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VidaEconómica 2011 PERSPECTIVAS MAPA DA RECUPERAÇÃO ECONÓMICA As previsões para todas as regiões do Mundo Crescimento, mercados… A opinião dos especialistas O que esperam os líderes portugueses

Perspectivas 2011

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Perspectivas 2011

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Page 1: Perspectivas 2011

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2011PERSPECTIVASMAPA DA RECUPERAÇÃO ECONÓMICA

O FUTURO DO DÓLARO maior risco para a manutenção do papel do dólar é a grande e crescente dívida pública dos EUA. A perspectiva de Martin Feldstein.

Pág. 69

PORTUGAL 2011: INÍCIODE UMA NOVA ERAÉ impensável continuar a corrigir o desequilíbrio orçamental pelo lado da receita, considera António Saraiva, presidente da CIP.

Pág. 22

As previsões para todas as regiões do MundoCrescimento, mercados… A opinião dos especialistas

O que esperam os líderes portugueses

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Sumário

PERSPECTIVAS 2011 3

FICHA TÉCNICA

Editor: Vida Económica Editorial, SA

Rua Gonçalo Cristóvão, 111

4049-037 – Porto

Director: João Peixoto de Sousa

Chefe de Redacção: Virgílio Ferreira

Traduções: Lisbeth Ferreira e Guilherme Osswald

Design gráfico: Célia César, Flávia Leitão e José Barbosa

Edição Portuguesa Impressa por

Peres-Soctip, Indústrias Gráficas, SA

Estrada Nacional 10, Km 108,3

2135-114 Samora Correia – Portugal

Copyright Portugal

Vida Económica Editorial, SA

6 Editorial

Estratégias

7 A crise financeira ficou para trás da NissanCarlos Ghosn, director executivo da Nissan e da Renault

11 É possível que ocorram outras aquisições se o Barclays encontrar activos ao preço certoBob Diamond, CEO do Barclays

18 O pessimistaJoseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia previu a crise financeira global

20 Emprego tende a recuperar nos Estados UnidosOs Estados Unidos da América representam um quinto da economia mundial e os seus mercados de equities correspondem a cerca de metade dos mercados globais

Portugal

22 Portugal 2011: início de uma nova eraAntónio Saraiva, Presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal

24 G20, Basileia III e o sistema bancário mundialJosé Galamba de Oliveira, Presidente da Accenture Portugal

26 As pequenas e médias empresas e o crescimento económico em PortugalJosé Fernando Figueiredo, Presidente da SPGM

30 “Portugal. A minha primeira escolha”: o lema para 2011José Ramos, Presidente da Toyota Caetano Portugal e CaetanoBus

32 Mais informação em tempo de criseIsabel Reis, Directora-Geral, EMC Portugal

35 O papel da tecnologia no futuro do sushiSusana Soares, Directora de Marketing da Fujitsu

37 2011: frugalidade, ambição e internacionalizaçãoRui Paiva, CEO da WeDo Technologies

Europa

39 Zona Euro com crescimento tímido e vulnerávelEstá em curso uma recuperação limitada, sujeita a fortes riscos colaterais

43 Alemanha cresce ao nível mais elevado dos últimos 20 anosNum período de tendências incertas, 2011 deverá ser um ano de paradoxos

45 Redução dos estímulos fiscais ameaça o crescimento em FrançaO próximo ano será decisivo para o Presidente Nicolas Sarkozy, à medida que se prepara para as eleições presidenciais

48 Em defesa do euroChristine Lagarde, Ministra da Economia, Indústria e Emprego da França

50 Reino Unido corta na despesa e elimina 490 mil empregos na função públicaO ano será dominado pela implementação da política do governo de coligação

52 Será que os bancos centrais ainda podem influenciar as taxas de câmbio?Howard Davies, Director da London School of Economics

54 Países da Europa Central e de Leste vão crescer em 2011A recuperação económica será frágil

58 Economia russa sensível a factores externosPerspectivas económicas da Rússia continuam altamente sensíveis a factores externos

61 Políticas russas numa encruzilhada eleitoralA Rússia vai defrontar-se com uma encruzilhada no ciclo eleitoral de 2011-2012

Estados Unidos da América

65 Emprego tende a recuperar nos Estados UnidosO destino da economia global vai passar por crescentes pressões inflacionistas mas em contrapartida vai enfrentar delação e um abrandamento da econo.mia

69 O futuro do dólarMartin Feldstein, Professor de Economia na Universidade de Harvard

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Sumário

4 PERSPECTIVAS 2011

71 Um mundo com múltiplas reservas cambiaisBarry Eichengreen, professor de Economia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, Berkeley

72 “Sinto-me confortável com o meu lugar na história”George Bush apresenta as suas opiniões sobre uma presidência controversa

Ásia

77 China reforça aposta no desenvolvimento e prevê crescer 10%A China vai ser testada com um ano de incerteza externa e com grandes desafios.

81 O renminbi segue em frenteMartin Feldstein, Professor de Economia na Universidade de Harvard

84 Política interna e política externa na China sintetizam os dois sistemasA liderança do Partido Comunista Chinês (PCC) enfrenta importantes desafios

86 A diplomacia do dólar e as décadas perdidas do JapãoTakatoshi Ito, professor de Economia na Universidade de Tóquio

Médio Oriente e África

88 Estados do Golfo em fase de acalmia política e económicaAs monarquias do CCG podem esperar um ano calmo e de crescimento consistente, em 2011

92 As erradas ambições monetárias de ÁfricaSanou Mbaye, Ex-membro do Banco Africano de Desenvolvimento

Internacional

94 Mercados emergentes alimentam crescimento globalEstá na mesa uma moderação no crescimento, mas os mercados emergentes vão continuar a alimentar a expansão internacional.

