Pessoas, Ideias e Afectos

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  • 8/15/2019 Pessoas, Ideias e Afectos

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    PESSOAS, IDEIAS E AFECTOS

     ARCIL - Um Projecto de Causas 

    Inclui DVD com informação adicional 

    Lousã - 2015 

     José Ernesto Carvalhinho de Paiva  João Carlos Santos Pinho

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    1Capítulos (títulos)

    PESSOAS,IDEIAS E AFECTOS

    ARCIL – um projecto de causas

    José Ernesto Carvalhinho de Paiva

    João Carlos Santos Pinho

    Lousã | 2015

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     FICHA TÉCNICA

      TÍTULO  Pessoas, Ideias e Afectos (ARCIL - um projecto de causas)

      AUTORES  José Ernesto Carvalhinho de Paiva  João Carlos Santos Pinho  EDIÇÃO  ARCIL  MOTIVO DA CAPA  Quadro “A Minha Aldeia” da utente Celeste Nunes CONCEPÇÃO DA CAPA  Nuno Beirão e Laura Carvalho DESIGN E PAGINAÇÃO  Nuno Beirão  IMPRESSÃO  Tipografia Lousanense, Lda.  TIRAGEM  1000 exemplares DEPÓSITO LEGAL N.º  393413/15  1.ª EDIÇÃO  Junho de 2015

      Por decisão dos autores esta obra não segue o Novo Acordo Ortográfico.

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    Quadro “A Minha Aldeia” da utente Celeste Nunes

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    ÍNDICE A Âncora Solidária e a ARCIL ................................................................. 9 ARCIL – Capacitar para a Igualdade de Oportunidades .......................... 15História da ARCIL em livro e DVD ........................................................ 19 ARCIL - Uma Referência para o Futuro .................................................. 23 Abreviaturas e Siglas utilizadas na Obra ................................................... 27Cronologia .............................................................................................. 281976. Um ano profícuo em acontecimentos ............................................ 37Perspectiva Histórica ............................................................................... 43

    CAPÍULO 1 – A Fundação da ARCIL, a Criação do Centro

    de Recuperação de Deficientes da Lousãe a Acção da Comissão Instaladora (1975-1977) ........... 57

    CAPÍULO 2 – Os Primeiros Corpos Gerentes: 1977-1981 .................. 91  1. As bases e arranque do projecto ARCIL: a desocupação do edifício,

    o envolvimento do pessoal nas obras e o papel dos companheirosconstrutores ..................................................................................... 93

      2. A divisão no seio da direcçao ........................................................... 104  3. A estruturação orgânica e funcional da ARCIL ................................ 105  4. Marcas de pioneirismo: de uma parceria inédita a um vasto campo

    experimental .................................................................................... 112  5. A consolidação do programa de obras e os primórdios

    da sectorialização ............................................................................. 128  6. O enquadramento da deficiência na ARCIL:

    duas concepções em confronto em fim de mandato ......................... 133

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    CAPÍULO 3 – Um Longo Caminho: 1981-1994 ................................. 137

      1. Consolidação, Pioneirismo e Inovação: 1982-1987 ......................... 147

    1.1. A continuidade com o passado ................................................. 1471.2. empos de mudança: o plano de obras a longo prazo ................ 170

    1.3. A Prioridade das Prioridades: a integração

    dos indivíduos portadores de deficiência ................................... 192

    1.4. O crescimento visível da ARCIL – o património ...................... 219

    1.5. Produzir e rentabilizar: a vertente empresarial da ARCIL .......... 223

      2. A Afirmação e expansão de um modelo (1988-1994) ...................... 227

    2.1. O Funcionamento Interno ....................................................... 2272.2. A autossustentabilidade: produzir e vender ............................... 233

    2.3. Reabilitação, Formação e Integração Profissional ...................... 239

    2.4. Novas unidades e sectores ......................................................... 247

    2.5. Parcerias e trabalho em rede...................................................... 275

    2.6. A ARCIL: balanço nos finais de 1994 ....................................... 284

    CAPÍULO 4 – O Fatídico Ano de 1995:o desfalque abate-se sobre a ARCIL .............................. 293

      1.A história e as estórias do desfalque .................................................. 295

      2. A resposta da instituição .................................................................. 308

      3. A luta nos tribunais ......................................................................... 310

      4. A ARCIL para lá do desfalque ......................................................... 314

    CAPÍULO 5 – empos de Recuperação e Afirmação (1996-2000) ....... 319  1. O reequilíbrio financeiro e institucional .......................................... 321

      2. Os novos projectos e as parcerias ..................................................... 330

      3. A conclusão da sectorialização e a reorganização sectorial ................. 333

      4. O investimento na área da formação e emprego ............................... 346

      5. Participação em eventos nacionais e internacionais .......................... 355

      6. A colaboração ARCIL-SCML e ARCIL-CML ................................. 360

      7. O fim de um longo ciclo: a saída de José Ernesto Carvalhinho ........ 364

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    CAPÍULO 6 – A ARCIL no séc. XXI: a continuidade da obra

    e os novos desafios ........................................................ 367  1. A continuidade ................................................................................ 369

    1.1. O modelo de gestão e a consolidação da missão ........................ 3701.2 Demonstrações de solidariedade e o reconhecimento

    aos fundadores ........................................................................... 3841.3. O reforço das parcerias ............................................................. 3941.4. O fortalecimento da formação, integração e empregabilidade ... 4071.5. Os sectores: avanços e recuos .................................................... 4121.6. A divulgação e representação: novos e antigos eventos .............. 440

      2. A redefinição dos objectivos: a componente técnica,a produtividade e a questão financeira ............................................. 447

      3. Novos desafios e projectos ............................................................... 451  4. A ARCIL entre o presente e o futuro ............................................... 463

    DEPOIMENOS ................................................................................... 473 M. Amélia Martins Amaro Barata   ARCIL, um exemplo de participação cívica e empowerment  ................. 475Idália Serrão

      Sempre na linha da frente! ................................................................... 481Carlos Veloso da Veiga   A ARCIL e o emprego protegido:

    Memórias de um tempo de investigação .............................................. 485Rogério Roque Amaro  I de Inovação ....................................................................................... 492 Jean Michel Gueguiné  ............................................................................... 498 Jean Michel Gueguiné  (tradução) .............................................................. 500

    Rui Ramos   ARCIL: Um percurso que se fez, uma história que se faz,

    um futuro que se constrói .................................................................... 502

     A equipa e os custos................................................................................. 504

    BIBLIOGRAFIA E FONES ................................................................ 505

     ANEXO – Corpos Gerentes da ARCIL (1976-2015) .............................. 515

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    É com gosto que me associo a esta justa e oportuna iniciativa de deixar ahistória da ARCIL escrita num livro. ive a oportunidade de conhecermelhor a instituição e os seus dirigentes e colaboradores numa visitaque efectuei, já lá vão uns bons anos, na qualidade de membro do Governo. E,

    ainda que à distância, pude acompanhar a vida da ARCIL, sempre a vendo como

    uma instituição geradora de genuína solidariedade e de polinizador exemplo.

    O livro e os depoimentos nele inseridos são saborosamente elucidativos

    sobre a grandeza da instituição da Lousã e lucidamente reveladores do esforço,

    mérito, competência e dádiva social de todos os seus construtores. Mesmo

    superando obstáculos e derrubando muros para construir pontes a benefício

    do bem comum e da equidade inclusiva. Por isso, nestas breves palavras, faço,

    tão-só, uma reflexão à volta da ideia de solidariedade que faz parte do ADN da ARCIL e que é fermento do seu profundo humanismo.

    Quando falamos das questões relacionadas com a deficiência, tratamos, na

    essência, de direitos humanos e da consequente dignidade da pessoa humana.

    Por outras palavras mais directas, é da Vida e de Família que se trata.

    Para isso, necessário se torna perspectivar e praticar a solidariedade como

    um valor social e não como uma técnica, como um princípio ético e cívico e

    não apenas como um instrumento.

    A Âncora Solidária

    e a ARCIL

    1991 - Visita de Bagão Félix à Arcilda esquerda para a direita:Arménio Bernardes (Subdelegado Regional do Centro doIEFP), Bagão Félix (Secretário de Estado do Emprego eFormação Profissional), João Mexia (Subdelegado Regionaldo Centro do IEFP), Américo Mendes (Director Pedagógico daArcil) e Carvalhinho (Presidente da Arcil)

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    O exemplo da ARCIL é demonstrativo da mudança de paradigma nareabilitação. É necessário que a deficiência seja encarada como um processo

    interactivo entre os factores individuais, familiares e ambientais ou envolventesdas pessoas com deficiência, centrada não nas suas limitações, mas nas suas ca-pacidades e funcionalidades. E também tendo em conta a “irreversibilidade dareversibilidade”, espelhada nos avanços técnicos e científicos de toda a naturezaque permitem exprimir, neste domínio, novas e acrescidas esperanças.

     Afinal do que se trata é de um desafio de inclusão e não de exclusão, decapacidades e não de desvantagens, de participação e não de mero assistencia-lismo, de intervenção e não apenas de reparação. E também de transversalidadedas acções e programas, do primado da responsabilidade pública, do imperativoda plena concertação e da cooperação de todos, das famílias em primeiro lugar,das associações, das empresas, das escolas, das igrejas.

    Sempre com a força da inquietude, o compromisso da partilha e a espe-rança da utopia.

    odos sabemos que para se tentarem ultrapassar os obstáculos não bas-tam as leis (úteis), os financiamentos (indispensáveis), as estruturas orgânicas

    (necessárias). É preciso a tudo isto associar uma amadurecida consciência co-lectiva, uma irrepreensível responsabilidade cívica e empresarial, uma profundasensibilidade social e uma inabalável vontade de, passo a passo, construir umasociedade crescentemente inclusiva.

    odos constatamos que a solidariedade é proclamada “urbi et orbi ”. Fazparte do léxico obrigatório de qualquer agente social ou político, ma isso nãobasta. Precisa de ser vivenciada e concretizada todos os dias. Como na ARCIL.

    Porque a solidariedade significa incluir a parte no todo e o todo na parte. Ummovimento de inserção e um propósito de inclusão.

