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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O TRABALHO E A SAÚDE DO PROFESSOR FRENTE ÀS
SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA NA ESCOLA
Adriana Cristina Buss1
Tânia Maria Rechia Schroeder2
Resumo: Este artigo apresenta o resultado de um trabalho realizado com
professores do Colégio Estadual Paulo Freire Ensino Fundamental e Médio, do
município de Marechal Cândido Rondon, Paraná. O objetivo foi o de propiciar
reflexões sobre a questão da violência escolar, evidenciando-se aquelas
perpetradas contra professores e as suas conseqüências para o desempenho do
trabalho, bem como a saúde deste profissional. O trabalho foi implementado com
professores do referido colégio, por meio de um curso de extensão com ciclo de
debates e grupos de estudo, onde se procurou aprofundar conhecimentos sobre o
fenômeno da violência escolar a partir do referencial teórico de Debarbieux, Codo,
Abramovay e Charlot e identificar a compreensão dos professores sobre esse
complexo problema que, segundo suas percepções, a violência tem se agravado
no espaço escolar.
Palavras-chave: violência; trabalho docente; adoecimento laboral; mediação de conflitos
1 INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é o de apresentar os resultados do trabalho
desenvolvido no Colégio Estadual Paulo Freire – Ensino Fundamental e Médio do
município de Marechal Cândido Rondon, dentro do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE).
1 Professora Pedagoga da rede estadual de Educação do Paraná, no Colégio Estadual Paulo Freire– Marechal Cândido Rondon. Email:[email protected] Doutora em Educação, Orientadora do PDE pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – campus de Cascavel. Email: [email protected]
O presente artigo relata a experiência da implementação pedagógica
realizada no referido Colégio, no segundo semestre do ano letivo de 2014, em 6
(seis) encontros presenciais de 4 (quatro) horas, sendo 24 horas presenciais e 16
horas não presenciais, totalizando 40 horas ao final das atividades.
Neste trabalho aborda-se a violência no ambiente escolar, evidenciando-
se aquelas perpetradas contra professores, propondo-se sugestões para o
enfrentamento dessa modalidade de violência. Este trabalho objetiva contribuir
com a melhoria da qualidade do ensino, a partir da reflexão deste tema complexo
e polêmico, mas muito debatido em nossas escolas: a violência contra o professor.
Embora ocorram, no ambiente escolar, variadas formas de violência
envolvendo diferentes atores, neste trabalho a ênfase foi dada à violência contra o
professor, pois é recorrente a queixa de que a violência contra estes profissionais
e que, embora causando grandes transtornos para a prática docente, não tem
recebido a devida atenção dos gestores escolares.
A temática da violência escolar é bastante complexa, pois envolve uma
série de variáveis que nem sempre são detectadas, ocasionando, na maioria das
situações, um diagnóstico distorcido e incompleto por parte dos envolvidos,
responsáveis para solucionar essa grave demanda. Todos os profissionais que
fazem parte do universo escolar devem buscar caminhos para prevenir e enfrentar
as diversas formas de violência que aparecem nas instituições em que trabalham.
Ao optar por esse tema "violência contra o professor" para desenvolver
meus estudos no PDE, jamais poderia imaginar vivenciar o que nós, professores
da rede pública do Estado do Paraná, vivenciamos no dia 29/04/2015, data esta
que jamais será esquecida, pois manchou com sangue uma página da história da
educação pública paranaense.
Professores mordidos por cães, feridos por balas de borracha e tratados
como marginais num massacre que durou mais de duas horas entre a polícia
militar, batalhão de choque e atiradores de elite posicionados estrategicamente
contra os educadores e servidores públicos que estavam exercendo o seu direito
de luta pelos direitos da categoria.
Ao final do embate, havia cerca de 200 feridos. Presenciou-se em 29 de
abril de 2015, de maneira exacerbada, a denominada violência totalitária ou “dos
poderes instituídos, a violência dos órgãos burocráticos, dos Estados, do Serviço
Público” (MAFFESOLI, 1987, p. 10).
É assustador que alguns tentem justificar, em plena democracia, o
massacre em praça pública dos professores do Paraná, tratando servidores
públicos como vândalos, tentando criminalizar aqueles que protestam e, ao
mesmo tempo, legitimar o uso descomedido das forças de segurança do Estado
do Paraná.
2 VALORIZAÇÃO E DESVALORIZAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE
O trabalho dos educadores nunca foi tão difícil. São inúmeras as
dificuldades, principalmente no que diz respeito às condições de trabalho, entre
elas, a própria desvalorização profissional concomitante com as inúmeras
mudanças radicais da sociedade.
A escola, expressa as características de seu tempo e sociedade.
Atualmente, os professores vêm enfrentando, de forma crescente, situações
difíceis em sala de aula devido a comportamentos considerados indisciplinados e
desrespeitosos por parte dos alunos conduzindo-os a uma percepção de que
estão sendo desvalorizados profissionalmente.
Deste modo, é premente a necessidade de se valorizar a figura do
professor visando minimizar os problemas relacionados às relações entre os
professores e os alunos, muito embora seja evidente que são vários os fatores
que interferem na prática docente.
