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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · brevemente sobre os gêneros textuais e as adaptações na atualidade. 2. Os Gêneros Textuais: Breve Teoria Conforme os estudos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

SHAKESPEARE ADAPTADO: POSSIBILIDADES DE UM ENSINO DE LEITURA LITERÁRIA CRÍTICA NAS AULAS DE LÍNGUA

INGLESA

Autora: Zulmira Pires de Moraes1 Orientadora: Elizandra Fernandes Alves2

Resumo: Este artigo tem como objetivo principal discutir brevemente os resultados obtidos com uma proposta de ensino desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional (doravante PDE), do Governo do Estado do Paraná. A proposta de ensino envolveu o estudo sobre a necessidade de formarmos leitores ativos e críticos, capazes de questionar e até modificar, pelas leituras apreendidas, o meio no qual se inserem. Tal temática foi relevante porque contribuiu para um fazer didático que contemplasse a leitura crítica, interpretação e compreensão de textos autênticos em língua inglesa, mais especificamente, de textos adaptados do dramaturgo inglês William Shakespeare. O trabalho, desenvolvido nos anos de 2014 e 2015, possibilitou que determinados educandos do ensino público tivessem contato com a leitura de literatura de língua inglesa de forma atrativa, pouco desenvolvida na escola.

Palavras-chave: Leitura crítica. William Shakespeare. Adaptação. Gênero Textual.

Introdução

Este artigo tem por objetivo apresentar os resultados de um projeto de

Intervenção Pedagógica da disciplina de Língua Inglesa (doravante LI),

desenvolvido durante o PDE, programa de formação continuada da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná (doravante SEED), ao longo dos anos de 2014 e

2015. Todo o trabalho de elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica, a

Produção Didático-Pedagógica, bem como a respectiva aplicação desse material

e o aprofundamento teórico advindo das discussões virtuais no Grupo de

Trabalho em Rede (doravante GTR), buscou contemplar as teorias educacionais

presentes nos documentos oficiais do Estado do Paraná, as Diretrizes

Curriculares do Estado do Paraná de Língua Estrangeira Moderna (doravante

DCES-LEM) de 2008. O objetivo do projeto, cujo título é Shakespeare Adaptado:

Possibilidades de um ensino de leitura literária crítica nas aulas de Língua

1 Professora PDE 2014; Graduada em Letras Português/Inglês; Pós-Graduada em Gestão Escolar

e Educação do Campo; atuante no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos - CEEBJA - Laranjeiras do Sul - PR; [email protected] 2 Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Professora do Curso de

Letras – Inglês e Respectivas Literaturas, na Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus Santa Cruz, Guarapuava, PR; [email protected].

Inglesa, foi o de contribuir para um ensino crítico de leitura em educandos do

Ensino Médio (doravante Ensino Médio) nas aulas de LI através do trabalho com

adaptações de obras do dramaturgo William Shakespeare.

O projeto foi desenvolvido e levado aos educandos através de uma

Unidade Didática, e sua implementação se deu em 32 horas/aulas redistribuídas

no horário da escola no segundo semestre de 2015 realizada junto aos discentes

do Ensino Médio do Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos

– CEEBJA, no município de Laranjeiras do Sul, Paraná. As atividades buscaram

estimular a leitura autêntica através das adaptações, visto que as tragédias

shakespearianas poderiam ser falhas para o ensino se tratados em suas formas

puras devido, principalmente, a densidade linguística das mesmas. No entanto,

trabalhadas considerando suas adaptações, como no caso do gênero história em

quadrinhos, acreditamos que poderíamos oferecer aos educandos um ensino de

leitura em LI que os envolvesse em seu mundo e os despertassem para o literário

e imaginativo.

O trabalho teve a intenção de despertar o gosto da leitura via gêneros

textuais para, assim, desenvolver nos educandos o interesse por outros gêneros,

ampliando seus horizontes de leitura e também de conhecimento de mundo. Para

tanto, o material didático-pedagógico produzido foi adequado ao nível escolar dos

educandos, apresentado na forma de caderno pedagógico, no qual abordou o

tema leitura de texto literário adaptado em sala de aula através de fundamentação

teórica e atividades escolares devidamente preparadas para suprir as

necessidades literárias dos educandos.

