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a Dr Genética News DBC-UEM 4ª edição Janeiro 2019 Página 1 Nesta edição abordamos um grande problema de saúde pública, o CÂNCER. É um assunto bastante complexo, com muita informação e muitos mitos. Você vai conhecer um pouco mais sobre essa doença, as perspectivas de tratamentos e ainda conferir uma entrevista dupla de duas guerreiras na luta contra o câncer de mama. Aproveite a leitura! Bem vindos! www.sites.uem.br/drgenetica Gene: parte do DNA que tem como função de produzir uma proteína específica Multifatorial : Combinação de vários fatores, como por exemplo características ambientais (raios UV) e hereditárias. Hereditário: Ocorre quando a pessoa possui alguma alteração ou mutação nos genes. Esporádico: Ao acaso 4 edição Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer Pesquisadores da Universidade de Queensland (Austrália) desenvolveram um teste de 10 minutos, capaz de detectar a presença de células cancerígenas no corpo humano, após descobrirem que o câncer forma uma estrutura única de DNA quando colocado na água. Utilizando partículas de ouro, que se ligam ao DNA afetado pelo câncer e podem afetar o comportamento das moléculas levando a uma mudança visível de coloração. Ainda é necessário ser testado em seres humanos, mas as perspectivas são boas. Nos testes já realizados em mais de 200 amostras de tecidos e sangue, detectou-se células cancerígenas com 90% de precisão, por enquanto está sendo utilizado para os cânceres de mama, próstata, intestino e linfoma, porém os cientistas acreditam que os resultados podem ser encontrados em outros tipos da doença. Ainda são necessários testes clínicos para confirmar a eficácia do teste com o câncer precoce e também se o teste pode ser usado para avaliar a eficácia do tratamento. Assim como a possibilidade de usar diferentes fluidos corporais para detectar diferentes tipos de câncer desde o início até os últimos estágios da doença. Fonte: Revista Nature Communications Caneta que identifica “câncer” em segundos Teste de 10 minutos que detecta células cancerígenas Cientistas da Universidade do Texas (EUA) desenvolveram uma caneta que pode identificar células cancerígenas em dez segundos. Segundo eles, o dispositivo portátil permitirá que a cirurgia para a retirada seja feita de forma mais rápida, segura e precisa. O estudo foi publicado na revista científica Science Translational Medicine. Testes indicam que a caneta oferece um resultado preciso em 96% das vezes. O MasSpec Pen se aproveita do metabolismo singular das células cancerígenas. A química interna dessas células, que crescem e se espalham muito rápido, é muito diferente da de um tecido saudável. Esse é maior desafio dos cirurgiões: descobrir a fronteira entre um câncer e um tecido normal. A tecnologia foi testada em 253 amostras como parte do estudo. O plano é continuar os testes para aprimorar o dispositivo que atualmente é capaz de analisar um pedaço de tecido de 1,5 mm de diâmetro.

Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

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Page 1: Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

a

Dr Genética News – DBC-UEM 4ª edição Janeiro 2019 Página 1

Nesta edição abordamos um grande problema de saúde pública, o CÂNCER. É um

assunto bastante complexo, com muita informação e muitos mitos. Você vai conhecer um pouco mais sobre

essa doença, as perspectivas de tratamentos e ainda conferir uma entrevista dupla de duas guerreiras na luta

contra o câncer de mama. Aproveite a leitura!

Bem vindos!www.sites.uem.br/drgenetica

Gene: parte do DNA que tem como função de produzir uma proteína específica

Multifatorial : Combinação de vários fatores, como por exemplo características ambientais (raios

UV) e hereditárias.

Hereditário: Ocorre quando a pessoa possui alguma alteração ou mutação nos genes.

Esporádico: Ao acaso

4edição

Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

Pesquisadores da Universidade de Queensland

(Austrália) desenvolveram um teste de 10 minutos,

capaz de detectar a presença de células cancerígenas

no corpo humano, após descobrirem que o câncer

forma uma estrutura única de DNA quando colocado

na água. Utilizando partículas de ouro, que se ligam

ao DNA afetado pelo câncer e podem afetar o

comportamento das moléculas levando a uma

mudança visível de coloração. Ainda é necessário ser

testado em seres humanos, mas as perspectivas são

boas.