98 Dilma Rousseff pretende consolidar ciclo de expansão no BrasilA 1 de Janeiro, Dilma Rousseff será empossada como a primeira presidente mulher do Brasil

102 A montanha-russa monetária na América LatinaMario I. Blejer, Antigo Governador do Banco Central da Argentina

104 Comércio mundial deve crescer 7% em 2011Nas últimas décadas, os volumes de comércio aumentaram quase sempre mais depressa que o rendimento mundial

108 Ameaça terrorista tende a diminuirApesar de alguns sucessos alcançados em 2010 contra movimentos terroristas de cariz jihadista, os ataques vão continuar

Energia

112 Países emergentes garantem estabilidade nos preços do petróleoSe a recuperação económica se mantiver, a OPEP não terá grandes dificuldades para garantir os níveis dos preços do petróleo

116 A energia mais económica continua a ser o petróleoChristophe de Margerie, Presidente da Total, prefere não ver os problemas da indústria a preto e branco

Gestão

118 Mulheres cada vez mas no topo de gestãoAs 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa

121 O futuro do trading de divisasHans-Joerg Rudloff, Presidente do Conselho de Administração do Barclays Capital

122 Ganhar para doarBill Gates e Warren Buffett querem que os bilionários do mundo doem metade da sua riqueza

129 Enquadrar a inovação com as necessidadesMenos de metade dos lançamentos de novos produtos efectuados ao longo dos últimos três anos foram bem sucedidos.

DESTAQUES

G20, Basileia IIIe o sistema bancário mundial

Para enfrentar o futuro, cabe aos bancos elevar significativamente o nível de enfoque e rigor em relação à qualidade e à manutenção de dados no conjunto de actividades de front-office e back-office, defende José Galamba de Oliveira, Presidente da Accenture Portugal. Pág. 24

As pequenase médias empresase o crescimento económico em Portugal

Qualquer solução parao crescimento económico e para o aumento dos níveis de emprego passa necessariamente pelo desenvolvimento do potencial das pequenase médias empresa, afirma José Fernando Figueiredo, presidente da SPGM. Pág. 26

Em defesa do euro

Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico europeu, proposto principalmente pela Chanceler alemã, Angela Merkel e pelo Presidente de França, Nicolas Sarkozy. A perspectiva de Christine Lagarde, ministra da Economia de França. Pág. 48

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Editorial

6 PERSPECTIVAS 2011

Apesar do clima de instabilidade e de incerteza que tem sido uma constante no passado recente, o ano de 2011 promete ser claramente melhor do que os anteriores.O ciclo negativo dos últimos anos parece final-mente inverter-se. A generalidade dos países retoma um ritmo de crescimento próximo dos níveis que eram considerados normais antes da crise financeira.A recuperação não é - nem poderia ser – uni-forme, havendo países e regiões com desempe-nho e perspectivas claramente mais favoráveis.Na zona Euro o ritmo de crescimento é posi-tivo, mas inferior à média dos países ocidentais. As discrepâncias dentro da própria UE eviden-ciam uma Europa a duas velocidades, com os países do Sul e a Irlanda claramente pior do que os países do centro e do norte.A Alemanha assume novamente o papel de locomotiva da economia europeia, devendo crescer 3,7% em 2011. Além de ser a maior economia da União Europeia é também a que mais cresce, o que surpreende pela positiva. Num país com a dimensão e o nível de desen-volvimento da Alemanha o crescimento seria teoricamente mais difícil do que nos países onde a base actual é inferior. E o bom exemplo germânico também contempla o equilíbrio das contas públicas, com um défice orçamental de 2,7%, dentro dos níveis fixados em Maastricht antes da crise financeira. Neste surto de cresci-mento a Alemanha é acompanhada pela vizi-nha Polónia que cresce a um nível semelhante ou mesmo superior e também com as finanças públicas equilibradas.Para os Estados Unidos, a projecção de cres-cimento está entre os 2,2% e 2,5%, um valor claramente favorável e positivo para a recupe-ração global, na medida que se trata da maior economia do mundo.

A tendência positiva também se reflecte no comércio mundial que deverá crescer 7% em 2011, reflectindo a evolução das trocas co-merciais, a interdependência mas também a estabilidade da actividade económica à escala global.As perspectivas para 2011 que apresentamos aos leitores nesta edição especial marcam o início da cooperação entre a Vida Económica e a Uni-versidade de Oxford que se vai materializar em várias vertentes. No ambiente global e competi-tivo que vivemos é importante que as empresas e as instituições portuguesas tenham acesso a informação e serviços internacionalmente re-conhecidos pelos altos níveis de qualidade e excelência.

Foi também com esse objectivo que no âmbito das publicações para o sector imobiliário desen-volvemos nos últimos anos a cooperação com o IPD – Investment Property Databank, criando serviços de informação que hoje são utilizados pela maioria dos operadores e fundos de inves-timento portugueses.Esperamos que esta antevisão globalmente po-sitiva da economia em 2011 se confirme, de-sejando que os leitores extraiam os dados mais relevantes e antecipem as tendências, de forma a identificar as melhores oportunidades nos seus sectores de actividade.

Um anocom expectativas positivas

A Alemanha assume novamente o papel de locomotiva da economia europeia, devendo crescer 3,7% em 2011.

João Luís de SousaDirector adjuntoda Vida Económica

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Estratégias

18 PERSPECTIVAS 2011

O pessimistaStiglitz, o economista prémio Nobel e 30º lugar no Índice de Global Thinkers, foi um dos primeiros a prever a crise financeira global – e tem sido desde então um dos principais críticos da resposta do governo americano. Em conversa com Benjamin Pauker, da Política Externa, Stiglitz explica porque é que ainda não está a celebrar.

Está preocupado com os movimentos da Reserva Federal que visam o crescimento da economia dos EUA?Joseph Stiglitz: Acho surpreendente que a Reserva Federal tenha sido tão lenta a detec-tar a natureza dos problemas que a econo-mia americana tem de enfrentar e que seja, irracionalmente, optimista face à persistência dos problemas. Mas talvez isso não seja sur-preendente. Ben Bernanke estava na Reserva

no período em que o Greenspan estava lá a rebentar a bolha, e estava na Reserva quando a bolha estourou.Acho que um erro crítico de Obama foi man-ter tantas das pessoas que estavam no centro da filosofia económica que tinha contribu-ído para a criação da bolha e para o movi-mento de desregulamentação associado. A consequência foi que tentaram minimizar a dimensão do problema.

