16
A HABITAÇÃo É UM DIrEITo HUMANo oS DIrEIToS HUMANoS MorAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA!

oS DIrEIToS HUMANoS MorAM AQUI É FIM - amnesty.org · tornou-se evidente que os planos estão a ser desenvolvidos e implementados sem a participação activa das comunidades afectadas

Embed Size (px)

Citation preview

A HABITAÇÃo É UMDIrEITo HUMANo

oS DIrEIToS HUMANoS

MorAM AQUI

FIMàS EXPUlSÕES

ForÇADAS EM ÁFrICA!

É

national

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page ii

A cada ano que passa, em toda a África, centenas de milharesde pessoas são expulsas pela força de suas casas pelasautoridades. Na maior parte dos casos, as expulsões sãoexecutadas sem o devido processo legal e sem consulta, avisoadequado ou compensação.

o efeito das expulsões forçadas pode ser catastrófico,particularmente para pessoas que vivem já na pobreza. As expulsões forçadas fazem com que as pessoas percam nãosó as suas casas (que poderão ter construído pelas suaspróprias mãos) e os seus bens pessoais, como também as suas redes de contactos sociais. Após as expulsões forçadas,as pessoas poderão deixar de ter acesso a água potável,alimentos, saneamento, trabalho, saúde e educação. os funcionários que realizam as expulsões utilizamfrequentemente força excessiva contra os residentes e, por vezes, armas de fogo.

Ao longo dos anos, a Amnistia Internacional documentou casosde expulsões forçadas em massa em Angola, no Chade, Egipto,Gana, Guiné Equatorial, Nigéria, Quénia, Suazilândia, Sudão eZimbabwe. Governos de todo o continente africano agiram emviolação da legislação regional e internacional, incluindo aCarta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos.

Anos após serem expulsas pela força, milhões de pessoaspermanecem desalojadas e privadas de tudo e, muitas delas,ainda mais profundamente mergulhadas na pobreza. Estaspessoas não foram realojadas nem compensadas pelas suasperdas e a maioria delas não têm acesso à justiça e a recursoseficazes. E os responsáveis por estas violações dos direitoshumanos não foram chamados a contas.

os activistas de direitos humanos em muitos países africanostêm-se manifestado, muitas vezes enfrentando violentarepressão governamental, exigindo o direito a uma habitaçãocondigna e apelando aos seus governos para que acabem comas expulsões forçadas. Com bastante frequência, estes apelostêm caído em orelhas moucas.

Apesar da miséria e sofrimento que resultaram das expulsõesforçadas, existem no entanto também, nas comunidadesafectadas, pessoas corajosas, motivadas e determinadas aprosseguir a luta em defesa dos seus direitos humanos e quesão um motivo de esperança. Esta brochura explica o direito à habitação condigna, que inclui o direito a não ser expulsopela força – direitos que são de todos os seres humanos, em qualquer parte do mundo.

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page iii

A expulsão forçada é a remoção de pessoas das casas outerras que ocupam contra a sua vontade e sem que lhes sejamoferecidas protecções legais e outras salvaguardas.

As expulsões só podem ser realizadas como último recurso,após terem sido consideradas todas as outras alternativasviáveis e estarem estabelecidas as salvaguardasprocedimentais e legais apropriadas. Estas incluem umaconsulta genuína com as pessoas afectadas, aviso prévio comuma antecedência suficiente e razoável, habitação alternativacondigna e compensação por todas as perdas, salvaguardasquanto à forma como as expulsões são efectuadas e acesso arecursos e procedimentos legais, incluindo o acesso a auxíliojurídico quando necessário. os governos devem tambémassegurar que ninguém fique desalojado ou vulnerável a outrasviolações dos direitos humanos em consequência de umaexpulsão.

Nem todas as expulsões efectuadas pela força constituemexpulsões forçadas – se forem instituídas e respeitadas todasas salvaguardas legais e todas as protecções exigidas pela leiinternacional, e for utilizada força proporcional e razoável, a expulsão não violará a proibição das expulsões forçadas.

o QUE SÃo“EXPUlSÕES

ForÇADAS”?

