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Peja - História e Geografia - Documento Final

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HISTÓRIA E GEOGRAFIA:DESAFIOS, DEBATES E REFERÊNCIAS PARA O COTIDIANO DO PEJA

Vista do alto, nas relações com o homem, a Geografianão é outra coisa a não ser a História no espaço, domesmo modo que a História é a Geografia no tempo.

Elisée Reclus

O propósito deste fascículo é situar o campo da História e da Geografia na Educação deJovens e Adultos, identificar seus principais desafios e estabelecer refer ncias para o trabal!o dos

professores, contribuindo, ao mesmo tempo, para a refle"ão acerca do papel #ue essas duasdisciplinas desempen!am na escolari$ação de alunos trabal!adores% &econ!ecemos, de antemão,#ue nossos educandos são su'eitos participantes da vida social e política, não apenas pelo poder deescol!a de seus representantes políticos, mas, também, pela sua inserção no mundo do trabal!o, o#ue os coloca em relação direta com #uest(es #ue envolvem interesses locais, nacionais e atémesmo globais% )ão 'ustamente essas características do aluno da EJA #ue nos t m provocado tantas indagaç(es*#ue escola é a mais ade#uada para suas necessidades+ ue programação curricular seguir+-riori$amos os conte.dos pré/determinados e enrai$ados por uma cultura escolar ainda livresca oudamos va$ão a temas #ue cotidianamente l!es c!egam sem #ue ten!am tempo de analis0/loscriticamente+ 1antemos a se#2 ncia de assuntos !istoricamente presentes em nossas disciplinas ouabordamos #uest(es #ue invadem nossas salas de aula tra$idas por suas viv ncias+ 3onflitos dessetipo se acentuam #uando percebemos #ue os campos da História e da Geografia podem tra$ercontribuiç(es fundamentais, tanto nas refle"(es em torno do conceito de cidadania #uanto nas aç(es para a formação cidadã, contribuindo para a constituição do leitor do mundo de -aulo 4reire, ou emoutras palavras, de atores/su'eitos de seu próprio tempo e espaço%

4a$/se necess0rio, portanto, e"plicitar #ual História e #ual Geografia se coloca em cena,#uando o #ue se imp(e !o'e para os nossos 'ovens e adultos educandos é uma realidademultifacetada, #uer no tempo, #uer no espaço, apresentando/se comple"a e desafiadora% 5 nestemomento #ue nós, educadores da EJA, também su'eitos desse processo, devemos lembrar #ue énossa tarefa recon!ecer,a priori , os principais referenciais teórico/metodológicos #ue permeiam anossa pr0tica%

En#uanto educador/pes#uisadores, devemos lançar mão do estudo, da an0lise e do

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plane'amento, estabelecendo um di0logo interdisciplinar com outras vis(es de mundo para #ue oensino de História e Geografia crie, em sala de aula, as condiç(es para a construção de umcon!ecimento aut6nomo e crítico, e não simplesmente reprodu$a um modelo !egem6nico% -aratanto, é primordial #ue as disciplinas não se'am apresentadas como saberes prontos, mas sim comocampos em movimento, em permanente construção, #uer na academia, #uer na escola b0sica, sendoesses dois lugares, ou dois momentos de produção, complementares, além de necess0rios eigualmente fundamentais na elaboração do con!ecimento produ$ido acerca desses dois saberes%

-ara nós, docentes do -EJA, alguns desafios nos são acrescentados, dentre eles* a difíciltarefa de trabal!ar a História e a Geografia de forma integrada por um mesmo docente7 a din8micacotidiana do -rograma #ue, muitas ve$es, nos coloca 9 frente de turmas com alunos de diferentesníveis de aprendi$ado7 a aus ncia de material did0tico de refer ncia ade#uado 9s nossasnecessidades7 a influ ncia de situaç(es de viol ncia pelas #uais passam v0rias comunidades #ueatendemos e #ue, com certa fre#2 ncia, tornam irregulares nossos encontros com os educandos%

:a e"pectativa de #ue este documento ven!a como mais uma con#uista e uma contribuiçãode docentes do -EJA para ampliar nossa capacidade de elaboração e intervenção na sociedade e, em particular, na educação p.blica desta cidade, consideramos fundamentais algumas refle"(es sobreas mais importantes correntes teórico/metodológicas, tanto na História #uanto na Geografia% ;aiscorrentes, longe de se apresentarem como campos estan#ues e distantes, se encontram presentes e

nos acompan!am a todo o momento em nossa pr0tica pedagógica di0ria, em nosso discursorotineiro, 9s ve$es de forma clara e assumida, 9s ve$es ocultas e<ou disfarçadas% Evidenci0/las eanalis0/las a partir das principais #uest(es #ue nos afligem cotidianamente pode se configurar emuma tentativa de encontrar possíveis camin!os para a educação de 'ovens e adultos pela #uallutamos e #ueremos%

-or fim, para viabili$ar esse ob'etivo, apresentamos uma proposta de trabal!o organi$ada a partir de dois grandes Ei"os ;em0ticos, cada #ual englobando =nidades ;em0ticas cu'a abordagem

est0 ligada a conceitos fundamentais, estando estes elementos associados 9 própria organi$açãoestrutural do -EJA>, onde os Ei"os ;em0ticos fa$em analogia aos dois blocos, 9s unidadestem0ticas, 9s unidades de progressão, e por fim, os conceitos fundamentais aos módulos, #ue poderão em alguns casos até se constituir em diretri$es gerais ou sugest(es para uma ou mais aulas propriamente ditas%