     A solidariedade é um bem social de mérito. Não se edifica senão por nós.Exige o melhor de cada um sob pena de ser uma aparência ou um simulacro.No limite, só frutifica quando o eu se transforma em nós e o nós em todos. Oudito de outro modo: quando se dá sem pedir contrapartida. Quando cada um seesquece de si próprio para se lembrar do outro. Não se trata, pois, de uma relação

    biunívoca ou comutativa feita de uma parte e contraparte, mas de uma relação

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    distributiva ou associativa construída numa só direcção. Numa analogia de umquase oximoro aritmético, multiplica-se dividindo e soma-se pela diferença.

     A dimensão solidária é, na sua essência, gregária. Feita de muitos “e”,dispensando os disjuntivos “ou”. A mais espontânea e natural expressão solidáriaé a que advém dos laços de sangue e que tem o seu expoente na solidariedadefamiliar.

    Mas a solidariedade exprime-se também, em formas voluntárias ou neces-sárias, nas diferentes formas da relação humana, assumindo umas vezes expressõesmais orgânicas, ou mais sociais, matriciais ou mesmo espontâneas. A ARCIL éuma sua expressão eloquente.

     A solidariedade deve ser uma expressão de vida livre em sociedade e nãouma norma exterior ou imposta. Solidariedade fundamentada em princípiosinalienáveis de dignidade da pessoa humana e não em interesses circunstanciais.Solidariedade praticada como um estímulo activo e não como uma dependênciaestigmática. Solidariedade como referência de exemplaridade geracional e nãocomo uma imposição ou constrangimento mais ou menos mecânico. Acçãovoluntária, directa, personalizada, criativa e proveniente do coração enquanto

    sede moral da personalidade. Parte do homem pluridimensional e deve exprimira exemplaridade. Reduzir as desvantagens e fragilidades sociais não é apenas umproblema de política e de uso de meios técnicos e monetários. Passa, também,pelo primado das iniciativas capilares e do uso da inteligência e do coração.

    Se são os valores que dão alma às organizações, a autêntica solidariedadeé uma forma plena de realizar justiça com alma e não como um valor de trocameramente contábil.

    Disse João Paulo II que é preciso “construir uma grande solidariedade dementes, corações e mãos capaz de vencer as diferenças e as divisões ”. Permito-mesublinhar: mentes, mãos e corações, o que quer dizer que a chave da genuína edesinteressada solidariedade para com os outros passa pela melhor combinaçãopossível entre o ser, o ter, o dar, o saber e o estar.

     A solidariedade deve exprimir-se como uma forma superior de umacidadania responsável e generosa, fomentando a pedagogia das boas acções,

    da experiência social e humanitária da vida, do respeito, da compreensão e da

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    equidade entre diferentes idades, procurando a melhor combinação possível entrerecursos monetários e não monetários (tempo, competência, saberes, partilha,

    gratidão, lealdade, gratuitidade...). Bens preciosamente duráveis e renováveis,sem preço. Do homem responsável na conciliação entre direitos sociais e deve-res colectivos, o homem espiritual que junta à razão a linguagem do coração, ohomem comprometido no direito e dever da busca do bem para todos.

    udo isto, numa óptica vincadamente preventiva e de reinserção social ecomunitária, integrando e não compartimentando soluções, reforçando a quali-dade da resposta e não apenas a quantidade, através de uma adequada simbioseentre voluntariado, generosidade e profissionalismo.

    Vivemos um tempo de exacerbação do individualismo que erodindo aindividualidade rapidamente se transforma no egoísmo social e ético. A estefenómeno de contágio, a solidariedade genuína pode contrapor-se como umaexpressão contagiante e estimulante de educação para o bem comum. Dizia Ga-briel Garcia Marquez: “ Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outrode cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”. Para alguém que não conhecemos.

    Socorro-me de Immanuel Kant para exprimir de outro modo o dever de

    solidariedade. Distinguia ele o dever passivo (obligatio obligati ) do dever activo(obligatio obligantis ). O primeiro é o que resulta da obrigação perante a lei, ocontrato, a formalidade. Assim, é nosso dever pagar a renda da casa no períododeterminado, cumprir o nosso dever de pontualidade no trabalho ou pagar atempo os impostos consagrados na lei. Já o segundo é a obrigação em que nosauto-constituímos. Ninguém nem nada nos obriga, a não ser a nossa consciência.Neste enquadramento axiológico, a solidariedade – a mais pura - é um dever

    activo. Que nasce em nós e pode fermentar nos outros. É esta “não obrigaçãoda obrigação” que lhe confere o seu profundo e inestimável valor personalistae resultado relacional.

     A solidariedade também não é uma posição, um estado. É um caminho,uma relação. De alguém para outrem. E por bem. A solidariedade também devetransmitir a fecunda ideia da gratuitidade: uma união por “nada”. Porque muitasvezes é através do nosso nada que se atinge o todo e, atingido o todo, o nosso

    nada se transforme em tudo. A importância de se ser não é medida por uma

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    qualquer fita métrica e o nada ou pouco para mim pode ser o tudo ou o muito

    para o outro. A solidariedade não é uma abstracção filosófica ou doutrinária.

    Exige o compromisso, envolve-se no contexto, concretiza-se na vivência. Ajudarsignifica amar na plenitude do carácter e da compreensão do outro. Não é esta

    a verdadeira ponte entre a liberdade de ser e a responsabilidade de se agir?

     A sociedade confronta-se, nos dias de hoje, com novas e persistentes

    questões sociais e antropológicas. Na família, na empresa, na comunidade em

    geral, novos desafios se enfrentam, as relações entre as pessoas assumem novos

    contornos e dimensões, as tecnologias e as comunicações revolucionam os pa-

    drões de vida, a globalização altera os centros de decisão e fragmenta o processoprodutivo.

    Vive-se acentuadamente numa “sociedade de zapping ”, concretizada por

    um tempo de predomínio dos factos e do imediatismo sobre a perenidade dos

    valores, um tempo de insaciável satisfação de interesses, nem sempre legítimos,

    que atrofiam, anestesiadamente, o espírito de solidariedade, de partilha, de

    gratuitidade e de convivialidade entre as pessoas.

    Neste âmbito, é indispensável lutar por uma renovada ética de solidarie-dade. A solidariedade é um princípio ordenador que tem em conta a “hipoteca

    social” que impende sobre qualquer bem privado ou público.

     A solidariedade para ser genuína, autêntica, enriquecedora, geracional e

    persistente tem que se edificar de baixo para cima, potenciando os valores do

    voluntariado, da solicitude e da participação como alicerces de uma atitude

    criativa, espontânea de solidariedade não intermediada, menos burocrática, mais

    desinteressada e amiga, mais conforme à natureza do Homem.Por outro lado, uma nova ética nas relações sociais pressupõe que o social

    não seja visto como um custo ou passivo, mas antes como um recurso indis-

    pensável para a geração de uma sociedade mais equilibrada. E se é certo que o

    social, desligado da necessária geração prévia de riqueza pode redundar em puro

    e inconsequente utopismo, não é menos verdade que as preocupações sociais não

    podem ficar submergidas pelo primado da economia e da produção, insensível

    à realidade social. Ambas as visões corroem o exercício da solidariedade.

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    Finalmente, não basta o direito ao rendimento. É preciso o direito a serútil na e para a Sociedade. Em suma: o direito à dignidade integral da pessoa

    humana. Daí, num novo quadro de solidariedade, a exigência de fecundidadesocial das realizações e das iniciativas, não meramente passivas, indemnizatóriasou reparadoras, mas crescentemente activas e reprodutivas, que contribuampara combater as causas e não apenas as consequências da fragmentação e daexclusão sociais.

    ermino este meu arrazoado, com o mais importante: a  ARCIL soubecriar e sustentar através dos seus quase 40 anos de actividade este modo de casara solidariedade autêntica com o bem comum. Bem hajam todos quantos con-tribuíram, em diferentes tempos e etapas e através das diferenças de cada um,para esta bela, generosa e portuguesa expressão associativa.

     António Bagão Félix 

    Novembro de 2013

    (Por decisão pessoal, este texto

    não segue o novo Acordo Ortográfico)

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    Em primeiro lugar gostaria de felicitar os associados, utentes e dirigentesda Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã - ARCIL e homenagear os seus sócios-fundadores, que com o seu trabalhode intervenção social, se tornaram referências obrigatórias para as novas geraçõesde atores dos Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência, bem como louvar

    todos aqueles que deram o melhor das suas vidas por esta empolgante causanacional – a inclusão plena das Pessoas com Deficiência.

     A ARCIL, fundada em 25 de junho de 1976, com intervenção nos con-celhos da Lousã, Miranda do Corvo, Góis e Pampilhosa da Serra, é uma dasorganizações não governamentais que ao longo dos anos sempre tem colaboradoe participado ativamente no desenvolvimento das políticas na área da deficiênciae reabilitação.

    Efetivamente, convirá referir que embora só em 20 de agosto de 1977,com a publicação do Decreto-Lei nº 346/77, tenha sido criado na Presidência doConselho de Ministros, sob a dependência do Primeiro Ministro, o SecretariadoNacional de Reabilitação (SNR), organismo com autonomia administrativa efinanceira e património próprio, que possuía como órgãos o secretário nacional(coadjuvado por dois secretários-adjuntos), o Conselho Nacional de Reabilitaçãoe o Conselho Administrativo. O SNR tinha por objeto ser o instrumento do

    Governo para a implementação de uma política nacional de habilitação, reabi-

    José Serôdio

    ARCIL – Capacitar

    para a Igualdadede Oportunidades

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    litação e integração social das pessoas com deficiência, assente na planificação ecoordenação das ações em ordem à concretização do artigo 71º da Constituição

    da República Portuguesa.O Conselho Nacional para a Reabilitação órgão constituído inicialmentepor representantes dos diversos ministérios incluía também um representanteda Associação Portuguesa de Deficientes e da associação dos Deficientes dasForças Armadas, depressa foi alargando a sua composição e integrando outrasorganizações não governais de relevo na área, designadamente a  ARCIL, quedesde a primeira hora teve uma participação ativa nas reuniões, bem como emdiversos grupos de trabalho que permitiram a elaboração de relatórios e legis-lação, sempre em prol dos direitos das pessoas com deficiência e incapacidade.

    Efetivamente a ARCIL tem no seu singular e pioneiro património de ex-periências e de saberes, a marca da sua elevada prioridade à capacitação pessoal,escolar e profissional das pessoas com deficiência, de modo a poderem participar,em igualdade de oportunidades, na construção de uma sociedade para todos.

