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DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 71 | 28 | 23 de NOVEMBRO de 2018 | SEXTA-FEIRA EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop PT EN CH EN www.oclarim.com.mo | www.facebook.com/oclarimweekly DESTAQUE PÁG. 3 DESTAQUE PÁG. 2 DIOCESE CELEBROU O DIA MUNDIAL DOS POBRES Agrava-se o fosso entre mais e menos favorecidos SOCIEDADE PÁG. 6 Anal, há dois São Martinho! Pe. João Eleutério, hoje no Clube Militar Portugal: igrejas em risco LOCAL PÁG. 4 PORTUGAL PÁG. 7 PADRE CYRIL LAW JR. Falta traduzir a Bíblia para Cantonense

PADRE CYRIL LAW JR. Falta traduzir a B blia para Cantonense§ão-30-11-18.pdf · da Palavra de Deus, mas falha por completo como mecanismo de evangelização. O padre Cyril Law

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Page 1: PADRE CYRIL LAW JR. Falta traduzir a B blia para Cantonense§ão-30-11-18.pdf · da Palavra de Deus, mas falha por completo como mecanismo de evangelização. O padre Cyril Law

DIRECTOR Pe. José Mario O. Mandía | ANO 71 | Nº 28 | 23 de NOVEMBRO de 2018 | SEXTA-FEIRA

EDIÇÃO TRILINGUE | TRILINGUAL EDITION | SEMANÁRIO CATÓLICO DE MACAU | PREÇO 12.00 Mop

PT EN CH

EN

www.oclarim.com.mo | www.facebook.com/oclarimweekly

DESTAQUE PÁG. 3

DESTAQUE PÁG. 2

DIOCESE CELEBROU O DIA MUNDIAL DOS POBRES

Agrava-se o fosso entre mais e menos favorecidos

SOCIEDADE PÁG. 6

Afinal, há doisSão Martinho!

Pe. João Eleutério,hoje no Clube Militar

Portugal:igrejas em risco

LOCAL PÁG. 4

PORTUGAL PÁG. 7

PADRE CYRIL LAW JR.

Falta traduzir a Bíblia para Cantonense

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D E S T A Q U E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

PT2

DIRECTOR: Pe. José Mario O. Mandía I ADMINISTRADOR: Alberto Santos | ASSISTENTE DA ADMINISTRAÇÃO: Wong Sao Ieng I EDITOR: José Miguel Encarnação I EDITORA-ADJUNTA: Jasmin Yiu | REDACÇÃO: Joaquim Magalhães de Castro (Grande Repórter) I SECRETARIADO DA REDACÇÃO E FOTOGRAFIA: Ana Marques I TRADUÇÃO: May Shiu-Ling Ho | COLABORAÇÃO: Marco Carvalho, Benedict Keith Ip, João Santos Gomes, Carlos Frota, Luís Barreira, Vítor Teixeira, Manuel dos Santos, Aurelio Porfiri, Padre Rodrigo Lynce de Faria, Tej Francis, Padres Claretianos, Susana Mexia I DIRECÇÃO GRÁFICA: Miguel Augusto I DESIGN E PAGINAÇÃO: Lei Sui Kiang, Oswald Vas I PROPRIEDADE: Diocese de Macau MORADA: Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, Macau I TELEFONE: 28573860 - FAX: 28307867 I URL: www.oclarim.com.mo I E-MAIL: [email protected] I IMPRESSÃO: Tipografia Welfare Ltd.S E M A N Á R I O C C A T Ó L I C O D D E D M A C A U

5 0 A N O S D A S S A G R A D A S E S C R I T U R A S E M C H I N Ê S

MARCO CARVALHO

O CLARIM – Por que razão a tradução da Bíblia feita pelo Studium Biblicum é tão importante para os católicos de lín-gua chinesa?

PE. CYRIL LAW JR. – Esta tradução ofereceu-nos pela primeira vez um sus-tentáculo consensual para a Liturgia. Temos finalmente para a Missa e para os Sacramentos uma tradução católica da Bíblia universalmente aceite e que aca-ba com a confusão que existia, nomea-damente no que toca à terminologia, ao nome dos santos e a outros detalhes. No entanto, a tradução feita pelo Studium Biblicum foi adoptada de uma forma muito diversa e a sua aceitação não é as-sim tão universal quanto isso. Os Missais usados em Taiwan, Hong Kong, Macau e no Continente fazem diferentes usos desta Bíblia porque têm de ter em con-ta as diferenças regionais em termos de pronúncia e as variações de dialecto para dialecto. Em Taiwan, os nomes dos pro-fetas e dos apóstolos não correspondem totalmente aos nomes adoptados na tra-dução do Studium Biblicum. Os Salmos também não correspondem à forma como foram traduzidos. Em cinquenta

PADRE CYRIL LAW JR.

Falta traduzir a Bíblia para Cantonense

É considerada a versão chinesa da Bíblia por excelência, mas a tradução das Sagradas Escrituras feita pelo Studium Biblicum Franciscanum está cada vez mais desfasada da realidade da China. O texto, publicado em Hong Kong há cinquenta anos, é um bom instrumento de estudo para quem quer aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus, mas falha por completo como mecanismo de evangelização. O padre Cyril Law Jr., que defende que a Igreja deve fazer um esforço para traduzir a Bíblia para os diferentes dialectos do Chinês, explica porquê.

anos a língua mudou muito. Muitos dos termos utilizados ou mesmo o tom das expressões já são arcaicos...

CL – É necessária, então, uma versão revista da tradução do Studium Biblicum? Ou uma tradução inteiramente nova?

C.L.J. – Para que a evangelização seja eficaz, necessitamos que a Bíblia seja traduzida para os diferentes dialec-tos do Chinês. Não temos uma versão em Cantonense da Bíblia. Na verdade, quando alguém assiste a uma Missa em Cantonense, não está de todo a assistir a uma Eucaristia em Cantonense. Está perante um texto em Mandarim, escrito de acordo com as regras gramaticais do Mandarim, mas a ser pronunciado em Cantonense. É uma língua alienígena. Ninguém fala assim. É como se tivesse um texto em Latim e o tentasse ler em Português, mas com pronúncia france-sa. É uma loucura. Não é, de todo, assim que a evangelização funciona. O aspecto mais importante da tradução da Bíblia para Chinês conduzida pelo Studium Bi-blicum é o facto de constituir uma boa base; é uma espécie de “Vulgata” para a língua chinesa. Necessitamos de outras versões da Bíblia, sejam elas em Canto-nense, Fukinense ou Hakka.

CL – Esse trabalho já está a ser feito?C.L.J. – Na minha opinião? Não. Falo

por experiência própria. Não tomo muito a sério nenhuma das leituras que escuto na Missa, pura e simplesmente porque se trata de um texto em Mandarim pronun-ciado em Cantonense. Dificilmente rete-nho algumas das frases ou alguns dos ensi-namentos que são lidos na Missa, porque quem fala Cantonense não fala desta ma-neira. O que é assimilado é a mensagem

das Escrituras que é debatida na homília ou transmitida durante a catequese. A ver-são da Bíblia do Studium Biblicum é um texto autêntico, fiel à ortodoxia da Igreja, mas é válido sobretudo para reflexão e para propósitos académicos. Mas enquan-to mecanismo de evangelização, de incul-turação na Liturgia, só é eficaz em locais onde o Mandarim é a língua materna dos fiéis, sendo que a maior parte dos chine-ses tem um dialecto como língua materna. Tirando quem vive em Pequim, a maior parte das pessoas no Continente fala outra coisa qualquer que não Mandarim.

CL – A tradução conduzida pelo Stu-dium Biblicum é, ainda assim, um im-portante instrumento teórico. Daí ter sido adoptada pela Igreja Oficial no Continente?

C.L.J. – A diocese de Xangai tem a sua própria tradução. O bispo Jin promoveu a sua própria tradução da Bíblia. Basica-mente, há duas traduções de referência a serem usadas. No entanto, como lhe dizia, desde há quinze ou vinte anos, o Missal que é utilizado é produzido em Taiwan, e as suas leituras não coincidem a cem por cento com a versão do Stu-dium Biblicum. O que ouve na Missa não é exactamente o mesmo que escu-taria se eu lhe lesse uma passagem desta Bíblia. Isto significa que, mesmo na Chi-na Continental, a tradução do Studium Biblicum é utilizada para o estudo e para reflexão privada, mas a perspectiva utilizada na liturgia pública é diferente.

CL – Mas é uma referência para os ca-tólicos chineses?

C.L.J. – É verdade. Não nos podemos esquecer que cada um dos livros que fo-ram publicados se fazia acompanhar por

anotações. Este é um aspecto muito impor-tante, porque colocou em língua chinesa, junto com o texto, os frutos da exegese bíblica. Ofereceu aos católicos chineses pela primeira uma exegese sistemática da Bíblia, lado a lado com o texto, o que faz com que esta análise seja imediata. Os fiéis e os leigos podem interpretar as Escrituras com anotações autênticas e inteiramente alinhadas com a ortodoxia da Igreja.

CL – Antes desta tradução houve qual-quer outro documento que se lhe asse-melhasse?

C.L.J. – Sim. A minha tese de dou-toramento foi exactamente sobre isso. Ma Xiang Bo foi um ex-jesuíta. Foi or-denado padre, mas decidiu abandonar o sacerdócio no final dos anos de 1870. Sozinho, traduziu os Quatro Evangelhos em Chinês literal. Há um aspecto curio-so: Ma Xiang Bo só fez uso de palavras e caracteres utilizados na altura em que os acontecimentos narrados nos Evange-lhos se materializaram, o que é algo pou-co habitual e um tanto ou quanto pecu-liar. Para além desta tradução literal, ele retraduziu em simultâneo a Bíblia com uma abordagem coloquial. A tradução dos Evangelhos feita por Ma Xiang Bo tem a tradução chinesa literal e a tradu-ção coloquial na mesma página. Este fac-to mostra até que ponto o Chinês é uma língua em constante evolução. Seja qual for a época, a língua terá sempre uma expressão mais literária e uma expressão corrente e coloquial.

CL – Meio século depois de ter sido publicada, a versão do Studium Biblicum Franciscanum mantém-se relevante?

C.L.J. – Podemos atestar da relevância desta tradução comparando-a com o Con-cílio Vaticano II. O Concílio terminou fez este ano cinquenta anos. Continua a ser relevante para nós? Sim. Mas em cinquen-ta anos novos problemas emergiram. Há cinquenta anos, quando as Missas ainda eram quase por inteiro ministradas em Latim, o uso de línguas vernáculas corres-pondia essencialmente à interpretação da leitura dos Evangelhos, mas isso era a fun-ção pela qual os padres eram responsáveis na homilia. Que necessidade havia de se ler a Bíblia? Essa necessidade surgiu quan-do um número crescente de leigos come-çou a demonstrar interesse por estudar Teologia. Parece-me que esta tradução se foi tornando mais e mais relevante à medi-da que cada vez mais leigos começaram a estudar Teologia e os estudos religiosos se começaram a popularizar.

Ana Marques

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D E S T A Q U EO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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A diocese de Macau assina-lou na segunda-feira, pelo se-gundo ano consecutivo, o Dia Mundial dos Pobres, uma data celebrada no ano passado pela primeira vez por iniciativa do Papa Francisco e que em 2018 voltou a ser assinalada um pou-co por todo o mundo.

No território, a evocação do Dia Mundial dos Pobres teve lugar na Taipa, com a Cáritas a oferecer um almoço a cerca de uma centena de pessoas. Na iniciativa, organizada em estreita cooperação com a Diocese, participaram residen-tes em situação social muito distinta, explicou a’O CLARIM o secretário-geral da Cáritas Macau, Paul Pun: «Juntámos cem participantes, entre os quais idosos que vivem sozinhos, alguns sem abrigo e ainda crianças, so-

bretudo de famílias monoparen-tais. A diocese de Macau tentou encorajar os jovens a fazerem che-gar o seu apoio aos menos privile-giados».

«Fizemos questão de assinalar a data de uma forma discreta, porque a pobreza não se celebra. O nosso objectivo foi o de passar a mensagem que estas pessoas, que sofrem privações, não estão sozi-nhas. Mais do que a refeição que lhes oferecemos, a iniciativa foi importante porque lhes deu a pos-sibilidade de conviver com outras pessoas e de o fazerem sem qual-quer tipo de constrangimentos», complementou o responsável.

Instituído em 2017, pela “pena” do Papa Francisco, o Dia Mundial dos Pobres – ce-lebra-se anualmente a 19 de Novembro – surge como um apelo da Igreja aos católicos

para que promovam, nas suas comunidades e famílias, «um verdadeiro encontro e uma par-tilha que se torne estilo de vida e prova da sua autenticidade evangélica». O objectivo, su-blinhou o Sumo Pontífice na mensagem que escreveu para a edição inaugural da efemé-ride, é «que todas as comunida-des se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal con-creto da caridade de Cristo pelos últimos e mais carenciados».

