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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO ANO 12 - EDIÇÃO Nº 43 OUTUBRO DE 2015 Em tempos de crise Como sobrevier em meio a tantos aumentos e cortes orçamentários?

OutrOlhar 43 - Novembro 2015

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Edição nº 43 do Jornal Laboratório OutrOlhar, de Novembro/2015, trazendo para debate a temática da crise econômica pela qual passa nosso país. Trabalho produzido pelos alunos do 5º período do Curso de Jornalismo da UFV, sob orientação da Professora Kelly Scoralick.

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO ● ANO 12 - EDIÇÃO Nº 43 ● OUTUBRO DE 2015

Em tempos de criseComo sobrevier em meio a tantos aumentos e cortes orçamentários?

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Ao leitor

São tantas as notícias sobre a crise econômica que afeta o Brasil. Com tanta infor-

mação, as dúvidas também não deixem de surgir. Assim, esse foi o tema escolhido para mais uma edição do jornal-laboratório, elaborado pelos alunos do 4º período do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Vi-çosa (UFV), em uma atividade conjunta das disciplinas Jornal--Laboratório, Fotojornalismo e Radiojornalismo.

Buscamos trazer, de forma simples e objetiva, quais são as causas desse período de instabi-lidade econômica – e também política, re� exo do período de insegurança.

A realidade do cenário nacio-nal já é presente em Viçosa? Nos-sos repórteres foram às ruas para saber como anda o comércio da cidade em meio a tantos au-mentos – de produtos, serviços e impostos. E o trabalhador, já sente o re� exo de demissões e de desemprego? Como sobreviver diante dos cortes na educação e manter os estudos e pesquisas em dia? Mas será que o setor cultural está abalado diante desse período de crise? Essas e outras discussões estão nas próximas páginas.

Localizamos um “Retrato So-cial de Viçosa”, com dados sobre a população economicamente ativa da cidade. Conversamos com estudantes de pós-gradua-ção e de cursinho para concursos públicos para entender as angús-tias que vivem em meio às mu-danças do cenário que enfrenta-mos.

Desempregados e trabalha-dores que aderiram ao comércio alternativo relatam o que fazem para tentar driblar a crise, assim como micro e pequenos empre-sários que lutam para manter a porta do comércio aberta. Os trabalhadores ligados à área de entretenimento, lazer e cultura explicam quais as ações adotadas para encarar uma possível baixa na procura para este setor, atre-lado ao consumo e que, por sua vez, está comprometido diante dos aumentos.

Buscamos apresentar quais são os principais problemas en-frentados pelos brasileiros nesse cenário, mas também trazemos boas alternativas para enfrentar os altos e baixos da economia.

Boa leitura!

Kelly ScoralickEditora

Crise que chega aos poucos

O Brasil vive uma crise econômica e o assunto tem sido o foco do bra-sileiro desde os noticiários até a con-versa com o vizinho. Os olhos do país então todos voltados para o posicio-namento do Governo (que está sendo duramente criticado, diga-se de pas-sagem) e também para os preços no supermercado, lojas, bares e até assi-natura de aplicativos de celular.

Ao contrário desse cenário, mui-tas cidades do país, e Viçosa se inclui nelas, parecem estar escapando ilesas da crise. Os vendedores e empresários podem até dizer que não, em alguns momentos. Os dados podem apontar uma dura realidade. Mas o que ex-plica os bares sempre cheios, as festas com ingressos esgotados e até mesmo os grupos de bazar com alguém sem-

O jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV - MG) é produzido para os estudantes do Ensino Médio das escolas públicas do município e adjacências. Atualmente o jornal encontra-se sob a responsabilidade da turma de 2014, na disciplina COM 252 - Jornal- Laboratório I.

EDITORAProfª. Kelly Scoralick

EDITORA DE FOTOGRAFIAProfº. Laene Mucci

DIAGRAMAÇÃOAndré Luiz Carvalho, Carla Teixeira, Lucas Alves, Malena Stariolo

DIAGRAMAÇÃO FINALDiogo Rodrigues

REVISÃOKelly Scoralick, Aline Soares, Ana Eduarda Ferreira, Isac Godinho, Mariana Barbosa, Marina Gontijo, Tábatha Valentim

APOIOCentro de Ciências Humanas Letras e Artes REITORAProfª. Nilda de Fátima Ferreira

DIRETORA DO CCHProfª. Maria das Graças Floresta

CHEFE DO DCMProf. Ricardo Duarte

COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMOProf. Henrique Mazetti (suplente)

ENDEREÇOPrédio Prof. Fábio Ribeiro Gomes, 2º andarCampus Universitário, CEP 36570-900Viçosa - MG. Tel.: 3899-4502www.com.ufv.br || [email protected]

Os textos assinados não refletem necessa-riamente a opinião da instituição ou do Curso, sendo da responsabilidade de seus autores e fontes. Cópias são autorizadas, desde que o conteúdo não seja modificado e que sejam citados o veículo e o(s) autor(es).

Tábatha Valentim pre procurando alguma coisa supér-� ua para comprar?

O fato é que, para nós estudantes, a crise chega mais devagar. Claro, exis-tem exceções. A gente sente no bolso quando vai para tomar uma cerveja e com aquele mesmo dinheiro que se tomava duas, mal dá para tomar uma. Ou nem sente. Vai ao mercado fazer as compras da semana, pensando em um tanto de prova e trabalho que tem pela frente, passa o cartão e nem vê que dessa vez � cou bem mais caro do que das outras. Além disso, o que mais faz diferença é quando o � m do mês chega antes do esperado e a mesa-da dá só para pagar as contas da casa, que estão cada vez mais altas.