    Graças a esta prioridade estratégica, a ARCIL conquistou meritoriamentea confiança social em termos nacionais e projetou desde a primeira hora uma

    mudança no olhar sobre a incapacidade e a diferença contribuindo de formaativa para a inclusão social.

     A ARCIL que tem nos seus valores a afetividade, a dignidade, a ética, ainclusão, o respeito pela diferença, a responsabilidade social e o rigor e a trans-parência tem contribuído ao longo dos anos para uma cultura de participaçãode excelência, importa que se formem as Pessoas com Deficiência, através deprojetos de aquisição de competências académicas e profissionais, na Escola e

    na Formação Profissional, após diagnóstico rigoroso das suas potencialidadese tendo em atenção as evoluções económicas e sócio-culturais dos contextoscomunitários.

     Ao longo dos anos  ARCIL foi-se tornando uma das organizações nãogovernamentais da área da deficiência de exemplo, que foi alargando o âmbitoda sua atividade tendo-se constituído como:

    • Centro de recursos para a inclusão com alunos com NEECP nas estru-

    turas regulares de ensino;

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    • Centro de recursos para os centros de recursos de emprego da Lousã

    e Arganil nas áreas da IAOQE – Informação, avaliação, orientação e

    qualificação profissional – do apoio à colocação e do acompanhamentopós- colocação;

    • Centro de formação profissional para jovens e adultos em situação de

    desfavorecimento face ao mercado de trabalho;

    • Centro de emprego protegido;

    • Centro de atividades ocupacionais.

    Sendo que para o Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., uma dasestratégias necessárias à participação ativa das pessoas com deficiência, em todos

    os sectores da vida em sociedade, passa pelo desenvolvimento, com marcadores de

    permanente criatividade e inovação, da cultura da igualdade de oportunidades,

    através do desenvolvimento da acessibilidade física, arquitectónica, comuni-

    cacional, informativa, cultural e sociopsicológica, conjugada com a necessária

    qualificação educacional e formativa destas pessoas, capacitando-as académica e

    profissionalmente, a ARCIL é um exemplo para a comunidade local e nacional. A participação ensina-se e aprende-se, com a interiorização de valores e

    de comportamentos, com respeito pelas opiniões diferentes e pela capacidade

    de obter consensos alargados entre todos os atores da inclusão, incluindo as

    próprias pessoas com deficiência.

    Mas é através da participação que se revela o perfil pessoal, cultural, so-

    cial, de cidadania e de valores democráticos das Pessoas com deficiência, como

    verdadeiros protagonistas dos seus projetos de vida e de felicidade.Foi através da participação e pela possibilidade de um contacto directo com

    as potencialidades e competências dos concidadãos diferentes da  ARCIL, que

    permitiu que nas zonas onde exerce a sua atividade mais facilmente se tenham

    quebrado os estigmas, pré-juízos e estereótipos.

    Mas a ARCIL para além das sinergias que foi criando a nível local, regional

    e nacional foi gradualmente alargando o seu arco de intervenção, ultrapassando

    fronteiras, permitindo-se fornecer formação aos seus colaboradores e dirigentes

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    mas igualmente criar parcerias com entidades internacionais e nacionais porforma a incorporar novos métodos na área.

    Com os ensinamentos do passado e com as energias actuais da ARCIL,temos condições sólidas para uma nova cultura da igualdade de oportunidades,alicerçada nos talentos das Pessoas com Deficiência e nos Princípios gerais daConvenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência:

    • O respeito pela dignidade inerente, autonomia individual, incluindoa liberdade de fazerem as suas próprias escolhas, e independência daspessoas;

    • A Não discriminação;• A participação e inclusão plena e efectiva na sociedade;• O respeito pela diferença e aceitação das pessoas com deficiência como

    parte da diversidade humana e humanidade;• A igualdade de oportunidade;• A acessibilidade;• A igualdade entre homens e mulheres;• O respeito pelas capacidades de desenvolvimento das crianças com defi-

    ciência e respeito pelo direito das crianças com deficiência a preservaremas suas identidades.

     Assim, o Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., que sucedeu ao Se-cretariado Nacional de Reabilitação, face ao património histórico de trinta anosda ARCIL, não poderia deixar de participar neste livro que é um marco paramemória futura da história dos direitos das pessoas com deficiência e incapaci-

    dade em Portugal, e considerando o essencial da sua intervenção neste âmbito,que muito prestigia o movimento associativo português, partilha a sua reflexão,que esta importante efeméride suscita, no âmbito da sua Missão e Objetivos.

    Muitos Parabéns e Contamos Convosco

    O Presidente do INR, I.P.

     José Madeira Serôdio

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    José Carvalhinho

    História da ARCIL

    em livro e DVD

     A qui está, finalmente, em livro e DVD, a história da ARCIL. Não a minhaversão, mas sim a contada por quem a viveu e vive. Um documento ondeo discurso directo surge em complemento à investigação documental.Este projecto representa o culminar de um desejo por mim alimentado, ao

    longo de muitos anos, de registar a memória de um percurso, da história vivida

    e das diferentes etapas de desenvolvimento da ARCIL.

    Considerada uma instituição de referência, pensada para acolher a di-

    versidade das pessoas com deficiência e criar oportunidades de valorização das

    diferentes capacidades individuais e modos de participar, através de um conjunto

    de iniciativas, ainda hoje reconhecidas como inovadoras.

    Pretendi abraçar numa história todos os que cruzaram, por instantes ou

    com maior permanência, o seu caminho com o desta Instituição. Na impossi-bilidade de os nomear a todos, destaca-se um pequeno núcleo que, na minha

    óptica, traduz fielmente a ARCIL através dos tempos.

    Desejo, pois, que esta obra seja a sistematização, recapitulação e reflexão

    de uma história de construção de vida e de sentido. Não apenas uma memória

    do passado, mas sobretudo uma memória para o futuro. Um relato de histórias

    vividas e contadas na primeira pessoa, pelos diversos actores que neste plateau fo-

    ram intervenientes.

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    endo sido convidado em 1977 pelo Prof. Maio, que aqui homenageio,para dar aulas na ARCIL, não imaginaria então que tal instituição se tornasse na

    paixão da minha vida, que vivi e vivo, pulsando e respirando através dela, colo-cando ao seu dispor e para o seu desenvolvimento tudo de mim, até à exaustão.Para mim, a ARCIL são as pessoas com deficiência e os seus pais. As demais

    componentes, corpo directivo e técnico, colaboradores e edificado só existempara os servir. Assim, ao seu serviço, passei os melhores anos da minha vida, àsemelhança do que me afirmaram muitos dos ex: colaboradores que contacteipara darem o seu contributo a este projecto.

    Comecei (como é uso dizer-se) no tempo em que não havia vacas, depoisvieram as vacas gordas e agora…. são bem magras. Se naqueles anos foi difícildesenvolver a ARCIL, não menos difícil é agora manter a qualidade do serviçoprestado por esta instituição às pessoas que dele necessitam.

    ive a sorte, nessa época, de ter sempre a meu lado uma equipa de imensaqualidade e abnegação, quer nos corpos directivos (meu querido i orres) querno corpo técnico. ODOS vestiram a camisola e alguns, felizmente, continuamcom ela vestida.

    Desde o princípio procurámos servir com muita qualidade e dignidade.Do estrangeiro vieram voluntários, dinheiro e saber técnico (graças a bons ami-gos como Manuel Rocha ou on Van Eert), aprendemos lá fora mais e melhor. As respostas foram surgindo, naturalmente, dirigidas o mais possível para cadacaso, cada situação. O individuo era o centro da nossa actuação.

    Da nossa perseverança e resiliência resultou um projecto de qualidade,marcado pelo pioneirismo de múltiplas respostas, cujo êxito e alcance se pode

    medir através do que sobre nós foi dito e escrito em jornais, revistas, televisão,-rádio, correspondência pessoal e institucional. Prova evidente, foram as muitasvisitas à ARCIL das instituições e técnicos, portugueses e estrangeiros, ligadosa estas temáticas. Foram muitas as visitas oficiais à Lousã de responsáveis dedepartamentos do Estado e do Governo só para verem e conhecerem in loco a ARCIL, o que fazíamos e como.

    Mas não há bela sem senão: 1995 foi o ano dos horrores, o desfalque.

    Um terramoto para a ARCIL, o meu tsunami, mudando radicalmente a minha

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    vida até hoje. Foi, no entanto, um momento em que a alma da ARCIL mostrouquão forte era. odos juntos e embrenhados no mesmo espírito - pais, técnicos,

    sócios, e lousanenses em geral - pugnaram pelo renascimento da mesma. Nãofossem uns interesses mesquinhos e teria sido menos doloroso. Felizmente nãofaltaram apoios locais, nacionais e internacionais.

    Se a ARCIL tem sido importante para o desenvolvimento local, não menosimportante é a forma como a comunidade se une para a amparar, especialmenteem momentos muito difíceis, do passado e do presente. Este livro é tambémuma homenagem e um agradecimento a todos eles.

    É uso dizer-se “O que seria da Lousã sem a ARCIL?” mas…e o que seriada ARCIL sem a Lousã, sem os lousanenses? E eu? O que seria de mim sem a ARCIL?

    Chegado a 2010 senti ser o momento para desenvolver o meu sonho.Depois de partir muita pedra com a Ana Abrantes, logo expus o que pretendiaa três bons amigos, dos quais vim a ter apoio moral e económico: FernandoCarvalho (CM Lousã), Américo Duarte (EFAPEL) e Zé Redondo (Licor Beirão),a que se juntaram, mais tarde, João Bandeira, João Quaresma, Carlos Martins,

    Nuno Peixoto.Convidei amigos ex-colegas para a constituição de uma equipa de apoio

    técnico - Ana Abrantes, Ana Araújo, Cristina Silva e João Graça – a que outrosse juntaram, mais tarde, para colaborarem na construção da obra.

     Apresentado o projecto,sem custos, à direcção da ARCIL, presidida peloDr. Marques Leandro, logo as portas se abriram recebendo todo o apoio possívele sendo designado o Rui Ramos (actual presidente e cuja colaboração foi inesti-

    mável),para a interligação. Da Presidência da Republica veio o Alto Patrocínio edo Instituto Nacional de Reabilitação apoio e contribuição económica. ambémo recém-eleito presidente da Câmara Municipal da Lousã, Luís Antunes, seassociou de forma entusiástica.