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITO

AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlS

1

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page 1

EXPUlSoS PElA ForÇA MAIS DE UMAvEZ E AINDA EM rISCo

Mais de 10.000 famílias de Luanda, a capital angolana, ficaram desalojadas apósserem expulsas pela força de suas casas desde Julho de 2001. Além disso, milharesde outras pessoas foram expulsas de outras cidades durante 2010. Estas expulsõesforam efectuadas por agentes da polícia, soldados, funcionários municipais eguardas de segurança privada, utilizando muitas vezes força excessiva e armas defogo. A polícia prendeu também em algumas ocasiões, e deteve brevemente, os queresistiram às expulsões, assim como membros da organização local de direitos dehabitação, a SOS-Habitat, que estavam a tentar persuadir as autoridades a pararcom as expulsões forçadas. No Lubango, no sul de Angola, onde cerca de 4.000famílias ficaram desalojadas após expulsões forçadas em Março e Setembro de 2010,foi reportada a morte de pelo menos duas crianças durante o processo de expulsão.

Poucas famílias foram compensadas pelas suas perdas. Algumas das famíliasexpulsas pela força em Luanda foram realojadas a cerca de 30 a 40 quilómetros dacidade, em áreas desprovidas de empregos, escolas, hospitais, serviços básicos esaneamento. No Lubango, foram levadas para um lote de terreno vazio a 10 km dacidade. Apenas foram oferecidas tendas a 600 das 4.000 famílias. Contudo, em todoo país, a grande maioria das famílias expulsas são abandonadas à sua sorte.Milhares de famílias continuam sem abrigo e a viver nas ruínas das suas antigascasas, em tendas ou ao ar livre.

O final da guerra civil de 27 anos, em 2002, trouxe novas oportunidades dedesenvolvimento e reconstrução, que vieram intensificar a procura de terrenosurbanos, particularmente em Luanda. A maior parte da população de Luanda,estimada em 4,5 milhões de habitantes, permanece em risco de perder as suas casaspara dar lugar a projectos de habitação de topo de gama, escritórios e infra-estruturas. O número de expulsões forçadas em Luanda aumentou em 2009, quandovários milhares de pessoas ficaram desalojadas após as expulsões forçadas emJulho, nos bairros Iraque e Bagdade. Desde 2009, a regeneração urbana estendeu-sea outras cidades, onde milhares de famílias estão também em risco de perder assuas casas.

O rescaldo imediato de uma operação de demolição nos bairros de

Cambamba I e II em Luanda, Angola, Novembro de 2005. Muitos dos

cerca de 4,5 milhões de habitantes de Luanda estão em risco de perder

as suas casas para dar lugar a projectos de habitação de luxo e outros.

ANGolA

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS H MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

2

© P

riva

te

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page 2

JUSTIÇA CoNTINUA A SEr NEGADA:ProSSEGUEM EXPUlSÕES ForÇADASEM N’DJAMENA Milhares de pessoas foram expulsas pela força das suas casas, que foram destruídasem várias áreas de N’Djamena, a capital do Chade, desde Fevereiro de 2008. Casasestavam ainda a ser demolidas no final de 2010 e um número crescente de pessoasestavam em risco de serem expulsas pela força. As expulsões foram efectuadas sem o devido processo legal, aviso adequado, consulta, habitação alternativa oucompensação

Em Maio de 2010, mais de 10.000 pessoas em Ambatta, N’Djamena, estavam emrisco de ficar sem tecto. As autoridades tinham-lhes ordenado que saíssem de suascasas até ao final da estação das chuvas, por volta de meados de Outubro, a fim depermitir a construção de “casas modernas”.

Embora as suas casas ainda não tivessem sido demolidas no final de Janeiro de2011, os residentes de Ambatta continuam a viver com o receio de perder as suascasas. Não houve qualquer consulta nem oferta de habitação alternativa pelasautoridades chadianas e eles sentem que podem ser despejados a qualquermomento.

A grande maioria das famílias que perderam as suas casas desde o início desteexercício não foram tratadas com justiça. O governo não lhes ofereceu habitaçãoalternativa ou qualquer outra forma de compensação. Algumas vítimas recorreram ao tribunal e ganharam o caso contra o governo, mas mesmo assim não receberamreparação. As decisões do tribunal foram em muitos casos ignoradas.

0,

s

Crianças brincam nas ruínas de casas demolidas em Chagoua 2,

N'Djamena, Setembro de 2010. Mais de dois anos após as demolições,

o local permanece vazio e nada foi aí construído.

CHADE

A! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS OS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM

3

© A

mnest

y In

tern

ati

onal

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page 3

Crianças nas ruínas de casas demolidas em Establ Antar, Egipto,

Agosto de 2009.

