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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS LARISSA ROBERTA ANDRADE PEREIRA PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS EM RELAÇÃO ÀS SUAS PRÁTICAS DURANTE UM PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

LARISSA ROBERTA ANDRADE PEREIRA

PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS EM RELAÇÃO ÀS SUAS PRÁTICAS

DURANTE UM PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

CAMPINAS

2016

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LARISSA ROBERTA ANDRADE PEREIRA

PERCEPÇÃO DE FISIOTERAPEUTAS EM RELAÇÃO ÀS SUAS PRÁTICAS

DURANTE UM PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL

Dissertação de Mestrado apresentada à Pós Graduação da

Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção

do título de Mestra em Saúde, Interdisciplinaridade e

Reabilitação na área de concentração Interdisciplinaridade e

Reabilitação.

ORIENTADOR: PROF. DR. ROBERTO BENEDITO DE PAIVA E SILVA

CAMPINAS

2016

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DISSERTAÇÃO/TESE DEFENDIDA PELA ALUNA LARISSA ROBERTA ANDRADE PEREIRA, E ORIENTADA PELO PROF. DR. ROBERTO BENEDITO DE PAIVA E SILVA.

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BANCA EXAMINADORA DA DEFESA DE MESTRADO

LARISSA ROBERTA ANDRADE PEREIRA

ORIENTADOR: PROF. DR. ROBERTO BENEDITO DE PAIVA E SILVA

MEMBROS:

1. PROF. DR. ROBERTO BENEDITO DE PAIVA E SILVA

2. PROFA. DRA. MARIA INÊS RUBO DE SOUZA NOBRE GOMES

3. PROFA. DRA. REGINA CÉLIA TUROLLA DE SOUZA

Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinaridade e Reabilitação

da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.

A ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros da banca

examinadora encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

Data: 26/08/2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por sua constante presença em minha

vida e pela força Dele adquirida, por que mesmo em meio a tantas complicações me

ajudou a ter persistência e sabedoria para concluir este projeto. Agradeço a Ele por

me preparar experiências tão enriquecedoras e por dar sentido á tudo mesmo

quando parecia que nada daria certo.

Agradeço ao Professor Doutor Roberto Benedito de Paiva e Silva pela

orientação, perseverança e dedicação para realização deste projeto. Agradeço por

toda a compreensão, por considerar que também eu sou um ser biopsicosocial,

cheio de complexidades e por ter dito sempre aquilo que era necessário que eu

ouvisse em diversos momentos complicados, ou não, que atravessei nesta fase.

Agradeço pela amizade, acima de tudo.

Agradeço aos colegas Fisioterapeutas que aceitaram participar deste

estudo, pelo tempo dedicado e pelas importantes contribuições que fizeram para que

este projeto se concretizasse. Sem suas participações nada disso seria possível.

Agradeço também à Professora Doutora Maria Inês Rubo Nobre por fazer

parte deste processo, por suas considerações para o aprimoramento deste trabalho.

Agradeço pelas oportunidades que tive de estar com ela durante todo meu

mestrado, por ter a oportunidade de crescer com suas experiências e conhecimento.

Agradeço à Professora Doutora Regina Célia Turolla de Souza por mais

uma vez aceitar fazer parte da minha formação e por seus ensinamentos que levo

sempre comigo. É, para mim, uma referência de fisioterapeuta e pessoa.

Agradeço também as professoras doutoras Mirian Nagae e Silvia Castilho

por aceitarem participar da banca avaliadora deste trabalho e pelo tempo dedicado a

mim deste forma.

Aos meus pais, Ayres e Sheila, eu agradeço por me darem a vida, por

serem exemplos de pessoas íntegras e justas, pelo modelo de luta e perseverança,

por terem me dado ensinamentos e meios para que eu me tornasse a pessoa e a

profissional que sou hoje. Agradeço por sempre me incentivarem a buscar mais e

mais. Agradeço por terem me dado duas irmãs tão preciosas, Aline e Mayara, cada

uma à sua maneira, mas igualmente companheiras. Agradeço a elas por fazerem

minha vida mais divertida e completa. Agradeço também pela força que me deram

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durante todo este processo, por relevarem meus momentos de maior estresse e por

tudo o que vivemos até hoje.

Agradeço aos meus avós, Roberto e Conceição, que com lições de vida

diárias me incentivam a tentar ser cada vez melhor. Agradeço a ajuda para que eu

realizasse meu trabalho como fisioterapeuta e pelo privilégio de os ter tão presentes

em minha vida. Agradeço aos meus avós, Nelson e Margarida, que mesmo longe

fisicamente estão sempre tão presentes, pelos ensinamentos deixados, pelos

exemplos de enfrentamento da vida e pelos momentos vividos. Sei que estão

orgulhosos de mim. Agradeço à toda minha família, pessoas tão especiais, pelo

amor, confiança, paciência e por me incentivarem a ir sempre além. Agradeço por

estarem sempre presentes em minha vida, sem eles nada disso seria possível.

Agradeço ao meu noivo, Gustavo, pela paciência inabalável, por ser este

companheiro incrível, por ter me ajudado sempre, por me incentivar a seguir em

frente, pelas exaustivas leituras, pelos momentos que esteve ao meu lado, pelas

críticas e sugestões. Agradeço pelo amor, por sua calma e por seu sorriso fácil e

pelo incentivo que me fez levantar tantas vezes quando já estava cansada.

Agradeço a Deus por ter encontrado você.

Agradeço a uma grande amiga, de longa data, Maria Otília. Uma pessoa

iluminada que muito me ajudou para a realização deste trabalho. Agradeço pelo

tempo que dedicou a mim nesta fase tão importante e, especialmente, pela amizade

e por sua presença em minha vida por todos estes anos.

Agradeço aos meus amigos que sempre torceram pelo meu sucesso.

Agradeço pela oportunidade de fazer colegas novos durante este processo e

aprender com tanta diversidade. Agradeço especialmente as minhas amigas da

faculdade, Josi, Thais, Mariana, Bruna e Alessandra, que iniciaram esta jornada

comigo e se mantêm presentes, mesmo que ás vezes longe. Agradeço por ter

conhecido uma pessoa muito especial neste processo do mestrado, Marina, a quem

eu tive a felicidade de conhecer e compartilhar tantos momentos e experiências,

tornando esta fase mais leve.

Agradeço a outros mestres que muito influenciaram em minha formação.

O professor Dr. Edison Bueno, um grande profissional e ser humano que tive o

privilégio de conhecer e conviver durante este processo. Agradeço-o por seus

ensinamentos, por me proporcionar experiências tão incríveis e inspiradoras.

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Agradeço a Professora Liduína por me mostrar uma fisioterapia mais humana e por

me ensinar a olhar o paciente por completo. Agradeço a Professora Conceição Reis

pelo incentivo para que hoje eu estivesse aqui, pela amizade e pelo exemplo de

profissional humana e preocupada com uma fisioterapia melhor. Agradeço a todos

os mestres que até hoje influenciaram minha formação.

Agradeço aos pacientes e profissionais com quem tive o prazer de estar

nestes ainda breves, mas intensos, anos de profissão. Foram muitas vezes

ensinamentos que não se encontram em livros, foram inspiração, alegrias e fonte

inesgotável de inquietude. Agradeço também por todos aqueles que em algum

momento cruzaram minha vida e me modificaram de alguma maneira, me ajudando

a chegar onde estou.

Por fim, agradeço mais uma vez a Deus, pois após este processo percebo

que sou muito abençoada por ter nessa vida pessoas tão especiais ao meu redor.

Tenho certeza de que estão sempre torcendo por mim, dispostas a me apoiar

quando necessário e principalmente por auxiliar em minha eterna formação.

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“A menos que modifiquemos a nossa maneira de pensar, não seremos

capazes de resolver os problemas causados pela forma como nós acostumamos a

ver o mundo”. (Albert Einstein)

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APRESENTAÇÃO

Minha inquietude em relação ao tema deste trabalho, modelos de

intervenção em fisioterapia, originou-se na graduação. Desde o início de minha

formação como fisioterapeuta muitos temas e aulas me incomodavam devido ao

enfoque na doença, na disfunção e na fisioterapia reabilitadora. No princípio, devido

à imaturidade e grande quantidade de temas abordados, nossa capacidade crítica

fica em segundo plano e, com o passar do tempo começamos a questionar o

conhecimento, desde a maneira como o mesmo é passado como em relação ao

conteúdo de fato.

No terceiro ano, durante um estágio certo fato me marcou bastante e foi

um divisor de águas em relação a minha maneira de enxergar meus pacientes e em

relação ao meu modo de intervir junto a eles. Estava em uma sala com uma criança

e sua mãe, preenchendo uma extensa ficha de avaliação padronizada, que continha

diversas informações sobre a doença, aspectos clínicos, atividades que a criança

conseguia ou não executar, objetivos e condutas, entre outras muitas informações.

Após preencher esta avaliação passamos para a fase de orientações para casa, e

seguindo algumas orientações padrões para aquele tipo de caso, a mãe foi

orientada sobre posicionamentos, higiene, alimentação e também sobre a colocação

de barras de segurança no banheiro para auxiliar em seu uso. A mãe seguia calada

ouvindo atentamente, porém um pouco incomodada com tantas orientações. Ao final

de quase uma hora de atendimento questionei se a mãe teria ficado com alguma

dúvida. Ela então timidamente começou a relatar algumas características da casa,

do cotidiano e do ambiente em que ela e a criança viviam que impossibilitavam

quase todas àquelas inúmeras orientações passadas. Como exemplo disso, citou a

ausência de banheiro no interior casa em que moravam e contou que havia apenas

uma latrina no fundo do quintal, que obviamente não poderia conter barras de

segurança.

O relato desta mãe tornou consciente em mim algumas situações que há

muito me incomodavam. Muitos de nós não conhecíamos quem eram as pessoas

que atendíamos, víamos a doença e seguíamos protocolos.

No transcorrer do curso tive a oportunidade de atuar como monitora e

participar de um projeto de visita e atendimento domiciliar a pacientes que antes só

eram atendidos no ambiente ambulatorial. Esta experiência me permitiu constatar a

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importância de conhecer o paciente por completo, suas relações, seu ambiente e

seu cotidiano a fim de tornar o cuidado singular, significativo e eficaz para cada

paciente, reforçando o meu interesse pelo assunto.

Ao estudar mais a fundo a questão durante o processo do mestrado meus

horizontes se ampliaram, desconstruí muitas certezas e construí cada vez mais

inquietudes, o que me permitiu conhecer, reconsiderar e mudar muitas concepções.

Este trabalho respondeu muitas questões e criou outras muitas para as quais

pretendo continuar buscando respostas e estratégias a fim de construir uma

fisioterapia mais humana, singular e com foco no sujeito de maneira integral,

buscando o aperfeiçoamento da profissão para que os fisioterapeutas possam

redefinir seu ofício.

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RESUMO

A Fisioterapia, que teve sua origem sob a ótica da medicina, vem sendo cada vez mais questionada sobre a sua forma de atuação nos sistemas de saúde, bem como sobre o conteúdo educacional dos cursos de graduação e pós-graduação. Uma das grandes discussões envolve o modelo de intervenção adotado: o modelo hegemônico, tradicional e focado na doença, e o modelo não hegemônico, direcionado ao indivíduo. Esta pesquisa teve por objetivo conhecer a percepção de fisioterapeutas inseridos no programa de aprimoramento profissional na área da saúde no hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP em relação às suas atuações durante o processo terapêutico. Para isso, foram entrevistados fisioterapeutas que atuavam nas áreas de terapia intensiva, neurologia infantil, cardiorrespiratória, ortopedia e pediatria. O estudo se caracteriza como uma pesquisa qualitativa, e os dados foram tratados com o auxílio da ferramenta QualiQuantiSoft®, que utiliza a técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo e permitiu a identificação de quatro categorias: a constituição do perfil profissional, a abordagem do paciente no processo terapêutico, a participação da família no processo terapêutico e a atuação do fisioterapeuta na equipe de saúde. Os discursos dos sujeitos relataram diferenças de estratégias de intervenção entre as áreas, devido a fatores como demanda e complexidade dos casos. Além disso, foi possível notar que, em grande parte, os sujeitos relatam sobre a importância da atenção ao indivíduo e não, especificamente, à disfunção ou doença, mas que não conseguem realizá-la devido a fatores situacionais. Outro ponto importante constatado foi o trabalho em equipe multidisciplinar que acontece conforme a área de atuação e aparenta proporcionar a oportunidade do desenvolvimento de ações junto às outras classes de profissionais de saúde. Por fim, os discursos sobre a família no processo de intervenção foram importantes para o entendimento de como ela é ou pode ser ainda mais determinante para o sucesso da intervenção fisioterapêutica. Conclui-se com a realização deste trabalho que a educação em fisioterapia está em processo, ainda que lento, de transformação em busca de mudanças no perfil e nos modelos de atuação dos futuros profissionais. Estes profissionais têm uma visão já mais ampliada sobre seu ofício, porém se deparam e são muitas vezes limitados por fatores como condições de trabalho e relacionamento com outros profissionais da saúde.

Palavras-chave: Fisioterapia. Percepção. Serviço hospitalar de fisioterapia. Capacitação de Recursos Humanos em Saúde. Conhecimentos, Atitudes e Prática em Saúde.

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ABSTRACT

Physical therapy, which originated from the perspective of medicine, has been increasingly questioned about their way of working on health systems as well as on the educational content of the undergraduate and graduate levels. One of the major discussions involves the intervention procedures: the hegemonic model, traditional and focused on the disease, and the non-hegemonic, directed to the individual. This research aims to identify the perception of students of the improvement program at the Clinical Hospital of the Faculty of Medical Sciences – UNICAMP in relation to their acting during the therapeutic process. Thus, physiotherapists who acted in intensive care, pediatric neurology, cardiorespiratory, orthopedics and pediatrics were interviewed. The study is characterized as a qualitative research and the data processing was carried out with the help of QualiQuantiSoft® tool, which uses the Collective Subject Discourse analysis, which allowed the identification of four categories: the constitution of the professional profile, the patient approach in the therapeutic process, the family participation in the therapeutic process and the acting of the physiotherapist in the health team. The speeches of the subjects reported different intervention strategies between areas due to factors such as demand and complexity of cases. In addition, it was noticeable that, in large part, the subjects reported on the importance of attention to the individual and not specifically to the dysfunction or disease, but cannot perform it due to situational factors. Another important point reported was the work in a multidisciplinary team which occurs according to the area of operation and appears to provide the opportunity for development of actions together with other health professional groups. Finally, the discourses on the family in the intervention process were important to the understanding of how it is or may be even more crucial to the success of physical therapy intervention. We conclude with this work that education in physical therapy is in transformation process, although slow, seeking changes in the profile and future professional role models. These professionals have an already broader insight into their craft, but have come across and are often limited by factors such as working conditions and relationship with other health professionals.

Key words: Physical Therapy Specialty. Perception. Physical Therapy Department, Hospital. Health Human Resource Training. Health Knowledge, Attitudes, Practice.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COFFITO Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional

DSC Discurso do Sujeito Coletivo

HC Hospital de clínicas

PAP Programa de aprimoramento profissional

PSF Programa Saúde da Família

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

USP Universidade de São Paulo

UTI Unidade de terapia intensiva

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................ 15

2. OBJETIVOS ................................................................................ 29

2.1. Objetivo Geral ..................................................................... 29

2.2. Objetivos Específicos .......................................................... 29

3. METODOLOGIA ......................................................................... 30

3.1. Método ................................................................................ 30

3.2. Casuística ........................................................................... 31

3.3. Instrumentos ....................................................................... 31

3.4. Procedimentos .................................................................... 32

3.5. Tratamento dos dados ........................................................ 34

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................. 37

4.1. A constituição do perfil profissional ..................................... 38

4.2. A abordagem do paciente no processo terapêutico ............ 45

4.3. A participação da família no processo terapêutico .............. 61

4.4. A atuação do fisioterapeuta na equipe de Saúde ............... 66

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................ 73

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................ 77

7. APÊNDICES ............................................................................... 80

7.1. Termo de Consentimento livre e esclarecido ...................... 80

7.2. Roteiro de entrevista ........................................................... 84

8. ANEXOS ..................................................................................... 85

8.1. Autorizações para coleta de dados ..................................... 85

8.2. Aprovação do comitê de ética em pesquisa ........................ 88

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1. INTRODUÇÃO

Na atuação de profissionais da Saúde, em geral, predomina o modelo

hegemônico de saúde, fato este que pode ser confirmado através da definição do

Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), em relação às

atribuições do profissional Fisioterapeuta. Esse profissional tem como definição ser o

principal responsável por diagnosticar os distúrbios cinéticos funcionais, prescrever e

executar condutas fisioterapêuticas, bem como acompanhar a evolução do quadro

clínico funcional e as condições para alta do serviço1.

O modelo hegemônico de saúde, segundo definição de Almeida e

Guimarães1, “toma a parte pelo todo e, com isso, fragmenta o conhecimento e

também o corpo, supervalorizando as especialidades. Nesse modelo, a atuação

fisioterapêutica tem como objetivo a cura e é centrada na doença/disfunção e não na

pessoa, o que distancia a prática da realidade e a torna parcial, “não dando conta de

mudar a realidade e responder às demandas individuais e sociais de grande parte

da população brasileira”1.

Ao abordar a reabilitação em Fisioterapia, estamos nos referindo ao

processo de reaprendizado de funções perdidas, isto é, a reabilitação pode ser

entendida como um novo desenvolvimento das características biológicas, sociais,

culturais e históricas das pessoas. Tal fato nos leva a pensar que ambos os

processos, desenvolvimento e reabilitação, devam ter características semelhantes e

envolver o ser humano de maneiras muito próximas1.

Como o desenvolvimento humano se dá de maneira multifatorial e aborda

diversos fatores, parece mais coerente embasarmos as práticas na área da saúde e,

neste caso, mais especificamente a prática do fisioterapeuta, no modelo não

hegemônico de saúde que não nega a importância do conhecimento técnico, mas

também valoriza as dimensões sociais e humanas. Este modelo aborda o todo, está

centrado no paciente, busca a integralidade, que é uma importante diretriz do

Sistema Único de Saúde (SUS), como também valoriza a interdisciplinaridade e a

continuidade da atenção em saúde. Neste modelo, a preocupação deve ser

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direcionada ao indivíduo e não à doença1. A intervenção baseada no modelo não

hegemônico mostra-se mais condizente com o que propõe o SUS, além de tornar a

prática do fisioterapeuta mais humanizada1,2.

A mudança do modelo hegemônico para o modelo não hegemônico

mostra-se necessária, porém, por tratar-se, sobretudo, de uma mudança cultural e

social. Não é algo simples, é preciso uma ação conjunta entre instituições de ensino

superior, docentes, alunos e profissionais fisioterapeutas. É necessário que os

profissionais da saúde observem a necessidade de direcionar sua atuação na

promoção da saúde e na prevenção, levando-os a considerar as condições sociais e

humanas envolvidas na manifestação das doenças e nas suas disfunções,

proporcionando atenção à saúde centrada no sujeito de forma integral1,2.

