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Paisagem praticada Amaury Moraes Trabalho de Graduação Interdisciplinar Graduação em Artes Plásticas São Paulo - SP Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP

Paisagem Praticada

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TGI Amaury Moraes / FAAP / 2008

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Paisagem praticada

Amaury Moraes

Trabalho de Graduação InterdisciplinarGraduação em Artes Plásticas

São Paulo - SP

Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP

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Amaury Moraes

Trabalho de Graduação interdisciplinar apresentadado ao curso de Artes Plás-

ticas da Fundação armando Alvares Penteado, como exigência parcial para a obtenção de certificado de conclusão sob a orientação da Profª e Drª Regina

Johas.

Paisagem praticada

São Paulo - SP

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MORAES, Amaury.Paisagem praticada. Amaury Moraes.Trabalho de graduação Interdisciplinar – FAAP – São Paulo, 2008.1. Espaço urbano 2. Participação 3.Intervenção 4.Mapeamento 5. Caminhada

Projeto GráficoCarolina Valverde

Revisão de TextoAna Luiza Borges

FotosAmaury

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“Hoje, nós, os propositores estamos muito bem colocados no mundo. Conseguimos sobreviver apenas propondo. Há um lugar para nós na so-ciedade.Existe um outro tipo de pessoa que pre-para o que vai acontecer, outros precursores. A eles a sociedade continua a marginalizar.”

Lygia Clark, 1983

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IntroduçãoPaisagem praticada1 Caminhos temporários Mapa/ Proposição - Guia da paisagem proposta - Perdizes - SP

2 Espaços espontâneos/ Pontos de táxi Rua Petrópolis, 62 com Avenida Dr. Arnaldo – Sumaré -SP Praça Irmãos Karmann - Sumaré - SP Rua Bahia - Higienópolis - SP

Espaços espontâneos/ Guaritas de segurança Rua Zequinha de Abreu – Perdizes – SP Praça João Freire de Mattos Guaryannas – Perdizes – SP Rua Brigadeiro Melo – Perdizes – SP Praça Dr. Silas Botelho – Sumaré – SP Rua Pombal, 317 – Sumaré – SP Rua Petrópolis com Praça Lolah Brah – Sumaré – SP Praça Gregório de Barros 1 e 2 - Sumaré - SP

3 Lugares temporários Estrutura decorativa de rua - Avenida Sumaré – SP Casa cubo verde - Praça Wendell Wikie – Sumaré – SP Laços da paisagem - Praça Caetano Fraccaroli – Sumaré – SP Espaço de sombra - Ilha de Boipeba – BA Bar de Folha - Ilha de Boipeba – BA Bar flutuante no horizonte - Ilha de Boipeba - BA Acessos temporários de fronteiras - Arpoador - RJ 4 Trabalhos anteriores Sala – SP – FAAP - 2006 Café da manhã – SP – FAAP - 2007

Bibliografia

Índice

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Introdução

O presente Trabalho de Graduação Interdisciplinar do curso de Bacha-relado em Artes Plásticas, da Fundação Armando Álvares Penteado, reúne uma série de trabalhos e reflexões que venho desenvolvendo ao logo destes semestres. Duas séries de fotografias – Espaços Espontâneos e Lugares Tem-porários – e um mapa/proposição para uma caminhada, da série Caminhos Temporários, são resultantes da trajetória que me levaram ao conceito de que todo homem é um artista, proposto por Joseph Beuys, e me aproximaram do mapa do programa ambiental, proposto por Hélio Oiticica. Passei a assumir a vivência no espaço da cidade como principal foco de interesse de minha produção artística.O mapa/proposição de Caminhos Temporários – Percurso Perdizes é apresentado aqui em forma de guia da caminhada proposta, entre o metro Sumaré e a região de Perdizes. Este guia propõe um caminho a ser desvelado pelas pessoas que buscam uma nova experiência na cidade, onde não somente o lado visual importa, mas também o táctil, o corporal. Ao incitar o indivíduo a participar, a tomar uma posição na paisagem urbana, a abandonar a passividade diante do que é imposto pelo sistema social e a ampliar o seu campo de ação como ser ativo e criativo, o mapa/proposição convida à vivência de uma paisagem praticada. A caminhada pode ser realizada individualmente, a qualquer hora, ou em grupos, nos horários e dias indicados no guia.