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Portugal

30 PERSPECTIVAS 2011

2011 terá de ser um ano de acções con-cretas e opções profundas, priori-

tariamente concentradas num universo territorial chamado Portugal. Pode ser uma opção egoísta e, à primeira vista, limitada, mas entendo que es-tamos num tempo de cuidar que nos está mais próximo. Aliás, só poderemos ter uma visão glo-bal se começarmos por uma ingerência à nossa escala! Assim, dada a incerteza ainda maior que vivemos e a necessidade de afastar prognósticos pessimis-tas, decidi concentrar-me num tema que, além de ser 100 por cento português, acredito que seja um promissor desafio para os portugueses en-quanto povo diligente e para Portugal enquanto região demarcada. “Portugal. A minha primeira escolha” é um pro-jecto da AEP (Associação Empresarial de Portu-

gal) que conta com 470 empresas aderentes que representam 1600 marcas, um volume de negó-cios de 9 mil milhões de euros e 55 mil postos de trabalho, o qual pretende estimular o consumo de produtos nacionais.Mais do que reduzir as importações, esta ini-ciativa tem o potencial de contribuir para o au-mento da produção nacional, com consequências directas na nossa economia, na taxa de desem-prego, no PIB e demais indicadores determinan-tes para a saúde económico-financeira do nosso País e melhoria dos níveis sociais.Consumir o que é feito em Portugal, por portu-gueses, é desígnio de cada um de nós e um com-promisso de todos perante o futuro deste País

com mais de oito séculos e uma história digna de engrandecimento de uma nação.Privilegiar marcas com rótulo “Made in Portu-gal” é a maior prova do nosso salutar orgulho nacional; é também sinal da nossa inteligência cívica, na medida em que estamos a preferir pro-dutos concebidos, moldados e produzidos pelos engenho e habilidade lusos. Pensar o contrário é sinónimo de provincianismo tacanho e medio-cridade patriótica. A prova de que fazemos bem está na nossa taxa de exportações. Com um volume superior a 31 mil milhões de euros, é actualmente o mais forte pilar de sustentação da nossa frágil economia, porque os nossos produtos são de excelência, competitivos e diferenciadores. Se os consumido-res de outros países preferem o que é feito neste território, por que não somos nós os principais admiradores do que aqui é produzido?Entidades públicas e privadas e o cidadão comum, ao seleccionarem o que é nacional, esta-rão também a cooperar para a prática de preços mais competitivos, face à concorrência estran-geira, e a dinamizar a nossa oferta, tornando-a mais acessível. De igual forma, estar-se-á a au-mentar os índices de sustentabilidade nacionais, ao reduzir o impacto do fluxo da distribuição na produção de emissões poluentes, ao mesmo tempo que se estará a colaborar para aumentar o trabalho e potenciar a riqueza nacional.Em quase todos os sectores de actividade encon-tramos marcas portuguesas de nomeada. Desde a alimentação, passando pelo vestuário e calçado, até aos transportes, mobiliário e máquinas-ferra-menta, Portugal possui marcas de referência, pela sua qualidade, inovação e criatividade.Estamos na NASA e na Casa Branca. Partilha-mos da intimidade de muitos xeques milioná-rios do Médio Oriente e integramos cenários de Hollywood. Competimos ao mais alto nível nos Jogos Olímpicos e transportamos passageiros na maior parte dos aeroportos internacionais. Re-volucionamos no exigente mundo da saúde e completamos colecções no exuberante mundo da moda… Não é só no futebol que temos os maiores ícones portugueses! Não tão mediáticos, em muitas partes do globo encontra-se valor de marca com as cores da nossa bandeira.

OPINIÃO

José Ramos*

Presidente da Toyota Caetano Portugal e CaetanoBus

“Portugal. A minha primeira escolha”: o lema para 2011

Privilegiar marcas com rótulo “Made in Portugal” é a maior prova do nosso salutar orgulho nacional; é também sinal da nossa inteligência cívica, na medida em que estamos a preferir produtos concebidos, moldados e produzidos pelos engenho e habilidade lusos.

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Europa

PERSPECTIVAS 2011 39

Zona Euro com crescimento tímido e vulnerávelEstá em curso uma recuperação limitada, mas inconsistente e sujeita a fortes riscos colaterais, tornando o crescimento da zona euro mais fraco do que qualquer outra grande região a nível global. Apesar de uma forte recuperação de alguns indicadores-chave, e de algumas economias a nível individual, tal como a Alemanha, a periferia da Zona Euro vai continuar vulnerável às fraquezas de uma procura endógena e a choques especulativos exógenos.

AnáliseEmbora as 16 economias da Zona Euro sejam bastante diferentes em termos de dimensão, as cinco maiores – Alemanha, França, Itália, Espa-nha e Holanda – respondem por cerca de 83% do PIB da região. Enquanto a Zona Euro a nível global sofreu uma contracção durante a recessão global, verificaram-se fortes diferenças na dureza dos efeitos em vários países.

Indicadores positivos Depois de 5 trimestre sucessivos de contrac-ção, o crescimento aumentou, com a maioria dos principais indicadores a registar melhorias na segunda metade de 2010 comparativamente com o ano anterior. Como consequência, as previsões têm vindo a ser corrigidas para cima.

Crescimento. De acordo com o FMI, o cresci-mento vai descer dos 1,7% de 2010 para 1,5%, como reflexo do abrandamento previsto para o comércio global e também como consequência de um euro mais forte. Todavia, a expansão po-derá ficar-se pelos 0,5%, afirmou o Banco Cen-tral Europeu em Setembro.

Desemprego. A taxa estabilizou nos 10,1%, com melhorias relevantes na Alemanha.

Inflação. Actualmente nos 1,9%, a inflação vai manter-se, durante o próximo ano, num nível abaixo dos 2%.

Procura. As encomendas industriais aumenta-ram, em Agosto, reflectindo acima de tudo a

procura crescente de bens de investimento da Alemanha, uma tendência que poderá abrandar na Europa mas que deverá manter-se nos mer-cados emergentes.

Confiança. O indicador do sentimento econó-mico da Comissão Europeia subiu para 104,1 em Outubro, o valor mais elevando em 34 meses, e o Índice de Gestores de Compras para os sectores da indústria e serviços na Zona Euro, embora tenha descido ligeiramente, manteve-se acima dos 55, ainda em terreno bastante po-sitivo. No entanto, é possível que estes valores entrem em declínio em 2011, enquanto as me-didas de austeridade fazem efeito.