O que di� culta um pouco mais essa percepção da situação é que es-tamos em um lugar onde a oferta de consumo e entretenimento é muito grande. Não só aqui, mas em cidades

como o Rio de Janeiro e São Paulo também. Falta dinheiro no bolso, mas a Rua 25 de março na capital paulista, por exemplo, continua abarrotada de gente querendo comprar alguma mer-cadoria para revender e aumentar os lucros. O que falta também é espaço nos bares da Lapa, no Rio, do mesmo jeito que falta na Avenida Santa Rita, em Viçosa, nos � ns de semana. E é assim que dá pra entender que a crise não está passando despercebida exclu-sivamente por aqui, por se tratar de uma cidade universitária.

O curioso é que reclamar da falta de dinheiro já faz parte do repertó-rio de todo mundo, e mesmo assim ninguém para de gastar. Por isso, há quem diga que tudo continua cami-nhando da mesma forma porque essa é a única saída para se esquecer esse problema, que, com certeza, não é só exclusividade minha ou sua.

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Crise econômica traz instabilidade políticaEntenda quais as causas e os impactos provocados por esse momento crítico no Brasil e também em Viçosa

A Internet, a televisão e o rádio divulgam o tempo todo: o Brasil

está passando por di� culdades econômicas. Para compreen-der o motivo disso é preciso entender antes o signi� cado de crise. No dicionário encon-tramos diversos signi� cados, entre eles, momento crítico ou decisivo, situação a� itiva e conjuntura perigosa, situação anormal e grave que vivemos hoje. Houve o aumento da in� ação e os impostos também estão crescendo, causando descon-forto à população, que paga mais caro em produtos e ser-viços e espera governo uma ação efetiva para resolver essa situação. Assim, a crise no campo econômico fez com que empresas deixassem de investir no Brasil, gerando in-segurança para a população e revelando uma instabilidade política. Consequentemente, o índice de rejeição do Gover-no Dilma, segundo a pesquisa do grupo Datafolha, dos dias 4 e 5 de agosto, era de 71%.

Entenda a crise Uma das causas para a

atual crise econômica brasilei-ra é o desequilíbrio das con-tas públicas. O governo gasta mais dinheiro do que arreca-da em impostos. Com isso, a dívida do país aumentou, e, consequentemente, dimi-nuiu o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Dados do Instituto Brasileiro de Geo-gra� a e Estatística (IBGE) mostram que o crescimento do PIB foi de 0,1% em 2014, o pior índice registrado desde 2009 quando houve queda de 0,2% no auge da crise que também era acontecia nessa época.

Há ainda a falta de uma política e� ciente para o com-bate da in� ação. O aumento da in� ação foi in� uencia-do pela elevação dos preços dos combustíveis, luz, água e transportes públicos que foram diminuídos em época de eleições e depois tiveram a sua alta autorizada. No caso especí� co da energia, houve a implantação das bandeiras tarifárias por conta da falta

de chuvas e o uso da energia termelétrica, que possui alto custo de produção.

A in� ação também foi in-� uenciada pelo aumento da taxa de câmbio. Com o au-mento do preço do dólar, os exportadores vendem mais para o mercado externo e pas-sa a ocorrer menos importação de outros países. Mesmo com o aumento na exportação, o preço de um produto no mer-cado nacional pode sair mais

corte de salários de servidores que recebiam acima do teto, o aumento do Imposto de Ren-da e a proposta do retorno da CPMF. Além disso, os Minis-térios tiveram seus gastos re-duzidos. Entre os que tiveram o maior corte estão o Ministé-rio da Saúde e o Ministério da Educação, o que gerou diver-sas críticas ao governo.

Re� exos em ViçosaEssas consequências em

nível nacional também es-tão acontecendo na cidade de Viçosa. Com os cortes na educação, menos recursos são destinados às universidades federais, inclusive a Universi-dade Federal de Viçosa.

- A quantidade de recursos que estão vindo caiu muito e a Universidade e a cidade de-pendem desses recursos. Pro-jetos foram cortados e alunos falam que estão passando di-� culdade por conta de corte nas bolsas. Isso é dinheiro que deixa de ser gasto - comenta a professora do Departamento de Economia da UFV, Sílvia Harumi Toyoshima.

Com a instabilidade ins-taurada, diminuiu ainda a con� ança dos empresários e alguns postos de trabalho estão sendo fechados, o que provoca aumento do desem-prego.

Para o psicólogo e assessor especial de Assistência Estu-dantil e Comunitária, Felipe Lisboa, os momentos de crise trazem uma insegurança mui-to grande em relação ao psi-cológico.

- A pessoa desempregada não deve se culpar pelo mo-mento de tensão, já que a cri-se é contextualizada em vários fatores. A pessoa é uma víti-ma da crise, que diminui as possibilidades de emprego e qualquer geração de renda – a� rma.

caro, pois haverá poucas mer-cadorias disponíveis. No dia 22 de setembro deste ano, o dólar chegou a R$ 4, a maior alta já registrada desde 10 de outubro de 2002.

Para conseguir equilibrar as contas públicas, o Governo Federal anunciou um pacote de medidas que visa comba-ter a crise, incluindo o corte de gastos e o aumento de im-postos. Além da suspensão de concursos públicos em 2016,

Alice MartinsLarissa MartinsWeslei Ferreira

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Alta dos impostos, dos preços dos combustíveis, luz, água e transporte público esvazia bolso dos brasileiros

Carla TeixeiraCarla Teixeira

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Governo faz corte de gastos e suspende a realização de concursos públicos em 2016

Cargos públicos são cul-turalmente vistos como uma possibilidade de crescimento pro� ssional, que alia estabi-lidade � nanceira e diversos benefícios indiretos que se acumulam ao longo dos anos.

Ano após ano, diversos pro� ssionais sentem-se in-teressados a inserir-se no mercado pro� ssional dessa maneira, tornando a concor-rência acirrada, e elevando as-sim cada vez mais o nível de estudos e solicitação de títu-los que possibilitam a entrada de novos pro� ssionais para esse mercado.

