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ORGANIZAÇÃO ECONOMICA DA AMAZÔNIA ORIENTAL: UMA REFLEXÃO A PARTIR DO DESENVOLVIMENTO DA SIDERURGIA NA
CIDADE DE AÇAILÂNDIA – MA
Walison Silva Reis Universidade Estadual do Maranhão – UEMA/CESI
Paulo Henrique Felix Silva Universidade Estadual do Maranhão – UEMA/CESI
Jailson de Macedo Sousa Universidade Estadual do Maranhão - UEMA/CESI
Resumo O presente estudo tem como proposta central compreender os significados e as características destes projetos no contexto da Amazônia Oriental, tendo como recorte espacial a cidade de Açailândia¹-MA que está localizada na região amazônica na sua porção Oriental. Está cidade vem sendo cenário desde o início da década de 1980 de atividades extrativas, pautadas principalmente na exploração siderúrgica através da produção e transformação de ferro gusa. É válido destacar que estas ideias integram as reflexões feitas no trabalho de conclusão de curso defendida no primeiro semestre de 2012 na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA/CESI, sob a orientação do professor doutorando Jailson de Macedo Sousa. Palavras Chave: Efeitos socioespaciais. Grandes Projetos. Amazônia Oriental. Usinas Siderúrgicas.
Considerações iniciais
Os grandes projetos de investimentos caracterizam-se por movimentar com grande
intensidade elementos como capital, força de trabalho, recursos naturais, energia e
território. A presença de projetos desta natureza é observada de forma bem explicita na
região amazônica que vem sendo palco de grandes investimentos de cunho público e
privado a partir da segunda metade do século XX.
Este estudo apresenta como proposta central a necessidade de compreender os
significados e as características destes projetos no contexto da Amazônia Oriental, tendo
como recorte espacial a cidade de Açailândia-MA que esta localizada na região
amazônica na sua porção Oriental. Esta cidade vem sendo cenário da presença de
atividades extrativas, pautadas na exploração siderúrgica através da produção e
transformação de ferro gusa, desde o início da década de 1980.
A investigação dos efeitos socioespaciais acarretados pela siderurgia da cidade de
Açailândia-MA se mostra pertinente no anseio de conhecer e compreender os efeitos
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positivos e negativos que essa atividade econômica tem causado tanto no cenário
interno de Açailândi como também no contexto regional.
Importa ressaltar ainda que este estudo é fruto de um projeto de iniciação científica
iniciado no ano de 2010 orientado pelo professor M.e. Jailson de Macedo Sousa,
necessitando assim de uma investigação mais profunda em razão das lacunas ainda
abertas. Busca-se entender os reais interesses das empresas instaladas: Ferro Gusa do
Maranhão - S/A (FERGUMAR), Viena Siderúrgica & Cia, Companhia Siderúrgica
Vale do Pindaré (COVAP), Gusa Nordeste e Siderúrgica do Maranhão - S/A (SIMASA)
como também os interesses dos moradores e ao mesmo entender os conflitos ali tecidos.
Em extensão objetiva-se investigar o posicionamento da sociedade civil sobre os efeitos
da siderurgia.
A Geografia como ciência social que estuda o espaço, se preocupa em entender as
várias nuances do espaço e as suas continuas transformações ao longo do tempo.
Espacialidade e temporalidade representam categorias de análise fundamentais da
Geografia que devem ser utilizadas nesse estudo na tentativa de compreender os efeitos
dos grandes empreendimentos na região amazônica com destaque para a Pré-Amazônia
Maranhense. Será sob ótica da Geografia que buscaremos investigar a espacialidade e a
temporalidade dos efeitos da siderurgia e seus significados na cidade de Açailândia-MA
e região.
Este trabalho se mostra relevante para investigação no tocante de ser uma reflexão
acerca de uma realidade antagônica que necessita de mais investigação e de mais
discussão visto que envolve uma gama de agentes com interesses e visões divergentes
no modo de construir o espaço local e regional.
Inquietações e os caminhos empreendidos para a realização da pesquisa
A região amazônica até a primeira metade do século XX era conotada como “Inferno
Verde” expressando dessa forma uma barreira à ocupação humana em razão da
predominância da floresta. No entanto, desde 1950 essa visão vem sendo desconstruída
em razão da necessidade desenfreada promovida pelo sistema capitalista em explorar os
seus recursos naturais. Este fato tem colocado em questão por vários estudiosos a
classificação desta região como a mais nova “fronteira de reprodução do capital”, entre
eles: Bertha Becker e José de Sousa Martins.
3
A política de incorporar o espaço amazônico no cenário da reprodução do capital vem
sendo construída atrelada aos discursos de desenvolvimento. Porém, essa política de
desenvolvimento não se manifesta de forma difusa e nem aleatória. Em razão disso
foram escolhidas algumas espacialidades para serem pólos de investimentos.
A cidade de Açailândia-MA representa uma destas espacialidades para ser um dos
centros de investimento e irradiação de desenvolvimento para as outras regiões. A
política instaurada na cidade de Açailândia é representada através das usinas de
atividade siderúrgica no processo de produção/transformação de ferro gusa. Diante do
cenário de desenvolvimento apresentado nesta porção da região Amazônica o referido
estudo busca questionar.
Qual é a lógica do processo de modernização que vem se processando região
amazônica a partir de 1950?
Como se caracteriza a modernização na Amazônia Oriental? Quais os seus
interesses?
Quais são os reflexos “efeitos” (positivos e negativos) dos projetos
modernizadores através da (siderurgia) no município de Açailândia-MA?
A cidade de Açailândia-MA através da incorporação das usinas siderúrgica
sofreu um processo de modernização até que ponto?
As questões antes mencionadas traduzem a problemática a ser investigada neste
estudo. Diante do reconhecimento da problematização indicada à tarefa proposta a
seguir pautou -se na adoção das metas ou objetivos estabelecidos para este estudo.
OBJETIVOS
Geral:
Compreender os efeitos socioespaciais de lógica positiva e negativa decorrentes
da atividade siderúrgica desenvolvida no município de Açailândia-MA.
Específicos:
Investigar a importância das atividades econômicas para a estruturação da
dinâmica regional Amazônica e seus desdobramentos no município de Açailândia-MA;
Conhecer os principais efeitos socioespaciais decorrente da siderurgia de
Açailândia - MA;
4
Entender a posição das empresas siderúrgicas da cidade de Açailândia-MA e da
população local mediante os efeitos socioespaciais gerados pela atividade siderúrgica e
os seus mecanismos para conquistar os seus interesses;
Região amazônica como novo “eldorado” para a reprodução do capital
A partir de 1950 o objetivo do governo federal pautou-se fundamentalmente em inserir
o Brasil no contexto da economia mundializada. Para concretizar tal objetivo não foram
medidos esforços em adequar todos os espaços ao novo padrão social e econômico
projetado em nível mundial.
