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ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA ESCOLA PÚBLICA:
Indisciplina e Violência
Erminia de Massena¹
RESUMO
Veem-se praticamente em todas as formas de mídias existentes que é
característica também das unidades escolares públicas do Paraná e
especificamente do público por elas atendido, a apresentação de altos índices
de Indisciplina e de Violência que afetam o trabalho pedagógico como um todo
nas escolas. São muitas as transformações que esses dois assuntos têm
provocado na organização desse trabalho, atingindo diretamente a qualidade
de ensino ofertada. Quando se fala especificamente do trabalho pedagógico,
pontualmente se falam do desenvolvimento, organização e reorganização do
mesmo. Trata-se de ressignificar esse trabalho, uma vez que no mundo
contemporâneo novas mudanças no comportamento e atitudes de todos os
atores da educação e em especial dos alunos tem aparecido, exigindo novos
enfrentamentos a eles. Esse artigo propõe-se a direcionar sua atenção para as
questões relacionadas ao trabalho pedagógico na escola pública, onde a
organização deste requer novas posturas e novos olhares para uma melhor
reorganização no sentido de munir equipe pedagógica e professores de
conhecimentos que levem à melhor compreensão dos problemas atuais.
Partindo dessas considerações este trabalho discute a organização e
reorganização do trabalho pedagógico nas escolas visando a melhoria na
indisciplina e a redução dos índices de violência e dos problemas de ensino e
aprendizagem em específico nas 5ªs séries do Ensino Fundamental.
Palavras-chave: Trabalho Pedagógico; Indisciplina; Violência ¹ Especialização em Ed. Especial- D. M., Pedagogia, Col. Est. Nossa Senhora de Lourdes ² Professor Orientador: Edmilson Lenardão. Participante do programa PDE pela IES - Universidade Estadual de Londrina – UEL.
ABSTRACT
Find themselves in virtually all forms of media exist that is also characteristic of
public school units of Paraná and specifically the public served by them,
presenting high levels of indiscipline and violence affecting the educational work
in schools as a whole. There are many transformations that these two issues
have led to the organization of work, directly affecting the quality of education
offered. When speaking specifically of pedagogical work, occasionally spoken
of the development, organization and reorganization of the same. It's reframe
this work, since in today's world new changes in behavior and attitudes of all
stakeholders of education and especially student has appeared, demanding
new fighting them. This article proposes to direct your attention to the issues
related to educational work in public schools, where the organization of this
requires new attitudes and new perspectives for a better reorganization in order
to equip teaching staff and faculty of knowledge that will lead to better
understanding of current problems. Based on these considerations this paper
discusses the organization and reorganization of educational work in schools to
improve discipline and reduction in the levels of violence and the problems of
teaching and learning in the 5th s specific grades of elementary school.
Keywords: Pedagogical Work; Indiscipline; Violence
INTRODUÇÃO
Este artigo é fruto do trabalho, desenvolvido no Plano de
Desenvolvimento Educacional (PDE), instituído pela Secretaria do Estado da
Educação do Paraná que tem como objetivo principal a ação e reflexão sobre a
Indisciplina e Violência nas escolas públicas do Paraná, visando a mediação e
intervenção direta na prática pedagógica dos estabelecimentos de ensino.
Nas mais variadas situações quando se discute organização,
consequentemente se pensa em: planejar, combinar, estruturar, arrumar, ou
seja, realmente por para funcionar, sistematizar o trabalho.
Neste sentido discutir a organização do trabalho pedagógico nas escolas
é discutir que o trabalho pedagógico deve receber realmente uma
ressignificação. Isto por causa de todas as suas novas atribuições dentro da
educação contemporânea e em todas as modalidades de ensino, da Educação
Infantil, passando pela Educação Básica e chegando até o Ensino Médio.
Também por causa da situação pelas quais passam os professores que
atuavam como pedagogos das escolas públicas paranaenses. Situação onde
eles veem os cargos de antigos supervisores escolares e orientadores
educacionais serem extintos e mesclados atualmente num novo e único cargo
de professor pedagogo.
