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Peixes do rio Estreito, meio-oeste de Santa Catarina, Brasil

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A microbacia do Rio Estreito pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Uruguai e tem sua foz no trecho médio do Rio do Peixe. Este trabalho teve o objetivo de identificar a ictiofauna existente em três pontos do Rio Estreito, nos municípios de Luzerna, Ibicaré e Água Doce - SC. Para a realização da pesquisa, doze expedições para coleta foram realizadas, entre os meses de novembro de 2008 e abril de 2010. Foram utilizadas diversas metodologias de pesca, priorizando a captura da maior riqueza de espécies possível. Ao todo foram capturados e identificados 425 exemplares, distribuídos em 32 espécies e 11 famílias. Foram amostradas uma espécie possivelmente ainda não descrita do gênero Astyanax, e Astyanax saguazu, que tinha ocorrência registrada somente para rios da Argentina. A menor riqueza encontrada foi de 16 espécies, no ponto amostral I, acima de um acidente geográfico. Para a maioria das espécies, foram apontados dados a respeito de sua dieta e distribuição pelos ambientes do rio.

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  • 2

    CLEITON JOS GEUSTER

    PEIXES DO RIO ESTREITO,

    MEIO-OESTE DE SANTA

    CATARINA, BRASIL

    1 Edico

    2012

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    Este trabalho foi licenciado com a Licena Creative Commons

    Atribuio - NoComercial - SemDerivados 3.0 No Adaptada.

    Para ver uma cpia desta licena, visite

    http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/ ou envie um

    pedido por carta para Creative Commons, 444 Castro Street,

    Suite 900, Mountain View, California, 94041, USA.

    Geuster, Cleiton Jos.

    Peixes do Rio Estreito, meio-oeste de Santa

    Catarina, Brasil / Cleiton Jos Geuster. 1. ed. --

    Clube de Autores, 2012.

    91 f.

    1.Zoologia. 2. Biologia. 3. Ictiologia.

    I. Ttulo.

    CDD - 597

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    Natureza, que me faz sonhar, pesquisar e

    aprender. Meu refgio e consolo. O sentido da

    vida, para mim, te observar e ao menos tentar

    lhe entender. A ti dedico este trabalho.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Ao Mario Arthur Favretto, pelo apoio, troca de

    informaes e pela grande amizade a mim concedida;

    Ao Andr e a Vanessa, colegas que me presentearam

    durante estes ltimos anos com amizades verdadeiramente

    sinceras;

    Aos professores, e em especial, Professora Maria

    Ignez, que me estimulou a ingressar no curso de Cincias

    Biolgicas, uma das minhas escolhas mais bem acertadas;

    Ao professor Rodrigo Lingnau pela confiana em mim

    depositada no incio deste trabalho;

    A minha esposa Adriana e meu filho Isaac, que me

    perderam para o mato muitas vezes nos ltimos anos (e

    devem continuar perdendo nos prximos...), e sempre

    entenderam os motivos;

    Aos meus pais, colegas e amigos, pelo apoio.

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  • 9

    SUMRIO

    Introduo 09

    Referencial terico 11

    Metodologia 14

    Resultados 24

    Espcies encontradas 24

    Os peixes e observaes sobre sua ecologia 30

    Discusso 73

    A respeito da riqueza 73

    Espcies no amostradas citadas em entrevistas 75

    Recursos trficos importantes 76

    Alteraes sofridas e perspectivas para o rio Estreito 80

    Consideraes finais 82

    Concluses 84

    Referncias 85

  • 10

    INTRODUO

    Como era a paisagem natural de Santa Catarina h um

    Sculo atrs? Talvez esta pergunta nunca possa ser respondida

    com riqueza de detalhes. Em parte pela biodiversidade que a

    Mata Atlntica apresenta, mas tambm pelas condies de

    miserabilidade em que ela se encontra.

    A degradao do ambiente natural da regio do Rio

    Estreito, bem como as regies ao entorno, comeou na segunda

    dcada do sculo passado, primeiramente com a indstria

    madeireira, presente at hoje (WOLOSZYN, 2006). Foram

    cerca de oito dcadas de explorao intensa da mata nativa,

    sendo que atualmente, so utilizadas com maior frequncia

    espcies exticas, como Eucalyptus sp. e Pinus sp., usadas em

    planos de reflorestamento.

    Logo aps a instalao da indstria madeireira, Surgiu a

    agricultura, praticada em pequenas propriedades familiares,

    baseada principalmente na plantao de milho, criao de aves,

    sunos e bovinos (FERRARI, 2003).

    De maneira mais significante, a criao extensiva de

    bovinos a que causa mais impacto sobre a flora e fauna

    associadas ao rio. Estes animais, alm de se alimentarem com

    uma grande gama de espcies vegetais pertencentes mata

  • 11

    ciliar, impossibilitando seu crescimento e manuteno, tambm

    provocam grande eroso, por deixarem o solo totalmente

    exposto nos locais que costumam usar para se deslocar em

    busca de alimento. Isto se agrava mais ainda quando vo em

    busca de gua no rio, e ao chegar at o curso da gua, pisam

    sobre o solo da margem, descompactando-o, formando

    lamaais, que facilmente so erodidos quando o nvel das guas

    sobe, provocando assoreamento e diminuindo a qualidade da

    gua (ABDON, 2004).

    Secundariamente, a criao de aves e sunos em sistema

    de confinamento, gera uma grande quantidade de dejetos, de

    maneira concentrada. Se estes dejetos no forem processados

    de forma adequada e tiverem um destino correto, eles podem

    ser arrastados ao rio por guas pluviais, e l, promovem uma

    srie de desequilbrios ambientais, oriundos principalmente da

    exploso populacional de microorganismos aquticos,

    favorecidos pela maior disponibilidade de nutrientes,

    ocasionando um fenmeno conhecido como eutrofizao, que

    gera alteraes da composio qumica da gua, e consequente

    implica em alteraes na ictiofauna (KUNZ, 2006).

  • 12

    REFERENCIAL TERICO

    A classe Actinopterygii (peixes de nadadeiras raiadas)

    soma mais de 22.000 espcies, representando praticamente a

    metade de todas as espcies viventes de vertebrados (POUGH;

    JANIS; HEISER, 2003). Rios de pequeno porte so os

    possuidores da maior parte das espcies de peixes das guas

    continentais, sendo que grande parte destes, ainda no foi

    descrita pela cincia, e se j descritos, possuem sua biologia

    desconhecida. Estes peixes, geralmente de pequeno porte,

    possuem alto grau de variao morfolgica e gentica, sendo

    na maioria das vezes, endmicos de determinadas bacias,

    enquanto peixes de grande porte possuem ampla distribuio

    geogrfica, e pequena variao morfolgica (CASTRO, 1999).

    No Rio Estreito, no se tem notcia de algum

    levantamento documentado de sua ictiofauna, porem j foram

    feitos estudos no Rio do Peixe, mesmo assim, apenas

    preliminares, abrangendo somente a parte baixa deste rio

    (Segalin, 2008) e tambm estudos amplos na regio do alto Rio

    Uruguai (ZANIBONI-FILHO et al. 2004; GODOY, 1987).

    Segundo Zaniboni-Filho et al (2004), foram

    encontradas 97 espcies de peixes na regio do alto Rio

    Uruguai, divididas em sete ordens: Cypriniformes (Apenas

  • 13

    uma famlia, peixes de origem extica); Characiformes (8

    famlias); Siluriformes (10 famlias), Gymnotiformes (3

    famlias); Atheriniformes (uma famlia); Perciformes (2

    famlias) e Synbranchiformes (uma famlia). Das espcies

    encontradas, 14 possuem potencial para a pesca e piscicultura.

    No Rio do Peixe os levantamentos feitos por Segalin

    (2008) constataram a ocorrncia de 41 espcies, entre as quais,

    algumas com grande potencial para criao em viveiros

    artificiais, para fins comerciais, como: Oligosarcus jenynsii

    (Saicanga), Hoplias lacerdae (Trairo), Hoplias malabaricus

    (Trara), Rhamdia quelen (Jundi), Steindachneridion scripta

    (Suruvi), Hypostomus commersonii (Cascudo trepa-pau), todas

    estas distribudas dentro das mesmas ordens encontradas por

    ZANIBONI-FILHO et al (2004).

