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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO 1

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Uma Unidade de Conservação carece de um Plano de Manejo para nortear suas

ações e ao mesmo tempo cumprir com as exigências legais.

Criar uma RPPN é um “troço” muito complicado, pois precisa-se ter além da

abnegação pela causa, também uma enxurrada de outras virtudes. Só assim se

suportará os obstáculos encontrados pela frente.

Para encarar a confecção de um Plano de Manejo, é necessário duplicar essas tais

virtudes e empregá-las de corpo/alma e coração ao objetivo. Assim é a vida de

quem quer criar um Plano de Manejo. E escute bem “seu moço ou sua dona!” Aqui

quem vós fala é um cabra que tem duas RPPN´s, “ambientalista de tirar raça” e

“roceiro” de formação. Eu tenho conhecimento de causa.

Agora imagine tudo isso que eu falei de dificuldade e acrescente o fato de que em

Sergipe existe somente seis RPPNs. Falta informação e formação. Aqui o

movimento de criação de UC engatinha. Tá saindo do lugar...

Por outro lado, o jargão popular diz que só se preserva aquilo que se conhece.

Então não basta criar uma UC no papel é necessário saber o que ela tem de flora,

fauna e outros recursos. Aí sim, inicia e se aprofunda no princípio da preservação.

Conversando com um “mateiro” integrante da Equipe, ele disse: “Pense num

trabalho dificultoso. Fazer os levantamentos foi um trabalho cansativo e

gratificante. Vi “pé de pau” ser chamado de “espécie” o mesmo com as aves e

outros bichinhos. Vi aves ameaçadas convivendo livremente na RPPN. Vi também

aves que pousam na UC somente para se alimentar. Eu conhecia na RPPN

somente a água da lagoa ou do riacho para tomar banho, conhecia também alguns

cantos de pássaro porém nunca parei para observar direitinho como o bichinho

era, as veredas que se chama de trilha hoje representa mais que um caminho, uma

passagem...”

Então, prezado leitor. Este documento foi elaborado debaixo de muito esforço,

análise e discussão. Se você é técnico, vai saborear muitas informações e com

certeza servirá para embasamento ou crítica para futuro trabalhos. O nosso

objetivo principal foi conhecer o que realmente existe na RPPN, como utilizá-la

com o mínimo impacto e compreender como funciona os sistemas de preservação

existente. Se você não é técnico, também vai encontrar informações em

linguagem popular e compreender um pouco mais sobre a RPPN.

Sinceramente o que eu mais quero é transmitir o meu amor pelas coisas roceiras

pra pessoas, e que elas passem a admirar uma gotinha de orvalho sustentada por

uma folhinha, que ela goste do barulho do vento nas folhagens, de ver pássaro

cantar nas árvores ... É isso que tento fazer com todos.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN NO ESTADO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............... 23

FIGURA 2) MAPA CLIMATOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ...................................................... 25

FIGURA 3) MAPA GEOMORFOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................................................. 27

FIGURA 4) MAPA TEMÁTICO GEOLOGIA – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO .............................................. 28

FIGURA 5) MAPA DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................................. 29

FIGURA 6) TIPOS DE VEGETAÇÃO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ....................................................... 34

FIGURA 7 - MAPA ILUSTRADO DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS. FONTE: RAZÃO .................................................................... 94

FIGURA 8) MAPA DO ZONEAMENTO - FONTE SEPLAN/SE - MOD. P/RAZÃO .............................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

LISTA DE FOTOS

FOTO 1) FAZENDA CORDEIRO DE JESUS – FONTE: JU ALMEIDA ......................................................................... 15

FOTO 2) VISÃO PANORÂMICA DA RPPN - FONTE: RAZÃO ................................................................................. 17

FOTO 3) RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL - PROJETO TAMAR - PIRAMBU/SE – FONTE: EDNALDO ............ 24

FOTO 4) VEGETAÇÃO TÍPICA NA RPPN – FONTE EDNALDO ................................................................................ 33

FOTO 5) PHILANDER FRENATUS (OLFERS, 1818) – FOTO: L.P. COSTA ............................................................ 44

FOTO 6) GAMBÁ ( DIDELPHIS AURITA - FOTO: MAJA KAJIN .................................................................................. 45

FOTO 7) O RATO DA MATA (AKODON CURSOR) – FOTO: L.P. COSTA ................................................................. 45

FOTO 8) GLOSSOPHAGA SORICINA (PALLAS, 1766) – FONTE: ROBERTO LEONAM ............................................ 46

FOTO 9) MORCEGO DAS FRUTAS (ARTIBEUS LITURATUS) – FONTE: ROBERTO LEONAM ................................... 46

FOTO 10) MORCEGO (PLATYRRHINUS LINEATUS) – FONTE: ROBERTO LEONAM ............................................... 46

FOTO 11) CACHORRO-DO-MATO OU GUARAXAIM (CERDOCYON THOUS) MORTO – FONTE: ................................ 47

FOTO 12) CACHORRO-DO-MATO OU GUARAXAIM (CERDOCYON THOUS) ............................................................. 47

FOTO 13) LEOPARDUS TIGRINUS – FONTE: L. P. COSTA .................................................................................... 47

FOTO 14) PSEUDALOPEX VETULUS – FONTE: L. P. COSTA ................................................................................. 48