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Paisagem PraticadaPercebo, no cenário urbano, uma série de pequenas construções e ações que apontam para uma existência mais humana e criativa. São soluções simples e imediatas, sem grandes refinamentos esté-ticos, expressas em cabines de segurança, guaritas, pontos de táxi, intervenções urbanas, barracos, pequenas vendas, favelas. Ou ainda o desenho traçado no solo pelos passos dos indivíduos que impõem sua vontade sobre o percurso proposto pela via pública, os jardins im-provisados de diferentes tamanhos espalhados pela cidade. Como um respiro na paisagem, estas construções – arquiteturas improvisadas – são vestígios da ação dos habitantes da cidade e que se transfor-maram, para mim, na expressão criativa deste que passei a chamar homem/artista1.Passei a olhar a paisagem urbana e recortar nesta a ação dos ho-mens comuns que constroem o dia-a-dia da cidade, transformando o cenário das ruas numa “paisagem praticada”2. Acredito que os constru-tores anônimos da cidade são os artistas/articuladores de uma nova ordem social, uma vez que trazem uma nova proposta de participação do indivíduo/coletivo no cotidiano. Estes espaços improvisados são a materialização criativa das relações homem/artista com a rua/estado/mundo.Espaços Espontâneos foi o nome que dei pra estes micro-territórios. Estes espaços nos colocam diante da vivência da rua, fortalecem a presença humana no cenário urbano, nos mostram que a rua é uma base da troca entre as pessoas. É na rua que o homem experimenta a vida.O espaço da cidade é mais do que a somatória de seus habitantes. Como paisagem praticada, ele é resultante da ação do homem sobre o meio físico e é também um retrato das relações humanas. É na cidade, no espaço urbano, onde se manifestam as permanências, rupturas, continuidades e relações entre o antigo e o novo. A sociedade ganha forma em suas cidades: ao construir a cidade a sociedade se constrói. A partir dessas experiências pude estabelecer relações com as idéias de Helio Oiticica: vontade construtiva, participação do espectador, tomada

1 Apropriação de um conceito do artista Joseph Beuys no contexto de seu ideário acerca da “Escultura Social”. Este conceito foi por ele formulado em seu famoso postulado “Todo homem é um artista”, in: RODRIGUES, Jacinto. Joseph Beuys: um filósofo na arte e na cidade. Disponível em www.a-pagina-da-educacao.pt/arquivo/artigo.asp?ID1373.

2 Conceito vizinho das idéias de Michel de Certeau, quando este propõe que “o espaço é um lugar praticado. Assim a rua geometricamente definida por um urbanismo é transfor-mada em espaço pelos pedestres...”, in: CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano, arte de fazer. Rio de Janeiro, Editora Vozes: 2003. p.202.

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de posição no plano ético-social e político, proposições coletivas3.Inventariar as práticas poéticas desse homem/artista nos percursos da cidade foi para mim um modo de me aproximar da reflexão acerca do próprio ato de caminhar. Observar a paisagem urbana, entrar na ci-dade, caminhar por suas ruas com o olhar atento e os sentidos aguça-dos, permitindo que corpo e a mente experimentem integralmente o espaço em volta, abriram um novo campo de ação artística: o de con-siderar a própria caminhada como o trabalho.Surge aqui a proposição Caminhos Temporários como possibilidade de uma ação coletiva, um caminhar em grupo pela trajetória proposta pela cidade de São Paulo. Se para Certeau a errância pela cidade era uma experiência social da privação de lugar4, para mim essas situações e configurações temporárias chamam uma nova relação identitária com os lugares, ainda que fugaz.

3 “Está na hora de praticar de verdade o conceito que nos põe livres do confinamento da arte, seja no museu, seja em qualquer lugar. Devemos ampliar nosso campo de ação e permitir que os outros ampliem também as suas ações individuais e coletivas”, in: FERREIRA, Glória e COTRIM, Cecília. Escritos de artistas anos 60/70. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor: 2006.

4 “Caminhar é ter falta de lugar. A errância multiplicada e reunida pela cidade faz dela uma mesma experiência social da privação de lugar”, CERTEAU, Michel de. A Invenção do Cotidiano, arte de fazer. Rio de Janeiro, Editora Vozes: 2003, p.183.