Diante dessas considerações vê-se que o Trabalho pedagógico no
interior de qualquer escola requer, de acordo com o Projeto Político
Pedagógico e dentro de uma gestão democrática, a participação de todos os
envolvidos.
Cada um dos encarregados de cada instância dentro da escola torna-se
necessariamente um gestor do seu setor.
Assim sendo, o professor é o gestor da sala de aula, assim como diretor,
funcionários e familiares tornam-se os gestores do segmento ao qual eles são
os responsáveis.
Aí começa realmente a ressignificação do trabalho pedagógico para a
construção de um planejamento em que cada um entenda sua função numa
visão particular, porém uma visão que não se perde da visão geral,
transdisciplinar e democrática, onde cada um sabe perfeitamente o que deve
ser feito. Ë preciso planejar, avaliar e executar de acordo com as reais
necessidades da escola, sem excluir as especificidades de cada setor,
considerando a educação como um processo que não se acaba em si mesmo.
Então necessário se faz ter conhecimento real sobre os assuntos, sobre
os problemas que perpassam o ambiente escolar e suas variadas instâncias,
como também aqueles que são divulgados nas mais diversas mídias. O que é
realmente problema no ambiente escolar? O que é relevante saber sobre este
ou aquele assunto, dentro do contexto atual da contemporaneidade?
LENARDÃO (2010, p. 373), nos diz que:
O problema existe? Há violência escolar na intensidade e profundidade que fazem parecer os noticiários da grande mídia? Sem refletir sobre essas primeiras questões, qualquer medida que se pretenda perde, na nossa avaliação, a dimensão da totalidade necessária para entender adequadamente o fenômeno e, deste modo, as práticas visando a soluções tenderão à superficialidade.
Para não cairmos nessa superficialidade é preciso que o Trabalho
Pedagógico atue junto ao coletivo da escola, analisando projetos a serem
implantados, apresentando propostas, sugestões e alternativas viáveis ao
contexto da escola, bem como participando de reuniões coletivas de todos os
setores discutindo a elaboração e a construção do Projeto Político Pedagógico,
sem esquecer a participação efetiva dos alunos nessas discussões para que as
questões de violência e de indisciplina se minimizem no ambiente escolar.
Destarte para a construção desse trabalho coletivo priorizamos aqui a
pesquisa qualitativa dialética, ou seja, partindo de um contexto social e
histórico, abordar as contradições, os conflitos e os interesses antagônicos da
realidade do Colégio Estadual Nossa Senhora de Lourdes, Ensino
Fundamental e Médio, na cidade de Londrina, no sentido de contribuirmos para
a transformação social.
Os sujeitos objetos desse estudo foram professores e alunos das 5ªs
séries do Ensino Fundamental, do colégio em questão.
Essa pesquisa se justifica pelos inúmeros conflitos e tensões existentes
no ambiente escolar contemporâneo, bem como pela situação encontrada no
cargo dos atuais pedagogos que tiveram suas atribuições modificadas em
decorrência das políticas educacionais ao longo dos últimos anos.
Essas mudanças nos encaminhamentos das atribuições dos atuais
pedagogos fizeram com que os mesmos acumulassem funções que
anteriormente eram separadas, como as funções dos antigos supervisores de
ensino e orientadores escolares. Se por um lado, ajudou esse profissional a ter
uma visão mais completa e geral do trabalho, por outro diminuiu o seu tempo
efetivo para ações pedagógicas mais específicas centradas no aluno e
professor. O trabalho do pedagogo tornou-se mais burocrático,
Sentimos através das discussões de grupos que os professores
reconhecem que a melhoria no trabalho pedagógico da escola, com um suporte
adequado dos pedagogos, auxilia de maneira positiva o trabalho do professor
regente de sala de aula, tanto nos conteúdos a serem ministrados, quanto no
que diz respeito às situações de indisciplina, violência e conflitos. Essa
situação nas escolas também é geradora de conflitos entre professores e
equipe pedagógica.
