desejo. Por isso o desejo do olho continua e nunca po-deria ser de-olhado.

    DesejoO ser humano continua a dese-

    jar porque nunca poderia possuir o limite do seu desejo: ultrapassar as plpebras e lamber a pupila. Os clios so os ltimos guardies. Depois a ris se expande e retrai no encontro com a luz do outro. O cristalino, o bulbo, a retina: a inteira geografia do apara-do visual uma festa extrema que se

    cientista e escritor, realizou, assim como Darwin e Coprnico, uma revoluo no mbito humano: a idia de que somos movidos pelo inconsciente. Freud, suas teorias e o tratamento com seus pa-cientes foram controversos na Viena do sculo XIX, e continuam muito debati-dos hoje. A edio 179 da IHU On-Line, de 08-05-2006, dedicou-lhe o tema de capa sob o ttulo Sigmund Freud. Mestre da suspeita, disponvel para consulta no link http://migre.me/s8jc. A edio 207, de 04-12-2006, tem como tema de capa Freud e a religio, disponvel para down-load em http://migre.me/s8jF. A edio 16 dos Cadernos IHU em formao tem como ttulo Quer entender a modernida-de? Freud explica, disponvel para down-load em http://migre.me/s8jU. (Nota da IHU On-Line)9 Georges Bataille (1897-1962): escritor, antroplogo e filsofo francs. O erotis-mo, a transgresso e o sagrado so temas abordados em seus escritos. Sua corres-pondncia foi publicada em 1997 pela Gallimard sob o ttulo Choix de lettres 1917-1962. Grande parte de sua obra no foi traduzida para o portugus. (Nota da IHU On-Line)

    pode fixar, mas nunca beijar. defen-dida por uma tnue linha de pele e justamente esta sutileza da plpebra a sua fora. Eu queria beijar os teus olhos. Por isso te amo ainda, porque nunca consegui realizar este desejo supremo. Um escritor italiano, Pa-vese10, escreveu uma poesia assim: verr la morte e avr i tuoi occhi. Os olhos do amor so imortais. No se poderia dizer o mesmo das orelhas ou do nariz.

    IHU On-Line Dentro deste de-bate, poderamos pensar em uma crise do olho como sentido domi-nante na cultura ocidental?

    Massimo Canevacci No. A crise do olhar, de desenvolver uma atitude e um treino para aprender a olhar, um olhar que modifica o olho, claro, talvez nesse sentido poderia aceitar a crise do olho. Mas uma crise construtivis-ta, que pretende de ir alm do atual e no de miopizar (outro pssimo ne-ologismo) os olhos. A democracia oci-dental baseada sobre a relao entre palavra e olhar. gora a praa e na praa eu posso escutar o poltico por-que posso v-lo. A crise antropocntri-ca para mim significa distribuir os olhos em cada sujeito da natureza.

    IHU On-Line Traando um paralelo entre tcnica e cultura, como podemos pensar a multiplica-o de imagens e de dispositivos de produzi-las?

    Massimo Canevacci A tcnica sempre foi parte constitutiva da cultura, em cada contexto histrico diferente. Nesse sentido, a multiplicao de ima-gens e do sujeito que as realizam (sujei-to ps-orgnico) exatamente a viso de uma democracia menos ocidental e antropocntrica e mais descentrada. Espero sempre que um genial inven-tor como Tim Berners-Lee11, aquele da web e do seu uso sem controle de Esta-

    10 Cesare Pavese (1908 - 1950): Escritor e poeta italiano. Passou um ano na priso em Barcaleone (Reggio Calabria), com-prometido por amigos polticos; passou algum tempo em Roma em trabalho para a editora Einaudi, da qual foi um dos mais eficazes conselheiros editoriais; suicidou--se em Turim em 1950.11 Timothy John Berners-Lee (1951): um fsico britnico, cientista da com-putao e professor do MIT. o criador da World Wide Web (Rede Mundial de Computadores - Internet, tendo feito a primeira proposta para sua criao em maro de 1989.

    do, consiga imaginar a autogerao de imagens no corpo de cada facticidade. Imagens autogeradas so parte de um futuro mais vivvel e com menos Berlus-coni12 ou Silvio Santos, isto , os donos de uma TV generalista e vertical que re-produz o pior do ser humano.

    IHU On-Line O que essa difuso de imagens diz sobre nossa cultura?

    Massimo Canevacci Pergunta difcil. Talvez precisamos criticar mais radicalmente o prejuzo de Plato e de muitas religies ou da filosofia atual contra as imagens. O medo da imagem e da sua imaterialidade. Por isso, seria filosoficamente melhor imaginar as imagens material/imaterial, alm do dualismo clssico que reproduz este preconceito. Em um filme banal (ou b-movie), Crocodile Dundee, lembro sempre uma sequncia formidvel. No bush australiano, uma jovem antrop-loga queria fotografar o nativo (abor-gene). Ela aponta a cmera e ele diz: No, no! (Ela havia estudado os clssicos). Ah, claro, desculpe, voc acha que a imagem rouba a sua alma e ele responde. No isso. Voc tem o obturador no olho da cmera.

    Muitos filsofos e antroplogos acham ainda que a imagem captura a alma ou o corao de uma pessoa. Um pensamento mgico no sentido mais atrasado permanece vivo. Por isso, eu espero que se poderiam sempre mais selecionar as imagens no sentido de boas, interessantes, experimentais, feias, maravilhosas, preconceituosa etc. A imagens que eu gosto so aque-las que ainda no vi. E que me colo-cam em uma dimenso de estupor, abrindo a porosidade do meu corpo.

    IHU On-Line Como podemos pensar o conceito de fetichismo vi-sual de seu livro Fetichismos visuais corpos erpticos e metrpole co-municacional (2008)?

    12 Silvio Berlusconi (1936): lder po-ltico do partido Fora Itlia, que criou especificamente para sua entrada na vida poltica. o proprietrio do imp-rio miditico italiano Mediaset, alm de empresrio de comunicaes, bancos e entretenimento. a pessoa mais rica da Itlia, segundo a revistas Forbes, e o 37 mais rico do mundo. Pela segunda vez o primeiro-ministro da Itlia. Foi acusado inmeras vezes de corrupo e ligaes com a Mfia. Gerou polmica na Europa ao apoiar a Guerra dos EUA contra o Ira-que, em 2003. (Nota da IHU On-Line)

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    Massimo Canevacci Talvez na perspectiva diagonal que libera a incli-nao mais perturbadora: aprender a se inclinar e diagonalizar significa que nada instintual ou natural no proces-so de perceber o que est acontecendo aqui e agora. J apresentei a inclinao do meta-fetichismo, como uma pos-sibilidade de ir alm da identificao fetichismo / reificao / perversidade.

    Um corpo ertico exprime a ten-dncia de liberar o fetichismo tambm da tradio crist que o identifica com condio animista, mgica, supersticio-sa, etc. Aprender a favorecer a criao de imagens multissensoriais que exci-tam a pupila a sair de si mesma e rolar entre a tela do seminrio e os olhos dos participantes, e se via stream tambm entre os olhares de um pbli-co observador ativo e cocriador.

    IHU On-Line Em termos meto-dolgicos, que alternativas podem ser postas s anlises acadmicas que se debruam sobre os estudos das imagens?

    Massimo Canevacci O conceito--chave que influencia e mistura valo-res declarados em sentido progressivo, mtodos etnogrficos descentrados, teorias crticas experimentais au-torrepresentao. Nessa viso, o etn-grafo ou comunicador em geral esto legitimados para interpretar o outro atravs da comunicao visual ou com-posies performticas apenas quan-do esto disponveis para se deixar interpretar pelo outro. Esta dialgica e este desafio apresentam uma epis-temologia transitiva da representao. Assim, mtodo etnogrfico indiscipli-nado, teoria crtica experimental, au-torrepresentao polifnica e sujeitos transitivos configuram a pesquisa em forma de constelao mvel. Emerge uma etnografia ubqua baseada sobre tenses sincrticas e polifnicas de verificar empiricamente entre identi-dades flutuantes, fetichismos visuais, culturas digitais. A metrpole muda e o trtico comunicao / cultura / consu-mo sempre mais determinante na ex-perienza quotidiana em particular das culturas juvenis e se insere nos fluxos contemporneos da autorrepresenta-o, praticados nos interstcios transur-banos e nas redes sociais digitais.

    Cidadania transitivaNesse contexto, uma deslocan-

    te cidadania transitiva participada

    na metrpole comunicacional em conexo com identidades flutuantes apresenta uma crtica poltica hori-zontal sobre a diviso comunicacional do trabalho: uma crtica pragmti-ca alm do poder vertical de quem representa quem. Este movimento transitivo se manifesta em direo de espontneas narrativas descentradas, performances urbanas, fluxos digitais, exata mistura de arte, publicidade, design, arquitetura, cinema, msica, moda, esporte. Por isso entre quem representa e quem representado h um n lingustico especfico, rela-tivo ao que chamo diviso comuni-cacional do trabalho, que precisa ser enfrentado nos mtodos e nas prag-mticas. Entre quem tem o poder de enquadrar o outro e quem deveria continuar a ser enquadrado para ser um eterno panorama humano , ossificou-se uma hierarquia da viso, que parte de uma lgica dominante a ser posta em crise na sua presumida objetividade.