> O -rograma de Educação de Jovens e Adultos ?-EJA@ da )ecretaria 1unicipal do &io de Janeiro, é um programaacelerativo, dividido em -EJA e -EJA , compreendendo dois blocos de aprendi$agem com duração de até um anocada um% Especialmente no -EJA , cada bloco é dividido em tr s etapas, c!amadas de unidades de progressão, maiscon!ecidas como =-Bs, tendo cada uma destas etapas a duração de tr s meses e meio % =ma particularidade do -EJA é#ue a História e a Geografia são ministradas por um mesmo professor, independente de sua formação acad mica%

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descrição, enumeração e classificação dos fatos referentes ao espaço, partindo de um mundo vistode forma fragmentada e estudado a partir dos continentes, divididos, por sua ve$, em grandesregi(es%

Em uma aula com abordagem positivista da História, tratando, por e"emplo, do processoe"pansionista e coloni$ador desenvolvido pelos europeus entre os séculos F e F , os pontosrelevantes a serem fi"ados normalmente são as figuras de personagens como as de artolomeuIias, asco da Gama, 3ristóvão 3olombo e de -edro lvares 3abral, alémde marcos cronológicoscomo os anos de >KLL ?c!egada ao 3abo das ;ormentas@, >KMC ?c!egada de 3olombo 9 América@>KMK ?assinatura do ;ratado de ;ordesil!as@ e >N ?c!egada de 3abral ao rasil@% Além disso,comum #ue se ressalte a superioridade do coloni$ador branco europeu, assim como a neglig ncialatente dos nativos coloni$ados% A opção metodológica geralmente é pela aula e"positiva, ou se'a,uma aula Pbanc0riaQ com as informaç(es e"postas de maneira verticali$ada e passiva, #ue temcomo culmin8ncia um #uestion0rio #ue indu$ 9 memori$ação de associaç(es lineares nas #uais personagens, locais, datas e feitos são os elementos fundamentais% As idéias e as conclus(es sãofi"as, imut0veis, pois, no positivismo, o lugar da História é o passado%

:a Geografia, ao se abordar pedagogicamente a região :ordeste, por e"emplo, pelo viés positivista, é comum o tratamento fragmentado e pouco articulado entre os aspectos ditos físicos e!umanos da região% Geralmente, o professor inicia o tema e"pondo as características do relevo,

depois do clima, em seguida descreve os principais tipos de vegetação e fec!a a c!amada Geografia4ísica da região com o levantamento dos principais rios e seus afluentes% :a Geografia Humana,não raro, são abordados de forma estan#ue os aspectos econ6micos, dando nfase 9 classificaçãodos principais produtos agrícolas e industriais7 passa/se, em seguida, para o estudo da população,destacando os principais índices demogr0ficos e finali$a/se a aula enumerando as capitais e as principais cidades de cada estado% 3omo forma de fi"ar todas as informaç(es obtidas, o professortambém utili$a #uestion0rio, cobrando do aluno dados, nomes de localidades e e"plicaç(es de

fen6menos pautadas em leis gerais de funcionamento da nature$a e da sociedade%3omo contraponto a essa visão, a perspectiva mar"ista, #ue surge como instrumental para o

ensino de História e de Geografia no rasil, nos anos >ML , em meio ao processo de abertura política, procura tra$er para o centro da cena as contradiç(es sociais% Ie acordo com o mar"ismo,nós fa$emos nossa própria História e produ$imos nosso espaço, mas não o fa$emos em condiç(esescol!idas por nós% )omos, portanto, !istoricamente determinados pelas condiç(es em #ue produ$imos nossas vidas%

A an0lise mar"ista na História leva em consideração os processos nos #uais atores,interesses e opini(es estão em 'ogo% sso nos leva a entender a História como algo #ue nos toca, nos

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desafia e nos incomoda permanentemente% O passado est0 sempre presente% :esse sentido, aGeografia mar"ista compartil!a dessa mesma visão do processo !istórico ao considerar, pore"emplo, a dimensão espacial do desenvolvimento desigual e combinado do modo de produçãocapitalista% Assim, nessa perspectiva, cada região e cada lugar passam a ser considerados amateriali$ação de m.ltiplas determinaç(es, não sendo aut6nomos, auto/suficientes e .nicos, mas particulares, ou se'a, estão inseridos em uma totalidade da #ual fa$em parte, não podendo, portanto,serem e"plicados e definidos em si mesmos, e sim através de articulaç(es com outros espaçosregionais e globais%

Em uma típica aula de História com abordagem mar"ista, também sobre o períodoe"pansionista e colonial europeu, é mais comum #ue o professor comece sensibili$ando a turma para #uest(es da atualidade como a situação dos povos indígenas, a marginali$ação, asdesigualdades sociais e a discriminação étnico/racial, por e"emplo, buscando a !istoricidade de taistemas e a relação #ue possam ter com o processo de coloni$ação% :essa relação entre processo!istórico e fatos atuais, geralmente é dada nfase aos modos de produção ?feudalismo, capitalismoem todas as suas fases, socialismo etc%@ como e"plicação para as condiç(es !istóricas de construçãoda vida em sociedade% Em seguida, a apresentação de um te"to, de uma reportagem ou de umdepoimento pode ser usada para associar essas origens !istóricas da realidade atual% =ma ve$ #ue aturma é estimulada 9 participação, 9 proposta de e"ercício acerca do tema debatido e dos conceitos

abordados, são utili$ados, por ve$es, alguns documentos, #ue analisados em sala de aula, a'udam aidentificar os grupos interessados e envolvidos nos aspectos econ6micos, políticos e sociais% 3omoatividade complementar, uma pes#uisa consultando 'ornais, revistas e algumas pessoas, pode serorientada com o intuito de se buscar opini(es diversas sobre o tema abordado.

