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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · as diferenças conceituais e práticas quanto à ... conteúdo da formação e o crescimento das cidades, ... sentidos das cidades

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Ficha para Identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: Plano Diretor de Toledo: Zoneamento Urbano, Especulação Imobiliária e Expansão Urbana

Autor: Márcio Adriano Solera.

Disciplina/Área: Geografia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Senador Attílio Fontana – Ensino Fundamental, Médio, Profissional e Subsequente. Rua Gonçalves Dias, nº 100, Vila Pioneiro, Jardim Paulista, Toledo – PR.

Município da escola: Toledo

Núcleo Regional de Educação: Toledo

Professor Orientador: Prof. Dr. Edson dos Santos Dias

Instituição de Ensino Superior: UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná

Resumo:

A fundamentação e a operacionalidade

apresentadas nessa produção didático-

pedagógica tem por objetivo demonstrar

como será trabalhado, com os alunos do

Ensino Médio do Colégio Estadual Senador

Attílio Fontana, o processo de especulação

imobiliária na cidade de Toledo – PR. Para

isto, tomar-se-á como referência a Lei de

Zoneamento Urbano que consta no Plano

Diretor, possibilitando aos alunos

conhecerem, de forma introdutória, o

processo de expansão urbana ocorrida

historicamente em Toledo, bem como, o

estudo de algumas partes de documentos que

norteiam as políticas urbanas, tais como:

Estatuto das Cidades, Plano Diretor do

Município, Lei de Zoneamento Urbano, com

ênfase sobre a especulação imobiliária e os

vazios urbanos de Toledo. Apresentar-se-á

as diferenças conceituais e práticas quanto à

apropriação da cidade pelo valor de uso e

pelo valor de troca, buscando uma relação

entre a valorização imobiliária de alguns

bairros e a infraestrutura urbana que

possuem. Estes são os objetivos delineados

para promover uma visão crítica e melhor

embasada aos alunos com relação ao seu

espaço vivido - a cidade, o seu bairro - e

refletir sobre os diversos interesses sociais,

econômicos, políticos, ambientais e

administrativos que se estabelecem no

cotidiano da cidade. Para o desenvolvimento

das atividades, os alunos serão divididos em

grupos que irão pesquisar aspectos da cidade

e do bairro relacionados ao tema; serão

levados a campo, para analisarem

zoneamentos existentes, e terão

fundamentação a partir de aulas expositivas

para esclarecer conceitos e conteúdos da

disciplina, e que servirão de base para o

trabalho dentro e fora da sala de aula.

Palavras-chave:

Plano Diretor; Lei de Zoneamento Urbano; especulação imobiliária; expansão urbana.

Formato do Material Didático: Unidade Didática.

Público:

Alunos do Segundo Ano do Ensino Médio.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

MÁRCIO ADRIANO SOLERA

PLANO DIRETOR DE TOLEDO: ZONEAMENTO URBANO, ESPECULAÇÃO

IMOBILIÁRIA E EXPANSÃO URBANA

TOLEDO – PARANÁ

2013

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

MÁRCIO ADRIANO SOLERA

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

UNIDADE DIDÁTICA

PLANO DIRETOR DE TOLEDO: ZONEAMENTO URBANO, ESPECULAÇÃO

IMOBILIÁRIA E EXPANSÃO URBANA

Produção Didático-Pedagógica apresentada ao PDE -

Programa de Desenvolvimento Educacional 2013,

atendendo aos objetivos do projeto de intervenção

pedagógica apresentado ao PDE no primeiro semestre

deste ano, e elaborado pelo professor Márcio Adriano

Solera, sob a orientação do Professor Dr. Edson dos

Santos Dias, do curso de Geografia da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, Campus

de Marechal Cândido Rondon.

TOLEDO – PARANÁ

2013

SUMÁRIO

Apresentação.....................................................................................................p. 04

Fundamentação Teórica da Unidade Didática...................................................p. 09

Unidade Didática................................................................................................p. 17

1. A Expansão Urbana do Município de Toledo – PR........................................p. 17

História de Toledo..............................................................................................p. 18

Box 1: Planejamento Urbano e Valorização Imobiliária: o caso do Município de

Toledo - PR........................................................................................................p. 22

2. Plano Diretor, Zoneamento Urbano e Valorização Imobiliária de Toledo......p. 24

Box 2: O planejamento urbano municipal de Toledo.........................................p. 30

3. A Cidade pelo valor de uso e a cidade pelo valor de troca............................p. 33

4. Etapas da ação, metodologia e encaminhamento de calendário..................p. 35

Referências........................................................................................................p. 38

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PLANO DIRETOR DE TOLEDO: ZONEAMENTO URBANO, ESPECULAÇÃO

IMOBILIÁRIA E EXPANSÃO URBANA

APRESENTAÇÃO

A orientação para a Produção Didático-Pedagógica é que

fundamente teoricamente e encaminhe metodologicamente os objetivos traçados

no projeto, a partir de uma problematização levantada junto à realidade escolar do

município evidenciado, no caso, a cidade de Toledo, e que possa ser transposta

para outros municípios, cujos componentes aqui abordados também se insiram

enquanto temáticas pertinentes destas comunidades, nas mais diferentes regiões

do Paraná.

Nesse sentido, esta produção atende ao propósito de esclarecer a

fundamentação teórica utilizada e a forma como será implementado o Projeto de

Intervenção Pedagógica, que é parte integrante da Linha de Estudo em

Fundamentos Teórico-metodológicos da Geografia, do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE, da Secretaria de Estado da Educação do

Paraná – SEED, e que pretende oferecer uma formação mais embasada e crítica

por parte dos envolvidos no projeto, nas decisões sociais que os cercam, em

especial nos diálogos urbanos, dimensionados no tema proposto – Plano Diretor

de Toledo: Zoneamento Urbano, Especulação Imobiliária e Expansão Urbana.

Destaca-se que a presente Produção Didático-Pedagógica, visa

atender as Diretrizes Curriculares de Geografia do Estado – DCE, quanto aos

conteúdos estruturantes, básicos e específicos do Ensino Médio, tratando do

conteúdo da formação e o crescimento das cidades, a dinâmica dos espaços

urbanos e a urbanização recente, tomando como referência a realidade local, do

município de localização do colégio de implementação do projeto, a cidade de

Toledo.

Observamos, no entanto, que essa referência local, não se dissocia

de outras escalas – regional, nacional, mundial -, visto que o espaço geográfico

aqui contemplado enquanto projeto, é parte da atual sociedade capitalista

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globalizada, em sua fase denominada de Revolução Técnico-Científico-

Informacional por alguns autores, e cujos componentes e elementos constituintes

e provocadores, resultam de um processo de acumulação histórica, social,

econômica, política, dentre outras, que promoveram/promovem ocupação e uso

por essa sociedade agora denominada local.

Não é o fato de morar, produzir e consumir na cidade ou lugar, que

faz do cidadão um pleno conhecedor das normas, leis e diretrizes que regulam a

dinâmica do sistema urbano, o que muitas vezes implica em uma cidadania

“parcial”, dotada de imprecisões ou indiferença às decisões tomadas pelas

"lideranças" locais, mas que acabam por afetar o cotidiano de todos os moradores

do município.

Assim, incentivar a leitura e o acesso dos alunos as informações

públicas do município, bem como das demais escalas em que se insere, possui

um interesse social, individual e coletivo, em seus diversos âmbitos ou caráter –

econômico, político, cultural, ambiental, administrativo, entre outros. Trata-se da

busca da formação de um aluno crítico, presente na Proposta Político-Pedagógica

do Colégio Estadual Senador Attílio Fontana, e condizente com o que propõe as

Diretrizes Curriculares Estaduais:

Um sujeito é fruto de seu tempo histórico, das relações sociais em que está inserido, mas é, também, um ser singular, que atua no mundo a partir do modo como o compreende e como dele lhe é possível participar. Ao definir qual formação se quer proporcionar a esses sujeitos, a escola contribui para determinar o tipo de participação que lhes caberá na sociedade. Por isso, as reflexões sobre currículo têm, em sua natureza, um forte caráter político. Nestas diretrizes, propõe-se uma reorientação na política curricular com o objetivo de construir uma sociedade justa, onde as oportunidades sejam iguais para todos. Para isso, os sujeitos da Educação Básica, crianças, jovens e adultos, em geral oriundos das classes assalariadas, urbanas ou rurais, de diversas regiões e com diferentes origens étnicas e culturais (FRIGOTTO, 2004), devem ter acesso ao conhecimento produzido pela humanidade que, na escola, é veiculado pelos conteúdos das disciplinas escolares. Assumir um currículo disciplinar significa dar ênfase à escola como lugar de socialização do conhecimento, pois essa função da instituição escolar é especialmente importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que têm nela uma oportunidade, algumas vezes a única, de acesso ao mundo letrado, do

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conhecimento científico, da reflexão filosófica e do contato com a arte. (PARANÁ, 2008, p. 14).

Desta forma, estudar o Plano Diretor da cidade, sua Lei de

Zoneamento Urbano, buscando compreender seu processo de expansão urbana

e valorização ou especulação imobiliária, torna-se objeto curricular relevante, visto

oportunizar aos adolescentes e jovens (desse bairro periférico, onde a escola se

insere, e onde a maioria deles reside), uma leitura fundamentada e capaz de se

desdobrar em reflexão e análise do espaço geográfico vivenciado por eles

diuturnamente.

Justifica também o projeto e a produção, neste momento, a agenda

nacional do Ministério das Cidades, que neste ano, debate, na 5ª Conferência

Nacional das Cidades, o tema “Quem muda a cidade somos nós: Reforma Urbana

já”, e que preconiza a participação popular em segmentos diversos, bem como,

trata desta participação dos segmentos sociais como eixo temático nos debates

estabelecidos, e que aqui no município de Toledo, teve seu debate com o tema “A

Cidade que Queremos”, na realização da 5ª Conferência Municipal das Cidades.