MIlHArES DE PESSoAS vIvEM EMCoNDIÇÕES DE HABITAÇÃo DESUMANAS

Milhões de egípcios continuam a viver em estabelecimentos informais em crescimentodesordenado e inapropriados para habitação humana. Cerca de um milhão de pessoasvivem em áreas classificadas pelas autoridades como “perigosas”, enfrentandopossíveis desmoronamentos de pedras, inundações, incêndios e outros perigos.

Em 2008, uma queda de pedras na Colina de Muqattam, no estabelecimento informal deManshiyet Nasser, no leste do Cairo, que aloja cerca de um milhão de pessoas, matoupelo menos 119 pessoas. Isto aconteceu apesar de avisos prévios; funcionários locaisforam posteriormente julgados e condenados. O então presidente estabeleceu oMecanismo de Desenvolvimento de Estabelecimentos Humanos Informais (InformalSettlement Development Facility – ISDF) para identificar áreas perigosas, lidar com osestabelecimentos humanos informais e coordenar os esforços governamentais. Contudo,tornou-se evidente que os planos estão a ser desenvolvidos e implementados sem aparticipação activa das comunidades afectadas e recorrendo a expulsões forçadas.

As famílias expulsas foram transferidas para longe das suas antigas casas e meios desubsistência ou ficaram desalojadas. Algumas das pessoas que ficaram sem tectovivem em tendas e barracas de madeira ou próximo dos escombros das suas anteriorescasas, esperando que as autoridades locais ouçam as suas queixas. Os deslocados nãotêm segurança legal de ocupação e estão isolados dos seus contactos sociais e fontes desubsistência. As mulheres foram particularmente penalizadas por esta situação.

As autoridades egípcias continuam a ignorar os direitos dos residentes dosestabelecimentos informais e prosseguem com a implementação da estratégia GreaterCairo 2050 (Grande Cairo 2050). Isto ameaça o futuro das 35.700 famílias que residemem 33 “áreas de barracas” que serão alvo de demolição no Cairo e em Giza até 2015.

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS H MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

4

EGIPTo

© A

mnest

y In

tern

ati

onal

(Phot

o: A

hm

ed A

l-S

ala

kaw

y)

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 4

Uma rua em Kogo, Guiné Equatorial, Maio de 2009. Todo o lado direito

da rua foi obliterado, em Fevereiro, para dar lugar a uma marina e a um

passeio junto ao mar.

NovA rIQUEZA EMPUrrA AS PESSoASPArA ForA DAS SUAS CASAS

Desde 2003, mais de 1.500 famílias foram expulsas pela força das suas casas paradar lugar a estradas, habitações e hotéis de luxo e centros comerciais, assim comoresidências privadas para o presidente Obiang e familiares seus. Foram demolidascasas na capital Malabo e, no continente, na grande cidade de Bata, assim comonoutras cidades de grande dimensão. Muitas das casas demolidas eram estruturassólidas em bairros bem estabelecidos e a grande maioria dos ocupantes tinham títulode propriedade dos terrenos.

Apesar de promessas de reassentamento feitas a algumas das vítimas, até à dataninguém foi realojado ou indemnizado. Mesmo as casas prometidas às vítimas terãoque ser compradas a um custo que excede em muito os seus meios económicos e ascasas ficam longe da cidade e dos seus empregos e escolas.

Milhares de outras pessoas estão em risco, pois as autoridades prosseguem com oseu programa de regeneração urbana e estão a alargá-lo a outras cidades elocalidades. A nova riqueza proporcionada pela descoberta de petróleo em meadosdos anos 90 levou a um aumento da procura de terrenos para fins comerciais, assimcomo para habitações. Além disso, as autoridades começaram a reabilitar as cidadese as suas infra-estruturas. Os meios de comunicação social têm reportado que asautoridades tencionam libertar as cidades de bairros de lata (chabolismo).

Devido a estas iniciativas, centenas de famílias em todo o país permanecem em riscode serem expulsas pela força das suas casas.

to as

l de u

s

s

udo,

de

res ão

s de

er

em .

A! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS OS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM

5

GUINÉ EQUATorIAl©

Pri

vate

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 5

NorMAS INTErNACIoNAIS SoBrE AS EXPUlSÕESAs expulsões forçadas são uma violação dos direitos humanos – uma violação obrigados a proibir e a prevenir. A Comissão das Nações Unidas para os Direit reconheceu também que as expulsões forçadas constituem graves violações d humanos, em particular o direito a uma habitação condigna.