Motivos de alertaDurante a contracção global registada em 2009, a Zona Euro foi bastante afectada. A recuperação foi lenta – mesmo assumindo que as previsões de crescimento para 2011 não são demasiado optimistas, o PIB agregado não deverá conseguir recuperar, até finais de 2011, os valores de 2007. Em contrapartida, outras regiões do mundo vão apresentar evoluções entre modestas e elevadas. A escala de recuperação dos níveis extremamente baixos de 2009 será ainda mais acentuada em 2010, tendo em conta as medidas de um pacote de estímulos aplicados na maioria das economias mais desenvolvidas. Consequentemente, o ritmo de desenvolvimento da produção global e do co-mércio vai diminuir em 2011, levantando pro-blemas para as regiões mais pobres do mundo:

1. Modelo de crescimento. A fraqueza re-lativa da tendência de crescimento na UE e na

RESUMO ESTRATÉGICO

• Este ano, o crescimento vai reduzir de um valor estimado de 1,7% para um valor tão baixo como os 0,5%.

• A tendência para um crescimento divergente vai continuar – a Alemanha vai beneficiar do modelo de crescimento orientado para as exportações, enquanto os países periféricos (Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha) vão debater-se para conseguir manter um crescimento ainda que modesto.

• A ênfase numa rápida redução do défice, combinada com taxas de crescimento reduzidas, vai aumentar as vulnerabilidades dos países periféricos face aos mercados obrigacionistas, fazendo com que estes tenham ainda mais dificuldades em se refinanciarem.

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Europa

48 PERSPECTIVAS 2011

OPINIÃO

Christine Lagarde*

Para qualquer pessoa que viva num dos 16 Estados-membros da Zona Euro, o está-vel sucesso do euro é um assunto tanto técnico como emocional, envolvendo

tanto a mente como o coração. Considero in-contestável que o euro é vital para a Europa, e, na verdade, para a economia mundial.Antes de mais, é necessário lembrar que a ideia de uma Europa unida começou como um pro-jecto para garantir a paz e a democracia entre os europeus. Quando, em 1999, a nova moeda foi introduzida – e mais ainda quando os cidadãos europeus tiveram a primeira oportunidade de a utilizar em Janeiro de 2002 –, esta foi vista como a prova mais tangível e decisiva de que a inte-gração europeia era uma realidade. É quase um slogan: o euro na carteira e a Europa no bolso.Vinte anos depois da eleição do Parlamento Eu-ropeu por sufrágio universal em 1979, a introdu-ção do euro marcava a lógica extensão do sonho Europeu.No entanto, também é preciso lembrar que, quando em 2007 a Eslovénia entrou na Zona

Euro, muitas pessoas defendiam que o país estava de certo modo a entrar na “Velha Europa”. Mas Chipre, Malta e Eslováquia seguiram depois o exemplo e adoptaram o euro como a sua moeda. Desde Dublin, na costa do Mar da Irlanda, a Bratislava, no sopé dos Cárpatos, utilizam-se as mesmas moedas e notas, e estas alargam pro-gressivamente as fronteiras da União Europeia. Amanha vão surgir novos membros, tais como a Estónia, que deverá entrar na Zona Euro a 1 de Janeiro de 2011. Os “Pais da Europa” estavam certos ao afirmar que “a Europa não vai ser feita toda de uma vez”, nem a Zona Europa. A nossa moeda única deve

ser vista como um símbolo inspirador – o sím-bolo de uma Europa vibrante, atraente e, acima de tudo, coesa.A experiência dos últimos meses demonstrou até que ponto a Europa pode ser coesa. Sem sur-presas. A história do euro passou a representar o passo seguinte na contínua saga da economia eu-ropeia, que tem estado em constante construção desde o Tratado de Roma. O apoio financeiro prestado à Grécia, o novo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, que criámos para alargar as garantias aos Estados-membros da Zona Euro com dificuldades; e os nossos esforços para conseguir uma regulação financeira mais eficaz são alguns dos exemplos mais recentes da colocação em prática da coesão da Europa.Reconhecidamente, as várias crises que afectam a Zona Euro destacaram – por vezes de forma flagrante – a necessidade de reformar as nossas instituições e a forma como funcionamos. Alguns têm defendido que as instituições da Europa só avançam em tempos de crise. Talvez o mesmo seja válido para a moeda única, que vai ganhar força e importância com os desafios que ultrapassa.Nos últimos meses, quando praticamente estava a sair da mais profunda crise económica e finan-ceira em quase um século, a Zona Europa passou por alguns dos momentos mais difíceis da sua história, embora em termos de finanças públicas a Zona Euro enquanto todo esteja, de longe, bem melhor que os Estados Unidos ou o Japão. Assim que se soube do aumento da crise financeira da Grécia e das dificuldades vividas por outros Estados-membros, as economias da Zona Euro encontraram-se à beira do abismo.Mas a UE reagiu de forma célere e enérgica, com um programa de apoio à Grécia e com um plano de garantia financeira para toda a Zona Euro. Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico eu-ropeu, proposto principalmente pela Chance-ler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente de França Nicolas Sarkozy.Após o Conselho da Europa de Junho, em con-junto França e Alemanha traçaram algumas so-luções possíveis. Surgiram três pontos principais, relacionados com a necessidade de:

Em defesa do euro

*Ministra da Economia, Indústria e Emprego da França.

Neste estado de emergência, começou a ganhar forma um verdadeiro governo económico europeu, proposto principalmente pela Chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente de França, Nicolas Sarkozy.

©2010/Project Syndicate

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Europa

54 PERSPECTIVAS 2011

Análise Até agora, os receios de que a crise económica aumentasse a instabilidade política na Europa Central e de Leste (ECL) demonstraram não ter fundamento.

Letónia. De forma incontestável, na Letónia, que sofreu a maior quebra de produtividade da região, o governo de centro-direita foi reeleito apesar dos duríssimos cortes orçamentais de 2009-2010, e das promessas de mais cortes para 2011. Actual-mente, a Letónia é citada como um exemplo a se-guir pela Grécia e por outros países atingidos pela crise na UE, demonstrando que as acções firmes com vista a controlar o défice orçamental não têm de levar, obrigatoriamente, a uma derrota eleitoral.

