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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer pancreático e resistência terapêutica Juan Carlos Borges Trabalho de Conclusão do Curso de Farmácia-Bioquímica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Ana Paula de Melo Loureiro São Paulo 2019

Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

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Page 1: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Curso de Graduação em Farmácia-Bioquímica

Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer pancreático e

resistência terapêutica

Juan Carlos Borges

Trabalho de Conclusão do Curso de

Farmácia-Bioquímica da Faculdade de

Ciências Farmacêuticas da

Universidade de São Paulo.

Orientadora:

Profa. Dra. Ana Paula de Melo Loureiro

São Paulo

2019

Page 2: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE ABREVIATURAS ............................................................................ 1

RESUMO ........................................................................................................ 3

1. INTRODUÇÃO

1.1 Panorama Geral e Epidemiologia ..................................................

1.2 Fatores de Risco ............................................................................

1.2.1 Fatores não modificáveis ou associados ao hospedeiro ......

1.2.2 Fatores modificáveis ou ambientais .....................................

1.2.3 Fatores protetores ................................................................

1.3 Metabolismo do câncer, autofagia e microambiente ......................

4

6

7

10

11

13

2. OBJETIVOS ................................................................................................ 16

3. MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................... 16

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................

4.1 Papel da autofagia na fisiopatologia do ADP

4.2 Efeitos da inibição da autofagia em ADP e resistência terapêutica

17

17

20

5. CONCLUSÃO .............................................................................................. 25

6. BIBLIOGRAFIA ........................................................................................... 26

Page 3: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

1

LISTA DE ABREVIATURAS

ADP Adenocarcinoma Ductal Pancreático

Atg Gene de Autofagia

BRCA2 BRCA2 Associado a Reparo de DNA

cAMP Adenosina Monofosfato Cíclico

CDKN2A Inibidor 2A de Quinase Dependente de Ciclina

CTGF Fator de Crescimento de Tecido Conjuntivo

CYR61 Indutor Angiogênico Rico em Cisteína 61

FUNDC1 FUN14 Domain Containing 1

HMGB1 High Mobility Group Box 1

IgE Imunoglobulina E

IL-4 Interleucina 4

KRAS Homólogo do Oncogene Viral do Sarcoma de Rato Kirsten

LAMP Proteína de Membrana Associada ao Lisossomo

LC3 Cadeia Leve 3 Alfa da Proteína 1 Associada ao Microtúbulo

LDL Lipoproteína de Baixa Densidade

mTOR Alvo de Rapamicina em Mamíferos

P53 Proteína p53

PALB2 Parceiro e Localizador de BRCA2

PanIN Neoplasias Intraepiteliais Pancreáticas

PI3KC3 Subunidade Catalítica Tipo 3 de Fosfatidilinositol 3-Quinase

PKA Proteína Quinase Dependente de AMP Cíclico

PNI Invasão Perineural

Page 4: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

2

RAGE Receptor Específico para Produto Final de Glicação Avançada

sICAM1 Molécula de Adesão Intercelular 1

SMAD4 Membro 4 da Família SMAD

TNF Fator de Necrose Tumoral

VEGF Fator de Crescimento Endotelial Vascular

VMP1 Proteína Vacuolar 1 Induzida por Carência Nutricional

YAP Yes-associated protein

Page 5: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

3

RESUMO

BORGES, J. Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer pancreático e resistência terapêutica. 2019. no. 32. Trabalho de Conclusão de Curso de Farmácia-Bioquímica – Faculdade de Ciências Farmacêuticas – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019. Palavras-chave: autofagia, câncer, pâncreas, resistência. INTRODUÇÃO: O câncer de pâncreas é a terceira maior causa de mortes por câncer e pouco avanço na terapia foi feito nos últimos anos. A autofagia foi identificada como processo chave na manutenção da sobrevivência e proliferação celular, pois permite que o tumor sobreviva em condições de hipóxia, baixa oferta de nutrientes, inflamação e presença de quimioterápicos. Diversos fatores de risco estão relacionados com o desenvolvimento de adenocarcinoma ductal pancreático (ADP) e promoção de autofagia. Além disso, a autofagia também desempenha papel importante na resistência terapêutica, uma vez que diminui a dependência do tumor aos nutrientes externos e bloqueia a penetração do fármaco na célula tumoral. OBJETIVO: Avaliar de que forma processos autofágicos atuam na fisiopatologia do ADP, sua importância para a sobrevivência do tumor e para o desenvolvimento de resistência aos quimioterápicos utilizados no tratamento. MATERIAL E MÉTODOS: Revisão bibliográfica de artigos publicados até 2019 nas bases de dados eletrônicas, utilizando-se as palavras chave cancer, pancreas, autophagy e resistance. RESULTADOS: A autofagia é extremamente importante para a sobrevivência tumoral, progressão da doença e metástase. Por envolver uma diversidade de proteínas, vários alvos moleculares já foram identificados como promissores no tratamento do ADP. Além disso, a inibição da autofagia está diretamente relacionada a uma maior sensibilidade do tumor aos quimioterápicos. Identificaram-se vias moleculares e genes associados à autofagia que, quando inibidos, levaram a um aumento de apoptose e retardaram a progressão da doença, além de aumentar a sensibilidade a outros fármacos. CONCLUSÃO: Como o ADP é um tipo de câncer com um nível basal de autofagia maior do que a maioria dos cânceres, utilizá-la como abordagem terapêutica pode ser interessante no tratamento. Apesar dos resultados serem promissores na indução de morte celular por inibição da autofagia, a maior aplicação desta abordagem se dá pelo aumento da sensibilidade do tumor aos outros quimioterápicos. Dessa forma, o tratamento antiautofágico serve como auxiliar na terapia e permite efeito sinérgico com outros fármacos, diminuindo a alta taxa de resistência observada no ADP.