Essas constatações ficaram evidenciadas na utilização de questionários
como instrumentos de coleta de dados que foram aplicados para a Equipe
pedagógica, professores e alunos das 5ªs séries do Ensino Fundamental.
Essas informações evidenciaram algumas fragilidades no trabalho pedagógico.
Para a análise e discussões dos resultados foram feitos encontros com
professores realizando leituras de variadas literaturas e autores sobre o tema
da violência e indisciplina na sala de aula e no ambiente escolar para que
juntos num trabalho coletivo fossem elencados os problemas existentes e a
apresentação de possíveis soluções e/ou encaminhamentos.
DESENVOLVIMENTO
Em nosso país, como também em nosso Estado a violência nas escolas
é um problema muito sério. Os meios de comunicação informam diariamente
sobre as ocorrências de brigas entre alunos, alunos e professores e brigas nas
ruas. Muitos educadores tem se aprofundado nos estudos ou grupos de
estudos sobre a violência nas escolas e em sala de aula, porque toda essa
violência tem contribuído de maneira negativa no processo ensino e
aprendizagem e tem sido um dos entraves na organização do trabalho
pedagógico de muitas unidades escolares. Como combater essa violência? O
que fazer com tanta indisciplina em sala de aula? São questionamentos feitos
por todo o corpo docente das escolas públicas.
É fato que de acordo com os questionamentos feitos a professores neste
trabalho, os mesmos gostariam que as situações de indisciplina, de violência e
conflitos não existissem nas salas de aula, nem na escola como um todo.
Porém sobre os conflitos Ceccon nos relata:
Conflitos existem em toda parte. Não são em sua natureza, nem bons, nem ruins: fazem parte da vida em sociedade. A maneira como lidamos com eles, no entanto, faz com que tenham desdobramentos positivos ou negativos. Quando bem manejados podem levar a situações de intensa criatividade e aprendizagem. Quando ignorados ou mal administrados, podem ter consequências não desejadas. (CECCON, 2009, p.19)
Dessa forma é evidente que não podemos pensar em extinguir
comportamentos não desejados do ambiente escolar. Mas antes de tudo
devemos aprender a lidar com situações conflitantes e gerenciá-las de maneira
a promover mudanças positivas no grupo, estabelecendo um diálogo aberto e
franco sobre o assunto.
Em nossa sociedade, mais especificamente no julgamento dos pais de
nossos alunos, quando se fala sobre escola, normalmente se fala de um
ambiente isento de conflitos e violência.
Para muitos familiares é inadmissível que tanta violência ultrapasse os
muros da escola. Os pais dos alunos acreditam que o ambiente escolar não
serve para a reprodução desse fenômeno. Eles ainda entendem esse ambiente
como um local imaculado e apenas de transmissão do conhecimento escolar.
Apesar das interações sociais que acontecem ali, grande parte dos pais dos
alunos da escola pública não se dá conta das muitas funções da escola na
sociedade atual e não têm uma efetiva participação na vida escolar de seus
filhos.
Segundo YOUNG (2007):
Todo pai e todo professor devem fazer a pergunta: “Para que servem as escolas?”. É claro que a família e a escola não são as únicas instituições com propósitos que devemos questionar, mas são um caso especial. As famílias como tal, têm papel único, que é o de reproduzir sociedades humanas e fornecer condições que possibilitem inovações e mudanças.
A escola é parte da vida social do aluno. Ela está presente no seu
cotidiano. Desse modo, as famílias deveriam participar mais, estar mais
envolvidos com essa instituição para juntos encontrarem soluções viáveis
quando da instalação de conflitos, assim como a escola deveria dar mais
atenção a essa participação através da implantação de projetos ligados à
comunidade.