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1 Caminhos Temporários Mapa/ Proposição - Guia da paisagem proposta - Perdizes

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Guia da paisagem proposta é uma sugestão de caminhada pela região de Perdizes e Sumaré. Pretendo com este guia estimular a vivencia do espaço urbano como prática poética.

Sugestão de inicio de caminhada caso chegue de metrô ao local, se for de carro ou qualquer outro veiculo, pare aonde quiser, o importante é dar tempo para que você possa vivenciar a paisagem.

Ponto de táxi Rua Petrópolis, 62.Este ponto fica do lado da estação de metro Sumaré, em minha opinião a mais bonita da cidade de São Paulo, com painéis de vidro com fotografias tipo identidade de pessoas anônimas em tamanho de 2 metros de altura feitos pelo artista plástico Alex Fleming.A estação lembra um vagão gigante suspenso no ar.

Olhe a vista de dentro do ponto de táxi.Espere o trem passar

Olhe a colina a sua direita

Siga pela Rua Petrópolis

Repare na Praça que vem logo em seguir, com uma guarita amarela cercada por um jardim florido bem cuidado e placas avisando para recolher o lixo do cachorro.

Siga em frente sempre pela Rua Petrópolis.

Repare nas torres da igreja Nossa Senhora de Fátima e na torre da TV cultura que fica a sua esquerda. E sempre repare nas guaritas de segurança, em toda sua configuração e nos elementos de serviços urbanos espalhados pelo caminho.

Continue andando Repare nas lindas árvores da Praça Edgar de Moura Bitencurt.

Aqui suba pela Viela Dae, não tem placa indicando, mas é fácil reconhece-la já que as paredes são cobertas de grafites feitos pelos alunos da escola próxima ao local.

Aqui você chega à Rua Poconé, uma rua bem arborizada é sempre

Guia da paisagem proposta - Perdizes

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muito calma, sugiro que a pessoa pense no transito da Marginal, é uma sensação muito boa.Existe um fusca preto abandonado na rua, como uma escultura ur-bana.

Suba as escadas em frente da travessa Dae, mantenha a direita, ela vai dar na Rua Corumbá, uma vista panorâmica deslumbrante.

Pare e olhe a vista. Respire Siga em frente

Vire na Praça Rubens do Amaral e pegue a Rua Poconé em direção a Rua Grajaú

Pare no alto da Praça Rubens do Amaral, o verde é muito bonito. Ela pode estar bem suja ou bem cuidada, depende da época. Mas é sem-pre muito agradável.

Desça pela ladeira que é conhecida como “ladeira da morte”, nome dado pelos skater.Pare na praça e tente descobrir o abacateiro e outras árvores frutíferas locais, leia um livro, um jornal, desenhe alguma coisa ou simplesmente relaxe.

Siga em frente pela Rua Varginia em direção a Avenida Sumaré e vire na primeira travessa à direita, ela vai dar na Praça Joana Rubens do Amaral. Chegando lá, descubra qual é a árvores de Pau-Brasil.

Siga pela Rua Pombal

Passe pela Praça da Rua Petrópolis e veja a vista das torres da Aveni-da Paulista repare na Praça seus elementos urbanos e vegetação.

Continue andando pela Rua PombalAntes de chegar ao fim da Rua, tem uma viela a esquerda, em frente a uma casa com arcos Romanos.Desça pela viela até chegar à Praça Dr. Silas Botelho.De a volta na praça toda, veja a guarita verde, seu jardim “particular” com flores e bananeira, a gambiarra de luz, o entulho espalhado pelo local e placa de rua sem saída no meio do caminho.

Volte pela mesma viela para a Rua Pombal.Vire a esquerda em direção do fim da rua que acaba em um vale verde com vista para a Av. Sumaré. Uma rua que acaba em um vale com ár-

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vores. Pense que você esta a poucos metros da avenida Dr. Arnaldo.Pare e respireOlhe a vista

Suba a Rua pombal e termine no ponto de táxi do inicio da caminhada, ou volte para onde começou.

Sugiro que a caminhada seja feita de manhã, no fim de tarde e a noite, quando todo cenário muda e parece outro lugar. A torre da cultura vista de perto e acessa com suas lâmpadas verdes é um caso a parte, assim como as torres da Avenida Paulista.

Não tenha medo, vale a pena... E se tiver medo, vá assim mesmo.