Registre-se aqui que outros fatores interferem no trabalho e na vida do professor que é salário baixo, desgaste físico, falta de reconhecimento de sua atividade, pressão por parte dos gestores da educação, falta de apoio dos pais dos alunos que acabam culminando com o estresse, ansiedade e depressão, o adoecimento propriamente dito desses profissionais. (PROFESSORA 7)
É papel primordial dos gestores das escolas proporcionarem aos
professores meios para seu desempenho profissional, oportunizando-lhes o
respeito necessário, a estabilidade e a autonomia em sala de aula para que
desenvolvam suas funções da melhor maneira possível.
Ao docente cabe preparar-se intelectualmente para ministrar suas aulas,
planejando, coordenando e orientando seus alunos na busca dos objetivos
elencados para aquele ano letivo.
Apesar de a escola persistir em tempos e espaços de modelos antigos, professores substituem o arcaico em novos fazeres, com novas tecnologias, mantendo-a viva. (PROFESSORA 1)
Ao observarmos a função do professor como um profissional que atua nas
relações humanas, combinadas à sua tarefa de administrar a sala de aula, bem
como as relações que estabelece com seus alunos e colegas de trabalho da
instituição escolar que está inserido, percebe-se que educar é algo que exige que
educador e educando, estejam em sintonia e focados no binômio “ensinar-
aprender”.
Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE, 2004, p.23).
O professor precisa estar constantemente preocupado com o aluno, com
suas reações e com o conhecimento a ser transmitido. Sendo um profissional da
educação ele é o grande responsável para conduzir o processo de ensino
adequado para seus educandos.
Está acontecendo realmente aprendizagem nas escolas? Verificando os índices vemos que está longe de ser verdade. Aprendizagem está ficando a desejar. Mas, quais seriam então, as causas da não aprendizagem? Poderíamos citar algumas: a não "ensinagem"; os reflexos dos problemas sociais; o desinteresse do próprio aluno; a estruturação familiar existente; drogas; violência etc. Mas, não podemos direcionar as causas em apenas um foco, portanto, cada situação deve ser analisada (PROFESSORA 5).
Atualmente, a prática docente tem se tornado tão automatizada, em
função das exigências burocráticas, da dupla ou da tripla jornada de trabalho dos
professores, dos baixos salários e das peculiaridades existentes em cada sala de
aula e instituição, que o professor não consegue vislumbrar o significado de seu
trabalho e o valor psicológico que isso representa para seu crescimento pessoal.
É possível observar que o aumento das exigências em relação ao
professor cresce significativamente. Muitos professores não estão sabendo lidar
com essa grande demanda de atribuições que lhe são designadas. O excesso de
cobranças no trabalho e o sentimento de impotência perante tais cobranças pode
levar o professor ao adoecimento. Necessário ressaltar, ainda, que a atividade
fundamental dos professores está relacionada à transmissão de conhecimentos e,
no atual contexto das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC)
esta atividade necessita sair do anacronismo com os novos tempos.
[...] Antigamente, quando se falava em educação, logo se imaginava, uma escola. Entendemos que a educação se dá em outros espaços, na igreja, no clube, nas agremiações, etc, mas é a escola espaço por excelência de aprendizagem (PROFESSORA 5).
3 ADOECIMENTO DOS PROFESSORES E SÍNDROME DE BURNOUT
O professor que também é humano tem emoção. É comum relato de professores que precisam de isolamento após um turno de trabalho, e tem vários afastados por problemas psiquiátricos e muitos que trabalham com acompanhamento e uso de medicamento. (PROFESSORA 1)
O trabalho é uma das mais importantes e fundamentais atividades do
homem, haja vista que pessoas são valorizadas na sociedade, principalmente, a
partir da profissão que exercem.
O ambiente de trabalho influencia sobremaneira na saúde física e mental
dos profissionais, incluindo aí os professores. As constantes e profundas
modificações na sociedade e o anacronismo das organizações escolares, em
relação aos novos tempos, podem estar contribuindo para desencadear episódios
de violência dentro da escola. De acordo com a percepção dos professores da
escola em que este trabalho foi desenvolvido, a violência, o desrespeito e
agressividade dos alunos têm influenciado na saúde dos docentes, causando
situações de estresse e sofrimento psíquico.
Notamos o quanto a violência, a falta de respeito e agressividade com o professor vem ampliando a cada dia, prejudicando a saúde emocional e física destes profissionais, que em alguns casos chegam até a pedir afastamento do trabalho para tratamento de saúde por um problema adquirido no local de trabalho (PROFESSORA 5).
Historicamente as sociedades convivem e presenciam as mais variadas
formas de violência. Muitas situações são violentas, tais como o trânsito, as
drogas, a miséria material, a falta de assistência médica, alimentar e de
saneamento básico, enfim, muitas são as violências praticadas e sofridas.
O professor, pela especificidade de seu trabalho, encontra-se vulnerável,
sujeito a sofrer ou a praticar situações violentas dentro e fora do seu ambiente de
trabalho.
Há aqueles que reproduzem uma violência: alunos, professores, diretores, pais de alunos. E o professor ora é vítima, ora é causador de violências na escola, e sua saúde é afetada tanto ele sendo vítima, quanto ele sendo causador, pois consideramos que saúde envolve o corpo físico, emocional e espiritual (PROFESSORA 5).