Nos termos da legislação internacional de direitos humanos, as expulsões só p última instância, após esgotar todas as outras alternativas viáveis à expulsão uma consulta genuína com as comunidades afectadas. As expulsões só podem estão estabelecidas as protecções procedimentais apropriadas. Estas protecç

n uma oportunidade de consulta genuína com as pessoas afec

n aviso suficiente e razoável às pessoas afectadas antes da ex

n informação sobre as expulsões propostas e, quando aplicáv os terrenos ou a habitação, a fornecer atempadamente a to

n deverão estar presentes funcionários governamentais ou os

n todas as pessoas que executam as expulsões devem estar d

n as expulsões não devem ter lugar durante intempéries ou à consentimento para o efeito;

n acesso a recursos jurídicos;

n fornecimento de auxílio jurídico, quando possível, para as pe nos tribunais.

os governos devem também assegurar que ningué violações dos direitos humanos em consequência habitação alternativa condigna e compensação po independentemente de arrendarem, possuírem, o

As expulsões forçadas infringem também o Pacto o Chade, o Egipto, o Gana, a Guiné Equatorial, a N prevê também o direito à protecção da lei contra ou no domicílio.

Por fim, as expulsões forçadas infringem as dispo Angola, o Chade, o Egipto, o Gana, a Guiné Equato As expulsões forçadas violam em particular os Art Artigo 18º (1) sobre o dever do estado de proteger Africana dos Direitos do Homem e dos Povos no c Acção pelos Direitos Sociais e Económicos) e do C Económicos e Sociais) contra a Nigéria.

SEU CoNHEÇA oS

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 6

PUlSÕES – uma violação que os governos são

para os Direitos do Homem ves violações de uma série de direitos

expulsões só podem ser realizadas em eis à expulsão e depois de proceder a

sões só podem ser realizadas quando . Estas protecções incluem:

s pessoas afectadas;

das antes da expulsão;

quando aplicável, sobre a finalidade alternativa a que se destinam adamente a todos os afectados;

amentais ou os seus representantes no decurso de uma expulsão;

devem estar devidamente identificadas;

empéries ou à noite, a não ser que as pessoas afectadas dêem o seu

ível, para as pessoas que dele necessitem para procurarem reparação

urar que ninguém fique desalojado ou em situação vulnerável a outras consequência de uma expulsão. Devem também ser disponibilizadas ompensação por todas as perdas aos afectados antes da expulsão,

, possuírem, ocuparem ou locarem os terrenos ou habitações em questão.

mbém o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, que Angola, Equatorial, a Nigéria, o Quénia e o Zimbabwe assinaram todos. o Artigo 17º

o da lei contra a intervenção arbitrária ou ilegal na vida privada, na família

ngem as disposições da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos. a Guiné Equatorial, a Nigéria, o Quénia e o Zimbabwe ratificaram este tratado.

articular os Artigos 14º e 16º sobre o direito à propriedade e à saúde, e o do de proteger a família. Este princípio foi afirmado em 2001 pela Comissão

dos Povos no caso do Social and Economic rights Action Center (Centro de ómicos) e do Center for Economic and Social rights (Centro para os Direitos

éria.

SEUS DIrEIToS! S

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 7

vIDAS E MEIoS DE SUBSISTêNCIAAMEAÇADoS

Em todo o Gana, milhares de pessoas vivem sob a ameaça constante de seremexpulsas pela força de suas casas e expulsões forçadas têm lugar com regularidade.

Em Accra, residentes dos dois maiores bairros de lata do Gana, Old Fadama eAgbogbloshie, ouvem dizer repetidamente que vão ser expulsos de suas casas, queserão depois demolidas. Os bairros de lata alojam milhares de pessoas, muitas dasquais se mudaram para Accra para encontrarem trabalho e uma vida melhor. Em Outubro de 2009, residentes de um bairro de lata de Accra chamado “Abuja”foram expulsos pela força.

As autoridades ganesas negam com regularidade ter qualquer responsabilidadepelas pessoas que expulsam de suas casas, reivindicando que elas se encontram lá“ilegalmente”. As autoridades não consultam suficientemente os residentes sobre osseus planos, não lhes dão aviso adequado sobre a expulsão e não lhes oferecemhabitação alternativa nem compensação pelas suas perdas. Depois de expulsos,muitos residentes ficam sem tecto e na miséria e não têm outra opção senão viveremnas ruínas das suas antigas casas ou mudarem-se para outra área de bairros de lata.

