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OS ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NA FORMAÇÃO DO DOCENTE * Eliane Abel de Oliveira ** Herivelto Moreira Resumo: O objetivo do presente artigo é tecer algumas considerações sobre os fundamentos e as bases teóricas dos estudos na área de Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) com a intenção é contribuir para a reflexão do tema dialogando com a formação de professores. No primeiro momento apresenta a definição de Ciência e Tecnologia, e seu breve histórico na América Latina. Além disso, mostra as dimensões educativas nas questões tecnocientíficas e a formação do professor para a educação no campo de CTS. Palavras-chave: Tecnologia; Formação docente; Educação. 1. INTRODUÇÃO * Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Educação Infantil. Atualmente cursa mestrado em Tecnologia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. ([email protected] ) ** Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Educação (University Of Dayton) e doutor em Educação (University Of Exeter ). Atualmente é professor do Programa de Pós-graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. ([email protected])

OS ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NA FORMAÇÃO DO DOCENTE

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O objetivo do presente artigo é tecer algumas considerações sobre os fundamentos e as bases teóricas dos estudos na área de Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) com a intenção é contribuir para a reflexão do tema dialogando com a formação de professores. No primeiro momento apresenta a definição de Ciência e Tecnologia, e seu breve histórico na América Latina. Além disso, mostra as dimensões educativas nas questões tecnocientíficas e a formação do professor para a educação no campo de CTS.

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OS ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE NA FORMAÇÃO DO DOCENTE

*Eliane Abel de Oliveira** Herivelto Moreira

Resumo: O objetivo do presente artigo é tecer algumas considerações sobre os fundamentos e as bases teóricas dos estudos na área de Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS) com a intenção é contribuir para a reflexão do tema dialogando com a formação de professores. No primeiro momento apresenta a definição de Ciência e Tecnologia, e seu breve histórico na América Latina. Além disso, mostra as dimensões educativas nas questões tecnocientíficas e a formação do professor para a educação no campo de CTS.

Palavras-chave: Tecnologia; Formação docente; Educação.

1. INTRODUÇÃO

O campo de estudo de Ciências, Tecnologia e Sociedade (CTS) surgiu após a Segunda

Guerra Mundial quando o mundo passava por um período conturbado, numa sucessão de

desastres relacionados com a Ciência e a Tecnologia, como, por exemplo, os acidentes

nucleares, gerando a necessidade de revisão da política científico-tecnológica e sua relação

com a sociedade.

Antes de seu surgimento, prevalecia uma concepção essencialista da Ciência e

Tecnologia como modelo de domínio político, promovendo um modo linear no qual

* Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, especialista em Educação Infantil. Atualmente cursa mestrado em Tecnologia na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. ([email protected])

** Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Paraná, mestre em Educação (University Of Dayton) e doutor em Educação (University Of Exeter ). Atualmente é professor do Programa de Pós-graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. ([email protected])

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acreditava-se que o desenvolvimento de ambas gerava riqueza e bem estar social sem

preocupar-se com os impactos gerados.

Ao se falar em Ciências, cabe ressaltar que no início de sua jornada pela busca do

conhecimento, a humanidade passou a questionar fatos do cotidiano. Para dar uma explicação

a estes fenômenos, buscava as respostas na mitologia. Contudo, ainda fazia-se necessário

respostas mais contundentes e plausíveis que se aproximassem mais da realidade das pessoas.

Este foi um dos primeiros passos para o surgimento das ciências. Mas o que vem a ser

ciência?

De Francis Bacon que instituiu um modelo científico por observações a Lakatos que

trouxe uma visão contemporânea da ciência, introduzindo a noção de programa científico de

pesquisa, a ciência passou por várias fases conceituais do que é ciência, para isso, o

conhecimento produzido pela humanidade é divido em senso comum e conhecimento

científico.

Denominamos o conhecimento adquirido pelas pessoas através do convívio social com

outros indivíduos de senso comum, este, por sua vez, é a base para um conhecimento mais

elaborado, ou seja, o conhecimento científico. Portanto, pode-se afirmar que ciência é o

conhecimento produzido seguindo um rigor metodológico, formado a partir da razão e do

estudo minucioso de um fato, utilizando-se muitas vezes de artefatos tecnológicos.