O conflito constante faz com que a saúde do professor não suporte a pressão e o corpo começa a padecer (PROFESSORA 3).
Muitos professores e professoras ficam traumatizados, tendo que
enfrentar um longo tratamento para retornar às suas atividades laborais.
Vemos cada vez mais professores adoentados, com licenças médicas, alguns tomando medicação para depressão, e um número muito grande de professores desenvolvendo a síndrome do pânico (PROFESSORA 2).
Conforme pesquisa realizada no site Dia a Dia Educação, em outubro de
2014, foi possível coletar alguns dados estatísticos, que podem ser observados:
- No município de Marechal Cândido Rondon há 215 professores QPM (Quadro
Próprio do Magistério). Sendo: 168 mulheres e 47 homens;
- Destes, 17 professores estão afastados para tratamento de saúde, 12
professores afastados de função e 20 professores readaptados, enquadrados na
Lei Estadual 15.308/2006 (lei que garante ao professor mesmo com afastamento
definitivo de sala de aula, todos os direitos remuneratórios como se em sala de
aula estivesse.)
- Portanto, em Marechal Cândido Rondon, 49 professores estão afastados de suas
funções. Número este que representa 22,8% dos professores QPM do município.
Muitos professores sentem-se frustrados, o que gera doenças, estresse que faz com que eles precisem de afastamento médico para se tratar, e em casos mais graves, uma readaptação de função (PROFESSORA 4).
O afastamento dos profissionais de educação, principalmente dos professores é frequente, alguns conseguem após um tempo de tratamento retomar suas atividades normais, no entanto grande parte ficam em afastamento de função, ainda que não seja definitiva, realizando trabalhos alternativos no ambiente escolar, o que muitas vezes compromete ainda mais a saúde do profissional, pois os mesmos sentem-se desmotivados e impotentes (PROFESSORA 3).
Um estudo desenvolvido no Brasil por Codo (1999), durante dois anos em
parceria com o Laboratório de Psicologia do Trabalho da UNB e a Confederação
Nacional dos trabalhadores em educação, com 52.000 educadores (professores e
profissionais da escola), em 1440 escolas nos 27 estados da federação, concluiu
que 48% dos educadores brasileiros, estão sofrendo com algum sintoma de
Burnout. E um, a cada quatro educadores, sofre de exaustão emocional.
A síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome do
esgotamento profissional, foi detectada pelo psicanalista nova-iorquino Herbert J.
Freudenberger, na década de 1970, que verificou em seu próprio corpo os
sintomas desse estado mórbido.
O estudo da literatura internacional indica que não existe uma definição única sobre Burnout, mas é consenso até os estudos hoje desenvolvidos que seria uma resposta ao stress laboral crônico, não devendo contudo ser confundido com stress. O primeiro envolve atitudes e condutas negativas com relação aos usuários, clientes, organização e trabalho; é assim, uma experiência subjetiva, envolvendo atitudes e sentimentos que vêm acarretar problemas de ordem prática e emocional ao trabalhador e à organização. O conceito de stress, por outro lado, não envolve tais atitudes e condutas, é um esgotamento pessoal com interferência na vida do indivíduo e não necessariamente na sua relação com o trabalho. A teoria sugere que Burnout ocorre quando certos recursos pessoais são perdidos, ou são inadequados para atender as demandas, ou não proporcionam retornos esperados (previstos). Faltam estratégias de enfrentamento (Codo, 1999, p. 261).
Acreditamos que o estudo realizado apresentou resultados significativos,
pois demostrou que é fundamental preservar a saúde mental do professor e sua
qualidade de vida no trabalho. Para tanto, é necessário que todos os envolvidos
no processo de ensino assumam a responsabilidade que lhes cabe. Professor,
instituição, alunos, sociedade, políticas públicas... todos agindo simultaneamente
com medidas e estratégias de prevenção, contribuindo para o bem estar físico e
psíquico de todos, em especial do professor.
Melhorar o estado de saúde do professor resulta na melhoria da
qualidade do ensino nas escolas, sobretudo nas relações de confiança e afeto que
deve permear toda a atividade docente. Para que o ambiente escolar se constitua
num espaço de prazer levando o educador a manter sua vida pessoal e
profissional saudável, estimulante e feliz.
4 AUTORIDADE, AUTONOMIA E IDENTIDADE DOCENTE
Penso que o professor está cada vez menos sabendo lidar com a situação da violência. Está mais acuado e receoso e talvez por isso sofrendo mais. Há algum tempo atrás o professor era visto como autoridade (equivalente a padre, pastor...) e por isso era respeitado e também era tratado como um ser mais importante. Atualmente são vistos como normais, pois assim o são, detentores do conhecimento, porém normais, com todas as dificuldades comuns a todos. O professor de certa forma era idolatrado e agora é visto como uma pessoa comum. (PROFESSORA 1)
A cada dia é possível perceber dificuldades por parte dos professores em
exercerem sua autoridade em sala de aula. Uma evidência de perda da autoridade
docente é a constante queixa, por parte destes professores, em relação ao uso de
palavras depreciativas, apelidos que os alunos utilizam quando se referem aos
seus professores..
A escola é parte da sociedade e como tal é atingida pelos conflitos da
realidade em que está inserida. Cada vez mais, é possível observar dentro do
espaço escolar cenas de violência, falta de limites, de desrespeito.