FOTO 15) CALLITHRIX JACCHUS – FONTE: L. P. COSTA ...................................................................................... 49

FOTO 16) CAVIA APEREA – FONTE: J.CARRARO ................................................................................................. 50

FOTO 17) DASYPROCTA ACOUTI – FONTE: J. CARRARO ..................................................................................... 51

FOTO 18) LAGOA ENCANTADA, SECANDO NO FINAL DO ESTUDO – FONTE: AUGUSTA ....................................... 64

FOTO 19) LAGOA ENCANTADA, CHEIA NO INÍCIO DO ESTUDO – FONTE: AUGUSTA ............................................ 64

FOTO 20) BOLSA CONFECCIONADA PARA COLOCAR AS ESPÉCIES DE FOLHAS – FONTE: AUGUSTA .................. 66

FOTO 21) COM FOLHAS VERDES DENTRO DA LAGOA – FONT: AUGUSTA ............................................................. 66

FOTO 22) : APARELHO UTILIZADO PARA ANÁLISE DA ÁGUA – FONTE: AUGUSTA ................................................. 68

FOTO 23) SAPIUM GLANDULOSUM, UM MÊS APÓS COLETA – FONTE: AUGUSTA ................................................. 75

FOTO 24) SAPIUM GLANDULOSUM, NO MOMENTO DA COLETA – FONTE: AUGUSTA ............................................ 75

FOTO 26) VISITANTE NA TRILHA DA RPPN – FONTE: .......................................................................................... 84

FOTO 25) VISITANTE CADEIRANTE PREPARANDO PARA A TRILHA - , FONTE: ...................................................... 84

FOTO 27) REUNIÃO DO DRP COM AS COMUNIDADES - FONTE: ........................................................................ 102

FOTO 28) REUNIÃO DO DRP COM AS COMUNIDADES - FONTE: ........................................................................ 104

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Sumário

1. INFORMAÇÕES GERAIS .......................................................................................................................17

1.1 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN ..............................................................................................17

ação da RPPN – Fonte: Razão ................................................................................................................ 17

1.2 - VIAS DE ACESSO ..............................................................................................................................18

1.3 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA BARRA DOS COQUEIROS .............18

1.4 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA JAPARATUBA ..................................18

1.5 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN ......................................................19

1.6 - FICHA RESUMO DA RPPN ...............................................................................................................21

1.7 - METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO .............................................22

2. DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................................23

2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN .........................................................................................................23

2.1.1 - ASPECTOS CLIMÁTICOS ..............................................................................................................25

2.1.2 - GEOLOGIA .......................................................................................................................................27

2.1.3 - GEOMORFOLOGIA .........................................................................................................................27

2.1.4 - SOLOS ..............................................................................................................................................28

2.1.5 - HIDROGRAFIA .................................................................................................................................29

2.1.6 - ESPELEOLOGIA ..............................................................................................................................31

2.1.6.1 - HISTÓRICO ESPELEOLÓGICOS EM SERGIPE ......................................................................31

2.1.6.2 - METODOLOGIA ............................................................................................................................32

2.1.6.3 - RESULTADOS PRELIMINARES .................................................................................................32

2.1.6.4 - CAVERNAS IDENTIFICADAS .....................................................................................................32

2.1.7 - VEGETAÇÃO....................................................................................................................................33

2.1.7.1 - INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................33

2.1.7.2 - METODOLOGIA ............................................................................................................................35

2.1.7.3 - RESULTADOS ..............................................................................................................................36

2.1.7.4 - DISCUSSÃO ..................................................................................................................................39

2.1.7.5 - ESPÉCIES AMEAÇADAS ............................................................................................................39

2.1.7.6 - OCORRÊNCIAS NOVAS, DE RELEVÂNCIA REGIONAL REGISTRADAS E INTERESSE

CIENTÍFICO E CONSERVACIONISTA ......................................................................................................40

2.1.7.7 - ESPÉCIES EXÓTICAS E POTENCIALMENTE DANOSAS ....................................................40

2.1.8 - FAUNA ..............................................................................................................................................42

2.1.8.1 - MASTOFAUNA .............................................................................................................................42

2.1.8.1.1 - METODOLOGIA .........................................................................................................................42

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2.1.8.1.2 - CARACTERIZAÇÃO GERAL DA MASTOFAUNA .................................................................43

2.1.8.1.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................43

GLOSSOPHAGA SORICINA (PALLAS, 1766) .........................................................................................46

Hábitos ......................................................................................................................................................... 49

2.1.8.1.4 - DISCUSSÃO ...............................................................................................................................51

2.1.8.1.5 - ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO ..............................................................................53

2.1.8.1.6 - ESPÉCIES EXÓTICAS E POTENCIALMENTE DANOSAS ..................................................53

2.1.8.1.7 - ESPÉCIES MIGRATÓRIAS ......................................................................................................53

2.1.8.1.8 - ESPÉCIES INDICADORAS DE QUALIDADE AMBIENTAL .................................................54

2.1.8.2 - AVIFAUNA .....................................................................................................................................55

2.1.8.2.1 - MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................................................55

2.1.8.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................56

2.1.8.2.3 - CONSERVAÇÃO .......................................................................................................................60

