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- 12 -
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, ECONOMIA E CIÊNCIAS CONTÁBEIS
MESTRADO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL
ORLANDO EVANGELISTA CUNHA
EXPANSÃO DA SOJA EM MATO GROSSO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO
PERÍODO DE 1995 a 2005
Cuiabá - MT
2008
- 13 -
ORLANDO EVANGELISTA CUNHA
EXPANSÃO DA SOJA EM MATO GROSSO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO
PERÍODO DE 1995 a 2005
CUIABÁ-MT
2008
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Agronegócios
e Desenvolvimento Regional, do
Departamento de Economia, da
Universidade Federal de Mato
Grosso, como exigência parcial para a
obtenção do título de Mestre em
Economia, sob a orientação do Prof.
Dr. Fernando Tadeu de Miranda
Borges.
- 14 -
FICHA CATALOGRÁFICA
C972e Cunha, Orlando Evangelista
Expansão da soja em Mato Grosso e desenvolvi-
mento econômico no período de 1995 a 2005 / Orlando
Evangelista Cunha. – 2008.
xii, 153p. : il. ; color.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato
Grosso, Faculdade de Administração, Economia e Ciências
Contábeis, Pós-graduação em Agronegócios e
Desenvolvimento Regional, 2008.
“Orientação: Prof. Dr. Fernando Tadeu de Miranda
Borges”.
CDU – 338.43:633.34(817.2)
Índice para Catálogo Sistemático
1. Soja – Crescimento econômico – Mato Grosso
2. Soja – Expansão – Economia – Mato Grosso
3. Soja – Economia – Mato Grosso – 1995-2005
4. Mato Grosso – Desenvolvimento econômico – 1995-
2005
- 15 -
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. Fernando Tadeu de Miranda Borges
Universidade Federal de Mato Grosso
(Presidente)
_______________________________________
Prof. Dr. Flávio Azevedo Marques de Saes
Universidade de São Paulo
(Membro Externo)
______________________________________
Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta
Universidade Federal de Mato Grosso
(Membro Interno)
______________________________________
Prof. Dr. Benedito Dias Pereira
Universidade Federal de Mato Grosso
(Membro Suplente)
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela presença onipotente e força superior na conclusão
de mais uma etapa de minha vida.
À Assembléia Legislativa de Mato Grosso, denominada Casa de Leis, na qual exerço o cargo de
Economista, concursado há mais de 10 anos, pelo reconhecimento da sua importância histórica no
contexto da política desenvolvimentista mato-grossense.
À Universidade Federal de Mato Grosso, pela oportunidade a mim proporcionada na realização
deste Curso de Mestrado em Economia/Agronegócios e Desenvolvimento Regional.
Aos Professores Doutores do referido Curso, integrantes do Departamento de Economia da
FAECC/UFMT, pelos ensinamentos e dedicação.
A todos os colegas do curso, pelo incentivo e amizade recebidos de cada um.
A Senhora Ísis Catarina Martins Brandão, Secretária Instituto Memória da ALMT, pelo apoio
dispensado a mim, durante todo o tempo de mestrado.
Em especial ao Prof. Dr. Benedito Dias Pereira, pelo estímulo a mim concedido, principalmente na
fase de qualificação da dissertação, e também pelos oportunos comentários e recomendações.
Em especial ao Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta, pela distinção em compartilhar seu
conhecimento acerca dos temas ligados ao desenvolvimento regional.
Em especial ao professor Dr. Fernando Tadeu de Miranda Borges, pela magnífica orientação,
desempenhada com esmero e dedicação acadêmica.
ii
[...] uma concepção adequada de desenvolvimento deve
ir muito além das visões restritas, que identificam
desenvolvimento com o crescimento do Produto
Nacional Bruto [...]
Amartya Sen
iii
Aos meus pais Garibaldino Padilha Cunha, in
memorian, e Maria Mirtes Evangelista que,
apesar dos escassos recursos financeiros,
nunca mediram esforços para que os meus
objetivos fossem alcançados.
iv
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................1
1 BREVE REVISÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA DE MATO GROSSO...............8
1.1 Aspectos históricos fundamentais do Estado de Mato Grosso........................................8
1.2 A divisão do Estado de Mato Grosso............................................................................10
1.2.1 O Estado de Mato Grosso pós-divisão..........................................................................11
1.3 Características agrícolas do Estado de Mato Grosso....................................................15
2 A SOJA NO CENÁRIO DAS ECONOMIAS NACIONAL E
MATO-GROSSENSE.................................................................................................31
2.1 Entrada e expansão do cultivo da soja em Mato Grosso...............................................31
2.1.2 Produção de soja em Mato Grosso e produção nacional...............................................39
2.1.3 Capacidade de armazenamento e processamento de soja em Mato Grosso..................56
2.1.4 Modalidades de transporte utilizadas em Mato Grosso.................................................68
3 NO CONTEXTO DAS TEORIAS ECONÔMICAS: O COMPLEXO SOJA.......73
3.1 A polêmica conceitual sobre desenvolvimento econômico..........................................73
3.2 Os papéis desempenhados pela agricultura no desenvolvimento econômico de
um país..........................................................................................................................76
3.3 A teoria da base exportadora.........................................................................................80
4 EXPANSÃO DA SOJA NA ECONOMIA DE MATO GROSSO NO PERÍODO
DE 1995 a 2005............................................................................................................86
4.1 Dimensão econômica....................................................................................................86
4.1.1 As exportações de soja como fator importante no crescimento econômico
mato-grossense..............................................................................................................86
4.2 Modelo analítico............................................................................................................91
4.2.1 Indicadores de desempenho da economia.....................................................................91
4.2.2 Coeficiente de correlação de Pearson...........................................................................92
4.2.3 Taxa de Crescimento Composta ou Geométrica (TCG)...............................................92
4.3 Vantagens comparativas reveladas (VCR)....................................................................93
4.4 Coeficiente de abertura e corrente de comércio............................................................93
4.5 Resultados e discussões.................................................................................................94
4.5.1 Resultado do Índice de Correlação de Pearson.............................................................94
4.5.2 Resultado do Índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR)...............................95
4.5.3 Resultados da evolução da corrente de comércio mato-grossense e seu
coeficiente de abertura econômica................................................................................97
v
4.6 Dimensão social....................................................................................................104
4.6.1 Distribuição de renda, desigualdade e pobreza em Mato Grosso.........................105
4.6.2 Indicadores de bem-estar e participação...............................................................114
4.6.3 Renda domiciliar per capita..................................................................................115
4.6.4 Produto interno bruto per capita...........................................................................117
4.6.5 Índice de desenvolvimento humano (IDH)...........................................................118
4.7 Indicadores educacionais.......................................................................................127
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................137
REFERÊNCIAS..............................................................................................................140
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Evolução da produção de grãos segundo os principais estados do
Brasil nas safras de 1976/77 a 2006/07...............................................................................14
Figura 2 – Mato Grosso no ranking agrícola nacional, 2005.............................................17
Figura 3 – Mato Grosso: Evolução da produção, segundo as principais culturas, nas
safras de 1977/78 a 2005/06...............................................................................................23
Figura 4 – Mato Grosso: Evolução da área plantada, produção e produtividade de
soja, nas safras de 1978 a 2006...........................................................................................41
Figura 5 – Mato Grosso: divisão político-administrativa e ranking dos dez
maiores municípios produtores de soja, na safra de 2005...................................................45
Figura 6 – Vista parcial: plantação de soja em Sorriso/Mato Grosso................................46
Figura 7 – Vista parcial: lavoura de soja ..........................................................................46
Figura 8 – Fazenda Tanguro-Grupo André Maggi............................................................49
Figura 9 – Vista aérea parcial: colheita de soja/Fazenda Tanguro/Grupo André
Maggi..................................................................................................................................49
Figura 10 – Mato Grosso: Evolução dos dez maiores municípios produtores de
soja, nas safras de 1990 a 2006...........................................................................................50
Figura 11 – Brasil: Evolução da produção de soja, segundo os maiores estados
produtores, nas safras 1977/78 a 2006/07.......................................................................... 54
Figura 12 – Mato Grosso: Distribuição da capacidade estática de armazenamento
agrícola, segundo os tipos de armazenamento, 2007..........................................................60
Figura 13 – Mapa: Custo de transporte no território brasileiro.........................................71
Figura 14 – Evolução da corrente de comércio de Mato Grosso e do Brasil, em %,
de 1990 a 2006....................................................................................................................99
Figura 15 – Evolução do coeficiente de abertura do Estado de Mato Grosso, respec-
tivamente às exportações, importações ao comércio externo total no período de 1990 a
2006, em porcentagem......................................................................................................101
Figura 16 – Evolução do coeficiente de abertura do Brasil, respectivamente às exporta-
ções, importações e ao comércio externo total no período de 1990 a 2006, em porcenta-
gem....................................................................................................................................104
vii
Figura 17 – Mato Grosso: Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de
idade, ocupadas na semana de referência, segundo as classes de rendimento, em média,
no período de 2001 a 2005................................................................................................114
Figura 18 – Brasil, Região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução da renda
domiciliar per capita, 1995–2005 (R$)............................................................................116
Figura 19 – Mato Grosso: Contribuição dos subíndices educação, longevidade e
renda para o crescimento do IDH (1991-2000) (%)........................................................120
Figura 20 – Mato Grosso: Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou
mais de idade, por situação de domicílio, no período de 1995 a 2005 (%)..................129
Figura 21 – Mato Grosso: Evolução da taxa de escolaridade da população de 15 ou mais
anos de idade, por grupos de anos de estudo, no período de 1995 a 1999 e 2001 a 2005
(%).....................................................................................................................................130
Figura 22 – Mato Grosso: Evolução da escolaridade média das pessoas de 25 ou
mais anos de idade, no período de 1995 a 1999 e 2001 a 2005 (n. médio de anos de
estudo).............................................................................................................................. 131
viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Mato Grosso: Evolução da população por situação de domicílio,
1980, 1991, 1996, 2000 e 2004 (habitantes).....................................................................11
Tabela 2 – Áreas cultivadas das principais culturas em Mato Grosso, nas safras de
1977/78 a 2006/07 (em mil hectares)..................................................................................18
Tabela 3 – Mato Grosso: Participação das principais culturas por áreas cultivadas, nas
safras de 1977/1978 a 2006/07 (%)..................................................................................20
Tabela 4 – Mato Grosso: Produção das principais culturas, nas safras de 1977/78 a
2005/06 (em mil toneladas)................................................................................................22
Tabela 5 – Mato Grosso: Participação das principais culturas na produção, nas safras
de 1977/78 a 2005/06 (%)..................................................................................................24
Tabela 6 – Mato Grosso: Produtividade segundo as principais culturas, nas safras de
1977/78 a 2005/06 (Kg/ha)................................................................................................26
Tabela 7 – Mato Grosso: Valor da produção, segundo as principais culturas, nas
safras de 1993/94 a 2005/06 (R$ mil)...............................................................................27
Tabela 8 – Mato Grosso: Participação relativa no valor da produção, segundo as
principais culturas, nas safras de 1993/94 a 2005/06 (%)..................................................28
Tabela 9 – Mato Grosso: Taxas geométricas de crescimento em função da área
cultivada, produção, produtividade e valor da produção das principais culturas
(safras de 1978/79 a 2004/2005).........................................................................................29
Tabela 10 – Brasil: Participação dos estados na produção de algumas lavouras na
safra de 2004/05 (%)..........................................................................................................30
Tabela 11 – Mato Grosso: Evolução da área plantada, produção e produtividade de
soja, nas safras de 1978 a 2006...........................................................................................40
Tabela 12 – Mato Grosso: Área plantada e produção de soja segundo as principais
microrregiões nos períodos de 1990, 1995 e 2005..............................................................42
Tabela 13 – Mato Grosso: Participação na área plantada e produção de soja segundo
as principais microrregiões nos períodos de 1990, 1995 e 2005 (%).................................43
Tabela 14 – Mato Grosso: Número de tratores por potência (CV), 1985 e 1996..............48
Tabela 15 – Brasil: Evolução da produção de soja, segundo os principais
estados produtores, nas safras de 1977/78 a 2006/07 (mil toneladas)...............................52
ix
Tabela 16 – Participação na produção brasileira de soja em grãos segundo os
principais estados produtores, nas safras de 1977/78 a 2006/07.........................................55
Tabela 17 – Mato Grosso: Maiores municípios segundo a capacidade de
armazenamento e tipo de armazém cadastrado junto à Conab, 2007 em
(mil toneladas).....................................................................................................................59
Tabela 18 – Mato Grosso: Capacidade estática de armazenamento agrícola,
segundo as grandes empresas exportadoras de soja, 2007..................................................61
Tabela 19 – Brasil: Capacidade instalada de processamento, refino e envase de
óleos vegetais por Estado (2001 e 2006) (toneladas/dia)...................................................63
Tabela 20 – Mato Grosso: Capacidade instalada de esmagamento de soja,
segundo as maiores empresas, de 2003 a 2006 (toneladas/dia) e (toneladas/ano).............65
Tabela 21 – Economias de escala no esmagamento de soja: redução de custos de
processamento esperado de acordo com o aumento da planta (%)....................................66
Tabela 22 – Mato Grosso: Participação na capacidade de esmagamento de soja,
segundo as maiores empresas, de 2003 a 2006 (%)...........................................................67
Tabela 23 – Mato Grosso: Participação percentual das atividades econômicas no valor
adicionado bruto a preço básico, 1995-2004 ....................................................................88
Tabela 24 – Participação do complexo soja na pauta de exportações mato-
grossenses, em % - de 1990 a 2006....................................................................................90
Tabela 25 – Cálculo das vantagens comparativas reveladas, segundo os
principais produtos da pauta de exportações de Mato Grosso, de 1990 a 2006..................96
Tabela 26 – Exportação, importação e saldo da balança comercial mato-
grossense, de 1990 a 2006...................................................................................................98
Tabela 27 – Coeficiente de abertura do Estado de Mato Grosso e do Brasil às
exportações, importações e ao comércio externo, de 1990 a 2006 (%)...........................100
Tabela 28 – Taxa média anual de crescimento do PIB, exportação, importação e
corrente do comércio do Brasil e de Mato Grosso no período de 1990 a 2006,
em %................................................................................................................................102
Tabela 29 – Brasil, Centro-Oeste e Mato Grosso: Perfil socioeducacional,
ocupacional e demográfico das pessoas ocupadas na agricultura, 2002 (%)..................106
Tabela 30 – Indicadores de distribuição de renda (1991-2000): Brasil,
Mato Grosso e os dez maiores municípios produtores de soja.........................................108
Tabela 31 – Mato Grosso: Evolução de alguns indicadores de desigualdade,
1995-2005.........................................................................................................................111
x
Tabela 32 – Indicadores de pobreza (1991-2000): Brasil, Mato Grosso e os dez
maiores municípios produtores de soja.............................................................................112
Tabela 33 – Mato Grosso: Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou e
mais de idade, ocupadas na semana de referência, segundo as classes de rendimento
no período de 2001 a 2005................................................................................................113
Tabela 34 – Brasil, região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução da renda
domiciliar per capita, 1995-2005 (R$)..........................................................................115
Tabela 35 – Brasil, região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução do produto
interno bruto per capita, 1995-2004 (R$ mil).................................................................117
Tabela 36 – Índice de Desenvolvimento Humano dos estados brasileiros, 1991 e
2000...................................................................................................................................121
Tabela 37 – Índice de Desenvolvimento Humano (Longevidade) do Brasil,
Mato Grosso e seus municípios produtores de soja (IDH e IDH-M) – 1991 e 2000........122
Tabela 38 – Índice de Desenvolvimento Humano (Educação) do Brasil,
Mato Grosso e seus municípios produtores de soja (IDH e IDH-M) – 1991 e 2000........124
Tabela 39 – Índice de Desenvolvimento Humano (Renda) do Brasil, Mato Grosso e
seus municípios produtores de soja (IDH e IDH-M) – 1991 e 2000................................125
Tabela 40 – Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, Mato Grosso e seus
municípios produtores de soja (IDH e IDH-M) – 1991 e 2000........................................126
Tabela 41 – Mato Grosso: Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos
ou mais de idade, por situação de domicílio, no período de 1995 a 2005 (%)...............128
Tabela 42 – Brasil e Mato Grosso: Resumo de indicadores sociais no período de
1991-2000.........................................................................................................................134
Tabela 43 – Brasil e Mato Grosso: Resumo de indicadores sociais – variação
percentual no período de 1991-2000................................................................................134
Tabela 44 – Brasil e Mato Grosso: Resumo de indicadores sociais nos períodos de
1995-2004 e 1995-2005....................................................................................................135
xi
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo identificar se o crescimento econômico decorrente da
produção de soja em Mato Grosso no período de 1995 a 2005 foi importante para impulsionar o
desenvolvimento econômico. Para tanto, utilizam-se indicadores socioeconômicos e de
desempenho, tais como: Índice de Correlação de Pearson; Taxas Geométricas de Crescimento;
Índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR); Evolução do PIB e PIB per capita; Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH); Índice de Gini; dentre outros. Pelos resultados obtidos, pode-se
confirmar a hipótese levantada inicialmente de que o crescimento econômico proporcionado pela
expansão da soja em Mato Grosso no período de 1995 a 2005 não representou um desenvolvimento
econômico efetivo, conforme defende a literatura econômica. Constatou-se que o produto soja
lidera há quase duas décadas as exportações do Estado, confirmando a tendência de ser o produto
principal na pauta de exportações e da permanência histórica de um modelo agroexportador em
Mato Grosso. Verificou-se que a expansão da soja no Estado teve forte participação estatal:
financiamento subsidiado da produção, através dos Programas POLOCENTRO, PRODECER e
Instituições oficiais; vultosos gastos com pesquisas tecnológicas feitas principalmente pela
Embrapa; aspectos edafoclimáticos favoráveis; busca de terras mais baratas; economias de escala; e
interesse privado, notadamente, das tradings companies. Constatou-se também que as exportações
do complexo soja (grãos, farelo e óleo) impactaram fortemente o crescimento do PIB estadual, cujas
taxas de crescimento superaram as do Brasil, as quais contribuíram para maior abertura econômica
via inserção no mercado externo. Ficou evidente também as elevadas VCRs dos principais produtos
da pauta de exportações, notadamente do complexo soja. A despeito de Mato Grosso ter se
consolidado na liderança brasileira da produção de soja, ocorrida a partir da safra de 1999-2000,
constataram-se algumas vulnerabilidades no processo produtivo: baixa capacidade de
gerenciamento de risco e crédito; elevada vulnerabilidade externa; e problemas logísticos. A
expansão da soja no Estado revelou um paradoxo: se, por um lado, a dimensão econômica pode ser
considerada um “sucesso”, por outro, não se pode afirmar o mesmo em relação à dimensão social,
cujos indicadores revelaram uma medíocre distribuição de renda e riqueza, principalmente nos dez
maiores municípios produtores de soja, contribuindo para a persistência de um elevado nível de
desigualdade econômica e social no Estado.
Palavras-chave: Mato Grosso. Soja. Crescimento. Desenvolvimento econômico.
xii
ABSTRACT
This paper aims at identifying if the economical growth as a result of soybean production in
Mato Grosso between 1995 and 2005 was important to stimulate the economical development. For
this, the socio-economic and performance indicators are used such as: Pearson Correlation Index;
Geometric Growth Rates; Revealed Comparative Advantage (VCR); evolution of PIB and PIB per
capita; Human Development Index (IDH); Gini Index; among others. By the results, the first
hypothesis that the economical growth brought by the soybean expansion in Mato Grosso between
1995 and 2005 did not represent an effective economic development, as presented by the economic
literature. It was noticed that the product soybean has been in first place in the state exportations,
for almost two decades which confirms the tendency of it being the main product in the exportation
list and of the historical permanence of an agricultural exportation model in Mato Grosso. The
growth of the soybean in the state had a strong participation of the state government, through the
subsidiary funding of the production, and through the POLOCENTRO and PRODECER Programs
and Official Organs; big expenses with technological researches made mainly by EMBRAPA;
favorable edaphoclimatic aspects, search for cheaper land, economy of scale and private interest,
especially from the trading companies. It was also verified that the exportations of the soybean
complex (grain, bran and oil) strongly impacted on the growth of the state PIB, and as the growth
rates were higher than those of Brazil, they contributed for a bigger economic opening through their
insertion in the foreign market. Also there were high VCRs over the main products on the list of
exportations, mainly in the soybean complex. In spite of Mato Grosso being consolidated in the
Brazilian leadership of the soybean production in 1999/ 2000, some vulnerability was verified in the
productive process: low management of risk and credit capacity; high external vulnerability and
logistic problems. The soybean expansion in the state revealed a paradox: if on the one hand the
economic dimension can be considered a “success”, on the other, one cannot say the same regarding
the social dimension, whose indicators reveal a mean income and wealth distribution, mainly in the
largest districts that produce soybean, contributing for the persistence of a high index of economic
and social difference in the state.
Key-words: Mato Grosso. Soybean. Growth. Economical Development.
1
INTRODUÇÃO
“EXPANSÃO DA SOJA EM MATO GROSSO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
NO PERÍODO DE 1995 A 2005” busca identificar quais foram os fatores responsáveis por essa
expansão e discutir se o crescimento apoiado na soja trouxe contribuições ao desenvolvimento
econômico.
As relações entre comércio e crescimento econômico vêm sendo objeto de inúmeras
discussões na economia. Em se tratando da formação econômica do Brasil, temos como exemplo as
várias fases vivenciadas pelo crescimento das economias regionais, notadamente a expansão dos
setores agroexportadores, com destaque para as experiências relacionadas às atividades da cana-de-
açúcar no Nordeste, do café no Sudeste, da borracha no Norte, da erva-mate no Centro-Oeste e da
pecuária no Sul e Centro-Oeste. De acordo com as observações de Siqueira, “Na atualidade, o
exemplo mais emblemático das relações entre exportações e desenvolvimento econômico é
oferecido pela expansão da soja nos estados da Região Sul e nos cerrados da Região Centro-Oeste a
partir da década de 70”1.
Ao analisar a formação econômica de Mato Grosso, constata-se que o modelo de produção
voltado para fora predominou. Inicialmente foram as explorações auríferas, depois o extrativismo,
seguido pela pecuária2 e, atualmente, “o agronegócio”. Essas fases de produção mato-grossenses
possibilitam o entendimento de que o modelo econômico instalado tem grande dependência do
movimento econômico internacional.
Os prováveis impactos ao desenvolvimento econômico regional seriam aqueles que levam
em conta o cômputo nas dimensões econômica e social e vêm sendo estudadas, de forma tímida,
necessitando, por isso, de um maior aprofundamento. Para Siqueira3:
A evidência histórica mostra que as exportações geram impactos positivos sobre a
renda e o emprego domésticos e contribuem para o maior dinamismo da economia,
seja de uma região ou mesmo de um país. A experiência recente brasileira, entre
2000 e 2005, mostrou que a expansão das exportações desempenhou um papel
importante no crescimento econômico nordestino brasileiro, podendo-se dizer que
1 SIQUEIRA, Tagore Villarim de. Comércio internacional: oportunidades para o desenvolvimento regional. Revista do
BNDES, Rio de Janeiro, v.13, n. 25, p.116, jun. 2006. Disponível em: < http://www.bndes.gov.br >. Acesso em: abr.
2007. 2 BORGES, Fernando Tadeu de Miranda. Do extrativismo à pecuária – algumas observações sobre a história
econômica de Mato Grosso – 1870 a 1930. São Paulo: Scortecci, 2001. 3 SIQUEIRA, op. cit., p.117.
2
nesse período o crescimento de 1% ao ano nas exportações proporcionou um
incremento médio de 0,25% ao ano no Produto Interno Bruto do país ou região.
Nesse cenário de crescimento decorrente das exportações, destaca-se a produção do Estado
de Mato Grosso com as atividades agrícolas, o qual sustenta uma liderança nacional em termos de
produção e produtividade de soja desde a safra de 1999/2000.
Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)4, a explosão do
crescimento da soja mato-grossense ocorreu em grande parte no final do século XX e início do
XXI, quando os 5,49 milhões de toneladas produzidos em 1995 elevaram-se para 17,76 milhões de
toneladas em 2005, ou seja, houve um incremento na produção correspondente a 223,50%. Assim a
produtividade teve um incremento de 21,61%, ou seja, os 2.392,3 Kg/ha aumentaram para 2.909,2
Kg/ha. A expansão da área colhida foi também muito significativa: os 2,32 milhões de hectares em
1995, expandiram-se para 6,11 milhões de hectares em 2005, evidenciando-se, um crescimento de
163,36%.
Em relação aos dados agrícolas do IBGE5, merece destaque o desempenho do valor total
da produção oriunda da soja em Mato Grosso que passou de R$ 0,68 bilhão em 1995 para R$ 6,68
bilhões em 2005, identificando-se no cômputo um crescimento de 882%, aproximadamente.
De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC)6, nas exportações de Mato Grosso durante o período de 1990 a 2006, verificou-se que a
participação média do complexo soja (grãos, farelo e óleo) atingiu 77% ou US$ 1,8 bilhão. As
exportações totais cresceram 485%, sendo que, desse total, somente o complexo soja aumentou
462%.
Se, por um lado, há evidências na literatura econômica de que as exportações agrícolas de
uma região ou país contribuem para o crescimento econômico, por outro, existem evidências
também de que crescimento nem sempre é sinônimo de desenvolvimento.
Nesse contexto apontado, buscar-se-á, através da análise das várias etapas pelas quais
passou a soja em Mato Grosso, identificar os prováveis impactos do aumento das exportações de
soja em face do desenvolvimento econômico de Mato Grosso.
4 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 12 set.2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >.
Acesso em: set. 2007. 5 Idem.
6 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Secretaria de Comércio Exterior
(SECEX). Sistema aliceweb (aliceweb) 21 jan. 2007. Disponível em: < http://www.mdic.gov.br >. Acesso em: jan.
2007.
3
Num país emergente como é o caso do Brasil, buscar entender a dinâmica do
desenvolvimento regional é fundamental para a compreensão do nacional.
O presente tema justifica-se em função da relevância que o “agronegócio” da soja assumiu
em Mato Grosso, nas últimas décadas, nas dimensões econômica e social.
A presente dissertação tem por objetivo identificar se o crescimento econômico decorrente
da produção de soja em Mato Grosso no período de 1995/2005 foi importante para impulsionar o
desenvolvimento econômico. Especificamente, busca-se relacionar a teoria da base exportadora
com a expansão da soja; levantar a competitividade da soja mato-grossense; idenficar os principais
fatores que levaram a sua expansão; e analisar a evolução dos principais indicadores
socioeconômicos do Estado. A seguir, um resumo de alguns trabalhos que abordam questões
próximas do nosso objeto de pesquisa.
A dissertação de Mestrado Caracterização da cadeia produtiva da soja em Goiás, de Nair
de Moura Vieira7, estuda a cadeia de produção da soja a partir dos elementos que a constituem, bem
como interpreta o modo de atuação dos seus agentes. Segundo a autora, a cadeia da soja goiana
cresceu pela capacidade de atrair recursos de origem estrutural e fiscal oferecidos à agroindústria.
Assevera que a cadeia da soja goiana tem potencial para crescer ainda mais, caso seja melhorada a
rede de transporte. Conforme esclarecido pela própria autora, a dissertação apresentou algumas
limitações no que se refere à disponibilidade e abrangência de dados estatísticos, notadamente de
origem privada, mas não tira o mérito da pesquisa, muito pelo contrário, contribui para o melhor
entendimento desta importante cadeia do agronegócio brasileiro. Infere-se também desse estudo que
há muita semelhança entre as características da cadeia da soja goiana e mato-grossense, assim
destacadas: a forma de ocupação territorial; os tipos de transporte utilizados; e também os
problemas relacionados à logística.
O trabalho intitulado Agricultura e estrutura produtiva do Estado de Mato Grosso: uma
análise insumo-produto, dissertação de Mestrado de Margarida Garcia Figueiredo8, discute o
significado do setor agrícola na formação da estrutura de produção da economia mato-grossense,
com destaque para a excelente performance da atividade agrícola desde os anos setenta, a qual
influiu positivamente para que sua economia expandisse em um nível superior à média do Brasil ao
7 VIEIRA, Nair de Moura. Caracterização da cadeia produtiva da soja em Goiás. 2002. 124 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia de Produção) – Faculdade de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2002. 8 FIGUEIREDO, Margarida Garcia de. Agricultura e estrutura produtiva do Estado de Mato Grosso: uma análise
insumo-produto. 2003. 187 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
4
longo dos últimos decênios. Como instrumento analítico comprobatório, emprega-se o modelo de
insumo-produto inter-regional para as duas regiões, Mato Grosso e Brasil, especificamente para o
ano de 1999. Dentre os principais resultados encontrados por Figueiredo, destacam-se: a cultura da
soja representa um “setor-chave” da economia mato-grossense, pelo importante papel
desempenhado nas relações comerciais de insumo moderno, também exerce efeito multiplicador de
renda, produção e emprego na economia, bem como desponta na geração de divisas através das
exportações. Constatou também que a capacidade na geração de empregos diretos, no interior da
cadeia, é baixo, mas, em contrapartida, gera muitos empregos indiretos nos setores que fornecem
insumos à cadeia, tais como máquinas, equipamentos, implementos, agrotóxicos e fertilizantes. Por
último, a autora defende que a manutenção do crescimento econômico do Estado está associado à
capacidade de “[...] investimentos em infra-estrutura e uniformização tributária para redução dos
custos de produção”. Ressaltamos que o trabalho de Figueiredo, embora faça uma análise da
estrutura de produção do Estado de Mato Grosso numa visão estática de curto prazo (um ano),
merece ser enaltecido pelo fato de evidenciar a economia mato-grossense em nível local e nacional,
uma vez que o Estado é um dos que mais vêm crescendo no Brasil nas últimas décadas e necessita
de estudos abordando esse crescimento econômico, que tem na cadeia da soja a sua principal fonte
estimuladora.
A tese O Desenvolvimento da Teoria da Base de Exportação como uma Teoria do
Desenvolvimento Regional, de Jacques Schwartzman9, estudou a evolução da teoria da base de
exportação, voltada à análise do contexto regional. Buscou na realidade explicar como se processa o
desenvolvimento regional a partir dos enfoques teóricos. Schwartzman desenvolve um arcabouço
teórico sobre algumas teorias do desenvolvimento regional, perpassando pelas teorias da base
econômica “Staple Theory”, da localização, e prioriza a teoria da base exportadora, comparando-a
com as demais. Dentre os importantes resultados obtidos, o autor conclui que não existe uma “[...]
teoria com um corpo bem-estruturado sobre desenvolvimento regional”; a teoria da base
exportadora em virtude das limitações de seu corpo analítico não é capaz de explicar sozinha o
desenvolvimento de regiões que não se enquadrem nos seus pressupostos e hipóteses teóricas.
Enfatiza que a teoria da base exportadora “[...] deveria dar maior atenção ao lado da oferta e não
privilegiar o lado da demanda”. Por último, o autor enfatiza a carência de estudos sobre
9 SCHWARTZMAN, Jacques. O desenvolvimento da teoria da base da exportação como uma teoria do
desenvolvimento regional.). 1973. 83 f. Tese (Mestrado em economia regional) - Centro de desenvolvimento e
planejamento regional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1973.
5
“desenvolvimento regional” voltados para “[...] explicar a capacidade de uma região em atrair
recursos escassos”.
A dissertação de Mestrado Paraná: desenvolvimento e transportes, de Cilos Roberto
Vargas10
, associa a evolução da “[...] infra-estrutura de transporte com o desenvolvimento
econômico do Estado do Paraná”. Despontam como resultados: a) constatação de que o crescimento
econômico do Paraná foi influenciado por investimentos em modernização e ampliação dos meios
de transporte rodoviário, ferroviário e portuário; b) o setor público, nos seus vários níveis, tiveram
grande participação, através das políticas públicas de investimento e desenvolvimento; c) verificou
também que as teorias de localização e do desenvolvimento regional, base econômica, base
exportadora, dentre outras, não conseguiram explicar por completo os processos de
desenvolvimento econômico e formação da infra-estrutura do Paraná. Finalizando, o autor sugere
que o desenvolvimento regional deve ser pensado, privilegiando uma atuação para o setor de
transportes onde não há “supremacia” do setor governamental e nem da “corrente neoliberal”.
A tese “Magister Scientiae”, Poder de mercado na indústria brasileira de esmagamento
de soja, de Lucinéia Hipólito Carvalho11
, analisa os “[...] impactos das mudanças estruturais na
indústria de esmagamento de soja sobre o desempenho econômico do complexo soja, no início do
século XXI”. Confirmou a tendência observada em estudos realizados já nos anos 90, acentuada no
início dos anos 2000. Dentre os principais resultados observados, destacam-se: o exercício da
dominação através do “monopsônio” na compra de soja em grão no mercado; que a dominação das
empresas processadoras de soja tem sido marcante em relação aos produtores de soja; nos estados
onde há maior capacidade ociosa por parte da indústria, o domínio de mercado manifesta-se de
forma menos severa. A autora enfatiza também a necessidade de uma ação coletiva na
comercialização de soja em grão, via cooperativas ou outras formas de associação entre produtores
que poderia ser mais eficaz no sentido de confrontar a dominação crescente da indústria esmagadora
de soja no Brasil.
O artigo Uma interpretação política da introdução da soja no cerrado de Mato Grosso,
elaborado por José Manuel Carvalho Marta e Adriano Marcos Rodrigues Figueiredo12
, busca
10
VARGAS. Cilos Roberto. Paraná: desenvolvimento e transportes. 2005. 129 f. Dissertação (Mestrado em
Desenvolvimento Econômico) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 11
CARVALHO, Lucinéia Hipólito. Poder de mercado na indústria brasileira de esmagamento de soja. 2004. 47 f.
Tese (Magister Scientiae) – Faculdade de Economia Rural, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2004. 12
MARTA, José Manuel Carvalho; FIGUEIREDO, Adriano Marcos Rodrigues. Uma interpretação política da
introdução da soja no cerrado de Mato Grosso. Cuiabá: NUPES/UFMT, maio 2007. 14 p. (Texto para discussão
n.1).
6
discutir alguns elementos fundamentais no processo de inserção e “expansão” da soja mato-
grossense.
Dentre os principais resultados, os autores afirmam que a “explosão produtiva” da soja
mato-grossense ocorrida nos anos 90 foi resultado de forte intervenção do Estado, através de
medidas implementadas no âmbito da “modernização da agricultura e Revolução Verde”. Ressaltam
ainda que os grandes grupos empresariais instalados em Mato Grosso têm obtido grandes vantagens
e que, naturalmente, vêm se locupletando do “processo”. Embora o Estado tenha tido em período
recente um bom desempenho na produção de soja, os produtores rurais têm passado por crises no
setor, os quais se tornaram altamente dependentes do sistema capitalista (Instituições públicas;
privadas e tradings companies). Defendem que as crises resultaram da adoção de uma política de
abertura comercial a partir dos anos 90; atuação protecionista da Organização Mundial do Comércio
(OMC) no setor agrícola; carência de planejamento; excessiva dependência do “mercado
regulador”; e, principalmente, na falsa noção dos produtores rurais numa fonte ilimitada de recursos
para financiar a produção, não levando em conta a grande vulnerabilidade de crédito e risco que
caracteriza o setor agrícola.
Pelos trabalhos aqui apresentados, confirma-se a importância que a soja tem desempenhado
na economia brasileira nos últimos anos, mormente a relevância da soja para o desenvolvimento
regional, especificamente para o Estado de Mato Grosso que lidera a produção e produtividade do
produto soja desde a safra de 1999/2000.
A hipótese que se pretende verificar é que o acentuado crescimento econômico
proporcionado pela expansão da soja não representou um desenvolvimento econômico efetivo,
conforme defende a literatura econômica.
Para tal, o presente trabalho está estruturado em quatro capítulos. O primeiro capítulo traz
uma breve revisão histórico-econômica de Mato Grosso. Inicialmente, aborda-se de forma resumida
como se processou a divisão territorial do Estado, bem como evidenciam-se as principais
características agropecuárias na atualidade.
O segundo capítulo procura situar a soja no cenário das economias nacional e mato-
grossense, trazendo a caracterização da cadeia da soja no Estado, seu surgimento e os fatores de
expansão, enfatizando a produção de soja mato-grossense versus a produção nacional, bem como
caracterizando a agroindústria da soja em relação a sua estrutura logística e de produção.
O terceiro capítulo contextualiza o complexo soja com a teoria econômica e, num primeiro
momento, além de delimitar o conceito de desenvolvimento, também elenca os papéis da
7
agricultura no processo de desenvolvimento econômico de um país. Procura demonstrar a teoria
relativa à análise do desenvolvimento regional, a teoria da base exportadora e analisa a partir de
uma visão dialética e comparativa o objeto de estudo proposto.
Já o quarto capítulo aborda os reflexos da expansão da soja na economia de Mato Grosso no
período de 1995 a 2005. Procura analisar, por intermédio de diversos indicadores, os reflexos nas
dimensões econômica e social decorrentes da expansão da soja no Estado. Tendo em vista a sua
dimensão econômica, busca comprovar a importância das exportações do complexo soja no
processo recente de crescimento econômico experimentado pelo Estado. Por isso, utiliza-se de
vários indicadores de desempenho da economia, tais como coeficiente de correlação de Pearson,
taxas de crescimento geométricas, dentre outras. Calcula também o nível de competitividade da soja
mato-grossense em relação à brasileira, através do método das Vantagens Comparativas Reveladas
(VCR). E, por último, as considerações finais.
8
1 BREVE REVISÃO HISTÓRICO-ECONÔMICA DE MATO GROSSO
1.1 Aspectos históricos fundamentais do Estado de Mato Grosso
O objetivo deste capítulo é revisitar alguns aspectos importantes de natureza histórica, bem
como caracterizar a evolução recente da economia de Mato Grosso, com ênfase no setor
agropecuário, que tem demonstrado um dinamismo superior aos demais.
As primeiras tentativas de ocupação do atual Estado de Mato Grosso remontam ao século
XVI. “As Bandeiras” e o “descobrimento do ouro” em Cuiabá constituíram-se como fatores
decisivos para o surgimento de “Vilas e Cidades”:
[...] de acordo com o Tratado de Tordesilhas, o atual estado de Mato Grosso, como
quase todo o Centro-Oeste e a Região Norte, pertencia à Espanha. Por muito
tempo, sua exploração se limitou a esporádicas expedições de aventureiros e à
atuação de missionários jesuítas e espanhóis. A ocupação do estado guarda uma
semelhança muito grande com a ocupação territorial brasileira, a qual foi feita aos
saltos, com núcleos de povoação, surgidos em função de episódios históricos
marcantes, como por exemplo as Bandeiras no séc. XVII, expedições organizadas
com o objetivo de escravizar índios. Tais expedições tiveram seus propósitos
desviados em função da descoberta do ouro no séc. XVIII, que por sua vez atraiu
grande contingente populacional para aquelas áreas, que acabaram se
transformando em Vilas e Cidades. A região foi incorporada ao Brasil em 1750,
pelo Tratado de Madri13
.
Vila Bela da Santíssima Trindade (a primeira capital de Mato Grosso) e a atual, Cuiabá,
surgiram como cidades justamente nesse contexto de exploração das riquezas naturais pelos
bandeirantes paulistas.
Borges14
defende que a “vida econômica” mato-grossense começou apenas no séc. XVIII,
através da extração do ouro iniciada em 1719 em Cuiabá. A atividade aurífera reduziu-se
significativamente em 1727 e ressurgiu aleatoriamente em alguns locais de Mato Grosso em 1738.
Afirma também que a produção de ouro na região teve auge e queda simultâneos, e que o
desenvolvimento da economia mato-grossense resultou da “articulação” dos fatores “exógenos”
com os “endógenos”.
13
FIGUEIREDO, 2003, p. 21. 14
BORGES, 2001, p. 22-23.
9
Na interpretação de Borges15
:
Não se deve, pois, atribuir apenas ao caráter exportador da economia de Mato
Grosso e à presença do capital mercantil e/ou do capital estrangeiro o fato dessa
economia não se ter transformado no período em questão. Isso é resultado da
articulação entre esse vínculo externo e uma estrutura social e econômica (interna)
que não consegue fazer com que o impulso das exportações (mesmo que
quantitativamente menor, em relação a outras do país) resulte em pressões para a
constituição de novas atividades e para mudanças nas relações de produção.
No que diz respeito à situação da economia mato-grossense no período de 1870 a 1930 e,
especificamente, à sua pauta de exportações, observa-se que não houve, nessa fase, a participação
de produtos de origem agrícola, mas do extrativismo vegetal e produtos oriundos da pecuária:
As principais exportações de Mato Grosso entre 1870 e 1930 podem ser agrupadas
em duas grandes classes: a dos produtos extrativos (ipecacuanha, borracha e erva-
mate, esta última envolvendo algum tipo de beneficiamento) e a de produtos da
pecuária ou derivados dela (gado em pé, couros, charque, caldo e extrato de carne).
É significativo o fato de que nenhum produto propriamente agrícola tivesse sido
importante na pauta de exportações: tratava-se, em última análise, de explorar
certas „vantagens absolutas‟ de Mato Grosso por meio da extração de produtos
nativos ou da utilização de vastíssimas pastagens naturais (Grifos do autor)16
.
A historiografia regional mato-grossense representada por vários autores, tradicionalmente,
reputaram ao denominado “isolamento” como uma das causas principais da estagnação econômica
vivida por Mato Grosso no primeiro qüinqüênio do séc. XIX. As teses do “isolamento” da
economia mato-grossense foram relativizadas em Borges17
, que se amparou em Alcir Lenharo para
a dedução:
[...] teses tipo isolamento devem ser desmistificadas, uma vez que visam a atribuir
„heroísmos‟ e „virtudes‟ ao grupo representante do poder local [...] A tese do
isolamento, na historiografia recente, foi criticada e abandonada seja porque tal
isolamento não ocorreu de forma absoluta, como pretendiam os autores
tradicionais, seja porque em tais interpretações havia mais „mitos‟ do que „fatos‟
(Grifos do autor).
15
BORGES, 2001, p. 22-23. 16
Idem, p. 50. 17
Idem, p. 22.
10
Figueiredo18
afirma que o Estado de Mato Grosso foi privilegiado por programas
desenvolvimentistas implantados nos anos de 1940 e 1950 e também pela denominada política
integracionista brasileira levada a termo nos anos de 1970. A criação de Brasília representa um
grande resultado dos primeiros programas implantados na região Centro-Oeste, e os investimentos
em redes de transportes, comunicação, estradas e hidrelétricas corresponderam às ações de políticas
integracionistas. Segundo os dados do IBGE, a população mato-grossense mais que triplicou no
período de 1940 a 1970, ou seja, de 430 mil habitantes cresceu para 1,6 milhão de habitantes.
O surgimento da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ligando São Paulo a Corumbá, na
fronteira com a Bolívia, representou uma perspectiva de um novo período desenvolvimentista para a
região, visto que, anteriormente, o principal meio de transporte utilizado era o fluvial. Isso veio
contribuir para o surgimento de cidades importantes como Campo Grande e Três Lagoas (atual
Mato Grosso do Sul)19
.
No entanto, para Borges20
, “Quanto à chegada da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ao sul
de Mato Grosso, os mais diversos tipos de impactos foram sentidos, uns mais propalados, outros
menos, fato que remete a uma grande discussão [...]”.
1.2 A divisão do Estado de Mato Grosso
O movimento pró-divisão remete ao final do séc. XIX e foi se fortalecendo no decorrer dos
anos, “[...] decorrentes de aspectos econômicos, sociais e políticos que marcaram o início do regime
republicano”21
.
Os partidários da criação de um novo Estado justificavam que, em função da grande
extensão territorial, das diferenças políticas e econômicas, geravam-se rivalidades entre as regiões
norte e sul de Mato Grosso. A então região sul alegava ser a mais dinâmica economicamente e
também a maior fonte de arrecadação tributária, enquanto a região norte ficava com a maior parte
dos recursos financeiros.
Finalmente, após diversas tentativas frustradas, em 11 de outubro de 1977, o então
Presidente Ernesto Geisel assinou a Lei Complementar nº. 31 que instituiu o Estado de Mato Grosso
18
FIGUEIREDO, 2003, p. 21. 19
Idem. 20
BORGES, Fernando Tadeu de Miranda. Esperando o trem – Sonhos e esperanças de Cuiabá. São Paulo: Scortecci,
2005, p. 341. 21
CAVALCANTE, Else; RODRIGUES, Maurim. Mato Grosso e sua história. Cuiabá: Edição dos autores. 1999,
p.127.
11
do Sul, pelo desmembramento da área de Mato Grosso, cuja capital passou a ser Campo Grande.
Estabeleceu-se, também à época, que Mato Grosso integraria a Amazônia Legal22
.