Page 6: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

4

1. INTRODUÇÃO

1.1 Panorama geral e epidemiologia

O câncer de pâncreas representa menos de 3% dos casos de câncer

no mundo, sendo o décimo primeiro tipo de câncer mais comum no mundo,

segundo dados de 2012 (FERLAY, J et al., 2015). Entretanto, devido à sua rápida

progressão, dificuldade de diagnóstico precoce e agressividade, é considerado um

dos tipos mais letais e com menor expectativa de vida após o diagnóstico, sendo o

quarto maior causador de mortes dentre todos os tipos de câncer (BOONE, B et

al., 2017). Dados da GLOBOCAN 2012 mostram que o câncer de pâncreas é

responsável por mais de 330.000 mortes por ano, representando cerca de 4% de

todas as mortes (FERLAY, J et al., 2015). A estimativa é de que se torne a

segunda maior causa de mortes por câncer até 2020, estando atrás apenas do

câncer de pulmão. Estima-se que em 2017 houve aproximadamente 53.600 casos

nos EUA, sendo cerca de 43.000 óbitos. O subtipo mais comum do câncer de

pâncreas é o adenocarcinoma ductal pancreático (ADP), representando mais de

90% dos casos (BIANCUR, D et al., 2018).

Foi verificada maior incidência do câncer de pâncreas em países

desenvolvidos, especialmente na América do Norte e oeste europeu. Os menores

números de casos registrados concentram-se na região central do continente

africano e centro-sul asiático. Apesar da incidência ser levemente maior em

indivíduos do sexo masculino, não existe um motivo claro que diferencie a

incidência de câncer de pâncreas em cada sexo. O motivo da incidência ser maior

em algumas regiões do que em outras ainda é desconhecido, mas deve-se

provavelmente à maior ou menor exposição aos fatores de risco da doença. A

figura 1 resume os dados epidemiológicos de incidência de câncer pancreático em

todos os continentes (ILIC, M et al., 2016).

Page 7: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

5

Figura 1: Incidência e mortalidade por câncer pancreático em 2012

Fonte: ILIC, 2016

A mortalidade devida ao câncer de pâncreas é diretamente

proporcional à idade, sendo que 90% das mortes registradas ocorrem após os 55

anos. A incidência e mortalidade são extremamente próximas, devido à alta

letalidade da doença, sendo consequência do diagnóstico tardio e falha

terapêutica. Atualmente, ainda não existe uma forma eficaz de diagnóstico

precoce, refletindo numa taxa de sobrevivência muito parecida entre países

desenvolvidos e subdesenvolvidos (ILIC, M et al., 2016).

Page 8: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

6

Quando detectado precocemente, a pancreatectomia é

recomendada, pois o tumor ainda não se espalhou para outros órgãos. Na prática,

o que se observa é que apenas 10% dos casos de câncer pancreático são

diagnosticados numa fase ainda possível de realizar a remoção cirúrgica do órgão,

enquanto que a grande maioria dos casos é detectada tardiamente, em um

estágio onde o tumor já apresenta sinais de metástase e a cirurgia não impediria o

avanço da doença (ILIC, M et al., 2016).

Apesar dos avanços recentes na pesquisa e compreensão da fisiopatologia

do ADP, apenas 7% dos pacientes sobrevivem 5 anos ou mais após o diagnóstico.

A maioria dos casos é diagnosticada em fases tardias da doença, onde já existem

sinais de metástase e o tratamento permanece inespecífico e pouco eficaz. Os

avanços recentes no tratamento envolvem novas abordagens terapêuticas,

substituindo a monoterapia pela terapia em conjunto com 2 ou mais fármacos.

Alvos terapêuticos relacionados a mutações no DNA e imunoterapia, que já se

mostraram eficazes no tratamento de outros tipos de câncer, ainda não atingiram

benefícios comparáveis para o câncer de pâncreas, havendo a necessidade de

mais estudos (CINTHYA, S et al., 2016).

1.2 Fatores de risco

Da mesma forma que para outros tipos de câncer, o câncer de

pâncreas não possui uma causa bem definida. Trata-se de uma doença

multifatorial, onde a atuação de diversos fatores de diferentes naturezas pode

elevar ou diminuir o risco de desenvolvimento da doença. No entanto, já se sabe

de alguns fatores de risco que aumentam a chance de aparecimento de câncer

pancreático. Esses fatores podem ser classificados em ligados ao hospedeiro e

ambientais, ou não modificáveis e modificáveis (MIDHA, S et al., 2016).

Os fatores modificáveis são aqueles que geralmente estão

relacionados com o estilo de vida do paciente e ambiente, como dieta não

vegetariana, tabaco, obesidade, exposição a xenobióticos e consumo de álcool.

Os fatores não-modificáveis incluem histórico familiar (genética), idade, sexo,

Page 9: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

7

grupo sanguíneo, etnia, pancreatite crônica e diabetes (MIDHA, S et al 2016). Os

fatores modificáveis e não modificáveis são aqueles para os quais há evidência

científica da relação com um maior ou menor risco de desenvolvimento de câncer

de pâncreas. No entanto, existem outros fatores que são classificados como

fatores suspeitos e/ou protetores, pois apesar de haver evidências sobre sua

relação com câncer pancreático, ainda não se tem certeza da associação. Esses

fatores incluem consumo de alguns medicamentos e alergias (SøREIDE, K et al.,

2015).

1.2.1 Fatores não-modificáveis ou associados ao hospedeiro

Idade

O câncer de pâncreas é uma doença que prevalece em indivíduos

mais velhos. Isso se deve ao acúmulo de mutações genéticas que acontecem ao

longo da vida, exposição a diversos fatores de risco, aparecimento de lesões,

estresse oxidativo, infiltração de gordura no pâncreas, atrofia do lóbulo central,

entre outras modificações (MATSUDA, Y 2019).