    As novas subjetividades que es-to se afirmando como outras tm a vantagem de poder usar as tecnolo-gias digitais que favorecem esta des-centralizao com um efeito de rup-tura no comparvel com o analgico. Facilidade de uso, reduo dos preos, acelerao das linguagens, descentra-lizao de ideao, editing, consumo. A diviso comunicacional do trabalho entre quem narra e quem narrado entre auto e heterorrepresentao penetra na contradio emergente entre produo das tecnologias digi-tais e uso destas mesmas tecnologias por sujeitos ubquos com autnomas vises do mundo. Sincretismos cultu-rais, pluralidades de sujeitos, polifo-nias de linguagens: esta a premissa valorativa e metodolgica das repre-sentaes transitivas que apoia cria-tividades indisciplinadas. Enfim, estou trabalhando sobre o estupor meto-dolgico, mas quero falar na prxima entrevista sobre esta maravilha.

    IHU On-Line Existem frontei-ras para pensar distintamente os fenmenos sociais e comunicacio-nais ou a contemporaneidade mar-cada pela indistino das reas de conhecimento?

    Massimo Canevacci A pergunta explicita o problema. So as frontei-ras, os espaos mais significativos da

    pesquisa atual. So as fronteiras cls-sicas, que so cruzadas sempre mais pela subjetividade diasprica, que no conseguem ficar paradas no seu terri-trio nativo, nas suas razes obscuras e inflexveis, e por isso desafia as regras e clandestinamente cruza a linha. Mas tambm as fronteiras digitais ou es-pistemolgicas, aquelas que desejam favorecer a indisciplina como desafio de uma universidade compartimen-talizada que no pode continuar a so-breviver entre faculdade, departamen-tos, currculos delimitados e cerrados como priso. Os centros das pesquisas so sempre mais culturas, individuali-dades, identidades, que decidem mo-vimentar o seu prprio estatuto, cruzar e mesclar sincretizar as fronteiras culturais e ainda mais polticas. Olhar a linha da fronteira significa indiscipli-nar e inclinar as reas e os modelos de conhecimento. E tentar de descobrir alm de, s vezes, praticar o que ainda no imobilizado pelo conceito.

    Leia mais...>> Massimo Canevacci j concedeu outras entrevistas IHU On-Line. Confira:

    A luta antimanicomial como uma

    luta cultural. Publicada na Edio

    391, de 07-05-2012, disponvel em

    http://bit.ly/K67xDs

    Comunicao horizontal e cidadania

    transitiva: a construo de um novo

    modelo democrtico. Publicada nas

    notcias do dia 30-08-2011, dispon-

    vel em http://bit.ly/11Rihnt

    A filosofia atrs de uma muralha? Pu-

    blicada na Edio 379, de 07-11-2011,

    disponvel em http://bit.ly/sMpQ3C

    Love Parade: corpos conectados pe-lo amor ertico. Entrevista especial

    com Massimo Canevacci. Publicada

    nas notcias do dia 11-08-2010, dis-

    ponvel em http://bit.ly/14nviSX

    Enredos amorosos entre os bororos.

    Publicada nas notcias do dia 21-

    08-2007, disponvel em http://bit.

    ly/10g7SyD

    Comunicao digital. Poros, pesqui-sa e desafios. Publicada nas notcia

    do dia de 15-05-2007, disponvel

    em http://bit.ly/10euUTg

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    A inveno de um mundo pelas imagens sintticasPara o pesquisador Erick Felinto de Olveira, o contexto sociotecnolgico permitiu a criao de espaos digitais que ampliaram a possibilidade do olhar

    Por Ricardo Machado

    Vivemos num contexto em que as imagens sintticas produzem mundos que j no precisam mais corresponder ao olhar humano. Por outro lado, nossa fisiologia e mecanismos de percepo se desenvolveram em relao com os processos tecnolgicos. O interes-sante dissolver separaes radicais entre o humano e o tecnolgico, entendendo que temos com a tecnologia uma relao de co-determinao, explica o professor e pesqui-sador Erick Felinto, em entrevista concedia por e-mail IHU On-Line. Segundo ele, di-fcil deslocar o olhar sobre o mundo de uma posio antropocntrica. Mas h algum tem-po que existe um movimento de deslocar o pensamento deste eixo. Pensadores como Walter Benjamin, Gabriel Tarde, Gilbert Si-mondon e, mais recentemente, Bruno La-tour fazem parte dessa tradio, assim como boa parte da chamada filosofia da tcnica, sustenta.

    Erick Felinto de Oliveira doutor em Li-teratura Comparada pela UERJ/UCLA e tem ps-doutorado em Comunicao pela Uni-versitt der Knste, Berlim. pesquisador do CNPq e professor adjunto na Universidade Estadual do Rio de Janeiro UERJ, institui-o em que realiza pesquisas sobre cinema e cibercultura. autor de, ente outros, A religio das mquinas: ensaios sobre o ima-ginrio da cibercultura (Porto Alegre: Sulina, 2005); A imagem espectral: cinema e fantas-magoria tecnolgica (So Paulo: Ateli Edi-torial, 2008); Silncio de Deus, Silncio dos Homens: Babel e a Sobrevivncia do Sagrado na Literatura Moderna (Porto Alegre: Sulina, 2008); Avatar: o Futuro do Cinema e a Ecolo-gia das Imagens Digitais (com Ivana Bentes. Porto Alegre: Sulina, 2010); e O Explorador de Abismos: Vilm Flusser e o Ps-Humanis-mo (com Lucia Santaella. So Paulo: Paulus, 2012).

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Como deslocar o olhar do antropocentrismo e qual a importncia deste movimento?

    Erick Felinto de Oliveira Esse um exerccio difcil e, em certa medi-da, experimental, pois nossa posio natural antropocntrica. Todavia, j h algum tempo vem se forman-do uma tradio de pensamento que busca escapar dessa armadilha, oferecendo ontologias e formas de pensamento no (ou no inteira-mente) antropocntricas. Pensado-res como Walter Benjamin1, Gabriel

    1 Walter Benjamin (1892-1940): filsofo alemo crtico das tcnicas de reprodu-

    Tarde2, Gilbert Simondon e, mais re-centemente, Bruno Latour3, fazem

    o em massa da obra de arte. Foi re-fugiado judeu alemo e, diante da pers-pectiva de ser capturado pelos nazistas, preferiu o suicdio. Um dos principais pensadores da Escola de Frankfurt. (Nota da IHU On-Line)2 Jean-Gabriel de Tarde (1843-1904): filsofo, socilogo, psiclogo e crimino-logista francs.3 Bruno Latour (1947-): filsofo fran-cs, um dos fundadores dos chamados Estudos Sociais da Cincia e Tecnolo-gia (ESCT). reconhecido, entre outros trabalhos, por sua contribuio terica ao lado de outros autores como Michel Callon e John Law no desenvolvimento da ANT Actor Network Theory (teoria ator-rede) que, ao analisar a ativida-

    parte dessa tradio, assim como boa parte da chamada filosofia da tcnica. Ela importante de modo a perspectivar a prpria ideia do huma-no, que se reconfigura historicamente de forma contnua, de modo que no existe apenas um modelo possvel

    de cientfica, considera tanto os atores humanos como os no humanos, estes ltimos devido sua vinculao ao prin-cpio de simetria generalizada. Sobre ele, leia uma entrevista concedida pela pesquisadora Leticia de Luna Freire IHU On-Line, intitulada A cincia em ao de Bruno Latour e publicada na edio nmero 416, de 29-04-2013, disponvel em http://bit.ly/105C9MU (Nota da IHU On-Line)

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    do humano, mas vrios. Por outro lado, tambm pode nos auxiliar na busca de novas formas de relaciona-mento com os seres no humanos que habitam nosso entorno (os animais, os objetos, os aparatos tcnicos).

    Uma forma de deslocar esse olhar professar uma viso de mun-do fundada na teoria ator-rede, por exemplo, na qual os acontecimentos no so nica e principalmente de-terminados por atores humanos, mas se efetivam num imbrglio de rela-es complexas onde nem sempre possvel identificar quem (ou o qu) o principal agente. Vilm Flusser4 su-geria um outro mtodo, bem menos ortodoxo e, digamos, acadmico, ao defender a ideia de fices filosficas nas quais, por meio de exerccios ima-ginativos filosoficamente embasados, poderamos imaginar outros modelos do humano ou outras formas de en-xergar o no humano.

    IHU On-Line Em que medi-da uma mudana de visada, se co-locando no lugar das tecnologias, nos permite compreender melhor a multiplicidade de imagens no contemporneo?