O atual contexto demonstra haver espaços históricos de inserção sendo

constituídos e construídos socialmente, mas que carecem também de uma

participação mais ativa e pautada em teses e argumentos oriundos de todas as

classes e segmentos, incluindo aí, a dos estudantes, com seus anseios e

dinâmicas.

Arlete Moysés Rodrigues, em recente artigo publicado no Boletim

Campineiro de Geografia, intitulado “Os geógrafos na luta pela cidade como

direito”, sintetiza o histórico das Conferências das Cidades no Brasil:

As Conferências das Cidades colocam na agenda pública questões urbanas que sempre foram preteridas ou tratadas no âmbito local. Dentre essas questões estão ocupação de risco; regularização fundiária de interesse social; mediação de conflitos fundiários urbanos; urbanização de assentamentos irregulares; acesso universal à moradia, ao saneamento básico, aos transportes coletivos e à integração das políticas públicas urbanas. Permitem as conferências e conselhos a formação de redes de difusão de informações sobre a função social da cidade e da propriedade e direitos constitucionais. As conferências fortalecem as lutas urbanas contra as desigualdades e a segregação e os conselhos agem como o

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interlocutor das propostas aprovadas em plenárias, ampliando a representação. Colocam em pauta a participação, o acompanhamento de projetos, programas e a necessidade de transparência das ações nos três níveis governamentais. (RODRIGUES, 2013, p. 17).

Diante de tal consideração, e partindo de outra questão que é a

concepção do novo Plano Diretor de Toledo, apontado já na Conferência

Municipal como necessário, se apresenta de extrema importância o tema do

espaço urbano como referência para que nossos alunos possam pensar

efetivamente a cidade onde moram, debater e discutir suas leis e seus

desdobramentos diários, como a especulação imobiliária, os vazios urbanos da

cidade, as possibilidades construtivas e valoração de áreas, entre outros.

Esta discussão, também explorada por Rodrigues, no mesmo artigo

mencionado anteriormente, vem acompanhado em sua análise, de aspectos que

necessitam ser observados ao longo desses debates, e que precisam chegar de

forma crítica e antecipada aos alunos e cidadãos urbanos, que são convidados e

convocados por estas conferências para não só opinar, mas também, definir

rumos à cidade que habitam, bem como, ao temário urbano estadual e nacional

como um todo. Ela apresenta a seguinte questão:

A 5ª. Conferência está em processo de realização e tem como lema “Quem muda a cidade somos nós: Reforma Urbana já!” Trata-se de reforma urbana que tem como horizonte o Direito à Cidade. O texto base enfatiza a proposta de criar um sistema de desenvolvimento urbano que permitiria articular as fontes de recursos e as formas de implementação da política urbana em estados e municípios com os conselhos estaduais e municipais. O texto base, porém, centra-se na proposta de Lei de Desenvolvimento Urbano, dificultando o debate sobre a realidade concreta. De modo geral, é possível verificar que cada uma das conferências colocou em pauta questões que podem ser debatidas nos municípios, nos estados e na União. O Conselho das Cidades tem a tarefa de implementar e tornar viáveis as propostas aprovadas nas conferências. É fundamental a nossa participação em todas as etapas, para que possamos ir além do que analisamos nos livros, estando presentes, junto com a maioria da população, refletindo e atuando sobre os sentidos das cidades e do urbano e como caminhar para se concretizar o ideário da Cidade como Direito. (RODRIGUES, 2013, p. 18).

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Sendo assim, a produção didático-pedagógica visa alcançar os

objetivos explicitados no projeto de implementação, que fora apresentado no

primeiro semestre. Estes objetivos estão voltados para estudar, historicizar,

analisar e compreender o plano diretor como instrumento socioeconômico,

político, cultural, ambiental, administrativo, etc., de apropriação da cidade; e com

um diálogo estabelecido com os autores da Geografia e áreas afins. Procura,

ainda, compreender esse instrumento de gestão e planejamento da cidade, da

mesma forma que encontrar espaço, ou avaliar a efetividade concreta deste, para

a crítica e a proposição de mudanças das leis, códigos, e questões burocráticas.

O processo participativo é estimulado e garantido pelo Estatuto das Cidades e

pelos planos diretores, além de outras agendas internacionais, como a do Direito

à Cidade, decorrente da Carta Mundial pelo Direito à Cidade.

Em resumo, a produção ora apresentada visa sensibilizar alunos do

Ensino Médio para um conhecimento crítico acerca do principal documento

balizador das políticas urbanas, bem como, do processo de desenvolvimento e

planejamento urbano, que repercute de alguma forma, ao estimular ou refrear, a

especulação imobiliária e vazios urbanos, elementos apontados com destaque no

projeto. Acredita-se que esse tipo de estudo e estímulo de reflexão juntos aos

alunos pode ser adotado nos outros municípios e escolas paranaenses,

considerando-se a especificidade local.

Busca-se, desta forma, levar os alunos do 2º ano do Ensino Médio,

do Colégio Estadual Senador Attílio Fontana - CESAF, a conhecerem, de forma

introdutória, o processo de expansão urbana ocorrida historicamente no município

que residem. Posteriormente, serão trabalhadas algumas partes previamente

selecionadas dos documentos que norteiam as políticas urbanas, tais como:

Estatuto das Cidades, Plano Diretor do Município de Toledo e respectiva Lei de

Zoneamento Urbano, com ênfase sobre a especulação imobiliária e os vazios

urbanos de Toledo. Para a efetivação da atividade se elencam encaminhamentos

metodológicos, referenciados a partir dos objetivos traçados anteriormente no

projeto de implementação pedagógica, e que aqui se concretiza enquanto

referencial para as ações destacadas a seguir.

Buscando explorar com os alunos o processo de especulação

imobiliária na cidade de Toledo, tomando como referência a Lei de Zoneamento

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Urbano que consta no Plano Diretor, como objetivo geral, e elencando como

objetivos específicos deste trabalho, o estabelecimento de diferenças conceituais,

sobre a apropriação da cidade pelo valor de uso e pelo valor de troca; a

aproximação do conteúdo escolar da realidade vivenciada, procurando indicar

canais de possível participação nos debates da própria realidade, será

apresentada aos alunos as legislações e os documentos que tratam sobre a

expansão e o planejamento urbano de Toledo e será feita uma relação entre

valorização imobiliária de alguns bairros e a infraestrutura urbana que possuem.

Para dar o suporte teórico para esta atividade na prática, buscou-se

a apreensão de conceitos fundamentais como espaço geográfico, lugar,

paisagem, sociedade, natureza, território (dependendo do enfoque dado aos

conteúdos apontados na produção), dentre outros.

Cabe observar também, que tal temática é muito pouco ou nada

referenciada nos livros didáticos do ensino médio das escolas públicas, e quando

os temas aqui apresentados são constados como conteúdos, vem em forma de

apresentação do Estatuto da Cidade e suas implicações de leis que decorrem

dele, como a consolidação dos planos diretores e leis de zoneamento, ocupação

do solo, e outras, e que na maioria das vezes são apresentados em textos boxes

ou textos complementares, e que no decorrer dos conteúdos ligados ao espaço

urbano, apenas são mencionados ou elencados, como se não fossem

responsáveis por regras básicas de vivência do aluno, enquanto cidadão e parte

daquela estrutura social, física, econômica, cultural, etc. – a cidade, e esta,

resultado histórico do seu planejamento atrelado às leis de sua condução.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA UNIDADE DIDÁTICA

Concebendo “[...] o currículo como programa que proporciona

conteúdos e valores para que os alunos melhorem a sociedade em relação à

reconstrução social da mesma” (SACRISTAN, 2000, p.14, apud PARANÁ, 2008,

p. 14), e buscando aproximar os conteúdos da disciplina de Geografia com a

realidade da escola e da sociedade por ela atendida e inserida, nos propomos,

nessa produção, estudar a cidade de Toledo, e discutir a valorização e a

especulação imobiliária, à luz do planejamento urbano calcado na Lei de

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Zoneamento Urbano que consta no Plano Diretor do município, como forma de

promover uma socialização do conhecimento de tais documentos e leis que

regem os interesses dos “atores sociais” da cidade e de fora dela.

Quando explicitamos tal tema, demonstramos que historicamente a

sociedade e o espaço estão em constante organização e reorganização.

A sociedade é entendida por Santos (1985) como totalidade social. Assim, para que se compreenda a produção espacial é necessário ir além da aparência, dos aspectos visíveis, é preciso compreender como os determinantes políticos, culturais e econômicos se constituem na essência social e produzem as transformações espaciais. (PARANÁ, 2008, p. 46).

É preciso levar em conta que a aprovação ou alteração de uma lei,

ou um conjunto de leis, independente da sua esfera de influência (municipal,

estadual ou federal), é resultante sempre de uma relação tensa, vinculada aos

interesses de grupos políticos, associados a frações de classes, com especial

atuação daquela que se apropria diretamente do urbano como negócio.

Como diz Lefebvre (1999, p. 110):

Enquanto ligada às forças produtivas, e sendo ela própria força produtiva, a cidade é a sede do econômico e de sua monstruosa potência. Nela, no curso da história (a sua), o valor de troca venceu lentamente o valor de uso; esta luta se escreveu sobre as muralhas das cidades, sobre os edifícios, nas ruas; as cidades trazem seu vestígio, testemunham-na. Do mesmo modo, a cidade é a sede do poder político que garante o poder econômico do capital, que protege a propriedade (burguesa) dos meios de produção e organiza-o proibindo-lhe os excessos e a violência.

Ainda conforme este autor, percebemos a complexidade da cidade,

e como historicamente são produzidas mudanças em seu contexto e formas,

interpretamos os fenômenos urbanos, a especificidade da cidade. Assim,

descreve o presente de sua reflexão, ao constatar que somente nos dias atuais é

que começamos apreender a especifidade dos fenômenos urbanos, a entender

que historicamente “sempre teve relações com a sociedade no seu conjunto, com

sua composição e seu funcionamento, com seus elementos constituintes [...], com

sua história” (LEFEBVRE, 1991, p. 46), e que desta forma, a cidade sofre

mudanças quando esta mesma sociedade muda em seu conjunto.