    De acordo com Ghazzi (2008), a regio do alto Rio

    Uruguai, possui um alto grau de endemismo de sua ictiofauna,

    se comparada com outras bacias hidrogrficas brasileiras. Este

    endemismo pode estar relacionado principalmente com a

    grande variedade de hbitats e caractersticas geolgicas da

    regio. A construo de represas para a gerao de energia e

    barreiras naturais pode causar instabilidade nas comunidades

    de peixes levando a um isolamento reprodutivo, diminuio da

    variabilidade gentica daquelas espcies locais e at mesmo

  • 14

    ocasionar uma extino localizada de alguns elementos da

    ictiofauna (CAMPOS; SILVA; AQUINO-SILVA, 2006).

    A descrio de novas espcies na bacia do Rio Uruguai,

    e as recentes revises taxonmicas aplicadas sua ictiofauna,

    embora ainda insuficientes para abordar toda a riqueza de

    espcies que este rio presumivelmente detm, foram

    intensificadas nos ltimos anos, estimuladas principalmente

    pelo setor energtico, que tem investido massivamente em

    novos empreendimentos hidroeltricos no alto Rio Uruguai

    (OLIVEIRA, 1999).

  • 15

    METODOLOGIA

    REA DE ESTUDO

    Fazendo parte da bacia hidrogrfica do Rio Uruguai, e

    com sua foz no Rio do Peixe, o Rio Estreito (Mapas 1, 2 e 3),

    um dos principais afluentes deste, possuindo uma calha com 15

    a 30 metros de largura, guas rpidas, com leito formado

    predominantemente por rochas baslticas. Sua nascente no

    Municpio de gua Doce-SC (265354.7S; 513634.45O),

    fica a uma altitude de 1240 metros, e ao percorrer uma

    distncia de aproximadamente 60 quilmetros, encontra o Rio

    do Peixe, entre os municpios de Luzerna e Ibicar

    (270700S; 512553.25O), em uma altitude de 530

    metros, sendo que a mdia de desnvel, de 12 metros a cada

    quilmetro de rio (MMA, I3Geo--).

    Em seu percurso, ocorre uma transio de tipos

    florestais: a Floresta Estacional Decidual e a Floresta

    Ombrfila Mista, a primeira, caracterstica na confluncia com

    o Rio do Peixe, e a segunda, dominante na regio das

    principais nascentes do rio, em altitudes maiores (KLEIN,

    1978). Poucos remanescentes intactos destes dois tipos

  • 16

    florestais ainda perduram na regio que o rio drena, sendo que

    atualmente, muitas reas esto em regenerao.

    Mapa 1: Bacia hidrogrfica do Rio do Peixe e localizao da micro bacia

    do Rio Estreito (quadrado verde). As cores com tons azul-escuro

    representam locais com altitude de at 500 m, enquanto os de tom vermelho

    apresentam altitudes de at 1300 metros. Fonte: Adaptado de Segalin,

    (2008)

  • 17

    Mapa 2: Rio Estreito e seus afluentes (traado branco), e os trs pontos

    amostrais (quadrados vermelhos) dentro da bacia de drenagem do Rio do

    Peixe. Fonte: Adaptado de Segalin, (2008).

  • 18

    O Rio Estreito colhe guas do territrio dos municpios

    de gua Doce, Treze Tlias, Ibicar e Luzerna. Os dois

    primeiros so os mais importantes na formao deste rio, pois

    neles, se formam a maioria de seus tributrios. Do mesmo

    modo, so os que mais contribuem com a poluio do mesmo,

    devido o contato com reas urbanas, lugares onde se percebe o

    lanamento de plsticos, esgoto domstico e entulhos diversos,

    que so encontrados ao longo no rio com grande frequncia.

    Mapa 3: Localizao do Rio Estreito dentro da bacia hidrogrfica do Rio

    Uruguai. Fonte: Adaptado de Lucena e Kullander, (1992)

  • 19

    vlido acrescentar que no Rio do Peixe,

    aproximadamente 2500 metros abaixo da foz do Rio Estreito,

    encontram-se uma barragem de difcil transposio para

    espcies migradoras, pois a mesma no possui sistemas que

    possam permitir a piracema. Isso se repete vrias vezes ao

    longo do rio, inclusive no Rio Uruguai, que recebe as guas do

    Rio do Peixe. Toda a regio do alto Rio Uruguai possui

    projetos para a implantao de novas barragens (PAIM e

    ORTIZ, 2006).

    DETERMINAO DAS REAS DE ESTUDO

    Ao longo do rio, foram estipulados trs pontos para

    amostragem e observao dos peixes (Mapa 2). Sendo o ponto

    I a 27 km da foz no Rio do Peixe, o ponto II a 14 km e o ponto

    III a 5 km. O ponto amostral II, comea logo abaixo de uma

    cascata, que forma um obstculo significativo, impedindo a

    migrao dos peixes rio acima (Fotografia 1).

    Cada ponto de amostragem apresentava

    aproximadamente 1000 metros de comprimento, reunindo

    vrias combinaes de profundidade, correnteza, tipos de

    substrato de fundo (rochas, lodo, areia, seixos) e conservao

  • 20

    da mata ciliar. Alm disso, cada ponto tinha pelo menos um

    pequeno tributrio, que tambm foram analisados.

    Fotografia 1: Cascata no Rio Estreito, localizada entre os municpios de

    gua Doce e Luzerna.

    MTODOS DE CAMPO PARA EXTRAO DE DADOS

    Os trabalhos de campo foram realizados entre os meses

    de novembro de 2008 e abril de 2010, principalmente em

    meses com temperaturas elevada, pois os peixes de modo geral

    ficam notoriamente mais ativos nesta poca, facilitando

  • 21

    consideravelmente a coleta de alguns exemplares. No foram

    realizados trabalhos de campo em dias muito chuvosos, pois

    devido s caractersticas do rio, que apresenta muitas

    corredeiras, as coletas so impraticveis com as guas acima de

    seu nvel normal, alm da turbidez e do carregamento de

    detritos (galhos, folhas, sedimento), impossibilitam o uso de

    algumas metodologias de captura, e mesmo a visualizao dos

    peixes.

    Para a amostragem dos exemplares, foram realizadas 12

    incurses ao rio, sendo quatro em cada ponto amostral, duas

    vezes em cada poca de amostragem (meses quentes),

    perfazendo um esforo amostral total de aproximadamente 570

    horas. Durante as amostragens e em outros momentos ao

    decorrer do estudo, foram feitas observaes diretas dos peixes

    em seu ambiente, durante o dia, com a gua lmpida, e a noite,

    com o uso de lanternas. Para isso, deslocava-se lentamente

    dentro da gua, nas margens do rio e de tributrios.

    Algumas entrevistas foram realizadas com moradores

    mais antigos, que possuem terrenos as margens do rio, e que

    praticam ou praticavam pesca amadora. Estas entrevistas

    tinham como principal objetivo detectar uma possvel perda de

    riqueza ao longo da ocupao humana na regio do Rio. Para

  • 22

    um melhor entendimento e identificao de espcies, material

    fotogrfico foi apresentado aos entrevistados.

    Os equipamentos utilizados na captura dos exemplares

    foram redes de 10 a 20 metros e tarrafas mono filamento, com

    medida de malha compreendida de 15 a 60 mm entrens, linhas

    de mo e espinhis. Para a captura de espcies de porte muito

    reduzido, pus, de at 5 mm de malha. Tambm foram

    capturadas manualmente algumas espcies em seus

    esconderijos (tocas). Exemplares imaturos foram libertados

    imediatamente aps sua captura.