Há que se tomar medidas urgentes no país, para que o exemplo da impundade não mais seja a tônica para o povo brasileiro. A escola somente reproduz o ambiente social. (PROFESSORA 2)
Muito embora as violências das escolas não sejam um simples reflexo das
violências perpetradas na sociedade, uma vez que pela sua natureza de
funcionamento as escolas também produzem as suas próprias violências, é
necessário ressaltar que ela pode se constituir em um espaço de exercício para
vivências éticas e dialógicas onde alunos e professores ouvem e falam, onde se
discutem ideias, onde alunos e professores são respeitados em suas
peculiaridades. Quando há falta de diálogo e apenas imposições aos alunos a
sala de aula poderá se tornar em um espaço de violência contra o professor, por
múltiplas razões, caso não sejam detectadas a origem dos conflitos.
O problema não é o respeito que se deve à criança, e sim o medo que os adultos têm de estabelecer limites e regras, porque a autoridade é confundida com autoritarismo. A reclamação dos pais, professores e dos adultos em geral que assinalam que as crianças não têm limites é real. (PROFESSORA 1)
Argumenta-se que foi a insistência na necessidade de respeitar os direitos das crianças na escola e em casa que provocou desordem e indisciplina. O problema não é o respeito que se deve à criança, e sim o medo que os adultos têm de estabelecer limites e regras, porque a autoridade é confundida com autoritarismo. A reclamação dos pais, dos professores e dos adultos em geral que assinalam que as crianças não têm limites é real. Os pais não os impõem, a escola não os ensina, a sociedade não os exige. (PARRAT-DAYAN, 2008, p.09)
Essas questões nos levam a refletir que a autoridade docente se constrói
em forma de aliança, onde há um compromisso firmado de quem ensina com
quem está ali para aprender. Aliança essa que melhor se expressará quanto maior
for o grau de domínio que o professor demonstra em relação ao conteúdo e ao
conhecimento do processo do trabalho pedagógico.
Nessa perspectiva e visando alcançar ainda melhores resultados o
trabalho coletivo é fundamental, pois articula os diversos segmentos da
comunidade escolar e é fundamental para sustentar a ação da escola em torno de
um objetivo comum. Toda proposta pedagógica, efetivamente transformadora,
pressupõe a constituição de um trabalho coletivo.
O trabalho coletivo não é meta fácil de atingir. Todavia, para uma escola
que deseja ser democrática, é o caminho para um processo pedagógico eficiente
e para a qualidade de ensino desejada por todos.
Para tanto, é necessário que os educadores e alunos sejam valorizados,
respeitados e ouvidos, que tenham liberdade para expor suas ideias, que suas
experiências sejam valorizadas, que haja troca dessas experiências e por meio
disso, superem as dificuldades e conquistem sua autonomia.
5 NOÇÕES DE VIOLÊNCIA: DISTINGUINDO EPISÓDIOS
Para iniciar as discussões sobre as violências que os professores dizem
estar sofrendo no ambiente escolar é pertinente a compreensão das noções de
violência, transgressão, incivilidade, indisciplina e bullying. Essas e muitas outras
situações, são muito recorrentes e os profissionais da educação devem conhecer
e diferenciar os episódios que perturbam o andamento de seu trabalho, podendo
agir coerentemente, conforme identifiquem este ou aquele ato praticado pelo
aluno, colocando termo adequado a qualquer conflito surgido na sala de aula.
Constata-se que, por vezes, os professores, confundem violência com incivilidade, com indisciplina e com bullying.” Mas, mesmo não entendendo ou diferenciando claramente cada situação, uma coisa é certa, em qualquer uma das situações acima mencionada, ela causa danos, prejuízos ao ensino e a aprendizagem e em algumas situações causa danos físicos e morais. (PROFESSORA 6)
Com o aumento da violência no âmbito escolar principalmente a partir da década de 1990, percebe-se visivelmente a degradação do trabalho do professor. A maioria dos professores não consegue fazer a distinção entre indisciplina e violência dentro do contexto escolar e no seu entorno. (PROFESSORA 7)
Apresentamos algumas noções desses termos constantes na literatura
educacional a fim de buscarmos um melhor entendimento.
- Violência
A violência se manifesta sob diversos tipos: física, psicológica, verbal,
sexual e negligência, entre outros. Está presente em diversas áreas das atividades
humanas e Marilena Chauí assim a define:
A violência é o uso da força física e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação da integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém (CHAUÍ, 2002, p. 163).
Portanto, nesse raciocínio a violência é concebida em situações de
infração da lei com uso da força ou ameaça usá-la: lesões, extorsão, tráfico de
drogas na escola, insultos graves. A violência enfatiza o uso da força, do poder, da
dominação. Esta compreensão se afina com Charlot (2006) que considera que a
palavra “violência” consiste em um ato ou situação em que se retira do homem a
dignidade e direitos como membro de uma sociedade. Assim, é o contrário de
educação, que auxilia na construção do ser humano como ser social e singular.
- Transgressão
A transgressão, no âmbito da escola, apresenta-se como comportamento
contrário ao regulamento interno do estabelecimento, mas não infringe as leis.