Em Novembro de 2010, o governo assinou um contrato no valor de 6 mil milhões dedólares com uma empresa chinesa para reabilitar as linhas de caminhos de ferro doGana, que estão presentemente abandonadas ou são pouco utilizadas. Milhares depessoas que vivem próximo das linhas de caminhos de ferro estão agora em risco deserem expulsas pela força, pois as autoridades não têm qualquer plano para oferecerhabitação alternativa condigna nem compensação aos residentes dessas áreas.

As expulsões envolvem frequentemente uso excessivo da força pela polícia e forças de segurança. Em Setembro de 2010, duas pessoas foram mortas e 15 gravementeferidas quando a polícia e soldados alegadamente dispararam balas reais e gáslacrimogéneo contra uma multidão que protestava contra a demolição dos seusnegócios em Canoe Beach, Tema.

Milhares de pessoas que vivem ao longo das linhas dos caminhos de ferro

estão em risco de serem expulsas de suas casas sem compensação e sem

terem para onde ir.

GANA

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS H MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

8

© A

mnest

y In

tern

ati

onal

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 8

NÃo HÁ GArANTIA lEGAl DE oCUPAÇÃoNoS ESTABElECIMENToS HUMANoSINForMAIS E BAIrroS DE lATAMilhões de residentes urbanos pobres do Quénia vivem sem qualquer garantia legalde ocupação. Esta situação resultou da incapacidade sistemática dos funcionáriosquenianos de reconhecer a proliferação e a realidade dos estabelecimentos humanosinformais e bairros de lata e de planear em conformidade ao longo dos anos.

Milhões de pessoas enfrentam portanto o risco diário das expulsões forçadas dassuas casas e negócios informais, com consequências catastróficas para as suasvidas.

Desde a criação dos primeiros estabelecimentos humanos informais no Quénia, têm ocorrido expulsões forçadas em grande escala e de uma forma que viola asnormas internacionais de direitos humanos. As expulsões forçadas em massaenvolvem tipicamente projectos do governo ou construtores privados que reivindicama propriedade dos terrenos nos quais alguns dos estabelecimentos humanos ficamsituados.

Por volta do final de 2010, mais de 50.000 pessoas que vivem ao longo das viasférreas estavam sob a ameaça das expulsões forçadas. Em Março de 2010, a empresa ferroviária estatal Kenya Railways Corporation emitiu um aviso de despejocom o prazo de 30 dias, anunciando expulsões relacionadas com um projecto dereabilitação. Embora as expulsões não tivessem sido realizadas durante 2010, a empresa ferroviária não retirou oficialmente a ameaça. A maioria das pessoasvivem e trabalham nestas terras há vários anos e um aviso de 30 dias foi totalmenteinadequado. Não foi anunciado um plano completo de reassentamento oucompensação.

O governo comprometeu-se a criar directrizes sobre as expulsões em 2006 e formouvárias task forces para realizar este trabalho em 2006. Contudo, não houve qualquerprogresso perceptível desde então e as expulsões forçadas em Nairobi e outras áreasprosseguem.

r

Uma mulher atravessa o rio no bairro de lata de Mathare, Nairobi, Quénia,

Fevereiro de 2009. As propostas para embelezar o rio implicarão a destruição

de todas as estruturas à distância de 30 metros das suas margens.

Os residentes receiam que as expulsões sejam efectuadas sem uma consulta

genuína, sem aviso adequado ou sem a oferta de habitação alternativa ou

compensação.

QUÉNIA o

m

A! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS OS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

9

© A

mnest

y In

tern

ati

onal

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 9

MAIS DE DoIS MIlHÕES DE PESSoASEXPUlSAS PElA ForÇA

Mais de dois milhões de pessoas foram expulsas pela força das suas casas emdiversas partes da Nigéria desde 2000. A maior parte das pessoas encontravam-se jámarginalizadas e muitas tinham vivido durante anos sem acesso a água potável,saneamento, cuidados de saúde adequados ou educação. As expulsões forçadas sãoexecutadas sem consulta prévia adequada, aviso adequado, compensação ouhabitação alternativa.