A FACETA SOCIAL DA POBREZA EM MACAU

Em Macau, a pobreza tem, sobretudo, uma faceta social. Na segunda-feira o diário Sou-th China Morning Post noticiou que em Hong Kong há 1,37 milhões de pessoas a viver

abaixo do limiar da pobre-za, um quinto dos quais são crianças. Na RAEM a situação não é tão drástica, reconhe-ce Paul Pun, mas os efeitos do encarecimento do custo de vida começam a ter um impacto pernicioso a vários níveis, incluindo na educa-ção e no desenvolvimento das novas gerações. «Em Macau ainda estamos melhor do que em Hong Kong, mas com o aumento do custo das rendas o que temos notado é que os pais não gastam tanto dinheiro com a nutrição das crianças ou com actividades que possam propiciar o seu desen-volvimento», salientou o secre-tário-geral da Cáritas Macau.

«Temos vindo a fazer um es-forço no sentido de encorajar as pessoas que estão nesta situação a levarem os seus filhos a uma

série de actividades sociais para que as crianças não cresçam com o estigma da pobreza», acrescen-tou Paul Pun.

Apesar de em Macau a po-breza não constituir ainda um fenómeno tão drástico como em Hong Kong, o responsá-vel considera que a tendência em termos de distribuição de riqueza é semelhante, «com os ricos cada vez mais ricos e os po-bres cada vez mais pobres»: «Os números em Macau não se com-param com os de Hong Kong, ob-viamente. Mas a Cáritas faz che-gar alimentos, através do Banco Alimentar, a dois mil agregados familiares. Metade destas famí-lias correspondem a idosos, mas não deixa, ainda assim, de ser um número substancial».

Marco Carvalho

DIOCESE CELEBROU O DIA MUNDIAL DOS POBRES

Agrava-se o fosso entre mais e menos favorecidos

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L O C A L O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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O Clube Militar acolhe ao final da tar-de de hoje uma conferência ministrada pelo padre João Eleutério e subordina-da ao tema “Os Cristianismos na Histó-ria: Emergência e afirmação das dife-rentes tipologias cristãs na História do Cristianismo”.

O arranque da iniciativa, que tem o salão Stanley Ho como palco, está agen-dado para as 18 horas e 30.

Doutorado em Teologia pelo Institu-to Católico de Paris e em História das Religiões pela Universidade da Sorbon-ne, também na capital francesa, João Eleutério reside no território há cerca de seis anos e a conferência de mais logo prefigura-se como um primeiro adeus a Macau, uma vez que o sacer-dote e académico tem já marcado o re-gresso a Portugal.

Professor-associado da Universidade Católica Portuguesa, destacado em co-missão de serviço para a Universidade de São José, o orador vai partilhar com os sócios e convidados do Clube Militar o amplo conhecimento que possui so-bre a história e o percurso das diferen-tes variantes do Cristianismo.

No artigo da semana passada, falámos sobre a elaboração da acta da reunião da assembleia geral do condomínio, bem como as normas que exigem o depósito das cópias das actas de reu-nião atinentes à eleição e exoneração dos membros da administração, junto do Instituto de Habitação, entre ou-tras. De seguida iremos apresentar as normas atinentes à administração.

1. A administração deve ser cons-tituída por quantos membros? Quem pode ser membro da administração? Os arrendatários podem ser mem-bros da administração?

A administração pode ser consti-tuída por um ou mais membros. To-davia, nos edifícios com mais de 100 fracções autónomas, esta tem de ter pelo menos três membros.

Apenas os condóminos, usufrutuá-rios e promitentes-adquirentes (que já tenham recebido o imóvel) podem ser membros da administração, en-quanto que os arrendatários não.

2. Qual é a duração do mandato dos membros da administração? O mandato pode ser automaticamente renovado?

O mandato dos membros da admi-nistração não pode exceder três anos, renovável apenas mediante nova deli-beração da assembleia geral do con-domínio, ou seja, após o termo do mandato dos membros da administra-ção, estes não podem continuar como membros da administração salvo se a assembleia geral do condomínio reali-zar uma reunião e deliberar no senti-do de renovar os seus mandatos.

3. Quando é que deve ser convoca-da a reunião da assembleia geral do condomínio para eleição dos novos membros da administração?

A administração deve convocar, com pelo menos três meses de ante-cedência sobre o termo do mandato, uma reunião da assembleia geral do condomínio para eleição dos novos membros da administração.

4. Caso ainda não se tenha conse-guido eleger os novos membros da administração após o termo do man-dato dos membros da administração, os membros da administração cessan-te podem manter, temporariamente, em funções?

Na realidade, após o termo do seu mandato, os membros da administra-ção cessante já não possuem legitimi-dade para o exercício de funções. No

entanto, de modo a evitar um vazio na administração do prédio, devido ao facto de ainda não se ter consegui-do eleger os novos membros da admi-nistração, prejudicando os interesses de todos os condóminos, a lei dita que os membros da administração cessante mantêm-se em funções até serem eleitos os seus sucessores, não podendo, no entanto, a continuidade no exercício de funções ultrapassar seis meses.

5. A assembleia geral do condomí-nio pode exonerar, a qualquer mo-mento, os membros da administra-ção?

A lei prevê que os membros da ad-ministração só podem ser exonerados, mediante deliberação da assembleia geral do condomínio, se houver jus-ta causa, nomeadamente, quando o membro da administração violar grave ou repetidamente os seus deveres, te-nha cometido um crime no exercício das suas funções e por causa delas ou quando tenha demonstrado inaptidão para o exercício das suas funções. As deliberações relativas à exoneração dos membros da administração, são aprovadas por mais de metade dos vo-tos dos condóminos presentes e que represente pelo menos 25% do valor total do condomínio.

6. A administração pode praticar actos em representação da assem-bleia geral do condomínio perante qualquer entidade pública ou priva-da?

Pode. Nos termos da Lei n.º 14/2017, a administração, no exer-cício das suas funções, representa os condóminos perante quaisquer enti-dades públicas ou privadas, na práti-ca, entre outros, dos seguintes actos: 1) abertura de contas bancárias espe-cíficas para os movimentos correntes e para o fundo comum de reserva; 2) celebração de contratos de trabalho e cumprimento de todos os actos le-galmente exigidos à entidade empre-gadora (tais como as contribuições feitas a favor do trabalhador para o regime de segurança social); 3) cele-bração de contratos de aquisição de bens e de prestação de serviços.

Obs.: Na elaboração do presente artigo, teve--se como principal referência a Lei n.º 14/2017

(Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio).

Texto fornecido pela Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça

CONHECER AS LEIS DE MACAU

Regime jurídico da administração das partes comuns do condomínio (V)

MARCHA DA CARIDADE – No âmbito da 35º edição da Marcha da Caridade – uma iniciativa promovida pelo jornal Ou Mun – D. Stephen Lee, bispo de Macau, recebeu, em audiência no Paço Episcopal, uma delegação do Fundo de Beneficência dos Leitores do Jornal Ou Mun, liderada pela presidente Ho Teng Iat. Esta responsável, acompanhada pelos vice-presidentes, Lok Po e António José de Freitas, e pelo director do referido fundo, Vong Kok Seng, agradeceu o contributo da diocese de Macau para o consecutivo sucesso da Marcha da Caridade, que todos os anos junta milhares de pessoas em torno de um só objectivo: ajudar aqueles que mais precisam. D. Stephen Lee aceitou o convite para estar presente na cerimónia do corte de fita, juntamente com outras personalidades da sociedade local.

HOJE, NO CLUBE MILITAR DE MACAU

Viaje com o Pe. João Eleutério pela história dos Cristianismos

Professor-bibliotecário da Univer-sidade de São José, João Eleutério vai dirigir-se à assistência em Português, mas o Clube Militar adianta, num breve comunicado, que o essencial da pales-tra será distribuído pelos presentes sob a forma de uma resenha em Português, Chinês e Inglês.

A conferência inclui um pequeno interlúdio musical, protagonizado por um pianista e um violinista da Acade-mia de Música São Pio X.

Marco Carvalho

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L O C A LO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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JOAQUIM MAGALHÃES DE [email protected]

www.oclarim.com.moLeia O CLARIM na net

Ao mergulharmos no casario da parte antiga de Kuching, muito anterior à Se-gunda Grande Guerra, de imediato tes-temunhamos o reconfortante perpetuar de vetustas tradições mesteirais onde, e apesar de esmagadoramente predo-minarem os ourives, há lugar para car-pinteiros, alfaiates, sapateiros, ferreiros, mecânicos, serralheiros, relojoeiros e até tanoeiros. E se abundam os aurífices com naturalidade se aceitam as lojas de penhores da vizinhança. Obrigatórios, sempre, os pequenos restaurantes. Uns quantos, mistos de serviços de rua e de garfo-e-colher entre paredes, proporcio-nam-nos a deliciosa laksa, especialidade típica dos chineses dos Estreitos. Consis-te numa massa de arroz com pedaços de frango, soja e camarão, servida com um molho picante à base de caril e leite de coco, ou então de tamarindo.

Não falta sequer o colorido pão doce, neste caso assegurado pela loja Maria Kek Lapis, mesmo ao dobrar da esquina.

O museu histórico chinês em frente ao templo de Tua Pek Kong, com o lustroso hotel Pullman a espreitar-lhe a fachada por entre a farta ramagem do arvoredo, explica tintim por tintim quem chegou quando, como e em que vaga migratória. Os de Hainão e de Fujian constituem a maioria, mas não é despiciente o contin-gente originário da província de Cantão. Curiosamente, essas comunidades desta-cavam-se pela actividade que exerciam, e os de Cantão eram, precisamente, ouri-ves e joalheiros. As fachadas das sedes de uma série de casas de beneficência (de Hainão, de Fujian, etc.) e de diferentes associações comprovam a continuida-de dessa presença. Um letreiro de ferro já muito enferrujado anuncia a sede da Federação Sindical dos Trabalhadores da Doca de Kuching e, no edifício ao lado, a Universal Construction junta à habitual informação em Chinês e Inglês o equiva-lente em alfabeto árabe, algo de bastante raro na cidade.

As semelhanças da velha e românti-ca Kuching com o que sobra da velha e romântica Macau são evidentes. A ar-quitectura, sino-portuguesa, é a mesma.

MACAU VERSUS KUCHING

Cumplicidade citadina

O mesmo tipo de estores de madeira e frisos nas paredes. As mesmas balaustra-das, cornijas, frestas, portadas. A roupa a secar nas janelas, as lojas de ferragens, as mercearias e as drogarias de medicina tradicional chinesa, as representações comerciais, as pensões e hospedarias, o morcego no coruto dos tectos das casas para trazer boa sorte e os rubros caracte-res chineses em alto relevo nas coluna-tas que sustentam as arcadas que prote-

gem o caminhante da chuva e do calor. Confundem-se as casas que vejo com as que se mantêm em pé no Largo do Se-nado, na Rua das Mariazinhas, na Rua do Campo. Há tanta coisa de Macau em Kuching que se pode dizer que Kuching transpira Macau. Ou será ao contrário? Sim, a Almeida Ribeiro e o Porto Inte-rior são cada vezes menos isso, mas em Kuching as perspectivas de continuida-de do panorama já quase centenário

parecem-me bem mais exequíveis.Paralela ao bazar chinês, a via ribeiri-

nha destina-se à venda de diversos tipos de artesanato e uma ou outra loja de conveniência aberta toda a noite. Há ain-da uma série de antiquários (um deles o “Antigo”), agências de viagem, repositó-rios de especiarias ao jeito tendinha de souq e estabelecimentos de tatuagens e “piercings”, ou não estivéssemos nós em terra de caçadores de cabeças.

Mas que prazer deambular, de dia ou de noite, pelo logradouro fluvial bem guarnecido de áreas de recreio para os petizes e pequenos botequins, amovíveis ou permanentes, com rodados ou sem eles, prontos a servir na hora petiscos, guloseimas e pequenas refeições. Um destaca-se pelo seu nome, Zé Kiosk, e data de 1998. Será que é de algum por-tuguês? A verdade, e apesar dos meus esforços, ninguém me soube explicar a origem do nome.

Aos fins-de-semana à noite não fal-tam grupos de músicos amadores, duos ou trios, percussões e cordofones, onde sempre consta o “nosso” cavaquinho. De novo me soam lusitanos substanciais tre-chos de todas aquelas cantorias.

Recuperado pela edilidade a consi-derável custo, pois houve que reclamar terra onde antes embarcavam e desem-barcavam os habitantes de ambas as margens, o passeio fluvial é dos locais mais palmilhados da capital de Sarawak. E se até agora a construção de pontes entre o Norte e o Sul da cidade apenas teve em conta os veículos motorizados, o panorama irá mudar após o término da construção de uma ponte pedestre de pomposo nome e ousado recorte. Auto-ria de um arquitecto turco, a Ponte Dou-rada, deve ter tido alguns derrapamen-tos orçamentais pois, apesar das várias datas apontadas para a conclusão dos trabalhos, continua a um terço do cami-nho, o que dá ao local aspecto de rampa de lançamento de nave aeroespacial. Só esperemos que, uma vez concluída, não vá tomar o lugar das belas embarcações com coberta que regularmente, e a troco de um par de ringiits, fazem a travessia do Sarawak. Barcos típicos dos orang ulu e dos iban ou simples sampanas malaias, seja na sua versão transporte público ou viagem de turista promocionais com quarenta por cento de desconto, neste caso tendo como extra proas em forma de calau de bico vermelho.