    Os exemplares adultos ou inditos na pesquisa, foram

    identificados e tiveram seu comprimento total (Ct) e peso total

    (Pt) anotados. Exemplares para testemunho, para anlise do

    contedo estomacal e exemplares mortos ou debilitados, foram

    fixados em formol 5%, e em seguida acondicionados em

    recipientes contendo lcool 70%, metodologia de conservao

    de peixes apresentada por AURICCHIO E SALOMO,

    (2002). Os outros espcimes, quando com a integridade

    corprea preservada e apresentando boa mobilidade, foram

    devolvidos ao seu ambiente. Os espcimes fixados foram

    depositados no Laboratrio de Zoologia da UNOESC, campus

    de Joaaba e no Museu Frei Miguel de Luzerna, onde tero

    finalidade didtica, e de material testemunho.

  • 23

    IDENTIFICAO DAS ESPCIES E ANLIZE DOS

    DADOS

    Os exemplares amostrados foram identificados com

    base nos trabalhos de Zaniboni- Filho et al (2004) e Godoy

    (1987). Foram usados tambm artigos de reviso taxonmica e

    de descrio de novas espcies: Bertaco e Cardoso (2005), Bifi,

    Pavanelli e Zawadzki (2009), Buckup e Reis (1997), Cardoso e

    Silva (2004), Carvalho (2004), Ghazzi (2008), Lucena (2007),

    Lucena e Kullander (1992), Lucinda (2008), Rican e Kullander

    (2008), Oyakawa e Mattox (2009). Duas espcies de Astyanax

    no puderam ser identificadas com a literatura disponvel,

    sendo ento, enviados cinco espcimes de cada para

    identificao no Laboratrio de Ictiologia do Departamento de

    Zoologia da UFRGS, onde foram identificados e tombados, sob

    os registros: UFRGS 11903, Astyanax saguazu (5 exemplares)

    e UFRGS 11904, Astyanax sp. (5 exemplares).

    Quando capturados em nmero suficiente, at dez

    exemplares de cada espcie tiveram seu contedo estomacal

    analisado, sendo os itens encontrados foram identificados at a

    menor classe taxonmica possvel, com base em Souza e

    Lorenzi (2005) e Williams e Marcelino (2001) para itens

  • 24

    vegetais, e para invertebrados, Bennemann, Shibatta e Vieira

    (2008) e BUZZI (2002).

    Alm da riqueza de espcies encontrada nos trs pontos

    amostrais, a riqueza individual tambm foi analisada, e com

    estes valores pode-se obter um ndice de similaridade entre os

    pontos amostrais. A frmula para clculo deste ndice a

    seguinte:

    Onde:

    Is: ndice de similaridade

    A: nmero de espcies da rea A

    B: nmero de espcies da rea B

    C: nmero de espcies comuns das reas A e B

    Os valores deste ndice variam de 0 a 1, sendo que 1

    corresponde a duas reas com 100% de igualdade, seja em

    nmero e tipo de espcies.

  • 25

    RESULTADOS

    ESPCIES ENCONTRADAS

    Durante este trabalho, foram coletados e identificados e

    medidos 425 exemplares, distribudos em 32 espcies, 5 ordens

    e 11 famlias.

    Devido o grande esforo amostral, acredita-se que a

    maioria das espcies foram amostradas. Obtendo-se um

    grfico, relacionando esforo amostral e n de espcies

    amostradas (curva do coletor), percebe-se uma certa

    estabilidade aps a 9 sada de campo (Grfico 1), sendo que

    at a 12 amostragem, somente duas novas espcies foram

    amostradas, ambas exticas e de ocorrncia considerada

    acidental.

  • 26

    Grfico 01. Curva do coletor.

    Foram encontradas 11 famlias, sendo a famlia

    Characidae detentora do maior nmero de espcies (8),

    seguida por Loricariidae (7), e Cichlidae (6) seguindo um

    padro encontrado nos rios sul-americanos (CASTRO, 1999).

  • 27

    Grfico 02. Representatividade das famlias de peixes no rio Estreito.

    Tabela 1. Espcie encontradas e seus respectivos locais de

    amostragem.

  • 28

  • 29

  • 30

    RIQUEZA E NDICE DE SIMILARIDADE POR PONTO

    AMOSTRAL

    Os pontos amostrais se mostraram relativamente

    heterogneos quanto a sua riqueza de espcies, se considerado

    a pouca distncia entre eles e sua semelhana ambiental. O

    ponto amostral III, na parte mais prxima da foz, no Rio do

    Peixe, apresentou a maior riqueza, com 31 espcies, seguido

    pelo ponto II, a jusante da cascata, com 22 espcies, e o ponto

    I, a montante da cascata, com 16 espcies. Apenas uma espcie

    no ocorreu no ponto amostral III, foi Australoheros cf.

    forquilha, que foi amostrado nos pontos I e II.

    Os resultados desta heterogeneidade se refletiram nos

    ndices de similaridade, que foram de 72% entre pontos

    amostrais I e II; 46% entre I e III e 65% de similaridade entre II

    e III.

    Tabela 02. Similaridade entre os pontos amostrais.

  • 31

    OS PEIXES E OBSERVAES SOBRE SUA ECOLOGIA

    Classe: Actinopterygii

    Ordem: Cypriniformes

    Famlia Cyprinidae

    Cyprinus carpio Linnaeus, 1758 Carpa

    Espcie extica, de grande porte, originria da Europa

    Oriental. Foi introduzida no Brasil pela primeira vez em 1881

    (GODOY, 1987). a principal espcie criada nos audes da

    regio. Aparentemente no possui sucesso reprodutivo nos rios

    da regio, onde raramente so encontrados exemplares juvenis.

    A maior parte dos indivduos capturados no ambiente natural

    pesa mais de 500g. A presena no Rio Estreito, bem como

    outros rios da regio provavelmente est associada a

    enxurradas que fazem viveiros transbordarem, os peixes

    acabam saindo destes viveiros e passam a viver nos rios.

    Apenas um exemplar (Fotografia 2) foi capturado

    durante as amostragens deste trabalho, no ponto amostral III.

    Apresentava 52,8 gramas de peso total (Pt) e tinha um

    comprimento total (Ct) de 11,6 centmetros. Semanas antes da

    captura deste exemplar, fortes chuvas incidiram sobre a regio,

    sendo que houve notcias de que alguns audes localizados na

  • 32

    zona de drenagem do Rio Estreito tiveram suas barragens

    rompidas, explicando assim provvel origem deste exemplar.

    Fotografia 02. Cyprinus carpio.

  • 33

    Ordem: Cyprinodontiformes

    Famlia Poeciliidae

    Phalloceros cf. caudimaculatus (Hensel, 1868)

    Barrigudinho

    Espcie de porte bastante reduzido, machos menores

    que as fmeas, e com o primeiro raio da nadadeira anal

    transformado em rgo copulador (Fotografia 3). Fecundao e

    desenvolvimento interno. As formas jovens ao serem expelidas

    atravs da papila genital da fmea, so independentes, com um

    tamanho de 5 a 6 mm de comprimento. Foram contadas de 25 a

    30 larvas no interior de fmeas fecundadas.

    Esta espcie foi encontrada em todos os pontos

    amostrais, ocupando diversos ambientes, desde que com guas

    rasas e calmas. Alm de estarem presentes na calha principal

    do rio, foram encontrados em pequenas lagoas perenes nas

    margens, canais secundrios, em pequenos tributrios, e at

    mesmo em pequenas poas nos banhados prximos de cursos

    da gua. Para a captura dos exemplares, foi utilizada uma

    pequena vareta, tocando repetidamente a superfcie da gua,

    sendo que movimento os atraa, facilitando a sua visualizao e

    coleta com um pu. Esta espcie mostrou grande capacidade

    de ocupar novos ambientes, sendo que durante este estudo, foi

  • 34

    perceptvel a sua migrao em pocas chuvosas por pequenos

    riachos sazonais, o que pode explicar sua presena em diversos

    locais onde outras espcies no se fazem presentes. Foram

    observadas se alimentando de larvas de Culicidae, o que pode

    indicar que sejam importantes controladores de alguns destes

    Dpteros. O maior exemplar amostrado foi uma fmea, com 5,3

    cm de Ct, e 1,8g. de Pt.