Para um melhor entendimento da pesquisa desenvolvida e aplicada,

seguir-se-á, nas próximas seções, a apresentação da base teórica que alicerçou o

trabalho inicial, a saber, O Papel da Leitura nas Aulas de Língua Inglesa, Gêneros

Textuais: Breve Teoria e William Shakespeare: Vida, Obra e suas Adaptações na

Atualidade. Após a apresentação teórica, apresentar-se-á, nas seções A

Implementação e a Análise dos Resultados, como se deu a implementação e

quais foram os resultados obtidos com ela. Deve-se finalizar com as

considerações finais, nas quais deverão ser levantadas questões sobre o

trabalho, de forma geral, bem como serão levantadas ideias prospectivas, e as

referências bibliográficas usadas ao longo da confecção do projeto e do artigo.

1. O Papel da Leitura nas Aulas de Língua Inglesa

O prazer de ler está relacionado não só ao incentivo, mas também ao

significado que a leitura representa ao leitor. Conforme as DCEs-LEM (2008, p.66,

grifo nosso), “[p] ara que uma leitura em Língua Estrangeira se transforme

realmente em uma situação de interação, é fundamental que o aluno seja

subsidiado com conhecimento linguístico, sociopragmáticos, culturais e

discursivos”, e acreditamos que tal subsídio deve partir, primeiramente, do

educador, visto que entendemos ser ele a pessoa mais capacitada para fazer a

interação entre a leitura e o educando. No entanto, percebemos que nem sempre

a leitura é direcionada desta forma nas aulas de LI, e, assim sendo, não podemos

criar expectativas quanto a despertar nos educandos o gosto pela leitura de

qualquer gênero, por mais interessante que ela possa ser.

Acreditamos que o trabalho com a leitura nas aulas de LI deve,

inicialmente, levar os educandos a refletir diante dos textos que leem para que

possam, então, reconhecê-los e a partir daí participarem da construção dos

sentidos a eles subjacentes. E nessa relação devemos contemplar os diversos

gêneros textuais, inclusive os da esfera literária de circulação, que muitas vezes

são esquecidos em sala de aula, pois a especificidades de aprendizagem

divergem de educando para educando, fazendo com a aprendizagem de cada um

ocorram também nesta diversidade. Nesse sentido, as DCEs-LEM (2008)

mostram que o educador precisa criar estratégias de ensino com os diferentes

gêneros textuais para que a reflexão adquirida pelo educando o desperte para a

possibilidade de reconstruir seu conhecimento linguístico-cultural.

Assim, consideramos ser possível a aprendizagem de leitura em LI com

textos considerados mais profundos, como os do dramaturgo William

Shakespeare (a exemplo do projeto aqui discutido), se considerarmos as

adaptações em gêneros textuais distintos. A intenção de se trabalhar a leitura

crítica de textos shakespearianos adaptados (no cinema, em histórias em

quadrinhos, em tiras, etc.) como suporte para o processo de ensino-

aprendizagem de LI se deu pelo fato dos mesmos serem leituras atrativas para

adultos, jovens e crianças, dado a atemporalidade temática de Shakespeare.

Para uma melhor compreensão do desenvolvimento do projeto, porém, fez-

se necessário conhecermos um pouco sobre William Shakespeare e algumas de

suas obras adaptadas na atualidade. Tais obras são veiculadas por meio de

gêneros textuais distintos, de forma que se fez também necessário discutirmos

brevemente sobre os gêneros textuais e as adaptações na atualidade.

2. Os Gêneros Textuais: Breve Teoria

Conforme os estudos de Bakhtin (2004), a linguagem é um fenômeno

histórico, social e ideológico cuja evolução se dá na medida em que há interação

entre os falantes de um dado meio social. Tal interação seria impossível se não

existissem os gêneros textuais, formas mais ou menos estáveis de enunciados

existentes e disponíveis na sociedade para que haja a comunicação e

compreensão entre os falantes. Marcuschi entende que (2008, p. 161):

[o]s gêneros são atividades discursivas socialmente estabilizadas que se prestam aos mais variados tipos de controle social e até mesmo ao exercício de poder. Pode-se dizer, pois, que os gêneros textuais são nossa forma de inserção, ação e controle social no dia a dia.

Percebemos, assim, que gêneros textuais fazem parte da vida e das

atividades diárias do ser humano, refletindo seus objetivos. Seguindo este

pensamento, Bakhtin (1997, p. 279), afirma que:

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.