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2 Espaços espontâneos/ Pontos de táxi

Toda rua ou praça de São Paulo tem um ponto de táxi. Esses locais, que chamamos de pontos, são construídos pelos próprios taxistas que, através de um sorteio feito pela Prefeitura da cidade, ganham o direito de demarcá-los como seu lugar de trabalho.Ganham o espaço, organizam-se entre si, e constroem o local de tra-balho ali mesmo, no meio da rua, na praça, no meio do caminho ou numa esquina, ocupando as ruas com seus escritórios urbanos de for-ma livre e audaciosa, expostos ao tempo, à violência, ao inesperado. Como não existe um padrão de construção imposto pela Prefeitura, fica a critério de cada grupo de taxistas a composição do ponto, o que naturalmente resulta em cada um assumir uma identidade própria. São os próprios taxistas que escolhem material, cor, objetos decorativos, etc.Todos são munidos de telefone, cuja linha é solicitada pelo grupo à telefônica. Quase todos possuem televisão, e serviço de TV por assi-natura, bancos fixos e filtro de água. Nunca possuem banheiros.Muitos pontos são localizados perto de praças e canteiros, onde plantam um pequeno jardim. Alguns possuem pequenas esculturas, prateleiras com cafeteira, armário para pertences e comida, caixa de

Rua Petrópolis, 62 - Vista Av. Sumaré

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correio, tapete, portão, quadros decorativos, pintura específica na es-trutura e, até mesmo, uma vista panorâmica.São verdadeiros lugares potenciais para vida coletiva, para o encon-tro entre membros da comunidade, centro de informação, marco de referência de localização na cidade, pequenas estações de saídas e chegadas.Os taxistas organizados invadem o espaço público formando uma rede que esta ligada por rádios, GPS , e aparelhos de celular e telefone fixo, além de produzir, através do sindicato dos taxistas, um jornal com tira-gem de 30 mil exemplares.Através desses pontos são ativadas as práticas do cotidiano, da con-vivência, da relação com o espaço e o público, da ética e da ausência de ética. A rua é um campo pulsante de forças negativas e positivas, é para aquele que tem a coragem de enfrentar o imprevisível e a violên-cia que nela existe, para aquele que tem jogo de cintura, capacidade de improvisação, e espírito para enfrentar situações extremas.Na minha opinião, os pontos de táxi poderiam ter a sua função am-pliada, isto é, servirem como pontos de pequenas reuniões, eventos temáticos, tais como leitura ou música, seções de filmes e exposições de arte. Nesse período de lei seca, são ótimos territórios para o con-sumo de bebidas alcoólicas.Além da rede de motoristas atuar como agente de segurança, já que sua profissão lhes fornece o conhecimento do movimento local do bair-ro que ocupam. Os pontos abrigam mais do que um serviço de táxi, abrigam possibilidades de existência.

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Espaços espontâneos/ Pontos de táxiRua Petrópolis, 62 com Avenida Dr. Arnaldo - Sumaré - São Paulo

Esse é um dos pontos mais completos e bucólicos da cidade, embora localizado próximo a uma das avenidas mais movimentadas do Brasil. O ponto é um verdadeiro oásis, com seu jardim florido e bem cuidado, várias esculturas e um poleiro com um pequeno papagaio.Assim como a maioria dos pontos, tem TV com sistema a cabo, tele-fone, caixa de correio próprio, filtro de água de barro e paredes plás-ticas removíveis para proteção em caso de chuva ou frio, bancos fixos de madeira envernizada e um portão, simbólico já que é bem baixo.Tem uma vista panorâmica; de lá, podemos avistar até mesmo as mon-tanhas do Jaraguá, além da estação Sumaré. Suspensa e maravilhosa, um esplêndido trabalho do artista plástico Alex Flemming, a estação parece um vagão de metrô gigantesco pendendo no ar.Visto da Avenida Sumaré, o ponto, cercado de árvores e plantas, de-saparece na paisagem; sua existência é assinalada por uma placa de madeira pintada em vermelho em que está escrito “Táxi”.É um mirante tão agradável que ali poderíamos tomar um chá ou um vinho com amigos, ou simplesmente aproveitar a paisagem para namorar ou ler um livro.