    No entanto, sendo este o tempo para reflectir sobre o caminho a seguir,não era, ainda, o tempo da concretização. Depois de três falsas partidas, só aquarta pessoa convidada possuía a alma, o ensejo e o saber necessários para que

    este livro fosse uma obra de grande qualidade. Em Outubro 2012 teve inicio

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    uma parceria para a excelência: o Dr. João Pinho aceitou o desafio e apaixonou--se pela ideia, no fundo pela ARCIL. A vibração emanada por este conjunto de

    pessoas e espaços físicos, transformam a ARCIL num ser vivo que vibra numafrequência de amor, dedicação e afectos, a que ninguém sensível e almejandoo bem do próximo, pode escapar. Passa a vestir a camisola e a respirar ARCIL,como nós dizemos. Como meu co-autor não poderia querer melhor: cerca de600 emails, 50 entrevistas (vídeo e áudio), consulta de 33 pastas/dossiers; con-sulta de 22 livros de actas, 18 boletins informativos, 73 jornais; digitalização de129 vídeos, 25.500 fotos, 3600 slides, imagens de Drone; criação de Parcerias(ESEC V, Centro de Estudos Cinematográficos da UC,etc). Foi assim reabertoo imenso espólio da ARCIL.Espero ter ajudado a dar o primeiro passo para asua organização e abertura ao público.

    Depois de muitas horas de trabalho e discussão, só o voluntarismo, aperseverança, a qualidade humana e capacidade profissional do Dr. João Pinho,hoje um grande amigo que muito prezo, o apoio do Sérgio Eliseu na estruturaçãodo DVD, do Nuno Beirão na paginação e design, a imensa disponibilidade,abnegação e profissionalismo da Ana Seco e a colaboração de toda a equipa

    técnica tornaram possível esta produção.É importante enaltecer e agradecer o apoio da minha família e de todas as

    pessoas a quem pedi colaborações e contributos, de todos recebi uma respostapronta e generosa, senti neles a alma da ARCIL. A ODOS o meu bem-haja!

     José Ernesto Carvalhinho de Paiva 

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    R ecebi o convite para ser co-autor deste livro, em Setembro de 2012,quando José Ernesto Carvalhinho de Paiva me telefonou, num cálidodia ao final da tarde, dando conta dos pormenores do projecto e con-cedendo-me algum tempo para pensar na exequibilidade do mesmo. A ponte

    entre nós fôra estabelecida pela Ana Ribeiro orres, amiga comum e profunda

    sabedora da minha actividade na área da investigação e edição de obras de ca-

    rácter comemorativo e institucional.

    Confesso que nessa altura, a  ARCIL, não me sendo desconhecida era

    algo distante no espaço, com raio de acção localizado e restrito ao município

    Lousanense. Depois dos primeiros contactos pessoais abracei o projecto numa

    fase difícil e sugeri a sua reestruturação. Na verdade, havia-se esgotado o prazo

    para a concretização da ideia inicial – livro comemorativo dos 35 anos da ARCIL (1976-2011) – pela indisponibilidade da Drª Marta Ramos, que sustentara um

    plano baseado em depoimentos orais de antigos e actuais protagonistas; funcio-

    nários, utentes, directores, políticos, entre outros.

    Caíra-se pois, num impasse. Apesar da existência de uma comissão técnica

    formada no seio da instituição, disponível para colaborar em tudo o que fosse

    possível, e coordenada pelo Ernesto Carvalhinho, o debate sobre o rumo a seguir

    era inconclusivo e a apreensão toldava o horizonte.

    João Pinho

    ARCIL

    Uma Referênciapara o Futuro

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    Fruto da minha formação enquanto Historiador, e assim que tomei o pulsoao arquivo da ARCIL, pedi tempo para investigar o acervo documental. E penso

    que em boa hora o fiz, pois só assim seria possível construir uma história institu-cional credível, baseada não só nos testemunhos orais que continuámos a recolher(entrevistas), mas sobretudo em factos atestados pelos documentos oficiais, quedessa forma vinham dissipar dúvidas e afastar alguns receios. Apesar de não exis-tir um arquivo organizado e acessível, os funcionários da ARCIL tudo fizerampara disponibilizar um acervo desorganizado e repartido por vários espaços.Por isso aqui deixo um agradecimento especial à Ana Bandeira e Ana Sêco pelapaciência que tiveram comigo, na recolha e tratamento desse precioso espólio.

     A porta dos documentos levar-me-ia a descobrir uma outra ARCIL que sur-preendentemente se escondia, quase invisível, sob o peso dos anos e das dificuldades.Se é verdade que hoje a instituição nos surpreende pela descentralização funcional deespaços na Lousã, pelo amor à camisola dos funcionários e utentes, pela importânciasocial e até politica no contexto municipal, que dizer do amor, união e carinho dosfundadores em torno de uma causa, do empenhamento de sucessivos directores aolongo dos anos, do papel dos companheiros construtores, do pioneirismo assumido

    em diversas áreas, das parcerias internacionais, da vocação eminentemente produ-tiva que a caracterizava nos anos 80-90, ou do reconhecimento pelas instituiçõescongéneres? Isso vive e “fala” nos documentos que fui recolhendo e sistematizando.

    Realidades, umas esquecidas, outras bem vivas, que procurei abordar nestaobra. A qual, durante estes anos (2011-2015) também evoluiu, quase sempreno sentido de adicionar valor: havendo concórdia em torno da base de investi-gação documental, passámos do livro para DVD, gravámos um documentário

    e organizámos sumariamente o espólio da instituição (fotos e vídeos).Entre as várias entrevistas que realizei, destaco a que fiz ao Prof. António

    Maio, fundador e primeiro presidente da ARCIL. Pelos antecedentes, e tendoem atenção o seu estado de saúde, tudo apontava para a impossibilidade da suarealização. Mas, da insistência fez-se luz e, um dia, consegui recolher o depoi-mento de tão relevante figura no arranque e sustentação da instituição. Apesardas dificuldades, recebeu-me na sua casa, rodeado de familiares, onde de forma

    tranquila me transmitiu a sua forma de ver e sentir a ARCIL.

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    Entre as personalidades que mais me marcaram ao longo deste percurso José Ernesto Carvalhinho de Paiva é incontornável. Mentor e co-autor desta obra,

    23 anos Presidente da Direcção da ARCIL, uma vida dedicada à reabilitação daspessoas com incapacidade. Se o seu vasto e conhecido currículo diz quase tudo,ainda assim não traduz a dimensão de um espirito lúcido, esclarecido, que vivee sonha, ontem como hoje, com uma ARCIL de mais e melhor qualidade. Foi,no seu tempo, um visionário, capaz de rasgar caminhos e procurar soluções,um verdadeiro líder como Portugal teve poucos e a quem a ARCIL deve muito!

    Entre nós e para memória futura fica uma grande amizade e cumplici-dade, saída das muitas reuniões, das horas trocando ideias, definindo etapas,procurando o melhor possível dentro das contingências, que as houve, no nossoprojecto. Nem sempre estivemos de acordo, mas sempre soubemos procurar aconvergência em torno da ARCIL.

    Mais do que o conhecimento que não está nos documentos nem nos livrossobre a ARCIL, e do qual é o guardião ou chanceler das memórias a par de JoãoGraça, é o aspecto formativo sobre a Reabilitação em Portugal que lhe fico deve-dor, pelo imenso saber que possui e me foi transmitindo desde a primeira hora.

    Encerro, em termos pessoais, um ciclo com a edição e publicação destelivro. Durante estes anos conheci pessoas - directores, técnicos, utentes, ami-gos - a quem a instituição ARCIL diz muito, que abriram o seu coração e meconfiaram as suas memórias, antigas e recentes. Ao terminar o projecto, saioenriquecido em conhecimentos e extremamente sensibilizado para o mundodas pessoas com incapacidade.

    Porém, para a ARCIL a História não acaba aqui. Portugal precisa de ins-

    tituições de referência e exemplos para as gerações futuras!

     João Carlos Santos Pinho

    Investigador/Historiador

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    «Tenho enormes expectativas em relação a este livro. A primeira é a de quea ARCIL tem uma história muito importante, mas se a história não for contada

    a história perde-se. Nós não podemos viver das memórias porque elas são efémeras,é preciso um registo, documentar 38 anos. A segunda expectativa tem a ver com o

    que a ARCIL fez que mais ninguém fez. Somos uma instituição de Inovação, cominformação dispersa em vários arquivos. Acredito que este projecto vá colocar numúnico livro a grande prova de que a ARCIL sempre esteve à frente no seu tempo eque pode estar de novo à frente»

    [Rui Ramos, Presidente da ARCIL, entrevistado por João Pinho, 23/01/2014]

    «A ARCIL é uma casa de afectos. Foi uma instituição que foi crescendo. Co-meçou por ter um líder importante, o Prof. Maio. E depois, a partir de 1979/1980

    entrou num novo ciclo, com o Prof. Carvalhinho. Onde a ARCIL não podia ser umaescola especial. Tinha os dias contados. Começámos pela serração, Pré-Profissional,Profissional, desenvolvemos um CAO, depois as residências, oficinas de reparação decalçado, cerâmica, empresas de inserção e a ideia de autossustentabilidade»

    [João Graça entrevistado por Marta Ramos, 09/02/2011]

    «Existe um clima que não se vê em mais lado nenhum, na relação com os

    utentes, a humanização, que não se sente noutras instituições. Um clima que resultado respeito pelas pessoas e da importância que lhes é dada»

    [Ana Abrantes entrevistada por Marta Ramos, 24/02/2011]

    «Uma das características da ARCIL é que as pessoas estão sempre a falar detrabalho. Levam a ARCIL para casa. As pessoas não trabalham na ARCIL, as pessoasvivem na ARCIL»

    [Cristina Silva entrevistada por João Pinho, 28/10/2013]

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    Abreviaturas e Siglas utilizadas na Obra

     ANDDEM – Associação Nacional de Desporto para a Deficiência Mental

     APPACDM – Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental APPC-NRC – Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral – Núcleo Regional do Centro ARCIL – Associação para a Recuperação de Crianças Inadaptadas de Lousã CAO – Centro de Actividades OcupacionaisCEP – Centro de Emprego ProtegidoCG – Conselho de Gestão da ARCILCLEL – Conselho Local de Educação da Lousã CML – Câmara Municipal da Lousã 