Estónia. O actual governo de centro-direita parece destinado a ser reeleito em Março, no seguimento do sucesso na manutenção da en-trada na Zona Euro e da gradual recuperação económica.

Polónia. Noutros locais o cenário político pode ser mais volátil. Na Polónia, apesar do forte desempenho económico durante a crise, a re-lutância do Governo em tomar decisões pode enfraquecer o apoio popular. Ambos os parti-dos da oposição tiveram um desempenho mais forte que o esperado nas eleições presidenciais de 2010. Isto aumenta as hipóteses de os parti-dos actualmente no governo não conseguirem assegurar uma maioria parlamentar depois das eleições de Outubro, reduzindo as probabilida-des de reduzção do défice orçamental através da implementação de acções significativas.Existe a possibilidade de os Governos cederem a importantes pressões internas para diminuírem a consolidação fiscal, agora que o pior da crise económica já passou.

Hungria. O ‘cansaço da auste-ridade” é já visível na Hungria, onde o Governo Fidesz assumiu o mandato em meados de 2010, com a promessa de uma que-bra nas políticas inspiradas no FMI e implementadas pelo Governo de orientação so-cialista. Actualmente, Fidesz está a tentar reduzir o défice orçamental com uma série de medidas oportunas que visam aumentar as recei-tas de empresas de capital estrangeiro para a evitar ter de voltar atrás com as promessas eleitorais.

Roménia. A resistên-cia social em cortar os salários e as pensões tem vindo a crescer e parece pouco pro-vável que o actual Governo sobre-viva a 2011, a não ser que a

e c o -

Países da Europa Central e de Leste vão crescer maisem 2011A recuperação económica será frágil e os esforços para ultrapassar os efeitos da crise vão travar o crescimento e provocar um aumento dos problemas políticos

RESUMO ESTRATÉGICO

• As políticas poderão ser menos estáveis à medida que o eleitorado demonstra um “cansaço da austeridade”, agora que a pior fase da crise económica já passou.

• Na maioria das economias da Europa Central e de Leste, a recuperação será frágil e vai depender na saúde continuada da maioria dos mercados da Europa Ocidental.

• A dívida pública flutuante resultante do boom vai limitar os empréstimos para habitação, embora as empresas devam começar a procurar formais mais fáceis de aceder a financiamento em 2011.

• A consolidação orçamental será a principal preocupação dos decisores políticos, embora a abordagem adoptada seja diferente, desde cortes profundos e assumidos a medidas de cariz mais cosmético e temporário.

Page 10: Perspectivas 2011

Europa

58 PERSPECTIVAS 2011

AnáliseExiste um consenso emergente entre os analistas e os políticos de que as perspectivas de curto prazo da Rússia são moderadamente positivas. No entanto, o cenário político – particular-mente a política orçamental e a reforma insti-tucional – é confuso.

Perspectivas de crescimentoO Ministério do Desenvolvimento Económico é a principal fonte das projecções governamen-tais para a economia. A perspectiva actual para o PIB é uma taxa de crescimento consistente de 4% ao ano, de 2010 a 2012, com um ligeiro impulso para 4,5% em 2014. Isto é modesto em comparação com a taxa média dos anos de “boom” de 1999 a 2007. Também é modesto em comparação com as perspectivas para o Bra-sil, a China e a Índia. Contudo, fica conforta-velmente acima das projecções para a grande maioria dos países da OCDE (ver Perspectivas 2011: Economia global).

Cuidados pós-criseComo em muitos outros países, empresas e par-ticulares estão a agir com cautela, à medida que emergem da crise:• De acordo com o Ministério da Economia, o crescimento anual de 5% nas vendas a retalho, este ano, será repetido no próximo exercício. • Quanto ao investimento, baixou dramatica-mente em 2009 e apenas vai recuperar ligeira-mente em 2010.

Economia russa sensível a factores externos

A recuperação está em curso, mas as perspectivas económicas da Rússia continuam altamente sensíveis a factores externos, para além do controlo dos políticos. A consolidação orçamental continuará difícil, apesar do reduzido nível da dívida e das reservas substanciais do país.

Page 11: Perspectivas 2011

Estados Unidos da América

PERSPECTIVAS 2011 65

AnáliseA forte recessão de 2008-2009 terminou, ofi-cialmente, em Junho de 2009, e a economia atravessou uma melhoria promissora em finais de 2009 e inícios de 2010. No entanto, houve uma ligeira recaída no Verão de 2010, com o PIB real a ascender aos 1,7% e 2,0% (taxas anuais) no segundo e terceiro tri-mestres, respectivamente:

• Mercado de trabalho fracoA taxa de desemprego atingiu os 10% em fi-nais de 2009 e tem-se mantido, aproximada-mente, nos 9,6% durante a maior parte de 2010.O crescimento do emprego no sector privado aumentou a ritmo lento – praticamente um terço da velocidade das ‘recuperações nor-mais’.

• QE2. A Reserva Federal tem estado tão preocupada com o segundo aspecto do seu mandato de po-lítica polifacetada – promover a estabilidade de preços e o ‘emprego total’ – que começou a implementar uma segunda ronda da estratégia QE2 (“no valor de 600 mil milhões de dóla-res, injectando liquidez na economia de modo a promover a redução das taxas de juro a longo prazo. Ao analisar o estado moribundo da economia, muitas economias tradicionais e os analistas de Wall Street prevêem mais do mesmo para 2011 – mas esta previsão poderá ser demasiado pes-simista.

’Jogo da corda’. A melhor forma de visualizar actualmente a economia dos EUA é vê-la envolvida num po-

Emprego tende a recuperar nos Estados Unidos

Os Estados Unidos da América representam um quinto da economia mundial e os seus mercados de equities correspondem a cerca de metade dos mercados globais de equities em termos de valor. O destino da economia global, se esta se dirige para uma recuperação forte e sustentada em 2011, se vai passar por crescentes pressões inflacionistas, ou se, em contrapartida vai enfrentar deflação e um abrandamento da economia, vai depender, em grande medida, das perspectivas de crescimento dos EUA e das políticas adoptadas para enfrentar os desafios económicos do país.

