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Parte 1 - A agroindústria sucroalcooleira nas Áreas ... · Açucareira”, no qual as pequenas usinas e a grande maioria dos fornecedores são considerados descartáveis da cadeia

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AUTORES/ ORGANIZADORES: 

Davi Guilherme Gaspar Ruas

Enéas Rente Ferreira

Sílvio Carlos Bray

 

 

 

A AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA NAS ÁREAS CANAVIEIRAS DE SÃO PAULO E PARANÁ

 

 

 

 

 

RIO CLARO - SP

EDITORA DA PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

2014

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CONSELHO EDITORIAL

Profa. Dra. Andréia Zacarias

Prof. Dr. José Giacomo Baccarin Prof. Dr. Fabricio Gallo

Prof. Dr. Paulo Roberto de Teixeira Godoy Profa. Dra. Solange Terezinha de Lima Guimarães

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte

Foto da capa: Davi G. G. Ruas. Cópia e primeira revisão: Jéssica Marcucci Desenhista: Gilberto Donizete Henrique Editoração: Davi G. G. Ruas.

2014

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SUMÁRIO Prefácio 007 Apresentação 010 A POLÍTICA DO INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL NA DÉCADA DE 70 E SEUS REFLEXOS NA ÁREA CANAVIEIRA DO VALE DO PARANAPANEMA (SP). - Sílvio Carlos Bray

014

AS AGROINDÚSTRIAS E A FORMAÇÃO DO SETOR CANAVIEIRO DE ARARAS. - Enéas Rente Ferreira e Sílvio Carlos Bray

028

AS POLÍTICAS DO INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL E DO PROGRAMA NACIONAL ÁLCOOL E SUAS INFLUÊNCIAS NA ÁREA AÇUCAREIRA – ALCOOLEIRA DE CATANDUVA. - Sílvio Carlos Bray

042

O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DO COMPLEXO CANAVIEIRO, AÇUCAREIRO E ALCOOLEIRO NO ESTADO DO PARANÁ. - Sílvio Carlos Bray e Wilson Antônio Teixeira

074

O PLANEJAMENTO ESTATAL NO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DO SETOR CANAVIEIRO DE PORTO FELIZ. - Rosely Rufino Sampaio e Sílvio Carlos Bray

095

CRESCIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DAS USINAS DE AÇÚCAR NO ESTADO DE SÃO PAULO 1950 A 1974. - Sílvio Carlos Bray e Davi Guilherme Gaspar Ruas

110

AS INFLUÊNCIAS DO PRÓ-ALCOOL E DO PRÓ-OESTE NAS TRANSFORMAÇÕES DAS ÁREAS CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. - Enéas Rente Ferreira e Sílvio Carlos Bray

137

A EXPANSÃO DA CANAVICULTURA NO VALE DO PARANAPANEMA – SP. (1975 - 1988). - Enéas Rente Ferreira

154

A ORIENTAÇÃO ESTATAL APÓS 1970 E AS TRANSFORMAÇÕES NAS REGIÕES CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, BRASIL. - Enéas Rente Ferreira e Sílvio Carlos Bray

175

O PROÁLCOOL E O PROESTE, E AS TRANSFORMAÇÕES NAS ÁREAS CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. - Enéas Rente Ferreira e Sílvio Carlos Bray

186

O DESLOCAMENTO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA PARA O OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO - Davi Guilherme Gaspar Ruas, Enéas Rente Ferreira e Elias J. C. Gomes Sales

191

AUTORES 212

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PREFÁCIO

A incumbência a mim requerida para prefaciar essa obra que marcará a

Geografia agrária brasileira, muito me honra e me faz rememorar os aprendizados a

mim possibilitados pela rica convivência com o professor Sílvio Bray e o estudante

de Geografia, meu veterano, amigo/irmão de sempre, Enéas Rente Ferreira.

A oportunidade dos primeiros passos para fazer/praticar Geografia, os

obtive junto ao professor Sílvio Bray. O primeiro estágio, o primeiro projeto de

Iniciação Científica, me possibilitaram arriscar ações até então distantes das minhas

mãos, a começar pela representação cartográfica da área de estudo, à época as

agroindústria aguardenteiras do município de Jaboticabal. Decorridos 35 anos, tenho

esse registro inesquecível das primeiras leituras sobre a temática da agroindústria

canavieira no Brasil e a oportunidade de manusear as sistematizações de primeira

lavra, os artigos em finalização, bem como a tese de doutorado do professor Sílvio e

também as primeiras elaborações do Enéas. Tanto é que esse privilégio fez a

diferença na minha trajetória como estudante e, com certeza, e também como

profissional, pois desde 1980 iniciei os primeiros passos e estudos e até o momento

continuo nessa linha de investigação.

Especial atenção me traz essa coletânea de textos protagonizados por

experts e referências obrigatórias para pesquisadores e iniciantes sobre a história

contemporânea da agroindústria canavieira, no Brasil. Desde as primeiras ações e

incentivos públicos egressos do período colonial, até a consolidação desse setor na

economia nacional, bem como as crises e redefinições de rumos, ocupam

centralidade nas reflexões dos pesquisadores que protagonizam esse livro.

Os artigos do professor Sílvio, demarcam preocupação com o processo

histórico e a evolução da agroindústria canavieira no Brasil, em São Paulo, e

enfatiza processos regionais/locais com muita precisão, sendo que sua tese de

doutorado é o principal exemplo. Todavia outras contribuições seguiram marcando

sua produção intelectual, como é o estudo que protagonizou sobre o Pro-Oeste e o

Procana, e sobre a região canavieira de Catanduva.

Entretanto, a contar com o efeito multiplicador desses referenciais teórico-

metodológicos, constata-se a formação de pesquisadores, com destacada produção,

focada para outras porções do território, oriundas de Projetos de Especialização, de

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Mestrado, Doutorado. É assim que o diálogo entre os autores, liderados pelo

professor Sílvio, transcorreu ao longo das últimas três décadas, e com rebatimentos

para o debate público, por meio das apresentações dos resultados das pesquisas

em eventos de amplitude nacional. Caminho, aliás, percorrido pela maioria da

produção acadêmica que compõe esse livro. Assim, a temática da agroindústria

canavieira, para indicar uma linha de intervenção sediada no IGCE/UNESP/Rio

Claro, desde a década de 1980, contabiliza importante intervenção pública e a

demarcação de um legado com registro destacado na Geografia agrária brasileira.

Essa influência e os bons frutos resultantes das novas gerações registra

estudos que têm enriquecido entendimentos críticos em respeito às contradições e

os efeitos econômicos, políticos, que incluem a participação do Estado mediante

políticas públicas ou intervenções direta na gestão da agroindústria canavieira,

desde o IAA, passando pelo Planalsucar, Proálcool, Programa Nacional de Uso e

Produção do Biodiesel (PNPB), com rebatimentos diretos no tocante à produção,

produtividade dos derivados da cana-de-açúcar, e os desdobramentos sociais, a

contar com a degradação do trabalho, desemprego, descarte, e os problemas

ambientais.

Esse é o contexto dos artigos individuais e em co-autoria que revelam as

parecerias bem sucedidas protagonizadas pelos professores Sílvio e Enéas, bem

como composições com a terceira geração de pesquisadores, como é o caso do

Davi Ruas, Elias Sales.

Os recortes territoriais sob os quais recai-se o foco do acompanhamento

cuidadoso do movimento de realização e desrealização do território canavieiro, com

as atenções para a constituição, consolidação e desafios contemporâneos para a

agroindústria canavieira , objeto da rica contribuição que os autores expõem nesse

livro, com as atenções para as regiões de Araras (Sílvio Bray e Enéas R. Ferreira),

Porto Feliz (Sílvio Bray e Roseli R. Sampaio), Araraquara (Sílvio Bray e Enéas R.

Ferreira), Vale do Paranapanema (Enéas R. Ferreira), Oeste Paulista (Enéas R.

Ferreira, Sílvio Bray, Davi Ruas e Elias Sales), o crescimento com um todo no

Estado (Sílvio Bray e Davi Ruas) e o Norte do Paraná (Sílvio Bray e Wilson

Teixeira).

A atenção do leitor para as reflexões postas é condição para que se

aproxime de referenciais teóricos e metodológicos imprescindíveis para a

compreensão da contemporaneidade da agroindústria canavieira, no Brasil, já que a

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farta revelação do processo histórico dessa atividade e as conexões com o final do

século XX e início do século XXI, fortalece a realização de novos estudos. Por isso,

reitero, está-se diante de um livro de consulta, de pesquisa e de diálogo

permanente.

Presidente Prudente, novembro de 2014

Antonio Thomaz Junior

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APRESENTAÇÃO

O presente livro abrange alguns trabalhos produzidos nas décadas de 1970 a

90, enfocando a formação das várias áreas canavieiras do Estado de São Paulo e

Paraná, constituídas nos séculos XIX e XX. Essas áreas foram sendo estruturadas a

partir das primeiras décadas do século XIX, com destaque ao Quadrilátero do

Açúcar na Depressão Periférica Paulista. Posteriormente as áreas de Porto Feliz e

Piracicaba consolidaram-se com a construção dos modernos engenhos centrais

importados da França com tecnologia moderna através de moendas e equipamentos

de ferro. Antes da introdução dos engenhos centrais, os nossos engenhos eram

construídos de moendas de madeira. Assim, a partir da segunda metade do século

XIX, os engenhos centrais separam a indústria da agricultura. No final do século XIX

surgem as primeiras usinas “as sucreries”, quando os engenhos centrais reativados

unem novamente a indústria à agricultura.

Com a expansão da cafeicultura paulista novas áreas canavieiras foram

constituindo-se. A medida que o café se expandia no Estado, novas usinas foram

sendo implantadas na região de Piracicaba e posteriormente em Ribeirão Preto,

para abastecer os mercados do Sul e Sudeste.

Nessa fase de expansão cafeeira e canavieira, as tradicionais áreas

canavieiras de Porto Feliz e Piracicaba bem como a nova área de Ribeirão Preto,

ampliam os canaviais e a produção de açúcar. Nesse período, salientamos a

importância das estradas de ferro para o transporte dos pesados equipamentos

vindos principalmente da França e Inglaterra, através do porto de Santos. Também,

o transporte ferroviário serviu carregar a da cana das fazendas para as usinas, como

na distribuição e comercialização do açúcar e álcool em São Paulo.

Nesse processo de expansão cafeeira, os pequenos engenhos de açúcar e

aguardente, como as usinas de açúcar e álcool, foram acompanhando o complexo

cafeeiro-capitalista-paulista.

Com a criação do Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA) a partir dos anos 30, o

Estado iniciou o processo planejamento e controle do setor canavieiro e passou a

estabelecer diretrizes na expansão das usinas de açúcar e álcool no território

nacional.

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O IAA ao estabelecer nos anos 40 a divisão territorial da produção de açúcar

e álcool no país, normatiza quotas para a região Norte/Nordeste e região Centro/Sul,

e passou a criar novas condições para a expansão da agroindústria açucareira e

alcooleira dos estados de São Paulo e Paraná, que importavam grande parte do

açúcar consumido das regiões Norte/Nordeste.

Assim, a partir dos anos 40, novas usinas vão sendo implantadas além das

áreas canavieiras mais antigas de Piracicaba e Ribeirão Preto, como as novas áreas

do oeste paulista e Vale do Paranapanema- com usinas em território paulista e

paranaense.

Por outro lado, as indústrias metalúrgicas “Dedini” na região de Piracicaba e

“Zanini” em Sertãozinho, região de Ribeirão Preto, passaram a produzir moendas e

equipamentos industriais para as usinas de açúcar e álcool com tecnologia nacional.

Através da ação do IAA, a partir do final dos anos 30 e nos 40 muitos

engenhos em São Paulo receberam quotas para transformarem-se em novas usinas

de açúcar e álcool.

Também nesse período, o IAA implantou o Estatuto da Lavoura Canavieira,

com o objetivo de minimizar os conflitos tradicionais existentes entre usineiros e

fornecedores e a mão de obra trabalhadora, cabendo aos fornecedores de cana a

garantia das quotas de produção, mantendo assim, a capitalização do setor

industrial com novos investimentos na modernização tecnológica das usinas, com

plantas cada vez maiores, produzindo com mais produtividade e eficiência.

No decorrer dos anos 50, o IAA considerou anti-produtiva usinas com menos

de 100.000 sacas de açúcar anuais e passou a ampliar as cotas das usinas que

investiram na melhoria tecnológica industrial, com o aumento da capacidade e

produtividade, através da modernização tecnológica.

Nesse período os fornecedores garantem grande parte da produção de cana

para as usinas e novas tecnologias agrícolas são investidas na agricultura

canavieira, através do aumento de tratores com arados modernos e a motocana,

com ganchos para colocar a cana cortada nos equipamentos de transportes.

Nos anos 60, com a ampliação crescente do mercado consumidor do

Centro/Sul e o açúcar cubano perdendo o mercado preferencial norte-americano,

crescem as exportações de açúcar brasileiro para o mercado internacional,

ampliando os canaviais e a capacidade produtiva das usinas, consolidando as novas

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áreas canavieiras como Jaú e Vale do Paranapanema, abrangendo usinas paulistas

e paranaenses.

Nos anos 70 além do IAA criar o Fundo de Exportação para o Açúcar

Brasileiro, desenvolveu um programa denominado “Racionalização da Industria

Açucareira”, no qual as pequenas usinas e a grande maioria dos fornecedores são

considerados descartáveis da cadeia produtiva e do processo agroindustrial

açucareiro, rasgando o Estatuto da Lavoura canavieira. Nesse conjunto de medidas

do Programa de Racionalização foi criado o Programa Nacional de Melhoramento da

Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR) com o objetivo de buscar melhoria das

variedades e novas tecnologias de produção de cana-de-açúcar.

Entretanto, com a crise do petróleo em 1973 e a elevação dos preços dos

barris, o IAA cria o PROÁLCOOL, com objetivo alternativo de produzir o etanol

combustível de cana para substituição da gasolina.

Com o PROÁLCOOL, abre-se credito para a construção de destilarias

autônomas de álcool no país, trazendo ampliação das destilarias anexas das usinas

existentes, aumentando as áreas canavieiras de São Paulo e Paraná, surgindo

novas áreas canavieiras no Oeste Paulista e Centro Norte do Paraná.

 

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NOTA DE ESCLARECIMENTO

Este livro compreende uma coletânea de trabalhos, a maioria já

publicados, estes estão no início (sete primeiros) e os quatros últimos

somente foram apresentados em congressos e encontros.

Todos os textos passaram por uma revisão, adequando, para a

nova ortografia, apesar de alguns termos terem sido deixados como

aparecem no original.

As bibliografias de todos os textos foram colocadas dentro das

normas preconizadas pela ABNT, bem como as citações internas também

foram modificadas para sua adequação as normas ABNT, os artigos que

possuíam citação numérica foram modificados e expressos pelo autor,

mas as citações diretas não foram modificadas, com a colocação das

respectivas páginas, o que demandaria reler todas as bibliografias e

rescrever os textos. Também foram separadas as bibliografias citadas nos

textos das que somente foram utilizadas.

No fim dos textos foi acrescida uma nota com a citação completa

do original do artigo.

OS ORGANIZADORES

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A POLÍTICA DO INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL NA

DÉCADA DE 1970 E SEUS REFLEXOS NA ÁREA CANAVIEIRA DO

VALE DO PARANAPANEMA (SP)

Silvio Carlos BRAY1

1 - Introdução

O Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar

(PLANALSUCAR) dividiu o Estado de São Paulo, no ano de 1971, em cinco áreas

canavieiras, sendo elas: Ribeirão Preto, Araraquara, Jaú, Piracicaba e Vale do

Paranapanema (Figura 1). A área canavieira do Vale do Paranapanema abrange,

por contiguidade e relações espaciais, o setor canavieiro do Norte paranaense.

Figura 1. Área canavieira do Vale do Paranapanema.

                                                            1 Departamento de Planejamento Regional, campus de Rio Claro, IGCE UNESP.

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O objetivo deste estudo é o de relacionar a política estabelecida pelo Instituto

do Açúcar e do Álcool no país, principalmente a partir da década de 1960, e

executada na década de 1970, com os reflexos na área canavieira do Vale do

Paranapanema.

Queremos salientar que o Vale do Paranapanema, como núcleo canavieiro

recente, estruturou-se a partir da política de estímulos e incentivos do Instituto do

Açúcar e do Álcool, no início da década de 1940. Desde a implantação das

agroindústrias de açúcar e álcool, a partir de 1942 e até os dias de hoje, a área

canavieira do Paranapanema esteve vinculada à política do Instituto do Açúcar e do

Álcool (IAA). Na década de 1970, a política açucareira alcooleira nacional tornou-se

mais incisiva, com grandes repercussões na área em estudo e com reflexos mais

abrangentes ao compararmos com as décadas anteriores. Esse fato é constatado

através do aumento das áreas canavieiras e da produção de açúcar e álcool, e da

apropriação de terras em grande escala pelos grupos usineiros.

2 - A implantação da política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de

1970.

Na década de 1970, o Instituto do Açúcar e do Álcool continuou com a política

do final da década anterior e procurou enfocar o aspecto da competitividade do

açúcar brasileiro no mercado internacional, através:

a - das dimensões e do aproveitamento da capacidade instalada;

b - do grau de eficiência do sistema produtivo; e

c - da estrutura do sistema de comercialização, englobando tanto as

atividades agrícolas como as industriais. Embora tivesse sido esse planejamento

esboçado na década de 1960, só começou a ser posto em prática no início da

década de 1970, com a formulação e execução do Programa Nacional de

Melhoramento da Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR). Através do Decreto-Lei no

1.186, de 27/08/1971 (BRASIL, 1971a), iniciou-se o Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira, posteriormente denominado Programa de Apoio à

Agroindústria Açucareira, a partir de Decreto-Lei no 1.266, de 26/03/1973 (BRASIL,

1973). Esse Planejamento da Agroindústria no Brasil olhava o Programa de

Melhoramento do PLANALSUCAR como um instrumento de "melhoria da qualidade

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da matéria-prima" e de "racionalização da produção", cujo objetivo estava ligado a

dois programas em desenvolvimento no Instituto do Açúcar e do Álcool:

a - o de financiamento da fusão e da racionalização das empresas

agroindustriais canavieiras;

b - o da construção de terminais açucareiros (instalações de armazenagem e

de embarque a granel nos principais portos exportadores de açúcar do país - Recife,

Maceió e Santos). Esses programas estavam inter-relacionados numa política de

modernização tecnológica e administrativa. O Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira ocorreu através da lei no 5.654, de 14/05/1971 (BRASIL,

1971b), reformulando várias normas para a produção de açúcar no país, como a

revisão periódica de cotas de produção das usinas. Nessa revisão manteve-se o

contingente de 100 milhões de sacas, que fora fixado em 1963 pela Resolução nº

1761 do Instituto do Açúcar e do Álcool e cujo limite passaria a ser alterado pelo

ministro da Indústria e do Comércio, conforme as necessidades do mercado interno

e das exportações.

Nessas condições, estava sendo alcançada a meta do Plano de Expansão da

Indústria Açucareira Nacional de 1963. Mas a Lei nº 5.654 (BRASIL, 1971b),

estabeleceu que o limite global seria o somatório do Sul e Norte açucareiro, e não

mais o somatório dos contingentes estaduais.

Buscava-se, então, possibilitar o crescimento da produção de açúcar dos

Estados nas usinas que realmente continham melhores condições e abrir a

possibilidade de reajustamento de cotas oficiais de produção para as usinas,

mediante simples atos do presidente do Instituto do Açúcar e do Álcool. No mesmo

ano o Decreto-Lei nº 1.186, de 27/08/1971 (BRASIL, 1971a),  concedia estímulos

financeiros à fusão, incorporação e relocalização das unidades industriais

açucareiras (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 66-67).

Esse Decreto-Lei, como a Lei nº 5.654, revogou vários dispositivos do

Estatuto da Lavoura Canavieira, dando aos usineiros melhores condições para

atingir maiores índices de produtividade e consequente redução de seus custos de

produção. Tais objetivos valorizavam a concentração empresarial (através da

absorção de cotas de produção de outras usinas e fornecedores e a relocalização de

estabelecimentos agroindustriais em áreas mais favoráveis às suas atividades).

Essa conjuntura propiciou uma grande expansão territorial das agroindústrias

no Vale do Paranapanema, a partir do início da década de 1970, conforme veremos

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no próximo item. Mas tanto o PLANALSUCAR como Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira tiveram um desempenho favorável, devido ao crescimento

do volume e dos preços das exportações do produto nos primeiros anos da década

de 19702, resultando nos reflexos positivos sobre o Fundo Especial de Exportação.

Segundo Szmrecsányi (1978, p. 69), os preços pagos aos produtores pelo Instituto

do Açúcar e do Álcool (por lei, o único exportador) eram inferiores aos valores

médios por ele recebidos, e o Instituto do Açúcar e do Álcool conseguiu formar

(graças também à conjuntura favorável das vendas externas) saldos vultosos para o

seu Fundo Especial de Exportação. Com esses saldos, o Instituto do Açúcar e do

Álcool procurou dinamizar mais esse fundo através de empréstimos para as usinas,

e o reforço à infraestrutura de exportação (a implantação e operação de terminais

açucareiros de Maceió e Santos), como também os benefícios ao programa de

pesquisa do PLANALSUCAR (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 67-69).

Juntamente com essa política de exportação de açúcar, iniciou-se na década

de 1970 a política de álcool, em decorrência da conjuntura petrolífera mundial e dos

crescentes déficits no balanço de pagamento do país. Em 14/11/1975, essa política

do álcool foi oficializada através do Decreto no 76.593 de 14 de novembro de 1975

(BRASIL, 1975), que instituiu o PROÁLCOOL e criou a Comissão Nacional do

Álcool. Devido a esses incentivos, as destilarias anexas das usinas do Vale do

Paranapanema começaram a ampliar-se, como também a álcool nelas produzido,

notadamente a partir da safra de 1977/78.

3 – As consequências da politica do Instituto do Açúcar e do Álcool no Vale do

Paranapanema.

Tem-se na agroindústria açucareira a base do atual domínio da cana-de-

açúcar no Vale do Paranapanema. À medida que as usinas foram-se instalando e

aumentando as suas cotas, os canaviais das agroindústrias e das propriedades

fornecedoras foram-se ampliando ano a ano na área, acompanhando o aumento da

capacidade da produção de açúcar, álcool e aguardente.

                                                            2 O valor das exportações de açúcar passou de US$552.711.000 em 1973 para US$ 1.261.630.000 em 1974 (quando os preços do açúcar no mercado internacional atingiram seu ponto culminante). Nesse mesmo ano, o açúcar em nosso país ultrapassou o café em valor de exportação, pois atingiu US$ 864.313.000 (Anuário Estatístico do Brasil, IBGE, 1975; p. 363-364).

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A partir da década de 1950 (fase da consolidação da área Canavieira do

Paranapanema), o crescimento das terras das agroindústrias foi-se expandindo

gradativamente (Tabela 1), culminando com expansão de grande vulto a partir do

início da década de 1970.

Com o Decreto-Lei no 1.186, de 27/08/1971 (BRASIL, 1971a), (que concedeu

estímulos à fusão e incorporação de usinas, principalmente as de baixa produção), a

usina Santa Lina (Quatá-SP), de propriedade do Grupo José Giorgi, adquiriu por

compra no ano de 1973 a agroindústria Santa Rosa de Lima (Ipauçu-SP),

pertencente ao Grupo Ferraz Egreja. Com a aquisição da Santa Rosa de Lima, a

usina Santa Lina ampliou as suas cotas e equipamentos.

Através do Fundo Especial de Exportação, as usinas do Paranapanema

puderam beneficiar-se, ampliando a capacidade de produção de açúcar e álcool na

década de 1970. A produção de açúcar foi de 3.933.619 sacas em 1970/71, para

6.276.651 sacas em 1977/78; e a produção de álcool passou de 35.056 milhões de

litros em 1970/71 para 67.129 milhões de litros em 1977/78. A Santa Lina está

construindo uma nova usina, com o dobro da capacidade atual, e a destilaria anexa

foi ampliada para produzir quatro vezes mais. A Jacarezinho concluiu sua ampliação

em 1977, com novas moendas, aumentando a capacidade de produção para 8 mil

sacas diárias. A São Luís ampliou as moendas e a destilaria para produzir 34,75

milhões de litros, sendo 10 milhões de litros em álcool anidro. A Maracaí está

montando uma nova destilaria anexa. A Central Paraná construiu, durante o período

de 1974/77, a nova usina e destilaria anexa (sendo a maior e a mais moderna

agroindústria do Paranapanema) com a capacidade de 5 milhões de sacas de

açúcar e 30 milhões de litros de álcool por ano.

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Os financiamentos provenientes do Fundo Especial de Exportação criado pelo

Instituto do Açúcar e do Álcool foram concedidos em bases muito favoráveis para as

empresas. Mas várias usinas do país acabaram se endividando, como é o caso da

Santa Lina e da Central Paraná no Vale do Paranapanema (com a construção da

nova usina e destilaria anexa). A usina Central Paraná, pertencente ao Grupo Atalla,

encontrou-se no final de 1978 e início de 1979 nas manchetes de revistas e jornais,

em virtude de sua enorme dívida ao governo federal. Sobre o assunto, Szmrecsányi

(1978, p. 69) diz:

Nem todas as usinas do país aplicaram de forma mais produtiva os

recursos assim obtidos, e tudo teria corrido às mil maravilhas se as

tendências do mercado internacional se tivessem mantido

inalteradas. Mas tal não aconteceu, e a partir do final de 1974 os

preços do açúcar nos mercados externos começaram a cair

abruptamente, passando de US$1,3 mil por TM em novembro

daquele ano para US$ 200 TM em 1978. As exportações voltaram a

se tornar gravosas, fazendo diminuir os recursos do Fundo Especial

de Exportação, bem como os níveis de preços pagos pelo Instituto do

Açúcar e do Álcool aos produtores, dificultando a amortização das

dívidas por eles contraídas.

O álcool, que na área sempre foi um subproduto do açúcar, em algumas

usinas do Vale do Paranapanema, como a Maracaí e Nova América, passou a ser

fabricado diretamente da cana-de-açúcar, devido à contenção atual de cotas de

açúcar pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (em virtude da crise de exportação a

partir de 1974). Outro fato de importância futura para a área canavieira do

Paranapanema foi que, a partir do PROÁLCOOL, surgiram várias destilarias

autônomas de álcool na área, cujas instalações estão se processando, e a sua

produção deveria iniciar-se no final da década de 1970 e início da de 1980. A única

destilaria que iniciou o seu funcionamento até o momento foi a Casquel S. A., no

município de Cambará3.

                                                            3 As destilarias de álcool autônomas criadas através do PROÁLCOOL no Vale do Paranapanema são as seguintes: Destilaria Alcídia S. A. (Teodoro Sampaio- SP), Londra Ltda. (Avaré-SP), Casquel (Cambará-PR), Major Infante S. A. (Santo Antônio da Platina-PR), Noroeste do Paraná S .A. (Paranavaí PR), Vale do Panema (Cornélio Procópio-PR), Cooperativa Agrícola de Astorga (Astorga-PR), Tavorense Ltda. (Joaquim Távora-PR), Norte Pioneiro Ltda. (Ribeirão do Pinhal-PR) .

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22 

 

Esses fatores resultaram, para o Vale do Paranapanema, numa continuidade

da expansão açucareira/ alcooleira em relação às décadas anteriores. A produção

açucareira do Vale do Paranapanema cresceu no período de 1970/71 a 1977/78, em

67%; o Estado de São Paulo em 68% e o Estado do Paraná em 33%. Nesse

período, o Vale do Paranapanema acompanhou o índice de crescimento do Estado

de São Paulo, ao contrário das décadas anteriores, quando o crescimento da

produção do açúcar do Paranapanema sempre apresentou um índice superior ao do

Estado de São Paulo. Isso ocorreu devido ao fato de as usinas do Paranapanema

terem procurado equipar-se para a ampliação da produção; mas, com a crise da

exportação, a partir de 1974, nem todas as agroindústrias da área conseguiram

complementar os seus projetos de ampliações. Desde 1974 a Santa Lina não

conseguiu concluir a moderna usina que está construindo ao lado da antiga. A

Central Paraná não conseguiu efetuar a sua capacidade de produção, que é de 5

milhões de sacas de açúcar e 30 milhões de litros de álcool.

Quanto à produção de álcool, o Vale do Paranapanema cresceu de 1970/71 a

1977/78 em 94%, o Estado de São Paulo em 151% e o Estado do Paraná em 73%.

O índice da produção de álcool do Paranapanema cresceu devido à criação de

novas destilarias e à ampliação das destilarias anexas às usinas existentes, e

deverá apresentar-se até o final da década com maiores perspectivas de

crescimento.

Essa grande expansão das propriedades usineiras e da produção de açúcar e

álcool a partir de 1971 está associada, conforme vimos anteriormente, ao Programa

de Racionalização da Agroindústria Açucareira (através do financiamento para a

fusão e racionalização das empresas agroindustriais canavieiras, visando uma maior

competitividade do açúcar brasileiro no mercado internacional).

Para a execução do Programa de Racionalização da Agroindústria

Açucareira, Mendes (1978), um dos autores desse programa, colocou que foi

proposta a necessidade de eliminar as pequenas usinas de açúcar do país

(consideradas as mais ineficientes do sistema), como também uma quantidade

muito grande de pequenos fornecedores de cana, considerados "marginais" do

ponto de vista econômico. E Mendes (1978, p. 114-115) diz:

Sendo os pequenos usineiros e pequenos fornecedores em maior

número no país, numa distribuição de frequência onde a variável

principal é o custo de produção, eles são os mais numerosos.

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23 

 

Frequências mais elevadas atraem ou fazem com que a média, e

mediana moda caminhem em direção a elas. Os pequenos

produtores, mais numerosos, determinam que os preços tendam a

ser maiores; as reivindicações e as pressões eram maiores para se

darem preços, que na verdade eram médios, mas estavam

sustentando produtores "economicamente marginais”, usineiros ou

fornecedores de cana.

Sobre esse Decreto-Lei no 1.186 (BRASIL, 1971a), Queda (1978, p. 108)

analisou-o e diz:

À visão romântica de como podem ser resolvidos os problemas

sociais contrapõe-se uma outra, desapaixonada, fria, tecnicista e que

pretende ser 'neutra'. É conduzida por 'grupos de trabalhos' formados

por 'peritos' e 'especialistas' a quem se delega a incumbência de

elaborar um parecer e propor sugestões. Ou melhor, formular um

diagnóstico e recomendar suas soluções. Já não existe mais o

compromisso de 'dividir' os benefícios, mas sim de 'maximizar' os

lucros. Os interesses da maioria, invariavelmente pensada como

humilde e ignorante, são descartados. Dos incapazes o mercado se

encarrega.

Esse Decreto-Lei "legalizou" os mecanismos que acelerariam os processos de

concentração de terras e rendas, levando à absorção de cotas pelas agroindústrias

em relação às propriedades fornecedoras (Figura 2), muito embora esses processos

de concentração já estivessem em curso no Vale do Paranapanema antes do citado

Decreto-Lei, como mostra a Tabela 1.

A Tabela 2 retrata essa situação de grande concentração de terras e rendas

no domínio açucareiro do Paranapanema a partir de 1971, estimulada pelo Decreto-

Lei nº 1.186. Na mesma tabela, podemos observar que o crescimento das terras

usineiras de 1970/71 a 1977/78 duplicou em apenas sete anos (com a aquisição de

novas terras e áreas arrendadas).

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24 

 

Tabela 2. O Crescimento das terras dos grupos Usineiros do Vale do Paranapanema

de 1970/71 a 1977/78.

Ano Áreas (ha) próprias Áreas (ha) arrendadas

Total (ha)

1970/71 53.651 - 53.651

1977/78 101.639 3.754 105.393 Fonte - Usinas de Açúcar e Álcool do Vale do Paranapanema.

Figura 2. Sítios do Ribeirão Vermelho.

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25 

 

No ano de 1971/72, as propriedades usineiras contribuíram com 55% da

produção de cana-de-açúcar industrializada e as propriedades fornecedoras com

45%; e no ano de 1977/78 as agroindústrias produziram 70% da cana-de-açúcar,

enquanto as propriedades fornecedoras produziram apenas 30%. Esse fato é a

resposta da revogação de vários dispositivos do Estatuto da Lavoura Canavieira,

favorecendo a concentração da produção nas mãos dos grupos usineiros.

4 - Bibliografia

BRASIL. Decreto nº 76.593, de 14 de novembro de 1975. Institui o Programa Nacional do Álcool e da outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 113, n. 219, 14 nov. 1975. Seção 1, p. 1-2. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.186, de 27 de agosto de 1971. Concede estímulos à fusão, incorporação e relocalização de unidades industriais açucareiras e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, v. 109, n. 164, 27 ago. 1971a. Seção 1, p. 1. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.266, de 26 de março de 1973. Dispõe Sobre o Fundo Especial de Exportação, Criado pela Lei 4.870, de 01 de Dezembro de 1965. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 111, n. 59, 27 mar. 1973. Seção 1, p. 1. BRASIL. Lei no 5.654, de 14 DE MAIO DE 1971. Dispõe sobre a produção açucareira do País e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 109, n. 91, 17 maio 1971b. Seção 1, p. 1. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil - 1975. Rio de Janeiro, v. 36, 1975, 960p. MENDES, C. Debates do simpósio sobre sócio economia canavieira. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 1113-148. QUEDA, O. Concentração de rendas e de terras: fenômeno geral ou particular?. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 107-112.

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26 

 

SZMRECSÁNYI, T. O IAA como órgão de planejamento e controle, atuação e redirecionamento. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 31-74.

5 – Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

ANDRADE, M. C. Comércio internacional e distribuição espacial da produção de açúcar no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 51, p. 15-30, 1976. BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. CARLI, G. de Gênese e evolução da indústria açucareira de São Paulo. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti Editores, 1943, 228p. MELO, M. L. de O Açúcar e o homem: problemas sociais e econômicos do Nordeste canavieiro. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1975, 304p. (Série Estudos e Pesquisas, nº4). QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p.

Resumo

O objetivo deste estudo é o de relacionar a política estabelecida pelo Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) no país, principalmente a partir da década de 1960 e executada na década de 1970, com os reflexos na área canavieira do Paranapanema. No início da década de 1970, a criação e a implantação do Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira passou a provocar grandes transformações na área do Paranapanema, como: a) grande expansão das propriedades usineiras; b) grandes investimentos na ampliação das moendas e destilarias; e c) aumento da produção de cana-de-açúcar das propriedades usineiras em detrimento das propriedades fornecedoras.

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27 

 

Abstract

The object of this study is to relate the established politics for the Sugar and Alcohol Institute (IAA) in the country, principally after 1960 and executed in 1970, with reflections on the cane-field of the Paranapanema area. In the first years of 1970, the creation and implantation of the Rationalization Program of the Agro-Industry Sugar provoked a great transformation on the Paranapanema area, such as: a) great expansion of the agro-industries properties; b) great investments on the ampliation of the mill-stones and distilleries; and c) increase of the production of sugar-cane in the agro-industries proper· ties in relation to the furnishing properties.

Nota

Referência completa original

BRAY, S. C. A política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de 1970 e seus

reflexos na área canavieira do Vale do Paranapanema. Boletim Paulista de

Geografia, São Paulo, n. 61, p.105-118, jul./dez.1984.

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28 

 

AS AGROINDÚSTRIAS E A FORMAÇÃO DO SETOR CANAVIEIRO

DE ARARAS1

Enéas Rente FERREIRA2

Sílvio Carlos BRAY3

1 - Introdução

Esse estudo visa contribuir com a questão açucareira-alcooleira paulista,

principalmente quanto à organização e expansão dos grupos usineiros nas áreas

canavieiras.

O Setor Canavieiro de Araras faz parte da área canavieira de Piracicaba, na

Depressão Periférica Paulista, compreendendo os municípios usineiros e

fornecedores da parte norte da área canavieira piracicabana (Figura 1).

A cana-de-açúcar apesar de existir nesse setor açucareiro/ alcooleiro desde o

final do século XVIII e início do século XIX - com pequenas engenhocas e

alambiques, fazendo parte do famoso quadrilátero açucareiro do Estado ele São

Paulo (PETRONE, 1968) - só passou a ter uma importância mais significativa a partir

de 1940 com a implantação de 8 usinas de açúcar e álcool, como expansão da área

canavieira de Piracicaba.

2 - A introdução e a expansão das agroindústrias açucareiras e alcooleiras.

Vários fatores de uma forma direta ou indireta contribuíram para a instalação

das usinas de açúcar no Setor Canavieiro de Araras no Estado de São Paulo, na

década de 1940. Segundo Bray (1980):

com a segunda guerra mundial (1939/45) ocorreu a interrupção do

comércio de cabotagem devido a guerra submarina que dificultou o

                                                            1 Esse artigo corresponde à análise, interpretações e conclusões, do material empírico que envolveu o trabalho de Especialização: As Políticas Açucareiras e Alcooleiras do País e Seus Reflexos no Setor Canavieiro de Araras (FERREIRA, 1983), desenvolvido através do auxílio do CNPq. 2 Pós·Graduação do IGCE-UNESP - Rio Claro. 3 Departamento de Planejamento Regional do IGCE-UNESP - Rio Claro.

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abastecimento do açúcar no Centro-Sul (na época ainda efetuado em

grande parte pelos produtores do nordeste). A demanda insatisfatória

que passou a haver, nos principais centros consumidores de açúcar

do país acabou determinando a expansão do parque açucareiro e da

lavoura canavieira em áreas que antes da II Guerra Mundial

importavam a maior parte do produto que consumiam, pois o

aumento do consumo interno açucareiro e alcooleiro, notadamente

na região Centro-Sul, motivou o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA)

a tomar medidas de incentivo através da abertura de quotas, para a

fundação de novas usinas de açúcar nos setores não tradicionais do

Centro-Sul a partir de 1940.

Figura 1. Localização das usinas e do setor canavieiro de Araras.

Entre as medidas tomadas pelo IAA, na década de 1940, citamos as que

tiveram importância na implantação das agroindústrias no referido setor, de acordo

com Melo (1946): Em abril de 1944 - as quotas de produção foram elevadas em

20%, além de liberar a produção num período de 5 anos safras, comprometendo-se

o IAA em transformar o açúcar em álcool ou exportar os excessos. No ano de 1945,

foram criadas mais quotas para novas usinas a serem instaladas em São Paulo e

demais Estados importadores de Centro-Sul num total de 700.000 sacos.

Neste contexto da década de 1940, instalaram-se as seguintes agroindústrias:

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30 

 

São João (1946), Santa Lúcia (1946) e Palmeiras (1948) no município de Araras;

São Jerônimo (1948) no município de Cordeirópolis; Tabajara (1947) no município

de Limeira; Santa Terezinha (1948) no município de Mogi-Guaçu; São Luiz (1947)

no município de Pirassununga e a Santana (1947) no município de Rio Claro (Figura

1).

A primeira e mais importante usina do setor é a Cia. Industrial e Agrícola São

João, município de Araras, cuja instalaçã0 está vinculada às dificuldades

enfrentadas pelo país, por ocasião da II Guerra Mundial. O Sr. João Ometto, em

1935, vindo de Piracicaba, adquiriu a Fazenda São João (então produção de café e

mandioca) e posteriormente começou a produção rudimentar de álcool, para suprir

as necessidades do difícil momento econômico brasileiro. A partir de 1946, o grupo

começa a produzir açúcar centrifugado para suprir o mercado consumidor paulista

(DINIZ, 1968).

Os proprietários da Usina Santa Lúcia (grupo Zancaner I Ometto) vieram de

Piracicaba, onde tinham larga experiência em engenhocas e alambiques. Saíram em

busca de novas áreas, longe da concorrência das grandes agroindústrias

piracicabanas. Em 1946 adquiriram terras no município de Araras e fundaram a

usina através dos incentivos do IAA.

Em 1947, no município de Pirassununga, instalava-se o grupo Dedini, de

Piracicaba, renomada organização do setor industrial brasileiro, que em seu plano

de diversificação de capitais, também atua diretamente no setor produtivo

agroindustrial canavieiro. Nesta ocasião foi fundada a Companhia Brasil Rural S/ A.

onde o grupo Dedini era minoritário e contava com 35% das ações. Com o decorrer

dos anos o grupo adquiriu propriedades vizinhas, e em 1960 passou a ser

majoritário e alterou a razão social da empresa para Açúcar e Álcool São Luiz S/A.

A Usina Tabajara, pertencente ao Grupo Gisto Ragosso, tradicional família

limeirense, foi fundada em 1947 ao norte do município de Limeira, localizando-se às

margens da rodovia Limeira/ Mogi-Mirim, com uma propriedade de 1.376,8 ha.

A quinta usina a instalar-se na área foi a Usina Santana S/ A Açúcar e Álcool

em 1947, no município de Rio Claro, de propriedade do grupo Coletti (Pedro Coletti

Junior e Antônio Coletti Sobrinho) e Leopoldo Dedini. Em 1962 essa agroindústria

passou ao Grupo Ometto, constituído por Luis Ometto, João Guilherme Ometto e

Luis Antônio Ometto. Os antigos proprietários da Usina Santana trabalhavam com

engenhos em Piracicaba e possuíam fazendas na região de Rio Claro, onde

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cultivavam laranja e eucalipto; sendo posteriormente substituídos pela cultura

canavieira, considerada bom investimento na época. A Usina Santana é de

dimensões modestas, com instalações precárias, ficando vários anos sem

investimentos, uma vez que seus diretores pensaram na desativação, devido a

proximidade com a Usina Iracema (Iracemápolis) pertencente também ao grupo

Ometto.

A fazenda Nova Louzã, de 1080 ha, pertencente ao grupo Vergueiro Leite,

municípios de Mogi-Guaçu e Espírito Santo do Pinhal, é a sede da Usina Santa

Terezinha, constituindo-se na sexta usina instalada no setor em estudo. Desde o

final do século passado, esta tradicional fazenda foi grande produtora de café,

tornando-se o sustentáculo de grande parcela da produção cafeeira da região. Com

o advento da grande crise que abalou a cafeicultura no início da década de 1930,

esta propriedade passou a cultivar cana-de-açúcar, fabricando a aguardente

"Paineiras". Em 1948, foi criada a Usina Santa Terezinha com o objetivo de produzir

álcool e açúcar, dispondo de uma quota inicial de 10.000 sacos de açúcar. A

empresa possuía 3120 ha por ocasião de sua venda para o Grupo Ometto em 1981.

A Companhia Agrícola e Industrial São Jerônimo foi criada em 1948, no

município de Cordeirópolis e possuía uma área de 1508 ha, tendo como proprietário

o Sr. Arlindo Paggiaro. Essa empresa foi a mais importante fonte de renda deste

município, até a sua extinção em 1972.

Em 1948, iniciaram-se as atividades da Açucareira Ararense S/ A Açúcar e

Álcool - Usina Palmeiras. No seu início era uma cooperativa constituída de 22

membros que estavam dispostos a fazer frente aos grandes grupos usineiros que se

implantaram na área. Diniz (1968) ao abordar o assunto diz:

a própria Usina Palmeiras que pertencia à Cooperativa de Produtores

de Cana transformou-se em Sociedade Anônima Companhia

Açucareira Ararense, embora a maior parte das ações permaneçam

com os antigos membros da cooperativa.

A consequência dessa transformação foi o desaparecimento do fornecimento

de cana própria para a usina uma vez que esses membros tornaram-se

fornecedores.

Segundo Szmrecsányi (1979), a década de 1950 foi marcada pela expansão

da agroindústria canavieira. Em São Paulo, passou a ser crescente o aumento de

quotas de produção e do número de usinas.

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32 

 

Nesta contingência, surge a última usina a se instalar no Setor Canavieira de

Araras, a Usina Cresciumal S/ A (Leme). Esse fato ocorreu em 1958, quando o

grupo Souza Queiroz comprou uma destilaria de 10 mil litros da Usina Tamandupá

(Piracicaba) e mais o direito sobre a quota de produção de açúcar, instalando a

destilaria e a usina na Fazenda Cresciumal (Leme), que até então era grande

produtora de algodão.

Conforme Tabela 1, a produção de açúcar do Estado de São Paulo cresceu

256% na década de 1950, atingindo na safra de 1960/61 -- 23.373.077 sacos.

Acompanhando esse crescimento a Zona de Piracicaba cresceu 193% e o Setor de

Araras aumentou em 294%. Nesse mesmo período cresceu também a produção de

álcool (Tabela 2), havendo um acréscimo de 421% na produção do Estado de São

Paulo, 334% na Zona de Piracicaba e 927% no Setor de Araras.