    Fotografia 03. Phalloceros cf. caudimaculatus.

  • 35

    Ordem: Characiformes

    Famlia Anastomidae

    Leporinus amae Godoy, 1980 Boca-de-moa

    Peixe de pequeno porte, corpo fusiforme, com colorido

    avermelhado (Fotografia 4). Dentes incisivos. Exemplares

    foram abundantes nos pontos II e III, sendo que acima da

    cascata, a espcie no foi capturada. Foi capturada

    exclusivamente em corredeiras, entre espaos nas rochas ou

    sobre elas e ainda locais com abundantes colnias de Tristicha

    trifaria (Podostemaceae). Em anlise do contedo estomacal de

    alguns espcimes, encontraram-se exclusivamente larvas de

    Simuliidae (Diptera), algas filamentosas e sedimentos (areia).

    Seus itens alimentares devem ser mais amplos, visto que

    podem ser capturados com anzis usando iscas diversas. Maior

    exemplar: 19,1 cm de Ct e 82,2g de Pt.

    Fotografia 04. Leporinus amae.

  • 36

    Famlia Characidae

    Astyanax cf. scabripinnis (Jenyns, 1842) Lambari

    Caracdeo de pequeno porte, corpo robusto, olhos

    relativamente pequenos e nadadeiras avermelhadas (Fotografia

    5). Observados em cardumes durante o dia, que aparentemente

    ficam em constante deslocamento. Durante a noite ficam

    solitrios e imveis sobre rochas. Quando o rio se apresentava

    turvo e acima do nvel normal, frequentemente cardumes desta

    espcie puderam ser capturados com o auxilio de tarrafa em

    canais do rio que normalmente permanecem secos. Tambm

    foram capturados sobre rochas recobertas de T. trifaria. De

    modo geral, sempre se deslocam e forrageiam em guas

    rpidas. Sua dieta similar de A. saguazu. Foram capturados

    espcimes em todos os pontos amostrais. Maior exemplar: 15,3

    cm de Ct e 48,6g de Pt.

    Fotografia 05. Astyanax gr. scabripinnis.

  • 37

    Astyanax jacuhiensis (Cope, 1894) Lambari

    Espcie de pequeno porte, com o corpo ovalado, e com

    mancha oval atrs do oprculo. Colorao prateada, com

    nadadeira caudal amarelada (Fotografia 6). Ocorreu nos trs

    pontos amostrais, sendo que no primeiro ponto foi mais rara.

    Encontrada principalmente em locais rasos, sombreados, de

    guas calmas com substrato formado por folhio. Mais comum

    em pequenos poos em canais secundrios do rio. O contedo

    estomacal no pode ser determinado com preciso, pois os

    itens constantes nos estmagos dos peixes analisados, alm de

    apresentar tamanho diminuto, j estavam bastante

    fragmentados. Maior exemplar: 10 cm de Ct e 16,3g de Pt.

    Fotografia 06. Astyanax jacuhiensis.

  • 38

    Astyanax saguazu Casciotta, Almirn &

    Azpelicueta, 2003 - Lambari

    Pequeno porte, corpo lateralmente deprimido, olhos

    grandes se comparado com as demais espcies do gnero

    (Fotografia 7). Esta espcie foi descrita como tendo

    distribuio restrita a rios da Argentina (Casciotta; Almirn e

    Azpelicueta, 2003), na provncia de Missiones, dentro da Bacia

    do Rio Uruguai, sendo este o primeiro registro para rios

    brasileiros (Bertaco, com. pess.). Foi observado e capturado em

    diversos tipos de ambientes, com uma tendncia maior para

    guas calmas e sombreadas. Durante o dia, so vistos

    frequentemente em cardumes, deslocando-se rapidamente ao

    longo do rio enquanto forrageiam, ou parados em locais rasos,

    sob rvores cadas na gua ou vegetao marginal. noite,

    com o auxilio de iluminao, foram observados espalhados em

    locais rasos e de guas calmas. Pela anlise do contedo

    estomacal, percebe-se que possuem uma dieta ampla, incluindo

    insetos adultos (Himenpteros, Colepteros, Odonatos,

    Dpteros, Ortpteros, Efemeropteros, entre outros) que caem na

    gua, larvas de alguns destes, o crustceo Aegla sp., sementes

    de camboat (Cupania vernalis Sapindaceae), pequenos

    frutos, como o da pitangueira (Eugenia sp. Myrtaceae).

  • 39

    Foram capturados nos trs pontos amostrais. Maior exemplar:

    15 cm de Ct, e 41,8g. de Pt.

    Fotografia 07. Astyanax saguazu.

  • 40

    Astyanax n. sp. Lambari.

    Espcie de pequeno porte, colorao dourada e

    nadadeiras vermelhas (Fotografia 8). Espcie possivelmente

    ainda no descrita (Bertaco, com. pess.). Foram amostrados e

    observados nos trs pontos. Pequenos grupos destes peixes

    ficam entre fendas nas rochas, sob troncos ou vegetao

    marginal, sendo que com a gua do rio turva, podem ser

    capturados um pouco mais afastados destes esconderijos.

    Quanto menos luz penetra nestes ambientes, mais escura a

    colorao deste peixe. Alimentam-se em grande parte de

    pequenos insetos e frutos que caem na gua, sendo que podem

    vir at a tona para capturar o alimento, mas logo se escondem

    sob alguma estrutura. Sua dieta deve ser mais ampla, similar a

    de outros Astyanax. Maior exemplar: 16,6 cm de Ct e 24,5g de

    Pt.

  • 41

    Fotografia 08. Astyanax sp.

  • 42

    Bryconamericus iheringii (Boulenger, 1987)

    Lambari.

    Espcie de pequeno porte, corpo com colorido azulado

    quando em vida, nadadeiras amareladas (Fotografia 9). Espcie

    bastante freqente nos pontos II e III, ocupando vrios

    ambientes, principalmente corredeiras e locais rasos. No ponto

    amostral I, a espcie foi encontrada apenas em um pequeno

    tributrio, onde os exemplares adultos apresentavam um

    tamanho consideravelmente menor quando comparados com

    exemplares dos outros pontos amostrais, alm de ter uma

    colorao diferenciada. A dieta verificada inclua larvas de

    Simuldae e de Lepthoplebiidae - Ephemeroptera, entre outros

    no identificados. Maior exemplar: 9,8 cm de Ct e 11,3 g de Pt.

    Fotografia 09. Bryconamericus iheringii.

  • 43

    Bryconamericus stramineus Eigenmann, 1908

    Lambari.

    Espcie de pequeno porte, corpo alongado e

    semitransparente. Presena de uma faixa prateada do oprculo

    ao pednculo caudal (Fotografia 10). Somente foram

    observados e capturados no ponto amostral III, durante a noite,

    quando muitos exemplares se concentravam em locais de guas

    calmas e rasas, ficando bem prximo da superfcie. Os

    contedos estomacais indicaram diversos txons de insetos em

    fase larval, todos diminutos. Maior exemplar: 8,1 cm de Ct e

    5,2g de Pt.

    Fotografia 10. Bryconamericus stramineus.

  • 44

    Oligosarcus brevioris Menezes, 1987 Saicanga.

    Espcie de mdio porte, focinho curto e dentes cnicos.

    Corpo robusto de colorao dourada quando em vida

    (Fotografia 11). Forma cardumes, que pela manh e ao

    entardecer, exploram principalmente as pores finais dos

    poos. Em dias ensolarados, o cardume tende a ficar sob a

    vegetao ciliar, em locais mais sombreados. Nestes

    agrupamentos, somente so observados indivduos adultos,

    como tambm ocorre nos cardumes formados por algumas

    espcies de Astyanax. A dieta verificada predominantemente

    carnvora, incluindo outros Caracdeos, o crustceo Aegla sp, e

    diversos insetos adultos que caem na gua, principalmente

    Orthoptera. Durante a frutificao de Eugenia sp., exemplares

    foram capturados com frutos desta planta no seu trato

    digestivo. Indivduos com as gnadas maduras foram

    capturados nos meses de outubro/novembro e abril/maio.