Genética

A incidência de câncer de pâncreas é particularmente maior em

indivíduos com histórico familiar da doença, onde pelo menos 3 parentes de

primeiro grau foram diagnosticados, sugerindo uma forte influência genética no

risco de desenvolvimento da doença. Mutações no gene BRCA2 foram reportadas

como sendo as mais comuns nos pacientes cujo histórico familiar é importante,

mas também já existem relatos de outros genes sugestivos na transmissão

genética familiar, como o PALB2. A identificação e estudo da importância familiar

no risco de desenvolvimento de câncer pancreático pode contribuir para o

diagnóstico precoce de pacientes identificados como alto risco, aumentando muito

a expectativa de vida desses pacientes (LU, C et al., 2015).

Page 10: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

8

Apesar da maioria dos casos de câncer de pâncreas serem

esporádicos, pacientes cuja família já apresentou pelo menos um caso em algum

parente de primeiro grau devem ser observados com maior cautela. O número de

casos de câncer pancreático familiar está na faixa de 4-10% e, nesses casos,

contava-se com pelo menos 3 casos em parentes de primeiro grau. Diversas

síndromes genéticas, como a síndrome de Peutz-Jeghers, pancreatite hereditária,

síndrome de Lynch já foram identificadas como fatores de risco para câncer

pancreático em pacientes com histórico familiar dessas síndromes

(MATSUBAYASHI, H et al., 2017).

Etnia

Estudos epidemiológicos sugerem que a incidência de câncer de

pâncreas é maior em negros do que em brancos, hispânicos e asiáticos, assim

como a taxa de mortalidade. Um estudo mais detalhado das diferenças entre estas

populações é necessário para explicar os dados observados. Um pior prognóstico

está associado à idade mais avançada, cor negra da pele e sexo feminino devido

à resposta ao tratamento. Algumas hipóteses incluem a exposição das diferentes

etnias aos outros fatores de risco, como fatores nutricionais, obesidade, tabaco,

entre outros (NIPP, R et al., 2017).

Grupo sanguíneo

Apesar de ainda ser discutido se realmente existe uma relação ou

não entre grupo sanguíneo e câncer pancreático, diversos estudos

epidemiológicos em várias populações diferentes observaram que a incidência da

doença em indivíduos dos grupos A, B ou AB é maior que naqueles do grupo O.

Particularmente o grupo A apresenta uma chance maior de desenvolver câncer de

pâncreas, mas ainda não se tem uma explicação clara sobre a interferência

desses antígenos no desenvolvimento da doença (GONG, Y et al., 2012).

Page 11: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

9

Algumas hipóteses são que processos inflamatórios associados ao

sangue segundo a classificação ABO promovem progressão e metástase do

câncer. Polimorfismos nos genes desses antígenos estão ligados aos níveis

sanguíneos de selectina-E, selectina-P e molécula de adesão intercelular solúvel 1

(sICAM1), que são proteínas envolvidas no recrutamento de células do sistema

imune, estando envolvidas na resposta inflamatória sistêmica. Essa relação

sugere ligações diretas com a iniciação e progressão do tumor, evidenciando uma

possível interferência do grupo sanguíneo no desenvolvimento do câncer

pancreático (LI, X et al., 2018; RISCH, H et al., 2013; EGAWA, N et al., 2013).

Pancreatite crônica

A relação entre pancreatite crônica e câncer pancreático já é bem

estabelecida, apesar de os mecanismos moleculares ainda não serem totalmente

compreendidos. Pacientes com pancreatite crônica possuem um risco muito maior

de desenvolver câncer de pâncreas. Isso se deve à instalação de processos

inflamatórios crônicos no órgão, que levam a uma série de alterações genéticas,

estresse oxidativo e elevam a chance de ocorrência de mutações em genes

ligados à proliferação celular (RAIMONDI, S et al., 2010).

Diabetes mellitus

Casos de pacientes com diabetes e câncer pancreático são

reportados há mais de 150 anos. Diversos estudos epidemiológicos relataram que

diabetes pode elevar o risco de desenvolvimento de câncer de pâncreas em até

80%. Além disso, observou-se que o risco relativo é inversamente proporcional à

duração do diabetes, ou seja, pacientes com histórico de diabetes superior a 5

anos apresentaram menor risco relativo de câncer pancreático do que pacientes

com histórico mais curto de diabetes, podendo chegar à redução de até 50% do

risco. Diversos estudos sugerem que o câncer de pâncreas pode induzir o órgão a

Page 12: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

10

um estado diabético, mas os mecanismos desta indução ainda não são

compreendidos (HUXLEY, R et al., 2005).

1.2.2 Fatores modificáveis ou ambientais

Obesidade

Um dos motivos pelos quais o número de casos de câncer de

pâncreas e sua mortalidade vêm crescendo é o aumento da incidência de

obesidade, a qual já é reconhecida como um forte fator de risco para o

desenvolvimento da doença. Uma análise recente do Instituto Nacional de Saúde

dos Estados Unidos revelou que aproximadamente 17% dos casos de câncer

pancreático (do tipo ADP) são atribuídos ao excesso de peso corporal (CHANG, H

et al., 2019).

Além de elevar o risco, a obesidade também implica em um pior

prognóstico, não somente por dificultar o tratamento devido a influências na

farmacocinética e farmacodinâmica dos antitumorais, mas também por causar

alterações no microambiente do tumor. Os mecanismos pelos quais a obesidade

influencia no desenvolvimento de ADP são múltiplos e estão relacionados a

eventos inflamatórios e mudanças metabólicas que favorecem o crescimento e

sobrevivência do tumor. O principal evento descrito é inflamação do tecido

adiposo, acumulado em excesso, em caso de obesidade, no pâncreas (CHANG, H

et al., 2019).

Dieta

Devido à dificuldade de diagnóstico precoce e baixa expectativa de

vida, diversos estudos exploram maneiras de reduzir o risco de câncer pancreático

estudando-se a influência que várias classes de alimentos podem ter no

desenvolvimento da doença. Frutas (especialmente cítricas, que possuem

flavonoides), vegetais, grãos e peixes não fritos parecem contribuir para a redução

Page 13: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

11

do risco de câncer de pâncreas, enquanto gordura, açúcar refinado e carne

vermelha (dependendo do modo de preparo) podem possuir uma relação com o

desenvolvimento da doença. Café e chás não apresentaram impacto no risco de

câncer de pâncreas (PERICLEOUS, M et al., 2012; GHADIRIAN, P et al., 2010).