A o� cial de Justiça Edi-laine Nara já tem seu futuro pro� ssional e carreira forma-dos e garantidos:

– Quando me interessei por fazer a prova do concurso público, pensei muito na es-tabilidade � nanceira que esse emprego ia me trazer. Queria um emprego que pagasse bem e que fosse me garantir uma carreira mais longa.” – diz Edilaine.

Mas em tempos de crise econômica, o que se pode es-perar do Estado? Uma dimi-nuição da oferta e um aumen-to da demanda?

O Ministério do Planeja-mento, Orçamento e Gestão

(MPOG) informou no dia 14 de setembro haverá suspen-são dos concursos públicos em 2016 e que irá abranger até 40.389 cargos reservados para provimento, admissão ou contratação, no que se refere a todos os poderes, ao Ministério Público da União (MPU) e ao Conselho Na-cional do Ministério Público. Já as nomeações referentes ao ano de 2015 não estão sus-pensas.

O coordenador de escola preparatória para concursos públicos, Carlos Roberto Lo-pes Campos, a� rma que a de-manda de alunos interessados em concursos públicos teve queda:

- A demanda de alunos diminuiu. Pela programação que tinha de 2015, haveria concursos do Banco do Brasil para a região Sudeste, porém

abriu apenas para a região Nordeste. E agora, saiu o pa-cote de cortes do Governo que barrou os concursos. Ou seja, com essa atitude, iremos ter menos turmas. – A� rma Carlos Roberto

Os pro� ssionais que se en-contram à espera de um car-go público, comumente co-nhecidos como concurseiros, tem demonstrado uma ponta de preocupação com as vagas que poderão sofrer alteração com o corte de verbas, é o que demonstra o estudante Fábio Armond:

- Eu que sou concurseiro, estou de olho nos concursos desse ano como o do INSS e IBGE por exemplo. Esses de 2015 não foram prejudica-dos pela crise e vão acontecer normalmente. Mas caso eu não passe esse ano, ai sim a crise pode “quebrar minhas

Enquanto muitos sonham com uma vaga, outros já passaram e estão com carreira e salários garantidos

Marina Wan Der Maas

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Crise econômica e queda na arrecadação foram os fatores determinantes na medida do governo de suspender as futuras vagas

pernas”, porque muitos con-cursos de nível federal foram suspensos para 2016. Declara Fábio Armond.

A UFV é uma instituição que recebe todos os anos, di-versos possíveis candidatos da cidade e região, interessados em ingressar pro� ssionalmen-te em um de seus campi atra-vés do concurso público.

A Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (PGP) da UFV acredita que a crise econômi-ca não interfere na oferta de concursos públicos, uma vez que a legislação vigente desde 2010 permite que eles sejam realizados através de reposi-ção.

O chefe do serviço de provimento da PGP, Ricar-do Gandini Lugão, esclarece que quando um funcioná-rio público é desligado da instituição por meio de de-soneração, aposentadoria ou quando ocorre qualquer outro tipo de vacância, a UFV automaticamente está autorizada e promover a re-posição dessa vaga existente através de um novo concurso.

Concursos já prestados não são afetados pelos cortes

Os concursos que já fo-ram autorizados em 2015 não são afetados pela medi-da. Dessa forma, as seleções para o Instituto Nacional

BNDES

PRINCIPAIS CONCURSOSCANCELADOS EM 2016

Ministério da Educação INSS

Aeronáutica

Serviço Geológico do Brasil Funai

Ministério da Fazenda

IBGE

Abin

Câmara dos Deputados

Banco Central

Pré-Sal

do Seguro Social (INSS), do Instituto Brasileiro de Geo-gra� a e Estatística (IBGE), da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e da Agência da Saúde Suplemen-tar (ANS), que já tiveram suas autorizações publicadas, devem acontecer dentro do prazo esperado.

O quantitativo de cargos informado pelo ministério é o total que estava previsto no Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2016. Não existe uma lista com os concursos que estavam previstos, já que no PLOA só são divulgados os órgãos, o número de vagas e o valor que seria gasto. Com a medida, o governo preten-de fazer uma economia de R$ 1,5 bilhão.

Na segunda, 12 de setem-bro, os ministros do Plane-jamento, Nelson Barbosa, e da Fazenda, Joaquim Levy, anunciaram medidas � scais de R$ 64,9 bilhões para ga-rantir a meta de superávit primário de 0,7% do Pro-duto Interno Bruto (PIB) em 2016. Desse total, R$ 26 bilhões referem-se a corte de gastos num total de 9 medi-das – entre elas, a suspensão de concursos.

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Trabalho alternativo é saída para a criseA microempresária Doriane Rafael Silva (Dóris) apostou na venda de doces e hoje tem negócio próprio

A crise econômica brasi-leira teve seu auge em abril de 2015, quando 97,8mil empre-gos formais foram extintos, segundo dados coletados pelo Ministério do Trabalho. O desemprego, aliado à alta da in� ação, obrigou as pessoas a procurarem novas formas de se sustentarem. É nesse cená-rio que surgem os trabalhos alternativos: fontes de renda que fogem do padrão tradi-cional, com o objetivo de se conseguir um dinheiro extra. Normalmente, a escolha des-sas atividades está ligada a al-gum hobby ou a algum afazer com que já estejam acostuma-dos, devido a familiaridade e a facilidade de envolvimento.

Entre as iniciativas mais comuns estão as relacionadas à venda de doces, tortas, salga-dos, roupas e cosméticos, além das do ramo estético, como manicure e designer de sobran-celhas.