:a Geografia, a mesma região :ordeste do e"emplo anterior é vista, pelo viés mar"ista, deforma integrada 9s outras regi(es do país% A idéia do todo e da relação entre as partes como princípio e"plicativo para a situação socioecon6mica da região normalmente é a base para a

programação desse tema% Os principais problemas ambientais também não são vistos de formaseparada e sem cone"ão com a ocupação !umana do território e dos efeitos da produção econ6micasobre o meio natural% :ós professores, neste caso, procuramos enfati$ar, através de te"tos, mapas eimagens, #ue as transformaç(es na nature$a e a atual situação econ6mica são frutos do processo!istórico e das relaç(es sociais #ue marcaram a região em si e o país como um todo%

&ecentemente algumas discuss(es do campo das ci ncias !umanas e sociais t m procuradotra$er o referencial da pós/modernidade para o ensino de História e de Geografia% Esse debate

aponta a necessidade de se desconstruir o entendimento do con!ecimento unicamente comorepresentação e refle"o da realidade, opondo/se 9s grandes narrativas e 9 supremacia da ra$ão e da

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racionalidade% :essa perspectiva, tanto no processo de ensino/aprendi$agem como na construção da

identidade individual e coletiva, é necess0rio desenvolver a percepção do educando en#uanto célulade uma sociedade multicultural e multiétnica, secundari$ando/se a an0lise do su'eito/ra$ão e suasaç(es em favor da linguagem, dos símbolos e dos discursos%

:a visão pós/moderna, o tempo fica relativi$ado, pois o #ue importa nesta abordagem é a possibilidade de analisar a realidade como multifacetada, o #ue tra$ 9 tona a marca da fragmentaçãoda História, cabendo ao educador enfati$ar a necessidade do respeito e da aceitação das diferençascomo multiplicadoras de uma consci ncia participativa e igualit0ria% O espaço, por sua ve$, ad#uireo significado de espaço vivido, ou se'a, nessa abordagem, ler geograficamente o espaço nãosignifica, necessariamente, refletir apenas sobre as diferentes condiç(es materiais, mas tambémsobre os símbolos, códigos e significados a ele associados% A afetividade em relação aos lugares,manifestada através das !istórias de vida, das pr0ticas religiosas, ou das identidades culturais seconstitui em importante campo de an0lise dessa perspectiva, uma ve$ #ue o lugar não é vivenciadoda mesma forma pelos distintos grupos sociais%

:o ensino de Geografia e de História, a abordagem culturalista, como também pode serdenominada essa concepção teórica, tem c!egado de forma ainda tímida% :o entanto, algunselementos presentes nesta visão '0 podem ser encontrados em algumas coleç(es did0ticas e mesmo

na pr0tica de alguns professores%oltando ao e"emplo do tratamento pedagógico da região :ordeste, #uando nós levamos em

conta a perspectiva cultural, provavelmente iniciamos a aula fa$endo um levantamento com osalunos das marcas e símbolos #ue a região evoca, tentando, em seguida, estabelecer as causas econse#2 ncias deste con'unto de significados% O ponto da diversidade cultural também é relevante, pois tem a pretensão de mostrar como o povo nordestino não é uno, mas diverso e enfrenta os problemas socioambientais também de forma diversa% A culmin8ncia do tema tem grandes c!ances

de provocar a refle"ão sobre a população nordestina e de seus descendentes e sua inserção nasgrandes metrópoles brasileiras%

:uma classe do -EJA, por e"emplo, a presença de pessoas nessa situação pode dar margema atividades de relatos de memória e de !istória de vida, bem como a elaboração de mapas mentaise a mostra de trabal!os #ue ressaltem os aspectos culturais, tanto materiais #uanto simbólicos #ueidentificam a região% Esse trabal!o normalmente tem como premissa b0sica o recon!ecimento daidentidade cultural desse aluno, acrescentando também outros elementos dessa identidade, como

#uest(es étnicas, de g nero, de classe% :o caso de uma aula de História, na maioria das ve$es, consideraremos na tem0tica da

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e"pansão marítima européia, por e"emplo, o conte"to mental #ue possibilitou tal processo, ou se'a,de #ue forma os !omens europeus enfrentavam as dificuldades de viagens tão longas e perigosas, osseus ob'etivos de fama e ri#ue$a e de seu pro'eto civili$atório% 4inali$ando, buscaremos apontar asconse#2 ncias da e"pansão como o resultado do encontro de dois mundos culturais distintos econflitantes, suas relaç(es de dominação e resist ncias #ue for'aram, no alvorecer do século F ,novas sociedades na América, com suas especificidades culturais e !istóricas%