Refere-se basicamente sobre a não realização de trabalhos escolares, falta de
respeito, etc. Ou seja, transgride o regimento da instituição escolar (CHARLOT,
2006).
Sendo a educação um instrumento de acessibilidade para a cidadania não
se deve impedir o educando de usufruir tudo o que a lei lhe garante. Aquele que
transforma a transgressão num hábito cotidiano, fundamentalmente está
impedindo a formação do outro na sua plenitude, conforme determina a lei.
- Incivilidade
Para os teóricos franceses (CHARLOT, 2002), a incivilidade é
compreendida como ações que não desrespeitam nem a lei, nem o regulamento
interno do estabelecimento, mas transgridem as regras de boa convivência, como
desordens, empurrões, grosserias, palavras ofensivas. Geralmente ataque
cotidiano e repetido ao direito de cada um (professor, funcionários, aluno) ver
respeitada a sua pessoa.
[...] o acúmulo de incivilidades (pequenas grosserias, piadas de mau gosto, recusa ao trabalho, indiferença ostensiva para com o ensino...) cria, às vezes, um clima em que professores e alunos sentem-se profundamente atingidos em sua identidade pessoal e profissional - ataque à dignidade que merece o nome de violência (CHARLOT, 2002, p. 437).
Conforme afirma Debarbieux, "o que é grave não é ‘um’ ato de incivilidade,
mas sua repetição, a sensação de abandono que resulta nas vítimas e o
sentimento de impunidade que se desenvolve entre os perpetradores [...]"
(DEBARBIEUX, 2006, p.26).
- Indisciplina
A indisciplina é um problema presente tanto na sala de aula como fora
dela. Caracteriza-se como ato contrário à disciplina, desobediência, rebelião, ou
seja, é a desordem proveniente da quebra das regras estabelecidas. É possível
afirmar que a indisciplina seria, talvez, o principal inimigo do educador atual.
Indisciplina é entendida como um conjunto de determinadas contrariedades no cotidiano de suas práticas pedagógicas, resultantes de rupturas efetuadas por alunos, tanto em relação aos acordos formais da escola (particularmente na sala de aula), quanto no que diz respeito às expectativas sobre a conduta na escola. Por exemplo, desordens, ofensas verbais, atitudes de grosseria, enfim, aquilo que se caracteriza de forma geral, como “falta de respeito (CHARLOT, 2002, p. 437).
A falta da disciplina nas escolas tem sido vista como uma questão
problemática que dificulta a prática pedagógica. Diante desta questão, sabe-se
que a indisciplina escolar, precisa ser trabalhada de forma preventiva e se
constitui num dos desafios mais críticos com os quais se defrontam os educadores
na atualidade.
- Bullying
O bullying é um termo da língua inglesa sem tradução exata para o
português, é utilizado para designar as práticas de agressão física, moral ou
psicológica entre estudantes, especialmente crianças e adolescentes.
[...] por, definição universal, bullying é um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento. Insultos, intimidações, apelidos cruéis, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, atuação de grupos que hostilizam, ridicularizam e infernizam a vida de outros alunos levando-os à exclusão, além de danos físicos, morais e materiais, são algumas das manifestações do comportamento bullying (FANTE, 2005, p. 28 – 29).
O bullying é uma violência, que precisa urgentemente ser mitigada, pois
não se trata de brincadeira de criança, mas um fenômeno silencioso que pode
deixar marcas profundas. Esta violência manifesta-se como um comportamento
ligado à agressividade verbal, física e psicológica, de forma intencional e
repetitiva, sempre imposta às mesmas vítimas, levando-as ao medo e a ansiedade
constante, que interferem no processo ensino-aprendizagem, deixando seqüelas
psicológicas difíceis de reparar naqueles que são vitimados pelo fenômeno.
A violência nas escolas tem preocupado toda sociedade, principalmente, pela forma como esta tem se configurado. O conflito e a violência sempre existiram e sempre existirão, principalmente na escola, que é um ambiente social em que os jovens estão experimentando, isto é, estão aprendendo a conviver com as diferenças, a viver em sociedade. O grande problema é que a violência tem se tornado em proporções inaceitáveis. (PROFESSORA 6)
Charlot (2002; 2006) afirma que é preciso entender que situações
extremas de violência (tráfico de drogas, por exemplo), não é papel da escola
enfrentar, mas a polícia. Já as situações de insultos, incivilidades, transgressões
devem ser resolvidas com tratamento educativo, com estratégias decididas pelo
coletivo escolar.
Os professores estão angustiados, com medo, nunca se sabe o que pode acontecer no cotidiano escolar; os pais, preocupados. Não é raro noticias sobre situações de violência nas escolas, as mais perversas. Brigas, agressões físicas, sempre existiram. O que não existia antes e, que hoje tornou comum é que os jovens depredam a escola, quebram os ventiladores, portas, vidros, enfim, tudo que é possível destruir, eles destroem. Antes, não se riscava, não murchava ou cortava o pneu do carro do professor. Agredir fisicamente ou fazer ameaças, nem pensar. Não se levava revólver e faca e não se consumia drogas e álcool dentro das escolas. Enfim, são muitos os relatos de violência extrema no interior do ambiente escolar. (PROFESSORA 6)
Sabemos que é difícil e complexo lidar com o problema da violência
escolar, mas o professor pode pesquisar constantemente alternativas para lidar
com as situações de conflito, criando juntamente com seus alunos, um ambiente
cooperativo em que, tanto o aluno como o professor, compreendam a sua
importância e o papel que lhes cabe no processo educativo, pois [...] ninguém
educa ninguém. Ninguém se educa sozinho. Os homens se educam em
comunhão...” (FREYRE, apud VASCONCELLOS, 1994, p. 71).