Assim considerado, devemos entender que os gêneros textuais são

inúmeros, e que cabe ao falante se utilizar do discurso adequado a cada situação

na qual se encontra inserido para que a comunicação seja efetiva. Como

mostrado por Bakhtin, tais gêneros não são fixos, e, muito menos, finitos, já que

se desenvolvem de acordo com a atividade do ser humano.

Dado o exposto, entendemos, enquanto educadores, que se concebermos

a língua como algo social, histórico e sociológico, e se entendemos que a mesma

(forma de interação) se dá mediante os gêneros textuais, somos levados a

ratificar o embasamento teórico das DCEs-LEM (2008), o qual mostra que o

trabalho com os gêneros levam os alunos a interagir na comunicação,

oferecendo-lhe sentido (diferente do que acontece com os textos de muitos

materiais didáticos, os quais são criados unicamente para o trabalho em sala,

perdendo em autenticidade), bem como possibilidades de comparação entre a

análise crítica de textos e a prática social. Sabe-se que é nas bases educacionais

basilares que o saber formativo começa a ser constituído, assim, o trabalho com

os gêneros textuais em sala de aula facilita a discussão de temas fundamentais e

propicia que os alunos se insiram em situações de interações por meio de

práticas que os conduzam ao uso real e social da língua.

As DCEs-LEM (2008) apresentam um quadro no qual as esferas sociais de

circulação são apresentadas, bem como alguns dos gêneros textuais delas

desprendidos, e sendo as DCEs-LEM o documento oficial que governa o ensino

de LEMs nas escolas públicas do estado do Paraná, entendemos que deveríamos

partir deste quadro para escolhermos os gêneros a ser trabalhado em nosso

projeto. Considerando que a literatura é quase sempre deixada de lado nas aulas

das escolas públicas, principalmente nas de língua inglesa, partimos da esfera

social literária/artística de circulação para aplicarmos nosso trabalho.

A literatura está presente no cotidiano das pessoas, dentro de nossas

casas, nas músicas, nos filmes, nas danças, nas ruas, enfim, nas mais diversas

manifestações culturais sociais, e, no entanto, ela ainda é vista como inútil para

várias pessoas. Sendo assim, decidimos pela escolha do estudo das obras do

dramaturgo William Shakespeare, pela sua atemporalidade e originalidade. No

entanto, diante da profundidade da obra shakespeariana, e para que pudéssemos

despertar o interesse dos alunos com um autor clássico, decidimos, ainda,

estudarmos as obras dele por meio de algumas adaptações sem definirmos um

gênero textual específico.

Para compreendermos melhor a possibilidade de trabalharmos a LI através

de sua literatura, como sugerido, foi preciso saber um pouco sobre o autor em

questão, suas obras, bem como suas adaptações na atualidade. Assim, o próximo

tópico ficou encarregado de nos apresentar, brevemente, tais definições.

3. William Shakespeare: Vida, Obra e Suas Adaptações na

Atualidade

Um dos objetivos desta proposta foi o de introduzir aos educandos a

biografia do dramaturgo William Shakespeare, apresentando-lhes, para estudo

mais aprofundado, algumas de suas obras, e mostrando-lhes como, apesar da

distância temporal que nos separa do autor, o mesmo ainda é estudado e

lembrado nos dias atuais dentro de várias esferas, como a cinematográfica, por

exemplo, por meio de adaptações.

Dramaturgo e poeta inglês, William Shakespeare (1564 -1616) é, até hoje,

considerado um dos maiores escritores de todos os tempos, por isso seu estudo,

dentro deste trabalho, já se justifica. Nascido em Stratford-upon-Avon, sabe-se

que, já casado, Shakespeare deixa sua cidade natal para conquistar a carreira

teatral em Londres. Inicialmente trabalhou como ator, mas logo se tornou famoso

devido às suas peças teatrais. Com amigos, o dramaturgo forma uma companhia

de teatro, a Lord Chamberlain’s Men, companhia esta que o ajudou a fundar o

famoso Globe Theatre (MANGA SHAKESPEARE, 2007).

Durante sua carreira de quase 25 anos, Shakespeare escreveu mais de 40

trabalhos, incluindo poemas, peças e materiais hoje dados como perdidos. Apesar

de sua maestria na poesia, foi com o teatro que se destacou como escritor.