Page 12: Perspectivas 2011

Estados Unidos da América

PERSPECTIVAS 2011 69

A política económica da América deseja um dólar mais competitivo dentro e além-fronteiras. Um dólar mais forte a nível interno é um dólar que man-

tenha o poder de compra graças a uma baixa taxa de inflação. Um dólar competitivo além fronteiras significa que os outros países não vão implementar políticas que, de forma ar-tificial, diminuam o valor das suas moedas de forma a promover as exportação e reduzir as importações.O objectivo de ter internamente um dólar forte tem sido perseguido pela Reserva Fede-ral desde que Paul Volcker atacou a inflação no início dos anos 80. Embora, oficialmente, os Estados Unidos não tenham um objectivo em termos de inflação, os mercados finan-ceiros entendem que as intenções da Reserva são de uma taxa de inflação próxima dos 2%.

E, enquanto a lei obriga a Reserva a garantir um crescimento sustentável bem como uma inflação baixa, os responsáveis entendem que o crescimento sustentável implica uma esta-bilidade de preços.Durante décadas, os membros do Tesouro dos EUA insistiam que “Um dólar forte é bom para a América”. Mas este lema nunca levou oficialmente a uma acção dos EUA nos mercados internacionais. O Tesouro não intervém nos mercados cam-biais para proteger o dólar, e a Reserva não

aumenta as taxas de juro com esse objectivo. Pelo contrário, os EUA dizem aos governos estrangeiros que um eficaz sistema de trocas implica não só a remoção de barreiras co-merciais formais mas também a ausência de políticas que visem fazer com que o valor das moedas gere grandes excedentes comerciais.Nos últimos anos, países de todo o mundo têm acumulado grandes volumes de moeda estrangeira, principalmente a China com mais de 2 triliões de dólares, mas incluindo-se também centenas de milhares de milhões de dólares detidos pela Coreia, Taiwan, Sin-gapura, Índia e pelos países produtores de petróleo. A maioria destes fundos está, ac-tualmente, investida em títulos em dólar. O dólar americano é, e vai continuar a ser, o maior investimento cambial desses países, o que reflecte a importância do mercado de capitais dos EUA e o panorama favorável das políticas governamentais dos EUA.Estas grandes reservas de moeda estran-geira já não são mantidas com o intuito de amortecer desequilíbrios comerciais tempo-rários. Embora alguns dos fundos tenham esse propósito e tenham de ser mantidos na sua forma mais líquida, a maioria são fundos de investimento que são geridos de forma a equilibrar o risco e o retorno financeiro. Isto significa que, ao longo do tempo, estes governos vão tentar diversificar os seus por-tefólios, afastando-se do actual domínio dos investimentos em dólar.Actualmente, o euro é a principal alternativa ao dólar. Embora a agitação na Europa e as incertezas face ao euro tenham causado algu-mas trocas de euros por dólares, algures no futuro vai voltar-se a verificar o reequilíbrio a favor do euro. Os países com grandes reservas estão, actualmente, com excesso de dólares, e o seu esforço para equilibrar o risco vai dar valor ao euro, fazendo com que se possa ele-var face ao dólar. Há algumas outras moedas que detêm actualmente pequenas proporções desses portefolios, e assim continuará a ser no futuro.O maior risco para a manutenção do papel

O futuro do dólar

OPINIÃO

Martin Feldstein*

*Professor de Economia em Harvard, foi Presidente do Conselho de Assessores Económicos no governo do Presidente Ronald Regan e ex--Presidente do Gabinete Nacional de Investigação Económica dos EUA.

©2010/Project Syndicate

O maior risco para a manutenção do papel do dólar é a grande e crescente dívida pública dos EUA. Depois de ter oscilado entre 25% e 50% do PIB no último meio século, os recentes défices comerciais fizeram com que a dívida ascendesse aos 62% do PIB.

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Estados Unidos da América

72 PERSPECTIVAS 2011

George Bush fez balanço de 8 anos

“Sinto-me confortável com o meu lugar na história”George W. Bush, que publicou recentemente a sua autobiografia onde apresenta as suas opiniões sobre uma presidência controversa, concedeu uma entrevista a Andrew Roberts.

A última vez que vi George W Bush foi num jantar numa sala de jantar familiar na Casa Branca, pouco antes de deixar funções. A con-

versa começou com o ex-presidente a recordar como nessa mesma tarde a sua administração tinha decidido nacionalizar as empresas de

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Ásia

PERSPECTIVAS 2011 77

A China vai ser testada com um ano de incerteza externa e com grandes desafios relacionados com uma importante reorientação das políticas internas. O desempenho da China nestas circunstâncias terá um importante impacto na recuperação global.

AnáliseDepois do que o Primeiro-Ministro da China Wen Jiabao denominou de “o ano mais difícil” (2009) e “o ano mais complicado” (2010) no desenvolvimento económico da China neste novo século, 2011 vai demonstrar ser o ano mais exigente. A China tem de tentar manter o momento de crescimento num ambiente mundial de crescimento fraco, tentando definir novas orientações para os próximos cinco anos (de acordo com o 12º Programa para Cinco Anos)

Economia em cursoEstima-se que, no próximo ano, a economia se mantenha robusta.

• Vai crescer cerca de 10%.

• A inflação será mais volátil que este ano, como reflexo do excesso de liquidez e das in-certezas políticas num ambiente global de in-certezas. Espera-se que as exportações cresçam moderadamente, e o excedente comercial con-tinue a diminuir.

•A taxa de câmbio deve subir ligeira-mente. As autoridades vão manter o actual re-

gime de taxa de câmbio, recusando as pressões políticas externas mais extremas.

Mudanças de paradigmasEm Outubro, o Comité Central do Partido Co-munista Chinês anunciou em plenário um novo paradigma de pensamento, que inclui uma mu-dança em termos de modelo e de estratégia:

• Modelo de desenvolvimento. A doutrina do anterior líder Deng Xiaoping de “colocar a economia no centro de todo o trabalho gover-namental” foi abandonada. O anterior e simples modelo “de crescimento” foi substituído por um modelo mais abran-gente de “desenvolvimento” que inclui tanto aspectos económicos como aspectos socio-políticos. Passou a dar-se mais atenção à igualdade sala-rial, à distribuição dos serviços sociais, à redu-ção dos desníveis entre o mundo rural e urbano e à protecção ambiental.