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S O C I E D A D E O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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Em Portugal a tradição é fazer-se um grande magusto, beber-se água-pé e jeropiga. Esta é tam-bém a época em que se prova o vinho novo. Como diz o ditado popular, “no dia de São Marti-nho vai-se à adega e prova-se o vi-nho”. Acredita-se que na véspera e no dia das suas comemorações o tempo melhora, originando o conhecido “Verão de São Marti-nho”, proveniente da lenda.

São Martinho, conhecido por cavaleiro e monge, filho de um comandante romano, nas-ceu por volta do ano 316 d.C., na antiga cidade de Savaria, na Panónia (actual Hungria). Embora os seus pais fossem pa-gãos, sentiu-se atraído por Cris-

Filho de um nobre cavaleiro espanhol e de uma negra do Panamá, de origem africana, Martinho de Porres (sobrenome do pai) nasceu em Lima (Peru) a 9 de Dezembro de 1579. Por ter pele escura, o pai não o quis reconhecer. No livro de baptismos foi registado como filho de pai incógnito; não teve pois uma infância feliz. Viveu na pobreza até aos oito anos de idade na companhia da mãe e de uma irmã, dois anos mais nova.Ao invés de ficar sentido, preferiu transformar a compaixão pelos pobres e pelos desprezados na sua missão de vida e dedicar toda a sua existência a servi-los por amor a Cristo.Aos quinze anos abandonou tudo e foi bater à porta do convento dos dominicanos em Lima, sendo admitido apenas como terciário e incumbido dos trabalhos mais humildes da comunidade. Fez da vassoura uma espécie de divisa, reservando para

si todos os trabalhos mais pesados e repugnantes. Ao final de um tempo, os superiores compreenderam o que representava aquela alma para a Ordem e acolheram-no como membro efectivo a 2 de Junho de 1603.Exerceu o ofício de barbeiro e enfermeiro, tendo aprendido um pouco de medicina. Atendia pobres e ricos sem fazer qualquer distinção. Era dotado de vários dons de santidade – profecias, êxtases, bilocações... Costumava dizer: «Eu te medico, Deus te cura». Por seu intermédio, Deus realizou milagres de cura instantânea. Houve até ocasiões em que o simples facto de estar presente foi suficiente para curar doentes em fase terminal. Durante uma peste epidémica curou todos os que a ele recorreram. Com o mesmo candor de um São Francisco de Assis, dirigia as atenções a todas as criaturas.Há depoimentos de pessoas que

o viram entrar e sair de lugares cujas portas estavam trancadas, e testemunhos que asseguram tê-lo visto em dois lugares diferentes ao mesmo tempo: o fenómeno da bilocação. Embora nunca se tivesse distanciado de Lima, foi visto em África, na China e no Japão a confortar missionários em dificuldade.A este humilde irmão recorriam teólogos, bispos e autoridades civis. A admiração do vice-rei do Peru por frei Martinho era tão grande, que no seu leito de morte foi visitá-lo e beijou-lhe a mão. Morreu no ano 1639, no dia 3 de Novembro, enquanto beijava o crucifixo com profunda serenidade.Martinho de Lima foi beatificado em 1837 pelo Papa Gregório XVI e canonizado a 6 de Maio de 1962 pelo Papa João XXIII, que confirmou a sua festa litúrgica no dia 3 de Novembro.

(*) com Aleteia e Acidigital

NOVEMBRO TEM DOIS “SÃO MARTINHOS” – SÃO MARTINHO DE TOURS E SÃO MARTINHO DE LIMA

Calor das castanhas lembra fervor da santidadeMIGUEL AUGUSTO (*)

A Igreja recorda este mês São Martinho de Tours, celebrado a 11 de Novembro, o dia da sua festa litúrgica. Um militar que partilhou a sua capa com “Cristo”, facto que popularizou a palavra “capela” no mundo cristão. A meia-capa de São Martinho de Tours foi colocada numa urna, que se encontra num pequeno santuário construído para o efeito. Como em Latim “meia-capa” se pronuncia “capela”, as pessoas costumavam dizer: “Vamos rezar onde está a capela”. Desse modo, o nome “capela” ficou popularizado e passou a ser usado para designar os pequenos lugares de oração. O dia de São Martinho é festejado um pouco por toda a Europa e pelo mundo, mas as celebrações e costumes variam de país para país.

LIMA: O OUTRO SÃO MARTINHO

«Eu te medico, Deus te cura»

to, e aos doze anos desejou vi-ver no deserto com os monges. Foi impedido pelo pai e teve que abraçar a carreira militar. Ainda adolescente, Martinho reencontrou o Cristianismo e, superando muitas dificuldades, inscreveu-se entre os catecú-menos rumo ao baptismo, re-cebendo este Sacramento por volta dos vinte anos.

Em 341 d.C. pediu licença

para se retirar do exército. Entre-tanto, conhece Hilário, o Santo Bispo de Poitiers (França), e por ele é ordenado diácono e pres-bítero. Regressa posteriormente à Panónia e converte a mãe ao Cristianismo. Tempos depois decide viver como eremita na Ilha Galinária, na costa de Gé-nova. Mais tarde fica a saber que Santo Hilário, havia regressado a Poitiers. Consequentemen-

te, vai de novo ao encontro do Santo Bispo e expressa o desejo de continuar a vida eremita. Ob-tém licença para construir uma cabana às portas de Poitiers, na qual irá permanecer entregue à oração e à penitência pelo espa-ço de onze anos. Bem depressa se lhe juntaram, um após outro, muitos discípulos.

No ano 371 d.C., contra a sua vontade, Martinho é nomeado bispo de Tours. Logo depois fun-da o mosteiro de Marmoutier, também às portas da cidade, e aí fixa residência. Já no final da sua caminhada é informado de que na região de Candes há rivalida-des e desavenças entre o clero, e para lá dirige os seus passos. Não mais regressaria ao silêncio do mosteiro de Marmoutier.

A LENDA DE SÃO MARTI-NHO – Num dia frio e chuvoso de Inverno, Martinho seguia montado a cavalo quando en-controu um mendigo. Vendo o pedinte a tremer de frio e sem nada que lhe pudesse dar, pegou na espada e cortou o seu manto ao meio, cobrindo-o com uma

das partes, e continuou viagem. Diz a lenda que, nesse momento, as nuvens negras desapareceram e o Sol surgiu. O bom tempo pro-longou-se por três dias.

Na noite seguinte, Cristo apa-receu a Martinho num sonho. Usando o manto do mendigo, voltou-se para a multidão de anjos que o acompanhavam e disse, em voz alta: “Martinho cobriu-me com esta veste”.

CRISTO CAMINHAVA AO SEU LADO – Pregador incan-sável, Martinho foi também o fundador das primeiras igrejas rurais na região da Gália, onde atendia tanto ricos como po-bres. Nas actividades pastorais ocupava-se a visitar os prisionei-ros, os condenados à morte, os doentes e até os mortos. Não faltam relatos de milagres.

Extenuado pelas fadigas e pela dedicação ao serviço do Senhor, morre em 397 d.C., em Candes. Milhares comparece-ram ao seu último adeus, tal era a fama de santidade. Em França, diz-se que à passagem do seu corpo até ao túmulo as plantas nasceram e floriram, os pássaros cantaram, os aromas rescende-ram, cantando assim a natureza loas à sua santidade, durante o percurso de vários quilómetros.

É um dos primeiros santos não-mártires a ser proclamado pela Igreja. Embora tenha mor-rido no dia 8 de Novembro, a sua memória é celebrada três dias depois, dado que foi sepul-tado a 11, em Tours – local de intensa peregrinação desde o século V. Rapidamente este cul-to chegou a todos os cristãos, de tal modo que na Idade Média as peregrinações ao túmulo de São Martinho ombreavam com as realizadas aos túmulos de São Pedro e São Paulo, em Roma. A devoção a São Martinho é tão intensa em França, que nada menos do que três mil e 600 igrejas e 480 povoados franceses o tomaram como patrono. Para além de França, São Martinho é também padroeiro da cidade de Buenos Aires (Argentina) e da Guarda Suíça Pontifícia.

O primeiro biografista deste santo bispo, canonizado pelo povo, foi Sulpício Severo.

(*) com Aleteia e Observador

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P O R T U G A LO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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JOSÉ MARIA C.S. ANDRÉ (*)

A obra social do Calvário, em Pare-des, acolhe 64 pessoas incapazes de se valerem economicamente, a maioria com demência, outras sem família e desinseridas na sociedade. Um grande número de voluntários colabora, con-ferindo àquela casa um ambiente ale-gre e, tanto quanto possível, familiar. É normal encontrar por lá médicos, juízes, professores, a fazer camas ou a limpar o chão, ao lado de camponeses e outros colaboradores.

Recentemente, a direcção e os volun-tários decidiram homenagear um anti-go director, homem generoso, mas de carácter áspero, com muita idade, pro-tagonista, há anos, de diferendos aze-dos com as autoridades da Segurança Social. O Calvário guarda dele uma re-cordação de disponibilidade, tal como a Segurança Social se lembra bem dele, mas sem afecto nenhum. Assim, quan-do o Calvário promoveu a apresentação de um livro com textos dele (sábado, 27 de Outubro), a Segurança Social come-morou à sua maneira.

No dia 7 de Novembro, de manhã, uma equipa de reportagem do “Porto Canal” percorreu as ruas de Paredes à procura de queixas, sem grande êxito, e, à tarde, a frota de carrinhas da Se-gurança Social irrompeu na Casa para retirar os doentes, com o argumento de que a vigilância era insuficiente. Os pobres doentes gritavam, choravam, alguns procuraram resistir, mas a equi-pa da Segurança Social continuou a esvaziar os quartos. Já tinham removi-do quarenta utentes da Casa, quando o director exigiu a presença da polícia e que lhe mostrassem a ordem de des-pejo, emanada da autoridade compe-tente: sem isso, não permitia a saída de mais ninguém. A ordem não apa-receu, a GNR não quis colaborar com a Segurança Social e, por essa razão, permaneceram na Casa os últimos oito doentes e uma comunidade de quinze homens sem autonomia.

Depois desta evacuação em nome da segurança (é caso para dizer, em nome da Segurança Social), apareceram as famílias, incrédulas, a perguntar pelo paradeiro dos doentes. Gonçalo de Sousa, marido de uma utente, queria saber dela: «Estou muito preocupado. Fui alertado por uma pessoa amiga. A minha mulher sofre de demência e estou um boca-dinho em pânico, alarmadíssimo», disse o homem. «Ela aqui estava bem, tratavam bem dela, estava resguardada da sociedade.

Casa do Calvário, em Paredes

OBRA SOCIAL DO CALVÁRIO, PARÓQUIA DE TELHEIRAS E MOSTEIRO DE ALCOBAÇA

Santa paciência

Sou tutor dela designado pelo tribunal; não sei para onde ela foi, não sei de nada. Isto foi tudo feito à revelia dos familiares».

Demorou alguns dias a saber-se que os doentes tinham sido dispersos por locais a grande distância de Paredes. Novamente as famílias protestaram: «Agora, como é que eu o vou visitar todos os dias?».

Em Telheiras, um bairro novo da ci-dade de Lisboa, a Junta de Freguesia pediu à Paróquia que cedesse uma par-te do terreno destinado à igreja, para construir uma escola. A Paróquia foi generosa, a escola foi construída e está a funcionar. Entretanto, a Paróquia elaborou o projecto da igreja e lançou o concurso para a sua construção. Aí, levantaram-se uns activistas do bairro, alarmados com o perigo de ter uma igreja próxima de uma escola. Alguns jornais juntaram-se ao coro e a Câmara Municipal decidiu que o terreno des-tinado à igreja (o que restava dele) se transformasse em jardim público.

Outro desafio à paciência é a fixa-ção maçónica em relação ao Mosteiro de Alcobaça. Perduram nessa região os frutos de cultura e desenvolvimen-to dos muitos séculos de presença dos monges cistercienses em Alcoba-ça, desde os alvores da nacionalidade (1153) até à perseguição (1834) que os expulsou. Mas também se nota, desde o século XIX, o empenho maçónico de vingar esses séculos de Cristianismo, que foram a alma de Portugal e tive-ram em Alcobaça um dos seus focos mais activos de irradiação.

Até à investida maçónica, Alcobaça tinha cinco igrejas, além do mostei-ro. As três que não eram particula-res foram demolidas, pedra a pedra, para não poderem ser reconstruídas, incluindo a grande igreja paroquial

barroca. Para maior segurança, ocu-param-se os terrenos com edifícios e, no sítio onde estava a igreja paroquial fronteira ao mosteiro, instalou-se a sede da Maçonaria.