1.2.1 O Estado de Mato Grosso pós-divisão
Situado no Centro Geodésico da América do Sul e região Centro-Oeste do Brasil, o Estado
de Mato Grosso, mesmo após o desmembramento, ainda representa a terceira Unidade Federativa
em superfície, com uma área de 903.357,908 Km2, distribuídos em 141 municípios, sendo superado
apenas pelos Estados do Amazonas e Pará. A população estimada para 2005 é de cerca de
2.803.274 habitantes23
.
Após três décadas da divisão, Mato Grosso tem obtido um notável crescimento econômico,
sendo considerado a principal fronteira agrícola do país, em virtude da elevada expansão do setor
agropecuário.
A tabela 1 mostra que a população total do Estado, entre 1980 e 2004, cresceu em
aproximadamente 142%, sendo que houve no período uma elevação da proporção da população
urbana em relação à rural. Em 1980, a população urbana representava 58% do total e a rural, 42%.
Já em 2004, a população urbana passou a representar 77% e a rural, 23% apenas.
Tabela 1 - Mato Grosso: Evolução da população por situação de domicílio, 1980, 1991, 1996,
2000 e 2004 (habitantes)
Situação Ano
1980 1991 1996 2000 2004
Urbana 654.952 1.485.110 1.705.139 1.987.726 2.119.328
Rural 483.739 542.121 530.693 516.627 639.806
Total 1.138.691 2.027.231 2.235.832 2.504.353 2.759.134
Fonte: MATO GROSSO, Seplan24
.
22
BRASIL. Governo Federal. Lei Complementar nº. 31, de 11 de outubro de 1977. Planalto, Brasília, DF, 27 jun.
2007. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br >. Acesso em: jun. 2007. 23
IBGE, Estados. 15 ago. 2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/estadosat/ >. Acesso em: ago. 2007.
De acordo com Ignez Costa Barbosa Ferreira (1988 apud SILVA, 2003, p.184) “ ... o conceito de fronteira, neste
caso, refere-se ao processo de incorporação de novas áreas ao sistema produtivo... A fronteira agrícola capitalista se
expande em áreas do Cerrado, inclui a possibilidade de reestruturação do espaço agrário preexistente”. 24
MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Planejamento (SEPLAN). Mato Grosso em números, edição 2006.
Cuiabá. 2 jul. 2007. 74 p. Disponível em: < http://www.seplan.mt.gov.br >. Acesso em: jul. 2007.
12
Vale ressaltar que alguns fatores determinaram o acentuado crescimento populacional de
Mato Grosso nas últimas décadas:
A transferência da capital para Brasília; implementação de rodovias ligando a nova
cidade ao Centro-Sul e ao Norte, Programas governamentais voltados à ocupação
do cerrado. Mato Grosso apresentou a maior taxa de crescimento no último censo
2000, em relação aos demais estados do Centro-Oeste. Nos últimos 20 anos o
estado sofreu um acréscimo de 1.365.662 habitantes, tendo crescido a uma taxa
geométrica anual de 5,38% entre 1980/1991 e 2,87% entre 1996/200025
.
No que diz respeito à distribuição demográfica, nota-se o seguinte:
[...] há desertos demográficos ao norte, onde a densidade não passa de 1,8
habitantes por Km2
e áreas urbanas como Cuiabá (102 habitantes por Km2) e
Várzea Grande (180 habitantes por Km2). O maior crescimento populacional é
verificado em áreas de expansão recente da produção de grãos em escala
comercial, como Sorriso (9% ao ano) e Sinop (8,6% ao ano). As referidas cidades
representam pólos de atração populacional, os quais recebem um grande
contingente de migrantes vindos, sobretudo, da região Norte26
.
Se, por um lado, o elevado contingente populacional residente na zona urbana pode
representar alto índice de urbanização, por outro, isso pode provocar também um acirramento na
demanda por bens públicos que nem sempre serão atendidos de maneira satisfatória.
Pela tabela 1, observa-se, a partir dos anos 80, uma nítida tendência de redução da
população situada na zona rural e elevação da população localizada na zona urbana. Esse fato
pode ter sido ocasionado por diversos fatores, tais como atrativos (disponibilidade de serviços de
saúde, educação e infra-estrutura básica) e também por fatores expulsores (ineficiências
socioeconômicas).
Os municípios mato-grossenses com elevadas densidades populacionais são representados
por Cuiabá e Várzea Grande que detêm mais de 1/5 da população do Estado:
[...] os municípios de Cuiabá, a capital do Estado, e Várzea Grande representam um
conurbano de aproximadamente 26% da população mato-grossense. Outro
município que ultrapassa o total de cem mil habitantes (166.830) é Rondonópolis,
25
MATO GROSSO, Seplan, 2007. 26
MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Planejamento (SEPLAN). Cenários mundiais, nacionais e de Mato
Grosso. 2006. Versão revisada, Brasília, p. 23. Disponível em: < http://www.seplan.gov.br >. Acesso em: set. 2007.
13
vindo em seqüência Sinop e Cáceres, com respectivamente, 99.490 e 89.054
habitantes27
.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)28
, Mato Grosso superou
pela primeira vez o PIB de Mato Grosso do Sul medido a preços constantes em 1992, cujo valor foi
de R$ 8,12 bilhões, contra R$ 8,03 bilhões, sendo ultrapassado novamente nos anos de 1995 a 1998.
Voltou de novo a ultrapassar Mato Grosso do Sul a partir de 1999 e desde então sempre manteve
um PIB superior. Em 2004, o PIB de Mato Grosso a preços constantes atingiu a soma de R$ 18,9
bilhões contra R$ 13,5 bilhões de Mato Grosso do Sul.
Segundo os dados do IBGE29
, os valores adicionados na agropecuária, na indústria e nos
serviços para Mato Grosso em 2004 foram, respectivamente, de R$ 10,4 bi, R$ 4,8 bi e R$ 10,2 bi,
enquanto no Estado de Mato Grosso do Sul representaram R$ 5,7 bi, R$ 4,1 bi e R$ 8,4 bi,
respectivamente. A dinâmica da economia mato-grossense também pode ser evidenciada pela
arrecadação de impostos que representou R$ 3,15 bi em 2004, contra apenas R$ 2,2 bi em Mato
Grosso do Sul.
Pelos dados apontados, observa-se que a divisão do Estado para Mato Grosso foi benéfica
sob o ponto de vista econômico e financeiro, visto que vários indicadores econômicos indicam que
a economia mato-grossense cresceu mais que a sul mato-gressense.
A Figura 1 mostra a evolução da produção de grãos segundo os principais estados brasileiros
nas safras de 1976/77 a 2006/07. Identifica-se que Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás
e Mato Grosso do Sul representam as maiores fronteiras agrícolas do Brasil.
A partir dos anos 90, os estados sulinos começam a perder espaço na produção nacional,
talvez em função da escassez de terras e perda de produtividade.
Nesse contexto surge o Estado de Mato Grosso que através da elevada produção e
produtividade agrícola, passa a exercer a liderança nacional em vários produtos agrícolas e,
finalmente, na safra de 2004/05 supera o Paraná em 2,25 milhões de toneladas de grãos. Apesar de a
CONAB prever e estimar, respectivamente, para 2005/06 e 2006/07, safras superiores do Paraná e
do Rio Grande do Sul, comparativamente à de Mato Grosso.
27
MATO GROSSO. Seplan, 2007 p. 37. 28
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). 30 set. 2007. Disponível em:
< http://www.ipea.gov.br >. Acesso em: set. 2007. 29
IBGE, 12 set. 2007.
14
Figura 1 – Evolução da produção de grãos segundo os principais estados do Brasil nas safras de 1976/77 a
2006/07
0,0
5.000,0
10.000,0
15.000,0
20.000,0
25.000,0
30.000,0
35.000,019
76/ 7
7
1977
/ 78
1978
/ 79
1979
/ 80
1980
/ 81
1981
/ 82
1982
/ 83
1983
/ 84
1984
/ 85
1985
/ 86
1986
/ 87
1987
/ 88
1988
/ 89
1989
/ 90
1990
/ 91
1991
/ 92
1992
/ 93
1993
/ 94
1994
/ 95
1995
/ 96
1996
/ 97
1997
/ 98
1998
/ 99
1999
/ 200
0
2000
/ 01
2001
/ 02
2002
/ 03
2003
/ 04
2004
/ 05
2005
/ 06*
2006
/ 07*
*
(mil
ton
elad
a)
Mato Grosso Paraná Rio Grande do Sul Goiás Mato Grosso do Sul
Fonte: CONAB30
.
Nota: (*) Dados preliminares: sujeito a mudanças; (**) Dados estimados: sujeito a mudanças
Há mais de duas décadas a produção de grãos mato-grossense supera a do Mato Grosso do
sul. Observa-se ao longo do período das safras de 1976/77 a 2006/07 uma acentuada estagnação
agrícola sul mato-grossense (Figura 1). O Estado de Mato Grosso recebeu um relevante fluxo
populacional nas décadas de 80 e 90, provenientes de várias regiões do Brasil, principalmente do
Sul. Segundo a Seplan – MT, “O estado de Mato Grosso, por possuir cerca de 39% de seu território
em área de Cerrados, contribui fortemente para colocar-se como uma das mais importantes áreas de
fronteiras agrícolas do país”31
.
Desde os anos 70, o Estado de Mato Grosso vem passando por diversas transformações na
estrutura produtiva de sua economia, ênfase no setor agropecuário, onde a tradicional agricultura de
subsistência está caminhando celeremente rumo à modernização:
A agricultura mato-grossense já se se consolidou como o setor mais importante da
economia estadual, dado o seu papel motriz em relação às demais atividades
econômicas, e está inserida no contexto da moderna agricultura nacional. A partir
da década de 90 acontece a consolidação da agricultura empresarial em grande
escala como modelo padrão para o Centro-Oeste e para Mato Grosso, em
particular. Os resultados favoráveis da produção agrícola do estado fizeram com
30
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). 18 set. 2007. Disponível em:
< http://www.conab.gov.br >. Acesso em: set. 2007. 31
MATO GROSSO. Seplan, 2 jul. 2007, p. 37.
15
que a sua participação no PIB nacional se elevasse de 2,45% em 1998 para 4,9%
em 200332.
O próximo item aborda uma significativa atividade econômica desempenhada na atualidade
por Mato Grosso: a agricultura, que vem aumentando bastante sua participação na pauta de
exportações.
1.3 Características agrícolas do Estado de Mato Grosso
A atividade rural em Mato Grosso iniciou-se na década de trinta do Séc. XVIII,
subseqüentemente ao “declínio da mineração”. Surgiram nesse contexto, no período colonial, duas
atividades econômicas: o cultivo da cana-de-açúcar e a pecuária. Contudo nenhuma dessas
atividades econômicas adquiriu status de produto para exportação, visto que as atividades
produtivas foram influenciadas negativamente pela itinerância da mão-de-obra em busca de novas
lavras de ouro33
.
Mormente a importância e crescimento da pecuária do Estado, observa-se que ela, ao longo
do tempo, cedeu espaço para a agricultura comercial.
Nesse contexto, ressalta-se que houve transformações significativas na estrutura produtiva
de Mato Grosso a partir do final da primeira metade do séc. XX e também que tais transformações
não se fizeram de forma homogênea no âmbito de seu território, conforme relatado por Pereira34
:
As mudanças ocorridas na economia mato-grossense nos anos 50 e 60, em relação
aos anos 40, foram muito mais de natureza quantitativa que qualitativa, visto que,
nesse período, houve aumento significativo do número de estabelecimentos
agropecuários no Estado. De acordo com o IBGE, esse número mudou de 5.068
para 46.090, de 1950 para 1970. As pequenas propriedades responderam pela
maior parte desta elevação, dado que, ao longo desses decênios, o número de
estabelecimentos com menos de 100 ha, cresceu de 2.067 para 37.948. Em
particular, na porção Norte, durante essas duas décadas, houve significativo
incremento da produção de bens alimentícios básicos, como arroz, feijão, milho e
pecuária. A produção de arroz, cultivada com tecnologias rudimentares, liderou
essa expansão. A bovinocultura continuou sendo realizada de maneira extensiva. A
porção Sul, por seu turno, nesse mesmo período, antecipou-se na inovação
tecnológica, adotando, em especial, tecnologias mais modernas na pecuária, além
de ter introduzido, nos anos 60, a produção de soja. O cultivo dessa oleaginosa
32
MATO GROSSO. Seplan, 2 jul. 2007, p. 37. 33
PEREIRA, Benedito Dias. Industrialização da agricultura de Mato Grosso. Cuiabá, MT: EdUFMT, 1995, p. 63. 34
PEREIRA, Benedito Dias. Mato Grosso. Principais eixos viários e a modernização da agricultura. Cuiabá, MT:
EdUFMT, 2007, p. 18-19.
16
contribuiu acentuadamente para a modernização do campo sul mato-grossense,
dado que ela foi realizada com base em tecnologias intensivas em capital.
O autor ainda defende que a agropecuária de Mato Grosso passou a cumprir duas funções
bem-definidas no contexto brasileiro:
À economia agropecuária do Estado foi reservada a função extremamente nítida no
cenário nacional: a produção de excedentes destinados ao consumo alimentar
interno (porção Norte) e à exportação (mais acentuadamente na porção Sul). Por
outro lado, o Plano de Metas consolidou a economia paulista como epicentro da
economia nacional e definiu como complementar a função das demais economias
subnacionais, em especial, a da economia mato-grossense35
.
Já no início do séc. XXI, o dualismo da agricultura mato-grossense pode ser verificado pela
sua expansão acentuada no último triênio.
Segundo os dados da CONAB, a produção de 1,31 milhão de toneladas de grãos na safra de
1977/78 elevou-se para 24,73 milhões de toneladas na safra de 2004/05, cujo crescimento foi de
1.786%, conferindo ao Estado não só o primeiro lugar no ranking nacional da agricultura, mas
também ensejando a condição de principal fronteira agrícola do Brasil. Apesar de a CONAB36
prever e estimar safras superiores às do Paraná em relação às de Mato Grosso para,
respectivamente, 2005/06 e 2006/07, nota-se que, a prevalecerem as elevadas taxas de crescimento
da produção e produtividade agrícolas mato-grossenses, aliadas à exploração natural da vantagem
comparativa (abundância de terras), provavelmente o Estado continuará sendo o principal produtor
de grãos do Brasil.
O potencial agrícola de Mato Grosso pode ser verificado pela sua posição ocupada no
ranking agrícola nacional na safra de 2004/2005: primeiro lugar na produção de algodão (45,90%),
girassol (36,56%) e soja (34,70%); segundo na produção de arroz (17,15%); quarto na produção de
sorgo (12,64%) e milho (9,92%); e sétimo lugar na produção de cana-de-açúcar (2,98%), de acordo
com a Figura 2 a seguir.
Na atualidade, as principais culturas de Mato Grosso são representadas pelos seguintes
produtos: soja, algodão, milho, arroz e cana-de-açúcar. Na safra de 1978/79, de acordo com a tabela
2, os referidos produtos ocupavam 852.100 hectares das áreas de lavouras do Estado, já na safra de
35
PEREIRA, 2007, p.19. 36
CONAB, 23 out. 2007.
17
2004/2005, passaram a ocupar 8.598.300 hectares, o que significa dizer que de 94,52% na safra de
1978/79, deslocou-se para 98,04% na safra de 2004/2005.
Figura 2 - Mato Grosso no Ranking Agrícola Nacional, 2005
1º
4º
1º
4º
1º
1º
2º
7º
Algodão (45,90%)
Girassol (36,56%)
Soja (34,70%)
Safra de grãos* (21,56%)
Arroz (17,15%)
Milho (9,92%)
Sorgo (12,64%)
Cana-de-açúcar (2,98%)
Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados do IBGE37
.
Nota: (*) CONAB, 2007.
As tabelas 3 e 4 demonstram dois momentos distintos em termos de participação de lavouras
em áreas cultivadas e produção. Inicialmente, no período que compreenderam as safras de 1977/78
a 1983/84, houve um predomínio do arroz nas áreas cultivadas, com 65,31%, em média, ou 796.900
hectares, cuja produção atingiu, também em média, 952.257 toneladas.
Num segundo momento, surge a cultura da soja que, a partir da safra de 1984/85, passa a
liderar o ranking mato-grossense de grãos, com uma produção de 1.653.600 toneladas cultivadas em
795.000 hectares, representando 51% da produção total de grãos naquela safra, de acordo com as
tabelas 3 a 5.
A tabela 2 mostra as áreas cultivadas das principais culturas mato-grossenses, nas safras de
1977/78 a 2006/07. Nota-se que além do crescimento em área plantada da sojicultura, o cultivo do
algodão aumentou expressivamente de 5, 2 mil hectares cultivados na safra de 1978/79, para 203,3
mil hectares na safra de 1998/99 e 451,6 mil hectares na safra de 2004/05, com estimativa de chegar
a 549 mil hectares na safra de 2006/07.
37
IBGE. Produção agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 28 jul. 2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em: jul. 2007.
18
Tabela 2 - Áreas Cultivadas das principais culturas em Mato Grosso, nas safras de 1977/78 a
2006/07 (ha mil)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar Outras Total
1977/ 78 6,0 ................ 780,0 179,0 9,6 121,7 1.096,3
1978/ 79 19,0 5,2 741,1 76,0 10,8 49,4 901,5
1979/ 80 70,0 4,4 898,3 86,0 8,5 87,9 1.155,1
1980/ 81 128,0 6,6 884,0 110,0 8,7 96,5 1.233,8
1981/ 82 195,0 4,9 778,0 158,0 12,0 99,3 1.247,2
1982/ 83 317,0 4,0 700,0 197,5 15,9 117,6 1.352,0
1983/ 84 467,0 7,0 539,0 217,3 22,5 86,4 1.339,2
1984/ 85 795,0 15,0 404,0 236,0 30,0 110,6 1.590,6
1985/ 86 909,5 16,5 600,0 275,0 36,2 114,5 1.951,7
1986/ 87 1.100,0 14,0 732,0 310,0 41,5 111,5 2.309,0
1987/ 88 1.375,0 30,0 746,6 353,4 43,6 124,0 2.672,6
1988/ 89 1.708,2 43,4 612,2 352,0 49,7 114,2 2.879,7
1989/ 90 1.503,0 43,0 376,0 320,0 50,6 415,3 2.707,9
1990/ 91 1.100,0 71,0 320,0 290,0 59,5 117,9 1.958,4
1991/ 92 1.452,0 57,0 555,0 305,0 63,1 55,6 2.487,7
1992/ 93 1.713,4 60,0 505,1 363,4 73,1 48,3 2.763,3
1993/ 94 1.996,0 72,6 505,0 449,7 74,6 58,1 3.156,0
1994/ 95 2.295,4 72,6 400,0 455,0 98,9 55,2 3.377,1
1995/ 96 1.905,2 58,1 432,0 562,1 118,5 63,7 3.139,6
1996/ 97 2.095,7 55,2 337,0 631,7 133,9 81,3 3.334,8
1997/ 98 2.600,0 109,9 428,0 528,4 136,4 83,4 3.886,1
1998/ 99 2.548,0 203,3 730,0 553,9 147,8 88,3 4.271,3
1999/ 2000 2.904,7 268,4 675,3 557,5 135,0 33,7 4.574,6
2000/ 01 3.120,0 392,0 459,2 542,9 166,5 142,0 4.822,6
2001/ 02 3.853,2 312,8 440,3 738,6 176,7 106,7 5.628,3
2002/ 03 4.419,6 300,3 444,7 879,3 196,6 181,5 6.422,0
2003/ 04 5.240,5 438,4 675,6 970,9 206,8 213,0 7.745,2
2004/ 05 6.105,2 451,6 776,9 1.058,7 205,9 171,8 8.770,1
2005/ 06* 6.196,8 366,0 287,5 1.046,8 205,4 169,6 8.272,1
2006/ 07** 5.124,8 549,0 280,3 1.518,0 209,7 144,0 7.825,8
Fonte: CONAB38
; IBGE39
.
Nota: (*) Dados preliminares: sujeito a mudanças, (**) Dados estimados: sujeito a mudanças.
38
CONAB, 18 set. 2007. 39
IBGE, 5 ago. 2007.
19
Segundo Marta e Figueiredo40
, o cultivo de arroz na década de 70 tinha funções bem-
definidas para o Cerrado de Mato Grosso, sendo a principal delas a de “amansar a terra”:
A produção de arroz, durante os anos setenta, a cultura mais praticada, como parte
do processo de abertura de fronteiras agrícolas. [...] No final dos anos 70 e início
dos 80, havia uma crise instalada na atividade da abertura da fronteira agrícola. O
arroz havia assumido então como cultura hegemônica e quase exclusiva como
atividade comercial em Mato Grosso. Era entendida, pelo Governo Federal, como
cultura de abertura de fronteira agrícola e amansadora de terra, tendo assim
incentivos compatíveis com esse tratamento. Ou seja, recebia a garantia de preços
para proceder a esse processo. [...] O Governo realizava a aquisição do produto por
preços mínimos, através da AGF e EGFs. O preço praticado era baixo e suficiente
para remunerar apenas os custos, permitindo o pagamento dos insumos necessários
à abertura de áreas e sua manutenção. A crise, na realidade, ocorria em função do
contínuo plantio da gramínea, cuja produtividade apresentava-se decrescente,
considerando-se os diversos anos de plantio e produção do arroz.
Em termos de participação nas áreas cultivadas no Estado, considerando-se a safra de
2004/2005, a produção de soja ocupa o primeiro lugar com 69,61%, seguida pelas lavouras de
milho, arroz, algodão, cana-de-açúcar, cujas participações foram de, respectivamente 12,07%,
8,86%, 5,15% e 2,35%. Fica evidente que a sojicultura é de longe a principal lavoura do Estado,
com tendência de continuar nesta posição, conforme demonstra a tabela 3.
Depois de três décadas da divisão do Estado, Mato Grosso, que ficou com a região menos
rica, tem apresentado uma notável inclinação para o setor agrícola que representa a sua principal
força econômica.
A tabela 3 demonstra que a cultura do arroz perdeu gradativamente a participação na área
cultivada ao longo das três últimas décadas, pois de 82,1% de participação em lavouras cultivas na
safra de 1978/79, reduziu para 6,92% na safra de 2002/03, com previsão de queda para 3,48% e
estimativa de 3,58% na safra de 2005/06. Já a área cultivada com soja manteve uma trajetória de
elevação, de 0,55% na safra de 1977/78, subiu para 10,37% três safras depois, atingindo mais da
metade da área plantada na safra de 1987/88 com 51,45%, desde então, consolida-se em termos de
área plantada com soja.
Em se tratando da área plantada com milho, observa-se que ela manteve-se relativamente
equilibrada, cuja média ficou em torno de 12,35% no período das safras de 1977/78 a 2006/07, o
mesmo ocorrendo com outras culturas, cuja participação média não ultrapassou 4,53%, de acordo
com a tabela 3. 40
MARTA; FIGUEIREDO, 2007, p. 9.
20
Tabela 3 - Mato Grosso: Participação das principais culturas por áreas cultivadas, nas safras
de 1977/78 a 2006/07 (%)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar Outras Total
1977/ 78 0,55 .............. 71,15 16,33 0,88 11,10 100,00
1978/ 79 2,11 0,58 82,21 8,43 1,20 5,48 100,00
1979/ 80 6,06 0,38 77,77 7,45 0,74 7,61 100,00
1980/ 81 10,37 0,53 71,65 8,92 0,71 7,82 100,00
1981/ 82 15,64 0,39 62,38 12,67 0,96 7,96 100,00
1982/ 83 23,45 0,30 51,78 14,61 1,18 8,70 100,00
1983/ 84 34,87 0,52 40,25 16,23 1,68 6,45 100,00
1984/ 85 49,98 0,94 25,40 14,84 1,89 6,95 100,00
1985/ 86 46,60 0,85 30,74 14,09 1,85 5,87 100,00
1986/ 87 47,64 0,61 31,70 13,43 1,80 4,83 100,00
1987/ 88 51,45 1,12 27,94 13,22 1,63 4,64 100,00
1988/ 89 59,32 1,51 21,26 12,22 1,73 3,97 100,00
1989/ 90 55,50 1,59 13,89 11,82 1,87 15,34 100,00
1990/ 91 56,17 3,63 16,34 14,81 3,04 6,02 100,00
1991/ 92 58,37 2,29 22,31 12,26 2,54 2,23 100,00
1992/ 93 62,01 2,17 18,28 13,15 2,65 1,75 100,00
1993/ 94 63,24 2,30 16,00 14,25 2,36 1,84 100,00
1994/ 95 67,97 2,15 11,84 13,47 2,93 1,63 100,00
1995/ 96 60,68 1,85 13,76 17,90 3,77 2,03 100,00
1996/ 97 62,84 1,66 10,11 18,94 4,02 2,44 100,00
1997/ 98 66,91 2,83 11,01 13,60 3,51 2,15 100,00
1998/ 99 59,65 4,76 17,09 12,97 3,46 2,07 100,00
1999/ 00 63,50 5,87 14,76 12,19 2,95 0,74 100,00
2000/ 01 64,70 8,13 9,52 11,26 3,45 2,94 100,00
2001/ 02 68,46 5,56 7,82 13,12 3,14 1,90 100,00
2002/ 03 68,82 4,68 6,92 13,69 3,06 2,83 100,00
2003/ 04 67,66 5,66 8,72 12,54 2,67 2,75 100,00
2004/ 05 69,61 5,15 8,86 12,07 2,35 1,96 100,00
2005/ 06* 74,91 4,42 3,48 12,65 2,48 2,05 100,00
2006/ 07** 65,49 7,02 3,58 19,40 2,68 1,84 100,00
Fonte: CONAB41
.
Nota: (*) Dados preliminares: sujeito a mudanças,
(**) Dados estimados: sujeito a mudanças.
41
CONAB, 18 set. 2007.
21
No que diz respeito à produção de milho em Mato Grosso, observa-se que a partir da década
de 90 ela vem cumprindo funções bem-definidas no contexto da economia mato-grossense,
notadamente na expansão da agroindústria regional, redução do desgaste do solo, geração de
divisas das exportações e também exercendo efeito de complementação de renda com a rotação
sazonal de cultura/safrinha.
Com relação às participações das principais culturas na produção (tabela 5), o milho ocupa,
atualmente, o 3º lugar com 9,15% (safra 2004/05). Constata-se que a produção de milho tem se
mantido estável ao longo das últimas décadas, com relativo crescimento na área cultivada, mas
ainda detém baixa produtividade comparada à do Rio Grande do Sul que é de 5.000 Kg/ha.
Segundo os dados do IBGE42
, o ranking nacional da produção de milho, safra de 2004/05,
apresentou o Estado de Mato Grosso na 4ª posição com 9,92% (3,48 milhões de t), atrás dos
Estados do Paraná (24,41%), Minas Gerais (17,78%), São Paulo (11,66%), que ocuparam,
respectivamente, do 1º. ao 3º. lugares.
Segundo os dados do IBGE43
, a mesorregião Norte mato-grossense foi aquela que
apresentou a maior área plantada de milho na safra de 2005, seguida pelas mesorregiões Sudeste e
Nordeste mato-grossenses, com respectivamente 778,38 mil e 186,71 mil hectares. Em nível
municipal, os líderes em áreas plantadas foram os seguintes: Lucas do Rio Verde, Sapezal, Nova
Mutum e Sorriso, com respectivamente 146,24 mil, 75,4 mil, 70,2 mil e 60,5 mil hectares. Já o
produto algodão herbáceo (em caroço), considerando-se a safra de 2005, teve nos municípios de
Campo Verde, Sapezal, Diamantino, Primavera do Leste e Pedra Preta as maiores áreas plantadas,
com respectivamente 62,58 mil, 53,47 mil, 40,66 mil, 40,10 mil e 30,32 mil hectares.
Pela tabela 3, nota-se também que a participação de outras culturas em áreas cultivadas foi
bastante reduzida, sendo que a área média cultivada não chegou a 5% no referido período.
Pela tabela 4 e a figura 3, identifica-se um predomínio da cultura da soja no Estado,
considerando-se a quantidade produzida, apesar de ter sido superada pela cultura da cana-de-açúcar
em determinadas safras.
A rizicultura liderou a produção agrícola mato-grossense no intervalo das safras de 1978/79
a 1982/83 com, aproximadamente, 51% da produção, apesar de apresentar baixa produtividade
média, 1.258 Kg/ha. Já na safra seguinte (1983/84), perde a liderança para a cana-de-açúcar com
39,16% ou 1.275.600 toneladas de produção, de acordo com as tabelas 4 a 6.
42
IBGE, 5 ago. 2007. 43
Idem.
22
Tabela 4 - Mato Grosso: Produção das principais culturas, nas safras de 1977/78 a 2005/06
(em mil toneladas)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar Outras Total
1977/ 1978 8,0 ....... 976,5 250,0 436,4 76,5 1.747,4
1978/ 79 26,0 3,4 975,5 118,0 467,1 41,7 1.631,7
1979/ 80 116,9 4,0 1.174,2 143,0 420,1 34,3 1.892,5
1980/ 81 230,0 4,0 1.065,0 185,0 358,6 38,1 1.880,7
1981/ 82 360,7 5,1 950,8 278,0 566,2 46,2 2.207,0
1982/ 83 606,0 4,2 875,0 348,0 868,9 23,5 2.725,6
1983/ 84 934,0 9,8 646,8 359,0 1.275,6 32,3 3.257,5
1984/ 85 1.653,6 21,0 525,2 401,0 1.740,1 40,8 4.381,7
1985/ 86 1.910,0 18,0 750,0 523,0 2.157,7 58,3 5.417,0
1986/ 87 2.387,0 11,2 951,6 698,0 2.549,3 75,6 6.672,7
1987/ 88 2.750,0 39,0 895,9 756,0 2.406,6 76,2 6.923,7
1988/ 89 3.689,7 56,4 881,6 827,0 2.832,7 37,6 8.325,0
1989/ 1990 3.064,7 57,6 420,7 618,9 3.036,6 41,2 7.239,7
1990/ 91 2.738,4 73,4 465,8 669,6 3.110,8 88,7 7.146,7
1991/ 92 3.642,7 67,8 850,7 763,9 3.670,0 45,9 9.041,0
1992/ 93 4.118,7 85,6 587,5 908,1 4.284,3 29,4 10.013,6
1993/ 94 5.319,7 91,8 812,4 1.163,5 5.229,6 63,4 12.680,4
1994/ 95 5.491,4 87,4 762,3 1.226,1 6.944,9 56,4 14.568,5
1995/ 96 5.032,9 73,5 721,7 1.514,6 8.462,4 99,1 15.904,2
1996/ 97 6.060,8 78,3 694,9 1.520,6 9.988,0 130,0 18.472,6
1997/ 98 7.228,0 271,0 776,5 948,6 9.871,4 79,9 19.175,4
1998/ 99 7.473,0 630,4 1.727,3 1.118,8 10.288,5 95,4 21.333,4
1999/ 2000 8.774,4 1.002,8 1.851,5 1.429,6 8.470,0 182,4 21.710,7
2000/ 01 9.533,2 1.525,3 1.151,8 1.743,0 11.117,8 226,0 25.297,1
2001/ 02 11.684,8 1.141,2 1.181,3 2.311,3 12.640,6 178,8 29.138,0
2002/ 03 12.965,9 1.065,7 1.253,3 3.192,8 14.667,0 359,2 33.503,9
2003/ 04 14.517,9 1.884,3 2.177,1 3.408,9 14.290,8 436,5 36.715,5
2004/ 05 17.761,4 1.682,8 2.262,8 3.483,2 12.595,9 280,9 38.067,0
2005/ 06* 15.594,2 1.437,9 720,8 4.228,4 13.460,2 329,2 35.770,7
Fonte: CONAB44
, IBGE45
.
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a mudanças.
(1) As safras de 1989/90 a 2005/06 foram fornecidas pelo IBGE, 2007.
44
CONAB, 18 set. 2007. 45
IBGE, 15 out. 2007.
23
O líder nacional do ranking de cana-de-açúcar é São Paulo, pois na safra de 2004/05
produziu 254,8 milhões de toneladas (60%), e o Estado de Mato Grosso ocupou a 7ª. posição com
apenas 2,98% (12,6 milhões de toneladas) de acordo com a tabela 4.
Em termos de quantidade produzida, a cana-de-açúcar liderou por várias safras a produção
agrícola mato-grossense (figura 3), mas, atualmente, a produção é liderada pela soja que, na safra de
2004/05, produziu 17.761.400 toneladas.
A rizicultura mato-grossense, apesar de ter reduzida a área plantada ao longo dos anos e pela
baixa produtividade, comparativamente à do Rio Grande do Sul, ainda mantém uma produção
significativa, pois, na safra de 2004/05, ocupou o 2º. lugar no ranking nacional em quantidade
produzida de arroz, com 17,15% ou 2,2 milhões de toneladas, ficando atrás apenas daquele Estado
com 46% ou 6,1 milhões de toneladas.
Figura 3 – Mato Grosso: Evolução da produção, segundo as principais culturas, nas safras de 1977/78 a
2005/06
0,0
2.000,0
4.000,0
6.000,0
8.000,0
10.000,0
12.000,0
14.000,0
16.000,0
18.000,0
20.000,0
1977
/ 197
8
1978
/ 79
1979
/ 80
1980
/ 81
1981
/ 82
1982
/ 83
1983
/ 84
1984
/ 85
1985
/ 86
1986
/ 87
1987
/ 88
1988
/ 89
1989
/ 199
0
1990
/ 91
1991
/ 92
1992
/ 93
1993
/ 94
1994
/ 95
1995
/ 96
1996
/ 97
1997
/ 98
1998
/ 99
1999
/ 200
0
2000
/ 01
2001
/ 02
2002
/ 03
2003
/ 04
2004
/ 05
2005
/ 06*
(em
mil
ton
elad
as)
Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-açúcar Outras
Fonte: CONAB46
; IBGE47
.
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a mudanças.
A tabela 5 mostra que houve um incremento na participação da produção das denominadas
commodities agrícolas, com destaque para a soja e o algodão, que em grande parte são destinados às
exportações. A participação de outras culturas na produção agrícola de Mato Grosso no período de
1977/78 a 2005/06 foi insignificante, pois teve uma baixíssima participação média.
46
CONAB. Séries históricas das safras. Central de informações agropecuárias. 15 out. 2007. Disponível em:
< http://www.conab.gov.br >. Acesso em: out. 2007. 47
IBGE. 3 nov. 2007.
24
Tabela 5 - Mato Grosso: Participação das principais culturas na produção, nas safras de 1977/78 a
2005/06 (%)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar Outras Total
1977/ 78 0,46 ............... 55,88 14,31 24,97 4,38 100,00
1978/ 79 1,59 0,21 59,78 7,23 28,63 2,56 100,00
1979/ 80 6,18 0,21 62,04 7,56 22,20 1,81 100,00
1980/ 81 12,23 0,21 56,63 9,84 19,07 2,03 100,00
1981/ 82 16,34 0,23 43,08 12,60 25,65 2,09 100,00
1982/ 83 22,23 0,15 32,10 12,77 31,88 0,86 100,00
1983/ 84 28,67 0,30 19,86 11,02 39,16 0,99 100,00
1984/ 85 37,74 0,48 11,99 9,15 39,71 0,93 100,00
1985/ 86 35,26 0,33 13,85 9,65 39,83 1,08 100,00
1986/ 87 35,77 0,17 14,26 10,46 38,20 1,13 100,00
1987/ 88 39,72 0,56 12,94 10,92 34,76 1,10 100,00
1988/ 89 44,32 0,68 10,59 9,93 34,03 0,45 100,00
1989/ 90 42,33 0,80 5,81 8,55 41,94 0,57 100,00
1990/ 91 38,32 1,03 6,52 9,37 43,53 1,24 100,00
1991/ 92 40,29 0,75 9,41 8,45 40,59 0,51 100,00
1992/ 93 41,13 0,85 5,87 9,07 42,78 0,29 100,00
1993/ 94 41,95 0,72 6,41 9,18 41,24 0,50 100,00
1994/ 95 37,69 0,60 5,23 8,42 47,67 0,39 100,00
1995/ 96 31,65 0,46 4,54 9,52 53,21 0,62 100,00
1996/ 97 32,81 0,42 3,76 8,23 54,07 0,70 100,00
1997/ 98 37,69 1,41 4,05 4,95 51,48 0,42 100,00
1998/ 99 35,03 2,95 8,10 5,24 48,23 0,45 100,00
1999/ 2000 40,42 4,62 8,53 6,58 39,01 0,84 100,00
2000/ 01 37,68 6,03 4,55 6,89 43,95 0,89 100,00
2001/ 02 40,10 3,92 4,05 7,93 43,38 0,61 100,00
2002/ 03 38,70 3,18 3,74 9,53 43,78 1,07 100,00
2003/ 04 39,54 5,13 5,93 9,28 38,92 1,19 100,00
2004/ 05 46,66 4,42 5,94 9,15 33,09 0,74 100,00
2005/ 06* 43,59 4,02 2,02 11,82 37,63 0,92 100,00
Fonte: CONAB48
, IBGE49
.
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a mudanças.
48
CONAB, 18 set. 2007. 49
IBGE, 15 out. 2007.
25
De acordo com os dados consolidados da CONAB50
, a maior produção de algodão mato-
grossense ocorreu na safra de 2003/04 com, aproximadamente, 1.884.300 toneladas, numa área
cultivada total de 438.400 ha, cujo rendimento médio alcançado foi de 4.298,1 Kg/ha, conforme
demonstrado na tabela 5. Vale ressaltar que foi a partir da segunda metade dos anos 90 que a
produtividade nas lavouras mato-grossenses teve incrementos significativos, graças, em parte, ao
uso intensivo de modernas tecnologias e capital.
Diniz51
destaca o papel do governo no incentivo à modernização da agropecuária no
“Cerrado brasileiro”:
Além de uma política de financiamento agrícola, a atuação do governo
incentivando a busca de novas tecnologias e a criação de novas técnicas de manejo
do solo e dos recursos naturais foi fundamental para o sucesso da ocupação
agrícola do cerrado. A adaptação tecnológica para a agricultura do cerrado permitiu
a ocupação crescente de vastas áreas agrícolas, em terras planas e de baixo custo,
facilitando a expansão pecuária e agrícola do Cerrado brasileiro. O projeto de
expansão da produção agropecuária brasileira seria uma das maiores prioridades do
governo militar instalado a partir de 1964. No „Programa Estratégico de
Desenvolvimento: 1968-1970‟ que mais tarde daria subsídio ao I Plano Nacional
de Desenvolvimento (1972-1974), um dos objetivos básicos contemplava
exatamente a questão agrícola: „[...] a elevação da produção e da produtividade
agrícola pela transformação da agricultura tradicional, mediante a mudança de
métodos e a utilização de insumos modernos‟ (Grifos do autor).
A tabela 6 mostra a produtividade segundo as principais culturas de Mato Grosso nas safras
de 1977/78 a 2005/06. Constata-se que entre as lavouras de grãos, a soja obteve a maior
produtividade média, seguida pelas culturas de milho, algodão e arroz com, respectivamente,
2.353,8 Kg/ha, 2.306,8 Kg/ha, 1.855,8 Kg/ha e 1.743,8 Kg/ha. A cana-de-açúcar obteve um
rendimento médio de 60.443,4 Kg/ha. Nota-se também que as maiores produtividades da soja
ocorreram nas safras de 2000/01, 2001/02, 1999/2000 com, respectivamente, 3.055,5 kg/ha, 3.032,5
kg/ha e 3.020,8 kg/ha.
Pode ser percebido, ainda pela tabela 6, que o rendimento na produção de soja teve uma
tendência de crescimento no período considerado, exceto em algumas safras que tiveram sensíveis
quedas na produtividade. Segundo a literatura, as reduções na produtividade podem ter diversas
causas: variações climáticas, excesso ou falta de chuva e também pela própria decisão do agricultor
em diminuir a área de plantio em função da escassez de insumos. 50
CONAB, 15 out. 2007. 51
DINIZ, Bernardo Palhares Campolina. O grande cerrado do Brasil Central: geopolítica e economia. 2006. 231 f.
Tese (Doutorado em Geografia) – Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006.
26
Tabela 6 - Mato Grosso: Produtividade segundo as principais culturas, nas safras de 1977/1978 a
2005/2006 (Kg/ha)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar
1977/ 78 1.333,3 ................... 1.251,9 1.396,6 45.458,3
1978/ 79 1.368,4 653,8 1.316,3 1.552,6 43.250,0
1979/ 80 1.670,0 909,1 1.307,1 1.662,8 49.423,5
1980/ 81 1.796,9 606,1 1.204,8 1.681,8 41.218,4
1981/ 82 1.849,7 1.040,8 1.222,1 1.759,5 47.183,3
1982/ 83 1.911,7 1.050,0 1.250,0 1.762,0 54.647,8
1983/ 84 2.000,0 1.400,0 1.200,0 1.652,1 56.693,3
1984/ 85 2.080,0 1.400,0 1.300,0 1.699,2 58.003,3
1985/ 86 2.100,1 1.090,9 1.250,0 1.901,8 59.605,0
1986/ 87 2.170,0 800,0 1.300,0 2.251,6 61.428,9
1987/ 88 2.000,0 1.300,0 1.200,0 2.139,2 55.197,2
1988/ 89 2.160,0 1.299,5 1.440,1 2.349,4 56.996,0
1989/ 90 2.039,1 1.339,5 1.118,9 1.934,1 60.011,9
1990/ 91 2.489,5 1.033,8 1.455,6 2.309,0 52.282,4
1991/ 92 2.508,7 1.189,5 1.532,8 2.504,6 58.161,6
1992/ 93 2.403,8 1.426,7 1.163,1 2.498,9 58.608,8
1993/ 94 2.665,2 1.264,5 1.608,7 2.587,3 70.101,9
1994/ 95 2.392,3 1.203,9 1.905,8 2.694,7 70.221,4
1995/ 96 2.641,7 1.265,1 1.670,6 2.694,5 71.412,7
1996/ 97 2.892,0 1.418,5 2.062,0 2.407,2 74.593,0
1997/ 98 2.780,0 2.465,9 1.814,3 1.795,2 72.371,0
1998/ 99 2.932,9 3.100,8 2.366,2 2.019,9 69.611,0
1999/ 2000 3.020,8 3.736,2 2.741,7 2.564,3 62.740,7
2000/ 01 3.055,5 3.891,1 2.508,3 3.210,5 66.773,6
2001/ 02 3.032,5 3.648,3 2.682,9 3.129,3 71.537,1
2002/ 03 2.933,7 3.548,8 2.818,3 3.631,1 74.603,3
2003/ 04 2.770,3 4.298,1 3.222,5 3.511,1 69.104,4
2004/ 05 2.909,2 3.726,3 2.912,6 3.290,1 61.174,8
2005/ 06* 2.516,5 3.928,7 2.507,1 4.039,4 65.531,6
Fonte: CONAB52
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a mudanças.
(...) dado não disponível.
52
CONAB, 15 out. 2007.
27
Mendes e Padilha Junior53
atribuem ao fenômeno da “globalização econômica” e à “abertura
comercial” o aumento da eficiência e “competitividade” na agricultura brasileira:
Entre as décadas de 1960 e 1970, a produtividade média aumentou 6%; entre as
décadas de 1970 e 1980, 19%; entre as décadas de 1980 e 1990, 10% e, nos últimos
dez anos, aumentou 11%. Não há a menor dúvida de que, devido à abertura
comercial, à globalização, às reduções das tarifas de importação, o agricultor
brasileiro tem sido forçado a um ajuste de eficiência e à maior competitividade, ou
seja, maior produtividade, menor custo médio e melhor qualidade dos produtos.
As tabelas 7 e 8 mostram, respectivamente, o valor e a participação da produção, segundo as
principais culturas do Estado de Mato Grosso nas safras de 1993/94 a 2005/06.
Tabela 7 - Mato Grosso: Valor da produção, segundo as principais culturas, nas safras de 1993/94 a
2005/06 (R$ mil)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar
Valor
Total do
estado**
1993/ 94 777.931 32.955 113.426 92.719 72.725 1.104.981
1994/ 95 676.787 31.331 90.295 105.541 141.619 1.057.480
1995/ 96 887.586 27.209 108.360 137.910 137.921 1.315.044
1996/ 97 1.284.698 39.712 120.985 130.162 202.720 1.796.992
1997/ 98 1.301.915 140.901 158.197 97.724 201.140 1.914.481
1998/ 99 1.455.573 379.478 351.923 120.577 154.985 2.484.542
1999/ 2000 2.123.434 606.770 358.632 233.098 131.501 3.484.179
2000/ 01 2.261.184 998.346 255.941 195.097 193.674 3.943.759
2001/ 02 4.043.138 753.341 320.265 555.845 305.612 6.043.069
2002/ 03 6.717.224 1.233.456 506.453 873.021 434.441 9.864.208
2003/ 04 9.620.607 2.431.407 1.187.088 656.710 422.788 14.440.474
2004/ 05 6.678.093 4.119.679 697.311 799.379 339.249 12.764.591
2005/ 06* 4.442.820 1.370.548 212.775 866.811 .................... 6.991.965
Fonte: IBGE54
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a alterações.