2.1.8.2.4 - ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO ..............................................................................61

2.1.8.2.5 - EDUCAÇÃO AMBIENTAL E ECOTURISMO ..........................................................................61

2.1.8.3 - "FAUNA MACROBENTÔNICA ASSOCIADA À MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM

LAGOAS COSTEIRAS DO LITORAL NORTE SERGIPE". .....................................................................62

2.1.8.3.1 - LAGOAS COSTEIRAS ..............................................................................................................62

2.1.8.3.2 - LAGOAS NO ESTADO DE SERGIPE .....................................................................................62

2.1.8.3.3 - MATERIAIS E MÉTODOS .........................................................................................................64

2.1.8.3.1.1 - CARACTERIZAÇÃO DA LAGOA ESTUDADA. ..................................................................65

2.1.8.3.1.2 - MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE DA VEGETAÇÃO DO ENTORNO ..........................65

2.1.8.3.1.3 - Análise dos parâmetros físico-químico da água ............................................................. 67

2.1.8.3.4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................................69

2.1.8.3.4.1 - Caracterização físico, químico e biológica da lagoa ...................................................... 69

2.1.8.3.5 - ANÁLISE DA FAUNA MACRO BENTÔNICA ASSOCIADA .................................................73

2.1.8.3.5 - CONCLUSÕES ..........................................................................................................................76

2.1.8.4 - LEVANTAMENTO ICTIOLÓGICO NA LAGOA ENCANTADA ............................................ 77

2.1.8.4.1 - METODOLOGIA .........................................................................................................................77

2.1.8.4.1.1 - PROCESSAMENTO EM CAMPO .........................................................................................77

2.1.8.4.1.2 - PROCEDIMENTO EM LABORATÓRIO ...............................................................................78

2.1.8.4.1.3 - Capturas por unidade de esforço em número e biomassa de peixes ......................... 78

2.1.8.4.2 - RESULTADOS ...........................................................................................................................79

2.1.8.4.3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................81

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2.1.9 - PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL ................................................................83

2.1.10 - VISITAÇÃO .....................................................................................................................................84

2.1.10.1 - TURISMO DESORDENADO ......................................................................................................86

2.1.10.2 - MONITORAMENTO DO IMPACTO DE VISITAÇÃO ...............................................................86

2.1.11 - CONVÊNIOS ...................................................................................................................................86

2.1.12 - PESQUISA ......................................................................................................................................87

2.1.13 - OCORRÊNCIA DE FOGO .............................................................................................................89

2.1.14 - OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CONJUNTO COM A RPPN ..........................89

2.1.15 - SISTEMA DE GESTÃO .................................................................................................................90

2.1.16 - PESSOAL .......................................................................................................................................90

2.1.17 - INFRA-ESTRUTURA .....................................................................................................................91

2.1.18 - EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS: .................................................................................................91

2.1.19 - RECURSOS FINANCEIROS:........................................................................................................92

2.1.20 - FORMAS DE COOPERAÇÃO: .....................................................................................................92

2.2 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE........................................................................................94

COMO INFRAESTRUTURA DE APOIO A FAZENDA POSSUI: ............................................................95

2.1.1 - USO DA TERRA ...............................................................................................................................95

2.2.2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDA COM RISCOS AMBIENTAIS....................................................96

2.2.3 - POTENCIALIDADES .......................................................................................................................96

2.2.5 - CRIADOURO DE ANIMAIS SILVESTRES ....................................................................................97

2.2.6 - CONSTRUÇÃO DE CHALÉS .........................................................................................................98

2.2.7 - REFLORESTAMENTO DO LICURIZEIRO ....................................................................................98

2.3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO ..............................................................................98

2.3.1 - DADOS QUE CARACTERIZAM O MUNICÍPIO DE PIRAMBU ...................................................99

... 2.3.2 - APLICAÇÃO DO DRP – DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO PARA A AVALIAÇÃO

ESTRATÉGICA DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO E SEU ENTORNO. ............................ 102

2.3.2.1 - METODOLOGIA .......................................................................................................................... 104

2.3.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................................... 105

2.3.2.3 - ATIVIDADES LOCAIS ................................................................................................................ 107

2.3.2.4 - POTENCIALIDADES .................................................................................................................. 107

2.3.2.5 - PROBLEMAS .............................................................................................................................. 108

2.3.2.6 - IMPACTOS .................................................................................................................................. 110

2.3.2.7 - AÇÕES E PROJETOS PREVISTOS ......................................................................................... 111

2.3.2.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 111

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2.3.3 - PROJETO TAMAR ......................................................................................................................... 112

2.3.4 - SERVIÇOS / EQUIPAMENTOS EXISTENTES ........................................................................... 112

2.4 - POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE ...................................................................................... 113

2.4.2 - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LITORAL NORTE ........................................................... 113

2.4.3 - PARQUE DAS DUNAS .................................................................................................................. 114

2.5 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA .............................................................................................. 114

3. PLANEJAMENTO .................................................................................................................................. 117

3.1 - MÉTODO APLICADO PARA O PLANEJAMENTO ....................................................................... 117

3.2 - DIRETRIZES DO PLANEJAMENTO ............................................................................................... 117

3.4 - ZONEAMENTO .................................................................................................................................. 120

