CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA PROPOSTA PARA A MELHORIA DA QUALIDADE DE

VIDA DA COMUNIDADE ESCOLAR ITAGIBA FORTUNATO

Claudete Carmo Pereira, Irene Carniatto(Orientador/UNIOESTE), e-mail: (irenecarniatto@yahoo.com.br).

Professora PDE Ciências, NRE de Cascavel; Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Biológicas e da Saúde –

Cascavel – PR.

Palavras-chave: letramento, científico, sociedade, sustentável e cidadania.

Resumo:

Tendo em vista o fato de a comunidade Itagiba Fortunato ser constituída por estudantes pertencentes à classe dos trabalhadores, que nem sempre tem acesso a uma alimentação de valor nutricional relevante e a locais de lazer e de práticas esportivas, como, por exemplo, a caminhada, através deste projeto propõe-se desenvolver práticas educativas que possam contribuir para o letramento científico e formação para cidadania. Trabalhar Educação Ambiental (E.A) numa proposta de letramento científico e formação cidadã compreende um modo diferente de ver o mundo onde se enfatizam as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida. Contribuindo para mostrar a necessidade de um trabalho relacionado aos princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade e da igualdade. Propõe-se um estudo teórico e a realização de práticas de mudanças comportamentais relacionadas ao tema. E o entendimento e a compreensão de como se deu e se dá a ação humana na natureza a partir da evolução das ciências e da produção de tecnologia, reconhecendo que este processo é histórico, social, econômico, cultural, político e intencional, e que traz impactos ambientais. O projeto se concretizará em uma perspectiva freireana, como uma prática participativa e problematizadora, que se estabelecerá no cotidiano, tendo como ponto de partida à realidade local. É nessa realidade que se buscará, pela investigação, o universo temático, significativo para todos que participarão do processo. No projeto será realizada uma sondagem inicial comunitária, através de questionários diversificados, para grupos específicos da comunidade: alunos, professores e moradores do bairro. Os dados obtidos serão utilizados no trabalho com os temas introdutórios. Nesses temas se encontrarão contemplados os problemas sócio-ambientais locais, mas contextualizados em uma realidade global. Será utilizada a técnica relatada por Guerra (2004), o mapa falante, que também pode ser denominado como biomapa e que auxiliará no levantamento de dados e questões que irão acelerar as discussões sobre meio ambiente na comunidade. Neste projeto, também será trabalhada a construção conceitual a partir de alguns conceitos/noções, entendido como temas introdutórios: meio ambiente, cidadania, consumismo e outros. A avaliação deste projeto será realizada pala observação do movimento contínuo das atividades realizadas e pela percepção da construção de novos sentidos na transformação das práticas cotidianas, através dos relatos expressos pelos participantes. Será aplicado aos alunos um questionário ao final das atividades, na modalidade de pós-teste.

Introdução

Tendo em vista o fato de a comunidade Itagiba Fortunato ser constituída por estudantes pertencentes à classe dos trabalhadores, que nem sempre tem acesso a uma alimentação de valor nutricional relevante e a locais de lazer e de práticas esportivas, como, por exemplo, a caminhada, através deste projeto propõe-se desenvolver práticas educativas que possam contribuir para o letramento científico e formação para cidadania.

Para Magda Soares (1998), o termo letramento refere-se ao “ estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais que usam a escrita”.

Shamos (1995) denominou letramento científico propriamente dito o processo que envolve um conhecimento mais aprofundado dos construtos teóricos da ciência e da epistemologia, com compreensão dos elementos de investigação científica, do papel da experimentação e do processo de elaboração dos modelos científicos. Letramento científico, nessa perspectiva, consiste na formação técnica do domínio das linguagens e ferramentas mentais usadas em ciência para desenvolvimento científico. Para isso, os estudantes deveriam ter amplo conhecimento das teorias científicas e ser capazes de propor modelos em ciência.