:a proposta #ue apresentamos a seguir, no entanto, fica clara a recusa pela abordagem positivista, pois acreditamos #ue a sua concepção de mundo e de escola não contribui para a an0lisecrítica e aut6noma da sociedade em #ue vivemos% Este documento, portanto, se constitui numadiretri$ cu'a base para as refle"(es e escol!as tem sido pautada nas pr0ticas e e"peri ncias vividasnas salas de aula do -EJA% 3ientes, porém, de #ue nen!uma escol!a é neutra, temos a plenaconvicção de #ue apontamos o camin!o, cabendo a cada um de nós, educadores, a opção pelamel!or forma de tril!0/lo%

Assim, esperamos #ue ten!amos cada ve$ mais clare$a sobre as reais contribuiç(es daGeografia e da História #ue ensinamos para a compreensão do mundo e da realidade social ecultural vivenciada pelos alunos 'ovens e adultos trabal!adores #ue fre#2entam as nossas salas deaula%

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". A CONSTR #$O DE REFERENCIAIS C RRIC LARES

Em função dos desafios enfrentados por nós, educadores de Geografia e História do -EJA,este documento pretende au"iliar na busca pela mel!or forma de condu$irmos o processo ensino/aprendi$agem, tendo em vista a autonomia das unidades escolares na elaboração de seus pro'etos político/pedagógicos% -or isso, partimos do princípio de #ue, para superarmos a dificuldade dotrabal!o integrado com as duas disciplinas e o desafio da seleção de conte.dos program0ticos D #ueleve em conta esta perspectiva e as características do p.blico trabal!ador D, é necess0riocompreender o currículo escolar como um processo permanente de construção e não como um produto eterno, pronto e acabado%

5 com esse propósito, então, #ue apresentamos, nesta segunda parte do documento, algunsreferenciais curriculares #ue podem servir não só de apoio para as programaç(es e plane'amentosdo trabal!o pedagógico com Geografia e História no -EJA , mas também #ue possibilitem maiordi0logo e interação com outras disciplinas e 0reas do con!ecimento%

Entendemos como elemento norteador dessa proposta pedagógica o resgate dos interesses edas e"peri ncias de 'ovens e adultos, procurando, contudo, garantir/l!es o acesso ao con!ecimentoformal, propondo situaç(es em sala de aula #ue possibilitem a articulação desses dois tipos desaberes e estimulando a construção e reconstrução do seu processo de aprendi$agem%

-ara tanto, propomos a organi$ação deEi%&s Te'()ic&s entendendo/os como o camin!o#ue possibilitar0, a partir de uma problem0tica central, a articulação de diferentes con!ecimentos!istóricos e geogr0ficos% ;omando esses ei"os como base, estabelecemos, por =nidades de-rogessão, conceitos fundamentais #ue poderão ser trabal!ados em diferentes épocas e de formacomparada, para #ue se'am observadas as semel!anças e diferenças, perman ncias e mudanças no processo !istórico e na construção do espaço geogr0fico% ;ais temas tra$em como ob'etivo principala possibilidade de construção de determinados conceitos considerados basilares para essa 0rea do

con!ecimento a partir da realidade e das e"peri ncias vivenciadas pelos educandos%

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EI*O TE!+TICO 1AS RELA# ES SOCIAIS E A NAT RE-A:

A H !ANI-A#$O DO TE!PO E DO ESPA#O

P 1 A HISTÓRIA E A GEOGRAFIA CO!O POSSIBILIDADE DE LEIT RA DO! NDO

-ensamos #ue é importante oferecer aos educandos #ue passam por essa =nidade de-rogressão o acesso aos con!ecimentos !istoricamente construído de forma mais global e menosfragmentada% uanto aos temas priori$ados nesta unidade, sugerimos #ue se'am trabal!ados a partirda an0lise da realidade do aluno, procurando, na medida do possível, apontar como o seu cotidiano

se relaciona com as #uest(es universais e, ao mesmo tempo, dando/l!e instrumentos para construirconceitos% 3onceitos estes fundamentais ao entendimento dos processos !istóricos e geogr0ficos#ue serão trabal!ados nas unidades de progressão seguintes%

Ientro de uma abordagem metodológica #ue recon!eça e respeite o con!ecimento anteriordo aluno, torna/se fundamental trabal!armos com o conceito de identidade, pois tal iniciativa podelev0/lo 9 refle"ão acerca dos seus vínculos e pertencimento a um determinado grupo social, dentrode um conte"to #ue vai do local ao global% -ropomos, então, #uest(es em torno do #ue definiria

essa identidade* como conceito detempo ?os diversos tempos* tempo !istórico, geológico etc%@ e deespaço ?espaço geogr0fico, paisagem, território, lugar, região@, além da relação com anatureza , amemória coletiva , a l ngua e a religião % ;odas asconstruções da cultura , abordada em suasdimens(es materiais e simbólicas, entendidas a#ui como modos de viver dos !omens organi$adosem sociedades com suas regras, comportamentos, valores, relaç(es de trabal!o, com a nature$a,com o tempo e o espaço, tanto no passado #uanto no presente%