3.3.1 - ZONA SILVESTRE ......................................................................................................................... 121

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN – FONTE: RAZÃO ....................................................................... 17

QUADRO 2) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN NO ESTADO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............. 23

QUADRO 3) MAPA CLIMATOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO.................................................... 25

QUADRO 4) MAPA GEOMORFOLÓGICO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................................... 27

QUADRO 5) MAPA TEMÁTICO GEOLOGIA – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................................ 28

QUADRO 6) MAPA DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................... 29

QUADRO 7) TIPOS DE VEGETAÇÃO – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ..................................................... 34

QUADRO 8) GRÁFICO DAS FAMÍLIAS ENCONTRADAS ............................................................................................ 36

QUADRO 9) FORMAÇÕES VEGETACIONAIS ........................................................................................................... 52

QUADRO 10) GRÁFICO DAS FAMÍLIAS IDENTIFICADAS ........................................................................................ 57

QUADRO 11) MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PIRAMBU COM DESTAQUE EM VERDE PARA AS ÁREAS

DE ESTUDO - FONTE: ATLAS DIGITAIS-SEMARH ....................................................................................... 64

QUADRO 12) GRÁFICO QUANTO A CPUEN ......................................................................................................... 81

QUADRO 13) CONVÊNIOS MANTIDOS COM INSTITUIÇÕES DE ENSINO ................................................................. 87

QUADRO 14) PARCERIAS RPPN E COMUNIDADES DO ENTORNO ....................................................................... 89

QUADRO 15 - MAPA ILUSTRADO DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS. FONTE: RAZÃO ................................................................ 94

QUADRO 16) COMUNIDADES PARTICIPANTES DO DRP – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ................... 105

QUADRO 17) INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES DO DRP ....................................................................................... 106

QUADRO 18) ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS

TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 107

QUADRO 19) POTENCIALIDADES EXISTENTES NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS

TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 108

QUADRO 20) PROBLEMAS EXISTENTES NAS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E PELOS

TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES ..................................................................................................................... 109

QUADRO 21) IMPACTOS CONSEQUENTE DE IMPLANTAÇÃO DE PROJETOS APONTADAS PELOS MORADORES E

PELOS TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES .......................................................................................................... 110

QUADRO 22) ANSEIOS E PREVISÕES DE PROJETOS PARA AS COMUNIDADES APONTADAS PELOS MORADORES E

PELOS TÉCNICOS DAS INSTITUIÇÕES .......................................................................................................... 111

QUADRO 23) MAPA DO ZONEAMENTO - FONTE SEPLAN/SE - MOD. P/RAZÃO ................................................................... 121

LISTA DE TABELAS

TABELA 1) PERCURSO ARACAJU / RPPN VIA BARRA DOS COQUEIROS ............................................................. 18

TABELA 2) PERCURSO ARACAJU / RPPN VIA BR 101 ........................................................................................ 18

TABELA 3) TRANSPORTE RODOVIÁRIO DISPONÍVEL PARA A RPPN ..................................................................... 19

TABELA 4) FICHA RESUMO DA RPPN .................................................................................................................. 21

TABELA 5) ÍNDICE PLUVIOMÉTRICO MENSAL 2010 – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ............................. 26

TABELA 6) VOLUMES DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DE SERGIPE – FONTE SEPLAN/SE – MOD. P/RAZÃO ...... 30

TABELA 7) CAVERNAS IDENTIFICADAS EM SERGIPE – FONTE: SEGEO/SE ....................................................... 32

TABELA 8) VALORES DE DENSIDADE (DI), DENSIDADE RELATIVA (DRI) (%), DOMINÂNCIA RELATIVA (DORI)

(%), FREQUÊNCIA RELATIVA (FRI) (%), DIÂMETRO MÉDIO (DIAMI), ÁREA BASAL (ABI), ÍNDICE DE VALOR

DE IMPORTÂNCIA (IVI) E ÍNDICE DE VALOR DE COBERTURA (IVC), PARA AS ESPÉCIES. ........................... 37

TABELA 9) CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS DAS ESPÉCIES ................................................................................. 43

TABELA 10) LISTA DE ESPÉCIES DE MAMÍFEROS REGISTRADAS RPPN E SUAS CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS

...................................................................................................................................................................... 43

TABELA 11) LISTA DE ESPÉCIES DE MAMÍFEROS REGISTRADAS RPPN E LOCAL DE REGISTRO ......................... 52

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TABELA 12) RELAÇÃO DAS ESPÉCIES DE AVES REGISTRADAS NA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO,

ATRAVÉS DE OBSERVAÇÃO DIRETA E VOCALIZAÇÃO, CONFORME LEGENDA: STATUS = ST, RESIDENTE =

R E VISITANTE SAZONAL ORIUNDO DO HEMISFÉRIO NORTE (VN) CONFORME CBRO (2006), E = ESPÉCIE

ENDÊMICA DO BRASIL; E GRAU DE SENSIBILIDADE A DISTÚRBIOS AMBIENTAIS = S: BAIXA SENSIBILIDADE =

L, MÉDIA SENSIBILIDADE = M E ALTA SENSIBILIDADE = H, SEGUNDO PARKER III ET AL. (1996). .............. 57

TABELA 13) ESPÉCIES AMEAÇADAS ..................................................................................................................... 61