Dentre suas principais obras teatrais, destacamos The Taming of the Shrew (A

Megera Domada), Romeo and Juliet (Romeu e Julieta), Midsummer Night’s

Dream (Sonho de uma noite de verão), Hamlet (Hamlet), Othello (Otelo), Macbeth

(Macbeth) e King Lear (Rei Lear), as quais são, até hoje, mundialmente

encenadas (MANGA SHAKESPEARE, 2007).

Apesar de ter falecido em uma época distante, acreditamos, enquanto

educador, que conhecer este dramaturgo, bem como sua influência para a

literatura mundial e atual, poderia despertar nos educandos a curiosidade pela

leitura de vários outros gêneros e, consequentemente, levá-los a conceber a

leitura de forma menos mecânica, e mais crítica. Sabendo também da

profundidade da obra de Shakespeare, e como isto poderia ser um empecilho

para leitores menos maduros, como os do CEEBJA, decidimos estudar o

dramaturgo pela veia das adaptações, bastante comuns nos dias atuais.

Diniz (1999) discute que processo de adaptação de uma obra literária para

qualquer outra linguagem baseia-se na reconstrução da narrativa para que a

mesma sirva aos propósitos do novo meio receptor, como, por exemplo, o

cinema, as histórias em quadrinhos, as telenovelas, etc. A forma com que o

adaptador lê a obra literária a serem adaptadas, as tendências da época, qual

público a ser atingido, etc.; estes e outros elementos devem ser estudados e

analisados para que uma adaptação alcance o objetivo esperado por ela; não

raro, no entanto, as críticas se pautam na fidelidade e originalidade da adaptação,

menosprezando-as enquanto sua infidelidade ao texto original, principalmente

quando este texto se insere no cânone. Assim, no projeto concebemos as

adaptações das obras de William Shakespeare enquanto obras independentes e

fiéis dentro de suas modalidades, mas que, além de sua independência, são ricos

meios de incentivar os educandos a conhecerem, estudarem e lerem as obras

shakespearianas.

Entre exemplos de obras shakespearianas adaptadas na atualidade e que

são de agrado do público adulto e jovem podemos citar o filme estadunidense Ten

Things I Hate About You (Dez coisas que eu odeio em você), de 1999, estrelado

por Julia Stiles e Heath Ledger, e que foi livremente adaptado da obra The

Taming of the Shrew (A megera domada); a mesma peça inspirou Walcyr

Carrasco a escrever a telenovela O Cravo e a Rosa, exibida no canal aberto Rede

Globo, entre 2000 e 2001, estrelando Adriana Esteves e Eduardo Moscovis nos

papéis principais. O Estúdio Mauricio de Sousa produziu, em data questionável, o

gibi Turma da Mônica – Romeu e Julieta, adaptação da obra homônima, na qual

Mônica representa Julieta (Julieta Monicapuleto), e Cebolinha Romeu (Romeu

Montéquio Cebolinha).

Acreditando, assim, que se trabalhássemos William Shakespeare pela veia

das adaptações voltadas para um público diferente daquele que lê as obras

originais na atualidade (como as dadas nos exemplos acima), estaríamos

instigando nossos educandos a conhecer a LI, desenvolver suas habilidades de

leitura, bem como expandir seu conhecimento literário, um projeto inicial foi

construído e, consequentemente, aplicado. Para que possamos entender melhor

o desenvolvimento do trabalho, apresentar-se-á, a seguir, dados da

implementação e a análise dos resultados obtidos.

4. A Implementação e a Análise dos Resultados

A aplicação da Unidade Didática Shakespeare Adaptado: Possibilidade de

um Ensino de Leitura Literária Crítica nas Aulas de Língua Inglesa ocorreu no

segundo semestre de 2015, no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens

e Adultos – CEEBJA, de Laranjeiras do Sul, no estado do Paraná, com duração

de 32 horas/aula. O seu desenvolvimento, no entanto, se deu no primeiro

semestre de 2015, fundamentada em leituras, compreensão e análise dos

gêneros textuais pertencentes à esfera literária de circulação, cujos pressupostos

encontram-se nas DCEs-LEM (PARANÀ, 2008).

A apresentação do projeto aos educandos e à comunidade escolar se deu

em reunião (lavrada em ata) no Centro Estadual de Educação Básica para Jovens

e Adultos- CEEBJA de Laranjeiras do Sul com a presença dos educandos, do

Conselho Escolar, dos membros Associação de Pais, Mestres e Funcionários

(doravante APMF), da Equipe Pedagógica e da Direção Escolar. O projeto teve a

aceitação de toda comunidade escolar despertando nestes a expectativa em

relação à reflexão e a ampliação da leitura crítica.