(**) O valor total da produção no Estado inclui o valor anual de produção dos seguintes produtos: algodão herbáceo;
arroz em casca; aveia (em grão); cana-de-açúcar; feijão; girassol (em grão); soja (em grão) e sorgo (em grão).
53
MENDES, Judas Tadeu Grassi; PADILHA JUNIOR, João Batista. Agronegócio – uma abordagem econômica: São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007, p. 165. 54
IBGE. 15 out. 2007.
28
É eminente a predominância da cultura da soja na agricultura mato-grossense, haja vista a
sua grande participação no valor da produção de 63,35%, em média, no período das safras de
1993/94 a 2004/05 (R$ 3,15 bilhões). Observa-se também que o valor da produção do segundo
colocado, o algodão, com 12,47% ou R$ 899,54 milhões, representou 3,5 vezes menos que o da
soja, daí a enorme expressão econômica da soja na economia de Mato Grosso, conforme
demonstrado na tabela 7.
No que diz respeito ao algodão, constatou-se que ao longo da última década vem
aumentando substancialmente a participação no valor total da produção estadual, pois, de 2,98% ou
R$ 32,9 milhões na safra de 1993/94, elevou-se para 32,27% ou R$ 4,12 bilhões, aproximadamente,
na safra de 2004/05. A ordem de participação no valor total da produção, segundo as principais
culturas de Mato Grosso, na safra de 2004/05 é a seguinte: soja (52,32%); algodão (32,27%); milho
(6,26%); arroz (5,46%) e cana-de-açúcar (2,66%), que ocuparam, pela ordem, do 1º. ao 5º. lugares,
conforme a tabela 8.
Tabela 8 - Mato Grosso: Participação relativa no valor da produção, segundo as principais culturas,
na safra de 1993/94 a 2005/06 (%)
Safra Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar Outras Total
1993/ 94 70,40 2,98 10,26 8,39 6,58 1,38 100
1994/ 95 64,00 2,96 8,54 9,98 13,39 1,13 100
1995/ 96 67,49 2,07 8,24 10,49 10,49 1,22 100
1996/ 97 71,49 2,21 6,73 7,24 11,28 1,04 100
1997/ 98 68,00 7,36 8,26 5,10 10,51 0,76 100
1998/ 99 58,59 15,27 14,16 4,85 6,24 0,89 100
1999/ 2000 60,95 17,42 10,29 6,69 3,77 0,88 100
2000/ 01 57,34 25,31 6,49 4,95 4,91 1,00 100
2001/ 02 66,91 12,47 5,30 9,20 5,06 1,07 100
2002/ 03 68,10 12,50 5,13 8,85 4,40 1,01 100
2003/ 04 66,62 16,84 8,22 4,55 2,93 0,84 100
2004/ 05 52,32 32,27 5,46 6,26 2,66 1,03 100
2005/ 06* 63,54 19,60 3,04 12,40 ................. 1,42 100 Fonte: IBGE
55
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a alterações.
(...) Dado não disponível.
55
IBGE, 15 out. 2007.
29
A tabela 9 evidencia as taxas geométricas médias de crescimento (TGC) em função da área
cultivada, produção e produtividade das principais culturas de Mato Grosso. Observa-se que a TGC
do algodão em relação ao valor da produção foi a que teve o maior crescimento, de 63,17% a.a.,
seguida de perto pela soja com 27,50% a.a. Evidencia também que o incremento na produção de
algodão foi, em parte, explicada pelo aumento da área cultivada, cuja TGC foi a maior com 20,75%
a.a. contra 16,61% a.a. da soja e também pelo aumento de rendimento médio, que teve uma TGC de
6,69% a.a.
A expansão da produção sojífera é melhor explicada, em parte, pelo incremento na área
cultivada, cuja TGC foi de 16,61% a.a., do que pela produtividade, cuja TGC foi de apenas 2,55%
a.a. Já a pequena elevação da produção de arroz foi explicada, em parte, basicamente pelo aumento
na produtividade média, que teve uma TGC de 3,9% a.a., uma vez que a área cultivada foi bastante
instável e reduziu-se ao longo da última década, ficando a TGC em -1,35% a.a. Já a produção de
milho e cana-de-açúcar também tiveram incrementos na produção, em parte, explicados por
aumentos nas áreas cultivadas e ganhos de rendimento, de acordo com a tabela 9.
Tabela 9 - Mato Grosso: Taxas geométricas de crescimento em função da área cultivada,
produção, produtividade e valor da produção das principais culturas (safras 1978/79 a
2004/05)
TGC (% ao ano)
Variável Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar
Área Cultivada1 16,61* 20,75* -1,35
ns 8,61* 13,35*
Produção2 19,58* 28,83* 2,5* 11,64* 15,26%*
Produtividade3 2,55* 6,69* 3,9%* 2,79%* 1,68%*
Valor da produção4 27,50%* 63,17%* 23,46%* 24,67%* 13,65%*
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados fornecidos pelo IBGE56 e CONAB57.
Notas: (1) A área cultivada corresponde aos dados da Tabela 7, sendo que as safras utilizadas nos cálculos foram de
1978/79 a 2004/05. (2) Utilizaram-se, nos cálculos da TGC da produção ou quantidade produzida, os dados da
Tabela 9, onde as safras correspondem às do item (1). (3) A Tabela 6 foi usada nos cálculos da TGC da variável
produtividade no mesmo período do item (1). (4) Nos cálculos da TGC (valor da produção), utilizaram-se os dados
da Tabela 7, cujo período das safras compreenderam 1994/95 a 2004/05. A Taxa Geométrica de Crescimento ou
TGC é definida pela seguinte equação: ln Yt = lnYo + t x ln( 1+ r).
* Estatisticamente significante a 1%; ns
Não significante estatisticamente.
A tabela 10 identifica a participação de Estados brasileiros na produção de algumas lavouras
na safra de 2004/05. Conforme demonstrado anteriormente, o Estado de Mato Grosso ocupa,
56
IBGE, 15 out. 2007. 57
CONAB, 15 out. 2007.
30
atualmente, a primeira posição no ranking brasileiro de vários produtos agrícolas, com destaque
para a produção de soja (34,70%) e algodão (45,90%). Já o Paraná lidera a produção de milho
(24,41%), o Rio Grande do Sul mantém o topo na produção de arroz irrigado (46,26%), com
previsão de continuar na liderança para a safra 2005/06 com 58,86%, e São Paulo lidera a produção
da cana-de-açúcar (60,24%). A tendência é que os Estados de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do
Sul continuarão a manter as respectivas lideranças, embora seja necessário investimentos em infra-
estrutura para tornar mais eficiente o escoamento das safras, sendo considerado por vários autores o
modal ferroviário como o de mais baixo custo e mais adequado para superar longas distâncias.
Tabela 10 - Brasil: Participação dos estados na produção de algumas lavouras na safra de 2004/2005 (%)
Unidade da Federação Soja Algodão Arroz Milho Cana-de-
açúcar
Mato Grosso 34,70 45,90 17,15 9,92 2,98
Paraná 18,54 2,15 1,04 24,41 7,03
Rio Grande do Sul 4,78 ................ 46,26 4,23 0,21
Goiás 13,64 11,78 2,84 8,13 3,70
Mato Grosso do Sul 7,27 4,80 1,70 3,68 2,25
São Paulo 3,33 6,31 0,71 11,66 60,24
Bahia 4,70 22,43 0,70 4,60 1,32
Outros 13,04 6,63 29,60 33,37 22,27
Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados fornecidos pelo IBGE58
.
Prosseguindo, a despeito do crescimento significativo da produção agropecuária mato-
grossense, ocorrida a partir da divisão, na parte social, o Estado tem deixado a desejar, conforme
será discutido no capítulo 4. Cabe destacar que a produção voltada para o setor exportador guarda
ainda muitas heranças do período colonial. De acordo com Gremaud, Saes e Toneto Júnior59
:
[...] a permanência da grande propriedade como forma típica de apropriação da
terra tem implicações importantes para o desenvolvimento brasileiro: afinal é por aí
que se inicia a extrema concentração de riqueza e da renda que é reiterada pelo
desenvolvimento brasileiro no século XX e que tornou o Brasil, no limiar do século
XXI, um dos „campeões mundiais‟ em termos de pobreza e de desigualdade social.
Ainda que haja um longo percurso do início da colonização até hoje, é inegável que
este é talvez o mais amargo passivo que nos foi deixado pela herança colonial.
Passivo que um século de história republicana não foi capaz de resgatar (Grifos dos
autores).
58
IBGE. Produção agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 27 nov. 2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em: nov. 2007. 59
GREMAUD, Amaury Patrick; SAES, Flávio Azevedo Marques de; TONETO JÚNIOR, Rudinei. Formação
Econômica do Brasil. São Paulo: Atlas, 1997, p. 37.
31
2 A SOJA NO CENÁRIO DAS ECONOMIAS NACIONAL E MATO-GROSSENSE
2.1 Entrada e expansão do cultivo da soja em Mato Grosso
Os principais objetivos deste capítulo são identificar a origem e os fatores determinantes da
expansão da cultura da soja mato-grossense. Também levantar as características importantes da
cadeia da soja no Estado, analisando o comportamento e o desempenho dos seus principais agentes,
com base na sua evolução histórica e sua inserção nos mercados nacional e internacional.
Originária do leste asiático, notadamente da China, a soja (Glycine Max) logo se difundiu
por diversas regiões do Ocidente. Até aproximadamente 1894, a produção de soja restringia-se à
China. A sua introdução no continente Europeu deu-se por volta do séc. XV, sem finalidade
comercial, somente paisagística, em vários locais da Inglaterra, França e Alemanha. A partir do séc.
XX, acabou sendo levada para a América, principalmente para os Estados Unidos, onde foi
cultivada como planta rasteira. A produção de soja norte-americana, desde então, cresceu bastante,
e o país tornou-se o principal produtor mundial da leguminosa. Há muito tempo os E.U.A lideram o
ranking mundial da produção de soja. Na safra de 2006/07, os norte-americanos mantêm essa
posição, seguido pelo Brasil, com produções de, respectivamente, 86,77 e 58,4 milhões de
toneladas. Argentina, China, Índia e Paraguai ocupam as posições subseqüentes60
. Foi somente a
partir de 1941 que passou a ser produzida na forma de grãos61
.
Segundo Brum62
, em pouco mais de três décadas, a soja, de uma cultura pouco importante,
transformou-se na principal lavoura do agro brasileiro:
No Brasil essa leguminosa permaneceu como um cultivar marginal em pequena
escala desde a sua introdução, no início do séc. passado até 1960. Era cultivada nas
regiões do alto e médio Uruguai, no Rio Grande do Sul e, possivelmente, também
em Santa Catarina, com o propósito de alimentar animais. A partir de 1950, com o
estabelecimento de incentivos fiscais à produção do trigo no Rio Grande do Sul,
onde a soja foi implantada para fins comerciais, o produto passou a ser cultivado
em regime de rotação sazonal de culturas. Com incentivos financeiros e
tecnológicos, desde a década de 1960, a soja constituiu-se como cultura
economicamente importante para o Brasil [...] foi nos anos de 1970 que a soja
atingiu maiores cifras de produção e se consolidou como a principal lavoura do
agronegócio brasileiro.
60
BRASIL, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 12 out. 2007. Disponível em:
< http://www.agricultura.gov.br >. Acesso em: out. 2007. 61
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA - SOJA). 30 out. 2007. Disponível em:
< http://www.cnpso.embrapa.br >. Acesso em: set. 2007. 62
BRUM, Argemiro Jacob. Modernização da agricultura – trigo e soja. Rio de Janeiro: Vozes, 1988, p. 89-91.
32
A soja em Mato Grosso revela-se como potencial cultura agrícola num contexto de preços
da commoditie mundialmente favorável à produção:
[...] a explosão do preço da soja no mercado mundial, em meados de 1970, desperta
ainda mais os agricultores e o próprio governo brasileiro. O País se beneficia de
uma vantagem competitiva em relação aos outros países produtores: o escoamento
da safra brasileira ocorre na entressafra americana, quando os preços atingem as
maiores cotações. Desde então, o país passou a investir em tecnologia para
adaptação da cultura às condições brasileiras, processo liderado pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária63
.
Iniciada de forma experimental em 1977, a produção da soja mato-grossense desde a
origem contou com o apoio do governo, seja através de aporte creditício, pesquisas tecnológicas,
seja através de programas de desenvolvimento agropecuário:
[...] em 1976/77, a EMBRAPA, EMATER-MT, CODEAGRI (Companhia de
Desenvolvimento Agrícola de Mato Grosso), Centro de Pesquisa do Cerrado
(CPAC) e SAGRI-MT iniciaram pesquisas em campos experimentais de soja com
o apoio do POLOCENTRO, no sudeste mato-grossense. No município de
Rondonópolis, realizaram-se os primeiros trabalhos com a montagem de unidades
experimentais, como a da Fazenda Ouro Verde64
.
Num cenário de modernização agrícola e aliada a fatores relacionados à ocupação do
cerrado, a disponibilidade de terras atraiu a produção de soja, bem como exigiu um pacote
tecnológico no qual foi possível ocupar grandes áreas do cerrado mato-grossense e depois a
Amazônia.
De acordo com Silva65
, a expressão denominada “modernização” é bastante utilizada na
literatura e merece ser delimitada:
O termo modernização tem tido uma utilização muito ampla, referindo-se ora às
transformações capitalistas na base técnica da produção ora à passagem de uma
agricultura „natural‟ para uma que utiliza insumos industrialmente. Neste texto o
termo modernização será utilizado para designar o processo de transformação na
63
EMBRAPA, 12 maio 2007. 64
SILVA, Carlos Alberto Franco da. A transnacionalização do grupo André Maggi a partir do Cerrado mato-grossense.
27 ago. 2007. Revista Geo-paisagem. Niterói, RJ. ano 4, n. 7, p. 4, jan./jun. 2005. Disponível em:
< http://www.feth.gff.br >. Acesso em: ago. 2007. 65
SILVA, José Graziano da. A nova dinâmica da agricultura brasileira. Campinas, SP: Unicamp, 1998, p.18-19.
33
base técnica da produção agropecuária no pós-guerra a partir das importações de
tratores e fertilizantes num esforço de aumentar a produtividade (Grifos do autor).
Wedekin (apud Lazzarini; Nunes)66
, informa que a atração pelas terras do Cerrado mato-
grossense decorreram de três fatores:
Aspectos edafo-climáticos favoráveis: topografia plana, regularidade de chuvas,
temperatura elevada e profundidade dos solos. Isto tem ajudado a proporcionar um
significativo aumento de produtividade em áreas não-tradicionais, isto é, fora do
eixo Paraná-Rio Grande do Sul. Busca de terras mais baratas, visando aumentar a
rentabilidade da exploração agrícola (lucro sobre ativos), além de possibilitar
ganhos com valorização do capital fundiário; [...] economias de escala, pois, com
um mesmo patrimônio, tornava-se possível aumentar de forma muito pronunciada
a escala de operação, em função do menor valor das terras. Estimativas da
Universidade de Brasília indicam que o custo de produção por saca de soja nos
cerrados reduz-se em cerca de 40% quando a área plantada aumenta de 50 a 1.000
ha.
As transformações ocorridas no agro mato-grossense, a partir dos anos 70, denominadas
modernização da agricultura são consideradas por muitos autores como conservadoras, uma vez que
não modificaram a estrutura de produção existente.
Conforme dito anteriormente, a expansão da soja em Mato Grosso verificou-se não só pelo
notável aumento da área plantada, mas também pelo incremento na produtividade, embora esta
última tenha contribuído em menor escala, conforme descrito na tabela 9.
Durante o processo de ocupação do cerrado mato-grossense, destacaram-se diversas ações
de governo voltadas ao aumento da produção agrícola:
[...] foram implantados os diversos planos e projetos de desenvolvimento,
objetivando o rápido desenvolvimento nacional nas décadas de 60 e 70, como: o
Plano de Ação Econômica do Governo – PAEG (1964– 66); o Plano Decenal de
Desenvolvimento Econômico e Social (1967-68); o Programa Estratégico de
Desenvolvimento - PED (1968–70); o Plano de Metas e Bases para Ação do
Governo (1970–71); o Programa de Integração Nacional – PIN (1970) e os Planos
de Desenvolvimento Nacional – I PDN E II PDN67
.
66
WEDEKIN, I. Reestruturação competitiva do agribusiness. In LAZZARINI, S. G.; NUNES, R. Competitividade do
sistema agroindustrial da soja. São Paulo: PENSA/FIA/USP, 1998, p. 313. (mimeo). 67
PESSÔA, V. L. S. Ação do Estado e as transformações agrárias no cerrado de Paracatu e Alto Paranaíba-MG. In:
SILVA, Lilian Leandra. O papel do Estado no processo de ocupação das áreas de cerrado entre as décadas de 60 e 80. 2
jul. 2007. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia-MG, p. 30, dez. 2000. Disponível em:
< http://www.ig.ufu.br >. Acesso em: jul. 2007.
34
No período coberto pelo I PND (1972/74), o agro brasileiro adquiriu nova fisionomia,
apoiado em subsídios e assessoria especializada voltados para a modernização do setor agrícola,
destacando-se com a elevação da produtividade. O Estado investiu em modernas tecnologias
visando adaptar o até então “infértil” solo do cerrado à produção agrícola68
.
Dentre os principais programas orientados ao desenvolvimento regional no território mato-
grossense, destacaram-se à época o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (POLOCENTRO)
e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER).
De acordo com Silva69
, “[...] o POLOCENTRO foi o principal programa de ação regional do
II PND (1975-79). Criado através do Decreto 75.320 de 29/01/1975 teve como objetivo a ocupação
de forma racional e ordenada das áreas centrais do Brasil”.
O volume de recursos públicos destinados ao POLOCENTRO na forma de crédito agrícola,
a diversidade de regiões atendidas, bem como as grandes metas propostas conferiram ao programa
uma importância ímpar na política agrícola nacional, conforme assevera Ferreira70
:
Na tentativa de incorporar aproximadamente 3,7 milhões de hectares de cerrados,
foram utilizados diversos recursos políticos e financeiros no POLOCENTRO,
sendo destinados: 1,8 milhão a lavouras, 1,2 milhão a pecuária e 700 mil ao
florestamento-reflorestamento. A área de atuação do POLOCENTRO abrangia os
estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e as regiões do Triângulo
Mineiro, Alto Paranaíba, Alto e Médio São Francisco e Vão do Paracatu, todas nos
estado de Minas Gerais.
De acordo com Fleury71
, o programa POLOCENTRO inspirou-se na teoria de “pólos de
crescimento” e trouxe grandes transformações ao Cerrado do Centro-Oeste, principalmente para
Mato Grosso:
Baseado na concepção de pólos de crescimento, o programa selecionou 12 áreas de
Cerrado nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
com alguma infra-estrutura e bom potencial agrícola. Essas áreas receberam
recursos para investimentos em melhoria da infra-estrutura, enquanto fazendeiros
68
SILVA, 2000, p. 30. 69
Idem, p. 31. 70
FERREIRA, R. J. F. A atuação do POLOCENTRO e o desenvolvimento regional. In: SILVA. Lilian Leandra. O
papel do Estado no processo de ocupação das áreas de cerrado entre as décadas de 60 e 80. 2 jul. 2007. Revista
Caminhos de Geografia, Uberlândia-MG, p. 30, dez. 2000. Disponível em:
< http://www.ig.ufu.br >. Acesso em: jul. 2007, p. 31. 71
FLEURY, Lorena Cândido. Agricultura e ambiente em transição: Evolução e diferenciação dos sistemas agrários no
domínio do Cerrado. In: VII Encontro da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção. 2007. Fortaleza-CE. Anais:
Fortaleza: UFCE, 2007, p. 9.
35
dispostos a ali cultivar puderam participar de um programa extremamente generoso
de crédito subsidiado, sendo que 25% dos recursos eram destinados à pesquisa
agropecuária, assistência técnica, armazenamento, transportes e eletrificação rural.
Dessa forma, esse programa incorporou, em cinco anos, três milhões de hectares do
Cerrado em lavouras, pastagens e reflorestamentos, podendo ser considerado o
programa de maior impacto direto sobre a agricultura neste bioma.
O programa POLOCENTRO atendeu regiões como Arenápolis e Diamantino e parece ter
dado um significativo impulso ao cultivo de arroz no Estado de Mato Grosso na década de 70 do
séc. XX.
Outro importante programa que merece ser destacado nesse cenário de expansão agrícola é o
PRODECER que é resultado de um acordo binacional de cooperação, firmado entre os governos
brasileiro e japonês, formalizado em 1978, após os diversos acordos consolidados no transcorrer de
mais de duas décadas. Visando executar o programa, foi criada uma empresa binacional, a
Companhia de Promoção Agrícola (CAMPO), cujo capital foi constituído por holdings brasileiras e
japonesas72
.
O PRODECER73
objetivou incentivar a modernização no campo, através da fixação do
homem desprovido de terra com característica de empreendedor, e teve como princípio o
desenvolvimento sustentável. Instalaram-se 21 (vinte e um) projetos nos Estados de MG, GO, MS,
MT, BA, MA e TO numa área total de 353.748 ha, os quais beneficiaram 758 colonos no cultivo de
soja e outras lavouras. O Programa foi implementado em três fases distintas: PRODECER I (1979 a
1984) em MG; PRODECER II (1985 a 1993) em MG, MT, MS, GO e BA; e PRODECER III (1995
a 2001) no MA e TO. Os acordos para projetos acabaram em 29/3/01, enquanto os empréstimos e
amortizações continuarão até 2014.
De acordo com o Ministério da Agricultura74
, os resultados do PRODECER foram
satisfatórios, embora tenham causado problemas de ordem financeira aos seus beneficiários:
[...] a condução de atividades de pesquisa em parceria [...] permitiram a geração e a
difusão de tecnologias, que contribuíram para o crescimento expressivo da região.
As produtividades alcançadas têm sido superiores às nacionais, equivalendo
mesmo, em alguns casos, superando às da agricultura norte-americana [...] As
importações de soja brasileira passaram de 1,6% em 1977, para 11,9% em 1999,
contribuindo para a diversificação das fontes de abastecimento para a produção de
óleo e estabilidade de preços internos no Japão [...] Entretanto, existem problemas
72
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). PRODECER. 07 out. 2007. Disponível em:
< http://www.agricultura.gov.br >. Acesso em: out. 2007. 73
Idem. 74
Idem.
36
a serem superados, como o descompasso entre a rentabilidade da agricultura e a
taxa de juros praticada pelo mercado levando beneficiários ao endividamento (parte
dos assentados do PRODECER II e III).
A despeito dos resultados obtidos pelo PRODECER II, no qual Mato Grosso foi inserido,
embora tenha contribuído para elevar a produtividade e modernizar a agricultura, também
representou para seus usuários uma significativa fonte de endividamento, conforme foi explicitado
pela avaliação do Ministério da Agricultura.
Bertland, Cadier e Gasques75
afirmam que “[...] o crédito é um fator essencial à expansão da
soja em Mato Grosso. Enquanto a União modificava seu modo de intervenção, o setor privado a
substituía”.
As características inerentes à produção de soja, como cultivo em larga escala, utilização de
vasta maquinaria e insumos modernos, representam elevados custos de produção que nem sempre
podem ser bancados pelos agricultores, decorrendo daí a necessidade de financiamento agrícola. O
esgotamento do antigo Sistema Nacional de Crédito Rural pode ser comprovado pela mudança
radical nas fontes de financiamento para a agricultura:
A produção de soja é uma cultura moderna que requer o financiamento de
atividades de elevado custo: o custeio dos investimentos e da comercialização da
produção. Raros são os agricultores que conseguem manter a atividade
exclusivamente com autofinanciamento [...] A política de financiamento agrícola se
insere no Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) [...] Para o financiamento da
agricultura, os bancos privados e públicos captam os recursos a taxas de juros de
mercado. Quando um produtor realiza um empréstimo num banco privado, o
governo paga a diferença entre a taxa de juro de mercado e a taxa de 8,75%,
operação que é conhecida como „equalização das taxas‟. O esgotamento do sistema
tradicional de financiamento público associou-se a uma queda significativa dos
recursos aplicados em custeio e investimentos. Várias formas contratuais são
possíveis. As mais utilizadas são a Cédula de Produto Rural (CPR) [...] e a
operação de troca entre grupos industriais, empresas de negócios e produtor (Grifos
dos autores)76
.
Segundo estes mesmos autores77
, a estabilização da economia, promovida pelo Plano Real,
contribuiu para aumentar as exportações agrícolas, conforme descrito a seguir.
75
BERTLAND, Jean-Pierre; CADIER, Chloé; GASQUES, José Garcia. O crédito: fator essencial à expansão da soja
em Mato Grosso. Cadernos de Ciência e Tecnologia. Brasília, v. 22, n.1, p.109, jan./abr. 2005. 76
Idem. p. 116. 77
Idem. p. 177.
37
O apoio ao crédito subsidiado dos anos 70 foi substituído, nos anos 80, por
mecanismos de indexação de preços agrícolas e dos preços de insumos. Esses
recursos permitiram um apoio à produção agrícola, apesar de os volumes de
empréstimos serem limitados e indicarem taxas de juros positivas. A estabilização
macroeconômica promovida pelo Plano Real, a partir de 1994, favoreceu a
agricultura, graças à política de abertura comercial, através da redução significativa
das tarifas nominais, as quais passaram de uma média de 105% no final do anos 80,
para 13% no período de 1994 a 1997. Após a adoção da política de câmbio flexível
em 1999, concomitante à desvalorização do Real em 50%, repercutiu no aumento
das exportações agrícolas brasileiras.
Afirmam ainda que, “[...] esse novo modelo de financiamento público/privado apresenta
vantagens evidentes de rapidez e flexibilidade, porém esse sistema é frágil e apresenta riscos
elevados”78
.
Na mesma linha de pensamento, Dros e Van Gelder79
ressaltam que a expansão da soja em
Mato Grosso está apoiada em pilares frágeis, que colocam em dúvida a sua sustentabilidade:
O risco, inerente ao sistema de financiamento, cria dependência por parte do
sojicultor, que passa a sofrer vários tipos de pressão. Ele tem de honrar dívidas de
curto prazo com as tradings e dívidas de longo prazo com os bancos. Mesmo os
grandes produtores são financiados por esse sistema. A troca custa bastante ao
produtor: os encargos financeiros são cerca de 15% superiores aos empréstimos
públicos [...] o que aumenta a vulnerabilidade do sistema. Quando os preços da
soja estão em alta, os encargos podem ser pagos sem dificuldade, o que nem
sempre é o caso. Esse sistema vem sendo controlado por um pequeno grupo de
nacionais e multinacionais. As principais empresas que participam do mercado
financeiro em Mato Grosso são a Bunge, a ADM, a Cargill e a Maggi (o grupo
brasileiro). Estima-se que aproximadamente 50% da área cultivada no Estado seja
financiada por esse sistema.
Caetano80
ressalta a vulnerabilidade na gestão de crédito e risco na agricultura brasileira:
“Exemplos de eficiência em matéria de produtividade e tecnologia”, mas “[...] são um fiasco na
gestão de suas finanças”. O mesmo autor81
afirma que os agricultores brasileiros em mais de duas
décadas têm demonstrado grande incapacidade no gerenciamento do risco na agricultura, de acordo
com o enunciado a seguir.
78
BERTLAND; GADIER; GASQUES, 2005, p. 116. 79
DROS, J. M.; VAN GELDER, J. W. Corporate actors in the South American soy production chain. In: BERTLAND,
jean-Pierre; CADIER, Chloé; GASQUES, José Garcia. O crédito: fator essencial à expansão da soja em Mato Grosso.
Cadernos de Ciência e Tecnologia. Brasília, v. 22, n.1, p.109, jan./abr. 2005. 80
CAETANO, José Roberto. O ponto vulnerável da agricultura. Revista Exame – Negócios, Economia e Marketing
Financeiro, 19 abr. 2006. Disponível em: < http://portalexame.abril.com.br >. Acesso em: abr. 2006. p.1. 81
Idem.
38
Nos últimos 25 anos, o campo sofreu diversas crises financeiras, sempre
enfrentadas com rolagem de dívidas. No caso atual, o socorro é de quase 17 bilhões
de reais, formado basicamente por novas dilatações nos prazos para o pagamento
de débitos com o governo. A justificativa para o pacote são os problemas concretos
vividos pelos produtores no período recente: câmbio desfavorável, queda de preços
internacionais e seca em regiões produtoras. Apesar do vigor exibido nos últimos
anos... [...] o setor ainda convive com uma enorme vulnerabilidade: a gestão
financeira rudimentar de boa parte dos produtores, incapaz de amenizar os períodos
de instabilidade inerentes à atividade. [...] a fragilidade mostra-se particularmente
evidente no setor de grãos, que esbanjou pujança do final da década de 90 até 2004.
Durante os anos de bonança, os produtores usufruíam de preços elevados, real
desvalorizado e forte demanda externa, impulsionada pela China. No ano passado,
porém, a situação começou a deteriorar. O custo para produzir soja, que em 2004
era de 50 dólares por tonelada em Mato Grosso, dobrou. „Enquanto isso, o preço
internacional caiu pela metade‟ [...] Em 2005, a renda do setor caiu 10%, perda
equivalente a 17 bilhões de reais, segundo a Confederação Nacional da Agricultura
(CNA) (Grifos do autor).
De acordo com Caetano82
respaldado por especialistas em agricultura, uma das alternativas
viáveis para o setor seria através da “[...] maior difusão de instrumentos financeiros modernos já
disponíveis no mercado. Um deles é o seguro rural [...] outra [...] é a proteção dos preços e do risco
cambial por meio de negócios em bolsa”. O mesmo autor ainda finaliza trazendo um comentário de
Guilherme Dias:
A verdade é que o agronegócio vem financiando seu crescimento de maneira muito
arriscada. Os produtores [...] têm usado de forma intensiva o capital de bancos e de
terceiros, como os fornecedores de máquinas e de fertilizantes, com prazos curtos
de pagamento. Para pagar os empréstimos, apostam em rendas futuras nem sempre
certas [...]83
.
Segundo Marta e Figueiredo84
, algumas causas da introdução da soja em Mato Grosso
devem ser ressaltadas:
Certamente a expansão territorial e, portanto, geográfica parece uma razão mais
imediata e „natural‟, em função de uma possível aptidão de Mato Grosso para o
plantio, em função das extensões territoriais e de custos baixos de implantação no
cerrado. Outra razão parece ser um contínuo crescimento em áreas, desde o Sul,
por onde entrou no país, aliada às condições econômicas disponibilizadas na região
meridional do estado de Mato Grosso, onde se estabeleceu por forte aparato estatal.
Assim, todas apresentaram uma natureza expansionista, desprezando análise dos
82
CAETANO, 2006, p. 2. 83
Idem. 84
MARTA; FIGUEIREDO, 2007, p. 2-7.
39
custos de um processo de inovação tecnológico, devido ao estado brasileiro. [...] a
introdução da soja atendeu a aspectos do mercado oligopolístico considerados a
jusante, no qual a aquisição era feita de maneira concentrada, por empresas como a
Bunge Alimentos, a Cargill , a ADM, a Sadia, a Perdigão e a Unilever. O controle
oligopsônico, portanto, com preços definidos pelo comprador, deve ser observado
nas máquinas e outros insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas, cujas
empresas são de natureza multinacionais.
Portanto, depreende-se que a expansão da soja no Estado de Mato Grosso tem sido
sustentada essencialmente pelo crédito, seja de fonte pública, seja privada. Com efeito, observa-se
que essa prática tem levado os produtores de soja mato-grossenses aos níveis indesejados de
endividamento, notadamente com as tradings que atuam na cadeia da soja do Estado.
2.1.2 Produção de soja em Mato Grosso e produção nacional
A produção de soja iniciou-se de forma experimental no Sudeste mato-grossense, mais
precisamente em 1977, no município de Rondonópolis, e gradativamente vem sendo difundida por
quase todo o Estado.
De acordo com a SEPLAN85
, de uma tímida produção de pouco mais de 7 mil toneladas
produzidas na safra de 1978, elevou-se para 17, 76 milhões de toneladas na safra de 2005. Nesta
mesma safra, dos 141 municípios do Estado, 111 dedicaram-se à lavoura temporária da soja
(78,72%). Já em 2006, a soja foi produzida em 105 municípios (74,46%).
A tabela 11 mostra a evolução da área plantada, produção e produtividade de soja em Mato
Grosso nas safras de 1978 a 2006. Observa-se ao longo dos 29 anos analisados uma nítida trajetória
de expansão, em termos de área plantada, produção e produtividade, embora tenha havido algumas
oscilações nos valores das respectivas variáveis. Após duas quedas sucessivas de área plantada e
produção nas safras de 1990 e 1991, a produção de soja se recupera na safra de 1992. Já em 1996,
novamente, houve reduções na área plantada e na produção em relação a 1995 de, respectivamente,
16,37% e 8,35% ou 458.505 t. Na safra de 1999 ocorreu uma pequena queda na área plantada de
0,27% em relação a 1998, havendo uma retomada no crescimento nos anos seguintes até a safra de
2005. Constata-se uma redução de safra em 2006, pois, segundo dados preliminares do IBGE86
houve uma queda na área plantada, produção e produtividade em relação a 2005 de,
respectivamente, 45,88%; 12,20% e 7,69%.
85
MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Planejamento (SEPLAN). Anuários estatísticos de Mato Grosso-
2001/2006. 17 nov. 2007. Disponível em: < http://www.seplan.mt.gov.br >. Acesso em: nov. 2007. 86
IBGE. 14 nov. 2007.
40
Tabela 11 - Mato Grosso: Evolução da área plantada, produção
e produtividade de soja, nas safras de 1978 a 2006
Ano Área Plantada
(ha)
Produção
(t)
Produtividade
(Kg/ha)
1978 5.566 7.269 1.306
1979 19.130 26.503 1.385
1980 70.431 117.173 1.664
1981 120.089 224.901 1.873
1982 194.331 365.501 1.881
1983 301.839 611.258 2.025
1984 538.169 1.050.095 1.951
1985 795.438 1.656.039 2.082
1986 913.222 1.921.053 2.104
1987 1.096.828 2.389.033 2.178
1988 1.319.230 2.694.718 2.043
1989 1.703.649 3.795.435 2.228
1990 1.552.910 3.064.715 1.974
1991 1.172.100 2.738.410 2.336
1992 1.459.164 3.642.743 2.496
1993 1.680.257 4.118.726 2.451
1994 2.023.056 5.319.793 2.630
1995 2.338.926 5.491.426 2.348
1996 1.956.148 5.032.921 2.573
1997 2.192.514 6.060.882 2.764
1998 2.643.389 7.228.052 2.734
1999 2.636.175 7.473.028 2.835
2000 2.906.648 8.774.470 3.019
2001 3.121.408 9.533.286 3.054
2002 3.818.231 11.684.885 3.060
2003 4.414.496 12.965.983 2.937
2004 5.279.928 14.517.912 2.750
2005 6.121.724 17.761.444 2.901
2006 5.822.867 15.594.221 2.678
Fonte: MATO GROSSO, SEPLAN87
; IBGE88
.
87
MATO GROSSO, Seplan. 17 nov. 2007. 88
IBGE. Produção Agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 5 ago. 2007. Disponível em: < http://www.sidra.ibge.gov.br >. Acesso em: ago. 2007.
41
A variável produtividade foi a que mais oscilou no período considerado, para mais ou para
menos, mas com predominância de elevação; a menor retração ocorreu em 1990 com 11,40% e
menor em 1998 com 1,09%, conforme mostra a tabela 11.
Uma “explosão” produtiva da soja mato-grossense ocorreu a partir de 1992, cuja produção
atingiu 3.642.743 toneladas numa área plantada de 1.459.164 hectares com rendimento médio de
2.496 Kg/ha. Nota-se que, nas safras de 1991 a 2005, a área plantada, produção e produtividade
tiveram um notável crescimento de, respectivamente, 422,29%; 548,60% e 24,19%, de acordo com
a tabela 11 e a figura 4.
Figura 4 – Mato Grosso: Evolução da área plantada, produção e produtividade de soja, nas safras de 1978 a
2006
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
20.000
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
Área Plantada (mil hectare) Produção (mil tonelada) Produtividade (Kg/ ha)
Fonte: safras de 1978 a 1989, SEPLAN89
; safras de 1999 a 2006, IBGE90
.
A figura 4 demonstra que houve reduções de área plantada, produção e produtividade nas
safras de 2005 para 2006 de, respectivamente, 4,88%, 12,20% e 7,69%, rompendo com uma
trajetória de alta de várias safras, notadamente, da produção. Dentre as prováveis causas da referida
quebra de safra, destacam-se variações climáticas, dificuldades dos agricultores de financiar o
custeio, preço internacional da commoditie desfavorável e taxa de câmbio apreciada.
Segundo o IBGE91
, o Estado de Mato Grosso foi dividido, a partir de 1990, em 5
mesorregiões (Norte, Nordeste, Sudoeste, Centro-Sul e Sudeste Mato-Grossense) e 22
microrregiões geográficas (Aripuanã, Alta Floresta, Colíder, Parecis, Arinos, Alto Teles Pires,
89
MATO GROSSO. Seplan. Anuários Estatísticos de Mato Grosso – 2001-2006. 17 nov. 2007. Disponível em:
< http://www.seplan.mt.gov.br >. Acesso em: nov. 2007. 90
IBGE. 5 ago. 2007. 91
IBGE. 14 nov. 2007.
42
Sinop, Paranatinga, Norte Araguaia, Canarana, Médio Araguaia, Alto Guaporé, Tangará da Serra,
Jauru, Alto Paraguai, Rosário Oeste, Cuiabá, Alto Pantanal, Primavera do Leste, Tesouro,
Rondonópolis e Alto Araguaia).
As tabelas 12 e 13 permitem observar a área plantada e produção de soja, bem como as
respectivas participações, segundo as principais microrregiões de Mato Grosso nas safras de 1990,
1995 e 2005.
Tabela 12 - Mato Grosso: Área plantada e produção de soja segundo as principais microrregiões nos
períodos de 1990, 1995 e 2005
Microrregião
Período
1990 1995 2005
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Parecis 325.800 622.154 664.440 1.639.115 1.275.093 3.901.705
Alto Teles Pires 322.821 579.324 569.800 1.281.596 1.785.407 5.629.699
Primavera do Leste 238.553 535.664 272.445 684.881 439.395 1.103.216
Canarana 132.785 209.551 206.450 481.420 525.387 1.449.965
Rondonópolis 253.816 543.229 276.171 654.382 413.208 1.015.575
Fonte: IBGE92
.
Observa-se que, em 1990 e 1995, a microrregião Parecis ocupava o primeiro lugar em área
plantada com soja e também quantidade produzida, perdendo essa posição, a partir de 2005, para a
microrregião Alto Teles Pires que, em 2005, com seus 1.785.407 hectares destinados à sojicultura,
representava mais de quatro vezes a área cultivada da microrregião de Rondonópolis, e a produção
desta (1.015.575 toneladas) correspondia a apenas 18% do volume produzido na microrregião de
Alto Teles Pires. Nota-se, inclusive, uma significativa concentração, tanto em área plantada como
na quantidade produzida de soja em três microrregiões, Parecis, Alto Teles Pires e Primavera do
Leste, as quais representaram, em média, nos períodos de 1990, 1995 e 2005, 59,57% da área
plantada e 60,74% da produção de soja do Estado.
92
IBGE. 14 nov. 2007.
43
A microrregião Canarana tem se estabilizado em termos de área plantada e produção de soja
nos períodos de 1990, 1995 e 2005. Já a microrregião de Rondonópolis vem perdendo posição ao
longo do tempo em relação às variáveis citadas, segundo a tabela 13.
Tabela 13 - Mato Grosso: Participação na área plantada e produção de soja segundo as principais
microrregiões nos períodos de 1990, 1995 e 2005 (%)
Microrregião
Período
1990 1995 2005
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Área
plantada
(ha)
Produção
(t)
Parecis 20,98 20,30 28,41 29,85 20,83 21,97
Alto Teles Pires 20,79 18,90 24,36 23,34 29,17 31,70
Primavera do Leste 15,36 17,48 11,65 12,47 7,18 6,21
Canarana 8,55 6,84 8,83 8,77 8,58 8,16
Rondonópolis 16,34 17,73 11,81 11,92 6,75 5,72
Fonte: IBGE93
.
Dentre os maiores produtores de soja mato-grossenses, desponta a trajetória produtiva do
município de Sorriso (microrregião Alto Teles Pires), conforme os dados do IBGE94
, nas safras de
1990/2006. Do 4º. lugar obtido na safra de 1990, com produção de 246.916 toneladas, passou a
ocupar o 3º. lugar em 1992 e o 2º. lugar nas safras de 1993 a 1996. Finalmente, a partir da safra de
1997 com 684.767 toneladas, passa a ocupar a liderança na produção de soja no Estado e, desde
então, consolida-se na 1ª. posição, atingindo, em 2006, a quantidade produzida de 1.789.974
toneladas de soja. Depreende-se que Sorriso teve um crescimento na sua produção de soja de,
aproximadamente, 625% no período de 1990 a 2006.
A significativa expansão da soja em Sorriso deve-se a vários fatores, como utilização de
vasta maquinaria, insumos modernos, disponibilidade de terras, os quais proporcionaram elevada
produtividade, a terceira maior da safra de 2005 com 3.120 Kg/ha.
O município de Sorriso originou-se num contexto de ocupação do espaço mato-grossense
por imigrantes europeus de naturalidade italiana no final dos anos 70, conforme descrito a seguir
pela Associação Mato-Grossense dos Municípios (AMM).
93
IBGE, 14 nov. 2007. 94
Idem.
44
O principal colonizador foi o catarinense Claudino Frâncio, em 1977, dirigindo a
Colonizadora Feliz, fundou o povoado de Sorriso. A versão oficial do nome Sorriso
foi dado por todos que gostavam do lugar e ali residiam. Mais precisamente por um
grupo de pioneiros que, assentados à beira do Rio Lira, conversavam entre si.
Concluíram que, mesmo diante do trabalho a realizar, ter sempre um sorriso nos
lábios seria um grande incentivo à permanência na luta do dia-a-dia. Seria então
Sorriso o nome ideal para aquela terra, pois transmitia alegria, inspirava otimismo e
confiança. A maioria dos colonizadores eram de origem italiana e viviam de forma
comunitária. Posteriormente à colonização, Sorriso se tornou distrito. Pela Lei
Estadual nº. 4.278, de 26 de novembro de 1980, com território jurisdicionado ao
município de Nobres. O município de Sorriso foi criado através de Lei Estadual nº.
5.002, de 13 de maio de 198695
.
Localizado na microrregião Alto Teles Pires (norte mato-grossense), o município de Sorriso
fica situado a 393,2 km da capital (Cuiabá). Possui uma área de 9.328 Km2, e sua população cresceu
73% no período de 1996/2004 de 25.373 habitantes para 43.942 habitantes. Sua economia é baseada
na agropecuária96
.
A divisão político-administrativa de Mato Grosso, a localização geográfica e o ranking dos
dez maiores municípios produtores de soja, na safra de 2005, estão ilustrados na figura 5, os quais
são pela ordem decrescente: Sorriso; Sapezal; Campo Novo do Parecis; Nova Mutum; Diamantino;
Lucas do Rio Verde; Primavera do Leste; Campos de Júlio; Nova Ubiratã e Brasnorte.
Na verdade, a maioria dos dez maiores municípios produtores de soja mato-grossenses são
tradicionais produtores de soja, sendo que alguns deles surgiram no encalço da própria cultura. Com
destaque para Campos de Júlio, Nova Ubiratã e Sapezal que foram criados na década de 9097
.
Pela figura 5, pode-se observar que os maiores municípios produtores de soja localizam-se
nas regiões sudoeste e médio-norte mato-grossenses. Ressalta-se que os referidos municípios
também possuem muitas características em comum: relevo, clima, extensão territorial e solo que
têm favorecido o cultivo da leguminosa.
De acordo com a Seplan98
, os municípios de Sorriso, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum,
Campo Novo do Parecis, Brasnorte e Primavera do Leste foram criados na segunda metade dos
anos 80, exceto Diamantino que foi criado em 1820. Outra característica relevante dos referidos
municípios está associada a grandes extensões territoriais, sendo que os dez municípios produtores
de soja representam, em média, 907.368 ha.
95
ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DOS MUNICÍPIOS. Dados indicadores de Mato Grosso. 10 ago. 2007.
Disponível em: < http://www.portalmunicipal.org.br >. Acesso em: ago. 2007. 96
MATO GROSSO. Seplan. Perfil socioeconômico de Mato Grosso, 2004. 23 set. 2007. Disponível em:
< http://www.seplan.mt.gov.br >. Acesso em: set. 2007. 97
Idem. 98
Idem. p. 7-10.
45
Figura 5 - Mato Grosso: divisão político-administrativa e ranking dos dez maiores municípios produtores de
soja, na safra de 2005
Fonte: MATO GROSSO. SEPLAN99
; IBGE100
As figuras 6 e 7, a seguir evidenciam grandes lavouras de soja em Sorriso e Fazenda do
Grupo André Maggi, ambas situadas em Mato Grosso.