TABELA 14) ESPÉCIES COLETADAS DURANTE O ESTUDO NA LAGOA ENCANTADA .............................................. 66

TABELA 15) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE PH NA LAGOA ENCANTADA. ......................................................... 69

TABELA 16) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE TEMPERATURAS (º C) NA LAGOA ENCANTADA............................. 70

TABELA 17) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE SÓLIDOS TOTAIS (PPM) NA LAGOA ENCANTADA - MEDIDOS NO

MULTIPARÂMETRO HANNA HI 9828. ........................................................................................................ 70

TABELA 18) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES EM PORCENTAGEM DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO (%) NA LAGOA

ENCANTADA, COM VALORES TEMPERATURA CORRIGIDOS TABELA 9. MULTIPARÂMETRO HANNA HI

9828. ............................................................................................................................................................ 71

TABELA 19) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE SALINIDADES (PPM) NA LAGOA ENCANTADA ................................ 71

TABELA 20) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE CONDUTIVIDADE ELÉTRICA NA LAGOA ENCANTADA. ................... 72

TABELA 21) DISTRIBUIÇÃO DOS VALORES DE ORP NA LAGOA ENCANTADA. ..................................................... 73

TABELA 22) CONDIÇÕES DO TEMPO NA LAGOA ENCANTADA, DURANTE AS COLETAS REALIZADAS. ................... 73

TABELA 23) IDENTIFICAÇÃO DA FAUNA MACRO BENTÔNICA NA LAGOA ENCANTADA, PIRAMBU - SE ................. 73

TABELA 24) ABUNDÂNCIA DA FAUNA MACRO BENTÔNICA NAS LAGOAS ENCANTADA E NAS LAGOAS B E C. ..... 74

TABELA 25) ANÁLISE QUALITATIVA DA DECOMPOSIÇÃO FOLIAR NA LAGOA ENCANTADA .................................... 75

TABELA 26) ESPÉCIES ENCONTRADAS NA LAGOA ENCANTADA ........................................................................ 79

TABELA 27) ESPÉCIES CAPTURAS POR TIPO DE MALHA E REDE ......................................................................... 79

TABELA 28) RENDIMENTO DAS REDES DE PESCA ............................................................................................... 80

TABELA 29) RELAÇÃO CAPTURA E BIOMASSA .................................................................................................... 80

TABELA 30) EQUIPAMENTOS DE EPI .................................................................................................................... 91

TABELA 31) PARCERIAS E FORMAS DE COOPERAÇÃO ......................................................................................... 92

TABELA 32) REGIONALIZAÇÃO E DIVISÃO ADMINISTRATIVA DE PIRAMBU ............................................................ 99

TABELA 33) DADOS DEMOGRÁFICO DE PIRAMBU ................................................................................................ 99

TABELA 34) DOMICÍLIOS E RENDA ...................................................................................................................... 100

TABELA 35) DOMICÍLIOS E SANEAMENTO ........................................................................................................... 100

TABELA 36) INDICADORES ECONÔMICOS ........................................................................................................... 101

TABELA 37) INDICADORES SOCIAIS - EDUCAÇÃO ............................................................................................... 102

TABELA 38) SERVIÇOS E EQUIPAMENTOS EXISTENTES NO MUNÍCIPIO .............................................................. 112

TABELA 39) ÁREAS DO ZONEAMENTO ................................................................................................................ 120

TABELA 40) ESPÉCIES DE AVES AMEAÇADAS - FONTE: RAZÃO ....................................................................... 139

TABELA 41) PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ......................................................................................... 145

TABELA 42) CRONOGRAMA FÍSICO FINANCEIRO DOS PROGRAMAS DE MANEJO .............................................. 155

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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LISTA DE SIGLAS

ACOPAL Associação das Comunidades participativas de Aningas e Lagoa Redonda

ANA Agência Nacional das Águas

APA Área de Proteção Ambiental

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento

CCD Convenção de Combate à Desertificação

CDB Convenção de Diversidade Biológica

CEPF Critical Ecosystem Partnership Fund

CHESF Companhia Hidro Elétrica do São Francisco

CI Conservação Internacional

CITES Comércio Internacional das Espécies da Fauna e Flora em Perigo de Extinção

CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba

CONABIO Comissão Nacional de Biodiversidade

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

DMA Domínio Mata Atlântica

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMDAGRO Empresa de Desenvolvimento Agropecuário

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação

FLONA Floresta Nacional

FUNBIO Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

GEF Global Environment Fund

IBAMA Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMBio Instituto Chico Mendes para a biodiversidade

IFS Instituto Federal de Educação de Sergipe

IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza

MaB Programa Homem e a Biosfera

MMA Ministério do Meio Ambiente

MONA Monumento Natural

NEB Nordeste do Brasil

ONG Organização Não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

PARNA Parque Nacional

PIB Produto Interno Bruto

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

14

PMA Pelotão Ambiental da Policia Militar de Sergipe

PNB Política Nacional da Biodiversidade

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PROBIO Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira

PRONABIO Programa Nacional da Diversidade Biológica

RBMA Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

REBIO Reserva Biológica

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

RVS Refúgio de Vida Silvestre

SBE Sociedade Brasileira de Espeleologia

SEMARH Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Sergipe

SEPLANTEC Secretaria de Estado do Planejamento de Sergipe

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SRH Secretaria de Recursos Hídricos

TNC The Nature Conservancy

TSM Temperatura de Superfície do Mar

UC Unidade de Conservação

UFPE Universidade Federal de Pernambuco

UGR Unidade Gestora Responsável

UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

UNIT Universidade Tiradentes

WCMC Centro de Monitoramento da Conservação Mundial

WWF Fundo Mundial para a Natureza

ZA Zona de Amortecimento

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

15

INTRODUÇÃO

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na propriedade

denominada Fazenda Cordeiro de Jesus (Foto 1) localizada no Povoado Lagoa

Redonda Município de Pirambu, litoral norte do Estado de Sergipe. Oriunda do VII

Edital da SOS MATA ATLÂNTICA, teve sua criação através da Portaria do ICMBio

Nº 71, de 27 de agosto de 2010.

Fica em uma área estratégica do ponto de vista de preservação com distância

de apenas 3,5 km da RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL (Reserva Biológica) –

Santa Isabel, berçário das tartarugas marinhas e base do Projeto Tamar no Estado.

Sua vegetação predominante é tipo Restinga (campo e mata), possui 2

nascentes (olhos d água) catalogados, 2 lagoas, Riacho Perene, Dunas semimóveis,

dunas fixas, fauna e flora exuberante e totalmente monitorada e preservada.

Diante da riqueza natural existente, Iniciou-se na área que compõe hoje a

RPPN, em 2006, um projeto de diagnóstico para inserção do Ecoturismo com base

comunitária nos moldes do WWF, constado de: Sensibilização Ambiental,

catalogação da fauna/flora e possíveis parceiros e o inventário dos atrativos eco

turísticos da região. Detectou-se que a região possuía todos os requisitos que

auxiliaria a implementação do Projeto. Várias ações foram colocadas em prática e

de forma tímida os resultados esperados iam chegando, porém em contrapartida, o

assédio dos visitantes era maior. Locais antes escondidos e preservados foram

descobertos e degradados. Áreas de restinga exuberante deram lugar a loteamentos

clandestinos. E assim, os benefícios objetivados em médio prazo com o Projeto

Foto 1) Fazenda Cordeiro de Jesus – Fonte: Ju Almeida

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

16

foram esquecidos diante da nova realidade local. Somente uma ação de igual ou

maior intensidade poderia frear os sintomas do avanço descontrolado do turismo

massivo que se vislumbrara. Não enxergando outra alternativa a não ser a criação

de uma Unidade de Conservação e assim foi idealizado. O Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (SNUC), Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, no seu

Artigo 27, § 1º, determina que as UC devam dispor de um plano de manejo e define

esse instrumento em seu Artigo 2º como:

“Documento técnico mediante o qual, com fundamentos nos objetivos gerais de uma

Unidade de Conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem

presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das

“estruturas físicas necessárias à gestão da Unidade.” Portanto, o plano de manejo é

um instrumento de planejamento e gerenciamento das unidades de conservação,

elaborado após a devida análise dos fatores bióticos, abióticos e antrópicos

existentes na UC e em seu entorno, que prevê ações de manejo a serem

implementadas.

Novamente com o apoio da SOS Mata Atlântica e seus parceiros, iniciamos a

elaboração do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (Janeiro de

2011 a Março de 2012) com os objetivos principais para a Reserva são a pesquisa

científica e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.

De acordo com o Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural, os objetivos do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo são: - Contribuir para que a UC cumpra com os objetivos estabelecidos na sua criação; - Definir objetivos específicos de manejo para cada UC, de maneira a orientar e subsidiar a sua gestão; - Promover o manejo da UC, orientado pelo conhecimento disponível e/ou gerado; - Dotar a UC de diretrizes para o seu desenvolvimento; - Definir ações específicas para o manejo da UC;

- Estabelecer a diferenciação e a intensidade de uso mediante o zoneamento, visando à proteção de seus recursos naturais e culturais;

- Destacar a representatividade da UC no SNUC diante dos atributos de valorização dos seus recursos como biomas, convenções e certificações internacionais;

- Orientar a aplicação de recursos na UC;

- Contribuir para a captação de recursos e a divulgação da UC;

- Fortalecer a figura das RPPN no SNUC.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

17

1. INFORMAÇÕES GERAIS

A RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO está localizada no litoral norte do Estado

de Sergipe no município de Pirambu (Quadro 1), distante 16 km da zona urbana da

cidade e 48 de Aracaju, capital do Estado. Fica situada a uma distância de 3,5 km da

RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL.