Para desenvolver a proposta, na aula inicial foi explicado aos educandos

que o material havia sido impresso e encadernado, mas que ao final de cada aula

o mesmo seria recolhido e guardado no armário da educadora para que seu

possível esquecimento em casa não prejudicasse as aulas previstas.

A efetivação do Projeto de Intervenção Pedagógica deu-se primeiramente a

partir de um questionário entregue aos educandos para sondagem do

conhecimento dos mesmos sobre as obras de William Shakespeare, bem como

para questioná-los sobre seus gostos em relação a leituras, filmes, músicas, etc.,

e também para que refletissem acerca da possibilidade de se aprender a LI

através da literatura. As questões orais foram sempre expostas ao grande grupo

para que houvesse uma troca de ideias. A Unidade Didática foi dividida em blocos

de duas ou três aulas dependendo a complexidade do conteúdo trabalhado.

Assim, após a primeira aula exposta acima, nas três aulas seguintes foi

solicitado aos educandos, sem especificar obras, que relacionasse em duas

colunas as diversas formas de adaptação das obras de Shakespeare para TV,

cinema e história em quadrinhos para que eles que pudessem identificar os

gêneros vários dessas adaptações. Ao fazermos a correção oral das atividades os

educandos demonstraram surpresa diante do conhecimento das diversas formas

de adaptação das obras de Shakespeare. Assim, ainda na correção discorremos

sobre cada obra adaptada, e, principalmente, o autor original de onde foram

adaptadas: William Shakespeare.

Ainda, nas aulas 2, 3 e 4 foi solicitado aos educandos que lessem,

individualmente, o texto “Did you know?” (Você sabia?), afim de que entendessem

o conceito de adaptar. A leitura inicial foi individual, em seguida, com todo o

grupo, para que dúvidas fossem tiradas neste momento. A gramática aplicada na

aula foi consequência da resolução de atividades e dúvidas existentes, pois,

segundo as DCEs (2008 p. 59): “A abordagem da leitura critica extrapola a

relação entre o leitor e as unidades de sentido na construção de significados

possíveis. Busca-se, então superar uma visão tradicional da leitura condicionada

à extração de informações.”

Em seguida, e em duplas, os educandos realizaram interpretação do texto

sobre adaptação e responderam perguntas em inglês. Nesta hora fez-se

necessário o uso do dicionário; corrigida as questões oralmente, houve discussão

sobre as questões e a relação das mesmas com o texto estudado. Após,

educandos assistiram a quatro vídeos/imagens (sobre adaptações), para que, em

duplas, pudessem discutir a respeito das adaptações de obras literárias na

música, em novelas, filmes e história em quadrinhos. Houve a facilitação do

desenvolvimento das atividades pela existência de data show com internet na sala

onde o projeto foi aplicado, sendo possível voltar e parar as imagens sempre que

solicitado pelos mesmos. Isto aconteceu em vários momentos, pois uma

educanda é especial (ela é surda e possui baixa visão). Esta repetição

proporcionou um melhor entendimento a ela e, consequentemente, aos demais

educandos.

O bloco das aulas 5, 6 e 7 foi destinado ao estudo de biografias com texto

do formato das mesmas para que, posteriormente, os educandos pudessem fazer

a identificação de uma biografia. Para isso, nas aulas 8 e 9 foram exposta

biografias de pessoas famosas em inglês, sendo que a principal era a de William

Shakespeare, para que os educandos melhor pudessem conhecer o autor bem

como suas principais obras.

Na sequência, nas aulas 10, 11 e 12, os educandos estudaram o conceito

de autobiografia e as características do gênero. Após o seu estudo, eles tiveram

que elaborar sua própria autobiografia, tendo como modelo a autobiografia da

educadora. Nessa elaboração os educandos tiveram muitas dúvidas, como, por

exemplo, quais elementos deveriam ser obrigatoriamente destacados na escrita.

Após nova explicação, e tendo os educandos entendido melhor o papel e

características de uma autobiografia, o desenvolvimento da atividade foi

retomando e os educandos conseguiram concluí-la com facilidade.