Historicamente, a formação em fisioterapia está pautada, assim como a

origem da profissão fisioterapeuta, no modelo médico curativo e reabilitador do pós-

guerra. Os primeiros fisioterapeutas exerciam a função de auxiliar os médicos nos

processos de reabilitação, tornando-se este o eixo central no processo da sua

formação2,3.

Um dos primeiros documentos oficiais que regem o ofício do

fisioterapeuta, o Parecer no 388/63 do Conselho Federal de Educação, apresentou o

fisioterapeuta como técnico, reafirmando seu papel reabilitador e de auxiliar

médico2,3.

A despeito do reconhecimento da profissão de fisioterapeuta como de

nível superior, em 13 de outubro de 1969, por meio do Decreto-Lei no 938, o papel

da fisioterapia e a delimitação de suas práticas ainda se mostravam restritos; pois

havia conflitos entre os profissionais de nível superior e os técnicos que já exerciam

a profissão anteriormente, e faltava uma legislação para definir com mais clareza a

atuação na área e o exercício profissional. Com a função de preencher esta lacuna

que ainda rondava a profissão, em 1978, foi elaborado o código de ética profissional

do fisioterapeuta no Brasil, reduzindo a competição interna com a definição de quais

profissionais estariam aptos a atuar e criando a identidade da classe profissional. O

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código de ética trouxe consigo uma concepção de fisioterapia que vai além do

caráter curativo/reabilitador, incluindo também a promoção da saúde e a assistência

à comunidade2,4.

A Fisioterapia teve o auge do seu reconhecimento em meados da década

de 1990, aumentando a procura pelos cursos de nível superior. Muitas instituições

de ensino passaram a oferecer uma grande quantidade de vagas para o curso de

Fisioterapia, principalmente nas instituições privadas; porém estas ainda carregavam

consigo a prática pedagógica curativa, especializada e fragmentada, sem

necessariamente se preocupar com a qualidade do ensino, o que gerou muitas

preocupações e discussões, a fim de buscar soluções para este problema e garantir

a qualidade dos futuros profissionais5,6,7.

Neste contexto, Behrens8 cita a formação no campo da saúde

“consistindo em processos de ensino-aprendizagem que enfatizam a área técnica, a

especialidade, a intervenção curativa”.

Silva e Da Ros4 também exploram o tema, enfatizando que na

Fisioterapia o problema de clareza sobre o objeto de trabalho induz a indefinições do

campo de atuação. Esta questão se reflete no perfil acadêmico do fisioterapeuta, no

qual muitos estão voltados apenas para o processo de reabilitação.

Conhecendo a jornada de criação da Fisioterapia e da formação de seus

profissionais, podemos notar os motivos que levam os fisioterapeutas, na maioria

dos casos, a atuar segundo o modelo médico de saúde. A Fisioterapia apresenta

como base da sua formação a influência da Medicina, fato que dificultou sua

autonomia e a formação de sua identidade perante os profissionais de saúde,

subordinando-se às regras médicas, fazendo com que estivesse mais relacionada ao

modelo médico hegemônico2.

Segundo Moretti-Pires e Campos9, o modelo hegemônico, também

chamado de modelo médico/biológico, entre outras denominações, valoriza muito a

academia e a dominação do profissional sobre a saúde do usuário, havendo

distanciamento dos fatores sociais, psicológicos e comportamentais. Permanece

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nesse modelo uma concepção mecanicista, em que o corpo é tratado como uma

máquina a qual pode ser decomposta em partes inter-relacionadas e a doença é

uma falha ou irregularidade no processo de funcionamento. Essa visão, segundo os

autores, promove a valorização da formação clínica e de subespecialidades,

enquanto os aspectos subjetivos e de relação com o paciente são colocados à

margem.

Por outro lado, no modelo não hegemônico de saúde a atenção deve ser

direcionada ao indivíduo e não à doença, considera-se a “singularidade de cada um,

sem abrir mão da ontologia das doenças e suas possibilidades, mostrando

competência em lidar com pessoas”1.

Brasil et al.10 ressaltam que este é um “novo modelo de atenção que

privilegia a promoção, a prevenção e a recuperação da saúde da população

coletiva”. Outro campo que vai ao encontro deste tema é a integralidade da atenção,

que prevê, além de uma diretriz ao sistema público de saúde, um conjunto de

valores que norteiam um ideal de sociedade mais justa. Segundo Salmória e

Camargo7, o objetivo é humanizar o atendimento, agregando também a “prevenção,

promoção, assistência, recuperação, pesquisa e educação em Saúde”. A marca

maior, neste sentido, é compreender todas as demandas de ações e serviços de que

um usuário de serviços de saúde possa necessitar7,11. Este último modelo se

aproxima do que preconiza o SUS brasileiro.

O SUS, cerne da saúde pública no Brasil, tem como alguns de seus

princípios a integralidade, universalidade e equidade. Seu modelo é focado na

atenção integral à saúde, diferenciando-se do modelo de atenção à saúde antes

centrado na doença4,12. O SUS tem como principal estratégia a priorização da

Atenção Básica com a finalidade de promover a saúde, prevenir agravamentos,

tratar e reabilitar13. Entretanto, ao contrário do que é proposto, pois, na prática, ainda

se dá muito foco à doença e fatores como o valor da experiência subjetiva do

usuário são, muitas vezes, desconsiderados. Assim, a sua experiência de vida, a

permanente interdependência entre os condicionantes biológicos, psicossociais,

culturais e ambientais relacionados ao processo saúde-doença não são levados em

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conta, implicando em consequências negativas para o relacionamento

profissional/usuário. Além disso, esse fato fragiliza a consolidação dos princípios

doutrinários e diretrizes do SUS, uma vez que a própria formação dos profissionais

ainda se encontra enraizada no modelo médico com ênfase curativa, típica de

ambientes hospitalares14.

A formação em Fisioterapia carrega o “estigma da reabilitação” pois é

baseada no modelo médico decorrente do processo histórico da própria profissão A

maneira como se desenvolveu, desde os primórdios, se mostra desgastada segundo

Signoreli et al.15:

O paradigma tradicional de ensino, centrado no conhecimento fragmentado em disciplinas e na figura do professor, detentor do saber e transmissor de conhecimentos; em currículos engessados e focados no tecnicismo das profissões; em departamentos que não dialogam entre si, bem como profissões que não se comunicam, esse modelo vem se demonstrando extremamente ultrapassado. Nesse sentido, refletiu-se sobre o extremo tecnicismo com que as carreiras acadêmicas vêm direcionando a formação, de modo especial na área da Saúde. Esse tecnicismo acentuado muitas vezes deixa de lado os aspectos subjetivos do ser humano, fundamentais em profissões que lidam com seres humanos.

Nas discussões sobre a formação e atuação dos profissionais de Saúde é

necessário focar no ensino e na prática de Saúde na integralidade, atendo-se à

totalidade social e à humanização na assistência, objetivando o reconhecimento do

usuário como Ser Biopsicosocial7.

Na sua grande maioria, a grade curricular dos cursos de Fisioterapia

apresenta um caráter técnico voltado majoritariamente para fatores biológicos. As

disciplinas minoritárias voltadas para o campo das Ciências Humanas e com ênfase

na saúde como processo, não têm grande destaque. Os professores que ministram

os cursos de Fisioterapia, em sua grande maioria, têm sua formação também

voltada para o modelo médico, não conseguem despertar em seus alunos o

interesse pela saúde em um contexto ampliado. De acordo com estudos, alunos de

graduação em Fisioterapia demonstram desinteresse por disciplinas que, muitas

vezes, são opcionais, voltadas para o campo das Ciências Humanas, Saúde Pública,

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entre outras, por terem caráter menos técnico e serem centradas na biologia dos

indivíduos. Salmória e Camargo7, em seus estudos apontam que:

O acadêmico de Fisioterapia apresenta pouco interesse nas disciplinas do campo social, como a Sociologia, Antropologia, Fisioterapia Preventiva e Atuação Comunitária, em detrimento das disciplinas exclusivamente técnicas como Ortopedia, Neurologia, Pneumologia, e que na ausência do debate social e na análise da realidade, perde-se uma parcela importante da formação.

Esta realidade pode estar dificultando o desenvolvimento de novos

modelos de intervenção, voltados para a prevenção e promoção de saúde, ou que

abordem a saúde e o adoecimento como processos complexos do qual faz parte um

indivíduo, sendo também igualmente repleto de complexidade e que necessita de

integralidade na intervenção10.

O profissional em Fisioterapia apresenta, de maneira geral, características

que propiciam o advento de um novo modelo de intervenção, que considere a

integralidade. Pesquisas mostram que estes profissionais são criativos, engajados,

têm facilidade para lidar com tecnologias, apresentam facilidade para as relações

sociais, entre outras características que combinadas permitem a intervenção integral

do paciente de maneira efetiva e eficaz. O que se percebe, porém, é o não incentivo

para o desenvolvimento destas potencialidades durante a graduação, o que pode

restringir os futuros profissionais de lidar com “o todo”, tornando suas intervenções

também limitadas, muitas vezes prolongando ou, até mesmo, não alcançando a

resolutividade em seus atendimentos16.

A sociedade e os usuários de saúde estão em constante transformação.

Cada vez mais conscientes de seus direitos e de conceitos relacionados à Saúde

estes se tornam mais exigentes e, consequentemente, as demandas em Saúde

também se alteram. O profissional em Saúde, assim como as instituições de ensino,

para atender a estas novas demandas, precisam estar em constante formação e

atualização15,16,17. Neste novo cenário, o fisioterapeuta deve deixar o caráter

inicialmente reabilitador da profissão e se preparar para atuar em todos os níveis de

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atenção à saúde, assistindo a comunidade15,16. Salmória e Camargo7 corroboram

com o autor acima, assim como Barros17 que cita:

O Fisioterapeuta encontra-se, atualmente, reorientando a sua formação, com ética, competência técnica e maturidade social para o atendimento às demandas prioritárias em saúde da nossa população. As armas deste profissional são as próprias mãos, a inteligência, a emoção e a natureza, que se completam e se apoiam em estratégias técnico-científicas de educação, participação popular, prevenção, tratamento, desenvolvimento e recuperação da saúde através de diagnósticos funcionais, diagnósticos coletivos e sociais, abordagens corporais entre outras.

Percebe-se a importância das instituições de ensino superior como

responsáveis por formar integralmente profissionais com competências que possam

suprir as necessidades do novo contexto em que se desenvolve a profissão. A

formação integral do fisioterapeuta torna-se fundamental para que o mesmo consiga

entrever a amplitude de seu campo de atuação e a complexidade do usuário que

deve ser considerado em sua totalidade e singularidade, analisando o contexto

ambiental, psicológico e social no qual o mesmo encontra-se15,16.

Com base no exposto tem-se que o profissional deve partir do

conhecimento global, holístico do ser humano e, por meio deste, poder alcançar o

objetivo maior para o qual a Fisioterapia apresenta-se, que é preservar, manter,

desenvolver e restaurar a integridade de órgãos, sistema e/ou função. É necessária

uma visão mais sistêmica, com seus objetivos além da ausência da doença,

entendendo também as reações psíquicas do paciente e seus aspectos de vida,

como contexto social, econômico, cultural, familiar e espiritual14. Neste sentido, a

formação atual do fisioterapeuta não se compatibiliza com a realidade do mercado,

levando à formação de especialistas incapazes de lidar com as totalidades ou com

as realidades complexas14.

Neste sentido, Teixeira18 relata quais atribuições o profissional necessita

para que possa atuar de maneira a poder cumprir tais demandas:

Este profissional deverá ser possuidor de pensamento crítico, atitudes questionadoras, ter habilidades para enfrentar situações mutantes (criatividade), ser cordial, solidário, tolerante, paciente,

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perseverante, além de ser íntegro, honesto e respeitoso às leis naturais, preservando o meio ambiente. A formação humanística, ética e emancipadora, voltada à reflexão, à construção do conhecimento e à integralidade, poderá direcionar o futuro profissional aos padrões atualmente desejados pela sociedade.

A empatia é citada como uma importante ferramenta para o

relacionamento entre fisioterapeutas, pacientes, profissionais de Saúde e

educadores em Fisioterapia16. A facilidade e o interesse em estabelecer bons

relacionamentos sociais mostram-se também como um importante instrumento, uma

vez que possibilita um melhor entendimento entre profissionais e pacientes e

também entre os diversos profissionais de Saúde de um mesmo serviço,

favorecendo o trabalho em equipe. A prática da interdisciplinaridade melhora a

qualidade do atendimento, ressaltando a importância de sua realização desde o

âmbito educacional 15,16,19,20.

A dificuldade inicial na atuação da Fisioterapia, pautada no modelo

médico, com a prática voltada para parte do objeto ─ a doença ─ reflete-se no

âmbito acadêmico no qual a grande maioria dos futuros fisioterapeutas mantém um

perfil reabilitador hospitalocêntrico, o que talvez não atenda às demandas atuais dos

serviços de Saúde4,21,22.

Na formação dos futuros profissionais se faz necessário prepará-los para

ações preventivas e educativas, capacitando-os para o trabalho em equipe, ação

que se mostra de extrema importância para a integralidade, no cuidado e adequação

ao sistema de Saúde vigente no Brasil. O que se observa, porém, é um sistema de

ensino que vai contra esta lógica, favorecendo ainda atividades predominantemente

curativas e reabilitadoras, a especialização excessiva e a reprodução de

técnicas4,21,22.

Para alcançar uma formação focada no atendimento integral ao usuário

se faz necessário o entendimento de que um bom profissional não é aquele que

apenas reproduz corretamente técnicas, mas é aquele que consegue entender a

complexidade de seu paciente, entrever o contexto psicológico, ambiental e social

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do mesmo, valorizando a importância do trabalho em rede e a atuação

interdisciplinar4.

No entanto este contexto precisa ser compreendido na base da

formação, para que o profissional possa ser capacitado tanto do ponto de vista

teórico como também no da prática, habilitando-o para atender tais demandas. Esta

capacitação deve envolver a participação de toda a equipe de Saúde para que

possa haver um compartilhamento entre profissionais de diversas formações,

havendo trocas tanto de informações como de experiências, a fim de favorecer

também o entendimento da atuação de cada profissional e a conscientização da

importância de cada um dentro da equipe de Saúde4.

Para possibilitar tal reestruturação no sistema de ensino é necessário

inicialmente conscientizar e capacitar os educadores envolvidos na formação dos

futuros profissionais, pois os mesmos tiveram sua formação fortemente influenciada

pelo modelo médico e, consequentemente, tendem a levar o ensino também nesta

direção, o que perpetua um modelo que já não condiz com as demandas dos

usuários e com o atual Sistema de Saúde. Também como ferramenta para auxiliar a

transição do antigo modelo educacional para o atual, está o maior incentivo para as

disciplinas da área de Humanas e para aquelas voltadas para a saúde coletiva, a fim

de que, assim, os futuros profissionais conheçam o Sistema de Saúde, as políticas e

as possibilidades para integralidade no cuidado, desde o início da formação

profissional e com isso adquiram uma visão ampliada da atuação do profissional de

Saúde, para favorecer a aproximação dos alunos com a realidade de maneira

gradual4.

As diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Fisioterapia

também trazem que, desde que haja equilíbrio do saber em diferentes níveis de

atuação, recursos terapêuticos e áreas de conhecimento, os conteúdos curriculares

podem ser diversificados, sempre mantendo o objetivo principal na formação

generalista. O projeto político pedagógico deve ser uma construção coletiva,

centrada no aluno como o sujeito da aprendizagem e tem o professor como

facilitador desse processo6,13,16,20.

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O processo de educação, para garantir mudança cultural e de

comportamento, precisa ser significativo para o aluno e, para tanto, o mesmo precisa

ser parte ativa no processo e ser incentivado a construir conjuntamente o

conhecimento4,15,16.

Não se deve perder de vista que a escola tem poder estruturador... e é a responsável pelo perfil do profissional que forma, sendo que o ensino-aprendizagem deve ser encarado como um ativo e contínuo processo de duas vias entre aluno e professor, permitindo o ensino das ciências a partir de uma visão integradora 4.

SignorellI et al.15, concordam com o que foi dito anteriormente e o

completam afirmando que:

A aprendizagem é um processo contínuo e inacabado, que depende de fatores intrínsecos e extrínsecos ao indivíduo. Entre os fatores intrínsecos estão a história de vida do sujeito, assim como seus anseios, motivações e limitações, que modificam seu olhar perante a realidade, fazendo com que o seu significado seja repensando. No processo de significação da informação, a troca de experiências entre aluno e professor é inerente à construção do conhecimento. Já entre os fatores extrínsecos encontram-se os fatores ambientais e os acontecimentos do cotidiano, que alimentam a formação de saberes.

Ainda em relação à transição do modelo educacional, Silva e Da Ros4

relatam que o futuro profissional deve ser inserido em espaços experimentais de

aprendizagem, onde possa ser ativo no processo de construção do conhecimento,

não apenas aprendendo e reproduzindo conhecimentos que lhe são passados, mas

que possa se engajar em atividades e experiências que propiciem o crescimento

profissional e a aprendizagem de maneira ativa, sem desvincular a teoria da prática.

Com isso faz-se importante adquirir, além de técnicas, competências humanas,

éticas, políticas e sociais que propiciem a integralidade em suas ações e o trabalho

em equipe, além de boa relação com o usuário e a comunidade6,15,16,20.

Para Signorelli et al.15, o processo de ensino e aprendizagem em

Fisioterapia deve estar alinhado com o dinamismo da construção do conhecimento e

com as necessidades socioeconômicas, educacionais, culturais e ambientais da

comunidade em que se insere, permitindo a construção de novos saberes por meios

de “ações inovadoras e responsáveis, relacionadas com a sociedade, em sua tríade

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de desenvolvimento: ser humano, ambiente e tarefas”. O mesmo autor afirma em

seus estudos que:

O processo pedagógico da área de Saúde também é discutido, refletido, construído e reconstruído, para atender a demandas educacionais e sociais do mundo contemporâneo. Nesse cenário, o processo formativo em Fisioterapia vem sendo (re) estudado, (re) discutido, (re) visto e continuamente atualizado, agregando novos conceitos com base no cotidiano entre ensino, pesquisa, extensão, com uma intervenção ampliada na área do conhecimento da profissão de fisioterapia. O trabalho é intenso e extenso: alguns autores se debruçam sobre a teoria, outros sobre a prática, discutindo o ensino em Fisioterapia em diversos espaços15.