A identificação de grupos e sociedades em lugares e tempos diferentes pode ser um camin!o

para o entendimento da diversidade #ue marca os grupos !umanos% Assim, seguindo esta lin!a de pensamento, sugerimos a abordagem do conceito decultura , num e"ercício de recon!ecimento da pluralidade cultural, refletindo sobre as relaç(es #ue se estabelecem entre povos de culturasdiferentes, sendo estas, muitas ve$es, relaç(es de poder e etnoc ntricas #ue evocam representaç(esindividuais como o preconceito racial, de classe social e de g nero%

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P " D CO!PREENDENDO A DIN/!ICA SOCIAL: AS RELA# ES DE PODER E OESTADO

;endo em vista criar possibilidades para #ue o educando do -EJA ven!a a se tornar umsu'eito crítico, leitor do mundo e ator na transformação da realidade, esta unidade tem0tica se prop(e a fornecer instrumentos conceituais #ue viabili$em sua refle"ão acerca de noç(es #ue sãofundamentais para a posse e o e"ercício dacidadania % -ara isso, partimos de dois conceitosfundamentais* poder e Estado %

:a visão de muitos dos nossos educandos, o conceito de !stado refere/se a tarefas oufunç(es, tais como distribuição de renda, garantias e proteção ao cidadão e 9 sociedade, além deestar ligado 9 sa.de, 9 educação e 9 promoção da mel!oria de vida de todos, o #ue nos fa$ perceber#ue !0 uma noção de senso comum de #ue o Estado deve ser promotor da igualdade social%

-odemos, então, fa$er a seguinte provocação* isso acontece de fato+ )e não acontece, #uaissão os fatores #ue impedem a sua reali$ação+ Avançando, podemos indagar* por #ue e"iste oEstado+ Ele é realmente necess0rio+ E em seguida, verificar para #uem e para #ue e"iste o Estado,#uestionando se a sua e"ist ncia !istórica e espacial reprodu$ realmente o dese'o da coletividade, principalmente dos mais oprimidos%

"a#e$nos desnaturali$ar a visão liberal cl0ssica de #ue o Estado é uma e"pressão da

racionalidade !umana correspondente 9 necessidade de organi$ar indivíduos em uma dadasociedade para #ue ela funcione% O Estado é uma relação social e a ele estão condicionadas outrasnoç(es igualmente fundamentais, tais como as deli#erdade , democracia e cidadania % A#uisugerimos analisar a formação do Estado a partir daorganização dos grupos primitivos , além deidentificar as relaç(es entre sociedade e nature$a nas tra'etórias !istóricas dos povos americanos,africanos, europeus e asi0ticos* caçadores, coletores e agricultores e a divisão social do trabal!odecorrente desse processo%

:esse momento, torna/se possível ainda ao educando compreender e diferenciar a noção de propriedade coletiva e propriedade privada, o #ue contribui para o entendimento dos processos deapropriação e distribuição dosrecursos naturais ao longo do tempo% Em seguida, abrimos a possibilidade de aprofundar o conceito detra#alho nas sociedades agrícolas e urbanas, comointermediador daação do homem so#re a natureza para identificar a divisão social do trabal!o, aorigem dasclasses sociais e do Estado, compreendendo como as relaç(es de poder e dominação sãoconstruídas socialmente, indicando um determinado modelo de desenvolvimento sócio/espacial%

E '0 #ue é importante #ue o educando se situe espacial e temporalmente, como ser social e!istórico, é importante #ue ele estabeleça relaç(es entre as estruturas políticas ao longo do tempo

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percebendo as perman ncias e mudanças e de #ue forma essas estruturas políticas for'aram esedimentaram um determinando modelo de ocupação !istórica no espaço natural% )ugerimos #ue seestabeleça uma vinculação entre as noç(es '0 trabal!adas e os conceitos de %ustiçae democracia naatualidade, #uestionando o seu alcance e se elas de fato atingem a todos igualmente% -or fim, oeducando poder0 perceber #ue !stado , democracia e cidadania são faces de uma relação social, #ueao mesmo tempo em #ue inclui alguns grupos, e"clui outros, sendo importante, ainda nessatem0tica, o resgate do processo de formação do Estado brasileiro e suas implicaç(es nesse processode inclusão e e"clusão de determinados grupos%

P 0 A FOR!A#$O DA SOCIEDADE E A OC PA#$O DO ESPA#O BRASILEIRO

:esta unidade tem0tica, ao abordarmos a formação da sociedade brasileira, poderemosdar nfase 9s tr s matri$es étnicas* a indígena, a africana e a européia% Esse enfo#ue não pode serestringir 9 contribuição cultural de cada matri$, sendo indicado #ue analisemos, sobretudo, o papel socioecon6mico #ue cada grupo e"erceu na formação dessa sociedade, ou se'a, éimprescindível discutir a participação de cada grupo étnico em todos os aspectos, não dei"ando#ue se ratifi#uem os estereótipos, criados a partir dos pro'etos civili$atórios dominantes%

Essa participação est0 ligada 9srelações de dominação, constituídas desde a c!egadados portugueses, e 9 forma deocupação do território brasileiro , visto #ue a ação !umana noespaço natural, fundamental para a compreensão do rasil da atualidade, sempre obedeceu ainteresses de determinados grupos sociais ao longo do tempo% )ugerimos, portanto, para oentendimento dasrelações de dominação e da ocupação territorial , temas conceituais destaunidade, a an0lise das atividades econ6micas, das relaç(es sociais #ue a partir delas seestabeleceram e do conse#2ente comprometimento do meio ambiente%