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Rua Petrópolis, 62

Rua Petrópolis, 62

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Espaços espontâneos/ Pontos de táxiPraça Irmãos Karmann - Sumaré - São Paulo

É um ponto simples, com TV, telefone e banco fixo. Tem um jardim com diversos tipos de plantas e flores, plantados por um dos taxistas, mas cuja manutenção fica a cargo de todos. É um jardim muito bonito. Outro diferencial são os vários bancos feitos de madeiras reaproveita-das espalhados pela área, alguns localizados dentro do jardim, for-mando áreas reservadas para descanso ou refeições. É um ponto aberto e convidativo.

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Espaços espontâneos/ Pontos de táxiRua Bahia - Higienópolis - São Paulo

O que chama atenção neste ponto é o fato dele ser instalado em um poste. Tem um pequeno toldo de ferro como proteção, um pequeno armário para o telefone e um banco bem simples de madeira e ferro preso ao poste por uma corrente que também prende um garrafão de água. É um ponto pratico e econômico em suas formas, mas muito bem resolvido.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de segurança

Existem muitas guaritas de segurança espalhadas pela cidade de São Paulo, geralmente são estruturas de fibra de vidro, metálica ou de alambrado de madeira medindo 1,10m x 1,10m, e 2 m de altura, sem banheiro anexado.A associação de moradores local é quem providencia sua instalação na rua para abrigar o segurança contratado pelos próprios.O segurança não usa arma ou qualquer aparelho que o ponha em contato direto com a policia. Além disso, as guaritas não são blindadas, funcionando mais como um ícone de segurança, um apoio moral aos moradores.Por não seguir um padrão imposto pela prefeitura ou órgão gover-namental assumem vários aspectos, dependendo dos “guardas” que nelas trabalham.Assim como os pontos de táxis, podem ser muito agradáveis e funcio-nam como pequenos centros de serviço comunitário e refúgios urba-nos. E assim como aqueles, também poderiam ser usadas para outras funções, como guaritas de leituras, guaritas para pequenas exposições e performances, guaritas-motel, guaritas de dança, guaritas de medi-tação, guaritas hotel ou qualquer outra função que sirva à comunidade urbana.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaRua Zequinha de Abreu - Perdizes - São Paulo

Essa guarita de metal em forma cilíndrica ocupa uma pequena praça de 5 m², dando a impressão de uma pequena ilha urbana. Uma árvore cobre a área proporcionando uma sombra muito agradável. Recente-mente foram colocados 5 troncos de árvores cortados que servem como bancos, e o chão foi coberto com pequenas pedras de cascalho branco. É uma guarita ponto de encontro no meio da rua, com um vi-sual bem definido.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaPraça João Freire Mattos Guaryannas - Perdizes - São Paulo

Guarita de alambrado de madeira envernizado que ocupa uma área de 6m², essa outra ilha urbana possui muitas árvores e flores, quase se desvanecendo na paisagem, é um lugar muito bonito com pavimenta-ção de pedrinhas brancas.O guarda local usa a área sem fazer a menor cerimônia, e espalha produtos de limpeza, objetos pessoais e cadeiras por todos os lados.Dentro da cabine tem uma bancada com uma mini televisão, rádio de pilha e filtro de água.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaRua Brigadeiro Melo - Perdizes - São Paulo

O que me chamou atenção foi o fato da guarita estar quase camu-flada na paisagem; guarita e cadeira foram pintadas no mesmo tom do verde da vegetação que cobre o muro onde ela se encontra.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaPraça Dr. Silas Botelho - Sumaré - São Paulo

Em forma cilíndrica pintada em tons de verde e com uma gambiarra como lustre de entrada, mesmo estando localizada em uma praça, tem jardim próprio com bananeira plantada pelo guarda, que também cos-tuma espalhar pelo local seu material de limpeza e todo tipo de entulho, obedecendo a uma organização bem particular.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaRua Pombal, 317 - Sumaré - São Paulo

Guarita com número de endereço próprio e chama a atenção pelo total despojamento em que se encontra; é como um QG bagunçado a céu aberto e totalmente aceito pelos moradores da rua.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaRua Petrópolis com Praça Lolah Brah - Sumaré - São Paulo

É uma guarita com janelas panorâmicas nos quatro lados, pintada com esmero de amarelo, preto e frisos verde claros, possui cadeira de es-critório e um jardim muito bem cuidado.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaPraça Gregório de Barros 1 - Sumaré - São Paulo

Guarita com varanda, jardim e vista para as torres da igreja Nossa Senhora de Fátima, tem rádio de pilha, mini TV e filtro de água. A região em que ela se encontra é bem verde, com muitas árvores e flores.