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Entretanto, as transformações da cidade não são os resultados passivos da globalidade social, de suas modificações. A cidade depende também e não menos essencialmente das relações de imediatice, das relações diretas entre as pessoas e grupos que compõem a sociedade (famílias, corpos organizados, profissões e corporações, etc.); ela não se reduz mais à organização dessas relações imediatas e diretas, nem suas metamorfoses se reduzem às mudanças nessas relações. Ela se situa num meio termo, a meio caminho entre aquilo que se chama de ordem próxima (relações dos indivíduos em grupos mais ou menos amplos, mais ou menos organizados e estruturados, relações desses grupos entre eles) e a ordem distante, a ordem da sociedade, regida por grandes e poderosas instituições (Igreja, Estado), por um código jurídico formalizado ou não, por uma “cultura” e por conjuntos significantes. A ordem distante se institui neste nível “superior”, isto é, neste nível dotado de poderes. Ela se impõe. Abstrata, formal, supra-sensível e transcendente na aparência, não é concebida fora das ideologias (religiosas, políticas). Comporta princípios morais e jurídicos. (LEFEBVRE, 1991, p. 46).

Sendo concebida desta maneira, a cidade se apresenta como uma

mediação, contendo essa ordem próxima e mantendo-a, sustentando suas relações de

produção e de propriedade, pois é nela que se efetiva a reprodução desta ordem.

Quando vista a partir da ordem distante e nela contida, a cidade “se sustenta; encarna-a;

projeta-a sobre um terreno (o lugar) e sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade

inscreve essa ordem, prescreve-a, escreve-a, texto num contexto mais amplo e

inapreensível como tal” (LEFEBVRE, 1991, p. 46), parte desta mediação entre as

mediações.

Desta forma, a cidade é obra, a ser associada mais com a obra de arte do que com o simples produto material. Se há uma produção da cidade, e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos por seres humanos, mais do que uma produção de objetos. A cidade tem uma história; ela é a obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas. As condições, que simultaneamente permitem e limitam as possibilidades, não são suficientes para explicar aquilo que nasce delas, nelas, através delas. (LEFEBVRE, 1991, p. 46-47).

Pensando localmente, Toledo não difere de tal análise, pois assim

como explora Lefebvre, nossa cidade é ligada as forças produtivas, e ela própria

se configura como tal, parte de uma complexa rede de trocas não só local, como

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também, regional, nacional e global, visto que parte do capital aqui gerido e

circulante, é resultante de processos produtivos de escala internacional, por conta

da natureza de algumas atividades econômicas que aqui se inserem, e que estão

diretamente relacionadas ao mercado exterior, como a produção agropecuária,

que dá forte conotação aos resultados econômicos da cidade e região.

Percebemos desta maneira, essa vitória do valor de troca sobre o

valor de uso, atrelados a estas ordens que aqui também vigoram, enquanto

constituintes históricas da cidade, sejam elas ordens próximas ou distantes, mas

que empregaram e empregam suas essências e relações, deixando marcas sobre

o que podemos conceber como a obra Toledo, no sentido mais fiel descrito por

Lefebvre.

Diante de tal complexidade, nos provoca, a saber, como se inscreve

o planejamento e a valorização desse lugar, e como os agentes ou grupos se

apropriam dele para especular e multiplicar capital.

Da mesma forma, nos provoca, a entender como os diferentes

segmentos sociais se inserem nos debates e gestões dos planejamentos urbanos

e suas leis, como procura conciliar, ou não, o desenvolvimento econômico ao

desenvolvimento social, cultural, ambiental.

E mais, além dessas provocações quanto ao local, vale ainda

retratar o momento histórico destas bandeiras que se insere num contexto

nacional, compreender as concepções e observar, como aponta Souza (2004, p.

156-157), o esvaziamento das propostas e lutas do Movimento Nacional pela

Reforma Urbana (MNRU), que haviam se fortalecido desde os meados da década

de 1960, ante uma também proferida reforma agrária, que naquele momento

eclodia e ressoava mais no temário nacional, mas que apesar do período militar

no país, não teve esvaziado a pauta da reforma.

Pelo contrário, em meados dos anos 1980 e naquela década, é fato

consumado uma sociedade urbana brasileira, visto o êxodo ocorrido entre os

anos 1950 e 1980 por diversos motivos, em especial a revolução agrícola e a

industrialização, e que por falta de políticas públicas consistentes e duradouras no

espaço urbano, denotaram nos anos 1980 uma força política de caráter

mobilizadora em prol da reforma urbana, destacando aí a constituição do MNRU.

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Muito mais que planos diretores, o movimento levou ao Congresso

Nacional uma emenda popular de reforma urbana, mas que foi ao longo dos

debates e votações no Congresso, perdendo seu teor construtivo. “Por exemplo,

foram suprimidas as proposições referentes aos transportes coletivos e serviços

públicos e foram excluídos os terrenos públicos da aplicação do instrumento

usucapião”. (GUIMARÃES apud SOUZA, 2004, p. 159).

Cabe relatar, que nesse momento do fim da década de 1980,

amadureceu a concepção progressista de reforma urbana, e que era

[...] caracterizada como um conjunto articulado de políticas públicas, de caráter redistributivista e universalista, voltado para o atendimento do seguinte objetivo primário: reduzir os níveis de injustiça social no meio urbano e promover uma maior democratização do planejamento e da gestão das cidades (objetivos auxiliares ou complementares, como a coibição da especulação imobiliária, foram e são, também, muito enfatizados). Dessa forma, a reforma urbana diferencia-se, claramente, de simples intervenções urbanísticas, mais preocupadas com a funcionalidade, a estética e a “ordem” que com a justiça social (ou, fantasiosamente, imaginando que uma remodelação espacial trará, por si só, “harmonia social”), não obstante ela conter uma óbvia e essencial dimensão espacial. (SOUZA, 2004, p. 158).

Diante da não obrigação de incorporar o texto popular, da emenda

sugerida então pelo MNRU, o Congresso Nacional promulgou na Constituição

Federal de 1988, um conteúdo considerado diluído e modificado presente nos

artigos 182 e 183. Mesmo traçando como objetivo do Poder Público Municipal o

pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do bem-estar

de seus habitantes, não avançou na conclusão do que relata a própria

Constituição, nem mesmo nos debates sugeridos por ela, bem como, na agenda

da reforma urbana modificada mais permanente diante dos agravamentos sociais

urbanos que de lá para cá decorreram.

Fica evidente, segundo Souza (2004, p. 168), o sintomático debate

proposto em 1998, no VII Encontro do Fórum Nacional de Reforma Urbana, da

resolução que trata da necessidade de recriação do discurso da reforma urbana,

que na proposta do autor ainda viria dentro de uma proposta mais radical,

contextualizada diante da atual agenda de discussões.

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Podemos transpor tal discurso para os fatos recentes1 das ruas

brasileiras, onde apesar de existirem bandeiras diversas nas mobilizações,

verificam-se fortes laços de reflexão e proposição, como a demanda da

mobilidade urbana, transporte público coletivo e de qualidade, escola e saúde

(que não são exclusivos das cidades, mas que aí ganham proporções

gigantescas de reivindicações vistas à demanda oprimida e reprimida destes

setores nas políticas públicas). Isto passado 15 anos do que fora proposto no VII

Encontro do Fórum Nacional de Reforma Urbana.

Mais do que tratar apenas das questões políticas acerca do tema,

vale ressaltar algumas referências para a compreensão do problema e objetivo

deste trabalho, teorizando de maneira mais clara a questão do espaço urbano,

onde se dão os processos de valorização e especulação imobiliária, bem como,

se efetiva o planejamento urbano através do plano diretor e lei de zoneamento

urbano, entre outras.

Para Corrêa, o espaço urbano é “[...] fragmentado e articulado,

reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas, (...) a

própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente,

materializada nas formas espaciais” (CORRÊA, 2000, p. 10), o que implica em um

espaço da cidade – o espaço urbano -, que se configura como “[...] cenário e

objeto de lutas sociais, uma vez que estas visam ao direito à cidade e à cidadania

plena e igual para todos.” (FERRARI, 2009, p. 21).

No entendimento de Ferrari (2009, p. 21), o espaço de uma cidade

apresenta diferentes usos da terra, de forma justaposta entre si, como o centro,

“local de concentração de atividades comerciais, de serviços e de gestão, áreas

industriais, áreas residenciais”, e diferentes em sua forma e conteúdo social e de

lazer, bem como, na forma de reserva para futura expansão. Segundo ele, a

1 Nas últimas semanas do mês de Junho de 2013, uma série de mobilizações e manifestações

ocorreu nas ruas das cidades brasileiras, em especial nas capitais, onde diversas bandeiras têm sido levantadas pelos manifestantes, como: imediata redução das passagens do transporte urbano, o passe livre e a melhoria desse serviço público, que remete à questão da mobilidade urbana; saúde e educação de qualidade; fim da corrupção; reformas política e tributária; CPI dos gastos com a construção de estádios e obras para a Copa das Confederações e Copa do Mundo; retirada de algumas Propostas de Emendas Constitucionais que estão no Congresso Nacional – como a PEC 37 (que trata das prerrogativas do Ministério Público Federal); entre outras. Apesar da diversidade de reivindicações e a adesão de múltiplas referências política-ideológicas de seus integrantes, pode-se afirmar que, no geral, o grito remetia ao "direito à cidade".

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cidade “é também o lugar onde as diversas classes sociais vivem e se

reproduzem”, o que justifica a luta social no interior delas.