99
MATO GROSSO. Seplan. 17 nov. 2007. 100
IBGE, 14 nov. 2007.
Campos de Júlio
(8º. lugar)
627.767 t.
Sorriso
(1º. lugar)
1.804.669 t.
Nova Ubiratã
(9º. lugar) 579.405 t. Campo Novo
do Parecis
(3º. lugar)
1.071.099 t.
Sapezal
(2º. lugar)
1.166.679 t.
Brasnorte
(10º. lugar)
486.965 t.
Lucas do Rio
Verde
(6º. lugar)
744.436 t.
Nova Mutum
(4º. lugar)
1.068.156 t.
Diamantino
(5º. lugar)
918.000 t.
Primavera do
Leste
(7º. lugar)
684.558 t.
46
Figura 6 – Vista parcial: plantação de soja em Figura 7 – Vista parcial: lavoura de soja.
Sorriso/MT. Fonte: MELBY, Kory101
. Fonte: MAGGI, Grupo André102
.
Segundo os dados do IBGE103
, a mesorregião norte mato-grossense apresentou a maior área
colhida, produção e produtividade na safra de 2005 das regiões de Mato Grosso, representando 65%
da área colhida total, 68% da quantidade produzida e também o melhor rendimento das
mesorregiões de 3.054 Kg/ha. Isso pode ser explicado, em parte, pelo fato de a região norte mato-
grossense agregar os maiores municípios produtores de soja, cujos processos produtivos são
altamente mecanizados e baseados em utilização de insumos e tecnologias modernas. Os dados
indicaram que as mesorregiões Sudeste, Nordeste, Sudoeste e Centro-Sul mato-grossenses são
menos expressivas em termos de área plantada, produção e produtividade comparativamente à
mesorregião Norte, embora apresentem um bom potencial de crescimento.
A expansão da sojicultura mato-grossense nas últimas décadas está respaldada no fenômeno
denominado modernização da agricultura, apoiada na chamada “Revolução Verde”.
Conforme afirma Brum104
:
[...] a chamada Revolução Verde foi um programa que tinha como objetivo
explícito contribuir para o aumento da produção e produtividade agrícola no
mundo, através do desenvolvimento de experiências no campo da genética vegetal
101
MELBY, Kory. Farms and Ranches for sale in Brazil. 5 dez. 2007. Disponível em:
< http://www.brazilntl.com/states/matogrosso/cities_mt/sorriso/faz_sorriso_01.htm >. Acesso em: dez. 2007. 102
MAGGI, Grupo André. Divisão agro – galeria de fotos. 5 dez. 2007. Disponível em:
< http://www.grupomaggi.com.br >. Acesso em: dez. 2007. 103
IBGE, 25 nov. 2007. 104
BRUM, 1988, p. 44.
47
para a criação e multiplicação de sementes adequadas às condições dos diferentes
solos e climas e resistentes às doenças e praga, bem como da descoberta e
aplicação de técnicas agrícolas ou tratos culturais mais modernos e eficientes.
No contexto de acentuada expansão da soja mato-grossense, comprovada através de vários
indicadores de produção agrícola, cumpre destacar o papel desempenhado pela modernização na
agricultura, apesar de ser considerada por muitos autores como conservadora, pois não alterou de
forma significativa a estrutura produtiva.
Segundo Pereira105
, a “modernização” na agricultura pode ser “analisada” da seguinte
forma:
[...] a modernização de dada atividade econômica, em particular, da agricultura, é
analisada com base em indicadores ou estatísticas aqui denominadas
convencionais.[...] número de tratores existentes em determinada atividade. [...]
produção e índice da produção de sementes com registro no Ministério da
Agricultura, Pecuária e do Abastecimento [...].
Para o agricultor, o resultado mais visível da chamada “modernização” agrícola é
representado por ganhos crescentes de rendimento que proporcionam incremento na produção.
Acredita-se também que a modernização na agricultura também pode ser analisada pelo incremento
no emprego de insumos modernos, tais como uso de fertilizantes, agrotóxicos e tecnologia
aplicados ao melhoramento genético das sementes e do solo.
O resultado do estudo feito por Pereira106
para vários indicadores apontou que a cultura da
soja foi a principal responsável pela denominada “modernização” do “agro” mato-grossense no
período de 1985 a 1996, em função da grande utilização de tratores de grande potência e produção
de sementes fiscalizadas de soja:
Verifica-se [...] que o número de tratores, entre 1985 e 1996, exibiu incremento em
todas as potências. Em particular, o número total de tratores expandiu-se 67%. O
aumento mais acentuado (115%), contudo, ocorreu no número de tratores de maior
potência (100 CV) [...] Esses dados, de um lado, evidenciam que, se se atém
exclusivamente ao número de tratores, a modernização da agricultura de MT, entre
1985 e 1996, pode ser compreendida como processo generalizado, isto é, ele faz
parte de todos os estratos de área. Esse processo foi mais acentuado nas
propriedades de extensão fundiária mais elevada, as quais operam com tratores de
maior potência. [...] constata-se que a produção de sementes de soja teve um
105
PEREIRA, 2007, p. 39-40. 106
Idem, p. 40-42.
48
aumento de 1.933% entre a safra de 1980/81 e a 2002/03, enquanto para as demais
culturas esse incremento foi em torno de apenas 38%. Se, de um lado, esses
percentuais indicam e ratificam a modernização da agricultura de MT, de outro
lado, de maneira irrefutável, eles confirmam a supremacia da produção de soja
sobre a produção das demais culturas do Estado.
A tabela 14 comprova os resultados encontrados por Pereira107
, em virtude das próprias
características produtivas da sojicultura mato-grossense, como produção em grandes áreas, escala e
moderna mecanização.
Tabela 14 – Mato Grosso: Número de tratores por potência (CV), 1985 e 1996
Ano Menos de
de 10 CV
De 10 a
menos de
20 CV
De 20 a
menos de
50 CV
De 50 a
menos de
100 CV
Mais de
100 CV
Total de
Tratores
1985 390 742 2.718 9.685 5.999 19.534
1996 663 958 3.219 14.941 12.932 32.713
Incremento (%)
entre 1985 e 1996 70% 29% 18% 54% 115% 67%
Fonte: Pereira108
(Grifos do autor).
No que diz respeito à utilização de maquinários de grande potência acima de 100 CV nas
lavouras de soja, observa-se, pelas figuras 8 e 9, a presença maciça de tais maquinários, desde o
plantio até a colheita. Embora o pleno uso de máquinas e equipamentos de grande porte contribuam
para a elevação da produtividade nas propriedades sojíferas, por outro, também implica a redução
de mão-de-obra rural, com repercussões negativas em termos de distribuição de emprego e renda.
Segundo Vieira109
, não é viável o cultivo de soja em “pequenas propriedades”, cuja
finalidade seja a obtenção de lucros:
A soja é uma cultura de grande escala e não é aconselhável o seu cultivo em
pequenas propriedades para fins comerciais. Segundo o censo de 1980, as
propriedades produtivas de até 100 ha representavam 90% e eram responsáveis por
37% do volume de soja produzido no Brasil. Em 1985, esse percentual caiu para
apenas 20% da produção ... ao passo que as propriedades acima de 1.000 ha
representavam 1,23% do total dos estabelecimentos destinados à produção de soja
e contribuíam com 45% da produção.
107
PEREIRA, 2007. 108
Idem, p. 40. 109
VIEIRA, 2002, p. 72.
49
Figura 8 – Fazenda Tanguro-Grupo André Maggi Figura 9 – Vista aérea parcial: Colheita de
Fonte: JOSEPH, Pat110
. soja/Fazenda Tanguro/Grupo André Maggi
Fonte: MAGGI, Grupo André111
.
A figura 10 mostra a evolução dos dez maiores municípios, segundo a produção de soja em
Mato Grosso nas safras de 1990 a 2006. Os municípios que mais se destacaram na produção de
soja nos dezessete anos analisados foram Sorriso, Campo Novo do Parecis, Sapezal, Diamantino,
Primavera do Leste, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Itiquira, Campos de Júlio e Campo Verde.
Ficaram notórias duas fases de expansão protagonizadas por dois municípios. Na primeira
fase expansionista que vai de 1990 a 1996, predominou a liderança de Campo Novo do Parecis, cuja
produção média atingiu, aproximadamente, 619 mil toneladas, município que liderou por seis vezes
a produção de soja. Já na segunda fase, surge o município de Sorriso, que inicia a partir da safra de
1997, com 684.767 toneladas, uma trajetória notável de crescimento na produção, mantendo-se,
desde então, na liderança, com uma produção média de 1997 a 2006 de, aproximadamente, 1,31
milhão de tonelada, e de 932 mil toneladas de 1990 a 2006, conforme a figura 10.
De acordo com os dados fornecidos pelo IBGE112
, apesar de Sorriso ter perdido participação
na produção de soja na penúltima safra, ainda assim sustenta, disparadamente, o topo no ranking
mato-grossense. Na safra de 1990, Sorriso participou com 8% da produção total; já em 1995, 9%;
melhora sensivelmente sua participação na safra de 2000 (13,54%); teve uma pequena redução na
safra de 2005, mas recupera-se em 2006, com 11,48%, apesar de a produção de soja de Mato
110
JOSEPH, Pat. Virgínia Quartely. 2 out. 2006. Disponível em:
< http://www.brazilntl.com/states/matogrosso/ >. Acesso em: out. 2006. 111
MAGGI, Grupo André. 05 dez. 2007. 112
IBGE. Produção agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 15 nov. 2007. Disponível em: < http://www.sidra.ibge.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
50
Grosso ter sofrido uma redução de 12,20%, ou seja, produziram-se 2,1 milhões de toneladas a
menos do que na safra de 2005.
Já o município de Campo Novo do Parecis teve sua participação reduzida ao longo do
período analisado: de 12,20% da produção total de Mato Grosso em 1990, atingiu 17,78% em 1995,
mas registrou uma retração significativa em 1997, de 11%; caiu ainda mais nas safras de 2000, 2005
e 2006 que foram de, respectivamente, 9,33%, 6% e 5,57%, de acordo com a figura 10.
Figura 10 – Mato Grosso: Evolução dos dez maiores municípios produtores de soja, nas safras de 1990 a
2006
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1.600.000
1.800.000
2.000.000
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
(to
nela
da)
Campo Novo do Parecis Campo Verde Campos de Júlio Diamantino
Itiquira Lucas do Rio Verde Nova Mutum Primavera do Leste
Sapezal Sorriso
Fonte: IBGE/ Sidra - Produção Agrícola Municipal
Nota: Os municípios de Sapezal e Campos de Júlio só começaram a produzir soja com expressão comercial, a partir da safra de 1997.
Fonte: IBGE113
.
Nota: Os municípios de Sapezal e Campos de Júlio só começaram a produzir soja com expressão comercial
a partir de 1997.
O potencial de três municípios produtores de soja no Estado foi notado, apesar de situarem-
se bem distante da produção de Sorriso. São eles, Sapezal, Campo Novo do Parecis e Nova Mutum.
Um fenômeno importante que deve ser observado está relacionado aos municípios de Sapezal e
Campos de Júlio. Os dois municípios que passaram a fazer parte da estatística oficial do IBGE, a
partir da safra de 1997, tiveram um acentuado crescimento na última década. Os municípios de
Sapezal e Campos de Júlio, no período das safras de 1997 a 2005, tiveram crescimentos de,
113
IBGE. Produção agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 30 nov. 2007. Disponível em: < http://www.sidra.ibge.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
51
respectivamente, 135% e 197%. A competitividade do município de Sapezal foi marcante no
referido período, pois, do 4º. lugar na produção conquistado em 1997, atingiu a 2ª. posição nas
safras de 2002, 2004 e 2005 e 3º. lugar em 2006. Já o município de Campos de Júlio manteve uma
participação média na produção total mato-grossense de, aproximadamente, 3,5%.
Em se tratando do papel da soja mato-grossense no cenário nacional, pode-se afirmar que,
desde o final da década de 1990, tem exercido um papel destacado, não apenas em função da
liderança nacional na produção e produtividade, mas também na geração de divisas decorrentes das
exportações do complexo soja (grãos, farelo e óleo) para o Brasil. Contribui, inclusive, para o
equilíbrio da Balança Comercial brasileira via superávit primário.
Segundo Dubreuil114
et al., um dos principais objetivos da política agrícola brasileira levada
a cabo nos anos 70, ou seja, transformar o Cerrado num grande celeiro agrícola, notadamente, o
Estado de Mato Grosso, foi alcançado no limiar do séc. XXI:
Em aproximadamente 30 anos, Mato Grosso tornou-se uma das regiões mais
produtivas do Brasil. Observa-se que as atividades agrícolas mantiveram-se, por
um longo período, em níveis insignificantes e reservados a uma demanda local
pouco importante. A expansão da frente pioneira agrícola e a colonização de vastos
espaços do Centro-Oeste a partir dos anos 70 modificaram profundamente o mapa
da localização das áreas de produção, atendendo a um conjunto de objetivos, entre
os quais levar Mato Grosso à posição de maior produtor de grãos do Brasil.
Ressalta-se que no início do século 21, esse objetivo foi alcançado, em vistas das
cifras absolutas de produção agrícola.
Segundo os dados do IBGE115
, verifica-se ao longo de três décadas que ocorreu uma
mudança regional em termos de área plantada com soja no Brasil. A região tradicional representada
pelo Paraná, Rio Grande do Sul, ou seja, região Sul, perdeu espaço na área plantada para a região de
expansão: Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul. Considerando-se as safras de 1977/78 a
1989/90, a região tradicional representava, aproximadamente, 63% da área plantada total, enquanto
a região de expansão, apenas 37%. Já na safra de 1990/91 a 1999/2000, a região tradicional perde a
liderança nacional em termos de área plantada com soja de 47% contra 53% da região de expansão.
Mantém a liderança nas safras de 2000/01 a 2006/07 estimada em 62% contra 38% da região
tradicional.
114
DUBREUIL, Vincent et al. Evolução da fronteira agrícola no Centro-Oeste de Mato Grosso: municípios de Tangará
da Serra, Campo Novo do Parecis e Diamantino. Cadernos de Ciência e Tecnologia, Brasília, v. 22, nº. 2, p. 467,
maio. ago. 2005. 115
IBGE, 30 nov. 2007.
52
A tabela 15 e a figura 11 mostram a evolução da produção de soja no Brasil, segundo os
maiores Estados produtores nas safras de 1977/78 a 2006/07. Constata-se que os maiores estados
produtores de soja, atualmente, no Brasil, são Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e
Mato Grosso do Sul.
Tabela 15 - Brasil: Evolução da produção de soja, segundo os principais estados produtores,
nas safras de 1977/78 a 2006/07
Safra Produção (mil toneladas)
MT PR RS GO MS BR
1977/78 8,0 3.150,0 4.676,0 98,0 472,0 9.726,0
1978/79 26,0 4.050,0 3.600,0 225,0 849,0 10.200,0
1979/80 116,9 5.420,0 5.581,8 449,5 1.267,2 14.887,4
1980/81 230,0 5.240,0 6.139,0 429,0 1.413,0 15.484,8
1981/82 360,7 4.262,0 4.251,5 576,0 1.468,4 12.890,9
1982/83 606,0 4.325,0 5.200,5 703,0 1.786,0 14.532,9
1983/84 934,0 4.114,0 5.404,0 922,2 1.916,9 15.340,5
1984/85 1.653,6 4.448,5 5.710,1 1.266,1 2.561,7 18.211,5
1985/86 1.910,0 2.568,0 3.261,0 1.133,3 1.900,4 13.207,5
1986/87 2.387,0 3.853,9 5.056,0 1.026,0 2.308,8 17.071,5
1987/88 2.750,0 4.770,8 3.615,0 1.356,0 2.548,2 18.127,0
1988/89 3.689,7 5.054,5 6.262,8 1.980,0 2.860,0 23.929,2
1989/90 2.900,8 4.572,0 6.438,6 1.410,8 1.934,4 20.103,3
1990/91 2.607,0 3.617,4 2.354,0 1.659,0 2.299,7 15.394,5
1991/92 3.484,8 3.415,3 5.791,5 1.804,0 1.929,3 19.418,6
1992/93 4.197,8 4.720,0 6.293,0 1.968,0 2.229,0 23.042,1
1993/94 4.970,0 5.327,8 5.691,6 2.387,1 2.439,8 25.059,2
1994/95 5.440,1 5.534,8 6.150,6 2.133,1 2.426,4 25.934,1
1995/96 4.686,8 6.241,1 4.402,3 2.046,2 2.045,9 23.189,7
1996/97 5.721,3 6.565,5 4.796,6 2.478,0 2.155,8 26.160,0
1997/98 7.150,0 7.191,0 6.615,6 3.372,0 2.281,7 31.369,9
1998/99 7.134,4 7.723,3 4.764,4 3.417,7 2.740,1 30.765,0
1999/2000 8.801,2 7.130,4 4.965,0 4.072,6 2.500,9 32.890,0
2000/01 9.640,8 9.502,3 5.636,0 4.158,0 3.129,6 38.431,8
2001/02 11.733,0 5.420,4 5.610,5 5.420,4 3.278,6 42.230,0
2002/03 12.949,4 10.971,0 9.631,1 6.359,6 4.103,8 52.017,5
2003/04 15.008,8 10.036,5 5.594,4 6.147,1 3.324,8 49.792,7
2004/2005 17.937,1 9.707,3 2.854,9 6.985,1 3.862,8 52.304,6
2005/06* 16.700,4 9.645,6 7.776,1 6.533,5 4.445,1 55.027,1
2006/07** 15.359,0 11.915,6 9.924,6 6.114,0 4.881,3 58.421,5
Fonte: Fonte: CONAB116
.
Nota: (*) Dados preliminares, sujeito a mudanças; (**) Dados estimados, sujeito a mudanças.
116
CONAB. Séries históricas das safras. Central de Informações agropecuárias. 05 dez. 2007. Disponível em:
< http://www.conab.gov.br >. Acesso em: dez. 2007.
53
No intervalo das safras de 1977/78 a 2004/05, o Estado de Mato Grosso foi o que obteve
maior crescimento na produção de soja (224.113%), seguido pelos Estados de GO, MS e PR que
obtiveram, respectivamente, 7.027%, 718% e 208%, ao contrário do RS que sofreu uma redução de
38,95%.
Cabe observar que houve muitas oscilações para baixo na produção de soja em todos os
Estados, como repercussão das quebras de safras ocorridas no Brasil. Houve apenas seis quebras de
safras em Mato Grosso no referido período, a menor de todos os Estados, sendo que a maior
ocorreu na safra de 1989/1990 (21,4%) ou 788,9 mil toneladas e a menor, na safra de 1998/99
(0,2%) ou 15,6 mil toneladas (Tabela 15 e Figura 11).
Os dados do IBGE117
indicaram que no período das safras de 1977/78 a 1998/99 a liderança
na produção de soja brasileira era ocupada ora pelo Estado do Rio Grande do Sul, ora pelo Paraná,
mas principalmente pelo Rio Grande do Sul com 14 lideranças e apenas oito do Paraná. Também
observou-se que os Estados de Goiás e Mato Grosso revezavam-se do terceiro ao sétimo lugares.
A trajetória expansionista da soja mato-grossense foi notável não apenas em termos de área
plantada, mas, principalmente, em produção. De último lugar na safra de 1977/78, cuja produção foi
de 8 mil toneladas de soja, passa a ocupar o 4º. lugar na safra de 1983/84 com 934 mil toneladas, o
3º. lugar duas safras depois, passa a ocupar o 2º. lugar a partir da safra de 1990/91 com 2.607 mil
toneladas, cai para 3º. lugar nas safras de 1992/93 a 1994/95, recupera o 2º. lugar na safra de
1995/96, mantendo-se aí até a safra de 1998/99 e, finalmente, passa a ocupar a liderança brasileira
na produção de soja a partir da safra de 1999/2000 com 8.801,2 mil toneladas, produtividade que
atingiu 3.030 kg/ha. Desde então, mantém essa posição. O último recorde na produção de soja
mato-grossense aconteceu na safra de 2004/05 com 17.937,1 mil toneladas, 84% superior ao
segundo colocado, o Estado do Paraná, com 9.707,3 mil toneladas, de acordo com a tabela 15.
Além disso, vale ressaltar que a maior parte da produção de soja mato-grossense é destinada
às exportações na forma do complexo soja (grãos, farelo e óleo). Estima-se que 30% da produção
estadual seja consumida pelo mercado interno e 70% seja exportada. O Estado de Mato Grosso
consolidou-se como um dos líderes na exportação de soja nacional a partir do final dos anos 90. Ao
contrário dos demais estados, Mato Grosso manteve uma trajetória de expansão produtiva da soja,
apesar de verificarem-se algumas quebras de safra em alguns períodos (Figura 11), causadas, em
parte, por variações climáticas e doenças associadas à soja.
117
IBGE. Produção agrícola municipal. Banco de dados agregados. Sistema IBGE de recuperação automática
(SIDRA). 3 nov. 2007. Disponível em: < http://www.sidra.ibge.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
54
Segundo dados do IBGE118
, a maior queda em termos de área plantada com soja no Brasil,
considerando-se o período das safras de 1977/78 a 2006/07, verificou-se na safra de 1990/91
(15,7%) ou redução de 1,8 milhão de hectares, abrangendo as áreas plantadas nos cinco maiores
Estados produtores como Paraná, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Goiás,
cujas reduções foram de, respectivamente, 14%, 26,8%, 8,6%, 16,2% e 16%.
A figura 11 mostra duas reduções consecutivas na produção de soja mato-grossense, uma
prevista para a safra de 2005/06, outra estimada para a safra de 2006/07. Reputa-se como causas
principais os problemas associados a variações do clima, oscilações internacionais no preço da
commoditie, flutuações excessivas na taxa de câmbio, relativa dificuldade no financiamento da
safra, principalmente custeio e investimento.
Figura 11 – Brasil: Evolução da produção de soja, segundo os maiores estados produtores, nas safras de
1977/78 a 2006/07
0,0
2.000,0
4.000,0
6.000,0
8.000,0
10.000,0
12.000,0
14.000,0
16.000,0
18.000,0
20.000,0
1977
/ 78
1978
/ 79
1979
/ 80
1980
/ 81
1981
/ 82
1982
/ 83
1983
/ 84
1984
/ 85
1985
/ 86
1986
/ 87
1987
/ 88
1988
/ 89
1989
/ 90
1990
/ 91
1991
/ 92
1992
/ 93
1993
/ 94
1994
/ 95
1995
/ 96
1996
/ 97
1997
/ 98
1998
/ 99
1999
/ 20
00
2000
/ 01
2001
/ 02
2002
/ 03
2003
/ 04
2004
/ 05
2005
/ 06
*
2006
/ 07
**
(mil
to
nel
ada)
MT PR RS GO MS
Fonte: CONAB
119.
Nota: (*) Dados preliminares, sujeitos a mudanças. (**) Dados estimados, sujeitos a mudanças.
A participação na produção brasileira de soja em grãos segundo os principais estados
produtores, nas safras de 1977/78 a 2006/07 é demonstrado pela tabela 16 a seguir.
118
IBGE, 3 nov. 2007. 119
CONAB. Séries históricas das safras. Central de informações agropecuárias. 14 nov. 2007. Disponível em:
< http://www.conab.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
55
Tabela 16 - Participação na produção brasileira de soja em grãos segundo os principais
estados produtores, nas safras 1977/78 a 2006/07
Safra
Participação (%)
MT PR RS GO MS
Part. (%) total dos
cinco estados
1977/78 0,08 32,39 48,08 1,01 4,85 86,41
1978/79 0,25 39,71 35,29 2,21 8,32 85,78
1979/80 0,79 36,41 37,49 3,02 8,51 86,22
1980/81 1,49 33,84 39,65 2,77 9,13 86,87
1981/82 2,80 33,06 32,98 4,47 11,39 84,70
1982/83 4,17 29,76 35,78 4,84 12,29 86,84
1983/84 6,09 26,82 35,23 6,01 12,50 86,64
1984/85 9,08 24,43 31,35 6,95 14,07 85,88
1985/86 14,46 19,44 24,69 8,58 14,39 81,57
1986/87 13,98 22,58 29,62 6,01 13,52 85,71
1987/88 15,17 26,32 19,94 7,48 14,06 82,97
1988/89 15,42 21,12 26,17 8,27 11,95 82,94
1989/90 14,43 22,74 32,03 7,02 9,62 85,84
1990/91 16,93 23,50 15,29 10,78 14,94 81,44
1991/92 17,95 17,59 29,82 9,29 9,94 84,58
1992/93 18,22 20,48 27,31 8,54 9,67 84,23
1993/94 19,83 21,26 22,71 9,53 9,74 83,07
1994/95 20,98 21,34 23,72 8,23 9,36 83,62
1995/96 20,21 26,91 18,98 8,82 8,82 83,75
1996/97 21,87 25,10 18,34 9,47 8,24 83,02
1997/98 22,79 22,92 21,09 10,75 7,27 84,83
1998/99 23,19 25,10 15,49 11,11 8,91 83,80
1999/2000 26,76 21,68 15,10 12,38 7,60 83,52
2000/01 25,09 24,73 14,66 10,82 8,14 83,44
2001/02 27,78 12,84 13,29 12,84 7,76 74,50
2002/03 24,89 21,09 18,52 12,23 7,89 84,62
2003/04 30,14 20,16 11,24 12,35 6,68 80,56
2004/2005 34,29 18,56 5,46 13,35 7,39 79,05
2005/06* 30,35 17,53 14,13 11,87 8,08 81,96
2006/07** 26,29 20,40 16,99 10,47 8,36 82,49
%Part. (média)
(1977/78 a
2006/2007)
16,86 24,33 24,35 8,38 9,78 83,69
%Part. (média)
(1994/95 a
2004/2005)
25,27 21,86 15,99 11,12 8,01 82,25
Fonte: Conab120
.
Nota: (*) Dados preliminares; (**) Dados estimados, ambos sujeitos a mudanças.
120
CONAB, 14 nov. 2007.
56
Pela tabela 16, constata-se que os cinco maiores estados brasileiros produtores colheram, em
média, mais de 83% da soja nacional, nas safras de 1977-78 a 2006-07 e 82% nas safras de 1994-95
a 2004-05. Mato Grosso produziu também, nos respectivos períodos, 16,86% e 25%, em média. A
maior participação do Estado na produção nacional de soja ocorreu na safra de 2004-05 com
34,29%. Embora a participação produtiva de MT nas duas últimas safras tenha caído, atualmente,
ainda lidera a produção nacional dessa oleaginosa.
2.1.3 Capacidade de armazenamento e processamento de soja em Mato Grosso
Nos anos de 1970, eram freqüentes as notícias na mídia acerca de perdas na produção
agrícola mato-grossense em virtude da carência de infra-estrutura de armazenamento, que
constituíam-se geralmente de armazéns de origem governamental.
Já a partir dos anos 90 esse fato tornou-se menos freqüente, pois instalaram-se em Mato
Grosso as tradings companies que aumentaram significativamente a capacidade armazenadora do
Estado, embora também tenham concentrado esse instrumento de logística.
Com o advento da globalização econômica, a soja tornou-se uma commoditie, cujo preço é
disputado internacionalmente, ou seja, para manter-se no mercado, os custos de produção devem ser
competitivos. Neste caso, a infra-estrutura de armazenamento da soja no contexto da logística
produtiva é muito importante, pois, invariavelmente, pode interferir seja na qualidade, seja no preço
final do produto.
De acordo com a CONAB121
, da eficiência no armazenamento da produção de soja
dependerá não só a “produtividade”, mas a “logística”:
O armazenamento representa uma atividade de apoio fundamental para as etapas de
escoamento e comercialização, visto que a proximidade das unidades
armazenadoras, locais de produção, mercados consumidores, portos e indústrias de
beneficiamento possibilitam a racionalização de transporte e a alocação eficiente
dos estoques. A tecnologia aplicada nas atividades agrícolas implica aumentar a
produtividade, a qualidade e a eficiência da logística.
Segundo CASTRO, José Augusto. Exportação – aspectos práticos e operacionais, p. 51, “As tradings companies,
juridicamente denominadas empresas comerciais exportadoras, são reconhecidas no Brasil pelo Decreto Lei n.1.248, de
29/11/72, o qual define critérios específicos para sua constituição e regulamenta sua forma de atuação. Os objetivos
sociais das tradings são bastante amplos, pois podem atuar indistintamente na exportação, importação, mercado interno,
agenciamento de operação e representação comercial”. 121
CONAB. Situação de armazenagem no Brasil. 14 mar. 2006. Disponível em: < http://www.conab.gov.br >.
Acesso em: mar. 2006.
57
Monié122
enfatiza a importância da capacidade de armazenar a soja como fator primordial na
competição do “agronegócio” mato-grossense:
Os dispositivos logísticos voltados para a circulação de grãos requerem, além de
eixos de circulação, sistemas de armazenamento sofisticado, devido ao evidente
descompasso existente entre a concentração sazonal da oferta e o caráter constante
da demanda e do consumo ao longo do ano. A disponibilidade de armazéns revela-
se, então, estratégica ao longo do circuito de produção, transporte e distribuição da
soja, cuja qualidade depende das condições de armazenamento. Por isso, o
ordenamento territorial da rede de armazéns é outra variável fundamental da
competitividade do agronegócio mato-grossense.
De acordo com a CONAB123
, observou-se que o crescimento da capacidade de estocagem
ocorrida no Brasil em 2006 foi heterogênea e não atendeu a toda a demanda:
[...] a capacidade de armazenamento ocorrido no Brasil até novembro de 2006,
apesar de ter superado a produção nacional, nota-se que ainda existem „déficits‟ em
várias regiões, pois esse crescimento não ocorreu de forma homogênea em várias
regiões brasileiras (Grifos da autora).
A CONAB124
, afirma que a concentração de armazéns de grandes empresas recebedoras de
soja interfere na disponibilização de espaços para outros produtos agrícolas:
[...] a região Centro-Oeste apresenta uma peculiaridade que se destaca das demais
regiões. Em que pese a capacidade estática desta região ser superior à respectiva
produção, há carência de armazéns em várias microrregiões, e a elevada
capacidade estática das empresas que recebem, basicamente, soja geram a falta de
espaços localizados para o recebimento de outros produtos.
A partir de 2006, houve um incremento do número de estabelecimentos destinados ao
armazenamento da produção agrícola junto à CONAB125
, os quais decorreram apenas de uma
exigência legal para liberação de recursos públicos, conforme o enunciado a seguir.
122
MONIÉ, Fréderic. Transporte e expansão da fronteira da soja na BR-163: Estado de Mato Grosso. In: MAITELLI,
Gilda Tomasini; ZAMPARONI, Cleusa. A. G. P. (Orgs.) et al. Expansão da soja na pré-amazônia mato-grossense:
impactos socioambientais. Cuiabá, MT: EdUFMT, 2007, p. 161. 123
CONAB, 14 mar. 2006. 124
Idem. 125
Idem.
58
O crescimento observado no Mato Grosso, no qual os produtores de soja foram
beneficiados com grandes volumes de recursos para as operações de PEPRO e
PESOJA, não decorreu de novos investimentos e sim da obrigatoriedade dos
armazéns estarem cadastrados na CONAB [...] a partir de 2006, a CONAB
institucionalizou a obrigatoriedade do produto agrícola que estiver amparado por
qualquer dos instrumentos de comercialização do Governo Federal, estar
devidamente depositado em armazéns cadastrados no Sistema Nacional de
Unidades ao produtor Rural e Pesoja (Prêmio para Equalização do Valor de
Referência da Soja em grão), entre outros.
Por último, a CONAB126
, através do relatório “Situação de armazenagem no Brasil”,
elaborou um perfil de armazenamento para Mato Grosso no período de 1990 a 2005, no qual
enfatiza um “déficit” na capacidade de armazenar grãos em determinadas localidades:
[...] nos últimos quinze anos (1990 a 2005) a produção agrícola do Mato Grosso
cresceu 580%, passando de 3.991,6 para 23.167,2 mil toneladas. Esse incremento
foi em decorrência tanto do aumento de área, como do incremento no rendimento
médio. Perante esse aumento na produção agrícola, a necessidade de unidades
armazenadoras para a guarda da safra tem se tornado crítica em algumas regiões.
[...] a capacidade de armazenamento exige elevadas somas de investimentos, não
tem acompanhado, ao longo dos anos, o ritmo de crescimento da produção,
verificando-se assim déficit em determinadas áreas que estão se alavancando como
novas potências agrícolas. A falta de armazéns em algumas regiões do Estado é
preocupante, pois existem cidades que não dispõem de estruturas para o
armazenamento da produção local, o que obriga o produtor a arcar com elevados
custos de produção, como é o caso dos municípios de Confresa, Porto Alegre do
Norte, São José do Xingu, Santa Cruz do Xingu, Nova Maringá, Comodoro,
Cotriguaçu e Porto dos Gaúchos. Há também municípios com demanda reprimida
em relação a armazenamento: Querência, Boa Esperança, Tapurah, Cláudia,
Cáceres, Paranaita, Vera, Água Boa, Brasnorte e Sinop.
Os maiores municípios de Mato Grosso, segundo a capacidade de armazenamento e tipo de
armazém cadastrado junto à CONAB127
em 2007, são demonstrados através da tabela 17. Constata-
se que a capacidade estática de armazenamento do Estado é de 23.329.836 toneladas,
aproximadamente 55% da região Centro-Oeste, ficando os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e
o Distrito Federal com 45% da capacidade remanescente. “Situa-se na região Sul a maior
capacidade de armazenamento, 41,54% ou 50,67 milhões de toneladas”.
Pela tabela 17, pode-se verificar que há uma grande concentração da capacidade estática de
armazenamento nos maiores municípios produtores de soja mato-grossenses que representam juntos
126
CONAB, 14 mar. 2006. 127
Idem.
59
mais de 62% ou 14.629,61 mil toneladas da capacidade total, localizados, principalmente, nos
municípios de Sorriso (10,30%), Primavera do Leste (9,07%), Lucas do Rio Verde (5,59%), Campo
Novo do Parecis (5,47%) e Nova Mutum (4,30%). Infere-se que existe uma nítida tendência de
concentração e instalação de estruturas de armazenamento agrícola próximo a regiões produtoras de
soja no Estado.
Tabela 17 - Mato Grosso: Maiores municípios segundo a capacidade de armazenamento e tipo de
armazém cadastrado junto à CONAB, 2007*
Estado/ Município
Convencional Graneleiro Bateria de
Silos
Demais
tipos Total
Part.
(%) Capacidade
(mil t)
Capacidade
(mil t)
Capacidade
(mil t)
Capacidade
(mil t)
Capacidade
(mil t)
Total Estadual 3.328,86 13.239,11 5.265,08 1.496,78 23.329,84 100,00
Campo N. do Parecis 250,31 488,64 489,99 47,81 1.276,74 5,47
Cuiabá 472,59 232,19 5,71 84,36 794,85 3,41
Diamantino 66,93 554,18 90,55 64,13 775,78 3,33
Ipiranga do Norte 8,47 372,98 59,43 14,70 455,58 1,95
Lucas do Rio Verde 123,88 661,59 428,35 89,70 1.303,52 5,59
Nova Mutum 50,30 749,45 156,61 45,89 1.002,26 4,30
Primavera do Leste 122,68 1.221,69 514,89 257,02 2.116,28 9,07
Querência 411,14 176,21 385,62 9,20 982,17 4,21
Rondonópolis 238,76 646,82 220,66 38,98 1.145,22 4,91
São J. do Rio Claro 7,59 409,33 105,17 65,80 587,89 2,52
Sapezal 127,43 516,13 228,04 86,94 958,53 4,11
Sinop 5,48 921,50 151,17 7,86 1.086,01 4,66
Sorriso 144,71 1.570,95 621,17 66,20 2.403,03 10,30
Tapurah 11,54 324,14 167,86 33,06 536,60 2,30
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da CONAB128
Nota: (*) Dados referentes a armazéns cadastrados junto à CONAB até agosto de 2007.
A etapa de armazenamento corresponde a uma das etapas da cadeia produtiva da soja, na
qual operam grandes empresas nacionais e multinacionais denominadas tradings companies. As
principais tradings que atuam em Mato Grosso neste segmento são: a Bunge Alimentos S.A., ADM
Brasil, Grupo Amaggi e a Cargil. Depreende-se que as grandes empresas que atuam no Estado de
128
CONAB. Capacidade de armazenamento no Brasil. Central de informações agropecuárias. 15 set. 2007.
Disponível em: < http://www.conab.gov.br >. Acesso em: set. 2007.
60
Mato Grosso, têm o poder de atuar em várias etapas da cadeia produtiva da soja, algumas atuam
desde a colheita até a comercialização e distribuição.
Apesar de Cuiabá não produzir soja em grande escala, ainda assim possui uma significativa
capacidade de armazenamento, aproximadamente 795 mil toneladas, ou 3,41% de participação da
capacidade total, conforme a tabela 17. Dentre as prováveis razões para a ocorrência desse fato,
destacam-se: a disponibilidade de fábricas e o entroncamento rodoviário.
Monié129
comenta sobre a “geografia do armazenamento” de grãos no Estado de Mato
Grosso:
Por sua parte, a geografia do armazenamento indica um elevado grau de
concentração da capacidade de estocagem dos grãos nas três grandes áreas de
produção de soja: região de Rondonópolis, ao sul; da Chapada dos Parecis, no
Centro-Oeste do Estado; e de Sorriso, no Centro-Norte.
A figura 12 mostra a distribuição da capacidade de armazenamento agrícola, segundo os
tipos de armazenamento em 2007. Dentre os principais tipos de armazenamento, predomina o
graneleiro com 57%, seguido pelo bateria de silos 23%; convencional 14% e demais tipos 6%. Em
virtude de se utilizar grandemente o transporte rodoviário no Estado de Mato Grosso para
exportação de soja, decorre daí a predominância no uso do sistema de armazenamento graneleiro.
Figura 12 – Mato Grosso: Distribuição da capacidade estática de armazenamento agrícola,
segundo os tipos de armazenamento, 2007*
Graneleiro
57%
Bateria de silos
23%
Demais tipos
6%
Convencional
14%
Fonte: CONAB
130.
Nota: (*) Dados referentes a armazéns cadastrados junto à CONAB até agosto de 2007.
129
MONIÉ, 2007, p. 162. 130
CONAB, 15 set. 2007.
61
A tabela 18 identifica a capacidade de armazenamento estático, segundo as grandes
empresas exportadoras. Nota-se que as sete maiores empresas exportadoras de soja em Mato Grosso
detêm uma capacidade de armazenar 5.843.014 toneladas de grãos (25%), ou seja, ¼ da capacidade
total do Estado, as quais agregam 190 unidades armazenadoras. A maior concentração dos
armazéns das tradings e também de empresas nacionais situam-se nos principais municípios
produtores de soja, tais como Sorriso, Primavera do Leste, Campo Novo do Parecis, Lucas do Rio
Verde e Sapezal.
Tabela 18 - Mato Grosso: Capacidade estática de armazenamento agrícola, segundo as
grandes empresas exportadoras de soja, 2007*
Empresa Capacidade (toneladas) Nº. de
unidades
Grupo Amaggi 1.709.095 54
Grupo Bunge 1.724.110 58
Adm do Brasil Ltda. 790.579 22
Cargil Agrícola S.A. 956.746 27
Caramuru Armazéns Gerais Ltda 151.727 15
Louis Dreyfus Commodities Brasil 337.840 7
Sperafico da Amazônia S.A. 172.917 7
Total 5.843.014 190
Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados da CONAB131
Nota: (*) Dados referentes a unidades cadastradas junto à CONAB até agosto de 2007.
A tabela 18 evidencia que, dentre as tradings, o Grupo Bunge é aquele que possui a maior
capacidade de estocagem (1.724.110 toneladas), seguido de perto pelo Grupo Amaggi com
1.709.095 toneladas, ficando a Empresa Sperafico da Amazônia S.A. com a menor capacidade de
armazenamento (172.917 toneladas). Constata-se que as 190 unidades de armazenamento das
tradings e demais empresas representam apenas 9,38% do total de unidades do Estado (2025). Esse
fato indica que existe no Estado uma predominância de pequenas e médias unidades armazenadoras
de grãos.
131
CONAB, 17 set. 2007.
62
Vale ressaltar que a capacidade de armazenamento das tradings já foi muito superior no
início dos anos 2000, de lá pra cá vem caindo, em virtude do significativo aumento da capacidade
de pequenos e médios produtores rurais e também das cooperativas agropecuárias.
Em se tratando da capacidade de esmagamento de soja no Brasil, Schlesinger132
afirma que,
[...] em virtude do desestímulo provocado pela lei Kandir, o percentual de
esmagamento de soja em 2004 foi de, aproximadamente, 58% da produção de
grãos, sendo que no mundo esse percentual representa 87%. A partir dos anos 90,
as quatro gigantes do agribusiness mundial que atuam no Brasil: Bunge, Cargil,
ADM e Coimbra (do Grupo francês Louis Dreyfus) passaram a enfatizar a
industrialização da soja e a ampliar continuamente o domínio do setor.
É notório o predomínio das tradings sobre a cadeia da soja mato-grossense, onde o poder
exercido pelo capital chega a controlar diversas etapas do processo produtivo, desde o plantio até
mesmo comercialização da soja, com ênfase nas exportações.
Schlesinger133
também destaca o grande poder exercido pelas tradings no mundo, onde
formam um verdadeiro “oligopólio”, “ditam os preços de mercado” e orientam até mesmo a “Bolsa
de Valores de Chicago”:
No ano de 2005, elas devem participar com 61% do total das exportações de grãos,
farelo e óleo e com 59% do esmagamento interno. Se assim for, pelo menos 32
milhões de toneladas serão negociadas pelas respectivas Tradings. Os fatores
fundamentais para o domínio do mercado de grãos pelas tradings são relacionados
a sua capacidade de financiar o plantio – incluindo a compra de sementes,
agrotóxicos e equipamentos – e o domínio sobre toda a logística de distribuição. O
volume de soja atualmente subordinado à atuação destas empresas em todo o
mundo lhes permite um amplo controle de preços do produto em âmbito mundial.
[...] essas empresas formam um tipo de oligopólio de compras e ditam os preços de
mercado. [...] a Bolsa de Mercadorias de Chicago pode até ser um referencial, mas
na hora de fazer os preços reais elas determinam as margens de negociação.
Nesse contexto, cabe ao produtor rural ser apenas um tomador de preços, visto que dada a
natureza da soja ser uma commoditie agrícola, o preço é determinado internacionalmente, via Bolsa
de Chicago.
132
SCHLESINGER, Sérgio. O grão que cresceu demais – a soja e seus impactos sobre a sociedade e o meio ambiente.
Rio de Janeiro: Fase, 2006, p. 48-49. 28 jul. 2007. Disponível em: < http://boel-latinoamericana.org >. Acesso em: jul.
2007. 133
Idem.
63
Através da tabela 19, identifica-se a capacidade instalada de processamento, refino e envase
de óleos vegetais por estados nos anos de 2001 e 2006. Constata-se que o Estado de Mato Grosso
detém 14,9% da capacidade de processamento de oleaginosas instaladas no Brasil, ocupando o
terceiro lugar no ranking nacional. O Estado do Paraná ocupa o primeiro lugar com 23% e
capacidade de processamento de 32.950 toneladas/dia, seguido pelo Rio Grande do Sul, com 16,4%
e 23.600 toneladas/dia. Os Estados de Goiás e São Paulo ocupam o quarto e o quinto lugares com,
respectivamente, 18.800 toneladas/dia (13,1%) e 16.400 toneladas/dia (11,4%).
Tabela 19 - Brasil: Capacidade instalada de processamento, refino e envase de óleos vegetais por
Estado (2001 e 2006) (tonelada/ dia)
Unidades da
Federação
Processamento Part.
%
Refino Part.
%
Envase Part.
% 2001 2006 2001 2006 2001 2006
Paraná 31.500 32.950 23,0 2.730 3.160 15,8 2.302 1.366 8,6
Rio Grande do Sul 19.000 23.600 16,4 1.860 1.950 9,7 2.370 2.180 13,7
Mato Grosso 10.820 21.400 14,9 600 2.450 12,2 600 1.755 11,0
Goiás 8.660 18.800 13,1 1.420 2.770 13,8 1.370 2.287 14,3
São Paulo 14.700 16.400 11,4 6.256 5.850 29,2 3.836 4.700 29,5
Mato Grosso do Sul 7.330 9.360 6,5 490 540 2,7 690 520 3,3
Minas Gerais 5.750 6.600 4,6 1.050 1.270 6,3 968 1.084 6,8
Bahia 5.200 5.500 3,8 570 970 4,8 795 1.000 6,3
Santa Catarina 4.130 4.034 2,8 530 450 2,2 450 400 2,5
Piauí 260 2.460 1,7 120 120 0,6 180 180 1,1
Amazonas ............ 2.000 1,4 ............ ............. ........ .......... ............ ..........
