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Biografia João Guimarães Rosa, mais conhecido como Guimarães Rosa, nasceu em Cordisburgo (Minas Gerais) a 27 de Junho de 1908 e faleceu no Rio de Janeiro a 19 de Novembro de 1967. Considerado um dos vultos mais importantes da literatura brasileira, foi também médico e diplomata. Autodidacta e poliglota, começou, ainda criança, a cultivar o gosto por outros idiomas, tendo lido o seu primeiro livro em francês por volta dos sete anos de idade. “…acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distracção.” Em 1925, matriculou-se na então Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com apenas 16 anos. Nos tempos da Faculdade, Guimarães Rosa dedica-se à literatura e escreve contos para a revista O Cruzeiro onde, por quatro vezes, é premiado com cem mil réis. Em 1930 conclui o curso e passa a exercer a profissão de médico em Itaguara, onde permanece cerca de dois anos. É nessa localidade que começa a ter contacto com os elementos do sertão que serviram de referência e inspiração à sua obra pois, para chegar aos pacientes, deslocava-se a cavalo e inspirado pela terra, costumes, pessoas e acontecimentos do quotidiano, inicia as suas anotações, coleccionando terminologias, ditos e falas do povo. Serviu como médico voluntário da Força Pública (actual Polícia Militar), durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Posteriormente, entrou para o quadro da Força Pública, por concurso. Em 1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de sua vida como diplomata na Europa e na América Latina. Paralelamente, escreve. Em 1936, a colectânea de poemas MAGMA, obra ímpar e sem continuidade, galardoada com o primeiro prémio de poesia da Academia Brasileira de Letras, é alvo do seguinte parecer por parte da Comissão Julgadora que não seja a ninguém, neste torneio, conferido o prémio, tão distanciados estão do primeiro premiado os demais concorrentes.” É pois surpreendente que a sua reedição aconteça apenas em 1997. No início da carreira diplomática, exerceu, como primeira função no exterior, o cargo de Cônsul- adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de 1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil, emitiu, ao lado da segunda esposa, Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa acção humanitária e de coragem, ganhado, no pós-Guerra, o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a única mulher homenageada no Jardim dos Justos entre as Nações, no Museu do Holocausto, em Israel. Aí, passa por uma experiência que faz detonar o seu lado supersticioso. É salvo da morte porque sentiu, no meio da noite, uma vontade irresistível, de sair para comprar cigarros. Quando voltou, encontrou a casa totalmente destruída por um bombardeiro. A superstição e o misticismo acompanharão, pela vida fora, este escritor que acreditava na força da lua, respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas, casas e cidades possuíam fluidos positivos e negativos, que influíam nas emoções, nos sentimentos e na saúde de seres humanos e animais. Seguindo a missão diplomática, Guimarães Rosa serve, em 42, em Baden Baden; de lá, vai para Bogotá, onde fica até 44. O contacto com o Brasil, no entanto, era frequente. Em 45, vai ao interior de Minas, rever as paisagens da infância. Três anos depois, é transferido para Paris. Em 1946 publica SAGARANA - nove contos regionais - que será considerada a sua estreia literária e um dos livros mais importantes da literatura brasileira, pelo estilo inovador na renovação linguística do brasileiro. Entre Outubro e Novembro de 1949, Guimarães Rosa e a mulher Aracy realizam uma viagem turística à Itália. Como de costume, o escritor utiliza cadernos para registar sensações, descrever tipos e paisagens, anotar expressões que não têm um objectivo específico, antes traduzem uma mente curiosa, aprendente da vida e da natureza, sempre

Outubro_08

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Folheto sobre o autor João Guimarães Rosa

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Page 1: Outubro_08

Biografia

João Guimarães Rosa, mais conhecido como

Guimarães Rosa, nasceu em Cordisburgo (Minas

Gerais) a 27 de Junho de 1908 e faleceu no Rio de

Janeiro a 19 de Novembro de 1967. Considerado um

dos vultos mais importantes da literatura brasileira,

foi também médico e diplomata.

Autodidacta e poliglota, começou, ainda

criança, a cultivar o gosto por outros idiomas, tendo

lido o seu primeiro livro em francês por volta dos sete

anos de idade. “…acho que estudar o espírito e o

mecanismo de outras línguas ajuda muito à

compreensão mais profunda do idioma nacional.

Principalmente, porém, estudando-se por

divertimento, gosto e distracção.”

Em 1925, matriculou-se na então Faculdade

de Medicina da Universidade de Minas Gerais, com

apenas 16 anos. Nos tempos da Faculdade,

Guimarães Rosa dedica-se à literatura e escreve

contos para a revista O Cruzeiro onde, por quatro

vezes, é premiado com cem mil réis.

Em 1930 conclui o curso e passa a exercer

a profissão de médico em Itaguara, onde permanece

cerca de dois anos. É nessa localidade que começa

a ter contacto com os elementos do sertão que

serviram de referência e inspiração à sua obra pois,

para chegar aos pacientes, deslocava-se a cavalo e

inspirado pela terra, costumes, pessoas e

acontecimentos do quotidiano, inicia as suas

anotações, coleccionando terminologias, ditos e falas

do povo.

Serviu como médico voluntário da Força

Pública (actual Polícia Militar), durante a Revolução

Constitucionalista de 1932. Posteriormente, entrou

para o quadro da Força Pública, por concurso. Em

1933, foi para Barbacena na qualidade de Oficial

Médico do 9º Batalhão de Infantaria. Aprovado em

concurso para o Itamaraty, passou alguns anos de

sua vida como diplomata na Europa e na América

Latina. Paralelamente, escreve.