    Erick Felinto de Oliveira Vive-mos num contexto em que as imagens sintticas produzem mundos que j no precisam mais corresponder ao olhar humano. Por outro lado, nossa fisiologia e mecanismos de percepo se desenvolveram em relao com os processos tecnolgicos. O interes-sante dissolver separaes radicais entre o humano e o tecnolgico, en-tendendo que temos com a tecnolo-gia uma relao de codeterminao. O digital reconfigurou radicalmente nossa relao com a imagem, dado que ampliou nossas possibilidades de reproduo e manipulao. Ao mes-mo tempo, reuniu imagens, sons, tex-tos em uma base digital nica (os bits,

    4 Vilm Flusser (1920-1992): filsofo tcheco, naturalizado brasileiro. Autodi-data, durante a Segunda Guerra, fugin-do do nazismo, mudou-se para o Brasil, estabelecendo-se em So Paulo, onde atuou por cerca de 20 anos como profes-sor de filosofia, jornalista, conferencista e escritor. Leia a edio nmero 399 da IHU On-Line, de 20-08-2012, intitulada Vilm Flusser: Um comuniclogo trans-disciplinar e est disponvel em http://bit.ly/Sf21WH (Nota da IHU On-Line)

    pixels etc.). Segundo Friedrich Kittler5, isso significa que toda a significao passou a atravessar um gargalo ni-co e isso traz para nossa sociedade uma centralidade do tecnolgico que s agora conseguimos enxergar com maior clareza.

    IHU On-Line Na perspectiva da XI Semana da Imagem Para enten-der as imagens: como ver o que nos olha que pistas indicam um cami-nho mais livre para desaprisionar a subjetividade?

    Erick Felinto de Oliveira Exis-tem muitos caminhos. Um caminho que me atrai pensar a dimenso no semntica das imagens. Isso no quer dizer desprezar a capacidade de signi-ficao da imagem, mas complemen-t-la com uma ateno quilo que as imagens produzem que de ordem no hermenutica: afetos, sensoriali-dades, sensaes. Hoje, mais do que nunca, se discute o tema da haptici-dade da imagem no cinema, na arte digital, etc. Exemplos de pesquisas que tentam explorar essa dimenso que para mim tem tudo a ver com uma cultura do entretenimento en-contramos nas propostas de auto-res como Gumbrecht6, Laura Marks7, Mark Hansen8 e o prprio Flusser, en-tre outros.

    5 Friedrich A. Kittler (1943 2011): foi um terico de literatura e historiador da mdia, conforme se autodefiniu. Seu trabalho est relacionado mdias e tec-nologias.6 Hans Ulrich Gumbrecht (1948): ale-mo e se dedica a estudos de teorias li-terrias. professor do departamento de literatura comparada da Frana, Itlia, Alemanha, Espanha e Brasil nas univer-sidades de Stanford e Zeppelin. (Nota da IHU On-Line)7 Laura U. Marks: norte-americana, artista e terica de mdia. autora de trs livros, entre eles, Enfoldment and Infinity: An Islamic Genealogy of New Media Art (MIT Press. 2010). (Nota da IHU On-Line)8 Mark B. N. Hansen: estudioso norte-

    IHU On-Line O que as imagens podem dizer sobre nossa identidade cultural?

    Erick Felinto de Oliveira Elas sempre dizem muito, mas hoje, es-pecialmente no mbito da internet, podem dizer ainda mais sobre a di-menso transcultural de um mundo inteiramente interligado. Veja-se o exemplo do destino de uma imagem banal (do Bert, da rua Ssamo) que traado atravs de vrios cenrios in-terculturais na obra de Henry Jenkins9, A Cultura da Convergncia (Editora Aleph, 2008. 432 p.).

    Claro, a imagem ainda um in-teressante instrumento de anlise cultural, e nesse sentido o trabalho de alguns artistas do oriente me inte-ressa profundamente. No cinema, a obra de Nacer Khemir10 trabalha a di-menso cultural da imagem sem criar exotismos ou produzir esteretipos. A beleza do seu cinema desenvolver, digamos, ambincias orientais que tocam nosso diapaso afetivo de uma forma na qual as fronteiras entre o lo-cal e o universal se dissipam. Paisa-gens transculturais um termo que tem sido usado recentemente para falar de certo comrcio de imagens onde as fronteiras tendem a ser rela-tivizadas, mas onde o outro tambm nunca domesticado ou reduzido ao idntico. Aprecio as imagens com as quais consigo me identificar, mas que ao mesmo tempo me provocam estra-nheza e, assim, me permitem desen-volver um outro olhar sobre o mundo. Da vem minha apreciao por tudo aquilo que da ordem do esquisito, do estranho, como, por exemplo, o ci-nema de fantasia ou de horror.

    IHU On-Line Que contribuio a filosofia pode nos dar no sentido de desnaturalizarmos o pensamento e

    americano de estudos culturais, teoria da mdia, filosofia e novas mdias e fenomenologia e cincia cognitiva. (Nota da IHU On-Line)9 Henry Jenkins: um norte-americano que fundou o programa de estudos de mdia comparada do MIT, dedicado pesquisa dos fenmenos envolvidos no processo de convergncia entre os novos meios de comunicao e os meios tradi-cionais. (Nota da IHU On-Line).10 Nacer Khemir (1948): um tunisia-no escritor, artista, roteirista e cineasta. (Nota da IHU On-Line)

    A imagem ainda um interessante

    instrumento de anlise cultural

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    conseguirmos compreender o que nos olha?

    Erick Felinto de Oliveira Ela enorme, sem dvida, e uma pena ver que em reas como a comunica-o a filosofia ainda seja encarada com alguma desconfiana. Despida de ranos classicistas ou metafsicos, a fi-losofia um exerccio do pensamento que muito poderia colaborar para pre-cisar conceitos que, na comunicao, so usados como autoevidentes (a no-o de meio, por exemplo).

    Poucos filsofos, alis, colabo-raram mais para o aprofundamento do tema da imagem que Walter Ben-jamin. O Trabalho das passagens, por exemplo, uma verdadeira aula de mtodo investigativo no qual a fisiognomia da modernidade es-boado por meio das imagens (mes-mo as mais triviais) que produziu, como uma espcie de leitura das runas e dos materiais descartados, aos quais muitas vezes no damos a devida ateno. De fato, penso que existem dois grandes pensadores das imagens aos quais devemos retornar para compreender bem a problem-tica da imagem tcnica e da nossa relao com a arte: Walter Benjamin e Aby Warburg11, cujo projeto Atlas tambm implica uma tentativa de produzir um mtodo verdadeiramen-te visual de leitura das imagens produzidas pela cultura.

    IHU On-Line O que so ima-gens memticas e que relao elas tm com o que considerado habi-tualmente como banalidade?

    Erick Felinto de Oliveira O ter-mo meme, que pretendo criticar na minha apresentao12, deriva da biologia e decalcado da gentica. O meme aquilo que se reproduz e pas-sa adiante na cultura, em gestos de

    11 Aby Warburg: alemo, famoso historiador da arte do incio do sculo XX, que, imbudo de um olhar antropolgico, descobrira um vnculo entre a cultura dos ndios hopis do Novo Mxico e a civilizao do Renascimento. (Nota do IHU On-Line)12 O professor falar sobre o tema Grumpy cat, Grande Mestre Zen da Gerao Digital (Afetos e Materialidades da Imagem Memtica), no prximo dia 21 de maio das 20h s 22h, no Auditrio Central da Unisinos, em So Leopoldo, durante a programao da Semana da Imagem. Mais informaes em http://bit.ly/11ReeaL (Nota da IHU On-Line)

    imitao que supem a sobrevivncia do mais apto (por exemplo, das ima-gens ou narrativas mais aptas). No obstante os problemas dessa termi-nologia, ela uma forma convenien-te de nomear, por exemplo, aquelas imagens da cultura da internet que se propagam ao longo do tempo e que podem dar origem a inmeras su-bespcies ou variantes. Na minha fala, pretendo discutir as imagens de Grumpy Cat, um meme que ficou to famoso que transbordou o dom-nio do digital, gerando um persona-gem que clebre hoje na televiso e que se tornou at objeto de interesse de artistas.

    IHU On-Line Como pensar a construo de novas metodolo-gias e conceitos em um contexto ps-moderno?

    Erick Felinto de Oliveira Per-gunta impossvel de ser respondi-da numa entrevista. Algumas pistas foram dadas anteriormente. Digo apenas que a prpria noo de me-todologia deveria ser repensada em muitas de suas bases. Claro, no se trata de abandonar ou minimizar a ideia de metodologia, mas de repen-sar suas implicaes totalitrias nas ideias, por exemplo, de uma cincia que produz verdade ou de um co-nhecimento livre de interesse. Gum-brecht apresenta uma interessante (apesar de breve) crtica da meto-dologia especialmente no dom-nio das cincias humanas em seu penltimo livro Stimmungen Lesen (ber eine verdeckte Wirklichkeit der Literatur. Mnchen, 2011), que traduzo como Ler ambincias, mas infelizmente no seria possvel re-produzir o argumento aqui nesse es-pao. Recomendo, todavia, a leitura do livro aos que se interessam pelo tema. Agora existe j traduo em ingls.