    CP – Comissão PedagógicaCRINABEL - Cooperativa de Educação de Crianças Inadaptadas de Santa Isabel-Lisboa CRSSC – Centro Regional de Segurança Social de Coimbra C – Corpo écnicoDGEB – Direção Geral do Ensino BásicoDGEE/DEE - Direção Geral do Ensino EspecialDUECEIRA – Associação para o Desenvolvimento do Ceira e Dueça FSE – Fundo Social EuropeuGC – Governo Civil

    IAC – Instituto de Apoio à Criança IEFP – Instituto de Emprego e Formação ProfissionalINOFOR – Instituto para a Inovação na FormaçãoINR – Instituto Nacional de ReabilitaçãoIPJ – Instituto Português da JuventudeISS – Instituto de Segurança SocialLPDM – Liga Portuguesa de Deficientes MotoresMERIS – Metodologias de rabalho em Rede para a Inserção Social

    MOLIS – Modelo de Intervenção Local de Integração Social de Pessoas com Deficiência NEE – Necessidades Educativas EspeciaisORCA – Oficina de Reparação de CalçadoPARES – Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos SociaisPDIAS – Programa de Desenvolvimento Integrado de Acção Social da Lousã POPH – Programa Operacional Potencial HumanoSAGRA - Social Agricultural ApplicationSAPO – Sector de Apoio pela OcupaçãoSNRIPD – Secretariado Nacional para a Reabilitação e Integração das Pessoas com Deficiência 

    SS – écnico de Serviço Social

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    CronologiaDATA ACONTECIMENTO

    11/04/1976 Reunião na Escola do Ciclo Preparatório Carlos Reis, na Lousã, deum grupo de pais com a população e representantes de entidadesdiversas, tendo em vista a formação de um centro de recuperaçãode crianças deficientes. Constituição de uma Comissão Instaladora

    25/06/1976 Escritura Notarial dos Estatutos e constituição da Associação

    23/12/1976 A CML aceita a doação de Jorge Mário de Carvalho, expressa porcarta, de 1100 contos para ser utilizada em benefício da populaçãodo Concelho da Lousã

    07/02/1977 Abertura do Centro de Recuperação de Crianças Deficientes daLousã, na Quinta do Hospício e admissão dos primeiros utentes.

    09/02/1977 A CML aceita os termos e condições da doação de Jorge Mário deCarvalho (750 contos para aquisição de imóvel e terreno anexo) e350 contos (para beneficiação e adaptação) e afectação do espaçoao funcionamento da ARCIL

    21/02/1977 Escritura da compra da casa e terreno da Quinta do Hospício feitapela CML e aplicando a doação de 750 contos de Jorge Mário deCarvalho, a D.ª Maria da Conceição Machado de Magalhães Mexia

    e Joaquim de Magalhães Pereira Machado1979 No seguimento do acordo luso-sueco, desenvolve-se na ARCIL o

    Sector Pré-Profissional, com apoios à formação de professores ecompra de máquinas industriais

    01 a 03/06/1979 A ARCIL participa na exposição realizada nos Paços do Concelho,sobre o tema «Os direitos das crianças», realizada no âmbito doAno Internacional da Criança.

    1979/1980 Primeira experiência de integração de crianças portadoras de

    deficiência em sala regular da Creche da Sta. Casa da Misericórdiada Lousã.

    14/04/1980 Por despacho publicado no Diário da República II.ª Série, nº 87, aARCIL foi reconhecida como pessoa colectiva de utilidade pública

    1981 Início do funcionamento dos Programas de Pré – Profissionaliza-ção. Construção do Bloco da Pré (Metais, madeiras e olaria comapoio da F. Calouste Gulbenkian e IEFP

    27/01/1981 Protocolo de cooperação entre a ARCIL e a VIUFIL pelo qual secedeu o terreno para a edificação do Anexo de Produção

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    DATA ACONTECIMENTO

    14/06/1981 A Assembleia Geral aprova um voto de louvor a António Maio

    22/04/1982 Visita à ARCIL  do Governador Civil de Coimbra, Manuel DiasLoureiro

    29/04/1982 Inauguração do Anexo, pequena instalação industrial da ARCIL a funcionar junto à empresa Viufil da Lousã, contando com apresença Secretário de Estado do Emprego, Luís Morales, quelançou a primeira pedra

    03/10/1982 Visita do Secretário de Estado dos Desportos, Vaz Serra e Moura.

    06/10/1982 Entra em funcionamento o apartamento dos Codessais – Lousã,tendo em vista o desenvolvimento dos lares ocupacionais.

    18/02/1983 Inscrição oficial da ARCIL  no Ministério dos Assuntos Sociais(Direcção Geral da Segurança Social) como Instituição Particularde Solidariedade Social

    12/04/1983 Entra em funcionamento a oficina de reparação de calçado (ORCA)da ARCIL sob orientação do Sr. Juvenal

    1982/1983 Integração de crianças portadoras de deficiência em salasregulares e salas de apoio permanente em Jardim de Infância darede pública

    05/02/1984 A Assembleia Geral atribui a categoria de Sócio Honorário a JorgeMário de Carvalho e menção honrosa a Rui Carlos Tomás Soares,tesoureiro entre 1976-1979

    10/02/1984 Inauguração das Oficinas de Pré-Profissionalização e Sectorde Pecuária da ARCIL, na presença do Secretário de Estado doEmprego e Formação Profissional, Rui Barradas do Amaral, ecoordenadora regional da Divisão do Ensino Especial, Isabel Maia.

    1985 Criação do Sector de Apoio pela Ocupação (SAPO) para pessoas

    com deficiência de grau grave / moderado, sem capacidade para arealização de uma actividade profissional

    Janeiro 1986 - Abertura do Centro de Formação Profissional, enquadrado ecofinanciado pelo FSE

    20/07/1986 A Assembleia Geral da ARCIL  autoriza a direcção a adquirir aQuinta do Caimão por 5 milhões de escudos

    Outubro 1986 Entra em funcionamento o Gabinete de Psicologia, aberto aoexterior, sob orientação dos psicólogos Mário Pereira e FernandoSilva

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    DATA ACONTECIMENTO

    25 Junho 1986 Abertura de uma loja da ARCIL  no mesmo espaço da Oficinade Reparação de Calçado, para venda de artigos produzidos na

    instituição de artesanato e artigos de interesse turístico05/11/1986 Escritura de compra da Quinta do Caimão

    20/11/1986 Visita do Secretário de Estado da Segurança Social, José NobrePinto Sancho. Anuncia a entrega à ARCIL da impressão dos cartõesde beneficiários da Segurança Social e confirma a atribuição deum subsídio de 7900 contos para aquisição da Quinta do Caimão.O governante dá também ordem para a creche e adaptação do larpara deficientes profundos na Santa Casa da Misericórdia.

    1986 Início de funcionamento do apartamento (cadeia) e 2.ºapartamento nos Codessais

    1986/1987 Integração de crianças portadoras de deficiência em Escolas do 1.ºciclo da Lousã, em salas de ensino regular e de apoio permanente.Criação da 1ª Equipa de Ensino Especial com os professores queestavam na ARCIL

    1987 Constituição formal da valência Centro de ActividadesOcupacionais, em Acordo de Cooperação com a Segurança Social

    09/11/1987 A direcção aprova a instalação do Lar de Profundos (Residencial)que abriria em 1988 na Misericórdia

    18/02/1987 Acordo de cooperação entre a ARCIL e a Divisão do Ensino Especialformalizando o PIL – Projecto Integrado da Lousã

    1988 Arranque na Quinta do Caimão da estrutura de produçãoagropecuária – ARCILAGRO

    23/04/1988 Visita do Primeiro-Ministro Cavaco Silva.

    Maio 1988 A ARCIL passou de observador a vogal do Conselho Nacional da

    ReabilitaçãoJulho de 1988 Assinatura do Acordo entre a ARCIL  e a DREC – Dir. Regional

    de Educação do Centro para o Projecto de Integração Escolarde crianças e jovens com deficiência / Necessidades EducativasEspeciais.

    19/07/1988 Assinatura do acordo de cooperação entre IEFP e ARCIL regularizando o funcionamento do CEPARCIL (Centro de EmpregoProtegido da ARCIL), com três valências – Serração de Madeiras,Reparação de Calçado e Serviços

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    DATA ACONTECIMENTO

    1989 Adesão à Rede Europeia de Centros de Reabilitação Profissional,enquadrada no Programa HELIOS, o único programa da

    Comunidade Europeia exclusivamente dedicado às pessoas comdeficiência

    1989 Criada a estrutura ARCILCARD de produção de todo o tipo decartões de plástico (PVC).

    1989/1990 Integração de crianças portadoras de deficiência em Escolas do2.º e 3.ºciclos da Lousã

    1989/1990 Primeiras integrações profissionais de formandos em empresas

    1990 Abertura do Apartamento Residencial do Penedo com capacidade

    para 15 pessoas do sexo masculino1990 Arranque de um projecto de enclave numa empresa têxtil da

    Lousã – Fábrica de Alcatifas da Lousã, gerida pela família Carvalho

    1990 Constituição da ARCIL como Núcleo da Lousã do PIIP – ProjectoIntegrado de Intervenção Precoce

    15/11/1990 Inauguração do novo bloco da ARCIL – Centro de Reabilitação Física , junto ao núcleo primitivo, com a presença de José Silva Peneda,Ministro do Emprego e Segurança Social

    15/04/1991 Visita do Secretário de Estado do Emprego e Formação Profissional,Bagão Félix ao Centro Ocupacional, Centro de Cartões, Serraçãode Madeiras (Anexo) e Sapataria

    Verão 1991 Por iniciativa da APPACDM de Viana do Castelo, foi celebrado umAcordo de Geminação entre esta instituição e a ARCIL:

    04/07/1991 Visita Oficial do Secretário de Estado da Energia, Luis Filipe Pereira

    15/07/1991 Formalizada a adesão à FORMEM - Federação Portuguesade Centros de Formação Profissional e Emprego de PessoasDeficientes de que foi co-fundadora

    04/01/1992 Abertura do Serviço de Medicina Física e Reabilitação , pelopresidente do CRSS, Queiró de Lima

    29/02/1992 Visita do Secretário de Estado da Saúde, José Martins Nunes.