A região amazônica juntamente com a região Nordeste representam as espacialidades
que mais foram afetadas por tais políticas, pois essas regiões eram as que apresentavam
os mais baixos índices de desenvolvimento do país.
A partir de 1950 a região amazônica passou a receber atenção do Estado e do capital
nacional e estrangeiro visando à reprodução do capital. Essa reprodução do capital se
apresentou especialmente na forma de grandes projetos, através da exploração dos seus
recursos naturais, particularmente os recursos vegetais e minerais. Está região é
entendida como a mais nova fronteira, sendo compreendida ainda como um dos
epicentros de grandes investimentos, acarretando uma reprodução ampliada do capital
através da difusão dos grandes projetos. São vários os estudos das diversas áreas
epistemológicas acerca das políticas de desenvolvimento que foram lançados na
Amazônia e dos efeitos que elas geraram. A leitura e interpretação que buscamos fazer
neste estudo se pauta principalmente nas contribuições fornecidas pelas ciências
humanas, em particular, a Sociologia e a Geografia.
Os resultados dos estudos atuais realizados pelas diversas áreas do conhecimento só
vem a reforçar a política de cunho colonialista ainda vigente no Brasil. O que se observa
na Amazônia é transferência dos seus recursos naturais para o exterior. O Sudeste
paraense é um retrato visível de que a política colonialista (colônia versus metrópole)
ainda vigora através da exploração da maior jazida ferrífera do mundo por empresas
estrangeiras.
A maioria dos estudos realizados mostra a realidade antagônica na região amazônica
com o advento dos grandes projetos. Estes estudos relatam os efeitos negativos que os
grandes projetos acarretam. De início nossa preocupação central repousa na
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interpretação e no entendimento do processo de modernização notado na região
amazônica para a partir de então compreender os seus significados.
Os significados contemporâneos do processo de modernização da região amazônica
A região amazônica antes da política de desenvolvimento caracterizada pela ação do
Plano de Integração Nacional (PIN) conduzida pelo Estado era denominada de “Inferno
Verde” em razão do seu caráter de espaço vazio em que predominava só a floresta. Essa
região era tida como um espaço hostil e inadequado para a ocupação humana e sem
atrativos para a reprodução do capital.
Porém, essa percepção foi modificada em decorrência das suas fronteiras que estavam
sendo ameaçadas pelas nações vizinhas e principalmente pelos seus valiosos recursos
naturais que representam uma potencialidade econômica e política para o progresso do
país.
Nesse sentido, a região amazônica a partir da segunda metade século XX passou a ser
considerada como a mais nova “fronteira de recursos e de novas oportunidades” que
necessitava ser estruturada através do controle efetivo do Estado (BECKER, 1997).
Sousa (2009) ao refletir sobre esta questão afirma:
A Amazônia, a partir da década de 1960 passou a figurar no cenário nacional como região de excelentes oportunidades e investimentos. A racionalidade imposta pelo capital através de suas distintas formas de organização fez com que a fronteira incorporasse novas características, novas formas e conteúdos. A Amazônia nesse sentido passa configurar-se como espaço privilegiado para atuação ampliada do capital. (SOUSA, 2009, p.75).
A construção de estradas como a Belém-Brasília (BR-010) e a construção de Brasília no
centro geodésico do país constituíram importantes eixos para a ocupação dos espaços
conotados como deprimidos e também como forma de construir ligações comerciais
com as regiões Sul e Sudeste que eram as mais desenvolvidas do país. O governo de
Juscelino Kubistchek representa o afã no anseio de desenvolver a Amazônia e de
integrar esse espaço ao restante do país.
Mas, é no período do governo dos militares que se acentuam as políticas
desenvolvimentistas para essa região. Como elemento de tais políticas pode-se ressaltar
a “Operação Amazônia”, que representou a criação de leis e de instituições incentivadas
pelo Estado na lógica de ocupação e de integração da Amazônia. Os projetos
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implantados no território amazônico obedeceram às regras do ideário de integração
nacional. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) constitui
um dos mecanismos políticos usados para a ocupação da região de forma controlada
(BECKER, 1982).
Dentro da operação Amazônia surgiu em 1966 a Superintendência do Desenvolvimento
da Amazônia (SUDAM) substituindo a Superintendência de Valorização Econômica da
Amazônia (SPVEA). As suas ações eram voltadas para a valorização da região,
assentada no binômio de lógica de desenvolvimento e segurança. O Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND) também direcionou e intensificou suas ações através de
investimentos de projetos de grande porte na região Amazônica. No entanto, o
desenvolvimento não ocorre de forma aleatória e nem de maneira difusa. Desse modo,
nasceu em 19974 o Programa de Pólos Agropecuários e Agromineral da Amazônia
(POLOAMAZÔNIA) que previa a criação de quinze (15) pólos de desenvolvimento,
cada pólo especializado em uma atividade produtiva.
Conforme o Decreto n 74.607, seriam os seguintes centros de desenvolvimento: Xingú-
Araguaia, Carajás, Araguaia-Tocantins, Trombetas, Altamira, Pré-Amazônia
Maranhense, Rondônia, Acre, Juruá, Solimões, Roraima, Tapajós, Amapá, Jurena,
Ariapuanã, e Marajó. Com esses pólos o governo iria canalizar incentivos fiscais e em
extensão implantar infraestruturas que pudessem atrair investimentos de natureza
privada. (BRASIL, 1974).
No contexto destes programas cumpre destacar o papel desempenhado pelo POLOAMAZÔNIA, que preconizou o aproveitamento integrado das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais, em áreas prioritárias da Amazônia. Estes projetos aceleraram a ocupação e o povoamento no âmbito regional, desencadeando impactos sócioambientais positivos e negativos na região Amazônica (SOUSA, 2009, p. 100).
Empresas estatais e privadas desenvolveram importantes papéis no Poloamazônia,
desenvolvendo projetos na área industrial com ênfase no setor minério-metalúrgico. Os
militares acreditavam que só recorrendo aos grandes empreendimentos industriais que a
região amazônica poderia se desenvolver. Essa é a lógica central do desenvolvimento da
região.
Para isso o governo brasileiro se debruçou na busca empréstimos, aumentando a divida
externa do país para investir em infraestrutura, principalmente em elementos na geração
de energia. Em razão disso foram construídas as usinas hidrelétricas de Tucuruí e
7
Balbina. Em extensão o governo usou incentivos fiscais e financeiros para favorecer
projetos industriais e agroindustriais auxiliados pelo capital estrangeiro monopolista.