    IHU On-Line Qual a importn-cia de compreender as imagens em nossa sociedade?

    Erick Felinto de Oliveira Bom, vivemos numa cultura profundamen-te imagtica, no? Todos deveramos aprender a ler as imagens, e pen-so que o cinema uma dimenso das experincias tecnolgicas onde poderamos desenvolver belamente

    essas habilidades. curioso tambm perceber que a mesma resistncia que certos setores da comunicao tm com relao filosofia se repro-duzem no caso do cinema ou mesmo da cibercultura entendida por al-guns como algo que no da ordem da comunicao. Mas, afinal, quem sabe o que comunicao? Estou ainda espera de algum que me es-clarea quanto a isso.

    Eu digo com enorme convico: o cinema uma das mais importan-tes ferramentas para entender cir-cuitos e prticas comunicacionais da contemporaneidade, bem como as relaes entre esttica e comu-nicao. A ausncia de uma cultura cinematogrfica um dado deplor-vel entre muitos pesquisadores de comunicao. Enquanto na Frana se aprende a ler e investigar o cinema em nvel de segundo grau, aqui no temos o costume de oferecer uma educao dos cidados para a mdia. Precisamos ensinar as pessoas no apenas a pensar criticamente sobre os meios, mas tambm a se apro-priar deles, de modo a criar um ce-nrio comunicativo mais polivalente e mltiplo. E entender alguns modos de funcionamento das imagens fundamental para isso.

    Leia mais...

    >> Erick Felinto j concedeu outras

    entrevistas IHU On-Line. Confira:

    Um terico barroco? Publicada na

    edio nmero 399, de 20-08-2012,

    disponvel em http://bit.ly/SJYrjc

    Um futuro complexo, hbrido, in-

    certo e heterogneo. Publicada na

    edio nmero 375, de 03-10-2011,

    disponvel em http://bit.ly/orp7tJ

    A era da memria total e do es-

    quecimento contnuo. Publicada na

    edio nmero 368, de 04-07-2011,

    disponvel em http://bit.ly/mGxCcU

  • SO LEOPOLDO, 20 DE MAIO DE 2013 | EDIO 419

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    As novas relaes entre as imagens tcnicas e a identidade das cidadesAs tecnologias contemporneas, em vez de afastarem as pessoas da experincia off-line, as aproximam de experincias urbanas, avalia o professor Tiago Ricciardi Correa Lopes

    Por Ricardo Machado

    Depois de muitos analistas de mercado nas dcadas de 1980 e 1990 proje-tarem um futuro em que as imagens tcnicas possibilitariam a criao de espaos digitais fidedignos realidade concreta, para o professor Tiago Ricciardi Correa Lopes, o que vivemos atualmente uma virada em relao a essa previso otimista. As ima-gens esto sendo utilizadas, cada vez mais, com a finalidade de possibilitar variadas for-mas de conexo entre os espaos urbanos e seus habitantes, avalia ele em entrevista por e-mail IHU On-Line. Nesse sentido, no-vas experincias na produo e consumo de produtos audiovisuais tm surgido no cenrio contemporneo. desde essa perspectiva que venho observando a emergncia de no-vos formatos narrativos que se fundam no po-tencial expressivo dos espaos fsicos e geo-grficos ativado pelas tecnologias imagticas: experincias como as de cinema locativo, que demandam o deslocamento fsico do espec-

    tador pela cidade para acessar as partes do filme, que, por sua vez, so assistidas em telas de telefones celulares, indicam a fuso entre zonas fronteirias que conectam universos on e off-line, complementa.

    Tiago Ricciardi Correa Lopes doutorando em Comunicao no Programa de Ps-Gradu-ao da Unisinos, onde tambm fez mestrado na mesma rea, e atualmente professor nos cursos de graduao em Publicidade e Propa-ganda, Comunicao Digital, Jogos Digitais e Realizao Audiovisual, dando tambm au-las nos cursos de especializao em Cultura Digital e Redes Sociais e TV e Convergncia Digital, coordenando o Grupo de Estudos em Narrativas Interativas, vinculado ao curso de graduao em Jogos Digitais. Ele fez a gradua-o em Publicidade e Propaganda pela ESPM--RS e o representante da sociedade civil no Conselho Deliberativo da Fundao Cultural Piratini.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Como pensar as imagens como elementos narrativos das cidades?

    Tiago Lopes Atualmente, as tecnologias informacionais esto po-tencializando a produo de imagens tcnicas que se voltam para o terri-trio urbano: mapas digitais, grafites eletrnicos, aplicativos para disposi-tivos mveis baseados em realidade aumentada, projees mapeadas em fachadas de prdios e tantas outras manifestaes imagticas de nosso tempo apontam para novas relaes que esto sendo estabelecidas entre o universo das imagens tcnicas e a

    identidade das cidades. Nesse senti-do, as imagens esto sendo utilizadas, cada vez mais, com a finalidade de possibilitar variadas formas de cone-xo entre os espaos urbanos e seus habitantes. desde essa perspectiva que venho observando a emergncia de novos formatos narrativos que se fundam no potencial expressivo dos espaos fsicos e geogrficos ativado pelas tecnologias imagticas: expe-rincias como as de cinema locativo, que demandam o deslocamento f-sico do espectador pela cidade para acessar as partes do filme, que, por sua vez, so assistidas em telas de

    telefones celulares, indicam a fuso entre zonas fronteirias que conec-tam universos on e offline por um lado, o software executado no interior dos dispositivos mveis conduz a um tipo de experincia caracterizada pela intangibilidade das imagens tcnicas informacionais e, por outro lado, o deslocamento pela cidade remete a prticas de experimentao dos es-paos urbanos, como o passeio turs-tico ou as derivas situacionistas, que acontecem sem qualquer mediao tecnolgica.

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    IHU On-Line Em que medida as imagens podem nos ajudar a enten-der a identidade de determinados lo-cais, tendo em conta sua experincia de professor, em 2011, no curso Cida-des Transmdia, em Mlaga, na Espa-nha e este ano no Rio de Janeiro?

    Tiago Lopes A proposta que orienta as atividades do projeto Ci-dade Transmdia conduz ideia de que nas materialidades concretas dos objetos que integram os espaos urbanos residem os rastros de uma memria congelada das cidades. Essa memria se conecta diretamente ao imaginrio dos seus habitantes e in-cide diretamente sobre a identidade dos lugares. No entanto, ainda que as possibilidades para que essa memria dos lugares seja acessada e atualiza-da, comum que a identidade de um local seja construda atravs de certas discursividades hegemnicas, sobre-tudo aquelas que se produzem no interior dos grandes veculos de co-municao de massa, geralmente mo-tivadas por interesses mercadolgicos e polticos, que acabam por gerar uma sombra sobre outras formas de ver e compreender a cidade, que ficam re-legadas a uma espcie de periferia do pensamento sobre as cidades.

    Assim, o projeto Cidade Trans-mdia prope justamente a criao de estratgias metodolgicas para resgatar e dar forma a essas vises perifricas sobre determinados es-paos urbanos. E nesse sentido as imagens tm um papel fundamental, no somente as imagens tcnicas pro-priamente ditas, como as fotografias ou mesmo os materiais audiovisuais, mas quaisquer recursos que nos au-xiliem a imaginar a cidade, como, por exemplo, as histrias contadas na for-ma de relato pelos moradores de uma determinada regio em que o projeto esteja acontecendo.

    Todo esse material imagtico nos auxilia a ampliar o olhar sobre uma determinada regio de uma cidade. So varias as etapas at que se che-gue ao resultado final, que a pos-tagem de produes audiovisuais em um mapa digital, hospedado em uma plataforma online, que de certa forma tenta dar forma a certos olhares sobre a cidade produzidos durante a realiza-o do projeto.

    IHU On-Line Considerando a perspectiva de Didi-Huberman1 como vemos o que nos olha , que mudanas existem na forma pelas qual as imagens nos olham a partir de diferentes dispositivos (computa-dor, tablet, celular, etc.)?

    Tiago Lopes Estamos vivendo uma espcie de virada em relao ao modo como muitos tericos e analis-tas de mercado das dcadas de 1980 e 1990 imaginavam o futuro das ima-gens tcnicas, embalados principal-mente pela ascenso das tecnologias informacionais de realidade virtual, que despontavam como novidade naquele perodo: um mundo inteira-mente simulado, que nos envolveria por completo em um oceano de es-tmulos sensoriais matematicamente calculados, que nos daria a impresso de estar vivendo em outra realidade. De modo geral, se esperava muito mais das tecnologias de realidade vir-tual se comparado ao que elas, hoje, nos oferecem. Por outro lado, se a realidade virtual no se tornou o pa-dro esttico das tecnologias de ima-gem de nossa poca atual, outras pos-sibilidades parecem estar ganhando destaque ultimamente; o caso, por exemplo, das tecnologias de realida-de aumentada que esto deixando de ser uma promessa para ingressarem definitivamente no cotidiano de todos ns.