Em Viçosa, um exemplo de trabalho alternativo e que deu certo mesmo em tempos de crise é o da doceira Doriane Rafael Silva (Dóris). Em 2011,

devido a um problema � nan-ceiro, ela começou a vender doces em uma barraquinha na entrada de um dos pavilhões de aula na UFV. No entanto, essa alternativa não foi o su� -ciente para fazê-la sair da crise, o que fez com que procuras-se uma sócia para que juntas abrissem uma loja física. O risco empreendedor foi a so-lução para aumentar a renda que não era su� ciente só com a barraquinha no pavilhão.

- Na universidade trabalha-va apenas 8 meses do ano, nos outros 4 � cava parada devido às férias. Durante esse tempo, tinha que pagar todas as con-tas e guardar para os outros meses sem trabalho – lembra.

Hoje ela é a única proprie-tária do empreendimento que teve início já na época de crise e na expectativa de lidar com o choque econômico que se aproximava. Porém percebe que a situação � nanceira está cada vez mais difícil.

- Aqui foi mais um grito de socorro na minha vida. Se eu conseguisse suportar a crise, eu � caria bem depois. Se eu tivesse continuado na UFV, não iria aguentar – a� rma a microempresária Doriane Ra-fael Silva.

Aline SoaresTábatha Valentim

Malena StarioloMariana Barbosa

O número de pessoas que buscam diferentes formas de ganhar dinheiro extra ou de ter mais controle sobre suas vi-das � nanceiras têm aumenta-do. Para os mais variados per-� s e áreas, ser freelancer pode ser um bom negócio. Esse é o pro� ssional autônomo que trabalha em diferentes empre-sas ou que guia seus projetos e consegue seus clientes de forma independente. Segun-do dados levantados por sites que fornecem trabalhos para freelancers, como Trampos, Pto de Contato e Cranes, a expectativa é que os ganhos para quem opta por essa for-ma de trabalho aumentem em 5% ou mais para 68% dos freelancers. Essa é uma área que atinge principalmente os jovens, já que a principal ma-neira de encontrar trabalhos é por meio da internet, meio ao qual eles estão mais conec-tados e têm mais intimidade.

Segundo dados dos mesmos sites, atualmente 55% dos fre-elancers têm apenas essa ativi-dade como sua fonte de renda.

Camila Souza, de 26 anos, é graduada em administração e pós-graduada em gestão de marcas e trabalha como ge-rente de marketing numa em-

presa de tecnologia de Belo Horizonte e também como freelancer produzindo a iden-tidade visual de marcas, em-presas e pessoas em Viçosa. No começo, fazia pequenos serviços para seus amigos e família, mas com o desenrolar da atividade hoje ela desenvol-

ve trabalhos de maneira pro-� ssional, mesmo não tendo formação em Design Grá� co.

-Posso escolher para quem vou trabalhar, por isso posso recusar aquele cliente que quer se “inspirar” numa arte já feita – conta Camila Souza.

Ela ressalta que é preciso ter

Para Camila, poder ser original é um dos melhores aspectos da vida freelancer

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Malena Stariolo

Há quatro anos, Dóris faz da fabricação de bombons sua principal fonte de renda

Serviços freelancer são opção para conseguir dinheiro extramuito cuidado ao optar pela pro� ssão, pois a sazonalidade de clientes é algo notório. Mas Camila Souza garante que seu emprego de carteira assinada como gerente foi mais preju-dicado pelos efeitos da crise do que a atividade de freelancer.

– Na empresa fui obriga-da a buscar alternativas para conseguir novos clientes, já que muitos contratos foram encerrados. Como freelancer, por ser procurada por meus clientes diretamente, graças às indicações, eu não vou atrás da demanda do mercado – diz.

No entanto, Camila Souza se considera uma exceção, já que muitas de suas amigas que também são freelancers estão em busca de emprego.

Uma das clientes de Cami-la Souza é a proprietária de um estúdio de beleza na cidade, Denise do Val Gomide Viana.

– Vale muito a pena con-tratar esse tipo de pro� ssional, pois é um trabalho de muita qualidade a um preço menor que o cobrado por empresas especializadas nesses trabalhos.

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Cortes na educação afetam as atividades dos estudantes de pós-graduação da UFVEm meio à crise econômica, Capes anunciou diminuição de 10% do orçamento previsto para 2015 no país

Os cortes no orça-mento adotados pelo governo federal

levam à redução de recursos nas universidades federais e causam preocupação na co-munidade acadêmica. Isso porque entre os Ministérios mais atingidos pela diminui-ção de gastos está o Minis-tério da Educação, com um corte equivalente a R$ 9,42 bilhões.

Os programas de pós-gra-duação nas instituições pú-blicas sentiram os efeitos do corte bilionário. Em julho, a Coordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de Nível Superior (Capes), instituição ligada ao Ministério da Edu-cação (MEC), determinou o repasse de verbas no valor de R$1,65 bilhões para o Pro-grama de Apoio à Pós-Gra-duação (Proap), com redução de 10% do orçamento previs-to para 2015.

Os recursos do Proap são destinados à manutenção de equipamentos utilizadas em pesquisas, realização de traba-lhos de campo, fornecimen-to de passagens à professores de outras universidades para compor bancas de mestrado e doutorado, viagens de alu-nos e docentes para participar de congressos, entre outras atividades. A redução no re-

passe de verbas prejudica di-retamente as atividades de pesquisadores, a divulgação dos resultados cientí� cos, e outras demandas de respon-sabilidade dos programas de pós-graduação que visam me-lhorias nas condições de pes-quisa feitas pelos alunos.

Manutenção do auxílioDe acordo com o pró-rei-

tor de Pesquisa e Pós-Gradua-ção da Universidade Federal de Viçosa, Luiz Alexandre Pe-ternelli, 2819 alunos da UFV

mero de bolsas a serem ofer-tadas.