    11/06/1992 A direcção da ARCIL homenageia Jorge Carvalho atribuindo o seunome à sala de reuniões do 1.º piso do edifício sede

    05/12/1992 Alteração em Assembleia-Geral da denominação social da ARCIL:Associação para a Recuperação de Crianças Inadaptadas da Lousã,passa a Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptadosda Lousã

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    DATA ACONTECIMENTO

    05/12/1992 Aprovação da criação da fundação FACIL - Fundação de Apoio aoCidadão Inadaptado da Lousã

    Finais 1992 Protocolo assinado com a Associação de Desenvolvimento daLousã (ADEL) onde a ARCIL foi a instituição gestora das verbas doprojecto de Luta contra a Pobreza, permitindo o arranque do PDIL– Projecto de Desenvolvimento Integrado da Lousã

    1992 Constituição como Centro HANDINET – Informação, formaçãoe aconselhamento em Ajudas Técnicas, no âmbito do ProgramaHELIOS.

    1992/1993 Criação do Sector de Apoio Residencial, centralizando a gestão de

    todas as unidades residenciais1993 Membro Fundador da Rede Europeia PHILADELPHIA, actualmente

    EAPH – European Association for People with a Handicap

    29/01/1993 Escritura pública de compra e venda dos terrenos na Silveira(Serra da Lousã)

    26/02/1993 Visita oficial do Governador Civil de Coimbra, Eng.º. Pedroso deLima

    28/06/1993 Visita do Secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário,

    Joaquim Azevedo1994 Assinatura de Acordo de Cooperação com a Segurança Social para

    a valência de Actividades de Tempos Livres (ATL)

    1994 Membro Fundador da Rede Europeia COMETRA.

    17/02/1994 Lançamento da 1ª pedra da ARCILCERÂMICA pelo SecretárioNacional da Reabilitação, António Charana

    28/02/1994 A ARCIL passou a integrar, como associada, a DUECEIRA

    15/04/1994 Visita do Presidente da República, Mário Soares, à Silveira.21/06/1994 Início do funcionamento da ARCILJOVEM

    26/07/1994 A direcção aprova a ARCIL como fundadora da Associação para oDesenvolvimento do Vale do Ceira/Dueça

    06/10/1994 Realiza-se o I Festival Europeu da Canção para pessoas comdeficiência, no teatro Orpheus em Apeldoorn – Holanda, tendo aARCIL como co-fundadora.

    1995 Reenício das actividades de Expressão Musical e Musicoterapia.

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    DATA ACONTECIMENTO

    Fevereiro 1995 Rebenta o escândalo da fraude cometida pelo gestoradministrativo da ARCIL, José Albano Metello Nunes dos Reis

    18/02/1995 Na sequência da fraude sobre a ARCIL  é aprovado, em reuniãoda Assembleia Geral da ARCIL, um voto de confiança à direcçãopresidida por José Ernesto Carvalhinho

    01/07/1995 A Assembleia Geral da ARCIL delibera irradiar o sócio José AlbanoMetello Nunes dos Reis

    23/09/1995 Inauguração de uma loja da ARCIL no Centro Comercial D. Dinis,em Coimbra

    1996 Atribuição do estatuto de Centro Prescritor e Financiador deAjudas Técnicas através de um despacho interministerial - Saúde,Educação e Segurança Social

    29/03/1996 A Assembleia Geral da ARCIL  aprova como sócio honorárioFernando Carvalho, tesoureiro, após aceitar o seu pedido dedemissão

    23/10/1996 Visita oficial do Sec. Nacional da Reabilitação, Vitorino Vieira Dias

    Fevereiro 1997 Início das actividades de Hipoterapia, em parceria com a APPC-NRC

    27/05/1997 Visita oficial do Sec. Estado da Reinserção Social, Rui Cunha.

    12/07/1997 A Assembleia Geral aprova como sócio honorário Luis Torres,fundador da ARCIL

    05/05/1998 Protocolo assinado com o CRSS de Coimbra em que a ARCIL setornou parceira do PDIAS

    09/11/1998 A ARCIL participa no II Festival Europeu da Canção Para PessoasCom Deficiência, com os utentes Luis Antão (CEP) e Sara Martinho(CAO-Serviços) e interpretação da canção “Queda do Império”tendo ao piano o musicoterapeuta Rui Ramos

    25/11/1998 Visita do Sec. Estado do Emprego e da Formação, Paulo Pedroso,às instalações da ARCIL, ARCILCERÂMICA, ARCILMADEIRAS eARCILCARD

    22/02/1999 Visita da Comissão para o Mercado Social de Emprego, GertrudesJorge

    27/02/1999 Visita oficial do Deputado Ricardo Castanheira às instalações daARCIL

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    DATA ACONTECIMENTO

    10/09/1999 Inauguração do edifício do CAO – II (SAPO), na Quinta de SantaRita, pelo Ministro do Trabalho e da Solidariedade, Ferro Rodrigues

    11/01/2000 Inicia actividade a Empresa de Inserção ARCILAV (lavandaria elimpeza)

    17/01/2000 Aprovado pela direcção, na generalidade, o Projecto ORCA

    31/01/2000 Visita do Presidente da Câmara Municipal da Lousã, FernandoCarvalho

    01/03/2000 Após obras de reabilitação, o Lar para Pessoas com DeficiênciaProfunda regressa às instalações da Santa Casa, através deprotocolo entre a SCML e a ARCIL

    04/08/2000 Entrega formal do 4º piso do Centro de Saúde onde vinhafuncionando o lar, após transferência do mesmo para asinstalações da SCML

    Outubro 2000 O Presidente da ARCIL, José Ernesto Carvalhinho solicita ademissão das suas funções por motivos de saúde

    02/12/2000 A AG da ARCIL  aprova um voto de louvor e agradecimentoao trabalho desenvolvido pelo seu presidente José ErnestoCarvalhinho designando-o Sócio Honorário.

    02/12/2000 Ascende a Presidente da ARCIL José Manuel Marques Leandro

    Junho 2001 Abertura de loja da ARCIL no Intermarché da Lousã.

    Dezembro 2001 Credenciação pelo IEFP como Centro de Recursos Local dosCentros de Emprego da Lousã e de Arganil, funcionando comosuporte técnico para as questões e reabilitação

    Janeiro 2002 A ARCIL foi eleita representante das IPSS do concelho no ConselhoLocal de Educação da Lousã (CLEL)

    09/04/2002 Falecimento de Luis Torres, fundador da ARCIL20/04/2002 Aprovada em AG e por unanimidade, a proposta da direcção para

    que os fundadores da ARCIL passassem a Sócios Honorários

    Abril 2002 Atribuição de medalha de mérito do concelho da Lousã

    Setembro de 2002 Reínicio de actividade do Rancho Folclórico da ARCIL .

    11/12/2002 Formalizada a adesão à HUMANITAS - Federação Portuguesapara a Deficiência Mental

    2003 Torna-se membro do CLAS – Conselho Local de Acção Social.

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    DATA ACONTECIMENTO

    12/07/2003 Realização do 1.º Festival Nacional da Canção Para Pessoas ComDeficiência Mental, realizado no Cine-Teatro da Lousã, no âmbito

    das actividades comemorativas do Ano Europeu da Pessoa comDeficiência

    02/01/2004 Início dos Acordos de Cooperação com a Segurança Social criandoas valências Apoio Domiciliário e Lar de Apoio

    23/03/2005 Falecimento de Jorge Mário Carvalho, associado honorário ebenemérito da ARCIL

    11/11/2006 Realiza-se o I Festival de Folclore da ARCIL no âmbito do programacomemorativo dos 30 anos da instituição

    19/12/2006 Visita oficial do Presidente da República, Prof. Aníbal Cavaco Silva,às instalações da ARCIL

    21/04/2007 A Assembleia Geral aprova por unanimidade um voto de louvorao Prof. António Rodrigues de Almeida Maio enquanto sóciofundador e 1.º Presidente da Direcção da ARCIL

    31/05/2007 Encerramento da loja de reparação de calçado que a ARCIL ocupava no Intermarché da Lousã

    10/06/2007 A ARCIL é distinguida pela Presidência da República com o grau deMembro Honorário da Ordem de Mérito  no âmbito das comemoraçõesdo Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, comemoradona Cidade de Setúbal

    13/07/2007 Escritura de doação de lote na Quinta de Santa Rita (onde jáfuncionavam os edifícios do SAPO e ARCILMADEIRAS), pelaCâmara Municipal da Lousã - doação aprovada por unanimidadeem Assembleia Municipal

    09/11/2007 Organização do VII Festival Europeu da Canção para Pessoas comDeficiência Mental, no CAE (Centro de Artes e Espectáculos daFigueira da Foz)

    07/02/2008 Homenagem a Fundadores, Ex-Presidentes da Direcção eamigos da ARCIL, colocando fotografias das personalidadeshomenageadas na sala de reuniões e de direcção

    06 Julho 2009 Inauguração na Vila de Góis, de um Pólo do CAO, em cerimóniapresidida pelo director do CDSSC, Mário Ruivo.

    16/09/2009 Visita da Ministra da Saúde, Ana Jorge

    19/10/2009 Lançamento da obra CEO, com a presença da Secretária de EstadoAdjunta e da Reabilitação Idália Moniz.

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    36 Pessoas, Ideias e Afectos | ARCIL – um projecto de causas

    DATA ACONTECIMENTO

    04/02/2010 Visita da Sec. Estado Adjunta e da Reabilitação, Idália Moniz, aoPólo de CAO, em Góis.

    01/03/2010 O executivo da CML aprova a transferência para a ARCIL  daspropriedades seguintes: Cabo do Soito, Santa Rita (onde funcionaa ARCILCERAMICA), e o local da antiga cadeia na Rua Eng.º DuartePacheco onde está instalada a fábrica de cartões. A doação seriaoficializada a 02/06/2010, com excepção da propriedade ao Cabodo Soito, só mais tarde regularizada.

    Setembro 2010 Formalização da adesão à ADXTUR – Aldeias do Xisto

    21/11/2010 A ARCIL  recebe no Palácio da Bolsa, no Porto, o prémio ManuelAntónio da Mota, com o projecto de acessibilidade , desenvolvidopor 2 jovens terapeutas da fala do Centro de Recursos para aInclusão (CRI), João Canossa e Mariana Teixeira

    22/11/2010 A ARCIL recebe no CCB em Lisboa, o prémio “Capacitar” promovidopelo banco BPI, no valor de 200.000 Euros distinguindo o ProjectoSustento

    04/12/2010 Inauguração do Centro de Estimulação Ocupacional na presençada Sec. Estado para a Reabilitação, Idália Moniz

    14/03/2011 Deliberado aderir à RSOPT - Rede Nacional de Responsabilidade Social

    25/07/2011 Abertura ao público do bar sito no Parque Carlos Reis, entreguepela CML à ARCIL para exploração.