Tabela 1. Produção açucareira do Estado de São Paulo, Zona de Piracicaba e Setor de Araras (Sacos de 60 kg).

Anos

Estado de São Paulo Zona de Piracicaba Setor de Araras em relação à Zona de

Piracicaba

n. os

absolutos n. os

índices n. os

absolutos n. os

índices n. os

absolutos n. os

índices

1950/51 6.729.784 100 2.941.003 100 533.595 100

1960/61 23.373.077 247 8.623.634 193 2.106.272 294

1970/71 43.279.144 35 16.319.952 89 3.465.793 64

1980/81 64.039.133 47 17.251.381 5 4.318.750 24 Fonte: IAA e Usinas do Setor Canavieiro de Araras.

A política que influenciou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no

Brasil durante a década de 1960, teve segundo Szmrecsányi (1978) dois objetivos:

incrementar as exportações brasileiras de açúcar; e ampliar a capacidade produtiva

das usinas e das lavouras de cana. Pois ela se baseava na capacidade ociosa então

existente nas usinas do Centro-Sul e os excedentes exportáveis do Nordeste que

seriam rapidamente absorvidos pela crescente demanda interna e externa do

produto.

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33 

 

Tabela 2. Produção açucareira do Estado de São Paulo, Zona de Piracicaba e Setor de Araras (Litros).

Anos

Estado de São Paulo Zona de Piracicaba Setor de Araras em relação à Zona de

Piracicaba

n. os absolutos n. os

índices n. os

absolutos n. os

índices n. os

absolutos n. os

índices

1950/51 51.172.271 100 21.047.338 100 2.531.623 100

1960/61 266.734.994 421 91.451.000 334 26.018.885 927

1970/71 453.101.135 69 157.729.000 72 60.129.000 131

1980/81 2.607.895.000 475 666.840.000 322 215.784.000 258 Fonte: IAA e Usinas do Setor Canavieiro de Araras.

O professor Andrade (1976) aponta várias causas que contribuíram para o

crescimento de nossas exportações a partir da década de 1960: entre elas merecem

destaque a Revolução Cubana, com o consequente rompimento das relações entre

Cuba e Estados Unidos, resultando na exclusão do açúcar cubano do Mercado

Preferencial Norte-Americano. O Brasil, e uma série de outros países produtores de

açúcar são diretamente beneficiados, pois receberam a incumbência de preencher a

lacuna deixada por Cuba. A região Centro-Sul, por estar mais bem equipada,

implantou novas usinas e a agricultura melhorou a produtividade, conseguindo fazer

do açúcar brasileiro um produto com preços competitivos no mercado internacional.

Além desses aspectos, tivemos uma política de comércio exterior mais agressiva e

uma ascensão dos preços do açúcar no mercado mundial.

3 - A década de 1970: as políticas do IAA, a criação do PROÁLCOOL e o

crescimento dos grupos usineiros.

No final da década de 1960 e início da de 1970, ocorreram profundas

modificações a níveis internos como externos, que provocaram sensíveis alterações

no setor agroindustrial canavieiro nacional. A nível interno, a primeira medida do

IAA, no campo agronômico foi o Ato n.º 11/69, de 27/05/1969 (IAA, 1969)

estabelecendo o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar

(PLANALSUCAR), passando a contar com a Coordenadoria Geral do Laboratório de

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34 

 

Piracicaba, duas Coordenadorias Regionais no Nordeste - Rio Largo (AL) e Carpina

(PE) - e no Centro-Sul implantam a Coordenadoria Regional de Campos (RJ) e a

Estação Experimental de Cana-de-Açúcar de Araras (SP), comprovando dessa

maneira a importância nacional desses setores canavieiros (SZMRECSÁNYI, 1979).

Visando modernizar o setor agroindustrial canavieiro, estabeleceu o Decreto-

lei no 1.186 em 27/08/1971 (BRASIL, 1971a), criando o Programa de Racionalização

da Agroindústria Açucareira, posteriormente denominado de Programa de Apoio à

Agroindústria Açucareira. Esse programa dava prioridade ao financiamento para

fusão e racionalização das empresas agroindustriais canavieiras, como também, a

implantação de armazéns e a modernização dos portos de exportação açucareira:

Maceió, Recife e Santos (SZMRECSÁNYI, 1979).

A através desse decreto-lei, concedeu-se estímulos à fusão e incorporação de

usinas, principalmente as de baixa produtividade e produção. No Estado de São

Paulo, esse decreto-lei foi o principal responsável pelo encerramento das atividades

de 23 usinas de cana-de-açúcar, contra apenas 4 novas usinas implantadas (Tabela

3).

Tabela 3. Implantação e fechamento de usinas no Estado de São Paulo, anos antes de 1940 a 1980.

Antes de 40 Década 40 Década 50 Década 60 Década 70

Implantação 33 49 21 04 04

Fechamento - 03 05 05 23

Fonte: Documentos do IAA.

Essas medidas de fusão de empresas traçadas pelo governo federal no final

da década de 1960 e início da de 1970, refletiu no Setor Canavieiro de Araras

através de incorporações das seguintes usinas: em 1968 a Usina Tabajara (Limeira)

pertencente ao grupo Ragosso foi vendida de anexada ao grupo Bonifácio Nogueira

proprietários da usina Esther (Cosmópolis). No final de 1972, a segunda grande

transação comercial do setor foi a venda da Usina São Jerônimo (Cordeirópolis) de

propriedade do grupo Arlindo Paggiaro para o grupo Ometto da Usina São João

(Araras). Na safra de 1980/81 o grupo Vergueiro Leite proprietário da Usina Santa

Terezinha (Mogi-Guaçu) entregou a empresa para a Copersucar com o objetivo de

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saldar as suas dívidas. Nesta mesma safra o grupo Ometto (Usina São João-Araras)

adquiriu a empresa e a equipou com maquinários modernos.

As exportações brasileiras atingiram em 1972, a quantia de 2335 toneladas

métricas, com um valor de US$ 404 milhões correspondendo a 17,3% do total do

açúcar comercializado no Mercado Mundial. Esse “boom” deve-se a fatores

conjunturais e estruturais de grande número de países, indo desde a reorganização

da produção de açúcar, em função das quotas estabelecidas pelo Acordo

Internacional de 1968, até o declínio da produção cubana do açúcar; como também,

a redução das colheitas de beterraba dos países da Europa Ocidental durante a

safra de 1971/72. Contudo, os preços continuavam em alta, e no ano de 1974, as

exportações brasileiras atingiram o ápice de US$ 1.100 milhões; porém a

participação brasileira no mercado internacional foi de 10,3 %, mostrando uma

sensível queda em relação ao ano de 1972, dando mostra de uma recuperação por

parte dos países produtores de açúcar (MELO; FONSECA, 1981).

Neste período de euforia, o Brasil chega a ser o primeiro exportador mundial

de açúcar, ultrapassando a produção cubana. Como os preços pagos aos

produtores pelo IAA, do açúcar exportado, eram inferiores ao preço real de venda,

foi estabelecido pelo governo federal, o Fundo Especial de Exportação (Decreto-lei

no 1.266. de 26/03/1973 (BRASIL, 1973)) dispondo sobre o melhor destino a ser

dado ao saldo do referido fundo (SZMRECSÁNYI, 1979).

Esse fundo foi utilizado para a modernização de equipamentos industriais,

incorporações de usinas, compras de terras, mecanização, implementos agrícolas e

criação de uma melhor infraestrutura para exportação do açúcar. No tocante ao

setor em estudo, a Usina São João (Araras), adquiriu mais uma moenda perfazendo

o total de 3 moendas, e mais 3 aparelhos de destilarias com capacidade de produzir

430.000 litros/álcool/dia, somando um total de 610.000 litros/álcool/dia. A Usina São

Luiz (Pirassununga) adquiriu e instalou 2 ternos de moendas e mais 7 turbinas

automáticas para secagem de açúcar. Instalou-se também, uma destilaria com

capacidade de 90.000 litros/álcool/dia. A Usina Palmeiras (Araras) introduziu

reformas e instalou turbinas a vácuo para a secagem do açúcar e instalou sua

segunda destilaria. A Usina Santana (Rio Claro), trocou caldeiras, moendas e

evaporadores.

Sobre os efeitos do Fundo de Exportação, Andrade (1981) tem a seguinte

opinião:

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O reequipamento industrial das usinas e a relocalização para áreas

diversas, menos disputadas e de terras mais baratas, provocou,

naturalmente a concentração de renda, de vez que os empréstimos

eram feitos a juros negativos e com período de carência ponderáveis,

fazendo expandir a cana-de-açúcar por áreas anteriormente

dedicadas às culturas de alimentos.

Fatores conjunturais externos vieram aniquilar as pretensões brasileiras, de

firmar-se como país exportador de açúcar. A queda do produto foi consequência do

Brasil ter perdido o Mercado Preferencial Norte-americano em 31/12/1974, bem

como tornou-se sem efeito o Acordo Açucareiro da Comunidade Britânica quando do

ingresso da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu (SZMRECSÁNYI, 1979).

Juntamente à política de exportação do açúcar, a década de 1970, também

foi marcada pela política de apoio à produção do álcool anidro carburante, em

decorrência da conjuntura petrolífera mundial e do malogro da exportação brasileira

de açúcar, pós 1974. Em 14 de novembro de 1975 foi criado o Programa Nacional

do Álcool, pelo Decreto-lei no 76.593 (BRASIL, 1975), visando expandir a produção

de álcool, através da implantação de destilarias que utilizassem a cana-de-açúcar, a

mandioca e outros vegetais como matérias-primas; e promover a gradativa mistura

de 20% de álcool à gasolina e desenvolver a utilização do álcool para a indústria

química, em substituição aos derivados do petróleo e do carvão (ANDRADE, 1981).

O governo federal passa a financiar novas destilarias para produção de álcool

direto. Desde a criação do PROÁLCOOL até 24/05/1982, foram aprovadas e

financiadas as propostas de 383 novas destilarias no país, sendo 175 anexas e 208

autônomas, tendo um financiamento global de Cr$ 88.661.521.000,00

(PROÁLCOOL).

Uma amostra do que acabamos de dizer acontece no Setor Canavieiro de

Araras, onde temos a implantação de 6 (seis) destilarias anexas aos grandes grupos

locais, sendo 2(duas) para a Usina São João, 2 (duas) para a Usina São Luiz, 1

(uma) para a Usina Cresciumal e mais uma para a Açucareira Ararense (Palmeiras).

Com respeito às destilarias autônomas, a destilaria São João Ltda., de propriedade

do grupo Dedini (Usina São Luiz), achou por bem implantar esta destilaria no

município de São João da Boa Vista, tentando assim, ficar fora da área de

concorrência das agroindústrias do Setor Canavieiro de Araras.

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As políticas do IAA dos fins da década de 1960 e início da de 1970 e a

criação do PROÁLCOOL resultou num aumento acelerado das terras do setor

canavieiro-açucareiro e alcooleiro de Araras pelos grupos usineiros. Observando a

Tabela 4, a área de terras próprias e arrendadas das usinas de 1970 para 1980,

cresceu de 28.418 ha para 71.733 ha; sendo que, mais de 50% dessas terras

pertence ou está sob o arrendamento da Usina São João (Grupo Ometto).

No início da década de 1970, devido aos altos preços alcançados pelo açúcar

no mercado internacional e os incentivos do Fundo Especial de Exportação, os

grupos usineiros do setor em estudo investiram principalmente na modernização dos

equipamentos industriais, mecanização agrícola e na aquisição de grandes áreas de

terras, pois até 1973 o preço da terra não estava inflacionado e permitia um bom

investimento para a ampliação da área de cana e como reserva de valor. Mas, após

1974 com a crise do preço do açúcar no mercado internacional (quebra do Fundo

Especial de Exportação) e com a implantação do Proálcool, os investimentos dos

grupos usineiros na área, foram direcionados mais para a implantação de novas

destilarias de álcool, do que na aquisição de terras; pois, o preço da terra aumentou

com a inflação e passou a ocorrer um verdadeiro "rush", como também uma acirrada

disputa dos grupos usineiros à procura de terras para arrendamento. Atualmente,

conforme podemos constatar na Tabela 4, as terras arrendadas somam um total de

30.580 ha, ocupando 40% do total das terras sob domínio dos grupos usineiros.

Esse crescimento das usinas através da monopolização das terras no setor

canavieiro de Araras foi acompanhado pela ampliação das áreas plantadas em

cana-de-açúcar. Em 1970, a área de cana das usinas passou de 26.623 ha para

49.835 ha em 1980. O total de cana moída para açúcar e álcool foi de 2.138.941

toneladas em 1970, e atingiu 4.874.251 toneladas em 1980, com um índice de

crescimento de 127%. Conforme as Tabelas 1 e 2 podemos notar que na área em

estudo o índice de crescimento da safra de 1970/71 para 1980/81 da produção de

açúcar caiu para 24%, devido a contenção de quotas de açúcar pelo IAA em função

da crise açucareira mundial. Por outro lado, com os incentivos do PROÁLCOOL, a

produção alcooleira cresceu na área da safra de 1970/71 para 1980/81 em 258%,

ocorrendo uma transformação no setor açucareiro-alcooleiro, pois o crescimento da

área plantada em cana-de-açúcar na última década foi destinada principalmente

para a produção de álcool.

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Tabela 4. O crescimento das terras dos grupos usineiros do Setor Canavieiro de Araras, de 1970/71 a 1980/81.

1970/71 1980/81

Usinas

Áreas próprias e Arrendadas

(ha)

Áreas Próprias (ha)

Áreas Arrendadas

(ha) TOTAL

São João 13.000,00 26.846,00 18.020,00 44.866,00

São Luiz 7.255,00 4.158,22 8.049,00 12.207,22

Palmeiras 1.432,64 1.328,58 377,52 1.706,10

Santa Lúcia 2.074,22 2.879,00 790,15 3.669,15

Cresciumal 3.059,35 4.358,00 2.300,00 6.658,00

Santana 1.595,90 1.582,40 1.044,20 2.626,60

TOTAL 28.418,11 41.152,20 30.580,87 71.733,07 Fonte: Usinas do Setor Canavieiro de Araras.

4 - Conclusão

Os usineiros, que estavam acostumados à obterem lucros significativos, até

meados da década de 1970, quando da boa atuação do açúcar brasileiro no

Mercado Externo, agora queixam-se do governo federal, por terem que direcionar

suas agroindústrias para a produção de álcool, em grande parte estocado,

esperando o escoamento que acontece em ritmo lento, muito abaixo do esperado.

Por sua vez, o açúcar também não encontra bom escoamento no mercado externo,

e a medida encontrada pelo governo foi de repassar os déficits do setor para o

consumidor, aumentando o preço do açúcar para o mercado interno, colaborando

para a diminuição da venda desse produto.

O Estado nacional com o PROÁLCOOL resolveu o problema do usineiro

socorrendo a burguesia açucareira, comportando-se como um autêntico agente da

burguesia nacional; e se cuja interferência e ajuda constante não existisse essa

classe não poderia superar as esmagadoras pressões das burguesias

internacionais.

Em síntese, o Setor Canavieiro de Araras é palco de acirrada disputa entre os

grupos usineiros, em busca de terras que possam ser utilizadas pela cultura

canavieira. Atualmente os grupos penetram em municípios mais distantes, sempre

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em busca de terras, as agroindústrias estão altamente mecanizadas, sendo capazes

de preparar e plantar em qualquer área, em curto espaço de tempo. Com a elevação

constante dos preços dos insumos agrícolas, fica cada vez mais difícil, aos

pequenos e médios proprietários, manterem suas terras com culturas industriais e

alimentícias, preferindo arrendar suas propriedades para os grupos usineiros, que

oferecem sempre a vantagem de um retorno certo através de uma renda fixa anual.

5 - Bibliografia

ANDRADE, M. C. Comércio internacional e distribuição espacial da produção de açúcar no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 51, p. 15-30, 1976. ANDRADE, M. C. Estado, capital e industrialização do Nordeste. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, 101p. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.186, de 27 de agosto de 1971. Concede estímulos à fusão, incorporação e relocalização de unidades industriais açucareiras e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, v. 109, n. 164, 27 ago. 1971a. Seção 1, p. 1. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.266, de 26 de março de 1973. Dispõe Sobre o Fundo Especial de Exportação, Criado pela Lei 4.870, de 01 de Dezembro de 1965. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 111, n. 59, 27 mar. 1973. Seção 1, p. 1. BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. DINIZ, J. A. F. Organização agrária do Município de Araras. 1968. Tese (Doutorado), Faculdade de Filosofia e Ciências e Letras, Rio Claro, 1968. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Ato nº. 11-69, de 27 de maio de 1969. Aprova o Plano de Trabalho elaborado pela Divisão de Assistência à Produção. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 107, n. 110, 13 jul. 1969. Seção 1, Parte 2, p. 1434-1435. MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais).

Page 38: Parte 1 - A agroindústria sucroalcooleira nas Áreas ... · Açucareira”, no qual as pequenas usinas e a grande maioria dos fornecedores são considerados descartáveis da cadeia

40 

 

MELO, M. L. de Questões açucareiras, Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, ano 14, v. 28, n. 2, p. 128-131, 1946. PETRONE, M. T. S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968, 241p. SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p. SZMRECSÁNYI, T. O IAA como órgão de planejamento e controle, atuação e redirecionamento. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 31-74.

6 – Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

BRASIL. Lei no 5.654, de 14 DE MAIO DE 1971. Dispõe sobre a produção açucareira do País e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 109, n. 91, 17 maio 1971b. Seção 1, p. 1. BRAY, S. C. A política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de 70 e seus reflexos na área canavieira do Vale do Paranapanema. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 61, p.105-118, jul./dez. 1984. CARLI, G. de Civilização do açúcar no Brasil. Revista Brasileira de Geografia. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 349-371, jul. 1940. CARLI, G. de Gênese e evolução da indústria açucareira de São Paulo. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti Editores, 1943, 228p. DANTAS, J. Sertãozinho: uma sociedade dependente da lavoura canavieira e da agroindústria açucareira. 1976. Tese (Doutorado). Instituto Isolado Municipal da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, São José do Rio Pardo. FERREIRA, E. R. As políticas açucareiras e alcooleiras do País e seus reflexos no Setor Canavieiro de Araras. 1983. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Desenvolvimento Rural), Departamento de Planejamento Regional, Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro. 1983 GRAHAN, R. Grã-Bretanha e o início da modernização no Brasil. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1973, 380p.

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41 

 

LOMBARDO, M. A. Economia de mercado e organização do espaço agrário: o exemplo de Cordeirópolis. 1978, 141f., (Mestrado), Departamento de Geografia, Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1978. MELO, M. L. de O Açúcar e o homem: problemas sociais e econômicos do Nordeste canavieiro. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1975, 304p. (Série Estudos e Pesquisas, nº4). OLIVEIRA, A. U. Agricultura e indústria no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, AGB, São Paulo, n. 58, set. 1981, p.5-64. QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SAMPAIO, S. S. Geografia industrial de Piracicaba, um exemplo de integração indústria-agricultura. São Paulo: Universidade de São Paulo, Instituto de Geografia (Série Teses e Monografias n. 21), 1976, 199p. SANCHEZ, M. C. Característica do comportamento espacial da lavoura canavieira no Estado de São Paulo entre 1920-1970. Boletim de Geografia Teorética: Rio Claro, v. 10, n. 19, p. 48-60, 1980. SINGER, P. L Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1968, 377p. THOMAZ JR., A. As agroindústrias e as propriedades fornecedoras de cana-de-açúcar no Município de Jaboticabal. 1983. Trabalho de Iniciação Científica (Graduação em Geografia), Departamento de Planejamento Regional – IGCE/UNESP, Rio Claro, 1983. WANDERLEY, M. N. B. Capital e propriedade fundiária: suas articulações na economia açucareira. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1978. 145p.

Nota

Referência completa original

FERREIRA, E. R.; BRAY S. C. As agroindústrias e a formação do Setor Canavieiro

de Araras. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 25, p. 57-68. 1983.

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42 

 

AS POLÍTICAS DO INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL E DO

PROGRAMA NACIONAL ÁLCOOL E SUAS INFLUÊNCIAS NA ÁREA

AÇUCAREIRA – ALCOOLEIRA DE CATANDUVA.

Sílvio Carlos BRAY1

O presente trabalho teve por objetivo, analisar as questões, entre a agricultura

canavieira e o Estado Nacional, principalmente através das influências dos decretos

e políticas agrícolas do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA) e do Programa Nacional

do Álcool (PNA), num setor açucareiro/alcooleiro de estruturação recente

denominada de Área Canavieira de Catanduva. O enfoque principal da pesquisa, foi

o de verificar através dos estudos das agroindústrias de açúcar e álcool, os reflexos

do planejamento da agroindústria canavieira nacional, na produção do espaço rural

canavieiro em estudo nas últimas décadas.

Figura 1. Área canavieira de Catanduva.

                                                            1 Departamento de Planejamento Regional, IGCE, UNESP - Rio Claro.

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A área canavieira de Catanduva localiza-se no Médio Planalto Ocidental

Paulista, no setor Centro-Norte do Estado, denominado de Média Araraquarense.

Esse complexo agroindustrial canavieiro, açucareiro e alcooleiro de Catanduva, é

constituído por 19 municípios usineiros e fornecedores, conforme Figura 1.

Entretanto, apesar das primeiras usinas de açúcar e álcool terem iniciado

suas implantações nessa região canavieira, no início dos anos 50 (Tabela 1), a área

em estudo só se estruturou de fato, a partir da segunda metade da década de 1970,

através da fundação das novas destilarias autônomas, a partir da criação do

PROÁLCOOL.

A área de Catanduva é considerada o sexto núcleo canavieiro do Estado de

São Paulo a se consolidar, após as regiões de Piracicaba, Ribeirão

Preto/Sertãozinho, Araraquara, Jaú e Vale do Paranapanema.

Atualmente, a região canavieira de Catanduva é constituída por 4 usinas de

açúcar e álcool e 4 destilarias autônomas de álcool, conforme a Tabela 1 e Figura 2.

Tabela 1. As agroindústrias de açúcar e álcool da área canavieira de Catanduva

Usinas e Destilarias Ano de Fundação Municípios

São Domingos 1952 Catanduva

Catanduva 1952 Catanduva (Atualmente

Ariranha)

Cerradinho (antiga Romão)

1963 Catanduva

São José da Estiva (ex-Usina Chibarro de

Araraquara) 1963 Novo Horizonte

Colombo 1976 Ariranha

Nardini 1978 Vista Alegre do Alto

Itajobi (Destil.) 1980 Itajobi

Santa Isabel 1981 Novo Horizonte

Fonte: IAA. e PNA.

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44 

 

Figura 2. Localização do complexo agroindustrial canavieiro de Catanduva.

Para a realização do trabalho proposto, procuramos dividir o mesmo em

quatro itens básicos, para chegarmos a uma explicação sobre as Influências das

Políticas do IAA e do PROÁLCOOL na formação e consolidação da área em estudo

e das condições atuais das agroindústrias.

No primeiro, analisamos a fundação das quatro usinas de açúcar e álcool

existentes, através do contexto das políticas do IAA em função da expansão do

mercado interno de açúcar na década de 1950 e a abertura para o mercado externo

do produto após a década de 1960.

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No segundo, abordamos um período de cinco anos - 1971 a 1975 - que

correspondeu ao maior impacto da modernização do setor açucareiro nacional, em

virtude do "boom" da exportação do açúcar e ao mesmo tempo, a crise que abalou

esse período, com a queda do preço do açúcar no mercado exterior.

No terceiro, enfocamos o surgimento do Programa Nacional do Álcool pós 75

- nas suas duas fases - com a implantação das destilarias anexas e das novas

destilarias autônomas.

No quarto, partimos do estudo das agroindústrias na área, abordando o

monopólio das terras e da produção pelos grupos usineiros, e a diminuição gradativa

da participação dos fornecedores, além do aumento das terras arrendadas pelos

grupos usineiros.

1 - O processo de formação da área açucareira e alcooleira de Catanduva: a

implantação das primeiras usinas de açúcar e álcool.

A área canavieira de Catanduva começou a se estruturar no início da década

de 1950, com a fundação de duas usinas de açúcar e álcool nos anos de 1952 e

1953, no município de Catanduva.

Nessa época, o Estado de São Paulo possuía além da importante e

tradicional área Canavieira de Piracicaba na Depressão Periférica, mais duas novas

áreas açucareiras alcooleiras do Planalto Ocidental: a de Ribeirão Preto e a de

Araraquara. Além dessas, duas áreas se consolidavam: a de Jaú e a do Vale do

Paranapanema.

De acordo com Szmrecsányi (1978)

a década de 1950 transcorreu sob o signo da expansão, da

agroindústria canavieira no Brasil. Essa expansão foi determinada

em boa parte pela crescente demanda do mercado interno, devido

aos efeitos de uma intensa industrialização e urbanização no centro-

sul do país. Esse crescimento da produção açucareira superou

amplamente o seu consumo, e fez com que o país voltasse a figurar

entre os grandes exportadores do produto. Essa expansão da

agroindústria açucareira foi acompanhado e promovido pelo I.A.A.

Em fevereiro de 1951, Szmrecsányi (1978) mostra que o IAA divulgou a

Resolução no 501, fixando novas normas para a expansão da produção açucareira

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do país. Essa resolução baixada às vésperas do governo Vargas, previa que a maior

parte dessa produção continuaria concentrada no nordeste, e que Pernambuco

ainda seria, até a safra de 1956/57, o principal Estado produtor de açúcar. Embora,

o maior reajuste em termos absolutos, tivesse sido concedido às usinas de São

Paulo, e percentualmente, ao Estado do Paraná, parece inegável que a distribuição

espacial que consta na Resolução no 501, subestimou as potencialidades de Centro-

Sul.

Através dessa resolução, o IAA aumentou em 10.000.000 a quota da

produção de açúcar do país, cabendo a São Paulo 2.710.000 sacas, destinadas a

atender o consumo interno com uma previsão até à safra de 56/57. A medida de

caráter geral foi tomada, tendo em vista o aumento de consumo para satisfazer as

necessidades do mercado interno.

Essa resolução do IAA também abriu perspectivas para a ampliação da

produção açucareira fora das áreas tradicionais do Estado de São Paulo, sendo

muito importante para o aparecimento das primeiras usinas na área de Catanduva, a

oeste das zonas canavieiras de Ribeirão Preto e Araraquara. Sobre o assunto, o Sr.

Fulvio Morganti (1951) na época vice-presidente da Associação dos Usineiros de

São Paulo diz:

As novas fábricas deverão ser situadas em locais que não

prejudiquem o fornecimento da matéria-prima e a natural expansão

das usinas já em funcionamento, e em terras cuja fertilidade e

produtividade em canas-de-açúcar, já tenham sido experimentados

com bons resultados.

Com os incentivos do IAA e as pressões dos grupos usineiros das áreas

tradicionais no deslocamento de novas usinas fora de concorrência da expansão

monopolista de terras, surgiram as Usinas São Domingos e a Catanduva em 1952. A

Usina São Domingos foi fundada no município de Catanduva sob a denominação de

Sanches, Motta, Ltda., grupo local. Em maio de 1955, alterou sua razão social para

Sanches & Cia. Ltda. Em fevereiro de 1961, transformou-se em sociedade anônima

Usina São Domingos - Açúcar e Álcool S/ A, continuando até os dias de hoje

pertencente à família Sanches.

A outra usina fundada foi a Catanduva no ano de 1953 pelo grupo local

Ruete de Oliveira que comprou o maquinário de fabricação Dedini, da Usina de

Itapira. Atualmente localiza-se no município de Ariranha (antigo Distrito de

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47 

 

Catanduva). Pertenceu ao grupo Ruete de Oliveira até 1971, sendo adquirida por

mais de 100 acionistas da região.

Também gostaríamos de salientar nesse período, que a taxa de crescimento

do consumo nacional, que desde 1939 foi de 4,9% ao ano, atingiu em 1951 a taxa

de 6%. Com a ampliação do consumo de açúcar no mercado interno, o IAA baixou a

Resolução n.º 647 de 6 de fevereiro de 1952, dando um novo reajuste no

contingente global da produção açucareira do país, elevando para 36.700.000 de

sacas, quantidade esta, que pelas projeções anteriores, só iria ser alcançada na

safra de 1956/57. Esse aumento foi distribuído entre os Estados e Usinas de modo

proporcional, aos limites anteriores da Resolução n.º501.

A produção nacional de açúcar cresceu muito a partir do início da década de

1950. De 24.800.000 sacas na safra de 1950/51, passou para 35.400.000, na safra

de 1954/55. Na safra de 1956/57, a produção atingiu 37.500.000 sacas, sendo

33.500.000 para o mercado interno e 4.000.000 para exportação. A melhoria do

mercado interno levou o IAA, através da Resolução nº 1.284, de 20/12/1957, a

elevar o contingente global das usinas do país para 47.700.000 sacas. A ampliação,

deveria ser repartida entre as quotas das usinas proporcionalmente à maior

produção alcançada, por cada uma delas, no quinquênio imediatamente anterior.

Esse critério de repartição acabou com a distribuição espacial da produção

açucareira por Estados, tal como fora estabelecido anteriormente por decreto e

resoluções. A partir dessa resolução passou a ocorrer a hegemonia da agroindústria

do centro-sul, e mais especificamente, das usinas de São Paulo. Mas o grande salto

ocorreu na safra de 1958/59, quando a produção nacional atingiu 53.700.000 sacas.

A única solução a curto prazo foi mais uma vez, o de intensificar as exportações,

que ia de encontro aos interesses do governo federal, para cobrir o valor das

importações do país (SZMRECSÁNYI, 1978).

Na época, o único mercado que as exportações brasileiras de açúcar tinham

acesso, era o chamado "Mercado Livre Mundial", que se encontrava saturado.

A expansão da agroindústria açucareira principalmente a de São Paulo, na

década de 1950, pode ser observada na Tabela 2, onde o Estado de São Paulo teve

um índice de crescimento acima de 250%.

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Tabela 2. Produção de açúcar em sacas de 60 kg, nas safras 1950/51, 1954/55 e 1958/59.

Ano São Paulo Brasil Usinas de Catanduva

1950/51 6.729.784 24.800.000 -

1954/55 13.167.944 33.500.000 81.109

1959/60 20.859.885 50.864.051 219.243

Nessa conjuntura de crescimento do parque açucareiro paulista, a década de

60 se caracterizou principalmente pela busca do IAA, de novas vinculações ao

mercado mundial.

Andrade (1976) apontou várias causas que contribuíram para o crescimento

das nossas exportações a partir da década de 1960.

1.º A implantação do sistema socialista em Cuba que veio contrariar os

interesses das empresas norte-americanas proprietárias das grandes agroindústrias

de açúcar daquele país, e que cancelaram a quota do fornecimento de açúcar

cubano ao mercado norte-americano.

2.º A expansão da agricultura canavieira em áreas mais favoráveis, sobretudo

no Sudeste e Sul, onde se pode fazer uma agricultura com maior índice de

mecanização e obter uma mais elevada produtividade agrícola, com a diminuição

dos custos de produção.

3.º A política de comércio exterior mais agressiva pelo governo brasileiro.

4. º Além da ascensão dos preços do açúcar no mercado mundial.

A política que influenciou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no

Brasil, durante a década de 1960, tinha segundo Szmrecsányi (1978), dois objetivos:

a) incrementar as exportações brasileiras de açúcar;

b) ampliar a capacidade produtiva das usinas e das lavouras de

cana, pois, ela se baseava na capacidade ociosa então existente nas

usinas do Centro-Sul e os excedentes exportáveis do Nordeste, que

seriam sofridamente absorvidos pela crescente demanda interna e

externa do produto.

De acordo com Szmrecsányi (1978) as primeiras medidas concretas com

vistas para a exportação de açúcar, foram através dos decretos nº 50.818, de

22/06/1961 e no 51.104, de 01/08/1961 criando respectivamente a Divisão de

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Exportação do IAA e o Fundo de Recuperação da Agroindústria Canavieira. Ainda

no mesmo ano em 17 /11/ 1961, foi criado no IAA. um Fundo de Consolidação e

Fomento da Agroindústria Canavieira, sendo a motivação principal desse decreto, o

de "criar as condições para o surto das vendas brasileiras de açúcar no Exterior".

Outro aspecto a salientar nesse período segundo Szmrecsányi (1978) foi a

importância dada pelo governo federal ao planejamento a longo prazo, e o desejo de

integrar o crescimento da agroindústria canavieira aos demais setores da economia

nacional, firmando em junho de 1962, através do IAA, um convênio com o Banco do

Brasil - visando o amparo financeiro de projetos destinados a assegurar um melhor

aproveitamento da terra nas zonas canavieiras, garantindo um abastecimento

regular da matéria-prima para agroindústria. No ano de 1963, o IAA organizou um

"Programa Diretivo para a Política Açucareira Alcooleira" e posteriormente recebeu o

nome de "Plano de Expansão da Indústria Açucareira Nacional" através das

Resoluções no 1.761 e 1.762, de 12/12/1963, passando a produção açucareira

nacional para 100.000.000 até 1971, sendo 80.000.000 para o mercado interno e

20.000.000 para o mercado externo e para a formação de um estoque regulador.

Cerca de 60% da produção adicional seriam das usinas já existentes e outros 40%

das novas usinas que haviam sido previstos pelo "Plano de Expansão da Indústria

Açucareira Nacional".

Com o novo "Plano de Expansão" nesse início da década de 1960, surgiram

mais duas usinas de açúcar e álcool na área de Catanduva, a Cerradinho e a São

José da Estiva. A usina Cerradinho (antiga Romão) foi fundada em abril de 1963, no

município de Catanduva, pela família Romão, denominada Usina Açucareira Romão

S/ A. No ano de 1973, o Sr. José Fernandes passou a ocupar 93% das ações

tornando-se sócio majoritário.

A usina São José da Estiva foi implantada no município de Novo Horizonte no

ano de 1964. A São José da Estiva surgiu com a transferência da Usina Chibarro de

Araraquara, comprada pelo Sr. Jamil Jacob, do grupo Biazzi. Na transação 80% do

capital ficou para o Sr. Jamil Jacob e 20% para o grupo Biazzi. A usina Chibarro é

outro exemplo de deslocamento das empresas das áreas tradicionais do Estado

para as novas áreas do Planalto Ocidental Paulista, e sobre o assunto, o editorial da

Revista Brasil Açucareiro (IAA, 1951) já dizia o seguinte:

A proximidade de pequenas fábricas uma das outras, a deficiência de

terras ao redor, não representa impedimento material que se

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transformem em grandes fábricas, bastando para consegui-lo,

promover a mudança de habitat de zona exígua para zona ampla.

Atualmente, o Sr. Jamil Jacob é sócio minoritário, sendo que a maioria das

ações da empresa pertence ao grupo Biazzi novamente.

Entretanto, o início da crise do setor açucareiro ocorreu em meados de 1964,

quando se deu uma queda nos preços do açúcar no Mercado Livre Mundial. Este

fato afetou as exportações do país com um grande aumento da produção açucareira

nacional. Szmrecsányi (1978) mostra que os estoques do IAA, que na safra de

1964/65 foi de 12.000.000 de sacas, passou para 27.000.000 em junho de 1966 e

35.000.000 em setembro do mesmo ano. Esta foi sem dúvida, uma das piores crises

da agroindústria canavieira nacional, pois, o Estado de São Paulo, que alcançou na

safra de 1965/66 mais de 42.000.000 de sacas (contra 27.000.000 na safra anterior)

deixou de colher e moer cana equivalente a 13.000.000 de sacas, resultando

conflitos entre usineiros e fornecedores.

E Szmrecsányi (1978) coloca que no final da década de 1960, o IAA levou

avante as suas políticas de concentração e modernização, que prosseguiu pela

década de 1970, dando origem a atual estrutura agroindustrial canavieira, tendo

como objetivo torná-la mais competitiva no mercado internacional. A partir de 1968,

o fomento das exportações, foi a estratégia desenvolvimentista do país, tornando a

produção competitiva em termos de preço e qualidade.

Esses estímulos ao crescimento da agroindústria canavieira paulista nos

primeiros anos da década de 1960, como a política de concentração e modernização

no final dessa década, contribuíram para a ampliação da produção das usinas

instaladas na área de Catanduva, conforme a Tabela 3.

A ampliação da produção açucareira alcooleira nacional e paulista foram

segundo o Instituto de Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura do Estado de

São Paulo (IEA, 1972) devido:

a) ao crescimento contínuo do mercado interno de açúcar e álcool;

b) ao considerável aumento das exportações de açúcar;

c) a uma política de expansão da lavoura canavieira estabelecida

pelo IAA, nesta década; e

d) ao incremento da capacidade de produção instalada nas usinas.

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Tabela 3. Produção de açúcar em sacas de 60 kg, nas safras 1960/61, 1964/65 e 1969/70.

Ano São Paulo Brasil Usinas de Catanduva

1960/61 23.973.077 54.349.757 246.963

1964/65 26.814.502 59.421.844 378.229

1969/70 31.504.655 72.215.665 835.643

Com a implantação de mais duas usinas de açúcar e álcool na área em

estudo nessa década, começa-se a se esboçar um pequeno embrião no setor de

Catanduva com as usinas nos municípios de Novo Horizonte, Catanduva e Ariranha.

2 - O Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira do início da

década de 1970 e sua influência na área em estudo.

Na década de 1970, o IAA continuou a questionar o problema da

competitividade do açúcar no exterior, através do tamanho e capacidade instalada

das usinas, do grau de eficiência do sistema produtivo, o sistema de comercialização

tanto das atividades agrícolas como das industriais. Apesar desse estudo estar

definido nos anos 60, a sua prática só se efetivou a partir da década de 1970 com a

criação do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar

(PLANALSUCAR) e da Lei no 5.654, de 14/05/71 (BRASIL, 1971b), que implantou o

Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira- posteriormente

denominado Programa de Apoio à Agroindústria Açucareira em março de 1973.

Esses programas do IAA visavam a melhoria da qualidade da matéria-prima e a

racionalização da produção e estavam conectados com mais dois programas em

prática: a) o de financiamento da fusão e da racionalização das empresas

agroindustriais canavieiras; b) o da construção de terminais açucareiros - instalações

de armazenagem e de embarque a granel, nos principais portos exportadores de

açúcar do país: Recife, Maceió e Santos. A Lei no 5.654 estabeleceu que o limite

global passasse a ser o somatório dos contingentes estaduais. Buscava-se, então

possibilitar o crescimento da produção de açúcar dos Estados nas usinas que

continham melhores condições e abrir a possibilidade de reajustamento de quotas

oficiais de produção para as usinas, mediante simples atos do presidente do IAA. No

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mesmo ano, o Decreto lei no 1.186, de 27/08/71(BRASIL, 1971a), concedia

estímulos financeiros à fusão, incorporação e relocalização das unidades industriais

açucareiras/alcooleiras (SZMRECSÁNYI, 1978).

Tanto a Lei nº 5.654 como o Decreto-lei no 1.186 - ambos de 1971 -

estabeleceram as bases do processo de consolidação da modernização da

agricultura canavieira e revelaram vários dispositivos do Estatuto da lavoura

canavieira, valorizando a concentração empresarial e a concentração de terras

através da absorção de quotas das usinas incorporadas e dos fornecedores.

Através desse Decreto-lei nº 1.186 concedeu-se estímulos à fusão e

incorporação de usinas e "legalizou" os mecanismos que acelerariam os processos

de concentração de terras e rendas no setor agroindustrial canavieiro, embora esses

processos de concentração já viessem ocorrendo antes da década de 1970. No

Estado de São Paulo, esse decreto-lei foi o principal responsável pelo encerramento

das atividades de 23 pequenas usinas de açúcar e álcool (FERREIRA; BRAY, 1983).

Sobre o assunto, Queda (1978) diz: "Esse decreto-lei é entendido como um

dos elementos componentes da política geral posta em prática no país, nos últimos

anos".

Essa conjuntura propiciou uma grande expansão territorial do monopólio das

agroindústrias em São Paulo e no país. Dentro desse contexto, tanto o

PLANALSUCAR como o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira

tiveram um desempenho favorável devido ao crescimento do volume e dos preços

das exportações do produto, resultando nos reflexos positivos sobre o Fundo

Especial de Exportação2. Esse fundo foi utilizado para a modernização de

equipamentos industriais, incorporações de usinas, compras de terras,

mecanização, implementas agrícolas e criação pelo governo, de uma melhor

infraestrutura para a exportação do açúcar.

Sobre os efeitos do Fundo Especial de Exportação, Andrade (1981) tem a

seguinte opinião:

O reequipamento industrial das usinas e a relocalização para áreas

diversas, menos disputadas e de terras mais baratas, provocou,

                                                            2 Os preços pagos aos produtores pelo IAA (por lei, o único exportador) eram inferiores aos valores por ele recebidos, e o IAA conseguiu formar (graças também à conjuntura favorável das vendas externas) saldos vultosos para o seu Fundo. Com esses saldos o IAA ampliou sua política de modernização da indústria canavieira. Em 1973, através do Decreto-lei no 1.266, o IAA procurou dinamizar mais o Fundo, através de empréstimos para as usinas (SZMRECSÁNYI, 1978).

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naturalmente, a concentração de renda, uma vez que os

empréstimos eram feitos a juros negativos e com período de carência

ponderáveis, fazendo expandir a cana-de-açúcar por áreas

anteriormente dedicadas às culturas alimentares.

Esse Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira provocou um

estímulo e teve consequência na ampliação da produção açucareira nacional

paulista e principalmente na área em estudo, conforme Tabela 4.

Tabela 4. Produção de açúcar em sacas de 60 kg, nas safras 1970/71 e 1974/75.

Ano São Paulo Brasil Usinas de Catanduva

1970/71 83.327.684 40.606.083 1.150.554

1974/85 112.009.625 55.771.145 1.818.845 Fonte: IAA.

Para aumentar a produção de açúcar em virtude do Programa de

Racionalização e do Fundo Especial de Exportação - FUNPROSUCAR, as usinas da

área de Catanduva passaram a investir na melhoria dos equipamentos industriais e

agrícolas, e na aquisição e arrendamento de terras.

A usina São Domingos iniciou o arrendamento de terras no ano de 1974. Foi

a partir da década de 1970 que as agroindústrias da área passaram a essa nova

forma de monopolização de terras, além da compra.

Entretanto, fatores conjunturais externos vieram aniquilar as pretensões

brasileiras de firmar-se como país exportador de açúcar3. A queda do produto foi

consequência do Brasil ter perdido o Mercado Preferencial Norte-Americano em

31/12/74, bem como tornou-se sem efeito o acordo açucareiro da Comunidade

Britânica, quando do ingresso da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu

(SZMRECSÁNYI, 1979).

A crise energética do país ocorrida a partir de 1973, devido à elevação dos

preços do petróleo, provocou uma ruptura em relação à economia brasileira e seu

                                                            3 As exportações brasileiras de açúcar caíram de US$ 1.261.000.000 (2.351.000 t. m.) em 1974, para US$ 1. 100.000.000 11.731.000 t. m.) em 1975, e US$ 307.000.000 (1.167.000 t. m.) em 1976 (MELO; FONSECA, 1981).

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desempenho de 1968/734. Dentro dessa conjuntura, os grupos usineiros e

fabricantes de equipamentos industriais do subsetor - Zanini (Sertãozinho) e Dedini

"Codistil" (Piracicaba) - juntamente com o governo federal buscaram uma saída de

substituição de energia através da agricultura canavieira.

Em 1974, o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de São

Paulo e a Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São

Paulo publicaram um estudo sobre: O potencial da mistura carburante na solução da

crise de combustíveis (SINDICATO, 1974), onde diziam o seguinte:

Os produtores de açúcar e álcool têm colocado várias vezes, frente

às autoridades governamentais, a clara posição de defesa de uma

política para orientar o incremento da produção de álcool anidro para

ser misturado à gasolina automotiva.

Nesse sentido elaboraram em agosto de 1972 um trabalho intitulado:

Subsídios para uma política de Mistura Carburante, no qual era feita

uma série de sugestões, as quais antecipavam soluções para os

problemas enfrentados no presente em decorrência da condição

brasileira de grande importador de petróleo. É portanto, dentro de

uma linha de pensamento bastante coerente com as posições

anteriormente assumidas, que o SIFAESP e COPERSUCAR, mais

uma vez saem em defesa de uma política para o álcool, que preserve

os interesses maiores da economia brasileira. A autorização dada,

pela Resolução no 1.081 do Conselho Deliberativo do IAA em

16/05/74, para a instalação de novas destilarias autônomas seria um

passo nesse sentido.