1.1 - MAPA DE LOCALIZAÇÃO DA RPPN

Quadro 1) Mapa de localização da RPPN – Fonte: Razão

Japa

ratu

ba

OCEANO ATLÂNTICO

2 km

13,6 k

m

15,1 k

m

11,3 km

5, 3 km

3,0 km

0,7 km

RPPN Dona Benta e Seu CabocloComo chegar à

Foto 2) Visão Panorâmica da RPPN - Fonte: Razão

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

18

1.2 - VIAS DE ACESSO

VIA BARRA DOS COQUEIROS: Partindo de Aracaju segue sentido à Cidade de

Barra dos Coqueiros, passando sobre a ponte que corta o Rio Sergipe (Distante 02

km). Segue pela Rodovia SE 100 até o município de Pirambu onde seguindo a

Rodovia SE 204 segue sentido à Cidade de Japaratuba até o Povoado Aguilhadas

onde entra à direita retornando para a Rodovia SE 100 segue em direção ao

Povoado Lagoa Redonda. Ao chegar neste Povoado, visualiza-se uma placa

indicativa para o Povoado Cordeiro de Jesus e segue por 600 metros onde fica a

entrada da RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO.

VIA JAPARATUBA: Partindo de Aracaju segue sentido à BR 101, deixando esta

somente no trevo de acesso à Cidade de Japaratuba, cortando-a pega a SE 204

sentido à Cidade de Pirambu, onde 2 km à frente deixa a SE 204 e segue pela SE

420 sentido ao Povoado Sapucaia. Percorrendo 20 km se encontra o trevo de

acesso ao Povoado Lagoa Redonda, entrando à direita percorre-se cerca de 3 km

pela SE 100 até a entrada da RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO.

1.3 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA BARRA DOS

COQUEIROS

Tabela 1) Percurso Aracaju / RPPN via Barra dos Coqueiros

CIDADE/POVOADO km PONTO DE REFERÊNCIA

Barra dos Coqueiros Rod. SE 100 02 Ponte sobre o Rio Sergipe

Jatobá Rod. SE 100 18 Porto de Sergipe

Pirambu Rod. SE 204 31 Estuário Rio Japaratuba

Aguilhadas Rod. SE 100 35 Placa indicativa Lagoa Redonda

Lagoa Redonda Rod. SE 100 47 Placa indicativa Cordeiro de Jesus

RPPN Dona Benta e Seu Caboclo 48 Entrada da RPPN

1.4 - TABELA DE DISTÂNCIA PARTINDO DE ARACAJU VIA

JAPARATUBA

Tabela 2) Percurso Aracaju / RPPN via BR 101

CIDADE/POVOADO km PONTO DE REFERÊNCIA

BR 101 06 Ponte sobre o Rio Sergipe

Entrada de Japaratuba Rod. SE

204 48 Porto de Sergipe

Entrada da Sapucaia Rod. SE

420 05 Estuário Rio Japaratuba

Trevo acesso Lagoa Redonda

Rod. SE 100 71 Placa indicativa Lagoa Redonda

RPPN Dona Benta e Seu 73 Entrada da RPPN

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

19

Caboclo

Tabela 3) Transporte rodoviário disponível para a RPPN

LINHA DE ÔNIBUS: Empresa Viação Litoral Norte

Aracaju / Ponta dos Mangues / Aracaju

Aracaju / Alagamar / Aracaju

Aracaju / Lagoa Redonda / Aracaju

A viagem dura aproximadamente 70 minutos partindo de Aracaju.

1.5 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS DA RPPN

De acordo com o disposto no art. 21 da Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que

instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, e o Decreto

nº 5.746, de 05 de abril de 2006, que regulamenta a categoria de unidade de

conservação de uso sustentável - Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN -

e, Considerando as proposições apresentadas no Processo IBAMA/MMA - ICMBio

n° 02070.001445/2009-55, dão suporte para o nascimento da RPPN DONA BENTA

E SEU CABOCLO, que foi instituída através da Portaria do ICMBio Nº 71 de 27 de

agosto de 2010/2000.

Possui uma área de 24,7 hectares e foi a 4ª RPPN criada no Estado de Sergipe

A Averbação da Unidade de Conservação encontra-se no Cartório de Registro

Imobiliário de Japaratuba sob nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68.

Historicamente, toda a área do litoral norte do Estado sofre com os impactos

negativos causados pelo homem. Desde os primórdios das capitanias hereditárias

com a tomada da faixa litorânea e as depredações dos recursos naturais e quase

extinção da Mata Atlântica até os nossos dias com a desenfreada especulação

imobiliária.

Nesse contexto, estava inserida a propriedade denominada Lagoa do Avô que foi

adquirida pelo roceiro Manoel Elielson Cordeiro de Jesus e sua Esposa Jucélia

Almeida Matos de Jesus com o objetivo de manter a preservação daquele pedaço

de Restinga quase intocável, das Lagoas e de todo seu ambiente.

Seguindo uma tradição familiar, muda-se o nome para FAZENDA CORDEIRO DE

JESUS e inicia-se o planejamento para transformar algumas das suas áreas em

Unidade de Conservação do tipo RPPN e Estrategicamente, com o intuito de frear a

ganância de veranistas no Povoado Lagoa Redonda, resolve-se transformar em UC

a área da Fazenda que se encontra mais próxima desse Povoado. E assim, 4 anos

mais tarde o sonho se realizara com o apoio da SOS Mata Atlântica e seus

parceiros.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

20

Os proprietários informaram que se iniciou então uma verdadeira via crucis em

busca de apoio não somente financeiro, mas principalmente de parceiros que

somassem os mesmos ideais. Procuraram então as Universidades e as Faculdades,

as empresas estatais, as empresas privadas e o “não” era sempre a resposta.