Diante dessa visão de espaço urbano e cidade, como área de

interesses sociais difusos, e “palco” de produção e reprodução do capital, dentro

de uma sociedade capitalista e desigual, a terra urbana e seu entorno passa a ser

palco também de interesses distintos, e que em muitos casos, convergem apenas

para o que chamamos de especulação imobiliária, assim entendida como, “[...]

uma forma pela qual os proprietários de terra recebem uma renda transferida dos

outros setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos

públicos na infraestrutura e serviços urbanos.” (CAMPOS FILHO, 2001, p. 48).

Complementando o conceito, podemos dizer que:

A especulação imobiliária, portanto, caracteriza-se pela distribuição coletiva dos custos de melhoria das localizações, mas ao mesmo tempo reconhece que há uma apropriação privada dos lucros provenientes dessas melhorias. Especulação imobiliária é a compra ou aquisição de bens imóveis com a finalidade de vendê-los ou alugá-los posteriormente, na expectativa de que seu valor de mercado aumente durante um espaço de tempo decorrido. Se uma pessoa, empresa ou grupo de pessoas ou empresas comprar imóveis, em grandes áreas ou quantidades e numa mesma região, isto diminui a oferta de imóveis no lugar, o que, consequentemente, provoca o aumento artificial dos preços de todos os imóveis daquela região. A expressão tem conotação pejorativa, por deixar implícito que o comprador do imóvel não irá utilizá-lo para fins produtivos ou habitacionais, e ainda retira de outras pessoas, de menor poder aquisitivo a possibilidade de fazê-lo. (FERRARI, 2009, p. 23).

Diante de tal exposto, vale ressaltar que esse processo pode atingir

diversas regiões de uma mesma cidade, e “[...] a terra acaba perdendo seu valor

social, de assentamento, pois o valor mercantil e a busca pelo lucro passam a ser

os interesses principais por parte dos agentes imobiliários” (FERRARI, 2009, p.

24), o que prejudica os moradores e àqueles que buscam acesso a moradia,

afetando toda a estrutura urbana por conta disso.

Quanto ao processo de valorização da terra urbana, lemos em

Ferrari a seguinte definição: “[...] a palavra valor, [...], tem significados diferentes.

Algumas vezes, expressa a utilidade de algum objeto particular e, outras, o poder

de compra de outros bens que a posse deste objeto transmite. O primeiro pode

16

ser chamado ‘valor de uso’, e o segundo, ‘valor de troca’.” (FERRARI, 2009, p.

24).

Ainda neste entendimento, Smith relata que, “As coisas de grande

valor de uso têm, frequentemente, pequenas ou nenhum valor de troca; e, ao

contrário, as de grande valor de troca têm, frequentemente, pequenos ou nenhum

valor de uso.” (SMITH apud HARVEY, 1980, p. 31), o que nos propõe profundas

reflexões sobre a especulação imobiliária e os vazios urbanos das nossas

cidades.

Vale complementar ainda, que a localização geográfica é

profundamente incorporada à valorização dos terrenos, e, por conseguinte, à

especulação imobiliária também.

Villaça coloca a localização como a mais importante mercadoria do

mercado imobiliário urbano, graças às benfeitorias nos lotes que possuem seus

valores estipulados. (VILLAÇA, 1978, p. 14).

Ferrari por sua vez, vai expor que:

Nas economias de mercado, um terreno incorpora dois bens, ou duas mercadorias: uma parcela de terra e uma localização. O primeiro é estático e varia pouco ou nada ao longo do tempo; caracteriza-se pelas dimensões e forma do lote, sua topografia e as características físicas (importantes, no caso da terra urbana) – só o proprietário atua sobre ele. O segundo, a localização, varia violentamente ao longo do tempo, especialmente nas cidades que estão em rápido crescimento. Mais ainda, tais atributos, num terreno, estão menos sujeitos à modificação determinada pela ação de seu proprietário do que pela de proprietários de outros terrenos. (FERRARI, 2009, p. 25).

Vários outros elementos poderiam ser citados aqui como fatores

relevantes de valorização urbana e especulação imobiliária, mas podemos

verificar que diante de um modelo imposto por lei federal, via planejamento

estratégico das prefeituras, e seus planos diretores, normatizados pelas leis,

como a de zoneamento urbano e código e obras, entre outras, faz-se relevante

observar no município de Toledo, se esses elementos ora citados, são verificados

na paisagem urbana da cidade, bem como do bairro de inserção da escola.

Pretendemos aproximar esses conceitos do cotidiano de nossos

alunos, para propiciar uma ferramenta de conhecimento e ação social, visto ser a

17

cidade o espaço urbano de lutas sugeridas no texto, e aqui apresentamos como

forma de discussão e debate para outros municípios também.

UNIDADE DIDÁTICA

Esta Produção Didático-Pedagógica, busca instrumentalizar todos os

envolvidos em sua implementação, e contemplará os alunos de uma turma do 2º

Ano do Ensino Médio, do turno matutino, do Colégio Estadual Senador Attílio

Fontana, do bairro Pioneiro, em Toledo, Paraná, durante o primeiro semestre do

ano letivo de 2014.

O trabalho proposto para o PDE será socializado no primeiro

semestre de 2014 com os demais professores da rede pública estadual, através

dos Grupos de Trabalho em Rede – GTR, como parte integrante do Programa de

Desenvolvimento Educacional, a fim de suscitar hipóteses, ideias novas como

sugestões e resultados, acerca do projeto de intervenção pedagógica, da

produção didático-pedagógica, bem como, da implementação do projeto e seus

resultados até então alcançados.

1. A EXPANSÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE TOLEDO – PR

Numa tentativa breve de elencar momentos históricos associados ao

espaço geográfico do município de Toledo – PR, buscando, numa concepção

histórico-crítico, pensar a expansão do que ora denominamos urbano em nosso

município, cabe ressaltar que tal proposição com referenciais teóricos, será

acompanhada durante as aulas, de imagens/fotografias do município, ao longo

das décadas de desenvolvimento do perímetro urbano da sede, disponibilizadas

pelo acervo do Museu Histórico Willy Barth, que guarda documentos relativos à

ocupação do município e região Oeste do Paraná.

18

História de Toledo

O município de Toledo está localizado na mesorregião Oeste

Paranaense, abrangendo uma área de 1.198,607 Km². Seus primeiros moradores

chegaram em 1946.

Houve desencadeamento de vários ciclos econômicos no local que

criaram condições propícias ao desenvolvimento do município, assim como de

toda Região Oeste, entre estes, os que se sobressaíram foram os seguintes: a)

ciclo da erva-mate; b) o ciclo da madeira; c) o ciclo da venda de terras; d) o ciclo

do café; e) o ciclo da suinocultura; e f) o ciclo do trigo e da soja ainda em

evidência. (SILVA, 1988, p. 137).

O primeiro destes grandes ciclos econômicos da região foi o da

extração da erva-mate, que se constituiu em uma atividade econômica

preponderante da Província do Paraná, sendo responsável, inclusive, por sua

emancipação política, em 1853. (SILVA, 1988, p. 138).

Em relação ao ciclo da madeira, segundo Silva (1988), teve início

em Toledo em 1947, com a instalação da primeira serraria, sendo que as maiores

exportações de pinho serrado se deram em 1953 e 1954.

Já em 1960 o ciclo tende ao declínio, quando as empresas

toledanas começaram a comprar pinheiros dos municípios vizinhos para manter

as exportações, e no início da década de 70 a atividade encerra-se por completo.

O ciclo seguinte foi o café, que segundo Silva (1988), teve

importância menor, pois houve a intenção de se inserir a cafeicultura na

agricultura local, devido à terra roxa fértil existente. Porém, esta tentativa falhou

devido fundamentalmente às condições climáticas inadequadas e outros fatores.

O ciclo do café não chegou a ter relevância econômica, apenas histórica e

experimental.

A empresa responsável pelo plano de colonização, a Colonizadora

Maripá, compreendia cinco pontos capitais para a região: elemento humano,

estrutura fundiária, sistema de cultura agrícola, escoamento da produção e

industrialização.

O plano de colonização estava organizado pelos seguintes itens: a)

povoar densamente a fazenda com agricultores mais adaptáveis à região; b) mão

19

de obra esmerada, dedicada aos mesmos produtos e aclimatada às mesmas

condições físicas de determinado ambiente; c) não propagar ruidosamente a

necessidade de gente, a fim de não atrair aventureiros; d) dar preferência ao

agricultor nacional; e) trazer o colono do sul, mais experiente em criação de

suínos, fabricação de manteiga e queijo, cultivo de feijão, milho, batatas, trigo,

fumo, arroz e outros; f) buscar os agricultores mais aconselháveis no Rio Grande

do Sul e Santa Catarina, descendentes de italianos e alemães, que já tinham mais

de cem anos de aclimatação no Brasil; g) recrutar os agricultores através de

agentes radicados nas regiões agrícolas de seus Estados; e h) só mais tarde

receber o agricultor do Norte do Estado, afeito ao cultivo do café e do algodão.

(SILVA, BRAGAGNOLLO e MACIEL, 1988, p. 87 e 88).

Em 1949/1950, não se pensava em agricultura mecanizada. O

objetivo era povoar densamente a região com pequenos proprietários. Cada

grupo de colônias tinha em média 25 hectares, isto são 250.000 m², equivalente,

mais ou menos a 10 alqueires paulistas que são 242.000 m². Essas colônias

tinham que estar providas de um povoado com, no mínimo, casa comercial, igreja,

escola e assistência médica. (NIEDERAUER, 1992, p. 122).

O ciclo da soja e do trigo, da mesma forma que o da suinocultura,

iniciou-se no período de colonização do município e perduram até hoje, sendo os

maiores ciclos econômicos de Toledo e da Região Oeste, juntamente com a

avicultura, implantada mais tarde. A soja, milho e trigo foram implantados no

município inicialmente como alimentos aos rebanhos e mais tarde começaram a

ser comercializadas, com a mecanização das terras para o cultivo das lavouras e

constantes incentivos governamentais, aumentando as áreas cultivadas com

estes produtos. (SILVA, 1988).