Álcool e Tabaco

O fumo de tabaco e consumo de álcool ocorrem frequentemente de

modo concomitante e são os fatores mais importantes que estão relacionados a

um maior risco de desenvolvimento de câncer pancreático. Cerca de 14% dos

pacientes são fumantes e 3% consomem álcool. A exposição do pâncreas ao

tabaco e ao álcool causa uma série de alterações na expressão de proteínas que

estão relacionadas à progressão do câncer, infiltração de macrófagos do tipo M2

(os quais suprimem a ação do sistema imune e permitem aumento das lesões

pancreáticas) e fibrose do tecido (KORCK, M et al., 2017).

Infecções

Infecções por hepatite B e C foram evidenciadas em 2 estudos

epidemiológicos como sendo fatores de risco para desenvolvimento de câncer

pancreático, sendo que a hepatite B possui uma relação mais forte com a doença

do que a hepatite C, embora os mecanismos destas interações não estejam bem

estabelecidos (EL-SERAG, H et al 2009; HASSAN, M et al., 2008).

1.2.3 Fatores protetores

Alergias

Estudos epidemiológicos sugerem que histórico de alergias,

especialmente as alergias respiratórias, estão relacionadas com um menor risco

de desenvolvimento de câncer de pâncreas. Ainda não são conhecidos os

Page 14: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

12

mecanismos que expliquem como as alergias contribuem para diminuição do risco

de desenvolvimento da doença. No entanto, sabe-se que alergias estão ligadas a

um maior nível de imunoglobulina E (IgE) no sangue, a qual é capaz de identificar

e eliminar células potencialmente cancerosas. O envolvimento de mastócitos

(importantes em reações alérgicas) ainda não é bem estabelecido, pois podem

produzir substâncias que induzem à apoptose de células tumorais, como fator de

necrose tumoral (TNF) e interleucina 4 (IL-4), mas também liberam fator de

crescimento vascular endotelial (VEGF), que promove crescimento celular

(COTTERCHIO, M et al., 2014).

Estatinas

As estatinas são uma classe de fármacos utilizados no tratamento de

dislipidemias, reduzindo o nível de colesterol do tipo LDL (Lipoproteína de baixa

densidade). Muitos estudos já reportaram outros benefícios das estatinas,

incluindo redução do risco de diversos tipos de câncer, por interferirem na

transcrição de genes associados à sinalização, crescimento celular e

imunomodulação, contribuindo com um estado anti-inflamatório dos órgãos.

Evidências recentes mostraram que o consumo de estatinas está associado à

redução da expressão de Yes-associated proteins (YAPs), fator de crescimento de

tecido conjuntivo (CTGF) e indutor angiogênico rico em cisteína 61 (CYR61), que

são proteínas ligadas ao desenvolvimento de ADP (HAO, F et al., 2019).

Aspirina

A aspirina é um medicamento utilizado como analgésico, anti-

inflamatório e anticoagulante. Estudos recentes revelaram que a aspirina também

possui ação preventiva em diversos tipos de câncer, incluindo o pancreático,

sendo observado retardo no aparecimento de lesões neoplásicas no pâncreas.

Sabe-se que as células pancreáticas levam pelo menos de 10 a 15 anos para

iniciarem o processo carcinogênico. O uso da aspirina nesse período pode

Page 15: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

13

diminuir a velocidade do processo, retardando o surgimento da doença.

Recentemente foram relatados diversos alvos moleculares na fisiopatologia do

ADP nos quais a aspirina atua e poderia contribuir com o tratamento da doença

(JIANG, M et al., 2016).

1.3 Metabolismo do câncer, autofagia e microambiente

Para que um tumor possa sobreviver e proliferar de forma

incontrolável, alterações metabólicas são necessárias de modo a permitir o uso de

nutrientes para fins de sobrevivência, invasão tecidual e metástase. Ao comparar

o metabolismo de tecidos normais com tecidos cancerosos, observa-se que o

consumo de nutrientes neste é muito maior e a sinalização celular também está

alterada, para que o tumor disponha de energia suficiente para sobreviver. As

alterações mais comumente observadas incluem aumento do consumo de glicose,

glutamina, serina, metionina, arginina, maior atividade do ciclo da ureia, produção

de acetil-CoA, síntese de lipídeos, consumo de oxigênio e autofagia (VASQUEZ, A

et al., 2016).

A autofagia é particularmente importante no câncer de pâncreas,

uma vez que a baixa irrigação sanguínea torna a disponibilidade de nutrientes

baixa. Dessa forma, a autofagia permite que o tumor utilize suas próprias

organelas celulares para gerar os nutrientes básicos de sobrevivência. Processos

autofágicos ocorrem em condições fisiológicas normais de forma frequente, mas o

aumento da autofagia já foi relacionado com diversas doenças

neurodegenerativas e câncer. Trata-se de um processo envolvendo o lisossomo

onde a célula degrada os próprios componentes celulares para gerar nutrientes

básicos para a sobrevivência em condições de estresse oxidativo, hipóxia,

inflamação e baixa oferta de nutrientes. Estas condições precedem a iniciação das

lesões pancreáticas e são típicas em pacientes com câncer pancreático

(ROPOLO, A et al., 2012).

De forma geral, a autofagia se inicia com a formação de uma

vesícula, denominada fagoforo, que captura organelas danificadas, proteínas,

Page 16: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

14

lipídeos e outros componentes citoplasmáticos. Após a captura, o fagoforo forma

uma dupla membrana, tornando-se um autofagossomo para então fundir-se com o

lisossomo e formar o autolisossomo, ocorrendo liberação de enzimas do tipo

hidrolases para quebrar as macromoléculas em componentes básicos para o

metabolismo celular, como nucleotídeos, aminoácidos e ácidos graxos. As etapas

do processo autofágico estão esquematizadas na figura 2 (BOONE, B et al.,

2017).