Sobre este caráter modernizador Santos (2009) comenta:
[....] A modernização do País e do seu território não é apenas uma preocupação do próprio país, mas tarefa de interesse mundial, embora seja a sociedade nacional que deva arcar com esse ônus. O equipamento do território nacional é freqüentemente financiado com a conjugação de recursos nacionais e de recursos externos, na forma de empréstimos multilaterais. O Banco Mundial atento às preocupações de inserção do País na nova ordem econômica mundial foi um desses financiadores de fundo. Essa é talvez, uma das razões pelas quais a dívida externa brasileira, que fora de 3,1 bilhões de dólares e de 21,2 bilhões em 1975, passa a 81,3 bilhões em 1983 e a 105 bilhões em 1989. (SANTOS, 2009, p. 119).
A criação destes centros dinamizadores econômicos na periferia, ou seja, na
região amazônica tinha como escopo difundir tentáculos de desenvolvimento para estas
áreas. Porém, estas ações acabaram causando o acentuamento das desigualdades inter-
regional e intra-regional e também dos conflitos sociais. Desencadeou-se desse modo o
aumento da violência pela apropriação de terras. Para uma melhor compreensão desses
conflitos faz-se necessário discuti-los em um tópico especifico que se segue
posteriormente.
Traços característicos dos projetos “modernizadores” na região amazônica
O discurso de desenvolvimento na nova fronteira² é difundido como algo próspero. No
entanto, a sua materialização é diferente das outras regiões externando o seu lado
perverso e antagônico.
A Geógrafa Bertha Becker (1982, p. 38) ao estudar estes projetos na Amazônia entende
que “Inovação não é sinônimo de desenvolvimento pelo contrário, por vezes provoca
desarticulação da economia regional estimulando efeitos de polarização”. Fica explícito
na fala de Becker (1982) que o desenvolvimento é algo amplo e não se remete somente
ao crescimento econômico, mas, envolve também as questões como sociais,
econômicas, ambientais e culturais.
Tem-se observado uma notória e pública cisão, dos centros de irradiação de
desenvolvimento enquanto ícones de inovação em relação às questões ambientais e
sociais. Esta realidade gera uma teia de conflitos na região amazônica. Para Martins
(2008) a modernidade que se processa:
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[....] Não é feita pelo encontro homogeneizante da diversidade do homem, como sugere a concepção de globalização. É constituída ainda, pelos ritmos desiguais do desenvolvimento econômico e sociais pelo acelerado avanço tecnológico, pela acelerada e desproporcional acumulação de capital, pela imensa e crescente miséria globalizada, dos que tem fome e sede não só do que é essencial a reprodução humana, mas também fome e sede de realização democrática das promessas da modernidade, do que ela é para alguns e, ao mesmo tempo, apenas parece ser para todos. (MARTINS, 2008, p. 18-19).
A modernidade na região amazônica é tecida de maneira desigual e antagônica onde os
interesses do grande capital predomina de forma “corrosiva” em detrimento daqueles
que se encontram subjugados. As populações indígenas e camponesas representam as
classes mais afetadas pela expansão capitalista, através dos grandes projetos
econômicos. As mazelas sociais, principalmente ambientais que o grande capital está
acarretando nessa região é são sua grande parcela ocultados e silenciados.
O progresso propagado através dos discursos que envolvem o crescimento econômico e
a prosperidade na região é baseado na exploração dos recursos ambientais percebidos
como elementos infinitos (BECKER, 2008).
A derrubada das matas para a expansão da soja e da atividade madeireira e das
pastagens são algumas expressões da modernidade na região amazônica juntamente com
a violência. Assassinatos para a apropriação de terras, conflitos sociais e sentimentos de
impunidade de injustiça constituem o enredo central da ocupação recente desta região.
Martins (2008) a este respeito comenta:
Os grandes projetos industriais contribuíram decisivamente para despertar o demônio da política, adormecido na alma dos humilhados e desvalidos da terra, que põe em questão mais do que esses projetos põe em questão o direito de propriedade (tal como esta formulado, em função dos interesses do grande capital rentista e especulativo) e as relações de poder, que os grandes projetos são corrosivo. (MARTINS, 2008, p. 82).
Portanto, os grandes empreendimentos industriais não têm contribuído para a
diminuição das alarmantes disparidades socioeconômicas existentes no espaço regional
amazônico. O que se observa com a implantação desses empreendimentos que tiveram
início na década de 1950 é o seu sentido antagônico. Pois, o que fica em evidencia são
as avaliações parciais que são feitas visando apenas à reprodução do capital, enquanto
isso é explicito a expansão de mazelas sociais como o desemprego, favelização,
marginalização, como também desestruturação do espaço físico.
9
Nesse sentindo, considera-se necessário neste estudo a discussão do sentido do que é
região, visto que os efeitos da atividade siderúrgica desenvolvida na cidade de
Açailândia - MA não se limita somente ao espaço local, pois, se projeta no espaço
regional. Portanto, o conhecimento geográfico na problematização do sentido da região
pode revelar uma contribuição significativa na tentativa de compreender os efeitos da
siderurgia no espaço regional com destaque na Pré-Amazônia Maranhense.
É importante reconhecer as regiões porque elas são indispensáveis para explicar os padrões de organização espacial, e para planejar as atividades que visam intervir nesses padrões. Elas são produzidas por processos econômicos, sociais e políticos que operam em escalas intermediarias, entre local, nacional, supranacional e global. Então o que fica de importante nesse sentido é a necessidade de redefinir as regiões, de criar uma nova regionalização (BECKER, 2001, 652).
Fica claro nas idéias de Becker (2009) que o sentido da região é para a compreensão e a
organização do espaço. O caráter complexo da região é por sua continua construção por
elementos matérias e imateriais em escala multescalar, pois a relação de
interdependência no período atual é algo imperativo visto que a região não se
desenvolve de forma fechada.
Sousa (2009, p. 234) diz que para compreender a região é fundamental conhecer os
agentes que falam pela região e quem efetua os recortes regionais, ou seja, os agentes
que operacionalizam a regionalização bem como os seus interesses. Para Sousa (2009) a
região é uma arena de relação com os agentes endógenos e exógenos em que os
interesses dos agentes exógenos predominam atrelado aos interesses endógenos.