Ao analisar a palavra “tecnologia”, tem-se techné = técnica (do grego) e logos =

conhecimento, aplicação ou interpretação. Portanto pode-se definir tecnologia como técnica

do conhecimento, da aplicação e da interpretação, ou seja, um conjunto de técnicas, artes e

ofícios capazes de modificar e/ou transformar o ambiente natural, social e humano.

Para os gregos clássicos como Platão e Aristóteles o termo “tecnologia” era utilizado

para designar a habilidade de “saber fazer algo”. “A techné não é, contudo, uma habilidade

qualquer, porque segue certas regras. Por isso techné significa também “ofício”. Em geral,

techné é toda série de regras por meio das quais se consegue algo” (MORA, 2001, p. 2820).

Na idade moderna, incorporou-se o conceito grego de “saber fazer” com a utilização

de técnicas mecânicas chegando-se a considerar que “o saber é fundamentalmente técnico”.

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Pode-se dizer então que a tecnologia surge para melhorar e colocar em prática a

ciência, dar forma a ela, implementando avanços, melhorias e criações desenvolvidas em

laboratórios. A tecnologia é o que chega às mãos do consumidor ou do usuário ou da

sociedade, ou seja, as tecnologias não seriam outra coisa senão ciências aplicadas à produção

de artefatos.

Enfim, a diferença entre ciência e tecnologia é tênue, quase imperceptível, devendo ser

realizada uma análise minuciosa a partir de “seu interior como um corpo de conhecimento e

como um sistema social”, tendo consciência de que a inovação tecnológica negligenciada a

um estudo superficial tende a levar a modelos lineares (PINCH E BIJKER, 1997).

Uma concepção linear acerca das relações entre ciência e tecnologia é excessivamente

ingênua, pois, segundo Bazzo:

O rompimento entre conhecimentos científicos e artefatos tecnológicos não é muito adequado, já que na própria configuração daqueles é necessário contar com estes. O conhecimento científico da realidade e sua transformação tecnológica não são processos independentes e sucessivos, senão que se encontram entrelaçados em uma trama em que constantemente se juntam teorias e dados empíricos com procedimentos técnicos e artefatos. Entretanto, por outro lado, o tecido tecnocientífico não existe à margem do próprio contexto social em que os conhecimentos e os artefatos resultam relevantes e adquirem valor. A trama tecnocientífica se desenvolve prendendo-se na urdidura de uma sociedade em que ciência e tecnologia desempenham um papel decisivo em sua própria configuração. Portanto, o entrelaçamento entre ciência, tecnologia e sociedade obriga a analisar suas relações recíprocas com mais atenção do que implicaria a ingênua aplicação da clássica relação linear entre elas (2003, p. 154).

Portanto, o debate sobre ciência e tecnologia precisa ser realizado tendo em vista os

benefícios sociais que podem ser colocados à disposição da população, ou seja, não se pode

isolar a ciência ou a tecnologia como se ambas não tivessem cunho social.

Da metade do século XX em diante, a tecnologia obteve grandes avanços a tal ponto

de não se conseguir mais conceber o conceito de desenvolvimento da sociedade sem embasar-

se no uso da tecnologia, por isso a importância dos estudos CTS não só no âmbito acadêmico

como também na esfera social.

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Com a consolidação do campo CTS vem à tona a discussão do determinismo

tecnológico. Winner em seu artigo “Tienen políticas los artefactos?”, afirma que a tecnologia

não é neutra em si, pois por trás da elaboração dos artefatos estão interesses, demandas e fatos

muitas vezes ligados a interesses públicos e políticos.

No que concerne as relações CTS na América Latina, é necessário abordar o

“Pensamento Latino-Americano de Ciência, Tecnologia e Sociedade” (PLACTS) que se inicia

em meados dos anos 1960 e 1970 que busca discutir de que ciência e de que tecnologia se está

falando quando nos referimos à América Latina.