Desde há mais de um século, com algumas tréguas, Alcobaça é um cam-po de batalha contra Cristo. A única igreja paroquial que sobrevive é a do mosteiro, sob a alçada de uma directo-ra, nomeada pelo Ministério da Cultu-ra, que gasta o seu tempo e o dinheiro dos contribuintes a obstaculizar a utili-zação religiosa dos espaços reservados aos crentes. Como é a única igreja que lhes resta, os católicos montam guarda para proteger o Santíssimo Sacramen-to e... aguentam! Mas muitos protes-tam. O caso chegou a tal ponto que os deputados do Partido Socialista eleitos por aquela região interpelaram o seu Governo, na Assembleia da República, informando-o do descontentamento popular e pedindo moderação.

Paciência com os autores destas tro-pelias? Mais do que isso. A Igreja ensi-na-nos a rezar por eles, para termos a alegria de nos encontrarmos com eles no Céu.

(*) Professor no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa

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D E S P O R T O O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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ESCOLHA SARDINHAS PORTUGUESAS

ESCOLHAPORTHOS

MANUEL DOS SANTOS

O Vicariato Apostólico da Arábia Meridional (em Inglês: Apostolic Vicariate of Sou-thern Arabia) está localizado nos Emirados Árabes Unidos. A sua jurisdição abrange ainda Omã, Iémen e Somália.

O Vicariato é liderado pelo bispo suíço D. Paul Hinder. Foi criado em 1888 como Vi-cariato Apostólico de Áden, tendo esta designação sido al-terada para o nome actual em 2011. Funcionou em Áden (Ié-men) até 1973, ano em que foi transferido para a catedral de São José, em Abu Dhabi. Des-de 1916 que é governado pela Ordem dos Frades Menores Capuchinhos de Florença.

A jurisdição do Vicariato Apostólico da Arábia Meridio-nal contempla uma população total superior a 47 milhões de pessoas (dados de 2004), es-tando os católicos estimados em mais de um milhão e 300 mil (cerca de 2,7 por cento do total). Paróquias são vinte e o total de padres ronda os 45.

Este ano, em entrevista ao Vatican Insider, D. Paul Hinder, 76 anos, definiu-se deste modo: “Vejo-me, em primeiro lugar, como pastor de imigrantes”. Na obra da sua autoria, “Un vesco-vo in Arabia. La mia esperienza con l’islam” (“Um bispo na Ará-bia. A minha experiência com o islamismo”), relata na primeira pessoa as experiências vividas numa região marcada por con-flitos religiosos e acentuadas cli-vagens sociais.

Abu Dhabi fecha o calendá-rio da Federação Internacio-nal de Automobilismo (FIA) para a Fórmula 1 em 2018.

Igreja católica no Dubai (Emirados Árabes Unidos)

FÓRMULA 1 – ÉPOCA DE 2018

E tudo termina no deserto! Será?

Esta corrida servirá apenas para isso mesmo: “cumprir ca-lendário”, uma vez que todos os troféus e galardões possí-veis já foram entregues.

Assim sendo, também resta pouco para falarmos, ainda para mais quando a derradei-ra prova será disputada “a fei-jões”. Mas será mesmo assim? Talvez não!

A Ferrari – apostou tudo nesta época para vencer os dois campeonatos (construtores e pilotos) e regressa a Maranello de “mãos a abanar” – tem ain-da como objectivo prestar uma sentida homenagem ao ex-pre-sidente do Grupo Fiat-Chrys-ler-Automobiles, entre outros cargos relevantes da industria e do desporto automóvel, Ser-gio Marchionne, falecido a 25 de Junho deste ano.

A marca do Cavalinho Ram-

pante produziu o melhor car-ro de sempre e tinha a melhor dupla de pilotos oficiais. Mas algo correu mal... O primeiro piloto, Sebastian Vettel, come-teu erros crassos em diversas corridas que custaram pontos e fizeram a diferença na recta final da temporada. A verdade é que a equipa de Maranello também contribuiu para que Vettel não vencesse este ano, dado a sua quota parte de er-ros de estratégia e problemas técnicos durante as trocas de pneus. Lewis Hamilton foi assim o grande beneficiário dos erros da Ferrari, que não se “afundou”mais graças aos pontos amealhados pelo seu segundo piloto, o finlandês Kimi Raikkonen.

Ao sagrar-se campeão do mundo, o piloto britânico da Mercedes passou a integrar a

classe dos “imortais”, com a bo-nita soma de cinco títulos. Re-cordamos, mais uma vez, que ao fim de 68 anos de Fórmula 1 apenas mais dois pilotos con-seguiram este feito: o argenti-no Juan Manuel Fangio com 5 campeonatos, e o alemão Mi-chael Schumacher com 7.

Apesar de estar desconten-te com a “nova” Fórmula 1, Lewis Hamilton, hoje com 33 anos de idade, já deixou claro o desejo de igualar ou mes-mo ultrapassar o recorde de “Schumi”. Os grandes adver-sários desta intenção serão os dois Ferrari, os novos Renault e, eventualmente, os novos Force India do papá Lawren-ce Stroll. Talvez a grande in-cógnita sejam os Red Bull e Toro Rosso, equipados com motores Honda, os quais não deram grandes provas quan-

do utilizados pela McLaren e Toro Rosso.

O Grande Prémio de Abu Dhabi é disputado ao final do dia, ao lusco-fusco, com as luzes a acenderem-se no iní-cio da corrida. À semelhan-ça da prova de Singapura é mais uma gigantesca “pegada de carbono”, completamente desproporcionada, que con-traria a intenção da FIA e da Fórmula 1 em apostaram em motores ecológicos, apregoan-do quererem respeitar os de-sejos dos ecologistas.

Na pista tudo será muito fá-cil. Já só há a disputar os tro-féus do pódio e os pontos cor-respondentes às dez primeiras posições, muito importantes para as equipas do fundo do pelotão conseguirem melho-res ou piores patrocínios, con-tratação de técnicos e pessoal para as equipas em 2019.

Ao contrário do que pensa a maioria, a Fórmula 1 não é o desporto mais caro, nem o mais perigoso do mundo. Mui-to mais dispendiosas são as re-gatas oceânicas em veleiro. Já a motonáutica é considerada a actividades desportiva mais perigosa, principalmente os barcos “offshore” e os “water dragsters”.

A agenda do Grande Pré-mio de Abu Dhabi está assim escalonada (horas de Macau): Treinos livres 1, hoje, 17:00 horas – 18:30 horas; treinos livres 2, hoje, 21:00 horas – 22:30 horas; treinos livres 3, sábado, 18:00 horas – 19:00 horas. Provas de qualificação: Sábado, 21:00 horas – 22:00 horas. Corrida: Domingo, 21:10 horas.

O serviço de meteorologia local prevê céu limpo, com as temperaturas para os três dias a rondar entre os 31ºC de má-xima e os 24ºC de mínima.

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O P I N I Ã OO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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O NOSSO TEMPO

CARLOS FROTA (*)

A revolução de hábitos e atitudes, provocada pela informação audiovisual contínua,

transformou o mundo num grande palco, em que o espectáculo nunca pára, em que a cortina nunca desce.

Algo pode ser objecto de notícia na outra parte do mundo, assim que fechamos a luz do candeeiro e nos dispomos ao sono reparador. Porque, fechando nós os olhos, a vida continua nos outros pequenos bairros (mesmo se com bandeira e hino nacional), das mais variadas geografias, de que se compõe o quadro completo da nossa aldeia global. E enquanto estamos a dormir, nasce-se e morre-se noutras paragens, ri-se e chora-se nos mais recônditos lugares do mundo, ganha-se e perde-se, ama-se e odeia-se, confraterniza-se ou iniciam-se lutos, apertam-se as mãos ou aponta-se a arma para liquidar inimigos...

FALAR DE TUDO

Umas horas sentados em frente ao ecrã de televisão, com ou sem “zapping”, ou dedilhando nas teclas do computador/telemóvel/iPAD ou outros “tablets” – e eis-nos perante centenas de semelhantes nossos que opinam sobre tudo. Sobre a economia. Sobre a astrologia. Sobre a climatologia. Sobre a política caseira ou mundial. Sobre Religião e Filosofia. Sobre música, ballet, teatro, cinema. E sobre desporto. E nele, sobre futebol, futebol, futebol, futebol...

E os analistas analisam, os observadores observam, os articulistas publicam artigos, os comentadores comentam. E fala-se, fala-se, fala-se, fala-se... debate-se, debate-se, debate-se... opina-se, opina-se, opina-se... Fala-se de tudo. E ainda bem!

MAS OUVE-SE O OUTRO?

Se falar é a “arte” sempre presente... ouvir, pelo contrário, é a grande Arte – omissa. O ouvir para compreender as razões, exteriores à nossa razão. Os argumentos, para além dos nossos argumentos. As certezas absolutas, para além das nossas certezas absolutas.

Devo confessar que, à medida que os anos passam, mais me intriga e seduz a questão de saber como formamos as nossas certezas. E o que lhes está tantas vezes na base: os preconceitos e as meras opiniões.

Como chegamos a acreditar no que acreditamos? E como podemos

Preconceitos, opiniões, certezas...

partilhar tais opções de vida com quem de nós discorda, nessa imensa praça pública digital que são hoje, antes de mais, as redes sociais?

O debate de ideias sereno, sincero, construtivo, respeitador, é possível? O mesmo é perguntar: pode evitar-se a ofensa do outro, a humilhação do outro, a desvalorização tantas vezes insultuosa do ponto de vista oposto?

Tal implica, naturalmente, exercermos a maior vigilância racional sobre as (des)vantagens do meio social em que se nasceu e ou se cresceu. E aceitar-se que, paralelamente ao planeta, mais ou menos harmonioso ou conflituoso, nos valores e na diversidade social, que foi sempre o nosso, há outros planetas igualmente mais ou menos fracturados a girar em torno do mesmo sol...

TUDO TEM UM PREÇO

Falar tem consequências. E falar de uma certa maneira, consequências tem. Por isso cabe perguntar: qual a saúde do debate público em geral?

Qual a saúde do debate político? Apela às convergências ou aprofunda divisões?

E qual a saúde do debate entre culturas? Constrói pontes de entendimento ou conclui pela irredutibilidade e antagonismo das diferentes tradições?

E entre religiões? O meu deus ou deuses é/são melhor(es) que o(s) teu(s)? E entre os diferentes nomes de Deus? Alá é melhor que Javé? E onde mora Este na Santíssima Trindade cristã?

E ENTRE AS NAÇÕES?

E entre... as nações, já que se fala cada vez mais frequentemente dos perigos de um nacionalismo extremo? Que nação é melhor, ou superior, ou de gente mais inteligente, ou mais capaz... etc. etc. etc.?

Como se percebeu já, pelo tom veladamente crítico destas formulações (para mim erradas e perigosas ), o que pretendo é muito mais salientar as balizas erradas de certos tipos de debate público, do que marcar distinções intelectualmente aceitáveis...

E chegado a este ponto da minha reflexão, não posso evitar o recurso àquela ideia básica da nossa mesma e comum humanidade que tanto tem servido de óculo ao meu olhar sobre o mundo.

Somos as mesmas pessoas, digo-me então, só mudam as circunstâncias de tempo e de lugar... e sendo assim como podemos conversar uns com os outros, entre iguais?

ENTRE AS MUITAS VERDADES

Costumo pensar que a última prova, o último bastião da nossa humanidade reside num olhar honesto sobre o que se vai passando.

Pois esse olhar honesto inquieta muitos. Como os inquieta um debate público isento, sereno, elevado, feito das convergências e naturalmente das divergências de milhares , de milhões de “olhares honestos”.

A generalização das notícias falsas é a prova mais recente de que para as respectivas fontes o olhar honesto sobre

a realidade é insuportável. Por isso é preciso manipular, para perverter.

COMO DIZIA NO INÍCIO...

...a revolução de hábitos e atitudes, provocada pela informação audiovisual contínua, transformou o mundo num grande palco em que o espectáculo nunca pára, em que a cortina nunca desce.

Mas esse espectáculo poderia converter-se num exercício de verdadeiro diálogo entre todos, o que obviamente não acontece. De quem é a culpa?

Para retomar o título desta crónica, a culpa é de quem fomenta e manipula preconceitos, desde o racismo a todos os outros “-ismos”.

A culpa é a de quem condiciona as opiniões. E a culpa é a de quem impõe as suas certezas.

Vivemos num mundo onde as possibilidades são infinitas para cada um crescer no plano da cidadania. Mas onde novos e velhos iluminados chegam apressados à praça pública das ideias para fechar todas as luzes, excepto as suas. Como se está a assistir na Europa, com o regresso ao passado, à época dos poucos que pensavam em nome de todos. Porque eram iluminados, exactamente.

Tão iluminados, que quando a tragédia chegou, em forma de guerra a mais mortífera, a todos atingiu, numa partilha então a mais democrática das dores, dos lutos, das destruições, das amputações dos corpos e sobretudo das almas.