Políticas tais como SUDAM, SUDENE e SUDECO, representam políticas de agentes
exógenos em que os reais autores que constroem e vivem a região não foram
consultados, pois essas políticas tinham interesses específicos para atender grupos
específicos. Essas políticas não abarcaram a verdadeira realidade regional fato este que
tais políticas tiveram muitas falhas.
É interessante nesse sentido situar uma porção especifica da região que vivencia tal
problemática a Pré-Amazônia Maranhense. O município de Açailândia tem se destacado
no contexto regional em relação à dinâmica econômica estadual, contando com produto
interno bruto de 1.767.453 milhões de reais, o que representa em termos percentuais de
uma participação em torno de 4,59 %. Esta dinâmica tem revelado que a maior
participação econômica de Açailândia está associada à produção industrial (indústria de
transformação), contando em sentido bruto com PIB (2008) de 558.155 milhões de
10
reais, o que representa em termos relativos de uma participação de 3,73% do valor
agregado do setor industrial em nível estadual. Entre os principais produtos, destaca a
transformação industrial do ferro gusa que é comandado por empresas nacionais e
multinacionais (exógenos).
No município de Açailândia-MA especificamente no bairro Pequiá observa-se que há
uma relação de disputa de poder entre as empresas siderúrgicas e a população local.
Entende - se que a luta por recursos não se resume a mera conquista e o uso de
determinado bem material ou imaterial. Controlar o território significa mais que usar o
recurso, significa controlar determinada área geográfica, recursos e indivíduos ali
presentes (RAFFESTIN, 1993).
A população local não tem a pretensão de desenvolver o processo de
produção/transformação do ferro gusa, porém, os seus interesses se voltam para o
espaço concreto onde estão territórializados a fauna e a flora para o espaço simbólico
dos significados histórico-culturais e também para os usos presentes e futuros do espaço
geográfico que permite a reprodução do espaço social.
As empresas siderúrgicas, Ferro Gusa do Maranhão - S/A (FERGUMAR), Viena
Siderúrgica & Cia, Companhia Siderúrgica Vale do Pindaré (COVAP), Gusa Nordeste e
Siderúrgica do Maranhão - S/A (SIMASA) orientadas na lógica capitalista se interessam
pelo valor dos recursos naturais, políticos e econômicos, almejando a reprodução do
capital. Contudo é impossível explorá-lo sem exercer o controle total do espaço, ou seja,
sem provocar mudanças nos recursos das superfícies, ou desestruturar espaços
simbólicos e a paisagem.
Portanto, estudar os efeitos seja eles sociais ou ambientais causados por grandes
empreendimentos industriais é fundamental, uma vez que tenta compreender que estes
vão além de questões puramente econômicas, mas que causam uma gama de prejuízos
irreversíveis. O caso especifico da atividade siderúrgica de Açailândia é de suma
importância para investigação e discussão por entender que as usinas siderúrgicas
interferem na organização do território local e regional.
A importância da metodologia para a construção do estudo
Todo estudo de natureza cientifica deve-se apoiar na utilização de métodos, abordagens
e técnicas de pesquisas condizentes com a realidade a ser investigada. O presente objeto
11
de estudo amparado na abordagem marxista visa utilizar o método dialético como
caminho norteador para alcançar os objetivos estabelecidos.
[....] Para a dialética não há nada de definitivo, de absoluto, de sagrado; apresenta caducidade de todas as coisas em todas e em todas as coisas e, para ela, nada existe além do processo interrupto do devir e do transitório. Nada é sagrado significa que nada é imutável, que nada escapa ao movimento, à mudança. Devir expressa que tudo tem uma “história”.(LAKATOS & MARCONI, 2007, p. 103).
A pesquisa seria incoerente caso fosse estudado somente um dos efeitos (positivos
negativos) gerados pelas usinas siderúrgicas. No entanto, este estudo optou pelo
caminho mais complexo por se atentar a estudar os dois efeitos. São muitos os estudos
sobre os impactos socioespaciais que levam com facilidade uma concepção unilateral,
sobre os efeitos dos grandes projetos econômicos.
Para não correr nenhum risco de obter informações incoerentes e imparciais esta
investigação empregou os seguintes procedimentos metodológicos que foram utilizados
nas seguintes fases: Para desenvolver a referida investigação a tarefa inicial objetivou-se
fazer um levantamento do material bibliográfico e conseqüentemente à leitura e
fichamentos de idéias referentes à temática abordada, ou seja, os efeitos (negativos e
positivos) dos grandes projetos na Amazônia Oriental, em particular, através da
siderurgia no município de Açailândia-MA. Segundo Gil (2009, p.44) “A pesquisa
bibliográfica é entendida como aquela que é desenvolvida com base em material já
elaborado constituindo principalmente de livros e artigos científicos”.
A leitura do levantamento bibliográfico é muito relevante no que tange em criar um
pensamento critico no pesquisador sobre a temática. Ela possibilita preparar o olhar do
pesquisador quando ele for realizar a sua atividade empírica, pois, quando o pesquisador
for realizar a atividade de campo ele não irá olhar o seu objeto de estudo como algo
comum, mas sim o contrario, ou seja, o olhar se faz de modo compromissado.
Utilizou-se à também a modalidade de pesquisa pautada na análise documental.
Entende-se como documento, ou fonte primária, “todo material escrito ou não, que
serve de prova, constituído no momento que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois [...]”
(GONÇALVES, 2005, p. 60). Pretendeu-se durante a essa pesquisa fazer uso de
documentos oficiais, documentos jurídicos e documentos estatísticos, tais documentos
foram submetidos a analise critica para verificação da sua fidedignidade no que tange as
suas garantias e valores de conteúdo.
12
Outro instrumento interessante que foi considerado nesta pesquisa foi à pesquisa
empírica que estava apoiada na observação sistemática que segundo Lakatos & Marconi
(2007) ‘é aquela planejada, estruturada, controlada, ou seja, o pesquisador sabe o que
vai procurar’.
Aplicação de questionários e de entrevistas3 serão outros instrumentos também a serem
utilizados na pesquisa in lócus para aquisição de informações coerentes e cabíveis. A
aplicação de questionários se mostra útil em razão da aquisição de informações mais
rápidas e precisas. Já no tocante as entrevistas serão utilizadas as entrevistas de caráter
padronizadas e não padronizadas.
Para Lakatos & Marconi (2007, p. 199) as entrevistas estruturadas “São aquelas em que
o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, perguntas feitas ao individuo
são predeterminadas”. Em relação às entrevistas não estruturadas são aquelas em que o
entrevistador tem a liberdade para desenvolver qualquer situação.