    Esta espcie ocorreu em todos os pontos amostrais, mas

    de modo mais raro no ponto amostral II. Maior exemplar: 28,9

    cm de Ct, e 243,1g de Pt.

  • 45

    Fotografia 11. Oligosarcus brevioris.

  • 46

    Oligosarcus jenynsii (Ghunter, 1864) Saicanga.

    Espcie de mdio porte, focinho alongado, corpo

    esbelto, colorao prateada (Fotografia 12). Dentes caninos

    mais alongados e frgeis que O. brevioris. No foram

    observados cardumes nesta espcie, sendo que os indivduos

    foram capturados prximos a estruturas submersas, como

    troncos e rochas em vrios pontos de poos com profundidades

    maiores de 1,5 m. Foram amostrados nos pontos II e III.

    Os exemplares que tiveram seu contedo estomacal

    analisado, possuam basicamente exemplares de Astyanax sp e

    Bryconamericus sp. em seus estmagos, hbito alimentar

    piscvoro, como j havia sido observado por Hermes-Silva;

    Meurer; Zaniboni-Filho, (2004). Durante a frutificao de C.

    vernalis e Eugenia sp., frutos e sementes destas rvores foram

    encontrados tanto no estmago quanto nos intestinos de alguns

    exemplares. Tambm verificou-se a presena de vrios taxons

    de insetos, principalmente ortpteros. Maior exemplar: 28,2 cm

    de Ct e 202,6g de Pt.

  • 47

    Fotografia 12. Oligosarcus jenynsii.

  • 48

    Famlia Crenuchidae

    Characidium cf. serrano Buckup & Reis, 1997

    Piquira.

    Espcie de pequeno porte, corpo alongado e rolio,

    apresenta listras escuras transversais ao longo do corpo

    (Fotografia 13). No foi possvel a captura de exemplares desta

    espcie, porm espcimes eram facilmente visualizados sobre

    rochas, em locais de guas calmas. Costumam ficar imveis,

    apoiados com as nadadeiras peitorais sobre o substrato. Eram

    avistados somente entre as 10 e 17 horas. Nos meses de

    dezembro e janeiro, apareciam aos pares, quando ento, se

    tornavam territorialistas, expulsando peixes do gnero

    Astyanax e os perseguindo, quando estes eventualmente se

    aproximavam do seu territrio. Foram observados apenas no

    ponto amostral III. Nenhum exemplar tinha comprimento

    superior a 8 ou 9 cm.

    Fotografia 13. Characidium cf. serrano. Fonte: Buckup & Reis (1997).

  • 49

    Famlia Curimatidae

    Steindachnerina biornata (Braga & Azpelicueta,

    1987) Biru.

    Espcie de pequeno porte, corpo robusto, boca voltada

    para baixo, sem dentes. Colorao prateada com mancha escura

    no pednculo caudal (Fotografia 14). Foi amostrada no ponto

    III. Nada em cardumes, em poos de guas calmas, com mais

    de um metro de profundidade e substrato de fundo constitudo

    por areia e lodo. Hbito alimentar ilifago. Maior exemplar:

    15,5 cm de Ct, e 45,7g de Pt.

    Fotografia 14. Steindachnerina biornata.

  • 50

    Famlia Erythrinidae

    Hoplias cf. australis Oyakawa & Mattox, 2009

    Trara.

    Espcie de mdio porte, colorao marrom escura.

    Lngua lisa, sem dentculos, dentes caniniformes (Fotografia

    15). Foi amostrada em todos os pontos, sendo que as capturas

    se concentraram em locais pedregosos e de guas rpidas. As

    capturas desta espcie se deram somente pela noite. Nas

    verificaes do trato digestrio, os itens alimentares

    encontrados com mais abundncia foram peixes diversos,

    seguidos pelo crustceo Aegla sp. Nos meses de Dezembro e

    Janeiro, alguns espcimes foram observados cuidando de suas

    desovas em locais rasos, de gua parada, protegidos por pedras.

    Maior exemplar: 35,9 cm de Ct e 520g de Pt.

    Fotografia 15. Hoplias cf. australis.

  • 51

    Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) Trara

    Espcie de mdio a grande porte, colorao escura e ou

    amarelada com grandes mculas dispostas longitudinalmente

    pela lateral do corpo (Fotografia 16). Lngua spera, com

    numerosos dentculos, e dentes caniniformes. Amostrada nos

    pontos amostrais II e III, em diversos tipos de ambientes, com

    maior incidncia em poos de guas calmas. Nos perodos mais

    quentes e ensolarados, indivduos jovens (15 30 cm de

    comprimento total) eram vistos prximo superfcie,

    protegidos por galhos ou troncos semi-submersos. Ainda,

    adultos foram observados em ninhos escavados no lodo e

    folhio, em locais rasos com gua parada, cuidando de sua

    desova. Nos estmagos dos exemplares analisados, foram

    encontrados exclusivamente restos de Astyanax sp., hbito

    alimentar j observado por Loureiro & Hahn, (1996), em um

    reservatrio no Paran. s vezes, esta espcie usada no

    controle populacional de outras espcies de peixes nos audes

    da regio, principalmente Cicldeos dos gneros Geophagus e

    Oreochromis.

    Ainda podem ser encontrados exemplares de

    considervel porte, em reservatrios em que no existe

    nenhuma outra espcie de peixe. Isto indica que sua dieta deve

    ser mais ampla, e se ajusta conforme a disponibilidade e tipo de

  • 52

    alimento. O maior exemplar capturado nas amostragens no Rio

    Estreito, pertencia a esta espcie, media 49,1 cm de

    comprimento total (Ct), e pesava 1,456 kg de peso total (Pt).

    Fotografia 16. Hoplias malabaricus.

  • 53

    Ordem: Siluriformes

    Famlia Heptapteridae

    Heptapterus cf. truncatorostris (Borodin, 1927)

    Barriga-mole

    Espcie de mdio porte, corpo serpentiforme. Colorao

    castanho-escura. Olhos pequenos voltados para cima

    (Fotografia 17). Foi encontrada nos trs pontos de amostragem,

    de modo mais frequente em pequenos tributrios. No Rio

    Estreito ocorreu somente em determinados locais, onde o rio

    possua uma calha mais estreita com o fundo pedregoso. Nos

    pequenos crregos onde foi comum sua observao, foi visto

    principalmente em pequenos poos com mais de 30 cm de

    profundidade, se escondendo em cavidades no barranco ou sob

    pedras, saindo destes locais, somente noite ou com a gua

    turva. Os exemplares que tiveram os estmagos analisados

    quanto ao seu contedo, apresentavam principalmente o

    crustceo Aegla sp., e insetos adultos das ordens Hemiptera e

    Coleoptera. Maior exemplar: 21,8 cm de Ct e 47,6g de Pt.

  • 54

    Fotografia 17. Heptapterus cf. truncatorostris.

  • 55

    Rhamdella longiuscula Lucena & Silva, 1991 Mandi

    Espcie de mdio porte, colorao marrom, espinhos

    peitorais pungentes, duas faixas escuras intercaladas por uma

    clara ao longo da lateral do corpo (Fotografia 18). Amostrada

    nos pontos II e III em diversos ambientes, mas com restries a

    trechos com fundo lodoso. A espcie se mostrou mais ativa

    durante a noite ou com a gua turva. Os espcimes que tiveram

    seu trato gstrico analisado possuam pequenos colepteros

    adultos, larvas de Trichoptera, e caranguejos Aegla sp. Maior

    exemplar: 21 cm de Ct e 55,5g de Pt.

    Fotografia 18. Rhamdella longiuscula.

  • 56

    Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) - Jundi

    Espcie de mdio porte, no apresenta espinhos

    pungentes. Colorao variando do negro a tons castanhos, de

    acordo com a turbidez da gua e luminosidade incidente

    (Fotografia 19). Foi coletada e por vezes observada, nos trs

    pontos amostrais. Durante o dia, com a gua lmpida,

    permanecem sob rochas ou mesmo cavidades no barranco.

    noite ou com a gua turva, foram capturados em diversos

    ambientes, com prevalncia em locais de correnteza leve. A

    dieta constatada muito variada, incluindo frutos de C.

    vernalis, Matayba elaeagnoides (Sapindaceae), insetos

    diversos, lambaris (Astyanax sp. e Bryconamericus sp.) e em

    com grande freqncia, o crustceo Aegla sp. Maior exemplar

    38,1 cm de Ct e 439g de Pt.