- O cenário econômi-co não está bom e isso exige esforço e compreensão por parte de todos – reforça o pró-reitor de Planejamento e Orçamento.

A doutoranda em Meteo-rologia Agrícola, Vágna da Costa Pereira, de 26 anos, começou a pós-graduação na UFV em 2012. Com o corte provocado nas atividades aca-dêmicas, Vágna Pereira teve alguns benefícios suspensos, como a participação em con-gressos, devido ao alto preço de inscrição, e o valor das pas-sagens aéreas.

Vágna Pereira acredita que os estudantes que tiveram seus projetos aprovados neste ano foram os mais prejudica-dos, pois os antigos projetos foram aprovados seguindo a verba dos anos anteriores. Com isso, os estudantes terão maior di� culdade para exer-cer suas atividades, devido à falta de insumos, compra e manutenção de equipamen-tos em laboratórios, e nos ca-sos mais graves, falta de papel e tinta para impressoras.

A estudante disse ainda que o corte não vai prejudi-cá-la na produção de seus estudos, mas teme pelos es-

tudantes que iniciaram seus projetos ou desejam a sua aprovação nos próximos anos.

A mestranda Laura Ribei-ro, 26 anos, formada em En-genharia Florestal e especia-lista em Geotecnia na UFV, também teme pelos cortes. Desde abril de 2011 ela é be-ne� ciada com uma bolsa pelo mestrado que realiza e a� rma que com os recentes cortes a possibilidade de ajudas � -nanceiras para congressos, artigos e convites de bancas é praticamente impossível. No entanto, Laura Riberio está tranquila porque o projeto de pesquisa que desenvolve não foi afetado com os cortes. A estudante já realizou a coleta de dados no início do ano e acredita que aqueles que co-meçarão a parte prática ago-ra poderão enfrentar alguns obstáculos. Diante do cenário de crise, Laura Ribeiro pensa sobre a necessidade de ter um “plano B”.

- Até o � m do ano sairá o resultado do doutorado para ingresso no primeiro semestre de 2016, no qual estou par-ticipando. E se por um acaso eu passe no programa e não consiga a bolsa, irei em busca de faculdades em que eu pos-sa dar aulas – a� rma a mes-tranda.

são bene� ciados com verbas do governo por meio das bolsas de pesquisa. São 1249 bolsistas em mestrado acadê-mico, 129 em mestrado pro-� ssional e 1441 doutorandos. Apesar dos cortes na Educa-ção, não há a possibilidade de retirar a bolsa dos estudan-tes, segundo o pró- reitor de Planejamento e Orçamento da UFV, Sebastião Rezende. Todas aquelas prometidas ou pactuadas estão sendo pra-ticadas. No entanto, não há previsão de aumento no nú-

Isabela LopesLeonardo PereiraMaria Clara EpifaniaSérgio Felix Le

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Trabalho de pesquisa de campo e viagens para congressos são prejudicados pela falta de verba do Proap

Sem recursos, não existe previsão de aumento no número de bolsas ofertadas

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Desemprego no Brasil já atinge 8,3% da população economicamente ativaEm Viçosa, pesquisas do Census mostraram que 65% dos desempregados não possuíam formação superior

Um conceito impor-tante para a com-preensão do que é

desemprego é o de população economicamente ativa (PEA). Esta parcela refere-se às pes-soas com idade entre 14 e 65 anos que estão aptas a traba-lhar. No Brasil, o número de habitantes é de quase 205 mi-lhões de pessoas, destes, apro-ximadamente 100 milhões fa-zem parte do que chamamos de população economica-mente ativa. De acordo com o economista Orlando Mon-teiro, é preciso considerar que existe uma taxa natural de desemprego em todos os paí-ses. Essa taxa inclui aquelas pessoas que estão estudando, mudando de região ou ain-da as que por algum motivo resolveram não trabalhar por um período.

- A taxa natural de de-semprego é de 5% da popu-lação economicamente ativa. Quando esse valor é ultrapas-sado signi� ca que pessoas que querem trabalhar não estão encontrando emprego - expli-ca o economista.

Segundo o Instituto Brasi-leiro de Geogra� a e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego no Brasil chegou a 8,3% no segundo trimestre deste ano, sendo a maior desde 2012. O

valor já ultrapassa mais de 3% da taxa natural de desemprego e re� ete o cenário de crise que o país enfrenta atualmente.

Em Viçosa, o Centro de Promoção do Desenvolvi-mento Sustentável (Census), em parceria com o Instituto de Pesquisas de Mercado e Opinião Projetos e Consul-toria (Empec), divulgou em 2014 o último “Retrato Social de Viçosa”. De acordo com o coordenador geral do Census, Tancredo Cruz, os últimos le-vantamentos foram feitos no ano de 2013. Os dados desta última pesquisa indicam que 5,8% da população economi-camente ativa de Viçosa esta-va desempregada, totalizando 2483 pessoas. A maioria de-las, cerca de 65%, tinha for-mação fundamental e média.

Crise em ViçosaUm dos parâmetros que

permite perceber como a crise tem afetado Viçosa é o Índice de Preços ao Consu-midor (IPC). A pesquisa é realizada mensalmente pelo Departamento de Economia da Universidade Federal de Viçosa e calcula a evolução dos preços dos bens e servi-ços pagos pelos consumidores viçosenses. O IPC do mês de agosto registrou uma in� ação de 0,44% em Viçosa, valor muito próximo ao registrado nacionalmente pelo IBGE (0,43%). De acordo com o

nômica, ou seja, se as empre-sas estão vendendo e produ-zindo pouco, elas precisam de menos funcionários. Assim, a crise, além de não gerar novos empregos, aumenta o número de demissões. É possível per-

ceber o impacto da crise em Viçosa através dos preços dos produtos que sobem, levando a população a comprar menos e os comércios a fecharem - esclarece o coordenador geral do IPC.

economista e coordenador ge-ral do IPC, Jader Cirino, esses dados mostram que Viçosa segue o cenário econômico nacional:

- O emprego está ligado diretamente à atividade eco-

Vagas de emprego podem ser encontradas no SineO Sistema Nacional de

Emprego (Sine) é o órgão liga-do ao Ministério do Trabalho e Emprego designado à pres-tação de auxílio aos desem-pregados. Dentre as principais funções do Sine destacam-se a organização de um sistema de informações sobre o mercado de trabalho e o fornecimento de suporte àqueles que pro-curam emprego, objetivando a inserção dessas pessoas no mercado.