Pernambuco 400 400 0,3 500 400 2,0 500 400 2,5
Ceará 200 ............ ......... 42 80 0,4 33 80 0,5
TOTAL 107.950 143.504 100,0 16.168 20.010 100,0 14.094 15.952 100,0
Fonte: ABIOVE134
.
Nota: (....) Dados não disponibilizados.
Embora o Estado do Piauí tenha uma pequena expressão no processamento de oleaginosas
no Brasil de 1,7% em 2006, foi o Estado que obteve o maior crescimento no período de 2001 e
2006, com 846,15%, seguido por Goiás (117%) e Mato Grosso (97,78%), de acordo com a tabela
19. 134
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INDÚSTRIAS DE ÓLEOS VEGETAIS (ABIOVE), 30 nov. 2007. Disponível
em: < http://www.abiove.com.br >. Acesso em: nov. 2007.
64
O fato de o Estado de Mato Grosso liderar a produção nacional de soja, desde a safra de
1999-2000, contribuiu para o aumento significativo da capacidade de processamento de oleaginosas
no Estado, capacidade esta que praticamente dobrou no período de 2001 a 2006, de acordo com a
ABIOVE135
.
Ainda pode ser notado pela tabela 19 que, considerando-se a capacidade instalada de refino,
há uma liderança do Estado de São Paulo de 29,2% com 5.850 toneladas/dia, seguido pelos Estados
do Paraná (15,8%) ou 3.160 toneladas/dia, Goiás (13,8%) ou 2.770 toneladas/ dia e Mato Grosso
(12,2%) ou 2.450 toneladas/dia.
A evolução da capacidade instalada de refino evidenciou um crescimento na maioria dos
estados brasileiros, com exceção de São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco e Ceará, que tiveram
uma retração de, respectivamante, 6,49%, 15,09%, 20% e 47,5%.
Dentre os Estados que obtiveram crescimento, destaca-se Mato Grosso, que teve
quadruplicada sua capacidade de refinar soja, de 600 toneladas/dia no ano de 2001, para 2.450
toneladas/dia em 2006, sendo seguido pelos Estados de Goiás e da Bahia com respectivamente,
95% e 70% de incrementos na capacidade de refinação (Tabela 19).
A capacidade de envase também é demonstrada na tabela 19, que caracteriza o Estado de
São Paulo como o primeiro do ranking nacional com 29,5%, seguido por Goiás (14,3%), Rio
Grande do Sul (13,7%), Mato Grosso (11%) e Paraná 8,6%.
É oportuno ressaltar que as agroindústrias da soja que operam em Mato Grosso,
principalmente nos últimos cinco anos, têm ampliado significativamente o número de plantas no
Estado, voltadas para o processamento, refino e envase da soja.
Nesse contexto, observa-se uma tendência das empresas em ampliar ou instalar
agroindústrias próximas à localização da fonte de matéria-prima. Esse fato pode ser considerado
como decisão estratégica de atuação no mercado.
Apesar de grande parte das indústrias de refino e envase concentrarem-se nas regiões
Sudeste e Sul do país, principalmente nos Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, nota-
se uma tendência do deslocamento de grandes empresas para a região de expansão da soja (Centro-
Oeste), notadamente nos Estados de Mato Grosso e Goiás.
135
ABIOVE, 30 nov. 2007.
65
Staevie136
assevera que as agroindústrias da região sul (tradicionais produtoras e
esmagadoras de soja brasileira) vêm perdendo participação relativa nas últimas décadas para a
região de expansão:
A agroindústria da soja do Rio Grande do Sul, pioneira em termos nacionais, a
partir de meados dos anos 80, e mais fortemente a partir da década de noventa,
começa a perder participação relativa no tocante à capacidade de esmagamento,
sobretudo para as indústrias dos estados da região Centro-Oeste que surgem no
encalço da própria cultura. Em 1970, a capacidade de esmagamento de soja
instalada no Rio Grande responde por cerca de 45% do total nacional. Ao final da
década de 90, esta participação cai para algo em torno de 24%.
A tabela 20 mostra que, das seis empresas atuando na agroindústria de esmagamento de
soja, apenas duas operam com menos de 1.500 toneladas/dia, ou seja, a Agrossoja e a Encomind.
Tabela 20 - Mato Grosso: Capacidade instalada de esmagamento de soja, segundo as maiores empresas,
de 2003 a 2006 (toneladas/dia) e (toneladas/ano)
Empresa Município
Capacidade
de
esmagamento
(tonelada/
dia)
Quantidade
Esmagamento
em 2003 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2004 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2005 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2006 (t)
Amaggi* Cuiabá 1500 450.000 450.000 450.000 450.000
Agrossoja Sorriso 240 30.000,00 28.000,00 18.740,00 .....................
Speraffico Cuiabá 1.800 368.000,00 315.000,00 359.000,00 320.000,00
Bunge
Alim. S.A. Cuiabá 2.000 572.170,00 375.284,00 287.340,00 Desativada
Bunge
Alim. S.A. Rondonópolis 5.000 1.174.490,00 1.404.168,00 1.651.190,00 1.612.000,00
ADM Brasil Rondonópolis 6.500 1.084.599,51 1.405.405,82 1.601.296,94 1.600.350,00
Encomind Cuiabá 900 315.000,00 330.000,00 319.000,00 320.000,00
TOTAL ..................... 17.940 3.994.259,51 4.307.857,82 4.686.566,94 4.302.350,00
Fonte: FAMATO/IMEA137
.
Nota: (*) Dados estimados pelo autor com base na capacidade de esmagamento diária fornecida pela empresa.
136
STAEVIE, Pedro M. Concentração industrial: o caso da indústria gaúcha de esmagamento de soja, p.2. 18 jun.
2007. Disponível em: < http://www.ie.ufu.br > Acesso em: jun. 2007. 137
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO ESTADO DE MATO GROSSO (FAMATO). Instituto
Mato-Grossense de Economia Agrícola (IMEA), Cuiabá, 2007.
66
É oportuno evidenciar que, à medida que aumenta o tamanho das plantas industriais, “[...] os
custos médios de esmagamento decrescem, baseando-se nas estimativas elaboradas pela empresa de
consultoria Sparks sobre economias de escala na atividade de processamento de soja”138
.
Nesse cenário de intensa competitividade entre as empresas e considerando-se que elas
operam num ambiente de oligopólio, seja concentrado, seja diferenciado, uma redução de custos no
processamento de soja pode significar muito para a empresa, em termos de rentabilidade e
lucratividade e até mesmo de permanência no negócio.
A experiência recente das pequenas empresas num ambiente oligopolizado tem demonstrado
que elas não conseguem se manter no mercado por muito tempo, caso não ampliem sua capacidade
de atuação, ou seja, empresas como a Agrossoja e a Encomind deverão ampliar suas respectivas
capacidades de esmagamento, sob pena de serem adquiridas pelas tradings ou até mesmo incorrer
no risco de ter inviabilizado o empreendimento.
A tabela 21 indica que somente quatro empresas que atuam em Mato Grosso estão na faixa
de 1.500 a 6.500 t/dia, as quais se encontram na faixa de redução de custos de, respectivamente,
7,0% e 5,6%.
Tabela 21 - Economias de escala no esmagamento de soja:
redução de custos de processamento esperado de acordo com
o aumento da planta (%)
Aumento de escala Redução de custos
De 300 para 600 t/dia 15,0%
De 600 para 1.000 t/dia 3,5%
De 1.000 para 1.500 t/dia 7,0%
De 1.500 para 2.000 t/dia 5,6%
Fonte: Sparks Companies139
.
A maior capacidade de esmagamento de soja em Mato Grosso, atualmente, apesar de ter
desativado uma de suas empresas, é do Grupo Bunge Alimentos S.A., com 37,47%, tendo
esmagado, em 2006, 1.612.000 toneladas de soja, seguida de perto pela ADM Brasil com 1.600.350
toneladas e pela Amaggi com 450.000 toneladas. As empresas Speraffico e Agrossoja tiveram, em
138
LAZZARINI, S. G; NUNES, R. Competitividade do sistema agroindustrial da soja. São Paulo: PENSA/USP,
1998, p. 300. 139
SPARKS COMPANIES, Inc. The Future of the Global Oilseeds Industry. In LAZZARINI, S. G.; NUNES, R.
Competitividade do sistema agroindustrial da soja. São Paulo: PENSA/FIA/USP, 2000, p. 300. (mimeo).
67
2006, uma idêntica quantidade de esmagamento: 320.000 toneladas. As empresas de maior
capacidade de esmagamento de soja estão localizadas na cidade de Rondonópolis, cuja capacidade
total supera 74%, tais como a Bunge Alimentos S.A. e ADM do Brasil, conforme pode ser
visualizado pela tabela 22.
Tabela 22 – Mato Grosso: Participação na capacidade de esmagamento de soja, segundo as maiores
empresas, 2003 a 2006 (%)
Empresa Município
Capacidade
de
esmagamento
(tonelada/
dia)
Quantidade
Esmagamento
em 2003 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2004 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2005 (t)
Quantidade
Esmagamento
em 2006 (t)
Amaggi* Cuiabá 8,36 11,27 10,45 9,60 10,46
Agrossoja Sorriso 1,34 0,75 0,65 0,40 ......................
Speraffico Cuiabá 10,03 9,21 7,31 7,66 7,44
Bunge
Alim. S/A Cuiabá 11,15 14,32 8,71 6,13 ........................
Bunge
Alim.S/A Rondonópolis 27,87 29,40 32,60 35,23 37,47
ADM Brasil Rondonópolis 36,23 27,15 32,62 34,17 37,20
Encomind Cuiabá 5,02 7,89 7,66 6,81 7,44
TOTAL 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: FAMATO/IMEA140
.
Nota: (*) Dados estimados pelo autor com base na capacidade de esmagamento diária fornecida pela empresa.
(....) Dado não disponível.
De acordo com o estudo feito por Fraga e Medeiros141
, verificou-se que “[...] a crescente
inserção de grandes firmas agroindustriais da cadeia da soja nos mercados regionais tem alterado a
estrutura da indústria através da concentração do mercado”.
Os referidos autores142
, ainda defendem que o resultado de concentração da estrutura de
mercado pode variar, dependendo se a análise é para uma “região”, “estado” ou “firma”, conforme
o enunciado a seguir.
140
FAMATO. IMEA, 2007. 141
FRAGA, Gilberto Joaquim.; MEDEIROS, Natalino Henrique. A indústria de esmagamento na região de expansão da
soja: uma releitura dos índices HHI e CR4. In: VIII Encontro de Economia da Região Sul – ANPEC SUL, 2005, Porto
Alegre, RS. Anais... Porto Alegre, UFRGS/ PPGE, 2005, p. 10. 142
Idem.
68
Através da mensuração dos níveis de concentração para as indústrias de
esmagamento da soja, tanto o índice HHI quanto o índice CR4, mostrou que está
havendo um processo de desconcentração de mercado em nível de região de
expansão [...] olhando-se apenas para os resultados observados, essa indústria se
classificaria como um mercado onde ocorre ausência de concentração. No entanto,
tais índices não permitem essa classificação, quando calculado para cada estado
dessa mesma região. Por outro lado, numa releitura dos índices HHI e CR4 [...]
levando-se em conta a identidade jurídica (razão social), a estrutura de mercado é
concentrada, uma vez que uma mesma firma possui mais de uma planta industrial
(estabelecimento) no mesmo estado e/ou em estados diferentes (Grifos dos
autores) 143
.
O mesmo estudo ainda indicou a predominância de grandes empresas que atuam a jusante e
a montante na cadeia da soja mato-grossense, as quais formam um verdadeiro oligopólio do tipo
diferenciado, onde ditam não só os preços de comercialização, mas também a margem de lucros144
.
Na próxima seção, são identificados os meios de transporte mais utilizados no Estado de
Mato Grosso com vistas ao escoamento da produção de grãos, principalmente a soja.
2.1.4 Modalidades de transporte utilizadas em Mato Grosso
Em função de uma extensa superfície territorial, o tipo de transporte utilizado para superar
longas distâncias influencia não apenas o custo de produção, mas também a lucratividade do
produtor de soja.
Vieira145
afirma que o preço do produto soja é bastante afetado, em função do modal de
transporte utilizado:
No Brasil, a maior parte do transporte é realizado por rodovias, o que acaba
onerando o produto. No caso específico da safra da soja, que envolve algumas
etapas como a transferência do grão aos armazéns ou às indústrias esmagadoras, ou
aos portos com destino às exportações, essa etapa afeta a competitividade do
produto.
143
FRAGA, MEDEIROS, 2005, p. 1-11. 144
Idem. 145
VIEIRA, 2002, p. 99.
69
Oliveira et al.146
sustentam que, para escoar a grande produção de soja, o Estado de Mato
Grosso serve-se de uma vasta rede de transporte composta por “rodovias”, “ferrovia” e “hidrovias”,
com nítido predomínio do modal “rodoviário”:
No Estado de Mato Grosso predomina a modalidade de transporte rodoviário,
havendo 84.195 km de rodovias, dos quais 3.952 km são federais; 20.243 km são
estaduais e 60.000 km são municipais. Desse total, apenas 4.500 km são
pavimentados, sendo que 2.711 km (60%) são de jurisdição federal. As principais
rodovias foram criadas nas décadas de 60 a 80, visando à integração nacional,
como é o caso da BR 163 (Cuiabá – Santarém), BR 364 (Cuiabá – Porto Velho e
Cuiabá – Campo Grande). O sistema rodoviário total no Estado do Mato Grosso,
em 2000, era de 91.155,8 km. Tal sistema é composto por rodovias principais
(federais e estaduais), pavimentadas, não pavimentadas, em pavimentação, em
implantação e planejadas, que promovem a integração entre municípios e as
ligações de média e longa distâncias, e rodovias secundárias (municipais/ vicinais).
O sistema ferroviário do Estado conta com um trecho de Alto Taquari (MT) –
Inocência (MS) com 300 km, totalizando 410 km de Alto Taquari a Aparecida do
Taboado (MS). No entanto, foi contemplado no projeto da ferrovia, já iniciado e
concedido à empresa FERRONORTE (Ferrovia Norte do Brasil S.A.), com
extensão de 5.228 km. O Sistema Hidroviário completa a infra-estrutura de
transporte do Estado; este restringe-se aos rios Paraguai, Araguaia e Teles Pires,
correspondendo à Hidrovia Paraná-Paraguai, Hidrovia Araguaia-Tocantins e
Hidrovia Teles Pires-Tapajós, respectivamente.
De acordo com a Seplan147
, boa parte dos rendimentos da agricultura dentro da fazenda é
desperdiçada pelo oneroso custo de transporte:
Mato Grosso é o Estado com mais altos custos de transporte dos seus produtos para
os mercados consumidores. [...] a maior parte do território mato-grossense tem
custos entre US$ 50 e US$ 60 dólares a tonelada de carga, acima do apresentado
pelos demais estados do Centro-Oeste; apenas o Estado do Acre e parte de Roraima
têm custos tão altos para escoamento da produção. Embora não comprometam a
competitividade da agropecuária mato-grossense, os custos de transporte reduzem
bastante as vantagens da produtividade (competitividade dentro da porteira), ao
elevar os preços finais dos produtos nos mercados consumidores.
146
OLIVEIRA, Nilton Marques et al. Análise econômica do transporte de soja em grão no Estado de Mato Grosso: In:
1º. Congresso Luso-Brasileiro de Tecnologias de Informação e Comunicação na Agropecuária, 2004, Santarém –
Portugal. Anais... Santarém: Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa, 2004, p. 4. 147
MATO GROSSO. Seplan, 18 ago. 2007.
70
Segundo a Revista Conjuntura Econômica (apud SEPLAN148
), o custo de transporte da soja
mato-grossense é duas vezes maior que a norte-americana, o qual reflete na “competitividade”
brasileira:
[...] a agropecuária de Mato Grosso é imbatível em competitividade, mas vê grande
parte do seu impressionante diferencial competitivo ser literalmente jogado fora
pelos gravíssimos problemas de transporte do país. No caso da soja [...] 25% da
receita está comprometida com os custos internos de transporte. [...] o que decorre
de um dispêndio médio de US$ 50 dólares por tonelada, mais que o dobro dos US$
20 dos custos de transporte do produto nos Estados Unidos.
De acordo com Oliveira et al.149
, maiores “investimentos” públicos na melhoria da rede de
transportes, mas principalmente na maior utilização do modal “ferroviário” trariam “resultados”
mais produtivos, de acordo com a citação a seguir.
[...] a pavimentação das principais rodovias estaduais no Estado produziria efeitos
significativos em termos de redução do custo total de distribuição de soja, em
relação à solução atual. Com a simulação da ferrovia, o efeito seria maior. Esses
resultados podem oferecer subsídios para o governo, no sentido de possibilitar uma
melhor percepção quanto aos investimentos em infra-estrutura de transporte.
Conforme dito anteriormente, o trecho com ferrovia em Mato Grosso conta,
aproximadamente, com 300 km de extensão (Alto Taquari – Inocência/MS), não chegou ainda à
capital (Cuiabá) e tampouco aos grandes municípios produtores de soja do Estado.
Nesse contexto, Borges150
enaltece a possível chegada da ferrovia a Cuiabá como forma de
tornar mais “eficiente” o sistema de transporte: “[...] a estrada de ferro tão esperada por Cuiabá, há
muito tempo já estaria ligando todo o Estado de Mato Grosso ao restante da nação e, nesse sentido,
contribuindo de forma bem mais efetiva para a produção de soja”.
Na ótica da Seplan151
, “[...] os elevados custos de transporte decorrem da combinação das
grandes distâncias e da insuficiência das estradas que cortam o Estado e ligam os grandes centros
produtores, agravados pela deterioração, nos últimos anos, da malha existente”.
148
REVISTA CONJUNTURA ECONÔMICA. In: MATO GROSSO. Seplan, ago. 2007, p. 173. 149
OLIVEIRA et al., 2004, p. 1. 150
BORGES, Fernando Tadeu de Miranda. 23 nov. 2006. Família do trem e terra da soja. Disponível em:
< http://www.cofecon.org.br >. Acesso em: nov. 2006. 151
MATO GROSSO, SEPLAN, 18 ago. 2007, p. 171.
71
A Confederação Nacional de Transporte – CNT (apud OLIVEIRA et al.)152
, através de uma
pesquisa desenvolvida em 2005 para os estados brasileiros, apresenta um quadro recente para a
malha de transporte mato-grossense:
[...] mostra a gravidade da situação da malha de transporte: 3,2 mil quilômetros de
um total de aproximadamente 3,7 mil km da malha rodoviária estadual (85,5%)
foram classificadas como deficientes, e as restantes consideradas como ruins
(9,3%) e péssimas (5,2%). Além do transporte rodoviário, Mato Grosso conta
também com alternativas de ferrovias e hidrovias, que abrem quatro rotas de acesso
aos mercados consumidores no Brasil e no mundo, apresentados no mapa: a. eixo
formado pelas rodovias BR-364 e BR-174, pela ferrovia Ferronorte e pela hidrovia
do Rio Madeira; b. eixo constituído pela rodovia BR-158, pela Ferrovia Norte-Sul
e pela hidrovia Araguaia/Tocantins; c. eixo que engloba a rodovia BR-163, as
ferrovias Noroeste e Ferronorte e as hidrovias Paraná/Paraguai e Teles Pires-
Tapajós; d. complexo multimodal de transporte constituído pelas rodovias BR-060
e BR-070 e pela ferrovia Unaí/Pirapora.
A figura 13 identifica “[...] quatro novas rotas de acesso aos mercados consumidores no
Brasil e no mundo”153
.
Figura 13 – Mapa: Custo de transporte no território brasileiro
Fonte: MATO GROSSO, SEPLAN154
.
152
OLIVEIRA et al. 2004, p. 173. 153
Idem. 154
Idem.
72
De acordo com Pasin155
, na última década, surgiram em Mato Grosso novos caminhos para
escoar a produção de soja, os quais tiveram êxito comprovado:
[...] nos últimos dez anos, duas rotas alternativas para o escoamento da soja mato-
grossense lograram êxito: o corredor hidroviário do Madeira; e a rota norte pela
rodovia Cuiabá – Santarém (BR-163). O corredor hidroviário do Madeira vem
sendo utilizado com êxito desde 1997 pela Amaggi para escoar a safra de soja do
noroeste de Mato Grosso (Chapada dos Parecis) e na região de Vilhena, em
Rondônia. [...] Esse itinerário proporciona uma redução média nos custos de
aproximadamente US$ 25 por tonelada em relação às rotas tradicionais (para o Sul
e Sudeste). No fim dos anos 1990, com a queda no preço internacional da
commoditie e a realização de novos investimentos nos portos da rota Sul-Sudeste,
essa rota perde importância relativa, mas com tendência de alta. Rodovia Cuiabá –
Santarém (BR-163): serve especialmente à movimentação de cargas da região norte
do Estado e, apesar de serem reduzidas as possibilidades de utilização no período
de chuvas, o volume de soja escoado pelo Porto de Santarém tornou-se
representativo a partir de 2005 (6,8% do total exportado pelo Estado). [...] 2007
(7,7% do total). Adicionalmente, o Corredor para a Região Sul, embora tenha
apresentado tendência declinante ao longo da última década, segue relevante nas
exportações de soja mato-grossense.
O autor ainda afirma que, na última década, houve um incremento na utilização do modal
ferroviário no Estado, com reflexos positivos na redução do custo de transporte:
[...] até meados dos anos de 1990, toda a exportação era realizada pelos portos do
Sul, Sudeste e, residualmente, pelos do Centro-Oeste. O corredor tradicional de
escoamento da produção agrícola era através de rodovias em direção aos Portos de
Paranaguá e de Santos. Foi somente a partir do programa federal de concessões que
a participação das estradas de ferro na matriz logística tornou-se mais robusta. De
fato, o crescimento da participação do Porto de Santos de 1996 a 2003 está ligado à
maior utilização das ferrovias para o transporte da soja. A partir de investimentos
realizados pela Ferronorte e Ferroban, as ineficiências de transporte ferroviário
foram parcialmente resolvidas, com redução no custo de transporte. A Ferronorte
chega ao município de Alto Taquari (MT) e, através da ponte rodoferroviária sobre
o rio Paraná... [...], liga-se à malha ferroviária de São Paulo, atingindo o Porto de
Santos (SP). Essa é, atualmente, a rota mais utilizada para o escoamento da soja em
grãos de Mato Grosso. Em 2006, foram mais de 3,5 milhões de toneladas, ou cerca
de um terço do total exportado do Estado156
.
155
PASIN, Jorge Antonio Bozoti. A logística de exportação da soja em grãos de Mato Grosso. Revista do BNDES, Rio
de Janeiro, v. 14, n. 27, p. 201-202, jun. 2007. 156
Idem, p. 199.
73
3 NO CONTEXTO DAS TEORIAS ECONÔMICAS: O COMPLEXO SOJA
O presente capítulo tem por objetivo revisitar a polêmica conceitual concernente ao
desenvolvimento econômico, levantar os diversos papéis desempenhados pela agricultura no
processo de desenvolvimento econômico e contextualizar a teoria da base exportadora com o
complexo soja de Mato Grosso.
3.1 A polêmica conceitual sobre desenvolvimento econômico
A teoria do crescimento e do desenvolvimento é no mínimo tão antiga quanto o
famoso livro de Adam Smith publicado em 1776, intitulado Investigação sobre a
Natureza e as Causas da Riqueza das Nações. As questões macroeconômicas do
crescimento e a distribuição da renda entre salários e lucros foram as principais
preocupações de todos os grandes economistas clássicos, entre eles Adam Smith,
Thomas Malthus, John Stuart Mill, David Ricardo e Karl Marx157
.
É oportuno ressaltar que na literatura econômica não há um consenso a respeito do conceito
de desenvolvimento econômico, tendo em vista a existência de inúmeras variações e correntes de
pensamento. Doravante buscar-se-á estabelecer um conceito que sirva de ponto de referência para
discussões posteriores.
Clemente e Higachi158
defendem que o desenvolvimento não se limita apenas à medição do
produto per capita:
O indicador mais amplamente utilizado para representar o nível de
desenvolvimento de uma região ou de um país é a renda per capita; no entanto as
deficiências desse procedimento são evidentes, principalmente quando não se
complementa com a medição de outros indicadores... [...] Para analisar o
desenvolvimento de forma abrangente, seria necessário considerar seus vários
aspectos, entre os quais cabe destacar o econômico, o social, o político e o cultural.
Os aspectos econômico e social são usualmente considerados em conjunto em
virtude da grande dificuldade de separá-los de forma satisfatória, e podem ser
analisados como representando o nível de vida da população. (Renda, emprego,
saúde, educação, alimentação, segurança, lazer, moradia e transporte).
157
THIRLWALL, Anthony P. A natureza do crescimento econômico – um referencial alternativo para compreender o
desempenho das nações. Brasília: IPEA, 2005, p. 17. 158
CLEMENTE, Ademir; HIGACHI, Hermes Y. Economia e desenvolvimento regional. São Paulo: Atlas, 2000, p.
130.
74
Ainda segundo os mesmos autores:
Parte da polêmica em torno do conceito de desenvolvimento consiste na
diferenciação entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico,
conforme muitos autores, refere-se ao crescimento da produção e da renda,
enquanto o desenvolvimento, à elevação do nível de vida da população159
.
É oportuno destacar que a literatura econômica tem demonstrado, através de estudos, que o
crescimento econômico via PIB per capita, observado em algumas regiões ou países, nem sempre
tem refletido positivamente na distribuição de riqueza e renda, principalmente, em países com
histórica concentração de renda como o Brasil.
Cabe inserir neste trabalho o conceito proposto por Mendes e Padilha Junior160
que
concordam acerca da extensão e polêmica gerada pelos conceitos de “desenvolvimento” e que
merecem ser estudado:
A terminologia desenvolvimento é muito ampla e seu significado é controvertido.
Os termos que sobressaem são „crescimento econômico‟ e „desenvolvimento
econômico‟ [...] o crescimento econômico tem sido definido como um processo
pelo qual a renda ou o produto nacional bruto (PNB) por habitante aumenta durante
um período, em razão dos ganhos contínuos na performance dos fatores produtivos.
Ressalta-se que o aumento do PNB per capita não significa, necessariamente, uma
melhoria no bem-estar geral de uma sociedade, uma vez que ele nada revela sobre
a distribuição da riqueza e da renda dentro dela (Grifos dos autores).
O conceito proposto por Mendes e Padilha Junior161
para “desenvolvimento” vai ao encontro
do raciocínio inserido neste trabalho, diferencia-se apenas em relação à forma de medi-lo:
[...] vincula-se mais à distribuição do produto, com a melhoria da qualidade de
vida, do bem-estar e com o grau de utilização da capacidade produtiva de um país.
[...] Um bom indicador do desenvolvimento econômico pode ser oferecido pela
extensão da infra-estrutura em uma economia. [...] Entre essa infra-estrutura estão:
as rodovias pavimentadas, as ferrovias, os portos marítimos e hidroviários, as redes
de comunicação e os suprimentos de energia, todos necessários para apoiar a
produção e a comercialização, ou seja, o agronegócio.
159
CLEMENTE; HIGACHI, 2000, p. 130. 160
MENDES; PADILHA JUNIOR, 2007, p. 23. 161
Idem, p. 24.
75
Schwartzman162
tem uma definição semelhante para “desenvolvimento”:
É um processo pelo qual a renda nacional de uma economia cresce por um longo
período de tempo. O „processo‟ implica na operação de certas forças que provocam
mudanças em variáveis estratégicas. Quando nos referimos à „renda real‟, estamos
preocupados em uma medida da produção de bens e serviços de uma economia,
eliminadas as flutuações de preços. A melhor medida desta produção seria o
Produto Nacional Líquido. [...] alguns indicadores importantes do desenvolvimento
sofrem modificações positivas à medida que a renda cresce. Se não for o caso, será
necessário adicionarmos à definição algumas qualificações. As mais importantes
seriam: a) que estivesse havendo um aumento da renda per capita; b) que estivesse
havendo uma melhoria na distribuição da renda ou que ao menos ela não piorasse;
c) que o número absoluto de pessoas abaixo de um determinado nível de renda real
esteja diminuindo; d) que as divergências regionais de renda per capita em relação
à média nacional não estejam se acentuando. [...] Poderíamos nos referir ainda à
necessidade de melhoria das condições vitais, tais como declínio da taxa de
mortalidade infantil, ou das condições sociais, como maior acesso à educação
(Grifos do autor).
Souza163
também defende que há uma diferença conceitual entre “crescimento econômico” e
“desenvolvimento econômico”:
O desenvolvimento econômico consiste na expansão contínua da renda per capita
de uma economia, com melhorias sistemáticas do bem-estar da população. Os
indicadores econômicos podem ser: percentual de residências com telefones,
produção de alimentos per capita, consumo de energia e fertilizantes, produção
bruta por empregado etc. Os indicadores sociais compreendem: número de pessoas
que recebem um salário mínimo ou menos, expectativa de vida ao nascer, taxa de
mortalidade infantil, analfabetismo entre adultos etc. O termo crescimento
econômico abrange apenas a expansão do produto nacional bruto, total ou per
capita, sem qualquer referência à melhoria dos indicadores referidos.
Segundo vários autores, procura-se demonstrar que existe um relativo consenso de que há
uma diferença conceitual entre crescimento e desenvolvimento econômico. Evidencia-se também,
uma relativa divergência acerca da forma ideal para medi-los, haja vista uma grande variedade de
indicadores que poderiam ser aplicados.
162
SCHWARTZMAN, 1973, p. 18-19. 163
SOUZA, Nali de Jesus (Coord.) et al. Introdução à Economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997, p. 333.
76
3.2 Os papéis desempenhados pela agricultura no desenvolvimento econômico de um país
Desde os economistas fisiocratas até os mais contemporâneos, diversos autores contribuíram
para o entendimento dos papéis da agricultura no desenvolvimento econômico de um país.
Corazza e Martinelli Junior164
, apoiados na escola fisiocrata, enfatizam o papel
desempenhado pela agricultura no desenvolvimento de um país:
Para François Quesnay, o fundador da Escola Fisiocrata, a riqueza das nações
dependeria da agricultura, o único setor produtivo da economia, uma vez que só a
terra teria a capacidade de multiplicar alimentos. Por isso, logicamente, era em
torno dela que deveria se organizar toda a atividade econômica do país. A
agricultura deveria receber também todos os favores do governo, pois de seu
desenvolvimento dependeriam todo o desenvolvimento econômico, as finanças do
Reino e o bem-estar social. O próprio comércio e a manufatura tinham seu
desenvolvimento atrelado ao desenvolvimento agrícola.
Machado165
afirma que os fisiocratas consideravam a “agricultura” como único setor
dinâmico da economia:
Os fisiocratas acreditavam que a indústria, o comércio e as profissões eram úteis,
mas estéreis, simplesmente reproduzindo o valor consumido na forma de matérias-
primas e subsistência para os trabalhadores. Para eles, a indústria apenas alterava a
essência, e o comércio apenas transferia de lugar uma riqueza que havia sido
produzida genuinamente pela agricultura ou, em maior extensão, pela natureza.
Sendo assim, somente a agricultura (e, possivelmente, a mineração) era produtiva,
pois produzia um excedente, um produto líquido acima do valor dos recursos
utilizados na produção. Os fisiocratas pensavam que apenas a agricultura era capaz
de agregar valor ao produto.
Segundo Corazza e Martinelli Junior166
, “David Ricardo representou o mais alto
desenvolvimento da economia política clássica.” Este último atribui à agricultura papéis centrais no
desenvolvimento de uma nação, conforme descrito a seguir.
164
CORAZZA, Gentil; MARTINELLI JUNIOR, Orlando. Agricultura e questão agrária na história do pensamento
econômico. Revista Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.10, n.19, p. 13. nov. 2002. 165
MACHADO, Luiz. Grandes Economistas V: Quesnay e os fisiocratas. Conselho Federal de Economia
(COFECON). 4 jun. 2007. Disponível em: < http://www.cofecon.org.br >. Acesso em: jun. 2007. 166
CORAZZA, Gentil; MARTINELLI JUNIOR, op. cit.
77
A importância da agricultura no pensamento de Ricardo é tal que a evolução do
produto da terra terá o poder de determinar não só a tendência do desenvolvimento
econômico, mas, também, a distribuição da riqueza entre as classes sociais, como
se pode deduzir desde as primeiras passagens de sua obra maior.
Os mesmos autores ainda citam a posição de Karl Marx acerca dos papéis da agricultura no
desenvolvimento econômico:
[...] para Marx, a ordem histórica do desenvolvimento econômico não estabelece a
hierarquia ou o peso de cada setor no âmbito da economia como um todo. Trata-se
de ver a hierarquia das categorias na economia dominada pelas leis do capital, não
pelas leis naturais. Dessa forma, embora a agricultura tenha sido o setor mais
importante na economia e tenha contribuído decisivamente em fases precedentes
do mesmo, quer fornecendo insumos e mão-de-obra, quer transferindo renda para o
desenvolvimento urbano-industrial, no momento em que a agricultura familiar de
subsistência se transforma em agricultura capitalista produtora de mercadorias,
toda sua dinâmica passa a estar subordinada à lógica de produção capitalista, cujo
objetivo é a acumulação e a valorização do capital167
.
Segundo os economistas clássicos Johnston e Mellor (apud FIGUEIREDO)168
, a agricultura
possui funções bem-definidas na economia:
[...] a agricultura tem diversos papéis a desempenhar no curso do processo de
desenvolvimento econômico, devendo-se destacar os cinco mais importantes: (1)
fornecer alimentos para a população total; (2) fornecer capital para a economia,
especialmente para a expansão do setor não agrícola; (3) fornecer mão-de-obra
para o crescimento e diversificação de atividades na economia; (4) fornecer ganhos
cambiais com os quais os insumos críticos para o processo de desenvolvimento
poderão ser adquiridos no exterior; e (5) proporcionar um amplo mercado para os
produtos do setor não-agrícola.
Timmer (apud SOUZA)169
, atribuiu à agricultura mais uma função, além das cinco
preconizadas pelos economistas clássicos, conforme citado a seguir.
167
CORAZZA; MARTINELLI JUNIOR. 2002, p. 22. 168
JOHNSTON, B. F.; MELLOR, J. W. The role of agriculture in economic development. In: FIGUEIREDO, M. G. de.
Agricultura e estrutura produtiva do Estado de Mato Grosso: uma análise insumo-produto. 2003. 187 f. Dissertação
(Mestrado em Ciências) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2003. 169
TIMMER, C. P. Agriculture and economic development revisited. In: SOUZA, Nali de Jesus (Coord.) et al.
Introdução à economia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1997, p. 358.
78
[...] espera-se da agricultura o cumprimento de uma sexta função no processo de
desenvolvimento: reduzir a pobreza no meio rural. [...] Ao Estado caberia a tarefa
[...] de promover meios para a difusão de novas técnicas e aumentar a
produtividade agrícola. A elevação da renda dos agricultores, em decorrência disso,
apresenta-se como a solução para o cumprimento, sem conflitos, de todas as
funções da agricultura no processo de desenvolvimento.
Figueiredo170
observa que, embora a agricultura tenha perdido participação relativa no
produto nacional do Brasil, ao longo das últimas décadas, vem cumprindo as funções clássicas
tradicionais atribuídas a ela no “desenvolvimento” econômico:
No que se refere ao processo de desenvolvimento da economia brasileira é
importante notar que ao longo do século passado a agricultura deixou de ser o
principal setor em termos de participação na renda e no emprego; a transição para
uma economia eminentemente urbana se deu em relativo curto espaço de tempo. É
certo que a despeito da redução na participação sobre a renda nacional, o setor não
deixou de crescer e cumprir seus papéis no desenvolvimento do país, no sentido de
Johnston e Mellor (1961). Em especial, os últimos 30 anos foram marcados por
intensa modificação no padrão tecnológico da agricultura brasileira, a qual passou a
ser caracterizada pelo uso de máquinas, fertilizantes, defensivos e sementes
melhoradas.
Cabe inserir, nesse contexto, a obra de Castro171
“7 ensaios sobre a economia brasileira”,
onde indaga se “[...] a agricultura tem cumprido suas funções no processo de desenvolvimento
econômico brasileiro”.
Segundo Castro172
, são quatro os papéis incumbidos à agricultura no “[...] processo de
desenvolvimento econômico: a) geração [...] de um excedente de alimentos e matérias-primas; b)
liberação de mão-de-obra; c) criação de mercado; d) transferência de capitais”. O mesmo autor
ainda afirma que:
A geração de um excedente de alimentos e matérias-primas constitui, na realidade,
pré-condição mínima para a ocorrência do desenvolvimento econômico, ou seja,
somente quando a população, trabalhando na agricultura, consegue produzir além
de suas necessidades, torna-se possível a uma comunidade [...] iniciar um processo
de diferenciação de atividades e promover o surgimento da vida urbana. [...] A
obtenção de um excedente nas atividades agrícolas permite o desvio de mão-de-
obra para outras atividades. A contínua retirada de homens do campo foi sempre
170
FIGUEIREDO, 2003, p. 9-10. 171
CASTRO, Antônio Barros de. 7 ensaios sobre a economia brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária,
1977, p. 95. 172
Idem.
79
tida como uma das condições fundamentais do processo de desenvolvimento desde
que fornecida, às atividades urbanas, a mão-de-obra de que necessitavam para
expandir-se. [...] Para vários autores a insuficiência do mercado criado pela
agricultura opera como o maior entrave imposto pela agricultura ao
desenvolvimento econômico brasileiro. [...] Sendo a industrialização, em seus
primórdios, um desdobramento setorial, em que as atividades secundárias
despontam num mundo predominantemente agrícola, é de presumir-se que este
setor transfira recursos para a indústria nascente. As contribuições da agricultura
para a formação de capital nos demais setores podem efetivar-se através de vários
mecanismos, não sendo fácil isolá-los e muito menos quantificar as transferências
ocorridas173
.
Castro174
, no decorrer da obra, tece algumas considerações sobre a indagação feita
inicialmente:
[...] as economias exportadoras de alimentos e bebidas tropicais, matérias-primas
agrícolas etc. tendem, desde cedo, a desenvolver uma agricultura de mercado
interno, capaz de engendrar um volumoso excedente [...] No Brasil, não obstante a
elevação ocorrida no volume da mão-de-obra ocupada pela agricultura, o êxodo
rural, combinando com o crescimento vegetativo da população urbana, mostrou-se
mais que suficiente para atender à demanda de mão-de-obra nas atividades urbanas.
[...] é a mesma pobreza originária do campo que faz com que o ex-trabalhador rural
chegue à cidade não apenas sem economias, mas também desprovido de instrução
e qualificação. [...] Assim ao despejar excedentes demográficos nos centros
urbanos, a agricultura estava colaborando para a generalização e consolidação de
grandes disparidades distributivas. [...] a melhoria dos padrões de produtividade da
agricultura acarreta encomendas industriais maiores e, sobretudo, de maior impacto
dinamizador, na medida em que consolida a estrutura concentrada de propriedade
da terra. [...] deverá, pois, [...] confirmar [...] a sua estrutura distributiva, altamente
excludente e concentradora de renda [...] o aporte maior ou menor de recursos da
agricultura em termos de transferência de capital tem sua importância relativa
diminuída no nosso estilo de industrialização. [...] Neste contexto, perde muito de
sua importância a contribuição da agricultura para a formação de capital, sobretudo
em suas modalidades clássicas.
Vale ressaltar que, embora a obra de Antônio Barros de Castro tenha sido escrita há
aproximadamente 30 anos, ainda hoje guarda muitas semelhanças com a realidade da economia
agrícola atual. Se, por um lado, o setor agrícola brasileiro tem cumprido o seu papel no “processo de
desenvolvimento econômico”, embora perca sua importância ao longo do processo de
industrialização, por outro, a mesma agricultura também tem contribuído para o acirramento das
desigualdades sociais em várias regiões brasileiras.
173
CASTRO, 1977, p. 99–134. 174
Idem, p. 99–137.
80
3.3 A teoria da base exportadora
A concepção da base de exportação poderia ter surgido num contexto onde “[...] a
hegemonia das teorias clássicas dentro da Ciência Econômica “[...] começa a encontrar resistência
na década iniciada em 1950. Outros conceitos de desenvolvimento regional passam a ter grande
influência nos sistemas de planejamento [...]”175
.
Segundo Marinho176
, o precursor da Teoria da Base Exportadora é Douglas North:
O artigo Teoria da Localização e Crescimento Regional, de North (1955), é
reconhecidamente o marco inicial da teoria da base de exportação. Apesar do
conceito de base econômica ter sido empregado anteriormente por outros
estudiosos, é North que dá a esse conceito o caráter de teoria do desenvolvimento
regional (Grifos do autor).
De acordo com Vargas177
, apoiado na obra de North178
, assim foi descrita a teoria da base
exportadora:
Outra importante contribuição para a análise do desenvolvimento regional está na
„teoria da base de exportação‟ de Douglas North (1955), que teve origem quando
nos Estados Unidos os pesquisadores chegaram à conclusão de que existe um
conjunto de atividades econômicas motoras do crescimento regional. Essas
atividades básicas seriam as que destinam produtos aos mercados externos à região,
dentro ou fora do país. O eixo desse pensamento é que o aumento da produção da
base exportadora exerce um efeito multiplicador sobre as demais atividades, onde
as regiões obtêm maiores taxas de crescimento no longo do tempo. Este foi o caso
de diversos locais de países desenvolvidos, como nos Estados Unidos, em que
regiões inicialmente exportadoras de grãos, carnes e madeiras conseguiram em
seguida desenvolver uma atividade de mercado interno, em função da agricultura,
que logo se transformou em atividade industrial exportadora (Grifos do autor).
Na sua obra Elementos de Economia Regional, Richardson179
assim enuncia a Teoria da
Base de Exportação: “A Teoria da Base de Exportação oferece a forma mais simples do modelo de
renda regional.[...] Sua importância está no fato de que proporciona a estrutura teórica para muitos
estudos empíricos do multiplicador regional”.
175
VARGAS, 2005, p. 8. 176
MARINHO, Pedro Lopes. Exportação de cacau, crescimento e desenvolvimento regional no Sul da Bahia (1965 –
1980). Revista de Economia, Curitiba, Paraná: EdUFPR, v. 28-29, p. 8, 2002-2003. 177
VARGAS, 2005, p. 14. 178
NORTH, Douglas C. (1955). Teoria da localização e crescimento econômico regional. In: SCHWARTZMAN,
Jacques (Org.). Economia Regional. Belo Horizonte: Cedeplar, 1977. p. 291-13. (Textos escolhidos). 179
RICHARDSON, H. W. Elementos de Economia Regional, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.
81
Segundo Marinho180
, a teoria da base exportadora apóia-se na teoria de Keynes, quando dá
ênfase à “demanda agregada”:
Na teoria da base de exportação, as atividades econômicas de uma região se
dividem entre as que são produzidas para o mercado exportador (atividades de
exportação ou básicas) e as que são produzidas para o mercado interno (não básicas
ou residenciais). O crescimento de uma região, segundo essa teoria, está vinculado
à expansão de sua base de exportação. Essa expansão pode resultar: a) no
crescimento da demanda do bem exportado pela região, devido a um aumento na
renda na área de mercado, ou decorrente de mudança no gosto; b) por
melhoramento nos custos de processamento ou de transferência (transporte) dos
produtos de exportação da região em relação às regiões competidoras. Essa teoria
centra-se na demanda agregada, tendo portanto um enfoque Keynesiano. As
exportações (produto básico) são o motor inicial do crescimento regional,
crescimento esse determinado pelo multiplicador econômico regional.
O êxito da teoria da base exportadora concebida por North e aplicada à economia norte-
americana, não foi por acaso. Dependeu de alguns pressupostos básicos, conforme descrito por
Schwartzman181
:
Em primeiro lugar, a teoria é orientada para o desenvolvimento dos Estados
Unidos, isto é, ela é desenvolvida tendo em mente o caso americano. Mais
especificamente para regiões que cresceram na estrutura de instituições capitalistas,
que responderam às oportunidades de maximização de lucros e nas quais os fatores
de produção têm sido relativamente móveis. Além disso, as regiões não devem ter
problemas de pressão populacional. [...] ela se aplica, principalmente, a regiões que
estão nos estágios iniciais de desenvolvimento.
O mesmo autor, ainda sintetizando os pressupostos da teoria de North, afirma que a região
Nordeste do Brasil não poderia ser estudada, pois não se “enquadraria” neles:
Em resumo, estes pressupostos referem-se basicamente a regiões que ainda não
conheceram nenhum processo significativo de desenvolvimento, de baixa renda,
com pequena população, numa época em que predomina o sistema capitalista no
cenário mundial. Não se trata de regiões subdesenvolvidas. Estas se caracterizam
por já terem passado por um processo produtivo significativo, mas malogrado, e
terem uma grande população marginalizada e, conseqüentemente, baixa renda per
capita. Para darmos um exemplo próximo, a região Nordeste no século XVIII
poderia se enquadrar no tipo de região estudada por North, mas o Nordeste atual,
180
MARINHO, 2002-2003, p. 9. 181
SCHWARTZMAN, 1973, p. 40.