    Fotografia 19. Rhamdia quelen.

  • 57

    Famlia Loricariidae

    Ancistrus cf. agostinhoi Bifi, Pavanelli & Zawadzki,

    2009 Cascudo

    Espcie de pequeno porte, tentculos curtos na parte

    superior da cabea. Espinhos curvos no oprculo. Corpo

    recoberto por mculas claras (Fotografia 20). Foram

    amostrados quatro exemplares durante a secagem natural de

    uma poa, devido uma forte estiagem, em um canal secundrio

    do rio, no ponto amostral III. Ilifago, conforme outros

    loricardeos, no foram observados forrageando nenhuma vez

    durante as observaes noturnas e diurnas. Deduz-se que se

    alimentam sob as rochas ou em outros locais protegidos, o que

    explica sua no amostragem em outras modalidades de pesca.

    Maior exemplar: Ct 13,1 cm; Pt 34,7g.

    Fotografia 20. Ancistrus cf. agostinhoi.

  • 58

    Ancistrus sp.

    Espcie de pequeno porte, tentculos longos na parte

    superior da cabea. Espinhos curvos no oprculo. Corpo

    recoberto por mculas claras (Fotografia 21). Foram

    amostrados cinco exemplares enquanto estes permaneciam

    junto de sua desova em tocas no barranco do rio. Seguindo o

    exemplo da espcie anterior, o local tambm ficava em um

    canal secundrio, porm com um fluxo de gua maior. As tocas

    tinham cerca de 20 a 30 cm de profundidade, e continham de

    100 150 ovas de cor amarela, presas umas as outras, em

    formato de cacho. Coletados no ponto amostral III. Maior

    exemplar: 14,5 cm de Ct e 48,3g de Pt.

    Fotografia 21. Ancistrus sp.

  • 59

    Hemiancistrus fuliginosus Malabarba & Cardoso,

    1999 - Cascudo

    Espcie de mdio porte, colorao variando de marrom

    claro ao escuro, conforme a turbidez da gua. Apresenta

    espinhos no oprculo (Fotografia 22). Peixe ilifago. Foram

    amostrados em todos os pontos amostrais, com grande

    frequncia. Facilmente observados durante a noite forrageando

    algas e particulado preso nas rochas, sob as quais, se refugiam

    durante o dia. Amostrados em vrios tipos de ambientes no rio,

    desde profundidades de 30 cm at lugares com mais de 3

    metros. Parecem ter predileo por locais com correnteza leve

    a moderada. Maior exemplar: 21,4cm de Ct, e Pt de123g.

    Fotografia 22. Hemiancistrus fuliginosus.

  • 60

    Hisonotus cf. aky (Azpelicueta, Casciotta, Almirn &

    Krber, 2004)

    Espcie de porte bastante reduzido, sendo que as

    espcies deste gnero raramente ultrapassam 6 cm.. Colorao

    verde, camuflando-os no meio em que vive (Fotografia 23).

    Amostrado apenas no ponto III em locais de guas calmas. Foi

    visto diversas vezes se alimentando de algas e detritos presos a

    pequenos ramos ou folhas que alcanam gua a partir do

    barranco do rio. Maior exemplar: Ct de 5,5cm e um Pt de 1,8g.

    Fotografia 23. Hisonotus cf. aky.

  • 61

    Hypostomus commersoni Valenciennes, 1836

    Cascudo Trepa-pau

    Espcie de mdio a grande porte, colorao marrom,

    recoberto por pequenas mculas negras (Fotografia 24). Foi

    amostrado em todos os pontos pesquisados. Capturado em

    diversos ambientes, sendo que no se pde detectar um algum

    local preferencial para esta espcie no rio. Nos meses de

    novembro e dezembro, adultos escavam tocas com mais de 1 m

    de comprimento (algumas com at 2 m) no barranco do rio,

    para realizarem l sua desova. Estas tocas so abandonadas

    aps o perodo reprodutivo. Com a gua lmpida, durante o dia,

    costumam ficar escondidos sob rochas e fendas. Durante a

    noite, forrageiam sob rochas e locais com fundo lodoso. Hbito

    alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 47,5 cm de Ct. e 818g de

    Pt.

    Fotografia 24. Hypostomus commersoni.

  • 62

    Hypostomus isbrueckeri Reis, Weber & Malabarba,

    1990 Cascudo

    Espcie de mdio porte, colorao marrom clara,

    recoberta de mculas escuras (Fotografia 25). Foram

    amostrados nos pontos II e III, em poos com mais de um

    metro de profundidade, guas de correnteza fraca, e fundo

    pedregoso. Hbito alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 25,1cm

    de Ct, e 198,9g, de Pt.

    Fotografia 25. Hypostomus isbrueckeri.

  • 63

    Rineloricaria cf. zaina Ghazzi, 2008 Violinha

    Espcie de pequeno porte, corpo achatado e esbelto.

    Colorao marrom-clara, com listras escuras transversais

    (Fotografia 26). Machos com muitas cerdas nas laterais da

    cabea. Foi amostrada em todos os pontos. Presente em todos

    os ambientes do rio, desde que com fundo rochoso. Loricardeo

    de hbitos preferencialmente noturnos, mas esporadicamente

    eram capturados durante o dia com a gua lmpida. Hbito

    alimentar: Ilifago. Maior exemplar: 16,4cm de Ct; e 19,8g. de

    Pt.

    Fotografia 26. Rineloricaria cf. zaina.

  • 64

    Famlia Pseudopimelodidae

    Microglanis eurystoma Malabarba & Mahler Jr., 1998

    - Roncador

    Espcie de pequeno porte, com faixas verticais

    distribudas pelo corpo. Barbilhes maxilares curtos e espinhos

    dorsal e peitoral pungentes (Fotografia 27). Ao manusear esta

    espcie sem luvas, seus espinhos podem causar punes na

    pele, causando dor e sensao de queimao. Foi amostrada

    somente no ponto III, durante a secagem de uma poa em um

    canal secundrio do rio. Em entrevistas, e conforme j havia

    sido percebido pelo autor em outras oportunidades, esta espcie

    pode ser considerada rara, somente sendo capturada em

    ocasies em que o rio se encontra acima de seu nvel normal e

    com elevada turbidez da gua, mesmo assim, com raridade. Ao

    ser retirado da gua, emite um som caracterstico, ao

    movimentar as nadadeiras peitorais para frente e para trs.

    Embora o autor j tenha encontrado exemplares de mais de 8

    cm de comprimento total, o espcime coletado neste trabalho

    possua um Ct de 4,3 cm e 1,3g de Pt.

  • 65

    Fotografia 27. Microglanis eurystoma.

  • 66

    Ordem: Perciformes

    Famlia Cichlidae

    Australoheros cf. forquilha Rican & Kullander, 2008

    Car

    Espcie de pequeno porte, colorido azulado, e

    nadadeiras alaranjadas. Corpo alto e ovalado, com faixas

    cinzentas transversais e uma mcula escura no centro

    (Fotografia 28). Encontrado no ponto amostral I com maior

    frequncia em relao ao ponto II, no ocorrendo no ponto III.

    sempre capturados em casais. Aparentemente possuem

    predileo por trechos sombreados, com leve correnteza e

    fundo rochoso. Em anlise do contedo estomacal, verificou-se

    a presena de detrito de origens vegetais e pequenos bivalves.

    Maior exemplar: Ct de 17 cm e 93,3g de Pt.

    Fotografia 28. Australoheros cf. forquilha.

  • 67

    Crenicichla igara Lucena & Kullander, 1992 -

    Joaninha

    Espcie de mdio porte, colorido verde-azulado, com o

    corpo recoberto de pequenas mculas escuras (Fotografia 29).