    Google GlassO lanamento dos culos de

    realidade aumentada do Google, o Google Glass, nem bem foi lanado e j se tornou a principal pauta de es-peculaes do mercado de inovaes tecnolgicas. No sabemos ainda se os culos do Google vo, de fato, emplacar no mercado, mas esse no o ponto principal; o que de fato importa perceber que h todo um movimento da indstria que vai numa espcie de contramo da realidade virtual: enquanto a realidade virtual se caracteriza pela simulao de es-paos tridimensionais integralmente

    1 Georges Didi-Huberman (1953): filso-fo, historiador, crtico de arte e professor da cole de Hautes tudes em Sciences Sociales, em Paris. De suas obras traduzi-das ao portugus citamos O que vemos, o que nos olha (So Paulo: Editora 34, 1998; Porto: Dafne, 2011). (Nota da IHU On-Line)

    virtuais, acessados atravs de capace-tes especiais e outros acessrios que bloqueiam inteiramente os estmulos visuais e sonoros externos represen-tao projetada por esses dispositivos eletrnicos, o conceito de realidade aumentada presente em dispositivos como o Google Glass busca uma inte-grao da experincia sensorial com o espao fsico exterior, adicionando camadas de informao (sobretudo grfica) ao campo de viso do usurio.

    De fato, bem provvel que toda essa mudana em relao ao desen-volvimento aplicado de tecnologias de produo de imagens informacio-nais esteja acontecendo em grande parte em virtude do fenmeno de ex-panso acelerada de produtos e ser-vios baseados em tecnologias com-putacionais mveis, que possibilitam diferentes formas de aproximao entre os espaos informacionais e os espaos fsicos e geogrficos.

    CiberespaoNesse sentido, o prprio concei-

    to de ciberespao, muitas vezes usado para designar esses lugares incorp-reos que tomam forma na internet ou em ambientes imersivos de simu-lao, est se tornando insuficiente para abarcar a rede de novas prticas operadas sobre as tecnologias com-putacionais contemporneas, princi-palmente se estivermos nos referindo ao universo dos dispositivos mveis e das redes telemticas sem fio. Mais do que nunca, o ciberespao parece transbordar para fora das fronteiras dos suportes tecnolgicos e, de certa maneira, est se impregnando e inva-dindo o universo dos objetos fsicos, dos territrios geogrficos e mesmo das estruturas orgnicas, como o cor-po humano. Se h alguns anos atrs costumvamos reservar um perodo de tempo de nosso dia (e, no raro, tambm um espao fsico em nossa casa) para entrar na internet, hoje sequer usamos essa expresso, tama-nha a mudana operada em nossos usos de tecnologias conectivas em pouco mais de uma dcada desde o perodo de popularizao dos compu-tadores pessoais e da abertura para comercializao da internet.

    Quando atribuo a responsabili-dade dessa mudana de paradigma ocasionada pelos produtos e servios

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    baseados em tecnologias computa-cionais mveis, refiro-me, claro, aos dispositivos portteis, sobretudo os smartphones, tabletes e os servios a eles associados, mas tambm est includa a uma extensa cadeia de produo de novos produtos, como roupas, eletrodomsticos e objetos variados presentes em nossa vida co-tidiana, que passam a hospedar tec-nologias computacionais em sua cons-tituio material. Toda essa expanso das tecnologias computacionais est causando uma mudana no modo como percebemos as coisas e, o que ainda bastante estranho, mas no totalmente inesperado, o modo como as coisas passam a nos perceber. Isso porque as tecnologias computacio-nais que integram esses objetos so realmente capazes de sentir o nos-so comportamento: por exemplo, tec-nologias como as do dispositivos GPS sentem o nosso deslocamento pela cidade, enquanto que outras, como as que esto embutidas em videogames de ltima gerao, conseguem lite-ralmente ver, atravs de cmeras e sensores, o movimento de nosso corpo. Se as imagens hoje nos olham, j no mais no sentido figurado des-crito por Didi-Huberman, elas esto

    literalmente nos vendo, ouvindo e sentindo todas as nossas aes.

    IHU On-Line no que o uso de aparelhos como o Google Glass im-pacta na nossa forma de ver as coi-sas, tendo em conta que o olhar pas-sa a ser mediado por uma espcie de imagem-filtro?

    Tiago Lopes Creio que a maior contribuio do conceito trazido pelo Google Glass uma proposta de naturalizao de alguns tipos de experincias sensoriais que de cer-ta forma j estamos exercitando em outros meios. Por exemplo, assistir aos acontecimentos do mundo atra-vs da mediao de mquinas j uma prtica incorporada aos modos de consumo de espetculos musi-cais, ocasio em que comumente nos deparamos com uma constela-o de pontos brilhantes formados pelos displays de telefones celulares apontados em direo ao palco. Uma outra caracterstica da experincia sensorial apresentada por um apare-lho como o Google Glass a presen-a de diferentes tipos de informaes grficas que se sobrepem ao olhar de quem utiliza os culos. H quem considere que esse tipo de interface,

    em que elementos grficos se so-brepem constantemente ao olhar, possa atrapalhar ou mesmo distrair o usurio dos culos. No entanto, se observarmos, por exemplo, toda uma cultura que cresce a passos largos em torno dos jogos digitais, fcil per-ceber como essa linguagem visual uma constante em grande parte dos jogos, sobretudo nos chamados FPS, conhecidos tambm como jogos de tiro, que demandam a fragmentao da ateno do jogador: por um lado, ele deve estar extremamente atento s aes do jogo ( frentica a veloci-dade com que os estmulos sensrios produzidos nesse gnero atingem e estimulam o aparato sensorial do jo-gador), mas, por outro lado, ele deve estar sempre monitorando uma serie de informaes perifricas que apre-sentam indicativos sobre o seu esta-do no jogo sua posio no mapa, quantidade de munio, vitalidade, etc. Portanto, o que o Google Glass oferece uma forma de potencia-lizar e popularizar certas prticas e certos hbitos que j se mostram disseminados em vrios nichos e que, pouco a pouco, comeam a ocu-par uma posio central na cultura contempornea.

    Ba da IHU On-LineConfira outras edies da Revista IHU On-Line cujo tema de capa aborda autores e temas ligados comunicao, cinema e pensadores da comunicao.

    Cinema e transcendncia. Um debate. Edio 412, de 18-12-2012, disponvel em http://bit.ly/XypKPR Vilm Flusser: Um comuniclogo transdisciplinar. Edio 399, de 20-08-2012, disponvel em http://bit.ly/Sf21WH Semana de Arte Moderna. Revoluo ou mito? Edio 395, de 04-06-2012, disponvel em http://bit.ly/KceMZx Arqueologia da mdia. Um passado presente. Edio 375, de 03-10-2011, disponvel em http://bit.ly/rik8Ox 100 anos de McLuhan: um terico de vanguarda. Edio 357, de 11-04-2007, disponvel em http://bit.ly/hk5Z9I Processos de comunicao e cultura solidria. Edio 319, de 14-12-2009, disponvel em http://bit.ly/14xHBLZ Conferncia Nacional de Comunicao. Uma conquista e os seus desafios. Edio 315 da IHU On-Line, de 16-11-2009,

    disponvel em http://bit.ly/intEkw Twitter, Facebook, MySpace e Orkut. As redes sociais na web. Edio 290, de 20-04-2009, disponvel em http://bit.ly/hsf9WP Midiatizao. Um modo de ser em rede comunicacional. Edio 289, de 13-04-2009, disponvel em http://bit.ly/intEkw Mdia livre? A democratizao da comunicao. Edio 254, de 14-04-2008, disponvel em http://bit.ly/14xFpEd Histria em quadrinhos. Edio 243, de 12-11-2007, disponvel em http://bit.ly/10DcQ4b A evoluo criadora, de Henri Bergson. Sua atualidade cem anos depois. Edio 237, de 24-09-2007, disponvel em

    http://bit.ly/109AdXn Second Life: uma fbrica de sonhos e desejos. Edio 226, de 02-07-2007, disponvel em http://bit.ly/11KDVd5

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    Os vnculos entre o audiovisual e os dispositivos contemporneosAs relaes de acolhimento e fechamento a produtos audiovisuais permitem pensar uma tica audiovisual contempornea

    Por Ricardo Machado

    Porque entre o audiovisual con-temporneo e o dispositivo con-temporneo, ou seja, aquele que cria dispositivos que enunciam, definem e regulam o que ser contemporneo, h um vnculo direto, um ambiente invisvel. H em ambos (nas plataformas e na contemporanei-dade criada por dispositivos) uma compulso por trnsito e por conectividade, explica a professora Sonia Montao, em entrevista por e-mail IHU On-Line. Para ela, o espao au-diovisual se constitui apenas como uma par-cela de um dispositivo maior, que transpassa por uma srie de questes das gramticas so-

    ciais, de mercado e digitais. O fenmeno s uma parcela de um dispositivo muito maior que permeia as relaes sociais, as empresas, o capital, os fluxos migratrios, os modos de organizao, o trabalho, a produo acadmi-ca e todas as formas de organizao, produ-o e consumo, complementa.