    Setembro 2011 Certificação EQUASS

    25/10/2011 A direcção suspende a produção de cartões na unidade de ARCILCARD

    10/12/2011 Visita do Secretário-geral do PS, António José Seguro àsinstalações do CEO

    15/03/2012 Inauguração da Loja ARCILCERÂMICA

    19/11/2012 Inauguração de exposição com peças de cerâmica03/12/2012 Inauguração do mural e lançamento oficial da campanha Ponha o

    seu nome no CEO 

    Julho 2012 O Programa EDP Solidária premeia o projecto “Coisas da Quinta”desenvolvido pela ARCIL

    Outubro 2013 A ARCIL  assume a coordenação administrativa e financeira doPrograma de Contratos Locais de Desenvolvimento Social – CLDS+

    15/05/2014 Falecimento do professor António Maio, fundador e 1º presidenteda direcção da ARCIL (1977-1981)

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    Na política internacional, sucedem-se momentos históricos: em Itáliao democrata-cristão Aldo Moro toma a responsabilidade de formargoverno; em Espanha e após um interregno de 40 anos realizam-seeleições municipais, sendo amnistiados 90% dos presos políticos; em França,

     Jacques Chirac demite-se da chefia do governo, sendo substituído por Raymond

    Barre; em Cuba, é referendada a nova Constituição estabelecendo o carácter

    socialista da República e a aspiração em constituir uma sociedade comunista;

    a India e a China restabelecem relações diplomáticas; o Vietname consegue a

    reunificação; as ilhas Seychelles, após 162 anos de domínio britânico tornam-se

    independentes; a Grécia e a urquia chegam a acordo sobre o domínio da pla-

    taforma do Mar Egeu; e Portugal integra-se no Conselho da Europa.

    Os EUA são notícia pelos melhores motivos - celebram com festas sump-tuosas os seus 200 anos e é eleito Jimmy Carter como Presidente – mas também

    pelos piores – rebenta o escândalo Lockheed, que consistiu no pagamento de

    luvas por esta empresa norte-americana de aviões, a numerosas personalidades da

    Europa e do Japão. Por outro lado, o 13º Congresso da Internacional Socialista,

    encerra com a eleição de Willy Brandt para a presidência da organização. Por

    fim, e reunidos no Qatar, os membros da OPEP decidem aumentar em 15%

    o preço do petróleo.

     1976.Um ano profícuoem acontecimentos…

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    38 Pessoas, Ideias e Afectos | ARCIL – um projecto de causas

    Os conflitos militares dominam o panorama global: o governo cubanoconfirma o envio de voluntários para Angola em apoio ao MPLA; os EUA ces-

    sam a ajuda a Chile; na Argentina Isabel Perón é deposta na sequência de golpemilitar; as tropas sírias penetram no Líbano, chegando aos arredores de Beirute.O terrorismo vai ganhando expressão: na Córsega, 16 atentados são reivin-

    dicados, em Maio, pela Frente Nacional de Libertação, a qual estará na origemda explosão de um Boeing 707 da Air France em Setembro; e um comandoisraelita vai a Entebe, no Uganda, libertar os reféns do Airbus da Air France,desviado por palestinianos.

    O racismo continua uma pesada herança, que não dá tréguas: confrontosraciais na cidade negra de Soweto, na República da África do Sul, fazem 60 mor-tos. Aqui e ali a descriminação sexual vai cedendo: pela primeira vez frequentama Academia Militar de West Point, nos EUA, pessoas do sexo feminino.

    Um ano também duro em termos de catástrofes naturais: sismos em Itália(Friul) e nas Filipinas abanam o planeta, embora sem a magnitude daquele queocorreu na cidade mineira chinesa de angtshan, causando o impressionantenúmero de 650.000 mortos.

     Apesar dos conflitos e dos acidentes, o ano traria algumas boas notícias,relacionadas com progressos tecnológicos: a inauguração do metropolitano deBruxelas; o voo do avião comercial anglo-francês Concorde , entre Paris e NovaIorque, à velocidade supersónica; o maior telescópio do mundo inicia funcio-namento em Zelentschuck, no Cáucaso.

    Na saúde destaca-se a realização da IX Assembleia da Organização Mundialda Saúde, onde surgiu uma classificação internacional de deficiências, incapa-

    cidades e desvantagens, ou seja, um manual de classificação das conseqüênciasdas doenças (CIDID), publicado em 1989.

    Na cultura, o prémio nobel distingue Saul Bellow (EUA), enquanto William Styron lança A Escolha de Sofia. Alfred Hitchcock estreia no cinemaIntriga em Família  e Martin Scorsese Taxi Driver . Na música forma-se a bandairlandesa U2.

     A nível nacional realiza-se a primeira Festa do Avante e, mais tarde, o 8º

    Congresso do PCP, corolário da influência desta força partidária na sociedade,

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    especialmente a sul do ejo. Preconizando a vitória do Socialismo em Portugala acção do partido será orientada pela Reforma Agrária. O país, na verdade, vive

    neste ano os efeitos políticos e sociais da Revolução dos Cravos: em janeiro, oex-presidente português, António Spínola, residente em Espanha, é obrigado arefugiar-se no Brasil; nos princípios de Abril aprova-se a Constituição democrá-tica socialista e, a 25 do mesmo mês, são conhecidos os resultados das eleiçõesgerais em Portugal: o PS obtém 34,87% dos votos, o PSD 24,38%, o CDS 16%e o PCP 14,35%. - resultados que levarão Mário Soares a formar um governominoritário (I Governo Constitucional), tacitamente apoiado pelos comunistas.Mais tarde, a 27 de Junho, o General A. Ramalho Eanes seria eleito Presidenteda República com 61,5% dos votos.

    O orçamento de Estado prevê um défice de 34.800 contos, e a Assem-bleia Constituinte analisa o problema dos orizicultores do Vale do Mondegoe a regularização do Baixo Mondego. Paralelamente, uma onde de atentadosdestruía sindicatos em Braga, enquanto sedes de partidos políticos na Covilhãeram incendiadas.

    Na cultura, Miguel orga lança a obra Fogo Preso, José Saramago o Ma-

    nual de Pintura e Caligrafia , Vitorino Nemésio Sapataria Açoriana  e EduardoLourenço O Fascismo nunca existiu. Na imprensa, lança-se o primeiro númerodo jornal O Diário e, em Coimbra, o eatro de Estudantes da Universidade deCoimbra, estreia em Abril, a peça Arraia-Miúda , de Jaime Gralheiro.

    Na religião canoniza-se a portuguesa Beatriz da Silva (1424-1491) que fun-dou em Espanha a Ordem da Imaculada Conceição. No Desporto, Carlos Lopesvence, em Chepstown, o Campeonato do Mundo de Corta-Mato e, nos Jogos

    Olímpicos de Montreal (Canadá), obtém a medalha de prata nos 10.000 metros. A nível regional, Coimbra assiste, pelo início do ano, a uma corrida aos

    saldos, enquanto o Ramal da Lousã era motivo de acesa discussão nesta cidade,nomeadamente a localização do futuro apeadeiro na sequência do encerramentoda travessia diária entre o Parque da Cidade e a Estação Nova. A questão dosbaldios, nomeadamente dos povos serranos, ganha novo ânimo com a publica-ção de lei reconhecendo o direito dos povos, o que conduzirá ao recenseamento

    dos mesmos.

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     A nível local, a Comissão Administrativa da CM Lousã avança para o arran- jo da Praça Cândido dos Reis , o executivo da Freguesia de Vilarinho queixa-se dos

    muitos ofícios enviados e dos poucos despachos favoráveis, e elegem-se as comissõesde moradores em várias freguesias. ambém em Vilarinho, e no lugar do Prilhão,funda-se a Associação Popular “União e Progresso” a 1/1/1976, enquanto encerramas portas do mais antigo clube da Lousã: o Clube Lousanense, fundado em 1885.

    Em Fevereiro realiza-se a IV edição do percurso Lousã-Coimbra, porestafetas, e, em Março, torna-se conhecida a Comissão Instaladora do HospitalConcelhio da Lousã . No 1º de Maio decorre um vasto programa comemorativo,com destaque para a homenagem aos democratas José Cardoso e Alcino SimõesLopes. Neste mês, assumem grande destaque as tradicionais festas a N.ª Sr.ªPiedade e a vitória expressiva do PS nas eleições legislativas.

    Em Julho conhecem-se as nomeações dos corpos gerentes da Cooperativade Comercialização, enquanto a Comissão de Moradores de Vale de Nogueiralança uma curiosa campanha de angariação de fundos tendo em vista a aquisiçãode um triciclo motorizado para um conterrâneo, de nome Manel, poder traba-lhar - e a quem fora recusado o pedido feito junto do Serviço de Reabilitação e

    Protecção aos Diminuídos Físicos . Um Verão quente marcado pela falta de águaem várias freguesias, como em Vale de Nogueira, mas também de luz, em especialna povoação de Videira, lugar da Freguesia de Foz de Arouce.

    Na 38ª Volta a Portugal, participa um lousanense, Luís Gregório, natural deFiscal (freguesia de Vilarinho), classificando-se em 22º lugar ao serviço da equipado Sangalhos. Em Novembro, volta a aparecer no jornal “A voz de Serpins”. E,em Dezembro, sairia vencedor das eleições autárquicas o PS, com larga maioria.

    Contudo, o facto mais relevante da vida social na Lousã, no distante anode 1976, seria a criação da ARCIL - Associação para a Recuperação de CriançasInadaptadas da Lousã  – após trabalho prévio efectuado por uma Comissão Insta-ladora constituída pelos seguintes elementos: José Júlio dos Santos Carvalhinho, Armando Jorge Agostinho Ribeiro de Carvalho, Manuel Paulo de Almeida, António Rodrigues de Almeida Maio, Gualter Baeta Sequeira Neves Barreto, Arménio omás, Luís orres Carvalho Dias, Rui Carlos Soares, D. Deolinda

    Fernandes Simões e Dª. Elvira dos Prazeres Silva.