A fim de promover a transição do modelo hegemônico, de âmbito

individual e clínico, para um modelo mais integral, mudanças são necessárias na

própria organização do trabalho e necessitam de uma alta complexidade de áreas

de conhecimento, segundo Loch-Neckel et al23. Para os autores, cada profissional

precisa se incluir em um processo de trabalho coletivo, em que se tem um resultado

completo a partir da contribuição específica das diversas áreas profissionais.

Portanto, é necessário “conhecer e analisar o trabalho, verificando as atribuições

específicas e do grupo, na unidade, no domicílio e na comunidade, como também

compartilhar conhecimentos e informações”23.

Segundo Salmória e Camargo7, os conceitos e práticas de Humanização

e Integralidade estão aparecendo com mais frequência e intensidade nas

universidades, com consequentes readequações de seus currículos, visando ao

atendimento das necessidades sociais do país. Loch-Neckel et al23 afirmam a

importância de que os profissionais de saúde tenham consciência sobre e ajam

contra o modelo médico, principalmente no que diz respeito ao processo saúde-

doença. Para os autores, estes profissionais deveriam utilizar mais a união de

conhecimentos para as definições de cuidados à família e aos indivíduos, deixando

de se limitarem a práticas pontuais e curativas. A ampliação da base conceitual na

compreensão do trabalho em Saúde, juntamente ao reconhecimento da limitação de

ação de cada profissional em atender às demandas individuais ou da comunidade,

somada à reconfiguração de equipes para ação interdisciplinar, são imprescindíveis

para alcançar a atenção integral23.

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Uma proposta para promover a reestruturação na maneira de intervir em

saúde e mais especificamente intervir na atuação do fisioterapeuta, é a inserção do

mesmo em programas de Saúde Pública. O Programa de Aprimoramento

Profissional (PAP) na Área da Saúde, criado pelo Decreto Estadual no 13.919, de

11/09/1979, é uma modalidade de pós-graduação lato sensu destinada aos

profissionais de saúde recém-formados, com o objetivo de capacitá-los ao exercício

profissional através do treinamento em serviço sob supervisão qualificada. Trata-se,

portanto, de uma prática protegida, realizada em instituições vinculadas ao SUS,

através da qual o profissional estará aprimorando sua atuação tanto pela aquisição

de competências técnicas em suas práticas, como através da capacidade de

contextualizar e interpretar suas atuações nas políticas de Saúde de forma ética e

crítica24.

O Programa de Aprimoramento Profissional na Área da Saúde se propõe

habilitar o aprimorando para ações qualificadas e diferenciadas na área da Saúde.

Tem como objetivo capacitá-lo a elaborar uma análise ampliada do SUS que lhe

permita atuar para a melhoria das condições de saúde da população, além de

desenvolver uma compreensão ampla e integrada das diferentes ações e processos

de trabalho da instituição participante do PAP24.

Os programas de aprimoramento profissional são desenvolvidos em

instituições públicas ou privadas conveniadas com o SUS, dentre estas encontra-se

o Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual

de Campinas, referência em sua área de atuação24.

O Hospital de Clínicas (HC) da UNICAMP leva em conta o ensino, a

pesquisa e a assistência em Saúde. Em relação à assistência em Saúde, realiza a

prestação de serviços de Saúde, com atendimento multidisciplinar e apoio a

diagnóstico, funcionando de maneira integrada com a rede de sistema de Saúde e

bem como com a comunidade. É caracterizado como um Hospital Universitário de

média e alta complexidade, sendo reconhecido por sua excelência na prestação de

serviços de Saúde em geral e especialmente pelo atendimento de urgência e

emergência no Pronto Socorro no qual é referência; nos serviços de Saúde de nível

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terciário, na assistência clínica e cirúrgica de alta complexidade, incluindo as áreas

de apoio a diagnóstico. Em um nível ainda mais complexo, o chamado nível

quaternário, desenvolve-se a área de transplantes25.

Por definição, o HC é uma unidade de assistência de terceiro e quarto

nível, porém, frente à deficiência na estrutura em Saúde na região, mantém um

importante papel em outros níveis de atenção em Saúde, com grande demanda de

nível secundário e primário e como uma alternativa para assistência à população

dependente do SUS e carrega consigo grande expressividade simbólica, “já que a

mídia e a população continuam a enxergá-los de forma emblemática como lócus

privilegiado para exercício da medicina moderna e a verdadeira expressão de um

sistema de saúde” 26,27.

No âmbito da Educação, o HC desenvolve grande parte dos programas

de ensino e residência em Saúde, atua na formação e no aperfeiçoamento de

profissionais de Saúde por meio de seus programas de estágio e de pós-graduação,

como é o caso dos programas de aprimoramento em Fisioterapia que serão

considerados neste estudo26,28.

Os programas de aprimoramento, especificamente os de Fisioterapia no

HC-UNICAMP ocorrem em ambiente hospitalar e ambulatorial, com foco na atuação

multidisciplinar, no qual profissionais de diversas formações, entre eles o

fisioterapeuta, atuam no mesmo ambiente, favorecendo a formação com uma visão

ampliada de saúde 28.

Apesar das mudanças que vêm ocorrendo com o passar dos anos, a

mudança na concepção dos profissionais de Saúde em relação aos serviços que

prestam aos seus usuários ainda se mostra como um grande desafio1,14.

A realidade e as tendências atuais trazem consigo alguns fatores que

podem colocar em risco a prática voltada para o modelo biopsicossocial de atenção

em Saúde e para a sua prática humanizada. São exemplos destes fatores a

complexidade tecnológica, a especialização dos saberes e a consequente

fragmentação do cuidado em visões isoladas, além das condições de trabalho na

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área da Saúde que tornam os atendimentos “desumanizantes”, como a mecanização

e a burocratização excessiva do trabalho e impedimento do desenvolvimento da

capacidade crítico-criativa dos trabalhadores14.

É possível evidenciar a escassez de documentos tanto oficiais (dos

ministérios) como da própria categoria profissional, indicando o espaço de atuação

do fisioterapeuta na equipe de Saúde ou mesmo no SUS, que se relacionem às

políticas públicas voltadas a esta classe profissional4. Além disso, há certo

desconhecimento sobre as competências profissionais, por parte dos gestores

municipais, no que diz respeito à atuação preventiva da saúde29. Não são poucos os

desafios para que a Fisioterapia amplie seu papel social. É imprescindível que na

prática do fisioterapeuta estejam presentes a atenção integral, a resolutividade do

cuidado, o acolhimento, a formação de vínculo, aumentando a capacidade de

produzir saúde e não apenas de recuperá-la. Nessa direção, o SUS vem sendo

“construído a cada dia como uma alternativa possível frente ao modelo médico e

com muito mais possibilidades para a Fisioterapia ampliar seu lugar social”1.

Apesar das mudanças que vem ocorrendo ao longo dos anos no sentido

de tornar a assistência em saúde mais condizente com as necessidades dos

usuários, de acordo com a revisão realizada sobre a prática do Fisioterapeuta,

acreditamos que a mesma esteja ainda bastante relacionada com o modelo médico

hegemônico. Este fato se dá devido à formação dos profissionais e ao modo como

suas ações são desenvolvidas na maioria dos serviços de saúde.

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2. OBJETIVOS

2.1. Objetivo Geral

Conhecer a percepção de fisioterapeutas sobre a sua atuação no

processo terapêutico desenvolvido em um programa de aprimoramento em um

hospital escola.

*A percepção é usada aqui no sentido de apreensão de uma realidade; um conjunto de conceitos que leva o indivíduo a definir para si próprio o significado de uma situação objetiva, no caso, a atuação no processo terapêutico desenvolvido no programa de aprimoramento em um hospital escola.

2.2. Objetivos Específicos

Caracterizar o perfil dos fisioterapeutas nos programas de aprimoramento

no HC UNICAMP;

Conhecer a percepção do fisioterapeuta em relação a abordagem do

paciente, no processo terapêutico;

Conhecer a percepção dos fisioterapeutas quanto à participação da

família do paciente no processo terapêutico;

Conhecer a percepção do fisioterapeuta em relação a sua atuação na

equipe de Saúde.

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3. METODOLOGIA

3.1. Método

Trata-se de um estudo de caráter qualitativo, pois se preocupa com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes inerentes

aos atos, às relações e às estruturas sociais30.

Denzin e Lincoln31 pontuam que a pesquisa qualitativa envolve uma

abordagem naturalista, interpretativa, ocorre no setting natural e busca entender ou

interpretar os fenômenos em termos dos significados que as pessoas a eles

conferem. Bogdan e Biklen32 entendem que o alvo da pesquisa qualitativa é:

Melhor compreender o comportamento e a experiência humana. Eles procuram entender o processo pelo qual as pessoas constroem significados e descrevem o que são aqueles significados. Usam observação empírica porque é com os eventos concretos do comportamento humano que os investigadores podem pensar mais clara e profundamente sobre a condição humana.

Os estudos qualitativos enfatizam a diferença e o individual. Deste modo,

a contextualização dos particulares leva às teorias gerais, mas necessitam ser

adaptáveis a cada situação única33.

Na metodologia qualitativa, de acordo com a concepção advinda das

Ciências Humanas, busca-se entender o significado que os fenômenos possuem

para a vida das pessoas, seja individual ou coletivo. Procura-se identificar o que os

fenômenos da doença e da vida em geral representam para estas pessoas33.

A utilização deste método como recurso na área da Saúde busca dar

interpretações a sentidos e significados atribuídos pelos entrevistados, sobre o

fenômeno saúde-doença em questão, considerando que:

Cada situação humana é sempre original e única (...). Esta originalidade de cada acontecimento não impede o estabelecimento de constantes gerais, quer dizer, das condições que se repetem com mais frequência. O individual não exclui o geral, nem a possibilidade de introduzir a abstração e categorias de análise34.

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3.2. Casuística

Os participantes deste estudo são vinte fisioterapeutas que ingressaram

no programa de aprimoramento em Fisioterapia no HC da Faculdade de Ciências

Médicas da UNICAMP, no ano de 2014, e aceitaram participar deste estudo

mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram considerados os seguintes critérios de exclusão: profissionais que

tivessem outra formação além da Fisioterapia, aqueles que não autorizaram

gravação em áudio e participantes que desistiram de participar da pesquisa durante

o decorrer do processo. Dos vinte e quatro profissionais inscritos nos programas de

aprimoramento, quatro optaram por não participar da pesquisa por motivos pessoais.

Na seleção dos participantes, foi utilizada a definição de Turato33, ao

afirmar que uma amostra representa uma porção, um pedaço, um fragmento

apresentado para demonstrar propriedades da natureza ou qualidade de algo. Em

pesquisas com seres humanos, a amostra se refere a uma parcela selecionada,

segundo uma determinada conveniência e extraída de uma população de sujeitos,

constituindo assim um subconjunto do universo.

Nos estudos qualitativos, a escolha de uma amostra ocorre de forma

proposital ou intencional. Procura-se uma espécie de representatividade, ou seja,

similaridades entre as pessoas para que as mesmas, tendo algo em comum,

possam compor o grupo selecionado para esclarecer os propósitos formulados pelo

estudo. A escolha dos participantes, portanto, não é aleatória e, sim, realizada

intencionalmente, considerando uma série de condições, ou seja, que os

participantes atendam às necessidades do estudo se enquadrando tanto para o

esclarecimento do assunto em foco, como na facilidade e tempo disponível para

participar das entrevistas35.

3.3. Instrumentos

Para a coleta dos dados optou-se pela entrevista semiestruturada e não

dirigida, permitindo ao entrevistador a liberdade para conduzir a mesma da maneira

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que considerasse adequada para cada situação, explorando mais amplamente o

assunto em questão, ao se utilizar de perguntas abertas, que podiam ser

respondidas por meio de conversação informal, o que permite ao entrevistado a

liberdade de expressão, pois a função do pesquisador será apenas incentivá-lo,

levando-o a discorrer sobre determinado assunto sem, no entanto, influenciar suas

respostas36.

Adotou-se a definição de entrevista de Lakatos e Marconi36 como, “um

encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a

respeito de um determinado assunto, mediante a conversação de natureza

profissional”.

A entrevista foi conduzida, utilizando-se de um roteiro para se possibilitar

a caracterização do entrevistado como o sexo, idade, tempo de formado e tipo de

instituição da graduação, como também por questões norteadoras, que permitiram

aos entrevistados se expressarem livremente sobre a sua prática diária com o

propósito de se conhecer a percepção dos mesmos sobre sua atuação no processo

terapêutico.

3.4. Procedimentos

O projeto da pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da

Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP e aprovado mediante parecer

790.166/2014.

Como estratégia para a entrada no campo, a pesquisadora entrou em

contato pessoalmente com os docentes responsáveis pelos programas de

aprimoramento em Fisioterapia nas áreas de Terapia Intensiva, Neurologia Infantil,

Cardiorrespiratória, Ortopedia e Pediatria para a apresentação da proposta de

pesquisa o que lhes permitiu esclarecer possíveis dúvidas e questões quanto à sua

execução. Todos os responsáveis pelos programas de aprimoramento concordaram

com a realização da pesquisa e assinaram a autorização para a execução da

mesma com os fisioterapeutas dos seus respectivos programas (ANEXO III).

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Tendo obtido a autorização dos responsáveis pelos programas de

aprimoramento, a pesquisadora contatou pessoalmente os vinte e quatro

fisioterapeutas matriculados nos programas de aprimoramento em Fisioterapia nos

ambulatórios em que atuavam no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências

Médicas da UNICAMP. Neste primeiro contato, a pesquisadora apresentou o seu

projeto de pesquisa a todos, convidando-os a participar do estudo, em dia e horário

que lhes fosse convenientes. Quatro dos aprimorandos contatados optaram em não

participar por motivos pessoais, sendo, por isso, excluídos do estudo.

Para os que aceitaram participar foi agendada uma entrevista e realizada

em uma das salas do ambulatório de atuação do profissional ou em outro ambiente

que lhes fosse conveniente. Neste momento, foram esclarecidas dúvidas sobre o

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e maiores detalhes do estudo.

Após a assinatura do TCLE, os profissionais participaram da entrevista, e

as interações do pesquisador visaram apenas a viabilizar a compreensão e

esclarecer e ampliar o contexto do discurso, não intervindo sobre o assunto,

evitando, assim, interferências ou distorções no relato do participante.

As entrevistas foram realizadas no segundo semestre do programa de

aprimoramento, com início em outubro de 2014. Tais entrevistas ocorreram em um

momento no qual os participantes já estavam adaptados à rotina do serviço e tinham

considerável conhecimento sobre o local de atuação e as práticas desenvolvidas no

mesmo, uma vez que o programa teve início em fevereiro do mesmo ano. As

mesmas tiveram seus áudios gravados com equipamento de áudio digital e foram

transcritas integralmente. Após a transcrição, as entrevistas ainda foram ouvidas

algumas vezes a fim de que a pesquisadora atentasse para os detalhes e as

diferentes entonações que não poderiam passar despercebidos. Em seguida,

iniciou-se a fase de leituras para a análise dos dados coletados.

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3.5. Tratamento dos dados

Para o tratamento dos dados, adotou-se como ferramenta para a análise

a plataforma QualiQuantiSoft®, que utiliza como base de seu funcionamento a teoria

do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).

O método de análise do DSC foi proposto por Lefèvre e Lefèvre37,38,39,40

ao final dos anos 90, inicialmente para ser usada em estudos na área da Saúde.

Esta metodologia busca expressar o pensamento ou opinião de uma coletividade,

tanto qualitativa, quanto quantitativamente. O qualitativo é representado pelo

discurso dos sujeitos e o quantitativo pela frequência com que diferentes indivíduos

compartilham uma mesma opinião. O DSC busca um discurso único construído por

opiniões semelhantes de diferentes indivíduos a fim de representar uma coletividade.

Sobre a definição, acima Lefèvre e Lefèvre38 colocam:

O sujeito coletivo se expressa, então, através de um discurso emitido no que poderia chamar-se de ‘primeira pessoa (coletiva) do singular’. Trata-se de um ‘eu’ sintático que, ao mesmo tempo, sinaliza a presença de um sujeito individual do discurso e expressa uma referência coletiva na medida em que este ‘eu’ fala pela ou em nome de uma coletividade. Este discurso permite trazer à luz o sujeito coletivo.

A teoria do DSC ressalta que neste tipo de estudo, qualiquantitativo, não

é necessária a participação de um número muito grande de entrevistados, uma vez

que não se busca uma amostra grande, mas sim que os depoimentos coletados

tenham profundidade e consequente representatividade. A amostra reduzida

possibilita ao pesquisador conhecer a fundo a opinião de cada participante sobre

determinado assunto38.

A interface QualiQuantiSoft® foi desenvolvida pelos mesmos autores que

deram origem à técnica de análise do DSC e sua equipe do Instituto de Pesquisa do

Discurso do Sujeito Coletivo da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com

a Sales & Paschoal Informática. Tem como objetivo facilitar a realização de

pesquisas qualiquantitativas nas quais é utilizada a técnica do DSC. A plataforma

auxilia os pesquisadores na organização e tabulação dos dados coletados a fim de

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35

favorecer e tornar mais eficiente a análise dos mesmos. Apesar de esta ferramenta

permitir a associação de dados quantitativos e qualitativos, maior importância é dada

aos dados qualitativos, utilizando-se os quantitativos para facilitar a leitura dos dados

e fazer associações entre as categorias, percepções e as características objetivas

dos portadores destas representações, tais como sexo, idade, tempo de formado

etc.

É importante ter clareza de que a plataforma QualiQuantiSoft® é um

recurso facilitador e que a mesma não substitui o papel do pesquisador. Ela permite

que o pesquisador se atenha às tarefas mais complexas e relevantes, como a

interpretação e análise de sentidos dos depoimentos, à medida que a plataforma

realiza grande parte das funções operacionais, melhorando assim a eficiência do

trabalho de pesquisa.

Sendo assim, o DSC possibilitou captar a opinião individual dos

participantes e a captura da opinião coletiva, considerando as influências pessoais e

culturais, assim como o ambiente e a realidade às quais os sujeitos estavam

submetidos.

Segundo Lefèvre e Lefèvre38, “se um indivíduo tem um pensamento (ou

opinião, ou crença, ou visão, ou percepção, ou representação), uma coletividade de

indivíduos também apresenta uma distribuição estatística desse pensamento”.

A técnica do DSC consiste na organização, pelo pesquisador, do material

coletado, de acordo com sua análise e compreensão. Inicialmente são retiradas de

cada depoimento as ideias centrais, que são trechos mais significativos da fala do

entrevistado sobre determinado tema ou pergunta. Estas ideias centrais são ainda

mais refinadas, proporcionando que se extraia delas as expressões-chave, ou seja,

as expressões mais sucintas que permitem transmitir a opinião de determinado

sujeito sobre determinado tema. É prevista ainda na metodologia do DSC o processo

de Ancoragem, que é definido por Duarte, Mamede e Andrade41:

O processo de ancoragem, de acordo com a técnica do DSC, é a manifestação de uma teoria, ideologia ou crença que os autores do

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36

discurso professam e acreditam. É uma afirmação genérica do enunciador do discurso para enquadrar uma situação específica.