    Sonia Montao graduada em Jornalis-mo, mestre e doutora em Cincias da Comu-nicao pela Unisinos. professora no Curso de Comunicao Digital da Unisinos e atua como jornalista freelancer em diversos vecu-los de comunicao da Amrica Latina.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line O que desenca-deou a sua reflexo sobre as imagens no YouTube e em outras plataformas de vdeo, que foi objeto de sua tese de doutorado?

    Sonia Montao Antes de co-mear o doutorado me chamavam muito a ateno algumas imagens de vdeo que via em diversos suportes como TV ou internet porque havia nelas uma textura diferente, algo com apelo ttil, que convidava a toc--las mais do que a v-las. Algo assim como a emergncia de um novo valor nas imagens que no era mais o valor de exposio que marcou o cinema e a TV, e sim um valor de uso. Eram imagens que me olhavam com muita intensidade e deram incio a uma s-rie de constataes sobre a natureza digital das imagens que permite imi-tar, simular muitas outras naturezas e mixar diversas tecnologias.

    IHU On-Line Como as imagens contemporneas nos olham? nas plataformas de vdeo, o que esses olhares revelam?

    Sonia Montao Com a obser-vao fui percebendo que as platafor-mas como o YouTube so ambientes privilegiados para as imagens passa-rem, crescerem e se multiplicarem de diversas formas e, principalmente, se transformarem em imagens miditi-cas, isto , do campo da comunicao e no do campo de outras cincias. Imagens cuja finalidade a de serem produzidas, distribudas e exibidas como nas mdias anteriores e usa-das, o que prprio das novas mdias e do audiovisual da web. Nunca tantas imagens foram produzidas e postas em circulao. Esse fato, que se tor-nou possvel pela multiplicao de dis-positivos e de softwares do audiovisu-al, tem, nas plataformas de vdeo, sua

    mais expressiva dinmica de atualiza-o. Imagens produzidas nos confins de outros campos, como o cientfico, o de segurana pblica ou privada, o de outras mdias, so remidiatizadas e transformadas em imagens do au-diovisual da web nas plataformas de vdeo. Esses ambientes no so, en-to, simplesmente espaos neutros que contm vdeos. Neles, os vdeos obedecem a certa organizao e a uma espacializao, uma montagem que os enuncia de outro modo e so uma clara expresso da poca que os criou. A interface se atualiza nas pla-taformas que estudei como encontro de diversas realidades a do compu-tador, a humana, a do audiovisual , encontro este mediado por softwares em uma temporalidade u-crnica, em mltiplas direes e em tempo real, sem que necessariamente uma des-sas realidades tenha domnio sobre

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    as outras ou seja possvel estabelecer exatamente os limites de cada uma. Essa uma nova realidade, diferente da televisiva, da cinematogrfica e do real como enunciado at agora nas telas. No h mais a realidade da exi-bio que divide com a tela um dentro e um fora dela; a interface nos inclui, ou melhor, nos devora.

    IHU On-Line Em que sentido as plataformas de compartilhamento de vdeo seriam metfora da contempo-raneidade em que elas emergiram?

    Sonia Montao Porque entre o audiovisual contemporneo e o dispo-sitivo contemporneo, ou seja, aquele que cria dispositivos que enunciam, definem e regulam o que ser con-temporneo, h um vnculo direto, um ambiente invisvel. H em ambos (nas plataformas e na contempora-neidade criada por dispositivos) uma compulso por trnsito e por conec-tividade. Como diz Bauman, voc no iria a nenhum lugar sem o celular (ne-nhum lugar , afinal, o espao sem um celular, com o celular fora de rea, ou sem bateria). Estando com o seu celu-lar, voc nunca est fora ou longe. En-contra-se sempre dentro mas jamais trancado em um lugar. O audiovisual das plataformas tambm um claro espao de trnsito e de conectivida-de, e com ele as plataformas de vdeo, a web e toda a incessante produo de dispositivos de imagens tornam-se cada vez mais mveis, leves e com ba-terias mais duradouras. O fenmeno s uma parcela de um dispositivo mui-to maior que permeia as relaes so-ciais, as empresas, o capital, os fluxos migratrios, os modos de organiza-o, o trabalho, a produo acadmi-ca e todas as formas de organizao, produo e consumo. O dispositivo positiva o trnsito e a conectividade de todas as coisas no audiovisual, na imagem tcnica, no modo de existir na comunidade global. Contudo, en-tre essa enorme produo de dispo-sitivos e seus usos, emergem valores, acontecimentos, usos no previstos e que tendem a tensionar os valores do prprio dispositivo.

    IHU On-Line Como voc inter-preta os memes, esse fenmeno de apropriao de vdeos na internet?

    Sonia Montao Eles enfatizam os usos, destacam o componente ttil do vdeo e da cultura. Eles tm a re-petio, o elemento que permanece e, de outro lado, eles contm tambm o acaso e o acontecimento que pos-sibilita um remix de imagens e imagi-nrios com uma apropriao do sof-tware. Estou lembrando entre tantos memes o modo como os usurios se apropriaram audiovisualmente de um fato: o fechamento do site Megau-pload. No dia em que isso aconteceu houve desde um desenho animado de pssaros produzido na Pixar onde pela apropriao de um usurio, claro os pssaros conversavam nas legendas sobre o fechamento do site at um remix do filme A queda. Neste ltimo um usurio traduzia em legen-das as falas em alemo onde suposta-mente Hitler pedia um descanso e su-geria baixar um filme do Megaupload e se enfurecia quando avisado de que o site tinha sido fechado. O que isso tudo? A web se mostra dinmica para alguns usos e ainda rgida para ou-tros. Embora seja a interface que mol-da os usos, a apropriao das imagens leva a modos imprevistos de mon-tagens audiovisuais e constri telas virtuais nas quais emerge uma nova imaginao: trans-histrica, transmi-ditica, um grande caleidoscpio au-diovisual que conecta profissionais e amadores. Cria-se um novo ambiente que muda a viso de ns mesmos e

    do mundo e nosso modo de agir sobre ele. O ambiente da plataforma cons-tri conectividades com todo um ar-quivo audiovisual virtual que est no ambiente fora da plataforma, estabe-lecendo tambm novos enunciadores audiovisuais, como a webcam e seus gneros, o celular e suas estticas, suas montagens, seus novos enqua-dramentos sem gravidade, tremidos, alternativos a um enquadramento te-levisivo que tinha domesticado nosso olhar.

    IHU On-Line Que tendncias essa generalizao do vdeo aponta?

    Sonia Montao Pode ser que, em um futuro prximo, tenhamos muitas outras formas de capturar e compartilhar ou transmitir vdeos ao alcance de todos, por meio de cu-los, da roupa e de dispositivos que atravessem cenrios mais ntimos e difceis de aceder, como as tempesta-des neuronais, que j fazem parte de vdeos produzidos por altas tecnolo-gias na neuromedicina. Entretanto, a interface envolvendo tecnologia, hu-mano e audiovisual parece ser o que, em todas essas mudanas velozes e provavelmente insuspeitadas, dure. O fazer avanar as tcnicas, como Benjamin o entendia, est no modo como se criam espaos, ambientes e ressonncias entre esses trs atores. A criao de dispositivos por parte do dispositivo contemporneo encon-tra, nas plataformas de vdeo, certo enunciado apaziguador: ns, nos-sos vdeos e o que seja que nos per-mita faz-los e distribu-los estaremos sempre ali com uma interface amig-vel, simples, divertida. De alguma maneira, as plataformas enunciam que o mundo que conhecemos ainda permanece, que haver sempre uma barra de navegao que nos ajude a pensar assim e um conjunto de links e tags que traduzam o caos para trnsi-to e para a conectividade. As platafor-mas de vdeo so ambientes onde ao mesmo tempo o audiovisual continua (pelo menos, em algumas de suas atu-alizaes) sendo o que conhecemos e, simultaneamente, comea a ser ou-

    Porque entre o audiovisual

    contemporneo e o dispositivo

    contemporneo (...) h um vnculo

    direto

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    tra coisa: banco de dados, interface, emergncia do valor de uso. A web e particularmente essas plataformas se enunciam como lugar de passagem de toda a produo audiovisual na cultu-ra (a anterior e a atual, a miditica e a extramiditica) e assim enuncia-se o audiovisual como o modo de vida con-temporneo: o que chamo de audiovi-sualizao da cultura.

    IHU On-Line Em sites como o YouTube encontramos numa mesma imagem um filme clssico com uma publicidade para perder peso e um comentrio de um usurio. Estar-amos nos habituando a um tipo de imagem diferente, que une realida-des que costumavam se excluir?