Os serviços prestados por este órgão podem variar de acordo com a cidade em que ele se insere. A coordenadora do Sine de Viçosa, Carolina Fernandes, explica as funções

desta unidade:- O Sine de Viçosa ofere-

ce intermediação de mão de obra, ou seja, direciona os tra-balhadores para as vagas que os empregadores abrem com a agência. Ele atende a mais de 10 cidades da região e o servi-ço mais prestado é o auxílio ao

seguro-desemprego. Diferen-temente de outras unidades do país, em Viçosa o Sine não oferece cursos por que isso de-pende da demanda do número de habitantes - informa a co-ordenadora.

Michele Martins tem 21 anos e é moradora do bairro

Santa Clara em Viçosa, além dela, a mãe, Neusa Martins, de 54 anos, e a irmã mais ve-lha, Marcela Martins, de 28 anos, enfrentam a situação do desemprego. O último traba-lho de Michele Martins foi há 7 meses, mas desde que recu-sou a proposta de ser recon-tratada por um salário menor, ela está a procura de um novo emprego. A partir de então, a situação da família não tem sido fácil:

- Os preços dos produtos no supermercado subiram muito e a conta de luz tam-bém � ca cada vez mais cara - diz Michele Martins.

Ela possui cadastro no Sine

Ana Eduarda FerreiraCarla TeixeiraMarina Gontijo

Mar

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Gon

tijo

Seguro-desemprego é um dos principais serviços prestados pelo Sine em Viçosa

e já buscou auxílio para voltar ao mercado de trabalho. Po-rém, o fato de não ter ensino médio completo representa um empecilho, já que a maio-ria das vagas ofertadas pelo ór-gão se destinam à pessoas com um grau de formação mais elevado.

A di� culdade em conseguir um emprego formal tem leva-do Michele Martins à procura de formas alternativas de tra-balho, mas ainda assim, esses últimos 7 meses não lhe trou-xeram boas oportunidades.

- A gente tem buscado ser-viços como faxina nas casas, mas nem isso estamos conse-guido – desabafa.

Dio

go R

odrig

ues

TAXA DE DESEMPREGO (%)

8.56,5 7.5 87

2º tri 2012

2º tri 2013

2º tri 2014

2º tri 2015 8,3

6,8

7,5

7,3

Fonte: IBGE

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Produtores culturais de Viçosa buscam meios de se manter no mercado em criseAdaptação vai desde maior procura por patrocínio até negociação de cachê com os artistas e bandas

Mesmo com o aumento do custo de produção, ingressos se mantiveram na mesma faixa de preço e as vendas não foram afetadas

Say

onar

a R

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André CarvalhoEllen RamosIsac GodinhoSayonara Ribeiro

quanto aqui custa R$ 5.Mesmo assim, a estudante

a� rma que não deixa de fre-quentar os eventos desde que chegou ao país, porque acre-dita que a diversão é um dos fatores essenciais após tanta dedicação aos estudos.

SuperaçãoJá as agências produto-

ras de eventos teatrais, como stand up, buscam se readaptar às mudanças do mercado. As principais delas têm sido em relação à busca de patrocínio e divulgação, como conta a pro-dutora de eventos Maria Inez Oliveira.

- Para vender R$ 5 mil de patrocínio a gente tinha que ir em 20 lugares, e agora temos de percorrer 80 locais diferen-tes. Muitas vezes até consegui-mos o valor, mas temos que andar muito mais.

A produtora a� rma que a agência está recorrendo a ou-tras alternativas como promo-ções, produção de shows em outras cidades, e até mesmo negociação de cachê com os ar-tistas para tentar driblar a crise.

tam os itens supér� uos para manter a qualidade de vida.

Além de di� culdades na produção do evento, aqueles locais que servem comida du-rante os shows têm uma preo-cupação ainda maior, pois há um aumento no preço dos ali-mentos em função da crise hí-drica, mas o reajuste é ín� mo.

- O aumento maior é nas bebidas alcoólicas, geralmente o reajuste das bebidas é repas-sado ao consumidor, diferen-temente dos alimentos - res-salta Sávio Silva.

A estudante Mariana Ro-drigues é uma das que está sempre frequentando esses lo-cais. Mas conta que após � car um ano em intercâmbio em Budapeste, na Hungria, tem percebido muitas diferenças aqui.

- Lá as saídas são muito baratas porque você tem op-ções de vários ambientes, vá-rios lugares com diferentes ti-pos de música e normalmente a gente não paga entrada, além de sempre fazerem promoção com cerveja. Uma long neck costumava custar R$ 1 en-

manter o preço do ingresso estável para que os produtores alcancem seus objetivos - des-taca Wilton Filho.

Apesar da criseSe as festas universitárias

passam por alguns problemas, alguns bares mantêm sua qua-lidade e freguesia. Sávio Silva é proprietário de um bar onde normalmente há música ao vivo. Ele explica que seu esta-belecimento passa por altos e baixos, mas que o ano de 2015 está melhor que 2014.