A formação social brasileira é abordada como resultado em parte de disputas, conflitos etens(es entre os diferentes grupos sociais e étnicos% ;emas como o e"termínio de povosindígenas, a escravidão e a sociedade patriarcal agr0ria são identificados e apontados comoalguns dos fatores #ue e"plicam em grande parte as ma$elas e as desigualdades da sociedadeatual% ;emos por e"emplo ainda, a !erança de uma distribuição de terras #ue sempre privilegiounobres e latifundi0rios, sendo um fator relevantemente associado 9 e"trema concentraçãofundi0ria #ue presenciamos ainda !o'e no campo% Ou se'a, a formação da sociedade brasileira, adespeito da miscigenação e do grande caldeirão cultural dela resultante, tem sido pautada pela

e"trema desigualdade, pelo sofrimento e pela luta de indígenas, negros e brancos pobres, contra

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a dominação, desde os sen!ores de engen!o, nobres representantes da 3oroa e bar(es do café do período colonial e imperial, até os contempor8neos capitalistas industriais e financeiros%

Enfocamos e damos desta#ue 9 ocupação do território e sua relação com astransformaç(es ocorridas nos ecossistemas naturais do país% )abemos, por e"emplo, #ue odesmatamento da 1ata Atl8ntica em larga escala caracteri$ou todo o período colonial, desde ae"ploração do pau/brasil no litoral até a opção econ6mica pela monocultura da cana/de/aç.car%A interiori$ação do território, com a mineração e com a pecu0ria, #ue em princípio serviu aosinteresses da produção canavieira, e posteriormente 9 própria mineração, como meio detransporte e de alimento, fe$/se tra$endo pre'uí$o ambiental para a caatinga, para o cerrado e posteriormente para o -antanal e para os campos do sul% A 4loresta Ama$6nica começou asofrer a presença do coloni$ador por meio das miss(es #ue organi$aram o e"trativismo dasdrogas do sertão com o trabal!o indígena, o #ue resultou na alteração em sua mata densa e dedifícil penetração, agravada com o advento da e"ploração da borrac!a% A Ama$6nia, regiãoainda pouco povoada, apresenta ainda sérios problemas fundi0rios% Além disso, a m0 utili$açãode seus recursos naturais ocasionaram situaç(es críticas como a biopirataria e a e"ploração predatória de madeira e das ri#ue$as minerais nos diais atuais% :o século F F, a opção eminvestir na produção de café, para a #ual a ri#ue$a do solo facilitou a alternativaagroe"portadora, seguiu o modelo colonial% Entretanto, não !ouve preocupação com a floresta

nativa, fato #ue ocasionou a destruição #uase total da 1ata Atl8ntica%&efletir sobre todas essas #uest(es tra$idas com a ocupação do coloni$ador num espaço

antes ocupado pelos povos nativos segundo uma outra lógica é entender o 'ogo de interessesecon6micos #ue levou o ser !umano a 'ulgar/se absoluto em seu meio, sen!or da nature$a, enão parte integrante dela%

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EI*O TE!+TICO ":GLOBALI-A#$O E ! NDO DO TRABALHO: CONSOLIDA#$O E

TRANSFOR!A# ES NO CAPITALIS!O.

P 1 O LOCAL E O GLOBAL NO PROCESSO DE GLOBALI-A#$O DA ECONO!IA.

-elo perfil #ue t m as nossas turmas do -EJA D geralmente nos seus con'untos, maisamadurecidas, detentoras de certa e"peri ncia de vida e determinada bagagem cultural, e possivelmente enfrentando os desafios do mercado de trabal!o D esta unidade de progressão prop(emeios para #ue nossos educandos se'am introdu$idos de forma crítica nas discuss(es pertinentes 9realidade #ue o cerca% )ugerimos partir de dois conceitos fundamentais, a saber* otrabalho econsumo % Est0 aberta assim uma alternativa para #ue possamos dar conta de um vocabul0rio #uenosso educando em geral con!ece no 8mbito do senso comum, mas necessita aprofundar a refle"ão,apropriando/se da amplitude e comple"idade #ue os envolve, aplicando a esse con!ecimento novossignificados ou ressignificando/o% A falta dessa iniciativa vem se constituindo numa das ra$(es pelas #uais o conformismo e a perple"idade acabam se instalando 'unto 9s classes menosfavorecidas, diante das limitaç(es #ue o mercado, como relação social, por ve$es, imp(e a algunsdos direitos sociais mais importantes e fundamentais 9 sobreviv ncia !umana%

-ara isso, sugerimos #ue se'am desenvolvidos em sala de aula temas como a glo#alização ,en#uanto atual est0gio do capitalismo mundiali$ado7 asrelações internacionais 7os sistemas$mundo 7o conceito deimperialismo 7 asrevoluções industriais 7 a passagem docapitalismo concorrencial

para omonopolista , a organi$ação das empresas e adivisão internacional do tra#alho , c!egando aoacirramento das disputas e 9s guerras %