Revisão de Literatura
A indisciplina, um dos aspectos de toda a violência que está sendo
produzida nas e pelas escolas é uma realidade no cenário educacional
contemporâneo. Ela também é uma das responsáveis pelas causas do
fracasso escolar, obstáculo para um bom desenvolvimento do trabalho docente
e consequentemente discente, já que ela é geradora de situações que
englobam alunos e professores. De um lado, professores cada vez mais reféns
de situações onde impera a indisciplina e as quais ele não tem o menor
domínio de administração, por outro lado, alunos completamente sem limites e
sem regras, ao menos aparentemente.
Entretanto, historicamente, a escola busca inibir os conflitos, fazendo
uso, muitas vezes, da repressão, com ameaças, sanções e coação (VINHA,
2000).
Aragão e Calil (2011) nos dizem que em geral, essa maneira de agir
está vinculada à concepção de conflitos e ao desconhecimento de como se dá
o desenvolvimento da moralidade por parte da equipe escolar, que, ainda que
com uma boa intenção, ao agir desta forma dificulta este desenvolvimento.
Sobre esse desenvolvimento moral falaremos mais adiante.
A respeito da indisciplina, Aquino nos relata que:
A indisciplina é um quadro difuso de instabilidade gerado pela confrontação deste novo sujeito histórico a velhas formas institucionais cristalizadas. Ou seja, denotaria a tentativa de rupturas, pequenas fendas em um edifício secular como é a escola, potencializando assim uma transição institucional, mais cedo ou mais tarde, de um modelo autoritário de conceber e efetivar a tarefa educacional para um modelo menos elitista e conservador. (AQÜINO, 1996, p.45).
A escola, bem como os educadores de uma maneira geral carecem sair
desse molde secular e adentrar de vez num modelo contemporâneo de escola,
mudando alguns paradigmas com relação a maneira de ver os conflitos que lá
se instalam.
Esses conflitos que acontecem sejam como causa, ou ainda como
consequência da indisciplina, bem como os demais conflitos naturais entre os
sujeitos, “podem ser construtivos ou destrutivos, sendo que a atitude do
educador será fator diferencial” (VINHA E ASSIS, 2005, p. 1).
Segundo LA TAILLE, (1996, p. 9-10), o tema é delicado, perigoso até.
Por três razões:
A primeira: pode-se facilmente cair no moralismo ingênuo e, sob a aparência de descrever o real, tratar de normatizá-lo. Por exemplo, a indisciplina em sala de aula seria decorrência da falta de valores de nosso tempo. Porém, falta de quais valores? A segunda: o reducionismo, que explica um fato por uma única dimensão Existe o reducionismo psicológico que, ao fazer abstração de características sociais, culturais e históricas, reduz o fenômeno estudado ao jogo de mecanismos mentais isolados do contexto em que estão. Porém há também o reducionismo sociológico que consiste em atribuir as causas gerais todo comportamento humano, desprezando variáveis psicológicas (estas consideradas como mero subproduto de determinações sociais). Para fugir do reducionismo, duas soluções: ou possuir um grande sistema explicativo que articule
várias dimensões ou, na ausência de tal sistema (que é o caso mais frequente), situar claramente a análise no nível escolhido e sem afirmar a onipotência da explicação apresentada. A terceira: a complexidade e, até, ambiguidade do tema. De fato o que é disciplina? O que é sua negação, indisciplina? Não é tão simples. Se entendermos por disciplina comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá traduzir-se de duas formas. 1) a revolta contra essas normas. 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações.
As discussões em torno do tema são as mais variadas possíveis.
Isoladamente não há um consenso na conceituação do termo disciplina ou
indisciplina. No coletivo esses conceitos podem ser mais bem construídos e
entendidos, de maneira com que esse novo conhecimento possa colaborar
efetivamente na reorganização do trabalho pedagógico e consequentemente
melhorar o trabalho do professor em sala de aula.