O letramento como prática social implica a participação ativa do indivíduo na sociedade, em uma perspectiva de igualdade social, em que grupos minoritários, geralmente discriminados por raça, sexo e condição social, também pudessem atuar diretamente pelo uso do conhecimento científico ( Roth & Lee, 2004).

Trabalhar Educação Ambiental numa proposta de letramento científico e formação cidadã compreende um modo diferente de ver o mundo onde se enfatizam as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da vida. Contribuindo para mostrar a necessidade de um trabalho relacionado aos princípios da dignidade do ser humano, da participação, da co-responsabilidade, da solidariedade e da igualdade.

O crescimento das cidades tem provocado a alteração do ciclo das águas pela impermeabilização dos solos, bem como a conseqüente redução da infiltração da água das chuvas; a água escorre por galerias e sistemas de drenagem, arrastando lixo, sujeiras e sedimentos, como conseqüência, a água fica imprópria para uso: Os cursos d’água são retificados e não respeitam a existência nem a necessidade das matas ciliares. Assim, as águas atingem rapidamente os fundos dos vales e, por não terem condições de vazão suficiente, causam as enchentes.

Além disso, tal crescimento desordenado das cidades aumenta a produção de mais resíduos sólidos (lixo) e esgoto a cada ano.

Segundo Ivanildo Hespanhol (2006), a situação brasileira é, extremamente crítica no que concerne à cobertura de saneamento. No setor urbano, a porcentagem atendida é de apenas 55%, superior apenas aos índices do Haiti, com 42%, da Nicarágua, com 34%, e de Belize, com 23%. Na área rural a cobertura brasileira é de apenas 3%, índice inferior aos do Peru, com 10%, e do Haiti, com 16%. De acordo com os dados do IBGE, relativos ao Censo Demográfico de 1991, as Regiões Sul e Sudeste do País são marcadamente beneficiadas em relação às do Norte, Nordeste e Centro-oeste. Dados fornecidos pelo mesmo censo atestam, também, que as maiores carências situam-se nas faixas de renda mais baixas.

Ainda que extremamente preocupantes esses dados não refletem a realidade dos serviços efetivamente prestados, os dados não refletem, também o elevado nível

de deterioração dos sistemas de abastecimento de água e coleta de esgotos, o reconhecimento e o respeito aos direitos dos usuários e a generalizada desconsideração à preservação e à conservação dos recursos hídricos, utilizados como mananciais (CUNHA, 2006).

A Agenda 21 – o plano de metas em termos de ambiente e desenvolvimento para o século XXI – produzida pela Conferência sobre Desenvolvimento e Ambiente (CNUMAD-92, Rio de Janeiro, Junho de 1992), voltou a insistir na urgência com que a água e saneamento devem ser considerados pelos Países Membros das Nações Unidas.

O Capítulo 18 – “Proteção da qualidade e abastecimento de água: aplicação de métodos integrados para o desenvolvimento e gestão dos recursos hídricos” considera na área programática B, “Abastecimento de água e saneamento”, que “aproximadamente 80% de todas as doenças de origem hídrica e mais que um terço das mortes em países em desenvolvimento são causadas pelo consumo de água contaminada e que , em média, um décimo do tempo produtivo de cada pessoa é sacrificado a essas doenças”. Salienta também que “em países em desenvolvimento, excretas humanos e esgotos são importantes fatores de deterioração da qualidade da água e que a introdução de tecnologias adaptadas para a construção de sistemas de tratamento de esgotos traria melhorias significativas, em termos de saúde pública e meio ambiente”. Propõe, entre outras, as seguintes atividades, visando à melhoria do atendimento e à proteção da saúde pública dos consumidores: . estabelecer áreas de proteção para mananciais de água utilizados para abastecimento público;. coletar, tratar e dispor excretas e esgotos por meio de sistemas adequados, tanto em áreas urbanas como rurais;. construir e expandir, onde necessário, sistemas de tratamento de esgotos e sistemas de drenagem;. dar maior atenção às áreas rurais e peri-urbanas.