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Espaços espontâneos/ Guaritas de SegurançaPraça Gregório de Barros 2 - Sumaré - São Paulo

Esta guarita também esta localizada na Praça Gregório de Barros, ocu-pa a parte mais bem cuidada da praça com um amplo jardim cultivado pelo segurança onde se encontram vários tipos de árvores e plantas como: bananeira, maracujá, pimenta, goiaba e pitanga. Cercada por um caminho de pedras que vai até a entrada da guarita, que não pos-sui televisão porque o segurança não gosta. Poderia ser batizada de “guarita jardim botânico”.

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3 Lugares temporáriosEstrutura decorativa de rua - Praça Jornalista Carlos C. Branco -

Sumaré - São Paulo

Esse caramanchão foi construído pelos taxistas locais com madeira reaproveitada do lixo e com o único intuito de ser decorativo, florir e embelezar a rua. Foi construído no canteiro da rua sem a ajuda ou per-missão da Prefeitura, e fica a cargo de todos os motoristas o cuidado com as plantas.O caramanchão não existe mais, caiu depois de uma forte chuva.

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Lugares temporáriosCasa cubo verde - Praça Wendell Wikie - Sumaré - São Paulo

Durante três anos, um senhor construiu, nessa região, um pequeno cubo de plástico verde de 1,80m x 1,80m, e 1,50m de altura, arre-matado com fios de barbante, que servia como sua residência. Era um cubo muito frágil e que vinha abaixo com as fortes chuvas, mas que logo era reconstruído por seu morador da mesma maneira e ocupando o mesmo espaço.Um dos lados do cubo funcionava como cozinha, com um “fogão” feito de tijolos soltos e uma pequena “varanda” feita de madeira reaproveitada.Era um cubo utilitário com leve inspiração nos acampamentos dos es-coteiros ou indígenas.Em seu interior, havia uma árvore cortada, que servia de mesa, e uma cadeira preta de escritório.Esse senhor desapareceu misteriosamente, e sua casa-cubo-verde veio abaixo. Hoje, não existe qualquer vestígio dessa residência.

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Lugares temporáriosLaços da paisagem - Praça Caetano Fraccaroli - Sumaré - São

Paulo

Um anônimo costuma enfeitar regularmente as árvores e ar-bustos que ocupam toda a extensão da praça, e muitas vezes arremata os arranjos com pequenos origamis em forma de pássaros, contendo mensagens simples de amor, paz e reverência. Ele também construiu pequenas estruturas de madeira reaproveitada para protegerem mudas em cresci-mento e suportes para frutas para os pássaros. Tudo isso por iniciativa própria, e para ser desfrutado por toda a popula-ção urbana.

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Lugares temporáriosEspaço de sombra - Ilha de Boipeba - Bahia

Esse espaço é composto por dois troncos refilados, de 1m de altura, e uma estrutura em forma circunflexa que serve como suporte para folhas de coqueiro seco.O resultado é uma sombra generosa que dura até o sol estar a 30° da linha do horizonte. A sombra é fresca e perfeita, e permanece en-quanto o sol estiver alto e quente. Serve como abrigo temporário, sua permanência dependendo do tempo e da participação do público para que sua função seja vivenciada.

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Lugares temporáriosBar de Folha - Ilha de Boipeba - Bahia

Fiquei totalmente intrigado com este bar, feito de folhas de coqueiro seco e varas de bambu; em seu interior, há uma bancada para o serviço feita de pequenos troncos e lascas de madeira reaproveitada de bar-cos ou sucatas, todo material é natural exceto os pregos e os canudos de plástico usados para os laços de suporte da parede-esteira, e como garrotes de exposição de produtos (água, refrigerante e cerveja). O bar fica localizado próximo a uma árvore baixa, entre a beira da praia e um vasto coqueiral, e obedece à forma de um quadrado perfeito de 2m x 2m, com a altura de 1metro e meio, sem teto, e com a cobertura da árvore. Área ocupada na areia da praia, o bar fica quase camuflado na paisagem, e tem uma aparência frágil, mas é bem resistente, seu material se ajusta perfeita e naturalmente às intempéries da região. Durante o dia, quando o bar está aberto, a árvore serve de suporte para as cestas do serviço, e quando o bar fecha, todas as mesas e cadeiras de plástico são devidamente recolhidas e armazenadas nos troncos altos da árvore.A árvore é suporte para a base do serviço, ponto de referência e arma-zenagem do material.A construção é simples e eficiente, fácil de ser reconstruída, fácil de desaparecer. Sua permanência depende da estação, do tempo, de