    Foi nica do gnero presente nos trs pontos amostrais.

    Capturada e visualizada em diversos ambientes com fundo

    rochoso. Geralmente vista aos pares, e na poca de reproduo

    (novembro, dezembro e janeiro), podia ser visualizada

    cuidando da prole em guas rasas. Em uma ocasio, um par foi

    observado executando uma espcie de dana em um local

    raso, possivelmente um ritual de acasalamento. Os dois

    apresentavam na ocasio uma faixa de tom avermelhado ao

    longo do corpo (colorao comum entre adultos das trs

    espcies de Crenicichla no Rio Estreito, na poca de

    reproduo). No trato digestivo de alguns exemplares, foram

    encontrados fragmentos de pequenos peixes, e apndices de

    Aegla sp. Maior exemplar: Ct de 25,5 cm e 160,3g. de Pt.

  • 68

    Fotografia 29. Crenicichla igara.

  • 69

    Crenicichla missioneira Lucena & Kullander, 1992

    Joaninha

    Espcie de mdio porte, colorao verde-azulada, sete

    mculas quadradas contrastantes no dorso (Fotografia 30).

    Foram amostrados indivduos desta espcie nos pontos II e III.

    Seus hbitos alimentares e de distribuio pelos ambientes do

    rio, foram semelhantes com os observados em C. igara. Maior

    exemplar: 23,5 cm de Ct, e 132,5g de Pt.

    Fotografia 30. Crenicichla missioneira.

  • 70

    Crenicichla tendybaguassu Lucena & Kullander, 1992

    Joaninha

    Espcie de pequeno porte, colorido verde-azulado, com

    pequenas maculas por todo o corpo. Lbios hipertrofiados

    (Fotografia 31). Esta espcie ocorreu apenas no ponto III, em

    ambientes semelhantes aos ocupados por C. igara e C.

    missioneira. Em anlise de seu trato digestivo foram

    encontrados fragmentos de conchas de moluscos bivalves e

    gastrpodes. Maior exemplar: Ct de 19,3 cm e Pt de 70,7g.

    Fotografia 31. Crenicichla tendybaguassu.

  • 71

    Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824)

    Acar

    Espcie de mdio porte, corpo alto e com mcula escura

    na lateral (Fotografia 32). Foi muito comum em todos os

    pontos amostrais. Capturada e visualizada em vrios

    ambientes, com preferncia para locais de guas calmas e com

    fundo lodoso e/ou com folhio. Durante o perodo reprodutivo,

    nos meses mais quentes, o macho constri um ninho, que

    consiste em uma pequena depresso, no fundo lodoso do rio

    prximo da margem, onde a fmea deposita os ovos. Podem

    nadar solitrios ou em pequenos grupos de 3 a 6 indivduos.

    Durante a noite, ficam estticos em locais rasos. Tem

    um interessante comportamento de defesa: ao ser encurralado,

    se esta em um local com fundo composto por folhio,

    velozmente se projeta contra este substrato, ficando ali,

    completamente escondido, se localizado e manipulado,

    continua esttico por um bom tempo. Em anlises

    macroscpicas feitas do contedo estomacal de alguns

    espcimes, somente se verificou detritos de origem vegetal,

    porm Rodrigues et al, (2007), em verificao aprofundada,

    encontraram vrios itens, tanto de origem animal, quanto

    vegetal, concernindo a esta espcie um habito alimentar

    onvoro. Maior exemplar: Ct de 23 cm e 224,6g de Pt.

  • 72

    Fotografia 32. Geophagus brasiliensis.

  • 73

    Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758) Tilpia

    Espcie extica, de mdio porte. Colorao acinzentada

    (Fotografia 33). Foram amostrados dois exemplares jovens, no

    ponto III, em um pequeno afluente. Como em C. carpio, a

    ocorrncia desta espcie esta relacionada fuga de criatrios,

    porm, at agora no foi detectada nenhuma populao estvel

    desta espcie nos rios da regio. Para o controle populacional

    desta espcie em audes e tanques, alguns produtores tm

    introduzido peixes piscvoros do gnero Hoplias, obtendo

    sucesso. Maior exemplar: 8,1 cm de Ct e 10,4g de Pt.

    Fotografia 33. Oreochromis niloticus.

  • 74

    DISCUSSO

    A RESPEITO DA RIQUEZA

    Similaridade com outros rios

    Torna-se difcil fazer comparaes entre a riqueza

    encontrada no Rio Estreito com o resultado de outros estudos

    parecidos. Dentro da mesma bacia hidrogrfica - Rio do Peixe -

    , tem-se o conhecimento de apenas um levantamento

    publicado, feito por Segalin (2008) no prprio Rio do Peixe,

    que tem um porte consideravelmente maior, sendo que na

    ocasio foram usadas metodologias diferentes. Alm disto, nos

    ltimos dez anos, foram feitas inmeras revises taxonmicas

    com a descrio de novas espcies, e a maioria dos trabalhos de

    levantamento de ictiofauna para a regio do alto Rio Uruguai

    foram feitos embasados em material antigo. Um exemplo atual

    a descrio de uma nova espcie do gnero Hoplias para os

    rios da regio. At 2009, se conheciam para o alto Rio Uruguai

    as espcies H. malabaricus e H. lacerdae. Neste mesmo ano,

    Mattox e Oyakawa, descrevem H. australis, que at ento

    podia ser identificada erroneamente como H. lacerdae. A partir

    deste trabalho, passaram a ser conhecidas trs espcies validas

    de Hoplias para o Rio Uruguai, muitas vezes ocorrendo em

  • 75

    simpatria. Do mesmo modo, vrios outros gneros de peixes

    regionais passaram a comportar um nmero maior de espcies

    nos ltimos anos: Astyanax, Characidium, Phalloceros,

    Australoheros, Ancistrus, Microglanis, Hisonotus,

    Rineloricaria, Hemiancistrus, Crenicichla.

    Deve-se considerar, portanto, inapropriado fazer

    comparaes dos resultados deste trabalho com outros

    semelhantes, a menos que se tenha acesso ao material coletado

    por estes outros, e se faa um novo enquadramento do material

    com as atuais revises taxonmicas.

    Similaridade entre os pontos amostrais

    Os resultados heterogneos de riqueza, observados

    entre os pontos amostrais, principalmente entre os pontos I e

    III, devem ter relao direta com o acidente geogrfico

    (cascata) entre estes dois pontos. Porm, a diferena de

    similaridade entre os pontos II e III no deve estar relacionada

    com isso, mas possivelmente por diferenas nas caractersticas

    do leito do rio: rochoso, raso e correntoso no ponto II, e mais

    profundo, com pontos de remanso e fundo lodoso no ponto III.

  • 76

    ESPCIES NO AMOSTRADAS, CITADAS EM

    ENTREVISTAS

    Trs espcies no amostradas foram reconhecidas para

    o Rio Estreito, atravs de entrevistas com moradores da regio,

    e pescadores. A primeira, Salminus brasiliensis (Cuvier, 1817)

    - Dourado, j no mais observada a mais de 60 anos, espcie

    citada pelos entrevistados porm no chegaram a conhec-la,

    mas trazem consigo relatos dos primeiros colonizadores da

    regio. Tendo como base o trabalho de Silva et al (2008), que

    atravs de dados como volume de gua e tamanho das bacias

    hidrogrficas, estabeleceram os rios com ocorrncia ou com

    condies de abrigar S. brasiliensis, deve-se considerar que na

    parte baixa do Rio Estreito, esta espcie pode ter ocorrido,

    juntamente com outra espcie de grande porte, Prochilodus

    lineatus (Valenciennes, 1836) - Grumato. Atualmente,

    existem relatos da captura de exemplares destas espcies na

    parte baixa da bacia hidrogrfica do Rio do Peixe.