A colonizadora tinha que fornecer, também, uma assistência

veterinária e orientação agrícola, com profissionais da área. (NIEDERAUER,

1992, p. 122).

A região tem a antiga Fazenda Britânia como propriedade central do

período e processo de colonização. Essa fazenda foi adquirida por ingleses no

ano de 1905 e, depois, foi comprada por alguns comerciantes gaúchos que

criaram a Industrial Madeireira e Colonizadora Maripá, que tinha como objetivo a

exploração de madeira. (RIPPEL, 2005).

20

Na época o que trouxe para Toledo o grande número de agricultores

que povoaram toda a Fazenda Britânia, foi a venda das terras em pequenas

propriedades, consolidando, assim, a colonização. (NIEDERAUER, 1992).

Com relação à colonização desta região, houve dois movimentos

distintos, porém não contraditórios. O primeiro foi até a década de 1940, com o

objetivo de extrair madeira e erva-mate, e que não resultou em evolução

econômica ou demográfica, enquanto “o segundo movimento – pós 1940 – surge

quando a região Oeste do Paraná passou a viabilizar-se como área de

colonização capaz de absorver grandes contingentes populacionais”. (RIPPEL,

2005, p. 89).

No final da década de 1950, teve início na região a construção das

primeiras rodovias, o que favoreceu a expansão do comércio e,

consequentemente, a vinda de mais imigrantes.

As derrubadas eram feitas a machado, foice e facão. Limpavam as

roças com enxadas e transportavam seus produtos em carroças puxadas a boi, e

a colheita era feita em conjunto, pelos moradores do lugar.

Em 14 de novembro de 1951, foram criados vários municípios no

Paraná, inclusive, Toledo. E, em 14 de dezembro de 1952, ocorreu a instalação

solene e oficial do Município de Toledo com a posse do primeiro prefeito, o Dr.

Ernesto Dall’Oglio, através da Lei nº 790. Toledo em 2010 está com 119.313

habitantes, segundo dados do IBGE (2010).

Na década de 1970 a agricultura do município de Toledo

caracterizou-se pelo uso intensivo de máquinas e agrotóxicos com uma larga

produção voltada para o mercado internacional. (TOLEDO, 2004).

Próximo de Cascavel, formando com esta cidade um eixo de

desenvolvimento agroindustrial que concentra diversas cooperativas e empresas

do ramo, devido, principalmente, às férteis e planas terras desta região que a

tornam uma das principais produtoras de grãos do Estado, o município de Toledo

está em primeiro lugar no Paraná e terceiro do país no Valor Agregado da

Produção Agropecuária, quarto produtor de suínos do país, com um rebanho de

406 mil animais; primeiro produtor do estado e quarto no país na produção de

aves, com 8 milhões de aves, e terceiro maior produtor de leite do estado, com

102 milhões de litros por ano. (TOLEDO, 2009).

21

Toledo conta com 9 distritos: Concórdia do Oeste, Dez de Maio, Dois

Irmãos, Novo Sarandi, São Luiz do Oeste, São Miguel, Vila Ipiranga, Vila Nova e

Novo Sobradinho.

E neste contexto, devido ao aumento populacional ocorrido nas

últimas décadas fez com que as administrações municipais estruturassem com

maior rigor o planejamento urbano de seus municípios. As cidades que

apresentam melhor estrutura urbana atraem investimentos privados e com isso

geram mais empregos e renda, o planejamento do uso do espaço urbano passa a

ter valor estratégico no processo de expansão e de desenvolvimento econômico

dos municípios brasileiros. (WILLERS, 2007).

Em Toledo nos últimos anos a população urbana tem aumentado

consideravelmente, devido à criação do polo de universidades e de parques

industriais, consolidando o município em uma cidade polarizada e de forte atração

da população regional fazendo aumentar a demanda pelos imóveis urbanos.

Desta forma, é importante entendermos o processo de expansão

urbana e como os instrumentos de gestão e planejamento do espaço encontram-

se relacionado.

O município de Toledo sofreu significativa migração urbana nas duas

últimas décadas e parte dessa expansão deve-se ao fato da modernização

agrícola que ocorreu no município e na Região Oeste neste período.

A modernização da agricultura brasileira, que se alastrou

fundamentalmente pelas regiões Sul e Sudeste, encontrou condições naturais e

socioeconômicas favoráveis para ser implantada na região Oeste do Paraná.

Desta forma, inicia-se o plantio de lavouras temporárias, como as culturas de

soja, milho e trigo, as quais se tornaram as principais commodities cultivadas,

sendo responsáveis pelo crescimento da produção agrícola regional e desta pelo

desenvolvimento econômico local, o que denota um município que se urbanizou

em função da modernização agrícola.

Com 119.313 habitantes (IBGE, Censo Demográfico, 2010), Toledo

se posiciona como um município de porte médio. Segundo Santos (1993) as

cidades médias tendem a atrair fluxos crescentes de moradores de classe média

em função da qualidade de vida que oferecem; é a interiorização da população

segundo o autor. Essa tendência de urbanização, citada pelo autor, se confirma

22

com os dados do Censo Demográfico de 2000, o qual indica o crescimento das

cidades médias brasileiras. Nesse contexto está o município de Toledo, que da

década de 1980 para cá sofreu significativo processo de urbanização.

Tabela 1 – Evolução da população urbana e rural do município de Toledo 1970-2010

Ano População Urbana

% População Rural

% População Total

1970 14.986 21,76 53.899 78,24 68.885 1980 42.994 52,90 38.288 47,10 81.282 1991 72.402 76,30 22.477 23,70 94.879 1996 76.125 84,20 14.292 15,80 90.417 2000 85.920 87,50 12.280 12,50 98.200 2010 108.259 90,74 11.054 9,26 119.313

Fonte: IBGE (Censo Demográfico 2010).

O texto a seguir, foi extraído de um artigo publicado na Revista

Expectativa, escrito por Ednilse Maria Willers (2007), e nos ajuda compreender o

processo de crescimento urbano da cidade, atrelado ao planejamento e aos

investimentos em infraestrutura realizados.

Texto box 1:

Planejamento Urbano e Valorização Imobiliária: o caso do Município

de Toledo - PR

Não somente em termos de município, mais o país, de um modo

geral, urbanizou-se significativamente a partir da década de 1980 e, para dar

vazão a este crescimento, a própria Constituição Federal de 1988 fortaleceu os

municípios ao autorizá-los a elaborar suas leis orgânicas, como forma de

institucionalizar o planejamento municipal necessário para dar suporte de

infraestrutura a este crescimento. É a partir da Constituição Federal de 1988 que

se define, de maneira clara, a responsabilidade municipal sobre o ordenamento

territorial, o planejamento e o controle do uso, parcelamento e ocupação do solo

urbano. Mais especificamente em seu Artigo 182, a Constituição Federal

determina que “a política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder

público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo

ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir bem-

estar de seus habitantes”. Para tanto em seu parágrafo primeiro, declara que o

23

Plano Diretor passa a ser obrigatório para as cidades com mais de 20 mil

habitantes, sendo o “instrumento básico da política de desenvolvimento e da

expansão urbana” (SANTOS JUNIOR, 1995, p. 47).

A regulamentação do Plano Diretor, por parte do governo federal

junto ao municipal, só foi possível diante da descentralização tributária em favor

de Estados e Municípios, da transferência de parte das responsabilidades de

políticas sociais para as prefeituras e da previsão constitucional de instrumentos

de gestão urbana para municípios com mais de 20 mil habitantes, através do

Plano Diretor (JANNUZZI; JANNUZZI, 2002).

Nesse contexto, a economia urbana ganha importância na medida

em que é necessário pensar ações de regulação do uso do solo e de provisão de

equipamentos e serviços articulados às iniciativas de criação de empregos e de

geração de renda (op cit.).

Nos municípios onde se executa o Plano Diretor inicia-se o

desenvolvimento de áreas estratégicas para sua expansão. São essas áreas que

exercem atratividade residencial, decorrente da existência de obras públicas e de

infraestrutura urbana, como rede elétrica, saneamento, asfalto e transporte

coletivo. Os efeitos desta infraestrutura produzem impactos diferenciados na

redistribuição da população, potencializando fluxos migratórios para bairros que já

possuem esta infraestrutura.

Assim, regiões com menos atratividade acabam concentrando áreas

de moradia para a população de baixa renda, pois estes não podem arcar com a

valorização fundiária (e do aluguel) dos terrenos, o que acaba por deslocá-los

para os bairros mais distantes das áreas valorizadas.

Segundo Jannuzzi e Jannuzzi (2002), a atratividade urbana

residencial de áreas municipais depende de uma série de fatores físico-territoriais,

sócio-espaciais e econômico-urbanos. Do ponto de vista clássico, como aponta

Richardson (1978), o valor médio da terra urbana seria o fator determinante

básico para a atratividade residencial. Assim, a atratividade residencial advém de

alguns fatores, como: a) disponibilidade de crédito imobiliário; b) existência de

serviços urbanos (rede de água, luz, asfalto, coleta de lixo); c) a proximidade de

equipamentos públicos (escolas e hospitais) e de serviços (comércio, bancos,

etc.); d) do local de trabalho; e) de locais de maior oferta de emprego; f) do

24

transporte público; g) dos interesses do capital imobiliário e h) dos impactos

decorrentes das intervenções públicas.

No caso do Município de Toledo, é possível identificar a associação

desses fatores com a atratividade industrial, comercial e residencial das últimas

décadas. As regiões Oeste e Norte do município, que receberam significativos

investimentos públicos em infraestrutura urbana nas duas últimas décadas para

cá, consequentemente transformaram-se em áreas de grande atratividade.