(*) Universidade de São José

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JOAQUIM MAGALHÃES DE [email protected]

Ergue-se em frente ao cais e é um dos edifícios mais antigos do centro histórico o sobrado setecentista que agora aprecio na Calle Baratillo. Alberga o rés--do-chão um pitoresco museu de marionetas e serve o primeiro andar de sede principal à Ofici-na do Historiador, entidade cria-da em 1938 para preservação do vasto legado patrimonial contido nos cantos e recantos da velha Havana. Inspirar-se-iam os técni-cos da reabilitação no trabalho do professor Stanislaw Lorentz, falecido em 1991 – “o seu empe-nho na salvaguarda do patrimó-nio nacional da Polónia e o seu papel na reconstrução do castelo real de Varsóvia, motivou o nosso trabalho no Centro Histórico”, reza um baixo-relevo na parede de um edifício anónimo, como é prática comum em cidades que não esquecem os seus.

Canhões virados de cima para baixo pregados no empedrado das calçadas indicam a entrada das vias; algumas inteiramente recuperadas; outras ainda com largos meses de obras pela fren-te. Mas a freima está lá, em for-ma de pincel, tinta e gesso pron-tos para os frisos e as cornijas. Num face a face com a igreja de São Francisco, na praça com o mesmo nome, apresenta-se a an-tiga Lonja del Comercio, edifício desenhado em 1907 pelo valen-ciano Tomas Mur, antiga Bolsa de Valores e agora centro de negócios de várias empresas es-trangeiras e agências de viagem. Marco referencial para quem en-xergue o edifício ao longe, equi-libra-se num só pé, qual bailari-no de bronze, o deus Mercúrio. Esperam pacientemente em fila indiana à frente da porta princi-pal turistas prontos a trocar dó-lares e euros por pesos cubanos convertíveis, os ditos CUCs, que me trazem à memória o tempo dos FECs na China. Os anos que já lá vão... A praça é dominada pela fachada neo-clássica da Ba-sílica Menor de São Francisco e à sua sombra abriga-se a estátua do maiorquino Junípero Serra, fundador de grande parte dos postos missionários da costa oes-te da América do Norte. Alguns

PASSEIOS POR HAVANA – 7

O frade Serra, a bailarina Araújo e o filatelista Aguiar

desses núcleos dariam origem a cidades como Los Angeles, Sacramento, San Francisco e San Diego. A canonização deste missionário pelo Santo Padre, aquando da sua viagem apostóli-ca a Cuba e aos Estados Unidos, em 2015, suscitaria críticas por parte de quem considera Serra um intruso, alguém que de for-ma perniciosa interferiria no modus vivendus tradicional dos autóctones daquela região.

Era animada, a citada praça, na época em que os galeões es-panhóis vindos do Oriente esca-lavam Havana antes de seguirem para Espanha. Ali funcionava um mercado que após a construção da igreja, em 1608, seria transfe-rido para a Plaza Vieja, pois o ruí-do interrompia a ansiada tran-quilidade dos frades residentes no convento contíguo à basílica. Acede-se a esse espaço por um portão lateral. Junto a ele res-salta uma frase de Madre Teresa de Calcutá que, no interior, nos surge em forma de estátua de-fronte a uma gruta semelhante às dedicadas a Nossa Senhora de Lourdes tão comuns em toda a Ásia. Repousam vários sinos nos

claustros agora vazios e numa outra laje, “oferta da província de Bergamo”, vejo gravado em alto-relevo o busto do Papa João XXIII e este seu desidério: “Que todos os povos do mundo se abracem como irmãos e que flo-resça e reine sempre entre eles a tão desejada paz”.

A origem da inesperada ca-pela ortodoxa, verdadeira ca-tedral dos pequeninos, que ali vemos é-nos explicada numa outra lápide com as figuras em mosaico-filigrana de Fidel Cas-tro e do Patriarca Bartolomeu I, barba com barba; o primeiro, de chave na mão; o segundo, de mão receptiva: “Esta catedral é uma oferta de povo cubano à Igreja Ortodoxa Grega e ao Pa-triarca ecuménico Bartolomeu. Novembro 2003”. É conheci-do o empenho do Patriarca de Constantinopla nas questões da defesa do Meio Ambiente; de resto, merecer-lhe-iam o epíteto de “Patriarca Verde”. Etnicamen-te grego e turco de cidadania, são-lhe também gabados os seus esforços em prol de um sempre necessário e revigorante diálo-go com as demais religiões, em

particular o Judaísmo e o Islamis-mo. Em Novembro de 2014, no decorrer de um encontro que manteve com o Sumo Pontífice foi aferida a situação dos cristãos no Médio Oriente e falou-se da aproximação da Igreja Católi-ca Apostólica Ortodoxa à Igreja Católica Apostólica Romana. Há no curioso claustro ajardinado – que tem adjacente um Museu de Arte Sacra – uma lápide tumular. Movido pela curiosidade aproxi-mo-me. E que vejo eu? Tão só o mui familiar nome “Nara Araú-jo” acompanhado das datas “10 de Novembro de 1945 – 14 de Janeiro de 2009”. Desvendaria essa noite, graças ao doutor Goo-gle, mais um profícuo sinal da memória lusitana (ou galega, o que vai dar ao mesmo) em terras cubanas. A figura pública Nara Araújo distinguiu-se, primeiro, como bailarina do corpo do Bal-let Nacional de Cuba e, poste-riormente, enquanto professora universitária, escritora, investi-gadora e membro da Academia Cubana da Língua. Rezam as memórias que recorria a um pe-culiar método de ensino: sempre que um aluno dava uma resposta

inteligente, ou sempre que escu-tava algo de interessante, Nara invariavelmente levava o polegar ao queixo e o indicativo ao nariz, acenava afirmativamente com a cabeça, em sinal de aprovação, e proferia um sonoro “chapeau, chapeau” – ou seja, “tiro-lhe o chapéu” – antes de explanar a sua opinião sobre a matéria.

Também no domínio da filate-lia soam tambores lusitanos – a criação do Museu Postal de Cuba deve-se à iniciativa de um tal José Luis Guerra Aguiar, possuidor de uma das maiores colecções de selos do mundo. A título de curiosidade, registe-se que foi o Brasil o primeiro país latino--americano a emitir selos pos-tais. No primeiro dia de Agosto de 1843, o imperador Pedro II autorizara uma emissão com os valores de trinta, sessenta e no-venta reais, impressos em preto pela firma britânica Perkins Ba-con and Company. Feito este in-terregno evocador, regressemos à Plaza de San Francisco, total-mente remodelada no final da década de 1990 e onde sobressai a Fonte dos Leões, obra de 1836, em mármore branco, da autoria

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O frade Serra, a bailarina Araújo e o filatelista Aguiar

do italiano Giuseppe Gaginni. Bem mais moderna, a icónica es-tátua “Caballero de París” evoca um personagem de rua bastante popular que nos anos 50 deam-bulava por Havana entretendo os visitantes ao expressar a sua opinião acerca dos mais variados assuntos. Antes da obrigatória visita ao Museu do Rum, passo pela elegante Plaza Vieja. Impos-sível ignorar a estranha escultu-ra de uma mulher nua montada num galo e empunhando um gigantesco garfo que aqui está. Nem de propósito. Denominam--se “Paladares” os pequenos res-taurantes onde se come bem e barato, embora comecem agora muitos deles – como aconteceu com as saudosas tascas da cidade do Porto – a aderir à tendência “gourmet”, com o aumento dos preços que esse total atirar a toa-lha ao chão implica.

Deparo numa das esquinas com uma dessas volumosas ne-gras de charuto habano na boca e boneca de borracha de esti-mação repousando num cesto. Lembram, no traje e na postura, as baianas de São Salvador. Mas na verdade não é o candomblé

o que praticam, antes a santería, também conhecida como Regla de Ocha ou Lucumí, culto afro--americano de origem caribenha que se desenvolveu no Império Espanhol entre os descenden-tes da África Ocidental, maiori-tariamente de origem ioruba, e que no Catolicismo se mesclaria dando origem a um interessante sincretismo religioso. Em boa verdade, santería é um vocábulo castelhano que significa “adora-ção dos santos”. Recorrem estas senhoras ao transe e à adivinha-ção para comunicar com seus ancestrais e outras divindades, havendo por vezes sacrifício de animais e sempre farta batuca-da e um variado rol de danças sagradas. Quase sem querer dou de caras com a Catedral de Hava-na. Numa das paredes laterais a frase de Félix Varela, conhecido como “Padre Varela”, sacerdote, professor, escritor, filósofo e po-lítico cubano, presença marcan-te na vida intelectual, política e religiosa em Cuba na primeira metade do século XIX. É dele a seguinte máxima: “Não há Pátria sem virtude, nem virtude com impiedade”.

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HORÁRIO DAS MISSAS(DOMINGOS E DIAS SANTOS)

7:00 horas — Fátima (C)7:30 horas — S. Lourenço e St.º António (C)7:30 horas — S. Lázaro (C)7:45 horas — Sé (C)8:15 horas — S. Francisco Xavier — Mong-Há (C)8:30 horas — N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (C) 9:00 horas — S. Lourenço; Fátima (C); St.º António (C)9:15 horas — Penha 9:30 horas — S. Lázaro; S. Francisco Xavier (Mong-Há); S. José Operário (C); S. Agostinho (I); Sé(C)10:00 horas — S. Francisco Xa vier — Co loa ne (I, C); N.ª Srª do Carmo — Taipa (I)11:00 horas — Seminário S. José (Tagalog); St.º António (P)11:00 horas — Sé (P); Hospital de S. Januário (P);11:00 horas — S. Lázaro (I); S. Agostinho (Tagalog)11:15 horas — Instituto Salesiano (I); N.ª Sr.ª do Carmo Taipa (P) 12:00 horas — Fátima (I)16:30 horas — Seminário S. José (I); Fátima (Vietnamita); S. Agostinho (I)17:00 horas — Sé (I)17:00 horas — S. Lourenço (Bahasa Indonésio) 17:30 horas — S. José Operário (I); St.º António (P) (Terça)18:00 horas — S. Fr. Xavier Mong-Há (C); S. Lázaro (P)18:30 horas — Sé (I); S. Agostinho (I)20:00 horas — S. Lourenço (I)20:30 horas — S. José Operário (M)

MISSAS ANTECIPADAS

16:00 horas — St.º António (K) 17:00 horas — S. Domingos (P)17:30 horas — S. Fr. Xavier Mong-Há (I)18:00 horas — Sé (P) 18:30 horas — N.ª S.ª do Carmo — Taipa (I)19:00 horas — S. Lázaro (C)20:00 horas — Fátima (C)20:00 horas — S. Lourenço (I)

ABREVIATURAS

C - Em Cantonense I - Em Inglês M - Em Mandarim P - Em Português K - Em Coreano

INTRODUÇÃO ÀS LEITURAS

Jesus afirma diante de Pilatos que Ele é rei, mas que o Seu reino não é deste mundo (EVANGELHO: Jo., 18, 33-37). Diante do tribunal religioso tinha-Se identificado como o misterioso Filho do homem, aquele que Daniel

via surgir sobre as nuvens do céu, investido por Deus com uma realeza eterna e universal (PRIMEIRA LEITURA: Dn., 7, 13-14). S. João, no seu Apocalipse (SEGUNDA LEITURA: Ap., 1, 5-8) apresenta-nos Jesus como «o soberano dos reis da terra», que com o Seu sangue nos converteu em súbditos do Seu Reino.

...encontras-te na mais baixa situação humana, na figura desses maltrapilhos da esquina da rua......estás aí sentado e esquecido, arras-tando a tua doença nessa sala de espe-ra do hospital ou do serviço de saúde......encontras-te aí, esfomeado, às voltas com a limpeza desse automóvel, para receber alguma coisa para matar a fome......estás aí, meio nu, na pessoa des-sas crianças que brincam no meio da lama......estás aí, escondido por entre as angústias económicas de tantas fa-mílias......estás aí, esquecido e desprezado na pes-soa de toda essa gente que espera a sua vez para ser atendida num qualquer bal-cão de serviço público...

«–ÉS REI? – TU O DISSESTE: SOU REI!»

NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO – Ano B – 25 de Novembro

O Seu reino é eterno

Com que então, Tu, ó Cristo...

O Papa Francisco assinalou a 18 de Novembro o II Dia Mundial dos Pobres, com um almoço que reuniu milhares de pessoas com necessidades, voluntários e re-presentantes de instituições de caridade, no Vaticano.

«Este dia, que envolve cada vez mais paróquias, associações e movi-mentos eclesiais, quer ser um sinal de esperança e um estímulo para que nos tornemos instrumentos de misericórdia no tecido social», ex-plicou o Pontífice aos peregri-nos reunidos na Praça de São Pedro, ao meio-dia de Roma, para a oração do Angelus.

Antes, Francisco tinha pre-sidido à Missa, na Basílica de São Pedro, com a participação de pobres, acompanhados por representantes de associações e grupos paroquiais.

PAPA ALMOÇOU COM POBRES NO VATICANO

«Proximidade» a quem passa necessidade

O Papa realçou que, à imagem do almoço com «muitas pessoas in-digentes» no auditório Paulo VI, do Vaticano, iriam decorrer em dioceses de todo o mundo «ini-ciativas de oração e partilha», com o objectivo de «manifestar a proxi-midade da comunidade cristã aos que vivem em condições de pobreza».