Figura 2: Componentes e produtos da autofagia

Fonte: BOONE, 2017

Existem pelo menos 3 tipos de autofagia, incluindo microautofagia,

macroautofagia e autofagia mediada por chaperonas. No entanto, para o câncer o

tipo mais importante é a macroautofagia. A maquinaria molecular da autofagia é

extremamente complexa e envolve diversas proteínas. Mais de 30 genes

diferentes já foram descritos como autofagia-relacionados, sendo que a maioria é

funcional nos humanos. A indução da autofagia ocorre pela via AMP cíclico-

proteína quinase A (cAMP-PKA), que causa inibição da proteína mTOR (Alvo de

Rapamicina em Mamíferos), resultando na formação do complexo quinase

PI3KC3-Beclin1 (também conhecido como Atg6), responsável pela nucleação do

fagoforo. Para formação do autofagossomo, 2 sistemas de conjugação ubiquitin-

like são necessários, Atg8 e Atg5-Atg12-Atg16. Esses sistemas permitem que a

Cadeia leve 3 da Proteína Associada ao Microtúbulo (LC3) seja convertida em

LC3-II, por meio de uma reação de lipidação. A LC3-II é essencial para a formação

do autofagossomo e pode ser degradada pelo autolisossomo após se ligar à

proteína p62, ativando cascatas intracelulares de autodegradação. A proteína

Page 17: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

15

associada à membrana lisossomal 1 e 2 (LAMP1 e LAMP2) e a GTPase RAB7

estão envolvidas na junção do autofagossomo com o lisossomo para formação do

autolisossomo, seguido da liberação das enzimas digestivas e degradação do

conteúdo (KANG, R et al 2012; NEW, M et al., 2017).

O microambiente do tumor é essencial para promoção da autofagia e

diversos processos e condições simultâneas do microambiente favorecem

sinalização celular para autofagia. Hipóxia, baixa disponibilidade de nutrientes,

acidose, radiação e quimioterápicos levam a uma liberação de proteínas

sinalizadoras de danos por células do microambiente, como a HMBG1 (High

mobility group box 1), que se liga ao receptor específico para produto final de

glicação avançada (RAGE) e desencadeia estresse metabólico e um

microambiente inflamatório, desencadeando a autofagia. Como células tumorais

estão em rápido crescimento, necessitam de grandes quantidades de nutrientes, o

que leva a um rápido consumo dos nutrientes disponíveis no microambiente e

então as células passam a realizar autofagia para suprir suas necessidades

energéticas. Na figura 3 está esquematizada a interação entre células tumorais e o

microambiente (BOONE, B et al., 2017; KIM, S et al., 2015).

Figura 3: Componentes do microambiente que afetam a autofagia.

Fonte: BOONE, 2017

Page 18: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

16

2. OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é avaliar a importância do processo autofágico

dentro da fisiopatologia extremamente complexa do câncer de pâncreas, com o

intuito de esclarecer a relação entre níveis de autofagia, gravidade da doença e

sucesso no tratamento farmacológico.

Além disso, busca-se também destacar a contribuição da autofagia na

resistência à resposta terapêutica frente aos tratamentos farmacológicos. Com

isso, contribuir para a identificação de possíveis novos alvos terapêuticos com

base nos mecanismos moleculares da autofagia e sua importância para o

desenvolvimento e progressão da doença.

3. MATERIAL E MÉTODOS

Foi conduzida uma revisão bibliográfica de estudos que tratam da

importância da autofagia na fisiopatologia do câncer de pâncreas, considerando

progressão da doença e resistência terapêutica. Foi realizado um levantamento

das contribuições mais recentes sobre este tema em bases eletrônicas de dados

científicos, como Pubmed, Web of Knowledge, Scielo e SciFinder. O período

considerado incluiu todas as publicações até o momento, com destaque para as

revisões que abordam a autofagia em câncer pancreático. As palavras chave

utilizadas na pesquisa foram cancer, pancreas, autophagy e resistance.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Papel da autofagia na fisiopatologia do ADP

A fisiopatologia do ADP é complexa e envolve várias etapas. A

iniciação e progressão resultam da interferência de fatores genéticos e ambientais

já previamente discutidos. Observa-se que 90% dos casos de ADP possuem

mutação no proto-oncogene KRAS (vírus do sarcoma de rato Kirsten), que já pode

Page 19: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

17

ser detectada nas lesões pré-neoplásicas, denominadas lesões PanIN. Os sinais

oncogênicos do KRAS mutado levam as células tumorais a uma metaplasia ductal

acinar, que é essencial para formação das PanIN’s. Além do KRAS, outros genes

já foram identificados como importantes na progressão do estágio PanIN para o

câncer invasivo, como o CDKN2A (inibidor 2A de quinase dependente de ciclina),

p53 (proteína p53) e SMAD4 (membro 4 da família SMAD). Com o aumento das

lesões e progressão da doença, observa-se que a atividade da autofagia também

aumenta, uma vez que a demanda energética das células passa a ser maior e a

disponibilidade de nutrientes no sangue é insuficiente, sendo necessário recorrer à

autofagia para suprir suas necessidades metabólicas. A figura 4 mostra a relação

entre mutações gênicas, autofagia e progressão da doença até ADP propriamente

dito (LOVANNA, J et al 2017; KANG, R et al., 2012).

Figura 4: Mutações gênicas e autofagia na progressão do ADP

Fonte: KANG, R et al

A autofagia possui diferentes papeis em diferentes estágios do ADP,

impedindo tumorigênese, mas promovendo crescimento de tumores já formados.

As células tumorais do ADP possuem um nível basal de autofagia maior do que a

maioria dos cânceres e isso se deve às cascatas metabólicas ativadas pelo KRAS.