2. PLANO DIRETOR, ZONEAMENTO URBANO E VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA

DE TOLEDO – PR

O principal objetivo desta atividade é levar os alunos ao

entendimento dos principais instrumentos de gestão urbana – o plano diretor e a

lei de zoneamento urbano. É preciso ressaltar que não farei aqui, nesta Produção

Didático-Pedagógica, transcrição de ambas as leis que efetivam estes

instrumentos em Toledo, apenas o farei com os alunos de forma diferenciada,

durante os encontros apontados nas orientações metodológicas desta produção,

bem como, nas ações de encaminhamento do calendário.

Porém, nesse momento, vou instrumentalizar esta produção, na

intenção de que estas leis sejam de conhecimento, e não apenas no seu aspecto

legal, isto é, daquilo que nelas constam enquanto regras, condicionantes, ou

outros, para o uso do solo urbano, mas enquanto cidadãos críticos que buscamos

formar, que conheçam brevemente o histórico destas leis que interferem direta e

indiretamente no seu fazer cotidiano.

No município de Toledo, citando Willers (2007), os preços de lotes

urbanos tiveram forte valorização em decorrência de um conjunto de fatores, os

quais são apresentados pela autora:

1. Valorização imobiliária: Em uma economia de mercado, um

terreno tem o preço unitário que reflete seu valor econômico acrescido de suas

vantagens de localização. Seu preço advém da renda que um espaço poderá

gerar para os investidores diante da atração deste para o investimento de agentes

25

econômicos. Assim, renda e localização são inseparáveis. O preço que um

agente econômico paga corresponde, a princípio, às vantagens que este terreno

lhe proporcionará, o que significa dizer que seu preço é em parte resultado da

intensidade de sua utilização (POLESE, 1998 apud WILLERS, 2007, p. 183).

Desta forma, o que definirá o valor de um terreno é um “sistema de

preços que resulta das forças de oferta e de demanda, podendo sofrer

significativa elevação quando da existência de indústrias, setor de comércio e de

prestação de serviços na região”. (WILLERS, 2007, p. 183).

São as regiões centralizadas por atividades econômicas

expressivas, como as indústrias, parques tecnológicos e universidades, que

atraem a população para seu entorno. Nesse contexto, o reagrupamento destas

atividades permite estabelecer preços mais elevados para os lotes urbanos.

Quanto maior for a concentração de agentes econômicos em uma região maior

será seu valor imobiliário. Essa valorização resulta da economia de aglomeração

gerada pela concentração destes agentes econômicos (POLESE, 1998 apud

WILLERS, 2007, p. 183).

Contudo, fatores de ordem política, social e econômica podem limitar

o valor econômico de uma região urbana. De nada adianta uma região centralizar

indústrias se não detiver infraestrutura básica (loteamento com luz, água,

pavimentação asfáltica, escola, postos de saúde, transporte coletivo, entre

outros), até porque grande parte do planejamento dos lotes urbanos servem para

moradia. Daí, a necessidade de planejamento do espaço urbano por parte do

poder público municipal. (WILLERS, 2007, p. 183-184).

Isto se evidencia em Toledo, ao observarmos historicamente o

planejamento da cidade, que desde o fim da década de 1960, se preocupou em

aproximar áreas habitacionais de zonas industriais da cidade, seguidos de

infraestrutura básica que num primeiro momento até a década de 1990 era

limitada aos investimentos públicos e dos próprios moradores em alguns casos, e

que após o ano de 1993, foi dirigida aos agentes imobiliários por lei,

condicionando a infraestrutura dos novos loteamentos à sua liberação e

autorização por parte da Prefeitura, o que na lógica de mercado foi repassado aos

compradores/moradores, e que acabou causando um custo muito maior do que

aquele que se vinha praticando na cidade até então.

26

2. Plano Diretor e Zoneamento Urbano: segundo Willers (2007), no

Brasil esse planejamento, acontece a partir da regulamentação do Estatuto das

Cidades e deste, dos Planos Diretores em nível municipal, tendo sido o primeiro

regulamentado pela Lei Federal nº 10257, no ano de 2001, e que regulamentou

os artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988.

Em síntese, o Estatuto da Cidade estabelece regras e diretrizes para

a adoção, pelos municípios, de instrumentos locais de implementação de política

própria de desenvolvimento territorial e social no meio urbano. Para tanto, todos

os municípios com mais de 20 mil habitantes são obrigados a elaborar um Plano

Diretor.

O Plano Diretor é uma lei municipal que descreve a política básica

de desenvolvimento e de expansão urbana de um município, objetivando ordenar

o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de

seus habitantes. Para tanto, dispõe, minimamente, sobre o uso do solo urbano, da

expansão urbana, do parcelamento do solo urbano, da habitação, do saneamento

básico e dos transportes urbanos, ou seja, é um plano de diretrizes, e como tal

deve definir as metas e os programas de atuação do poder público municipal nas

diversas áreas jurisdicionadas ao município. Para que o Plano Diretor esteja

legalmente amparado, é preciso que o município regulamente: a) a Lei do Plano

Diretor; b) o Código de Obras; c) a Lei do Perímetro Urbano; d) a Lei do

Parcelamento; e) o Macrozoneamento e f) a Lei de Uso e Ocupação do Solo. É

através da instituição destas leis que o município terá em mãos um sistema de

informações georeferenciadas para definir o planejamento urbano municipal

(IBAM, 2007 apud WILLERS, 2007, p. 185-186).

Foi a partir da regulamentação desta legislação que as prefeituras sistematizaram o uso do solo urbano, através de planejamentos de expansão territorial para moradia e para a instalação de agentes econômicos. Neste contexto, a intervenção pública contribui para a valorização “natural” dos terrenos. Foi o que aconteceu em Toledo. Mesmo não tendo um crescimento demográfico significativo nas duas últimas décadas a cidade teve uma sobrevalorização do preço do lote urbano, como consequência da instalação de um polo de universidades e de parques industriais nas regiões Oeste e Norte do município. Neste sentido, essas regiões começaram a atrair investimentos de agentes privados, transformando-se em regiões polarizadas e, consequentemente, de forte atração. Essa expansão se enquadra nas tendências de crescimento urbano citados por

27

Santos e Silveira (2001), de que as cidades médias brasileiras podem se converter em cidades especializadas, especialmente se forem provedoras de suporte de ensino e de pesquisa. (WILLERS, 2007, p. 184).

Observa-se, que as instituições de Ensino Superior acabam

exercendo grande poder de atração no entorno de suas instalações, sendo que

este poder de atração se sobrepõe, inclusive, à região central das cidades.

Foi o que aconteceu com as regiões Central e Oeste do Município de Toledo. Estas regiões tiveram significativa valorização imobiliária após a instalação das Universidades, elevando o preço do m² de seus lotes urbanos e reestruturando a planta de valores dos terrenos da Secretaria do Planejamento da Prefeitura Municipal de Toledo, conforme informações obtidas junto àquela secretaria em abril de 2007. (WILLERS, 2007, p. 184-185).

Bons índices apontados por indicadores sociais e econômicos do

município, como IDH, PIB, e outros, refletem o êxito do planejamento público local

frente ao seu crescimento econômico. Segundo Willers (2007), através da

execução do Plano Diretor foi possível canalizar recursos públicos federais e

estaduais na estruturação da infraestrutura básica, urbana e rural, do município.

Esse fato atraiu novos investimentos privados, permitindo a ampliação do setor de

comércio e de prestação de serviços, tanto na esfera pública quanto privada, nas

duas últimas décadas. Toledo sedia importantes prestadores de serviços públicos,

tais como: Vara da Justiça Federal, Vara da Justiça Federal do Trabalho, Ofício

do Ministério Público Federal do Trabalho, Receita Federal, Justiça Estadual,

Ministério Público Estadual, Receita Estadual, dentre outros escritórios regionais

do Estado do Paraná, como Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Instituto

Ambiental do Paraná, Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento,

Núcleo Regional de Educação, Núcleo Regional de Saúde, EMATER e outros.

O Município também vem se destacando, nos últimos 10 anos, no

Ensino Superior Regional, com 4 universidades, sendo uma pública estadual -

Unioeste, uma tecnológica federal – UTFPR, e duas privadas – PUCPR e Unipar.

Além destas, conta com uma Faculdade privada – Fasul/Fag, e uma instituição de

educação à distância, a Unopar.

28

Há também, um crescimento no setor de prestação de serviços, que

vem ocorrendo e que é reflexo dos investimentos em infraestrutura urbana que a

Prefeitura Municipal tem feito nas duas últimas décadas. Cabe ressaltar que estes

investimentos foram viabilizados pelo fato de a Prefeitura ter, devidamente

regulamentado, o Plano Diretor do munícipio, ou seja, é resultado do

planejamento urbano desencadeado da década de 1990 em diante (Secretaria de

Planejamento da Prefeitura Municipal de Toledo, 2007).