82
da segunda metade do século XX, certamente não se enquadraria nos pressupostos
acima182
.
Schwartzman183
defende que há outros fatores que influenciam o “desenvolvimento
regional”: “[...] as exportações são uma condição necessária para o desenvolvimento regional, mas
não o suficiente”. Além disso, “[...] uma teoria [...] deve focalizar os fatores críticos que
implementam ou impedem o desenvolvimento”.
O mesmo autor afirma que existem algumas “[...] condições suficientes para se deflagrar o
processo de desenvolvimento”184
, as quais são resumidas em “três pontos”:
1- dotação de recursos naturais da região. Se a base inicial de exportação, na
maioria das vezes um recurso natural, é tal que tenha uma grande vantagem
comparativa. [...] a atividade econômica da região se concentrará num único
produto. Se, por outro lado, a região tiver amplas possibilidades de produção. [...] a
base poderá se diversificar.[...] devido ao aparecimento de economias externas
oriundas da base inicial, principalmente infra-estrutura. 2 – As características do
produto de exportação - a) A função de produção da base de exportação. As
características tecnológicas de produção da base irão influenciar decisivamente o
padrão de distribuição da renda da região. b) „Linkage Effects‟ - A indústria de
exportação poder exercer dois tipos de efeitos sobre a região. 1) desenvolver outras
atividades produtivas que absorvam a sua produção ou lhe forneçam insumos e 2)
criar economias externas que incentivarão o surgimento de outras atividades. 3)
Variações de tecnologias e nos custos de transferência. O progresso tecnológico
pode aumentar a capacidade competitiva da indústria de exportação que, ao
deslocar a sua curva para direita, pode conseguir uma maior fatia do mercado
nacional, aumentando a renda regional (Grifos do autor)185
.
De acordo com Campos, Prando e Vidigal186
, a teoria da base exportadora originou-se da
“Teoria das Vantagens Comparativas de Heckscher-Ohlin”, na qual os fatores “produtivos”
desempenham papel fundamental:
A teoria da base de exportação é baseada na Teoria das Vantagens Comparativas
de Heckscher-Ohlin, em que os custos de produção são tomados numa perspectiva
ampla e as vantagens são consideradas em função de diferentes disponibilidades de
recursos naturais e de diferenças na organização do processo produtivo.
182
SCHWARTZMAN, 1973, p. 41. 183
Idem, p. 44. 184
Idem. 185
Idem, p. 45-46. 186
CAMPOS, PRANDO e VIDIGAL. As exportações como determinante de crescimento: o caso do Estado do Paraná
no período de 1990 a 2005. In: XLIV CONGRESSO DA SOBER, 23-27 jul. 2006, Fortaleza. Anais.... Fortaleza:
SOBER, 2006, p.6.
83
Nesse sentido, “[...] uma expansão na base de exportação de uma região/estado (suas
exportações brutas) induz a uma taxa maior de crescimento do produto”187
.
Campos et al.188
, enfatizam os “benefícios” de uma “economia” apoiada nas “exportações”:
[...] os benefícios de uma economia centrada no crescimento das exportações: i)
Complementar o mercado interno; ii) Gerar economias de escala; iii) Melhorar a
eficiência produtiva interna; iv) Melhorar o aproveitamento dos recursos
disponíveis; v) Interdependências tecnológicas e econômicas.
Schwartzman189
ressalta alguns pontos importantes concebidos por North:
A teoria se preocupa em estudar o processo de desenvolvimento de regiões
„jovens‟. A demanda pelos produtos exportáveis é um dado para a região, mas a
sua capacidade de atender a esta demanda e eventualmente aumentá-la dependerá
das condições internas da região (os custos de processamento do produto de
exportação) e de sua localização em relação aos mercados consumidores e às fontes
dos insumos necessários à produção. Mas as exportações não provocam
invariavelmente o desenvolvimento regional. Para que isto aconteça, é preciso que
a região possa manter e mesmo aumentar as suas exportações por um longo
período de tempo e que estas exportações provoquem o aparecimento de atividades
locais e, em algum tempo, novas bases de exportação (Grifos do autor).
Segundo Vargas190
, no Brasil há exemplos de produtos agrícolas cujas exportações
contribuíram para o crescimento econômico e desenvolvimento regional:
No Brasil, muitas regiões se desenvolveram com base nas exportações de alguns
produtos básicos. Na medida em que esses produtos proporcionavam renda
suficiente, havia impacto positivo sobre o crescimento econômico, os
investimentos em infra-estrutura e a dinamização dos serviços, do comércio e da
indústria. Um dos mais visíveis exemplos da importância da exportação para a
economia brasileira está no café.
Em Mato Grosso, os reflexos das exportações sobre a economia local podem ser observados,
de forma tímida, nas fases do ouro e da erva-mate e, de forma mais evidente, na expansão da soja.
Tais efeitos estão no melhoramento da infra-estrutura pública e no crescimento econômico que são
187
CAMPOS, PRANDO e VIDIGAL, 2006, p. 6. 188
Idem. 189
SCHWARTZMAN, 1973, p. 46-47. 190
VARGAS, 2005, p. 15.
84
notados através da ampliação do sistema de transporte e energia e, notadamente, pelo surgimento de
agroindústrias ligadas à cadeia da soja e à modernização da agricultura.
Apesar de se reconhecer a importância da teoria da base exportadora como teoria do
desenvolvimento regional, nota-se também que ela apresenta muitas limitações explicitadas através
do seu corpo teórico, as quais inviabilizam o estudo de uma região como a de Mato Grosso,
conforme descrito por Schwartzman191
:
[...] não existe ainda um corpo bem-estruturado de uma teoria do desenvolvimento
econômico regional. A teoria da base de exportação tem algumas limitações dadas
pelo seu interesse de análise (regiões novas, não subdesenvolvidas, de estrutura
econômica simples) e por não elaborar suficientemente um problema crucial para o
desenvolvimento em longo prazo das regiões: a escassez de fatores de produção e
sua mobilidade inter-regional.
O pensamento de Schwartzman é semelhante ao de Vargas192
:
Como qualquer outro modelo, a teoria da base de exportação corresponde a certa
visão ou interpretação do funcionamento da economia. Nesta, a ênfase dada à
procura é particularmente relevante para compreender os mecanismos de impulsão
do processo de crescimento da algumas regiões. [...] As atividades de mercado
interno não podem ser consideradas passivas e totalmente induzidas pela base
exportadora. A remessa de produtos ao mercado externo necessita do apoio de
determinados serviços de infra-estrutura básica, como transporte, portos e outros
meios de comunicação eficientes. A base exportadora por si só não explica
integralmente o crescimento econômico de uma região que se industrializa e
desenvolve, menos ainda o crescimento global.
A economia do Mato Grosso atual, embora se enquadre em alguns pressupostos da teoria da
base exportadora (a soja como base das exportações, abundância de terras, surgimento de
agroindústrias), não se encaixa em outros, tais como ser aplicável a regiões novas e não
subdesenvolvidas e pressupor livre mobilidade de fatores de produção e ligações inter-regionais
complexas. Mas, conforme foi discutido anteriormente, as tradings companies, que dominam a
agroindústria da soja mato-grossense, são caracterizadas como sendo oligopolistas, ou seja, operam
em ambiente marcado por oligopólios, seja diferenciado, seja concentrado. Há, conseqüentemente,
fortes barreiras à entrada de novas empresas e, naturalmente, pouca mobilidade de capital nesse
segmento. A teoria da base exportadora não se aplica, na sua integralidade, na análise do 191
SCHWARTZMAN, 1973, p. 64. 192
VARGAS, 2005, p. 15-16.
85
desenvolvimento regional, embora seja considerada por muitos autores um valioso instrumento
analítico.
Para tentar explicar o desenvolvimento econômico de Mato Grosso, devem-se considerar
outras variáveis exógenas, além das exportações, como investimentos autônomos inter e intra-
regionais, gastos dos governos (Federal, Estadual e Municipal), e investimentos externos diretos
(IEDs).
No próximo capítulo, buscar-se-á demonstrar os principais reflexos da expansão da soja
mato-grossense, nos seus aspectos econômico e social.
86
4 EXPANSÃO DA SOJA NA ECONOMIA DE MATO GROSSO NO PERÍODO DE
1995 a 2005
Este capítulo procura identificar os reflexos da expansão da soja na economia mato-
grossense. Ensejando o conceito de desenvolvimento econômico delimitado, anteriormente, serão
abordados os aspectos mais relevantes nas dimensões econômica e social.
4.1 Dimensão Econômica
Neste tópico aborda-se a dimensão econômica da expansão da soja no Estado, a qual tem
sido a mais emblemática, pois, na última década, o acentuado crescimento do PIB mato-grossense
tem sido bastante estudado pela literatura econômica brasileira.
O objetivo principal é analisar se o desempenho favorável das exportações do complexo soja
(grãos, farelo e óleo) mato-grossense representou um fator importante do seu crescimento
econômico.
Especificamente pretende-se mensurar a competitividade dos principais produtos da pauta
de exportações mato-grossenses no período de 1990 a 2006; discutir o desempenho e
competitividade do complexo soja, bem como comparar o grau de abertura às exportações,
importações e corrente de comércio de Mato Grosso perante o Brasil no referido período.
Como instrumento de análise, foram utilizados indicadores de desempenho, dentre eles o
índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR), as correlações das exportações e importações
com o PIB e as taxas médias de crescimento.
Uma forma bastante utilizada na literatura econômica para medir os “encadeamentos”, bem
como, as inter-relações setoriais é a Matriz Insumo-Produto de Leontief. Mas, no presente trabalho,
buscou-se medir os possíveis encadeamentos, bem como o possível efeito difusão, através de
indicadores econômicos e sociais, utilizando-se, sempre que possível, dados estatísticos dos dez
maiores municípios produtores de soja do Estado de Mato Grosso no período de 1995 a 2005.
4.1.1 As exportações de soja como fator importante no crescimento econômico mato-
grossense
O desempenho das contas externas do país, especialmente da balança comercial, tem
exercido um importante papel na economia brasileira, bem como no debate da política econômica
nos últimos anos, apesar dos déficits que beiraram pelos US$ 7 bilhões a.a., no período de 1995 a
2000.
87
No início dos anos 2000 as contas externas do país têm apresentado megasuperávits, as
quais tiveram seu melhor desempenho em 2006 com US$ 46,1 bilhões.
De acordo com Siqueira193
, estudos recentes têm comprovado que as exportações de soja
geram impactos positivos sobre a renda e o emprego domésticos e têm impulsionado o crescimento
econômico de várias regiões agropecuárias brasileiras.
Cavalcanti e Ribeiro194
enfatizam a polêmica gerada pelo papel das exportações: “Embora a
discussão refira-se, em grande parte, ao crescimento elevado das importações mediante a
liberalização comercial e estabilização macroeconômica, é certo que as exportações desempenham
um papel fundamental”.
Os mesmos autores defendem que as exportações, “[...] no novo contexto de abertura,
revestem-se de especial importância, por serem não apenas um elemento de ajuste das contas
externas, mas também de manutenção dos níveis de crescimento e emprego”195
.
É oportuno ressaltar que a economia brasileira passou por várias modificações no período
dos anos 80 para os 90, nos quais o Estado brasileiro deixou de ser o agente indutor do
“desenvolvimento” e passou a ser mais regulador, implantando uma política de liberalização
comercial, com destaque para o programa de privatizações das empresas estatais.
Tais mudanças econômicas são confirmadas por Cavalcanti e Ribeiro196
:
As transformações da economia brasileira na década de 90 significaram, em vários
sentidos, uma ruptura com o padrão de desenvolvimento prevalecente até a década
passada. Este padrão de desenvolvimento esteve sustentado em dois pilares
básicos. O primeiro foi a atuação do governo como principal agente do
crescimento, atuando como investidor em alguns setores; [...] e o segundo foi o
fechamento da economia à concorrência de produtos externos, por meio de
elevadas tarifas de importação, barreiras não-tarifárias, diversas e grandes
restrições de acesso ao câmbio (devido à histórica questão da „escassez de reservas‟
(Grifos do autor).
O Ministério da Agricultura197
enfatiza o grande potencial do “agronegócio” brasileiro e
também a sua competitividade, conforme a citação a seguir.
193
SIQUEIRA, 2006, p. 117-118. 194
CAVALCANTI, Marco A. F.; RIBEIRO, Fernando J. As Exportações brasileiras no período 1977/96:
desempenho e determinantes. Rio de Janeiro: IPEA, 1998. (Texto para discussão n. 545). 195
Idem. 196
Idem. 197
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Agronegócio brasileiro: uma
oportunidade de investimentos. 12 jun. 2007. Disponível em: < http://www.agricultura.gov.br >. Acesso em: jun. 2007.
88
O Brasil lidera o ranking mundial na produção e exportação de vários produtos
agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos
de frutas. Além disso, é um dos maiores nas vendas externas de soja, carne bovina,
carne de frango, tabaco, couro e calçados de couro. As projeções indicam que o
país também será, em pouco tempo, líder mundial na produção de algodão e
biocombustíveis.
Segundo Pereira198
, “A agricultura mato-grossense é responsável pela maior parte do
dinamismo vivenciado pela economia do Estado nos últimos anos. [...] o crescimento recente do
PIB de MT tem sido liderado pelo incremento da sua produção agropecuária”. A participação
percentual das atividades econômicas no valor adicionado bruto a preço básico de Mato Grosso no
período de 1995 a 2004 é demonstrada pela Tabela 23.
Tabela 23 - Mato Grosso: Participação percentual das atividades econômicas no valor adicionado
bruto a preço básico, 1995-2004
Atividades
econômicas 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Agropecuária 16,53 16,92 18,82 17,57 21,60 26,83 24,53 29,85 36,29 40,82
Comércio 15,68 12,84 11,90 11,93 12,21 12,06 12,88 11,28 10,12 8,84
Administração
pública 21,11 23,00 22,45 24,96 23,38 18,35 17,94 15,44 13,53 13,58
Indústria de
transformação 10,74 10,14 9,27 9,13 9,15 9,87 10,47 11,12 11,74 10,20
Outras atividades
econômicas 35,94 37,10 37,56 36,41 33,66 32,89 34,18 32,31 28,32 26,56
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: IBGE199
; MATO GROSSO, SEPLAN200
. Nota: Valores a preços correntes.
Enquanto a atividade agropecuária teve uma trajetória de nítida expansão, a participação do
setor comercial teve uma relativa queda. Nota-se também que o setor industrial representado pela
indústria de transformação, apesar de ter crescido em alguns anos, ainda é incipiente no Estado, de
acordo com a tabela 23. Nesse contexto, Pereira201
ressalta a importância do setor agropecuário:
[...] a participação da agropecuária no valor adicionado bruto de MT é nitidamente
crescente durante o período considerado, atingindo mais de um terço no último
198
PEREIRA, 2007, p. 33. 199
IBGE. Contas Regionais do Brasil. 18 nov. 2007. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em: nov.
2007. 200
MATO GROSSO, Seplan, 17 nov. 2007. 201
PEREIRA, 2007, p. 33.
89
ano. Por conseguinte, a agropecuária vem respondendo por parcela ascendente da
produção de bens e serviços da economia do Estado.
A tabela 23 vem ao encontro da afirmação de Pereira202
, na qual se constatou que o setor
agropecuário teve a participação no valor adicionado bruto de MT mais que duplicada no período
de 1995 a 2004, ou seja, de 16,53% de participação em 1995, atingiu mais de 40% em 2004,
despontando como a principal atividade econômica do Estado. Em segundo e terceiro lugares, no
último ano, surgem as atividades econômicas, tais como administração pública e a indústria de
transformação com, respectivamente, 13,58% e 10,20%.
O mesmo autor203, após analisar a evolução dos principais indicadores de produção da
agricultura de Mato Grosso no período de (1978-2004), afirmou o seguinte:
Os indicadores de produção da maioria dos bens da agropecuária mato-grossense
exibem acentuado incremento durante o período analisado. [...] destacam-se os
seguintes bens: soja, madeira, algodão, cana-de-açúcar, arroz, milho, aves, bovinos
e suínos. [...] pode-se depreender que a agricultura de MT experimentou acentuado
crescimento e dinamismo durante o período considerado.
No caso das exportações mato-grossenses no período de 1990 a 2006, verificou-se que o
complexo soja representou em média, aproximadamente, 77% e os demais produtos, 23%,
especificamente grãos (44%), farelo (26%), óleo (7%), conforme a tabela 24.
Em relação à demanda externa e sua pauta de importações em 2006, os principais mercados
de destino foram os seguintes: complexo soja (grãos, farelo e óleo) – China, Holanda, Tailândia e
Espanha; madeira e derivados – China e Estados Unidos; algodão – Coréia do Sul, China e
Tailândia. Nota-se uma predominância do comércio exterior mato-grossense com seis países:
China, Holanda, Itália, Tailândia, Espanha e Rússia (56,68% das exportações totais em 2006). Além
desses países, Belarus, Israel, Polônia, Canadá, Argentina e Bolívia desempenharam importante
papel nas importações .
202
PEREIRA, 2007, p. 33. 203
Idem, p. 35.
Os produtos que representaram maior volume de importação para Mato Grosso em 2006 foram: adubos ou fertilizantes
(63,31%); caldeiras, máquinas etc. (4,92%); zinco e suas obras (3,83%); gás natural em estado gasoso (3,60%). As
principais origens dos produtos importados por Mato Grosso foram os seguintes: adubos ou fertilizantes – Rússia,
Belarus, Israel, Polônia e Canadá; caldeiras, máquinas etc. – Alemanha; zinco e suas obras – Argentina; gás natural em
estado gasoso – Bolívia.
90
Tabela 24 - Participação do complexo soja na pauta de exportações mato-grossenses, em % - 1990 a
2006
Ano
Participação% Part. %
(complexo soja:
grãos, farelo e óleo)
Part. %
(Demais
produtos)
Part.%
Total Grãos Farelo Óleo*
1990 63,15 14,35 0,75 78,25 21,75 100,00
1991 34,92 28,60 2,01 65,53 34,47 100,00
1992 46,20 28,60 2,93 77,73 22,27 100,00
1993 24,19 39,63 5,33 69,15 30,85 100,00
1994 34,16 32,70 10,33 77,19 22,81 100,00
1995 37,34 34,95 17,58 89,87 10,13 100,00
1996 11,86 43,25 10,09 65,20 34,80 100,00
1997 46,40 32,76 5,89 85,05 14,95 100,00
1998 48,33 23,86 5,33 77,52 22,48 100,00
1999 41,16 26,35 7,07 74,58 25,42 100,00
2000 53,46 25,00 3,99 82,45 17,55 100,00
2001 57,56 20,12 3,03 80,71 19,29 100,00
2002 54,61 22,82 5,67 83,10 16,90 100,00
2003 47,28 23,32 8,34 78,94 21,06 100,00
2004 44,09 22,78 8,86 75,73 24,27 100,00
2005 51,46 18,03 9,02 78,51 21,49 100,00
2006 52,23 13,94 5,34 71,51 28,49 100,00
Fonte: BRASIL, MDIC/SECEX/aliceweb204
.
Nota: (*) O segmento óleo engloba todos os derivados do óleo de soja: degomados ou refinados em recipientes
com capacidade para mais ou menos 5 litros.
Após a criação da Lei Kandir , notou-se um acentuado crescimento das exportações de
grãos mato-grossenses, comprovado pelos dados da tabela 24. Observa-se que a participação média
das exportações de grãos no período de 1990 a 1996 foi de 35,97%, já no período de 1997 a 2006,
elevou-se para quase 50%, sugerindo que a Lei Kandir contribuiu bastante para aumentar as
exportações da soja em grãos de Mato Grosso.
Segundo os dados do (MDIC)205
, a União Européia representou em 2006 a principal
importadora de seus produtos (42%); a Ásia – exclusive Oriente Médio (35%); Aladi – exclusive
Mercosul (3%); Estados Unidos – inclusive Porto Rico (2%) e Mercosul (1%). O complexo soja
204
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior (MDIC) – Secretaria de Comércio Exterior
(SECEX) – Sistema alice web (aliceweb). 5 dez. 2007. Disponível em:
< http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br >. Acesso em: dez. 2007.
A Lei Kandir foi instituída pela Lei Complementar n. 87, de 13 de setembro de 1996. Dentre outras coisas, promoveu
a exoneração do ICMS nas operações que destinem mercadorias ao exterior. Brasil. Governo Federal. 20 dez. 2007.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br >. Acesso em: dez. 2007. 205
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007.
91
(grãos, farelo e óleo) continuou mantendo a liderança no volume total das exportações mato-
grossenses em 2006 com, aproximadamente, US$ 3,09 bilhões ou 71,51%, seguido pelo complexo
carnes (bovino, suíno, galinha e peru) com 13,55% ou US$ 587,3 milhões e, em terceiro e quarto
lugares, surgiram as exportações de madeira e derivados e algodão com, respectivamente, US$
194,7 milhões (4,49%) e US$ 184,3 milhões (4,25%).
A China e a Holanda representaram os dois principais parceiros comerciais de Mato Grosso
no período de 1990 a 2006, sendo que a Holanda ocupou a liderança na pauta de exportações mato-
grossenses até 2004, ano em que foi superada pela China. Ressalta-se que a Rússia e a China
configuram-se como potenciais parceiros econômicos, pois representam dois mercados emergentes.
Segundo a FIEMT206
“[...] o Estado de Mato Grosso ocupa o 10º. lugar no ranking das
exportações brasileiras com US$ 4,33 bilhões ou 3,15%”. É importante salientar que essa posição
no ranking nacional do Estado refere-se ao ano de 2006.
Diante do exposto acerca da notável expansão da agropecuária mato-grossense, bem como
do acentuado crescimento das exportações, levanta-se a questão principal de que as exportações de
soja influenciaram positivamente o crescimento do PIB estadual no período de 1990 a 2006.
Com o intuito de comprovar essa afirmação, utilizam-se a seguir vários indicadores
associados ao desempenho econômico.
4.2 Modelo Analítico
4.2.1 Indicadores de desempenho da economia
O presente tópico tem por objetivo caracterizar o desempenho econômico do Estado no
período de 1990 a 2006, embora a abrangência temporal estabelecida pelo trabalho seja menor
(1995 a 2005). Tais indicadores são representados pelo coeficiente de correlação de Pearson; taxa
de crescimento composta ou geométrica (TGC); vantagens comparativas reveladas (VCR); e
coeficiente de abertura e corrente de comércio. A literatura econômica é rica em estudos que
abordam o crescimento econômico de uma determinada região ou país, utilizando os referidos
indicadores.
206
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE MATO GROSSO (FIEMT), 2007. 18 maio 2007. Disponível
em: < http://www.fiemt.com.br >. Acesso em: maio 2007.
92
4.2.2 Coeficiente de correlação de Pearson
O coeficiente de correlação de Pearson é uma ferramenta bastante utilizada para mensurar a
correlação entre duas variáveis. Busca-se empregar o coeficiente de Pearson para indicar o nível de
correlação entre PIB e exportações, PIB e importações e PIB e comércio externo total do Brasil e
de Mato Grosso no período de 1990 a 2006. Define-se o coeficiente de Pearson da seguinte forma:
(RX,Y) = ∑in (Xi – μx) (Yi – μy)/ σx . σy; considerando-se que -1 ≤|RX,Y|≤1
onde:
∑in
= soma das variáveis relativas a um Estado do ano i ao ano terminal;
X = valor do PIB ou do emprego;
μx = média da variável X;
Yi = exportações ou importações;
μy = média da variável Y;
σx e σy = desvios-padrão respectivos das variáveis X e Y.
Através do coeficiente de Pearson, busca-se caracterizar o comportamento de uma variável
em relação à outra. Haverá uma relação proporcional entre duas variáveis quando for positiva a
correlação, e inversa quando a correlação for negativa, ou seja, se a correlação entre o PIB e as
importações for positiva, implica que dado uma elevação no PIB, haverá, simultaneamente, um
aumento nas importações e vice-versa.
4.2.3 Taxa de Crescimento Composta ou Geométrica (TCG)
A taxa de crescimento composta ou geométrica, isto é, ao longo do tempo, é um recurso da
econometria básica voltada para identificar a evolução de algumas variáveis econômicas como a
oferta, o PIB, as exportações, as importações, dentre outras207
. A TCG pode ser definida como:
ln Yt = ln Yo + t.ln (1 + r )
Onde:
Yt = valor das variáveis no tempo;
Yo = valor inicial da série;
r = taxa de crescimento
t = tempo 207
GUJARATI, Damodar. Econometria básica. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, p. 145.
93
A TCG é bastante utilizada em análises de séries históricas, nas quais busca-se evitar
distorções comuns referentes a esses tipos de análises.
4.3 Vantagens comparativas reveladas (VCR)
A teoria das Vantagens Comparativas Reveladas (VCR) foi proposta por Bela Balasssa, em
1956. Balassa apoiou-se no “Teorema de Hackscher-Ohlin”. A competitividade pode ser
relacionada com a performance exportadora de um país, que é conseqüência da competitividade da
indústria ou do país. A competitividade está associada a fatores tecnológicos, estrutura produtiva e
produtividade208
. De maneira específica, esse índice aponta aquela unidade da federação que
apresenta diferencial competitivo na exportação de determinado produto, e é representado pela
seguinte expressão:
VCRij = (Xij / Xj)/ (Xin / Xn)
Onde: Xij = exportações do produto i do estado j;
Xj = exportações totais do estado j;
Xin = exportações do produto i do país;
Xn = exportações totais do país.
Nonnenberg209
assim comenta sobre a fórmula VCR:
O índice de vantagens comparativas de Balassa aparece, assim, como a relação
entre as exportações efetivas e as exportações que ocorreriam numa situação
„neutra‟. Normalmente, o índice será diferente de 1, o que significa que existem
fatores que afastam o país da neutralidade. Seriam justamente esses fatores
responsáveis pela existência de vantagem comparativa (se VCR>1) ou
desvantagem comparativa (se VCR<1) (Grifos do autor).
4.4 Coeficiente de abertura e Corrente de Comércio
O coeficiente de abertura mede o grau de abertura de uma economia ao comércio
internacional. É definido pela fórmula a seguir.
208
NONNENBERG, Marcelo J. B. Vantagens comparativas reveladas, custo relativo de fatores e intensidade de
recursos naturais para o Brasil – 1980-88. Rio de Janeiro: IPEA, abr. 1991. (Texto para discussão, 214). 209
Idem, p. 8.
94
Coeficiente de abertura ao comércio externo = x 100
Logo o valor do coeficiente de abertura a ser encontrado será diretamente proporcional ao
nível de abertura de uma economia em nível mundial.
Neste caso, procura-se calcular também os coeficientes de abertura às exportações e às
importações, os quais são encontradas pelas seguintes fórmulas:
Coeficiente de abertura às exportações = x 100
Coeficiente de abertura às importações = x 100
A Corrente de Comércio é o resultado da soma das exportações com as importações e
representa o total de comércio transacionado por um país ou região com o exterior210
.
4.5 Resultados e discussões
4.5.1 Resultado do Índice de Correlação de Pearson
Segundo os dados do (MDIC)211
, para o período de 1990 a 2006, foram constatados os
seguintes coeficientes de correlação para o Brasil: corrente de comércio e PIB (0,79), exportação e
PIB (0,68) e importações e PIB (0,89).
No caso de Mato Grosso, os coeficientes de correlação entre PIB e corrente de comércio e
PIB e exportações foram superiores aos do Brasil, os quais foram, respectivamente, iguais a 0,85,
ficando as importações com uma correlação de 0,79.
Os resultados indicam que o Brasil está mais dependente das importações que o Estado de
Mato Grosso, ocorrendo o inverso com as exportações. Calculando-se o coeficiente de Pearson
entre PIB e exportações do complexo soja (grãos, farelo e óleo) para o Brasil e Mato Grosso no
referido período, constataram-se os seguintes valores, respectivamente, de 0,59 e 0,83.
210
BRASIL, MDIC/ SECEX, 5 dez. 2007. 211
Idem.
Importações + Exportações
Produto Interno Bruto
Exportações
PIB
Importações
PIB
95
Portanto pode-se inferir que o crescimento do produto em Mato Grosso aponta fortemente
para as exportações do complexo soja. Nota-se, inclusive, um significativo papel das importações
no sentido de suprimento dos insumos básicos da agropecuária, embora tenha pequeno peso na
balança comercial.
4.5.2 Resultado do Índice de Vantagem Comparativa Revelada (VCR)
Os principais produtos da pauta de exportações mato-grossenses foram identificados no
período de 1990 a 2006 com o objetivo de evidenciar a VCR de modo individual.
De acordo com os dados do (MDIC)212
, verificou-se que para 2006 os produtos mais
importantes da pauta de exportações de Mato Grosso foram aqueles pertencentes ao complexo soja
(grãos, farelo e óleo), os quais somaram 71,51%, complexo carnes, 13,55%; madeiras e derivados,
4,49% e algodão, 4,25%.
A tabela 25 demonstra as vantagens comparativas reveladas dos principais produtos da pauta
de exportações mato-grossenses no período de 1990 a 2006. Pode-se afirmar que houve uma
elevada concentração de exportação de produtos básicos, ou seja, aqueles que apresentam um baixo
valor agregado, notadamente, o complexo soja, sugerindo que os produtos básicos exportados
pertencem à agroindústria, que representa um importante setor da economia local.
Ainda pela tabela 25 ficou evidente que os mais relevantes produtos da pauta de exportação
referem-se ao complexo soja (grãos, farelo e óleo), cujas VCRs apresentaram médias no período
analisado de, respectivamente, 12,90, 6,94, e 5,29, constatando-se uma elevada competitividade em
nível nacional nos produtos derivados dessa oleaginosa.
É oportuno destacar que as exportações mato-grossenses, no período de 1990 a 2006,
também tiveram a participação de outros produtos, tais como carnes e seus derivados, algodão,
madeiras, diamantes e ouro, que tiveram um peso econômico menor no volume total exportado.
Pela tabela 25, nota-se que alguns produtos da pauta de exportações tiveram VCRs elevadas
apenas em alguns anos do período de 1990 a 2006, tais como o diamante não industrial, em bruto e
lapidado, com exceção de 1996 (0,82), e a carne bovina, cozida, congelada e não congelada. De
uma forma geral, os principais produtos da pauta de exportação mato-grossense, apresentaram
significativas VCRs.
212
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007.
96
Tabela 25 - Cálculo das vantagens comparativas reveladas segundo os principais produtos da pauta de
exportações de Mato Grosso, de 1990 a 2006
Produto (NCM)¹ 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998
Outros grãos de soja,
mesmo triturados 21,80 24,01 20,45 9,85 11,30 11,08 9,19 10,75 11,50
Farelo de soja 2,80 6,60 6,41 8,42 7,19 8,14 7,56 6,48 6,97
Carnes desossadas de
bovinos congeladas 0,50 1,53 1,46 ........ .......... .......... .......... 30,04 12,73
Algodão simplesmente
debulhado, não cardados ......... 0,42 ............ .......... .......... .......... ......... .......... ..........
Óleo de soja bruto,
mesmo degomado 0,73 3,05 3,96 6,71 5,42 7,88 7,03 5,84 3,62
Outras madeiras
serradas/ cort.em folhas ........ .......... ............ .......... .......... .......... .......... 0,36 7,80
Diamante não industrial,
lapidado 36,82 87,47 67,07 33,89 11,91 34,63 0,82 .......... ..........
Diamante, não
industrial, bruto 79,86 118,39 103,77 77,66 79,55 76,02 45,40 .......... .........
Preparações alim. e
conservados de bovinos .......... .......... .......... .......... .......... .......... .......... 6,84 11,79
Carne de bovino, cozida,
não congelada 3,38 7,40 7,86 10,36 7,26 8,74 15,49 .......... .........
Carne de bovino, cozida,
congelada 38,13 27,96 26,04 30,60 30,58 51,06 38,30 .......... .........
Tabela – 25 (cont.) – Cálculo das Vantagens Comparativas Reveladas segundo os principias produtos
da pauta de exportações de Mato Grosso, de 1990 a 2006
Produto (NCM)¹ 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Outros grãos de soja,
mesmo triturados 12,59 13,48 12,32 10,88 8,06 7,89 11,40 12,69
Farelo de soja 8,42 8,36 5,67 6,27 6,55 6,72 7,45 7,92
Carnes desossadas de
bovinos congeladas 7,10 3,23 2,83 2,42 2,22 1,44 2,18 5,09
Algodão simplesmente
debulhado, não cardado .......... ........... ........... 26,51 22,48 21,87 18,11 17,46
Óleo de soja bruto,
mesmo degomado 5,99 6,45 3,45 4,66 5,15 6,45 8,82 4,67
Outras madeiras serradas 8,63 9,09 7,41 6,69 8,24 8,33 7,23 7,89
Prep. alim. bovinos 8,38 4,59 2,33 2,28 2,34 2,07 1,89 1,60 Fonte: MDIC/SECEX213, IBGE214, IPEA215.
Nota: (NCM)¹ - Refere-se à nomenclatura comum do Mercosul, adotada pelo Brasil, a partir de 1996; (.....) - Indica que não
houve exportação do produto no respectivo ano, não havendo portanto a possibilidade de cálculo da VCR. Os motivos pelos
quais não houve exportações dos produtos, indicados por (....), merecem ser investigados, mas fogem do escopo do presente
trabalho. Os demais produtos que não constam da tabela 24 (cont.) é porque não tiveram exportações no período considerado.
213
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007. 214
IBGE, 25 maio 2007. 215
IPEA, 30 maio 2007.
97
Cabe retomar o estudo de Campos, Prando e Vidigal216
, no qual os autores demonstraram a
competitividade do Paraná, através da análise das VCRs dos principais produtos da pauta de
exportações. Dentre outros, os principais resultados foram os seguintes:
[...] foi verificado que os produtos mais relevantes para a exportação paranaense
são aqueles relacionados à soja (grão, farelo e óleo), que somam 34,6%. [...]
Observa-se que os índices de VCRs, com exceção das carnes de galos/galinhas,
têm caído ao longo do tempo. A queda mais significativa, foi observada nos
produtos „outros grãos de soja‟ e „bagaços e resíduos sólidos da extração do óleo de
soja‟ que passaram de 4,59% para 2,09% e 5,54% para 3,64%, respectivamente.
[...] As elasticidades das exportações têm relação ao Pib que se apresentaram de
forma semelhante à brasileira. Para cada 10% de aumento das exportações, tem-se
uma elevação de 3% no Pib. [...] pode-se concluir que as exportações foram
responsáveis pelo crescimento da economia do Paraná, através da maior abertura
da economia com a inserção de produtos domésticos em mercados nacionais e
internacional (Grifos do autor).
Conforme dito anteriormente, o Estado de Mato Grosso passou a liderar o ranking nacional
da produção de soja, desde a safra de 1999/2000, justamente o período analisado por Campos,
Prando e Vidigal217
. Notou-se que as VCRs de Mato Grosso foram bem superiores às do Paraná
comparando-se o período de 1999 a 2005. A inserção competitiva das exportações mato-grossenses
no complexo soja em nível nacional e até mesmo internacional poderia ser citada pelos autores do
estudo como uma das causas da redução da VCR paranaense no complexo soja. Observa-se que
Mato Grosso manteve uma elevada competitividade, mesmo no auge das importações brasileiras e
mudanças na política econômica promovidas pelos Governos Collor e FHC, ao contrário do Paraná,
que teve reduzida a sua competitividade, anualmente.
4.5.3 Resultados da evolução da corrente de comércio mato-grossense e seu coeficiente de
abertura econômica
Segundo os dados do (MDIC)218
, as exportações do Brasil elevaram-se 337,90% e as
importações aumentaram em 341,55% no período de 1990/2006. A balança comercial brasileira
apresentou déficits consecutivos no período de 1995 a 2000. No intervalo de 2001 a 2006, a balança
comercial brasileira voltou a apresentar superávits, evidenciando um incremento de
216
CAMPOS, PRANDO e VIDIGAL, 2006, p. 8–16. 217
Idem. 218
BRASIL. MDIC/SECEX, 5 dez. 2007.
98
aproximadamente 18 vezes, bem como no período de 1990 a 1994. Em 2002, o saldo positivo da
balança comercial deveu-se à redução das importações, enquanto em 2003 o resultado se deu pelo
incremento das exportações. Nos anos subseqüentes manteve-se essa trajetória ascendente.
A tabela 26 evidencia um desempenho bem diferente, e mais intenso, da balança comercial
mato-grossense em relação à brasileira em que as exportações cresceram 1.631%, ao passo que as
importações elevaram-se 3.226% no período de 1990 a 2006.
Tabela 26 - Exportação, importação e saldo da balança comercial mato-grossense, de 1990 a 2006
Ano
Exportação Importação saldo
valor var.% valor var.% valor
(US$ 1.000 FOB) (US$ 1.000 FOB) (US$ 1.000 FOB)
1990 250.358 35,01 12.221 -33,38 238.137
1991 223.601 -11,97 15.469 26,58 208.132
1992 310.907 39,05 27.166 75,62 283.741
1993 329.546 6,00 41.024 51,01 288.522
1994 466.034 41,42 49.232 20,01 416.802
1995 426.252 -8,54 46.348 -5,86 379.904
1996 659.307 54,68 46.948 1,29 612.359
1997 927.091 40,62 85.932 83,04 841.159
1998 652.661 -29,60 88.402 2,87 564.259
1999 741.095 13,55 154.420 74,68 586.675
2000 1.033.354 39,44 90.594 -41,33 942.760
2001 1.395.758 35,07 136.541 50,72 1.259.217
2002 1.795.792 28,66 209.049 53,10 1.586.743
2003 2.186.158 21,74 276.688 32,36 1.909.470
2004 3.101.887 41,89 417.680 50,96 2.684.207
2005 4.151.611 33,84 410.199 -1,79 3.741.412
2006 4.333.376 4,38 406.518 -0,90 3.926.858
Fonte: BRASIL, MDIC/ SECEX219
.
Nota: Os valores referentes às importações podem apresentar pequenas variações, conforme a data de
consulta, em razão da revisão dos dados.
Apesar de as importações terem crescido quase duas vezes mais do que as exportações,
ressalta-se o valor ínfimo na relação importações e exportações, cuja média representou apenas
10%, ou seja, Mato Grosso teve uma reduzida participação das importações na sua balança
comercial.
Contrariamente ao desempenho apresentado pela balança comercial brasileira no período de
1995 a 2000, cujos resultados foram negativos, o Estado de Mato Grosso manteve uma trajetória de
superávits comerciais, obtendo, inclusive, um crescimento de 148%. O saldo da balança comercial
mato-grossense, entre 1990 e 2006, teve uma variação positiva de 1.549%, na qual foi mantida uma
219
BRASIL. MDIC/SECEX, 5 dez. 2007.
99
trajetória ascendente de crescimento. A balança comercial apresentou seu melhor desempenho em
2006, com saldo positivo de US$ 3,92 bilhões. Em relação ao valor das exportações no período de
1990 a 2006, o Estado de Mato Grosso teve reduções em apenas três anos, 1991, 1995 e 1998, as
quais foram de, respectivamente, 11,97%, 8,54% e 29,60%, mas não geraram déficits na sua
balança comercial, conforme demonstrado pela tabela 26.
Apesar de as exportações e importações de Mato Grosso e do Brasil terem apresentado
crescimento no período de 1990 a 2006, exceto em alguns anos para o Brasil, as correntes de
comércio desenvolveram-se, mas de maneira desigual, conforme a Figura-14.
Figura 14 – Evolução da corrente de comércio de Mato Grosso e do Brasil, em %, de 1990 a 2006
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
1500
1600
1700
1800
1900
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
(%¨)
Evolução da Corrente de Comércio - Brasil
Evolução da Corrente de Comércio - Mato Grosso
Fonte: MDIC/ SECEX
220
Nota: O ano base utilizado foi 1990.
Embora ambos tenham obtido uma expressiva elevação da corrente de comércio, o Estado
de Mato Grosso demonstrou um crescimento relativamente superior, o que evidencia um maior grau
de inserção da economia mato-grossense no seu comércio exterior.
O argumento central utilizado neste trabalho é que o crescimento econômico, medido pela
variação positiva do PIB, possui uma relação positiva com o desempenho das exportações. Assim
pode-se dizer que o dinamismo do Estado do Mato Grosso foi bastante influenciado em função do
peso das exportações, favorecido por um maior grau de abertura da economia estadual. 220
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007.
100
A tabela 27 identifica o coeficiente de abertura do Estado de Mato Grosso e do Brasil às
exportações, importações e ao comércio externo no período de 1990 a 2006. Comparando-se o grau
de abertura às exportações de Mato Grosso e do Brasil, nota-se que, no período de 1996 a 2006, o
de Mato Grosso foi maior que o do Brasil, e menor no intervalo de 1990 a 1995.
Tabela 27 - Coeficiente de abertura do Estado de Mato Grosso e do Brasil às exportações,
importações e ao comércio externo, de 1990 a 2006 (%)
Ano
( X/ PIBpm) ( M/ PIBpm) ( M+X)/(PIBpm)
Mato Grosso Brasil Mato Grosso Brasil Mato Grosso Brasil
1990 5,08 6,69 0,24 4,41 5,32 11,10
1991 4,07 7,79 0,28 5,18 4,35 12,97
1992 8,14 9,24 0,71 5,32 8,85 14,56
1993 7,08 8,98 0,88 5,89 7,96 14,87
1994 7,70 8,01 0,81 6,09 8,51 14,10
1995 6,00 6,59 0,65 7,06 6,65 13,65
1996 8,33 5,68 0,59 6,34 8,93 12,02
1997 10,91 6,08 1,01 6,85 11,92 12,93
1998 7,64 6,05 1,04 6,84 8,68 12,89
1999 11,49 8,18 2,39 8,40 13,88 16,58
2000 14,08 8,54 1,23 8,65 15,31 17,19
2001 22,69 10,51 2,22 10,04 24,91 20,55
2002 29,32 11,97 3,41 9,36 32,73 21,33
2003 29,75 13,20 3,77 8,72 33,51 21,93
2004 32,49 14,54 4,37 9,46 36,86 24,00
2005* 34,90 13,40 3,45 8,34 38,35 21,74
2006* 32,15 12,88 3,02 8,56 35,16 21,45 Fonte: MDIC/SECEX
221, IBGE
222, IPEA
223.
Nota: (*) Os valores do PIB a preços de mercado em Reais para os anos de 2005 e 2006 foram estimados pela Secretaria de
Planejamento do Estado de Mato Grosso baseados na nova metodologia de cálculo proposta pelo IBGE. Os valores
referentes às importações podem apresentar pequenas variações, dependendo da data da consulta, em razão da revisão dos
dados. Observa-se que os valores dos PIBs em Reais foram convertidos em dólares, taxa de câmbio média anual fornecidos
pelo IPEA. X e M correspondem, respectivamente, às exportações e importações, e PIBpm, ao Produto Interno Bruto a
preços de mercado. M+X corresponde ao coeficiente de abertura ao comércio externo. Todos os valores das respectivas
variáveis foram convertidas em dólares norte-americanos pela taxa de câmbio média anual fornecida pelo IPEA.
As relações comerciais mato-grossenses apresentaram uma evolução em seu grau de
abertura bem superior à brasileira durante o período de 1990 a 2006. Enquanto o Brasil passou de
11,10% para 21,45%, Mato Grosso saltou de 5,32% para 35,16% no mesmo período.
Em se tratando do grau de abertura às importações, observa-se uma fraca abertura de Mato
Grosso em relação ao Brasil durante o referido período. Pode-se observar também que o Brasil
possuiu um maior grau de abertura ao comércio exterior que o de Mato Grosso, mas apenas durante
221
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007. 222
IBGE, 18 nov. 2007. 223
IPEA, 30 maio 2007.
101
o período de 1990 a 2000. A partir de 2001, o Estado passa a ter uma abertura ao comércio
internacional maior que a do Brasil, mantendo ainda esse desempenho. Essa maior abertura é
intensificada a partir da excelente desempenho do setor agropecuário, principalmente em função das
exportações dos produtos derivados da soja.
Ao final de 2006, o Estado de Mato Grosso apresentava um coeficiente de abertura ao
comércio exterior igual a 35,16%, ou seja, valor seis vírgula seis vezes superior ao inicial, enquanto
o Brasil apenas teve sua abertura quase duplicada. Isso caracteriza um melhor desempenho relativo
do setor exportador mato-grossense em relação ao brasileiro.
As evoluções dos coeficientes de abertura da economia mato-grossense e da economia
brasileira, de 1990 a 2006, são demonstradas através das figuras 15 e 16.
Figura 15 - Evolução do coeficiente de abertura do Estado do Mato Grosso, respectivamente às exportações,
importações e ao comércio externo total no período de 1990 a 2006, em porcentagem.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
(%)
Exportações Importações Comércio externo
Fonte: MDIC/SECEX224
; IBGE225
.