A importância desse trabalho se dá pelas possíveis contribuições de compreender a
relação da principal atividade econômica da cidade de Açailândia-MA e os seus efeitos
socioespaciais no cenário local e regional, pois, é por meio da compreensão dessa
relação que se poderá melhor levantar os mecanismos necessários para uma melhoria
social em relação aos efeitos dessa atividade econômica.
A pesquisa e a edificação dos procedimentos metodológicos
Os grandes projetos industriais sempre causaram fascínio na sociedade contemporânea
em virtude dos supostos resultados de progressos. Porém, o que se nota é um
crescimento desorganizado em consonância com todas as mazelas sociais e ambientais.
A cidade de Açailândia localizada no Sudoeste do estado do Maranhão externa também
o modelo de modernização que é decorrente das políticas conduzidas do Estado na
Amazônia através da criação de pólos de desenvolvimento difundidas na região
amazônica a partir de 1950.
A Pré-Amazônia Maranhense representa um dos (15) quinze espaços, ou seja, pólos
indústrias para irradiar o desenvolvimento. Convém lembrar que o município de
Açailândia nasceu do processo de fragmentação territorial da cidade de Imperatriz em
1981 e foi à espacialidade escolhida para a implantação de cinco usinas de atividade
siderúrgica para o processo de produção/transformação de ferro gusa.
13
Essas usinas siderúrgicas são: Ferro Gusa do Maranhão - S/A (FERGUMAR), Viena
Siderúrgica & Cia, Companhia Siderúrgica Vale do Pindaré (COVAP), Gusa Nordeste e
Siderúrgica do Maranhão - S/A (SIMASA) que são entendidas como independentes, por
elas atuarem somente no estágio de fabricação do ferro gusa que é uma etapa
intermediária na fabricação do aço. Já as usinas siderúrgicas que atuam em todas as
fases de produção são designadas de integradas.
Foram diversas as expectativas que esses empreendimentos causaram na sociedade local
e regional, pois, todos os setores da sociedade enxergaram nesses empreendimentos
uma corrente de dinamização da economia e de um progresso contínuo tanto no tocante
na geração de emprego como na geração de renda e na melhoria de vida da população
local e regional.
A atividade de exploração mineral atinge várias escalas espaciais e os efeitos
socioambientais ocasionados por estes empreendimentos são diversos. No presente
estudo que tem como proposta investigar os efeitos socioespaciais da cidade de
Açailândia-MA acarretados pelas usinas siderúrgicas, objetivamos analisar esses efeitos
de lógica positiva e negativa na escala local e regional, tendo o município de
Açailândia, especificamente o seu distrito industrial como objeto central escolhido para
tal investigação.
A investigação dos efeitos socioespaciais de natureza positiva e negativa acarretada pela
siderurgia na cidade de Açailândia-MA contribuirá no conhecimento do modelo
econômico da segunda maior economia industrial do estado do Maranhão. Portanto,
nossa intenção neste estudo é de compreender o sentido antagônico do referido
empreendimento por isso o interesse de estudar suas diferentes faces e agentes.
No primeiro momento da pesquisa debruçamo-nos na leitura do referencial teórico com
objetivo de acrescentar subsídios na compreensão da problemática, e por seguinte,
foram feitos fichamentos dessas idéias. Paralelamente à leitura das obras foi realizada a
primeira atividade empírica no município de Açailândia no dia 13/03/2010. Buscou-se
nesse momento trabalhar com a observação de assistemática, com intenção de manter o
primeiro contato direto com a realidade do objeto. Para Lakatos & Marconi (2009) a
observação assistemática:
[....] É a técnica de observação não estruturada também denominada de espontânea, informal, ordinária, simples, livre, ocasional e acidental, consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize
14
meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas. (LAKATOS, 2009, p. 195).
Foi observada primeiramente a área que concentra o distrito industrial localizado no
bairro Pequiá, localidade em que estão instaladas as usinas siderúrgicas Ferro Gusa do
Maranhão - S/A (FERGUMAR), Viena Siderúrgica & Cia, Companhia Siderúrgica
Vale do Pindaré (COVAP), Gusa Nordeste e Siderúrgica do Maranhão - S/A
(SIMASA). Buscou-se registrar essa atividade in lócus e para isso foram feitas algumas
fotografias dos elementos observados.
No bairro Pequiá foi observado de imediato a sua estrutura espacial e os problemas
ambientais que a siderurgia causa, tais como à poluição e o suplício da população desse
bairro, em razão da proximidade das suas moradias com as usinas e o descaso do poder
público na tomada de medidas para evitar ou minimizar essa poluição que tanto aflige a
população local.
Com o intuito de aprofundar o referido estudo de acordo com a realidade do objeto
investigado, foi realizada a segunda atividade de campo no dia no 22/06/2010. Ao
contrario da primeira pesquisa in lócus essa segunda pautou-se na observação de cunho
sistemática, onde foram realizados também entrevistas com a população local. A
observação de natureza sistemática é entendida segundo Lakatos (2009):
A observação sistemática também recebe várias designações: estruturada, planejada, controlada. Utiliza instrumentos para coleta dos dados ou fenômenos observados. [....] Realiza-se em condições controladas, para responder a propósitos preestabelecidos. Todavia, as normas não devem ser padronizadas nem rígidas demais, pois tanto as situações quanto os objetos e objetivos da investigação podem ser muito diferentes. Deve ser planejada com cuidado e sistematizada (LAKATOS, 2009, p. 195).
Nesse dia, foram realizadas dez (10) entrevistas no bairro Pequiá. Esse instrumento de
coleta de dados foi utilizado, por obtermos dados objetivos e subjetivos nas falas dos
atores sociais. As entrevistas obedeceram ao padrão estruturado e não- estruturado.
Para Lakatos (2009, p. 199) a entrevista estruturada “É aquela em que o entrevistador
segue um roteiro previamente estabelecido; as perguntas feitas ao individuo são pré-
determinadas. Já as entrevistas não-estruturadas são aquelas:
O entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequada. É uma forma de poder explorar mais amplamente uma questão. Em geral, as perguntas são abertas e podem ser
15
respondidas dentro de uma conversação informal. (LAKATOS, 2009.p. 1999).
A segunda atividade empírica apesar de ter sido uma tarefa cansativa, representou à
parte em que houve mais obtenção de conhecimento a respeito da realidade do objeto,
pois foi o momento em que houve mais diálogo com a população local para aquisição
de informações.
No dia 11/05/2012 foi realizado a terceira pesquisa empírica na cidade de Açailândia. O
propósito dessa terceira atividade de campo foi de colher novas informações e de
aprofundar e atualizar as informações já colhidas acerca da realidade investigada, visto
que a ultima pesquisa de campo foi realizada há dois anos. Sendo dinâmica a realidade
do objeto pesquisado sujeita a constantes transformações, foi considerada a necessidade
de uma terceira atividade in lócus. Foram feitas entrevistas com as mesmas
características da anterior.