Ainda sobre a complexidade do tema disciplina/indisciplina DE LA
TAILLE, (1996, p.10) nos diz:
Disciplina é bom porque, sem ela, há poucas chances de se levar a bom termo um processo de aprendizagem. Porém, a que preço? A rigor, a disciplina em sala de aula pode equivaler à simples boa educação: possuir alguns modos de comportamentos que permitam o convívio pacífico. Pura aparência, portanto, da qual não se procuram os motivos. O aluno bem comportado pode sê-lo por meio do castigo, por conformismo. Pouco importa: seu comportamento é tranquilo. Ele é disciplinado. Isso é desejável?
Há em nossa sociedade um padrão ideal de comportamento estipulado
por regras e papéis sociais, crenças e expectativas. Esse padrão ideal
geralmente acaba sendo introduzido nas escolas como o padrão ideal de
alunos que a escola quer. Porém esse padrão ideal possui formas diferentes
em cada grupo social e em cada contexto histórico e cultural, dependendo
também das transformações sociais ocorridas na sociedade.
No entanto, poderemos questionar sobre o que é um padrão ideal de
aluno? O aluno indisciplinado não faz parte da sociedade e de suas
transformações?
A escola considera muitas vezes que o aluno que não apresenta um
padrão, passa a ser indisciplinado, criando assim um estigma caracterizando-o
como desobediente, desatento, desestruturado e com patologias como:
transtornos psíquicos e neurológicos, transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade, transtornos desafiadores opositivos, disruptivos e etc. Esses
diagnósticos são analisados de modo precário e rápido e deixa a escola isenta,
parecendo que ela não faz parte de todo o problema e que a culpa é apenas e
simplesmente dos alunos.
Nesse sentido vê-se que a escola atual não está preparada
adequadamente para atender a demanda de alunos que apresentam um
comportamento considerado indisciplinado ou disruptivo.
Apesar disso, sabe-se que a escola representa um dos ambientes mais
importantes para o sujeito que lá se encontra. É na escola que se formam e se
estreitam grande parte dos laços afetivos com o outro. Quanto mais esse
ambiente for favorável às relações de respeito, de afetividade, de ensino,
melhor será a convivência de todos ali presentes. É nesse social que se forma
parte da personalidade do sujeito e se faz dele cidadão sabedor de seus
direitos e cumpridor de seus deveres. É na relação com o outro que se constrói
cidadania, que se discutem regras de convivência. E é no interior dessas
relações que se administram, bem ou mal, os conflitos gerados nos mais
variados momentos.
O que temos de pensar quando se fala em conflitos, ou em indisciplina é
a questão da autoridade, deixando de lado o autoritarismo tão presente no
mundo dos adultos.
Para VINHA (1999), hoje em dia, não existe mais a autoridade inerente
ao docente como era percebida antigamente. E isso é bom. A pessoa que tem
autoridade é aquela que impõe determinadas normas que considera válidas.
Sobre essa questão DE LA TAILLE (1995), apud VINHA (1999) nos diz:
O importante é porque o sujeito passa a legitimar (aceitação interna) as normas morais. Ele pode aceitar, por exemplo, que o professor detém o conhecimento, o saber, mas não suas normas de condutas morais. Ele pode aceitá-las devido a um respeito todo unilateral ou porque realmente acredita que a norma é o melhor para todos, a partir do respeito mútuo. Pode ser por um processo reflexivo, em que o indivíduo percebe a necessidade da regra, e participa de sua elaboração (quando possível) de uma maneira autônoma, ou também pode ser por imposição das mesmas por uma autoridade (pais, professores, etc.), favorecendo a heteronomia.
Assim sendo, estudar a questão da autoridade é imprescindível para
todo o corpo docente de uma escola, uma vez que na sala de aula, o professor
é a autoridade constituída e é ele quem administra as situações de indisciplina
e violência nesse espaço. É aí onde nasce grande parte dos problemas que
demandam tempo precioso de todos, inclusive da Equipe Pedagógica e
gestores, desvirtuando a organização do trabalho pedagógico da escola.