As ideias centrais e as expressões-chave com conteúdo semelhante

podem compor um ou mais discursos que sintetizam a opinião ou compreensão da

coletividade sobre um determinado assunto38. Em resumo, a técnica é executada por

meio de 3 passos:

Analisar o material falado coletado em entrevistas,

Extrair destes depoimentos as Ideias Centrais ou Ancoragens e as suas

respectivas Expressões-Chave,

Por meio de Ideias Centrais, Ancoragens e Expressões-Chave

similares constituir um ou mais discursos ─ os Discursos do Sujeito

Coletivo.

Especificamente para esta pesquisa não foi utilizada a técnica da

Ancoragem. Este não uso é uma possibilidade prevista na Metodologia e ocorreu,

neste caso, pois os pesquisadores julgaram que este passo não seria necessário,

uma vez que seus objetivos já haviam sido cumpridos em etapas anteriores.

Para o lançamento dos dados na plataforma QualiQuantiSoft® foi

necessário cadastrar as perguntas que embasaram a análise dos dados e as

discussões, e posteriormente a resposta de cada entrevistado para a mesma. Após

o registro das perguntas e respectivas respostas para cada entrevistado começou a

fase de refinamento dos dados. Das respostas foram destacadas as ideias centrais

que o discurso de cada entrevistado carrega, e posteriormente as expressões-chave

que caracterizam aquele discurso.

De posse deste material, já bastante refinado, foi possível eleger as

categorias para as discussões:

1. A constituição do Perfil Profissional do fisioterapeuta;

2. A abordagem do paciente no processo terapêutico;

3. A participação da família no processo terapêutico;

4. A atuação do fisioterapeuta na equipe de Saúde.

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37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados deste trabalho permitem que seja traçado o perfil dos

fisioterapeutas que participaram do estudo, assim como também possibilitam

identificar qual a percepção destes profissionais sobre suas práticas durante o

programa de aprimoramento que realizaram em um hospital de grande porte na

cidade de Campinas. Permitiu, ainda, a caracterização dos participantes, o que

favoreceu a contextualização para a interpretação dos dados coletados neste

estudo, conforme dados representados no quadro 1.

Quadro 1. Caracterização dos participantes

Participante Idade Sexo Tempo de formado Tipo de instituição

graduação

1 26 anos Feminino 10 meses Privada

2 23 anos Feminino 10 meses Privada

3 23 anos Feminino 11 meses Privada

4 28 anos Feminino 23 meses Privada

5 23 anos Masculino 10 meses Pública

6 24 anos Feminino 11 meses Privada

7 23 anos Masculino 12 meses Privada

8 24 anos Feminino 13 meses Privada

9 22 anos Feminino 12 meses Pública

10 24 anos Feminino 12 meses Privada

11 23 anos Feminino 13 meses Privada

12 27 anos Masculino 12 meses Privada

13 24 anos Feminino 12 meses Pública

14 23 anos Feminino 12 meses Pública

15 32 anos Feminino 17 meses Privada

16 24 anos Feminino 16 meses Pública

17 22 anos Feminino 18 meses Pública

18 23 anos Feminino 22 meses Pública

19 24 anos Feminino 17 meses Privada

20 24 anos Feminino 18 meses Pública

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38

A maioria dos participantes havia se graduado em Fisioterapia há

aproximadamente um ano, na ocasião das entrevistas, em escolas privadas,

prevalecendo o gênero feminino e a faixa etária manteve-se entre 22 e 32 anos. Em

relação à distribuição nos programas de aprimoramento os participantes estão

vinculados às seguintes áreas: Terapia Intensiva (4), Neurologia Infantil (4),

Cardiorrespiratória (4), Ortopedia (4) e Pediatria (4).

Com base no quadro 1, é possível identificar que esta é uma amostra

bastante homogênea e que se assemelha com estudos prévios realizados a fim de

traçar o perfil dos profissionais fisioterapeutas, como por exemplo, o estudo

realizado por Badaró e Guilhem6. O caráter homogêneo da amostra ocorre com

exceção ao gênero dos entrevistados, pois se apresentam em maior número os do

sexo feminino, porém esta característica condiz com a realidade do estado de São

Paulo de maneira geral, que tem dados que comprovam que a grande maioria dos

profissionais fisioterapeutas é do gênero feminino. Este fato foi apresentado no I

Censo dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais do Estado de São Paulo

realizado pelo CREFITO-3 e publicado por Malerbi e Castro42 em 2008. O censo

apresenta que 82,6% dos fisioterapeutas formados no estado de São Paulo até 2007

eram do sexo feminino. Concordam com estes dados também Badaró e Guilhem6.

Além dessa caracterização da amostra, para que fosse possível atingir o

objetivo deste estudo, foram definidas as categorias para análise dos dados

coletados nos relatos verbais. Estas permitiram a identificação dos modelos de

intervenção que influenciaram as atuações dos entrevistados.

4.1. A constituição do perfil profissional

Nesta categoria foi considerada a formação do fisioterapeuta de maneira

global, contemplando tanto aspectos pessoais (perfil e experiências anteriores à vida

profissional, influência familiar e cultural), como também a formação acadêmica

considerando a graduação e pós-graduação.

O processo para a formação do profissional não se restringe aos bancos

escolares, se inicia antes mesmo da definição da profissão a ser seguida, tendo o

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39

seu começo nas suas primeiras relações com o ambiente. Os indivíduos são

formados de acordo com as características do meio em que se desenvolvem, com

as relações que estabelecem com ambiente e com os indivíduos da sua convivência.

Ou seja, aspectos como a religião, a cultura, as características familiares e genéticas

contribuem para a estruturação do comportamento dos indivíduos, podendo

influenciar em suas características profissionais7,15,16,17.

Quando você escolhe, é, trabalhar na Área da Saúde, você tem que trazer com você… um amor ao próximo, né? Uma ética, uma postura (P 2).

Quando eu entrei na faculdade eu queria ir para a Ortopedia… porque eu sou bailarina e queria trabalhar com bailarinas, né? (P 3).

Então eu acredito que é um pouco de personalidade de cada um, essa preocupação em atender o ser humano, não ser automático e fim (P 16).

Com início na graduação, juntamente com as características pessoais

anteriores, a formação acadêmica possibilita a formação técnica e o início da

definição do perfil profissional.

Na fase da graduação, muitos profissionais relatam a importância de

iniciar o mais precocemente possível os estágios supervisionados. Segundo Silva e

Da Ros4, Signorelli et al15 e Santana e Barreto16 o processo educacional para

promover mudança cultural e de comportamento precisa ter significado para o aluno

e, para tanto, o mesmo precisa ser parte ativa no processo e ser incentivado a

construir de maneira participativa o conhecimento, a fim de que estabeleça sua

identidade baseando-se na formação e na visão integrada de si mesmo. Silva e Da

Ros4 ainda complementam isso, ressaltando a importância da experimentação

prática precoce e de que os alunos não se limitem à reprodução da teoria que lhes é

passada.

A gente usa as experiências, o que a gente trouxe desde a graduação para intervir naquele momento mesmo... Olhar e ter uma análise clínica e ver o que você pode fazer naquele momento (P2).

Toda vivência que você tem em qualquer estágio influencia (P13).

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40

Os estágios são considerados uma oportunidade para uma relação mais

próxima com o usuário e o ensejo para que os supervisores passem a eles

experiências profissionais anteriores que enriqueçam sua atuação prática. Este tema

também foi abordado por um estudo anterior, quando cita que no processo de

significação da informação, a troca de experiências entre aluno e professor é

inerente à construção do conhecimento15.

Muito vem das dicas que a gente tem escutado da supervisão, da coordenação, da experiência deles (P4).

Durante a faculdade mesmo eu tive alguns casos que começaram a me atentar para o fato de que muitas coisas podem estar envolvidas dentro de um mesmo problema (P17).

O que influenciou [o modelo de intervenção] foram os professores da faculdade e minhas supervisoras no aprimoramento (P19).

Colocam este momento de estágio na graduação como uma oportunidade

de passar mais tempo com o paciente, o que permite explorar com mais cuidado

cada caso, a fim de adquirir o máximo de conhecimento possível, visto que, no

aprimoramento, o tempo que passam com os pacientes é menor, frente às grandes

demandas a serem atendidas.

Então como os atendimentos de fisioterapia na faculdade geralmente eram mais prolongados, a gente tinha muito tempo com os pacientes (P17).

Gasparotto e Dos Santos43 citam que o tratamento fisioterapêutico tem

potencial para um contato maior entre profissional e paciente, principalmente devido

à convivência durante as sessões, que oferecem tempo para a comunicação e

consequente absorção de informações que podem indicar possíveis condutas

preventivas. Este fato pode ser considerado como uma alavanca para levar mais

humanização ao atendimento que, segundo os autores, deve considerar, além das

anotações do prontuário do paciente, o conhecimento dos riscos e cuidados

preventivos43, bem como a adesão aos cuidados indicados fora da clínica,

buscando, por exemplo, entender como o paciente elabora sua rotina e as atitudes

que influenciam suas condutas, inserindo o tratamento a um contexto específico de

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41

cada caso, favorecendo a consolidação do modelo não hegemônico de atuação em

Saúde.

Ainda em relação à formação, os relatos coletados contêm o tema da

formação continuada. De acordo com os profissionais que participaram do estudo,

este seria um dos aspectos mais importantes da formação durante toda a vida do

profissional fisioterapeuta, pois se verifica que há necessidade de estudo contínuo

para dar respaldo à atuação diária, com o objetivo de atender as novas demandas

dos usuários, que estão em constante alteração.

Conhecimento do fisioterapeuta... você tem que ter um conhecimento, você tem que ter muito estudo, que é o que vai direcionar suas condutas, e é o que vai fazer ela ser um sucesso ou não... conhecimento suficiente para aplicar as técnicas corretas para atender à necessidade dele (P2).

Tem que ter estudo, né, da parte do fisioterapeuta, porque diagnóstico não são todos que a gente conhece... então a gente sempre tem que tá (sic) estudando, perguntando, tirando dúvida (P14).

Quanto aos conteúdos que são abordados durante a graduação, os

entrevistados relatam que têm contato com temas como humanização, e sobre como

tratar o paciente integralmente, ou holisticamente como relatado por alguns. Porém,

considera-se que a formação ainda se mostra bastante voltada para as disciplinas

técnicas e que dificilmente há uma inter-relação entre as disciplinas ministradas, o

que torna a aquisição de conhecimento fragmentada e dificulta a inter-relação

necessária para a atuação global. Disciplinas voltadas para outras áreas que não as

técnicas de Fisioterapia têm menor espaço na graduação. Silva e Da Ros4 ressaltam

a importância de haver um maior incentivo para as disciplinas da área de Humanas e

para aquelas voltadas para a saúde coletiva, pois deste modo os futuros

profissionais conheceriam o Sistema de Saúde, as políticas e as possibilidades para

integralidade no cuidado desde o início de sua formação profissional, a fim de

adquirir uma visão ampliada da atuação do profissional de Saúde e de favorecer a

aproximação dos alunos com a realidade de maneira gradual. Como citado

anteriormente, de acordo com estudos, os graduandos em Fisioterapia, na maioria

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42

dos casos, não mostram interesse por disciplinas que não sejam técnicas e

especializantes4, 7,10.

Outro tema bastante abordado pelos fisioterapeutas entrevistados foi o

trabalho em equipe que, apesar de ser algumas vezes tratado teoricamente na

graduação, não é uma prática comum durante este período de formação inicial. De

acordo com os relatos colhidos, seria preciso que a relação entre profissionais de

diferentes classes fosse incentivada e realizada desde a graduação, a fim de

favorecer o atendimento global em Saúde e, para que, depois de formados,

estivessem habituados a esta prática, o que melhoraria as relações e a atuação inter

profissional. Esta percepção dos entrevistados concorda com outros estudos que

ressaltam a importância da existência de práticas interdisciplinares precocemente

desde a graduação15, 16, 19,20.

Ainda em relação à formação acadêmica, os entrevistados também

citaram temas relacionados à pós-graduação. Considerando que este era o

momento profissional em que se encontravam no período da coleta de dados,

grande parte das considerações feitas se relacionava ao aprimoramento, que é uma

das modalidades de pós-graduação possível para fisioterapeutas.

De acordo com os relatos colhidos, a vivência do trabalho em equipe

torna-se uma realidade, quando estes profissionais estão na pós-graduação,

principalmente no caso dos fisioterapeutas que participaram deste estudo, por

atuarem em um hospital de grande porte. Segundo informações colhidas, porém, por

não terem experiência prévia no trabalho em equipe, este interagir se torna uma

grande dificuldade na pós-graduação, colocado muitas vezes como um dos

principais problemas em suas atuações. Outros estudos também trazem este tema

relatando que a formação do profissional de Saúde, e especificamente do

fisioterapeuta, ainda carrega consigo muito da sua origem e ainda, atualmente,

existem instituições de ensino enfocam apenas nos aspectos técnicos, não trazendo

a interação entre diferentes profissões desde o início da formação e não estimulando

a intersetorialidade em Saúde e a integralidade na atuação9. Quanto às dificuldades

que os fisioterapeutas enfrentam neste processo, estudos apontam a visão de

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43

trabalho em equipe como algo multidisciplinar, ou seja, especialidades atuando em

um mesmo espaço e não interdisciplinar, na qual há troca de saberes e atuação

conjunta na assistência. Percebe-se a formação para o trabalho em equipe ausente

ou ineficiente nas instituições de ensino9,10. Nas narrativas dos participantes deste

estudo é constatada a dificuldade das ações interdisciplinares entre os profissionais

de Saúde.

É mais a experiência que você vai… adquirindo, é… contar com novos profissionais, porque quando você tá (sic) na faculdade você não tem esse contato com psicólogo, médico, nutricionista, todos esses outros profissionais, assistente social, então conforme você vai tendo mais contato, vai tendo mais experiência, eu acho que você começa a pensar mais por esses lados também (P5).

Loch-Neckel et al23 ressaltam os cursos de pós-graduação como centros

de experiências importantes para que haja o desenvolvimento da prática

interdisciplinar, normalmente não enfatizada nas graduações. Os autores ainda

destacam a importância de que cada especialidade ultrapasse seus limites de

formação e competência, procurando reconhecer nas outras áreas de conhecimento,

os pontos que as unem e os pontos que as diferenciam, visando a detectar os

possíveis pontos de conexão. Mudanças estão ocorrendo e as universidades

começam a acompanhá-las, principalmente devido à preocupação com a

empregabilidade dos profissionais formados nas instituições, que precisarão estar

preparados para esta nova realidade8. Mostra-se necessário haver uma reorientação

curricular efetiva e integrada entre os cursos de Saúde, com sua atenção voltada

para objetos e objetivos comuns, fundamentados no SUS idealizado.

Em relação à pós-graduação, os aprimorandos relatam ser um importante

espaço experimental e uma oportunidade real de colocar em prática a teoria que

lhes é passada durante a graduação. Colocam também que a participação da família

dos pacientes, no tratamento fisioterapêutico, é bastante incentivada e que, nesta

fase profissional, conseguem de fato reconhecer que a mesma é de grande

importância para favorecer a intervenção.

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44

Uma coisa que assim, a gente aprendeu a enfatizar aqui, que às vezes não é tão enfatizado na faculdade, a participação da família no tratamento domiciliar (P6).

Sobre o perfil profissional, alguns pontos em relação à intervenção foram

relatados como essenciais para que os profissionais de Saúde tivessem êxito. A

maior responsabilidade em relação à eficácia do processo terapêutico em

Fisioterapia, de acordo com os fisioterapeutas entrevistados, é do próprio

profissional. Cabe a ele utilizar todas as suas competências a fim de garantir o

sucesso do tratamento. O profissional deve ter consciência do seu potencial e das

ferramentas que tem para atuar junto a seu paciente e explorá-las ao máximo. Em

estudos anteriores, algumas características foram citadas como fundamentais ao

fisioterapeuta para que o mesmo tenha êxito em sua atuação. São elas: criatividade

para atuar mesmo em condições desfavoráveis, humanização na assistência, ética e

postura profissional para atuar em relação ao paciente e companheiros de equipe,

ter boa formação técnica e estar em constante formação 6,15,16,20. Concordaram com

as ponderações anteriores, os entrevistados neste estudo.

Se o paciente quer e você tem boa vontade você pode improvisar... a gente tinha que improvisar às vezes... tinha que tirar criatividade não sei da onde para fazer, então o fisioterapeuta tem que ser criativo por natureza (P1).

Lado humanitário é muito importante em relação a lidar com o paciente. Acho que é um fator importante (P2).

Uma coisa que vai influenciar bastante no sucesso da intervenção também é minha parte, né? Meu estudo com relação à criança (P4).

O que eu conheço da doença também. Acho fundamental para poder aplicar e tratar bem esse paciente (P10).

Tem que ter estudo, né, da parte do fisioterapeuta... então a gente sempre tem que tá (sic) estudando perguntando, tirando dúvida (P14).

Nascimento et al.2 concluem ser importante o modelo não hegemônico

como forma de intervenção terapêutica. Seus entrevistados relataram a visão do

indivíduo “como um todo”, a qualidade da relação terapeuta/paciente, o

acompanhamento do processo de reabilitação, além das habilidades técnicas de

terapia, como fatores que foram considerados especificidade e vantagem da

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45

Fisioterapia. Salmória e Camargo7 corroboram tais afirmações, acrescentando a

importância do contexto na experimentação da doença, em que se incluem as

percepções e interações sociais, apoio da família, relações com amigos, atividade

exercida no trabalho do paciente e até o fator tempo.

Nesta categoria foi possível perceber que os profissionais entrevistados

são mais conscientes e engajados na busca por uma Fisioterapia mais condizente

com o que preconiza o SUS e com as atuais demandas em Saúde, porém ainda

demonstram características de uma formação baseada no modelo médico e com

influências deste modelo em suas atuações, o que é ainda mais reforçado pelas

características dos serviços em que atuam.

4.2. A abordagem do paciente no processo terapêutico

Em sua origem, as ações da Fisioterapia tiveram como base o modelo

biomédico de intervenção decorrente das necessidades em saúde no contexto do

momento histórico. Na atualidade, se percebe a necessidade em adequar sua

atuação para responder ao novo modelo de Saúde em vigência, suprindo as

demandas dos usuários e serviços que estão continuamente em mudança. Essa

transição em relação ao modelo de intervenção adotado pelos profissionais trata-se

de mudança cultural, social, política, econômica e de comportamento, e desse modo

este novo modelo se torna um processo complexo e contínuo repleto de barreiras,

mas também de potencialidades.