2. O CAMPO CTS NA AMÉRICA LATINA

O processo de consolidação do campo CTS em países da América Latina vêm à tona

com uma reação ao modelo hegemônico de percepção das relações sociais da ciência e da

tecnologia, com inserção significativa em distintos campos do saber e das políticas públicas, e

com distinta filiação a diferentes linhas de pensamento e ideologias.

É nos anos de 1970 que começa a existir uma preocupação mais generalizada na

América Latina acerca dos estudos CTS que forneceram os subsídios conceituais para o

fortalecimento da estrutura de Política e Desenvolvimento local (P&D).

Devido aos estudos de cientistas argentinos (um dos fundadores do PLACTS),

constituiu-se um movimento que abarcou o conjunto da região. Este processo deu-se, em

parte, via a disseminação de idéias. Mas, também em parte, pelo esforço e pela contribuição

original de outros pesquisadores latino-americanos.

Sobre isto, Dagnino (2009, p. 32) afirma que “a semelhança da situação concreta que

enfrentavam os países da região( a de uma industrialização por substituição de importações

que apresentava um crescente gargalo tecnológico), contribuiu para o fortalecimento do

PLACTS”.

Ao observar que as inovações tecnológicas não são socialmente neutras, o PLACTS

chama a atenção para o fato da transferência da tecnologia, ou seja, da importação da

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tecnologia que se fazia nas décadas de 1960 e 1970, de forma acrítica, trazendo juntamente

com os artefatos, uma série de características culturais, muitas vezes estranhas às culturas

locais.

Passados 40 anos, os questionamentos originais do PLACTS ainda permanecem atuais

mesmo tendo-se acervo cultural maior, especialmente enriquecido por uma série de estudos

em Ciência, Tecnologia e Sociedade na América Latina (ECTSAL) desenvolvidos nesse

período.

No âmbito brasileiro, o Ministério da Ciência e Tecnologia lançou o Livro Branco

com o propósito de traçar os rumos para o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia para o

país até o ano de 2012. Este documento afirma que o desenvolvimento de um país pode ser

mensurado através de seu desenvolvimento tecnológico. Isso se dá de três formas: através do

número de patentes depositadas, através do número de mestres e doutores formados e também

através do índice de produção de artigos científicos.

Ora, para atingir tal patamar, faz-se necessário um investimento considerável na

Educação Básica como também na alfabetização tecnológica das populações, uma vez que

um déficit nessa área pode ter proporções pouco eficientes no que tange o desenvolvimento de

Ciência e Tecnologia. Isso se dá seguindo a linha de raciocínio de que um aluno que recebe

uma formação deficiente, dificilmente tornar-se-á um pesquisador ou desenvolvedor de

produtos e de tecnologias, impedindo-o de participar de forma ativa no desenvolvimento,

debates e tomadas de decisões no que concerne o campo da tecnologia.

3. DIMENSÕES EDUCATIVAS NAS QUESTÕES TECNOCIENTÍFICAS

Pensando no desenvolvimento tecnológico e na participação das populações nas

decisões sobre o assunto, Winner (1996) afirma que as dimensões tecno-científicas nunca são

neutras e aqueles que são diretamente afetados pelas decisões tomadas podem e devem dar

sua opinião sobre o que lhes afeta. Para isso há que se investir em um modelo de educação no

qual os cidadãos possam analisar os riscos e benefícios da tecnologia. Desta forma teremos

cidadãos conscientes que farão mais do que simplesmente depositar votos em uma urna e

deixar que políticos tomem as decisões.

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Contudo, no Brasil, as iniciativas relacionadas aos estudos CTS ainda são muito

escassas tanto no nível universitário quanto no nível secundário. Santos e Mortimer (2002,

p.32), destacam ser “fundamental a promoção de um ambiente favorável e de espaços

adequados para que os atores que supostamente participariam do processo de inovação

(pesquisadores universitários e empresários inovadores ou de base tecnológica) interajam”.