As entrevistas foram realizadas com a população do centro urbano de Açailândia como
também com a população do seu distrito industrial. Nessa fase da pesquisa foi realizada
entrevista com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas
de Açailândia (STIMA) o senhor Jarlis Adelino e com o presidente da Associação dos
Moradores do Bairro Pequia o senhor Edvar Dantas, ambos destacaram a importância
das usinas siderúrgicas e os seus impactos positivos e negativos na cidade e região. Foi
aplicado também um roteiro de entrevistas no Centro de Defesa da Vida e dos Direitos
Humanos de Açailândia, que é uma instituição de atendimento social e jurídico a
populações vitimadas de violações de direitos humanos. O CDVDH destacou como vem
sendo a relação das usinas siderúrgicas com cidade em especial com o bairro Pequiá.
Para registrar essa fase da pesquisa foram feitas fotografias e gravações.
Como a realidade investigada envolve vários sujeitos, o presente estudo sempre buscou
ouvir todos os lados em especial as cinco usinas siderúrgicas. Desde o inicio da
pesquisa as cinco usinas siderúrgicas foram procuradas para se manifestarem por meio
de um roteiro de entrevistas-estruturadas. A última tentativa feita para as empresas se
manifestarem foi no dia 13/05/2012. Mas, desde o inicio da pesquisa foram feitas várias
tentativas através de ligações, e-mail, ofícios, para a realização das entrevistas, porém,
as respostas sempre foram negativas. Os motivos das empresas siderúrgicas de não se
manifestarem são desconhecidos.
16
Portanto, o entendimento dessas posturas metodológicas, no processo de orientação da
pesquisa aqui levantado, contribuiu para se chegar aos objetivos propostos. Nesse
sentido, apresentamos os resultados obtidos através da pesquisa de modo que se possam
compreender os impactos socioespaciais positivos e negativos provocados pela
atividade siderúrgica.
Atividade extrativa mineral e os seus efeitos socioespaciais na cidade de
Açailândia/MA
Os resultados da pesquisa referente aos efeitos socioespaciais positivos e negativos
gerados pela siderurgia no município de Açailândia foram obtidos por meio de uma
criteriosa investigação teórica e empírica. As pesquisas empíricas foram realizadas em
três etapas, sendo que a ultima como já foi expressa antes aconteceu no dia 11/05/2012
com o intuito de coletar novas informações. Foi nessa fase que foram coletadas algumas
informações acerca da construção no distrito industrial de Açailândia da mais nova
usina siderúrgica. Essa nova usina siderúrgica que está ligada aos mesmos diretores da
Gusa Nordeste estão com suas atividades previstas para entrarem em execução no
primeiro semestre de 2013.
Esse novo empreendimento ainda em fase de construção já está acarretando uma teia de
efeitos socioespaciais principalmente no que se refere a geração de empregos. Porém, o
presente estudo não incluiu esse mais recente empreendimento na investigação, ou seja,
serão discutidos somente os efeitos socioespaciais provocados pelas usinas siderúrgicas
que estão com as suas atividades de produção já consolidadas tais como: Ferro Gusa do
Maranhão - S/A (FERGUMAR), Viena Siderúrgica & Cia, Companhia Siderúrgica
Vale do Pindaré (COVAP), Gusa Nordeste e Siderúrgica do Maranhão - S/A
(SIMASA).
É cabível destacar que as três atividades desenvolvidas in lócus foram em grande parte
satisfatórias no que tange à aquisição de informações. Porém, algumas informações não
foram possíveis de serem adquiridas em razão das limitações, deixando assim, o
presente estudo com algumas lacunas. A ausência da opinião das próprias empresas
siderúrgicas no estudo representa a principal lacuna deixada.
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Porém, é válido enfatizar que foram feitas várias tentativas para que as usinas
externassem a sua visão por meio de um roteiro de entrevistas-estruturada, no entanto, a
resposta em todas as tentativas foi negativa. Contudo, a presente pesquisa se pautou na
imparcialidade, ou seja, não se ateve á defesa dos sujeitos ouvidos e não ouvidos.
Diante do exposto, destacamos e concomitantemente discutiremos os resultados da
pesquisa. Estes estão dispostos através dos quadros 01 e 03 que retratam os efeitos
ocasionados por essa atividade. Inicialmente apresentaremos e discutiremos os impactos
de natureza positiva.
Quadro 01: Efeitos socioespaciais negativos decorrentes da siderurgia em Açailândia/MA
EFEITOS POSITIVOS CAUSAS CONSEQUÊNCIAS REESTRUTURAÇÃO URBANA
Atender as exigências das siderúrgicas
Mudanças na morfologia urbana
ELEVAÇÃO DO PIB Principal atividade econômica que é a siderurgia
Segundo maior PIB industrial do estado
MIGRAÇÃO Geração de emprego nas siderúrgicas
Miscigenação cultural
GERAÇÃO DE RENDA Desenvolvimento da siderurgia e atividades econômicas complementares
Dinamicidade da economia, emprego, agregação de outras atividades
Dados organizados por Walison Silva Reis
Pôde-se observar que o município de Açailândia passou por um amplo processo de
reestruturação principalmente na questão da sua infraestrutura, passando a receber todo
um arcabouço de estradas, energia, transportes, comércio entre outros elementos.
Essa nova configuração de Açailândia foi financiada pelo setor público que tinha como
pressuposto central atender os interesses da reprodução do capital privado. Ademais,
essa configuração se apresenta de forma desigual. O contraste da morfologia urbana é
apresentado na forma do uso e ocupação do solo urbano.
O estudo da estrutura interna da cidade sempre suscitou questionamentos quanto à
formação histórica do espaço urbano, o seu desenvolvimento e a sua natureza. No
entanto um dos seguimentos do espaço intra-urbano menos compreendido e analisado é
a zona periférica, que neste caso é o bairro Pequiá que se apresenta de forma irregular
com padrões e usos, caracterizados pela descontinuidades espacial e combinados de
forma distinta nos diferentes setores da área.
18
Antes da concretização das indústrias siderúrgicas notava-se certa homogeneidade
espacial no bairro Pequiá, agora com a presença das indústrias siderúrgicas a
descontinuidade espacial como também a social é algo evidente.
É notória a desigualdade da morfologia urbana entre o centro da cidade de Açailândia e
o seu distrito industrial está desigualdade é em razão de um crescimento desorganizado
que tem acarretado novos padrões espaciais e sociais demonstrando assim complexidade
desse espaço.