Devido à complexidade do ser humano, muitos são os fatores que podem

ser considerados durante a intervenção em saúde. Além dos fatores biomédicos

comumente considerados, existem também fatores psicossociais, que incluem,

dentre muitas coisas, a condição econômica do usuário, a religião, a cultura e as

relações do mesmo com outros indivíduos e com o meio em que vive. Nos achados

deste estudo, foi possível perceber ainda grande prevalência de profissionais que

levam em conta em suas intervenções apenas em fatores biomédicos e puramente

técnicos. Outros consideram majoritariamente fatores biomédicos em detrimento dos

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46

fatores psicossociais e há aqueles que buscam o equilíbrio entre fatores biomédicos

e psicossociais.

Aqueles profissionais que voltam sua intervenção puramente para fatores

biomédicos demonstram em seus relatos uma prática bastante fragmentada, além

de atuarem atentando apenas para as suas especialidades, como por exemplo a

Ortopedia; estes ainda subdividem seus pacientes em fragmentos corporais,

seguindo a visão mecanicista, citada por Moretti-Pires e Campos9. Essa visão,

segundo os autores, promove a valorização da formação clínica e de

subespecialidades, enquanto os aspectos subjetivos e de relação com o paciente

são colocados à margem. Fato semelhante ao citado foi observado nos relatos

coletados neste estudo:

A gente faz a parte de Ortopedia... A gente trabalha só com membro superior e membro inferior não trabalha com coluna nada...e nem mão porque mão é parte da Terapia Ocupacional aqui...só isso (P9).

Essa maneira de atuar não promove a intervenção integral do paciente,

diversas vezes o que está sendo tratado é um segmento corporal e não o paciente.

Nestes casos, as avaliações são padronizadas e seguem um roteiro pré-definido que

contém majoritariamente as informações clínicas.

O nosso trabalho na Fisioterapia Respiratória é proporcionar uma...ajudar o paciente a respirar melhor (P2).

Na avaliação da respiratória, da aerodinâmica, a gente vê se tem algum déficit motor, se tem alguma queixa além dessa, mas o foco mesmo é a respiratória. É, na clínica... A gente tem como se fosse um roteirinho mesmo (P13).

Quando o paciente, ele é admitido na UTI, a gente pega a avaliação, o sangue dele, a história clínica... Fazer uma avaliação dano causal, nível de consciência, avaliava as pupilas, abdômen, se estava tenso ou não, por que isso altera a ventilação mecânica, avaliação respiratória e motora... Quando a gente está num hospital, a gente se torna muito automático... (P16).

Mesmo quando se referem à realização de uma avaliação mais global, ao

descrevê-las citam apenas fatores biomédicos. E ao dizer que atuam em fatores

psicológicos do paciente descrevem-nos apenas como cumprimentar o paciente e

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ser educado durante a assistência. Estes profissionais relatam que tanto focam

bastante suas intervenções, quanto as embasam em diagnósticos clínicos e

disfuncionais apenas.

E eu acho que faz parte do cuidado com o paciente, não só as técnicas fisioterapêuticas, mas se dar atenção para a pessoa que está ali, eu tento dar atenção para o todo, não só para as técnicas de Fisioterapia. Os aspectos emocionais da pessoa. A ansiedade do paciente, às vezes, atrapalha até na clínica... não é você ficar psicólogo do paciente, meia hora do lado dele. Mas só de chegar, dar um Oi, e aí? Dormiu bem? Já considero, nesse olhar, o paciente inteiro (P13).

As especialidades consideradas neste estudo que mais se aproximam do

perfil de assistência acima são Ortopedia e Terapia Intensiva. Os próprios

profissionais destas áreas relatam que atuam desta maneira, na maioria dos casos,

devido à grande demanda e, no caso da Terapia Intensiva, os mesmos justificam

que isso ocorre devido à gravidade dos casos nos quais atuam e ao fato de muitos

pacientes estarem em coma.

Entre os profissionais que consideram majoritariamente fatores

biomédicos em relação aos psicossociais, percebe-se um perfil próximo ao

apresentado anteriormente, porém com a tentativa de conhecer outros fatores que

consideram interferir no processo terapêutico. Neste grupo de profissionais é notado

que além dos fatores biomédicos, que eles reconhecem usar, o que os diferencia

dos profissionais descritos acima, são fatores psicológicos e emocionais dos

pacientes e familiares.

Você tem que tá (sic) olhando a parte física e a parte emocional do paciente. Eu tento intervir é... a parte física e eu tento ver o emocional, eu tento equilibrar isso... Se o emocional dele agravar, o físico também vai refletir e, às vezes, ele não melhora por conta disso (P7).

Os fatores sociais ainda não têm espaço considerável durante as

intervenções fisioterapêuticas. Os próprios fisioterapeutas reconhecem que nem

sempre conhecem outros fatores relacionados a seus pacientes que não os clínicos.

Outros estudos ressaltam a importância de os profissionais de saúde entenderem a

importância de considerar as condições sociais e humanas envolvidas nas

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48

manifestações das doenças e disfunções, buscando a atuação integral, a promoção

da saúde e a prevenção4,7,11.

Quando citam os fatores psicológicos e emocionais a que se atêm, os

descrevem como a preocupação com o bem-estar de seus pacientes, conversar com

eles e cumprimentá-los antes dos atendimentos. Consideram também conhecer os

problemas familiares que seus pacientes enfrentam e que possam interferir em seu

estado emocional, o que, segundo eles, pode prejudicar o tratamento

fisioterapêutico.

Na UTI, a gente, às vezes, o paciente, naquele momento, a gente, tem alguns pacientes que respondem, então, às vezes, dar atenção e tudo mais faz diferença. Lógico que a gente está atenta também à questão da depressão, a questão de ansiedade do paciente, isso altera também o... Ventilatório e tudo mais (P16).

Os profissionais que buscam o equilíbrio entre os fatores biomédicos e

psicossociais acreditam que apenas assim o processo terapêutico torna-se completo

e eficaz, mas pode-se constatar em algumas falas certa dificuldade por parte destes

profissionais para atuar de fato integralmente. Muitas vezes os mesmos têm

interesse em conhecer o paciente integralmente, mas não sabem como atuar frente

a estas informações a fim de beneficiar a assistência.

Não consigo ver de que maneira a gente possa melhorar a situação social dele, mas quando a gente vem aqui, dá uma atenção, trata ele como um igual a qualquer outra pessoa, ele se sente um pouco mais valorizado, mais um ser humano... Mas no dia-a-dia dele, assim, no convívio, eu acho que a gente não interfere diretamente assim, não consigo ter essa noção (P10).

É notável que estes profissionais reconheçam a diversidade e a

singularidade de seus pacientes, de suas histórias e realidade de vida, e que de fato

se importem com elas e tentem adequar seus tratamentos a fim de que os mesmos

sejam beneficiados por uma intervenção que faz sentido para eles e que se encaixe

em suas realidades. Eles buscam melhora na qualidade de vida dos pacientes e de

seus cuidadores.

Atender as necessidades dele naquele momento da melhor forma possível e proporcionar um bem-estar pra ele naquele momento, né?

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E tudo que a gente puder fazer, um alívio de uma dor, de um desconforto é o que a gente procura fazer durante um atendimento (P2).

Acho que foco na melhora da qualidade de vida, tanto das crianças, quanto dos cuidadores (P3).

Eu acho que a importância de você saber a história é para você tratar o indivíduo como um indivíduo isolado, não mais um paciente que teve aquele quadro clínico parecido com o anterior, não… aquele paciente é único, então o tratamento dele é diferente de todos os outros por que ele tem uma história que antecedeu isso (P16).

Relatam que diversas vezes colocam fatores clínicos disfuncionais em

segundo plano a fim de intervir no real problema de seu paciente e atender suas

reais necessidades, que nem sempre são apenas de reabilitação física.

A primeira coisa que tem que conhecer é a criança, conhecer “da onde…” Como foi a base daquela criança… Como é o relacionamento em casa, por exemplo. Como que é o pai com a mãe, isso é importante… Pra depois você conhecer as expectativas da criança. Aí a gente tem que ver quais as expectativas da mãe pra depois… Ver quais são as reais limitações da criança (P4).

Eu gosto de ver o paciente primeiro no convívio dele. No social dele. Claro que a gente olha a patologia dele, para tratar, mas junto com a patologia, acho que vem muita coisa junto com o paciente… eu não vejo ele como uma doença… E considerar todo o ambiente que o paciente está envolvido também, para um bom tratamento (P10).

É um ser humano ali que, por trás daquele doente tem uma família, tem uma história, tem uma vida toda, né. Então a gente não tem que olhar ele só como também… ah eu vou fazer a parte da Fisioterapia só (P2).

Estes relatos concordam com o que descreve Silva e Da Ros4 em seus

estudos. Segundo eles, para garantir atendimento integral ao usuário se faz

necessário o entendimento de que não basta reproduzir corretamente as técnicas, é

necessário entender a complexidade do usuário, entrever o contexto psicológico,

ambiental e social do mesmo, valorizando a importância do trabalho em rede e a

atuação interdisciplinar.

Houve relatos também em relação à necessidade de conhecer não

apenas o paciente e as pessoas com quem ele convive, mas também o ambiente em

que ele vive e suas condições de vida, uma vez que este é o único caminho para

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tornar a terapêutica singular e eficaz para cada caso. Salmória e Camargo7

corroboram colocando a importância do contexto na experiência da doença, em que

se incluem as percepções e interações sociais, apoio da família, relações com

amigos, atividade exercida no trabalho do paciente e até o fator tempo.

É bom conhecer o paciente bem… E considerar todo o ambiente que o paciente está envolvido também, para um bom tratamento (P10).

Eu acho que a importância de você saber a história é para você tratar o indivíduo como um indivíduo isolado, não mais um paciente que teve aquele quadro clínico parecido com o anterior… Não, aquele paciente é único, então o tratamento dele é diferente de todos os outros por que ele tem uma história que antecedeu isso (P16).

Estes profissionais relatam ter preocupação com a reinserção social do

paciente, além da reabilitação física, isto é, na volta deste indivíduo ao mercado de

trabalho, para o ambiente escolar e a comunidade em que vive.

Para melhorar todo o... Toda a vida daquela pessoa, não só a deficiência física que ela tem, mas o contexto que ela está na família, na casa, no bairro, as dificuldades (P17)

Saber que eu posso fazer o melhor para uma outra pessoa, o mínimo que eu posso fazer por ela é o que me motiva a pensar assim. Que ela volte à vida social o mais rápido possível, com a família, o trabalho (P2).

Há a preocupação também com o bem-estar do paciente durante as

intervenções fisioterapêuticas, principalmente no caso da Pediatria, onde existe a

intenção de que a criança acredite que está brincando enquanto é tratada, para que

a intervenção seja agradável à criança e tranquilizadora aos acompanhantes,

favorecendo desta maneira a adesão ao tratamento.

Precisa conseguir fazer com que a criança ache que esteja brincando, mas você tá trabalhando (P5).

Ele entendendo que talvez o paciente ele se dá bem com o fisioterapeuta, que ele gosta de fazer… o acompanhante ele sente mais segurança em deixar nas nossas mãos (P14).

Os entrevistados relataram que a criação de vínculos favorece o bom

relacionamento entre eles e seus pacientes, pois estes se tornam mais colaborativos

e aderem melhor ao tratamento, melhorando a eficácia dos procedimentos. A

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facilidade e o interesse em estabelecer bons relacionamentos sociais mostram-se

também como um importante instrumento para o fisioterapeuta, uma vez que

possibilita um melhor entendimento entre profissionais e pacientes, favorecendo a

adesão e a eficácia do tratamento2,16.

Se ele [paciente] se sente bem… Você vai conseguir dar o melhor atendimento pra ele. Se o paciente não consegue colaborar com a terapia é outro fato, o fisioterapeuta ele precisa muito da colaboração do paciente (P1).

Depende também da colaboração do paciente (P 13).

A conversa é o mais importante, o apego ao paciente é o mais importante (P14).

Neste grupo de profissionais é notória também a maior valorização do

trabalho em equipe a fim de beneficiar os pacientes. Este fato também foi percebido

em estudos anteriores que concluem ser necessário haver troca entre profissionais

de diversas formações, tanto de informações como de experiências, a fim de

favorecer também o entendimento da atuação de cada profissional e a

conscientização da importância de cada um dentro da equipe de saúde4.

Contar com novos profissionais, porque quando você tá na faculdade você não tem esse contato com psicólogo, médico, nutricionista, todos esses outros profissionais, assistente social, então conforme você vai tendo mais contato, vai tendo mais experiência, eu acho que você começa a pensar mais por esses lados também, então você vê que não é só ficar batendo naquilo, só no físico, só físico, só físico, e aí você começa a perceber que tem muita coisa por trás (P5).

A gente trabalha em equipe, então a gente aprende a olhar o paciente de modo geral, não a separar a questão física né que é o problema… Mas ver as outras necessidades do paciente, as necessidades emocionais, quais os problemas familiares (P6).

Então eu já cheguei a conversar com a assistente social sobre alguns casos, com a psicóloga, por que se você está dentro de um ambiente e você tem uma equipe multiprofissional… A gente pode intervir de alguma outra forma para ajudar, eu acho que é importante (P17).

Estão presentes também no processo terapêutico a compreensão e a

abordagem dos fatores sociais relacionados aos pacientes. Essas percepções mais

generalizadas em relação aos pacientes, segundo os entrevistados, surgem com a

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prática e principalmente trabalhando no Sistema Público de Saúde, pois na

graduação não há muito enfoque nestes temas ou o que é passado na teoria não é

bem absorvido até que seja vivenciado.

E fatores também sociais eu acho que a gente tem… muitas vezes não entende porque que a família, sabe, ou falta, ou não leva, ou não tem paciência...acho que isso é uma coisa que a gente tem que pensar também: no paciente e na família inteira… a família apresenta muita dificuldade também… Eu acho que principalmente isso, parte física, parte social e ficar atento a outros profissionais também, pra buscar ajuda, pra ficar cada vez mais global (P5).

Há preocupação, entre os entrevistados, em adequar a linguagem ao se

comunicar com o paciente ou seus familiares, pois o mesmo precisa entender o

processo pelo qual está passando para que possa ser participante ativo do mesmo e

compartilhar da tomada de decisões.

Falar na linguagem deles, para que eles possam entender, acho que isso é bacana também. Você explicar para ele o que você está fazendo, por que você está fazendo e qual seu objetivo (P10).

Muito importante a orientação, porque como são os pais que vão cuidar, ou o cuidador, às vezes, é a avó ou outro parente, como profissional da Saúde, a gente tem que saber orientar (P17).

A especialidade que, neste estudo, teve mais profissionais que

demonstraram esta maneira de intervir é a Neurologia Infantil.

Percebe-se a importância de que o profissional entenda que o paciente

que ele está tratando não é uma doença, é um ser complexo, composto por fatores

biopsicossociais e possui uma deficiência, uma doença ou uma disfunção

permanente ou transitória, portanto, consciente disso, planeje sua intervenção.

Ainda em relação à abordagem do paciente no processo terapêutico

buscou-se, com este estudo, conhecer quais os fatores que impossibilitam ou

dificultam, segundo a percepção dos aprimorandos, que o fisioterapeuta possa

abordar seu paciente integralmente. Foram identificadas dificuldades de

relacionamento pessoal, ou seja, a relação do profissional com os pacientes ou

acompanhantes ou a relação entre o fisioterapeuta e outros membros da equipe,

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seja de mesma profissão ou de classes profissionais distintas. Consideraram-se

também as barreiras relacionadas a recursos operacionais e vinculadas às

condições de trabalho como, por exemplo, a carga horária para o trabalho conferida

por diferentes serviços de Saúde, a remuneração, a relação entre a demanda e o

número de profissionais de Saúde ou até mesmo a restrição de espaço físico e de

materiais e equipamentos para o trabalho.

As barreiras identificadas nesta pesquisa coincidem com as apresentadas

em estudos anteriores e apontam como presentes em maior frequência: mão de

obra insuficiente, visão de trabalho em equipe como algo multidisciplinar (ou seja,

especialidades atuando em um mesmo espaço, e não interdisciplinar), formação

para o trabalho em equipe ausente ou ineficiente nas instituições de ensino,

barreiras estruturais e escassez ou inadequação de materiais, atos clínicos e

técnicos como objeto de trabalho principal e desconhecimento, inclusive por

profissionais de Saúde e gestores, em relação às competências do fisioterapeuta9,10.

A dificuldade no relacionamento interpessoal foi relatada em grande parte

das entrevistas como dificuldade de se trabalhar em equipe, fato este considerado

uma importante barreira para que o paciente não seja tratado integralmente.

O trabalho interdisciplinar é uma grande barreira. Não existe na verdade… Cada um quer fazer a sua parte e ninguém quer que o outro vá e mexa com sua parte porque vai te dar trabalho depois… Se conversa muito pouco (P4).

Foi muito difícil, no sentido clínico, trabalhar esse próprio processo de atendimento multidisciplinar, embora seja uma coisa que eu acredite muito, não é uma coisa que a gente percebe na prática (P17).

Os pacientes são atendidos por profissionais de diferentes

especialidades, porém os atendimentos ocorrem isoladamente, prática que

fragmenta o cuidado e torna-se menos efetiva. Os profissionais entrevistados em

suas falas relatam sentir falta de respeito frente às atribuições do fisioterapeuta por

profissionais de outras classes e ainda há uma relação de submissão do

fisioterapeuta perante a classe médica.

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A gente fica meio que submisso aos médicos (P6).

Tem muitos profissionais de outras equipes, principalmente equipe médica, que não acreditam no que a gente está fazendo, que não entendem como que funciona, que também acham que não tem nenhuma diferença para o paciente… Então é complicado, a gente não tem espaço ainda em muitas áreas, em muitas instituições (P17).

A falta de comunicação na equipe de Saúde é outra barreira para que o

tratamento seja integral. A dificuldade de comunicação entre profissionais de Saúde

e usuários ou familiares mostra-se de diferentes formas, quando o profissional tem

dificuldade em entender o relato de seu paciente para expressar sua condição de

saúde, como também quando há dificuldade de o profissional informar ou orientar o

paciente e seus familiares em relação à sua condição de saúde ou até mesmo

quando esta comunicação é simplesmente ausente.

Mesmo você tendo uma equipe grande… Não é uma equipe interdisciplinar, não é uma equipe que conversa entre si… É uma coisa meio desorganizada ainda, eu acho (P5).

A primeira barreira é uma barreira de diálogo e reunião multiprofissional. Acho que essa é principal barreira, a multidisciplinaridade (P7).