Alfabetizar, portanto, os cidadãos em ciência e tecnologia é hoje uma necessidade do

mundo contemporâneo (SANTOS & MORTIMER, 2002), e deve ter um currículo embasado

em CTS que possa propor ao cidadão agir, tomar decisões e compreender o que está em jogo

no discurso dos especialistas.

A necessidade da participação popular nas decisões públicas, cada vez mais sob o

controle de uma elite que detém o conhecimento científico e, sobretudo, o medo e a frustração

decorrentes dos excessos tecnológicos propiciaram as condições para o surgimento de

propostas de ensino CTS, assim, os trabalhos curriculares em CTS surgiram, como

decorrência da necessidade de formar o cidadão em ciência e tecnologia, o que não vinha

sendo alcançado adequadamente pelo ensino convencional de ciências. “O cenário em que tais

currículos foram desenvolvidos corresponde, no entanto, ao dos países industrializados, na

Europa, nos Estados Unidos, no Canadá e na Austrália, em que havia necessidades prementes

quanto à educação científica e tecnológica” (KRASILCHIK, 1987, p. 14).

Krasilchik (1987) destaca ainda que a inovação educacional dos currículos de ciências

no Brasil no período de 1950 a 1970 começaram a incorporar uma visão de ciência como

produto do contexto econômico, político e social passando na década de oitenta por uma

renovação do ensino de ciências orientada pelo objetivo de analisar as implicações sociais do

desenvolvimento científico e tecnológico.

Um fato importante para a agregação do ensino CTS no currículo escolar no Brasil, foi

a realização, em 1990, da “Conferência Internacional Ensino de Ciências para o Século XXI:

ACT – Alfabetização em Ciência e Tecnologia”, cuja temática central foi a educação

científica dos cidadãos. Podendo-se considerar, a partir disso, que a atual reforma curricular

do Ensino Médio incorpora, em seus objetivos e fundamentos, elementos dos currículos com

ênfase em CTS. Contudo, o professor sente-se preparado para tais mudanças? Ao se pensar na

reforma curricular do Ensino Médio, pensou-se também em adequar o currículo dos cursos

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superiores de formação docente? Na próxima seção, algumas considerações a respeito da

formação dos professores.

3.1. A formação do professor para a educação no campo CTS

Os espaços escolares estão cada vez mais próximos dos recursos tecnológicos fazendo

com que professores sintam a necessidade de se apropriar de tais recursos. Contudo, apenas

agregar artefatos tecnológicos às escolas não garante o sucesso de uma educação voltada para

o campo CTS, deve-se pensar na formação dos docentes para atuar com tais recursos.

Segundo Gomes e Marins, a formação do professor requer:

o crescente desenvolvimento ou (re)conhecimento de competências que permitam aos professores enfrentar de forma original e criativa as mudanças educacionais pela apropriação de estruturas necessárias ao ato de ensinar (saber ensinar), e não apenas da apropriação dos conteúdos (2004, p. 98).

Portanto, a formação de professores tem o papel fundamental de desenvolver saberes

capazes de concretizar mudanças e reformas na educação. No caso da educação CTS parece

particularmente relevante partir das concepções dos docentes a respeito da CTS para se

elaborar programas de formação mais eficazes.

Conforme destaca Moraes, não é suficiente apenas preparar profissionais para uma

nova ferramenta, mas sim para uma:

nova cultura que integra um processo de comunicação, de interação e interdependência e que amplia a capacidade das pessoas e, ao mesmo tempo, se constituírem e agirem como parte de um todo altamente habilitado e interdependente, dominando a tecnologia, contribuindo para o desenvolvimento da ciência e se apropriando do conhecimento para o seu próprio benefício e de sua sociedade (1997, p.47).

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Com efeito, é importante ressaltar que as representações sobre Ciência e Tecnologia se

constroem desde cedo por parte dos alunos, sendo essencial o papel dos professores nessa

construção.