Embora se tenham verificados todos esses avanços apontados pela

Willers, Pereira (2010) em artigo que “apresenta os resultados de uma pesquisa

avaliativa sobre o conteúdo dos Planos Diretores elaborados no Estado do

Paraná, no período 2006 – 2009”, após análise qualitativa das leis e condições de

implementação dos Planos Diretores em 33 municípios paranaenses, qualifica

Toledo da seguinte maneira em relação aos elementos por ela verificados:

a) cidade com população entre 100.000 a 500.000 habitantes com Plano

Diretor;

b) cidade que não define em seu Plano Diretor a função social da

propriedade;

c) quando analisados os Planos Diretores e instrumentos do Estatuto da

Cidade, no que tange ao parcelamento/edificação compulsória/IPTU progressivo,

Toledo consta no estudo na situação de exigindo regulamentação, situação

verificada também nos quesitos ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social),

outorga onerosa, direito de preempção e direito de superfície. Em relação a

transferência potencial construtivo e EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança), o

estudo aponta que Toledo define critérios e exige regulamentação. Para o quesito

de operação urbana consorciada, apresenta exigência de lei específica para cada

operação, e não consta na lei do Plano Diretor as questões da operação

interligada e concessão de direito de uso;

d) sobre a regulação do uso do solo, o estudo observa que Toledo possui

macrozoneamento municipal com definição de objetivos desse

macrozoneamento, além de Lei de uso e ocupação do solo para outras formas de

regulação do uso e ocupação do solo;

29

e) Toledo não foi avaliado quanto à situação de alteração do perímetro

urbano, apenas nos quesitos de criação de regras específicas para parcelamento

de interesse social e definição de zonas ou políticas públicas específicas para a

área central do perímetro urbano, o que não existe em ambos os casos no

município;

f) no que diz respeito às políticas setoriais com orçamento municipal, Toledo

não dispunha de nenhuma das avaliadas – habitação, saneamento ambiental,

mobilidade e transporte, meio ambiente;

g) em relação aos conselhos, no sistema de gestão e participação

democrática, Toledo não possui Plano Diretor que prevê conselho voltado

especificamente para questões de política urbana. Em relação aos instrumentos

desta gestão participativa, o município não prevê audiências públicas, nem define

as formas de participação da população, não define as conferências, nem as

instâncias de participação social no orçamento público, além de não haver fóruns

para debate de políticas urbanas;

h) na previsão de conselho das cidades e/ou conselhos ligados à política

urbana, e, existência de mecanismos de articulação entre os conselhos, Toledo

não possuía nenhum dos casos;

i) em relação a previsão de sistema de gestão, ela não se delineava até o

momento do estudo, bem como, não haviam disposições sobre as formas de

planejamento e execução das ações e a participação popular, e, apenas de forma

superficial, Toledo realizava monitoramento das ações.

Diante desse diagnóstico qualitativo, o que se observa é um Plano

Diretor com apresentação de diretrizes gerais de desenvolvimento urbano,

focadas em questões físico-territoriais, e que

A análise das leis municipais confirma que os princípios do Estatuto da Cidade foram incorporados. Contudo, nem sempre está clara a articulação entre utilização dos instrumentos urbanísticos e cumprimento da função social da propriedade e da cidade. A inclusão dos instrumentos praticamente repete o padrão da lei federal, não especificando a realidade municipal. Ou seja, a lei autoriza o município a utilizar os instrumentos, mas nem sempre especifica como essa utilização terá que ser feita, de modo a garantir a função social daquela cidade.

30

A maioria dos planos exige leis complementares regulamentadoras, sendo verificado que, na maioria dos municípios do Paraná, essa aprovação ainda não ocorreu. A participação popular na gestão da cidade é prevista em quase todos os Planos, a partir de conselhos, audiências, conferências. Entretanto, a participação na discussão orçamentária aparece como possibilidade em menos de 40% dos planos analisados. (PEREIRA, 2010, p. 134).

Com tais constatações e evidências, torna-se de fundamental

importância um olhar crítico sobre os documentos e legislações que perpassam o

processo histórico de Toledo, e elencar alguns fragmentos destes, para trabalhar

com os alunos, é de grande relevância, para aprofundar as dimensões dos temas

elencados, como o direito à cidade, a especulação imobiliária a partir do

zoneamento urbano, e que é desdobramento do Plano Diretor do município,

buscando demonstrar como a participação popular pode e deve ser implementada

diante dos resultados expostos pelos estudos de Pereira (2010).

Assim, o texto a seguir, é outro fragmento do artigo da Willers

(2007), e faz um breve retrospecto histórico do planejamento em nosso município,

e que serve de embasamento histórico para pensarmos o atual Plano Diretor:

Texto box 2:

O planejamento urbano municipal de Toledo

A primeira referência de planejamento urbano registrado no

Município de Toledo foi o ordenamento territorial, regulamentado pela Lei nº 520

de 20/10/1969. Essa Lei criou as normas para o loteamento urbano e tratou das

vias de comunicação, dos sistemas de águas sanitárias, das áreas de recreação,

dos locais de uso institucionais e da proteção paisagística e monumental da

cidade. Em 1974 o município implantou seu primeiro Plano Diretor, denominado

na época de Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado (Regulamentado pela

Lei nº 778 de 02/09/1974, o plano regulamentou o crescimento urbano do

município através do zoneamento, loteamento e de normas de edificação).

A regulamentação deste Plano Diretor veio da necessidade de

planejar a área urbana de entorno da indústria da Sadia (região Sul do município)

e da Cooperativa Agropecuária Mista do Oeste Ltda. (Coopagro), (região Oeste

31

do município), que se tornaram regiões de forte atração populacional em função

do emprego que estas empresas demandaram. Com a inauguração desta

indústria e cooperativa, o município passa por intensa urbanização, advinda da

migração da população rural local e de outras cidades vizinhas e da região. Este

fato também atraiu investimentos no setor de comércio e de prestação de

serviços, estimulando o crescimento destes setores, desencadeando o

crescimento econômico de Toledo.

Assim, pode-se afirmar que foi através da inauguração da Sadia e

da Coopagro que o planejamento urbano de Toledo toma forma.

Nos anos 1980 e 1988 foram criadas leis municipais que davam

novas delimitações à área de expansão urbana da cidade de Toledo, além de leis

que complementavam essa expansão, como parcelamento do solo urbano,

zoneamento do uso e da ocupação, código de obras, entre outras, e que a partir

da atualização do Plano Diretor, feita através da regulamentação da Lei

Complementar nº 3, de 23/12/1993, foi possível intensificar linhas de

financiamento federal e estadual para a reestruturação urbana do município em

vários bairros. Também foi através desta Lei Complementar que se definiram as

novas áreas para loteamentos urbanos.

Ainda neste período, a Lei regulamentou a transferência para as

empresas de loteamento da obrigatoriedade em disponibilizar para a venda

somente de lotes urbanos que já detenham infraestrutura de base (luz, água,

esgoto, asfalto). Em entrevista realizada com duas empresas desta natureza no

Município, ambas alegaram que esta determinação onerou significativamente o

preço dos lotes urbanos, pois é um ônus a mais para a empresa. Contudo, na

prática, a demanda de mercado no ramo imobiliário cresceu cada vez mais: “os

investidores veem Toledo como uma cidade que vale a pena investir [...] mesmo

com a valorização dos terrenos, é um bom negócio, pois a cidade tem

infraestrutura urbana igual, ou melhor, que a dos grandes centros, com um

diferencial, tem qualidade de vida e economia forte” (ENTREVISTADO A).

Questionados sobre as áreas que vão se valorizar nos próximos

anos, os entrevistados foram unânimes em citar os bairros que compõem as

regiões Oeste e Norte do município, e a causa para esta valorização foram os

investimentos privados que estão se concentrando no entorno do polo

32

universitário, do parque industrial e da PR 467. Perguntados sobre o grau de

envolvimento do poder público municipal para esta valorização, novamente

obteve-se unanimidade nas respostas, tanto o polo universitário quanto a

consolidação do parque industrial só ocorreram pela interferência da Prefeitura,

que através do Plano Diretor, direcionou recursos públicos em obras de

infraestrutura, bem como, a doação de terrenos. Foram estas ações que

estimularam a expansão e a valorização imobiliária destas regiões.

Um conjunto de leis aprovados mais recentemente, em 2006 e 2007,

que inclui o novo Plano Diretor de Toledo, além de atuais alterações em seus

dispositivos nos últimos três anos, inclusive nesse mês de outubro de 2013,

deram novas redações e definições de áreas urbanas no município, continuando

com a proposta de expansão urbana e planejamento dos usos e ocupações

ocorridas.

Assim, como aponta Willers (2007) em suas considerações finais, e

que servem como resumo do processo recente de expansão e valorização do

espaço urbano do município, esta expansão e valorização do setor imobiliário das

regiões Oeste e Norte do Município estão diretamente relacionados aos

investimentos em infraestrutura urbana feitos pela Prefeitura Municipal desde a

década de 1990. Com a execução do Plano Diretor do município, essas áreas se

tornaram regiões de forte atração, em função dos investimentos privados que lá

ocorreram. Esses investimentos concentraram-se na área de prestação de

serviço, mais especificamente em educação superior, transformando a região em

um polo universitário. Também consolidou o parque industrial lá alocado. Esse

parque industrial atualmente abriga vários segmentos, entre eles a Prati

Donaduzzi, indústria do ramo farmacêutico e a cervejaria Colônia, indústria de

cerveja e refrigerantes, além de outras no ramo têxtil e metal mecânico.

Também foi reflexo o aumento migratório da população, fato que

instigou a urbanização das regiões e com ela a intensificação das relações

técnicas e comerciais que surgiram entre as empresas e indústrias lá localizadas,

fatores considerados estratégicos do processo de crescimento econômico

(PAELINCK, 1977 apud WILLERS, 2007, p. 190).

33

Assim, o polo universitário concentrado na região Oeste do

município consolidou o conjunto de atividades comerciais e de serviços que lá se

localizavam, atraindo novos investimentos, pois se tornou região de alta

atratividade comercial e residencial. Já na região Norte, foram a implantação do

Parque Industrial e a abertura da Rodovia PR 467 que tornaram essa área de

forte atração. Assim, foi a ação da Prefeitura Municipal, em termos de

planejamento urbano destas regiões (através do Plano Diretor), que efetivamente

desencadeou seu crescimento econômico, causando reflexos, inclusive para os

demais bairros de entorno e da região central da cidade e, principalmente,

impactando favoravelmente para o crescimento e para a valorização do setor

imobiliário no município (WILLERS, 2007, p. 190).

3. A CIDADE PELO VALOR DE USO E A CIDADE PELO VALOR DE TROCA

Embora o tema já tenha sido relatado e fundamentado em algumas

passagens do texto até aqui, vale ressaltar alguns elementos para estabelecer

essa diferenciação, embasando o debate com a comunidade escolar, refletindo os

diversos vieses que podem ser alcançados em uma discussão acerca do espaço

urbano de uma cidade, como é o caso do preterido nesse projeto e produção.