Nos testes já realizados em mais de 200 amostras

de tecidos e sangue, detectou-se células

cancerígenas com 90% de precisão, por enquanto

está sendo utilizado para os cânceres de mama,

próstata, intestino e linfoma, porém os cientistas

acreditam que os resultados podem ser encontrados

em outros tipos da doença. Ainda são necessários

testes clínicos para confirmar a eficácia do teste com

o câncer precoce e também se o teste pode ser usado

para avaliar a eficácia do tratamento. Assim como a

possibilidade de usar diferentes fluidos corporais para

detectar diferentes tipos de câncer desde o início até

os últimos estágios da doença.Fonte: Revista Nature Communications

Caneta que identifica “câncer”

em segundos

Teste de 10 minutos que

detecta células cancerígenas

Cientistas da Universidade do Texas (EUA)

desenvolveram uma caneta que pode identificar

células cancerígenas em dez segundos. Segundo

eles, o dispositivo portátil permitirá que a cirurgia para

a retirada seja feita de forma mais rápida, segura e

precisa. O estudo foi publicado na revista científica

Science Translational Medicine.

Testes indicam que a caneta oferece um resultado

preciso em 96% das vezes. O MasSpec Pen se

aproveita do metabolismo singular das células

cancerígenas. A química interna dessas células, que

crescem e se espalham muito rápido, é muito diferente

da de um tecido saudável. Esse é maior desafio dos

cirurgiões: descobrir a fronteira entre um câncer e um

tecido normal.

A tecnologia foi testada em 253 amostras como parte

do estudo. O plano é continuar os testes para

aprimorar o dispositivo que atualmente é capaz de

analisar um pedaço de tecido de 1,5 mm de diâmetro.

Page 2: Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

Dr Genética News – DBC-UEM 4ª edição – Janeiro 2019 – publicação trimestral Página 2

Câncer Esporádico ou Hereditário?Mutações somáticas

(que não são

transmitidas para os

filhos) são adquiridas ao

longo da vida

Mutações germinativas

(que são herdadas) +

mutações somáticas (que

não são transmitidas para

os filhos) adquiridas ao

longo da vida

O que causa o câncer ?Um conjunto de mutações em genes com diferentes funções, que afetam a divisão regular das células. As

células passam a se dividir mais rápido do que deveriam, formando uma massa ou tumor (tumores sólidos).

Essas mutações podem ser espontâneas, por processos que ocorrem naturalmente no nosso corpo, ou

induzidas, devido a exposição a agentes que causam mutações, como compostos químicos, luz solar, entre

outros. Por estas razões, o câncer é uma doença multifatorial, ou seja, envolve tanto fatores genéticos como

ambientais.

As mutações somáticas vão se acumulando durante a vida95% de todos os cânceres

são esporádicos. Ter alguém

com câncer na família

aumenta o risco de

desenvolvê-lo, porém só é

hereditário se for confirmado

por teste genético específico.

Cânceres decorrentes de

mutações que são herdadas

podem aparecer mais cedo

na vida do indivíduo, uma vez

que ele já nasce com a

mutação, e adquire outras no

decorrer da vida.

Abaixo estão listados os tipos de cânceres mais incidentes no Brasil em 2018 segundo o Instituto Nacional

de Câncer (INCA) O Outubro Rosa e o Novembro Azul são movimentos para alertar e lembrar a importância

da prevenção e do diagnóstico de algum dos cânceres que mais afetam os brasileiros: de mama para as

mulheres e de próstata para os homens.

Um exemplo de mutação é a que ocorre no gene p53, um gene supressor de tumor. Sua missão é nos

proteger do câncer, assegurando-se de que as nossas células não cometam erros perigosos quando se

dividem, como parte do crescimento e da manutenção normais do organismo. Em quase todos os casos de

câncer em humanos, o gene foi inutilizado por uma mutação ou algum outro mecanismo defeituoso. A cada

divisão, surgem duas células defeituosas e assim exponencialmente, aumentando o risco com o aumento da

idade. As pessoas que nascem com o p53 defeituoso tem um risco ainda maior de desenvolvimento de

diversos tipos de câncer. Quando a mesma mutação é herdada, pode afetar a família de diferentes formas,

geralmente em idade jovem, com sarcomas, tumores cerebrais ou adrenocorticais, leucemia e tumores

adrenocorticais infantis. Famílias com esse conjunto de tumores podem ter a Síndrome de Li-Fraumeni, um

distúrbio autossômico dominante caracterizado por múltiplos casos de tumores primários de início precoce, e

devem buscar um serviço de aconselhamento genético oncológico.https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/13/ciencia/1455399657_309154.html

Page 3: Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

Bate papo com Dr Genética

Dr Genética News – DBC-UEM 4ª edição – Janeiro 2019 – publicação trimestral Página 3

As professoras Claudete Mangolim e Sandra Collet

do DBC contaram um pouco da sua luta contra o

câncer de mama

Dr Genética. Como você descobriu o câncer de

mama? Já fazia exames de rotina?