Para isso, uma reforma no currículo escolar, sobretudo no que diz respeito ao currículo

para a formação do docente, se faz necessário a fim de se obter os resultados desejados nas

escolas e, sobretudo, na vida dos alunos. Tal formação deverá constituir um meio

privilegiado para inovar o ensino de CTS, promovendo, desta forma, a promoção de

aprendizagens mais significativas e mais relevantes para a vida dos educandos.

Uma proposta adequada de formação inicial de professores com enfoque CTS visa

estabelecer uma metodologia que contemple planejamento, ação, observação e reflexão

continuamente sobre o trabalho desenvolvido (MION, 2000). Dessa forma, busca-se formar o

professor e o pesquisador, ou seja, o mesmo sujeito deve desenvolver as duas funções sociais

(a de professor e a de pesquisador), englobando três concepções: uma concepção de educação

que seja dialógico-problematizadora, de educação científica e tecnológica e uma concepção

de pesquisa (MION, 2000).

Especificamente sobre a formação para atuar com as novas tecnologias, Mercado

(2002, p.21) sustenta que ela deve considerar a realidade dos professores, suas deficiências e

ansiedades. Precisa visar os motivos e o como integrar as novas tecnologias na prática

pedagógica, superando obstáculos administrativos e pedagógicos, permitindo que o docente

tenha o domínio da tecnologia, sabendo intervir com segurança na relação aluno-computador,

criando condições favoráveis para construção do conhecimento. Penteado (1998, p.20)

ressalta que a simples presença das novas tecnologias na escola não é sinônimo de mudança

significativa na qualidade do trabalho pedagógico. É comum que os educadores adotem as

novas tecnologias, porém que não alterem sua prática, o que fortalece a proposta de formação

descrita pelo autor.

Sem alteração da prática pedagógica, a tecnologia não consegue transformar a

educação escolar e colocá-la em um “patamar de modernidade e contemporaneidade”.

(PENTEADO, 1998, p.21).

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Em resumo, o uso efetivo da tecnologia por parte dos alunos, passa primeiro por uma

assimilação da tecnologia pelos docentes.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos sobre CTS não são só relevantes nos âmbitos acadêmicos em que

tradicionalmente se desenvolveram as investigações históricas ou filosóficas sobre a ciência e

a tecnologia, mas são relevantes também para a sociedade como um todo. E, como pressupõe-

se que todos os membros da sociedade devam passar pelos bancos escolares, faz-se necessária

uma investigação científica em que se verifique a formação do docente para atuar em sala de

aula em conjunto com o uso das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação),

entendendo que este pode ser um processo de mudança no comportamento desse grupo social,

frente ao uso da tecnologia em seu cotidiano.

Pensar nos estudos sobre CTS é hoje, possivelmente um dos passos fundamentais para

o desenvolvimento de um país tanto no âmbito tecnológico quanto no âmbito social. Fato este

já percebido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia que em conjunto com o Ministério da

Educação vem desenvolvendo vários programas buscando a melhoria da qualidade da

educação. Dentre estes programas pode-se destacar o Portal do Educador sítio em que os

professores encontram conteúdos relacionados a áreas do conhecimento voltadas para CTS

para o enriquecimento curricular e o aprimoramento da prática docente.

Ao colocar os estudos CTS no contexto social e escolar estes adquirem uma relevância

pública de primeira ordem. Hoje, as questões relativas à ciência e à tecnologia e sua

importância na definição das condições da vida humana extrapolam o âmbito acadêmico para

todo o conjunto da sociedade.

Portanto, pensar na formação inicial dos professores ainda é um assunto que deve ser

amplamente debatido. Como sugestão a esses debates, cabe também a análise da inserção de

estudos CTS no currículo acadêmico dos cursos de formação. Todavia, deve-se ter a noção de

que a ênfase nesses estudos apenas no período de formação inicial ainda não seja suficiente,

podendo mostrar-se ineficiente, se em conjunto com essas medidas não houver um

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investimento na formação continuada de docentes, além de uma revisão curricular no ensino

básico e médio, valorizando-se o campo CTS.

REFERÊNCIAS

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