Materiais e Métodos

Propõe-se um estudo teórico e a realização de práticas de mudanças comportamentais relacionadas ao tema. O projeto se concretizará em uma perspectiva freireana, como uma prática participativa e problematizadora, que se estabelecerá no cotidiano, tendo como ponto de partida à realidade local.

É nessa realidade que se buscará, pela investigação, o universo temático, significativo para todos que participarão do processo. No projeto será realizada uma sondagem inicial comunitária, através de questionários diversificados, para grupos específicos da comunidade: alunos, professores e moradores do bairro. Os dados obtidos serão utilizados no trabalho com os temas introdutórios.

Nesses temas se encontrarão contemplados os problemas sócio-ambientais locais, mas contextualizados em uma realidade global. Será utilizada a técnica relatada por Guerra (2004), o mapa falante, que também pode ser denominado como biomapa e que auxiliará no levantamento de dados e questões que irão acelerar as discussões sobre meio ambiente na comunidade. Neste projeto, também será trabalhada a construção conceitual a partir de alguns conceitos/noções, entendido como temas introdutórios: meio ambiente, cidadania, consumismo e outros.

A avaliação deste projeto será realizada pala observação do movimento contínuo das atividades realizadas e pela percepção da construção de novos sentidos na transformação das práticas cotidianas, através dos relatos expressos pelos participantes. Será aplicado aos alunos um questionário ao final das atividades, na modalidade de pós-teste.

Resultados e Discussões

Os resultados obtidos foram discutidos conforme os objetivos do projeto de pesquisa: caracterização do perfil socioeconômico da Comunidade Escolar Itagiba Fortunato e seu entorno e suas percepções sobre o ambiente.

Caracterização do perfil socioeconômico dos moradores da Comunidade Escolar Itagiba Fortunato.

Através da pesquisa diagnóstica realizada foi levantado o perfil dos

entrevistados, que relaciona os grupos por faixa etária, que a maioria dos entrevistados tem no máximo 48 anos (100%), sendo a idade média 43 anos. Desses, 85% é do sexo feminino e 15% do sexo masculino: a representação familiar correspondeu a 60% mães, 15% pais e 25% outros.

Em relação ao Grau de Instrução a maioria (55%) tem pelo menos o ensino fundamental (cursou até a nona série). E o restante (45%) cursou o ensino médio.

A profissão principal do segmento feminino foi de donas de casa, o que pode ser reflexo da falta de oportunidades de emprego para as mulheres no município, as profissões seguintes para as mulheres foram: babá, diarista e manicure. Quanto aos homens as profissões citadas foram: segurança, serviços gerais e garçom.

Tabela 01: Profissão dos moradores entrevistados, Comunidade Escolar Itagiba Fortunato, 2008.

Mulheres Homens

Ocupação Total (%) Ocupação Total (%)dona de casa 40 segurança 33,3vendedora 10 garçom 33,3outras 50 serviços gerais 33,3Total 17 3

No que concerne ao tempo de residência percebeu-se, que a maioria já está

neste bairro a aproximadamente 10 anos. Assim, pode-se dizer que estes moradores já estabeleceram fortes laços com o local de sua residência e conhecem muito bem os problemas da comunidade.

Quanto à renda familiar, conforme a figura 1, 80% dos moradores da comunidade escolar Itagiba Fortunato recebem de 1 a 3 salários mínimos por mês, 10% dos moradores recebem de 3 a 5 salários mínimos por mês e 10% não recebem nenhum salário.

Buscando conhecer as sugestões de quais as estratégias ou no que concerne as questões ambientais, 40% dos moradores falaram que para sensibilizar a comunidade em relação as questões ambientais deve-se promover palestras comunitárias, e 35% disseram que o tema deve ser trabalhado na escola, conforme a figura 1.

Em sua opinião, o que se deve fazer para que a população se sensibilize com as questões ambientais?