O referido estudo da SIFAESP e COOPERSUCAR colocava que se o objetivo

era o aumento da produção alcooleira para posterior mistura com a gasolina, tendo

em vista a economia deste combustível, era mais racional aproveitar-se em primeiro

lugar da capacidade instalada das destilarias, que operavam com ociosidade,

estimulasse o esgotamento de todo o potencial das mesmas e financiasse a sua

modernização e incentivasse a implantação de novas destilarias, junto àquelas que

ainda não as possuíam.

                                                            4 O preço do petróleo importado pelo Brasil passou de setembro de 1973 para janeiro de 1974 de cerca de US$ 3 para US$ 12 o barril. O Brasil que gastou US$ 469 milhões com a importação do petróleo em 1972, teve que despender US$ 2. 840 milhões em 1974 (MELO; FONSECA, 1981).

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Assim, o aumento da produção que seria conseguido, teria um custo bem

menor do que o gerado pela instalação de novas destilarias autônomas. Os

investimentos industriais globais necessários para as novas destilarias anexas

seriam em torno de 50% menores do que os destinados na implantação de

destilarias autônomas, não se justificando, portanto economicamente a Resolução

n.º 1.081 que estimulou a criação dessas destilarias. Para a Coopersucar e

SIFAESP a hipótese de instalação de novas destilarias anexas às usinas que no

momento não produziam álcool, encontraria respaldo no volume de produção que

poderia ser obtido desse incentivo. É nesse contexto que surgiu o PROÁLCOOL.

3 - O Programa Nacional do Álcool (PNA) e o surgimento das novas destilarias

autônomas.

O PROÁLCOOL é um programa federal, administrado pelo Ministério da

Indústria e Comércio através da CENAL - Comissão Executiva Nacional do Álcool. O

seu objetivo foi o de aumentar a produção de safras agro energéticas, e a

capacidade industrial de transformação, visando a obtenção de álcool para a

substituição da gasolina, assim como incrementar o uso no setor químico.

Entretanto, o Estado Nacional com o PROÁLCOOL veio resolver o problema

do usineiro - com dívidas via Fundo Especial de Exportação - e dos fabricantes de

equipamentos industriais do ramo que tinham se estruturado para fazerem frente ao

Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira/Alcooleira. Sobre o

assunto Szmrecsányi (1978) diz:

Nem todas as usinas do país aplicaram de forma mais produtiva os

recursos assim obtidos, e tudo teria ocorrido às mil maravilhas se as

tendências do mercado internacional se tivessem mantido

inalteradas. . . As exportações voltaram a se tornar gravosas,

fazendo diminuir os recursos do Fundo de Exportação, bem como os

níveis de preços pagos pelo IAA aos produtores, dificultando a

amortização das dívidas por eles contraídas.

E Ramos (1983) diz:

O que queremos dizer é que um plano de implicações tão importante

na economia brasileira acabou sendo para atender especialmente os

interesses dos grandes produtores do subsetor em estudo (usineiros

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e produtores de equipamentos "tradicionais") e, por isso mesmo,

enquanto não fosse equacionados os problemas decorrentes dos

interesses de outros setores envolvidos (exemplo da indústria

automobilística, que demorou muito para se integrar) aquele plano

não se firmaria efetivamente.

Sobre a questão em pauta, Melo e Fonseca (1981) aponta que o principal

instrumento utilizado pelo governo brasileiro para estimular o aumento da produção

de cana-de-açúcar e da capacidade industrial de transformação em álcool a partir de

1975, foi o crédito subsidiado concedido aos projetos aprovados pelo CENAL, e diz:

As condições básicas de financiamento do PROÁLCOOL durante

1975/79 eram as seguintes: a) para fins agrícolas, 100% de

financiamento a taxas de 13/15% (dependendo do tamanho do

empréstimo) e reembolso de um (capital circulante) a doze anos

(investimentos fixos); b) para fins industriais (destilarias), 80/90% de

financiamento (dependendo da região), 15/17% de juros e 3/12 anos

para pagamento.

Até o momento, o PROÁLCOOL pode ser dividido em duas fases: a primeira

de 1975/79, o programa previa chegar a uma produção de 3,0 bilhões de litros de

álcool; e a segunda 1980/85, a meta estipulada foi de 10,7 bilhões de litros de álcool,

o equivalente a 170 mil barris de petróleo-dia.

A) A primeira Fase do PROÁLCOOL (1975/1979)

A partir de 1976, com o PROÁLCOOL, o álcool anidro carburante deixou de

ser apenas um subproduto do açúcar, passando a ocorrer a intensificação de seu

fabrico diretamente da cana-de-açúcar. Nesta fase inicial do PNA o Estado de São

Paulo recebeu em torno de 30% do total dos financiamentos destinados aos Estados

da Federação, como também às destilarias anexas às usinas tradicionais do açúcar

e álcool, receberam mais investimentos do que as novas destilarias autônomas.

Esse fato, pode ser explicado através da infraestrutura existente nas tradicionais

usinas paulistas no fabrico do álcool e ao problema da crise que atingiu o subsetor

(BRAY, 1983).

Após o final de 1979, dos projetos aprovados para a instalação das destilarias

autônomas e anexas nas áreas canavieiras do Estado, a maioria deles foram

implantados nas tradicionais áreas canavieiras paulistas de Piracicaba na

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Depressão Periférica – Sertãozinho/Ribeirão Preto, Araraquara, Jaú e Vale do

Paranapanema - no Alto e Médio Planalto Ocidental Paulista (FERREIRA e BRAY,

1984).

Nessa primeira fase do PNA, com as novas Destilarias Anexas e Autônomas

formou-se no Médio Planalto Ocidental um novo centro açucareiro-alcooleiro

paulista, que denominamos de área canavieira de Catanduva.

A Área canavieira de Catanduva que se estruturava desde a década de 1950

e 60 com a implantação das 4 primeiras usinas de Açúcar e Álcool; após o PNA

passou a se constituir no sexto polo açucareiro/alcooleiro paulista, com a

implantação das Destilarias Anexas às Usinas e mais duas novas Destilarias

Autônomas: Colombo e Nardini (Tabela 5).

A Destilaria Colombo S/ A, pertencente à família Colombo de Santa Adélia, foi

o primeiro grupo a ingressar no PROÁLCOOL na área canavieira de Catanduva. A

família Colombo possui alambique desde a década de 1960. O Sr. Hélio Colombo foi

presidente da COPACESP – Cooperativa dos Produtores de Aguardente de Cana do

Estado de São Paulo Ltda., e foi antes de entrar para o PROÁLCOOL o principal

produtor de aguardente do Estado, com uma produção de 17.000.000 de litros no

ano de 1975.

A Destilaria Nardini Ltda. localizada no Município de Vista Alegre do Alto,

pertence ao Sr. Aurélio Nardini, foi a segunda destilaria autônoma da área a ser

enquadrada no PROÁLCOOL em 28/02/1978 (Tabela 5). O Sr. Aurélio Nardini é

natural de Catanduva e foi funcionário e fornecedor de cana-de-açúcar para a Usina

Catanduva em Ariranha. Em 1973 o Sr. Nardini construiu um Engenho e passou a

produzir aguardente até 1977. Tanto o Sr. Nardini como os irmãos Colombo, foram

os primeiros "pingueiros" a aderir ao PROÁLCOOL no Estado de São Paulo. A

entrada dos produtores de aguardente para o mercado alcooleiro passou a ocorrer,

quando a produção aguardenteira tornou-se alta, exigindo em conseqüência uma

segurança maior para o produtor.

No período de 1975/79, Melo e Fonseca (1981), mostra que São Paulo foi o

responsável por 55% do aumento verificado entre 1976 e 1980 da área colhida da

cana-de-açúcar, seguido pelos Estados de Alagoas com 20,9%, Paraíba com 6,6%,

Rio de Janeiro e Pernambuco 5,9%. O Estado de São Paulo que em 1976 possuía

34,5% da área plantada com cana-de-açúcar do país ficava em 1980 com 39,3% e

com quase 50% da produção total nacional desse produto. Esses dados refletem o

papel que o Estado de São Paulo vem desempenhando na produção alcooleira

nacional, conforme Tabela 6.

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59 

 

Em 1979, o PROÁLCOOL passou por um processo de transformação devido

o segundo choque do petróleo e procurou romper com a primeira fase (1975/79) que

envolvia a solução da crise dos produtores do subsetor, passando a ser um

programa mais dirigido para uma alternativa de substituição de energia líquida. E

sobre o assunto Ramos (1983), diz:

Assim poder-se-ia falar em duas fases do programa: a que vai de seu

surgimento até o segundo choque do petróleo (1975/79) na qual

destaca a sua implementação, como solução para a crise do açúcar

no mercado mundial; a segunda é a que se inicia em 1979 e se

caracteriza por tal programa apresentar-se de forma mais evidente

como uma alternativa energética, embora limitada.

Tabela 6. Produção de álcool nas safras 1975/76 e 1979/80, em 1.000 litros.

Ano Área de

Catanduva São Paulo % Brasil %

1975/76 12.495 362.286 65,25 555.627 100,00

1979/80 133.541 2.472.340 72,79 3.396.455 100,00 FONTE: CENAL.

B) A segunda Fase do PROÁLCOOL (1980/85) e o PRO-OESTE (PROCANA).

Com o segundo choque do petróleo em 1979 o preço do barril passou de US$

12 para US$ 18. A partir desse contexto, a Comissão Executiva Nacional do Álcool

(CENAL), traçou o objetivo de quadruplicar a produção de álcool até 1985,

estabelecendo a segunda fase do PNA.

Nessa segunda fase do PNA, conforme Tabela 7, ocorreu um consubstancial

aumento dos financiamentos no país e Estado de São Paulo, além da continuação

do crédito subsidiado. Sobre o assunto, Melo e Fonseca (1981), diz: "Os

financiamentos cobriram até 80% dos investimentos..., Quanto à parte agrícola, os

financiamentos podem atingir 100% do valor do orçamento". E dentro desse

contexto de estímulos, para a expansão da agricultura energética no país - segunda

fase do PNA - tendo como principal elemento a cultura da cana-de-açúcar, que

surgiu o PROESTE (PROCANA) em São Paulo.

O programa denominado "Bases para um plano de Desenvolvimento do

Oeste do Estado de São Paulo - PRO-OESTE", desenvolvido pela Secretaria da

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Agricultura e Abastecimento, procurou deslocar os recursos do CENAL para o Oeste

de São Paulo (PROCANA), tendo como meta alcançar "o equilíbrio econômico

regional" (SÃO PAULO, 1980).

Com a elaboração de um plano a favor da região Oeste Paulista, a Secretaria

da Agricultura pretendeu atingir os seguintes objetivos:

- Aproveitamento da infraestrutura existente, sem necessidade de

investimentos públicos adicionais para a sua consecução;

- inversão do fluxo migratório, face à criação de empregos diretos e

indiretos necessários à consolidação do programa;

- interiorização do desenvolvimento pelo fortalecimento das

economias regionais; e,

- preservar e ampliar a oferta de alimentos, bem como, manter a

expressiva participação do setor agropecuário paulista na pauta da

exportação. (SÃO PAULO, 1980).

Através dessas propostas principais, o documento do PRO-OESTE (SÃO

PAULO, 1980), diz:

O primeiro programa a ser estabelecido através do Plano de

Desenvolvimento Agrícola do Oeste do Estado de São Paulo, será o

Programa de Expansão da Canavicultura para a Produção de

Combustível do Estado de São Paulo (PROCANA), o qual em plena

integração com os objetivos do Governo Federal, pretende orientar o

fluxo de recursos financeiros oriundos do PROÁLCOOL tornando o

instrumento básico para o desenvolvimento da região oeste.

Tabela 7. Total dos financiamentos e o número de destilarias anexas e autônomas aprovados através da Comissão Executiva Nacional do Álcool, período de 1980 a 1983*, em Cr$ 1.000.000,00.

Unidade

ANEXAS AUTÔNOMAS

Financia-mento

% Número

Destilarias %

Financia-mento

% Número

Destilarias%

São Paulo 7.902,0 67 27 46 19.459,1 25 65 38

Outros Est 3.861,1 33 21 44 57.572,0 75 105 62

Total País 11.763,1 100 48 100 77.031,1 100 170 100

(*) - Até 18/04/83. FONTE: CENAL.

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Na justificativa do PRO-OESTE, ficou demonstrado que o estudo realizado

sobre a expansão da área cultivada com cana-de-açúcar no período de 1975/79,

permitiu observar que, no caso da agricultura paulista, as áreas para cultivo de

"energético", vêm substituindo áreas com outras culturas, principalmente nas DIRA's

de Campinas e Ribeirão Preto. Entretanto, até 1985 - final da segunda fase do PNA -

de acordo com o PROCANA, há que implementar a instalação de novas destilarias

autônomas, e a canavicultura deverá ser implantada em áreas não tradicionais

canavieiras do Estado.

Através do PROÁLCOOL e PRO-OESTE, o Planalto Ocidental passou a partir

de 1980 a receber um grande fluxo de investimentos via CENAL resultando na

implantação de novas destilarias autônomas com grandes propriedades de cana-de-

açúcar e na formação da área canavieira/alcooleira do Oeste Paulista, Catanduva e

Vale do Paranapanema. Neste contexto da 2a fase do PROÁLCOOL e PRO-OESTE,

foram enquadrados no CENAL mais duas Destilarias Autônomas na área canavieira

de Catanduva, aumentando a capacidade de produção desse setor açucareiro/

alcooleiro (Tabela 5).

Em 1980, foi aprovado pelo CENAL os recursos para a construção da Destil

(Destilaria Itajobi S/ A), município de Itajobi. Essa destilaria pertence aos senhores

José Pedro da Motta Salles e Antônio Salles Vanni. Os proprietários desde 1972 são

agropecuaristas e possuem propriedades com criação de bovinos no Mato Grosso.

Com os recursos do PROÁLCOOL, passaram à construção da Destilaria em 1980 e

possuem terras na área de Catanduva em nome da Pastoril São Pedro S/ A.

A Destil iniciou a sua produção de álcool no ano de 1983, e tem a capacidade

de produzir 60.000 litros por dia.

Em maio de 1981, foram aprovados os recursos pelo CENAL para a

implantação da mais recente Agroindústria, a Destilaria Santa Isabel Ltda., no

Município de Novo Horizonte5.

De 1975/83, das 74 destilarias autônomas aprovadas no Estado de São

Paulo, 52 delas (70%) foram instaladas no Oeste do Estado, nas áreas canavieiras

do Vale do Paranapanema Paulista, Catanduva e Oeste.

                                                            5 Por ocasião do levantamento de campo nos anos de 1982/83, a Destilaria Santa Isabel Ltda., encontrava-se em construção.

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4 - A situação atual das agroindústrias açucareiras e alcooleiras da Área de

Catanduva.

Até o momento, o PROÁLCOOL apresenta-se como um programa que vem

prestigiando, conforme o modelo político brasileiro, as grandes empresas rurais do

subsetor. O fato do Programa valorizar a empresa agroindustrial de grande porte,

levou consequentemente à uma maior monopolização da produção e das terras

pelos grupos usineiros.

A questão da valorização da grande empresa agroindustrial através do Estado

nacional (monopólio da produção e das terras cada vez mais crescente) foi

reforçado, pela modernização agrícola via empresa rural. O governo federal vem

prestigiando através de incentivos e subsídios as usinas de açúcar e álcool de

grande porte, através da aquisição dos equipamentos industriais, maquinários

agrícolas, implementos e insumos, subordinando cada vez mais a agricultura ao

capital industrial. Essa subordinação vem contribuindo para que a agricultura

canavieira se desenvolva em grande escala, mas com uma produtividade que

normalmente não corresponde às expectativas, em virtude dos altos preços dos

equipamentos. Sobre o problema, Graziano Neto (1982) diz:

Esse comprometimento econômico da tecnologia moderna se dá seja

devido ao seu elevado preço, seja devido ao fato de não trazer

reflexos importantes na produtividade por área, não permitindo

assim, a obtenção de acréscimos compensatórios na receita a ser

obtida no empreendimento... Finalizando e dando um apanhado geral

do exposto, diria que o capital industrial que controla o processo de

modernização de nossa agricultura prejudica a própria acumulação

de capital na economia à medida que, pela imposição de tecnologia e

pelo controle de preços, afeta a rentabilidade no setor agrícola.

Na área de Catanduva, como nas demais áreas estudadas do Estado de São

Paulo, o fenômeno de aumento das terras próprias e principalmente das terras

arrendadas também ocorre.

Na desenfreada procura de terras, os usineiros adquirem através da compra

ou arrendamento, propriedades com 50, 70 e 100 km de distância da indústria. Esse

aspecto distância/transporte vem diminuir a taxa de lucro da empresa, uma vez que

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o preço do transporte atualmente está tornando as terras com mais de 25 km de

distância, antieconômicas.6

A Tabela 8, mostra que, o total das terras dos grupos usineiros atinge entre

próprias e arrendadas 74.748 ha., onde as arrendadas ocupam 35% do total.

Esse fato sobre a ampliação das terras pelas agroindústrias a partir do início

da década de 1970, pode ser melhor observado pela Tabela 9, que mostra o

aumento de cana moída pelas usinas e destilarias da região de Catanduva, de

1970/71 a 1982/83 em 647%.

O arrendamento de terras que teve origem na área em 1974 na Usina de São

Domingos, passou a ser também um instrumento utilizado em larga escala pelos

usineiros a partir do PROÃLCOOL. Os grandes investimentos na modernização dos

equipamentos industriais e agrícolas levaram as agroindústrias liberadas pelo

Decreto-lei no 1.186 (BRASIL, 1971a) e da Lei no 5.654 (BRASIL, 1971b) a

arrendarem terras, e explorarem diretamente a agricultura canavieira, ao invés de

aumentar ou criar novas participações aos fornecedores.

A partir de 1971, o I.A.A. através do Decreto-lei no 1.186 e da Lei no 5.654,

revogou vários dispositivos do Estatuto da Lavoura Canavieira, dando aos usineiros,

maiores condições para atingir índices superiores de produtividade e consequente

redução de seus custos de produção. Nesse contexto, o I.A.A. deixou de prefixar as

quotas de cana fornecidas às usinas e passou a atuar segundo o critério de

autorização da produção; fazendo com que, desta maneira, não mais exista a

obrigatoriedade dos 40% de cana dos fornecedores (uma vez que esse dispositivo

nunca foi cumprido). Evidencia-se assim, a partir da década de 1970, uma exclusão

gradativa da categoria dos fornecedores no cenário estadual, sobretudo porque, a

partir do Programa de Modernização da Agroindústria Açucareira (1971), os

fornecedores passariam a atrapalhar a expansão da produção dos grupos usineiros.

Na área canavieira de Catanduva, no ano de 1970/71, os fornecedores

detinham 51,8% do total da cana moída, e na safra de 1982/83 a participação dos

mesmos caiu para 21,8%. Entretanto, a produção da cana moída, conforme Tabela

9, passou de 651.000 para 4.863.000 no mesmo período.

                                                            6 Na área canavieira de Catanduva, as terras que se localizam dentro de 1 raio de 10 km da usina, estão valorizadas o triplo em relação à propriedades com 70 km de distância.

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Tabela 9. Cana moída pelas usinas e destilarias autônomas nas regiões canavieiras do Estado de São Paulo, nas safras 1970/71 3 1982/83, em toneladas.

Regiões 1970/71 N.º índice 1982/83 N.º índice

Jaú 3.958.000 100 14.140.000 257

V. Paranapa-nema Paulista

1.021.000 100 5.141.000 403

Catanduva 651.000 100 4.863.000 647

Rib. Preto-Sertãozinho

1.771.000 100 27.330.000 252

Piracicaba 10.284.000 100 26.327.000 156

Araraquara 2.737.000 100 7.088.000 159

Oeste Paulista 110.000 100 5.366.000 4.778

TOTAL 26.422.000 100 90.255.000 242

FONTE: I.A.A. e ORPLANA

De acordo com Ferreira e Bray (1984), nas regiões canavieiras do Estado, o

papel do fornecedor diminuiu consideravelmente a partir de 1971, devido a uma

maior modernização das usinas dessas áreas aliado ao Programa de Modernização

da Agroindústria Açucareira. Com a implantação do PROÁLCOOL, as novas

destilarias que foram implantadas no Planalto Ocidental Paulista, monopolizaram

quase que totalmente a produção de cana-de-açúcar excluindo praticamente a

participação dos fornecedores.

Na área canavieira de Catanduva, as destilarias autônomas que se instalaram

após o PNA, baseiam-se exclusivamente no auto abastecimento (cana própria),

utilizando-se de um contingente de cana através dos fornecedores, pouco

expressivo. Essa situação ocorre de forma generalizada nas novas destilarias que

estão implantadas, e fez com que se concentre ainda mais a renda e a propriedade

fundiária.

Na área canavieira de Catanduva, as 3 destilarias de álcool em

funcionamento, auto abastecem-se. A Destilaria Itajobi S/ A (Destil), aparece com

30% de sua produção com fornecedores. Entretanto, possui na realidade apenas 1

(um) fornecedor, pois os demais são acionistas da empresa. A Destil possui

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(empresa) 63 ha, arrenda 842 ha (Tabela 8) e produz 90.000 toneladas de cana,

enquanto os "fornecedores" acionistas produzem 30.000, e o fornecedor 5.000

toneladas. A Destilaria Colombo S/ A (conforme Tabela 8) domina 6.000 ha de terras

próprias e 6.000 ha de terras arrendadas e não possui fornecedores. Por outro lado,

a Destilaria Nardini Ltda., domina 3.312 ha de terras próprias, 72 ha de arrendadas

(Tabela 8) e possui apenas 1 fornecedor.

Sobre o assunto, Ferreira e Bray (1983) esclarecem:

No início da década de 1970, devido aos altos preços alcançados

pelo açúcar no mercado internacional e os incentivos do Fundo

Especial de Exportação, os grupos usineiros do setor em estudo,

investiram principalmente na modernização dos equipamentos

industriais, mecanização agrícola e na aquisição de grandes áreas

de terras, pois até 1973, o preço da terra não estava inflacionado e

permitia um bom investimento para a ampliação da área de cana e

como reserva de valor. Mas após 1974, com a crise do preço do

açúcar no mercado internacional (quebra de Fundo Especial de

Exportação) e com a implantação do PROÁLCOOL, os investimentos

dos grupos usineiros na área, foram direcionados mais para a

implantação de novas destilarias de álcool, do que na aquisição de

terras, pois, o preço da terra aumentou com a inflação e passou a

ocorrer um verdadeiro "rush", como também uma acirrada disputa

dos grupos usineiros à procura de terras para arrendamento.

Também salientamos sobre o arrendamento de terras pelos grupos usineiros

em detrimento da participação dos fornecedores, é de que as agroindústrias

canavieiras percebendo uma possível diminuição de taxa de lucro estão procurando

na agricultura em larga escala, ficar com parte dessa taxa que seria dos

fornecedores. Nesse processo de racionalização de produção, os grupos usineiros

na garantia da taxa de lucro em virtude da pressão do governo federal para os

preços do açúcar e álcool, estão eliminando gradativamente a parte do solo que

seria destinada aos fornecedores.

Ao observarmos a Tabela 10, podemos notar a grande expansão das terras

plantadas em cana-de-açúcar pelos usineiros da região em estudo, pois, de 18.784

ha em 1970, a cultura canavieira passou para 82.250 ha, quadruplicando em 14

anos.

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Também podemos notar o avanço intenso da cultura de citros que

proporcionalmente cresce mais do que a cultura da cana-de-açúcar na região, em

virtude da expansão das áreas citrícolas de Bebedouro e Araraquara.

O café, que na década de 1970 foi o principal produto econômico da região,

apesar de ter aumentado em área, vai perdendo a sua hegemonia para a cana-de-

açúcar.

Quanto às culturas alimentares mais importantes na área, como o milho, o

arroz e o amendoim sofreram um decréscimo significativo na produção. Esse

decréscimo, pode ser explicado, tanto pelo desestímulo dos órgãos oficiais ao cultivo

desses produtos, como do avanço da cultura canavieira, citros e café. Por outro

lado, o feijão, que não é um cultivo expressivo na região, duplicou a sua produção

nesse período.

Podemos avaliar que na área em estudo, o avanço da agricultura Canavieira

em propriedades de culturas alimentares existe; entretanto, o que ocorre é uma

valorização das culturas de grande valor comercial e de empresas modernas como o

citrus, o café e a agroindústria canavieira. Por outro lado, existe pouco incentivo e

com uma menor taxa de lucro para os produtores de milho, arroz, feijão e

amendoim.

Na realidade, a grande expansão da cana-de-açúcar na área canavieira de

Catanduva, ocorreu principalmente nas áreas de pastagens pobres, cerrados e

capoeiras, onde o preço da terra era mais baixo e o arrendamento mais fácil para os

usineiros.

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5 - Considerações finais.

A formação da região canavieira de Catanduva está ligada a quatro aspectos

que consideramos fundamentais:

a) O primeiro, refere-se à Resolução n.º 501, do IAA, de fevereiro de 1951,

que abriu perspectivas para a ampliação da produção açucareira fora das áreas

tradicionais do Estado de São Paulo, tornando-se importante para o aparecimento

das primeiras usinas na área em estudo no Médio Planalto Ocidental Paulista, a

oeste das regiões canavieiras tradicionais do Alto Planalto Ocidental, como as de

Ribeirão Preto/Sertãozinho e Araraquara;

b) O segundo, abrange o aumento das exportações a partir da década de

1960 com a implantação do regime socialista em Cuba - e a perda desse país do

mercado preferencial norte-americano - e as primeiras medidas concretas do Estado

nacional com vistas para a exportação. No ano de 1961, foram criados: A Divisão de

Exportação do IAA, o Fundo de Recuperação da Agroindústria Canavieira e o Fundo

de Consolidação e Fomento da Agroindústria Canavieira. Em 1962, foi o período de

importância dada pelo governo federal ao planejamento a longo prazo, e o desejo de

integrar o crescimento da agroindústria canavieira aos demais setores da economia

nacional, firmando um convênio entre o IAA e o Banco do Brasil Em 1963, o IAA

criou um programa depois denominado - "Plano de Expansão da Indústria

Açucareira Nacional". Com o novo Plano de Expansão e todo o incentivo

governamental, surgiram mais duas usinas de açúcar e álcool na região em estudo;

c) O terceiro envolve as pressões dos grupos usineiros das áreas tradicionais,

no deslocamento de novas usinas fora da área de concorrência da expansão

monopolista de terras desde o início da década de 1950 e abrangendo a década de

1960, com o deslocamento da Usina Chibarro da região canavieira de Araraquara

para a de Catanduva, no município de Novo Horizonte, com o nome de São José ·da

Estiva. A pressão dos grupos usineiros tradicionais para que as novas agroindústrias

se instalassem fora de suas áreas de expansão, como também, o deslocamento de

antigas usinas para as novas áreas canavieiras do Estado, sempre foi uma

constante, culminando com o PRO-OESTE no PROÁLCOOL.

d) O quarto aspecto decisivo para a formação da Zona Canavieira de

Catanduva, foi a criação do PROÁLCOOL e a existência de grandes alambiqueiros

na área. Com o PROÁLCOOL, os alambiqueiros aderiram a esse programa e

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fundaram as primeiras destilarias autônomas (Colombo e Nardini). Esses

alambiqueiros - transformaram-se nos "pingueiros" do PROÁLCOOL - foram os

primeiros "pingueiros" a aderirem ao PNA no Estado de São Paulo. Com o

PROÁLCOOL e as novas destilarias anexas e autônomas implantadas, consolidou-

se a região canavieira de Catanduva no final da década de 1970, como um novo

polo canavieiro/açucareiro/alcooleiro no Médio Planalto Ocidental Paulista.

6 - Bibliografia

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INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Editorial, Brasil Açucareiro. Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p.69, 1951. MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais). MORGANTI, F. Aumentada de quase três milhões de sacos a quota de produção açucareira de São Paulo. Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, p. 198-199. mar. 1951. QUEDA, O. Concentração de rendas e de terras: fenômeno geral ou particular?. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 107-112. RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983. SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p. SINDICATO DA INDÚSTRIA DA FABRICAÇÃO DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO e COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTOS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL DO E.S.P. O potencial da mistura carburante na solução da crise de combustível. São Paulo: SIFAESP/COPERSUCAR, 1974, 22p. SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p. SZMRECSÁNYI, T. O IAA como órgão de planejamento e controle, atuação e redirecionamento. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 31-74.

7 – Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

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BORGES, J. M. Viabilidade Econômico-Social do Programa Nacional do Álcool. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALCOOLQUÍMICA, 1º, 1981, São Paulo. Anais... São Paulo: IBP, 1981. BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. BRAY, S. C. A política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de 70 e seus reflexos na área canavieira do Vale do Paranapanema. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 61, p.105-118, jul./dez. 1984. BRAY, S. C. e FERREIRA, E. R. O monopólio da produção canavieira paulista pelos grupos usineiros a partir de 1970: a diminuição dos fornecedores de cana. ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 5., 1984, Santa Maria. Anais... Santa Maria: UFSM, 1984, p. 143-149. BUENO, R. Proálcool: rumo ao desastre. Petrópolis: Vozes, 1980, 70p. QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SAINT, W.S. Agricultura energética: opções sociais no Programa Nacional do Álcool no Brasil. Reforma Agrária – Boletim da Associação Brasileira de Reforma Agrária: Campinas, v. 11, n. 1, p. 16-31, jan./fev. 1981. SAMPAIO, R.R. As agroindústrias do setor açucareiro e alcooleiro de Porto Feliz. 1984, 66f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Desenvolvimento Rural), Depto. de Planejamento Regional, Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro. 1984 SINDICATO DA INDÚSTRIA DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO Subsídios para uma política de mistura carburante. São Paulo, 1972 (não paginado). THOMAZ JR., A. As agroindústrias e as propriedades fornecedoras de cana-de-açúcar no Município de Jaboticabal. 1983, Trabalho de Iniciação Científica (Graduação em Geografia), Departamento de Planejamento Regional – IGCE/UNESP, Rio Claro, 1983.

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VEIGA FILHO, A.; GATTI, E.U. & MELO, N.T.C. O Programa Nacional do Álcool e seus Impactos na agricultura paulista. São Paulo: Instituto de Economia Agrícola. Relatório de Pesquisa n. 8, 1980, 36p.

8 - Summary

The present work had an objective-to analyse the questions between the hemp field agriculture and the National State, principally across the agriculturist politic of Sugar and Alcohol Institute and the Alcohol National Program, in the Sugar/Alcohol Sector of the new estruturation named Catanduva hemp field area. In the the formation process of Catanduva hemp field area we consider four fundamental aspects: a) The first, concerns to 501 Resolution of I.A.A. - Sugar/Alcohol-Institute- 1951. What openned perspectives for the ampliation of sugar prodution out of tradional areas of S. Paulo State.; b) The second aspect, inclue the ampliation of Sugar exportations from the begining of 60 Decade losing Cuba of the Preferencealy Nort-America market-and the first measures directed for exportation in 1961 were: the criation of the Divisão de Exportação do IAA, Fundo de Recuperação da Agro-Indústria Canavieira and Fundo de Consolidação e Fomento da Agro-Indústria Canavieira. In 1963 the IAA criates the Expantion Plane of National Sugar Industry; c) The third, involves the influence of the tradicional agro-industry groups, in the dislocation of the new agro-industry out of the concorrent area of expantional monopolistic of lands. From the beginning of 50 Decade and incluing 60 Decade the pressions continue finishing with the dislocation of Chibarro Agro-Industry out of Araraquara hemp field to Catanduva, in Novo Horizonte township, named São José da Estiva AgroIndustry; d) The fourt aspect, for estruturation of Catanduva hemp field area was the criation of PROÁLCOOL and the existence of big alembic this Program and fount criation of PROÁLCOOL and the existence of big alembic men in the area, With the PROÁLCOOL, the alembic men adhere to this Program and fount the first autonom Distillation (Colombo and Nardini) the area.

Nota

Referência completa original

BRAY, S. C. As políticas do Instituto do Açúcar e do Álcool e do Programa Nacional

do Álcool e suas influências na área açucareira - alcooleira de Catanduva.

Geografia, Rio Claro, v. 10, n. 20, p.99-123, out. 1985.

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O PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO E EXPANSÃO DO COMPLEXO

CANAVIEIRO, AÇUCAREIRO E ALCOOLEIRO NO ESTADO DO

PARANÁ.

Silvio Carlos BRAY1

Wilson Antônio TEIXEIRA2

Resumo

As contingências históricas e os fatores geográficos que contribuíram para a

expansão da agroindústria açucareira e alcooleira no Paraná, são aqui analisadas,

considerando-se também o papel do Estado, através de organismos criados especial

mente para tal fim.

PALAVRAS-CHAVE: Cana-de-açúcar, álcool, agroindústria, Instituto do Açúcar e do

Álcool (IAA), PLANALSUCAR, PROÁLCOOL.

Abstract

The historical contingencies and the geographic factors which contributer for

the expansion of the sugar and alcohol agro-industry in Paraná, are analysed here

considering also the role of the State through organs created specially for this

purpose.

KEY-WORDS: Sugar cane, alcohol, agro-industry, Institute, (IAA) Sugar and Alcohol

Institute, PLANALSUCAR, PROÁLCOOL.

Até a década de 1940, a cultura da cana-de-açúcar no Estado do Parará

estava vinculada a pequenos alambiques e engenhocas. Em 1940, dois municípios

                                                            1 Professor do Departamento. de Planejamento Regional, Instituto Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista. 2 Professor do Departamento de Geografia da UEM -Área de Geografia Humana. 

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destacavam-se pela produção de cana-de-açúcar: Sertanópolis, no Norte Novo e

Morretes3, na Baixada Litorânea. Ambos os municípios produziam açúcar grosseiro,

de cor escura, para consumo local e aguardente. Com a criação do Instituto de

Açúcar e do Álcool (IAA) ocorreu a proibição da produção do açúcar rudimentar,

dando prioridade ao açúcar cristal fabricado pelas usinas. Após o término da

Segunda Guerra, a fiscalização do IAA estendeu-se às engenhocas; muitas delas

acabaram fechando e outra dedicaram-se somente à produção de aguardente

(BRAY, 1980).

Vários fatores, direta ou indiretamente, contribuíram para a instalação das

usinas de açúcar e álcool no Paraná. Com a Segunda Guerra Mundial (1939/45)

ocorreu a interrupção do comércio de cabotagem devido à guerra submarina, o que

dificultou o abastecimento do açúcar do centro-sul (na época ainda efetuado em

parte pelos produtores do nordeste). A demanda insatisfeita que passou a haver,

nos principais centros consumidores de açúcar do país, acabou determinando a

expansão do parque açucareiro e da lavoura canavieira em áreas que, antes da II

Guerra Mundial, importavam a maior parte do produto que consumiam4 ; o aumento

do consumo interno açucareiro e alcooleiro, notadamente na região centro-sul,

motivou o Instituto de Açúcar e Álcool (IAA) a tomar medidas de incentivo através da

abertura de quotas, para a fundação de novas usinas de açúcar nos setores não

tradicionais do centro-sul, a partir da década de 1940.

Sobre o referido assunto, Lacerda de Melo (1946) diz o seguinte: "Creio

oportuno relacionar aqui aquelas providências que traduzem a orientação deste

órgão (IAA) no sentido de ampliar a produção":

1942 -março- Elevação de 10% nos limites de produção.

1942 - novembro - liberação do açúcar extra quota dos estados do Sul para

as usinas que executaram o plano do álcool do Instituto.

1944 -abril - Elevação de 20% nas quotas de produção

                                                            3 Em Morretes, no ano de 1878, foi fundado o segundo Engenho Central do país, que não chegou a funcionar. 4 No início da década de 1940, o número de habitantes acrescido anualmente à população fora calculado em 900.000 pessoas, com um aumento de consumo per capita de 26,3 kg (média de 1937 a 1944), o que significava a necessidade de 394.500 sacas anuais a mais. A necessidade de se aumentar a produção tinha como determinante o aumento do consumo interno (Seção de Estudos Econômicos do IAA, 1945, p. 528).

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1944 - abril - Declaração de liberdade de produção pelo período de 5 (cinco)

safras, comprometendo-se o Instituto a transformar em álcool ou exportar o

excedente.

1945 - março - Criação de quotas para novas usinas, no total de 700.000

sacos nos estados importadores, e aumento de 800.000 sacos para as usinas já

existentes; total de aumento: 1.500.000 sacos.

1945- maio- Plano de fornecimento de adubo pelo IAA.

1945- junho- Circular, no início da safra a todos os produtores, esclarecendo

que a produção continua livre até a safra 1948/49.

1945 - agosto - reajustamento das usinas de quotas inferiores a 20.000 sacos

dos estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro,

Minas Gerais e São Paulo.

No ano de 1942, após a Portaria no 17 de 3 de novembro, foi autorizada a

instalação de novas usinas em vários Estados da Federação5 ; dentre eles o Paraná,

com a fundação de duas usinas de açúcar e álcool: a Central Paraná no município

de Porecatú, e a Bandeirante, no município de Bandeirante.

Na concorrência em que se apresentaram 12 candidatos, venceu o Sr.

Ricardo Lunardelli com uma cota de 30.000 sacos. O Sr. Lunardelli, natural de Rio

Claro, SP, veio de Sertãozinho, Estado de São Paulo, e adquiriu uma gleba de terra

em mata virgem na atual área de Porecatú, da qual o mesmo foi fundador - na

época, pertencente ao município de Sertanópolis (BRAY, 1980).

Em 1941, iniciou a derrubada da mata, para introduzir o plantio de café, na

atual fazenda Canaã. Durante o ano de 1942 seguiu-se a abertura de outras

fazendas, quando recebeu autorização para a construção da usina de açúcar. A

proposta vitoriosa da concorrência, em que venceu o Sr. Ricardo Lunardelli,

estabeleceu a criação de núcleos habitacionais e pequenas propriedades em torno

da usina, permitindo que os lavradores se tornassem pequenos proprietários de terra

e fornecedores de cana. Foi um plano de povoamento e colonização através da

usina de açúcar. Mas, a montagem da usina Central Paraná só foi concluída em

1945, atrasando a sua construção mais de 2 anos, devido às dificuldades de

transporte e de combustível – consequências da II Guerra Mundial (Revista Central

Paraná, 1955). O primeiro setor de moendas foi adquirido da usina Pojuca, na Bahia.                                                             5 Foi autorizada a instalação de novas usinas no Território do Acre e nos Estados do Amazonas, Pará, Maranhão, Piauí, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso (IAA, 1945).

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Em 1944, iniciou-se o plantio de cana-de-açúcar na fazenda Jaborandi, próxima à

área onde estava sendo concluída a usina. Mas a produção de açúcar da usina

Central Paraná só teve início em 1946, com um total de 13.424 sacos, conforme

Tabela 1.

A Usina Bandeirantes foi fundada em 28 de novembro de 1942 pelo Sr. Luiz

Meneghel e três irmãos, o grupo Ometto e Dedini, sendo todos originários de

Piracicaba e conhecidos como tradicionais usineiros e industriais paulistas. No

mesmo ano da fundação da usina adquiriram através da compra, 1.035 alqueires de

terra em mata virgem nas proximidades da cidade de Bandeirantes. Iniciaram a

derrubada da mata para a construção da usina e para o plantio da cana-de-açúcar.

Os maquinários e os técnicos para a montagem da usina vieram de Piracicaba. A

produção inicial de açúcar - a primeira usina a produzir açúcar no Paraná -foi no ano

de 1943, com 1.899 sacos, conforme Tabela 1 (BRAY, 1980).

Em meados da década de 40, continuavam os incentivos do IAA para o

aumento da produção de cana-de-açúcar no país; o propósito do Instituto era

aumentar a produção tanto quanto possível. De acordo com as palavras abaixo do

Sr. Coronel Alípio Gomes, então Coordenador de Mobilização Econômica do IAA,

podemos perceber as intenções do Instituto, na época:

Não há a temer excessos, porque ainda há escassez e as sobras

que, porventura, vierem a aparecer, serão facilmente aproveitadas

em álcool ou na exportação. Com o arcabouço da indústria de álcool

anidro no Brasil não é de recear a superprodução (IAA, 1945).

Essas medidas do IAA representaram uma verdadeira reviravolta com relação

à política de contenção das safras, estabelecidas com a criação do Instituto.

Com esses novos incentivos passou a funcionar em Morretes, na Baixada

Litorânea, a terceira usina do Estado, em 1947, denominada Malucelli e com a

produção inicial de 7.967 sacos de açúcar (Tabela 1). No ano de 1958, a Usina

Malucelli passou a denominar-se Usina Morretes.

No mesmo ano, foi fundada a quarta usina de açúcar no Estado. O grupo

empresarial paulista Mesquita Filho S.A., proprietários da Cia. Melhoramentos Norte

do Paraná S.A., e demais acionistas, conseguiram quotas para a fundação de outra

usina no norte do Paraná. Foi escolhido o município de Jacarezinho, devido à sua

posição geográfica limítrofe com São Paulo, e porta de entrada do norte

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paranaense, além dos interesses políticos locais6. Os equipamentos para a

montagem da usina vieram em parte da França e em parte de Piracicaba (Dedini). A

Agroindústria instalou-se numa área de 500 alqueires, e a sua primeira produção foi

no ano de 1948.

Tabela 1. Produção de açúcar nas usinas do Paraná, em sacos de 60 quilos.

Safra

Unidades Total no Estado Usina

Bandeirante Usina

Central PR. Usina

JacarezinhoMalucelli

1943/44 1.889 - - - 1.889

1944/45 28.587 - - - 28.587

1945/46 47.163 - - - 47.163

1946/47 36.891 13.424 - - 50.315

1947/48 57.117 100.433 22.600 7.967 165.517

1948/49 53.909 90.072 26.822 10.982 185.716

1949/50 65.916 99.542 10.082 18.741 243.927

1950/51 98.267 240.704 30.160 19.169 450.915 Fonte: I.A.A

A firma Lima Nogueira e Cia., de Sertanópolis, Estado do Paraná, conseguiu

uma quota de 20.000 sacos no ano de 1945 e posteriormente 40.000 sacos, para a

fundação de uma usina naquele município, no vale do Paranapanema. Mas no ano

de 1949, a referida quota foi declarada caduca pelo IAA, por não ter sido, a mesma,

instalada. Essas quotas foram distribuídas pelas demais usinas existentes na área,

ficando: 12.500 sacos para a Bandeirantes, 12.500 para a Jacarezinho e 15.000

sacos para a Central Paraná (IAA, 1949).

Nos primeiros anos do pós-guerra, as exportações constituíram uma

importante válvula de escape para a superprodução induzida pelo Decreto Lei no

9.827. Mas as exportações não foram suficientes para absorver toda a produção

açucareira mundial que fora afetada pela guerra, e os preços do açúcar começaram

a baixar nos mercados externos. Além de outras medidas, o Governo Federal

baixou, em meados de 1948, o Decreto no 25.174-A, no qual adotou "medidas de

estímulo à produção alcooleira do país para fins carburantes". O referido decreto

                                                            6 A usina de Jacarezinho, inicialmente deveria ser instalada em Cambará; mas as forças políticas de Jacarezinho conseguiram transferir a agro-indústria para o seu município.

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fôra motivado também pelos déficits no balanço de pagamentos, e pelo esgotamento

das reservas cambiais acumuladas pelo país, durante a II Guerra. Um dos fatores

responsáveis por essa situação foi precisamente a crescente importação de

derivados de petróleo, especialmente gasolina automotiva. Além disso, o referido

decreto estabeleceu uma equivalência de preços entre o açúcar e o álcool direto,

bem como a concessão de bonificações aos produtores sobre o valor do álcool

fabricado (SZMRECSÁNYI, 1978).

Com esses incentivos, ocorreu o início da produção do álcool no Estado,

ainda no final da década de 1940, através das destilarias anexas das usinas

paranaenses. A primeira produção de álcool ocorreu no ano de 1948, com a usina

Central Paraná produzindo 764.000 litros e a usina Bandeirantes 400.550 litros. Em

1949, a usina Jacarezinho iniciou a sua produção com 918.135 litros, conforme a

Tabela 2.

De 1940 a 1950, o avanço da lavoura canavieira no Estado tornou-se

evidente, com o aumento da produção de açúcar e álcool. Esse crescimento

correspondeu à ampliação do parque açucareiro/alcooleiro paranaense, como

podemos observar nas Tabelas 1.