Em complemento ao exposto, outro fator relacionado à equipe que se

mostra como uma dificuldade para a assistência é a falta ainda de alguns

profissionais compondo a equipe de Saúde. Isso prejudica a assistência devido à

falta de certos conhecimentos para lidar com algumas situações que diariamente

ocorrem. Uma equipe que deseja atuar integralmente diante das demandas da

população necessita de profissionais de diversas áreas de atuação, principalmente

os da área da Saúde. Um profissional bastante citado como escasso nas equipes e

que os entrevistados consideram fazer muita falta é o psicólogo, por atuar nas

situações em que os fisioterapeutas relatam ter mais dificuldades em lidar no

cotidiano.

Uma coisa, assim, que eu acho que falta muito é um apoio mais da parte emocional… Infelizmente, a gente não têm um apoio constante… Eu nunca vi a psicologia presente atendendo… Não tem um psicólogo pra tá avaliando constantemente aqueles que mais precisam (P7).

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Ainda sobre barreiras vinculadas a relacionamento pessoal, foi abordado

o tema do vínculo entre paciente e profissional. Quando este vínculo não é

consistente ou não ocorre positivamente, a adesão ao tratamento é prejudicada e,

consequentemente, esse fato torna-se um obstáculo para assistência global do

paciente que, muitas vezes, se torna não colaborativo ou não dá continuidade ao

processo terapêutico. Esse relacionamento negativo com o paciente também

prejudica a assistência por parte do profissional. Foi relatado que quando a boa

relação não se estabelece, a qualidade da assistência torna-se prejudicada, pois o

mesmo se atém apenas no foco principal a fim de encerrar o atendimento no menor

tempo possível, privando deste modo o paciente de outras abordagens que

poderiam complementar o procedimento.

O paciente, às vezes, digo assim quando ele, o vínculo não é tão bom… Ele não se sente bem… aí se a pessoa vai ficando chata… “cê” acaba fazendo aquele atendimento meio por obrigação… assim, então você não consegue assim pegar o paciente como um todo… Porque você quer terminar aquilo rápido… Porque o paciente assim, você não se sente bem perto dele entendeu? (P1).

Esta situação também foi observada quando ocorre o relacionamento do

profissional com os familiares, como relatado anteriormente. A falta de adesão e

colaboração na prática dos procedimentos em casa por parte dos familiares e

acompanhantes também dificulta a assistência integral, pois prejudica a

continuidade do processo terapêutico na maior parte do tempo, ou seja, quando o

paciente não está em ambiente clínico.

A gente sempre tenta conversar com as mães pra ver como é que foi a semana da criança, que atividade que a gente passou pra casa elas conseguiram fazer. Geralmente elas não fazem nenhuma, elas dão uma “enganadinha” que fizeram, aí a gente entra com a criança e acaba percebendo não fez nada, que a criança piorou da semana passada, aí passa tudo de novo. É a pior parte do atendimento, é o convívio com as mães mesmo (P3).

Mães que não querem entender ou não ajudam, sabe? Não têm aquele estímulo mesmo pra... Acham que tem que tá tudo na mão da fisioterapia... Tem um pouco essa barreira. Tem pai que vai compra sua ideia e vai fazer tudo que você pedir, vai entender, mas tem pai que não vai (P5).

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Mas é uma área assim muito difícil de você atingir os objetivos por causa da falta de conscientização das famílias (P6).

A relação entre a demanda de serviço e o número de profissionais

também se mostra como uma dificuldade imposta pelos serviços de Saúde para que

o profissional consiga atuar de maneira integral. A pequena quantidade de

profissionais para atender grandes demandas abrevia o tempo e a qualidade do

atendimento. Este problema é ainda mais agravado, pois os profissionais de equipes

de Saúde, muitas vezes, pela falta de profissionais compondo a equipe, realizam

atividades para as quais não foram qualificados a fim de suprir a falta do profissional

adequado para tal função. Esta prática faz-se necessária no cotidiano dos

profissionais de Saúde em busca da resolutividade das demandas dos usuários, mas

mostra-se desfavorável à medida que colabora para a perpetuação do problema,

pois a necessidade de outro profissional na equipe torna-se menos evidente aos

gestores já que suas funções são supridas por outros profissionais23.

A alta demanda também foi citada como barreira para o tratamento

integral, tema que foi citado em todas as entrevistas, demonstrando uma dificuldade

real e considerável.

O número de pacientes que a gente tem é muito grande… Então eu acho que você acaba não dando o melhor que o paciente podia ter por conta de ter muitos (P1).

Às vezes, você tem muitos pacientes para atender. A gente queria, às vezes, dar uma atenção maior, fazer mais coisas que a gente poderia fazer naquele momento, mas o lado ruim é esse, tem uma demanda muito grande… A teoria é linda, maravilhosa, né? Às vezes, chega na prática, o seu dia-a-dia e a demanda do serviço faz com que… você acaba deixando um pouco de lado (P2).

Pela demanda daqui a gente não consegue fazer algumas coisas. A gente só dá atenção para os mais graves mesmo, por que, falta de tempo (P13).

Nossa demanda de pacientes era muito alta… O atendimento era bem corrido por conta da demanda e, às vezes, a gente deixava o atendimento um pouco, pecava um pouco no atendimento, né? Não dava a atenção necessária por conta da demanda (P18).

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Em relação a este tema foi relatado que o número de pacientes que

necessitam de atendimento em Fisioterapia é muito alto e que, para suprir esta

demanda, os profissionais abreviam seus atendimentos para poder atender mais

pacientes durante seu horário de trabalho, ou atendem mais de um paciente ao

mesmo tempo. Estas práticas, segundo os entrevistados, prejudicam a qualidade da

assistência por não permitirem o atendimento integral em relação ao paciente. Os

profissionais priorizam apenas o problema que elegem como principal, atêm-se

apenas a fatores físicos disfuncionais e não conseguem atuar considerando toda a

complexidade de seus pacientes.

A demanda de trabalho é muito grande… Você tem que atender muitos pacientes. Aqui você tem 25/30 minutos com um paciente, então você tem que focar na clínica daquele momento pra atender… mandar ele embora o melhor possível e… que o serviço continue de uma outra forma (P1).

É... 50 minutos pra cada, não tem 10 minutinhos ali pra você arrumar de novo e já atende outro. Não tem pausa e nem nada… Você já sai de um atendimento com a cabeça a mil por hora, cansado… e aí você já tem que montar outra coisa totalmente diferente, não tem muito tempo pra pensar (P5).

O tempo aqui é curto de atendimento, pra atender mais gente... Então acaba ficando assim na pressão, acaba tendo que atender mais pessoas por horário vai perdendo um pouquinho da atenção que você pode dar para o paciente (P9).

Por que, às vezes, a demanda é tão grande que não dá para eu sentar com o paciente sobre toda a história dele, por que, às vezes, eu atendo três ou quatro ao mesmo tempo. Então eu não vou dar atenção integral para nenhum deles. Eu vou simplesmente passar o exercício, alguma recomendação e vou fazer (P10).

Tempo… É bem escasso… Às vezes, em 40 minutos a gente tá atendendo dois ou três… O tempo é pouco pra você sentar com cada um… Se a demanda fosse um pouco menor, daria pra ter mais contato, com certeza (P11).

Este problema pode ser agravado, segundo os achados neste estudo,

pois, na maioria dos casos, a quantidade de fisioterapeutas que atuam nos serviços

de Saúde é insuficiente. Foi relatado que este fato é ainda mais grave em casos de

instituições que atuam também no ensino de Fisioterapia, com pós-graduação, pois

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se contrata menos profissionais para tal função uma vez que possuem a mão de

obra dos pós-graduandos.

Tem grande demanda de paciente pra uma quantidade de profissional bem reduzida. Se tivesse mais profissionais ali, naquele ambiente, que pudesse dar uma atenção para uma menor quantidade de pacientes, eu acho que a intervenção seria bem melhor… Na teoria, você pode fazer milhares de outras coisas que, às vezes, no dia-a-dia você tem que escolher as prioridades devido à demanda mesmo… e acaba deixando outras coisas de lado (P2).

Tem pouco fisioterapeuta porque não tem fisio contratado na neuroinfantil, só a gente do aprimoramento… Já tem uma lista de espera enorme pro ano que vem, que ninguém sabe como vai ficar ainda. É complicado (P3).

Ter mais fisios no serviço, talvez diminuísse a sobrecarga de atendimento pra alguns (P7).

Demanda muito grande e falta fisioterapeuta (P10).

A alta demanda associada à insuficiência de fisioterapeutas nos serviços

de Saúde torna ainda mais difícil a intervenção integral ao paciente, pois repercute

em menor duração dos atendimentos, impossibilitando momentos de discussão com

outros membros da equipe de Saúde, principalmente entre os atendimentos,

tornando, muitas vezes, os atendimentos menos individualizados e singulares.

Deste modo, além de não conseguirem atuar de maneira integral,

priorizando apenas na atuação técnica e voltada apenas para fatores físicos

disfuncionais, o fisioterapeuta atua apenas enquanto o problema é mais crítico ou

agudo e então encaminha o paciente para dar continuidade em outro serviço, ou até

mesmo interrompe o tratamento sem a solução do quadro, a fim de aumentar a

rotatividade da lista de espera do serviço de Fisioterapia.

Têm alguns casos crônicos, mas que a gente começou a dar alta por que… assim… O ambulatório tá muito lotado (P3).

É meio complicado manter o paciente por um longo tempo, tem que ter uma certa rotatividade. É bem influenciado pelo serviço, pela pressão pelo que a gente… a qualidade é muito importante, mas eles avaliam não só a qualidade, eles avaliam mais a quantidade, então a gente tem que apresentar quantos pacientes foram atendidos… quantas vezes eles vieram (P9).

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Você tem a cobrança de atender um número de pacientes até mesmo financeiramente… Ou também a rotatividade do leito, então, às vezes… É mandado para a enfermaria num tempo mais curto… Eu acredito que isso daí também faz com que os profissionais da Fisioterapia não consigam atender tão globalmente o paciente, pelo tempo corrido (P16).

A falta de materiais também foi citada como uma dificuldade da maioria

dos serviços de Fisioterapia, assim como as restrições em relação ao espaço físico.

Os entrevistados relataram que diariamente precisam improvisar devido às

condições de conservação dos equipamentos, materiais e aparelhos disponíveis

para a prestação de seus serviços. Relatam também que o espaço arquitetônico

para os atendimentos nem sempre são adequados, sendo, muitas vezes, pequenos,

principalmente quando há necessidade de atender mais de um paciente ao mesmo

tempo.

Aqui falta muito equipamento também (P3).

Tem limitação de material (P6).

Aqui a gente não tem os aparelhos… A gente tem o material escasso (P9).

É tanta correria, que não tem espaço… não é tão grande assim… porque são quatro aqui atendendo dois ou três de uma vez. É muita gente. Falta aparelho… Tem que fazer um malabarismo. Acho que isso interfere bastante na conduta também (P10).

Essa necessidade de improvisação encurta ainda mais o tempo disponível

para a atuação junto ao paciente, pois faz com que os profissionais percam tempo

tentando adaptar a terapia devido à escassez ou má condição do material

disponível, tempo este que poderia ser utilizado para atuar em outros fatores

referentes ao usuário.

Outros temas também foram citados, como a falta de reconhecimento e a

baixa remuneração do fisioterapeuta, o que, segundo os entrevistados, desestimula

o profissional em sua atuação e, muitas vezes, prejudica a assistência.

Barreira é a parte financeira, porque se trabalha muito para ter um retorno pouco, dependendo da área que você for trabalhar (P10).

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Os fisioterapeutas vão ficando endurecidos com o passar do tempo, já vi muito isso. Conforme vai tendo mais experiência profissional ou tendo mais anos de profissão, a gente vai ficando mais endurecido, eu acredito nisso, por causa disso mesmo, de falta de reconhecimento, tem pouco tempo, não dão o devido valor para a gente, tem que fazer tudo correndo, tudo rápido porque tem mais paciente (P20).

A carga de trabalho excessiva também foi relatada como uma barreira

que prejudica a assistência integral ao paciente, essa dificuldade dos serviços de

Saúde se torna ainda pior devido à baixa remuneração dos profissionais por longas

jornadas de trabalho.

A carga horaria é longa, a jornada de trabalho é longa, tem pouco recurso… eu acho que a jornada de trabalho longa influencia nisso [Na dificuldade de intervir de maneira integral]… É pouco valorizada a profissão, é uma carga horária extensa, com poucos recursos e, às vezes, a gente faz o melhor que a gente pode e a gente podia fazer melhor, mas a gente faz o melhor que a gente pode no momento (P20).

É evidente que muitas são as barreiras para a intervenção global de

usuários nos serviços de Saúde e, neste caso, especificamente de Fisioterapia, o

que torna ainda mais desafiadora a missão de propor uma possível reestruturação

dos modelos de intervenção atualmente empregados para tornar a assistência mais

integral e eficaz.

É possível perceber que na teoria os profissionais reconhecem a

importância em atuar de maneira global frente a seus pacientes, considerando sua

complexidade como ser biopsicossocial e conhecem alguns caminhos para atuar

desta maneira, no entanto, devido às diversas barreiras citadas em relação à

assistência, grande parte dos profissionais não consegue atuar da maneira como

consideram ser ideal, e enfocam apenas em fatores biomédicos e na reprodução de

técnicas. Nos relatos, foi frequente a frustração dos profissionais por entenderem

que não atuam da maneira que acreditam ser mais eficaz, tendo que se adaptar à

realidade dos serviços em que atuam, deixando de utilizar todas as potencialidades

que garantem a formação em Fisioterapia.

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4.3. A participação da família no processo terapêutico

A família comumente está presente nos espaços terapêuticos. Esta

categoria visou a conhecer a percepção do fisioterapeuta quanto à participação da

família no processo terapêutico e como se dá a relação entre ambos.

Nos achados deste estudo, uma pequena parcela dos entrevistados

considerou a relação com a família como obstáculo para o processo terapêutico.

Relataram ter dificuldade de convivência, principalmente com acompanhantes dos

pacientes pediátricos, referindo-se a dificuldades de adesão dos mesmos ao

tratamento e o não comprometimento com a continuidade do tratamento no

domicílio, o que parece dificultar o progresso no processo terapêutico. A relação com

estes familiares foi considerada por um dos entrevistados como “a pior parte do

atendimento” (P3).

A gente sempre tenta conversar com as mães pra ver como é que foi a semana da criança, que atividade que a gente passou pra casa elas conseguiram fazer. Geralmente, elas não fazem nenhuma, elas dão uma “enganadinha” que fizeram aí a gente entra com a criança e acaba percebendo não fez nada, que a criança piorou da semana passada, aí passa tudo de novo. É a pior parte do atendimento, é o convívio com as mães mesmo (P3).

A mãe não entra na terapia e, assim, não é pra ficar lá por que… já é norma do ambulatório, né, e… acaba atrapalhando muitas vezes (P4).

A gente não consegue grandes evoluções com a criança quando a família não participa… mas é uma área assim muito difícil de você atingir os objetivos por causa da falta de conscientização das famílias (P6).

Por outro lado, a maioria dos profissionais que participou deste estudo vê

a relação com a família de seus pacientes como facilitadora do processo terapêutico

e algo importante para a integralidade do cuidado. Atuar em Saúde tendo como

objeto do cuidado a família é uma ferramenta para a transição do modelo biomédico

de atuação para o biopsicossocial. No modelo hegemônico a família é considerada

apenas como local do surgimento de uma doença, raramente é considerada como

um grupo de pessoas que necessita também de avaliação e intervenção. O

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atendimento perde sua integralidade, pois atua individualmente com cada um dos

membros da família45,46. A importância da família no processo terapêutico e do bom

relacionamento entre profissionais de Saúde e familiares é ainda mais ressaltada

devido à necessidade de continuidade das condutas terapêuticas em domicílio.

Se a família não comprar aquela ideia, não entender o que você tá trabalhando, saber o que que você quer, se não conseguir envolver a família também no tratamento, eu acho que ela vai… vai ser muito difícil dela te ajudar em casa também. A gente tem bastante espaço pra fazer isso, pra prestar atenção na família, pra orientar, pra chamar, se precisar ficar uma hora, um dia com a mãe lá dentro: ó mãe é isso que a gente tá fazendo, é isso que eu quero que você faça. Até a mãe entender, então a gente vai ficar (P5).

É importante que a gente mostre pra ele o que ele pode estar fazendo por nós, porque que a gente não vai de alta junto com o paciente, a gente não vai para casa junto com ele, então, muitas vezes, é o acompanhante que vai dar continuidade no tratamento (P14).

É importante que a família esteja orientada em relação a todo o processo

terapêutico para que possa aderir ao tratamento e dar continuidade ao mesmo, uma

vez que na maior parte do tempo são eles que garantirão a assistência ao paciente.

Foi relatada também uma preocupação dos profissionais em adequar a linguagem

utilizada na comunicação com a família durante orientações a fim de que a família

possa entender efetivamente o processo terapêutico e, assim, possam ser parte

ativa no processo facilitando a adesão ao tratamento. A comunicação entre

profissionais, usuários e seus familiares é abordada também em outros estudos que

a mostram como um grande desafio para os trabalhadores na área da saúde7,47.

Loch-Neckel et al.23 citam que “é significante a diferença entre as expectativas,

valores e linguagem dos profissionais de Saúde e da população, o que traz grandes

dificuldades de comunicação entre eles”, fato que prejudica a assistência e influencia

em sua qualidade.

Eles são muito humildes, tem que entender essa humildade deles, que eles são simples e tratar ele, para que ele não se sinta constrangido. Falar na linguagem deles, para que eles possam entender, acho que isso é bacana também. Você explicar para ele o que você está fazendo, por que você está fazendo e qual seu objetivo de chegar, o tratamento vai ser muito importante para o paciente (P10).

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A gente explica numa linguagem bem popular pra que eles entendam (P14).

Muito importante a orientação, por que como são os pais que vão cuidar, ou o cuidador... como profissional da Saúde, a gente tem que saber orientar. Às vezes, eles [responsáveis] não têm a mesma, o mesmo conhecimento que a gente, então se a gente puder orientar, eles vão conseguir aprender melhor essa parte, essas necessidades das crianças (P17).

Eu acho que por criar esse vínculo eles acabam conversando mais com a gente, contando mais, eles lembram de coisinhas que tinham esquecido… Difícil dos acompanhantes dos pacientes entenderem o que a gente está falando por causa da baixa escolaridade, mas eu acredito que é possível (P20).

Segundo Gomes48 problemas de comunicação por si só já prejudicam a

assistência e configuram-se como importante desafio para os profissionais de

Saúde, porém este fato torna-se ainda mais grave ao passo que interfere na adesão

do paciente ao tratamento23.

É ressaltada a importância de considerar em suas condutas os desejos e

expectativas dos pacientes e seus familiares para que o tratamento tenha sentido

para os mesmos e assim eles favoreçam a adesão. A participação da família no

domicílio também é um fator considerado importante para a eficácia do tratamento

fisioterapêutico.