Ao chegar à sala, o Papa Fran-cisco saudou os presentes: «Ago-

ra, todos vamos almoçar juntos. Agradecemos às pessoas que trouxe-ram o almoço e àquelas que vão ser-vir o almoço. Agradecemos a todos e pedimos a Deus que nos abençoe a todos nós. Uma bênção de Deus para todos, todos nós que estamos aqui. Que Deus abençoe cada um de nós, abençoe os nossos corações, abençoe as nossas intenções e nos ajude a seguir em frente».

Setenta voluntários das paró-quias de Roma serviram cerca de mil e 500 pessoas carentes, acompanhadas por associações de voluntariado. A refeição constou de lasanha e panados de frango com puré de batata.

Após a refeição, Francisco agradeceu a todos pela compa-nhia. «Disseram-me que agora come-ça a verdadeira festa e que o Papa tem de se ir embora, para que a festa seja boa», gracejou.

«Muito obrigado! Obrigado pela companhia. Obrigado aos músicos. Obrigado a todos aqueles que prepa-raram o almoço, aos que o serviram e aos jovens que ajudam aqui. Obri-gado a todos. Rezem por mim. Que o Senhor os abençoe. Obrigado!», concluiu.

Antes do almoço, desde a ja-nela do apartamento pontifício,

após a recitação do Angelus, o Papa condenou o «massacre» que atingiu, há dois dias, um campo de refugiados na República Cen-tro-Africana, provocando deze-nas de mortos, incluindo dois sacerdotes católicos.

«A este povo, que me é tão queri-do, onde abri a primeira porta san-ta do Jubileu da Misericórdia [No-vembro de 2015], manifesto toda a minha proximidade e o meu amor. Rezemos pelos mortos e os feridos, e para que cesse toda a violência neste amado país que tem tanta necessi-dade de paz», apelou.

Francisco rezou ainda pelas vítimas dos incêndios que «estão a flagelar a Califórnia», bem como pelas da vaga de frio na costa les-te dos Estados Unidos.

In ECCLESIA

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PE. JOSÉ MARIO MANDÍA

Já examinámos a validade dos Evangelhos e concluímos que podem ser considerados autênti-cos registos históricos. Assim que começamos a ler os Evangelhos reparamos imediatamente numa nova personagem principal: Je-sus. E o que descobrimos? Que faz afirmações que a maioria das pes-soas acha simplesmente incríveis.

Para podermos compreen-dê-lo é importante relembrar o Antigo Testamento, quan-do Deus revela a Moisés o Seu nome. O Êxodo (3:13-14) di-z-nos: «Então Moisés perguntou a Deus: “Se for ter com o povo de Israel e lhes disser ‘O Deus dos vos-sos pais enviou-me a vós’, e eles me perguntarem ‘Qual é o Seu Nome?’, o que lhes direi?”. Deus respondeu a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE

TEOLOGIA, UMA DENTADA DE CADA VEZ (9)

Jesus é credível?SOU” [em Hebreu, “YHWH”]. E acrescentou: “Diz isto ao povo de Is-rael, ‘EU SOU enviou-me a vós’”». Os hebreus veneravam tanto este nome que evitavam pro-nunciá-lo. No seu lugar usavam Adonai (Senhor). Os estudiosos (eruditos) dizem que no tempo de Jesus o nome sagrado era pronunciado apenas durante o Dia do Perdão (Yom Kipur).

Mas voltemos aos Evangelhos! Numa altercação entre Jesus e alguns judeus, estes duvidaram e questionaram as Suas creden-ciais. Jesus disse-lhes: «O vosso pai Abraão regozijou-se que estava para ver o meu dia; ele viu e ficou feliz. Os judeus perguntaram-lhe: “Ainda nem tens cinquenta anos de vida, e viste Abraão?”. Jesus res-pondeu-lhes: “Em verdade vos digo, antes de Abraão estava EU SOU [“YHWH”]”. (João 8:56-58)».

Podemos imaginar o choque e a consternação dos judeus ao ouvirem aquelas palavras.

Compreenderam exactamente o que Ele reivindicava para Si mesmo. «Por isso agarraram em pedras para lhe atirarem, mas Jesus escondeu-se e saiu do templo (João 8:56-58)». A lapidação era o cas-tigo para a blasfémia.

Jesus fez esta afirmação por várias vezes. Por 24 vezes, Jesus disse, enfaticamente, EU SOU. (João 4:26; 6:20; 6:35; 6:41; 6:48; 6:51; 8:12; 8:18; 8:23 [duas ve-zes]; 8:24; 8:28; 8:58; 10:7; 10:9; 10:11; 10:14; 11:25; 13:19; 14:6; 15:1; 15:5; 18:5; 18:6; 18:8).

Nos restantes livros do Novo Testamento “EU SOU” aparece num total de 86 vezes, das quais 28 foram enfáticas, (Mateus 14:27; 22:32; 24:5; 26:22, 25; Marcos 6:50; 13:6; 14:62; Lucas 1:19; 21:8; 22:70; 24:39; Actos 9:5; 10:21; 11:5; 18:10; 22:3, 8, 19; 26:15, 29; Hebreus 1:5; 2:13; Revelação 1:8, 17; 2:23; 21:6; 22:16). Para mais detalhes, pro-curem o debate “online” do

padre Felix Just SJ, “Eu Sou, no Quarto Evangelho”.

Esta foi a razão porque o ma-taram – Ele insistia em dizer que era o Filho de Deus. Logo, Ele também seria Deus. Por exem-plo, em João 5:17-18 lemos: «Jesus respondeu-lhes: “O meu Pai ainda está a trabalhar, e Eu estou a traba-lhar”. Por causa disto, os judeus ain-da tiveram mais vontade de O matar, porque Ele não apenas tinha violado o “Sabbath” [sábado judaico du-rante o qual os judeus se abstêm de trabalhar], como também cha-mou a Deus seu Pai, fazendo de Si próprio um igual a Deus. Além disso, Ele não afastava os que O adoravam, como quando Tomás, depois da Res-surreição, exclamou: “Meu Senhor e

meu Deus!”. (João 20:28)».Deixem-nos supor que um

amigo nosso não é na realidade um ser humano, mas um anjo enviado do paraíso. Como é que reagiríamos? Pensaríamos que ele estaria a brincar connosco. Em 1942, durante uma conversa, CS Lewis vulgarizou o argumento de que Jesus ou era um mentiro-so, ou um lunático (maluco), ou um Senhor. Se Ele não pudesse mostrar ter puderes divinos, esta-va a enganar-nos a todos, ou a Ele próprio – como um idiota – pelo que não podia ser credível. Ora, Jesus provou que as Suas palavras mereciam que acreditássemos nelas? Como? É o que vamos ver na próxima semana.

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O olhar internacional sobre o Japão roçava já o desprezo, na década de 70 do século XIX. A situação era incómo-da, mas principalmente para os cristãos, que a sofriam na pele e no sentimento de japoneses que eram afinal, mas não tão iguais como os seus compatriotas não-cristãos. Alguns ventos internos so-pravam, no entanto, noutra direcção: o vice-cônsul nos Estados Unidos, Mori Arinori (1847-1889), escrevera então um texto em que opugnava pela liber-dade religiosa no Japão, argumentando que era impossível manter mais tempo a política de intolerância religiosa. Shi-maji Mokurai (1838-1911), um monge budista famoso e influente no País, es-crevera também um texto crítico a de-fender a separação do Estado e da Re-ligião, a clamar pela liberdade religiosa e a defender as ideias de Arinori. A ala conservadora do Governo japonês, to-davia, pouca atenção deu a estes textos, reforçando o Xintoísmo como religião identitária nacional.

Não estavam fáceis as coisas. Apesar de, por exemplo, muitos cidadãos terem perdido o medo do Cristianismo e dos seus “perigos” para o Japão e terem co-meçado a critica ao édito de irradicação dos cristãos do País.

A ESPERANÇA RENASCE

O Governo teimava em não remover o édito. Envolvia-se, por outro lado, em conflitos com os budistas, afunilando o

A SECRETA TRANSMISSÃO DA FÉ

Os “Cristãos Escondidos” no Japão – VVÍTOR TEIXEIRA (*)

A abertura Meiji ao exterior parecia fluir em todas as vertentes da vida moderna. Mas não no aspecto religioso. Este chocava com o nacionalismo crescente no País e a ligação entre o Estado e as religiões tradicionais japonesas, o Xintoísmo e o Budismo. Parecia não haver espaço para o Cristianismo. As pressões externas redobravam-se a cada ano, as críticas eram ásperas perante o tratamento dado aos cristãos e aos missionários no País que se abria ao exterior. A opinião pública internacional criticava cada vez mais violentamente o Japão. Onde os ataques às igrejas se sucediam, o flagelo anti-cristão persistia.

sentimento religioso nacional pelo Xin-toísmo. A repressão caiu mesmo sobre o Budismo, em moldes parecidos com o que existia em relação aos cristãos.

Mas eis que chega um telegrama de Berlim, enviado pela já referida missão diplomática de Iwakura, que dizia que se os cristãos de Urakami não fossem liber-tados, não haveria esperança para a revi-são dos tratados e a missão acabava, sem frutos alguns. Em 24 de Fevereiro de 1873, em consequência de todas as pres-sões internacionais, um édito imperial ordenava a remoção de quaisquer for-mas de banimento dos cristãos. Acabava a política de supressão do Cristianismo no Japão e nascia a liberdade religiosa. A evangelização do País renascia e assu-mia os moldes que depois se desenvolve-riam. Os cristãos espalhados pelo País e proibidos de exercer a sua fé voltavam às suas comunidades de origem e passavam a professar livremente o seu credo.

Subsistia, porém, um artigo (nº 28) na Constituição Meiji que deixava pairar ainda ameaças a essa liberdade e até fa-zia manter a obstaculização da mesma, recordando que existiam regras para a actividade religiosa e construção de tem-plos que não fossem do Xintoísmo ou

do Budismo. Até 1899 vigorou este arti-go, quando então se deu total liberdade de pregação, culto e erecção de templos cristãos. Mas leis a proteger a completa liberdade e a estabelecer o princípio de separação do Estado e da Religião só na Constituição de 1946 (artº 120), de-pois da Guerra do Pacífico (ou Segunda Guerra Mundial).

As perseguições de 1869 tinham disper-sado cerca de três mil e 300 cristãos, um ano depois da dispersão forçada de algu-mas centenas. Era preciso reunir todos es-tes católicos japoneses. Em 1873 começou esse processo, que se foi fazendo paulati-namente. A região de Nagasaki começou a ficar polvilhada de pequenas igrejas, cada uma delas com uma comunidade alegre e perseverante. Muitos exilados re-começaram, no seu regresso, a construir a catedral da Imaculada Conceição de Urakami, que se completaria em 1895 e que seria pulverizada pela explosão atómi-ca de Nagasaki em Agosto de 1945, pois estava no hipocentro da mesma.

A Igreja no Japão conheceu também um forte crescimento desde então, gra-ças à chegada de levas de missionários vindos de todo o mundo. Estes desco-briam todos dos dias novas histórias ou

novos “cristãos escondidos”, dezenas de milhares provavelmente, que se tinham escondido em torno de Nagasaki e nas ilhas adjacentes (como o arquipélago de Goto). Alguns retornariam oficialmen-te à Igreja Católica Apostólica Romana. Para tal, renunciaram às suas práticas sincréticas e não ortodoxas. Outros op-taram por permanecer fora da Igreja Ca-tólica, mantendo uma existência, ainda que livre, idêntica aos Kakure Kirishitan (“Cristãos Escondidos”), com as suas pró-prias crenças tradicionais e sincretismos, mas na condição de “Cristãos Separados” (os Hanare Kirishitan 離れキリシタン). Os seus descendentes afirmavam que que-riam manter a religião com os costumes dos seus antepassados, tal como estes a mantiveram. Era uma opção difícil, a ma-nutenção de comunidades e rituais não tinha sentido agora que existia liberda-de religiosa, pelo que muitos se conver-teram ao Budismo e ao Xintoísmo. Mas é curioso que por vezes se tenha dado o regresso ao Cristianismo católico, como por parte de alguns jovens pertencentes a antigas famílias de Kakure Kirishitan, que se converteram e foram baptizados em Nagasaki pelo Papa São João Paulo II, na sua visita apostólica ao Japão em 1991.

As comunidades de “Cristãos Sepa-rados” ainda existem, dispersas e enve-lhecidas, em vias de extinção. Praticam cerimónias antigas do tempo da clan-destinidade, mas cada vez menos. Roma nunca as considerou heréticas, diga-se, respeitando os seus rituais e as circuns-tâncias em que se faziam, sem intenções cismáticas ou sequer de protesto ou re-belião contra a Igreja. Apenas foram di-tadas pelo contexto e assim se mantive-ram, merecendo o respeito dos demais cristãos. Hoje em dia já não são vistos como uma ameaça para a unidade do País, embora continuem a ter uma co-notação de “estrangeiros”.