• Estratégia de procura. O Governo está agora, oficialmente, a apelar a uma transição de uma estratégia conduzida pelos investimentos e exportações para uma estratégia conduzida pelo consumo e pelos investimentos.

China reforça aposta no desenvolvimento

e prevê crescer 10%

RESUMO ESTRATÉGICO

• O PIB vai crescer cerca de 10% mas a inflação será mais volátil que em 2010.

• Pequim enfrentará mais pressões para alterar a sua actual política de taxa de câmbio, que apenas irá abandonar em circunstâncias extremas.

• O impacto do 12º Programa de Cinco anos será, a longo prazo, positivo, mas poderão ser necessário alguns ajustes a curto-prazo.

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Médio Oriente e África

88 PERSPECTIVAS 2011

AnáliseNão são de esperar grandes tempestades po-líticas no Conselho de Cooperação do Golfo, em 2011. No entanto, alterações por via de

sucessões são possíveis, par-ticular-mente na Ará-

b i a

Saudita, em Omã e Abu-Dhabi. Enquanto o sultão de Omã, Qaboos bin Said Al-Bu Said, está com uma saúde razoável, o problema da sucessão coloca-se mais noutras regiões:

Arábia SauditaO reino tem um acordo estável, através do qual o sultão coroado (82) vai suceder ao rei Abdallah (86); mas se morrer antes do rei Abdallah, o ministro do Interior e segundo

primeiro-ministro príncipe Nayef (76) de-verá tornar-se o novo príncipe coroado. O verdadeiro desafio é chegar a acordo na transição para a próxima geração de prín-cipes. Contudo, este é um problema de médio prazo, o qual não deverá colocar-se durante cinco ou mais anos. No curto prazo, o maior desafio é a paralisia causada pela potencial sucessão de príncipes com fraca saúde.

Abu DhabiO xeque Kkalifa bin Zayed ad-Nahyan (62) parece ter graves problemas de saúde. O seu irmão, o príncipe coroado xeque Mohammed (49) está na linha de sucessão para governar Abu Dhabi e ser presidente dos Emiratos Árabes Unidos (EAU). No entanto, há a possibilidade de rivalidades

Estados do Golfo em fase de acalmia política e económica

Depois de dois anos economicamente turbulentos, as monarquias do CCG podem esperar um ano calmo e de crescimento consistente, em 2011, que, exceptuando uma maior crise internacional

na região, parece improvável assistir a grandes problemas políticos ou económicos.

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Internacional

98 PERSPECTIVAS 2011

AnáliseO Presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu, re-centemente, que estava a passar à presidente-eleita Dilma Rousseff um país em muito melhor forma do que aquele que encontrou quando assumiu pela primeira vez funções em 2003. Este ano deve terminar com crescimento de aproximadamente 7,5% e um boom no consumo interno; um exce-dente primário de 3,3% do PIB; diminuição dos níveis de dívida pública em 41,0% do PIB; inves-timento directo estrangeiro (IDE) de mais de 30 mil milhões de dólares; um excedente comercial de 15 mil milhões de dólares, e níveis saudáveis de reservas internacionais, níveis recorde de baixo desemprego, e salários a atingir mais de 62% do PIB.No entanto, ainda há uma série de temas que re-querem atenção urgente, incluindo as pressões in-flacionárias (que se estimam em cerca de 5,8% no final do ano, muito acima do objectivo de 4,5%), elevadas taxas de juro, e uma carga fiscal acima dos 36% do PIB. Outros problemas incluem a má qualidade geral dos serviços públicos, o cres-cente défice de conta corrente, o fraco sistema educativo e a falta de trabalhadores qualificados, escassez de investimento e a ameaça de uma even-tual crise de infra-estruturas.

Panorama políticoAs perspectivas do Brasil para 2011 serão colori-das pela capacidade de Rousseff de impor a sua liderança no Partido Trabalhista (PT) e pelos seus parceiros da coligação (principalmente o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, PMDB). Não está ainda claro até que ponto ela será adepta de gerir o braço-de-ferro político que se espera

RESUMO ESTRATÉGICO

• O crescimento deverá atingir cerca de 7,5% em 2010 e 4,5% em 2011, mas os entraves infra-estruturais vão continuar a provocar constrangimentos.

• A Presidente eleita Dilma Rousseff terá uma abordagem mais tecnocrata, mas permanece incerta a sua capacidade de gerir os requisitos políticos.

• Vão crescer as preocupações relacionadas com a inflação se o Governo preferir não reduzir os elevados níveis de gastos públicos.

Dilma Rousseff pretende consolidar ciclo de expansão no BrasilA 1 de Janeiro Dilma Rousseff será empossada como a primeira presidente mulher do Brasil. O seu primeiro ano de mandato deve trazer tanto elementos de continuidade como de mudança. Espera-se que ela trabalhe sobre a anterior política social e que se centre na consolidação do crescimento económico. No entanto, o seu estilo pessoal diferente, a experiência administrativa e o desejo de deixar a sua própria marca no governo devem também traduzir-se em algumas alterações nas prioridades políticas e nas suas respostas à evolução global e contextos nacionais.

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Energia

116 PERSPECTIVAS 2011

Christophe de Margerie, Presidente da Total

A energia mais económica continua a ser o petróleoChristophe de Margerie, Presidente da Total, prefere não ver os problemas da indústria a preto e branco, escreve Rowena Mason.