Os altos níveis de autofagia previnem o acúmulo de espécies reativas de oxigênio

(EROs) e consequentemente danos ao DNA. Fornecem também, por meio da

Page 20: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

18

degradação de lipídeos, ácidos carboxílicos intermediários que são necessários

para a atividade do ciclo de Krebs, acompanhada da fosforilação oxidativa e

produção de ATP, mantendo a mitocôndria funcional para o crescimento tumoral

(GUKOVSKY, I et al., 2013).

A regulação da autofagia ocorre por diversas vias que incluem vários

genes e proteínas. Apesar de os mecanismos pelos quais essas vias regulam a

autofagia não estarem totalmente elucidados, algumas já foram identificadas como

sendo importantes para promoção de autofagia no ADP e sobrevivência celular. A

proteína vacuolar 1 induzida por carência nutricional (VMP1) está associada à

formação de LC3-II e, portanto, possui um papel importante na indução de

autofagia. A inibição de mTOR induz expressão de VMP1, que interage com o

complexo PI3KC3-Beclin1 no fagoforo e é controlada por KRAS pela via fosfatidil

inositol 3 quinase (PI3K) (NEW, M et al., 2017).

A autofagia também desempenha papel importante na progressão do

ADP para fases mais avançadas e permite metástase do tumor, por promover

sobrevivência celular. Observa-se que em pacientes com níveis mais altos de

LC3-II, um importante biomarcador de autofagia, a taxa de invasão perineural

(PNI) e metástase para os linfonodos é maior. Considerando que PNI ocorre em

pelo menos 80% dos casos de ADP e que este tipo de câncer é altamente

dependente de autofagia, a relação entre os 2 eventos é comumente observada.

Além disso, estudos indicam que a autofagia possui uma contribuição maior para

promover metástase do que os fatores de risco mencionados, incluindo-se

também tamanho e localização do tumor (YANG, Y et al., 2017).

No contexto de ADP, muitos fatores atuam de forma dinâmica para

influenciar nos processos autofágicos realizados pelo tumor para garantir

sobrevivência em condições extremas. O microambiente nestas condições é

fundamental para que interações moleculares com as células tumorais ativem

cascatas de sinalização que resultem em autofagia. Aqui serão listados alguns

fatores e como ocorrem essas interações (ROPOLO, A et al., 2012).

Page 21: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

19

Hipóxia

O ADP é um câncer com baixa irrigação sanguínea, devido à sua

localização anatômica. Sendo assim, a oferta de oxigênio é baixa, causando

hipóxia no microambiente tumoral. A hipóxia causa uma série de alterações

moleculares que induzem autofagia nas células tumorais e aumentam a

sobrevivência do tumor. Essas alterações incluem aumento da produção de

espécies reativas de oxigênio, que suprimem a atividade da proteína Akt. Esta, por

sua vez, é importante na ativação da mTOR, que regula negativamente processos

autofágicos na célula. Como no ambiente de ADP, Akt está inibida, mTOR não

será ativada, permitindo iniciação das etapas da autofagia (JOSHI, S et al., 2016).

Inflamação

O ambiente inflamatório tumoral é importante para promoção da

autofagia e sobrevivência celular. Estudos indicam que a inflamação é

responsável pelo aumento de expressão do receptor RAGE, que está diretamente

relacionado com sobrevivência das células a agentes citotóxicos e também com a

inibição da mTOR. Além disso, RAGE limita vias apoptóticas nas células de ADP,

por meio de processos p53 dependentes e facilita a formação do autofagossomo

por aumentar os níveis do complexo Atg6 (KANG, R et al., 2010).

Quimioterapia

Diversos quimioterápicos podem induzir autofagia em células de

ADP. Isso se deve ao aumento do estresse metabólico causado por esta classe de

fármacos nas células tumorais, ativando vias autofágicas, principalmente pela via

Akt-mTOR. Gencitabina, sorafenibe, complexos de platina, glicosídeos

antraquinônicos, irinotecano, doxorrubicina e capecitabina são exemplos de

fármacos indutores de autofagia. Em resposta a essa indução, as células tumorais

Page 22: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

20

desenvolvem resistência aos quimioterápicos e conseguem sobreviver e proliferar

(ROPOLO, A et al., 2012).

4.2 Efeitos da inibição da autofagia em ADP e resistência terapêutica

Como o câncer de pâncreas é um tipo de câncer com maior

dependência de autofagia do que a maioria dos cânceres, utilizá-la como alvo

terapêutico passa a ser interessante, uma vez que existem diversas proteínas de

sinalização intracelular envolvidas no desencadeamento de processos

autofágicos. De forma geral, os antiautofágicos são classificados como inibidores

precoces, que atuam na formação do autofagossomo, ou inibidores tardios, que

atuam na fusão do autofagossomo com o lisossomo (BOONE, B et al., 2017).

O primeiro fármaco identificado como inibidor de autofagia foi a

cloroquina, utilizada no tratamento da malária. Em 1989, Zeilhofer e colaboradores

demonstraram pela primeira vez o potencial anticancerígeno da cloroquina em

ADP. Após cultivar células de ADP em um meio de cultura contendo cloroquina,

observou-se que o fármaco foi capaz de inibir o crescimento das células tumorais

em todas as concentrações, enquanto células de fibroblastos expostas ao mesmo

meio de cultura continuaram crescendo, evidenciando a especificidade da

cloroquina. O estudo analisou cloroquina nas concentrações de 0, 1, 4, 6, 12 e 18

μM, sendo que o efeito de inibição do crescimento foi proporcional à concentração

de cloroquina. Esse estudo foi pioneiro na investigação da autofagia como papel

importante no estabelecimento de ADP e seu potencial terapêutico (Zeilhofer, H et

al., 1989).