&ecomendamos ainda a abordagem das alternativas ao capitalismo, como o socialismo , sua!istória, suas características, seus desafios e problemas, no intuito de conte"tuali$ar as origens danova ordem mundial , #ue sucedeu a guerra fria e a ordem #ipolar , tra$endo novos dilemas e

desafios para a !umanidade% Ientre estes, destacamos oneoli#eralismo e a política do Estadomínimo, a busca da #ualidade em contraponto ao custo de produção D associados 9competitividade

e 9 lucratividade D e a globali$ação comointegração entre desiguais %A partir daí, podemos enfocar fen6menos como a formação dos#locos regionais , a crise

dos !stados &acionais , a crise do mundo do tra#alho. E, por fim, ao abordar temas como odesemprego estrutural , o desenvolvimento tecnológico e suas implicaç(es, osmovimentos

migratórios , a 'enofo#ia , o neofascismo e o conflito norte$sul , podemos criar possibilidades para

#ue o educando perceba #ue toda ação global se materiali$a em determinado local, isto é, #ue não

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!0 processos globais sem iniciativas locais%

P " BRASIL: DA !ODERNI-A#$O CONSER ADORA 2 GLOBALI-A#$O

:esta unidade propomos a abordagem do processo de construção da realidade urbano/industrial brasileira% 3omo conceito fundamental, sugerimos arelação campo e cidade , em seusaspectos de complementaridade e contradição% O resgate dessa relação se d0 a#ui na perspectiva de pensarmos as formas de acesso 9 propriedade da terra no rasil ao longo de sua !istória, procurandodar conta de conceitos como*latif(ndio , coronelismo , reforma agr)ria , a relação entre pequena e

grande propriedade , concentração e improdutividade da terra e movimentos sociais no campo %A partir dos anos >M , ocorre, sob a égide do Estado, a implementação de um modelo de

industrialização tardia % Esse modelo urbano/industrial alterar0 não somente a relação cidade/campo, do ponto de vista populacional, mas a própria composição da acumulação de capital naeconomia%

A configuração populacional tende para o crescimento das cidades e do "odo rural,inaugurando novas formas de controle do Estado% A partir da#ui podemos abordar temas como

populismo , desenvolvimentismo, sindicatos , nacionalismo , greves , reformas ur#anas , eleições ,ditadura militar , ampliação da participação pol tica e o alargamento dosdireitos sociais por meiode leis tra#alhistas %

Atualmente, nas cidades, nos defrontamos com uma dura realidade* a viol ncia, o tr0fico, afalta de perspectivas para os 'ovens e a crise nos serviços b0sicos, como saneamentos e sa.de, faltade segurança, educação de m0 #ualidade% Enfim, é o aluno #uem mais de perto sente os refle"osdessas contradiç(es%

3om o estudo das formas de apropriação e ocupação do espaço urbano e rural procuramosrevelar as origens das desigualdades na sociedade brasileira% Essas v0rias abordagens tem0ticas,relacionadas com a inserção do rasil na divisão internacional do trabal!o e com o conte"toideológico do século FF, permitirão aos nossos educandos uma visão crítica da sua realidade,contribuindo para uma interação mais aut6noma e escol!as mais conscientes%

P 0 C LT RA E SOCIEDADE: DI ERSIDADE N$O 3 DESIG ALDADE

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:esta unidade, podemos desenvolver um trabal!o #ue ten!a por ob'etivo levar o educando aestabelecer relaç(es entrediversidade cultural e desigualdade social. Ou se'a, ao identificar asculturas presentes em nossa sociedade, ele poder0 perceber #ue elas são resultado de relaç(essociais desiguais, fruto de conflitos, tens(es e relaç(es de dominação e poder cu'as origensremontam ao processo de formação da sociedade e de ocupação do espaço brasileiro%

Entendemos #ue essa relação entre diversidade cultural e desigualdade social evidencia/senos espaços urbanos% :as .ltimas décadas, principalmente nas metrópoles brasileiras, percebe/se oaprofundamento da dist8ncia social entre ricos e pobres, na medida em #ue aumenta a conviv nciafísica entre ambos% Esse estreito convívio tem provocado confrontos e conflitos entre atitudes,comportamentos, interesses e vis(es de mundo de diferentes grupos e classes sociais%

:esse sentido, a cidade do &io de Janeiro e a sua região metropolitana é um e"emploemblem0tico dessas relaç(es% )eu sítio urbano, onde planícies fluviais e litor8neas são entrecortadas por altos maciços e pe#uenos morros, sempre foi marcado pela ocupação desigual, cabendo 9 classetrabal!adora, formada essencialmente pela população negra e mestiça, as 0reas menos valori$adaseconomicamente, ou se'a, as encostas, os alagados oriundos de remoção de mangue$ais e as v0r$easinund0veis de rios%

Essa configuração sócio/espacial tem contribuído para a e"ist ncia de diferentesmanifestaç(es culturais no interior da cidade, produ$idas a partir das condiç(es materiais de vida

próprias de cada classe social%-or essas ra$(es, propomos #ue o foco de an0lise dessas #uest(es se'a voltado para a &egião

1etropolitana do &io de Janeiro D local de moradia, estudo, circulação e de trabal!o de nossoseducandos D e o trabal!o pedagógico poder0 ser pautado em dois conceitos fundamentais*cidade ecidadania %

5 importante pensar #ue a cidade do &io de Janeiro, como v0rias outras cidades brasileiras,teve sua origem na política econ6mica colonial de e"ploração, aplicada em toda a América Tatina e

passando, a partir de meados do século F F, por um processo de e"pansão comandado pela lógicado modo de produção capitalista%