As expulsões forçadas estão a continuar por todo o país. Desde 2003, estima-se que800.000 pessoas tenham sido despejadas das suas casas em Abuja, a capital. EntreMaio e Julho de 2008, as expulsões forçadas prosseguiram quase semanalmente emLagos, tendo algumas comunidades suportado a sua terceira expulsão forçada.

Em Agosto e Novembro de 2009, milhares de pessoas foram expulsas pela força de suas casas nas áreas da marginal de Njemanze e áreas circundantes em PortHarcourt, a capital do estado de Rivers. As pessoas tiveram apenas sete dias de avisoe muitos residentes ficaram desalojados. Um ano mais tarde, alguns estavam aindaa viver numa igreja local, em carros e debaixo de pontes.

Pelo menos mais 200.000 pessoas estão em risco de expulsão forçada em PortHarcourt, pois o governo do estado planeia demolir todos os assentamentos junto ao mar, no quadro dos planos de reabilitação urbana para a cidade.

As expulsões envolvem o uso excessivo da força pelas forças de segurança. Na marginal de Bundu, Port Harcourt, 12 pessoas foram baleadas e feridas comgravidade, em Outubro de 2009, quando agentes de segurança abriram fogo contrauma multidão que protestava pacificamente contra a demolição planeada da suacomunidade.

Um bulldozer demole edifícios na Rua Njemanze em Port Harcourt,

Novembro de 2009.

NIGÉrIA

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS H MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

10

© P

riva

te

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 10

oPErAÇÃo MUrAMBATSvINA (rEPor AorDEM) – lArES DESTrUíDoS, MEIoSDE vIDA ArrUINADoSEstima-se que, em 2005, 700.000 pessoas perderam as suas casas, os seus meiosde vida ou ambos em consequência da campanha massiva de expulsões forçadas edemolições de casas e estruturas de negócios informais pelo governo do Zimbabwe.

As expulsões e demolições foram realizadas sem aviso adequado, ordens do tribunalou medidas de reassentamento apropriadas, em violação das obrigações doZimbabwe nos termos da legislação internacional de direitos humanos. Durante asexpulsões, a polícia e os soldados utilizaram força excessiva: foram destruídos bens e pessoas foram espancadas.

Em Junho de 2005, o governo lançou a Operação Garikai/Hlalani Kuhle (Vida Melhor) e declarou que iria fornecer habitação aos que perderam as suas casas durante aOperação Murambatsvina. Contudo, muito poucas das vítimas da OperaçãoMurambatsvina beneficiaram da Operação Garikai/Hlalani Kuhle, que também nãorespeitou as normas internacionais relativas à habitação condigna. Foram atribuídosa muitas delas pequenos lotes de terreno desguarnecidos nos quais tiveram queconstruir casas sem qualquer ajuda e pelo menos 20 por cento das casas construídasforam reservadas para funcionários civis, agentes da polícia e soldados.

Até à presente data, muitos dos que foram expulsos em 2005 continuam a viver emcondições deploráveis. As condições em estabelecimentos humanos tais como Hopley,em Harare, são duríssimas: a maioria das pessoas vivem em abrigos improvisados esobrelotados e poucos têm acesso a água potável. Não existem cuidados de saúdematerna e neonatal disponíveis na comunidade. As vidas das mulheres grávidas edos seus bebés em assentamentos tais como o de Hopley são perigosas devido ao nãofornecimento de acesso a habitação condigna e serviços essenciais, incluindocuidados de saúde, pelo governo.

á

o

A polícia antimotim observa bulldozers a demolir uma casa em Kambuzuma,

Harare, Zimbabwe, Junho de 2005. A polícia zimbabueana recebeu ordens de

destruir “construções ilegais” e barracas de vendedores no âmbito da Operação

Murambatsvina, um programa de expulsões forçadas em massa que se estima ter

deixado 700.000 pessoas sem as suas casas, sem o seu modo de vida ou ambos.

ZIMBABWE

A! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS OS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

11

© A

P/P

A P

hoto

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 11

Todos têm o direito a um grau mínimo de segurança legal deocupação, incluindo a protecção legal contra as expulsõesforçadas, quer os ocupantes sejam arrendatários ouproprietários da sua casa; quer vivam em estabelecimentoshumanos informais ou bairros de lata, sem que legalmentepossuam as casas ou terrenos; ou quer mesmo vivam emhabitação de emergência. Segundo o Comité dos DireitosEconómicos, Sociais e Culturais da oNU, todos devem ter umgrau mínimo de segurança legal de ocupação.