Palestras (8)

Passeatas (1)

Criar grupos de discussões sobre o tema (2)

Discutir os temas no convívio social (1)

Trabalhar o tema nas escolas de educaçãoinfantil, ensino fundamental, ensino médio eensino superior (7)

Todas as opções (1)

Em branco (1)

Figura 1 - Opinião dos moradores sobre quais atividades podem ser realizadas para sensibilizar as pessoas em relação as questões ambientais

Quanto ao conceito de Educação Ambiental pode-se perceber que 18 (90%) pessoas relacionam a EA com preservação e 02 participantes relaciona a EA com a escola, o que sugere que estes estão se referindo à Educação Ambiental Formal, a qual é única e exclusivamente atribuição da escola. Provavelmente estes participantes têm visto a realização de atividades de EA na escola.

Em sua opinião a Educação Ambiental relaciona-se com:

Preservação Ambiental(18)

Escola (2)

Figura 2 – Opinião dos moradores entrevistados sobre Educação Ambiental, comunidade escolar Itagiba Fortunato.

A maioria da população entrevistada (60%) não conhece a mata que fica próxima ao local onde será construído o novo prédio escolar para a comunidade, conforme a figura 03.

Você já entrou na mata próxima ao PAC II?

SIM (8)

Não (12)

Figura 03 – Moradores entrevistados que conhecem a mata próxima ao PAC II (Sede do Novo Colégio)

Considerando as respostas obtidas e o interesse demonstrado pelos professores e alunos foi formada a Comunidade de Aprendizagem Itagiba Fortunato, com a participação de 11 professores e 350 alunos, com os quais foram desenvolvidas a metodologia das “Oficinas do Futuro”, na qual os problemas foram apresentados na I Etapa do Muro das Lamentações, alguns dos problemas são apresentados conforme figuras 04 e 05.

Figura 04 e 05: MURO DAS LAMENTAÇÕES - Levantamento de problemas por professores e alunos

Na II Etapa é realizada a construção da “Arvore da Esperança” na qual a comunidade apresenta seus Sonhos. A seguir, na III Etapa “O Caminho Adiante” a

comunidade apresenta as propostas de resolução dos problemas. Identificando quais são de sua competência resolver e mudar e aqueles que ela deve solicitar as providências do poder público e instituições.

Figura 06: ÁRVORE DA ESPERANÇA – Os sonhos, objetivos e projetos

Figura 07: CAMINHO ADIANTE – Ações que a comunidade pactua como meta

Conclusões

Diante do propósito de desenvolver práticas educativas que contribuam para o letramento científico e a formação cidadã e do papel da Educação Ambiental na conservação da natureza, com a aplicação do método freireano, que constitui a prática participativa e problematizadora, estabelecida no cotidiano e na realidade local, a aplicação dos questionários e o levantamento dos aspectos positivos e negativos da comunidade escolar Itagiba Fortunato, possibilitou uma visão sistêmica dessa comunidade, reforçado pelo referencial teórico apropriado ao tema estudado.

Sendo assim, é importante a preparação da comunidade escolar Itagiba Fortunato para as mudanças e desafios que o mundo globalizado nos apresenta.

Portanto necessita-se buscar formas de trabalhar a Educação Ambiental para essa comunidade de uma maneira eficaz, gerando mudanças comportamentais. Desta forma, devem ocorrer mudanças nos valores e padrões da comunidade para uma sensibilização da importância da preservação dos recursos naturais e da melhoria da qualidade de vida .

Um ponto importante percebido foi o interesse dos moradores entrevistados em que a Educação Ambiental seja ministrada na forma de palestras à comunidade no ambiente escolar.

Agradecimentos Agradecimentos à comunidade escolar Itagiba Fortunato que tem

possibilitado a realização da implementação do presente projeto de pesquisa. A minha orientadora Professora Doutora Irene Carniatto por sua dedicação e seu apoio em todos os momentos. Ao meu esposo e aos meus filhos por toda a compreensão.

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