Em 1936, a colectânea de poemas MAGMA ,

obra ímpar e sem continuidade, galardoada com o

primeiro prémio de poesia da Academia Brasileira de

Letras, é alvo do seguinte parecer por parte da

Comissão Julgadora “…que não seja a ninguém,

neste torneio, conferido o 2º prémio, tão

distanciados estão do primeiro premiado os demais

concorrentes.” É pois surpreendente que a sua

reedição aconteça apenas em 1997.

No início da carreira diplomática, exerceu,

como primeira função no exterior, o cargo de Cônsul-

adjunto do Brasil em Hamburgo, na Alemanha, de

1938 a 1942. No contexto da Segunda Guerra

Mundial, para auxiliar judeus a fugir para o Brasil,

emitiu, ao lado da segunda esposa, Aracy de

Carvalho Guimarães Rosa, mais vistos do que as

cotas legalmente estipuladas, tendo, por essa acção

humanitária e de coragem, ganhado, no pós-Guerra,

o reconhecimento do Estado de Israel. Aracy é a

única mulher homenageada no Jardim dos Justos

entre as Nações, no Museu do Holocausto, em

Israel. Aí, passa por uma experiência que faz detonar

o seu lado supersticioso. É salvo da morte porque

sentiu, no meio da noite, uma vontade irresistível, de

sair para comprar cigarros. Quando voltou, encontrou

a casa totalmente destruída por um bombardeiro. A

superstição e o misticismo acompanharão, pela vida

fora, este escritor que acreditava na força da lua,

respeitava curandeiros, feiticeiros, a umbanda, a

quimbanda e o kardecismo. Dizia que pessoas,

casas e cidades possuíam fluidos positivos e

negativos, que influíam nas emoções, nos

sentimentos e na saúde de seres humanos e

animais.

Seguindo a missão diplomática, Guimarães

Rosa serve, em 42, em Baden Baden; de lá, vai para

Bogotá, onde fica até 44. O contacto com o Brasil, no

entanto, era frequente. Em 45, vai ao interior de

Minas, rever as paisagens da infância. Três anos

depois, é transferido para Paris.

Em 1946 publica SAGARANA - nove contos

regionais - que será considerada a sua estreia

literária e um dos livros mais importantes da literatura

brasileira, pelo estilo inovador na renovação

linguística do brasileiro.

Entre Outubro e Novembro de 1949,

Guimarães Rosa e a mulher Aracy realizam uma

viagem turística à Itália. Como de costume, o escritor

utiliza cadernos para registar sensações, descrever

tipos e paisagens, anotar expressões que não têm

um objectivo específico, antes traduzem uma mente

curiosa, aprendente da vida e da natureza, sempre

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documentando, armazenando ideias, exercitando-se

no manejo da língua portuguesa.

Guimarães Rosa retorna ao Brasil em 51. No

ano seguinte, faz uma excursão ao Mato Grosso cujo

resultado será a reportagem poética: COM O

VAQUEIRO MARIANO .

Em 1956, surgem, quase em simultâneo,

duas obras que consolidam a sua originalidade e

criatividade: CORPO DE BAILE - conjunto de sete

novelas - e GRANDE SERTÃO: VEREDAS -

romance de grande fôlego.

Em 1967, João Guimarães Rosa seria

indicado para o prémio Nobel de Literatura, mas esta

iniciativa dos seus editores alemães, franceses e

italianos, foi barrada pela morte do escritor. A sua

obra havia alcançado esferas talvez até hoje

desconhecidas. Quando morreu, em 19 de

Novembro de 67, Guimarães Rosa tinha 59 anos.

Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e,

fundamentalmente às suas crenças, descritas na sua

obra literária.

Fenómeno da literatura brasileira, Guimarães

Rosa, com as suas experiências linguísticos, a sua

técnica, o seu mundo ficcional, renovou o romance

brasileiro, concedendo-lhe caminhos até então

inéditos. A sua obra impôs-se não apenas no Brasil,

mas alcançou o mundo.

“Às vezes, quase acredito que eu mesmo,

João, seja um conto contado por mim.(…)

Minha biografia, sobretudo minha biografia

literária, não deveria ser crucificada em anos. As

aventuras não têm princípio nem fim. E meus livros

são aventuras; para mim são minha maior aventura.”

Três dias antes da morte, Guimarães Rosa

decidiu, depois de quatro anos de adiamento,

assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras.

Homem de temperamento emotivo e sensível, foi

traído pela emoção. Os quatro anos de adiamento

eram reflexo do medo que sentia da emoção que o

momento lhe causaria. Ainda que risse do

pressentimento, afirmou no discurso de posse: "...a

gente morre é para provar que viveu. "

Obra publicada

• 1936: Magma • 1946: Sagarana • 1947: Com o Vaqueiro Mariano • 1956: Corpo de Baile • 1956: Grande Sertão: Veredas • 1962: Primeiras Estórias • 1964: Campo Geral • 1965: Noites do Sertão • 1967: Tutaméia – Terceiras Estórias • 1969: Estas Estórias (póstumo) • 1970: Ave, Palavra (póstumo

Bibliografia consultada

http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatur

a/guimaraesrosa/index.htm [consultado em 2 e 9 de

Outubro de 2008]

http://www.germinaliteratura.com.br/imagens/

[consultado em 9 de Outubro de 2008]

Dicionário de Literatura, vol.3, pp.969,

Figueirinhas, Porto

[F1-Outubro / 2008]

«Porque eu só preciso de pés livres

De mãos dadas,

E de olhos bem abertos… »

in, MAGMA

Tributo da BeCre no centenário do nascimento do

autor