- Eu não acredito que es-tamos nessa crise toda que ve-mos nos noticiários. Os even-tos mais caros, com produção mais elaborada que eu cobro R$ 20 para entrar, costumam encher mais que os shows que não cobro entrada. Se estivés-semos em crise a pessoa não ia gastar R$ 20 na entrada, além dos R$ 30 gastos, em média, com consumo.

Sávio Silva explica que é preciso ter cautela na produ-ção dos eventos, uma vez que em tempos de recessão as pes-soas � cam mais seletivas e cor-

um pouco mais de diversão para esse público que o tam-bém estudante Wilton Filho fundou uma empresa de pro-dução de eventos.

Nos anos anteriores o em-preendimento decolou no ramo de festas universitárias, mas segundo Wilton Filho nesse ano houve uma estagna-ção por causa da crise.

- A crise vem para o mer-cado de produção cultural de algumas formas, sendo as áreas mais afetadas o custo do even-to versus a participação das pessoas, que no momento está começando a despencar – des-taca.

Apesar do aumento do pre-ço da cerveja, da locação de es-paços para eventos e a elevação dos impostos, as empresas ten-dem a não aumentar o preço dos ingressos para que a par-ticipação do público continue satisfatória.

- Agora existe um aumento signi� cativo do custo de pro-dução do evento e é possível sentir que o público não tem as mesmas condições de tem-pos atrás. Então a solução é

Trantando-se de crise econômica, muitos já falam dela como uma

realidade, enquanto outros ainda não perceberam seus impactos. Alguns setores ava-liam os re� exos da crise, como por exemplo, o de produção cultural.

Em Viçosa, reconhecida por ser uma cidade universitá-ria, é comum a realização de festas, sejam elas universitárias ou não. Existem casas de show, eventos que já são tradição pelo próprio nome, formaturas, eventos de stand up, ou mesmo festas realizadas por repúblicas. E nesse tempo de crise, será que alguma coisa mudou na realiza-ção desses eventos?

Depois de uma semana estudando quase que integral-mente, com provas, estágio, relatórios e estresse, no � m de semana os universitários pro-curam por algum tipo de en-tretenimento. E foi para levar

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Setores de entretenimento sofrem por não serem prioridade para consumidor

Entretenimento é uma for-ma de recrear, divertir as pes-soas. Segundo o dicionário, divertir alguém é “proporcio-nar-lhe uma mudança de dire- ção na sua rotina”. De acordo com um estudo conduzido pelo Data Popular a pedido da Associação Brasileira de Eventos Sociais (Abrafesta), em 2014 os brasileiros gasta-ram cerca de R$ 16,4 bilhões com festas, número que inclui casamentos, formaturas, ani-versários e celebrações de de-butantes.

Com o agravamento da crise econômica, os dados do setor de entretenimento co-meçam a mudar. Isso aconte-ce devido à sua ligação com a capacidade de consumo das famílias. Levando em conta que os consumidores estão preocupados em pagar impos-tos e lidar com a in� ação, é de se esperar que esse tipo de comércio tenha uma queda de rendimento neste ano.

Segundo o professor de Economia da UFV, Pedro Henrique Pontes, na crise, quem está ganhando dinheiro começa a perder, e quem po-

Casamentos, formaturas, aniversários e celebrações de debutantes ganham toque de simplicidade

Leonardo FonsecaLetícia GusmãoLucas Alves

Leon

ardo

Fon

seca

Festas mais simples, em ambientes como salas de aula, são alternativas procuradas por clientes que tentam contornar a crise

Eventos culturais programados pela UFVem 2015 não devem ser afetados por crise

Os eventos culturais promovidos pela UFV já são conhecidos e esperados pela cidade. Alguns desses são anuais, como a Semana do Fazendeiro, que nesse ano recebeu três mil par-ticipantes, trazendo lucro para o comércio local e visibilidade para a univer-sidade. Outros eventos de extensão promovem a cul-tura e lazer, como shows no gramado das Quatro Pilastras e palestras abertas ao público.

Porém, com os cortes na verba das instituições públicas, a UFV tem o

Letícia Gusmão

desa� o de administrar uma redução de quase R$30 mi-lhões. De acordo com o Pró--Reitor de Planejamento e Orçamento, Sebastião Rezen-

de, a prioridade é evitar que a restrição do orçamento recaia sobre as bolsas de estudantes.

Em relação às atividades culturais programadas para

Cantata de Natal ainda não sofrerá com os cortes

2015, o prejuízo foi peque-no, já que a maioria delas têm alguma fonte de recur-sos contratada previamente. O Pró-Reitor de Planeja-mento e Orçamento diz que não houve nenhuma ativida-de já programada pela UFV que foi ou será cancelada em função da crise, porém a� r-ma que ainda é possível que a dimensão dos eventos dimi-nua. A apresentção da Can-tata de Natal, por exemplo, pode ter um de seus dois dias eliminado do evento. Apesar dessa a� rmação, a própria UFV declarou em um e-mail para alunos que o evento “A Graduação na UFV” desse ano será cancelado.

deria ganhar dinheiro tem mais di� culdade com isso. Por conta da queda dos salários, os bens considerados normais ou de luxo, são deixados de lado para dar prioridade aos essenciais.

A empresária Valquíria Santos está no ramo de orga-nização de festas há mais de 10 anos. Ela conta que, desde

o início do ano, os clientes não estão mais dispostos a fazer grandes eventos. As pessoas fogem dos aluguéis de salões e das festas com muitos con-vidados. Uma nova demanda se ampli� ca, em que clientes procuram os bolinhos servi-dos apenas para familiares, “parabéns” na escola da crian-

ça e festas no quintal de casa, numa “moda” que volta dos anos 90 para 2015.

Uma das adeptas a essa ideia é a cliente Ivone Barbosa. A festa de aniversário de cinco anos de seu � lho com o tema do Homem Aranha foi feita na sala de aula da escola onde ele estuda.