O valor de uso, e o direito à cidade, são temas que não se

concretizaram enquanto conteúdos específicos da disciplina de Geografia. São

apenas vistos quando aprofundamos conteúdos como a formação e o

crescimento das cidades, a dinâmica dos espaços urbanos, e temas correlatos,

dentre eles, o planejamento urbano, e que por tratar de elementos próximos da

arquitetura e urbanismo, além da sociologia e engenharias associadas ao dia a

dia das cidades, aparecem mais contemplados em artigos e livros nessas áreas,

do que especificamente numa leitura geográfica da cidade e desses instrumentos

de normatização (documentos, leis) e construção efetiva da cidade.

Para se falar de uma cidade, seja pelo valor de uso ou pelo valor de

troca, temos antes, que conceber o conceito de cidade, e aqui vou me utilizar de

um fragmento da tese intitulada “Funções sociais da cidade: conceitos e

instrumentos”, de Jorge Luiz Bernardi, 2006, que ao fazer um apanhado de

autores, escreveu em um dos seus capítulos o item “Buscando um conceito de

34

cidade”, que pode ser encontrado no link a seguir: disponível em

<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=

&co_obra=23650> acessado em nov. 2013.

A partir desses conceitos, do que é cidade, como elas se

diferenciam ao redor do mundo, e como elas são concebidas em nosso país,

podemos aproximar a leitura do cotidiano urbano dos nossos alunos, pensando

como Lefebvre (1991) que esse “direito à cidade se manifesta como forma

superior dos direitos: direito à liberdade, à individualização na socialização, ao

habitat e ao habitar”, e que só é possível enquanto prática na manifestação de

suas classes sociais.

Só o proletariado pode investir sua atividade social e política na realização da sociedade urbana. Só ele também pode renovar o sentido da atividade produtora e criadora ao destruir a ideologia do consumo. Ele tem portanto a capacidade de produzir um novo humanismo, diferente do velho humanismo liberal que está terminando sua existência: o humanismo do homem urbano para o qual e pelo qual a cidade e sua própria vida quotidiana na cidade se tornam obra, apropriação, valor de uso (e não valor de troca) servindo-se de todos os meios da ciência, da arte, da técnica, do domínio sobre a natureza material. (LEFEBVRE, 1991, p. 144).

Só que nas relações cotidianas das cidades, o que temos visto é

uma inversão desses valores, onde apenas alguns figuram como agentes

transformadores e apropriadores de seus resultados, enquanto os que as

constroem figuram num plano de expropriação e exploração, como é próprio do

capital.

Enfatizar a cidade como direito implica analisar a produção e a reprodução do espaço em sua complexidade e chamar a atenção para o mundo do trabalho, que fica oculto tão logo se termina cada uma das edificações, dos parcelamentos de terra, da infraestrutura – embora, como já dito, seja o mundo do trabalho que tem permitido investir no urbano. Os trabalhadores teriam que desaparecer de cena após a construção da cidade e ao final de sua jornada de trabalho, para não “contaminar” o padrão urbano moderno. Porém, como não evaporam e não podem pagar, devido a seus baixos salários, pelas mercadorias terra, casa e cidade, são responsabilizados pela precariedade dos lugares onde moram e pela violência urbana. Quem trabalha para construir tijolo a tijolo cada uma das ruas, das casas, dos edifícios em altura desaparece até mesmo de muitas análises, quando o “produto” é entregue.

35

Quem edifica a cidade não é tido como agente produtor do urbano. A cidade é entendida como se fosse resultante apenas da ação de proprietários das terras, dos incorporadores imobiliários, da indústria de construção civil, do Estado e do capital financeiro. (RODRIGUES, 2013, p. 10).

Os alunos de escola pública, para os quais esta produção se

destina, tem em sua característica fundamental, representar e apresentar os filhos

de trabalhadores, quando não, os próprios trabalhadores. Isto implica em uma

análise mais apurada e profunda, pois estarão eles em Toledo percebendo que há

evidências dessa expropriação e desta constatação, que não são tidos como

agentes produtores do urbano local? Estaria aqui ocorrendo esse entendimento

de uma cidade resultante apenas da ação de proprietários de terras,

incorporadoras e imobiliárias, Estado e capital financeiro? Cidade pelo valor de

troca?

Enfim, buscando compreender e levantar algumas respostas às

inúmeras perguntas suscitadas pelo tema demonstro a seguir as orientações

metodológicas, aplicando tais análises a realidade local, de um município

extremamente concentrador de renda, onde o Índice Gini, que busca medir o grau

de concentração da renda familiar, apontado pelo Ipardes (2013), foi de 0,4706,

figurando como um dos principais indicadores responsáveis pela diminuição do

IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano por Município).

ETAPAS DA AÇÃO, METODOLOGIA E ENCAMINHAMENTO DE CALENDÁRIO

As aulas acontecerão no primeiro semestre do ano letivo de 2014,

com encontros que terão duas horas-aulas sequenciais ou geminadas,

propiciando planejamento de atividades com tempo maior de interação entre

alunos e professor, bem como, permitindo atividades de pesquisa local, com

coleta de dados e discussão de resultados entre os alunos em seus grupos e dos

alunos com o professor.

Considerando o calendário proposto e aprovado para os municípios

do interior do Estado para 2014, as atividades da intervenção pedagógica estão

distribuídas da seguinte maneira:

36

1º Encontro: 03-05/02/2014 - Apresentação do Projeto de Intervenção Pedagógica

e da Produção Didático-Pedagógica na semana pedagógica do início do ano

letivo, à comunidade escolar do Colégio Estadual Senador Attílio Fontana, após

reuniões com a Direção e Equipe Pedagógica para definição de cronograma da

semana.

2º Encontro: 17-21/02/2014 - Apresentação do Projeto e diagnóstico objetivo e

descritivo dos conhecimentos a priori dos alunos sobre o tema e objetivos do

projeto, a partir de avaliação preliminar destes alunos.

3º Encontro: 24/02/2014 à 07/03/2014 - Aulas expositivas com uso de recursos,

trabalhando os conceitos associados ao tema, possibilitando visão global do

projeto que tem por objeto o local da escola – município de Toledo/PR. Conteúdos

básicos da urbanização mundial e brasileira, além dos conceitos de cidade,

expansão urbana, planejamento urbano, Estatuto das Cidades, planos diretores e

leis de zoneamento.

4º Encontro: 10/03/2014 à 21/03/2014 - Breve histórico da expansão urbana de

Toledo, a partir de fotografias históricas da cidade (observando a paisagem

urbana e a expansão da “malha” urbana), procurando elencar os conteúdos

estruturantes da Geografia (dimensões econômica, política, social, ambiental,

cultural e demográfica), e referenciados em texto nesta Produção.

5º Encontro: 24-28/03/2014 - Os Planos Diretores em Toledo e seus zoneamentos

respectivos – delineadores da paisagem urbana do município e condicionante ou

não, do aparelhamento infraestrutural da cidade.

6º Encontro: 31/03/2014 à 17/04/2014 – Apresentação do atual zoneamento

urbano de Toledo, que será dividido em zonas específicas para ser trabalho em

grupos de alunos, com no máximo seis alunos por grupo. A partir dos mapas e

documentos desse zoneamento, encaminhamento para atividade de

levantamento de informações, acerca das possibilidades de uso e ocupação das

zonas delimitadas para cada grupo. Pesquisa pelos alunos em grupos dos valores

37

imobiliários aplicados a essas zonas delimitadas, com utilização de sites de

imobiliárias, classificados da cidade e tabela referencial dos valores do IPTU da

cidade, bem como, observação dos vazios urbanos (quando existentes) destas

zonas, e sua possível infraestrutura (asfalto, água tratada, energia elétrica, posto

de saúde ou hospital, escolas, creches, tipo de comércio e indústrias, se

existentes, dentre outros dados que os grupos delimitarem como importantes). Os

levantamentos serão realizados durante as aulas com pesquisa no laboratório de

informática, além da biblioteca para o caso dos jornais e classificados (impresso e

on-line), e como estudo dirigido, podendo ser adotado o melhor procedimento

dialogado pelos grupos.

7º Encontro: 22-25/04/2014 - Introdução da discussão da cidade pelo valor de uso

versus a cidade pelo valor de troca, diante dos valores e realidades

infraestruturais levantados, mapeados e apresentados pelos grupos, a partir do

zoneamento da cidade. Apresentação por parte do professor, para comparativo

de valores dos imóveis e aluguéis, das médias salariais pagas pelos principais

setores econômicos do município, buscando especial atenção ao Bairro Pioneiro,

onde o colégio e os alunos envolvidos com o projeto se inserem.

8º Encontro: 28-30/04/2014 - Preparação da saída de campo, com aspectos e

elementos da paisagem a serem observadas. Aula de campo por algumas zonas

delimitadas no zoneamento urbano do município. Discussão sobre os aspectos

observados nas paradas, acerca daquela zona visitada e elencada anteriormente

pelos grupos em seus diversos aspectos.

9º Encontro: 05-16/05/2014 - Atividade a partir do zoneamento urbano da cidade,

delimitando a área onde o colégio se encontra, trabalhando com a perspectiva de

mudança do plano diretor da cidade e as possíveis variáveis apontadas pelos

alunos como propostas de permanência e/ou mudança de características desse

zoneamento, com avaliação das infraestruturas da área/zona do colégio, dos

encaminhamentos realizados pelos alunos, e apresentados à Comunidade

Escolar, e que, depois de referendadas pelos demais colegiados (Direção, Equipe

Pedagógica, Professores e Funcionários, APMF, Conselho Escolar, Grêmio

38

Estudantil), poderão ser apresentados à Comissão do Plano Diretor de Toledo,

em carta/ofício enviada pela Direção da Unidade Escolar.

10º Encontro: 19-23/05/2014 - Retomada dos conceitos apresentados e aplicação

de questionário/avaliação para levantamento de resultados do trabalho aplicado.

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