Houve um destaque da cidade de Açailândia no cenário regional e nacional em razão do
seu pólo siderúrgico, que a colocou como o segundo município do estado em
arrecadação do PIB industrial. Os dados expostos a seguir procura demonstrar a
evolução do PIB industrial do município de Açailândia no cenário estadual ao longo do
ano de 2005 a 2009.
Quadro 02: Evolução do PIB industrial dos cinco principais municípios do Maranhão 2005 – 2009
PIB INDUSTRIAL 2005/2009 MUNICIPIOS 2005 2006 2007 2008 2009 SÃO LUIS 1.996.157 2.546.926 2.473.317 2.942.216 2.661.428 AÇAILÂNDIA 380.101 498.181 528.168 558.150 314.248 IMPERATRIZ 165.006 195.702 233.451 267.030 266.880 BALSAS 52.192 195.702 59.787 59.226 87.149 CAXIAS 141.046 212.839 215.927 172.215 165.035 MARANHÃO 3.929.361 5.031.801 5.058.847 5.838.417 5.536.844
Fonte: IMESC (2009) Dados organizados por Walison Silva Reis (2012)
Os dados apresentados coloca o município de Açailândia como a segunda maior e
economia do estado fato este que representa para as autoridades políticas e para a
grande maioria da população como algo a ser comemorado, pois representa que o
município esta em pleno progresso mesmo que seja em termos quantitativos do que na
qualidade de vida da sociedade.
Os discursos que envolvem questões do PIB do estado é largamente usado para
demonstrar que o município está crescendo. No entanto, observa-se que são
escamoteadas através desses discursos as problemáticas socioambientais gerados em
função deste crescimento. É aceitável o crescimento econômico do município de
Açailândia, porém ele não pode estar dissociado do desenvolvimento social. No entanto,
é público e notório essa separação entre o econômico e o social principalmente no bairro
Pequiá, em que essa cisão se externaliza com muita ênfase nas estruturas de qualidade
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de vida, no uso e ocupação do espaço e nas questões relacionadas às formas de moradia,
saneamento ambiental, saúde e educação.
Outro elemento que merece ser ressaltado é o processo de migração que a cidade de
Açailândia tem atravessado. A imagem do bairro Pequiá como um espaço em que o
emprego é abundante e, por conseguinte, condição para uma melhoria na qualidade de
vida é peça importante para entender como vários atores foram chegando ao distrito
industrial com a perspectiva de obtenção do emprego fabril.
Pessoas vindas de outras regiões e de outras localidades do próprio estado se dirigiram
para o bairro Pequiá que era considerado como o novo “Eldorado”. As usinas
siderúrgicas representam o ícone de desenvolvimento que foi largamente difundido
pelos agentes políticos e pelos meios de comunicação, fato que acentuou o processo
migratório.
Como o município de Açailândia-MA não possuía mão de obra qualificada para a
realização dos trabalhos especializados nas usinas siderúrgicas houve o incentivo de
pessoas com qualificação para a cidade principalmente da região Sul e Sudeste. Essas
pessoas ocuparam em geral os cargos de mais destaque e de maior remuneração,
enquanto que a população local e sem qualificação exercem os outros cargos
principalmente nos altos fornos de produção e transformação do ferro gusa.
No que tange a geração de emprego e renda acarretada pelas usinas siderúrgicas ela não
produziu efeitos significativos para dinamizá-la e nem construiu um parque industrial
dinâmico e diversificado para agregar outras atividades econômicas. No tocante a
geração de empregos pôde-se observar o baixo número de empregos diretos gerados,
não sendo capaz de impulsionar significativas alterações no mercado de trabalho
regional.
Como foram expostos e discutidos os efeitos de lógica positiva que as usinas
siderúrgicas têm acarretado apresentamos agora os efeitos de caráter negativo.
Quadro 03: Efeitos socioespaciais negativos decorrentes da siderurgia em Açailândia/MA
EFEITOS NEGATIVOS CAUSAS CONSEQUÊNCIAS FAVELIZAÇÃO Crescimento desorganizado
no espaço urbano Violência, moradias em áreas de risco
DESTERRITORIALIZAÇÃO Migrações forçadas Desapropriação do território, e perda de identidade
POLUIÇÃO AMBIENTAL Da fuligem de ferro e do barulho das máquinas
Patologias respiratórias generalizadas
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CONFLITOS SOCIAIS Relação da empresa com a sociedade local e regional
Tensão da população local com as usinas siderúrgicas, movimentos sociais
Dados organizados por Walison Silva Reis (2012)
O advento das usinas siderúrgicas, no inicio da década de 1980, tem corroborado para
uma série de mazelas sociais e ambientais. Dentre elas o processo de favelização,
encortiçamento periferização, fato este bem visível no bairro Pequiá. Esse espaço se
encontra em uma situação de ausência de políticas públicas relacionadas às questões de
moradia, saneamento ambiental, segurança, saúde e educação. A população residente
que se encontra em tal situação na sua grande maioria é oriunda de outras localidades
que tinha por perspectiva trabalhar nas usinas, porém, a grande maioria dessas pessoas
por não encontrarem empregos nas usinas e sem condições financeiras para morar em
espaços considerados saudáveis com melhor infraestrutura acabaram residindo em
espaços inadequados para moradia, visto que são decorrentes de invasões, sendo
considerados como locais de risco, pois estão sujeitos a enchentes, desmoronamento.
É nesses espaços que predomina o alcoolismo, venda e uso de drogas, prostituição
violência etc. Portanto, pode-se afirmar que o processo de favelização, depauperamento
presente no bairro Péquiá é uma questão de políticas públicas que merece soluções
concretas e não medidas paliativas.
O processo de desterritorialização é outro efeito negativo que merece ser discutido, pois
esse processo se manifesta a passos galopantes no bairro Pequiá em razão dos efeitos da
atividade siderúrgica.
Haesbaert (2007) ao estudar as múltiplas dimensões do processo de desterritorialização
destaca e distingue três matrizes como agentes desterritorializador: matriz econômica,
política e cultural. Para Haesbaert essa distinção se deve em razão das diferentes
concepções de território, porém, Haesbaert considera que a desterritorialização é um
fenômeno amplo e complexo, ao mesmo tempo de natureza econômica, política e
cultural. No entanto, este estudo considera que o processo de desterritorialização
manifestado no bairro Pequiá é principalmente de ordem econômica. Nesse sentido é
interessante entender como Haesbaert (2007) interpreta essa matriz de
desterritorialização.