Claudete. Dois anos antes de ser diagnosticada com o

câncer tive uma mastite e um nódulo, como nunca tinha

ido ao mastologista, recorri ao ginecologista. Este (de

forma muito consciente) me encaminhou para o

mastologista. O mastologista retirou o nódulo

cirurgicamente e a biopsia revelou um nódulo benigno. A

partir daí a cada seis meses visitava religiosamente meu

mastologista, passados dois anos, fiz os exames e fiquei

muito feliz tinha um Birads 2, fiquei bem tranquila. Levei

o exame para o meu mastologista que me olhou muito

triste e me disse: “Este Birads está errado”. Pediu uma

ressonância, esta também foi inconclusiva. Fiz a retirada

da calcificação, enviei para a biopsia e fiquei muito

apreensiva até o resultado. Meu mastologista me chamou

quando o resultado estava pronto e com aquele sorriso

amigo me disse vou cuidar de você. Ele conversou muito

comigo e me indicou a cirurgia, consultei um pesquisador

mastologista da UNICAMP para uma segunda opinião e

após ver os exames ele sugeriu a mesma conduta que o

meu mastologista. Médico de mama não é ginecologista,

médico de mama é mastologista. Imagine um médico

sem muita experiência com mama frente a um resultado

de Birads 2, não teria se preocupado. Mas o Marcelo

(meu querido mastologista), com toda a sua vivência

salvou a minha vida. Sandra. Eu descobri fazendo

autoexame em maio/2015. Já fazia mamografia

anualmente, a última antes de descobrir o tumor foi em

dezembro/2014, e estava tudo normal. E cinco meses

depois descobri um tumor de 0,8 cm na mama direita.

Dr Genética. Vocês duas tiveram tratamentos

diferentes, por conta dos diferentes tipos de câncer.

Como foi a estratégia de tratamento?

Claudete. Fiz a cirurgia de retirada da mama, como era

bem inicial não fiz esvaziamento de axila, mantive a pele,

mamilo e bico. Coloquei uma prótese. Correu tudo certo,

portanto temos que fazer nossos exames periódicos

(ultrassom e mamografia), a vigilância é tudo. Eu e

minha querida amiga tivemos câncer de mama, mas

nosso tratamento foi diferente. Primeiro porque o meu

câncer estava muito no início, e tanto meu mastologista

quanto minha oncologista (Adriana) chegaram a um

acordo que eu não precisava fazer

quimioterapia e nem radioterapia. Mas o meu

diagnóstico mostrou que ele era em função de uma

mutação para receptores de estrógeno e

progesterona. Então meu tratamento é muito longo,

são 10 anos de medicamento. Nos 5 primeiros anos

tenho que tomar todos os dias (religiosamente) um

bloqueador destes receptores, que é o Tamoxifeno.

Este bloqueador possui uma série de efeitos

colaterais, um deles bastante sério é o risco

aumentado de câncer de útero, portanto de seis em

seis meses visito meu ginecologista para avaliar o

comportamento do meu endométrio. Já faço uso

deste medicamento a 3 anos e 10 meses. Sempre

acompanhada do meu mastologista, minha

oncologista, minha cardiologista e meu ginecologista.

Após 5 anos do uso de Tamoxifeno, serão mais 5

anos de uso de Anastrozol. Como eu disse não fiz

quimioterapia e nem radioterapia, mas serão 10 anos

com a ingestão de uma quimio. Existem várias causas

para o câncer de mama, o meu e de minha amiga

Sandra tiveram origens diferentes, portanto os

tratamentos são diferentes.

Sandra. Fiz todo tratamento pelo SAS, depois que

senti que tinha algo errado, comecei fazer os exames,

mamografia e US. Mas a biópsia só foi liberada em

outubro/2015, qdo tirei um tumor com 4 cm, era um

carcinoma maligno invasivo, triplo negativo. Demorou

um mês para me recuperar da cirurgia da biópsia,

mas como o médico não conseguiu tirar tudo, o tumor

cresceu novamente. Comecei a quimioterapia e dez

dias depois a oncologista pediu um petscan, o tumor

tinha 5,0 cm. Foram mais 5 sessões de quimioterapia,

uma a cada 21 dias. De acordo com a Oncologista era

a mais forte para o tipo de câncer que eu tive.

Terminei as quimioterapias em fevereiro/2016, então

em março fiz a mastectomia radical e coloquei

prótese. Junto com a mastectomia, foi feito

esvaziamento axilar, tirei 23 linfonodos, todos foram

para biópsia e comprovaram ausência de câncer. Isso

dá mais segurança, porém a gente perde a força no

braço e fica com o lado adormecido pra sempre.