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quem a construiu, e da política local. A aparência é linda, e quando não está funcionando, parece uma escultura construtivista caiçara, um penetrável de verão, um Malevich tupiniquim.Uma restrição dessas construções: nem sempre são 100% ecológi-cas, já que envolve muito plástico e ferro. Tal restrição demonstra certa negligência em relação ao meio ambiente. No caso das cadeiras de plástico, é um material fácil de manter na praia e que pode ser arma-zenada ao ar livre.

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Lugares temporáriosBar flutuante no horizonte - Ilha de Boipeba - Bahia

Uma estrutura de bóias de pneus e garrafas pats de 4m x 4m, forradas com tábuas de madeira, e com um único recinto fechado de 2m x 2m coberto por um plástico azul e com 1,80m altura. As paredes são de ri-pas de madeira pintadas de azul e branco, um dos lados apresentando uma ripa maior que aberta serve como balcão e janela.

Tem um único endereço, o olhar. Olhando, chegamos a algum lugar no meio do mar.

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Lugares temporáriosAcessos temporários de fronteiras - Arpoador - Rio Janeiro

No metro quadrado mais caro do mundo, entre as pedras do Arpoador e o início da Rua Francisco Berenger, Ipanema, no Rio de Janeiro, depois de uma “ressaca” do mar, a extensão da areia da praia diminuiu invadida pelas ondas, e com isso, o acesso para a praia ficou compro-metido, devido à altura elevada da calçada à areia.Os barraqueiros, que vendem bebidas, comidas, alugam cadeiras e barracas de sol, resolveram improvisar escadas e assim garantir o mo-vimento de público em suas áreas de atuação. Usaram então sacos de areias agrupados em forma escalar, que remete às trincheiras de guerra, garantindo o direito de ir e vir de seus territórios – em alguns casos, usaram vários tipos de material. É uma imagem intrigante e muito escultórica.Esses acessos temporários, construídos sem a autorização da Prefeitura, tiveram uma duração de 60 dias, quando então foram destruídos pela ação natural da ressaca do mar, e os restos sobrevi-ventes foram recolhidos pelos lixeiros.

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Lugares temporáriosAcessos temporários de fronteiras - Arpoador - Rio Janeiro

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Trabalhos anteriores realizados durante o curso de bacharelado na FAAP e que serviram de base para o desenvolvimento da idéia da prática da arte e do espaço praticado.

Trabalhos anteriores

Trabalhos anterioresCafé da manhã - São Paulo - Faap - 2007

Foi uma ação realizada na FAAP, no meio do corredor de acesso às salas deaula do Prédio Um, que aqui na FAAP chamamos de céu. É um corre-dor amplo que abriga exposições temporárias de trabalhos dos alunos de graduação em artes plásticas.Foi uma ação conjunta com a turma de graduação do 7°semestre de 2007, que tinha como tema “Lar doce Lar”.Montamos uma mesa para 20 lugares e servimos um café completo. O corredor nunca foi tão aconchegante e prazeroso quanto nesse dia, e essa ação, com certeza, nos aproximaram mais como companheiros de jornada e serviu como estímulo criativo.

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Esse foi um trabalho realizado na FAAP, na semana de arte integrada que aconteceu em junho de 2006 e tinha o mesmo tema da Bienal de São Paulo do mesmo ano, que era “como viver junto”. Transferi a mobília da sala da minha casa para um corredor de acesso às salas de aula do Prédio Um da faculdade de artes plásticas, um corredor frio e impessoal que só serve como passagem de alunos.Com a “sala”, o corredor ganhou uma função aconchegante que reme-teu ao encontro, ao estar. Com esse trabalho, percebi que podemos reconfigurar os lugares para uma participação mais lúdica e poética, ativando campos para a troca de vivências, e conseqüentemente, para estimular encontros.Foi uma experiência muito estimulante ver sofá e poltrona aproximar pessoas, estimular o lazer reflexivo do estar dentro da faculdade, e tornar o ambiente adequado ao ócio criativo.

Trabalhos anterioresSala - São Paulo - Faap - 2006

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Bibliografia

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