Dessa forma é preciso que os professores e equipe pedagógica se
debrucem sobre pesquisas de estudiosos para que os mesmos adquiram a
competência necessária para administrar de forma positiva as situações de
violência e indisciplina no ambiente escolar.
Sobre essa competência, Perrenoud, (2000), apud Ceccon (2009, p.24)
nos relata que “Competência é a capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se
limitar a eles”.
Em se tratando de disciplina e indisciplina, de violência, do trabalho com
o estabelecimento de regras e limites necessário se faz estudar o
desenvolvimento moral nas crianças, pautados nos estudos de Piaget a
respeito do desenvolvimento do juízo moral e que descrevem as importantes
fases ou estágios de desenvolvimento, a saber: o estágio da ANOMIA, da
HETERONOMIA e por último o estágio da AUTONOMIA.
Conhecer esses estágios e suas características é assegurar um
domínio maior na administração das crises geradas por conflitos, indisciplina ou
violência em sala de aula. É organizar o trabalho pedagógico de maneira a
garantir que as regras serão cumpridas, sem, portanto, perder de vista que há
regras que não são negociáveis.
De acordo com VINHA (1999):
Para se realizar um bom trabalho com a construção de normas na escola é importante que o educador conheça a evolução da prática e da consciência das regras (Piaget, 1932/1977), pois, esse estudo auxilia-o a compreender como as crianças as entendem, porque ainda não conseguem cumprí-las, as características de seu desenvolvimento e a sua visão peculiar de mundo.
A apropriação desse conhecimento por parte dos professores com
certeza ajudará os alunos a atingirem um nível de autonomia que se espera
deles no ambiente escolar.
Ora, sabe-se que os PCNs (1997) nos trazem que as escolas devem
educar os alunos para a AUTONOMIA. Porém o que vemos a todo instante são
professores que através de suas atitudes acabam por reforçar em seus alunos
um comportamento que favorece à heteronomia, onde os alunos acabam por
evitar os conflitos, a indisciplina e a violência. É preciso viver esses processos
e aprender com eles, de maneira salutar, buscando soluções positivas para as
situações de violência e/ou indisciplina na escola.
Segundo HENNING (2010, p. 35):
É possível explorar os mais variados aspectos do fenômeno da violência e da indisciplina, fenômeno este expresso em palavras de forte apelo emocional e carregadas de muitos sentidos, sendo, portanto, entendido como algo nem sempre coincidente com os fatos propriamente ditos, nem tampouco, manifesto totalmente nos mesmos fatos, fazendo parte do jogo escondido/revelado e que por isso, exige um trabalho de análise e de crítica.
Esperamos com esse trabalho promover o desenvolvimento da
organização do trabalho pedagógico na escola através da discussão entre
professores, equipe pedagógica e alunos, visando a melhoria da qualidade de
ensino, a diminuição dos índices de violência e de indisciplina na escola
através de uma melhor administração dessas situações por parte dos
professores munidos de um conhecimento efetivo do assunto. É nossa
obrigação gerar ações que possam transformar para melhor o ambiente
escolar.
METODOLOGIA
Esse artigo vem de encontro com a necessidade de novas discussões sobre:
Indisciplina – Afinal do que se trata?
Realizamos uma pesquisa qualitativa dialética, partindo de um contexto
social e histórico para abordar as contradições, os conflitos e os interesses
antagônicos da realidade do Colégio Nossa senhora de Lourdes.
Os questionários inicialmente se destinam aos professores e pedagogos.
Foram elaboradas algumas questões pertinentes sobre as concepções
de educação que cada participante do grupo de estudo.
Através de vários encontros do grupo de estudos foi possível fazer uma
análise do desenvolvimento do pensamento sobre as concepções que cada
integrante possuía e no final dos encontros observarem como ocorreu uma
transformação do pensamento sobre indisciplina na escola.