    Sonia Montao Sim, mais do que imagens, alguns autores as cha-mam de entre-imagens, imagens que arrancam contextos, pedaos de mundo, com pedaos da histria, com pedaos de sonho, e do a ver a po-tncia do falso de que falava Deleu-ze como alternativa ao paradigma do real, da verdade nica, cortando, colando, compondo fbulas. Entretan-to, ainda h molduras que hierarqui-zam essas imagens. o caso da moldu-ra player, onde geralmente visto um vdeo. Ela parece aprisionar o vdeo e estabelecer dentro da web um lugar onde ele deve permanecer e ser reco-nhecido como tal. Os players, as telas e suas materialidades so, no conjun-to do audiovisual da web, o elemento mais resistente s temporalidades do audiovisual, que avana em todas as direes. Contudo, so eles, nas inter-faces criadas pelas plataformas, que servem como delimitadores dos espa-os-vdeo, plataforma e usurio, at porque o espao o que comprado e vendido, comercializado, inclusive dentro do player. No momento, os players e a distribuio espacial dos elementos em torno dele funcionam como espaos de poder que contri-buem para a positivao do vdeo no dispositivo contemporneo e para es-tabelecer, com ele e em funo dele, trnsitos e conectividades. Isso tudo,

    embora players e telas bem delimita-dos resistam na produo de sentido sobre o que vdeo. O audiovisual, nas plataformas de vdeo, acontece na interface, no no vdeo isoladamen-te. O audiovisual de interface inclui o usurio como parte de uma rede heterognea de elementos, incluindo aquilo que costumamos chamar de vdeo, mas v o vdeo como processo, no como produto. O audiovisual de interface pe em conexo novos tipos de montagem e leva a compreender o mundo e a histria como uma ima-gem interativa que sempre pode ser remixada.

    IHU On-Line Essas questes problematizam de alguma maneira a questo da alteridade, do outro, nem que seja um outro audiovisual?

    Sonia Montao Com certeza. Um novo ambiente com uma certa ontologia de banco de dados, como o das plataformas de vdeo, d lugar ao encontro do totalmente outro, a alteridade absoluta de que fala Der-rida. O recm-chegado (arrivant) que chega e acontece sem aviso simples-mente chega, e acolh-lo sem limites o imperativo da hospitalidade incon-dicional. Uma hospitalidade que exige a exposio incondicional e incalcu-lvel (no possvel prever) ao que

    acontece: quem quer que seja, o que quer que seja. Esse o que quer que seja o acontecimento singular, sur-preendente, excepcional, excessivo e inaproprivel do que chega ou aconte-ce. O que quer que seja no marca, por conseguinte, a indiferena do que vem, mas , pelo contrrio, a marca da singularidade absoluta e excessiva do que chega ou acontece. A natureza do audiovisual banco de dados, do audiovisual permeado de valor de uso predispe as imagens ao aconteci-mento. O acolhimento ou fechamento a essa hospitalidade primeira, a aber-tura audiovisual ao totalmente outro ou a xenofobia das imagens audiovi-suais, e as expresses que imagens, sejam elas vdeos, interfaces, usos ou ambientes, tomam nos processos au-diovisuais so um tema de extrema atualidade e levariam a formular, em novas pesquisas, uma tica do audio-visual contemporneo.

    O acolhimento ou fechamento a

    essa hospitalidade primeira (...) levariam a formular

    uma tica do audiovisual

    contemporneo

    Leia mais...>> Sonia Montao j concedeu outras

    entrevistas IHU On-Line. Confira. O impacto ambiental do consumo

    de carne. Entrevista especial com

    Srgio Greif e depoimento de Sonia

    Montao. Publicada nas Notcias

    IHU On-Line, de 05-11-2007, dispo-nvel em http://migre.me/4dQpr

    Ecologia da mdia e a percepo do

    mundo. Publicada na IHU On-Line nmero 357, de 11-04-2011, dispo-

    nvel em http://bit.ly/hwsnhr

    >>Confira tambm outros textos de

    Sonia publicados pelo IHU:

    O programa Linha Direita: a socieda-

    de segundo a TV Globo. Edio n 3

    dos Cadernos IHU Ideias, disponvel em http://migre.me/4dQjJ

    A Construo da Telerrealidade: O

    Caso Linha Direta, Edio nmero

    4 dos Cadernos IHU, disponvel em http://bit.ly/114tPlM

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    A imagem como sntese da fotografia e do fotgrafoFotgrafo e professor da Unisinos, Flvio Dutra fala das relaes entre o produtor e a imagem produzida

    Por Ricardo Machado

    O desafio da fotografia, em uma era de profuso absoluta de produo e consumo de imagens, ser diferente para no passar despercebida. Para o profes-sor e fotgrafo Flvio Dutra, que concedeu entrevista por telefone IHU On-Line, a am-plificao dos discursos dentro das imagens o que permite uma fotografia ter maior rele-vncia no s de informao, mas tambm de reflexo dentro da contemporaneidade. Para ele, a fronteira entre fotgrafo e fotografia borrada por uma presena de ambos nestes dois espaos. Nesse contexto, Flvio conside-ra que, na relao entre imagem e pessoas, o fotgrafo quem v mais. Certamente o fotgrafo tambm constitui o que ele est

    criando como imagem, isso um princpio da fotografia, pois ela, a fotografia, no est no que a pessoa est vivendo, mas no que as pessoas querem ver daquilo que esto vi-vendo. Nesse sentido tambm, a fotografia sempre uma construo que o fotgrafo faz a partir de uma inteno e um desejo do que ele est vendo. Por isso, para mim, a imagem sempre mais vista por quem faz, que o con-trrio, sustenta.

    Flvio Dutra formado em Histria e em Jornalismo, pela UFRGS. Possui especializao em Docncia no Ensino Superior, pela Unisi-nos. Atualmente, fotgrafo do Jornal da Uni-versidade, da UFRGS e professor da Unisinos.

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Na fotografia, como se d a relao entre fotgrafo e imagem? Quem olha quem?

    Flvio Dutra Isso difcil de res-ponder, porque h vrios nveis disso. Existe uma discusso que sempre os alunos trazem, talvez porque tenham uma dificuldade inicial, que a rela-o de como se aproximar do que se fotografa. H sempre uma tendncia enorme das pessoas a fotografarem a distncia, por temerem a relao com o que se fotografa. Isso me parece ser um gostar de olhar a imagem e temer ser visto por ela. Tentando pensar em termos concretos, como fotgra-fo, sempre uma via de duas mos: o fotgrafo olha a imagem e a ima-gem olha o fotgrafo. Penso isso no sentido do aprendizado. Certamente o fotgrafo tambm constitui o que ele est criando como imagem, isso

    um princpio da fotografia, pois ela, a fotografia, no est no que a pessoa est vivendo, mas no que as pessoas querem ver daquilo que esto viven-do. Nesse sentido, a fotografia sem-pre uma construo que o fotgrafo faz a partir de uma inteno e um de-sejo do que ele est vendo. Por isso, para mim, a imagem sempre mais vista por quem faz, que o contrrio. inteno que se constri por meio de um aparelho tcnico/tecnolgico, de um discurso que ele est vendo.

    IHU On-Line Robert Capa1 dizia que se a foto no est boa porque

    1 Robert Capa (1913 - 1954): Um dos mais clebres fotgrafos de guerra, Capa cobriu os mais importantes conflitos da primeira metade do sculo XX: a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Sino--Japonesa, a Segunda Guerra Mundial na Europa (em Londres, na Itlia, a Batalha

    o fotgrafo no est perto o suficien-te. O senhor concorda com isso?

    Flvio Dutra Eu gosto muito dessa frase e no contexto do Capa ti-nha ao menos dois sentidos. Primeiro porque ele fotografa guerras, campo, alis, onde ele ficou reconhecido. En-to para ele essa frase d certo sentido heroico para o que ele fazia, porque guerra um lugar de onde preferi-mos estar longe. Ento essa coisa de fotografar de perto tinha, para ele, uma espcie de autoglorificao. Mas eu acho que essa frase tem outra coisa importante, porque estar perto, em minha concepo, mais do que a questo da distncia fsica; envolve estar em relao ao que se est foto-

    da Normandia em Omaha Beach, e a li-berao de Paris), no Norte da frica, a Guerra rabe-israelense de 1948 e a Pri-meira Guerra da Indochina.

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    grafando. Ento eu gosto de pensar que, quando se diz que a pessoa no est prximo do que est fotografan-do, que ela no se est em relao suficiente com o que est sendo fo-tografado. O que importa o quanto a pessoa est dentro daquilo que ela est fotografando, principalmente em uma capacidade de imergir naquilo que est fazendo, o que uma das grandes dificuldades do fotojornalis-mo, pois o fotgrafo tem pouqussimo tempo para produzir o material e faz as coisas sempre na pressa da neces-sidade de produo da rotina do jor-nalismo. Isso resulta em imagens um pouco atravessadas. Agora, quando o trabalho tem um pouco mais de con-dio de envolvimento e imerso, o resultado melhor.

    IHU On-Line Que papel a foto-grafia ocupa em uma sociedade imer-sa em um turbilho de imagens?