Um estudo realizado por Thakur et al, publicado em 2018, avaliou o

papel do estresse metabólico no retículo endoplasmático de células de ADP na

autofagia, sobrevivência e crescimento celular. Nesse estudo, ratos com ADP

foram tratados com um inibidor de estresse metabólico (com alvo em proteínas

envolvidas na ativação de processos autofágicos) juntamente com outro

quimioterápico de ação diferente. Os resultados mostraram que a administração

conjunta dos 2 fármacos apresentou efeito sinérgico. O inibidor de autofagia foi

Page 23: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

21

capaz de aumentar a sensibilidade das células tumorais ao outro quimioterápico,

além de promover diminuição do crescimento celular. Os conjuntos utilizados

foram cloroquina, um composto inibidor de estresse do retículo endoplasmático

chamado STF-083010, gencitabina e sunitimibe. Em todas as combinações,

observou-se que o IC50 reduziu significativamente, demonstrando que a terapia

conjunta desses fármacos é muito mais eficaz do que a administração individual.

Dessa forma, evidencia-se que a autofagia está relacionada com resistência

terapêutica e ao inibir proteínas chaves da autofagia, a sensibilidade aos outros

quimioterápicos aumenta. Além disso, apesar da autofagia ser um processo chave

na sobrevivência do tumor e sua inibição causar morte das células tumorais, a

terapia com inibidores de autofagia não deve ser única, mas sim utilizada como

terapia adjuvante a outros quimioterápicos, uma vez que a eficácia do tratamento

é aumentada (THAKUR, P et al., 2018).

Outro estudo realizado por Chen et al, em 2019, explorou o potencial

inibitório de autofagia da dantrona, uma substância encontrada naturalmente nas

raízes de Ruibarbo turco (Rheum palmatum L.). Células tratadas com dantrona

apresentaram acúmulo de LC3-II. Apesar deste acúmulo poder indicar um

aumento na geração de autofagossomos, o tratamento das células com cloroquina

e dantrona não mostrou um maior aumento na quantidade de LC3-II. Dessa forma,

este acúmulo se dá pelo bloqueio na maturação do autofagossomo e fusão com o

lisossomo, uma vez que a cloroquina é um inibidor tardio da autofagia. Os

achados então mostraram que a dantrona atua de forma semelhante à cloroquina,

inibindo a maturação da autofagia em fases tardias. O estudo ainda investigou se

a dantrona seria capaz de aumentar a sensibilidade das células de ADP à

doxorrubicina, a qual é um quimioterápico não específico utilizado no tratamento

de vários tipos de tumores, impedindo a síntese de RNA e DNA. Estudos

mostraram que, no ADP, a doxorrubicina induziu autofagia nas células por causar

estresse metabólico e genético, tornando o tumor resistente à quimioterapia com

doxorrubicina. A utilização conjunta de dantrona + doxorrubicina foi capaz de

aumentar a morte celular e sensibilidade do tumor por inibir a autofagia que

protegia o tumor do quimioterápico. O estudo utilizou doxorrubicina na

Page 24: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

22

concentração de 0,25 mg/L e dantrona a 100 μM e os resultados mostraram que a

terapia combinada foi mais eficaz em inibir proliferação celular do que o

tratamento das células com dantrona ou doxorrubicina individualmente (CHEN, H

et al., 2019).

Yu et al analisaram o papel do zinco no ADP e sua relação com

autofagia. Sabe-se que o zinco é um elemento extremamente importante para

sobrevivência e multiplicação celular e que concentrações anormais deste

elemento podem induzir a danos no DNA e iniciar o processo carcinogênico.

Identificou-se que a concentração de zinco em ADP é maior do que em tecidos

saudáveis e que desempenha um papel de regulação positiva na autofagia. Sendo

assim, o objetivo do estudo foi avaliar os efeitos do composto N,N,N,N‐tetrakis(2‐

piridilmetil)‐etilenediamina (TPEN), que atua como um quelante de zinco, na

inibição do crescimento tumoral de ADP e autofagia em amostras de tecido

pancreático tumoral obtidas de pacientes que foram submetidos à remoção

cirúrgica do pâncreas. Os resultados mostraram que, na concentração de 6 μM e

incubação por 24 horas, o TPEN foi capaz de reduzir em 80% a proliferação de

células tumorais de ADP, inibiu a progressão do tumor, aumentou a produção de

espécies reativas de oxigênio, levando a um estresse metabólico, sendo o pico

atingido após 12 horas. TPEN também foi capaz de atuar na autofagia e os

resultados evidenciaram que o fluxo de autofagia nas células tratadas com o

quelante foi menor do que no grupo controle e que o provável mecanismo de ação

do TPEN na autofagia é a inibição da atividade lisossomal. Nas células tratadas, a

técnica de western-blot mostrou que a razão LC3-II/I foi maior do que no grupo

controle (figura 5), mostrando o potencial terapêutico de quelantes de zinco no

tratamento do ADP e importância deste elemento na sobrevivência do tumor (YU,

Z et al., 2019). A razão LC3-II/I aumentada indica que a inibição da autofagia

ocorre na etapa de fusão do autofagossomo com o lisossomo, dessa forma a LC3-

II não é degradada e ocorre acúmulo.

Page 25: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

23

Figura 5: Relação LC3-II/I em células tratadas com TPEN versus controle

Fonte: Yu, 2019

Bryant et al analisaram diferentes abordagens para tratamento de

ADP utilizando inibidores de autofagia, de KRAS e da proteína ERK, que é

importante para proliferação das células tumorais. Após a supressão da atividade

de KRAS em células de ADP por meio de um oligonucleotídeo micro RNA,

observou-se que o fluxo de autofagia aumentou de 2 a 10x em comparação com o

grupo controle. Juntamente com esse achado, as células tumorais foram tratadas

com um inibidor específico de ERK, denominado SCH772984 (ERKi) e os

resultados mostraram um aumento na autofagia em até 30 vezes após 24 h de

incubação das células em meio contendo ERKi. Dessa forma, o aumento da

autofagia foi entendido como um resultado estratégico de sobrevivência tumoral,

devido à inibição de outras vias importantes para a sobrevivência das células,

como as vias das quais participam KRAS e ERK sendo, portanto, uma

compensação metabólica para suprir as necessidades energéticas celulares.