Escutar o paciente, escutar os familiares, ver as reclamações e os objetivos deles... Eu tento deixar meus pacientes sempre à vontade pra falar pra mim o que eles querem e o que eles num querem, respeitar a necessidade da criança… e sempre englobando isso, a participação da família no atendimento, porque eles geralmente aqui é um atendimento por semana, uma hora dentro de 24 que a criança fica sem fazer nada em casa, então a gente não consegue grandes evoluções com a criança quando a família não participa (P6).

Ragasson et al.49 colocam a Fisioterapia em evidência ao citar seu papel

fundamental, principalmente de cooperação, nessa nova realidade de Saúde,

pautada na prevenção, promoção e educação. Segundo os autores, o atendimento

domiciliar mostra-se como possibilidade ao trabalho de atenção primária, em que o

fisioterapeuta pode ter contato com as atividades das pessoas, rotinas, dificuldades,

limitações e sua realidade, direcionando as ações para cada caso, contribuindo para

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promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, o que obedece aos princípios do

modelo atual de Saúde e melhora a qualidade de vida da população49,50,51.

A confiança por parte do paciente na atuação do fisioterapeuta é

primordial para que a intervenção tenha sucesso. Essa tarefa se torna mais difícil no

tratamento em pediatria, mas é importante que o fisioterapeuta que atua nesta

especialidade tenha como objetivo principal estabelecer uma boa relação com a

criança e seus familiares para ter êxito em sua terapia.

Então ele [paciente] tem que sentir confiança, tem que se sentir bem com você pra você conseguir explorar o máximo dele e realizar a terapia (P1).

Precisa conseguir fazer com que a criança ache que esteja brincando, mas você tá trabalhando… Prestar atenção em vários outros aspectos é… Mesmo não sendo da nossa área… Então eu acho que isso é uma coisa que a gente tem que pensar também: no paciente e na família inteira (P5).

Nas respostas a esta pesquisa também foi relatada a percepção de que o

vínculo entre fisioterapeutas e familiares é mais forte do que com os outros

profissionais da equipe de Saúde, atribui-se isso ao fato de que fisioterapeutas

seriam os membros da equipe que passam mais tempo com o paciente e sua família

por terem intervenções mais longas e recorrentes. O tratamento fisioterapêutico

permite maior contato entre profissional e paciente, principalmente devido à

convivência durante as sessões, que oferecem tempo para a comunicação e

consequente absorção de informações que podem indicar possíveis condutas

preventivas. Percebe-se aqui uma grande potencialidade a ser considerada pelo

fisioterapeuta. Estudos indicam que se deve levar em consideração, além das

anotações do prontuário do paciente, o conhecimento dos riscos e cuidados

preventivos, a adesão aos cuidados indicados fora da clínica por meio da atuação da

família, inserindo o tratamento em um contexto específico de cada caso43.

E quando a gente vai e para, nem que seja 20 minutos, eles criam um vínculo com a gente maior do que com o resto da equipe, pelo menos é o que eu percebo. Eu acho que é fundamental, por que eles acabam contando para a gente coisas que eles… deixam de contar para os outros profissionais (P20).

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É ressaltada a importância deste bom relacionamento a fim de formar

uma parceria com os acompanhantes para que os mesmos deem continuidade no

tratamento fora do ambiente clínico e para que possam trocar informações e

experiências, além de auxiliarem durante as intervenções fisioterapêuticas,

favorecendo o processo terapêutico.

A gente tinha muita proximidade com as mães… Então a gente estava muito por dentro da parte social também da criança, da parte psicológica da mãe, elas conversavam muito com a gente… Eu sempre tentava assim, conversar muito com a mãe ou o cuidador em relação à criança, como que está em casa, se a mãe nota alguma mudança, ou perguntar como que é o comportamento em casa (P17).

Os momentos de troca entre familiares e profissionais de Saúde também

são reconhecidos como ocasiões em que os familiares podem desabafar e

manifestar suas angústias e dúvidas, o que os auxilia a manter a adesão ao

tratamento. Muitas vezes, este vínculo torna-se tão efetivo que a relação do

profissional com a família continua mesmo após a descontinuidade do tratamento

fisioterapêutico.

As mães conversavam muito com a gente, então elas traziam problemas familiares, preocupações, detalhes que, às vezes, elas não passavam para outros profissionais, então com essa informação a gente tinha também que tentar ajudar todo o processo que estava acontecendo ali dentro da família. Então tinha muita proximidade… muitas mães, a gente manteve contato depois da alta hospitalar, ainda conversa, ainda quer saber como que está o desenvolvimento da criança, ou das crianças que a gente perdeu, como que essas mães estão, como está a família, então a gente manteve um contato muito bom durante e depois do aprimoramento com essas famílias (P17).

A percepção dos aprimorandos é que esta relação entre família e

profissionais de Saúde passa a ter sua importância mais enfatizada na pós-

graduação do que na graduação, e que talvez essa seja a origem da dificuldade de

alguns fisioterapeutas em lidar com esta situação, mesmo considerando, na maioria

dos casos, ser fundamental a participação da família no processo terapêutico e a

aproximação da mesma com a equipe de Saúde.

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4.4. A atuação do fisioterapeuta na equipe de Saúde

Esta categoria buscou conhecer qual é a percepção do profissional

fisioterapeuta em relação à sua atuação na equipe de Saúde. É unânime entre os

entrevistados a percepção de que o trabalho interdisciplinar é importante para a

atuação na área da Saúde e de que o mesmo favorece o processo terapêutico.

Segundo Loch-Neckel et al.23 a equipe interdisciplinar de saúde torna-se

importante ao passo que atualmente as demandas de usuários de Saúde são cada

vez mais variadas e singulares, além de estarem em constante transformação. Esta

realidade requer diversidade em sua abordagem e multiplicidade de conhecimentos

para poder superar os desafios que representa. Ou seja, a saúde como um processo

complexo e dinâmico e parte desta nova realidade implica atuação interdisciplinar

para dar conta deste universo de demandas e possibilidades de atuação a fim de

atender às necessidades dos usuários de maneira integral, abrangendo a todos os

fatores envolvidos na vida daquele que procura atendimento. Sobre o tema

expressado acima Loch-Neckel et al.23 concluem que:

O contato dos membros da equipe mínima com as demandas coloca as equipes e seus trabalhadores diante da impotência em dar respostas por meio apenas dos procedimentos técnicos rotineiros, fragmentadores e niveladores e perante a complexidade do objeto da saúde, pois estas necessidades ultrapassam o âmbito para o qual os trabalhadores foram tradicionalmente preparados: o corpo biológico como objeto de trabalho e a centralização das ações nos atos médicos.

Gomes48 complementa o tema dizendo que o saber interdisciplinar dá

condições de ter a visão do todo sobre o homem, o que faz com que o profissional

ultrapasse sua especificidade técnica, buscando a compreensão das implicações

sociais decorrentes de seu atendimento.

Sobre este tema, Loch-Neckel et al.23 afirmam que “o trabalho

interdisciplinar desenvolve a criatividade, originalidade e flexibilidade frente à

diversidade de formas de pensar, frente aos problemas e às suas soluções”. Desta

forma, sua prática garante a superação da fragmentação do saber e do cuidado,

reconhecendo e valorizando as especificidades de cada profissão e não a

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desvalorização de especialidades. Se, de fato, ele acontecesse, não apenas os

profissionais ganhariam com isso, mas principalmente os pacientes, que têm seus

tratamentos fragmentados pela falta da efetiva interação entre os profissionais da

equipe de Saúde. Nesta pesquisa, os relatos concordam com a importância do

trabalho em equipe.

Um modelo mais adequado seria, primeiro, uma equipe interdisciplinar, né? Todo mundo trabalhando junto em conjunto, é… cada um podendo dar sua opinião a respeito daquilo, com a mesma autonomia, com o mesmo respeito, mas visando sempre o paciente, assim, de uma forma global, porque acho que é assim que ele tem que ser abordado (P5).

Apesar de reconhecer essa importância, os entrevistados relatam grande

dificuldade em estabelecer positivamente esta relação na prática. É perceptível o

despreparo para a atuação em equipe.

Tem muita gente. Lá a gente não consegue trabalhar da forma que a gente quer. Não tem comunicação, é por isso que eu falei da questão… do trabalho em conjunto, não existe aqui… Bem frustrante porque você não consegue desenvolver o trabalho que você gostaria de desenvolver. O trabalho interdisciplinar é uma grande barreira. Não existe, na verdade, esse trabalho interdisciplinar (P4).

Foi muito difícil no sentido clínico trabalhar esse próprio processo de atendimento multidisciplinar, embora seja uma coisa que eu acredite muito, não é uma coisa que a gente percebe na prática (P17).

De acordo com os relatos colhidos, diversas são as motivações para que

o trabalho em equipe não seja efetivo. Estudos anteriores também abordam este

tema ressaltando que a formação dos profissionais de Saúde é o fator que mais

dificulta a inserção da interdisciplinaridade na prática do trabalho das equipes,

principalmente porque há priorização de conhecimentos técnicos em detrimento das

práticas voltadas para a comunidade e o incentivo ao trabalho individual em

oposição ao coletivo23. Dessa forma, frente a essa formação cientificista, o

profissional fica carente de uma visão mais global, desconhecendo e, muitas vezes,

desvalorizando o conhecimento e prática de outros profissionais. Ambos os lados

saem perdendo, principalmente, pela falta de compartilhamento e de percepção do

outro e isso só pode ser mudado a partir do momento em que se entender que o

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usuário é o principal afetado diante deste cenário23. O contato tardio com as práticas

interdisciplinares dificulta esta relação no mercado de trabalho, fazendo com que os

profissionais julguem como uma das principais dificuldades em sua atuação o

trabalho em equipe.

É mais a experiência que você vai… adquirindo, é… contar com novos profissionais, porque quando você tá na faculdade você não tem esse contato com psicólogo, médico, nutricionista, todos esses outros profissionais, assistente social, então conforme você vai tendo mais contato, vai tendo mais experiência, eu acho que você começa a pensar mais por esses lados também (P5).

De acordo com Machado44, a “saúde é um campo inesgotável de

conhecimento e de prática profissional e incorpora também novas áreas do

conhecimento”, portanto uma equipe para atuar integralmente diante das demandas

da população, além dos profissionais de Saúde de todas as áreas, deveria também

conter profissionais que até então seriam inimagináveis em equipes de Saúde, tais

como engenheiros, assistentes sociais, economistas, sociólogos, arquitetos,

pedagogos, entre outros. Segundo, porém, pesquisas, profissionais de Saúde

relatam que reconhecem a importância de alterar a composição das equipes de

Saúde, mas pouco ou nada se discute em relação ao tema, nem tampouco ações

são tomadas para tornar essa equipe cada vez mais completa. As razões para não

dialogar ou tomar atitudes quanto ao tema vão desde a insuficiência em contratação

dos profissionais já inseridos nas equipes de Saúde até o descrédito de investimento

público que viabilize novas contratações23.

Apesar de trabalharem, na maioria das vezes, em uma equipe

multidisciplinar, muito raramente os profissionais entrevistados relatam ocorrer um

efetivo trabalho em conjunto, ou seja, a interdisciplinaridade não ocorre. Uma vez

que, segundo Zannon52, a interdisciplinaridade pode ser definida como “ações

conjuntas, integradas e inter-relacionadas, de profissionais de diferentes

procedências quanto à área básica do conhecimento”. O que atualmente é comum

nas equipes de Saúde é a multidisciplinaridade, ou seja, sobreposição de

especialidades em um mesmo espaço, mas é preciso priorizar os objetivos e

dimensões de trabalho comuns, bem como reconhecer as particularidades das

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diferentes formações profissionais, buscando vencer o grande desafio que é a

transição do multidisciplinar para o trabalho interdisciplinar9. Corroboram com isso

Loch-Neckel et al.23 ao relatarem que “o que ocorre nos serviços de Saúde, na sua

maioria, são encontros multidisciplinares, em que os profissionais permanecem com

suas práticas individuais, distanciando-se do trabalho interdisciplinar”.

Nos relatos colhidos, com frequência ao se referirem ao trabalho em

equipe, colocam-no como a convivência com outros profissionais, não identificando

efetivas trocas entre os mesmos a fim de favorecer o atendimento ao usuário. Em

alguns casos, tomam como única prática da interdisciplinaridade o encaminhamento

entre as especialidades.

A gente não tem um trabalho interdisciplinar, mas a gente acaba vivendo junto e tenta fazer um trabalho interdisciplinar, né, porque não é muito possível, mas a gente tenta (P4).

Não é uma equipe formada já, que cada… Todo mundo vai trabalhar junto, não! Você tá trabalhando aqui, você acha que precisa, ah mandar um relatório pra ela, explica o que tá acontecendo e “vamo” ver o que que dá (P5).

A gente trabalhar em equipe... A gente encaminha pra uma avaliação do especialista naquela área (P6).

Ao citar o trabalho na equipe de Saúde e, principalmente, a atuação

interdisciplinar, outra dificuldade que é abordada em diversos estudos é a dificuldade

de comunicação entre os profissionais de Saúde. Essa dificuldade também se

apresenta como barreira para a atuação integral em saúde. Os próprios profissionais

de Saúde percebem esta fragilidade e relatam que, algumas vezes, o que ocorre é o

trabalho multidisciplinar e o mesmo se dá apenas em aspectos técnicos e não no

processo de trabalho4,9,23. Esta dificuldade de comunicação também foi bastante

citada entre os entrevistados como motivação para a dificuldade em se trabalhar em

equipe.

Cada um quer fazer a sua parte e ninguém quer que o outro vá e mexa com sua parte porque vai te dar trabalho depois… Se conversa muito pouco, eu acho que devia ter reuniões, eu acho, poderia ter reuniões semanais com, pelo menos, um membro de cada classe profissional (P4).

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Mesmo você tendo uma equipe grande... Não é uma equipe interdisciplinar, não é uma equipe que conversa entre si, ou que você pode ir lá na sala do cara… pra acompanhar o paciente… então é uma coisa meio desorganizada ainda (P5).

A primeira barreira é uma barreira de diálogo e reunião multiprofissional. Acho que essa é principal barreira: a multidisciplinaridade (P7).

Eu acredito que uma das principais dificuldades do fisioterapeuta, essas barreiras, seria a convivência com outro profissional. Aquele profissional que tem a capacidade para conversar com outros profissionais da equipe. (P16).

Como dito anteriormente, outro tema em relação ao trabalho do

fisioterapeuta na equipe de Saúde considerado foi o fato de os profissionais

fisioterapeutas não se sentirem valorizados como membro das equipes de Saúde,

tendo sua função pouco evidenciada e consequentemente subutilizada. O presente

estudo concorda com estudos anteriores que afirmam que a origem da profissão,

baseada no modelo médico, no qual o fisioterapeuta era submisso a esta classe, a

intensa concorrência do mercado de trabalho e a frequente fragmentação no

atendimento ao paciente favorecem a problemas de relacionamento entre as classes

profissionais que compõem a equipe e até mesmo entre profissionais com a mesma

formação, fato este que prejudica o atendimento integral dos usuários por dificultar

que diversos profissionais com diferentes saberes atuem em conjunto evitando a

fragmentação no atendimento ao paciente7,10. É relatado nos discursos também o

sentimento da escassez de reconhecimento da Fisioterapia por profissionais de

outras classes e também a falta de respeito entre os membros da equipe em relação

às atribuições de cada profissional, caso este relatado principalmente em relação à

classe médica e à equipe de enfermagem.

Tem muita gente ainda que não acredita na Fisioterapia. Falta um pouco de empenho dos fisioterapeutas, mas acho também que da nossa parte, acho que falta um pouco de reconhecimento da medicina ainda (P10).

Tem muitos profissionais de outras equipes, principalmente equipe médica, que não acreditam no que a gente está fazendo, que não entendem como que funciona, que também acham que não tem nenhuma diferença para o paciente… Aconteceu muito com a gente, deles não aceitarem nossas condutas, não aceitarem a nossa

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opinião profissional ou então a gente tem uma conduta e eles vão lá e passam por cima, tiram aquele procedimento que a gente fez, então é complicado, a gente não tem espaço ainda em muitas áreas… em muitas instituições, a gente não tem espaço (P17).

Apesar de ser uma profissão [Fisioterapia] pouco valorizada eu acho ainda, até pelos médicos, pela área assistencial mesmo, pelos enfermeiros, pelos técnicos, eu acho que é uma profissão pouco reconhecida ainda, pela importância que a gente tem dentro de um hospital, mas é válido (P20).

Apenas uma pequena parcela dos participantes além de reconhecer a

importância do trabalho em equipe relata conseguir atuar positivamente em conjunto

com outros profissionais, favorecendo o processo terapêutico.

Tem uma interação de toda a equipe de uma certa forma. Atuação conjunta da equipe que tem que dar o melhor para aquele paciente estar estável e ficar bem pra ter a colaboração do paciente (P1).

Acho importante conversar com o residente o médico e depois juntar a sua avaliação que você fez desde o início juntar o que o médico disse… E aí você elabora um tratamento. O meu tratamento é sempre multiprofissional, então eu peço ajuda para os técnicos, para os enfermeiros, pros residentes e aí elaboro (P14).

Tem o médico, tem a gente, tem os enfermeiros e os técnicos de enfermagem. Um trabalhava ajudando o outro. Comigo era bem tranquilo, a gente se dava super bem. Tinha bastante comunicação entre os profissionais e o apoio (P18).

A atuação em equipe de maneira interdisciplinar também é citada como

algo que os entrevistados consideram importante para que um tratamento tenha

sucesso. Salmória e Camargo7 defendem que a interdisciplinaridade permite ao

fisioterapeuta construir suas práticas com base em novos paradigmas, integrando os

aspectos humanos e sociais, com foco no pensar e agir e na relação de troca com

outras áreas e deve ter em suas diferenças e barreiras, os estímulos para vencer as

dificuldades e buscar formas de cooperação e comunicação, tanto entre áreas

quanto em relação ao usuário. A troca e intersecção de saberes promovem a

assistência global que se mostra mais eficaz por conseguir atingir o paciente em sua

totalidade, embora tenham dificuldades em estabelecer isso na prática.

Outros profissionais também pra buscar ajuda, pra ficar cada vez mais global, né, esse atendimento… Se você focar só ali não vai dar

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certo, só que se você abranger tudo pode ser que dê mais certo… Acho que tem que ter um modelo em que todas as áreas são… abordadas da mesma forma, e com o mesmo valor também (P5).

A gente trabalhar em equipe, então a gente aprende a olhar o paciente de modo geral, não a separar a questão física né… que é o problema e trabalhar essa questão física, mas ver as outras necessidades do paciente, as necessidades emocionais, quais os problemas familiares (P6).