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    «O conceito de integração é mais do que um modelo pedagógico. É um me-canismo de formação tão poderoso como as noções de democracia, de justiça e deigualdade, e é um elemento capital para a concretização permanente destas aspirações»

    [ A Integração Escolar das Crianças e dos Adolescentes , Documentos OCDE, Paris, 1994]

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    O desenvolvimento das estruturas organizacionais para pessoas comdeficiência passou por diferentes fases, reflexo das teorias vigentes edos sistemas político-sociais dominantes. A UNESCO considerou, em 1977, que a História da Humanidade passou,

    no que respeita à integração de cidadãos deficientes, por vários estádios que a

    seguir se descrevem:1. Estádio Filantrópico: em que as pessoas com deficiência eram vistas

    como pessoas doentes, portadoras de incapacidades permanentes, ne-cessitando de tratamento e cuidados de saúde em isolamento;

    2. Estádio de Assistência Pública: em que o estatuto de doentes e inválidosimplicava assistência social em Instituições Especiais;

    3. O Estádio dos Direitos Fundamentais: sendo iguais para todos inde-

    pendentemente das suas limitações e incapacidades, incluindo no querespeita à educação;

    4. O Estádio da Igualdade de Oportunidades: numa época em que odesenvolvimento económico e cultural levou à massificação da escola,onde pela primeira vez sobressairam os handicapes a nível social e cul-tural e as dificuldades de aprendizagem eram cada vez mais evidentes,valorizando a igualdade e não respeitando as diferenças individuais

    numa escola cada vez mais igualitária;

     Perspectiva Histórica

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    5. O Estádio da Integração: na actualidade [1977], onde a normalidadeé posta em causa e se defende a diferença e as necessidades específicas

    de cada um. Assim, e durante séculos vingou a exclusão, afastamento ou segregação docidadão deficiente, seres vistos como indesejáveis, perturbadores e ameaçadoresda vida social: em Esparta, uma comissão especial dava ou não o direito à criançade sobreviver consoante os seus problemas físicos; em Atenas, as crianças defi-cientes eram abandonadas nas florestas e, em Roma, atirados aos rios, enquantona China, os deficientes auditivos eram lançados ao mar.

    Na Idade Média, o quadro era também assustador: apedrejados e mortosnas fogueiras da Inquisição, considerados como possuidores do demónio, deterem o “diabo no corpo”, por vezes mortos em rituais e práticas de feitiçaria. As suas atitudes andavam ligadas a crenças sobrenaturais, demoníacas e supers-ticiosas, que geravam do desprezo ou rejeição a atitudes de pena ou compaixão.Surgem asilos, orfanatos e hospitais para acolherem os perturbados mentais.

    Com a Revolução Francesa, os ideais de liberdade, igualdade e fraternida-de, levaram a uma atitude diferente face ao cidadão deficiente. Através da forma

    assistencial eram entregues aos cuidados de organizações caritativas e religiosas,mas ainda assim segregados da sociedade.

    O Séc. XIX seria fundamental na abordagem à deficiência, trazendomudanças muito significativas, pelas preocupações ao nível médico e científico:

    «Vitor, designado pelo “Selvagem de Aveyron” que foi abandonado pre-cocemente nos bosques franceses e mais tarde descoberto, sofrendo de umadeficiência mental profunda (muito embora alguma literatura espanhola o refira

    como portador de Autismo) foi um dos grandes exemplos de empenhamentoao nível da intervenção educativa por parte de Itard.

    Itard é hoje considerado o “pai da Educação Especial” pois foi ele quempela primeira vez desenvolveu e utilizou programas específicos com vista à edu-cação de crianças com necessidades educativas específicas»1.

    1  Maria Luisa Paiva Simões – Inclusão, um percurso…vários caminhos . Relatório de Estágio na ARCIL,

    Educação Especial, UC, FPCE, Julho 2002, p. 26

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    O Séc. XX acentuou a visão do problema a nível científico: «A medição dacapacidade intelectual a partir de desempenhos a nível sensório-motor de Galton

    e os testes de inteligência de Stanford Binet e Simon que levam ao aparecimentodo conceito de “Idade Mental”, vêm demonstrar que a capacidade intelectualé mensurável», conduzindo a uma aceitação das diferenças, assumindo que ascapacidades são diferentes «e levando pela primeira vez à identificação de criançascom “atrasos” mentais que não poderão estar nas escolas regulares, mas sim emsituações educativas especificas, daí surgirem Escolas Especiais»2.

     Apesar dos progressos o planeta seria sacudido pelo primeiro conflitomundial (1914/1918). Assim e durante a Primeira Guerra Mundial, um grandenúmero de deficientes mentais adultos saíram dos internatos onde levavam umaexistência monótona para combater no exército. erminado o conflito, foramnovamente conduzidos para os internatos, permanecendo alheados da vidasocial do seu tempo.

     A crise económica dos anos 30 exerceu forte influência negativa. A redu-ção de recursos destinados aos serviços sociais deu origem a um retrocesso comgrande parte dos Estados a adoptarem ideologias sociais negativas: Estas teorias

    deram origem a atitudes de prevenção social, ao alarme eugenésico, uma radica-lização das teses de Galton. Assim implementaram-se medidas coercivas no querespeita ao matrimónio, esterilização e reclusão em instituições, entre outras.

    O segundo conflito armado mundial (1939-1945) fez emergir, na Ale-manha, a figura de Adolfo Hitler. Na sua louca obsessão pelo aperfeiçoamentoda raça, trouxe tempos de atrocidades. Os cidadãos com deficiência estiveramentre os primeiros sacrificados: recorde-se a lei da higiene social de 1933, onde

    se calcula que 100.000 pessoas sinalizadas com deficiência mental, e outrasperturbações associadas, tenham morrido durante a época do terror nazi; oua esterilização compulsiva de pessoas com problemas hereditários, deficientesmentais; e a castração de delinquentes sexuais, ou de pessoas que a cultura naziassim classificasse, como era o caso dos homossexuais.

    2  Idem. p. 27

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    Na Segunda Guerra Mundial (tal como na primeira) nos EUA, tambémos excluídos, caso dos deficientes mentais que tinham capacidade para produzir,

    foram chamados na mobilização geral. Após a 2ª Guerra Mundial começaram a valorizar-se os direitos huma-nos, aparecendo novos conceitos, como o direito à diferença e a justiça social,veiculados através de organizações de índole político-filosófico e social: ONU,UNESCO, OMS, OCDE, EU, Conselho da Europa e Reabilitação Internacio-nal. Recordemos, a este propósito:

    • Declaração Universal dos Direitos Humanos, (ONU, 10/12/1948),que no seu Art.º 1.º definiu: «Todos os seres humanos nascem livres e iguaisem dignidade e direitos e, dotados que são de razão e consciência, devemcomportar-se fraternalmente uns com os outros»; e no seu artigo 3: «Todoindivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança da sua pessoa », quese deve aplicar a todas as pessoas sem excluir os incapacitados.

    • Declaração dos Direitos da Criança  (Resolução da ONU, 20/11/1959),que estipulou que os direitos das crianças com deficiência devem ser respei-tados, nomeadamente os direitos aos estudos, a brincar, ao convívio social.

    No seu Princípio 5.º pode ler-se «A criança mental e físicamente deficienteou que sofra de alguma diminuição social, deve beneficiar de tratamento, daeducação e dos cuidados especiais requeridos pela sua particular condição».

    • Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiência Mental (ONU,20/12/1971). C ompromisso assumido pelos Estados Membros, na Cartadas Nações Unidas, de agir em conjunto ou separadamente, em coope-ração com a Organização, com vista a promover a elevação dos níveis

    de vida, o pleno emprego e condições de progresso e desenvolvimentoeconómico e social.

    Posteriormente, podemos destacar como principais marcos do quadroevolutivo a nível mundial no que toca à deficiência e educação:

    • Public Law 94-142. Aprovada pelo Congresso dos EUA em 1975,tendo como objectivo principal a integração de todas as crianças na

    escola pública. O número elevado de crianças com N.E.E., cerca de 8

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    milhões, impulsionou uma intervenção legislativa com vista a uma ple-na integração escolar, que se repercutiria também na integração social.

    Concretizou 4 objectivos principais:• Garantir que todas as crianças com NEE dispusessem de Serviços deEducação Especial;

    • Assegurar que as decisões sobre a prestação de serviços fossem tomadasde forma ponderada e adequada;

    • Estabelecer uma administração transparente, procedimentos e requisitosde auditoria para a Educação Especial em todos os níveis do Governo;

    • Disponibilizar fundos federais para auxiliar os Estados ao nível dos custos;

     A lei privilegiou a vertente educacional, promovendo uma integraçãoassente em princípios base: Educação Pública e gratuita para todas as criançascom NEE, avaliação exaustiva e práticas de teste adequadas à condição da criançae não discriminatórias (quer racial quer culturalmente), colocação da criançano meio menos restritivo possível satisfazendo as suas necessidades educativas,elaboração de planos educativos individualizados (PEI), formação de professo-

    res e outros técnicos, desenvolvimento de materiais adequados e envolvimentoparental no processo educativo da criança.

     Warnock Report. Face ao descontentamento crescente em relação àsconcepções teóricas e práticas da Educação Especial organizou-se, na Grã-Bre-tanha, em 1974 e pela primeira vez, um Comité de Investigação, constituídopelo Departamento de Educação e Ciência, presidido por Mary Warnock. Oobjectivo principal era a análise da situação educativa das crianças e jovens com

    deficiências físicas e mentais, e as formas de aproveitamento de todos os recursosexistentes para uma educação mais eficaz. Pela primeira vez, fez-se uma sensibili-zação para os recursos da comunidade (quer escolar, quer extra-escolar) apelandoà participação e envolvimento de professores, técnicos, pais e autoridades locais.

    O documento seria publicado em 1978 com o título Report of the Comité ofHandicapped and Young People , desde logo operando uma mudança de conceito,nascendo o das Necessidades Educativas Especiais em substituição da Incapaci-

    dade e Deficiência. Aquele novo termo trouxe um novo enfoque à problemática,

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    48 Pessoas, Ideias e Afectos | ARCIL – um projecto de causas

    privilegiando a vertente educacional e pedagógica, centrando a análise maisexaustiva a nív