Com a ampliação do mercado interno sulista, surgem as áreas novas

canavieiras do Paraná, a partir da década de 1940. Sobre esse fato, Andrade (1976)

diz o seguinte:

O crescimento da produção açucareira nas áreas novas - São Paulo

- Paraná, sobretudo, deu-se, ao contrário do que ocorreu nas áreas

tradicionais, e função do mercado interno, da própria área produtora

e das regiões vizinhas ... . O crescimento da população paulista e

sua expansão pelos Estados vizinhos, Gerais, Goiás, Mato Grosso e

Paraná, a elevação dos níveis de renda, e, consequentemente, do

poder de consumo de sua população, ampliaram o mercado

existente dando maior segurança ao crescimento da produção em

face de não depender da demanda do mercado externo. Esse

crescimento, porém, que se fez de forma acelerada e com a

utilização de técnicas modernas e de métodos empresariais, logo

ultrapassou a demanda interna e passou a fazer pressão para

colocar seus excedentes no mercado internacional.

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De acordo com Szmrecsányi (1978):

a década de 1950 transcorreu sob o da expansão da agroindústria

canavieira no Brasil. Essa expansão foi determinada em boa parte

pela crescente demanda do mercado interno, devido aos efeitos de

uma intensa industrialização e urbanização no centro-sul do país.

Esse crescimento da produção açucareira superou amplamente o

seu consumo, e fez com que o país voltasse a figurar entre os

grandes exportadores do produto. Essa expansão da agroindústria

açucareira foi acompanhada e promovida pelo IAA.

Em fevereiro de 1951, o IAA divulgou a resolução n.º 501, fixando novas

normas para a expansão da produção açucareira do país. Essa resolução baixada

às vésperas do governo Vargas, previa que a maior parte dessa produção continuar:

concentrada no nordeste, e que Pernambuco ainda seria, até a safra 1956/57, o

principal Estado produtor. Embora o maior reajuste em termos absolutos tivesse sido

concedido às usinas de São Paulo e, percentualmente, ao Estado do Paraná, parece

inegável que a distribuição espacial que consta na resolução nº 501 subestimo as

potencialidades do Centro-Sul.

A taxa de crescimento do consumo nacional, que desde 1939 foi de 4,9% ao

ano, atingiu em 1951 6%. Devido a esse acréscimo, o IAA baixou a Resolução n.º

647, de 6 de fevereiro de 1952, dando um novo reajuste no contingente global da

produção açucareira do país, elevando para 36.700.000 sacas; quantidade esta, que

pelas projeções anteriores, só iria ser alcançada na safra de 1956/57. Esse aumento

foi distribuído entre os estados e usinas, de modo proporcional aos limites anteriores

da resolução n.º 501.

A produção nacional de açúcar cresceu rapidamente, pois de 24.800.000

sacas na safra 1950/51, passou a 35.400.000, na safra de 1954/55. Na safra de

1956/67, a produção atingiu 37.500.000 sacas, com 33.500.000 consumidas pelo

mercado interno e 2.500.000, para exportação. Essa melhoria do mercado interno

levou o IAA, através da Resolução no 1.284, de 20.12.1957, a elevar o contingente

global da produção das usinas do país para 47.700.000 sacas. A ampliação deveria

ser repartida entre as quotas das usinas proporcionalmente à maior produção

alcançada, para cada uma delas, no quinquênio imediatamente anterior. Esse

critério de repartição, acabou com a distribuição espacial da produção açucareira por

estados, tal como fora estabelecida anteriormente por decretos e resoluções. A partir

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dessa resolução passou a ocorrer a hegemonia da agroindústria do centro-sul, e

mais especialmente, das usinas de São Paulo. Com a ampliação das quotas, a

produção continuou a aumentar mais depressa do que o consumo interno. Na safra

de 1957/58, enquanto a produção atingia 44.400.000, o consumo interno se manteve

com 133.500.000 sacas. Mas, o grande salto, ocorreu na safra de 1958/59, quando

atingiu 53.700.000 sacas. A única solução a curto prazo, foi mais uma vez, a de

intensificar as exportações, o que ia de encontro aos interesses do governo federal,

às voltas com uma escassez de divisas, para cobrir o valor das importações do país

(SZMRECSÁNYI, 1978).

Na época, o único mercado que as exportações brasileiras tinham acesso, era

o chamado "Mercado Livre Mundial" que se encontrava saturado. Diante disso, o IAA

acabou reduzindo a produção de açúcar do país, através do Plano de Safra de

1959/60, e pela primeira vez em muitos anos, após a criação do IAA, o total

autorizado fora inferior à produção alcançada na safra anterior, isto é, 50.900.000

sacas. Além disso, o IAA reforçou a fiscalização junto aos produtores, e estendeu o

limite de safras até 1962/63 (SZMRECSÁNYI, 1978).

A expansão considerável da agroindústria açucareira, principalmente do

Paraná, nessa década, foi devida às ampliações das quotas do IAA, conforme

Tabela 3.

Por outro lado, a grande expansão das destilarias de álcool no Paraná foi

promovida pela necessidade do consumo interno e incentivos do IAA, conforme

Tabela 2.

Na década de 1950, apesar da expansão da agroindústria açucareira no

Brasil, determinada pelo aumento do consumo interno, não ocorreu o surgimento de

novas usinas no Estado, mas sim, o aumento da produção de açúcar e álcool das

usinas já instaladas, conforme Tabelas 2 e 3.

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82 

 

Tabela 2. Produção de álcool no Estado do Paraná, safras 1948/49 a 1960/61, em

litros.

Safras

Usina Estado

Bandeirantes Central

PR. Jacarezinho Malucelli Produção Índice

1948/49 400.550 764.000 - - 1.164.550 100

1949/50 531.480 1.475.840 918.135 - 2.925.455 251

1950/51 806.940 2.615.300 880.000 15.000 4.317.240 370

1951/52 931.340 2.499.593 716.000 101.600 4.248.533 365

1952/53 1.226.000 2.584.000 902.100 121.400 4.833.520 415

1953/54 567.010 1.398.400 1.139.950 119.365 3.224.725 477

1954/55 1.783.000 2.433.700 813.650 96.400 5.126.750 440

1955/56 1.312.000 3.173.400 925.724 71.000 5.482.124 470

1956/57 2.296.000 3.034.000 1.309.700 99.800 5.740.390 492

1957/58 2.422.400 3.560.000 1.698.580 118.400 7.799.380 670

1958/59 2.167.100 3.799.000 1.876.241 118.000 7.960.341 683

1959/60 1.392.530 2.814.000 1.788.800 133.800 6.129.130 526

1960/61 3.141.000 3.576.000 1.143.300 137.400 7.997.700 687

Fonte: I. A. A.

A década de 1960 caracterizou-se fundamentalmente pela busca por parte

IAA de novas vinculações ao mercado mundial, além do aumento do mercado

interno.

O professor Andrade (1976), aponta as várias causas que contribuíram para o

crescimento das nossas exportações a partir da década de 1960:

1º A implantação do sistema socialista em Cuba, que veio contrariar

os interesses das empresas norte-americanas proprietárias das

grandes agroindústrias de açúcar daquele país, que cancelaram a

quota do fornecimento de açúcar cubano do mercado norte-

americano. Essa quota foi destinada aos países produtores de

açúcar latino-americanos, favorecendo a exportação brasileira.

2º A expansão da agricultura canavieira em áreas mais favoráveis ,

sobretudo no Sudeste e Sul, onde se pode fazer uma agricultura com

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maior índice de mecanização e obter uma mais elevada

produtividade agrícola, com a diminuição dos custos da produção.

Esta Modernização da agricultura foi acompanhada pela instalação

de usinas modernas, com maior capacidade de esmagamento de

canas e com menor utilização de mão-de-obra, permitindo ainda a

elevação da produtividade industrial. Passou o Brasil a dispor de

condições de competitividade de que não dispunha anteriormente no

mercado mundial, colocando no mesmo um produto mais barato e de

menor qualidade.

3º A política de comércio exterior mais agressiva desenvolvida pelo

governo brasileiro nos últimos anos, procurando oferecer incentivos à

exportação, e mais recentemente, construindo obras de infraestrutura

que facilitam o escoamento da produção.

4º Além da ascensão dos preços do açúcar no mercado mundial.

Tabela 3. Produção de açúcar das Usinas do Estado do Paraná, safras de 1950/51 a 1960/61, em sacos de 60 quilos.

Anos Usina

Bandeirantes

Usina Central

PR

Usina Jacarezinho

Usina Morretes

Paraná

Números Número

brutos Indice

1950/51 98.267 240,704 30.160 19.169 450.915 100

1951/52 108.511 250.638 106.515 23.060 488.724 108

1952/53 150.900 219.399 111.259 21.602 503.168 112

1953/54 90.688 222.504 152.353 22.847 488.392 108

1954/55 154.102 333.139 169.078 16.337 672.656 149

1955/56 129.025 328.046 202.343 14.000 673.414 149

1956/57 185.215 431.190 186.099 20.845 823.349 133

1957/58 205.214 444.444 244.010 20.672 914.340 203

1958/59 262.340 417.239 311.109 31.272 1.021.960 227

1959/60 236.753 435.923 261.536 30.525 963.747 214

1960/61 310.600 517.204 350.924 24.865 1.213.593 269

Fonte: IAA.

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84 

 

Esse incremento através da abertura do mercado externo teve dois efeitos: de

um lado, permitiu que a demanda do açúcar para um mercado interno crescente

continuasse, e de outro, possibilitou o escoamento para o exterior dos excedentes

de açúcar do Nordeste, os quais já não se faziam necessários ao abastecimento dos

mercados consumidores do Centro-Sul (SZMRECSÁNYI, 1978).

A política que influenciou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no

Brasil, durante a década de 1960, tinha segundo Szmrecsányi (1978), dois objetivos:

a) incrementar as exportações brasileiras de açúcar; e

b) ampliar a capacidade produtiva das usinas e das lavouras de

cana, pois ela se baseava na capacidade ociosa então existente nas

unidades do Centro-sul e os excedentes exportáveis do Nordeste,

que seriam rapidamente absorvidos pela crescente demanda interna

e externa do produto” (SZMRECSÁNYI, 1978).

As primeiras medidas concretas com vistas à exportação de açúcar, foram

adotadas através do Decreto do Governo Federal n.º 50.818, de 22/6/1961, criando

uma Divisão de Exportação no IAA e as normas para centralização e coordenação

das atividades de exportação do açúcar e demais derivados da cana-de-açúcar. Em

1/08/1961, através do Decreto no 51.104 (BRASIL, 1961), o Governo Federal criou

um “Fundo de Recuperação da Agroindústria Canavieira”. Ainda no mesmo ano, em

17/11/1961, foi criado no IAA, um “Fundo de Consolidação e Fomento da

Agroindústria Canavieira”, sendo a motivação principal desse decreto, o de “criar as

condições para o surto das vendas brasileiras de açúcar no Exterior”

(SZMRECSÁNYI, 1978).

A importância dada pelo Governo Federal ao planejamento a longo prazo, e o

desejo de integrar o crescimento da agroindústria canavieira aos demais setores da

economia nacional, levou o IAA a firmar em junho de 1962, um convênio com o

Banco do Brasil – visando o amparo financeiro de projetos destinados a assegurar

um melhor aproveitamento da terra nas zonas canavieiras, garantindo um

abastecimento regular de matéria –prima para a agroindústria açucareira. No ano de

1963, o IAA organizou um "Programa Diretivo para a Política Açucareira e

Alcooleira" e posteriormente, recebeu o nome de "Plano de Expansão da Indústria

Açucareira Nacional", tendo como objetivo ampliar a produção do país para

100.000.000 de sacas até o ano de 1971, do qual 80.000.000 seriam para o

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mercado interno e os outros 20.000.000 para o mercado exterior e para a formação

de um estoque regulador.

Esta medida foi sancionada pelo IAA através das Resoluções no

1.761 e 1762 de 12.12.1963. Nessa época, o incremento pretendido

para a produção açucareira nacional era de 38.000.000 de sacas, e a

capacidade instalada das usinas do país era de 62.000.000 de

sacas. Cerca de 60% da produção adicional seriam das usinas já

existentes, e os outros 40% das novas usinas que haviam sido

previstas pelo "Plano de Expansão da Indústria Açucareira Nacional”

(SZMRECSÁNYI, 1978).

Através desse novo Plano de Expansão foi autorizada a abertura de quotas,

para dar origem às novas indústrias de Açúcar e Álcool no país. No Estado do

Paraná, implantou-se a usina Santa Terezinha no município de Maringá, no ano de

1964.

A Usina de Açúcar Santa Terezinha Ltda. foi a quarta a ser instalada no

Estado, sendo fundada pela família Meneghetti (pioneiros de Maringá) que possuíam

fazendas de café. Com a ocorrência de geadas, de 1955 a 1960, a família

Meneghetti construiu alambique e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, e os cafezais

foram sendo substituídos pelos canaviais.

No final da década de 1960, o IAA levou avante a sua política de

concentração e modernização, que prosseguiu pela década de 1970, dando origem

à atual estrutura agroindustrial canavieira, tendo como objetivo torná-la mais

competitiva no mercado internacional. A partir de 1968, o fomento das exportações

foi a estratégia desenvolvimentista aplicada no país, tornando a produção

competitiva em termos de preço e qualidade (SZMRECSÁNYI, 1978).

Os estímulos e condições de infraestrutura ao crescimento da agroindústria

canavieira nos primeiros anos de 1960, e a política de concentração e modernização

no final da década, contribuíram para o crescimento da produção da agroindústria

açucareira-alcooleira do Paraná, conforme as Tabelas 4 e 5.

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Tabela 4. Produção de açúcar das Usinas do Estado do Paraná, safras 1960/61 a

1970/71, em sacos de 60 quilos.

Ano Usina

Bandeirante

Usina Central Paraná

Usina Jacarezinho

Usina Morretes

Usina Santa

Terezinha

Paraná

Números Brutos

Número Índice

1960161 310.600 517.204 360.924 24.865 - 1.213.593 100

1961/62 359.270 725.585 251.342 11.835 - 1.348.032 111

1962/63 434.253 706.591 248.835 20.305 - 1,409.984 116

1963/64 403.662 838.189 299.340 19.435 6.244 1.556.870 128

1964/65 602.140 1.119.539 362.574 33.378 12.819 2.130.450 176

1965/66 690.480 1.183.132 506.433 22.246 42.282 2.444.575 201

1966/67 506.118 955.621 427.084 30.382 59.849 1.979.054 163

1967/68 534.863 925.658 448.466 21.504 55.103 1.965.594 162

1968/69 542.670 1.181.223 373.238 6.517 67.410 2.171.258 179

1969/70 567.580 868.873 404.058 14.716 76.849 1.932.074 159

1970/71 651.300 1.307.942 479.032 12.980 105.853 2.557.107 211

Fonte: IAA

Tabela 5. Produção de álcool das Usinas do Estado do Paraná, safras 1960/61 a 1970/71, em milhares de litros.

Ano Usina

Bandeirante

Usina Central Paraná

Usina Jacarezinho

Usina Morretes

Paraná

Números Brutos

Número Índice

1960/61 3.141 3.576 1.143 137 7.997 100

1961/62 3.773 5.568 1.297 79 10.319 129

1962/63 3.824 7.165 777 120 11.887 149

1963/64 2.976 5.588 1.421 - 10.099 126

1964/65 4.356 7.872 1.014 - 13.332 167

1965/66 4.630 9.065 1.283 145 15.124 189

1966/67 5.478 6.780 1.300 130 13.688 171

1967/68 5.041 6.762 1.025 - 12.829 160

1968/69 4.827 6.964 894 - 12.687 159

1969/70 4.808 6.015 828 - 11.652 146

1970/71 6.298 7.774 1.918 - 15.990 200

Fonte: IAA

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Essa ampliação da produção açucareira/alcooleira foi devida:

a) ao crescimento contínuo do mercado interno de açúcar e álcool;

b) ao considerável aumento das exportações de açúcar;

c) a uma política de expansão da lavoura canavieira estabelecida

pelo IAA, nesta década; e

d) ao incremento da capacidade de produção instalada nas usinas

(IEA, 1972).

Na década de 1970, o IAA continuou com a política do final da década

anterior, e procurou enfocar o aspecto da competitividade do açúcar brasileiro no

mercado internacional, através:

a) das dimensões e do aproveitamento da capacidade instalada;

b) do grau de eficiência do sistema produtivo, e

c) da estrutura do sistema de comercialização, englobando tanto as atividades

agrícolas, como as industriais. Embora tivesse sido esse planejamento esboçado na

década de 1960, só começou a ser posto em prática no início da década de 1970,

com a formulação e execução do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-

açúcar (PLANALSUCAR). Através do Decreto-Lei no 1.186, de 27.8.1971 (BRASIL,

1971a), iniciou-se o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira,

posteriormente denominado Programa de Apoio à Agroindústria Açucareira, a partir

do Decreto Lei no 1.266, de 26.3.1973 (BRASIL, 1973). Esse planejamento da

Agroindústria no Brasil via o Programa de Melhoramento do PLANALSUCAR como

um instrumento de "melhoria da qualidade da matéria-prima" e de "racionalização da

produção", cujo objetivo estava ligado a dois programas em desenvolvimento no

IAA:

a) O de financiamento da fusão e da racionalização das empresas

agroindustriais canavieiras;

b) O da construção de terminais açucareiros (instalações de armazenagem e

de embarque a granel, nos principais portos exportadores de açúcar do país -

Recife, Maceió, e Santos). Sendo esses três programas citados, inter-relacionados

numa política de modernização tecnológica e administrativa. O Programa de

Racionalização da Agroindústria Açucareira, ocorreu através da Lei no 5.654, de

14.5.1971 (BRASIL, 1971b), reformulando várias normas relativas à produção de

açúcar no país, como a revisão periódica de quotas de produção das usinas. Nessa

revisão manteve-se o contingente de 100.000.000 de sacas, que fora fixado em

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88 

 

1963, pela Resolução do IAA n.º 1761, e cujo limite passaria a ser alterado pelo

Ministro da Indústria e Comércio, conforme necessidades do mercado interno e das

exportações. Nessas condições, estava sendo alcançada a meta do Plano de

Expansão da Indústria Açucareira Nacional de 1963.

Mas a Lei no 5.654, estabeleceu que o limite global passou a ser a somatória

da produção do Sul, e do Norte Açucareiro, e não mais a somatória dos contingentes

estaduais. Buscava-se, então, possibilitar o crescimento da produção de açúcar dos

estados nas usinas que realmente apresentavam melhores condições, e abrir a

possibilidade de reajustamento de quotas oficiais de produção para as usinas,

mediante simples atos do Presidente do IAA. No mesmo ano, o Decreto Lei no 1.186,

de 27.8.1971, concedia estímulos financeiros à fusão, incorporação e relocalização

das unidades industriais açucareiras (SZMRECSÁNYI, 1978).

Esse decreto-lei, como a Lei no 5.654, revogou vários dispositivos do Estatuto

da Lavoura Canavieira, dando aos usineiros maiores condições para atingir índices

superiores de produtividade e consequente redução de seus custos de produção.

Tais objetivos valorizavam a concentração empresarial (através da absorção de

quotas de produção de outras usinas e fornecedores e da relocalização de

estabelecimentos agroindustriais em áreas mais favoráveis às suas atividades).

Essa conjuntura propiciou, conforme Bray (1980) uma grande expansão

territorial das agroindústrias do Paraná a partir do início da década e o encerramento

da produção de açúcar da Usina Morretes. Sendo essa Usina de baixa produção e

considerada marginal sob o ponto de vista econômico, sofreu o reflexo da Política de

Racionalização através do Decreto Lei no 1.186, de 1971, paralisando as suas

atividades nesse mesmo ano.

Mas, tanto o PLANALSUCAR como o Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira tiveram um desempenho favorável, devido ao crescimento

do volume e dos preços das exportações do produto7, resultando em reflexos

positivos sobre o Fundo Especial de Exportação. Os preços pagos aos produtores

pelo IAA (por lei, o único exportador) eram inferiores aos valores médios por ele

recebidos, o IAA, conseguiu formar (graças também à conjuntura favorável das

                                                            7 O valor das exportações de açúcar passou de US$ 552.711.000 em 1973 para US$ . 1.261.630.000 em 1974 (quando os preços do açúcar no mercado internacional atingiram ponto culminante). Nesse mesmo ano, o açúcar ultrapassou o café em valor de exportação, pois o mesmo atingiu US$ 864.313.000 (IBGE, 1975, p. 363-364).

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vendas externas) saldos vultuosos para o seu Fundo Especial de Exportação. Com

esses saldos, o IAA ampliou sua política de modernização da indústria canavieira.

Em 1973, através Decreto-Lei no 1.266, o IAA procurou dinamizar mais esse fundo

através de empréstimos para as usinas, e do reforço à infraestrutura de exportação

tal como, a implantação e operação de terminais açucareiros de Maceió e Santos, e

os benefício ao programa de pesquisa do PLANALSUCAR (SZMRECSÁNYI, 1978).

Através do Fundo Especial de Exportação, as usinas do Estado puderam

beneficiar-se, ampliando a capacidade de produção de açúcar e álcool na década de

1970 (Tabelas 6 e 7).

Tabela 6. Produção de açúcar das usinas do Estado do Paraná, safras de 1970/71 a 1983/84, em sacos de 60 quilos.

Ano Bandeirantes Central Paraná

Jacarezinho Santa

Terezinha Morretes Total

Número Índice

1970/71 651.300 1.307.942 479.032 105.853 12.980 2.557.107 100

1971172 747.632 1.250.514 635.098 145.000 2.778.244 109

1972173 805.310 1.162.373 620.000 111.607 2.699.533 106

1973174 875.493 1.205.630 536.745 100.612 2.718.480 106

1974175 867.720 1.183.455 664.486 157.606 2.875.467 112

1975176 800.489 929.680 600.623 81.578 2.412.370 94

1976/ 77 965.780 1.155.724 746.850 167.942 3.036.296 118

1977178 907.132 1.704.361 721.320 174.230 3.507.043 136

1978179 808.151 1.753.650 640.000 200.020 3.401.821 132

1979/80 908.680 1.841.700 918.000 240.000 *3.908.380 153

1980/81 904.140 1.720.440 1.289.520 286.500 *4.200.600 163

1981/82 831.760 1.541.970 869.046 410.607 *3.653.383 142

1982/83 706.906 1.310.506 738.594 348.9715 *3.104.977 121

1983/84 716.330 914.500 858.450 529.700 *3.018.980 118

Fonte: IAA. * Sacos de 50 quilos.

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91 

 

Os financiamentos provenientes do Fundo de Exportação do IAA foram

concedidos em bases muito favoráveis para as empresas. Mas várias usinas do país

acabaram se endividando, a exemplo da Central Paraná, que construiu uma nova

usina, atualmente pertencente ao grupo Atalla, e que se encontrou no final de 1978

e início de 1979 nas manchetes de revistas e jornais, em virtude de sua enorme

dívida ao Governo Federal. Sobre o assunto, Szmrecsányi diz:

nem todas as usinas do país aplicaram de forma mais produtiva os

recursos assim obtidos, e tudo teria corrido às mil maravilhas se as

tendências do mercado internacional se tivessem mantido

inalteradas. Mas tal não aconteceu, e a partir do final de 1979, os

preços do açúcar nos mercados externos começaram a cair

abruptamente, passando de US$ 1,3 mil por TM em novembro

daquele ano, para US$ 200 TM em 1978. As exportações voltaram a

se tornar gravosas, fazendo diminuir os recursos do Fundo de

Exportação, bem como os níveis de preços pagos pelo IAA aos

produtores, dificultando a amortização das dívidas por eles

contraídas (SZMRECSÁNYI, 1978).

A par dessa política de exportação de açúcar, também implantou-se, na

década de 1970, a política do álcool, em decorrência da conjuntura petrolífera

mundial e dos crescentes déficits no balanço de pagamento do país.

Entretanto, o Estado Nacional com o PROÁLCOOL veio resolver o problema

do usineiro ·com dívidas Via Fundo Especial de Exportação e dos fabricantes de

equipamentos industriais do ramo que tinham se estruturado para fazer frente ao

Programa de Racionalização de Agroindústria Açucareira/Alcooleira. E Ramos

(1983) diz:

Um plano de implicações tão importante na economia brasileira

acabou sendo para atender os interesses de usineiros e produtores

de equipamentos ... equacionados os problemas decorrentes dos

interesses de outros setores envolvidos (exemplo da indústria

automobilística, que demorou muito para se integrar) aquele plano

não se firmaria efetivamente.

O álcool que sempre foi, no Brasil, um subproduto do açúcar, começou, a

partir de 1976, a intensificar o seu fabrico diretamente da cana, devido à contenção

de quotas de açúcar pelo IAA e os estímulos do P.N.A.

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O PROÁLCOOL pode ser dividido em duas fases: a primeira, de 1975/79, na

qual o programa previa chegar a uma produção de 3,0 bilhões de litros de álcool; e a

segunda, de 1980/85, para a qual a meta estipulada foi de 10,7 bilhões de litros de

álcool, o equivalente a 170 mil barris de petróleo/dia.

A partir da primeira fase do PROÁLCOOL, o Estado do Paraná recebeu

financiamentos para instalar 10 Destilarias Autônomas, num total de Cr$

1.044.976.000,00, sendo o segundo estado do país, depois de São Paulo, na

implantação de destilarias autônomas, e o terceiro no recebimento dos recursos do

PROÁLCOOL; de 1980 a 18.4.83 o Paraná, na segunda fase do PROÁLCOOL,

recebeu Cr$ 13.876.812.000,00, na instalação de mais 22 destilarias autônomas,

continuando a ser o segundo Estado do país quanto ao número de destilarias

autônomas e o terceiro com relação ao montante de recursos recebidos pelo CENAL

(BRAY, 1983).

Nesse processo de implantação de destilarias autônomas e anexas, ocorreu a

consolidação do cultivo da cana-de-açúcar no Estado, dominando, principalmente

através da produção do açúcar e álcool, o Norte Velho e o Norte Novo Paranaense,

conforme Figura 1.

Figura 1. Produção de açúcar e álcool no Estado do Paraná, 1983/84, por município.

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Bibliografia

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Nota

Referência completa original

BRAY, S. C.; TEIXEIRA W. A. O processo de implantação e expansão do complexo

canavieiro, açucareiro e alcooleiro no estado do paraná. Boletim de Geografia,

Maringá, v. 3, n. 3, p. 17-30, jan. 1985.

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O PLANEJAMENTO ESTATAL NO PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO

DO SETOR CANAVIEIRO DE PORTO FELIZ 1

Rosely Rufino SAMPAIO2

Silvio Carlos BRAY3

Resumo

A escolha do setor canavieiro de Porto Feliz na região Central de Depressão

Periférica Paulista, deve-se à tradição canavieira desde o final do Século XVIII,

como antiga área de produção de açúcar, aguardente e álcool, no “quadrilátero do

açúcar”. As agroindústrias do setor de Porto Feliz sofreram intervenções do Estado

Nacional para ajustar-se ao desenvolvimento do capitalismo no país, alterando e

ampliando o processo de concentração da produção canavieira, açucareira e

alcooleira. As novas destilarias de álcool anexas, construídas após o PROÁLCOOL,

mostram o modernismo dessas instalações em relação aos antigos maquinários e

edificações das usinas da tradicional área açucareira de Porto Feliz.

UNITERMOS: Agroindústrias; destilarias; produção de cana-de-açúcar; área

açucareira.

1 - Introdução

O setor canavieiro de Porto Feliz corresponde à porção sul da área canavieira

de Piracicaba e situa-se no médio Tietê na parte central da Depressão Periférica

Paulista. É formado pelos municípios de Boituva, Capivarí, Cerquilho, Cesário

Lange, Elias Fausto, Indaiatuba, ltú, Laranjal Paulista, Mombuca, Monte Mór, Porto

Feliz, Rafard, Salto, Tatuí e Tietê (Figura 1).

                                                            1 O artigo corresponde à interpretação e conclusões que envolveu o trabalho: As agroindústrias do Setor Açucareiro e Alcooleiro de Porto Feliz (SAMPAIO , 1984), desenvolvido através do auxilio do CNPq. 2 Departamento de Geografia- Universidade Estadual de Londrina- Campus Universitário- Londrina PR. 3 Departamento de Planejamento Regional- Instituto de Geociências e Ciências Exatas- UNESP- Rio Claro- SP.

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A escolha dessa área deve-se à "tradição canavieira" desde o final do século

XVIII, como antiga região de produção de açúcar, aguardente e álcool. Esse setor

canavieiro sofreu várias transformações com relação ao processo de formação,

ligadas às constantes intervenções do Estado na agroindústria açucareira-alcooleira

e também nas mudanças políticas, econômicas, espaciais, sociais e tecnológicas

que ocorreram no país.

O setor açucareiro-alcooleiro de Porto Feliz, ao lado de Piracicaba, Campinas,

Mogi-Guaçu e Jundiaí, foram pontes formadoras do antigo “quadrilátero do açúcar”

(PETRONE, 1968).

Até a primeira metade do século XIX, o "quadrilátero do açúcar" era

responsável por cerca de 700% da produção açucareira e aguardenteira paulista. A

partir da segunda metade desse mesmo século, a cultura cafeeira penetrou em São

Paulo, invadindo rapidamente o "quadrilátero" e assumindo grande importância em

detrimento da cultura canavieira.

Embora, a região do quadrilátero diminuísse sua produção de açúcar, o setor

em estudo manteve-se com resultados significativos, porém, produzindo com

técnicas ultrapassadas e com raras possibilidades de concorrer no mercado

mundial.

Frente a essa situação e conhecendo os resultados obtidos nas colônias

inglesas e francesas, o governo brasileiro resolveu centralizar a produção industrial,

criando os Engenhos Centrais.

Os primeiros Engenhos Centrais a serem implantados em São Paulo, foram: o

de Porto Feliz em 1878 e o de Rafard em 1884, ambos no setor em estudo, além

dos de Piracicaba e Lorena implantados nesse mesmo ano. Mas a tentativa

fracassou e após dez anos os Engenhos Centrais implantados no Estado entraram

em crise.

Com a decadência dos Engenhos Centrais, apenas a área canavieira de

Piracicaba e principalmente o setor de Porto Feliz mantiveram-se com produção

significativa, embora com uma indústria açucareira ainda incipiente (SAMPAIO,

1984).

No início do século XX os Engenhos Centrais de São Paulo foram comprados

por uma empresa francesa e transformados em “Sucréries” de Porto Feliz, Villa

Rafard, Piracicaba e Lorena (SAMPAIO, 1984).

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Em 1907, as “Sucréries” foram compradas por outro grupo francês com sede

em Paris, denominado “Societé de Sucréries Bresiliennes” que manteve-se entre os

quatro principais grupos usineiros do Estado de São Paulo, durante quarenta anos

(de 1930 a 1969).

As crises sucessivas da economia cafeeira em São Paulo, possibilitaram o

avanço da agroindústria açucareira. Nesse período, ocorreu a implantação no setor

das usinas Santa Cruz (1926) e Bom Retiro (1932) no Município de Capivari.

Até esta época, o açúcar não dispunha de diretrizes básicas. Em 1933, foi

criado o Instituto de Açúcar e do Álcool, visando estabelecer uma política para a

produção e comercialização do produto. Com a implantação do IAA ficou proibido a

produção de açúcar do tipo mascavo produzido pelos pequenos engenhos,

favorecendo a implantação de grandes unidades produtoras. Com isso, no setor de

Porto Feliz foram implantadas mais duas agroindústria no Município de Elias Fausto:

As Usinas São Francisco (1941) e São Bento (1947). Na década de 1940, com a

Segunda Guerra, o açúcar nordestino diminuiu o abastecimento do Centro-Sul,

aumentando a produção de açúcar paulista; assim como foram concedidas quotas

pelo IAA para a fundação de várias usinas no Estado.

No início da década de 1950, o IAA liberou a produção de açúcar e álcool em

todo o país, determinado em boa parte pela crescente demanda do mercado interno,

devido aos efeitos da intensa industrialização e urbanização do Centro-Sul do país;

fato que possibilitou a implantação das usinas de Santa Maria em Cerquilho e Santa

Rosa em Boituva (1953).

A partir da década de 1960, com a elevação do preço do açúcar no mercado

externo e os incentivos do Fundo Especial de Exportação (1971), os grupos

usineiros do setor de Porto Feliz, investiram na modernização dos equipamentos

industriais e agrícolas e na compra de terras.

2 - A abertura do mercado externo e os primeiros indícios de modernização

das áreas canavieiras.

A política que orientou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no

Brasil na década de 1960 teve por objetivo o incremento das exportações do açúcar

e a ampliação do parque industrial e das lavouras de cana (SZMRESCÁNYI, 1979).

Essa política apoiou-se no rompimento das relações entre Estados Unidos e Cuba,

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que teve como uma de suas principais consequências a exclusão do açúcar cubano

do mercado preferencial norte americano. Nesse contexto, a região Centro-Sul,

encontrando-se melhor estruturada, passou a colaborar na colocação do açúcar

brasileiro no mercado externo, com preços competitivos (BRAY, 1980).

Com a abertura do mercado externo, surgiu a necessidade de se tomar

algumas medidas concretas com vistas às exportações de açúcar. As primeiras

medidas foram adotadas através do decreto do governo federal no 50.818, de

22/06/1961,criando uma Divisão de Exportações no IAA, e estabelecendo normas

para a centralização e coordenação das atividades de exportação do açúcar e

demais derivados da cana-de-açúcar. Em 01/08/1961, através do decreto no 51.104,

criou-se de sacos, através do governo federal um "Fundo de Recuperação da Agro

Indústria Canavieira". Ainda no mesmo ano, em 17/11/1961 foi criado no IAA, um

"Fundo de Consolidação e Fomento da Agroindústria Canavieira", sendo motivação

principal desse decreto, o de "criar as condições para o surto das vendas brasileiras

de açúcar no exterior" (SZMRESCÁNYI, 1979).

A política econômica de subordinação da agricultura ao capital, assumiu a

partir desse momento, um papel decisivo. O poder estatal passou a apoiar a

concentração e centralização dos recursos, favorecendo o desenvolvimento

intensivo do capitalismo, ao mesmo tempo que as decisões econômicas e políticas

do Estado, passaram a ser influenciadas pelo capital monopolista nacional e

multinacional.

A expansão da produção açucareira tomou grande impulso devido ao

mercado internacional favorável, aliado à expectativa do Brasil fazer parte do

mercado preferencial norte-americano em caráter permanente. Fato que deu apoio,

inclusive, à erradicação dos cafezais antieconômicos e à ampliação do parque

açucareiro do Centro-Sul financiados pelo Banco do Brasil (SAMPAIO, 1984).

Entretanto, em meados de 1964, se deu uma queda no preço do açúcar em

função da oferta do produto no Mercado Livre Mundial. Esse fato afetou as

exportações do país, com um grande aumento da produção açucareira. Os estoques

do IAA, que na safra 1964/65 foram de 12.000.000 sacos, passaram para

27.000.000 em junho de 1966, atingindo em torno de 35.600.000 de sacos em

setembro do mesmo ano. E conforme Szmrescányi (1979):

Esta foi, sem dúvida, uma das piores crises da agroindústria

canavieira nacional, pois, o Estado de São Paulo, que alcançou na

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safra de 1965/66 mais de 42.000.000 de sacos (contra 27.000.000 na

safra anterior), deixou de colher e moer o equivalente a 13.000.000

de sacos, resultados conflitos entre usineiros e fornecedores.

A partir da segunda metade da década de 1960, o IAA começou a atuar

através de um planejamento a médio e longo prazos. A primeira medida tomada

nesse sentido foi a criação do Laboratório Agroindustrial de Piracicaba e da Estação

Experimental de Araras, voltados para a pesquisa agronômica.

O avanço das exportações e os primeiros estímulos, no sentido de

modernização do setor, contribuíram para o crescimento da produção açucareiro-

alcooleira da zona de Porto Feliz na década de 1960. A produção de açúcar do

Setor em estudo, de 1.988.785 sacos em 1960/61, passou para 3.061.490 sacos em

1970/71. O álcool, de 22.378.403 litros em 1960/61, atingiu em 1970/71 o total de

27.411.260 litros.

A ampliação da produção ocorreu devido principalmente ao crescimento do

mercado interno de açúcar e álcool, ao aumento das exportações, a uma política de

expansão da lavoura canavieira estabelecida pelo IAA e ao incremento da

capacidade de produção instalada nas usinas.

3 - As influências das políticas de modernização do IAA e do PROÁLCOOL nas

agroindústrias de Porto Feliz.

No início da década de 1970, o IAA continuou a questionar o problema da

competitividade do açúcar nacional no Exterior, preocupando-se com a questão do

tamanho e do aproveitamento da capacidade instalada das usinas, o grau de

eficiência do sistema produtivo e de comercialização tanto das atividades agrícolas

como das indústrias. Essa preocupação apesar de encontrar-se delineada nos anos

60, a sua prática ocorreu efetivamente a partir da década de 1970 (BRAY, 1983).

Com a expansão das exportações de açúcar, no início da década de 1970, foi

criado o Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar

(PLANALSUCAR), visando desenvolver novas variedades de cana.

Em 1971 foi criado o Fundo Especial de Exportação do Instituto de Açúcar e

do Álcool, que passou a incrementar o aumento das exportações, permitindo

sobretudo o desenvolvimento de uma política de modernização da agroindústria

canavieira.

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Os recursos desse Fundo Especial foram aplicados como pagamento de

subsídio para aquisição de fertilizantes, cujos preços cresceram muito devido à alta

dos preços do petróleo, e ao financiamento para a instalação de novas destilarias

anexas às usinas de açúcar.

Nesse mesmo ano foi criado o Programa de Racionalização da Agroindústria

Açucareira, visando conceder estímulos financeiros à fusão, incorporação e

relocalização de estabelecimentos industriais em áreas de menor concorrência entre

os grupos usineiros e mais favorável à expansão desses grupos (FERREIRA; BRAY,

1983).

Como reflexo dessa política, foram encerradas no Estado de São Paulo as

atividades de 23 pequenas usinas de açúcar e álcool (FERREIRA; BRAY, 1983).

Entretanto, as condições externas favoráveis foram prejudicadas por uma

série de transformações políticas e econômicas que vieram repercutir diretamente

na agroindústria canavieira. A crise do petróleo em 1973 (com a elevação dos

preços do petróleo de 2,84 dólares o barril para 13 dólares), ao lado da perda do

mercado preferencial norte-americano e da queda dos preços do açúcar no mercado

externo, levou os grupos usineiros a apresentarem propostas ao governo federal,

resultando, no final de 1975, na criação do Programa Nacional do Álcool (PNA).

A criação do PROÁLCOOL teve por prioridade o objetivo de economizar

divisas

através da substituição das importações de petróleo, reduzir as disparidades

regionais de renda, intensificar o uso da terra e da mão-de-obra e incentivar a

produção de bens de capital, através da modernização de destilarias (BRAY, 1983).

De imediato, a criação do PROÁLCOOL foi uma solução viável para

solucionar a crise das exportações do açúcar, uma vez que havia toda uma

infraestrutura ecológica no país, assim como as agroindústrias encontravam-se em

condições de ampliar as destilarias já existentes. Os empresários de açúcar e álcool,

assim como os produtores de equipamentos para as destilarias sem dúvida, tinham

muito a ganhar com o referido Programa (MELO; FONSECA, 1981).

Na primeira fase do PROÁLCOOL, 1975/79, o principal instrumento utilizado

pelo governo brasileiro para estimular o aumento da produção da cana-de-açúcar e

da capacidade industrial de transformação em álcool foi o crédito subsidiado,

concedido aos projetos aprovados (MELO; FONSECA, 1981).

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Após 1979, na segunda fase do PROÁLCOOL o instrumento de incentivo à

expansão da produção de cana-de-açúcar e álcool continuou sendo o crédito

subsidiado: os financiamentos cobriam 80 % do investimento fixo para destilarias à

base de cana-de-açúcar (MELO; FONSECA, 1981).

Entretanto, nesta fase, as metas de produção de álcool deveriam aumentar

cerca de 7, 7 bilhões de litros em relação à produção prevista para 1979/80,

atingindo 10,7 bilhões de litros de álcool em 1985.

Isso indica uma necessidade de terras e outros recursos para serem

incorporados à produção de cana-de-açúcar, maior que no período anterior,

provocando uma crescente capitalização da estrutura agrária.

Por outro lado, como afirma Bray (1983), com o PROÁLCOOL o Estado veio

resolver o problema do usineiro com dívidas via Fundo Especial de Exportação, e

dos fabricantes de equipamentos do ramo que tinham se estruturado para fazerem

frente ao Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira.

4 - Os grupos usineiros

O setor canavieiro de Porto Feliz é dominado por sete Grupos Usineiros, dos

quais seis pequenos grupos que possuem uma única usina no Estado de São Paulo.

Esses pequenos Grupos Econômicos (sociedades familiares) dominam seis usinas

na área em estudo (Tabela 1).

O sétimo Grupo, União São Paulo S.A. Agricultura, Comércio e Indústria,

possui duas usinas no Estado, no setor de Porto Feliz: as Usinas Porto Feliz e

Rafard. Estas agroindústrias foram constituídas a partir dos Engenhos Centrais no

final do século XIX. O Grupo Açucareiro “Societé de Sucréries Bresiliennes” foi

constituído em 1907 a partir da liquidação das “Sucréries” de Villa Rafard,

Piracicaba, Porto Feliz e Lorena, no Estado de São Paulo. Esse grupo francês

também detinha no país uma indústria de fabricação de equipamentos para o setor

açucareiro-alcooleiro, de origem francesa localizada no Estado de Alagoas, a

“Compagnie de Fives-Lilles”, com sede em Paris.

O Grupo Açucareiro “Societé de Sucréries Bresiliennes” manteve-se entre os

quatro principais grupos açucareiros do Estado de São Paulo, durante quarenta

anos: de 1930 a 1969. Sobre o assunto Thomaz Jr. (1983) diz:

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Essa nova situação (os engenhos centrais sendo incorporados por

capitais franceses, resultando nas agroindústrias açucareiras)

marcou concretamente um processo de reorganização do espaço,

fruto da passagem do capitalismo concorrencial (quando da

existência dos engenhos centrais), para o capitalismo monopolista

(prática monopolista das agroindústrias açucareiras – territorialização

do monopólio).

No ano de 1969, o Grupo Açucareiro “Societé de Sucréries Bresiliennes” foi

nacionalizado sob a denominação social de Usinas Brasileiras de Açúcar S.A. Nesse

mesmo ano o Grupo Swift Armour S.A. - Indústria e Comércio obteve o controle

acionário da empresa e, no final de 1969, foi transferido para o Grupo Silva Gordo.

No início da década de 1970, Silva Gordo aparece como o segundo maior

grupo açucareiro de São Paulo. Como afirma Ramos (1983), a entrada de Silva

Gordo na produção de açúcar fazia parte de uma estratégia do grupo proprietário do

Banco Português do Brasil, que queria tornar-se em pouco tempo, o maior produtor

açucareiro do país.

O referido grupo enfrentou sérios problemas de ordem financeira, e em 1973

vendeu as usinas de Porto Feliz e Rafard para a empresa União São Paulo S.A.,

constituída no mesmo ano. Os acionistas fundadores dessa empresa eram os

usineiros sócios da COPERSUCAR (SAMPAIO, 1984).

Atualmente, a União São Paulo S.A. é formada por outros 39 (trinta e nove)

grupos usineiros de São Paulo, e mais três grupos, sendo dois de Goiás e um do

Paraná.

A criação da COPERSUCAR (Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar

e Álcool do Estado de São Paulo), em 1959, foi uma união de vários produtores com

o intuito de assumir o controle da comercialização dos produtos por eles fabricados.

Do "trust" de comercialização configurado na COPERSUCAR, somente não fazem

parte alguns grupos, que por sua vez, estão vinculados a outro "trust" que é a

SOPRAL (Sociedade de Produtores de Açúcar e Álcool), da qual a usina São Bento

é membro.

Para entendermos a presença desses grupos no monopólio da produção e

das Terras, é necessário verificarmos que o desenvolvimento capitalista no Brasil

pós-60 reafirmou a grande propriedade, isto é, a grande empresa rural modernizada,

desmobilizando as propostas no sentido de democratizar a propriedade da terra.

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5 - O monopólio da produção e das terras.

Após 1974, com a crise dos preços do açúcar no mercado externo e com a

Implantação do PROÁLCOOL em 1975, a agroindústria canavieira passou a receber

todo apoio governamental através de financiamentos em grandes destilarias.

Com os estímulos recebidos, os grupos usineiros direcionaram seus

investimentos para a modernização das usinas, através da compra de

equipamentos, aumento das destilarias já existentes, implantação de novas

destilarias, e à ampliação das terras. Neste contexto, a partir dos anos 70, ocorreu

uma significativa ampliação das terras usineiras no setor (Tabelas 2 e 3).

A expansão das terras usineiras e da área ocupada pela cana-de-açúcar se

deu em função: a) ampliação de terras arrendadas; b) dos contratos de parceria

agrícola (FERREIRA; BRAY, 1983) e c) da compra das terras, possibilitando a

expansão das áreas de cana própria das usinas (Tabela 4).