Discutir com a equipe, que é uma coisa muito importante, porque você não trabalha sozinho… Alterar a forma de ensino… não ser só prática, ter um momento de discussão, realmente, eu acho que seria melhor… sentar, reunir, discutir o caso do paciente e ver qual é a melhor opção pra atendê-lo… Capacitar cada vez mais o aluno e estimular realmente essa reunião multiprofissional (P7).

Mesmo quando relatam conseguir trabalhar em equipe, a grande maioria

dos entrevistados usa apenas o termo multidisciplinar. Em nenhuma entrevista o

trabalho em equipe foi caracterizado como interdisciplinar, o que pode ser entendido

como dificuldade no entendimento de como realmente deve ser o trabalho em

equipe, no qual os profissionais e os saberes devem se inter-relacionar, ou até

mesmo dificuldade em diferenciar os termos e consequentemente as práticas multi e

interdisciplinares. Silva e Ros4 citam que o fisioterapeuta está presente em equipes

multidisciplinares desde 2004, com a aprovação de lei para o Programa Saúde da

Família (PSF) do Ministério da Saúde. Apesar desta inserção no PSF e em outros

serviços já ser uma situação positiva, este simples fato não significa que haja um

trabalho em equipe, de acordo com os autores acima. Segundo os mesmos, para

que isso aconteça é necessário organização, compartilhamento de conhecimentos,

articulação do trabalho e esclarecimento sobre as funções de cada profissional em

busca de um objetivo comum, que é a melhora da atenção à saúde da população.

A prática em Saúde baseada no trabalho em equipe de maneira

interdisciplinar melhora a qualidade do atendimento e favorece a humanização do

profissional, ressaltando a importância em realizá-las desde o âmbito educacional,

obedecendo a um dos preceitos básicos da educação interprofissional que diz que

“para trabalhar junto é preciso aprender junto”. Desta maneira, ampliam suas

competências colaborativas, o que favorece o cuidado integral à saúde do

usuário15,16,19,20.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a realização deste estudo buscou-se conhecer a percepção dos

fisioterapeutas em relação às suas atuações no processo terapêutico durante o

aprimoramento, assim como também conhecer a constituição do perfil destes

profissionais, como eles percebem a abordagem de seus pacientes durante suas

práticas, a participação da família nas mesmas e também conhecer suas percepções

sobre como ocorre a atuação do fisioterapeuta na equipe de Saúde. Com isso, por

fim, pudemos identificar quais modelos de intervenção estão influenciando suas

práticas e quais são as motivações que definem a opção por um modelo ou outro de

atuação.

Inicialmente nossa percepção era de que, perpetuando a história da

profissão, a grande maioria dos profissionais fisioterapeutas atuava ainda seguindo

o modelo biomédico de intervenção. Desta maneira, mantinham suas intervenções

priorizadas em aspectos puramente clínicos, biológicos e técnicos. Fato este

considerado consequência da formação inicial, na graduação, voltada para os

mesmos aspectos, seguindo ainda o modelo de ensino médico primitivo.

As entrevistas nos permitiram identificar que os profissionais

fisioterapeutas que participaram deste estudo se encontram ainda bastante

influenciados pelo modelo médico de intervenção, contudo é possível identificar

indícios de que os mesmos se encontram em um processo de transformação,

buscando atuar de maneira mais condizente com os preceitos do atual sistema de

Saúde e com as novas demandas da população, atualmente mais consciente de

seus direitos e mais atuante na reivindicação dos mesmos.

É possível notar que o processo de ensino em Fisioterapia também está

se transformando a fim de preparar profissionais capacitados para atuar de maneira

mais integral em relação a seus pacientes, levando em conta suas intervenções na

prevenção e na promoção da Saúde, formando conhecedores também de saberes

relacionados a outros aspectos da vida dos indivíduos que não apenas os

biomédicos. Cada vez mais, a formação coloca o futuro profissional como parte ativa

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do processo de ensino-aprendizado e busca por um ensino não apenas enfocado na

especialização.

Este estudo conclui que muitas ainda são as barreiras tanto para a

transição do modelo médico de atuação para o modelo biopsicossocial de

intervenção, como também para as mudanças na formação dos futuros profissionais.

Primeiramente estão as barreiras históricas e culturais em relação à origem da

profissão que facilitam a perpetuação dos antigos modelos de ensino e intervenção.

Posteriormente a isso estão os obstáculos relacionados aos serviços de Saúde e às

condições de trabalho impostas pelos mesmos e, até mesmo, barreiras relacionadas

aos próprios profissionais de Saúde e à interação entre diferentes classes

profissionais. Muitas vezes, foi possível perceber que os profissionais estavam

conscientes de que poderiam atuar com uma postura mais integral e eficaz, mas se

mostravam frustrados por não conseguirem desenvolver o seu trabalho desta

maneira.

A característica dos serviços de Saúde tem importante relação com a

formação dos profissionais, suas práticas e a gestão dos mesmos e dos serviços nos

quais se inserem. Por este motivo mostra-se importante este estudo e a realização

de estudos complementares, para que possam ser criadas estratégias para atuar

que considerem os aspectos biopsicossociais, estratégias essas que possam

propiciar cada vez mais qualidade aos serviços de Saúde prestados à população.

A mudança do modelo hegemônico para o modelo não hegemônico

implica uma transformação cultural, social e prática, tanto na formação dos

profissionais, como na gestão e também na prestação de serviços, preconizando a

postura ética de respeito ao semelhante, de acolhimento e de respeito ao usuário,

que deve ser visto como cidadão e não apenas como um consumidor de serviços de

Saúde e, por isso configura-se como um grande desafio.

Sendo assim, é preciso uma ação conjunta entre instituições de ensino

superior, docentes, alunos e profissionais fisioterapeutas, assim como também é

necessária a colaboração dos usuários. É necessário que profissionais da Saúde

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observem a necessidade de direcionar sua atuação na promoção da saúde e na

prevenção, levando-os a considerar as condições sociais e humanas envolvidas na

manifestação das doenças e nas suas disfunções, proporcionando atenção à saúde

centrada no sujeito de forma integral. A integralidade deve ser o ponto fundamental

nas discussões das políticas públicas, sendo necessário compreendê-la e executá-la

em todos os seus sentidos, ou a prática biomédica hegemônica persistirá.

Entre as estratégias para favorecer esta transição encontram-se três

principais vertentes: as mudanças nas práticas e na gestão dos serviços de saúde,

as mudanças nos poderes públicos; e as mudanças na formação, tanto de futuros

profissionais como dos que já atuam nos serviços de saúde e na carreira docente.

Em relação à prática nos serviços de Saúde, são necessárias mudanças

em relação aos profissionais, aos usuários e aos gestores. Os profissionais de

Saúde devem conhecer a realidade do sistema de Saúde vigente e dos usuários e

se enquadrarem às suas necessidades, sempre pautando seu trabalho na atuação

em equipe. Os usuários devem ser mais ativos no processo de saúde-doença e

reivindicar seus interesses em relação à saúde. Por fim, os responsáveis pela gestão

devem buscar constante aprimoramento, rendimento e efetividade na administração

dos serviços, buscando a organização dos processos de trabalho. Devem priorizar

os mecanismos de planejamento e avaliação, na dinâmica de interação das equipes

de Saúde para aumentar seu grau de comunicação e intercessão destas com outras

equipes, tanto nos serviços quanto em outras esferas do sistema.

Tais mudanças dependem também dos poderes públicos, que devem

engajar-se na implantação e na melhoria de políticas que favoreçam a prestação de

serviços de Saúde de qualidade e que estejam de acordo com as necessidades da

população e com os princípios do SUS, a fim de impactar positivamente o perfil de

Saúde.

Em relação à formação, é ressaltada a importância de que a mesma

ocorra de maneira continuada, a fim de manter os profissionais preparados para

atender as demandas em Saúde, que se alteram constantemente, e para que

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profissionais veteranos possam participar da formação de futuros profissionais de

maneira coerente com tais mudanças. A reestruturação curricular também é

fundamental para que maior ênfase seja dada à atenção básica, à atuação em

equipe desde o início da formação, à aproximação entre teoria e prática e ao papel

ativo do profissional de Saúde, na construção de uma saúde mais integral e

humanizada. Mostra-se importante também que futuros profissionais sejam

incentivados a buscar como ambientes de prática a comunidade, o domicílio e a rede

básica de Saúde por meio de uma formação que enalteça a atuação mais próxima

ao usuário e à comunidade e a busca por atuar na prevenção e promoção de Saúde.

Sendo assim, os profissionais de Saúde devem estar bem preparados e

informados sobre as políticas de Saúde e, particularmente sobre o SUS e todos os

sujeitos envolvidos no processo devem exercer papel ativo na busca pela

assistência em Saúde que considere seus princípios e diretrizes, assim como a

humanização do cuidado, para que desta maneira os processos terapêuticos

possam aproximar-se cada vez mais de um modelo que considere o paciente em

suas dimensões biológica, psicológica, social e ecológica.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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30 Minayo, M.C.S. O desafio do conhecimento: Pesquisa Qualitativa em Saúde. (12ª ed.). São Paulo: Hucitec-Abrasco; 2010.

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32 Bogdan, R.C, Biklen, S.K. Qualitative research for education: an introduction for theory and methods. (3 ed.). Boston: Allyn and Bacon; 1998.

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34 Bleger, J. Temas de psicologia: entrevista e grupos. São Paulo: Martins Fontes; 1993.

35 Triviños, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1987.

36 Lakatos, E.M, Marconi, M.A. Fundamentos de Metodologia Científica. (4a

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38 Lefèvre, F, Lefèvre, A.M.C. O Discurso do Sujeito Coletivo Um novo enfoque em pesquisa qualitativa Desdobramentos. Caxias do Sul: Educs; 2003.

39 Lefèvre, F, Lefèvre, A.M.C. Depoimentos e Discursos Uma nova proposta de análise em pesquisa social. Brasília: Liberlivro; 2005.

40 Lefèvre, F, Lefèvre, A.M.C. Pesquisa de Representação Social Um enfoque qualiquantitativo. Brasília: Liberlivro; 2012.

41 Duarte, S.J.H, Mamede, M.V, Andrade, S.M.O. Opções Teórico-Metodológicas em Pesquisas Qualitativas: Representações Sociais e Discurso do Sujeito Coletivo. Saúde Soc. 2009;18(4): 620-626.

42 Malerbi FEK, Castro Y. Análise dos dados obtidos no I censo dos Fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais do Estado de São Paulo; Crefito-3. No prelo 2008.

43 Gasparotto, L.P.R, Dos santos, J.F.F.Q. A importância da análise dos gêneros para fisioterapeutas: enfoque nas quedas entre idosos. Fisioter Mov. 2012;25(4): 701-707.

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45 Moura, L.S, Kantorski, L.P, Galera, S.A.F. Avaliação e intervenção nas famílias assisti das pela equipe de saúde da família. Rev Gaúcha Enferm. 2006;27(1): 35-44.

46 Silva, M.C.L.S.R, Silva, L, Bousso, R.S. A abordagem à família na Estratégia Saúde da Família: uma revisão integrativa da literatura. Rev Esc Enferm USP. 2011;45(5): 1250-1255.

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48 Gomes, D.C.R. Equipe de saúde: o desafio da integração. Uberlândia: Editora da Universidade Federal de Uberlândia; 1997.

49 Ragasson CAP et al. Atribuições do fisioterapeuta no programa de saúde de família: reflexões a partir da pratica profissional, 2003 [acesso em 2015 out 15]. Disponível em: <http://www.abenfisio.com.br/ arquivos.php>. Naves, C. .R, Brick, V. .S. Análise quantitativa e qualitativa do nível de conhecimento dos alunos do curso de fisioterapia sobre a atuação do fisioterapeuta em saúde pública . Ciência & Saúde Coletiva 2011;16(1): 1525-1534.

50 Ferreira, F. .N, Leão, I, Saqueto, M. .B, Fernandes, M. .H. Intervenção fisioterapêutica na comunidade: relato de caso de uma paciente com AVE. Rev Saúde.com . 2005;1(1): 35-43.

51 Zannon, C.M.A.C. Desafios à psicologia na instituição de saúde. Psicologia: Ciência Profissão. 1994;13(1): 16-21.

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7. APÊNDICES

7.1. Termo de Consentimento livre e esclarecido

Título da pesquisa: Modelos intervencionistas adotados no programa de

aprimoramento em Fisioterapia em um hospital escola em Campinas, SP.

Pesquisadora responsável: Larissa Roberta Andrade Pereira

Orientador: Prof. Dr. Roberto Benedito de Paiva e Silva

Número do CAAE: 34583514.0.0000.5404

Você está sendo convidado (a) a participar como voluntário (a) do

presente estudo de mestrado. Este documento, chamado Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido, visa a assegurar seus direitos como participante e é elaborado

em duas vias, uma que deverá ficar com você e outra com a pesquisadora.

Por favor, leia com atenção e calma, aproveitando para esclarecer suas

dúvidas. Se houver perguntas antes ou mesmo depois de assiná-lo, você poderá

esclarecê-las com a pesquisadora. Se preferir, pode levar para casa e consultar

seus familiares ou outras pessoas antes de decidir participar. Se você não quiser

participar ou retirar sua autorização, a qualquer momento, não haverá nenhum tipo

de penalização ou prejuízo.

Justificativa e objetivos: Esta pesquisa consiste em identificar os

modelos intervencionistas adotados no programa de aprimoramento para

fisioterapeutas no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências Médicas da

UNICAMP, permitindo conhecer os fatores envolvidos para a elaboração nos planos

de intervenção. Pretende-se que esta pesquisa possibilite o conhecimento de como

os fisioterapeutas tem planejado seus planos de intervenção se baseando no

modelo hegemônico ou consideram fatores outros em sua prática.

Procedimentos: Participando do estudo, você está sendo convidado a

participar de uma entrevista individual a respeito de sua vivência como

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fisioterapeuta. As perguntas referem-se a sua experiência diária junto aos pacientes,

sua formação enquanto fisioterapeuta, dentre outras. A entrevista será realizada no

ambulatório da sua atuação no Hospital de Clínicas da Faculdade de Ciências

Médicas - UNICAMP e será registrada por meio de gravações de áudio, para

posterior transcrição literal e análise dos dados.

O tempo da entrevista não é pré-estabelecido podendo variar conforme a

história relatada. Caso você fique cansado (a) ou se sinta mal durante os relatos,

poderemos dar continuidade à entrevista em outro dia.

Desconforto e riscos: Não há riscos previsíveis ou passíveis de

prevenção para os participantes da presente pesquisa. Você não deve participar

deste estudo se não estiver de acordo com o presente termo e poderá se recusar a

participar da pesquisa, assim como interromper sua participação a qualquer

momento, sem prejuízo de qualquer espécie.

Benefício Esperado: Organizar e sistematizar as informações

disponíveis visando a contribuir com profissionais afins através dos conhecimentos

divulgados por meio desta pesquisa.

Sigilo e privacidade: Você tem a garantia de que sua identidade será

mantida em sigilo e nenhuma informação será dada a outras pessoas que não

façam parte da equipe de pesquisadores. Na divulgação dos resultados desse

estudo, seu nome não será citado.

Ressarcimento: A sua participação irá ocorrer durante os dias em que

normalmente teria que comparecer no Hospital de Clínicas para a sua rotina de

trabalho, não gerando assim custos ou ganhos financeiros adicionais.

Resultados: Os resultados da entrevista estarão à disposição dos

participantes. Os dados serão utilizados para artigos científicos e apresentações em

eventos científicos e serão mantidos pela pesquisadora por um período de dois

anos.

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Contato: Em caso de dúvidas sobre o estudo, você poderá entrar em

contato com a pesquisadora ou seu orientador:

Pesquisadora responsável: Larissa Roberta Andrade Pereira

Telefone: (19) 3289-0256 / (19) 99222-6912

Endereço: Rua Marcos Antônio Dias, 43

Barão Geraldo – Campinas, SP

E-mail: [email protected]

Barão Geraldo – Campinas – São Paulo – Brasil

CEP: 13085-030

Orientador: Prof. Dr. Roberto Benedito de Paiva e Silva

Local de Trabalho: CEPRE – FCM – UNICAMP

Telefone: 3521 8816 / 3521 8805

Endereço: Rua Tessália Vieira de Carvalho, 126 – CEP: 13084-971.

Barão Geraldo – Campinas, SP

Em caso de denúncias ou reclamações sobre sua participação e sobre

questões éticas do estudo, você pode entrar em contato com a secretaria do Comitê

de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP: Rua Tessália Vieira de Camargo, 126;

CEP 13083-887 Campinas – SP; telefone (19) 3521-8936; fax (19) 3521-7187; e-

mail: [email protected]

Consentimento livre e esclarecido:

Após ter tido esclarecimento sobre a natureza da pesquisa, seus

objetivos, métodos, benefícios previstos, potenciais riscos e o incômodo que esta

possa acarretar, aceito participar e:

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( ) sim, autorizo a gravação em áudio da entrevista

( ) não autorizo a gravação em áudio da entrevista

Nome da participante: _____________________________________,

RG: ______________________________

Data: ____/_____/______

______________________________________________

(Assinatura da participante)

Responsabilidade do Pesquisador:

Asseguro ter cumprido as exigências da resolução 466/2012 CNS/MS e

complementares na elaboração do protocolo e na obtenção deste Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido. Asseguro, também, ter explicado e fornecido

uma cópia deste documento ao participante. Informo que o estudo foi aprovado pelo

CEP, perante o qual o projeto foi apresentado. Comprometo-me a utilizar o material

e os dados obtidos nesta pesquisa exclusivamente para as finalidades previstas

neste documento ou conforme o consentimento dado pelo participante.

Data: ____/_____/______

________________________________________________

(Assinatura do pesquisador)

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7.2. Roteiro de entrevista

Entrevista Número: __________________ Data: ____/____/____

Idade: ____________________________

Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

Tempo de Formado: _________________

Público ( )

Privada ( )

Área de Atuação:

( ) Disfunções ortopédicas e traumatológicas ( ) Cardiorrespiratória

( ) Pediatria ( ) Neuro Infantil

( ) Terapia intensiva

QUESTÕES NORTEADORAS:

Fale um pouco sobre a sua opção em trabalhar com (Área de atuação).

Durante sua prática clínica, quais os aspectos do seu paciente que lhe chamam a atenção?

Qual(is) o(s) fator(es) que você considera importante na elaboração dos procedimentos de intervenção em Fisioterapia?

O sucesso de um procedimento em fisioterapia, segundo a sua experiência, está associado a que fatores?

Quais motivações você acredita que o (a) levaram a optar por este modelo de intervenção?

A que você atribui seu modelo de intervenção? Você acredita ser esta a melhor maneira de intervir? Se não, o que faz com que você mantenha esta maneira de intervir? Quais as barreiras que a impedem de abordar o paciente da maneira que

você considera melhor?

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8. ANEXOS

8.1. Autorizações para coleta de dados

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8.2. Aprovação do comitê de ética em pesquisa