A comunidade católica japonesa con-ta cerca de meio milhão de fiéis, menos de um por cento da população do País (cerca de 127 milhões de habitantes), que é predominantemente budista (71 por cento) e xintoísta (quinze por cen-to). Os protestantes são também uma minoria. Existem dezasseis dioceses no Japão: três arquidioceses, Tóquio, Naga-saki e Osaka; e treze dioceses, Fukuoka, Hiroshima, Kagoshima, Kyoto, Nagoya, Naha, Niigata, Oita, Saitama, Sapporo, Sendai, Takamatsu e Yokohama.

É importante não esquecer aqui o papel dos jesuítas portugueses e depois as ordens mendicantes hispano-filipinas na evangelização do País, no século XVI, os seus mártires e santos, a resistência resiliente e depois a obra das Missões Estrangeiras, em que se destaca o mon-senhor Petitjean, e mais tarde outros, como Pedro Arrupe SJ (1907-1991).

(*) Universidade Católica Portuguesa

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SUSANA MEXIA (*)

O Terço é um intercâmbio entre Deus e a Hu-manidade, que se foi adaptando às necessidades de cada época na salvação dos homens, mas sem-pre, sempre, por intercessão de Maria.

Quanto à origem mais remota do Santo Ro-sário, podemos dizer que nasceu no mistério da Anunciação, com a saudação do arcanjo São Ga-briel à Virgem de Nazaré: «Avé, cheia de graça, o Senhor é contigo» (Lc., 1, 28). A oração tem a sua continuidade nas palavras inspiradas pelo Espí-rito Santo que saíram da boca de Santa Isabel: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre» (Lc., 1, 42).

A segunda parte da Avé Maria foi definida no Concílio de Éfeso, na Ásia Menor, no ano de 431, pelo Papa São Celestino I. Primeiramente promulgou o dogma da maternidade divina, ou seja, definiu como doutrina da Igreja Católica que “a Virgem Santíssima é verdadeiramente a Mãe de Deus, por ser a Mãe de Jesus Cristo, que é Deus”. Em memória desta solene defini-ção, o Concílio juntou à Saudação Angélica estas palavras simples, mas muito expressivas: “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

O Pai Nosso teve a sua origem também nas Sagradas Escrituras e foi o próprio Verbo de Deus encarnado que, a pedido dos discípulos, ensinou esta oração.

Segundo a tradição, no século XIII, São Do-mingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, recebeu o Rosário da própria Virgem Maria, como uma arma para vencer as heresias. Dessa forma, a Virgem do Rosário concedeu a São Domingos a vitória sobre a heresia dos albigenses. Em 1365 foi feita uma combinação dos quatro saltérios, dividindo as 150 Avé Marias em quinze dezenas e colocan-do um Pai Nosso no início de cada uma delas. Em 1500 ficou estabelecido para cada dezena a meditação de um episódio da vida de Jesus ou Maria, e assim surgiu o Rosário de quinze mistérios. A Bíblia dos pobres.

O Papa São Pio V, que era dominicano, rece-beu de Nossa Senhora a revelação que venceria a batalha contra os muçulmanos através do San-

to Rosário. O Pontífice pediu então que toda a Igreja, inclusive os que participariam das bata-lhas, que rezassem com fé e devoção o Rosário. De facto, no dia 7 de Outubro de 1571, vence-ram a memorável batalha naval de Lepanto, na Grécia. Em honra desta vitória, instituiu nessa data a festa de Nossa Senhora do Rosário e na Ladaínha introduziu – “Rainha dos Cristãos, Ro-gai por nós”.

O Rosário aparece em múltiplos momentos da vida da Igreja. Já no fresco do Juízo Final, pintado por Miguel Ângelo na Capela Sistina do Vaticano de 1536 a 1541, estão representa-das duas almas a serem puxadas para o céu por um Terço. São as almas de um africano e de um asiático, mostrando a universalidade missionária da oração.

A 12 de Outubro de 1717 foi retirada do rio Paraíba uma imagem de Nossa Senhora com um Terço ao pescoço por três humildes pescadores. Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi en-tão declarada, em 1929, Rainha e Padroeira do Brasil.

A Imaculada Conceição rezou o Terço com Bernadette Soubirous (1844-1879) nas apari-ções de Lourdes, França, em 1858.

Outro grande momento da divulgação do Ter-ço é, sem dúvida, Fátima. “Rezar o Terço todos os dias” é a única coisa que a Senhora referiu em todas as suas seis aparições.

O Papa João Paulo II acrescentou-lhe os cin-co mistérios luminosos. Mas a ligação do Papa a esta oração é de sempre. «O Rosário é a minha oração predilecta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade», disse.

Irmã Lúcia confidenciou ao cardeal D. Car-lo Caffarra, arcebispo de Bolonha, em Itália: «A batalha final entre o Senhor e o reino de Satanás será sobre o matrimónio e a família», e é justamente isto que vemos em nossos dias. Os maiores males que mais nos afligem actualmente são o divórcio, o materialismo, o feminismo, o aborto, a eutaná-sia e a ideologia de género.

«Com esta arma afastei muitas almas do diabo», afirmou Santo Cura d’Ars.

Pois, de terço na mão e com muita fé no coração, lancemo-nos nesta epopeia mariana acompanhan-do os milhões e milhões de crentes que rezam em todo o mundo, confiantes de que o Imaculado Co-ração de Maria, por fim, triunfará.

(*) Professora

Terço na mão e fé no coração

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R O T A D O S 5 0 0 A N O SO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

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JOÃO SANTOS GOMES

Pouco mais de duas semanas depois da minha chegada às Caraíbas, precisa-mente à ilha de Curaçao, o veleiro está com o casco pintado, um dos estais reparado – torceu por incompetência da Curaçao Marine, que não assumiu a responsabilidade – velas nos respecti-vos locais, retranca, mastro, enrolador de proa, motor testado e quase todos os sistemas a funcionar.

Cheguei a 8 de Novembro e no dia 13 já o Dee estava na água. A 19 mu-dei para o ancoradouro onde estou até à chegada do resto da tripulação, em meados de Dezembro.

Havia calculado cinco a dez dias em doca seca, mais cinco a dez no pontão da marina. Consegui terminar tudo em pouco mais de dez dias, isto é, em metade do tempo. Graças a Deus não houve complicações de maior, apesar do percalço do estai. Como meti aos mãos no problema assim que percebi que iriam “sacudir a água do capote”, rapidamente resolvi a questão.

Relativamente à preparação do bar-co, pouco mais há a adiantar. Está tudo dentro dos parâmetros operacionais que já esperava, sem que tenha feito grandes investimentos. Resta um pro-blema com o sistema de água doce, que não tem pressão. Havia uma fuga numa das ligações no compartimento do motor. A fuga foi reparada, mas o sistema continua sem pressão. Os pró-ximos dias vão ser dedicados a tratar deste pequeno problema. A ver se consigo encontrar uma solução para o mesmo. Caso não seja possível, vamos ter de nos adaptar.

Na semana passada, já depois de ter terminado os trabalhos necessários, o vento aumentou, pelo que decidi espe-rar uns dias. Aproveitei para arrumar mais algumas coisas no interior do ve-leiro e lavar o convés. Durante todo o fim-de-semana o vento soprou forte, mas no início da semana baixou para níveis mais aceitáveis. Pelo que dizem, é normal nesta época do ano.

Com tantos projectos e tarefas não restou muito tempo para conviver com amigos e com as outras pessoas que vivem ou frequentam a marina. Nas próximas semanas, caso não haja nenhuma complicação que necessite de mais atenção da minha parte, irei tentar descobrir o que a comunidade portuguesa e católica de Curaçao está a preparar para a Quadra de Natal. Há uma igreja dedicada a Nossa Senhora de Fátima. Vou procurar falar com o pároco para saber qual o programa para a época de Natal.

Já “cheira” a Natal

Nós ainda não decidimos se iremos aqui estar até ao Natal, pois somos ca-pazes de ficar com poucos dias para chegar a outra ilha antes do Ano Novo. No dia 7 de Janeiro é o aniversário da Maria e não queremos correr o risco de o celebrar no mar. O mais sensato será deixar a ilha antes de 20 de De-zembro, para termos dias suficientes para aportar numa das ilhas localiza-das a Norte (Jamaica, Hispanhola, Por-to Rico, ou até mesmo as Ilhas Virgens Americanas).

Voltando ao lado religioso da ilha de Curaçao – predominantemente católi-co, embora haja grande presença de protestantes, não fosse uma antiga co-lónia holandesa – a sua vertente cató-lica é pois visível em muitos locais. Aos fins-de-semana, especialmente ao Do-mingo, é normal ver as igrejas cheias logo de manhã cedo. Como acontecia há muitos anos em Portugal e Macau, são local de encontro da comunidade. É nos adros das igrejas que os amigos e familiares se encontram ao final da semana para falar sobre aquilo que a correria dos chamados dias úteis de trabalho não lhes permitiu partilhar.

As missas, pelo que me foi dado a constatar, são rezadas essencialmente em Papiamentu (um dialecto local, algo semelhante ao Patuá), mas tam-bém em Holandês e Espanhol, as lín-guas mais faladas. Há igualmente servi-ço religioso em Inglês. Várias vezes ao ano é ainda celebrado em Português, uma vez que a comunidade portugue-sa é relevante em Curaçao, sendo parte considerável da sociedade. Muitos são portugueses da Madeira que vieram nos anos 30 para trabalhar na refinaria da Shell. Entretanto, chegaram muitos

portugueses e luso-descendentes da Venezuela devido à crise que se vive neste país da América Latina.

Das famílias que vieram nos anos 30, algumas já vão na terceira e quarta ge-rações. Embora estejam completamen-te integrados nos hábitos locais, conti-nuam a preservar as características da cultura portuguesa, nomeadamente as suas raízes madeirenses. Aliás, um dos restaurantes mais caros e mais bem frequentados da ilha serve a típica es-petada madeirenses. Até no próprio Governo há pelo menos dois altos dig-nitários com sangue português.

Apesar do clima ser quente e tórri-do a maior parte do ano, tal não im-pede que sintamos o espírito natalício. É verdade que o Natal está inevitavel-mente ligado ao frio e à neve, mas nem por isso os habitantes de Curaçao dei-xam de se sentir embalados na Quadra que apregoa a bondade e a entreajuda.

À semelhança do resto do mundo, o lado comercial do Natal está bem es-pelhado nos estabelecimentos abertos ao público, sobretudo nos centros co-merciais, os quais competem entre si para ver quem consegue as decorações mais extravagantes. Claro está que não faltam as tradicionais árvores de Natal, que por cá são todas artificiais. Obvia-mente!

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C A D E R N O D I Á R I O O CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

PT18

ቂ Ӗ ؐ 儽 ֈ ء ؐ 儽 ۯ ӟ ʉ ء ጒ ۄ ʩ ੬ ˄ ؐ 儽 ᇷ ˗ENTREGUE ESTE CUPÃO NAS BILHETEIRAS DO CINETEATRO DE MACAUؐ 儽 ̆ ಮ í � ̈ � � ̆

DATA DO SORTEIO: 29 DE MARÇO DE 2018

Terça 20Segunda 19

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DATA DO SORTEIO: 29 DE NOVEMBRO DE 2018

Quarta 21

Quinta 22

“Desimaginar o Mundo – Jornadas sobre Manuel António Pina” (16 e 21 de Novembro, no Porto, Lisboa e em São Paulo). No mês em que se assi-nala o 75.º aniversário do seu nascimento, o escritor Manuel António Pina é alvo de uma homenagem ampla. A par de um coló-quio internacional e de várias sessões, em mesa redonda, sobre literatu-ra, vida e arte, estarão patentes ao público ex-posições – de fotografia, ilustração e teatro – inter-conectadas com a vida e a obra de Manuel António Pina. A iniciativa integra ainda uma abrangente mostra biobibliográfica e documental (audiovi-

Ensinar a ler é óptimo, mas não basta. É essencial saber interpretar o que se lê, sob pena de não compreendermos o que andamos a ler e a estudar. As

mais das vezes, o sentido do texto en-contra-se nas entrelinhas, oculto nos pressupostos das próprias palavras es-critas.