6 ADMINISTRAÇÃO/MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NO DIA-A-DIA ESCOLAR
O principal passo para minimizar situações de violência na escola é a
mediação correta dos conflitos, pois a falta desta mediação apropriada pode influir
na saúde do professor, refletindo em altos índices de docentes que se afastam de
suas atividades em virtude de algum problema relacionado ao dia-a-dia na escola.
Para evitar que os conflitos prorrompam para a violência, se faz
necessário que a escola consiga mediá-los sem tratá-los todos como questões de
indisciplina. Cabe ao professor aproveitar os momentos de conflitos que surgem
na escola para transmitir valores, exigindo respeito mútuo contribuindo cada vez
mais para a transformação da sociedade num mundo melhor. Pequenos conflitos
tomam grandes dimensões se não solucionados de maneira correta.
Situações conflituosas sempre estarão presentes no ambiente escolar.
Entretanto, o conflito deve ser encarado como um momento de aprendizagem com
outras pessoas. Nesse momento entra o processo de mediação, pois pequenos
conflitos, se mal solucionados/administrados podem tomar grandes dimensões,
transformando-se em situações de violência.
Tanto na evolução do indivíduo, desde o seu nascimento até a idade adulta, quanto na evolução das sociedades, o que se observa é um aumento da importância e da capacidade do diálogo para resolver conflitos, uma maior possibilidade de negociação entre as partes, uma negação, pelo menos no discurso, da violência como modelo para solução dos problemas, o enaltecimento da tolerância para com as diferenças (LATERMAN, 2000, p.25).
É preciso ter em mente que conflitos sempre vão ocorrer no dia-a-dia
escolar, entretanto é fundamental procurar resolvê-los. O mais importante é
conseguir lidar com a causa do conflito e não apenas atribuir culpa e impor
punições. O fundamental é analisar o que levou as pessoas a ter dificuldade de
negociar soluções justas e respeitosas.
Crianças e jovens precisam de auxílio quando não conseguem sozinhos
controlar seus impulsos. Isso não significa assumir um conflito que é deles,
tirando-os do processo de resolução. É importante levar o aluno a refletir e a
buscar soluções visando à resolução do conflito.
É comum a necessidade de intervenção da equipe pedagógica ou da
direção para apaziguar brigas, desentendimentos, agressões físicas e verbais,
tanto de aluno versus aluno, bem como de aluno versus professor.
Em muitas situações os professores ficam transtornados por não saberem lidar como a situação e/ou não ter "lei", normas mais rígidas que "puna" os atos de violência ocorridas no ambiente escolar "o famoso não dá nada" e assegure o direito do professor trabalhar com qualidade e o bem estar de professores e alunos. (PROFESSORA 6)
Se os professores e os alunos compreenderem a necessidade de conter-
se em momentos de grandes conflitos e prosseguirem respeitando seus
semelhantes, estarão contribuindo para o estabelecimento de uma confiança
mútua e um clima organizacional favorável em sala de aula. Com essa atitude
será possível administrar os conflitos que por ventura venham a ocorrer,
facilitando a solução adequada para este ou aquele episódio.
Percebe que o professor não vem sabendo lidar com os problemas de conflitos no interior da escola, muitas vezes não demonstrando autocontrole da situação ao mediar certos conflitos. O educador vem perdendo a paciência com estes casos, deixando de construir diálogos reflexivos com os alunos sobre a necessidade de saber dialogar e ter inteligência emocional ao gerenciar os conflitos emocionais para uma sociedade melhor e mais humana. (PROFESSORA 5)
Para que os tais objetivos sejam alcançados se faz necessário que as
normas instituídas sejam respeitadas, o que não significa reprimir opiniões e
sentimentos, mas sim expressá-los de outras formas que não por meio da
violência.
Em sala de aula algumas conversas fora de hora, descumprimento das
tarefas, algum bate-boca, empurrões, brigas mais verbais que físicas, podem e
devem ser tratados como indisciplina sendo que as providências devem ser
imediatas, para que os alunos tenham conhecimento do que podem e o que não
podem fazer em sala de aula e a devida sanção, caso transgridam as normas
comportamentais.
O professor é autoridade em sala de aula e deve se respeitado como tal.
Para isso é muito importante que no primeiro contato do professor com uma nova
turma sejam estabelecidas as normas comportamentais e em caso de não
cumprimento prever sanções, que devem ser cumpridas por todos. Elas devem
ser estabelecidas em cada escola e ser do conhecimento de todos, principalmente
dos alunos, mas também dos pais.
Os conflitos que ocorrem no ambiente escolar devem ser enfrentados com
maturidade profissional e pautados nas regras estabelecidas pela escola,
principalmente o trato que o aluno deve dispensar para seu professor/professora.
Entretanto, o objetivo maior não é fazer desaparecer o conflito, fato que
não seria possível acontecer. O ideal é mediá-lo pelo diálogo e não pela ação
violenta.