Numa interpretação um pouco mais restrita, ênfase é dada a um dos momentos do processo de globalização – ou ao mais típico -, aquele chamado capitalismo pós-fordista ou capitalismo de acumulação flexível, flexibilidade
21
esta que seria responsável pelo enfraquecimento das bases territoriais ou, mais amplamente, espaciais, na estruturação geral da economia, em especial na lógica locacional das empresas e no âmbito das relações de trabalho (precarização dos vínculos entre trabalhador e empresa) daí também a proposta de desterritorialização como sinônimo de “deslocalização”, enfatizando o caráter “multifuncional” das empresas, cada vez mais autônomas em relação às condições locais/territoriais de instalação. (HAESBAERT, 2007, p.173 /174).
É valido destacar que as características de desterritorialização do ponto de vista
econômico apoiado nas idéias de Haesbaert (2007) é estruturada na realidade do bairro
Pequiá, pois, a desterritorialização que se processa no bairro Pequiá está muito ligada
aos processos de expropriação, precarização e principalmente aos efeitos da siderurgia
como também aos efeitos do capital fictício da deslocalização das empresas ou da
flexibilização das atividades produtivas. Por essa razão podemos dizer que a concepção
de Haesbaert a desterritorialização de ordem econômica sendo aplicada para o cenário
do bairro Pequiá se mostra como algo bem presente.
Desde já afirmamos que o processo de desterritorialização materializada no bairro
Pequiá merece de uma investigação mais acurada em razão dos diversos interesses dos
atores ali presentes. Esse processo se desenvolve de forma dolorosa visto que nesse
espaço foram construídos durante anos laços materiais e simbólicos e que em razão dos
efeitos perversos da siderurgia tais como a poluição atmosférica decorrente da ausência
de filtros para minimizar a fuligem de ferro que saem pelas chaminés é o principal
causador do processo de desterritorialização.
A poluição atmosférica é um dos efeitos que mais caracteriza as usinas siderúrgicas de
Açailândia-MA. Essa poluição constitui uma das principais reivindicações da população
local as empresas e ao poder público, em virtude das patologias que ela gera. Coceiras,
problemas respiratórios e de pele e os problemas de visão são algumas doenças entre
outras que as pessoas do bairro Péquiá mais sofrem.
Esse problema é por causa dos filtros que nunca foram colocados para reter a fuligem de
ferro que saí dos fornos durante o processo de produção e transformação do ferro gusa.
São várias as reivindicações que a população local faz, visto que elas não são passivas
diante os efeitos socioambientais, porém, nunca foram ouvidos. Outro tipo de poluição
que a população sofre é a poluição sonora decorrente do barulho das maquinas o que
ocasiona dor de cabeça na população local.
A relação de conflito entre as indústrias siderúrgicas e a população local é outro caso
que merece ser discutido visto que a população local não fica em um estado de inércia
22
diante dos efeitos gerados pelo exercício da siderurgia como também as empresas não
ficam em um estado de passividade em relação às manifestações que a população as
lançam sobre elas.
O posicionamento antagônico desses dois atores com visões e interesses distintos de
construir o espaço (Empresa versus População Local) é manifestado em conflitos, pois
ambos defendem os seus interesses, para isso recorrem a vários mecanismos para
defenderem os seus interesses como ONGs, igrejas, mídia, poder público etc. já as
empresas guseiras apelam principalmente ao poder econômico e político.
Considerações finais
Os discursos que orienta a modernização do território brasileiro tem se declarado como
uma das faces predominantes na organização da Amazônia. Porém, essa modernidade
vivenciada no país, em destaque na Amazônia por meio da construção de
empreendimentos econômicos, energéticos, industriais e urbanos tem se manifestado de
forma ambivalente e heterogêneo. Fato este que nos faz entender que ela é uma
modernidade incompleta.
O caráter de incompleto e contraditório da modernidade que se constrói na
espacialidade amazônica se deve por ela não atingir e nem envolver a totalidade da
sociedade, ou seja, grande parcela da sociedade fica a margem desse processo.
Podemos concluir de modo geral, que depois de duas décadas de instalação das plantas
industriais que o desenvolvimento pensado em torno do setor de
produção/transformação de ferro gusa não criou um efeito multiplicador na cidade de
Açailândia, nem atraiu empresas e atividades agregadas que pudessem gerar mais
empregos e promover melhorias nas condições de vida da população. Em extensão a
degradação ambiental, periferização e os conflitos sociais representam as principais
contribuições que a siderurgia trouxe para Açailândia e região.
A análise dos efeitos socioespaciais acarretados pela siderurgia na região aqui estudada
é o suficiente para poder indicar que é grande a distância que separa o crescimento
econômico do desenvolvimento, haja vista que as expectativas e os anseios da
população – ou seja, da sociedade ainda não foram atendidos de forma efetivamente
dinâmica.
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Os resultados e as discussões formuladas aqui neste estudo resultaram de análises de
base teórica e empírica as quais permitiram compreender as implicações socioespaciais
dessa atividade econômica na cidade de Açailândia e região, sem o propósito de
denegrir e discriminar essa atividade de lógica produtiva, mas, pelo contrário a
finalidade foi de explicar os seus saldos positivos como também as suas limitações e as
imperfeições que a mesma vem produzindo ao longo do seu exercício.
Notas ¹ O município de Açailândia1 (Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010) “apresenta área territorial de 5.806,371 km² com densidade demográfica de 17,92 habitantes/ km², estando a uma distância da capital maranhense (São Luís) de 445,2 km”. Do ponto de vista demográfico, conforme as informações da contagem populacional do IBGE (2010), o município de Açailândia apresenta população total de 104.047 habitantes). 2 O que há de sociologicamente mais relevante para caracterizar e definir a fronteira no Brasil é justamente, a situação de conflito social. E esse é essencialmente, o aspecto mais negligenciado entre os pesquisadores que tem tentado conceituá-la. [....] A primeira vista é o lugar do encontro dos que por diferentes razões são diferentes entre si, como índios de um lado e os civilizados de outro: como os grandes proprietários de terra, de um lado, e os camponeses pobres, de outro. Mas o conflito faz com que a fronteira seja essencialmente, a um só tempo, um lugar de descoberta do outro e de desencontro. Não só o desencontro e o conflito decorrentes das diferentes concepções de vida e visões de mundo cada um desses grupos humanos. O desencontro na fronteira é o desencontro de temporalidades históricas, pois, cada um desses grupos está situado diversamente no tempo da História. (MARTINS, 2008, 150/151). 3 A entrevista não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeito - objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que esta sendo focalizada. (FERREIRA,1994, p.
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