Isto significa que os governos devem assegurar-se de que todos:n têm protecção legal contra as expulsões forçadas; e

n têm protecção contra a perseguição e outras ameaçaspor parte dos senhorios ou qualquer outra pessoa.

os governos devem tomar medidas imediatas paraproporcionar segurança legal de ocupação a qualquerpessoa que presentemente esteja desprovida dessaprotecção. Devem fazê-lo em consulta genuína com aspessoas e grupos afectados.

os governos podem aumentar a sua segurança legal deocupação de muitas maneiras, e não apenas através dapropriedade dos terrenos. As autoridades podem dar-lhedocumentos que confirmem onde vive; podem regularizar e reconhecer a habitação informal; podem oferecer-lhe apossibilidade de pagar renda ou a opção de comprar oualugar o imóvel, individualmente ou integrado numacooperativa. você deve ser consultado sobre estas opções.Deve também poder sugerir opções para a sua situaçãopessoal, que o governo deve ter em conta. Sejam quais forem as circunstâncias, tem direito a ser protegido contra as expulsões forçadas.

o SEU DIrEITo à SEGUrANÇAlEGAl DE oCUPAÇÃo

12

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUM MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 12

A AMNISTIA INTErNACIoNAl APElA AoS GovErNoSDE ÁFrICA PArA QUE:

n Parem de imediato com as expulsões forçadas e assegurem que

eventuais expulsões sejam efectuadas respeitando as normas

internacionais e regionais.

n Legislem e façam cumprir uma clara proibição das expulsões

forçadas. Adoptem as directrizes nacionais relativas às expulsões,

que devem assentar nas directrizes e princípios básicos da ONU para

as expulsões e o deslocamento com base no desenvolvimento e devem

estar de acordo com o direito internacional de direitos humanos.

n Tomem medidas imediatas para assegurar um grau mínimo de

segurança legal de ocupação a todas as pessoas actualmente

desprovidas desta protecção, em consulta genuína com as pessoas

afectadas.

n Assegurem que todas as vítimas das expulsões forçadas têm acesso

a recursos efectivos e o direito a reparação, incluindo restituição,

compensação, reabilitação, indemnização, satisfação e garantias de

não repetição.

n Assegurem que as pessoas que vivem em bairros de lata têm

igualdade no acesso a água potável, saneamento, cuidados de saúde,

habitação, educação e policiamento justo e eficaz.

n Assegurem igualdade de protecção, nos termos da lei, a todas as

pessoas que vivem em estabelecimentos humanos informais.

n Assegurem a participação activa das pessoas que vivem em bairros

de lata em todos os processos de melhoramento, planeamento e

orçamentação que afectem as suas vidas, directa ou indirectamente.

Todas as iniciativas de melhoramento, programas e políticas de

habitação devem ser consistentes com as normas internacionais de

direitos humanos, em particular no campo do direito a uma habitação

condigna.

rECoMENDAÇÕES

NÇA

13

OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS HUMANOS MORAM AQUI FIM àS EXPUlSÕES ForÇADAS EM ÁFrICA! OS DIREITOS HUMANOS MORAM AQUI

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:51 Page 13

© cgtextures.com

Índice: AFR 01/002/2011Português, Abril 2011Esta é uma versão revista eactualizada de AFR 01/007/2009.

Amnesty InternationalInternational SecretariatPeter Benenson House1 Easton StreetLondon WC1X 0DWUnited Kingdomwww.amnesty.org

JUNTE-SE à JorNADA PEloS DIrEIToS: www.amnesty.org/rightsjourney

A Amnistia Internacional é um movimento global, de mais de 3milhões de apoiantes, membros e activistas em mais de 150países e territórios, que realiza campanhas para acabar comgraves abusos dos direitos humanos.

A visão da Amnistia Internacional é a de um mundo em que cadapessoa possa desfrutar de todos os direitos humanosconsagrados na Declaração Universal dos Direitos do Homem enoutras normas internacionais de direitos humanos.

Somos independentes de qualquer governo, ideologia política,interesses económicos ou religião e somos financiadosprincipalmente pelos nossos membros e por donativos dopúblico.

MANTENHA A SUA CASA DE PÉ

Impresso por Amnesty International

3488_Afr_FE_Leaf update_print_Layout 1 copy 29/03/2011 18:50 Page i