Assim, conflitos entre alunos, ou entre alunos e professores, podem ser bastante positivos na resolução de questões de ordem prática ou estrutural, desde que mediados pela escuta, respeito mútuo e diálogo (ABRAMOVAY, 2009, p.276).
O que é possível perceber, é que, se por um lado os professores têm seus
motivos para estarem insatisfeitos, por outro lado os alunos também têm os seus
(que nem sempre são expressos de uma maneira compreensível) para se
comportarem desta ou daquela maneira.
Um dos caminhos para o bom relacionamento entre professores e alunos
é criar um vínculo afetivo com diálogo, respeito mútuo e princípios de justiça.
Oportunizar um ambiente participativo onde todos sejam valorizados.
Vale ressaltar que o mais importante não é a resolução do conflito em si,
mas sim, o processo, principalmente pautado no diálogo. Entretanto, a construção
do diálogo não é uma tarefa fácil, pois exige que todos os envolvidos estejam
abertos não somente a sugestões, mas também a críticas, sobretudo os docentes.
Nesse sentido, estarem abertos, significa reconhecer que há momentos em que
suas ações também podem agredir os alunos ou que a sua simples omissão
permite que a violência ganhe espaço e se propague.
Devemos considerar que muitos professores não estão preparados para enfrentar situações de enfrentamento com os alunos (não me refiro aqui a agressões físicas). Os alunos de hoje são questionadores e querem ser ouvidos, o professor precisa dialogar com seus alunos, fazer combinados e não simplesmente querer fazer valer sua opinião porque ele é o professor e quer que seja dessa maneira. (PROFESSORA 4)
Geralmente, tanto nas escolas quanto na vida, só se percebe o conflito
quando este produz manifestações violentas. Ou seja, normalmente os problemas
e conflitos mal resolvidos tendem a se instalar no cotidiano expressando-se com
manifestações violentas diversas.
7 ELABORAÇÃO DE UM PROJETO CONJUNTO VISANDO A MEDIAÇÃO DOS
CONFLITOS, A SER SOCIALIZADO COM TODA COMUNIDADE ESCOLAR
Quando se trata de relações humanas, é impossível que, vez ou outra,
não se tenha conflitos. E a escola não escapa dessa lógica. Casos de indisciplina,
violência e desentendimentos entre alunos e de aluno com professor podem
ocorrer - e de fato ocorrem.
Os conflitos que surgem na escola e nas e salas de aula da Educação Básica podem se constituir em momentos de diálogo, negociações e acordos necessários à convivência cotidiana. Os conflitos fazem parte das relações humanas e, quando são problematizados, podem auxiliar na construção de aprendizagens cooperativas que podem neutralizar as relações competitivas e individualistas nas escolas (SCHROEDER & ALVES, 2015, p. 61)
Em nosso ambiente de trabalho os professores relatam que não
conseguem dar conta das questões conflituosas em sala e que, por isso,
submetem-se a grande estresse que, por vezes, resultam em afastamentos para
tratamento de saúde.
O professor sofre um grande desgaste emocional e físico, culminando em dependência de medicação psiquiátrica. Sem contar a violência física que deixa sequelas também na alma. Interfere em toda sua vida, profissional e pessoal. Inclusive comprometendo sua carreira e aposentadoria que, muitas vezes é precoce, resultando em baixo nível de poder aquisitivo na velhice. (PROFESSORA 1)
O conflito pode ser encarado como processo de aprendizagem, pois, mais
importante do que a sua resolução, é o que os professores e os alunos vão
aprender a partir do ocorrido. É fundamental que durante as situações de conflito
as reações sejam controladas e as intervenções planejadas, para não agir de
maneira impulsiva.
É importante levar as pessoas envolvidas no conflito a pensar sobre aquilo
que causaram, sobre as consequências dos seus atos. Quando o conflito for com
alunos, é fundamental envolvê-los no processo de resolução, direcionando o
diálogo a fim de que os próprios envolvidos encontrem uma solução viável para
ambas as partes. É importante que os adultos não resolvam por eles, não digam
como fazer e não "terceirizem" a resolução para a família ou especialistas. As
partes em conflito devem pensar e chegar numa solução por si mesmos.
Para o ano letivo de 2015 pretendemos criar em nosso colégio um espaço
de participação efetiva para os alunos, onde se priorize princípios como respeito,
justiça, cooperação e solidariedade. Este espaço terá como objetivo principal
mediar os conflitos, reparar os danos e restaurar as relações.
Este espaço funcionará da seguinte forma: uma terceira pessoa será o
mediador que deverá agir de maneira imparcial e conduzir a discussão para que
as partes em conflito percebam um o entendimento do outro. A mediação tem por
objetivo levar as partes a compreender que os impasses podem ser superados por
meio do diálogo e da negociação.
O mediador é a pessoa que tentará abrir um caminho de diálogo entre os
envolvidos em um conflito para tentar solucioná-lo de forma pacífica.
Com as respostas aos problemas, a busca da solução deve ser discutida e
ela deve ser boa para os envolvidos e para as suas necessidades. O mediador
deve ajudá-los a construírem uma solução específica: quem fará o quê, quando,
onde e como?