Acaba de chegar às livrarias o “Não Cites Pessoa em Vão”, editado pela E-Primatur. Este é um livro que re-vela um Fernando Pessoa nada pou-co compatível com os rodriguinhos hoje em moda. Eis alguns exemplos: 1– Comunismo: “O comunismo de hoje – que, como ideia, só os idiotas sabem o que é – é o produto híbri-do, e por isso estéril, do misticismo judaico e da estupidez europeia”. 2– Intelectuais portugueses: “Nada enca-ram de frente. Pegam de cernelha os problemas. Não raciocinam; lêem. E acontece que, como não raciocinam, lêem mal”. 3– O nosso escol: “O nosso escol político não tem ideias excepto sobre política, e as que tem sobre po-lítica são servilmente plagiadas do es-trangeiro – aceites, não porque sejam boas, mas porque são francesas ou ita-lianas, ou russas, ou o que quer que seja. O nosso escol literário é ainda pior: nem sobre literatura tem ideias (...)”. 4– Mais alta é a missão portu-guesa: “Os que querem um Portugal honesto, feliz, rico e honrado, que-rem a negação da acção civilizacional

Está cientificamente comprovado que os touros e os cavalos de toureio (a quem são cortadas as cordas vocais para no caso de serem atacados pelos tou-ros não possam “gritar”), à semelhança dos restantes mamíferos, dos pássaros, dos répteis, dos peixes, dos anfíbios (e outros), são dotados de sistema nervo-so central, são seres sencientes, isto é, dotados de sensibilidade (com capaci-dade para sentirem sensações e senti-mentos de forma consciente, apesar de não auto-conscientes – característica reservada até hoje aos seres humanos). E porque assim é, qualquer ser huma-no “dotado de sensibilidade”, informa-do e bem-formado, percebe a dor que devem sentir, reconhece a indignidade

Pessoa

Jornadas

portuguesa, querem que desçamos ao burguesismo nacional duma pseudo--nação como a Suíça ou a Bélgica, que-rem que abandonemos o nosso grande papel da construção do novo mundo, que abdiquemos de realizar em espíri-to aquilo que realizámos outrora em corpo – o alargamento do mundo e a descoberta de novas terras, de novos mares, de novos céus (...)”.

sual) do autor e uma série de actividades didácticas de promoção da leitura e da expressão artística,

que decorrerão, ao longo dos seis dias das jornadas, nos diferentes espaços que as acolhem.

GeoparqueArouca é o município do ano devido ao excelente trabalho desenvolvido pelo Geoparque. O concelho de Arou-ca, com o seu geoparque, é o vencedor nacional do prémio Município do Ano Portugal 2018, que reconhece as boas práticas do poder local. O Geoparque

de Arouca integra, desde 2009, a Rede Europeia de Geoparques que, sob a tutela da UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, reúne os terri-tórios classificados como património geológico da Humanidade.

Ler

Tauromaquia

a que são sujeitos para deleite dos afi-cionados tauromáquicos e apercebe-se do arcaísmo dessa “tradição cultural”, sem dúvida mera questão temporal até que as corridas de touros cessem por generalizada repulsa da sociedade.

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E N T R E T E N I M E N T OO CLARIM | Semanário Católico de Macau | SEXTA-FEIRA | 23 de Novembro de 2018

PT 19

TDM Canal 1TDM Canal 1TDM Canal 1TDM Canal 1 EVENTOS www.icm.gov.mo/pt

Sexta-feira 13:00 TDM News (Repetição)13:30 Telejornal RTPi (Diferido)14:55 Debate das LAG para 2019: Área da Administração e Justiça (Directo)20:30 Telejornal21:15 Portugueses Pelo Mundo 22:00 Contentor 1322:30 Série: Filha da Lei (Fim)23:15 TDM News23:50 Cinema: O Amor É Lindo... Porque Sim!01:25 Telejornal (Repetição)02:10 RTPi (Directo)

Sábado10:30 Zig Zag11:00 Beo and Peno11:10 Os Ursos Boonie e o Fantástico Outono11:40 Chai Chai12:00 Endereço Desconhecido

CARTOON

12:30 Gostos e Sabores13:00 TDM News (Repetição)13:30 Telejornal RTPi (Diferido)14:30 Telenovela: Os Nossos Dias (Compacto)16:45 Janela Indiscreta com Mário Augusto17:15 Hora dos Portugueses18:00 A Cidade na Ponta dos Dedos18:10 Fotobox18:25 Lusa Music Box19:00 Animais Anónimos19:40 198620:30 Telejornal21:15 Terra Prometida23:05 Tec Net23:15 TDM News23:50 Cá Por Casa (Estreia)00:55 Telejornal (Repetição)01:40 RTPi (Directo)

Domingo10:30 Animaizinhos Selvagens Exploradores11:00 Missa Dominical12:00 Volta ao Mundo12:30 Cozinha em Forma13:00 TDM News (Repetição)13:30 Telejornal RTPi (Diferido)14:30 Terra Prometida (Repetição)16:30 Fotobox16:40 Got Talent Portugal (Fim)19:30 Bem-Vindos a Beirais20:10 Aqui Há História20:30 Telejornal21:15 Contraponto22:20 A Casa dos Saud23:15 TDM News23:50 Reportagem (Repetição)00:10 Magazine Liga Europa 2018/201901:05 Telejornal (Repetição)01:50 RTPi (Directo)

JIANGNAN E LINGNAN

24/11 | Sábado | 20:00 horasTeatro Dom Pedro V

A “música de Seda e Bambu de Jiangnan” e a “música de Guangdong de Lingnan” são os pilares da música tradicional chinesa. A tranquilidade e a elegância de Jiangnan estão perfeitamente representadas em “Memórias de Jiangnan”, “Contemplação do Rio numa Noite de Luar”, “Envolto numa Brisa Primaveril” e “Jiangnan Colorido”, enquanto a beleza e subtileza de Lingnan são retratadas em “Série de Lingnan”, que fundiu as melodias de duas peças de música bem conhecidas de Guangdong: “Lua do Outono sobre o Lago Calmo e Dia Chuvoso”, e na “Unidos Para Sempre”, uma adaptação da ópera tradicional de Cantão intitulada “Unidos Para Sempre”, através da inclusão de notas de ornamento. Também convidámos Wu Li, professora de guzheng e chefe associada do Departamento de Música Chinesa do Conservatório de Música de Xinghai, em Cantão, bem como jovens talentos da OCHM, para encantar a audiência com experiências musicais de duas regiões diferentes.

NATIONAL GEOGRAPHIC: SINFONIA DO NOSSO MUNDO

25/11 | Domingo | 20:00 horasCentro Cultural de Macau

Este espectáculo combina imagens impressionantes da National Geographic sobre história natural com uma sinfonia e tema originais, criados pela Bleeding Fingers Music, que foi nomeada para os Prémios Emmy e BAFTA. A “Sinfonia do Nosso Mundo”, dos compositores Austin Fray e Andrew Christie, é uma jornada musical deslumbrante através de alguns dos aspectos mais deslumbrantes da vida selvagem. Este espectáculo, com orquestra e coro ao vivo, leva os espectadores das profundezas do mar até ao litoral, subindo as montanhas até ao céu. Tendo uma composição de cinco partes, cada movimento resulta num poderoso tributo musical à beleza e maravilhas do nosso mundo selvagem. O espectáculo de 90 minutos destaca imagens e histórias inovadoras de 130 anos da admirável história da National Geographic.

Cinema: O Amor É Lindo... Porque Sim! Hoje, às 23:50 horas.

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20 | ÚLTIMA | SEXTA - FEIRA | 23 - 11 - 2018Rua do Campo, Edf. Ngan Fai, Nº 151, 1º G, MACAU

TEL. 28573860 FAX. 28307867www.oclarim.com.mo | www.facebook.com/oclarimweekly

Céu pouco nublado intervalado de períodos de muito nublado.Vento: força 3 a 4 de Norte a Nordeste.

Humidade relativa entre 55% e 85%.O índice UV máximo previsto é de 6, classificado de Alto.

TEMPOCOM ABERTAS15º Min. - 23º Máx.

www.smg.gov.mo TAXAS DE CÂMBIO

http://www.bcm.com.mo TAXAS DE CÂMBIO

USD 1 8.0606EUR 1 9.1983GBP 1 10.3908JPY 1 0.07132AUD 1 5.8438NZD 1 5.4842RMB 1 0.8642HKD 1 1.03

MOP

Joaquim Magalhães de Castro

JOAQUIM MAGALHÃES DE [email protected]

Deixámos a semana passada os sobre-viventes de Hugli em frenética fuga rio abaixo, perdendo no processo várias barcaças para o inimigo mogol; preser-vando outras tantas. Tinham até ultra-passado já o pontão e a corrente de ar-golas de ferro. Porém, ao chegar junto à aldeia de Betor (actual Jardim Botânico de Calcutá), 25 milhas a sul de Hugli, depararam com um último obstáculo: uma passagem estreita barrada por nova corrente de argolas de ferro. Navegável, apenas uma nesga de rio junto a uma das margens. Ali os aguardava um batalhão mogol munido de pesada artilharia. O momento seguinte seria o mais terrível da longa batalha! Não obstante, a flo-tilha, ou o que restava dela, conseguiu passar e continuar a descer o Hugli em direcção à foz até chegar à ilha de Sagar, sessenta milhas mais adiante.

Vários episódios da conquista de Hu-gli, em 1632, ficaram imortalizados, com texto e imagens, numa série de vitrais no santuário reservado à Senhora da Boa Viagem no terraço da Basílica da Nossa Senhora do Rosário, em Bandel. Graças a eles fico a saber que “quatro frades” pere-ceram durante o saque ao mosteiro agos-tinho, tendo sobrevivido um tal João da Cruz. Outro episódio ali lembrado é o de Tiago, ardente devoto da Senhora da Boa Viagem, que no momento da fuga levou com ele uma imagem Sua. Infelizmente, seria atingido por uma flecha inimiga, e num ápice, abraçado à estátua, submer-giu nas escuras águas do rio. De acordo com esta versão local dos acontecimentos – provavelmente um misto de factos reais com façanhas lendárias – frei João da Cruz e “alguns milhares”(!?) de residen-tes foram enviados para o forte de Agra onde lhes seria decretada, por ordem directa do Shah Jahan, a pena de morte por esmagamento sob as patas de elefan-tes. Porém, no momento da verdade, um dos paquidermes pegou no frade com a tromba e, em vez de o atirar ao chão e o pisotear, conduziu-o cuidadosamente à presença do monarca mogol, ajoelhan-do-se reverencialmente como quem pede clemência. Impressionado por “tamanho milagre” e incentivado pela turba que as-sistia ao espectáculo, Shah Jahan decidou

BENGALA E O REINO DO DRAGÃO – 53

O mastro do navio

libertar todos os prisioneiros. Não só lhes poupou a vida, como, em 1633, os auto-rizaria a regressar a Bandel (o bairro de Hugli onde viviam) e a reconstruir as ca-sas onde sempre tinham vivido.

Shah Jahan, além de financiar a ree-dificação da igreja, também disponibili-zou terreno suplementar que permitiria um alargamento considerável do com-plexo religioso. No decorrer das obras, frei João da Cruz terá escutado, a meio da noite, uma voz familiar. Era o devoto Tiago, chamando-o das águas do rio e anunciando que a “Nossa Senhora estava de volta”. Julgou o dominicano tratar-se de um simples sonho. Mas Tiago insistiu, afirmando que fora Ela quem salvara os cristãos de Hugli de uma morte certa. Na manhã seguinte, um grupo de pescado-res locais entrava jubilantes na cidade exi-bindo uma estátua da Virgem clamando que a “Guru Maa” estava de volta.

O político liberal inglês – também advogado, jornalista, historiador e escri-tor – Evan Cotton, na sua obra “Calcut-ta: Old and New, The Century in India 1800-1900”, publicada pela primeira vez em 1909, até hoje referência maior no

que à história daquela megapólis diz res-peito, escreveu o seguinte apontamento: “A igreja portuguesa, a principal atracção de Bandel, é o mais antigo lugar de culto cristão em Bengala. Foi fundada em 1599, ano em que a rainha Elizabeth sancionou o estabelecimento da Companhia das Ín-dias Orientais. O edifício seria totalmen-te queimado durante o ataque mogol a Hugli em 1632. A pedra angular com a data de 1599, no entanto, manter-se-ia e acabaria por ser incorporada no portão da nova igreja erguida por João Gomes de Soto, em 1661. É dedicada a Nossa Se-nhora do Rosário e englobava um mostei-ro ocupado por frades agostinhos, tendo o último deles falecido em 1869. Os ca-tólicos locais usufruem ainda, isentos de quaisquer custos, de 380 dos 777 biggha-hs [medida utilizada no subcontinente indiano] inicialmente concedidos por Shah Jahan. Em Novembro, durante a novena a Nossa Senhora da Boa Viagem, a igreja enche-se de peregrinos”.

Saliente-se que ainda hoje isso acon-tece. E muitos desses peregrinos são hin-dus, muçulmanos e budistas. Ali se reú-nem para agradecer a Nossa Senhora do

Rosário e celebrar os seus milagres.Há ainda um outro interessante epi-

sódio associado à igreja de Bandel. Em 1655, aquando dos festejos que assinala-vam o quinto ano de existência da nova igreja, surgiu na barra do rio Hugli um na-vio português de grande dimensão. Vinha muito danificado, pois tivera de se haver com forte borrasca no Golfo de Bengala e o seu capitão, homem muito devoto, pro-metera à Virgem um dos mastros do navio se todos sobrevivessem. Assim aconteceu e o marítimo cumpriu com a palavra. Pouco depois de atracar no cais de Hugli man-dou cortar o mastro da mezena e ofere-ceu-o à cidade. Esse mastro seria implan-tado à entrada do templo e ali se manteria até 9 de Maio do 2000. Um poderoso ci-clone derrubou uma árvore que caiu em cima do mastro partindo-o em dois. Foi como se a tempestade que antes afectara a embarcação no golfo de Bengala tivesse regressado para concluir o trabalho dei-xado a meio... Os restos do mastro seriam depositados numa gigantesca caixa envi-draçada embutida numa parede, e ainda hoje aí se encontram para que o possam apreciar todos os visitantes.