Não é suposto os presidentes executivos das grandes multinacionais do petróleo parecerem um Pai Natal, mas Christophe de Margerie, que é carinhosamente conhecido como Mr Mousta-che (Sr. Bigodes), é uma excepção a quase todos os estereótipos dos homens do petróleo. O presidente e presidente executivo da Total esteve em Londres para a principal conferência anual da indústria, fazendo uma pausa de uma nação à beira de uma crise de petróleo. Os tra-balhadores das refinarias francesas estavam em greve, em protesto contra as alterações que o Governo prevê implementar nas reformas.De Margerie revoltou-se contra os trabalhadores por “misturarem o petróleo com as reformas”

mas admitiu que é “um motivo de preocupação para os fornecedores” o facto de não poderem fazer muito contra a situação. Desde então os motoristas começaram a armazenar petróleo, há bloqueios nas estradas, as greves fecharam muitas gasolineiras de Paris e os seus aeroportos. Actualmente, De Margerie parece relativamente confiante face ao problema. “O trânsito inglês é pior”, brinca.A Total, o gigante energético avaliado em 122 mil milhões de dólares, encontra-se sozinho entre as principais petrolíferas por diversos mo-tivos O seu presidente executivo tem também um ponto de vista que poucos dos seus colegas estão dispostos a admitir que partilham.É defensor da OPEP, o cartel do petróleo cujos

membros incluem a Arábia Saudita e a Nigéria, insistindo que esta instituição “já não se me-temem jogos políticos”. Opõe-se a embargos sobre o comércio com regimes impopulares e acredita que os especuladores contribuem para os elevados preços do petróleo. E, ainda mais controversamente, acredita que é benéfico es-palhar a mensagem que os preços do petróleo vão disparar. De Margerie coloca café na sua chávena, mas esta permanece praticamente intacta, à medida que começa a falar num fluxo de consciência sobre os diversos problemas que afectam a in-dústria petrolífera. “Não nos agrada ter de alertar para os preços do petróleo, mas precisamos de fazê-lo”, diz num tom sério. “Se continuarmos assim, vamos en-frentar problemas reais de acesso à energia. Mais vale dizê-lo agora do que depois sermos con-frontados com uma escassez, como aconteceu em 2006”.E existe a probabilidade de o derrame de pe-tróleo da BP ocorrido no Golfo do México se traduzir em diferentes tipos de restrições – res-trições regulatórias – que também podem ser preocupantes para o fornecimento energético a nível mundial.“Foi mesmo, mesmo um choque para todos nós”, exclama De Margerie com um suspiro. “Mas não penso que já tenha terminado. Temos de estar no mar profundo porque é lá que se en-contra o petróleo e o gás. Temos de desenvolver locais mais difíceis”.A Total não tem uma presença marcante no Golfo dos EUA, pelo que o impacto directo do derrame foi “muito limitado”. Todavia, acres-centa: “Estamos a voltar à ideia do que isto re-presenta para todos nós em termos de alteração do comportamento”. Refere-se à ideia de uma regulação global mais central para a perfuração em mar profundo. “É, verdadeiramente, um problema do Golfo do México. A indústria não pode ser, subita-

O seu presidente executivo tem ponto de vista que poucos estão dispostos a admitir que partilham; É defensor da OPEP

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Gestão

118 PERSPECTIVAS 2011

Mulheres cada vez mais no topo de gestãoApresentamos o perfil de algumas das principais figuras da lista anual da “Financial News” que classifica as 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa. Elas são algumas das principais directoras financeiras. Muitas delas mantêm-se discretas, pelo que os seus nomes podem muito bem ser pouco familiares.

Mais de um quinto destas mulheres ocupa o cargo de presidente executivo, um terço são directoras-gerais, 10 são responsáveis regionais e 15 são chefes de departamento, as restantes são CEO, directoras financeiras, responsáveis de investi-mento ou directoras de operações. Trabalham em

bancos de investimento, gestão de activos, “pri-vate equity”, fundos de pensões, regulação, gestão da riqueza, “hedge funds” e especulação.Este ano, a lista das 100 mulheres mais influentes nos mercados financeiros da Europa, compilada pela “Financial News”, uma publicação associada do “The Sunday Times”, reflecte o permanente esforço da indústria relativamente à regulação, o crescente papel da governação corporativa, bem como o importante trabalho de reestruturação das empresas que foi desenvolvido após a crise financeira.Mas a compilação da FN100 Mulheres mais In-fluentes não está isenta de controvérsia. Por um lado, é importante referir e reconhecer os feitos alcançados por mulheres de topo que são vistas como exemplos a seguir. Por outro lado, aquelas que se encontram na lista querem ser valorizadas pelo seu forte trabalho e contributo, e não ape-nas por serem mulheres. Tal como referiu Kim McFarland, responsável de operações do Investec: “Quero que as pessoas no meu ambiente de tra-

Aquelas que se encontram na lista querem ser valorizadas pelo seu forte trabalho e contributo, e não apenas por serem mulheres. Tal como referiu Kim McFarland, responsável de operações do Investec: “Quero que as pessoas no meu ambiente de trabalho estejam lá por serem boas, não por causa de quem conhecem ou do seu género”.

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Gestão

128 PERSPECTIVAS 2011

Inovação deve estar enquadrada com as necessidades dos clientesMenos de metade dos lançamentos de novos produtos, efectuados ao longo dos últimos três anos, foram bem sucedidos, apesar de ser cada vez maior o apoio dos executivos à inovação e aos projectos inovadores – revela o estudo Collaborating for Innovation, elaborado pela Capgemini. Uma das principais razões apontadas, como responsável deste cenário, é a incapacidade de responder às necessidades dos clientes, devido à falta de perspectiva e visão. Dado que a colaboração com os clientes foi apontada como sendo uma das áreas menos desenvolvidas pelos fabricantes, é evidente o papel preponderante que a inovação colaborativa irá desempenhar no sucesso da indústria transformadora.

As principais conclusões da edição de 2010 revelam a importância cada vez maior e o papel absolutamente determinante e trans-

versal da inovação, enquanto peça chave das es-tratégias de crescimento das empresas. O estudo da Capgemini analisa a evolução das principais tendências na inovação de produtos e serviços em toda a indústria, a partir das conclusões da última edição deste estudo realizado em 2008.Após um período dominado pela redução de

custos, como principal prioridade, a atenção dos fabricantes volta-se agora para o desenvol-vimento de estratégias de crescimento. Como resultado, a inovação lidera as estratégias de crescimento, ganhando uma preponderân-cia cada vez mais evidente, e afirma-se como o principal factor diferenciador e o driver da competitividade. Estas conclusões são corro-boradas pelos resultados divulgados pelo es-tudo, que revelam que 65% (50% em 2008)