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135 foi dito alguns parágrafos atrás sobre a cor das culatras nos diamantes-brilhantes, nota-se o mesmo efeito nestas pedras incolores, mas, ao contrário dos diamantes, o efeito aqui resulta da colocação de tinta negra na faceta. Esta situação está bem evidente nas pedras incolores que acompanham os topázios imperiais numa guarnição de corpete da segunda metade de Setecentos, onde, a meio de cada uma destas pedras, se consegue ver um ponto negro bem definido. d Antes da expressão “minas novas” estar difundida, a estas gemas incolores chamavam-se “cristais”, sendo a sua grande maioria quartzos incolores, ou cristais de rocha, havendo também topázios inco- lores e goshenitas (berilos incolores). Acontece que, na primeira década do século XIX, foi descoberto um jazigo de topázios incolores com grande qualidade e brilho na região de Minas Novas, no actual estado de Minas Gerais, chegando a Portugal pedras desta procedência com a designação “minas novas”. Desde aí que, porventura por desconhecimento ou pouca aptidão gemológica, a designação “minas novas” se estendeu às referidas gemas incolores, como o quartzo e o berilo. Em quase todos os capítulos passados se aludiu a cada uma destas variedades incolores nos seus mais variados con- textos tipológicos, tendo ficado a ideia de que, neste particular, o quartzo é, dentro das três, a mais utilizada, logo seguido do topázio e, por fim, do berilo incolor. Ilustre-se aqui, a título de comple- mento, uma custódia do terceiro quartel de Setecentos com o viril decorado com uma dupla cerca- dura de topázios incolores em talhe rectangular e de elevado brilho. d Cumpre, por fim, referir que a ideia popular de que uma jóia com “minas novas” é rara e valiosa deve decorrer da sua antiguidade e autenticidade como peça de época e não das suas gemas, tal como é pensamento corrente. O rol de pedrarias de cor que chegou do Brasil neste período em apreço inclui outras variedades gemológicas que foram pontualmente aludidas ao longo dos capítulos anteriores, designadamen- te o quartzo ametista, o citrino, a água-marinha e a granada. Os alfinetes de cabelo, uma tipologia comum no final do século XVIII e que foi criativamente decorada com pedrarias de todas as cores, constituem uma boa montra para a exposição da quase totalidade de gemas coloridas brasileiras da época. O tesouro da Igreja de Nossa Senhora das Salas, em Sines, reúne um invulgar número destes ornamentos oferecidos como ex-votos a esta imagem de grande devoção das gentes desta cidade. d Aqui se podem observar, por exemplo, quartzos ametistas, cristais de rocha, granadas e topázios. Não raras vezes estas aplicações eram construídas na forma de trémulos, ou seja, de peças que, por meio de uma espiral em metal, adquiriam movimento, promovendo um maior brilho ao conjunto. d Cinco trémulos em prata com pedras coloridas (granadas, ametistas, topázio, cristal de rocha). Os trémulos tornaram-se muito populares como acessórios de usar na cabeça, no geral, presos a ornamentos de toucado variados. Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, Igreja de N.ª Sr.ª das Salas, Sines d Ornamento de corpete em prata, totalmente decorado com topázios imperiais e amarelos, desenhando motivos florais. O uso do topázio imperial é tido como de grande prestígio logo a partir de meados do séc. xviii. Museu de Évora Foto: IMC /DDF / José Pessoa Do Profano ao Religioso

Pedras Preciosas Arte Sacra

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foi dito alguns parágrafos atrás sobre a cor das culatras nos diamantes-brilhantes, nota-se o mesmo efeito nestas pedras incolores, mas, ao contrário dos diamantes, o efeito aqui resulta da colocação de tinta negra na faceta. Esta situação está bem evidente nas pedras incolores que acompanham os topázios imperiais numa guarnição de corpete da segunda metade de Setecentos, onde, a meio de cada uma destas pedras, se consegue ver um ponto negro bem definido. dAntes da expressão “minas novas” estar difundida, a estas gemas incolores chamavam-se “cristais”, sendo a sua grande maioria quartzos incolores, ou cristais de rocha, havendo também topázios inco-lores e goshenitas (berilos incolores). Acontece que, na primeira década do século xix, foi descoberto um jazigo de topázios incolores com grande qualidade e brilho na região de Minas Novas, no actual estado de Minas Gerais, chegando a Portugal pedras desta procedência com a designação “minas novas”. Desde aí que, porventura por desconhecimento ou pouca aptidão gemológica, a designação “minas novas” se estendeu às referidas gemas incolores, como o quartzo e o berilo. Em quase todos os capítulos passados se aludiu a cada uma destas variedades incolores nos seus mais variados con-textos tipológicos, tendo ficado a ideia de que, neste particular, o quartzo é, dentro das três, a mais utilizada, logo seguido do topázio e, por fim, do berilo incolor. Ilustre-se aqui, a título de comple-mento, uma custódia do terceiro quartel de Setecentos com o viril decorado com uma dupla cerca-dura de topázios incolores em talhe rectangular e de elevado brilho. d Cumpre, por fim, referir que a ideia popular de que uma jóia com “minas novas” é rara e valiosa deve decorrer da sua antiguidade e autenticidade como peça de época e não das suas gemas, tal como é pensamento corrente.

O rol de pedrarias de cor que chegou do Brasil neste período em apreço inclui outras variedades gemológicas que foram pontualmente aludidas ao longo dos capítulos anteriores, designadamen-te o quartzo ametista, o citrino, a água-marinha e a granada. Os alfinetes de cabelo, uma tipologia comum no final do século xviii e que foi criativamente decorada com pedrarias de todas as cores, constituem uma boa montra para a exposição da quase totalidade de gemas coloridas brasileiras da época. O tesouro da Igreja de Nossa Senhora das Salas, em Sines, reúne um invulgar número destes ornamentos oferecidos como ex-votos a esta imagem de grande devoção das gentes desta cidade. d Aqui se podem observar, por exemplo, quartzos ametistas, cristais de rocha, granadas e topázios. Não raras vezes estas aplicações eram construídas na forma de trémulos, ou seja, de peças que, por meio de uma espiral em metal, adquiriam movimento, promovendo um maior brilho ao conjunto.

dCinco trémulos em prata com pedras coloridas (granadas, ametistas, topázio, cristal de rocha). Os trémulos tornaram-se muito populares como acessórios de usar na cabeça, no geral, presos a ornamentos de toucado variados.

Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocesede Beja, Igreja de N.ª Sr.ª das Salas, Sines

dOrnamento de corpete em prata, totalmente decorado com topázios imperiais e amarelos, desenhando motivos florais. O uso do topázio imperial é tido como de grande prestígio logo a partir de meados do séc. xviii.

Museu de ÉvoraFoto: IMC /DDF / José Pessoa

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