Pelos dados apresentados na Figura 15, pode-se afirmar que o coeficiente de abertura da
economia mato-grossense às exportações teve maior força a partir do final dos anos 90 e início dos
anos 2000. Isso representou um maior grau de inserção dessa economia em nível internacional, com
reflexos marcantes na dinamização de seu comércio exterior.
Apenas uma maior abertura do comércio externo de uma economia não significa,
necessariamente, mais vantagens em relação à outra menos aberta. Interessa-nos saber qual a
224
BRASIL. MDIC/SECEX, 5 dez. 2007. 225
IBGE, 18 set. 2007.
102
relação entre exportações e importações nesse comércio internacional. Nesse contexto, quando se
verifica o grau de abertura das importações, pode-se verificar que Brasil e Mato Grosso apresentam
diferenças significativas, relativas a mais de seis pontos percentuais, em média, no período de 1990
a 2006.
Essa condição pode ser explicada pelo fato de o crescimento das exportações mato-
grossenses ter superado amplamente o crescimento das exportações brasileiras, e isso repercutiu em
taxas médias de crescimento do PIB do Estado (5,10% a.a.) superiores às do Brasil (3,64% a.a.), de
acordo com a tabela 28.
Tabela 28 – Taxa média anual de crescimento* do PIB, exportação,
importação e corrente de comércio do Brasil e de Mato Grosso no
período de 1990 a 2006 (%)
Variável Brasil Mato Grosso
PIB 3,64 5,10
Exportações 8,26 20,49
Importações 8,22 24,02
Corrente de Comércio 8,22 20,76
Fonte: Elaborada pelo autor, com base nos dados do MDIC/SECEX226
,
IBGE227
e IPEA228
Nota: (*) Vide metodologia de cálculo no item 4.2.3.
A tabela 28 mostra que o Estado de Mato Grosso apresentou taxas médias de crescimento
das exportações (20,49%), das importações (24,02%) e da corrente do comércio (20,76%) bem
superiores às do Brasil (8,26%, 8,22% e 8,22%, respectivamente). Em se tratando das importações,
especificamente, verificou-se que elas representaram quase o triplo da apresentada pelo Brasil no
período (24,02 contra 8,22). Apesar de constatar um crescimento das importações mato-grossenses
de quase o triplo da brasileira, em contrapartida, notou-se um baixo valor médio das importações.
A pauta de importações mato-grossenses evidencia uma concentração de produtos para atender à
demanda por insumos agrícolas, principalmente adubos ou fertilizantes.
No caso das taxas geométricas de crescimento das exportações e corrente de comércio do
Brasil e de Mato Grosso, afirma-se que as taxas de crescimento mato-grossenses no período de
1990 a 2006 foram duas vezes e meio superiores às do Brasil, as quais foram de, respectivamente,
20,49% e 20,76%. Analisando-se o comportamento das taxas médias de crescimento registradas
226
BRASIL. MDIC/SECEX, 5 dez. 2007. 227
IBGE, 18 set. 2007. 228
IPEA, 30 maio 2007.
103
pelo Brasil e Mato Grosso, observa-se uma estreita relação entre crescimento do PIB e aumento das
exportações, de acordo com a tabela 28.
Após calcular a média do coeficiente de abertura ao comércio exterior do Paraná no período
de 1990 a 2003, demonstrado no trabalho de Campos, Prando e Vidigal229
, verificou-se um valor
19,23% relativamente superior ao apresentado por Mato Grosso (13,68%) no mesmo período. Nesse
aspecto, o Paraná naquele período teve um maior grau de abertura de sua economia ao mercado
internacional. A taxa média anual de crescimento do PIB, exportação, importação e corrente de
comércio do Paraná, também identificada no estudo de CAMPOS et al.230
, foi de, respectivamente,
1,87%, 10,06%, 16,95% e 12,54%, bem inferiores às de Mato Grosso, segundo a tabela 28.
A interpretação dos resultados indica que as taxas de crescimento ao longo do tempo
também contribuíram para identificar o desempenho da economia mato-grossense vis-à-vis à
brasileira. Notou-se que, durante o final dos anos 90 e início dos anos 2000, o Estado de Mato
Grosso apresentou taxas médias anuais do PIB bem mais elevadas que as do Brasil.
De acordo com Franco231
, apoiada nos resultados da pesquisa das Contas Regionais de 2004
do IBGE232
, o desempenho “acumulado” do “PIB” mato-grossense foi muito expressivo:
No acumulado dos últimos 18 anos, 1985 a 2004, a economia estadual
quadruplicou segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O
percentual de 315% confere a Mato Grosso a liderança nacional no crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB). O resultado do Mato Grosso reflete a expansão da
fronteira agrícola e a indústria ligada a esta atividade [...] Números não
contabilizam a crise do campo.
Dos resultados obtidos, afirma-se que os coeficientes de abertura às exportações,
importações e comércio exterior mato-grossense sofreram pequenas quedas no período de 2005/06,
as quais foram de, respectivamente, 2,75%, 0,43% e 3,09%. Embora o PIB a preços de mercado de
Mato Grosso fossem estimados para 2005/06, ressalta-se que “[...] no período de 2003 a 2006 o real
acumulou uma valorização de 26%, bem superior a grandes países exportadores de produtos
primários como o Canadá (9,8%) e Nova Zelândia (7,9%)”233
.
229
CAMPOS; PRANDO e VIDIGAL, 2006, p. 11. 230
Idem. 231
FRANCO, Mariana Peres. PIB - Volume Quadruplicado. 30 jun. 2007. Diário de Cuiabá, 11.669 ed., n.1, 2006, p.1.
Disponível em: < http://www.diariodecuiaba.com.br >. Acesso em: jun. 2007. 232
IBGE. Contas regionais, 2004. 19 mar. 2005. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br >. Acesso em: mar. 2005. 233
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP). O bom desempenho das
exportações de 2003 a 2006 pode explicar a valorização do real no período? 12 jun. 2007, p. 1-3. Disponível em:
< http://www.fiesp.org.br >. Acesso em: jun. 2007.
104
No contexto de elevada apreciação cambial brasileira, principalmente no período de
2005/06, repercutiu na redução do quantum e valor das exportações mato-grossenses, ênfase no
complexo soja. A taxa de exportações médias de Mato Grosso que no período de 1990 a 2006 foi de
20,49% ao ano, no período de 2005/06, reduziu-se para 4,38%, contrariando uma trajetória
ascendente das exportações.
Figura 16 – Evolução do coeficiente de abertura do Brasil, respectivamente às exportações, importações ao
comércio externo total no período de 1990 a 2006, em porcentagem
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
(%)
Exportações Importações Comércio externo
Fonte: MDIC
234, IBGE
235.
Outro fator importante é que os produtores de soja mato-grossenses reduziram as vendas
externas em função da queda do preço provocado pela apreciação cambial. Observa-se, por outro
lado, que os preços dos insumos agrícolas importados não diminuíram, ocasionado também uma
redução na renda do agricultor.
No próximo tópico, procura-se retratar o comportamento da dimensão social diante do
crescimento econômico vivenciado pelo Estado no período de 1995 a 2005.
4.6 Dimensão Social
Este tópico tem por objetivo verificar se o dinamismo apresentado pelo acentuado
crescimento do PIB e demais indicadores econômicos de Mato Grosso, no período de 1995 a 2005,
também foi refletido nos indicadores sociais, tais como índice de desenvolvimento humano,
distribuição de renda, desigualdade, pobreza e educação.
234
BRASIL, MDIC/SECEX, 5 dez. 2007. 235
IBGE, 18 nov. 2007.
105
4.6.1 Distribuição de renda, desigualdade e pobreza em Mato Grosso
Há na literatura recente diversos estudos que abordam a distribuição de renda, riqueza e
desigualdade no setor agropecuário brasileiro. Dentre os resultados mais citados pelos autores,
predomina um relativo consenso em relação à existência de desequilíbrios regionais no setor
agropecuário, e que a distribuição de renda e riqueza não ocorrem de forma homogênea, seja numa
região, seja nos estados brasileiros.
Baer236
defende que a pobreza rural brasileira não se modificou ao longo dos anos, o que é
confirmado por diversos trabalhos referentes ao tema:
Grande parte do aumento da produção agrícola do país ocorreu na margem
extensiva. Embora esperassem preços relativamente mais altos de alimentos devido
à elevação dos custos de transporte e armazenamento, isso não aconteceu, fato que
uma das principais autoridades agrícolas brasileiras atribuiu à adequação da mão-
de-obra rural aos salários relativamente baixos. Uma conseqüência dessa
superabundância de mão-de-obra rural é que as condições de pobreza habituais
encontradas nas zonas agrícolas não se modificaram ao longo dos anos. [...] A
pobreza se estende além dos rendimentos do trabalhador rural. Uma grande parcela
dos estabelecimentos rurais tem uma área inferior a 10 hectares (passando de 34%
de todos os estabelecimentos agrícolas em 1950 para 52,9% em 1985). [...] Vários
estudos constataram que a renda gerada por tais propriedades era extremamente
reduzida. [...] Também existe uma grande defasagem educacional entre o Brasil
rural e o urbano. Em 1988, somente 15,5% da população rural tinha mais de quatro
anos de escolaridade, contra 49,1% da população urbana.
O mesmo autor237
assevera que:
O aumento da produtividade da agricultura brasileira nas décadas de 1980 e 1990
originou uma significativa queda no emprego e no número de estabelecimentos
agrícolas. Entre 1985 e 1996, o emprego na agricultura caiu 23%, enquanto sua
produção total aumentou 30%. Para solucionar o aumento do desemprego agrícola,
o governo acelerou seu programa de reforma agrária em meados da década de 1990
e distribuiu terras para mais de 20 mil famílias e criou um crédito especial para
mais de 700 mil estabelecimentos agrícolas.
Um perfil socioeducacional, ocupacional e demográfico das pessoas ocupadas na agricultura
de Mato Grosso em 2002 é caracterizado pela tabela 29.
236
BAER, Werner. A economia brasileira. São Paulo: Nobel, 2002, p.387. 237
Idem, p. 395.
106
Tabela 29 - Brasil, Centro-Oeste e Mato Grosso: Perfil socioeducacional, ocupacional e
demográfico das pessoas ocupadas na agricultura, 2002 (%)
Variáveis Brasil Região Centro-Oeste Mato Grosso
SEXO
Masculino 89,31 95,06 94,30
Feminino 10,69 4,94 5,70
IDADE
Mais de 60 13,33 11,86 11,39
50 a 59 anos 16,30 15,92 16,11
40 a 49 anos 20,46 22,36 24,03
30 a 39 anos 22,04 22,83 24,58
25 a 29 anos 10,56 9,87 9,44
20 a 24 anos 10,55 11,16 9,59
18 a 19 anos 3,51 2,66 1,94
15 a 17 anos 3,26 3,34 2,92
COR
Branca 42,28 38,84 33,75
Amarela 0,34 0,43 0,42
Parda 51,40 55,59 60,14
Indígena 0,25 1,02 1,81
Preta 5,73 4,12 3,89
RESIDÊNCIA
Urbana 34,11 42,59 35,00
Rural 65,89 57,41 65,00
EDUCAÇÃO
15 ou mais anos 0,67 1,34 1,94
11 a 14 anos 3,40 6,30 4,58
8 a 10 anos 5,83 7,85 6,67
4 a 7 anos 30,49 37,01 41,25
1 a 3 anos 25,81 25,07 23,89
Sem instrução/-1ano 33,80 22,43 21,67
POSIÇÃO NA OCUPAÇÃO
Empregador 4,56 7,17 5,83
Conta própria 45,24 31,11 39,86
Trabalhador com carteira 15,42 21,93 18,89
Trabalhador sem carteira 34,78 39,79 35,42 Fonte: CORRÊA; FIGUEIREDO
238.
Pelos dados da tabela 29, pode-se afirmar que as pessoas ocupadas no setor agrícola são, em
maioria, do sexo masculino, aproximadamente 94%, e têm 30 anos ou mais. A cor predominante é
parda, aproximadamente 60%, seguida pela branca, aproximadamente 34%, equiparando-se,
relativamente à cor, aos resultados encontrados para o Brasil e à Região Centro-Oeste. Entre esses
ocupados, aproximadamente 65% têm residências rurais, praticamente igualando-se ao percentual
do Brasil, enquanto na Região Centro-Oeste esse percentual diminui para 57%.
238
CORREA, Ângela M. C. J; FIGUEIREDO, Nelly M. S. de. Riqueza, desigualdade e pobreza: um perfil da Região
Centro-Oeste no início do século XXII. 15 set. 2007. Revista Pesquisa & Debate, São Paulo, v.17, n.1 (29), p. 12,
2006. Disponível em: < http://www.pucsp.br/ >. Acesso em: set. 2007.
107
No que diz respeito à escolaridade, observa-se uma distribuição heterogênea: cerca de 22%
declararam-se sem instrução ou com menos de 1 ano de estudo, e aproximadamente 24% entre 1 a
3 anos de estudo. Predomina a escolaridade de 4 a 7 anos de estudo (40,70%). À medida que
aumentam os anos de estudo, diminui-se radicalmente o percentual de pessoas da distribuição,
sendo que apenas 1,94% dessas possuem 15 anos ou mais de escolaridade. Esses percentuais
acompanham a tendência da Região Centro-Oeste quanto à escolaridade das pessoas ocupadas no
setor agrícola.
Em relação à posição na ocupação, aproximadamente 40% declararam trabalhar por conta
própria, e apenas 6%, aproximadamente, classificam-se como empregadores. O percentual de
trabalhadores sem carteira de trabalho é muito expressivo (cerca de 35%), revelando a
vulnerabilidade do emprego agrícola em um Estado de agricultura notadamente comercial e
voltado, em grande parte, a produtos de exportação e ao “agronegócio”. Os trabalhadores que se
declararam trabalhando com carteira assinada representaram cerca de 19%. Em relação ao tipo de
residência, nota-se um relativo equilíbrio entre moradores das zonas urbana e rural, tanto para o
Brasil quanto para Mato Grosso, os quais se situaram, em média em 35% e 65%, conforme
demonstra a tabela 29.
O elevado percentual (33%) de trabalhadores exercendo a função sem carteira de trabalho
assinada identifica uma vulnerabilidade do trabalhador em relação à preservação e garantia de
direitos básicos, tais como previdência social, fundo de garantia por tempo de serviço, seguro
desemprego etc.
Em se tratando da medição da desigualdade na distribuição de renda, um indicador bastante
utilizado é o Índice de Gini que pode ser descrito como:
[...] um instrumento utilizado para se auferir o grau de concentração de alguma
situação. Esse índice é calculado a partir da chamada Curva de Lorenz. Em
termos de distribuição pessoal da renda, essa curva é criada relacionando-se as
faixas da população acumulada (dos mais pobres aos mais ricos) com as
respectivas participações acumuladas dessas faixas (Grifos dos autores)239
.
A tabela 30 mostra três indicadores de distribuição de renda para os anos de 1991 e 2000 no
Brasil, Mato Grosso e nos dez maiores municípios produtores de soja na safra de 2005. Os
indicadores de distribuição de renda, índice de Gini, razão entre a renda dos 10% mais ricos e dos
239
GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2006, p. 94.
108
40% mais pobres e a razão entre a renda dos 20% mais ricos e 40% mais pobres apontam para um
aumento na desigualdade distributiva de renda.
Tabela 30 - Indicadores de distribuição de renda (1991-2000): Brasil, Mato Grosso e os dez maiores
municípios produtores de soja*
Brasil/ Mato
Grosso e
Municípios
Índice de Gini Variação
1991/ 00
(%)
Razão entre a
renda dos 10%
mais ricos e
40% mais
pobres
Variação
1991/ 00
(%)
Razão entre a
renda dos
20% mais
ricos e 40%
mais pobres
Variação
1991/ 00
(%)
1991 2000 1991 2000 1991 2000
Brasil 0,634 0,645 1,74 30,43 32,93 8,22 20,03 21,40 6,84
Mato Grosso 0,598 0,630 5,35 22,44 26,92 19,96 14,63 17,04 16,47
Sorriso 0,567 0,636 12,17 17,08 26,66 56,09 11,57 16,50 42,61
Sapezal 0,484 0,549 13,43 7,50 11,45 52,67 6,05 8,40 38,84
Campo Novo do
Parecis 0,566 0,698 23,32 18,64 37,39 100,59 12,61 22,28 76,69
Nova Mutum 0,547 0,619 13,16 15,00 23,74 58,27 10,70 14,70 37,38
Diamantino 0,658 0,643 -2,28 29,32 30,78 4,98 18,12 19,42 7,17
Lucas do Rio
Verde 0,607 0,550 -9,39 25,07 15,78 -37,06 15,80 10,61 -32,85
Primavera do
Leste 0,610 0,562 -7,87 23,47 17,35 -26,08 15,30 11,28 -26,27
Campos de Júlio 0,545 0,655 20,18 11,41 61,44 438,48 8,46 33,44 295,27
Nova Ubiratã 0,637 0,602 -5,49 36,64 21,39 -41,62 21,96 14,26 -35,06
Brasnorte 0,519 0,595 14,64 14,69 22,40 52,48 9,61 14,12 46,93
Média dos dez
municípios 0,574 0,611 6,45 19,88 26,84 34,99 13,02 16,50 26,76
Fonte: IPEA240
.
(*) Nota: Os dez maiores municípios produtores de soja de Mato Grosso na safra de 2005.
Pela desigualdade medida pelo índice de Gini, observa-se que ela foi maior em Mato Grosso
do que no Brasil de, respectivamente, 5,35% e 1,74%. Se, por um lado, os indicadores de
distribuição de renda de seis dos dez maiores municípios produtores de soja mato-grossenses
confirmaram a tendência de desigualdade observada na década de 90, por outro lado, verificou-se
que em três municípios houve uma retração na desigualdade, confirmada, concomitantemente, pelos
três índices presentes na tabela 30, em Lucas do Rio Verde, Primavera do Leste e Nova Ubiratã,
revelando um fenômeno relatado pela literatura econômica como crescimento pró-pobre.
240
IPEA, 30 set. 2007.
109
Ainda pela tabela 30 nota-se um acentuado crescimento na desigualdade distributiva da
renda em Mato Grosso em relação ao Brasil, demonstrado pelo crescimento tanto da razão entre a
renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres, como também pela razão entre a renda dos 20% mais
ricos e 40% mais pobres, representados, respectivamente, por 19,96% e 16,47%. Esses percentuais
elevam-se quando calculados pela média dos dez maiores municípios produtores de soja do Estado.
Acredita-se que a baixa escolaridade média dos produtores e trabalhadores rurais, bem como a
precária qualificação profissional, poderiam ser apontadas como as causas mais prováveis da baixa
distribuição de renda observada naqueles municípios.
Cabe citar o trabalho de Guidolin e Porto Júnior241
, “Expansão agrícola e crescimento
econômico: impactos sobre a pobreza e a desigualdade”, que teve por escopo identificar se
elevações do PIB de uma economia, oriundas basicamente da agricultura, têm contribuído para a
redução dos pobres e da disparidade social. Utilizou-se, para tal o “Método das Curvas de
crescimento-pobreza”. Os autores242
encontraram os seguintes resultados:
O crescimento econômico das microrregiões mais dinâmicas do Centro-Oeste e de
Barreiras na Bahia ainda indica uma forte tendência à concentração de renda. Esta
tendência pode ser atribuída a desigualdade de ativos como a terra e capital, que é
um traço marcante do modelo de crescimento agropecuário adotado. Deste modo,
pode-se dizer que a expansão do setor agrícola nos cerrados não provoca os efeitos
positivos sobre a redução da pobreza e da desigualdade que seriam esperados de
acordo com a literatura. No entanto, a identificação de elementos que diferenciem o
crescimento dos municípios da microrregião de Primavera do Leste dos das demais
microrregiões estudadas constitui uma questão de investigação, dado que estes
municípios apresentaram um crescimento claramente pró-pobre. A expansão da
produção de commodities nos cerrados, especialmente a soja voltada para a
exportação, é uma fonte importante de crescimento nestas regiões e contribui para
o saldo positivo da balança comercial brasileira. [...] No entanto, o efeito desta
expansão precisa ser adequadamente estudado, de modo que o decorrente
crescimento econômico não seja distorcido, baseando-se na exploração de recursos
naturais e em subinvestimento em capital humano, tornando-o insustentável no
longo prazo.
Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)243
, “[...] a
desigualdade de renda aumenta em 2 de cada 3 municípios brasileiros”.
241
GUIDOLIN, Silvia Maria; PORTO JÚNIOR, Sabino da Silva. Expansão agrícola e crescimento econômico:
impactos sobre a pobreza e a desigualdade. Porto Alegre: UFRGS/ GEI, 2006. p.19, 12 ago. 2007. Disponível em: <
http://www.banconordeste.gov.br >. Acesso em: ago. 2007. 242
Idem, p. 13–19. 243
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD). Atlas do desenvolvimento
humano no Brasil, 2003. 2 ago. 2007. Disponível em: < http://www.pnud.org.br >. Acesso em: ago. 2007.
110
O Relatório do PNUD244, enfatiza o acirramento na “desigualdade” social brasileira medida
pelo “índice de Gini”:
Desigualdade de renda medida pelo índice de Gini aumenta em 3.654 municípios
do Brasil na década de 90; em 23 Unidades da Federação o índice é pior em 2000
do que era em 1991; apenas Roraima, cuja renda per capita diminuiu no período,
contrariou a tendência.
Corrêa e Figueiredo245
, tendo em vista a distribuição de renda entre as pessoas ocupadas na
agricultura do Centro-Oeste em 2002, afirmam que:
[...] a desigualdade de rendimentos do trabalho entre as pessoas ocupadas na
agricultura brasileira, na região Centro-Oeste, e seus estados e Distrito Federal,
apresentaram-se em patamares elevados, indicando que o crescimento da
agropecuária dos últimos anos não tem conseguido equacionar a questão da forte
concentração de rendimentos associados ao setor. Posição na ocupação, posse de
capital e riqueza foram determinantes na explicação da desigualdade de
rendimentos, em termos marginais, seguido por educação. Desta forma, o trabalho
apresenta indicativos de que não há mudanças no padrão de desenvolvimento de
natureza concentradora do setor, pois os indicadores sinalizam uma estabilidade
indesejável dos indicadores de desigualdade, comparativamente a estudos feitos
para os anos 80 e 90.[...] Apesar de os rendimentos médios mostrarem-se no
Centro-Oeste em patamares superiores aos da média do país, constatou-se forte
assimetria positiva da distribuição de rendimentos do trabalho entre as pessoas
ocupadas na agricultura, e elevada intensidade da pobreza na região. [...] mesmo no
século XXI, os efeitos distributivos perversos do modelo de modernização agrícola
implementado na região mostraram-se presentes.
A evolução de seis indicadores referentes à desigualdade de renda em Mato Grosso no
período de 1995 a 2005 é mostrada pela tabela 31. Constata-se que, em três deles, os indicadores de
desigualdade aumentaram e em três deles, diminuíram: renda apropriada pelos 10% mais ricos,
renda apropriada pelos 20% mais ricos e Índice de Gini, cujas reduções foram de, respectivamente,
7,43%, 4,64% e 5,80%. Nota-se que essas retrações na desigualdade de renda não foram
significativas, pois elas ainda permanecem em patamares elevados. Os indicadores que tiveram uma
significativa melhora foram: renda apropriada pelos 10% mais pobres e razão entre a renda dos 10%
mais pobres e 10% mais ricos, cujas elevações foram de 18,00% e 27,80%, respectivamente.
244
PNUD, 2 ago. 2007. 245
CORRÊA; FIGUEIREDO, 2006, p. 62.
111
Tabela 31 - Mato Grosso: Evolução de alguns indicadores de desigualdade, 1995–2005*
Ano
Renda
apropriada
pelos 10%
mais ricos
Renda
apropriada
pelos 20%
mais ricos
Renda
apropriada
pelos 40%
mais
pobres
Renda
apropriada
pelos 10%
mais
pobres
Razão
entre a
renda dos
10% mais
pobres e
os 10%
mais ricos
Índice de
Gini
1995 44,80 60,30 10,20 1,00 2,23 0,5548
1996 45,70 61,90 9,30 0,80 1,75 0,5739
1997 50,60 65,40 8,70 0,80 1,58 0,6098
1998 47,30 62,70 9,70 1,00 2,11 0,5762
1999 43,80 59,50 10,80 1,20 2,74 0,5444
2001 46,70 62,00 9,70 0,80 1,71 0,5709
2002 45,90 62,20 9,50 0,90 1,96 0,5740
2003 43,73 60,01 9,41 1,06 2,42 0,5489
2004 41,68 57,97 10,25 1,25 3,00 0,5277
2005 41,47 57,50 10,49 1,18 2,85 0,5226
variação (%)
(1995/ 2005) -7,43 -4,64 2,84 18,00 27,80 -5,80
Fonte: MATO GROSSO. SEPLAN246
.
Nota: (*) exceto o ano 2000.
Na verdade, os seis indicadores retratados na tabela 31 evidenciam que ocorreu na década
analisada uma estabilização da desigualdade em termos de distribuição de renda em níveis
indesejáveis.
A tabela 32 mostra dois indicadores associados à pobreza em nível de Brasil, de Mato
Grosso e os dez maiores municípios produtores de soja no Estado nos anos de 1991 e 2000.
Considerando-se o primeiro deles, ou seja, o percentual de pessoas com renda per capita abaixo de
R$ 75,50 (pessoas pobres), nota-se que houve uma redução percentual de pessoas na linha de
pobreza no referido período, no Brasil, em Mato Grosso e nos dez maiores municípios produtores
de soja. O segundo indicador, percentual de pessoas com renda per capita abaixo de R$ 37,75
(pessoas indigentes), também manteve a tendência do primeiro indicador, cujas reduções no Brasil e
Mato Grosso foram semelhantes, mas nota-se que o mesmo fato não ocorreu nos dez maiores
246
MATO GROSSO. Seplan, Evolução dos indicadores do Plano Plurianual 2004/2007. 15 nov. 2007. Disponível
em: < http://www.seplan.mt.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
112
municípios produtores de soja do Estado, os quais, na média, praticamente estabilizaram-se no
mesmo percentual de pessoas indigentes no referido período. Analisando-se os indicadores de
pobreza relacionados na tabela 32, pode-se inferir que, apesar de eles terem apontado para uma
redução da pobreza, os resultados ratificam o que foi dito até o momento, acerca da distribuição de
renda e riqueza no Estado de Mato Grosso.
Tabela 32 – Indicadores de pobreza (1991-2000): Brasil, Mato Grosso e os dez maiores
municípios produtores de soja
Brasil/Mato Grosso e Municípios
Percentual de pessoas
com renda per capita
abaixo de R$75,50
Percentual de pessoas
com renda per capita
abaixo de R$37,75
1991 2000 1991 2000
Brasil 40,08 32,75 20,24 16,32
Mato Grosso 37,96 27,78 15,49 11,63
Sorriso 19,68 11,42 5,55 3,57
Sapezal 18,71 11,45 6,81 5,55
Campo Novo do Parecis 21,03 12,67 7,78 5,94
Nova Mutum 28,56 13,54 7,31 4,55
Diamantino 28,43 30,22 11,49 14,85
Lucas do Rio Verde 25,50 8,00 6,18 2,32
Primavera do Leste 25,25 12,26 8,75 3,38
Campos de Júlio 26,02 13,44 9,59 6,38
Nova Ubiratã 26,44 22,09 5,91 10,89
Brasnorte 25,91 23,54 9,13 13,08
Média dos dez municípios 24,55 15,86 7,85 7,05
Fonte: IPEA247
.
A distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de
referência, segundo as classes de rendimento no período de 2001 a 2005, é mostrada na tabela 33 e
na figura 17.
À medida que aumenta o nível de rendimento do trabalho, nota-se uma queda drástica no
percentual de pessoas ocupadas. Constata-se uma baixa distribuição de rendimento no intervalo
compreendido entre as classes de mais de ½ a 5 salários mínimos, representadas, em média, por
247
IPEA. Base de dados sociais, renda domiciliar per capita. 13 nov. 2007. Disponível em:
< http://www.ipeadata.gov.br/ >. Acesso em: nov. 2007.
113
71,80% das pessoas. O valor do salário mínimo de abril de 2005, convertido em Reais,
corresponderia às remunerações de R$ 190,00 a R$ 1.900,00. No outro extremo da distribuição,
verifica-se uma concentração de rendimento: 9,44% auferiram mais de 5 a 20 salários mínimos, ou
seja, receberam de R$ 1.900,00 a R$ 7.600,00, e ainda 1,1% apenas auferiu um rendimento bruto
de mais de 20 salários mínimos, ou seja, mais de R$ 7.600,00, de acordo com a tabela 33.
Tabela 33 - Mato Grosso: Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de
idade, ocupadas na semana de referência, segundo as classes de rendimento no período de
2001 a 2005
Classe de rendimento mensal de
todos os trabalhos 2001 2002 2003 2004 2005
Até 1/2 salário mínimo 3,6 5,6 4,6 2,6 5,0
Mais de 1/2 a 1 salário mínimo 15,2 17,6 17,7 17,8 18,9
Mais de 1 a 2 salários mínimos 29,8 26,5 27,6 32,1 30,9
Mais de 2 a 3 salários mínimos 15,0 14,4 15,1 11,7 11,8
Mais de 3 a 5 salários mínimos 10,9 11,0 11,4 12,5 11,1
Mais de 5 a 10 salários mínimos 7,5 7,4 5,5 6,7 6,1
Mais de 10 a 20 salários mínimos 3,2 3,2 3,0 2,7 1,9
Mais de 20 salários mínimos 1,4 1,4 1,1 1,0 0,6
Sem rendimento (1) 13,1 12,0 11,9 12,6 13,5
Sem declaração 0,4 0,9 2,1 0,4 0,1
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: MATO GROSSO, SEPLAN248
.
Notas: (1) Inclusive as pessoas que receberam em benefício.
Segundo Cacciamali249
, estudos recentes sobre a distribuição de rendimentos e a disparidade
social no Brasil têm comprovado um quadro de extrema “desigualdade” que perdura há muitos
anos, conforme o enunciado a seguir.
Evidências empíricas sobre o Brasil mostram que o país ampliou os índices de
desigualdade na distribuição de renda entre os anos 60 e o Plano Real, e que estes
se mantiveram estavelmente elevados após a estabilização da economia, revelando
um dos piores perfis de distribuição de renda no mundo – índice de Gini entre 0,58
e 0,59 até o final da década de 90. Ademais, indicadores sociais referentes à
educação, saúde e habitação, apesar de terem mostrado uma evolução positiva,
248
MATO GROSSO. Seplan, 15 nov. 2007. 249
CACCIAMALI, Maria Cristina. Distribuição de renda no Brasil: Persistência do grau elevado de desigualdade. IN:
BENEVIDES, Diva; VASCONCELLOS, Marco Antonio. Manual de Economia, São Paulo: Saraiva, 2002, p. 23 - 24.
114
apresentam-se como inferiores àqueles países com similar ou até mesmo inferior
nível de renda per capita. As causas estruturais desse fenômeno podem ser
encontradas tanto no Brasil do passado, como no Brasil de hoje. São quatro os
principais elementos que se realimentam e que impedem um quadro distributivo de
melhor qualidade: a) a elevada concentração de riquezas do País seja sob a forma
de capital físico, ou sob a forma de capital humano. [...] b) o poder e a habilidade
política das classes dirigentes em manter situações de privilégio; c) a ausência
histórica de políticas públicas que objetivem mudanças estruturais e distributivas
de forma consistente; d) a pequena organização social e política do povo brasileiro
[...].
Ficou evidenciado também um elevado percentual de pessoas que declararam estar sem
rendimento na semana de referência da pesquisa, ou seja, 12,60%, em média, no período de 2001 a
2005, de acordo com a figura 17.
Figura 17 – Mato Grosso: Distribuição percentual das pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas na
semana de referência, segundo as classes de rendimento, em média, no período de 2001 a 2005
Sem declaração
0,78%
Mais de 20 salários
mínimos
1,10%
Sem rendimento
12,60%
Até 1/2 salário mínimo
4,28%
Mais de 5 a 20 salários
mínimos
9,44%
Mais de 1/2 a 5 salários
mínimos
71,80%
Fonte: MATO GROSSO. SEPLAN250
.
4.6.2 Indicadores de bem-estar e participação
Procura-se identificar nesta seção indicadores sociais referentes ao bem-estar e participação
no produto mato-grossense, notadamente dos dez maiores municípios produtores de soja do Estado.
250
MATO GROSSO. Seplan, 15 nov. 2007.
115
Tais indicadores procuram medir uma eventual distribuição da renda, bem como a provável
repartição do produto gerado pela economia mato-grossense.
Os indicadores-síntese utilizados são de três tipos:
a) renda domiciliar per capita;
b) produto interno bruto per capita;
c) índice de desenvolvimento humano (IDH).
4.6.3 Renda domiciliar per capita
A evolução da renda domiciliar per capita do Brasil, Região Centro-Oeste e Distrito
Federal no período de 1995 a 2005 é demonstrado pela tabela 34.
Tabela 34 - Brasil, Região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução da renda domiciliar per capita,
1995-2005* (R$)
Ano Brasil
Região
Centro-
Oeste
Mato
Grosso Goiás
Distrito
Federal
Mato
Grosso do
Sul
1995 336,08 356,21 280,07 265,73 620,19 300,78
1996 341,05 369,59 294,94 300,11 595,26 315,82
1997 342,09 394,68 346,84 288,11 667,26 315,33
1998 345,85 409,77 327,57 316,28 685,41 309,54
1999 326,34 376,00 293,32 287,72 628,58 297,34
2001 325,04 384,88 316,07 299,95 602,24 320,47
2002 325,64 402,49 329,70 308,09 645,28 336,67
2003 302,51 365,81 286,76 285,56 592,62 307,30
2004 313,12 389,76 321,52 316,09 604,00 309,62
2005 330,23 411,39 315,23 336,20 658,33 329,55
Variação (%)
(1995/ 2005) -1,74 15,49 12,55 26,52 6,15 9,57
Média
(1995/ 2005) 328,80 386,06 311,20 300,38 629,92 314,24
Fonte: IPEA251
.
De acordo com o IPEA, “[...] é definida como a razão entre a soma da renda mensal de todos os indivíduos da
família no domicílio dos mesmos”. 251
IPEA, 13 nov. 2007.
116
Pela tabela 34 constata-se que o Distrito Federal deteve a maior média (R$ 629,92) em
relação à renda domiciliar na referida década. Observa-se também um relativo equilíbrio em relação
à renda domiciliar média entre os Estados da Região Centro-Oeste, sendo que, pela ordem, o Estado
de Mato Grosso do Sul foi o primeiro colocado, seguido pelos Estados de Mato Grosso e Goiás,
com valores respectivos de R$ 314,24, R$ 311,20 e R$ 300,38.
A renda domiciliar per capita dos Estados da Região Centro-Oeste demonstrou uma
tendência linear, cuja média gravitou em torno de R$ 308,62, sendo um pouco inferior à do Brasil,
de R$ 328,80. Evidencia-se, inclusive, que a renda média per capita da Região Centro-Oeste, de R$
386,10 foi puxada para cima em função da renda média relativamente elevada do Distrito Federal.
Notou-se ainda uma evolução positiva na renda domiciliar per capita no referido período, exceto a
do Brasil, que teve uma queda de 1,74%. Entre os Estados da Região Centro-Oeste, Goiás deteve a
maior alta, seguido pelos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, respectivamente, com
26,52%, 12,55% e 9,57%. Já o Distrito Federal auferiu o menor aumento, de 6,15%, de acordo com
a tabela 34.
Pela figura 18, verifica-se que a renda média do Distrito Federal representou na década
mais que o dobro da renda média dos Estados da Região Centro-Oeste e quase o dobro da referente
ao Brasil.
Figura 18 – Brasil, Região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução da renda domiciliar per capita, 1995-
2005 (R$)
0,00
100,00
200,00
300,00
400,00
500,00
600,00
700,00
800,00
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005
(R$)
Brasil Região Centro-Oeste Mato Grosso Goiás Distrito Federal Mato Grosso do Sul
Fonte: IPEA252
.
Nota: Dados referentes a 2000 não foram disponibilizados.
252
IPEA, 13 nov. 2007.
117
Por último, constatou-se que a renda domiciliar per capita média de Mato Grosso no
período de 1995 a 2005 só foi superior à de Goiás, cujos valores foram de, respectivamente, R$
311,20 e R$ 300,38, segundo a tabela 34.
4.6.4 Produto interno bruto per capita
A tabela 35 mostra a evolução do Produto Interno Bruto per capita do Brasil, Região
Centro-Oeste e do Distrito Federal no período de 1995 a 2004. Observa-se que o PIB per capita
brasileiro aumentou apenas 6,61% no referido período, atingindo R$ 6.375,00, o que demonstra
uma relativa estabilização em torno deste valor na década. Dentre os Estados da Região Centro-
Oeste, Mato Grosso obteve a maior expansão do seu PIB per capita, seguido pelos Estados de
Goiás e Mato Grosso do Sul com, respectivamente, 58,26%, 27,57% e 10,34%. A participação do
PIB per capita de Mato Grosso em relação ao Brasil foi elevando-se ao longo do período, ou seja,
de 70,32% em 1995, atingiu 104,39% em 2004. Já o crescimento do PIB per capita de MT em
relação à Região Centro-Oeste foi menor, conforme demonstra a tabela 35.
Tabela 35 - Brasil, Região Centro-Oeste e Distrito Federal: Evolução do produto interno bruto per capita,
1995-2004 (R$mil)
Brasil, Região
Centro-Oeste e
Distrito Federal
Ano Variação
(%) (1995/
2004) 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Brasil 6,20 6,28 6,40 6,32 6,25 6,43 6,42 6,45 6,39 6,61 6,61
Região Centro-
Oeste 5,56 5,70 5,92 6,37 5,90 6,50 6,68 6,90 6,82 7,06 26,98
Mato Grosso 4,36 4,44 4,63 4,69 5,11 5,30 5,20 5,72 6,17 6,90 58,26
Mato Grosso do
Sul 5,51 5,50 5,59 5,68 5,72 5,66 6,00 5,99 6,34 6,08 10,34
Goiás 3,99 4,09 4,07 4,14 3,92 4,28 4,50 5,00 5,01 5,09 27,57
Distrito Federal 10,99 11,43 12,43 14,60 11,88 14,22 14,44 13,82 12,43 12,95 17,83
MT/BR (%) 70,32 70,70 72,34 74,21 81,76 82,43 81,00 88,68 96,56 104,39 48,44
MT/CO (%) 78,42 77,89 78,21 73,63 86,61 81,54 77,84 82,90 90,47 97,73 24,63
Fonte: IPEA253
.
Nota: Deflacionado pelo deflator implícito do PIB nacional.
253
IPEA, 13 nov. 2007.
118
Nesse contexto, Pereira254
afirma que o Estado de Mato Grosso, apesar de ter
“experimentado” em período recente, elevado “crescimento nominal” do “PIB”, superiores aos
demais estados brasileiros, ainda possui uma pequena participação no “PIB do Brasil”:
A economia de Mato Grosso-MT vem experimentando expressivo crescimento do
seu Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. Ele tem sido maior do que o do
Brasil como um todo. Entre 1985 e 2003, de acordo com o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), dentre as unidades federativas do País, o PIB
mato-grossense foi o que exibiu o maior crescimento nominal: 275%. A despeito
dessa ascensão significativa, a participação do PIB de MT no PIB nacional é de
apenas 1,5%. Essa participação, no entanto, vem aumentando, pois, em 1995, ela
era ainda menor: 1%.
Conforme discutido anteriormente, a liderança no crescimento do PIB per capita estadual no
período analisado deveu-se, em grande parte, à expansão da soja, cujas exportações impactaram
positivamente o PIB.
Na verdade, o PIB per capita como indicador de participação no produto de uma
determinada região ou país é bastante criticado pela literatura econômica, em função da elevada
abstração contida no seu cálculo, pois a eqüidade na distribuição de renda e riqueza nem sempre
ocorre.
4.6.5 Índice de desenvolvimento humano (IDH)
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior.255
, o IDH tem sido utilizado para medir
o nível de “desenvolvimento social” de muitos países ou regiões:
Unindo-se o conceito de produto per capita com os indicadores sociais, tem-se
melhores condições de avaliar o bem-estar de uma população, ou o grau de
desenvolvimento social de um país. A ONU, buscando se aproximar de uma
medida que retratasse o desenvolvimento social de países, criou um índice que
justamente agrega alguns indicadores sociais com o produto per capita. Esse índice
é o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano -, construído para mais de 170 254
PEREIRA, 2007, p. 7. 255
GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JÚNIOR, 2006, p. 88.
Segundo Gremaud, Vasconcellos e Toneto Júnior, 2006, p.88-89, o IDH é conceituado como: “ ... um índice que
varia de 0 a 1, sendo que quanto mais próximo a unidade mais desenvolvido é considerado o país. Ele é uma média
aritmética de três indicadores: i. um indicador de renda: o produto interno bruto per capita; ii. um indicador que procure
captar a saúde da população, na verdade, um indicador de longevidade: a expectativa de vida da população ao nascer; e
iii. um indicador que retrate as condições de educação da população, esse indicador é uma média ponderada de dois
outros indicadores: a taxa de alfabetização de adultos (dois terços) e a taxa combinada de matrícula nos ensinos
fundamental, médio e superior (um terço)”.
119
países e que vem sendo elaborado desde o início da década de 90 (Grifos dos
autores).
Nesse contexto, ressalta-se que nenhuma região é capaz de elevar o bem-estar de sua
população sem vivenciar o crescimento econômico. A definição de desenvolvimento humano,
segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)256
, incorpora além do
desenvolvimento econômico uma melhora qualitativa nos padrões de vida da população:
Desenvolvimento humano é um conceito amplo que pode ser definido como o
processo para ampliação da gama de opções e oportunidades das pessoas. Dentro
deste espectro, três opções básicas estão presentes em todos os níveis de
desenvolvimento e aparecem como condição para as demais: desfrutar uma vida
longa e saudável, adquirir conhecimento e ter acesso aos recursos necessários a um
padrão de vida decente.
O Relatório sobre desenvolvimento humano no Brasil de 1996, elaborado pelo PNUD e
IPEA257
, indica que o Brasil enquadra-se com IDH mediano e também aponta para grandes
diferenças regionais:
A partir desse índice, construiu-se um ranking, e os países foram divididos em
países de alto IDH (maior que 0,8), médio (entre 0,5 e 0,8) e baixo
desenvolvimento (abaixo de 0,5). No último ranking mundial divulgado em 1998, o
Brasil ocupou a 74ª. posição com um IDH de 0,747, enquadrando-se na condição
de país de médio desenvolvimento, entre 174 países classificados. Esse mesmo
indicador foi utilizado para comparar as diferenças entre estados e regiões no
Brasil. Novamente, chamam a atenção as desigualdades existentes no Brasil, onde
há estados como o Rio Grande do Sul, que chega próximo à média dos países de
alto desenvolvimento humano, e o Piauí, que apresenta um IDH próximo a 0,5.
A figura 19 mostra que a dimensão renda proporcionou a menor contribuição para o
crescimento do IDH de Mato Grosso no período de 1991 a 2000 (21,8%), superada pelos subíndices
longevidade e educação com, respectivamente, 32,8% e 45,4% de participação. Verifica-se também
que o subíndice renda representou menos da metade da contribuição do subíndice educação e 11%
inferior que o subíndice longevidade.
256
IPEA; PNUD. Relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil. Brasília, DF, 1996, p. 1. 257
Idem, p. 89.
120
Figura 19 – Mato Grosso: Contribuição dos subíndices educação, longevidade e renda para o crescimento do
IDH(1991-2000) (%)
45,4
21,8
32,8
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
Educação Longevidade Renda
(%)
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano (PNUD), 2007
Fonte: PNUD258
.
A tabela 36 mostra o índice de desenvolvimento humano nos estados brasileiros nos anos de
1991 e 2000. Constata-se uma evolução positiva no IDH mato-grossense, cujo crescimento
representou 12,85%, passando de 0,685 em 1991 para 0,773 em 2000.
Pela tabela 36, infere-se que o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do
Estado e o limite máximo do IDH, ou seja, 1 – IDH) foi reduzido em 27,9%. O IPEA/PNUD259
afirma que, “Se mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o Estado levaria 6,3 anos para
alcançar o Distrito Federal, Estado com o melhor IDH-M do Brasil (0,844)”.
Segundo o PNUD260
, em análise do ranking nacional do IDH -1991-2000, o Estado de Mato
Grosso ocupou a 12ª. posição em 1991, com 0,685 evoluiu 3 posições em 2000, passando a ocupar
o 9º. lugar com 0,773. E ainda assevera que:
Em relação aos outros Estados do Brasil, Mato Grosso apresenta uma situação boa:
ocupa a 9ª. posição, sendo que 8 Estados (29,6%) estão em situação melhor e 18
estados (70,4%) estão em situação pior ou igual.