Foram esmiuçados vários textos sobre a indisciplina na escola: “Para
que servem as escolas?” de Michael Young, “Indisciplina na Escola-
Alternativas teóricas e práticas” 3ª Edição, São Paulo 1996, ”A Indisciplina na
Escola Atual”, “A Questão Ética na Educação Escolar”, “A Violência Escolar e a
Crise da Autoridade Docente” e o livro “Violência, Indisciplina e Educação”, das
organizadoras e também autoras Leoni Maira Padilha Henning e Maria Luiza
Macedo Abbud.
Foram realizados também variados debates sobre o tema Indisciplina na
Escola, sempre voltados a realidade escolar em que estamos inseridos. Foi
debatido sobre a necessidade de inserir o projeto sobre “Indisciplina na Escola”
no Projeto Político Pedagógico.
O referencial teórico utilizado constituiu o suporte para nos
posicionarmos diante das questões levantadas sobre a indisciplina e violência
e também nos permitiu compreender a complexidade do assunto.
Outro aspecto observado refere-se à necessidade de um trabalho
integrado e constante entre escola e família, não apenas no momento em que
há algum problema com o aluno, mas que a escola possa contar com a família
como efetiva parceira em todos os momentos e assim encontrar soluções para
somar as dificuldades que por ventura surgirem no âmbito escolar.
A escola procura através do trabalho pedagógico e de todas as formas
trabalhar no sentido de que ocorram mudanças de comportamento nos seus
alunos, mas não basta que se tenha boa vontade e que se faça um bom
trabalho. Todas as instâncias que participam do processo educativo devem
realizar um diálogo coletivo para encontrar maneiras e ou caminhos efetivos de
se reverter as inúmeras situações de indisciplina e violência, enfim de conflitos
na escola.
É possível que a família possa colaborar para conter a indisciplina na
escola. A família também tem suas angústias, seus temores e espera que o
problema seja discutido e dialogado em conjunto para que família e escola se
conheçam e percebam quais os valores morais que estão sendo repassados
aos sujeitos envolvidos.
Com relação à questão dos valores morais, sabe-se que é na família
que eles são iniciados e cabe à escola a missão de recriar e sistematizar o
conhecimento histórico, social, mas também cabe a ela entender o processo de
desenvolvimento moral para que possa colaborar na formação de sujeitos
autônomos. Pois é através do processo de socialização na escola que a
criança começa a integrar-se ao mundo social, é na interação com o outro que
ela descobre o que pode, o que deve ou não fazer, o que é correto ou não de
acordo com o seu julgamento, mas também de acordo com o julgamento do
outro.
D´elaqua, (2011), nos diz que: o ensino da moralidade está subjacente
à ação docente, não é o alvo principal de sua ação, porém faz parte do ato de
ensinar.
Análise dos resultados
Através deste trabalho foi possível perceber que existe uma quantidade
expressiva de professores, os quais se mostram preocupados em buscar
conhecimentos. Conhecimento este que servirá para melhorar sua atuação
profissional. Muitos deles alegam que as universidades não preparam o
professor adequadamente para atender a demanda da sociedade
contemporânea.
Assim, os professores sentem-se despreparados para lidar com estas
situações comportamentais e na maioria das vezes, esses conflitos acabam
tomando parte do tempo que deveria ser disponibilizado para o trabalho com os
conteúdos para a efetivação do processo ensino e aprendizagem.
Neste contexto questionamos os professores sobre o verdadeiro papel
da escola. Ela vem cumprindo também a sua função social? Ela tem sido
realmente instrumento de construção da autonomia dos nossos alunos e em
especial dos alunos de classe social mais popular?
As respostas da maioria dos professores foram centradas nos problemas
dos alunos que vêm para a escola, desprovidos de limites, educação, respeito
e interesse, ou na família que não cumpre a sua função delegando para a
escola toda a tarefa de educar. Muito pouco se falou sobre socialização e sobre
autonomia.