A localização das agroindústrias muito próximas umas às outras, provocou

uma intensa concorrência entre os grupos usineiros na busca de terras para

arrendamento nos municípios vizinhos. Fato que provocou a aceleração da

especulação imobiliária na área.

Em face disso, o Estado, através da Secretaria da Agricultura e

Abastecimento elaborou um Plano de Desenvolvimento do Oeste de São Paulo

(PRO-OESTE), em 1980, com o objetivo de deslocar as novas destilarias de álcool

para essa região, ao invés das antigas áreas canavieiras do Estado, como o setor

em estudo. Entretanto, o Plano somente contribuiu para facilitar a expansão e o

processo de monopolização de terras pelos grupos usineiros tradicionais do leste

paulista, a exemplo das agroindústrias do Setor de Porto Feliz; e ao mesmo tempo,

evitou um maior conflito na disputa de terras entre os antigos empresários do açúcar

com os novos do PROÁLCOOL (FERREIRA; BRAY, 1983).

Sobre o rendimento agrícola na lavoura canavieira e a questão dos

fornecedores, Ramos (1983) afirma:

mesmo que o rendimento agrícola na lavoura canavieira fosse

proporcional ao tamanho da propriedade, é necessário lembrarmos

que se torna inviável uma comparação entre, de um lado, pequenos

fornecedores que empregam pouco ou nenhum insumo moderno, e

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de outro, grandes fornecedores ou usineiros, que utilizam melhor

tecnologia, em face dos recursos disponíveis (mecanização,

facilidade de crédito etc.).

Apesar dessas ponderações não se notam diferenças significativas entre os

rendimentos das diferentes categorias de produtores, visto que o setor de Porto Feliz

é uma área canavieira tradicional no Estado de São Paulo.

Embora a participação da produção de cana de fornecedores vem diminuindo

em muito, nas áreas canavieiras mais novas do Estado de São Paulo devido as

influências da modernização das usinas e das novas destilarias; no setor de Porto

Feliz, essa participação é de extrema importância no total da cana moída após

1976/77. Entretanto, esse aumento da produção foi acompanhado pela ampliação

da área cortada (ha); enquanto que o rendimento agrícola (t/ha) praticamente

permaneceu estático, apesar da modernização dos equipamentos e insumos na

agricultura.

6 - Conclusão

A agroindústria canavieira sofreu intervenções do Estado Nacional para

ajustar-se ao desenvolvimento do capitalismo no país, alterando e ampliando o

processo concentracionista da produção canavieira, açucareira e alcooleira.

A forma de apropriação histórica da terra como meio de produção é de suma

importância para a compreensão do quadro atual. Embora a estrutura agrária

brasileira sempre foi caracterizada pelo elevado grau de concentração da

propriedade da terra, a cultura canavieira intensificou esta característica no processo

de expansão.

A expansão das áreas de cana-própria, tanto nas terras usineiras quanto nas

terras arrendadas a partir da década de 1970, mostram que está ocorrendo uma

ampliação do monopólio das terras pelos grupos usineiros, através do arrendamento

e da parceria agrícola no setor canavieiro de Porto Feliz. Este fato significa que

mesmo a terra não sendo de propriedade da agroindústria, existe um contrato de

arrendamento que facilita o monopólio.

Por um lado vem ocorrendo uma intensa concorrência entre os grupos na

busca de terras para serem incorporadas e, por outro, as vantagens oferecidas por

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esses grupos têm atraído pequenos proprietários a arrendar suas terras, com um

retorno garantido através de uma renda fixa anual.

A modernização tecnológica, desenvolvida na agroindústria açucareira e

alcooleira a partir de 70, com relativa rapidez no Estado de São Paulo, teve no setor

de Porto Feliz um desenvolvimento muito lento. Esta defasagem se deve,

principalmente, à formação antiga e tradicional das usinas do setor (oriundas dos

antigos Engenhos Centrais). Entretanto as novas destilarias de álcool anexas,

refletem o modernismo dessas instalações em relação aos antigos maquinários e

edificações das usinas da área açucareira tradicional de Porto Feliz.

Tabela 1. Grupos Açucareiros e Alcooleiros do Setor Canavieiro de Porto Feliz.

Grupos Econômicos Usina Município Razão Social

01 – Família Annicchino Santa Cruz Capivari Usina de Açúcar Santa Cruz S.A.

02 – Famílias Coury/ Furlan/ Barrichello-Forti/ Francisco Scarpa

São Francisco

Elias Fausto Indústria Açucareira São Francisco S.A.

03 – Família Forti Bom Retiro Capivari Usina Açucareira Bom Retiro S.A.

04 – Família João Pilon Santa Maria Cerquilho J. Pilon & Cia Ltda.

05 – Família Labronici Santa Rosa Boituva Usina Santa Rosa S. A. Açúcar e Álcool.

06 – Família Arlindo Dias Pacheco

São Bento Elias Fausto Usina São Bento S. A. Açúcar e Álcool.

07 – União São Paulo Porto Feliz

Rafard Porto Feliz

Rafard

União São Paulo S. A. Agricultura, Comércio e Indústria

Fonte: Usinas do Setor de Porto Feliz.

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Tabela 3. Ampliação das terras usineiras do setor de Porto Feliz, safras 1942/43 -

1982/83, em hectares.

Usinas 1942/43 1982/83 Ampliação %

Bom Retiro 876,00 9.450,00 8.574,00 978,77

Porto Feliz 6.379,00 10.448,98 4.069,98 63,80

Rafard 9.362,00 10.147,93 785,93 8,39

Santa Cruz 1.887,00 10.090,51 8.203,51 434,74

Santa Maria - - - -

Santa Rosa - 5 .832,57 5 .832,57 -

São Bento - - - -

São Francisco 1.050,00 8.190,48 7.140,48 680,05

Fonte: CARLI (1943) e Usinas do Setor de Porto Feliz.

Tabela 4. Terras usineiras do setor canavieiro de Porto Feliz, safra 1982/83.

Usinas Próprias (ha) Arrendadas (ha) Total

Bom Retiro 9.450,00 - 9.450,00

Porto Feliz 7.012,52 3.436,46 10.448,98

Rafard 9.658,03 489,90 10.147,93

Santa Cruz 5.870,24 4.220,27 10.090,51

Santa Maria - -

Santa Rosa 5.319,18 513,39 5 .832,57

São Bento - - -

São Francisco 4.791,69 3.398,78* 8.190,48 Fonte: Usinas do Setor Canavieiro de Porto Feliz *A Usina São Francisco possui parceria Agrícola ao invés de terras arrendadas

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7 - Bibliografia

BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. BRAY, S. C. Agricultura Energética. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 4, 1983, Uberlândia. Anais..., Uberlândia: UFU, 1983, p. 1-28. FERREIRA, E. R.; BRAY S. C. As agroindústrias e a formação do Setor Canavieiro de Araras. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 25, p. 57-68. 1983. MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais). RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983. SAMPAIO, R.R. As agroindústrias do setor açucareiro e alcooleiro de Porto Feliz. 1984, 66f. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Desenvolvimento Rural), Departamento de Planejamento Regional, Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro. 1984 SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p. THOMAZ JUNIOR, A. A territorialização do monopólio: as agroindústrias canavieiras de Jaboticabal. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 4, 1983, Uberlândia: UFU, Anais... p. 53-66.

Nota

Referência completa original

BRAY, S. C.; SAMPAIO, R. R. O planejamento estatal no processo de

modernização do setor canavieiro de Porto Feliz. Revista de Geografia, São Paulo,

n. 4, p.57-67, 1985.

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CRESCIMENTO E CONSOLIDAÇÃO DAS USINAS DE AÇÚCAR NO

ESTADO DE SÃO PAULO 1950 A 19741

Sílvio Carlos BRAY2

Davi Guilherme Gaspar RUAS3

Resumo

Após 1950, as usinas de São Paulo passaram de pequenas para médio porte

e algumas usinas de grande porte começavam a se destacar. O crescimento e o

processo de monopolização da produção pelas grandes usinas de açúcar em São

Paulo se intensificaram, e as usinas que produziram menos de 200.000 sacos,

desapareceram do mercado. As usinas de São Paulo produziram em 1974,

55.771.145 sacos de açúcar de 60 quilos.

Palavras chaves: Açúcar, Usinas e Monopolização.

1 - Introdução.

Com a Segunda Guerra Mundial (1939/45) ocorreu a interrupção do comércio

de cabotagem brasileiro devido a guerra submarina dificultando o abastecimento de

açúcar do centro-sul (na época ainda efetuado em grande parte pelos produtores do

nordeste). A demanda insatisfeita que passou a haver, nos principais centros

consumidores de açúcar do país, acabou determinando a expansão do parque

açucareiro e da lavoura canavieira em áreas que antes da II Guerra Mundial

importavam a maior parte do produto que consumiam. Pois o aumento do consumo

interno açucareiro e alcooleiro4, notadamente na região centro-sul, motivou o IAA a

                                                            1 Trabalho executado com apoio do CNPq. 2 UNESP/IGCE/DPR- Campus de Rio Claro - SP 3 UFSCar/CCA/DTAI- Campus de Araras- SP e Pós-graduando da UNESP/IGCE. 4 Quanto ao álcool, o IAA tomou várias medidas a partir da década de 1940. Uma das mais importantes foi, sem dúvida a resolução da Comissão Executiva do IAA, que a 21/02/1941 elevou para 20% o teor mínimo de mistura do álcool à gasolina, o qual fora fixado em 5% na época da criação do Instituto (ano de 1933), Todas essas medidas iriam culminar no Decreto-lei nº 4722, de 22/09/1942 que declarou a indústria alcooleira de "interesse nacional". Esse decreto-lei estabeleceu

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tomar medidas de incentivos através da abertura de quotas, para a fundação de

novas usinas de açúcar nesta região a partir da década de 1940.

Sobre o referido assunto, Lacerda de Melo (1946) diz o seguinte:

Creio oportuno relacionar aqui aquelas providências que traduzem a

orientação deste órgão (IAA) no sentido de ampliar a produção:

1942 - março - Elevação de 10% nos limites de produção.

1942 - novembro - Liberação do açúcar extra quota dos Estados do

Sul para as usinas que executaram o plano do álcool do Instituto.

1944 - abril - Elevação de 20% nas quotas de produção.

1944 - abril - Declaração de liberdade de produção pelo período de 5

(cinco) safras, comprometendo-se o Instituto a transformar em álcool

ou exportar excessos.

1945 - março- Criação de quotas para novas usinas, no total de

700.000 sacos nos Estados importadores. Aumento de 800.000

sacos para as usinas já existentes; total de aumento: 1.500.000 de

sacos.

1945 - maio - Criação de quotas de açúcar para as destilarias

autônomas, estimados em cerca de 200.000 sacos no Estado de São

Paulo.

1945 - maio - Plano de fornecimento de adubo pelo IAA.

1945 - maio - Plano de reequipamento de maquinaria das usinas.

1945 - junho - Circular, no início da safra a todos os produtores,

esclarecendo que a produção continua livre até a safra 1948/49.

1945 – agosto - Reajustamento das usinas de quotas inferiores a

20.000 sacos dos Estados da Paraíba, Pernambuco, Alagoas,

Sergipe, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo" (MELO,

1946, p. 128).

Essas medidas do IAA, representaram uma verdadeira reviravolta em relação

à política de contenção das safras, estabelecidas com a criação do Instituto.

Devido essa nova diretriz, voltou a manifestar-se, com força redobrada, a

tendência de deslocamento da hegemonia da produção açucareira, do Nordeste

para o Centro-Sul (tendência que foi interrompida na década anterior, mediante a

criação do IAA, e a política por ele adotada). Através do Decreto-lei no 9.827, de

                                                                                                                                                                                         pelo prazo de quatro anos a partir da safra 1943/44, "garantias de preços mínimos para o álcool e para as matérias primas destinadas à sua fabricação" (SZMRECSÁNYI, 1979, p. 43).

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10/09/1946, o governo federal (que substituiu o Estado Novo) determinou a revisão

geral dos contingentes de produção de açúcar de usina de cada Estado e Território.

Os principais efeitos desse reajuste foram uma substancial elevação das

quotas de usinas já instaladas, e a possibilidade de criar novas usinas, com

alteração na distribuição espacial da produção - através da expansão do Centro-

Sul, e particularmente o Estado de São Paulo (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 44).

De 1940 a 1950, o avanço da lavoura canavieira na área em estudo tornou-se

evidente, com o aumento da produção de açúcar e álcool. Esse crescimento da área

canavieira correspondeu à ampliação do parque açucareiro/alcooleiro paulista como

podemos observar na Tabela 1, produzindo na safra 1949/50 duas vezes e meia a

produção da safra 1940/41.

Tabela 1. Produção de açúcar no Estado de São Paulo de 1940/41 a 1949/50.

SAFRA PRODUÇÃO

(sacos de 60 quilos) ÍNDICE

1940/41 2.330.194 100

1941/42 2.252.364 95

1942/43 2.926.968 126

1943/44 2.959.533 127

1944/45 3.067.307 132

1945/46 2.894.896 124

1946/47 4.410.048 189

1947/48 5.599.851 240

1948/49 5.802.286 249

1949/50 5.945.914 255 Fonte: IAA

2 - O intenso crescimento e a transferência do eixo da agroindústria canavieira

do nordeste para o centro-sul: de 1950 a 1959.

De acordo com Szmrecsányi:

a década de 1950 transcorreu sob o signo da expansão da

agroindústria canavieira no Brasil. Essa expansão foi determinada

em boa parte pela crescente demanda do mercado interno, devido

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aos efeitos de uma intensa industrialização e urbanização no centro-

sul do país. Esse crescimento da produção açucareira superou

amplamente o seu consumo, e fez com que o país voltasse a figurar

entre os grandes exportadores do produto. Essa expansão da

agroindústria açucareira foi acompanhada e promovida pelo IAA

(SZMRECSÁNYI, 1978, p. 46).

No início de 1950, São Paulo disputava com Pernambuco a liderança da

produção açucareira nacional. Entretanto, São Paulo já dispunha de todas as

condições favoráveis para suplantar Pernambuco e se transformar no principal

centro açucareiro nacional, pois era o principal mercado consumidor de açúcar do

Centro-Sul e possuia as duas mais importantes indústrias de equipamentos do país -

a Dedini em Piracicaba e a Zanini em Sertãozinho.

3 - O crescimento do mercado interno de açúcar

Em fevereiro de 1951, o IAA divulgou a resolução no 501 (IAA, 1953), fixando

novas normas para a expansão da produção açucareira do país. Essa resolução

baixada às vésperas do Governo Vargas, previa que a maior parte dessa produção

continuaria concentrada no nordeste, e que Pernambuco ainda seria, até a safra

1956/57, o principal Estado produtor. Embora, o maior reajuste em termos absolutos,

tivesse sido concedido às usinas de São Paulo, e percentualmente, ao Estado do

Paraná, parece inegável que a distribuição espacial que consta na resolução no 501

subestimou as potencialidades do Centro - Sul. Através dessa resolução, o IAA

aumentou de 23.220.794 para 33.364.158 sacos de 60 quilos a quota global de

produção de açúcar do país, cabendo a São Paulo 2.875.600 de sacos, destinadas a

atender ao consumo interno com uma previsão até a safra de 1956/57. Além desse

aspecto, essa resolução se preocupou com o incremento da produção de álcool,

funcionando como uma válvula de segurança para os excedentes da produção do

açúcar necessário ao consumo nacional. Foi então criada uma quota especial

destinada a produção de álcool direto, correspondente a 10% da produção de

açúcar do país. Também a referida resolução, tratou sobre a distribuição da quota

agrícola, de forma que o benefício recebido pela usina, no aumento de sua quota,

fosse compartilhado com o fornecedor de cana - Artigo 15° da Resolução (IAA,

1953).

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No final do anos 40 e início dos anos 50, a capacidade produtiva das usinas

de São Paulo, era ainda pequena, comparando com as de Pernambuco.

A produção média das usinas de Pernambuco em 1950/51 foi de 151.274

sacos e as de São Paulo de 85.187 sacos, superiores a média de produção das

usinas brasileiras, que foi de 76.834 sacos.

Ao observamos a Tabela 2, podemos notar que maioria das usinas paulistas

produziram na safra 1949/50 menos de 100.000 sacos. Destacando-se na época,

das 79 usinas, apenas 17 que produziram acima de 100.000 sacos e destas, 10 com

mais de 200.000 sacos, onde a maior era a Tamoio no município de Araraquara com

475.620 sacos de açúcar, as outras 9 usinas que produziram acima de 200 mil

sacos foram: Monte Alegre (Piracicaba) com 377.453 sacos, Junqueira (Igarapava)

com 320.106, Engenho Central (Piracicaba) com 275.083, Rafard (Rafard) com

266.297, Amália (Santa Rosa do Viterbo) com 262.410, Iracema (Iracemápolis) com

245.310, Porto Feliz (Porto Feliz) com 243.572, Santa Bárbara (Santa Bárbara

d'Oeste) com 222.348 e Ester (Cosmópolis) com 205.158 sacos. Estas dez unidades

industriais foram responsáveis por 44,2% da produção do Estado.

Tabela 2. Classificação das usinas paulistas na safra 1949/50

EXTRATO Sacos de 60 quilos

Número de Unidades

PRODUÇÃO MÉDIA

0 a 10.000 8 7.341,6

10.001 a 20.000 12 13.526,7

20.001 a 50.000 25 30.577,3

50.001 a 100.000 16 72.061,4

100.001 a 200.000 7 130.584,0

200.001 a 500.000 10 289.335,7 Fonte: Dados básicos do IAA.

A vantagem dessa importante resolução no 501, para São Paulo, foram as

possibilidades de instalação de novas usinas, previstas em seu Artigo 9° que diz:

As novas fábricas deverão ser situadas em locais que não

prejudiquem o fornecimento de matéria-prima e a natural expansão

das usinas já em funcionamento e em terras cuja fertilidade e

produtividade em canas de açúcar, já tenham sido experimentadas

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com bons resultados, ou seja, com teor de sacarose de 12,5% (IAA,

1953).

Mas a taxa de crescimento do consumo nacional aumentou de 4,9% em 1939,

atingindo em 1951 a taxa de 6%. Devido esse acréscimo, o IAA baixou a resolução

no 647 de 06 de fevereiro de 1952, dando um novo reajuste no contingente global da

produção açucareira do país, elevando-o para 36.700.000 de sacos, quantidade

esta, que pelas projeções anteriores, só iria ser alcançada na safra 1956/57. Esse

aumento foi distribuído entre os Estados e usinas de modo proporcional, aos limites

anteriores da resolução no 501.

4 - O favorecimento às maiores usinas através do aumento de quotas pelo IAA

e a ampliação da capacidade produtiva das usinas paulistas.

A produção nacional de açúcar cresceu rapidamente, pois, de 24.817 mil

sacos na safra de 1950/51, passou para 35.568 mil sacos na safra 1954/55. Na safra

de 1956/57, a produção atingiu 37.580 mil sacos, com 33.500.000 sacos

consumidas pelo mercado interno. Essa melhoria do mercado interno levou o IAA,

através da Resolução no 1.284, de 20/12/1957 (IAA, 1958), a elevar o contingente

global da produção das usinas do país para 47.748.000 de sacos. A ampliação,

deveria ser repartida entre as quotas das usinas proporcionalmente à maior

produção alcançada, em cada uma delas, no quinquênio imediatamente anterior.

Esse critério de repartição acabou com a distribuição espacial da produção

açucareira por Estado, tal como fora estabelecida anteriormente por decretos e

resoluções. A partir dessa resolução passou a ocorrer a hegemonia da agroindústria

do centro-sul, e mais especialmente, das usinas paulistas. O Estado de São Paulo

participava com 24,8% do contingente global brasileiro, e com a Resolução no

1.284/57 passou a participar com 31,6%. Com a ampliação das quotas, a produção

continuou a aumentar mais depressa do que o consumo interno. Na safra de

1957/58, enquanto a produção atingia 44.400 mil sacos, o consumo interno se

manteve nos mesmos níveis da safra anterior.

Mas, o grande salto na produção brasileira ocorreu na safra 1958/1959,

quando atingiu 53.859 mil sacos. A única solução a curto prazo, foi mais uma vez, a

de intensificar as exportações, que ia de encontro aos interesses do governo federal,

às voltas com uma escassez de divisas, para cobrir o valor das importações do país.

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Mas, na época, o único mercado que as exportações brasileiras tinham

acesso, era o chamado "Mercado Livre Mundial", que de uma exportação de 390 mil

sacos na safra 1956/57 atingiu 14.246 mil sacos na safra 1960/61.

Com os altos estoques ainda existentes neste período, o IAA já tinha iniciado

o contingenciamento da produção no Plano de Safra de 1959/60, e pela primeira vez

em muitos anos, após a criação do IAA, o total autorizado fora inferior à produção

alcançada na safra anterior.

A expansão considerável da agroindústria açucareira na década de 1950 se

deu principalmente em São Paulo (Tabela 3), que cresceu 210% da safra 1950/51

para a safra 1959/60, enquanto a expansão brasileira foi de 105%.

Tabela 3. Produção de açúcar no Estado de São Paulo de 1950/51 a 1959/60.

SAFRA PRODUÇÃO

(sacos de 60 quilos) ÍNDICE

1950/51 6.729.784 100

1951/52 8.105.401 120

1952/53 9.423.203 140

1953/54 11.693.757 174

1954/55 13.167.944 196

1955/56 11.766.040 175

1956/57 13.082.864 194

1957/58 17.956.398 267

1958/59 25.540.900 380

1959/60 20.859.885 310 Fonte: IAA

Por outro lado, a partir de 1957, através da resolução no 1.284 de dezembro

de 1957, mas só publicada em 04/02/1958, quando passou a vigorar, a produção

açucareira nacional, foi elevada de 33.120 mil sacos para 47.749 mil sacos, a

mesma, passou a beneficiar as usinas que produziram acima da quota no

quinquênio anterior. Neste contexto foram favorecidas as maiores usinas em

detrimento das menores, isto é, premiaram as usinas que mais cresceram e

investiram na produção, mas manteve as quotas distribuídas anteriormente, desde

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117 

 

que em operação. Neste sentido, como as unidades mais produtivas localizavam-se

em São Paulo, as usinas paulistas se fortaleceram e ampliaram ainda mais as suas

capacidades de produção. Enquanto em Pernambuco, a média de produção das

usinas de açúcar passou de 151.274 sacos em 50/51 para 244.51 O sacos em

1959/60, em São Paulo no mesmo período a produção média passou de 85.187

para 221.914 sacos.

Nessa conjuntura, as usinas do país, passaram de pequenas para médio

porte. Porém temos a destacar que algumas usinas de grande porte já se

destacavam em São Paulo na safra 1959/60, sendo a maior a Da Barra, em Barra

Bonita, produzindo 1.000.684 sacos (Tabela 4), e as que produziram acima de

500.000 sacos foram: Tamoio (Araraquara) com 920.070 sacos, São Martinho

(Pradópolis) 760.282, Iracema (Iracemápolis) 720.599, São João (Araras) 697.658,

Junqueira (Igarapava) 569.988, Ester (Cosmópolis) 565.746, Piracicaba (Piracicaba)

537.013, Porto Feliz (Porto Feliz) 534.658 e Monte Alegre (Piracicaba) 512.515

sacos. As dez maiores usinas foram responsáveis por 32,7% da produção do

Estado, o que caracterizou uma diminuição destas em relação a safra 1949/50.

Ocorreu o deslocamento das maiores usinas da Depressão Periférica (Área de

Piracicaba) para o Planalto Ocidental.

Tabela 4. Classificação das usinas paulistas na safra 1959/60

EXTRATO Sacos de 60 quilos

Número de Unidades

PRODUÇÃO MÉDIA

0 a 10.000 1 7.650,0

10.001 a 20.000 2 17.202,5

20.001 a 50.000 5 32.035,4

50.001 a 100.000 17 81.135,2

100.001 a 200.000 35 140.214,1

200.001 a 500.000 24 314.652,1

500.001 a 1.000.000 9 646.503,2

> a 1.000.001 1 1.000.684,0 Fonte : Dados básicos do IAA.

Verifica-se pela Tabela 4 que o aumento da capacidade produtiva das usinas

de São Paulo foi significativa na década de 1950, pois, além da usina Da Barra, com

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a produção acima de 1 (um) milhão de sacos, também tivemos 9 usinas produzindo

mais de 500.000 sacos e 24 unidades que produziram acima de 200.000 sacos.

Ao compararmos as Tabelas 2 e 4, podemos observar que na safra de

1949/50 a maioria das usinas do Estado de São Paulo estavam na faixa de

produção de 10.000 a 100.000 sacos, enquanto na safra 1959/60 a faixa de

produção era de 50.000 a 500.000 sacos. Isto significa que a produção da maioria

das usinas paulistas nesta década multiplicou por cinco vezes.

Este crescimento da produção açucareira de São Paulo pode ser melhor

visualizado através das Figuras 1 e 2 em que são representadas as produções de

açúcar por municípios de São Paulo nas safras 1950/51 e 1960/61.

5 - A abertura do mercado externo e os primeiros indícios de modernização

das áreas canavieiras de 1960 a 1968.

Sobre a situação da lavoura canavieira durante toda a década de 1950 no

Estado de São Paulo, o Instituto de Economia Agrícola (IEA, 1972) em um livro

referente ao desenvolvimento da agricultura dizia o seguinte:

... a lavoura canavieira e a pecuária, tanto a de carne como a de

leite, expandiram-se firmemente. Para ambas, esse progresso

deveu-se em boa parte à parcela de seguro contra a inflação que

apresentavam, pois a primeira (cana-de açúcar), contava com preços

estabelecidos pelo Governo Federal, em níveis razoáveis, além da

venda certa do açúcar e do álcool, e a segunda (pecuária), implicava

no investimento, em terra, em nosso meio, sempre se constituiu em

poderoso antídoto contra a desvalorização da moeda (IEA, 1972).

A década de 1960 se caracterizou fundamentalmente pela busca por parte do

IAA, de novas vinculações ao mercado mundial. O Prof. Correia de Andrade (1976),

aponta as várias causas que contribuíram para o crescimento das nossas

exportações a partir desta década :

1°. A implantação do sistema socialista em Cuba, que veio contrariar

os interesses das empresas norte-americanas proprietárias das

grandes agroindústrias de açúcar daquele país, que cancelaram a

quota do fornecimento de açúcar cubano ao mercado norte

americano.

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Essa quota foi destinada aos países produtores de açúcar latino-

americanos, favorecendo a exportação brasileira.

2°. A expansão da agricultura canavieira em áreas mais favoráveis,

sobretudo no Sudeste e Sul, onde se pode fazer uma agricultura com

maior índice de mecanização e obter uma mais elevada

produtividade agrícola, com a diminuição dos custos de produção.

Esta modernização da agricultura foi acompanhada pela instalação

de usinas modernas, com maior capacidade de esmagamento de

canas e com menor utilização de mão-de-obra, permitindo ainda a

elevação da produtividade industrial. Passou o Brasil a dispor de

condições de competitividade de que não dispunha anteriormente no

mercado mundial, colocando no mesmo um produto mais barato e de

melhor qualidade.

3°. A política de comércio exterior mais agressiva desenvolvida pelo

governo brasileiro nos últimos anos, procurando oferecer incentivos à

exportação e, mais recentemente, construindo obras de infraestrutura

que facilitam o escoamento da produção.

4°. Além da ascensão dos preços do açúcar no mercado mundial".

(ANDRADE, 1976, p. 20-21).

Esse incremento através da abertura do mercado externo, teve dois efeitos:

de um lado permitiu que a demanda do açúcar para um mercado interno crescente

continuasse, e de outro, possibilitou o escoamento para o exterior dos excedentes

de açúcar do nordeste, os quais já não se faziam necessários ao abastecimento dos

mercados consumidores do centro-sul (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 56).

A política que influenciou o desenvolvimento da agroindústria canavieira no

Brasil, durante a década de 1960, tinha segundo Szmrecsányi (1978), dois objetivos:

a) incrementar as exportações brasileiras de açúcar; e

b) ampliar a capacidade produtiva das usinas e das lavouras de

cana, pois, ela se baseava na capacidade ociosa então existente nas

usinas do Centro-Sul e os excedentes exportáveis do Nordeste, que

seriam rapidamente absorvidos pela crescente demanda interna e

externa do produto.

As primeiras medidas concretas com vistas para as exportações de açúcar,

foram adotadas através do decreto do governo federal no 50.818, de 22/06/1961,

criando uma Divisão de Exportação no IAA e as normas para a centralização e

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coordenação das atividades de exportação do açúcar e demais derivados da cana-

de-açúcar. Em 01/08/1961, através do Decreto no 51.104, o governo federal criou o

"Fundo de Recuperação da Agroindústria Canavieira". Ainda no mesmo ano em

17/11/1961, foi criado no IAA um "Fundo de Consolidação e Fomento da

Agroindústria Canavieira", sendo a motivação principal desse decreto, o de "criar as

condições para o surto das vendas brasileiras de açúcar no Exterior"

(SZMRECSÁNYI, 1978, p. 57-58).

A importância dada pelo governo federal ao planejamento a longo prazo, e o

desejo de integrar o crescimento da agroindústria canavieira aos demais setores da

economia nacional, levou o IAA a firmar em junho de 1962, um convênio com o

Banco do Brasil - visando o amparo financeiro de projetos destinados a assegurar

um melhor aproveitamento da terra nas zonas canavieiras, garantindo um

abastecimento regular de matéria prima para a agroindústria açucareira. No ano de

1963, o IAA organizou um "Programa Diretivo para a Política Açucareira e

Alcooleira" e que posteriormente, recebeu o nome de "Plano de Expansão da

Indústria Açucareira Nacional", tendo como objetivo ampliar a produção do país para

100.000.000 de sacos até o ano de 1971, do qual 80.000.000 seriam para o

mercado interno e os outros 20.000.000 para o mercado externo e para a formação

de estoque regulador.

Esta medida foi sancionada pelo IAA através das resoluções no 1.761

e 1.762, de 12/12/1963. Nessa época, o incremento pretendido para

a produção açucareira nacional era de 38.000.000 de sacos, e a

capacidade instalada das usinas do país era de 62.000.000 sacos.

Cerca de 60% da produção adicional seriam das usinas já existentes,

(como as do Estado de São Paulo) e os outros 40% das novas

usinas que haviam sido previstas pelo "Plano de Expansão da

Indústria Açucareira Nacional” (SZMRECSÁNYI, 1978).

O início da crise ocorreu em meados de 1964, quando se deu uma queda nos

preços do açúcar no Mercado Livre Mundial. Este fato afetou as exportações do

país, com um grande aumento da produção açucareira no Brasil. Os estoques do

IAA, que na safra 1964/65 foi de 12.000.000 de sacos, passou para 27.000.000 em

junho de 1966, e 35.600.000 de sacos em setembro do mesmo ano. Esta foi sem

dúvida, uma das piores crises da agroindústria canavieira nacional, pois, o Estado

de São Paulo, que alcançou na safra 1965/66 mais de 42.000.000 de sacos (contra

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27.000.000 na safra anterior) deixou de colher e moer cana equivalente a

13.000.000 de sacos, resultando conflitos entre usineiros e fornecedores. Na região

Centro-Sul, a saca de açúcar que havia sido tabelada a mais de CR$ 12,00, chegou

a ser negociada entre CR$ 5,00 a CR$ 6,00. Posteriormente a esse período de

crise, o IAA conseguiu restabelecer alguma disciplina no mercado açucareiro

nacional. Primeiramente, através da Lei no 4.870 de 01/12/1965 (BRASIL, 1965), que

atualizou e reforçou as formas de atuação do lAA, e através dos Planos de Safra de

1966/67 e 1967/68, e de uma série de decretos, decretos leis e resoluções baixadas

entre 1966 e 1968 (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 63-64).

6 - A ampliação do parque industrial e das lavouras de cana em São Paulo e o

aumento das usinas de grande porte.

Com o aumento do mercado interno do Centro-Sul, aliado às políticas de

exportação do açúcar brasileiro através do lAA, apesar do período de crise que

abateu sobre o setor em meados dos anos 60, a criação dos Planos de Safra,

garantiram a produção açucareira nacional e o aumento gradativo da produção

paulista de açúcar, conforme a Tabela 5 e a Figura 3 .

Tabela 5. Produção de açúcar no Estado de São Paulo de 1960/61 a 1968/69.

SAFRA PRODUÇÂO

Sacos de 60 quilos ÍNDICE

1960/61 23.973.077 100

1961/62 23.608.194 99

1962/63 24.012.376 100

1963/64 23.319.044 97

1964/65 26.814.502 112

1965/66 42.089.184 176

1966/67 30.536.480 128

1967/68 31.267.403 131

1968/69 33.547.352 140 Fonte: IAA

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A produção nacional de açúcar passou de 30.731.247 sacos na safra

1959/60, para 68.530.445 sacos na safra 1968/69, mais que dobrando dentro da

própria década. A produção paulista neste período cresceu 40%, menos que o da

produção nacional. Também a capacidade produtiva das usinas continuou a crescer,

através da modernização de suas instalações.

A média da produção de açúcar nas usinas da Região Centro-Sul atingiu

269.349 sacos em 1968/69, contra 228.232 sacos da Região Norte-Nordeste. O

Estado de São Paulo, considerado o maior parque açucareiro-alcooleiro nacional,

manteve uma média de 349.451 sacos por usina.

Os estímulos e condições de infraestrutura ao crescimento da agroindústria

canavieira nos primeiros anos de 60, e a política de concentração e modernização

no final da década, contribuíram para o crescimento da produção da agroindústria

açucareira paulista, conforme Tabelas 5 e 6.

Por outro lado, conforme a Tabela 6, as usinas de grande porte aumentaram

em São Paulo durante a década de 1960, como a Da Barra (Barra Bonita) com

2.215.000 de sacos, a São Martinho (Pradópolis) com 1.758.640 sacos e a São João

(Araras) com 1.145.992 sacos. Também, outras 14 usinas ultrapassaram a produção

em mais de 500.000 sacos e mais 38 agroindústrias produziram no intervalo de

200.000 a 500.000 sacos.

Além das 3 maiores usinas citadas anteriormente, relacionamos as outras 7

maiores, que no total representaram 31,5% da produção paulista. Estas usinas, com

as respectivas produções foram: São José (Macatuba) 916.004, Iracema

(Iracemápolis) 778.306, Tamoio (Araraquara) 691.193, Santa Elisa (Sertãozinho)

661.621, Da Pedra (Serrana) 654.724, Barra Grande (Lençóis Paulista) 649.569 e

Da Serra (Ibaté) 646.100 sacos.

No final da década de 1960, o IAA levou avante as políticas de concentração

e modernização, que prosseguiu pela década de 1970, dando origem à atual

estrutura agroindustrial canavieiro, tendo como objetivo torná-la mais competitiva no

mercado internacional. A partir de 1968, o fomento das exportações, foi a estratégia

desenvolvimentista do país, tornando a produção competitiva em termos de preço e

qualidade (SZMRECSÁNYI, 1978, p. 64-65).

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Tabela 6. Classificação das usinas paulistas na safra 1969/70

EXTRATO Sacos de 60 quilos

Número de Unidades

PRODUÇÃO MÉDIA Sacos de 60 quilos

20.001 a 50.000 1 48.817,0

50.001 a 100.000 5 73.650,8

100.001 a 200.000 32 145.096,8

200.001 a 500.000 38 317.657,5

500.001 a 1.000.000 14 660.933,4

1.000.001 a 2.000.000 2 1.452.316,0

2.000.001 a 5.000.000 1 2.215.800,0 Fonte: Dados básicos do IAA.

Esta ampliação da produção açucareira paulista foi devido: a) ao crescimento

contínuo do mercado interno de açúcar e álcool; b) ao considerável aumento das

exportações de açúcar; c) a uma política de expansão da lavoura canavieira

estabelecida pelo IAA, nesta década; d) ao incremento da capacidade de produção

instalada nas usinas (IEA, 1972, p. 14).

7 - A criação do PLANALSUCAR e a implantação do programa de

racionalização da agroindústria açucareira: o processo de incorporação e

fusão de usinas.

Na década de 1970, o IAA continuou com a política do final da década

anterior, e procurou enfocar o aspecto da competitividade do açúcar brasileiro no

mercado internacional através:

a) das dimensões e do aproveitamento da capacidade instalada;

b) do grau de eficiência do sistema produtivo; e

c) da estrutura do sistema de comercialização, englobando tanto as atividades

agrícolas, como as industriais.

Embora tivesse sido esse planejamento esboçado na década de 1960, só

começou a ser posto em prática no início da década de 1970, através do Decreto-Lei

no 1.186 de 27/08/1971 criando o Programa de Racionalização da Agroindústria

Açucareira, posteriormente denominado Programa de Apoio à Agroindústria

Açucareira, a partir do Decreto-lei no 1.266, de 26/03/1973 (BRASIL, 1973) e

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127 

 

também com a formulação e execução do Programa Nacional de Melhoramento da

Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR).

Esse planejamento da agroindústria no Brasil via o Programa de

Melhoramento do PLANALSUCAR como um instrumento de "melhoria da qualidade

da matéria prima" e de "racionalização da produção", cujo objetivo estava ligado à

dois programas em desenvolvimento no IAA:

a) O de financiamento da fusão e da racionalização das empresas

agroindustriais canavieiras;

b) O da construção de terminais açucareiros (Instalações de armazenagem e

de embarque a granel, nos principais portos exportadores de açúcar do país -

Recife, Maceió e Santos).

Sendo esses três programas citados, interrelacionados numa política de

modernização tecnológica e administrativa. O Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira, ocorreu através da Lei no 5.654, de 14/05/1971 (BRASIL,

1971b), reformulando várias normas à produção de açúcar no país, como a revisão

periódica de quotas de produção das usinas. Nessa revisão manteve-se o

contingente de 100 milhões de sacos, que fora fixado em 1963 pela resolução no

1.761, e cujo limite passaria a ser alterado pelo Ministro da Indústria e Comércio,

conforme necessidades do mercado interno e das exportações. Nessas condições,

estava sendo alcançada a meta do Plano de Expansão da Indústria Açúcareira

Nacional de 1963. Mas a Lei no 5.654, estabeleceu que o limite global passou a ser o

somatório do Sul e Norte açucareiro, e não mais a somatória dos contingentes

estaduais. Buscava-se então, possibilitar o crescimento da produção de açúcar dos

Estados nas usinas que realmente continham melhores condições, e abrir a

possibilidade de reajustamento de quotas oficiais de produção das mesmas,

mediante simples atos do Presidente do IAA. No mesmo ano o Decreto-lei no 1.186,

de 27/08/1971 (BRASIL, 1971a), concedia estímulos financeiros à fusão,

incorporação e relocalização das unidades industriais açucareiras (SZMRECSÁNYI,

1978, p. 66-67).

Esse Decreto-lei, como a Lei no 5.654, revogou vários dispositivos do Estatuto

da Lavoura Canavieira, dando aos usineiros maiores condições para atingir índices

superiores de produtividade e consequente redução de seus custos de produção.

Tais objetivos valorizavam a concentração empresarial ( através da absorção de

quotas de produção de outras usinas e fornecedores e a relocalização de

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estabelecimentos agroindustriais em áreas mais favoráveis às suas atividades). Esta

conjuntura propiciou uma grande expansão territorial da agroindústria e o aumento

da estrutura produtiva das usinas paulistas, a partir do início da década de 1970.

Mas, tanto o PLANALSUCAR como o Programa de Racionalização da Agroindústria

Açucareira tiveram um desempenho favorável, devido ao crescimento do volume e

dos preços das exportações do produto, resultando nos reflexos positivos sobre o

Fundo Especial de Exportação5. Os preços pagos aos produtores pelo IAA (por lei, o

único exportador) eram inferiores aos valores médios por ele recebidos, e o IAA

conseguiu formar (graças também à conjuntura favorável das vendas externas)

saldos vultosos para o seu Fundo Especial de Exportação. Com esses saldos, o IAA

ampliou sua política de modernização da Indústria canavieira. Em 1973, através do

Decreto-lei no 1.266, o IAA procurou dinamizar mais esse fundo através de

empréstimos para as usinas, e o reforço à infraestrutura de exportação (a

implantação e operação de terminais açucareiros de Maceió e Santos), como

também os benefícios ao programa de pesquisa do PLANALSUCAR

(SZMRECSÁNYI, 1978, p. 67-69).

Os financiamentos provenientes do Fundo de Exportação do IAA foram

concedidos em bases muito favoráveis para as empresas. Mas Szmrecsányi (1978,

p. 69) diz:

nem todas as usinas do país aplicaram de forma mais produtiva os

recursos assim obtidos, e que tudo teria corrido às mil maravilhas se

as tendências do mercado internacional se tivessem mantido

inalteradas.

Mas tal não aconteceu, e a partir do final de 1974, os preços do açúcar no

mercado externos começaram a cair abruptamente, passando de US$ 1,3 mil por

tonelada métrica em novembro daquele ano para US$ 200 por tonelada métrica em

1978. As exportações voltaram a se tornar gravosas, fazendo diminuir os recursos

do Fundo de Exportação, bem como os níveis de preços pagos pelo IAA aos

produtores, dificultando a amortização das dividas por eles contraídas

(SZMRECSÁNYI, 1978, p. 69).

                                                            5 O valor das exportações de açúcar passou de US$ 552.711.000 em 1973 para US$ 1.261. 630.000 em 1974 (quando os preços do açúcar no mercado internacional atingiram seu ponto culminante). Nesse mesmo ano, o açúcar ultrapassou o café em valor de exportação, pois o mesmo atingiu US$ 864.313.000 (IBGE, 1975, p. 363-364).

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Neste processo de modernização da agroindústria nacional e paulista, as

usinas de São Paulo cresceram em ritmo acelerado, acompanhando a expansão das

indústrias de equipamentos para agroindústria (Dedini e Zanini).

Tanto a Lei no 5.654 como o Decreto-lei no 1.186 - ambos de 1971 - revogou

vários dispositivos do Estatuto da Lavoura Canavieira de 1941, valorizando a

concentração empresarial e a concentração de terras através da absorção de quotas

das usinas incorporadas e dos fornecedores; como também a relocalização de

estabelecimentos industriais em áreas de menor concorrência entre os grupos

usineiros e mais favoráveis à expansão desses grupos.

Para a execução do Programa de Racionalização da Agroindústria

Açucareira- Alcooleira - Decreto-lei no 1.186 de 27/08/71, Mendes, um dos autores

desse programa colocou que foi proposto a necessidade de eliminar-se as pequenas

usinas de açúcar e álcool do país - consideradas as mais ineficientes do sistema -

como também de eliminar -se uma grande parcela de pequenos fornecedores de

cana, considerados "marginais" do ponto de vista econômico. Mendes (1978) diz:

sendo os pequenos usineiros e pequenos fornecedores em maior

número no país, numa distribuição de frequência onde a variável

principal é o custo da produção, eles são os mais numerosos.

Frequências mais elevadas atraem ou fazem com que a média,

moda e mediana caminhem em direção a elas. Os pequenos

produtores mais numerosos determinavam que os preços tendessem

a ser maiores; as reinvindicações e as pressões eram maiores para

se dar preços, que na verdade eram médios, mas estavam

sustentando produtores "economicamente marginais", usineiros ou

fornecedores de cana.

Com os estímulos à fusão e incorporação de usinas do Decreto-lei no 1.186

"legalizou-se" os mecanismos que acelerariam os processos de concentração de

terras e rendas no setor agroindustrial canavieiro, embora esses processos de

concentração já viessem ocorrendo antes da década de 1970. No Estado de São

Paulo, esse Decreto-lei foi o principal responsável pelo encerramento das atividades

de 23 pequenas usinas de açúcar e álcool, conforme Tabela 7.

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130 

 

Tabela 7. Implantação e Fechamento de usinas no Estado de São Paulo

Período

Até 1940 Déc. 1940 Déc. 1950 Déc. 1960 Déc. 1970(até 75)

Implantação 33 49 21 04 04

Fechamento ? 03 05 05 23

Fonte: Ferreira, Bray (1983).

Sobre o assunto, Queda (1972) diz: "esse Decreto-lei é entendido como um

dos elementos componentes da política geral posta em prática no país, nos últimos

anos".

Essa conjuntura propiciou uma grande expansão territorial do monopólio das

agroindústrias em São Paulo e no país. Dentro desse contexto, tanto o

PLANALSUCAR como o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira

tiveram um desempenho favorável devido ao crescimento do volume e dos preços

das exportações do produto, resultando nos reflexos positivos sobre o Fundo

Especial de Exportação6. Esse fundo foi utilizado para a modernização de

equipamentos industriais, incorporações de usinas, compras de terras,

mecanização, implementos agrícolas e criação pelo governo, de uma melhor

infraestrutura para a exportação de açúcar.