    Flvio Dutra Eu estava lendo um texto de Michel Frizot, um histo-riador da fotografia, e ele dizia, mas no sei qual a referncia dele, que atualmente so produzidas 1 bilho de imagens por dia no mundo. Eu penso que a importncia da imagem, do ponto de vista do profissional, produzir algo que tenha uma diferen-a nesse turbilho. Seja essa diferena de contedo, de conceitos, qualidade plstica, ou seja, conseguir fazer ima-gens nesse turbilho que se diferencie complicado. As imagens so dessa loucura cotidiana, tudo tende a se misturar e ficar igual. Por isso que ns damos tanto valor a trabalhos que te-nham certa uma profundidade e que consigam construir discursos que vo para alm da imagem. Talvez a grande diferena entre as imagens esteja na medida em que os discursos se ampli-ficam. Um exemplo de um fotgrafo que faz isso h muito tempo e que talvez seja o maior expoente deste gnero Sebastio Salgado2. Agora ele est apresentando um trabalho, O

    2 Sebastio Salgado (1944): fotografo brasileiro. Nomeado como representante especial do UNICEF em 2001, dedicou-se a fazer crnicas sobre a vida das pessoas excludas, trabalho que resultou na pu-blicao de dez livros e realizao de vrias exposies. (Nota da IHU On-Line)

    Gnesis, que tem essa dimenso, que foge da ideia de turbilho, por con-ta daquilo que ele consegue criar de conceitos.

    IHU On-Line Em que medida a fotografia d a ver lgicas e mecanis-mos socioculturais?

    Flvio Dutra A fotografia sem-pre um ponto de vista. Nunca s uma informao, mas tambm opinio. Em-bora a fotografia apresente tais lgi-cas, ela nunca elucida as relaes, pois sempre uma perspectiva que quer constituir um sentido. Por exemplo, em relao s imagens das manifesta-es contra o aumento da passagem de nibus em Porto Alegre, houve um momento em que a imprensa fez uma autocrtica da prpria cobertura, em que num primeiro momento dava-se nfase baderna, mas houve outro momento em que se percebeu que no era s isso, quando ento mudou o rumo. O que primeiro tentou se mos-trar era a pichao, a violncia, o con-fronto, e isso o ponto de vista a que me refiro. A fotografia, por um vcio de origem, um meio mecnico que mos-tra o mundo, d uma certa aparncia de que o que est sendo mostrado o real. E sabemos que no o real, mas uma perspectiva.

    IHU On-Line O senhor consi-dera que h diferenas entre ver e olhar? Quais?

    Flvio Dutra Essa uma dis-cusso filosfica bastante longa. Eu tenho a tendncia de pensar o ver e olhar em uma perspectiva de pro-fundidade. A viso um dos sentidos mais funcionais, um dos mais atentos que temos, do qual mais dependemos. Porm, ao mesmo tempo penso que o mais mal utilizado porque usamos a viso de uma maneira muito funcional. Uma frase comum pode nos ajudar a pensar isso: olhar com os olhos de quem quer ver. Penso que existe algu-

    ma diferena e isso est na vontade de aprofundar o que se olha.

    IHU On-Line Como o senhor pensa a ideia de que as imagens tam-bm nos olham?

    Flvio Dutra No sei como pen-sar isso de que as imagens nos olham. Mas posso pensar que as imagens nos formam e acho que elas so impor-tantes para a nossa formao. Nesse sentido, aprender a olhar faz com que vejamos de forma diferente, pelo me-nos quando temos a inteno de fazer isso. A consigo me aproximar da ideia de que as imagens nos compem. No entanto, acho que um exerccio que fazemos pouco e aprendemos a fa-zer pouco. Em geral olhamos para as imagens como olhamos para o mun-do, que procurando a informao. Pensamos pouco como as imagens se constituem e nisso que eu acho que termina sendo formado pela imagem, criando essa contrapartida.

    IHU On-Line Em que medida a fotografia nos ajuda a compreender melhor o mundo em que vivemos?

    Flvio Dutra Dentro de toda essa discusso que a tela sempre um ponto de vista e que tem um sentido colocado por algum que a produz, colocado pelas rotinas de produo de quem as produzem, seja no jornal, no museu, em uma exposio, creio que a imagem deve ser vista desta forma. Mas se pensarmos ela apenas como informao, ento acho que no.

    IHU On-Line Considera que h uma maneira mais adequada de ver as imagens? Qual?

    Flvio Dutra a maneira pela qual devemos olhar qualquer discur-so. Que uma maneira atenta, crti-ca e que desfaz o vcio de origem da condio de real. A fotografia briga demais com a relao da suposta re-produo do real. Ter a noo de que ela no tem essa fidelidade uma maneira ideal de ver as imagens com uma qualidade diferente. Isso tanto do ponto de vista de quem olha as imagens, mas tambm de quem pro-duz. Sempre que a fotografia tenta imitar o mundo, do ponto de vista da produo, ela faz isso mal.

    Olhar com os olhos de quem

    quer ver

  • SO LEOPOLDO, 20 DE MAIO DE 2013 | EDIO 419

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    Caminhos para ver o que nos olhaCybeli Moraes explica a necessidade do processo de desconstruo do pesquisador na perspectiva das audiovisualidades na tentativa de entender que as imagens tambm nos observam.

    Por Ricardo Machado

    Desnaturalizar a mecnica do ver uma das maneiras de pensar o olhar. Em uma sociedade imersa em um contex-to abundantemente imagtico, preciso, con-forme aponta Cybeli Moraes, que concedeu entrevista pessoalmente IHU On-Line, per-ceber as sutilezas entre ver e olhar. Quando falamos ver estamos nos reportando mais ao mecanismo tico, que por si s engloba o olhar, mas eu prefiro olhar para determinar esta importncia. Derrida fala em discretiza-o do audiovisual, ou seja, com o tempo o audiovisual foi se tornando discreto a nossos olhos. Esse tornar-se discreto vem ocorrendo desde que o homem desenhou nas paredes das cavernas, destaca Cybeli.

    Para ela, esse processo explica por que um grande volume de imagens so visualizadas e consumidas sem um processo reflexivo, o que, s vezes, representa uma aceitao in-

    voluntria de preconceitos. Cada vez mais naturalizamos processos que no so naturais e agimos como se eles j estivessem no mun-do. Ao fim e ao cabo, a mania de naturalizar e reduzir o olhar ao ver, possibilita de maneira geral as inverdades cientficas, os preconcei-tos e os fundamentalismos das mais diversas ordens, complementa.

    Cybeli Moraes, alm de coordenadora do curso de Comunicao Digital, leciona nos curso de Jornalismo e Publicidade da Unisi-nos, universidade onde se graduou e ps-gra-duou. Tem mestrado e doutorado em Cincias da Comunicao pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos (2007 e 2012). Atuou como assessora de imprensa do Museu de Arte do Rio Grande do Sul, onde editou a re-vista do MARGS (Porto Alegre).

    Confira a entrevista.

    IHU On-Line Que caminhos podemos trilhar para ver o que nos olha?

    Cybeli Moraes Acredito que podemos tentar perceber as imagens por meio de trs movimentos. O pri-meiro deles est relacionado impor-tncia de nos colocarmos no meio da floresta. Nesse sentido, por exem-plo, o corpus da minha pesquisa de doutorado tinha 80 audiovisuais de cinema, vdeo-arte, publicidade, tre-chos de telejornais, vdeo-clipe, etc. Ento circular e se envolver com esta floresta, no fazendo uma distino apressada dos espcimes ou das rela-es entre eles, um primeiro passo. Um segundo movimento a costura

    metodolgica. preciso atuar com esses fenmenos imagticos fazendo tessituras metodolgicas, seja usan-do processos e procedimentos mais estabelecidos, seja se apropriando de tcnicas para lidar com essa flora ou fauna. Nesse sentido, as trilhas que voc menciona na pergunta pre-cisam ser as mais variadas possveis, ou devem ser inventadas para dar conta do que pretendemos observar. O terceiro movimento est relacio-nado ao uso dos dois primeiros para chegar a um terceiro patamar, que conceituar, tentar nomear, o mais aproximadamente possvel, o que es-tamos intuindo, na perspectiva berg-

    soniana12 do termo. Isso exige que a pessoa se desconstrua3 como pesqui-sadora, pois para trabalhar com os fenmenos audiovisuais ou melhor, na perspectiva das audiovisualidades4

    1 Ver dia edio sobre o autor: A evo-luo criadora de Henri Bergson. Sua atualidade cem anos depois. Edio 237, de 24-09-2007, disponvel em http://bit.ly/109AdXn (Nota do entrevistado)2 A partir do mtodo intuitivo desenvol-vido pelo filsofo francs Henri Bergson (1859-1941). (Nota do entrevistado)3 A partir da desconstruo postulada pelo filsofo franco-argelino Jacques Derrida (1930-2004). (Nota do entrevis-tado)4 Criado em 2003 por pesquisadores da Unisinos, consistiu em diretrio que props a configurao do conceito de audiovisualidades a partir de trs di-

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    preciso que nos retiremos do lo-cal habituado de observador para en-tender que as imagens