258
IPEA; PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil – 1996. Rio de Janeiro; Brasília, 1996. Disponível em:
< http://www.pnud.org.br/atlas/oque/index.php >. Acesso em: nov. 2007. 259
IPEA; PNUD. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil – 1996. 27 nov. 2007. Perfil Estadual – Mato Grosso.
Rio de Janeiro; Brasília, p. 5, 1996. Disponível em: < http://www.pnud.org.br/atlas/ >. Acesso em: nov. 2007. 260
Idem.
121
Tabela 36 - Índice de Desenvolvimento Humano dos estados Brasileiros, 1991 e 2000
Ordem Estados Região 1991 2000 Variação (%)
1991/2000
1º Santa Catarina Sul 0,748 0,822 9,9
2º São Paulo Sudeste 0,778 0,820 5,4
3º Rio Grande do Sul Sul 0,753 0,814 8,1
4º Rio de Janeiro Sudeste 0,753 0,807 7,2
5º Paraná Sul 0,711 0,787 10,7
6º Mato Grosso do Sul Centro-Oeste 0,716 0,778 8,7
7º Goiás Centro-Oeste 0,700 0,776 10,9
8º Minas Gerais Sudeste 0,697 0,773 10,9
9º Mato Grosso Centro-Oeste 0,685 0,773 12,8
10º Espírito Santo Sudeste 0,690 0,765 10,9
11º Amapá Norte 0,691 0,753 9,0
12º Roraima Norte 0,692 0,746 7,8
13º Rondônia Norte 0,660 0,735 11,4
14º Pará Norte 0,650 0,723 11,2
15º Amazonas Norte 0,664 0,713 7,4
16º Tocantins Norte 0,611 0,710 16,2
17º Pernambuco Nordeste 0,620 0,705 13,7
18º Rio Grande do Norte Nordeste 0,604 0,705 16,7
19º Ceará Nordeste 0,593 0,700 18,0
20º Acre Norte 0,624 0,697 11,7
21º Bahia Nordeste 0,590 0,688 16,6
22º Sergipe Nordeste 0,597 0,682 14,2
23º Paraíba Nordeste 0,561 0,661 17,8
24º Piauí Nordeste 0,566 0,656 15,9
25º Alagoas Nordeste 0,548 0,649 18,4
26º Maranhão Nordeste 0,543 0,636 17,1
Fonte: PNUD261
, IPEA262
, IBGE263
, FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO264
.
261
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. Relatórios sobre o desenvolvimento
humano no Brasil, 1996-2001. Rio de Janeiro/Brasília, 1996-2001. Disponível em:
< http://www.pnud.org.br/rdh/ >. Acesso em: nov. 2006. 262
IPEA, 20 nov. 2007. 263
IBGE. Índice de desenvolvimento humano (IDH). 21 nov. 2007. Disponível em:
< http://www.ibge.gov.br >. Acesso em: nov. 2007. 264
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil. 21 nov. 2007. Belo horizonte,
1991/2000. Disponível em: < http://www.fjp.gov.br >. Acesso em: nov. 2007.
122
Apesar de o IDH ser bastante criticado, ainda é muito ampla a sua utilização pela
comunidade científica para identificar o nível de desenvolvimento social de muitos países e regiões.
O IDH mato-grossense é identificado pelas tabelas 37 a 39 de forma desagregada, através dos
subíndices educação, longevidade e renda.
O índice de desenvolvimento humano longevidade (IDH e IDH-M, 1991 e 2000) do Brasil,
Mato Grosso e seus dez maiores municípios produtores de soja é mostrado pela tabela 37. Constata-
se que o IDH de Mato Grosso teve um crescimento superior ao do Brasil, respectivamente, de
13,15% e 9,82%. Com relação ao índice de desenvolvimento municipal (IDH-M) dos maiores
municípios produtores de soja mato-grossenses, o município de Campos de Júlio teve o maior
aumento, seguido por Nova Ubiratã e Sorriso com, respectivamente, 21,45%, 15,59% e 13,06%.
Tabela 37 - Índice de Desenvolvimento Humano (Longevidade) do Brasil, Mato
Grosso e seus municípios produtores de soja* (IDH e IDH-M) - 1991 e 2000
Brasil, Mato Grosso e seus
municípios produtores de
soja
IDH e IDH-M
(Longevidade) Variação
1991/2000
(%)
Contribuição do
subíndice
(longevidade) no
crescimento do IDH
e IDH-M
(%) 1991 2000
Brasil 0,662 0,727 9,82 ...............................
Mato Grosso 0,654 0,740 13,15 32,8
Sorriso 0,712 0,805 13,06 38,0
Sapezal 0,780 0,807 3,46 14,9
Campo Novo do Parecis 0,708 0,745 5,23 15,2
Nova Mutum 0,712 0,767 7,72 20,8
Diamantino 0,708 0,769 8,62 38,6
Lucas do Rio Verde 0,748 0,805 7,62 33,9
Primavera do Leste 0,701 0,775 10,56 37,2
Campos de Júlio 0,662 0,804 21,45 57,3
Nova Ubiratã 0,712 0,823 15,59 48,9
Brasnorte 0,711 0,778 9,42 26,9
Média dos dez municípios 0,715 0,788 10,12 33,17
Fonte: IPEA; PNUD; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO265
.
Nota: (*) Dez maiores municípios produtores de soja no Estado de Mato Grosso na safra de 2005.
No caso dos municípios, o IDH utilizado é o municipal.
265
FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 21 nov. 2007.
123
Adicionalmente, observa-se pela tabela 37, os valores de contribuição do subíndice
longevidade para o crescimento do IDH e IDH-M de Mato Grosso e dos respectivos municípios
sojicultores. Verifica-se que a dimensão longevidade teve um peso significativo no crescimento do
IDH mato-grossense e do IDH-M dos municípios selecionados, representada, em média,
respectivamente, por 32,8% e 33,17% de contribuição para o crescimento do valor agregado dos
respectivos índices. A contribuição da dimensão longevidade teve maior peso no IDH-M do
município de Campos de Júlio (57,3%), seguido pelos municípios de Nova Ubiratã (48,9%) e
Diamantino (38,6%), conforme os dados do IPEA/PNUD e FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO266
.
Nota-se, inclusive, que todos os dez municípios obtiveram incremento nos seus respectivos IDHs
(longevidade).
O IDH educação é composto pela taxa de alfabetização dos adultos e pela taxa combinada
de matrículas nos ensino fundamental, médio e superior. A tabela 38 nos mostra a evolução do IDH
educação no Brasil, Mato Grosso e seus maiores municípios produtores de soja na safra de 2005,
bem como a contribuição desse índice para o crescimento do IDH.
O papel da educação é bastante ressaltada pela literatura, em virtude de sua importância na
formação do capital humano de um país. Até mesmo no setor agropecuário, onde é intensivo o uso
de tecnologias modernas, a busca de conhecimento e cultura é fundamental, pois pode exercer um
papel decisivo na redução das desigualdades sociais.
Como fica evidente na tabela 38, os dez municípios produtores de soja apresentaram
crescimento abaixo da média do Estado em face do IDH educação, muito embora tal crescimento
não seja muito diferente do apresentado pelo Estado. Nota-se que o IDH educação foi elevado em
oito dos dez municípios selecionados (IDH-M > 0,8) e médio (IDH-M < 0,8) em apenas dois
municípios (Nova Ubiratã e Brasnorte) no ano de 2000. Nota-se também que o incremento no IDH-
M educação mato-grossense foi superior ao do Brasil no referido período. Constata-se também uma
notória contribuição do IDH educação para o crescimento do IDH de Mato Grosso e IDH-M dos
municípios selecionados, respectivamente, de 45,4% e 41,21%.
Dentre os municípios que tiveram maior peso do IDH-M educação na formação do IDH-M,
destacam-se Diamantino, Nova Ubiratã e Brasnorte com, respectivamente, 62,7%, 59,5% e 55,0%.
No grupo dos dez maiores municípios produtores de soja de Mato Grosso, dois deles tiveram uma
baixa contribuição do subíndice (Educação) no crescimento do (IDH-M). São eles Campos de Júlio
e Sorriso com, respectivamente, 0,8% e 29,40%, segundo a tabela 38.
266
IPEA; PNUD, 27 nov. 2007. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 21 nov. 2007.
124
Tabela 38 - Índice de Desenvolvimento Humano (Educação) do Brasil, Mato Grosso e
seus municípios produtores de soja* (IDH e IDH-M) - 1991 e 2000
Brasil, Mato Grosso e
seus municípios
produtores de soja
IDH e IDH-M
(Educação) Variação
1991/2000
(%)
Contribuição do
subíndice (Educação)
no crescimento do IDH
e IDH-M
(%) 1991 2000
Brasil 0,745 0,849 13,96 ...................................
Mato Grosso 0,741 0,860 16,06 45,4
Sorriso 0,797 0,869 9,03 29,4
Sapezal 0,774 0,838 8,27 35,4
Campo Novo do Parecis 0,766 0,866 13,05 41,2
Nova Mutum 0,751 0,866 15,31 43,4
Diamantino 0,777 0,876 12,74 62,7
Lucas do Rio Verde 0,814 0,882 8,35 40,5
Primavera do Leste 0,791 0,879 11,13 44,2
Campos de Júlio 0,847 0,849 0,24 0,8
Nova Ubiratã 0,659 0,794 20,49 59,5
Brasnorte 0,655 0,792 20,92 55,0
Média dos dez
municípios 0,763 0,851 11,95 41,21
Fonte: IPEA; PNUD; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO267
.
Nota: (*) Dez maiores municípios produtores de soja em Mato Grosso na safra de 2005. No caso
dos municípios, o IDH utilizado é o municipal.
Merece especial atenção neste trabalho o subíndice do IDH relativo à dimensão renda, visto
que o Estado de Mato Grosso tem tido um acentuado crescimento econômico em mais de uma
década, comprovado por elevadas taxas de crescimento do PIB.
A tabela 39 mostra o índice de desenvolvimento humano renda (IDH e IDH-M, 1991 e
2000) do Brasil, Mato Grosso e seus dez maiores municípios produtores de soja na safra de 2005.
Observa-se que a evolução positiva ocorreu tanto para Mato Grosso quanto para o Brasil no
subíndice IDH renda, representado, respectivamente, por 8,62% e 6,17%.
267
IPEA; PNUD, 27 nov. 2007. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 21 nov. 2007.
125
Tabela 39 - Índice de Desenvolvimento Humano, (Renda)*do Brasil, Mato Grosso e
seus municípios produtores de soja** (IDH e IDH-M) - 1991 e 2000
Brasil, Mato Grosso e seus
municípios produtores de
soja
IDH e IDH-M
(Renda) Variação
1991/2000
(%)
Contribuição do
subíndice (Renda) no
crescimento do IDH
e IDH-M
(%) 1991 2000
Brasil 0,681 0,723 6,17 ................................
Mato Grosso 0,661 0,718 8,62 21,8
Sorriso 0,717 0,797 11,16 32,7
Sapezal 0,673 0,763 13,37 49,7
Campo Novo do Parecis 0,709 0,815 14,95 43,6
Nova Mutum 0,676 0,771 14,05 35,8
Diamantino 0,722 0,720 -0,28 -1,3
Lucas do Rio Verde 0,723 0,766 5,95 25,6
Primavera do Leste 0,725 0,762 5,10 18,6
Campos de Júlio 0,674 0,778 15,43 41,9
Nova Ubiratã 0,738 0,719 -2,57 -8,4
Brasnorte 0,656 0,701 6,86 18,1
Média dos dez municípios 0,701 0,759 8,40 25,63
Fonte: IPEA; PNUD; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO268
.
Nota: (*) Segundo o IPEA, “o IDH-renda é obtido a partir do indicador renda familiar per capita
médio”. (**) Os dez maiores municípios produtores de soja na safra de 2005.
No cômputo geral, a maioria dos municípios selecionados teve aumento nos seus respectivos
IDH-M renda, exceto os municípios de Nova Ubiratã e Diamantino, cujas reduções foram de,
respectivamente, 2,57% e 0,28%.
O aumento médio do IDH-M renda nos dez municípios foi de 8,40%, praticamente o mesmo
de Mato Grosso (8,62%). Nota-se uma relativa heterogeneidade na contribuição do subíndice IDH-
M renda na composição do IDH-M, visto que alguns municípios como Sapezal, Campo Novo do
Parecis e Campos de Júlio tiveram elevadas participações de, respectivamente, 49,7%, 43,6% e
41,9%, três municípios tiveram aumentos inferiores a 7%, Lucas do Rio Verde; Primavera do Leste
e Brasnorte e dois tiveram contribuições negativas.
Um fato que merece destaque é o percentual de contribuição do subíndice renda no
crescimento do IDH e IDH-M do Estado e na média dos municípios selecionados, respectivamente,
268
IPEA; PNUD; 27 nov. 2007. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 21 nov. 2007.
126
de 21,8% e 25,63%. Comparativamente, a contribuição do IDH renda na formação do IDH ficou
abaixo das contribuições dos IDH-M educação e longevidade. Os dados sugerem que nos maiores
municípios produtores de soja, o subíndice renda não foi determinante para impactar tanto o IDH do
Estado como o IDH-M dos municípios, conforme ilustrado pela figura 19.
No que concerne à contribuição do subíndice IDH renda na composição do IDH de Mato
Grosso, ela foi modesta, principalmente considerando-se a média dos dez maiores municípios
produtores de soja do Estado. Essa constatação vem ao encontro de estudos recentes sobre a
capacidade do setor agropecuário em gerar emprego e renda, considerados baixos pelos respectivos
autores, com destaque para Figueiredo269
.
A tabela 40 mostra de forma agregada os IDHs do Brasil, Mato Grosso e seus maiores
municípios produtores de soja no período de 1991 e 2000. Verifica-se que o IDH mato-grossense
teve um crescimento ligeiramente superior ao do Brasil de, respectivamente, 12,74% e 10,11%.
Tabela 40 - Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, Mato Grosso e seus
municípios produtores de soja (IDH e IDH-M) - 1991 e 2000
Brasil, Mato Grosso e os
maiores municípios
produtores de soja
IDH e IDH-M Variação
1991/00
(%)
Hiato de
desenvolvimento
humano
(1 - IDH)
(%) 1991 2000
Brasil 0,696 0,766 10,11 23,10
Mato Grosso 0,685 0,773 12,74 27,90
Sorriso 0,742 0,824 11,01 31,80
Sapezal 0,742 0,803 8,13 23,60
Campo N. do Parecis 0,728 0,809 11,13 29,80
Nova Mutum 0,713 0,801 12,39 30,70
Diamantino 0,736 0,788 7,16 19,70
Lucas do Rio Verde 0,762 0,818 7,35 23,50
Primavera do Leste 0,739 0,805 8,98 25,30
Campos de Júlio 0,728 0,810 11,36 30,10
Nova Ubiratã 0,703 0,779 10,76 25,60
Brasnorte 0,674 0,757 12,31 25,50
Média dos dez
municípios 0,727 0,799 9,90 26,56
Fonte: IPEA; PNUD; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO270
.
269
FIGUEIREDO, 2003. 270
IPEA; PNUD, 27 nov. 2007. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 21 nov. 2007.
127
Dentre os municípios que obtiveram incrementos expressivos, destacam-se: Nova Mutum,
Brasnorte e Campos de Júlio com, respectivamente, 12,39%, 12,31% e 11,36%, seguidos por
Campo Novo do Parecis (11,13%) e Sorriso (11,01%). Observa-se também que todos os dez
maiores municípios produtores de soja tiveram aumento de IDHs inferiores ao de Mato Grosso
(12,74%). Constata-se também que Sorriso foi o município que obteve a maior redução no hiato de
desenvolvimento humano (31,80%), seguido por Nova Mutum (30,70%) e Campos de Júlio
(30,10%). O valor médio do IDH-M dos dez municípios selecionados no período de 1991/2000 foi
inferior tanto ao de Mato Grosso quanto ao do Brasil, cujos valores foram de, respectivamente,
9,9%, 12,74% e 10,11%, de acordo com a tabela 40.
Fica notório pelos resultados obtidos, através da análise da evolução dos IDHs nos dez
maiores municípios produtores de soja de Mato Grosso, que o sucesso econômico promovido pela
expansão da soja nos últimos anos não se propagou na forma requerida pela literatura econômica,
principalmente em função do baixo crescimento do subíndice IDH-M renda, que teve participação
tímida na composição do IDH não só do Estado, mas principalmente nos dez maiores municípios
produtores de soja.
Dubreuil271
critica o atual modelo agrícola mato-grossense:
Na região da Chapada dos Parecis, o sucesso incontestável da produção agrícola
não deve ocultar as dificuldades sociais (conflitos ligados à terra, reservas
indígenas), econômicas (fragilidade financeira dos empreendimentos e dependência
em relação aos preços e aos grandes grupos) e ambientais. ... Mato Grosso
mantém-se profundamente marcado pelo avanço da fronteira agrícola e pelo mito
do sucesso econômico que alimenta.
No próximo item, busca-se abordar alguns indicadores educacionais que são considerados
importantes no presente trabalho.
4.7 Indicadores educacionais
O presente tópico retrata a evolução de alguns indicadores considerados importantes
atinentes à educação no Estado de Mato Grosso com ênfase no período de 1995 a 2005. A educação
é considerada por muitos autores e pela literatura econômica como um fator chave no
desenvolvimento de um país, a qual alguns autores denominam de capital intelectual.
271
DUBREUIL et al., 2005, p. 15.
128
A tabela 41 e a figura 20 demonstram a evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de
15 anos ou mais de idade em Mato Grosso, por situação de domicílio no período de 1995 a 2005.
Constata-se que, em pouco mais de uma década, houve uma redução da taxa de analfabetismo
mato-grossense, notadamente nos domicílios de origem rural.
Tabela 41 - Mato Grosso: Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15
anos ou mais de idade, por situação de domicílio, no período de 1995 a 2005 (%)
Ano Total Situação de domicílio
Urbana Rural
1995 15,32 11,65 26,32
1996 11,93 8,81 22,00
1997 14,35 11,22 24,32
1998 11,20 8,95 18,28
1999 11,78 9,35 18,97
2000 12,36 10,23 20,85
2001 11,19 9,05 19,08
2002 10,21 8,44 17,23
2003 10,70 8,85 16,95
2004 10,10 8,16 16,73
2005 9,74 8,22 14,87
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde272
.
Segundo o Ipea273
, “Um adequado grau de instrução da população é requisito essencial para
o desenvolvimento do país, para garantir o exercício da cidadania e promover a igualdade de
oportunidades na sociedade”.
Entre 1995 e 2005, as reduções nas taxas de analfabetismo total e por situação de
domicílios, nas zonas urbana e rural, foram de, respectivamente, 5,58, 3,43 e 11,45 pontos
percentuais, considerando-se as taxas médias de analfabetismo para Mato Grosso no referido
período, e nas zonas urbana e rural, que foram de 11,72%, 9,36% e 19,60%, respectivamente. Os
dados indicam que existe uma grande disparidade em termos de nível educacional entre as zonas
Conceito de taxa de analfabetismo: “[...] percentual de pessoas de 15 ou mais anos de idade que não sabem ler e
escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhecem, na população total residente da mesma faixa etária,
em determinado espaço geográfico, no ano considerado”, segundo BRASIL. Ministério da Saúde. Indicadores básicos
da saúde no Brasil: Conceitos e aplicações. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde, 2002, p. 85. 17 out. 2007.
Disponível em: < http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php >. Acesso em: out. 2007. 272
BRASIL, Ministério da Saúde, 2007. 273
IPEA. Radar Social, 2006, p.42. 3 out. 2007. Disponível em: < http://www.ipea.gov.br >. Acesso em: out. 2007.
129
urbana e rural, sendo que a última representou mais que o dobro da taxa de analfabetismo da
primeira.
A figura 20 demonstra que as pessoas da zona rural tiveram um grande incremento
educacional a partir dos anos 2000, mas, mesmo assim, a taxa de analfabetismo verificada em 2005
na zona rural de Mato Grosso representa quase o triplo da recomendada pela Unesco274
no seu
Boletim divulgado em 2003.
Figura 20 – Mato Grosso: Evolução da taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por
situação de domicílio, no período de 1995 a 2005 (%)
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
(%)
Situação de domicílio Urbana Situação de domicílio Rural Situação de domicílio Total
Fonte: BRASIL. Ministério da Saúde275
.
De acordo com o Ministério da Saúde276
, o contingente de pessoas de 15 anos ou mais de
idade em Mato Grosso, consideradas analfabetas em 2005, representou uma população de 196.335
pessoas. No caso dos produtores rurais analfabetos, isso torna-se um fator de vulnerabilidade
socioeconômica, pois cada vez mais o “agronegócio” da soja requer níveis elevados de escolaridade
e eficiência na gestão do negócio.
274
UNESCO. Boletim Proyecto Princípal de Educación. n. 32, dicíembre 1993. In: BRASIL. Ministério da Saúde.
Indicadores socioeconômicos. Brasília, 2006. 17 out. 2007. Disponível em:
< http://w3.datasus.gov.br/datasus/datasus.php >. Acesso em: out. 2007. 275
BRASIL. Ministério da Saúde, 2007. 276
Idem.
Taxa de analfabetismo recomenda pela Unesco
130
A figura 21 mostra a evolução da taxa de escolaridade da população de 15 ou mais anos de
idade em Mato Grosso, no período de 1995/1999 e 2001/2005. Constata-se que a proporção de
adultos analfabetos funcionais vem se reduzindo ao longo da década, embora permaneça em níveis
elevados. Em 1995, por exemplo, a taxa do analfabetismo funcional representou 33,71% e, após
quedas consecutivas no período considerado, atingiu o menor índice em 2005, com 23,94%. Nota-
se que houve reduções proporcionais de anos de estudo em todos os grupos, as quais se reverteram
no incremento da participação no grupo de 8 e mais anos de estudo, ou seja, na década analisada,
ocorreu uma sensível melhoria no nível de escolaridade das pessoas de 15 anos ou mais de idade em
Mato Grosso. Isso leva a conjecturar que o número de estudantes que concluíram pelo menos o
ensino fundamental tenha aumentado significativamente no Estado, de acordo com a figura 21.
Figura 21 – Mato Grosso: Evolução da taxa de escolaridade da população de 15 anos ou mais de idade, por
grupos de anos de estudo, no período de 1995 a 1999 e 2001 a 2005 (%)
16,6
6
14,6
3
15,6
8
13,2
3
13,0
9
13,0
6
12,8
5
12,5
6
11,5
5
11,0
0
17,0
5
18,5
4
15,9
5
16,6
1
16,7
7
17,1
1
13,2
0
13,2
2
12,7
7
12,9
4
36,8
8
37,2
7
35,8
2
35,8
1
35,9
7
33,0
2
31,7
6
32,0
5
30,5
1
29,4
6
29,4
0
29,5
6 32,5
5
34,3
6
34,1
6 36,8
0
42,1
9
42,1
6 45,1
7
46,5
90,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
45,00
50,00
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005
(%0
Menos de 1 ano de estudo 1 a 3 anos de estudo 4 a 7 anos de estudo 8 e mais anos de estudo
Fonte: DATASUS, indicadores socioeconômicos, op, cit.
Fonte: BRASIL, Ministério da Saúde277
.
Em relação à escolaridade média da população mato-grossense na faixa de 25 anos ou mais,
constatou-se que ela vem crescendo lentamente (4,9 anos em 1995, contra 6,2 anos em 2005),
conforme demonstra a figura 22. Verificou-se também que a população de Mato Grosso acima de
Refere-se a “[...] distribuição percentual da população residente de 15 e mais anos de idade, por grupos de estudo, em
determinado espaço geográfico, no ano considerado”. “O nível de instrução inferior a quatro anos de estudo tem sido
utilizado como proxy do analfabetismo funcional, embora o significado deste conceito seja mais amplo”, de acordo com
BRASIL. Ministério da Saúde, 2007. 277
BRASIL. Ministério da Saúde, 2007.
131
25 anos estudou, em média, até a sexta série do ensino básico. Isso significa que a população nessa
faixa etária em Mato Grosso ainda não conseguiu chegar a um nível de escolaridade satisfatório
comparativamente a padrões internacionais de educação.
Figura 22 – Mato Grosso: Evolução da escolaridade média das pessoas de 25 ou mais anos de idade, no
período de 1995 a 1999 e 2001 a 2005 (nº. médio de anos de estudo)
4,9 4,9
5,25,4 5,3 5,4
6,0 6,0 6,1 6,2
0
1
2
3
4
5
6
7
1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005
(nº
méd
io d
e an
os d
e es
tud
o)
Fonte: SEPLAN/ MT - Evolução dos indicadores do Plano Plurianual - 2004/ 2007. Disponívle em: < http://www.seplan.mt.gov.br > acesso: set. 2007.
Nota: Dado referenta a 2000 não foi disponibilizado.
Fonte: MATO GROSSO. Seplan278
.
Nota: Dados referentes a 2000 não foram disponibilizados.
Segundo o Ipea279
, o baixo nível de escolarização da população brasileira tem causas
específicas:
O ritmo lento do avanço na média de anos de estudo da população brasileira é
influenciado, em larga medida, pela persistência de taxas ainda elevadas tanto de
reprovação como de evasão escolar. Em que pese a quase universalização do
acesso à escola por parte das crianças de 7 a 14 anos, 43% não conseguem concluir
a 8ª. série do ensino fundamental na idade adequada, o que contribui para manter
baixa a média de anos de estudo da população.
No caso de Mato Grosso, de acordo com os dados da Seplan280
, as taxas de abandono dos
alunos do ensino fundamental e médio, no período de 1999/2004, foram bem mais elevadas que as
278
MATO GROSSO. Seplan, 15 nov. 2007. 279
IPEA. Radar social, 2006, 3 out. 2007, p. 43. 280
MATO GROSSO. Seplan, 15 nov. 2007.
132
do Brasil. Verificou-se que a taxa média de abandono no ensino fundamental em Mato Grosso no
período de 1999/2004 foi de 20,81% contra 10,38% do Brasil. Já no ensino médio, representou
26,91% e 17,73%, respectivamente, em média. Isso leva a acreditar que uma das causas da baixa
escolaridade média da população mato-grossense seja provocada pelas acentuadas taxas de
abandono escolar.
Pelos resultados obtidos, nota-se que a evolução dos indicadores sociais teve uma melhora
significativa no período de 1995 a 2005, mas vários deles ainda revelaram se situar em patamares
elevados, notadamente considerando-se a população estratificada por educação e renda na zona
rural, a qual se apresenta como detentora do maior nível de disparidade econômica e social.
Constatou-se que o baixo crescimento e a baixa distribuição da renda nos maiores municípios
produtores de soja mato-grossenses vêm a confirmar a teoria econômica de que nem sempre
crescimento econômico é sinônimo de desenvolvimento.
Vale ressaltar que, ao longo do quarto capítulo, buscou-se fazer implicitamente uma
associação entre crescimento econômico e evolução dos indicadores sociais, tal como foi sugerido
na delimitação conceitual de desenvolvimento econômico. Assume-se que, ocorrendo uma
acentuada elevação do PIB, conforme foi demonstrado, haveria um nítido impacto nos indicadores
sociais, principalmente na distribuição de renda nos maiores municípios produtores de soja, haja
vista que o referido produto constitui-se como base econômica daquelas localidades.
A literatura econômica, principalmente a teoria da base exportadora, defende que o produto-
base da agricultura, através das exportações, no caso de Mato Grosso, a soja, provoca efeitos de
encadeamentos para frente (forward linkage) e para trás (backward linkage). Tais efeitos refletem-
se na geração de renda, emprego e elevação da demanda agregada por bens e serviços, tais como
insumos, máquinas, equipamentos, fertilizantes, dentre outros. Os efeitos de encadeamento
contribuem para o crescimento econômico de vários setores que se inter-relacionam com o setor
agrícola mato-grossense (multiplicador intra-regional).
Figueiredo, Barros e Guilhoto281
enaltecem o papel desempenhado pelo setor agropecuário
mato-grossense no âmbito do crescimento econômico:
Os principais setores do Mato Grosso com fortes ligações para trás, os quais
dinamizam a economia ao se destacarem como importantes compradores de bens e
serviços das demais atividades, estão praticamente todos diretamente relacionados
281
FIGUEIREIDO, Margarida Garcia de; BARROS, Alexandre Lahós Mendonça de; GUILHOTO, Joaquim José
Martins. Relação Econômica dos setores agrícolas do Estado do Mato Grosso com os demais setores pertencentes tanto
ao Estado quanto ao restante do Brasil. Rev. Econ. Sociol. Rural, Rio de Janeiro, v. 43, n. 3, p. 566-570, set. 2005.
133
ao setor primário. [...] ao atender as exportações de soja do Mato Grosso, diversos
outros setores devem aumentar suas produções.
Dentre outros, os principais resultados encontrados pelos autores282
foram os seguintes:
[...] a capacidade de geração direta de empregos pelo setor soja é de fato modesta,
pois se trata de um setor altamente mecanizado e relativamente intensivo em
capital. Com relação à capacidade de geração de renda (entendam-se salários), os
setores soja, [...] pertencentes ao Mato Grosso, geram um baixo nível de renda
diretamente na própria atividade ao atenderem suas demandas finais.[...] No
entanto, têm elevado efeito multiplicador da renda na economia, gerando elevados
níveis de rendas nas indústrias fornecedoras de insumos às suas produções, o que
consiste em importante característica para a economia. [...] Dentro do próprio
estado, os setores que mais tiveram impacto em suas produções foram os setores de
comércio [...] e o transporte rodoviário, uma vez que praticamente toda a soja
mato-grossense destinada à exportação é escoada para os portos via modal
rodoviário. [...] No restante do Brasil, o ramo mais impactado foi o setor de adubos
e fertilizantes [...].
Os resultados a que chegaram os referidos autores corroboram com o que foi dito sobre a
produção de soja mato-grossense. Porém, ressalta-se que o forte encadeamento para frente ou
(forward linkage), provocado pelas exportações de soja às indústrias fornecedoras de insumos à
produção, sugerem uma significativa transferência de renda e riqueza gerada na economia oriunda
do segmento soja para fora do Estado. Ao contrário do que os autores283
defendem, vários insumos
(adubos e fertilizantes) não são industrializados no Brasil, mas importados de países como Belarus,
Israel e Polônia, indicando que os prováveis impactos no âmbito econômico e social podem estar
ocorrendo no exterior.
O resumo de um grupo de nove indicadores sociais para Mato Grosso, para os dez maiores
municípios produtores de soja e para o Brasil no período de 1991-2000 é demonstrado pela tabela
42. Observa-se no grupo a presença de indicadores associados à concentração de renda,
desigualdade e bem-estar social.
Na verdade, as tabelas a seguir, sintetizam os principais indicadores sociais que foram
identificados no presente trabalho. Ressalta-se que apenas confirmam o que foi dito até o momento
sobre concentração de renda, desigualdade e pobreza em Mato Grosso nos períodos considerados.
282
FIGUEIREDO; BARROS e GUILHOTO, 2005, p. 569-571. 283
Idem.
134
Tabela 42 – Brasil e Mato Grosso: Resumo de indicadores sociais no período de 1991-2000
Nº.
INDICADORES
1991 2000
MT MPS* BR MT MPS* BR
1 Índice de Gini 0,598 0,574 0,634 0,630 0,611 0,645
2 Razão entre a renda dos 10%
mais ricos e 40% mais pobres 22,44 19,88 30,43 26,92 26,84 32,93
3 Razão entre a renda dos 20%
mais ricos e 40% mais pobres 14,63 13,02 20,03 17,04 16,50 21,40
4 Percentual de pessoas com renda
per capita abaixo de R$75,50 37,96 24,55 40,08 27,78 15,86 32,75
5 Percentual de pessoas com renda
per capita abaixo de R$37,75 15,49 7,85 20,24 11,63 7,05 16,32
6 Índice de desenvolvimento
Humano (Longevidade) 0,654 0,715 0,662 0,740 0,788 0,727
7 Índice de Desenvolvimento
Humano (Educação) 0,741 0,763 0,745 0,860 0,851 0,849
8 Índice de Desenvolvimento
Humano (Renda) 0,661 0,701 0,681 0,718 0,759 0,723
9 Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH e IDH-M) 0,685 0,727 0,696 0,733 0,799 0,766
Fonte: Vide as tabelas 30, 32 e 37 a 40.
Nota: (*) Média dos dez maiores municípios produtores de soja na safra de 2005.
Já a tabela 43 identifica a variação percentual ocorrida no intervalo de 1991-2000 para os
indicadores sociais contidos na tabela 42.
Tabela 43 – Brasil e Mato Grosso : Resumo de indicadores sociais - variação percentual no período
de 1991-2000
Nº
INDICADORES
Δ% (1991/2000)
MT MPS BR
1 Índice de Gini 5,35 6,45 1,74
2 Razão entre a renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres 19,96 34,99 8,22
3 Razão entre a renda dos 20% mais ricos e 40% mais pobres 16,47 26,76 6,84
4 Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de R$75,50 -26,82 -35,40 -18,29
5 Percentual de pessoas com renda per capita abaixo de R$37,75 -24,92 -10,19 -19,37
6 Índice de Desenvolvimento Humano (Longevidade) 13,15 10,12 9,82
7 Índice de Desenvolvimento Humano (Educação) 16,06 11,95 13,96
8 Índice de Desenvolvimento Humano (Renda) 8,62 8,40 6,17
9 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH e IDH-M) 12,74 9,90 10,11
Fonte: Vide a tabela 42.
Hachura em vermelho indica que o desempenho dos MPS foi pior que o do Brasil e de Mato Grosso;
Hachura em verde indica que o desempenho dos MPS foi melhor que o do Brasil e de Mato Grosso;
Hachura em azul indica que o desempenho dos MPS foi melhor que o do Brasil.
135
Em relação aos dez maiores municípios produtores de soja (MPS), considerando-se o Índice
de Gini; a razão entre a renda dos 10% mais ricos e 40% mais pobres; a razão entre a renda dos
20% mais ricos e 40% mais pobres; o percentual de pessoas com renda per capita abaixo de
R$37,75; o Índice de Desenvolvimento Humano (Educação); o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) e (IDH-M), aproximadamente 67% do grupo de indicadores sociais elencados na tabela 42
para o período de 1991-2000, tiveram desempenhos piores que os do Brasil e de Mato Grosso.
Pode ser notado que apenas o indicador denominado percentual de pessoas com renda per
capita abaixo de R$75,50 teve desempenho melhor que o do Brasil e de Mato Grosso, sendo que os
índices IDH-M (Longevidade) e (Renda) tiveram perfórmances melhores que as do Brasil, segundo
a tabela 43.
A tabela 44 é formada por um grupo de indicadores sociais referentes aos períodos de 1995-
2004 e 1995-2005. Nota-se que a maioria deles traz dados, basicamente, referentes ao Estado de
Mato Grosso nos referidos períodos. Para o Brasil traz dados comparativos com MT apenas nos
índices Renda domiciliar per capita e Produto Interno Bruto per capita.
Tabela 44 – Brasil e Mato Grosso: Resumo de indicadores sociais nos períodos de 1995-2004 e 1995-2005
Nº.
INDICADORES
1995 2004 2005
MT BR MT BR MT BR
1 Renda apropriada pelos 10% mais
ricos 44,80 ......... ......... ........... 41,80 ............
2 Renda apropriada pelos 20% mais
ricos 60,30 ......... ......... ........... 57,50 ............
3 Renda apropriada pelos 40% mais
pobres 10,20 ......... ......... ........... 10,49 ............
4 Renda apropriada pelos 10% mais
pobres 1,00 ......... ......... ........... 1,18 ............
5 Razão entre a renda dos 10% mais
pobres e 10% mais ricos 2,23 ......... ......... ........... 2,85 ............
6 Índice de Gini 0,5548 ........ ......... ........... 0,5226 ............
7 Renda domiciliar per capita em (R$) 280,07 336,08 ......... ........... 315,23 330,23
8 Produto Interno bruto per capita
(R$mil) 4,36 6,20 6,90 6,61 ............ ...........
9 Taxa de analfabetismo das pessoas de
15 anos ou mais de idade (%) 15,32 ........... ......... ........... 9,74 ...........
10 Escolaridade média das pessoas de 15
anos ou mais de idade (nº médio de
anos de estudo)
4,9 ...........
........
...........
6,20
............
Fonte: Vide tabelas 31, 34, 35 e 41.
136
Mormente a evolução dos dez indicadores mostrados na tabela 44, pode-se afirmar que
houve uma estabilização em termos de distribuição de renda em Mato Grosso que pode ser
constatada pelos resultados apresentados nos cinco primeiros indicadores da respectiva tabela.
O Índice de Gini no período de 1995-2005 evidencia uma tímida redução na concentração
de renda, ou seja, de 0,5548 em 1995 caiu para 0,5226 em 2005. Em relação à Renda Domiciliar
per capita para o Brasil e Mato Grosso no período de 1995-2005, observou-se, uma redução e um
aumento de, respectivamente, 1,74% e 12,55%. Já o Produto Interno Bruto per capita elevou-se
6,61% para o Brasil e 58% para Mato Grosso, considerando-se o período de 1995-2004, segundo a
tabela 44.
Ainda pela tabela 44, constatou-se que houve uma ligeira melhoria na taxa de analfabetismo
das pessoas de 15 anos ou mais de idade em Mato Grosso. De 15,32% em 1995 caiu para 9,74% em
2005. Notou-se também um incremento na escolaridade média das pessoas de 15 anos ou mais de
idade, ou seja, aumentou em 1,3 anos o tempo de permanência média na escola mato-grossense.
Portanto o resumo da maioria dos indicadores sociais apresentados no presente trabalho
aponta para uma estabilização da desigualdade social em Mato Grosso, notadamente nos dez
maiores municípios produtores de soja, cujos prováveis encadeamentos ou efeitos difusão de renda,
oriundos das exportações da leguminosa, não foram notados.
Vale ressaltar que os resultados obtidos no presente trabalho vêm ao encontro de estudos
recentes sobre desigualdade, distribuição de renda e riqueza no setor agropecuário da região Centro-
Oeste do Brasil e, principalmente, do Estado de Mato Grosso.
137
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em face do exposto, pode-se afirmar que a hipótese levantada inicialmente de que o
crescimento econômico proporcionado pela expansão da soja em Mato Grosso, no período de 1995
a 2005, não representou um desenvolvimento econômico efetivo.
Foi constatado que dentre os bens agropecuários, o produto soja foi o que mais se destacou
em termos de área plantada, produção e valor de produção, notadamente a partir dos anos 90,
confirmando a tendência de um produto principal na pauta de exportações e da permanência do
modelo agroexportador herdado do passado.
Dentre os principais fatores que impulsionaram a expansão da soja mato-grossense
destacam-se o interesse político deliberado, principalmente a partir dos anos 70, seja através de
aporte creditício subsidiado, seja através de pesquisas tecnológicas ou programas de
desenvolvimento agropecuário. Adicionalmente, outros fatores também contribuíram, como
aspectos edafoclimáticos favoráveis, abundância de terras e economias de escala.
Embora o presente estudo tenha abordado a expansão da soja e sua implicação no
desenvolvimento econômico de Mato Grosso no período de 1995 a 2005, analisamos, na sua
dimensão econômica, um período mais amplo, 1990 a 2006, no qual abordamos os efeitos do
desempenho das exportações de soja como fator relevante do crescimento econômico.
O coeficiente de correlação que mais contribuiu para o crescimento da economia mato-
grossense no período de 1990 a 2006 foi entre as exportações e o PIB (0,85), que superou o grau de
correlação apresentado pelo Brasil (0,68). Constatou-se também que o coeficiente de correlação
entre o PIB e importações mato-grossenses foi inferior ao do Brasil de, respectivamente, 0,79 e
0,89, indicando uma menor dependência de Mato Grosso às importações do que o país. O índice de
correlação entre a corrente de comércio e o PIB, demonstrou-se mais favorável a Mato Grosso no
período analisado de, respectivamente, 0,85 e 0,79.
Adicionalmente, o Estado de Mato Grosso também demonstrou vantagem comparativa
revelada nos principais produtos da pauta de exportações, notadamente grãos, farelo e óleo, superior
à do Paraná no mesmo período. Notou-se que Mato Grosso, ao contrário do Paraná, não teve sua
competitividade reduzida, anualmente, mas conseguiu manter uma elevada competitividade em
períodos de crise econômica interna ou externa. Os principais produtos exportados pertencem ao
setor da agroindústria mato-grossense.
138
Em se tratando das taxas geométricas médias de crescimento do PIB, exportações,
importações e corrente de comércio do Brasil, Mato Grosso e do Paraná, pode-se afirmar que as
taxas calculadas para Mato Grosso foram superiores às do Brasil e Paraná no mesmo período. Isso
revela a importância da balança comercial para a economia mato-grossense.
O notável desempenho das exportações de soja representou um fator importante no
crescimento da economia mato-grossense no período de 1990 a 2006, através da maior abertura da
economia via inserção do complexo soja no mercado externo e interno.
A despeito de Mato Grosso ter se consolidado na liderança brasileira da produção de soja, a
partir da safra de 1999/2000, e também ser um grande exportador da commoditie, constatou-se que
essa força produtiva engendra vulnerabilidades: no plano econômico-financeiro, elevada
dependência para custear as várias etapas da cadeia produtiva da soja, desde o plantio até a
comercialização, principalmente das tradings companies e das instituições financeiras oficiais, que
sugerem um elevado nível de endividamento dos produtores rurais; no plano de gestão dos
negócios, baixa capacidade no gerenciamento de risco e crédito, elevada vulnerabilidade externa
(flutuações do preço da commoditie e da taxa de câmbio); e problemas logísticos, como elevados
custos de transporte e armazenamento da produção.
A expansão da soja mato-grossense apontou para uma dicotomia: se, por um lado, a
dimensão macroeconômica pode ser considerada um “sucesso”, por outro, não se pode afirmar o
mesmo em relação à dimensão social. Os resultados da análise de vários indicadores sociais
indicaram que, embora alguns deles tenham apresentado melhora significativa, notadamente a
educação e o PIB per capita, outros revelaram um acirramento na desigualdade social.
Alguns indicadores sociais, como distribuição de renda, participação e bem-estar, embora
tenham apresentado evolução positiva, estabilizaram-se em patamares elevados, revelando a
persistência de um quadro histórico de desigualdade econômica e social.
A propagação do efeito renda oriundo das exportações de soja não se fez notar,
principalmente nos dez maiores municípios produtores de soja do Estado, o que foi confirmado pela
desagregação do IDH-M municipal, através do subíndice renda.
Outra constatação importante revelou que a teoria da base exportadora é limitada para tentar
explicar o desenvolvimento econômico de Mato Grosso, embora tenha a soja como o principal
produto exportador de sua economia.
Em função do que foi explicitado, a produção de soja mato-grossense indica ser uma
atividade econômica socialmente excludente: é poupadora de mão-de-obra; tem baixa capacidade
139
de geração de emprego e renda; tende a expulsar pequenos produtores rurais que não possuam
fatores de produção, principalmente terra e capital suficientes para permanecer na atividade; e
incentiva a criação de latifúndios.
Portanto, em face do exposto, pode-se afirmar que os reflexos da expansão da soja em Mato
Grosso no período de 1995 a 2005 tiveram desempenhos heterogêneos. No aspecto
macroeconômico, notabilizou-se por acentuadas taxas de crescimento do PIB (superiores às do
Brasil) e também elevados crescimentos do valor adicionado bruto, mas, no que tange à dimensão
social (distribuição de renda, geração de emprego e riqueza), foi medíocre/modesto e também não
correspondeu ao que defende a literatura econômica.
Este trabalho identificou a oportunidade de novos estudos acerca do endividamento dos
produtores de soja em Mato Grosso, uma vez que a literatura aponta para níveis elevados, ou seja,
até que ponto a expansão da soja mato-grossense pode ser comprometida num determinado espaço
de tempo em função do elevado nível de endividamento dos sojicultores.
Outro aspecto importante associado à expansão da soja em Mato Grosso e que merece
também ser estudado são os prováveis impactos ao meio ambiente que por sua vez é fonte de
intensa polêmica entre diversos agentes sociais.
Os impactos da taxa de câmbio sobre o “agronegócio” da soja mato-grossense, bem como,
as estimativas de perdas de arrecadação tributária decorrentes da Lei Kandir, revelam-se como
importantes temas que merecem ser discutidos em novos estudos acadêmicos.
Este trabalho desenvolveu-se, basicamente, em função de dados estatísticos fornecidos por
instituições públicas e empresas que atuam na cadeia da soja estadual. As dificuldades foram muitas
porque várias empresas não se propuseram a fornecer informações atualizadas, bem como
consideradas estratégicas. Já no âmbito das instituições públicas, várias dados de natureza
econômica e social, além de incompletos ou desatualizados, também não são disponibilizados em
nível municipal.
Embora se reconheçam as limitações do presente trabalho, espera-se ter contribuído para a
ampliação de estudos sobre os reflexos da expansão da soja mato-grossense no âmbito do
desenvolvimento econômico.
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