- Fica bem mais barato, acriança � ca satisfeita e a gente economiza - comenta Ivone.

É nessa nova perspectiva econômica que a maneira de comemorar os aniversários e festividades anuais retorna aos tempos em que toda a família se juntava para enrolar os bri-gadeiros e encher os balões.

Reprodução / CSS

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Medidas simples podem fazer diferençaEliminar os gastos com o que é supérfluo é uma das saídas para tentar economizar e guardar o dinheiro

Atual crise força população a economizar para se manter com pouco dinheiro

Vik

tor M

afor

teGuilherme NunesLuana Mota

fora do Campus, também precisam � car atentos.

Se o estudante mora fora da Universidade, ou seja, se ele tem que pagar aluguel, água, luz, ele vai ter outra surpresa porque esses preços estão aumentando. Então é bom � car atento para econo-mizar energia elétrica, e os demais gastos – orienta o professor de Economia Pedro Henrique Pontes.

Assim como os estudantes, as donas de casa também pos-suem um papel central na economia dentro de um lar. As atividades vão desde com-parar preços em supermerca-dos até em medidas de econo-mia de energia. A aposentada Zaíra Pires também está de olho em como economizar para não estourar o orçamen-to:

Primeiro de tudo é pes-quisar antes de comprar, só assim eu já economizo muito. Também faço coisinhas bo-bas, mas que no � nal fazem toda a diferença. Tomo ban-ho bem rápido, não deixo luz acessa sem necessidade para minha conta de luz não vir tão cara. Além de reaproveitar tudo que eu posso, como por exemplo, a água da máquina para lavar banheiro - conta.

� m do mês. A� nal, economia consiste em saber como em-pregar melhor os seus recur-sos. Além disso, a renda do estudante pode � car mais ap-ertada, já que pode ser difícil para a família, provedor mais comum nos casos de alunos sem renda, continuar envi-ando a mesma quantidade de dinheiro.

Os estudantes que não moram na Universidade, e precisam pagar por moradia

lanches fora. Como o subsí-dio “alimentação básica” está funcionando relativamente bem, que é o Restaurante Universitário, o estudante ainda tem certo alívio – co-menta.

Além de eliminar os gas-tos com o que é supér� uo, ele também a� rma que algumas ações mínimas, como manter um controle sobre a forma e os locais onde se gasta, po-dem fazer muita diferença no

dinheiro. O professor de Eco-nomia da Universidade Fed-eral de Viçosa, Pedro Hen-rique Pontes, conversou com a equipe do OutrOlhar e deu dicas de como tentar não ga-star todo o orçamento, agora provavelmente menor, antes do � m do mês:

Uma dica muito boa é procurar consumir menos ali-mentos que não são tão essen-ciais, por exemplo, cerveja, refrigerantes, doces, salgados,

Quando falamos de in� a-ção no Brasil, nos referimos principalmente à in� ação baseada no Índice de Preços ao Consumidor (IPC). Em agosto de 2006 o IPC era de 3,842%. Em agosto de 2014 foi de 6,513%. Já no período de agosto de 2015 atingiu 9,525%. O índice que ha-via aumentado quase 3% de 2006 a 2014 aumentou mais de 3% nos últimos meses.

De acordo com o pes-quisador do Instituto As-saf e matemático Fabiano Guasti Lima, um produto que custava R$ 1 em 1994, hoje custa R$ 4,60. Segundo ele, R$ 100 compram hoje o equivalente a 22 reais na mes-ma época.

A atual situação econômi-ca do país faz com que todos tenham um objetivo em co-mum: economizar. E isso não é diferente para os estudantes, que apesar de na maioria dos casos não possuírem renda � xa, têm gastos � xos, como aluguel, luz, água, alimen-tação. Por isso, sempre que possível, é muito importante para um estudante poupar

Como economizar dinheiro na vida universitária

Sendo uma cidade univer-sitária, Viçosa conta com uma população � utuante estimada em 15 mil habitantes, ou seja, várias pessoas, em sua maioria estudantes, não têm residên-cia � xa no município, mas sim até o momento em que tiverem o vínculo acadêmico com a instituição local.

Como a passagem é tem-porária pela cidade, essas pes-soas procuram meios mais econômicos para viver, pois há opções de custo de vida com preço reduzido para atender a uma alta demanda. A es-tudante escolhida foi Ariane Silveira de 23 anos, cursan-do zootecnia na UFV. Assim como grande parte dos estu-dantes que vêem de outra ci-

de setembro, levando-se em conta os seguintes itens: ali-mentação; transporte; entre-tenimento; pessoal; educação e moradia.

Após a análise dos dados coletados, a economista do-méstica Élia Rodrigues cons-tatou que certas alterações na rotina da estudante poderiam levar a uma considerável eco-nomia. Destas substituições foi aconselhado trocar o lan-che da tarde (salgado e suco) por uma alternativa mais sau-dável e em conta, como uma fruta, por exemplo. Já o curso de inglês poderia ser substitu-ído por aulas particulares, que apresentam gastos menores. A economista doméstica ainda completa:

A academia pode ser subs-tituída por exercícios alter-nativos feitos em casa ou até mesmo academias ao ar livre.

Alguns dos principais gastos diários podem ser trocados por alternativas mais baratas que fazem diferença

Thomás OttoniViktor Maforte

Vik

tor M

afor

te

dade, Ariane Silveira faz parte dos que irão residir em Viçosa apenas temporariamente. Ela mora em uma república com mais cinco universitárias.

Baseando-se nisso, a equi-pe do OutrOlhar acompa-nhou os gastos diários da estudante para tomar como exemplo as opções escolhi-

das e, em seguida, recorreu à análise de um especialista no assunto.

Foram tabelados seus gas-tos no período de 21 a 27

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