Sobre os efeitos do Fundo Especial de Exportação, Andrade (1981) tem a

seguinte opinião:

O reequipamento industrial das usinas e a relocalização para áreas

diversas, menos disputadas e de terras mais baratas, provocou,

naturalmente, a concentração de renda, uma vez que os

empréstimos eram feitos a juros negativos e com período de carência

ponderáveis, fazendo expandir a cana-de-açúcar por áreas

anteriormente dedicadas às culturas de alimentos.

Observando a Tabela 8, a produção de açúcar em São Paulo, cresceu 86%

de 1969/70 a 1973/74, isto é, em apenas 5 anos.

                                                            6 Os preços pagos aos produtores pelo IAA (por lei, o único exportador) eram inferiores aos valores médios por ele recebidos e o IAA conseguiu formar (graças também à conjuntura favorável das vendas externas) saldos vultosos para o seu Fundo. Com esses valores o IAA ampliou sua política de modernização da indústria canavieira. Em 1973, através do Decreto-lei no 1.2.66, o IAA procurou dinamizar mais o Fundo, através de empréstimos para as usinas (SZRECSÁNYI, 1978).

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Tabela 8. Produção de açúcar no Estado de São Paulo nas safras 1969/70 a 1973/74.

SAFRAS PRODUÇÃO

Sacos de 60 quilos ÍNDICE

1969/70 31.504.655 100

1970/71 40.606.083 129

1971/72 43.279.144 137

1972/73 47.269.022 150

1973/74 58.511.116 186

Fonte: IAA.

Mas, o crescimento e o processo de monopolização da produção pelas

grandes usinas de açúcar em São Paulo, pode ser observado através da Tabela 9.

Com o Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira, as usinas

que produziam menos de 200.000 sacos, desapareceram da relação das usinas em

São Paulo, pois foram consideradas marginais do ponto de vista econômico e sem

competitividade no mercado interno, portanto, ou cresciam ou se fundiam com

outras empresas ou desapareciam do setor. Assim, 18 usinas de acôrdo com a

Tabela 9, passaram a produzir mais de 1.000 mil sacos de açúcar, enquanto destas,

duas usinas atingiam produção acima de 3.000 mil sacos.

Na safra 1974/75 tivemos que 41 usinas produziram acima de 500 mil sacos e

as demais, com exceção da Usina São Jose (Rio das Pedras), todas produziram

acima de 200 mil sacos. As dez maiores usinas na safra 1974/75, responsáveis por

35,2% da produção paulista, foram a Da Barra (Barra Bonita) com 3.207.208, São

Martinho (Pradópolis) 3.002.856, São João (Araras) 2.641.725, Central Paulista

(Jaú) 1.849.462, Iracema (Iracemápolis) 1.725.505, São José (Macatuba) 1.713.823,

Tamoio (Araraquara) 1.605.822, Santa Elisa (Sertãozinho) 1.304.562, Bonfim

(Guariba) 1.294.860 e Santa Cruz (Américo Brasiliense) com 1.285.094 sacos.

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Tabela 9. Classificação das usinas paulistas na safra 1974/75.

EXTRATO Sacos de 60 quilos

Número de Unidades

PRODUÇÃO MÉDIA Sacos de 60 quilos

100.001 a 200.000 1 181.230,0

200.001 a 500.000 37 324.516,3

500.001 a 1.000.000 23 668.822,4

1.000.001 a 2.000.000 15 1.284.540,2

2.000.001 a 5.000.000 3 2.950.596,3 Fonte : Dados básicos do IAA.

Neste sentido, o Centro Sul atingiu na safra 1974/75 uma produção de açúcar

de 73.914.967 sacos, e o Norte Nordeste 38.094.654 sacos e o Estado de São

Paulo 55.771.145 sacos, isto é, São Paulo tornava-se responsável por 50% da

produção nacional de açúcar e o Centro-Sul entorno de 70%.

8 - Considerações finais: O fim das pretensões brasileiras de firmar-se como

país exportador de açúcar e o surgimento do PROÁLCOOL.

Entretanto, fatores conjunturais externos vieram aniquilar as pretensões

brasileiras de firmar-se como país exportador de açúcar. A queda do produto foi

consequência do Brasil ter perdido o Mercado Preferencial Norte - Americano em

31/12/74, bem como tornou-se sem efeito o acordo açucareiro da Comunidade

Britânica, quando do ingresso da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu

(SZMRECSÁNYI, 1979)7.

A crise energética do país ocorrida a partir de 1973, devido a elevação dos

preços do petróleo, provocou uma ruptura em relação à economia brasileira e seu

desempenho de 1968/73.8

Dentro dessa conjuntura, os grupos usineiros e fabricantes de equipamentos

industriais do subsetor - Zanini (Sertãozinho) e Dedini "Codistil" (Piracicaba) -

                                                            7 As exportações brasileiras de açúcar caíram de US$ 1.261.630.000 (2.351.000 TM) em 1974, para US$ 1.100.000.000 (1.731.000 TM) em 1975, e US$ 307.000.000 (1.167.000 TM) em 1976 (MELO, FONSECA, 1981). 8 O preço do petróleo importado pelo Brasil passou de setembro de 1973 para janeiro de 1974 de cerca de US$ 3 para US$ 12 o barril. O Brasil que gastou US$ 469 milhões com a importação o petróleo em 1972, teve que despender US$ 2.840 milhões em 197 4 (MELO, FONSECA, 1981 ).

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juntamente com o governo federal buscaram uma saída de substituição de energia

através da agricultura canavieira.

Em 1974, o Sindicato da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de São

Paulo e a Cooperativa Central dos Produtores de Açúcar e Álcool do Estado de São

Paulo publicaram o estudo: "O potencial da mistura carburante na solução da crise

de combustíveis" (SINDICATO, 1974), onde diziam o seguinte:

Os produtores de açúcar e álcool têm colocado várias vezes, frente

as autoridades governamentais, a clara posição de defesa de uma

política para orientar o incremento da produção de álcool anidro para

ser misturado à gasolina automotiva.

Nesse sentido tinham elaborado em agosto de 1972 um trabalho intitulado:

"Subsídios para uma política de mistura carburante"(SINDICATO, 1972), no qual era

feita uma série de sugestões, as quais antecipavam soluções para os problemas

enfrentados no presente em decorrência da condição brasileira de grande

importador de petróleo. É portanto, dentro de uma linha de pensamento bastante

coerente com as posições anteriormente assumidas, que o SIFAESP e

COPERSUCAR, mais uma vez saem em defesa de uma política para o álcool, que

preserve os interesses maiores da economia brasileira ....

A autorização dada, pela Resolução no 181 do Conselho Deliberativo do I.A.A.

em 16/05/74, para a instalação de novas destilarias autônomas seria um passo

nesse sentido.

Com a elevação dos preços do petróleo após 1973, ocorreu uma ruptura em

relação à economia brasileira provocando a crise no setor energético nacional e com

a perspectiva de queda dos preços do açúcar no mercado internacional devido, a

previsão no aumento da produção mundial aliado à excessiva especulação do

produto, como também o fim do mercado preferencial Norte-Americano, levaram os

grupos usineiros a colocarem algumas propostas ao governo federal, resultando no

final de 1975 na criação do Programa Nacional do Álcool (PNA), e a concretização

da agricultura energética no país. Ocorria uma crise no mercado interno de açúcar

pela alta capacidade instalada e grande ociosidade do parque industrial. A

ociosidade também era grande na indústria de equipamentos, principalmente Dedini

e Zanini. Dentro desse contexto a criação do PROÁLCOOL relaciona-se com a crise

açucareira, interesses dos grupos usineiros, e ao problema energético.

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O aproveitamento da agricultura como substituto dos derivados do petróleo -

álcool substituindo e adicionado à gasolina - encontrou na cultura da cana-de-

açúcar, a tradição e o suporte para a implantação do PNA.

Apesar do álcool anidro ser utilizado no Brasil desde a implantação das

primeiras destilarias anexas no ano de 1933 - como combustível adicionado à

gasolina - somente a partir do PNA passou a ocorrer um aumento mais expressivo

na produção do anidro e fomentou-se a produção do álcool hidratado para substituir

a gasolina. Ocorrendo também o estimulo para a pesquisa de motores na utilização

desta fonte de energia.

9 - Bibliografia.

ANDRADE, M. C. Comércio internacional e distribuição espacial da produção de açúcar no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 51, p. 15-30, 1976. ANDRADE, M. C. Estado, capital e industrialização do Nordeste. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, 101p. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.186, de 27 de agosto de 1971. Concede estímulos à fusão, incorporação e relocalização de unidades industriais açucareiras e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, v. 109, n. 164, 27 ago. 1971a. Seção 1, p. 1. BRASIL. Decreto-Lei nº 1.266, de 26 de março de 1973. Dispõe Sobre o Fundo Especial de Exportação, Criado pela Lei 4.870, de 01 de Dezembro de 1965. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 111, n. 59, 27 mar. 1973. Seção 1, p. 1. BRASIL. Lei no 4.870, de 1 de dezembro de 1965. Dispõe sobre a produção açucareira, a receita do Instituto do Açúcar e do Álcool e sua aplicação, e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 103, n. 230, 02 dez. 1965, Seção 1, p. 11. BRASIL. Lei no 5.654, de 14 DE MAIO DE 1971. Dispõe sobre a produção açucareira do País e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 109, n. 91, 17 maio 1971b. Seção 1, p. 1. FERREIRA, E. R.; BRAY S. C. As agroindústrias e a formação do Setor Canavieiro de Araras. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 25, p. 57-68. 1983.

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135 

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil - 1975. Rio de Janeiro, v. 36, 1975, 960p. INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo Desenvolvimento da Agricultura Paulista, 1a Ed., São Paulo: IEA, 1972, 315p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Resoluções da comissão executiva em 1951. Rio de Janeiro: IAA, 1952, 83p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Resoluções da comissão executiva em 1957. Rio de Janeiro: IAA, 1958, 144p. MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais). MELO, M. L. de Questões açucareiras, Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, ano 14, v. 28, n. 2, p. 128-131, 1946. MENDES, C. Debates do simpósio sobre sócio economia canavieira. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 1113-148. QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SINDICATO DA INDÚSTRIA DA FABRICAÇÃO DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO e COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTOS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL DO E.S.P. O potencial da mistura carburante na solução da crise de combustível. São Paulo: SIFAESP/COPERSUCAR, 1974, 22p. SINDICATO DA INDÚSTRIA DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO Subsídios para uma política de mistura carburante. São Paulo, 1972 (não paginado). SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p. SZMRECSÁNYI, T. O IAA como órgão de planejamento e controle, atuação e redirecionamento. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 31-74.

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136 

 

10 - Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. BRAY, S. C. A política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de 70 e seus reflexos na área canavieira do Vale do Paranapanema. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 61, p.105-118, jul./dez. 1984. BRAY, S. C. Agricultura Energética. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 4, 1983, Uberlândia. Anais..., Uberlândia: UFU, 1983, p. 1-28. BRAY, S. C. PROÁLCOOL: fórmula milagrosa no processo de desenvolvimento capitalista da agroindústria açucareira-alcooleira nacional. Boletim de Geografia Teorética. Rio Claro, v. 16-17, n.31-34, p. 400-408, 1987. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Editorial, Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro: IAA, v. 19, n. 2, p.68, ago. 1952. MELO, M. L. de Aspectos da geografia do açúcar no Brasil. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: IBGE, CNG, v. 16, n. 4, out/dez. p.467-488, 1954. MORGANTI, F. Aumentada de quase três milhões de sacos a quota de produção açucareira de São Paulo. Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, p. 198-199. mar. 1951. RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983.

Nota

Referência completa original

BRAY, S. C.; RUAS, D. G.G. Crescimento e consolidação das usinas de açúcar no

Estado de São Paulo 1950 a 1974. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v.

25, n. 49-50, p. 301-326, 1995.

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AS INFLUÊNCIAS DO PROÁLCOOL E DO PRÓ-OESTE NAS

TRANSFORMAÇÕES DAS ÁREAS CANAVIEIRAS DO ESTADO DE

SÃO PAULO.

Enéas Rente FERREIRA1

Sílvio Carlos BRAY2

A questão da ampliação das áreas canavieiras tradicionais do Estado de São

Paulo, como também o surgimento de novas áreas no oeste paulista, envolve as

políticas agrícolas e agroindustriais do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA),

Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) e o Plano de Desenvolvimento do

Oeste do Estado de São Paulo, (PRO-OESTE) através do Programa de Expansão

da Canavicultura para Produção de Combustível do Estado de São Paulo

(PROCANA).

Desde o final do século XVIII e início do século XIX, com o crescimento

canavieiro ocorrido no setor denominado quadrilátero do Açúcar, (PETRONE, 1968)

e, posteriormente com o surgimento dos Engenhos Centrais de Porto Feliz (em

1877) e Piracicaba (em1882), a área canavieira de Piracicaba foi a primeira a se

constituir em São Paulo. Com o colapso dos Engenhos Centrais (CARLI, 1943)

surgiram, no início desse século, as primeiras agroindústrias açucareiras na

tradicional área canavieira de Piracicaba e na de Sertãozinho/Ribeirão Preto.

No ano de 1940, de acordo com Carli (1943), o Estado de São Paulo possuía

33 usinas de açúcar e álcool e duas áreas canavieiras consolidadas: Piracicaba e

Sertãozinho/Ribeirão Preto. Nesse mesmo ano, a área de Araraquara já despontava

como a terceira em formação.

Durante a década de 1940, com a interrupção do comércio de cabotagem

devido a guerra submarina, houve dificuldade na vinda do açúcar nordestino para o

centro-sul, motivando o IAA a tomar medidas de incentivos através da abertura de

quotas, principalmente para o Estado de São Paulo. Nesse período, com as políticas

de estímulos do IAA, foram implantadas 49 novas usinas de açúcar e álcool no

                                                            1 Pós-graduação em Geografia (UNESP - Rio Claro) e Centro Pedagógico de Rondonópolis (FUFMT). 2 Departamento de Planejamento Regional do IGCE (UNESP --Rio Claro). 

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Estado, ocorrendo a consolidação da área canavieira de Araraquara e o surgimento

das áreas de Jaú e Vale do Paranapanema (BRAY, 1980).

Nas décadas de 1950 e 1960 ocorreu maior consolidação das áreas

canavieiras do Estado de São Paulo, principalmente por dois fatores:

implantação de 25 novas usinas de açúcar e álcool para abastecer o mercado

interno, e

crescimento das exportações de açúcar devido a lacuna deixada por Cuba

através do rompimento das relações desse país com os Estados Unidos.

No início da década de 1970 o IAA, através da criação do Programa de

Racionalização da Agroindústria Açucareira e do Programa Nacional de

Melhoramento da Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR), estabeleceu as diretrizes para

transformar o país em grande exportador de açúcar. Em 1971, o PLANALSUCAR

caracterizou as cinco áreas canavieiras do Estado de São Paulo, historicamente

constituídas, (Figura 1). O PLANALSUCAR e o Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira tiveram um desempenho favorável com o avanço do

volume e dos preços das exportações de açúcar, resultando positivamente sobre o

recém-criado Fundo Especial de Exportação. Nessa fase, as usinas de açúcar e

álcool do Estado de São Paulo através do Fundo Especial de Exportação e do

Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira, passaram a modernizar

os equipamentos industriais, como também as grandes empresas desenvolveram a

incorporação das usinas de pequeno porte, aquisição de novas propriedades

próximas às usinas e modernos maquinários agrícolas. Entretanto, fatores externos

como a perda do Mercado Preferencial Norte-Americano, em 1974, aniquilaram as

pretensões do Brasil em firmar-se como grande exportador de açúcar.

A crise açucareira e a crise energética, a partir de 1973, em consequência da

elevação do preço do petróleo levaram os usineiros paulistas através do Sindicato

da Indústria de Fabricação do Álcool no Estado de São Paulo (SIFAESP) e a

Cooperativa Central dos Produtores do Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo

(Coopersucar) a proporem ao governo federal o aumento da produção alcooleira

para mistura carburante e aproveitar a capacidade ociosa instalada nas destilarias

anexas. A ociosidade das destilarias anexas em São Paulo na safra 1973/74 era de

400 milhões de litros de álcool, correspondendo a 90% da capacidade ociosa das

destilarias existentes no país (BRAY, 1983).

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Nessa conjuntura, as pressões dos grupos usineiros - em face à crise que

adentrava no subsetor - juntamente com os interesses aos fabricantes de

equipamentos industriais do ramo, e reforçados pela integração da indústria

automobilística, levou o governo Federal a fundar o Programa Nacional do Álcool

(PNA) no final de 1975 (BRASIL, 1975).

1 - A primeira fase da implantação do PROÁLCOOL em São Paulo - 1975 a 1979.

Com a criação do Programa Nacional do Álcool (PNA) procurou-se resolver o

problema do usineiro e dos fabricantes de equipamentos industriais do ramo e

iniciou-se no final de 1975 o processo de implantação das novas destilarias anexas

e autônomas no Estado. Sobre o assunto Ramos (1983) diz:

O que queremos dizer é que um plano de implicações tão Importante

na economia brasileira acabou sendo para atender especialmente os

interesses dos grandes produtores do subsetor em estudo (usineiros

e produtores de equipamentos 'tradicionais') e, por isso mesmo,

enquanto não fossem equacionados os problemas decorrentes dos

interesses de outros setores envolvidos (exemplo da indústria

automobilística, que demorou muito para se integrar) aquele plano

não se firmaria efetivamente (RAMOS, 1983).

A partir de 1976, o álcool anidro-carburante deixou de ser apenas um

subproduto do açúcar, passando a ocorrer a intensificação de seu fabrico

diretamente da cana-de-açúcar. Nesta fase inicial do PNA conforme Tabela 1, o

Estado de São Paulo recebeu em torno de 30% do total dos financiamentos

destinados aos demais Estados da Federação, como também as destilarias anexas

às usinas tradicionais do açúcar e álcool, receberam mais investimentos do que as

novas destilarias autônomas. Esse fato pode ser explicado através da infraestrutura

existente nas tradicionais usinas paulistas no fabrico do álcool e ao problema da

crise que atingiu o subsetor (BRAY, 1983).

Tabela 1. Total dos financiamentos e o número de destilarias anexas e autônomas aprovadas através da CENAL - 1975 A 1979. Em Cr$ 1.000.000,00

Unidade da Federação

ANEXAS AUTÔNOMAS

Total % Dest. % Total % Dest. %

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São Paulo 3.086,0 40% 64 47% 2.289,0 23% 23 32%

Outros Estados 4.597,1 60% 72 53% 7.869,0 77% 50 68%

País 7.693,1 100% 136 100% 10.158,0 100% 73 100%

Fonte: CENAL.

Até o final de 1979, dos 87 projetos aprovados para a instalação das

destilarias autônomas e anexas no Estado, a maioria deles foram implantados nas

tradicionais áreas canavieiras paulistas de Piracicaba - na Depressão Periférica -

Sertãozinho/Ribeirão Preto, Araraquara, Jaú e Vale do Paranapanema - no Alto e

Médio Planalto Ocidental Paulista - conforme a Figura 2. Nessa primeira fase do

PNA, também se estruturou no Médio Planalto Ocidental um novo centro açucareiro-

alcooleiro, que denominamos de área canavieira de Catanduva.

O crédito subsidiado concedido aos projetos aprovados pelo PNA, foi

segundo Melo e Fonseca (1981), o principal instrumento utilizado pelo governo

federal para estimular a produção da cana-de-açúcar e a capacidade industrial de

transformação do álcool.

No período de 1975/79, Melo e Fonseca (1981) mostra que São Paulo foi o

responsável por 55% do aumento verificado entre 1976 e 1980 da área colhida da

cana-de-açúcar, seguido pelos Estados de Alagoas com 20,9%, Paraíba 6,6%, Rio

de Janeiro e Pernambuco 5,9%. O Estado de São Paulo que em 1976 possuía

34,5% da área plantada com cana-de-açúcar do país, ficava em 1980 com 39,3%, e

com quase 50% da produção total nacional desse produto. Esses dados refletem o

papel que o Estado de São Paulo vem desempenhando na produção alcooleira

nacional conforme Tabela 2.

Tabela 2. Produção de álcool do Estado de São Paulo e Brasil - 1970/71 A 1981/82. Em 1.000 litros

Ano Estado de S.

Paulo % BRASIL %

1970/71 436.713 68,59 637.238 100,00

1975/76 362.286 65,25 555,627 100,00

1979/80 2.472.340 72,79 3.396.455 100,00

1981/82 2.833.641 66,82 4.240.123 100,00

Fonte: CENAL.

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Na primeira fase do PROÁLCOOL (1975/79) a estimativa era atingir a

produção nacional de 3,0 bilhões de litros de álcool; e na segunda (1980/85) a meta

estipulada foi para 10,7 bilhões de litros de álcool, o equivalente a 170 mil barris de

petróleo-dia.

Em 1979, o PROÁLCOOL passou por um processo de transformação devido

o segundo choque do petróleo· e procurou romper com a primeira fase (1975/79)

que envolvia a solução da crise dos produtores do subsetor, passando a ser um

programa mais dirigido para uma alternativa de substituição de energia líquida. E

sobre o assunto Ramos (1983) diz:

Assim poder-se-ia falar em duas fases do programa: a que vai de seu

surgimento até o segundo choque do petróleo (1975/79) na qual

destaca a sua implementação como solução para a crise do açúcar

no mercado mundial; a segunda é a que se inicia em 1979 e se

caracteriza por tal programa apresentar-se de forma mais evidente

como uma alternativa energética, embora limitada (RAMOS, 1983).

2 - A segunda fase do PROÁLCOOL, em São Paulo (1980/85) e o PROESTE

(PROCANA).

Com o segundo choque do petróleo em 1979, o preço do barril passou de

US$ 12 para US$18. A partir desse contexto, a Comissão Executiva Nacional do

Álcool (CENAL) traçou o objetivo de quadruplicar a produção de álcool até 1985,

estabelecendo a segunda fase do PNA.

Nessa segunda fase do PNA, conforme Tabela 3, ocorreu um consubstancial

aumento dos financiamentos no país e Estado de São Paulo (Figura 3), além da

continuação do crédito subsidiado. Sobre o assunto, Melo e Fonseca (1981) diz: "Os

financiamentos cobriam até 80% dos investimentos. Quanto à parte agrícola, os

financiamentos podem atingir 100% do valor do orçamento."

É dentro desse contexto de estímulos para a expansão da agricultura

energética no país --- segunda fase do PNA - tendo como principal elemento a

cultura da cana-de-açúcar, que surgiu o PROESTE (PROCANA) em São Paulo.

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O Programa denominado "Bases para um plano de Desenvolvimento do

Oeste do Estado de São Paulo – PRÓ-OESTE", desenvolvido pela Secretaria de

Agricultura e Abastecimento, procurou deslocar os recursos do CENAL para o Oeste

de São Paulo (PROCANA), tendo como meta alcançar "o equilíbrio econômico

regional” (SÃO PAULO, 1980).

Com a elaboração de um Plano a favor da região Oeste Paulista, a Secretaria

da Agricultura pretendeu atingir os seguintes objetivos:

- aproveitamento da infraestrutura existente, sem necessidade de

investimentos públicos adicionais para a sua consecução;

- inversão do fluxo migratório, face à criação de empregos diretos e

indiretos necessários à consolidação do programa;

- interiorização do desenvolvimento pelo fortalecimento das economias

regionais; e

- preservar e ampliar a oferta de alimentos, bem como, manter a

expressiva participação do setor agropecuário paulista na pauta da

exportação (SÃO PAULO, 1980).

Através dessas propostas principais, o documento do PRÓ-OESTE (1980)

diz:

O primeiro programa a ser estabelecido através do Plano de

Desenvolvimento Agrícola do Oeste do Estado de São Paulo, será o

Programa de Expansão da Canavicultura para a Produção de

Combustível do Estado de São Paulo (PROCANA), o qual, em plena

integração com os objetivos do Governo Federal, pretende orientar o

fluxo de recursos financeiros oriundos do PROÁLCOOL tornando-o

instrumento básico para o desenvolvimento da região oeste (SÃO

PAULO, 1980).

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Tabela 3. Total dos financiamentos e o número de destilarias anexas e autônomas aprovadas através da Comissão Executiva Nacional do Álcool – CENAL – Período de 1980 a 1983*. Em Cr$ 1.000.000,00

Unidade da Federação

Anexas Autônomas

Financia- mento

% Nº

Dest.%

Financia-mento

% Nº

Dest. %

São Paulo 7.902,0 67 27 46 19.459,1 25 65 38

Outros estados

3.861,1 33 21 44 57.572,0 75 105 62

TOTAL DO PAÍS

11.763,1 100 48 90 77.031,1 100 170 100

* Até 18/04/83. Fonte : CENAL.

O discurso do Programa de Expansão da Canavicultura para a Produção de

Combustível (PROCANA) dentro do PROESTE é o seguinte:

A Secretaria da Agricultura e Abastecimento preocupada com a

possibilidade de expansão desordenada da cultura da cana-de-

açúcar no Estado de São Paulo e a consequente ocupação das

terras utilizadas para a produção de alimentos, resolveu promover

ação visando orientar a instalação daquela cultura destinada à

produção de álcool em regiões onde a cana-de-açúcar representará

a melhor opção para a sua expansão no Estado de São Paulo ....

(SÃO PAULO, 1980).

Foi através desses objetivos do PRÓ-OESTE que formalizou-se o "Programa

de Expansão da Canavicultura para a Produção de Combustível", beneficiando os

produtores locais ou os que ali se instalarem para se dedicarem ao cultivo da cana-

de-açúcar como matéria-prima básica à produção do álcool.

Na justificativa do PRÓ-OESTE, ficou demonstrado que o estudo realizado

sobre a expansão da área cultivada com cana-de-açúcar no período de 1975/79,

permitiu observar que, no caso da agricultura paulista, as áreas para cultivo de

"energético'' vêm substituindo áreas com outras culturas, principalmente nas DIRA's

de Campinas e Ribeirão Preto. Entretanto até 1985 - final da segunda fase do PNA -

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de acordo com o PROCANA, há que implementar a instalação de novas destilarias

autônomas, e a canavicultura deverá ser implantada em áreas não tradicionais

canavieiras do Estado. Além desses aspectos, até o final de 1979 conforme Tabela

3, foram aprovados pelo PROÁLCOOL 87 projetos para a instalação de destilarias -

sendo 64 anexas e 23 autônomas - e a maioria delas foram implantadas nas

tradicionais áreas canavieiras da Depressão Periférica e Alto Planalto Ocidental.

Os autores do PRÓ-OESTE (SÃO PAULO, 1980) finalizam as justificativas do

Plano com as palavras a seguir:

Desta forma, não se trata de orientar a expansão da cana-de-açúcar

e, sim, de todo um desenvolvimento agrícola que dela pode advir.

Paralelamente ao trabalho e assessoria à implantação das mesmas,

a Secretaria de Agricultura e Abastecimento dará apoio ao

desenvolvimento da pecuária através de assistência técnica e

pesquisa, com ênfase no consórcio cana-boi.

Através do PROÁLCOOL e PRÓ-OESTE, o Planalto Ocidental passou a partir

de 1980 a receber um grande fluxo de investimentos via CENAL, resultando na

implantação, de novas destilarias autônomas com grandes propriedades de cana-

de-açúcar e na formação da área canavieira/álcooleira do Oeste Paulista -

abrangendo a Alta Paulista, Noroeste e Alta Sorocabana (Figura 3).

De 1975/83, conforme Tabela 4, das 74 destilarias autônomas aprovadas no

Estado de São Paulo, 52 delas (70%) foram instaladas no Oeste do Estado, nas

áreas canavieiras do Vale do Paranapanema Paulista, Catanduva e Oeste. Com os

novos financiamentos, a partir de 1979 através do CENAL e incentivos do PRO-

OESTE via PROCANA, essas áreas canavieiras do Médio e Baixo Planalto

Ocidental passaram a ter na atualidade um papel importante, representando quase

50% da capacidade de produção de álcool dentro do Estado (Figura 4).

3 - Conclusão

O PRO-OESTE através do PROCANA, conforme foi analisado anteriormente,

mostrou na aparência o objetivo de deslocar as novas destilarias de álcool para o

oeste do Estado, devido:

- a necessidade de ordenar a expansão desordenada da cultura da cana-de-

açúcar em São Paulo;

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- a consequente ocupação das terras utilizadas para a produção de alimentos

pela agricultura canavieira e,

- visando à instalação da cana-de-açúcar em regiões onde terá melhor opção

para a sua expansão no Estado de São Paulo.

Entretanto, na essência, o Plano de Desenvolvimento do Oeste do Estado de

São Paulo veio contribuir com a expansão dos tradicionais grupo usineiros do leste

paulista, deixando o "território livre" e evitando um maior conflito na disputa de

terras entre esses grupos, como também com os novos grupos das destilarias

autônomas que se instalassem nas áreas canavieiras de Piracicaba,

Sertãozinho/Ribeirão Preto, Jaú e Araraquara.

A terra, nas tradicionais áreas canavieiras do Estado passou a ter uma

especulação financeira ascendente com as disputas por novas áreas entre os

usineiros, verificada nos trabalhos de Ferreira (1983), Ferreira e Bray (1983) e

Thomaz Junior (1983). Essa especulação poderia ter-se ampliado se não houvesse

a intervenção do Estado em deslocar as novas destilarias para o oeste. Desta

maneira uniram-se o PRÓ-OESTE, através da Secretaria de Agricultura e

Abastecimento e o CENAL, para facilitar a expansão e o processo de monopolização

de terras pelos grupos usineiros tradicionais no leste paulista, como os novos grupos

usineiros no oeste, que passaram a ter terras disponíveis e mais barata.

Queremos salientar que essa preocupação dos usineiros tradicionais em

salvaguardar o seu território de novos grupos através da mediação do Estado,

ocorre desde o início da década de 1950. O Sr. Morganti (1951) quando era vice-

presidente da Associação de Usineiros de São Paulo, disse o seguinte sobre a

Resolução nº 501 que ampliava as quotas de açúcar e a instalação de novas usinas

no Estado:

As novas fábricas deverão ser situadas em locais que não

prejudiquem o fornecimento da matéria-prima e a natural expansão

das usinas já em funcionamento, e em terras cuja fertilidade e

produtividade em canas-de-açúcar já tenham sido experimentadas

com bons resultados.

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Também na mesma época, o editorial da Revista Brasil Açucareiro (IAA 1951)

dizia o seguinte:

Eis uma nova forma de expansionismo da produção paulista. A

proximidade de pequenas fábricas uma das outras, a deficiência de

terras ao redor, não representa impedimento material a que se

transformem em grandes fábricas, bastando para consegui-lo

promover mudança de habitat de zona exígua para zona ampla.

Confirma-se desta maneira, o caráter geopolítico do território, que apresenta-

se moldado segundo os interesses dos grupos dominantes, tendo o Estado como

agente planejador e mediador dos conflitos.

4 - Bibliografia

BRASIL. Decreto nº 76.593, de 14 de novembro de 1975. Institui o Programa Nacional do Álcool e da outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 113, n. 219, 14 nov. 1975. Seção 1, p. 1-2. BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. BRAY, S. C. Agricultura Energética. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 4, 1983, Uberlândia. Anais..., Uberlândia: UFU, 1983, p. 1-28. CARLI, G. de Gênese e evolução da indústria açucareira de São Paulo. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti Editores, 1943, 228p. FERREIRA, E. R. As políticas açucareiras e alcooleiras do País e seus reflexos no Setor Canavieiro de Araras. 1983. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Desenvolvimento Rural), Depto. de Planejamento Regional, Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro. 1983 FERREIRA, E. R.; BRAY S. C. As agroindústrias e a formação do Setor Canavieiro de Araras. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 25, p. 57-68. 1983. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL. Editorial, Brasil Açucareiro. Rio de Janeiro, v. 19, n. 37, p.69, 1951.

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152 

 

MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais). MORGANTI, F. Aumentada de quase três milhões de sacos a quota de produção açucareira de São Paulo. Brasil Açucareiro, Rio de Janeiro, v. 37, n. 3, p. 198-199. mar. 1951. PETRONE, M. T. S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968, 241p. RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983. SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p. THOMAZ JR., A. As agroindústrias e as propriedades fornecedoras de cana-de-açúcar no Município de Jaboticabal. 1983, Trabalho de Iniciação Científica (Graduação em Geografia), Departamento de Planejamento Regional – IGCE/UNESP, Rio Claro, 1983.

5 - Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

ALCÂNTARA FILHO, J. B.; SILVA, J. G. da Uma alternativa não concentradora para o PROÁLCOOL: a pequena unidade de produção e a Micro/Mini Destilaria. Reforma Agrária – Boletim da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Campinas, v. 11, n. 1, p.37-44, jan./fev. 1981. ANDRADE, M. C. Comércio internacional e distribuição espacial da produção de açúcar no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo, v. 51, p. 15-30, 1976. BORGES, J. M. Viabilidade Econômico-Social do Programa Nacional do Álcool. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALCOOLQUÍMICA, 1º, 1981, São Paulo. Anais... São Paulo: IBP, 1981. BRAY, S. C. A política do Instituto do Açúcar e do Álcool na década de 70 e seus reflexos na área canavieira do Vale do Paranapanema. Boletim Paulista de Geografia. São Paulo, n. 61, p.105-118, jul./dez. 1984.

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153 

 

BUENO, R. Proálcool: rumo ao desastre. Petrópolis: Vozes, 1980, 70p. LANGONI, C. O Programa do álcool, o setor privado e o Estado. Diagnósticos APEC, Rio de Janeiro: APEC, n. 4, p. 39-48. 1980. MELO, F. H. de Energia e agricultura: aspectos alocativos e distributivos. Reforma Agrária – Boletim da Associação Brasileira de Reforma Agrária, Campinas: v. 11, n. 1, p. 2-15, 1981. QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SINDICATO DA INDÚSTRIA DA FABRICAÇÃO DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO e COOPERATIVA CENTRAL DOS PRODUTOS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL DO E.S.P. O potencial da mistura carburante na solução da crise de combustível. São Paulo: SIFAESP/COPERSUCAR, 1974, 22p. SINDICATO DA INDÚSTRIA DO ÁLCOOL NO ESTADO DE SÃO PAULO Subsídios para uma política de mistura carburante. São Paulo, 1972 (não paginado). SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p. SZMRECSÁNYI, T. O IAA como órgão de planejamento e controle, atuação e redirecionamento. In: SIMPÓSIO SOBRE SÓCIO-ECONOMIA CANAVIEIRA, 1., 1978, Jaboticabal. Anais... Jaboticabal: COPLANA, 1978, p. 31-74. VEIGA FILHO, A.; GATTI, E.U. & MELO, N.T.C. O Programa Nacional do Álcool e seus Impactos na agricultura paulista. São Paulo: Instituto de Economia Agrícola. Relatório de Pesquisa n. 8, 1980, 36p.

Nota

Referência completa original

FERREIRA, E. R. e BRAY, S. C. As influências do PROÁLCOOL e do PRO-OESTE

nas transformações das áreas canavieiras do Estado de São Paulo. Geografia, Rio

Claro, v. 9 nº 17-18, p. 101-113. 1984.

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A EXPANSÃO DA CANAVICULTURA NO VALE DO

PARANAPANEMA – SP. (1975 - 1988)

Enéas Rente FERREIRA1

1. Introdução

A região canavieira do Vale do Paranapanema teve início na década de 1940

com cinco usinas: Nova América – Assis (1946); Maracaí – Maracaí (1947); São Luiz

– Ourinhos (1951); Santalina – Quatá (1951); e, recentemente, Usina Santa Rosa de

Lima, município de Ipaussú (1964) – (Figura 1).

Figura 1. Usinas e municípios da área canavieira do Vale do Paranapanema, 1980.

Também na Figura 1, podemos perceber a configuração dos vinte municípios

envolvidos no fornecimento de cana para as cinco usinas da região. A Santa Rosa

                                                            1 Departamento de Geografia – UNESP – Campus Rio Claro (SP).

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de Lima, Santalina e Maracaí foram transferidas de proprietários (como veremos

adiante), entretanto apenas a Santa Rosa de Lima não teve mais atividade industrial.

A região do Vale do Paranapanema teve em seu início de cultura canavieira,

a produção de açúcar mascavo e aguardente de cana, engarrafadas por pequenas

indústrias aguardenteiras da região. As primeiras usinas de açúcar e álcool surgiram

na região logo no final da Segunda Guerra Mundial, quando o Estado de São Paulo

teve a necessidade de auto sustentar-se, pois as dificuldades para a vinda do açúcar

nordestino eram muitas.

A primeira agroindústria da região foi a Nova América em Assis, 1946, distrito

de Tarumã. Seus proprietários, a família Rezende Barboza, naturais de Cravinhos

(SP) vieram para o Vale em 1943, ocupando propriedade de 360.000 pés de café,

além de pastagens para criação de gado e um engenho de aguardente. (BRAY,

1980)

Atualmente, sua atuação vai além do município de Assis, atingindo os

municípios de Paraguaçu Paulista, Maracaí e Cruzália, totalizando 19.075.68 ha

cultivados pela Cia. Agrícola Nova América. Em 1985 suas terras estavam

distribuídas em 532,40 ha de terras próprias: 8.117,74 ha de acionistas e 9.724,54

ha de terras arrendadas (Figura 2).

No ano de 1947, o grupo Leão-Utinga, tradicionais usineiros do nordeste

(Alagoas), adquiriu grande propriedade cafeicultora no município de Maracaí (1.895

alqueires) transferindo parte de sua cota de açúcar para essa nova usina paulista.

Em 1957 a Empresa é vendida para o grupo Rezende Barboza (Usina Nova

América), que administra a nova sociedade com irmãos e cunhados, (BRAY, 1980).

Seu Diretor Presidente é o Sr. Edgar de Andrade Reis, industrial, agricultor, ex-

diretor da Coopersucar e Sopral, detendo 32 % das ações da empresa; o restante

pertence ao grupo Rezende Barboza (majoritário). Em meados da década de 1980,

o grupo dispunha de 22.285,00 ha, distribuídos em 9.438,00 ha próprios; 5.183,63

ha arrendados; 4.033,36 ha de fornecedores e, 3.630,00 ha de acionistas.

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A terceira agroindústria da região é a Usina São Luís, município de Ourinhos,

fundada em 27 de novembro de 1951 pela família Quagliato. O Atual diretor da

Empresa é Fernando Luiz Quagliato e, além dos 13.030,00 ha em Ourinhos e

Ipaussú, possuem propriedades em Goiás, Pará e Paraná. No Estado de São Paulo

a Empresa mantém produção de milho, trigo e soja.

Na década de 1950, tivemos a implantação da quarta usina na região, Usina

Santalina no município de Quatá. Seu proprietário foi o engenheiro José Giorgi, dono

da fazenda Santalina, com 3.200 alqueires cultivados na sua maioria com café. Em

1951, aproveitando os incentivos do I.A.A. a empresa conseguiu cota para produzir

20.000 sacos de açúcar, montando a agroindústria com equipamentos vindos da

Dedini (Piracicaba) (BRAY, 1980).

A última usina da região foi a Santa Rosa de Lima, instalada no município de

Ipaussú em 1964, pela família Ferraz Egreja. A Empresa teve curta atuação, sendo

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vendida em 1973 para o grupo Jorge Giorgi (Usina Santalina-Quatá), que levou para

sua sede as cotas de açúcar e equipamentos agroindustriais2.

Fazendo uma análise do que foi a produção de açúcar na região canavieira

do Vale do Paranapanema, temos que, na safra 1950/51 as duas usinas, Nova

América e Maracaí produziram 1,50% do total do Estado de São Paulo. Dez anos

após, na safra 1960/61 a produção da região amplia-se para 636.556 sacas de 60

kg., com participação no Estado de 2,72 % com 4 (quatro) usinas em atividades. No

início da década de 1970, entra em funcionamento a Usina Santa Rosa de Lima e a

região passa a produzir 1.598.345 sacas de 60 kg., com 3,83 % do total do Estado.

Na safra 1977/78 a produção da região dobra e a participação passa para 4,50% do

total do Estado. Na safra 1987/88 a produção do Estado regride em 12.000.000 de

sacas de 60kg em relação à produção de 1977/78, e a região do Vale do

Paranapanema sofre ampliação de 500.000 sacas no mesmo período, atingindo a

participação de 6,00% do total de açúcar produzido no Estado (Tabela 1).

Tabela 1. Produção de açúcar da região do Vale do Paranapanema, safras escolhidas, em sacos de 60 quilos.

Safra

Usinas Estado

Santa Lina *

São Luiz MaracaíNova

América Santa Rosa

TOTAL São

Paulo**

% Região/

SP.

1950/51 - - 7.328 92.775 - 100.103 6.629.661 1,49

1960/61 100.250 268.830 83.837 183.639 - 636.556 23.336.521 2,70

1970/71 193.700 588.688 200.219 315.738 200.000 1.498.345 39.107.738 3,69

1977/78 388.230 1224.108 591.500 740.000 - 2.943.838 65.368.566 4,30

1987/88 1012.300 869.900 689.350 893.666 - 3.465.216 57.462.449 5,69

Fonte: IAA (*) Atual Usina Quatá S/A. (**) Dos dados brutos do Estado de São Paulo, estão subtraídos a produção da região canavieira do Vale do Paranapanema.

2 - A Consolidação da Região Canavieira do Vale do Paranapanema através do

Programa Nacional do Álcool.

                                                            2 A esposa de Sylvestre F. Egreja, Estela Viana Egreja é irmã dos proprietários da Usina Campestre em Penápolis (SP), tendo um de seus sobrinhos como atual Deputado Federal (1986-1990). Não conseguimos descobrir ligação mais forte entre as empresas, a não ser as familiares.

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A partir do Programa Nacional do Álcool (1975), mais especificamente, após

1980, passa a haver grande interesse dos empresários em aplicarem seus capitais

no Vale do Paranapanema e no Oeste Paulista (Alta Paulista, Noroeste e Alta

Araraquarense). Esse fato é explicado, pois o governo estadual em 1980 cria o

Plano de Desenvolvimento do Oeste de São Paulo (Pró-Oeste) e o Programa de

Expansão da Canavicultura para a Produção de Combustível do Estado de São

Paulo (Procana), cujo objetivo foi desenvolver a região com o consórcio cana-de-

açúcar/ pecuária.

Passamos a considerar uma primeira fase do PROÁLCOOL, o período de

1975 a 1979, época em que tivemos o primeiro grande aumento do preço do

petróleo a nível internacional. Na região canavieira do Vale do Paranapanema a

criação de 3 (três) destilarias autônomas: Alcídia, município de Teodoro Sampaio

(17/12/75), Destilaria Sobar – Santa Cruz do Rio Pardo (26/06/78) e Destilaria Pau

D’Alho, município de Ibirarema (1979). Esses projetos tiveram um total de Cz$

783.400,00 (na época) contra os Cz$ 157.541,00 empregados nas destilarias

anexas às usinas Maracaí, Nova América e São Luiz (FERREIRA; BRAY, 1984)3

Com o segundo grande aumento do petróleo a nível internacional (final de

1979) fica caracterizada a 2ª Fase do PROÁLCOOL, coincidindo com o Pró-oeste e

o Procana a nível do Estado de São Paulo. Nesse período foram implantadas na

região do Vale do Paranapanema mais de 14 (quatorze) destilarias autônomas,

demonstrando o fortalecimento da cana-de-açúcar na região. Temos, então, em

1980 as destilarias Cocal em Paraguaçú Paulista; Cocal, em São Pedro do Turvo;

Dalva, em Santo Anastácio; Laranja Doce, em Regente Feijó; Macuco, em Cândido

Mota. Em 1981; Alta Floresta, em Caiabu; Bela Vista, em Narandiba; Decasa, em

Caiuá; Gantus, em Borá; em 1983 tivemos a implantação da destilaria Zero Onze,

em Iepê e a Parálcool em Paraguaçu Paulista. Terminando a série de implantações

em 1984, temos as destilarias Sylvestre Ferraz Egreja e Ipaussú, no município de

Ipaussú e a destilaria Archângelo, em São Pedro do Turvo. (Figura 3).

                                                            3 Destilaria anexa produz açúcar e álcool. Destilaria autônoma produz apenas o álcool.

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Figura 3. Localização das usinas e destilarias no Vale do Paranapanema.

Para análise mais efetiva sobre a origem das novas destilarias autônomas da

região em estudo, fizemos uma classificação segundo a composição do capital da

empresa, a origem financeira do capital e breve caracterização do empresariado.