Dessa forma, havendo uma maior dependência do tumor à autofagia, a inibição

desta causaria um efeito muito maior quando em conjunto com os inibidores de

KRAS e ERK do que se administrados em monoterapia. Nesse estudo,

evidenciou-se o efeito sinérgico dos inibidores de KRAS e ERK no efeito

antitumoral da cloroquina. As células tratadas com um inibidor de KRAS ou ERK e

Page 26: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

24

cloroquina apresentaram uma taxa de apoptose muito maior do que as tratadas

somente com um dos compostos, utilizando-se técnicas de contagem de células

vivas e quantificação de metabólitos essenciais para proliferação tumoral

(BRYANT, K et al., 2019).

Wang et al observaram que o aumento da autofagia induzida por

quimioterápicos está relacionado à resistência terapêutica. Como forma de

mensurar esse aumento, o estudo monitorou os níveis do micro RNA 137 (miR-

137) em células de ADP, o qual acredita-se estar envolvido em controle negativo

da expressão de genes relacionados à autofagia e consequentemente controle da

sensibilidade das células tumorais aos quimioterápicos. O tratamento das células

com doxorrubicina causou diminuição na concentração de miR-137 e isso levou à

resistência à doxorrubicina. No experimento, uma linhagem de células foi tratada

com doxorrubicina, rapamicina (indutor de autofagia) e 3-MA (inibidor de

autofagia), gerando uma linhagem celular 7 vezes mais resistente do que a

linhagem não tratada. Nas células tratadas, observou-se que a concentração de

miR-137 era muito menor do que no outro grupo, indicando que um dos

mecanismos pelos quais o tumor adquire resistência aos quimioterápicos é pela

regulação da quantidade de micro RNAs, que estão envolvidos com a supressão

de genes que induzem autofagia. Entretanto, o mecanismo pelo qual miR-137 está

ligado à autofagia ainda não é bem esclarecido. Evidências sugerem que o miR-

137 regula negativamente a atividade de Atg5 e FUNDC1, que são genes

envolvidos diretamente com a expressão de proteínas importantes para o fluxo

autofágico e o tratamento com doxorrubicina causou aumento das proteínas

associadas a estes genes, além de outras, como a p62 (WANG, Z et al., 2019).

Um outro estudo publicado por Wang et al, em 2018, analisou o

papel do gene SMAD4 na fisiopatologia do ADP, sua importância para iniciação,

progressão e metástase da doença, assim como para promoção de resistência

terapêutica por meio da autofagia. Estima-se que em 55% dos casos de ADP, há

uma mutação no SMAD4 que representa um pior prognóstico e está associado a

maiores dificuldades no tratamento do câncer. Nesse estudo, foram utilizados

silenciadores de SMAD4 (micro RNAs) para avaliar os efeitos no ADP. Células

Page 27: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

25

tratadas com os micro RNAs apresentaram maior resistência à radiação ionizante

do que as células não tratadas, evidenciando papel do SMAD4 na resistência do

tumor à radioterapia. Além disso, observou-se que nas células tratadas, o fluxo de

autofagia era maior, quantificado pela concentração de LC3-II, o qual foi maior no

grupo tratado com depleção de SMAD4 do que o grupo não tratado. Dessa forma,

existe uma relação evidente entre o gene SMAD4, autofagia e resistência ao

tratamento radioterápico e quimioterápico. A autofagia permite que o tumor

dependa menos de nutrientes externos e possa utilizar a própria maquinaria

celular para produzir componentes básicos necessários à sobrevivência. Por conta

dessa relação, tratamentos com radiação ionizante e quimioterápicos levam as

células de ADP a adaptações moleculares que aumentam o fluxo de autofagia e

permitem resistência ao tratamento (WANG, F et al., 2018)

5. CONCLUSÕES

O câncer de pâncreas é um dos mais agressivos e letais tipos de câncer já

caracterizados. A alta taxa de mortalidade e baixa expectativa de vida após o

diagnóstico tornam urgente a descoberta de novas abordagens terapêuticas e

ainda abordagens que possam reduzir a alta taxa de resistência aos

quimioterápicos mais comumente utilizados no tratamento do ADP. O grande

problema é a dificuldade de diagnóstico precoce, levando aos dados

epidemiológicos observados. Há a necessidade de desvendar biomarcadores que

indiquem precocemente o desenvolvimento do câncer de pâncreas e sirvam para

o prognóstico.

A autofagia tem se mostrado interessante e promissora abordagem

terapêutica para tratamento do ADP. No entanto, os inibidores de autofagia são

mais bem aproveitados quando utilizados em terapia conjunta com os

quimioterápicos clássicos, uma vez que grande parte da resistência observada

nesse tipo de câncer ocorre por conta de processos autofágicos celulares e

influência do microambiente e dos fatores de risco. Dessa forma, apesar de os

inibidores de autofagia também terem demonstrado efetividade na indução de

Page 28: Papel da autofagia no desenvolvimento de câncer

26

apoptose e bloqueio da progressão da doença, o efeito sinérgico observado

quando administrados concomitantemente com outro quimioterápico é, do ponto

de vista farmacoterapêutico, mais interessante do que a abordagem

monoterapêutica.

Por envolver um complexo de múltiplas proteínas, diversos alvos do

processo autofágico podem ser explorados a fim de testarem-se novas terapias

para reduzir a mortalidade devida ao câncer de pâncreas. Além disso, alguns

marcadores biológicos de autofagia, como a LC3-II, amplamente utilizada como

medidor de efetividade dos inibidores de autofagia, poderiam ser utilizados na

prática clínica para avaliação do prognóstico de cada caso de câncer pancreático,

estabelecendo-se uma relação entre biomarcador, nível de autofagia, taxa de

resistência e probabilidade de sucesso no tratamento farmacológico. Essas

abordagens clínicas visam à individualização do tratamento em cada paciente com

o objetivo de melhor aproveitamento dos quimioterápicos já utilizados e

contribuição para redução da mortalidade por câncer de pâncreas.

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