Depois foram 25 sessões de radioterapia, que eram

pra ser de segunda a sexta, mas o aparelho estava

com problemas e demorou 2 meses.

Birads: A sigla se refere a Breast Imaging Reporting

and Data System, sistema adotado para estimar qual a

chance de determinada imagem da mamografia ser

câncer. Variando de 0 a 6, sendo 6 a mais grave

Page 4: Perspectivas futuras no diagnóstico do câncer

Dr Genética. Qual a maior dificuldade durante o

tratamento?

Claudete. Para mim o mais complexo é todos os dias

ter que me lembrar de tomar o meu medicamento, e

suportar os seus efeitos colaterais. Minha oncologista

fala: “Este é um bendito remédio, pois te mantém viva”.

Mas como eu disse eu tive muita sorte, fui diagnosticada

bem no início.

Sandra. A maior dificuldade foi no início, antes dos

resultados dos exames, pois eu não sabia o que eu

tinha. Depois que o tratamento iniciou fiquei mais

tranquila e me joguei nas mãos de Deus. Não tinha o

que eu fazer, só seguir o que a médica dizia e confiar

nela e em Deus.

.

se pode fazer aplicação nem cirurgia enquanto se

faz uso de Tamoxifeno. Mas sempre penso ainda

bem que existe Tamoxifeno.

E agradeço a Deus todos os dias por Ele ser meu

amigo, e ter me apontado rapidamente os caminhos.

Sandra. Mudou tudo na minha vida! Penso que

minha vida se divide em a.c. e d.c. (antes e depois

do câncer). Acho que cheguei bem perto de partir, e

Deus me deu uma nova chance, tenho que

aproveitá-la ao máximo!

Dr Genética. Quanto

tempo desde o

diagnóstico até a alta?

Ainda é preciso

monitorar?

Claudete. No meu

caso serão 10 anos de

acompanhamento

permanente. Só

depois deste período

poderei ter alta.

Sandra. Alta? Eu não

tive ainda, faço

exames periódicos a

Nossos Colaboradores:

LAEGH - Liga Acadêmica de Embriologia e Genética Humana

DBC-UEM Departamento de Biotecnologia, Genética e Biologia

Celular

LAGeM - Liga Acadêmica de Genética Médica de Maringá

Você conhece o Dr Genética? Visite nosso site! www.sites.uem.br/drgeneticaSiga-nos também no Facebook: https://www.facebook.com/Dr.Genetica

Lá você pode ter mais informações, ver outras edições e tirar suas dúvidas [email protected]. Até a próxima edição!

Você sabe o que é câncer de

mama "triplo-negativo" ?

Refere-se ao fato de esse tipo de

tumor não apresentar nenhum dos três

biomarcadores mais empregados na

classificação do câncer de mama. São

eles: receptor de estrógeno, receptor

de progesterona e proteína HER-2.

Esse subtipo de câncer representa

cerca de 15% a 20% de todos os casos

de câncer de mama no mundo e se

destaca por afetar, geralmente,

mulheres jovens e ser agressivo.

"Para os cânceres de mama positivos já

existem tratamentos específicos e com

maior chance de sucesso, mas para o

câncer de mama triplo-negativo ainda

não", explica o coordenador de

Oncologia Clínica do Centro de

Oncologia do Hospital Sírio-Libanês,

Dr. Artur Katz. "Hoje, as pacientes com

esse tipo de câncer de mama são

tratadas basicamente com

quimioterapia e, para alguns casos,

radioterapia ou cirurgia".

https://www.hospitalsiriolibanes.org.br/sua-saude/Paginas/cancer-

mama-triplo-negativo-imunoterapia-tratamento.aspx

Gostou dessa edição? Conte pra gente!!

Sugira pautas e entrevistas, até a próxima!

cada 6 meses, e alta mesmo só depois de 10 anos. Mas

já vou comemorar 3 anos livre da doença.

Dr Genética. O que mudou na sua vida depois do

tratamento?

Claudete. Meu tratamento continua, mas o que mudou

na minha vida foi saber que não sabemos ada sobre o

nosso futuro, portanto todos os dias são importantes e

devemos aproveitar cada momento. Outra coisa

importante, médico de mama é MASTOLOGISTA,

qualquer suspeita ele deverá ser consultado.

Sentir um calor

horroroso que o

Tamoxifeno nos

proporciona (graças a

Deus alguém inventou o

ar condicionado),

conviver com os efeitos

colaterais que ele

proporciona, e conviver

com pernas cheias de

vasos e varizes, pois não