Chegamos a seguinte classificação:

I - Empresário Local - Destilarias Sylvestre Egreja, Cocal, Bela Vista, Gantus, Zero

Onze e Archângelo.

II - Associação Regional de Capitais - Pau D'Alho, Laranja Doce, Decasa,

Parálcool, Macuco e Dalva.

III - Empresários de Outras Regiões :

a) Ligados a grupos canavieiros – Alta Floresta, Ipaussú e Alcídia;

b) Não Ligados a grupos canavieiros – Sobar e Coraci.

I – Empresário local.

Entre os empresários locais, marcante é a presença de empresas familiares,

com grandes propriedades, que serviram de garantia junto ao Governo Federal nos

projetos aprovados pela Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL).

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A empresa Sylvestre Ferraz Egreja, outrora proprietário da Usina Santa Rosa

de Lima (1964-1983), município de Ipaussú, ressurge no ramo como destilaria

autônoma em 1984. O projeto atual é de 30.000 l/dia, e após produção modesta na

safra de 1986/87, resolveu vender a destilaria para pessoas não ligadas ao setor

canavieiro, sendo assim, a destilaria foi desativada.

A Comércio Indústria Canaã de Álcool Ltda., pertence a Carlos de Arruda

Garms, pecuarista, ex-prefeito e vereador de Paraguaçú Paulista, detém 72% das

ações da empresa. O projeto inicial era de 150.000 l/dia (1980), passado a contar

em 1983, com mais 120.000 l/dia. As terras da empresa, pertencem, na sua maioria,

aos próprios acionistas da empresa, ocupando parte dos municípios de Paraguaçú

Paulista, João Ramalho, Quatá e Rancharia.

O financiamento previsto para a destilaria era de Cz$ 1.047.494,00, sendo

80% financiado pelo Governo Federal e o restante vinculado a recursos próprios. Os

financiamentos do PROÁLCOOL previam quatro anos de carência e oito anos para

amortização das dívidas.

No município de Narandiba, na fazenda Laranjeiros, foi instalada uma

destilaria de pequeno porte, denominada Bela Vista. Seu proprietário, Sr. José

Carlos Costa, é pecuarista, agricultor tradicional na região há mais de 30 anos. A

empresa solicitou financiamento de 90% de suas necessidades que foram aplicados

em sua propriedade de 3.125,55 ha. Sua capacidade de produção é de 20.000

litros/dia, representando juntamente com a destilaria Zero Onze, as duas menores

agroindústrias da região.

Também de capital local, a destilaria Gantus-Sociedade Agrícola e Pastoril, foi

fundada em outubro de 1942, no município de Borá, Fazenda Cristal. A empresa

pertence à família Gantus que financiou junto ao Programa Nacional do Álcool, uma

planta de 120.000 l/dia (1981), correspondente a Cz$ 608.808,00 para a implantação

de arrendamento com três acionistas, comprometendo-se a plantarem 2.700,00 ha.

de cana-de-açúcar.

A quinta destilaria da região é a Agroindustrial Zero Onze Ltda., fundada em

1983 no município de Iepê, distrito de Nantes, constituindo empresa familiar do

grupo Pinchetti. Seu capital inicial foi distribuído em 1000 ações de Cz$ 1,00 cada. A

empresa está instalada na Fazenda Alelluia (635,35 ha) e a planta da destilaria é de

20.000 l/dia, considerada de pequeno porte.

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A última destilaria a se instalar na região e também a última caracterizada

como sendo de empresariado local foi a destilaria Archângelo (1984). Vindos de

Conchal (SP), o Sr. Edgar Archângelo exercia atividades ligadas ao ramo industrial

de produtos de mandioca, sendo também diretor da Aguardente Turvinha e Prefeito

Municipal de São Pedro do Turvo.

A Empresa é nitidamente familiar, com capacidade de 60.000 l/dia, dispondo

de 730 ha. de terras próprias; 500,00 ha arrendados e 1.200,00 ha a arrendar,

perfazendo um total de 2.430 ha.

II – Associação regional de capitais.

Nesta modalidade de associações de capitais é marcante a necessidade de

um número grande de acionistas para fazerem frente aos elevados custos exigidos

pelas destilarias. Tivemos seis empresas que corresponde a esse associativismo.

Em 1979 é fundada por vinte sócios de Ibirarema, Assis e Cândido Motta, a

destilaria Pau D’Alho S/A – no município de Ibirarema. Em 1982 ficaram dezesseis

sócios e, em 1985 esse número foi reduzido para treze. Em 1986 sobraram apenas

cinco sócios, sendo todos pertencentes à família do Sr. Francisco Antunes Ribeiro,

comerciante, ex-prefeito e agricultor. O proprietário assume o comando da empresa

alegando rapidez nas decisões e comando único, sem grandes divergências.

A empresa possui uma destilaria de 240.000 l/dia e na safra 1987/88 moeu

321.610 t. de cana de fornecedores. A empresa alega comprar grande parte da cana

moída dos fornecedores, e que em propriedades a mais de 35 km o transporte torna-

se inviável para o tamanho da destilaria.

A Destilaria de Álcool Caiuá S/A – DECASA -, implantada no município de

Caiuá é uma sociedade composta por 5.000 ações fixadas a Cz$ 1,00 cada. A

empresa é formada por vinte e dois acionistas cujas cotas variam de 50 a 550

ações, sendo que com a cota máxima temos Franklin Palatzeck, José Jair da Costa

e Maria F. Ferreira. A sociedade possui 16.200,00 ha em terras destinadas à

pastagens e ainda dispõem de 30.000 cabeças de gado4.

Os municípios com participação significante no fornecimento de cana são:

Caiuá, Marabá Paulista, Presidente Venceslau e Presidente Epitácio.                                                             4 Desenvolveu-se na DECASA o processo pioneiro de alimentação de gado com bagaço de cana hidrogenada.

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A destilaria Paraguaçú Ltda. foi fundada em 1983 no município de Paraguaçú

Paulista por um grupo de dezessete acionistas, entre eles agrônomos, dentistas,

agricultores, fazendeiros, médicos e comerciantes. Os maiores acionistas são

Waldomiro Marcon, Francisco Deliberador, Antonio Lignoni e Wilson Rodrigues (110

ações cada).

A empresa dispõe de 3.412,20 ha próprios, arrendando mais 1.137 ha, além

de possuir nove contratos de fornecedores com 1.500,40 ha., perfazendo o total de

6.050,00 ha. cultiváveis.

A Agroindustrial Macuco Ltda., fundada em 1980 no município de Cândido

Motta é formada por um grupo de vinte e três acionistas da região encabeçados pelo

Sr. Jair Ribeiro da Silva (Diretor Presidente). O grupo possui quarenta e quatro

fazendas dispersas pelos municípios de Assis, Cândido Motta, Ibirarema, Paraguaçú

Paulista e Echaporã, constituindo total de 12.836 ha. ocupados com 46% de cana,

43% pastagens e 8% de trigo, soja e café.

A quinta destilaria em forma de associação é a DALVA – Destilaria de Álcool

do Vale Anastácio - município de Santo Anastácio. A empresa é composta

originalmente por vinte e três acionistas, passando a sofrer o mesmo processo das

outras associações, reduzindo assim seu quadro para dezenove acionistas num

primeiro momento e, chegando na atualidade ao número de seis, comandados por

Leonildo Denari Júnior. Entre os desistentes são alegados os seguintes motivos: não

acreditam no retorno vantajoso dos investimentos; dificuldades financeiras

individuais e, falta de conhecerem o ramo suficientemente para terem maiores

interesses nos investimentos.

Seguindo as mesmas características das demais, temos a formação de um

grupo de oitenta e uma pessoas que constituíram a Destilaria Laranja Doce,

município de Regente Feijó. Encabeçados pelo ex-prefeito Reinaldo Albertini

conseguiram reunir todas as condições exigidas pelo PROÁLCOOL para o

financiamento e montagem da destilaria.

No início, o empreendimento parecia ser ótimo para os investidores, pois só

precisavam entrar com 10% do capital e garantias materiais para os 90% restantes,

que seriam emprestados pelo PROÁLCOOL a juros subsidiados e irrisórios, porém

com o passar do tempo, foram sendo exigidas sucessivas expansões de capitais e

muitos preferiram vender suas cotas ao invés de serem engolidos pelo constante

crescimento verificado pela empresa (CARMO; FACCIO; LEITE, 1986).

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Dos oitenta e um sócios iniciais da empresa, o quadro foi reduzido até atingir,

em 1985, um número pouco superior a duas dezenas. A quantidade de capital

empregado também variou no período, partindo de Cz$ 80.000,00 e chegando ao

final de 1985 em Cz$ 6.000.000,00.

III – Empresários de outras regiões.

Dando início ao terceiro item, relacionado ao investimento de empresários de

outras regiões e ligados ao setor canavieiro, temos três destilarias: Alta Floresta,

Ipaussú e Alcídia.

Certamente o grupo mais interessante é o Ipaussú-Indústria e Comércio Ltda.,

que adquiriu um alambique em Ipaussú com propósito de transformá-lo em destilaria

de álcool. O curioso é sua forma estrutural, representando quatro grupos canavieiros

da região de Piracicaba, correspondendo em partes iguais de 25%.

A nova empresa é composta por Raul Coury (Usina Bom Jesus – Rio das

Pedras), Achiles Forte (Usina Bom Retiro – Capivari), Osório Furlan (Usina Santa

Helena – Rio das Pedras) e Davi Augusto Barichello (Usina São Francisco – Rio das

Pedras).

Em 1984 o alambique é transformado em Destilaria lpaussú possuindo

capacidade de 150.000 l/dia, com o compromisso de, na safra 1984/85 produzir 50%

de álcool e 50% de aguardente e, gradativamente, ampliar a produção alcooleira até

chegar a 100%na safra 1987/88.

A destilaria Alcídia está implantada num área de 20.000,00 ha no município

de Teodoro Sampaio. Curiosamente a implantação da destilaria ocorreu a um mês e

três dias após o decreto que criava o PROÁLCOOL (14 de novembro de 1975),

constituindo a primeira destilaria autônoma do Vale do Paranapanema e a única

implantada em 1975 em todo o Estado de São Paulo.

Instalada na fazenda Alcídia, seu presidente é o ex-deputado e pecuarista

Ruy Silva (1970), e entre seus principais diretores estão os senhores Cícero J.

Franco e Lamartine Navarro Júnior, respectivamente, diretor da Usina Vale do

Rosário (Morro Agudo - SP) e ex-diretor da Ultragaz5.

                                                            5 A destilaria Alcídia se encaixa também, no sub-item IlI-b, visto ter parte de seus capitais vinculados a Usina Vale do Rosário (Morro Agudo - SP).

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No município de Caiabú, em março de 1981, teve início a destilaria Alta

Floresta Ltda., aprovada em reunião do CENAL em 18/05/1981. Sua planta inicial foi

de 20.000 l/dia e em 1984 a empresa teve uma ampliação para 60.000 l/dia.

O capital da empresa é formado pela Cia. Lincoln Junqueira, na figura de

Oscar Figueiredo Filho (maior acionista) e de acionistas da Destilaria Alto Alegre

S/A, estabelecida no município de Colorado (PR). Na época, a empresa dispunha de

Cz$ 35.493,00 e financiaram Cz$ 142.372,00 (doze anos por quatro de carência).

Em nossa última classificação, analisaremos o subitem – Empresários de

outras regiões não ligados aos grupos canavieiros. Contamos com dois exemplos

clássicos - A Destilaria Sobar e a Destilaria Coraci.

A Destilaria Sobar S/A Álcool e Derivados pertence ao grupo Sobar -

Sociedade Bandeirantes de Reflorestamento e Máquinas Ltda. É um grupo fundado

em 1958 na cidade de Piracicaba (SP) com a finalidade de executar reflorestamento

em larga escala e atividades que envolvam planejamento agrícola (grande

experiência em assistência aos grupos usineiros).

O Grupo é composto por dois Engenheiros agrônomos, Nelson Lourenço

Camolesi e Guy Alberto Retz., que em 1978 aproveitaram os recursos do

PROÁLCOOL e fundaram a Destilaria Sobar S/A - Álcool e Derivados, no município

de Santa Cruz do Rio Pardo, distrito de Espírito Santo do Turvo.

A localização da destilaria, segundo um de seus diretores, foi muito bem

escolhida nas proximidades da rodovia Castelo Branco, em terreno barato na época,

pois o solo era considerado de baixa fertilidade.

O Grupo dispõe de duas grandes propriedades em Agudos (fazendas Suinã e

Globo), possuindo, tanto gado de corte como leiteiro; produzindo leite tipo B- leite

Globo comercializado em Bauru.

A última destilaria analisada é a Coraci Ltda., fundada em 1980 por

empresários de São Paulo ligados ao ramo de equipamentos eletrônicos - Hovanes

Zaven Emin e Mauro Fardelli Colombo. O Grupo elaborou um projeto de produção

de álcool a partir da mandioca, procurando uma região para implantá-lo6. Foi

escolhida a região de Assis/Cândido Motta, por ser a principal produtora de

                                                            6 No Brasil foram montadas mais seis destilarias que tinham a mandioca como matéria-prima, a saber: Laguna e Agrolândia (SC) 60.000 litros/dia cada, Carazinho (RS) 10.000 litros/dia, Paranavaí (PR) 5.000 litros/dia, SINOP (MT) 150.000 litros/dia e Camarajibi (BA) 120.000 litros/dia. Todas estão replanejando seus projetos para saírem da dependência da mandioca.

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mandioca do Estado e o município de São Pedro do Turvo, devido às terras serem

mais baratas do que na região de terra roxa do Vale do Paranapanema.

Outro detalhe importante no projeto é que a destilaria não planta nenhum pé

de mandioca, comprando-as de fornecedores da região. A opção pela mandioca é

aparentemente mais rentável, visto que são extraídos 170 litros de álcool por

tonelada contra 80 litros de álcool por tonelada de cana. Porém a situação torna-se

problemática, quando o preço da tonelada da mandioca é aproximadamente quatro

vezes mais caro que a tonelada de cana7.

A saída encontrada pela Coraci foi a produção de fécula de mandioca (8.000t.

ao ano), utilizada para fins alimentícios, cartonagem e indústria têxtil. No ano de

1987 iniciou a produção de álcool de milho (álcool nobre), visto que o preço

conseguido pelo produto é mais elevado e o milho não precisa ser de primeira

qualidade, podendo ser até milho deteriorado.

Analisando a Tabela 2, referente a capacidades instalada das destilarias

autônomas e o ano de seu enquadramento no CENAL, podemos dividi-las em três

períodos distintos: anterior ao PROÁLCOOL; 1ª fase do PROÁLCOOL (1975/79) e

2ª fase do PROÁLCOOL (RAMOS, 1983).

                                                            7 Dados do início do ano de 1988 mostram que a tonelada de cana gira em torno de Cz$ 1.200,00, ao passo que a tonelada de mandioca estava na casa dos Cz$ 5.000,00.

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- No período anterior ao Programa Nacional do Álcool, tínhamos três usinas

em atividade, Maracaí, São Luiz e Nova América, sendo que a Nova América

tinha 270.000 l/dia dos 475.000 l/dia da região.

- Correspondendo à 1ª fase do PROÁLCOOL tivemos poucos investimentos,

mostrando a própria insegurança do PROÁLCOOL à nível nacional, estadual

e regional. Nas destilarias anexas apenas a São Luiz teve ampliação de

45.000 l/dia. Neste período tivemos mais três projetos de destilarias

autônomas: Alcídia (300.000 l/dia); Sobar (240.000 l/dia) e Pau D’Alho

(240.000 l/dia).

- Na segunda fase do PROÁLCOOL, ocorrida após o segundo grande

aumento do petróleo a nível internacional, passamos a ter grandes

investimentos na região, com a implantação de mais catorze destilarias

autônomas e a modernização das já existentes, correspondendo a um

acréscimo de 3.130.000 litros/álcool/dia, ampliando a capacidade total da

região para 4.430.000 litros/álcool/dia.

Na Tabela 3, referente à produção alcooleira das usinas e destilarias da

região, mostramos que a produção de álcool na safra 1950/51 começava com

410.000 litros, correspondendo a 0,78% do total do Estado de São Paulo.

Entretanto, no início da década de 1960, quando amplia-se para 2,41% do total do

Estado (6.300.000 l). Na safra 1970/71, com a inclusão da Usina Santa Rosa de

Lima, a região atinge o seu melhor desempenho até então, 4,25%. No final da

década de 1970, como as novas destilarias ainda não estavam em produção, o

índice recua para 2,90% do total do Estado, no entanto, a produção aumenta para

30.944.000 litros. Na safra 1986/87, a região atinge a significativa produção de

489.258.000 litros, em suas dezenove destilarias, correspondendo a 8,58% do total

do Estado de São Paulo.

Na época em que a Usina pertencia à família Jorge Giorgi (Usina Santalina),

anterior ao advento do PROÁLCOOL, a empresa montou uma fábrica afim de

transformar o melaço de cana em proteína para consumo humano (espécie de

cápsula de proteína vegetal). Todos esses investimentos, incluindo a compra da

Usina Santa Rosa de Lima e mais as ampliações da própria Usina, fizeram com que

a “Santalina” pedisse concordata em 1979. Após vários estudos e visitas de

inúmeras firmas, a empresa foi adquirida pelo Grupo Zillo Lorenzetti.

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Tabela 3. Produção de álcool da Região do Vale do Paranapanema, safras escolhidas, em mil litros.

Safra

Usinas Estado

Maracaí Nova

América Santa Lina***

São Luiz

Santa Rosa

TOTAL SP** %

Região/ SP.

1950/51 255 26 5 115 - 401 50.771 0,78

1960/61 595 1956 838 2911 - 6300 260434 2,36

1970/71 3873 7042 1880 5803 468 19066 417646 4,36

1977/78 - 12702 3822 14420 - 30944 1064214 2,82

1987/88* - - - - - 489258 5701004 7,90

FONTE : IAA * Ver Figura 4. ** Dos dados brutos do Estado de São Paulo, estão subtraídos a produção da região canavieira do Vale do Paranapanema. *** Atual Usina Quatá S/A.

O Grupo Zillo Lorenzetti é natural de Lençóis Paulista (SP), (Região

Canavieira de Jaú) e possui nesta região duas usinas, a Barra Grande e a São José,

nos municípios de Lençóis Paulista e Macatuba. Nas cidades de Marília e Ourinhos

possuem fábricas de óleo comestível (Óleo Zillo) e, no município de Assis mantém

máquina desencaroçadora de algodão.

Com essa transação, a Usina Santalina dá lugar à Açucareira Quatá S/A,

passando a produzir também álcool.

No tocante, às destilarias, além do fechamento da Sylvestre Ferraz Egreja,

vimos as dificuldades enfrentadas pela destilaria Coraci, gerando novos

acontecimentos. (Ver item anterior)

A Destilaria Gantus, em 1987 pediu concordata e, na safra 1987/88, grande

quantidade de cana foi moída pela Usina Quatá S/A, existindo indícios de compra

por parte do grupo Zillo Lorenzetti.

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Outra destilaria que está passando por sérias dificuldades no momento é a

Decasa-Caiuá, chegando a ouvir-se rumores de estar bem próxima da concordata.

A destilaria Paraguaçú Ltda (Parálcool) foi vendida para o Grupo Sobar S/A -

em 17/04/85, antes mesmo de ocorrer a primeira safra da empresa. Desta maneira a

Sobar cria a subsidiária Sociedade Agrícola Paraguaçú - SAPAR.

Empresários da capital paulista adquiriram a destilaria Macuco, em Cândido

Motta, no 2º semestre de 1987, a família Izar, entre outras atividades, possui

empresas ligadas ao ramo de engenharia mecânica (Engesondas). A destilaria

Macuco pertencia a um grupo de vinte e três sócios de Assis e região, com

capacidade de 300.000 litros/dia.

A família Izar, Grupo CAINAN, está montando nas proximidades de Imperatriz

(MA), um grande núcleo alcooleiro cuja pretensão é produzir 1.000.000 l/dia,

compreendendo três destilarias que estão sendo adquiridas e montadas até meados

de 1988.

Fazendo uma análise dos novos grupos canavieiros e das dezenove

agroindústrias que moeram na safra 1987/88, percebemos que a maior produção

recai sobre a Usina Nova América com 113.700.000 litros, seguida pela destilaria

Sobar, com 59.000.000 litros, pela Usina São Luiz, com 42.000.000 e pela Destilaria

Alcídia com 41.000.000 litros. Entretanto, se fizermos uma análise envolvendo os

dois grupos canavieiros locais, notaremos que a produção do grupo Rezende

Barbosa (Nova América + Maracaí) atingiu 145.000.000l e o grupo (Sobar +

Parálcool) produziu 76.000.000l. Os dois grupos representam quase a metade de

todo o álcool produzido no Vale do Paranapanema. (Figura 4).

A região canavieira do Vale do Paranapanema, delimitada por (BRAY, 1980),

era composta por vinte municípios canavieiros com maior concentração de cana-de-

açúcar nos municípios mais próximos das quatro usinas existentes (Figura 1).

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Figura 4. Produção alcooleira da Região do Vale do Paranapanema, safra 1987/88, em mil litros.

Todo esse aumento de produção alcooleira, implica numa maior necessidade

de área plantada e na safra 1985/86, assim podemos notar que o quadro sofre

completa reformulação, passando a contar com trinta e quatro municípios com

marcante presença da canavicultura. Destes, podemos perceber quatro grandes

municípios canavieiros; Assis (32.500 ha); Paraguaçú Paulista (30.300 ha); Santa

Cruz do Rio Pardo (23.000 ha); e Quatá (20.000 ha). Numa posição intermediária,

temos Ibirarema, Palmital, Cândido Mota, Ourinhos, Chavantes, Ipaussú, Maracaí e

Teodoro Sampaio, com produção entre 5.001 e 10.000 ha. E finalmente, podemos

notar a presença da canavicultura em vinte e três novos municípios com uma

produção variando entre 1.001 e 5.000 ha, localizados principalmente na Alta

Sorocabana e nas proximidades da região de Marília (Figura 5).

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Figura 5. Domínio canavieiro nos municípios do Vale do Paranapanema, safra 1985/86, em hectares.

4 - Considerações finais.

O que vem desarticulando o setor alcooleiro nacional é exatamente o Decreto

Federal nº 94.541- de 1º de julho de 1987(BRASIL, 1987), que propõe:

Artigo 3º § 1º - É assegurada às unidades produtoras de álcool a

comercialização em 12 (doze) meses, na proporção de 1/12 (um

doze avos) ao mês, dos volumes de sua produção autorizada, em

cada safra, para fins combustíveis e para matéria-prima da indústria

alcoolquímica, bem como para a formação de estoques de

segurança no país, a partir do mês de início oficial da safra na região

em que estiverem localizadas.

Com esse Decreto o Governo Federal conseguiu modificar todo o Panorama

do PROÁLCOOL no país, visto que, o álcool que era pago às agroindústrias em seis

parcelas no decorrer da safra, passa a ser pago em doze parcelas, dificultando

sobremaneira as destilarias que não possuem sólida estrutura.

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No parágrafo 2º é colocado que só escaparão desse Decreto, as destilarias

autônomas até a terceira safra de funcionamento, passando a ter efeito de

faturamento em 1/7 (um sétimo) em cada safra.

Dessa maneira o Governo Federal, indiretamente, está tirando pequena parte

do subsídio que ainda é mantido sobre a produção de álcool no país. Agindo assim,

ele está obrigando o usineiro a arcar com boa parte das despesas de produção do

álcool, não sendo de se estranhar, que várias destilarias na região em estudo, já

foram negociadas; enquanto outras pensarão seriamente em manter-se em

atividade e/ou pararão de vez.

O Governo Federal está tentando repartir com os usineiros os prejuízos

obtidos pela Petrobrás e, de maneira indireta, promover uma racionalização do setor

canavieiro nacional, restando apenas as agroindústrias que conseguirem sobreviver

a esta e a outras medidas que fatalmente virão.

Em outras palavras, o Governo Federal usou os usineiros num momento em

que era necessário uma grande produção de álcool, e agora, num segundo

momento, ele dita as normas novamente, no sentido se racionalizar e concentrar a

produção nas mãos de poucos, levando em conta, novamente, a conjuntura nacional

da produção de combustíveis derivados do petróleo.

Terminamos o nosso estudo com as palavras do Sr. Reinaldo Albertini, ex-

acionista da Destilaria Laranja Doce em Regente Feijó.

Foi uma atitude correta, termos saído da sociedade. Um

empreendimento de tal vulto não poderia ficar nas mãos de

pequenos e inexperientes cotistas. Admitimos na hora certa estarmos

dentro do sistema capitalista, onde a concentração e o monopólio

são regras. A desistência foi a antecipação de um processo que já

mostrava-se evidente. Hoje está claro que não existe socialismo

dentro do capitalismo (CARMO; FACCIO; LEITE, 1985, p. 22).

Essas palavras refletem resumidamente a nítida situação dos rumos que o

PROÁLCOOL está tomando no país.

5 - Bibliografia

BRASIL. Decreto nº 94.541, de 1 de julho de 1987. Estabelece normas para o escoamento, comercialização e estocagem de álcool paia fins combustíveis, e dá

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173 

 

outras providencias. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, v. 125, n. 123, 02 jul. 1987. Seção 1, p. 10295. BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. CARMO, S. P. A.; FACCIO, N. B. e LEITE, J. F. A atividade alcooleira na região polarizada de Presidente Prudente: a Usina Laranja Doce. IPEAPP – FUNDAP, n.p., 1986 (mimeo). FERREIRA, E. R.; BRAY, S. C. As influências do Proálcool e do Pro-oeste nas transformações das áreas canavieiras do Estado de São Paulo. Geografia, Rio Claro, v. 9, nº 17/18, p. 101-13, out. 1984. RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983.

6 - Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

ALMEIDA, J. P. A extinção do arco-íris: a agroindústria e o eco histórico. 1987. Dissertação (Mestrado em História)., Assis: Faculdade de Ciências e Letras - UNESP, 1987 BANCO MUNDIAL. Produção de Álcool de biomassa nos países em desenvolvimento. Washington: Banco Mundial, 1981, 75p. CONSELHO ESTADUAL DE ENERGIA. Aferição preliminar das fontes de dados sobre a capacidade de produção de álcool no Estado de São Paulo. São Paulo, 1985 (mimeografado). FERREIRA, E. R. A formação da região canavieira de Araraquara : o papel do estado e das agroindústrias do açúcar e do álcool no processo de organização do espaço. 1987. 176f. Dissertação (Mestrado em Geografia), Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro, 1987. GRAZIANO NETO, F. A questão agrária e ecologia: crítica da moderna agricultura. São Paulo: Brasiliense, 1982. 154 p.

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174 

 

GUARNIEIRI, L. C.; NUNES, E. R. F. Alternativas de demanda de álcool com relação à capacidade instalada. São Paulo: Conselho Estadual de Energia, 1986, 52p. IANNI, O. Origens agrárias do estado brasileiro. São Paulo: Brasiliense, 1984. 255p. QUEDA, O. A intervenção do Estado e a agroindústria açucareira paulista. 1972. 173f. Tese (Doutorado). Escola Superior de Agronomia “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1972. SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p. SILVA, J. F. G. da A modernização dolorosa: estrutura agrária, fronteira agrícola e trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 1982, 192p. SORJ, B. Estado e classes sociais na agricultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, 152p.

Nota

Referência completa original

FERREIRA, E. R. A expansão da canavicultura no Vale do Paranapanema – SP.

(1975 - 1988). In: Encontro Nacional de Geografia Agrária, 9. 1988, Florianópolis.

Anais ... Florianópolis: UFSC, 1988, v. 9, p. 143-160.

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175 

 

A ORIENTAÇÃO ESTATAL APÓS 1970 E AS TRANSFORMAÇÕES

NAS REGIÕES CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO,

BRASIL.

Enéas Rente FERREIRA1

Sylvio Carlos BRAY2

1 - Introdução

A questão da ampliação das áreas canavieiras tradicionais do Estado de São

Paulo, como também o surgimento de novas áreas no oeste paulista, envolve as

políticas agrícolas e agroindustriais do Instituto do Açúcar e do e do Álcool (IAA),

Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) e o Plano de Desenvolvimento do

Oeste do Estado de São Paulo (PRO-OESTE) através do Programa de Expansão da

Canavicultura para produção de Combustível do Estado de São Paulo (PROCANA).

Desde o final do século XVIII e início do século XIX, com o crescimento

canavieiro ocorrido no setor denominado quadrilátero do Açúcar (PETRONE, 1968)

e, posteriormente com o surgimento dos Engenhos Centrais de Porto Feliz (em

1877) e Piracicaba (em 1882), a área canavieira de Piracicaba foi a primeira a se

constituir em São Paulo. Com o colapso dos Engenhos Centrais (CARLI, 1943)

surgiram no fim do século XIX e início desse século, as primeiras agroindústrias

açucareiras nas tradicionais áreas canavieiras de Piracicaba, Sertãozinho, Ribeirão

Preto e Araraquara.

No ano de 1940, de acordo com CARLI (1943), o Estado de São Paulo

possuía 33 usinas de açúcar e álcool e duas áreas canavieiras consolidadas:

Piracicaba e Sertãozinho/Ribeirão Preto. Nesse mesmo ano, a área de Araraquara

já despontava como a terceira em expansão.

Durante a década de 1940, com a interrupção do comércio de cabotagem

devido a guerra submarina, houve dificuldade na vinda do açúcar nordestino para o

                                                            1 Docente do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, São Paulo, Brasil. 2 Docente do Departamento de Planejamento Regional do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Campus de Rio Claro, São Paulo, Brasil.

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176 

 

centro-sul, motivando o IAA a tomar medidas de incentivos através da abertura de

quotas, principalmente para o Estado de São Paulo. Nesse período, com as políticas

de estímulos do IAA, foram implantadas 49 novas usinas de açúcar e álcool no

Estado, ocorrendo a consolidação da área canavieira de Araraquara e o surgimento

das áreas de Jaú e Vale do Paranapanema (BRAY, 1980).

Nas décadas de 1950 e 1960 ocorreu uma maior consolidação das áreas

canavieiras do Estado de São Paulo, principalmente por dois fatores:

- A implantação de 25 novas usinas de açúcar e álcool para abastecer o

mercado interno; e

- Crescimento das exportações de açúcar devido a lacuna deixada por Cuba

através do rompimento das relações desse país com os Estados Unidos.

No início da década de 1970 o IAA, através da criação do Programa de

Racionalização da Agroindústria Açucareira e do Programa Nacional de

Melhoramento da Cana-de-Açúcar (PLANALSUCAR), estabeleceu as diretrizes para

transformar o país em grande exportador de açúcar. Em 1971, o PLANALSUCAR

caracterizou as cinco áreas canavieiras do Estado de São Paulo, historicamente

constituídas, (Figura 1). O PLANALSUCAR e o Programa de Racionalização da

Agroindústria Açucareira, tiveram um desempenho favorável com o avanço do

volume e dos preços das exportações de açúcar, resultando positivamente sobre o

recém criado Fundo Especial de Exportação. Nessa fase, as usinas de açúcar e

álcool do Estado de São Paulo através do Fundo Especial de Exportação e do

Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira, passaram a modernizar

os equipamentos industriais, como também as grandes empresas desenvolveram a

incorporação das usinas de pequeno porte, aquisição de novas propriedades

próximas às usinas e modernos maquinários agrícolas. Entretanto, fatores externos

como a perda do Mercado Preferencial Norte Americano em 1974, aniquilaram as

pretensões do Brasil em firmar-se como grande exportador de açúcar.

Nessa conjuntura, as pressões dos grupos usineiros - em face à crise que

adentrava no subsetor - juntamente com os interesses dos fabricantes de

equipamentos industriais do ramo, e reforçados pela integração da indústria

automobilística, levou o governo Federal a fundar o Programa Nacional do Álcool

(PNA) no final de 1975, com o objetivo de atingir em 1979, três (3) bilhões de litros

de álcool.

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177 

 

Figura 1. As tradicionais áreas canavieiras do Estado de São Paulo.

Nesta fase inicial do PNA o Estado de São Paulo recebeu em torno de 30%

do total dos financiamentos destinados aos demais Estados da Federação, como

também as destilarias anexas às usinas tradicionais de açúcar e álcool, receberam

mais investimentos do que as novas destilarias autônomas. Este fato pode ser

explicado através da infraestrutura existente nas tradicionais usinas paulistas no

fabrico do álcool e ao problema da crise que atingiu o parque açucareiro (BRAY,

1983).

Até o final de 1979, dos 87 projetos aprovados para a instalação das

destilarias autônomas e anexas no Estado, a maioria deles foram implantados nas

tradicionais áreas canavieiras paulistas de Piracicaba – na Depressão Periférica –

Sertãozinho / Ribeirão Preto, Araraquara, Jaú e Vale do Paranapanema – No alto e

Médio Planalto Ocidental Paulista.

2 - A criação do PRO-OESTE na segunda fase de implantação do PROÁLCOOL.

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178 

 

Com o segundo choque do petróleo em 1979, o preço do barril passou de

US$ 12 para US$ 18. A partir desse contexto, a Comissão Executiva Nacional do

Álcool (CENAL) traçou o objetivo de quadruplicar a produção de álcool até 1985,

estabelecendo a segunda fase do PNA.

Dentro desse novo contexto do Plano Nacional de Álcool (PNA), a produção

nacional passaria de 3 bilhões de litros em 1980, para 10 bilhões de litros em 1985.

O Estado de São Paulo, como principal centro alcooleiro nacional, passou a se

preocupar com a expansão concentradora da agricultura canavieira no território

paulista, principalmente nas tradicionais áreas açucareiras e alcooleiras do leste.

Assim, o governo de São Paulo, no ano de 1980, criou o PRÓ-OESTE.

O Programa denominado “Bases para um plano de Desenvolvimento do

Oeste do Estado de São Paulo – PRÓ-OESTE”, desenvolvido pela Secretaria da

Agricultura e Abastecimento, procurou deslocar os recursos do CENAL para o Oeste

do Estado de São Paulo (PROCANA), tendo como meta básica alcançar “o equilíbrio

econômico regional” (SÃO PAULO, 1980).

Assim sendo, podemos perceber através da Figura 2, que foram consideradas

prioritárias pelo PROCANA, as regiões de Presidente Prudente, Araçatuba, Bauru e

o oeste da região de São José do Rio Preto; e as áreas medianamente prioritárias

foram destacadas as regiões de Marília e o Centro-Leste de São José do Rio Preto.

As demais regiões do Estado foram declaradas como não prioritárias à implantação

e expansão de novas destilarias autônomas e anexas.

Neste sentido, todos os projetos de implantação das novas destilarias ou de

ampliação das já existentes, localizadas nas áreas altamente prioritárias teriam

maiores facilidades na aprovação. Nas regiões medianamente prioritárias a

aprovação de novos projetos dependeriam de uma estudo mais pormenorizado. Por

outro lado, nas demais regiões do Estado, os novos projetos para serem aprovados

deveriam passar por uma avaliação rigorosa da Comissão Executiva Nacional do

Álcool (CENAL).

Com a elaboração de um Plano a favor da região Oeste Paulista, a Secretaria

da Agricultura pretendeu atingir os seguintes objetivos:

- aproveitamento da infraestrutura existente, sem necessidade

de investimentos públicos adicionais para a sua consecução;

- inversão do fluxo migratório, face à criação de empregos

diretos e indiretos necessários à consolidação do programa;

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179 

 

- interiorização do desenvolvimento pelo fortalecimento das

economias regionais; e

- preservar e ampliar a oferta de alimentos, bem como, manter

a expressiva participação do setor agropecuário paulista na

pauta da exportação (SÃO PAULO, 1980).

Figura 2. PROESTE: as regiões prioritárias para implantação de destilarias de álcool no Estado de São Paulo, 1980.

Através dessas propostas principais, o documento do PRÓ-OESTE (SÃO

PAULO, 1980) diz:

O primeiro programa a ser estabelecido através do Plano de

Desenvolvimento Agrícola do Oeste do Estado de São Paulo,

será o Programa de Expansão da Canavicultura para a

Produção de Combustível do Estado de São Paulo

(PROCANA), o qual, em plena integração com os objetivos do

Governo Federal, pretende orientar o fluxo de recursos

financeiros oriundos do PROÁLCOOL tornando-o instrumento

básico para o desenvolvimento da região oeste.

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180 

 

O discurso do Programa de Expansão da Canavicultura para a Produção de

Combustível (PROCANA) dentro do PRÓ-OESTE (SÃO PAULO, 1980) é o seguinte:

A Secretaria da Agricultura e Abastecimento preocupada com a

possibilidade de expansão desordenada da cultura da cana-de-

açúcar no Estado de São Paulo e a consequente ocupação das

terras utilizadas para a produção de alimentos, resolveu

promover ação visando orientar a instalação daquela cultura

destinada à produção de álcool em regiões onde a cana-de-

açúcar representará a melhor opção para a sua expansão no

Estado de São Paulo ...

Foi através desses objetivos do PRÓ-OESTE que formalizou-se o “Programa

de Expansão da Canavicultura para a Produção de Combustível”, beneficiando os

produtores locais ou os que ali se instalaram para se dedicarem ao cultivo da cana-

de-açúcar como matéria-prima básica à produção álcool.

Na justificativa do PRÓ-OESTE, ficou demonstrado que o estudo realizado

sobre a expansão da área cultivada com cana-de-açúcar no período de 1975/79,

permitiu observar que, no caso da agricultura paulista, as áreas com outras culturas;

principalmente nas DIRAs de Campinas e Ribeirão Preto. Entretanto até 1985 – final

da segunda fase do PNA – de acordo com o PROCANA, há que implementar a

instalação de novas destilarias autônomas, e a canavicultura deverá ser implantada

em áreas não tradicionais canavieiras do Estado.

Os autores do PRO-OESTE (SÃO PAULO, 1980) finalizaram as justificativas

do Plano com as palavras a seguir:

Dessa forma, não se trata de orientar a expansão da cana-de-

açúcar e, sim, de todo um desenvolvimento agrícola que dela

pode advir. Paralelamente ao trabalho e assessoria à

implantação das mesmas, a Secretaria de Agricultura e

Abastecimento dará apoio ao desenvolvimento da pecuária

através de assistência técnica e pesquisa, com ênfase no

consórcio cana-boi.

Através do PROÁLCOOL e PRÓ-OESTE, o Planalto Ocidental Paulista

passou a partir de 1980 a receber um grande fluxo de investimentos via CENAL

resultando na implantação de novas destilarias autônomas com grandes

propriedades de cana-de-açúcar e na formação da área canavieira/alcooleira do

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181 

 

Oeste Paulista – abrangendo a Alta Paulista, Noroeste, Alta Sorocabana e Alta e

Média Araraquarense.

Do ano de 1975, início do PNA, até 1983, dos 74 projetos de implantação e

expansão das destilarias autônomas aprovadas no Estado de São Paulo, 52 projetos

(70%) foram para instalação nas áreas prioritárias do PRÓ-OESTE (PROCANA).

Com os novos financiamentos, a partir de 1979, através do CENAL, os incentivos do

PRÓ-OESTE via PROCANA, essas novas áreas canavieiras passaram a ter um

papel importante, representando um aumento considerável na capacidade de

produção de álcool dentro do Estado.

3 - A criação e o papel do Conselho Estadual de Energia após 1984.

Apesar da centralização da política energética nacional pelos órgãos federais,

o governo de São Paulo, além de criar o PRÓ-OESTE com o objetivo de planejar a

implantação de novas destilarias a partir de 1980, também passou a buscar no ano

de 1983 com a criação do Conselho Estadual de Energia, uma política própria de

planejamento da questão energética em seu território.

O Conselho Estadual de Energia passou a funcionar a partir de julho de 1984,

tendo como objetivo “Estabelecer diretrizes relativas à produção, distribuição e uso

de energia no Estado de São Paulo, e acompanhar a execução dessas diretrizes”

(CONSELHO ESTADUAL DE ENERGIA, 1984). Quanto ao PROÁLCOOL, o referido

Conselho por delegação expressa do governo federal, foi incumbido de dar

pareceres técnicos sobre a validade e conveniência da implantação ampliação e

transformação de destilarias no Estado de São Paulo. Os pareceres foram emitidos

pelo Grupo de Análise do Álcool, em função dos projetos submetidos pelas

empresas interessadas junto à Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL),

com base nas “Diretrizes para Análise de Projetos do PROÁLCOOL no Estado de

São Paulo”.

Após os 4 anos da implantação do PRO-OESTE (PROCANA), o recém criado

Conselho Estadual de Energia através de seu primeiro documento publicado em

1984 sobre diretrizes básicas, apontava que a expansão da cana-de-açúcar apesar

do PRÓ-OESTE, continuou a ocorrer com maior intensidade nas regiões

consideradas não prioritárias (Figura 2), isto é, nas áreas canavieiras tradicionais do

Estado.

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182 

 

A expansão canavieira nas áreas tradicionais não prioritárias ocorreu devido a

existência de grandes usinas e destilarias, cujos empresários procuraram expandir o

plantio de cana-de-açúcar em áreas próximas às unidades industriais. Os grandes

usineiros tradicionais, em razão de suas forças econômicas e políticas, conseguiram

facilmente os recursos financeiros e as autorizações oficiais para aumentarem as

suas cotas de produção. Nesse processo, as regiões agrícolas de Campinas, Bauru

e Ribeirão Preto, a cana-de-açúcar ocupava em 1984 uma área que variava de 25%

a 35% do setor cultivado.

Nesse contexto, o Conselho Estadual de Energia, através do documento

“Diretrizes para a Análise de Projetos do PROÁLCOOL no Estado de São Paulo”,

propôs um redirecionamento urgente do PROÁLCOOL no Estado de São Paulo, de

forma planejada e socialmente consequente, fazendo valer as diretrizes

estabelecidas pelo PRÓ-OESTE, mas que não vinham sendo cumpridas

adequadamente pelos órgãos competentes (IAA) e (CENAL).

As normas gerais desse referido documento, além de limitar rigidamente a

instalação de novas unidades industriais nas áreas não prioritárias, procurou

resgatar o Estatuto da Lavoura Canavieira, através da proporção de 40% e 60% da

produção de cana-de-açúcar das destilarias e fornecedores, cujo Estatuto dos anos

40, foi enterrado pelo Programa de Racionalização da Agroindústria Açucareira no

início dos anos 70.

O documento analisado do Conselho Estadual de Energia, buscou disciplinar

a localização das novas unidades industriais, através da distância mínima entre elas

de 30 km, como também limitar a capacidade de produção das destilarias existentes

e em implantação.

No período de julho de 1984 a fevereiro de 1985, foram analisadas pelo

Conselho estadual de Energia 92 projetos de instalação e ampliação de destilarias e

destilarias anexas. Dos 92 projetos apresentados, 61 obtiveram pareceres

desfavoráveis, e 31 obtiveram pareceres favoráveis, com acréscimo de 3.790.000

litros/dia à capacidade produtiva do parque alcooleiro estadual. Sendo que, dos

totais dos projetos apresentados, 28 foram para as áreas prioritárias, com a

aprovação de 17 destilarias, demonstrando a grande força econômica dos grupos

usineiros das áreas canavieiras tradicionais do Estado.

Esse aspecto vem demonstrar o empenho do governo Estadual em disciplinar

a expansão canavieira em São Paulo, através do PRÓ-OESTE, como a posterior

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183 

 

implantação do Conselho Estadual de Energia de 1984 a 1987, foi um avanço nas

questões relativas ao Planejamento e à busca constante de um direcionamento do

Território, envolvendo a produção do espaço agroindustrial canavieiro-açucareiro-

alcooleiro de São Paulo.

4 - Considerações finais.

Neste contexto onde abordamos as políticas estatais de modernização e

expansão da agroindústria açucareira nacional e principalmente a do Estado de São

Paulo, podemos avaliar o domínio da cultura canavieira, mas principalmente a

produção alcooleira no território paulista, sintetizada através da Figura 3.

Figura 3. A produção de álcool no Estado de São Paulo nas áreas tradicionais e do PRÓ-OESTE, safras de 1974/75, 1979/80 e 1987/88.

Por outro lado esta rápida expansão da produção alcooleira através dos

investimentos do PROÁLCOOL em São Paulo (que é o estado responsável por

quase 70 % do álcool produzido no país), apesar do crescimento canavieiro nas

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184 

 

áreas tradicionais do leste, consideradas não prioritárias (Figuras 2 e 3) também

ocorreu um considerável avanço no oeste paulista, como decorrência do papel

desempenhado pelo PRÓ-OESTE e o esforço posterior do Conselho Estadual de

Energia. Atualmente através da Figura 3, o oeste paulista é responsável por 25 % da

produção alcooleira do Estado.

5 - Bibliografia.

BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. BRAY, S. C. Agricultura Energética. In: ENCONTRO NACIONAL DE GEOGRAFIA AGRÁRIA, 4, 1983, Uberlândia. Anais..., Uberlândia: UFU, 1983, p. 1-28. CARLI, G. de Gênese e evolução da indústria açucareira de São Paulo. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti Editores, 1943, 228p. CONSELHO ESTADUAL DE ENERGIA. Governo do Estado de São Paulo. Diretrizes para Análise de Projetos do Proálcool no Estado de São Paulo. São Paulo, n.p., 1984. PETRONE, M. T. S. A lavoura canavieira em São Paulo: expansão e declínio (1765-1851). São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1968, 241p. SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p.

6 - Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

BRAY, S. C. A formação do capital na agroindústria açucareira de São Paulo: revisão dos paradigmas tradicionais. 1989, 169F. (Livre Docência), Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 1989. FERREIRA, E. R. A formação da região canavieira de Araraquara : o papel do estado e das agroindústrias do açúcar e do álcool no processo de organização

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185 

 

do espaço. 1988. Dissertação (Mestrado em Geografia), Instituto de Geociências e Ciências Exatas/UNESP, Rio Claro, 1988. FERREIRA, E. R.; BRAY, S. C. As influências do Proálcool e do Pro-oeste nas transformações das áreas canavieiras do Estado de São Paulo. Geografia, Rio Claro, v. 9, nº 17/18, p. 101-13, out. 1984.

Nota

Referência completa original

FERREIRA, E. R.; BRAY, S.C. A orientação estatal após 1970 e as transformações

nas Regiões Canavieiras do Estado de São Paulo, Brasil. In: Encuentro de

Geógrafos de América Latina, 3, 1991, Toluca – Mexico. Memória del ... Toluca:

Universidad Autonoma del Estado de México, v. III p. 193-203.

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186 

 

O PROÁLCOOL E O PROESTE, E AS TRANSFORMAÇÕES NAS

ÁREAS CANAVIEIRAS DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Enéas Rente FERREIRA1

Silvio Carlos BRAY2

No início da década de 1970, o PLANALSUCAR estabeleceu cinco (5) áreas

canavieiras no Estado de São Paulo, sendo elas: 1º) Piracicaba, na Depressão

Periférica Paulista; 2º) Sertãozinho/Ribeirão Preto; 3º) Araraquara; 4º) Jaú no Alto

Planalto Ocidental Paulista, e 5º) Vale do Paranapanema, abrangendo o Planalto

Ocidental Paulista ( Sorocaba) e o Norte Velho e o Norte Novo no Terceiro Planalto

Paranaense.

Iniciou-se o processo de instalação das destilarias autônomas no Estado.

Para evitar uma maior concentração de destilarias autônomas nas tradicionais áreas

canavieiras – Depressão Periférica Paulista e Alto Planalto Ocidental – o governo do

Estado através da Secretaria da Agricultura e Abastecimento resolveu intervir no

processo, e criou, em 1980, o Plano de Desenvolvimento do Oeste do Estado de

São Paulo - PROESTE (SÃO PAULO, 1980).

Através dos estudos realizados pela Secretaria da Agricultura sobre a

expansão da área cultivada com cana-de-açúcar, após o PNA – período de 1974/79

– permitiu observar que a agricultura energética estava substituindo áreas com

outras culturas, principalmente nas DIRA’S de Ribeirão Preto e Campinas. Além

desse fato, até final de 1979, foram aprovados, pelo PROÁLCOOL, 87 projetos para

a instalação de destilarias – 64 destilarias anexas e 23 autônomas – sendo que a

maioria delas foram implantadas nas tradicionais áreas canavieiros de Depressão

Periférica e Alto Planalto Ocidental.

Nessa primeira fase do PROÁLCOOL – 1975/79 – com a implantação das

destilarias anexas e autônomas no Estado, definiu-se, no Planalto Ocidental

Paulista, um centro açucareiro/alcooleiro que denominamos Catanduva, como a

sexta área canavieira paulista.

                                                            1 Pós-graduação do IGCE – UNESP / Campus de Rio Claro (SP). 2 Departamento de Planejamento Regional do IGCE – UNESP / Campus de Rio Claro (SP). 

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187 

 

Através do PROÁLCOOL e PROESTE, o Planalto Ocidental Paulista passou

a receber um grande fluxo de investimentos via CENAL, após 1980, resultando no

delineamento de novas áreas canavieiras no Estado, sendo elas: o Vale do

Paranapanema Paulista, - na região da Sorocabana – e o Oeste Paulista –

abrangendo a Alta Paulista, Noroeste e Alta Araraquarense, conforme Tabela 1.

De 1975/83 (Tabela 1), das 74 destilarias autônomas aprovadas no Estado de

São Paulo, 52 delas (70%) foram instaladas no Vale do Paranapanema, Catanduva

e Oeste. Com esses novos financiamentos, essas áreas canavieiras passaram a ter

um papel importante quanto à capacidade de produção de álcool dentro do Estado

(Tabela 2).

Ao observamos a Tabela 3, podemos perceber que, apesar de ter ocorrido um

grande volume da cana moída nas áreas canavieiras novas do Baixo e Médio

Planalto Ocidental Paulista, queremos salientar que a quantidade de cana moída

apresenta-se baixa ao compararmos com a capacidade de produção da Tabela 2.

Esse fato está ocorrendo devido grande parte dessas destilarias estarem em fase de

implantação. No entanto, prevê-se, para o ano de 1985, um deslocamento da maior

parte da produção alcooleira, das tradicionais áreas canavieiras do Estado, para o

Oeste, englobando o Vale do Paranapanema Paulista, Oeste Paulista e Catanduva.

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189 

 

Tabela 2. Capacidade de Produção de álcool nas destilarias anexas e autônomas (em 106 l/safra ). Até abril de 1983.

Áreas Canavieiras Unidades

Anexas Autônomas Total

Vale do Paranapanema 127,6 309,9 437,5

Jaú 200,9 19,8 220,7

Araraquara 156,6 88,5 245,1

Oeste Paulista 13,5 755,9 769,4

Catanduva 149,8 151,8 301,6

Piracicaba 546,7 9,3 556,0

Rib. Preto/ Sertãozinho 779,5 292,8 1.072,3

Totais 1.974,6 1.628,0 3.602,6

Fonte: MIC/ IAA/ DMA/CENAL

TABELA 3. Cana Moída nas áreas canavieiras de São Paulo para a produção de álcool – safra 1982/83 (Em tonelada).

Áreas Canavieiras Unidades

Anexas Autônomas Total

Vale do Paranapanema 932.422 2.269.645 3.202.067

Jaú 5.197.092 76.792 5.273.884

Araraquara 3.071.824 243.835 3.315.659

Oeste Paulista 637.215 4.998.822 5.636.037

Catanduva 2.739.121 911.259 3.650.380

Piracicaba 6.378.348 214.643 6.592.991

Rib. Preto/ Sertãozinho 11.806.162 2.051.110 13.857.272

Totais 30.762.184 10.766.106 41.528.290

Fonte: MIC/ IAA/ DMA/CENAL

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Bibliografia

SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p.

Bibliografia constante no texto original, mas não estão citadas.

BRAY, S. C. A cultura da cana-de-açúcar no Vale do Paranapanema - um estudo de Geografia Agrária. 1980. 170 f. (Doutorado em Geografia). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1980. FERREIRA, E. R.; BRAY S. C. As agroindústrias e a formação do Setor Canavieiro de Araras. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 13, n. 25, p. 57-68. 1983. MELO, F. H.de; FONSECA, E. G. Proálcool, energia e transporte. Estudos Econômicos, São Paulo: Pioneira/FIPE, 1981, 163p. (Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais). RAMOS, P. Um estudo da evolução e da estrutura da agroindústria canavieira do Estado de São Paulo - (1930-1982). 1983, 258f., (Mestrado), Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 1983. SZMRECSÁNYI, T. (1979) - O planejamento da agroindústria canavieira do Brasil (1930-1975). São Paulo: Hucitec, 1979, 540p.

Nota

Referência completa original

FERREIRA, E. R.; BRAY, S. C. O Proálcool e o Proeste, e as transformações nas

áreas canavieiras do estado de São Paulo.. In: Encontro Nacional de Geografia

Agrária, 4. 1983, Uberlândia, Anais do IV Encontro Nacional de Geografia

Agrária, Comunicações, Uberlândia: UFU, 1983, p. 46-52.

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191 

 

O DESLOCAMENTO DA AGROINDÚSTRIA CANAVIEIRA PARA O

OESTE DO ESTADO DE SÃO PAULO

Davi Guilherme Gaspar RUAS1

Enéas Rente FERREIRA2

Elias Júnior Câmara Gomes SALES3

Resumo

A partir do Programa Nacional do Álcool [novembro de 1975], ficou evidente

que novas terras seriam necessárias para fazer frente às novas demandas para a

produção sucroalcooleira. O governo do estado de São Paulo toma a iniciativa e

propõe o PROCANA, cujo objetivo era direcionar os novos projetos para o oeste do

estado. Agindo assim, o governo defendia duas propostas: deslocar a canavicultura

para o oeste do estado e fixar o elemento humano na região, sabidamente área de

poucos atrativos para o trabalhador. Entretanto, conseguiu provocar uma terceira

reação, permitiu que as terras das áreas tradicionais não sofressem a concorrência

das novas áreas produtivas. Assim, temos que o oeste paulista já é responsável pela

metade da produção de álcool do estado, evidenciando um exemplo tem sucedido

de planejamento agrícola.

Palavras-chave: PROCANA, deslocamento oeste, planejamento cultura

sucroalcooleira.

Introdução

                                                            1 Prof.º Dr. do DTAiSER/CCA/UFSCAR - Araras - Núcleo de Estudos Agrários/IGCE/UNESP – Rio

Claro. [email protected] 2 Prof.º Dr. do Departamento de Geografia – Núcleo de Estudos Agrários/IGCE/UNESP - Rio Claro.

[email protected] 3 Mestrando em Geografia – Núcleo de Estudos Agrários/IGCE/UNESP – Rio Claro

[email protected]

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Até o junho de 2010, o país contava com 432 unidades industriais inscritas no

cadastro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo 166

destilarias de álcool, 16 usinas produtoras somente de açúcar e 250 usinas

produtoras de açúcar e álcool (MAPA 2010), distribuído em 23 estados da

federação, conforme ilustrado na Figura 1. São Paulo consta com 197 unidades

industriais (45,6% do nacional), sendo 6 unidades produtoras de açúcar, 61

unidades produtoras de álcool e 130 unidades produtoras de açúcar e álcool.

Figura 1. Unidades Produtoras Cadastradas no Departamento da Cana-de-açúcar e Agro energia - MAPA

Fonte: MAPA (2010)

A previsão é que, até 2025, o país tenha 615 usinas de etanol. Essa

expansão está sendo aquecida pelo Programa Nacional de Biocombustíveis, com

grandes subsídios por parte do governo.

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193 

 

PROCANA: programa incentivador da desconcentração.

O Governo do Estado de São Paulo4, através da Coordenadoria de

Assistência Técnica Integral - CATI, da Secretaria da Agricultura e Abastecimento -

SAA, teve a iniciativa de tentar direcionar a instalação de novas destilarias

enquadradas no PROÁLCOOL para a região Oeste do Estado. Para isto, elaborou o

documento "Bases para um plano de Desenvolvimento Agrícola do Oeste do Estado

de São Paulo - PROESTE". Em que entre seus objetivos, possuía os seguintes:

Aproveitamento da infraestrutura existente, sem necessidade de

investimentos públicos adicionais para a sua consecução; -

Interiorização do desenvolvimento pelo fortalecimento das economias

regionais; e - Preservar e ampliar a oferta de alimentos, bem como,

manter a expressiva participação do setor agropecuário paulista na

pauta de exportação (SÃO PAULO, p.2 1980).

Dentro deste plano, o primeiro programa a ser estabelecido foi o "Programa

de Expansão da Canavicultura para Produção de Combustível do Estado de São

Paulo - PROCANA", que em sua apresentação coloca:

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento, preocupada com a

possibilidade de expansão desordenada da cultura da cana-de-

açúcar no Estado de São Paulo e a consequente ocupação de terras

utilizadas para a produção de alimentos, resolveu promover ação

visando orientar a instalação daquela cultura destinada à produção

de álcool em regiões onde a cana representará a melhor opção para

as terras susceptíveis a erosão, além de constituir fator gerador de

desenvolvimento local sem desalojar as explorações existentes face

ao atual sistema de ocupação das regiões selecionadas para o

programa (SÃO PAULO, p.3 1980).

Por esta apresentação, observamos que o programa se baseia na premissa

de que com a substituição da pecuária extensiva pelo plantio de cana-de-açúcar

ocorrerá uma melhoria no desenvolvimento da agricultura regional. Isto é válido se

considerarmos que a ocupação de mão-de-obra, mesmo sendo sazonal, na cultura

da cana-de-açúcar é maior que na pecuária e a movimentação de recursos

financeiros também é maior.

                                                            4 Era governador de São Paulo o Eng. Paulo Salim Maluf, que governou no período de 15-03-1979 a 16- 06-1982 e eu vice até 15-03-83.

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194 

 

Esta preocupação em melhorar a distribuição da produção de álcool no

Estado vem de encontro às análises que foram feitas na época sobre o

PROÁLCOOL, como colocado por Bueno (1980):

Um estudo do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) faz duras

críticas ao abandono dos objetivos sociais do PROÁLCOOL. Os

órgãos que atuam no programa, como o Banco do Brasil, o Banco

Central e o Ministério da Indústria e Comércio repassam os recursos

para os projetos sem se "preocupar com os desequilíbrios regionais,

com a fixação do homem no campo, com o desemprego rural e com

a má distribuição da renda". Esse estudo revela que apenas dois

grandes grupos (Ometto e Biagi) ficaram com nada menos que 41%

dos recursos destinados a projetos para produção de álcool de 1976

a 1978, "o que mostra claramente que os financiamentos são

canalizados prioritariamente aos grandes empreendimentos", diz o

Jornal do Brasil (26/08/79) (BUENO, 1980, p. 22-23).

Dentro do PROCANA, não existiu uma meta clara e definida a ser alcançada,

e sim somente orientação para se trabalhar e implantar a cultura da cana-de-açúcar

em área prioritária do Estado de São Paulo. O programa estabelece como área de

abrangência o Oeste do Estado, delimitação esta apresentada na Figura 2. A área

foi separada em duas regiões: a Região Prioritária, com 153 municípios e a Região

Marginal, compreendendo 69 municípios5.

O restante da área do Estado de São Paulo consideramos como área

tradicional quando tratamos do PROCANA. Mesmo com esta regionalização,

algumas áreas internas foram consideradas inaptas para o cultivo da cana, mas não

estão representadas no mapa, pois o nosso interesse é analisar se realmente houve

um direcionamento ou não na implantação de novas unidades industriais na região e

sua participação no global do Estado, e nestas áreas não foram implantadas

destilarias autônomas.

Sobre a meta de produção de álcool no Estado de São Paulo e sua

participação no global brasileiro, no qual o PROCANA se insere, o documento sobre

rezoneamento das áreas para implantação de destilarias de álcool, elaborado pela

Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia (SÃO PAULO, 1979a),

admite:                                                             5 O número de municípios refere-se à divisão política existente no ano do projeto, não consideramos os desdobramentos ocorridos em anos recentes.

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195 

 

Figura 2. PROESTE: delimitação das regiões para implantação de destilarias.

Para efeitos de planejamento da produção de álcool a nível nacional,

estipula-se, neste primeiro momento, a capacidade paulista de

produzir 7 milhões de metros cúbicos de álcool, em 1985, ficando os

acréscimos na dependência da produtividade agrícola e industrial.

Ressalta-se que o volume de produção aqui assinalado refere-se ao

álcool a ser obtido na linha de cana-de-açúcar com a

complementação do sorgo sacarino no período da entressafra. Não

estão enquadrados os possíveis volumes de produção complementar

das mini-destilarias que porventura vierem a ser instaladas no

território paulista (SÃO PAULO, 1979a).

Esta segunda colocação decorrente do fato de que o Governo Paulista

advogava na época a implantação destas unidades através do documento

"Subsídios para o programa nacional de mini e microdestilarias de álcool carburante"

(SÃO PAULO, 1979b), mas poucas microdestilarias foram implantadas e estas não

conseguiram cotas para comercializar o álcool produzido, sendo o sorgo utilizado

somente em experimentos.

Utilizando-se somente de dados numéricos, um dos itens da conclusão do

documento referente ao PROCANA (SÃO PAULO, 1980) explicita que:

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196 

 

Dos 65.302 km2 disponíveis de terras aptas da Região Prioritária se

utilizarmos apenas 16% para a implantação de novas lavouras

teremos uma área aproximada de 10.000 km2, ou seja, 1.000.000 de

ha que corresponde a uma área de cana de 750.000 ha que poderá

produzir 3.000.000 m3 de álcool, o que representa quase um terço da

meta estimada pelo PROÁLCOOL para 1985 (SÃO PAULO, 1980, p.

17).

Com a mudança do governador de Estado em março de 1983, houve uma

mudança das prioridades no âmbito da Secretaria de Agricultura, não mais se

cogitando de estímulos ao PROCANA. Este programa de desenvolvimento baseou-

se na atuação dos Engenheiros Agrônomos das Casas de Agricultura para

orientação técnica, quando sabemos que o setor sucroalcooleiro sempre se

caracterizou pela não utilização dos órgãos oficiais de extensão, por possuírem os

seus próprios técnicos, e os técnicos das cooperativas ou as próprias indústrias que

davam assistência aos fornecedores. Como a CATI não possuía poder político nem

financeiro para interferir no desenvolvimento do setor, o governo do estado criou um

órgão mais abrangente.

O novo governo paulista tentou criar uma política própria no setor energético,

e esta ação teve início com a criação do Conselho Estadual de Energia (CEE)6. Uma

das primeiras medidas tomada pelo Conselho foi a edição das “Diretrizes para a

análise de projetos do PROÁLCOOL no Estado de São Paulo” (CEE, 1984). Estas

diretrizes propunham uma política para o setor sucroalcooleiro paulista, e

reafirmavam as diretrizes estabelecidas no PRO-OESTE. O documento contém três

partes: I – Normas Gerais, II - Critérios específicos e III - Grupo de Análise. Dentro

das Normas gerais, o primeiro item coloca:

-1. Limitar a instalação de novas unidades ou ampliações das já

existentes na área definida como não prioritária, pelo PRO-ESTE

(conforme SAA/GSAA no 777/81), quaisquer que sejam as origens

dos recursos financeiros para a execução dos projetos.

Baseando-se nos dados de área pertencentes a estabelecimentos rurais,

publicados pelo IBGE (1991) e referentes ao Censo Agropecuário realizado em

1985, observa-se que a Região Prioritária abrange área menor que a prevista no

                                                            6 O Conselho Estadual de Energia foi criado pelo Governador Franco Montoro em 11/05/83, e era composto por um colegiado onde tinham assento membros do executivo, do legislativo e da sociedade.

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197 

 

documento do PROCANA (Tabela 1). Verifica-se que a previsão de alcançar 16% da

área prioritária com cana-de-açúcar só foi realizada em um quarto do previsto,

apesar de ocupar 14,7% da área total cultivada com esta cultura no Estado de São

Paulo (248.801 hectares), esta representava somente 4% da área agricultável da

região prioritária.

Tabela 1. Área total e área colhida com cana-de-açúcar no ano de 1985, separada

por Regiões do PROCANA.

REGIÃO ÁREA TOTAL ÁREA COM CANA

ha % ha %

Prioritária 6.248.903 30,56 248.801 14,68

Marginal 2.098.554 10,27 114.727 6,77

Tradicional 12.097.832 59,17 1.331.466 78,55

São Paulo 20.445.289 100,00 1.694.994 100,00

Fonte: IBGE (1991) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Com base nos dados publicados pelo IBGE (2010) referentes ao Censo

Agropecuário realizado em 2006, observa-se que a Região do PROCANA (Tabela 2)

passou de 21,4% da área colhida com cana-de-açúcar no ano de 1985 para 33,4%

no ano de 2006.

Tabela 2. Área colhida com cana-de-açúcar no ano de 2006, separada para as regiões do PROCANA e Tradicional.

REGIÃO ÁREA COM CANA

Ha %

PROCANA 1 000 529 33,46

Tradicional 1 989 677 66,54

São Paulo 2 990 206 100,00

Fonte: IBGE (2010) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

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198 

 

Evolução do número de unidades industriais.

Analisando a evolução do setor sucroalcooleiro do Estado, em comparação

com a região abrangida pelo PROCANA, estudando as unidades industriais já

existentes e as enquadradas no CENAL para a região, antes e após a data de abril

de 1980, que consta em tabela do documento, podemos concluir se houve ou não

um direcionamento em relação ao Estado como um todo.

Utilizamos as safras 1970/71 (início de nosso estudo), 1975/76 (início do

PROÁLCOOL) e o período das safras 1980/81 (lançamento do PROCANA) a

1985/86, referente à meta definida pelo PROÁLCOOL para a produção de 7 bilhões

de litros de álcool no Estado de São Paulo. Após este período, somente tivemos o

aumento de criação de novas unidades na região no início deste século. A criação

destas novas unidades se deu principalmente por empresários que possuíam

unidades na região tradicional e se expandiram para a região oeste do Estado.

Na safra 1970/71 operaram 92 usinas no Estado de São Paulo. Destas, 10

usinas estavam instaladas na região do programa denominado PROCANA, sendo 5

na área prioritária e 5 na área considerada marginal, e não existia nenhuma

destilaria autônoma em operação. Na safra 1975/76 somente operou uma destilaria

autônoma no Estado de São Paulo, a Destilaria Santa Maria (Lençóis Paulista),

incluída na área prioritária do PROCANA. Na safra 1980/81, início deste programa,

operaram 73 usinas e 16 destilarias autônomas no Estado de São Paulo. Das 73

usinas, 4 operavam na área prioritária e 5 na marginal e as outras 65 na área

tradicional, ou seja, não prioritária para a instalação de novas unidades. A usina que

paralisou suas operações na área prioritária foi a Miranda (Pirajuí). Estes dados e os

das outras safras com a distribuição das unidades (usinas e destilarias) nas três

regiões estão apresentados na Tabela 3.

Verifica-se que houve uma grande expansão no número de unidades

(destilarias autônomas) que entraram em operação na região prioritária nas safras

1981/82 (mais quatro unidades) e 1983/84 (8 unidades), números estes maiores que

o da área tradicional, que apresentou o seu crescimento superior nas safras 1982/83

(+ 9 unidades), 1984/85 (5 unidades) e 1985/86 (8 unidades).

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199 

 

Tabela 3. Número de unidades que operaram na Região do PROCANA e no Estado de São Paulo entre 1970/71 a 1985/86. Safras escolhidas.

SAFRA

REGIÃO TOTAL SÃO PAULO Procana Tradicional

Usina Dest. Usina Dest. Usina Dest.

1970/71 10 - 82 - 92

1975/76 9 1 68 - 77 1

1980/81 8 8 65 8 73 16

1981/82 9 13 66 10 75 23

1982/83 9 24 65 19 74 43

1983/84 9 34 64 25 73 59

1984/85 9 36 64 30 73 66

1985/86 9 38 62 38 71 76

Fonte: IAA (1972a, 1972b, 1972c, 1976b, 1980, 1981, 1985a) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Em termos de número de unidades, considerando somente o período das

safras 1980/81 a 1985/86, a região prioritária foi a que mais cresceu, e quando

levamos em consideração a última safra, verifica-se que a região tradicional é que

apresentou um maior número de unidades que paralisaram a produção. Esta

paralisação em grande maioria teve a parte agrícola transferida para uma unidade já

existente, aumentando a concentração da produção em grandes unidades, fato este

que pode não ter ocorrido na região prioritária, pois as unidades em sua grande

maioria estão isoladas.

Enquanto que na Região Prioritária ocorria o aumento da produção pela

entrada de funcionamento de novas unidades, na Região Tradicional ocorria a

concentração da produção nas unidades já existentes.

Face a esta dinâmica de instalação de unidades industriais na região,

utilizamos as safras 2004/05 a 2008/09 (Tabela 4), para efeito de comparação do

que ocorreu com a região. Na região do PROCANA operaram 9 usinas e 38

destilarias autônomas na safra 1985/86, já na safra 2008/09 operaram 54 usinas e

23 destilarias autônomas. Enquanto que na área tradicional o número de usinas

passou de 62 para 79 e o de destilarias autônomas de 38 para 10. Estes números

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200 

 

caracterizam bem a transformação das destilarias autônomas em usinas, deixando

de serem produtoras exclusivas de álcool.

Tabela 4. Número de unidades que operaram na Região do PROCANA e no Estado de São Paulo entre 2004/05 a 2008/09. Safras escolhidas.

SAFRA

REGIÃO TOTAL SÃO PAULO Procana Tradicional

Usina Dest. Usina Dest. Usina Dest.

2004/05 43 14 73 7 116 21

2005/06 42 15 76 8 118 23

2006/07 49 18 76 9 125 27

2007/08 50 26 77 13 127 39

2008/09 54 23 79 10 133 33

Fonte: ÚNICA (2010) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Realmente, no período considerado como do PROCANA, ocorreu uma

expansão das destilarias autônomas na região considerada como prioritária. Mas,

não podemos dizer que esta expansão é decorrente do programa instituído pelo

governo paulista, pois da concepção de um projeto até a instalação da unidade

industrial decorrem de 4 a 5 anos para o início da operação, e todas as unidades

que entraram em operação já tinham seus projetos enquadrados no CENAL.

A produção de açúcar.

Na Tabela 5 e Figura 3 estão os volumes de açúcar produzidos no Estado,

dados estes separados pelas Regiões do PROCANA e Tradicional. Verifica-se que

no período das safras 1980/81 a 1985/86 a variação na produção de açúcar na

região do PROCANA foi bem inferior a variação ocorrida na região tradicional do

Estado.

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201 

 

Tabela 5. Produção de açúcar em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em toneladas – 1970/71 a 1985/86. Safras escolhidas.

SAFRA REGIÃO TOTAL

SÃO PAULO Procana Tradicional

1970/71 185.969 2.250.396 2.436.365

1975/76 268.716 2.600.617 2.869.333

1980/81 386.332 3.456.016 3.842.348

1981/82 365.606 3.549.562 3.915.168

1982/83 474.748 3.825.592 4.300.340

1983/84 510.528 3.831.000 4.341.528

1984/85 511.581 3.594.357 4.105.938

1985/86 403.200 3.012.608 3.415.808

Fonte: IAA (1972a, 1976b, 1980, 1981, 1983, 1984a, 1985b, 1986a) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Figura 3. Produção de açúcar em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em toneladas, safras 1970/71, 1975/76, 1980/81 a 1985/86.

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202 

 

Na Tabela 6 e Figura 4 o que podemos observar é um aumento na

participação da produção de açúcar da Região do PROCANA em relação a região

tradicional. Enquanto a região do PROCANA era responsável por 11,8% da

produção do Estado na safra 1985/86, passou a ser responsável por 31,7% da

produção do Estado. Este aumento reflete a transformação das destilarias

autônomas em usinas de açúcar.

Tabela 6. Produção de açúcar em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo,

em toneladas – 2004/05 a 2008/09.

SAFRA REGIÃO TOTAL

SÃO PAULO Procana Tradicional

2004/05 4.413.329 12.081.602 16.494.931

2005/06 4.145.144 12.688.451 16.833.595

2006/07 5.844.848 13.658.184 19.503.032

2007/08 5.869.121 13.238.773 19.107.894

2008/09 6.239.631 13.423.164 19.662.795

Fonte: ÚNICA (2010) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Figura 4. Produção de açúcar em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em toneladas, safras 2004/05 a 2008/09.

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203 

 

A produção de álcool.

A produção de álcool apresentou crescimento em todo o período analisado

(Tabela 7 e Figura 5) nas regiões. O crescimento a partir da safra 1984/85, se deu

pela expansão das unidades já instaladas e também pela entrada em operação de

novas unidades.

Tabela 7. Produção de álcool em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em metros cúbicos – 1970/71 a 1985/86. Safras escolhidas.

SAFRA REGIÃO TOTAL

SÃO PAULO Procana Tradicional

1970/71 36.245 400.468 436.713

1975/76 32.126 330.160 362.286

1980/81 361.917 2.245.978 2.607.895

1981/82 424.289 2.409.353 2.833.642

1982/83 731.525 3.083.249 3.814.774

1983/84 1.195.592 4.195.469 5.391.061

1984/85 1.405.357 4.618.011 6.023.368

1985/86 1.629.590 5.994.411 7.624.001

Fonte: IAA (1972b, 1976a, 1980, 1981, 1983, 1984b, 1985c, 1986b) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

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204 

 

Figura 5. Produção de álcool em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em toneladas, safras 1970/71, 1975/76, 1980/81 a 1985/86.

Se analisarmos o crescimento na produção de álcool (safras 1980/81 a

1985/86), observa-se que o crescimento na Região do PROCANA foi de 350,2%,

enquanto que na região Tradicional foi de 166,9%. Em termos numéricos, temos que

na região do PROCANA passou de 361.917m3 para 1.629.590m3 e na Tradicional de

2.245.978m3 para 5.994.411m3.

Um dos problemas surgidos com a falta de álcool em 1989 está relacionado

ao fato de como os novos produtores da Região de Araçatuba atuavam, com a falta

de matéria-prima para as destilarias autônomas. Rego, analisando este aspecto,

coloca:

Proprietários de destilarias têm lucro com o álcool, mas não

concebem repassar para a produção de cana parte desse lucro,

como investimento próprio. Considerando as suas atividades como

empreendimentos separados e, sem crédito e melhores preços para

a cana, afirmam estar subsidiando o álcool. Querem, na verdade,

que o conjunto da sociedade continue pagando para que eles

produzam e embolsem os lucros. Por isso, está faltando álcool.

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205 

 

Certamente esta é uma das mercadorias mais caras para a

sociedade brasileira, não só pelos subsídios oferecidos aos

proprietários das destilarias, como também pelo custo social que a

atividade traz como consequência, do ponto de vista dos

trabalhadores e do espaço produzido (REGO, 1990)

Não estão disponíveis na literatura muitas análises do PRO-OESTE

(PROCANA), como programa de localização de unidades industriais, mas somente

uma citação feita por Martins7, que transcrevemos a seguir:

O PROÁLCOOL foi inserido no contexto dos objetivos a serem

alcançados na revalorização do Oeste Paulista. O PROÁLCOOL, na

verdade, constitui-se na principal fonte de recursos para a

viabilização do PROESTE. A CATI elaborou um zoneamento onde se

determinou três regiões para efeito de expansão da cana-de-açúcar

no Estado de São Paulo: prioritária, marginal e não prioritária. O fato

é que esse trabalho evitou a instalação indiscriminada de destilarias

de álcool no Estado de São Paulo nas regiões produtoras de

alimentos e produtos importantes como citrus e café, evitando o

deslocamento dessas culturas pela cana-de-açúcar. Ao mesmo

tempo, orientou a implantação de projetos de produção de álcool em

zonas de pastagens (localizadas a Oeste do Estado), causando com

isso um considerável efeito multiplicador no desenvolvimento de tais

regiões. Das 56 destilarias instaladas até 19 de agosto de 1982,

grande número delas estão localizadas na área recomendada pelo

zoneamento.

Martins coloca que foram instaladas 56 destilarias no Estado de São Paulo,

mas na safra 1982/83 só operaram 43 destilarias. O que pode ter ocorrido é ter

considerado os projetos enquadrados como destilarias, mas ocorreu de muitas

unidades possuírem mais do que um projeto, o que significava ampliação da

capacidade e não implantação de indústria, e deve-se ressaltar que estas unidades

já tinham seus projetos enquadrados na CENAL antes da criação do PROCANA.

Ferreira e Bray (1984), em estudo referente às transformações ocorridas nas

áreas canavieiras paulistas, principalmente pelo PROCANA, colocam:

                                                            7 MARTINS, Z. Agricultura paulista: uma história maior que cem anos. São Paulo, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, 1991, p.500, cita o trecho acima, retirado de SÃO PAULO. Resumos dos trabalhos, período: 16/10/79 a 15/03/83. Campinas, 1983. 21p. e anexos.

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206 

 

O PRO-OESTE, através do PROCANA, conforme foi analisado

anteriormente, mostrou na aparência o objetivo de deslocar as novas

destilarias de álcool para o oeste do Estado devido: - à necessidade

de ordenar a expansão desordenada da cultura da cana-de-açúcar

em São Paulo; - à consequente ocupação das terras utilizadas para a

produção de alimentos pela agricultura canavieira e, - visando a

instalação da cana-de-açúcar em regiões onde terá melhor opção

para a sua expansão no Estado de São Paulo.

Entretanto, na essência, o Plano de Desenvolvimento do Oeste do

Estado de São Paulo veio contribuir com a expansão dos tradicionais

grupos usineiros do leste paulista, deixando o "território livre" e

evitando um maior conflito na disputa de terras entre esses grupos,

como também com os novos grupos das destilarias autônomas que

se instalassem nas áreas canavieiras de Piracicaba,

Sertãozinho/Ribeirão Preto, Jaú e Araraquara.

O que realmente acorreu foi uma decisão anterior do empresariado paulista

em implantar destilarias autônomas no Oeste Paulista, pois o documento da

SOPRAL (1975)8 já propunha que esta deveria ser a área prioritária para a

instalação das novas unidades, quando sugeria a instalação de destilarias na Região

de São José do Rio Preto (30 unidades), Araçatuba (24 unidades) e de Presidente

Prudente (36 unidades), pois nestas regiões existiam muitas áreas não aproveitadas

e/ou com pastagens, o que permitia menores gastos em terras.

Como a decisão empresarial já tinha sido tomada, no sentido de implantar

novas destilarias em regiões de terras mais baratas, conforme proposto no

documento da SOPRAL (1975), fica para nós a impressão de que o PROCANA

somente foi mais um programa do Governo do Estado utilizado como propaganda,

sabendo de antemão o que ia acontecer.

Na Tabela 8 e Figura 6 podemos observar à evolução na produção de

álcool nas regiões do PROCANA e Tradicional, no período das safras 2004/05 a

safra 2008/09. Enquanto a região do PROCANA produziu 21,3%do álcool do Estado

na safra 1984/85, na safra 2008/09 foi responsável pela produção de 42,2% do total

do Estado.

                                                            8 SOPRAL - Sociedade de Produtores de Açúcar e de Álcool, associação constituída em 20 de maio de 1975.

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Tabela 8. Produção de álcool em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em metros cúbicos – 2004/05 a 2008/09.

SAFRA REGIÃO TOTAL

SÃO PAULO PROCANA Tradicional

2004/05 3.294.657 5.812.800 9.107.457

2005/06 3.435.178 6.550.098 9.985.276

2006/07 4.311.502 6.598.511 10.910.013

2007/08 5.279.428 8.065.779 13.345.207

2008/09 7.059.022 9.663.457 16.722.479

Fonte: ÚNICA (2010) Elaboração: Davi G. G. Ruas.

Figura 6. Produção de álcool em Regiões do PROCANA, do Estado de São Paulo, em metros cúbicos, safras 2004/05 a 2008/09.

Considerações Finais.

A meta do PROÁLCOOL para o Estado de São Paulo foi de 7,0 bilhões de

litros na safra 1985/86, que também foi atingida apesar da não instalação de todas

as destilarias enquadradas e a paralisação de outras. Entretanto, não se conseguiu

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208 

 

atingir totalmente a meta do PROCANA, tendo ocorrido uma maior concentração da

produção de álcool nas áreas tradicionais do Centro-Leste Paulista.

A maioria das unidades industriais que foram instaladas como destilarias

autônomas, financiadas dentro do programa do álcool, se transformaram em usinas,

isto é, reequiparam as unidades industriais com equipamentos para a produção de

açúcar, mudando a característica de destilarias autônomas para usinas, sendo que o

açúcar passou a ser a principal atividade, deixando o álcool em segundo plano.

As crises observadas, pela falta de álcool que ocorreram no Brasil desde a

criação do PROÁLCOOL até os dias de hoje foram devido a elevação do preço do

açúcar no mercado internacional, em que os usineiros preferem produzir açúcar para

exportar do que produzir álcool para o abastecimento interno.

Este fato se agravou depois que foi extinto o Instituto do Açúcar e do Álcool,

que controlava o setor, estipulando cotas de produção, sem esta obrigatoriedade, as

unidades industriais ficaram livres para as suas tomadas de decisões no que

produzir e não são obrigadas a seguir um planejamento global para o setor.

Bibliografia

BUENO, R. Proálcool: rumo ao desastre. Petrópolis: Vozes, 1980, 70p. CONSELHO ESTADUAL DE ENERGIA. Governo do Estado de São Paulo. Diretrizes para Análise de Projetos do Proálcool no Estado de São Paulo. São Paulo, n.p., 1984. FERREIRA, E. R.; BRAY, S. C. As influências do Proálcool e do Pro-oeste nas transformações das áreas canavieiras do Estado de São Paulo. Geografia, Rio Claro, v. 9, nº 17/18, p. 101-13, out. 1984. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil - 1974. Rio de Janeiro, v. 35, 1974, 960p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil - 1992 (Reimpressão). Rio de Janeiro, v. 52, 1992, 1119p. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário de 2006. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/agropecuaria/censoagro/> Visitado em jun. 2010.

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209 

 

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censos Econômicos de 1985 - Censo Agropecuário: São Paulo. Rio de Janeiro, v. 21, mar. 1991, 1332p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Resultado final das safras de 1948/49 a 1983/84: produção de açúcar por tipo. Rio de Janeiro, 1983, 36p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de açúcar: por regiões, unidades da federação e usinas segundo os diferentes tipos, safra 1983/84. Rio de Janeiro, 1984a. 14p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Canas moídas: por regiões, unidades da federação e fábricas segundo os diferentes tipos, safra de 1984/85. Rio de Janeiro, 1985a, 19p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de açúcar: por regiões e unidades da federação e usinas segundo os diferentes tipos, safra 1985/86. Rio de Janeiro, 1986a, 9p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de álcool: por regiões, unidades da federação e destilarias, segundo os diferentes tipos, safra de 1985/86. Rio de Janeiro, 1986b, 10p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de açúcar: por regiões e unidades da federação e usinas segundo os diferentes tipos, safra 1984/85. Rio de Janeiro, 1985b, 14p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de álcool: por regiões, unidades da federação e destilarias, segundo os diferentes tipos, safra de 1984/85. Rio de Janeiro, 1985c, 17p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Coordenadoria de Planejamento, Programação e Orçamento. Divisão de Estatística. Produção de álcool na safra de 1975/76. Rio de Janeiro, 1976a, 5p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Delegacia Regional de São Paulo. Safra 1971/72: posição final. São Paulo, 1972a, 4p.

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210 

 

INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Divisão de Estudos e Planejamento. Serviço de Estatística e Cadastro. Produção de álcool na safra de 1970/71. Rio de Janeiro, 1972b, 6p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Divisão de Estudos e Planejamento. Serviço de Estatística e Cadastro. Resultado final da safra 1970/71: usinas, açúcar produzido e canas esmagadas. Rio de Janeiro, 1972c, 8p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Superintendência Regional de São Paulo. Divisão de Controle da Produção. Safra 1975/76: posição final. São Paulo, 1976b, 4p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Superintendência Regional de São Paulo. Divisão de Controle da Produção. Boletim VIII: posição final - Safra 79/80. São Paulo, 1980, 22p. INSTITUTO DO AÇÚCAR E DO ÁLCOOL Superintendência Regional de São Paulo. Divisão de Controle da Produção. Boletim VIII: posição final - Safra 80/81. São Paulo, 1981, 30p. MARTINS, Z. Agricultura paulista: uma história maior que cem anos. São Paulo, Secretaria de Agricultura e Abastecimento, São Paulo, 1991, 582p. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO - Secretaria de Produção e Agroenergia - Departamento da Cana-de-Açúcar e Agroenergia. Relação das Unidades Produtoras Cadastradas no Departamento da Cana-de-açúcar e Agroenergia. POSIÇÃO 25/06/2010 Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/url/ITEM/89E16CC2B9188DD4E040A8C075027524>, Acesso em: 04 jul. 2010. REGO, M. T. R. O PROÁLCOOL na Região de Araçatuba: o doce fel do binômio cana-boi. 1990, 187f. (Doutorado), Departamento de Geografia, Faculdade Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990. SÃO PAULO. Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. Rezoneamento das áreas para implantação de destilarias de álcool: subsídios e diretrizes para o Estado de São Paulo 1979-1985. São Paulo:SICCT, 1979a. 88p. SÃO PAULO. Secretaria da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo. IPT São Paulo. Subsídios para o programa nacional de mini e micro- destilarias de álcool carburante. São Paulo: SICCT/IPT, 1979b. 114p.

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211 

 

SÃO PAULO. Secretaria de Agricultura e Abastecimento. CATI. São Paulo. Bases para um plano de desenvolvimento do Oeste do Estado de São Paulo - PROESTE. São Paulo: Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, mapas, 1980. 30p. SOPRAL. Álcool Anidro. São Paulo, 1975 (Estudo para implantação de destilarias autônomas em São Paulo – não paginado). UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR. Dados e Cotações – Estatísticas: Ranking da produção de cana, açúcar e etanol das unidades da Região Centro-Sul. Disponível em <http://www.unica.com.br/dadosCotacao/estatistica/> Acesso em: 28 jun. 2010.

Nota

Referência completa original

RUAS, D. G. G.; FERREIRA, E. R.; SALES, E. J. C. G. O deslocamento da

agroindústria canavieira para o Oeste do Estado de São Paulo. In: Congresso

Brasileiro de Organização do Espaço,1 e Seminário de Pós-graduação em Geografia

da UNESP/Rio Claro,10. 2010, Rio Claro. Anais do I Congresso Brasileiro de

Organização do Espaço e X Seminário de Pós-graduação em Geografia da

UNESP/Rio Claro. Rio Claro: IGCE/UNESP - Pós-Graduação em Geografia, 2010,

p. 1049-1068.

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AUTORES EM ORDEM ALFABÉTICA

Nesta página apresentamos um mini curriculum dos autores nos dias de atuais.

Antonio Thomaz Junior

Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

- Campus de Rio Claro. Mestre e Doutor em Geografia pela Faculdade de Filosofia,

Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Atualmente é professor

livre docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, no

Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente

Prudente.

Davi Guilherme Gaspar Ruas

Graduado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz” da Universidade de São Paulo. Mestre em Economia Agrária pela

Universidade de São Paulo e Doutor em Geografia pela Universidade Estadual

Paulista Júlio de Mesquita Filho - Instituto de Geociências e Ciências Exatas do

campus de Rio Claro, SP. Atualmente é PROFESSOR ASSOCIADO III no

Departamento de Tecnologia Agroindustrial e Sócio Economia Rural do Centro de

ciências agrárias – Araras, SP da Universidade Federal de São Carlos.

Elias J. C. Gomes Sales

Graduado em Turismo pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestre em

Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Instituto de

Geociências e Ciências Exatas do campus de Rio Claro, SP. Atualmente é

DOUTORANDO em Geografia pela mesma instituição.

Enéas Rente Ferreira

Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

- Campus de Rio Claro. Mestre em Geografia pela Universidade Estadual Paulista

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Júlio de Mesquita Filho - Campus Rio Claro. Doutor em Engenharia de Transportes

pela Universidade de São Paulo e Livre Docente em Transportes pela Universidade

Estadual Paulista – Campus Rio Claro, SP. Atualmente é PROFESSOR ADJUNTO

da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Campus Rio Claro, no

Departamento de Geografia.

Rosely Rufino Sampaio

Licenciada e Graduada em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de

Mesquita Filho - Campus de Rio Claro. Mestre e Doutora em Geografia Física pela

Universidade de São Paulo. Atualmente é PROFESSORA ASSOCIADA da

Universidade Estadual de Londrina e Professora do Centro Universitário Filadélfia -

Unifil.

Sílvio Carlos Bray

Graduado em Geografia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras- Rio Claro,

hoje Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Campus de Rio Claro.

Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo e Doutor em

Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Livre-Docente em

Desenvolvimento Rural pela UNESP - Rio Claro e Professor Titular pela UNESP -

Rio Claro. Atua principalmente nos seguintes temas: teoria e método, geografia

agrária e história do pensamento geográfico.

Wilson Antônio Teixeira

Graduado em Geografia pela Universidade Estadual de Maringá. Mestre em

Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - Campus Rio

Claro e Doutor em Geografia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

Filho - Instituto de Geociências e Ciências Exatas do campus de Rio Claro, SP.

Atualmente é PROFESSOR ADJUNTO C da Universidade Estadual de Maringá –

Maringá – PR.