Os conflitos fazem parte da natureza humana e, simples ou graves, devem
ser vistos como oportunidades de mudanças e de crescimento, especialmente na
escola, que é um espaço privilegiado para a disseminação de valores e
construção da cidadania.
Aprender a conviver é aprender a respeitar o direito do outro; é aprender a
ter responsabilidade pelo que se faz aos outros e à comunidade.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi possível observar na literatura consultada que a violência é um
fenômeno de grande complexidade e com muitas variáveis. Entretanto, é
consenso entre os professores que participaram deste trabalho no Colégio
Estadual Paulo Freire que a violência vem ocasionando um grande mal-estar na
relação professor-aluno, provocando, em muitos casos, o adoecimento deste
profissional.
A intensificação dos conflitos, próprios dessa relação, acaba por gerar uma espécie de guerra não declarada, onde tem-se apenas perdedores: os professores, pelo estresse físico e psíquico a que estão submetidos, e os alunos, por terem à sua frente mais um obstáculo na produção de seu conhecimento, imprescindível para o exercício da cidadania (LOPES e GASPARIN, 2003, p.295).
O estresse causado por situações conflituosas mal administradas podem
influir na saúde dos docentes que não estão conseguindo lidar com tais questões,
acabam adoecendo e algumas vezes afastando-se de suas atividades laborais.
Um caminho possível é o diálogo na construção do sentimento de
pertencimento do aluno para com a escola. É urgente a promoção de uma melhor
convivência e prática do diálogo entre as partes envolvidas:
(...) observamos muitas vezes, no ambiente escolar, desrespeito e agressões que precisam ser objetos de atenção, pois se os professores se sentem desrespeitados pelos alunos, os alunos frequentemente relatam que se sentem desrespeitados pelos professores e não há, geralmente, a promoção de um diálogo entre os envolvidos para resolução da situação. O que se observa, ao invés disso, é um ciclo de reclamações, onde cada lado responsabiliza/culpa o outro pelas situações de desrespeito e não constrói a prática de colocar em discussão os próprios comportamentos (RUOTTI, 2006, p.230).
Nesse momento é importante citar a relevante participação e contribuição
dos professores do GTR - Grupo de Trabalho em Rede - que ao longo do curso
opinaram, questionaram, interagiram com os demais professores da rede e
trouxeram à tona suas preocupações e conhecimentos sobre a temática. Através
da participação dos mesmos foi possível observar que muitas escolas estão
encontrando suas próprias formas. Entretanto é comum observar que muitos
professores não sabem lidar com situações conflituosas, sendo que em alguns
casos omitem-se e em outros tomam atitudes excessivamente radicais.
Para que o diálogo aconteça na escola, se faz necessário aceitar as
situações de conflito, sem tentar camuflá-las, propondo medidas eficazes visando
negociações e mediações contínuas e coletivas. Para tanto, é necessária a
criação de espaços democráticos e participativos na escola, onde todos os
envolvidos na prática pedagógica sintam o dever de acatar as regras impostas,
construídas conjuntamente e respeitadas por todos.
Um grande caminho já foi percorrido, mas ainda há muita luta na
construção de uma cultura de paz nas escolas.
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, Miriam, coord., Anna Lúcia Cunha, Priscila Pinto Calaf. Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas. Brasília: Rede de Informação Tecnológica Latino-americana - RITLA, Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal - SEEDF, 2009.
ABRAMOVAY, Miriam, Maria das Graças Rua. Violência nas Escolas: versão resumida. Brasília: UNESCO Brasil, Rede Pitágoras, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Banco Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2003.
CODO, Wanderley (org.) Educação: Carinho e Trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes/Brasília: CNTE: Universidade do Brasília. Laboratório de Psicologia do Trabalho, 1999.
CHARLOT, Bernard. A violência na escola: como sociólogos franceses abordam essa questão. Sociologias, Porto Alegre, Ano 4, nº 8, jul/dez 2002, p. 432-443.
DEBARBIEUX, Éric e Catherine Blaya. Violência nas escolas: dez abordagens européias – Brasília : UNESCO, 2002.
ESTEVE, J. M. Mudanças sociais e função docente.In; NÓVOA, A. (Org.).Profissão Professor. Porto: Porto, 1995. P. 93-124.
FANTE, C.A.Z. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Versus, 2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários á prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2004.
LATERMAN, Ilana. Violência e incivilidade na escola: nem vítimas nem culpados. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2000.
LOPES, Claudivan Sanches; GASPARIN, João Luiz. Violência e conflitos:desafios à prática docente. Maringá, 2003.
MICHAUD, Ives. A violência. São Paulo: Ática, 1989.
PARRAT-DAYAN, Silvia. Como Enfrentar a Indisciplina na Escola. São Paulo: Contexto, 2008.
SCHROEDER, Tânia Maria R.; ALVES, Fábio L. Conflitos e violência na Educação Básica. In: Desenvolvimento da Educação Básica: desafios contemporâneos. Curitiba-PR, Editora CRV, 2015, p. 61-69
Secretaria de Estado da Educação do Paraná. DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA. 2008.
RUOTTI, Caren. ALVES, Renato. CUBAS, Viviane de Oliveira. Violência na Escola - Um guia para pais e professores. São Paulo, Imprensa Oficial, 2006.