    Outras duas espcies parecem ter desaparecido do rio

    recentemente, h pelo menos 20 anos: Hypostomus luteus

    (Godoy, 1990) Cascudo-amarelo Loricariidae; e

    Eigenmannia virescens (Valencienes, 1842) - Espada

    Sternopygidae. As duas, ao contrrio de S. brasiliensis, no so

  • 77

    to dependentes de grandes rios, sendo encontradas,

    principalmente E. virescens, em rios menores que o Rio

    Estreito. Atualmente, estas duas espcies podem ser

    encontradas no Rio do Peixe, desde sua parte baixa, at regies

    acima da foz do Rio Estreito (SEGALIN, com. pess.).

    RECURSOS TRFICOS IMPORTANTES

    As anlises feitas do contedo estomacal dos peixes do

    Rio Estreito revelaram uma grande gama de itens por eles

    usados como alimento, tanto de origem autctone como

    alctone. Das famlias Cyprinidae, Crenuchidae e

    Pseudopimelodidae no foram analisados espcimes, devido o

    baixo nmero de amostragens destas.

    As espcies das famlias Loricariidae e Curimatidae

    foram consideradas ilifagas, devido presena exclusiva de

    detritos em seus estmagos e intestinos. Estes detritos

    macroscopicamente no puderam ser identificados, mas os

    peixes destas famlias foram frequentemente visualizados se

    alimentando de algas e material particulado preso e ou

    sedimentado no fundo do rio e em outras estruturas.

    O restante das famlias apresentou a maior variabilidade

    quanto aos seus itens alimentares, com destaque para larvas

  • 78

    aquticas de diversas ordens de insetos, em especial Dptera e

    Trichoptera. Insetos adultos que caem na gua, tambm foram

    predados, principalmente das ordens Orthoptera e Coleptera.

    As espcies dos gneros Hoplias e Oligosarcus apresentaram

    freqentemente pequenos exemplares de Astyanax e

    Bryconamericus no seu trato digestivo. Fragmentos de

    Bivalves e de Gastrpodes estiveram presentes no trato

    digestivo de duas espcies de Cichlidae.

    Pequenos frutos e sementes de rvores fizeram parte da

    dieta de espcies do gnero Astyanax, Oligosarcus e Rhamdia,

    durante as pocas de frutificao, com destaque para Eugenia

    sp. (Myrtaceae), Cupaina vernalis (Sapindaceae) e Matayba

    elaeagnoides (Sapindaceae), indicando a importncia destas

    espcies na composio da mata ripria (Fotografia 34).

    Encontrado no trato digestivo de oito espcies, o

    crustceo Aegla sp., foi um dos mais importantes itens

    alimentares observados. Estes caranguejos foram encontrados

    em diversos ambientes, com preferncia para locais onde

    houvesse esconderijos: para os adultos, fendas nas rochas e sob

    troncos, e para as formas jovens, folhio. Nos tributrios

    estudados, tambm foram abundantes (Fotografias 35 e 36).

  • 79

    Fotografia 34. Sementes de M. elaeagnoides retiradas do trato digestivo de

    uma fmea madura de Rhamdia quelen. Nota-se tambm a presena de

    fragmentos de Orthoptera e de Aegla sp.

    Fotografia 35. Fragmentos de Aegla sp. e um Astyanax sp., semi-digeridos

    retirados do trato digestivo de um exemplar de Rhamdia quelen.

  • 80

    Fotografia 36. Caraguejo Aegla sp.

  • 81

    ALTERAES SOFRIDAS E PERSPECTIVAS PARA O

    RIO ESTREITO

    Foram ouvidos relatos de moradores que vivem

    prximo ao Rio Estreito, de que as caractersticas deste j no

    so mais as mesmas apresentadas h algum tempo atrs. Entre

    as mudanas, citam a acelerada perda do volume de gua aps

    perodos chuvosos, rpida tonalizao de verde de suas guas

    aps alguns dias de estiagem, e principalmente, a diminuio

    da piscosidade, principalmente em termos de quantidade, mas

    tambm com relao ao tamanho atingido por algumas

    espcies, que parecem no atingir o mesmo porte que atingiam

    no passado. Relatam tambm, o aparente desaparecimento de

    algumas espcies nos ltimos anos.

    Na regio da foz do Rio Estreito, o Rio do Peixe

    possua guas rpidas antes da construo de uma barragem, e

    esta inclusive, modificou as caractersticas originais do prprio

    Rio Estreito na sua poro final, tornando-o represado. As

    guas naquele ponto, outrora rpidas, se tornaram lentas, o que

    de alguma forma, pode ter interferido nos hbitos migratrios

    de determinadas espcies de peixes que preferem ambientes

    lticos para se deslocar.

  • 82

    Fazendo-se projees para o futuro do Rio, algumas

    alteraes antrpicas ainda podem influenciar em sua dinmica

    e biodiversidade. Caractersticas como, corredeiras, cascatas e

    margens ngremes, so muito vislumbradas quando se procura

    lugares em rios para a implantao de usinas hidreltricas,

    devido ao custo de implantao ser menor, e os ganhos

    energticos serem maiores. Isto faz do Rio Estreito, um timo

    lugar para a implantao de pequenas centrais hidreltricas

    (PCHs), e estas podem vir a interferir nas atuais caractersticas

    fsicas e qumicas da gua, e consequentemente, podem ocorrer

    mudanas ecolgicas no rio e seu entorno.

    No entanto, nos ltimos anos vem se observando uma

    grande recuperao da cobertura vegetal da regio. Grande

    parte das lavouras fora abandonada, permanecendo somente

    aquelas localizadas em locais em que possvel a mecanizao

    da produo. Estas reas que deixaram de ser usadas para fins

    agrcolas, hoje se encontram recobertas com vegetao

    formada a partir de regenerao natural, ou atravs

    reflorestamento. De qualquer modo, este aumento da cobertura

    vegetal (extica ou no), protege o solo, amenizando a eroso e

    seus efeitos sobre o rio.

  • 83

    CONSIDERAES FINAIS

    Com este trabalho, um prvio conhecimento da

    ictiofauna do Rio Estreito foi formado, principalmente quanto

    identificao e nmero de espcies ali presentes. A possvel

    perda ou extino local de trs espcies tambm foi detectada

    em entrevistas. Algumas espcies ainda no foram

    identificadas com preciso, ou possivelmente representem

    espcies novas, necessitando uma anlise morfolgica mais

    refinada. Estudos aprofundados da morfologia, ecologia ou

    mesmo genticos, devem ser aplicados a algumas espcies em

    especial:

    Bryconamericus iheringii, que apresenta uma

    populao com hbitos ambientais e morfologia diferente entre

    o ponto amostral I e os pontos II e III;

    Astyanax saguazu e Oligosarcus brevioris, que

    apresentaram tamanhos mximos inferiores no ponto amostral

    I, quando comparados com os espcimes dos pontos II e III;

    Australoheros cf. forquilha, amostrado

    frequentemente no ponto I, foi raro no ponto II e ausente no III,

    indicando certo isolamento desta espcie para a regio a

    montante da cascata. Fazem-se necessrios maiores estudos da

  • 84

    morfologia desta espcie, pois existe a possibilidade de ser uma

    espcie nova e endmica.

    As anlises de contedo estomacal indicaram a

    frugivoria por parte de algumas espcies. Este hbito alimentar

    deve ser mais bem estudado e compreendido, tendo em vista

    que muitos trechos do rio no possuem mais mata ripria, e

    atitudes de recuperao destas reas devem levar em

    considerao, alm de vrios outros aspectos, a interao com a

    ictiofauna local.

  • 85

    CONCLUSES

    Foram identificadas 32 espcies de peixes nos trs

    pontos amostrais analisados;

    O ponto amostral III apresentou a maior riqueza, com

    31 espcies, e o ponto I, a montante de um acidente geogrfico,

    a menor, com 16 espcies;

    Os itens alimentares mais importantes observados no

    trato digestivo das espcies analisadas foram larvas e insetos

    adultos, crustceos, detritos e pequenos frutos;

    A maior parte dos peixes observados foi encontrada

    em locais sombreados, com mata ripria preservada. reas com

    guas rasas foram ocupadas principalmente por juvenis de

    diversas espcies, sendo que os adultos foram observados e

    capturados em locais com mais de 50 cm de profundidade.

  • 86

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