Nas aulas 13, 14 e 15 os educandos puderam assistir a um vídeo com

cenas sobre a adaptação para TV da Megera Domada; tratou-se da novela O

Cravo e a Rosa. Os educandos assistiram ao vídeo e tiveram que interpretá-lo à

luz do texto shakespeariano. Essa atividade despertou muito interesse pelo fato

dos educandos conhecerem a novela em questão, sem, no entanto, saberem de

que se tratava de uma adaptação do dramaturgo inglês.

As aulas do próximo bloco, 16, 17 e 18, se iniciaram com o estudo do

tópico gramatical Presente Simples. Em seguida, os educandos deveriam resolver

uma atividade usando o presente simples, na qual eles deveriam completar

questões sobre a adaptação d’A Megera Domada para o cinema: As dez coisas

que odeio em você. A atividade fez a ligação entre a gramática e o texto, o quê,

segundo as DCEs-LEM (2008), é a forma certa de se trabalhar tópicos

gramaticais, construindo significados, e não reproduzindo práticas estruturais.

Nas duas próximas aulas, 19 e 20, os educandos tiveram acesso à sinopse

de algumas obras de Shakespeare (Othello, Hamlet e King Lear) para que eles

pudessem estudar o gênero textual sinopse, bem como discutir os textos em

questão. Os educandos tiveram, em uma atividade, que enumerar as sinopses de

acordo com as obras dadas. A correção se fez oralmente, e os educandos

puderam discutir qual obra eles gostariam de ler por completo, de acordo com o

interesse deles.

Na sequência, nas duas próximas aulas, 21 e 22, os educandos

entenderam através de um texto explicativo o que era uma sinopse e seu uso;

eles tiveram que escolher a sinopse que mais lhe despertou o interesse e a

representou através de desenho, os quais foram apresentados à classe. Ainda,

após esta atividade, eles assistiram a um vídeo sobre o filme O Rei Leão, e

discussões sobre o mesmo foram levadas ao grande grupo oralmente.

Nas aulas, 23, 24 e 25, os educandos tiveram acesso em inglês à sinopse

do filme O Rei Leão, que é uma adaptação da obra Hamlet, bem como à sinopse

da obra original de Shakespeare. Após estudo das duas sinopses, os educandos

realizaram participaram de algumas atividades sobre as duas obras, inclusive

jogaram o jogo Hot Potato, no qual eles articularam o conteúdo estudado em um

momento lúdico.

Nas duas aulas seguintes, 26 e 27, foi trabalhada uma das mais famosas

obras de Shakespeare, Romeu e Julieta. Em inglês, os educandos puderam ler e

interagir com as atividades de interpretação com o auxílio de um vídeo da obra,

incentivando-os a discuti-la no grande grupo. O desenvolvimento do trabalho

levou os educandos, curiosos, a pedirem para assistirem a um filme adaptado da

obra de Shakespeare, o escolhido foi Romeu e Julieta, com Leonardo DiCaprio e

Claire Danes. Embora esta atividade não constasse no trabalho inicial, a

educadora decidiu incluí-lo, já que o interesse em assistir ao filme partiu dos

próprios educandos. Assim, toda a escola foi transformada em um cinema e a

obra foi exibida em uma tela grande para toda comunidade escolar. Foi um evento

de grande sucesso.

A finalização da implementação do projeto deu-se a partir de um

questionário para análise do conhecimento dos mesmos sobre as obras de

William Shakespeare e sua rotina de leitura. As respostas demonstram que o

trabalho desenvolvido foi relevante para a aprendizagem de LI; apesar de muitos

dos educandos nunca terem tido contato com o tema abordado, eles conseguiram

interagir em sala de forma até fácil. Essa facilidade pode, também, além do bom

trabalho desenvolvido durante o percurso do PDE, ser atribuída aos recursos

utilizados. Os educandos relatam que gostaram muito do tema trabalhado, e que,

ainda, essa forma de se trabalhar a LI facilita a aprendizagem e que outros temas

poderiam ser trabalhados. Eles ainda sugeriram que para que eles pudessem

desenvolver suas habilidades de leitura e expandir seus conhecimentos, mais

trabalhos que adentrem o mundo literário deveriam ser desenvolvidos na escola.