Vários professores sentiram a necessidade das escolas terem mais
projetos voltados à contenção da Indisciplina e violência na escola.
Assim sendo, tornou-se necessário ampliar o debate sobre o assunto
junto aos demais profissionais da escola buscando alternativas que possibilitem
tomadas de decisões sobre os rumos que a escola deve tomar para que haja
mudança neste cenário.
No Grupo de Trabalho em Rede (G.T.R.), os professores que se
inscreveram demonstraram ter as mesmas angústias dos professores do
Colégio Nossa Senhora de Lourdes, ou seja, o assunto em questão é
preocupação de grande parte dos professores da rede pública do Paraná.
No geral os professores participantes do G.T.R. evidenciaram que há
uma necessidade premente de algumas mudanças nos currículos das
Universidades, pois grande parte dos docentes, em especial os que se
encontram em início de carreira, relataram que se sentem despreparados para
a função de professor, já que sentem falta de mais teoria no que diz respeito à
Didática e Prática de Ensino, bem como estudos na área da Psicologia da
Educação e de se estudar como a criança aprende. Essas disciplinas com
maior carga horária nos cursos de licenciatura poderiam dar um embasamento
maior ao trabalho docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desta forma, o presente artigo, busca a reflexão sobre a indisciplina e
violência na escola, num trabalho conjunto de professores para que os mesmos
possam trabalhar valores e regras de maneira coerente para prevenir
tratamento desigual e remediar os conflitos emergentes.
Para que haja a construção de uma nova situação disciplinar faz-se
necessário a participação de todos; pais, alunos, professores e comunidade,
por meio de ações que valorizem o coletivo da escola.
A violência é e sempre foi um fenômeno humano, isso é fato; porém não
a justifica.
A escola é o espaço da construção das diferenças e dessa forma é
também um espaço de reflexão dos mais variados valores que permeiam a
aquisição do conhecimento e é onde se aprende a respeitar essas diferenças.
Na escola o respeito a essas diferenças está cada vez mais ausente.
E ser um educador nesse ambiente é um processo exaustivo e
desgastante.
Espera-se que os resultados obtidos nesse trabalho visem amenizar os
atos de indisciplina e violência presentes no ambiente escolar.
Concluímos que a maioria dos professores atribui os problemas de
comportamento dos alunos às dificuldades de relacionamento destes com
colegas e/ou professores. No caso da intervenção aqui relatada, as
reclamações apresentadas pelas professoras também acontecem nesta
mesma direção.
Porém, alguns professores reconhecem sua própria limitação e
dificuldade em lidar com as situações de indisciplina, o que possibilitou a
constituição de momentos de reflexão sobre as relações interpessoais em sala
de aula e as possibilidades de mudanças no seu interior.
Essa intervenção pretendeu buscar alternativas de intervenções através
do trabalho coletivo com instrumentos diversificados para minimizar os
problemas de indisciplina na sala de aula.
Foi possível perceber resultados positivos, principalmente no que se
refere às relações interpessoais na sala de aula e na escola como um todo.
Neste sentido, faz-se necessário, o acompanhamento constante
ampliando os canais de comunicação com visitas às salas e conversa informal,
visto que toda mudança na educação se efetiva buscando de forma dialógica,
mudança de postura nas práticas pedagógicas, bem como na forma como se
processam as relações no seu interior, possibilitando assim, sua
transformação.
Esta pesquisa é simplesmente o início de um trabalho sobre o assunto
em questão, e sabemos que ele não se esgota aqui.
A partir dos muitos questionamentos e propostas e reflexões aqui
apontadas, cabe a outros estudiosos, olhar com a devida atenção o problema
da violência e da indisciplina na escola e as consequências do mesmo para a
organização do trabalho pedagógico.
Da mesma forma, cabe também aos mesmos oferecerem soluções para
que nos ambientes das unidades escolares públicas, os índices de indisciplina
e violência se minimizem, maximizando o ensino e a aprendizagem.
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