O resultado desse confronto pela ocupação espacial, seus atores e suas estratégias,evidenciam/se com o surgimento da dicotomia entre centro e periferia, 0reas nobres e 0reas de risco, bairros ricos e bairros pobres. Esse #uadro demonstra a flagrante contradição da sociedadecapitalista e denuncia !istoricamente a e"clusão social e econ6mica presentes na realidade brasileiraem escala nacional, regional, e por #ue não di$er local%

3omo resgate desse processo, devemos buscar, na !istória da cidade do &io de Janeiro, aan0lise das constantesreformas ur#anas #ue a cidade tem passado desde o início do século FF% A

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partir de discuss(es e debates em torno dos interesses #ue essas reformas v m atendendo e daconcepção de cidade a elas sub'acente, pode/se abrir camin!o para refle"(es sobre o papel docidadão no ato de pensar a cidade, ou se'a, na participação da sociedade organi$ada na elaboraçãode pro'etos e nas decis(es #ue envolvem o futuro da cidade%

;al procedimento possibilita o aprofundamento doconceito de cidadania , sugerindo seuresgate !istórico e os significados #ue l!e t m sido atribuídos na atualidade%

&efletir sobre o espaço urbano e a cidadania significa levar em conta a luta de boa parte da população por mel!ores condiç(es de moradia, de trabal!o e de la$er% -or isso, a programaçãocurricular não deve descartar asquestões socioam#ientais #ue marcam as metrópoles brasileiras emgeral* saneamento b0sico, poluição, enc!entes e desli$amentos de terra são problemas #ue atingemsobremaneira os espaços ocupados, principalmente, pela classe trabal!adora da cidade%

Essas #uest(es e"igem o estudo dadin*mica da natureza local , sem o #ual dificilmente secompreender0 a comple"idade de tais problemas, ou se'a, é preciso relacionar fatores como orelevo, o clima e a rede !idrogr0fica da cidade ao processo !istórico de ocupação !umana do sítiourbano para c!egarmos 9s possíveis causas e soluç(es de grande parte dos problemas estruturaisenfrentados atualmente% 3omo mediação desse estudo, é fundamental a an0lise crítica da relaçãoentre o poder p(#lico , as #uest(es socioambientais e a luta da classe trabal!adora representada pela atuação dos movimentos sociais urbanos $ pelo direito 9 cidade%

:o campo da diversidade cultural, temas como o preconceito étnico$racial e o movimentonegro na cidade, a #uestão de g+nero , materiali$ada na falta de isonomia no espaço social entre!omens e mul!eres, e o direito dosidosos, podem ser tratados e aprofundados% O tema %uventude, esuas m.ltiplas identidades, também é bastante relevante por ser pouco abordado em nossas escolase por ser essa fai"a et0ria também parte do p.blico/alvo do -EJA, mas devemos ter o cuidado denão fa$ /lo em detrimento dos demais% Os 'ovens, e em especial os 'ovens pobres, se constituem emfonte de preocupação, em função da maneira brutal com #ue a desigualdade social e a crise

econ6mica afetam suas perspectivas de vida, suas e"press(es culturais e suas formas de ver omundo% Assim, torna/se necess0rio desvelar e recon!ecer as culturas negadas da cidade, analisandosuas origens, conflitos e influ ncias nos diversos grupos e classes sociais%

-odemos ainda levar o educando a redescobrir e pensar as manifestaç(es culturais urbanascomo forma de luta e de resgate social e cultural, como '0 vem acontecendo em iniciativas #ueenvolvem, por e"emplo, a dança do 'ongo no 1orro da )errin!a, em 1adureira, o grupo fro$

reggae, de ig0rio Geral, a 4eira das ;radiç(es :ordestinas, em )ão 3ristóvão e em v0rias

atividades #ue abrangem o carnaval carioca% Além disso, um amplo debate acerca dademocrati$ação doacesso aos equipamentos culturais produ$idos pelo poder p.blico pode ser

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estimulado na perspectiva de se #uestionar a visão predominante de cultura% -or fim, é possível pensarmos formas de incentivo a movimentos culturais, surgidos a partir da situação de opressãovivenciada pelos trabal!adores da cidade%

CONSIDERA# ES FINAIS3oncluindo, essa proposta pretende, por meio de uma seleção tem0tica, unir ob'etos de

estudo e con!ecimentos interdisciplinares em História e Geografia, com o intuito de contribuir paraa superação da dificuldade na 'unção desses dois componentes curriculares% 5, porém, aberta 9sdiferentes vis(es de mundo dos educadores, possibilitando a nós, profissionais do -rograma deEducação de Jovens e Adultos, autonomia na organi$ação do trabal!o, tendo em vista a realidadelocal% Iestacamos, ainda, seu car0ter provisório, !a'a vista a necessidade permanente de sua

atuali$ação, em face 9 própria din8mica da História e da Geografia%Ob'etiva/se, pois, e principalmente das e"peri ncias vividas no processo de aprendi$agem,

#ue nós possamos desenvolver uma pr0tica pedagógica #ue au"ilie os estudantes na apropriação daleitura, da escrita e das ci ncias !umanas, refletindo sobre os elementos da pr0tica educativa #ue possibilitam o desenvolvimento da consci ncia crítica e contribuam para a formação de uma novaética nas relaç(es dos seres !umanos entre si e com a nature$a, num movimento permanente deação/refle"ão sobre a própria realidade%

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