Assim, entendemos que os resultados apresentados vão de encontro com

nosso debate inicial, baseado nas DCEs-LEM (2008), “a ênfase do ensino recai

sobre a necessidade de os sujeitos interagirem ativamente pelo discurso, sendo

capazes de se comunicar de diferentes formas materializadas em diferentes tipos

de texto”, e entendemos que para que isso aconteça é necessário que se insira

no contexto escolar novas abordagens de leituras, cabendo, principalmente, ao

educador se dispor a proporcionar ao educando um meio de se ensinar que vai

além, no caso das Línguas Estrangeiras Modernas, de questões linguísticas e

comunicativas.

Aqui é importante mencionar que, concomitantemente à aplicação do

projeto de implementação pedagógica no CEEBJA, foi desenvolvido o Grupo de

Trabalho em Rede GTR, que é parte do projeto PDE. O GTR é uma formação

continuada para os professores da Rede Pública Estadual do Estado do Paraná,

no qual o educador cursista tem acesso ao projeto desenvolvido pelos

professores PDEs e conseguem interagir opinando e debatendo sobre as

temáticas desenvolvidas nas escolas. Esses debates fortalecem os trabalhos

desenvolvidos ou que serão desenvolvidos nas escolas, já que os colaboradores

conseguem visualizar os erros cometidos e sugerir novos enfoques ao trabalho.

Neste sentido, o GTR foi de grande valia para complementar o estudo realizado

durante o percurso do PDE.

Considerações Finais

A implementação do projeto Shakespeare Adaptado: Possibilidades de um

ensino de leitura literária crítica nas aulas de Língua Inglesa visou abarcar o

estudo das obras shakespearianas nas aulas de LI para que os educandos

refletissem sobre a possibilidade de aprender a LI através da literatura, bem como

para que ampliassem sua visão crítica de mundo nas várias instâncias da

sociedade (política, cultural, econômica, etc.). Para isso, o projeto contou também

com a intervenção dos colaboradores formados por educadores da Rede Estadual

de Educação, cursistas do GTR, no qual suas sugestões contribuíram para o

melhoramento do projeto em si, principalmente quando ele for aplicado no futuro.

Nesse sentido, em conjunto se chegou à conclusão de que para que tenhamos a

participação e interesse dos educandos ao se aprender uma nova língua,

devemos articular seu conhecimento prévio com textos diversos, trazendo leituras

significativas para a sala de aula, leituras essa que o levem a interagir com sua

realidade.

Dessa forma, se verificou que o projeto propiciou aos educandos acesso à

leitura de obras do dramaturgo inglês Willian Shakespeare por meio de algumas

adaptações, e despertou nos educandos o gosto de aprender a ler, interpretar e

conhecer uma nova língua e cultura por meio do texto literário. Segundo as DCEs

(2008, p.57):

[...] o aprendizado de uma língua estrangeira pode proporcionar uma consciência sobre o que seja a potencialidade desse conhecimento na interação humana. Ao ser exposto às diversas manifestações de uma língua estrangeira e às suas implicações político-ideológicas, o aluno constrói recursos para compará-la à língua materna, de maneira a alargar horizontes e expandir sua capacidade interpretativa e cognitiva.

No entanto, deve-se, ainda, valorizar o conhecimento prévio do educando

para que não haja um choque com a sua realidade, mais sim uma soma

significativa de aprendizagem, para que, a partir dessa nova significação, ele

possa transformar sua prática sócio-cultural. Dessa forma, o desenvolvimento do

projeto em questão, a partir de uma Unidade Didática, buscou levar o educando a

novos conhecimentos, se utilizando de métodos que os levaram a interpretar,

comparar e questionar a sua realidade pela literatura.

Visto que os resultados alcançados com esse projeto firmaram nossa inicial

reflexão acerca da possibilidade de aprender a LI através da literatura,

despertando o interesse dos educandos pela língua através da fantasia, humor e

engajamento do texto lido com o contexto social no qual eles estão inseridos,

pode-se dizer que o nosso dever foi cumprido, ficando nós na esperança de que

outros profissionais possam fazer bom uso deste trabalho.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2004.

DINIZ, T. F. N. Literatura e Cinema: da semiótica à tradução cultural. Ouro Preto: Editora UFOP, 1999. MANGA SHAKESPEARE. Romeo and Juliet. Illustrated by Sonia Leong. New York: Amulet Books, 2007. MARCUSCHI, L. A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. PARANÁ. Secretaria de estado da educação. Superintendência da educação. Diretrizes curriculares de língua estrangeira moderna para educação básica. Curitiba SEED, 2008.