Relatam que as pessoas físicas demonstravam uma maior sensibilidade pela causa

do que as instituições. Informam que inúmeras vezes foram chamados de loucos e

surrealistas, até mesmo por funcionários de Órgãos cujo objetivo é incentivar a

preservação. E foram colecionados frases e fatos que vale a pena destacar com o

objetivo de fortalecer a todos ambientalistas:

“você é louco, pegar terra para doar para o governo”

“O que você vai ganhar com isso...?”

“Você tá apaixonado pela causa e quando a pessoa fica apaixonada não enxerga

direito”

“Pense nos seus filhos, você tá tirando deles...”

“você quer é enriquecer porque eu sei que o governo dar muito dinheiro...”

“você pode fazer extrativismo na sua RPPN, por isso a gente tem que analisar o

processo com cuidado...”

“no setor público tudo é demorado mesmo... você tá cobrando por um processo que

não tem 60 dias que deu entrada...”

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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1.6 - FICHA RESUMO DA RPPN

Tabela 4) Ficha Resumo da RPPN

FICHA RESUMO DA RPPN

NOME DA RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

DATA E NÚMERO DO ATO LEGAL DE CRIAÇÃO Portaria do ICMBio Nº 71 de 27 de agosto de 2010

ENDEREÇO DA RPPN Povoado Lagoa Redonda, s/n – Zona Rural – Pirambu / SE

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Rua 08, Nº 133 – Conj. Fernando Collor – CEP.: 49160-000 – Nossa Senhora do

Socorro / SE

NOME DO IMÓVEL Fazenda Cordeiro de Jesus

Registrado sob a matricula nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68, no dia 30 de junho de 2008, no Registro de Imóveis da Comarca de Japaratuba - SE.

NOME DOS PROPRIETÁRIOS Manoel Elielson Cordeiro de Jesus e Jucélia Almeida Matos de Jesus

NOME DO REPRESENTANTE Manoel Elielson Cordeiro de Jesus

CONTATO Fones: (79) 3254-6259 / 8822-6948 / 9135-

5234 / 9998-8776 [email protected]

ÁREA DA RPPN (ha) 23,6

ÁREA DA FAZENDA CORDEIRO DE JESUS (ha) 97,1

PRINCIPAL MUNICIPIO DE ACESSO À RPPN Pirambu

MUNICIPIOS E ESTADOS ABRANGIDOS

Pirambu / Sergipe

COORDENADAS GEOGRÁFICA UTM, E:743059,677 e N:8821219,507

LIMITES E CONFRONTANTES Sr. Pedro dos Santos - Sr. Romeu dos Santos – Fazenda Cordeiro de Jesus

BIOMAS E/OU ECOSSISTEMAS Mata Atlântica e Ecossistema Restinga

DISTANCIAS DOS CENTROS URBANOS MAIS PRÓXIMOS 1 km para o Povoado Lagoa Redonda/Aningas

15 para a Cidade de Pirambu

MEIO PRINCIPAL DE CHEGADA À UC Transporte Terrestre – Rodovia SE 100

ATIVIDADES OCORRENTES: - Visitação turísticas - Educação Ambiental - Levantamento de fauna e flora

ATIVIDADES CONFLITANTES - Caça – Corte e retirada de vegetação nativa

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

22

1.7 - METODOLOGIA PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE MANEJO

O Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo utilizou como diretriz geral,

a publicação do IBAMA “Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo

para Reservas Particulares do Patrimônio Natural” (FERREIRA et.al., 2004),

principalmente no que se refere ao conteúdo, nível de detalhamento e estrutura do

plano, e etapas de desenvolvimento.

Para todo processo de análise e definição da proposta de zoneamento e dos

programas do plano de manejo, considerou-se como fundamento metodológico a

teoria sistêmica. De acordo com Ross (1995), dentro dessa concepção, o ambiente

pode ser analisado sob o prisma da Teoria Geral dos Sistemas, que de acordo com

Christofoletti (1979) foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos por R. Defay

em 1929 e por Ludwig Bertalanffy a partir de 1932, e no âmbito da geomorfologia, o

ponto de partida é atribuído a Strahler (1950), baseado na descrição de Bertalanffy

(1950).

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

23

2. DIAGNÓSTICO

2.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (Figura 1) possui uma área de 23,60 ha (vinte e

três hectares e sessenta ares), nasceu a partir da propriedade denominada Fazenda

Cordeiro de Jesus no município de Pirambu/SE, inserido no Bioma Mata Atlântica, e

Quadro 2) Mapa de Localização da RPPN no Estado – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

24

abrigando áreas de restingas, dunas móveis e fixas e campos de dunas.

É uma Unidade de Conservação - UC de uso sustentável porém como parte da

iniciativa particular o domínio publico não prepondera , assim como as prerrogativas

de utilização da mesma para visitação pública, atividades de educação ambiental e

pesquisa científica poderão acontecer mediante autorização dos proprietários.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida em um contexto regional do

município de Pirambu/SE. Para a confecção deste documento utilizou-se do material

produzido por especialistas responsáveis pelas áreas temáticas através de

levantamentos e análise de dados secundários e primários. Utilizou-se também os

dados de documentos técnicos publicados através da REBIO e da Universidade

Federal de Sergipe.

Localiza-se no entorno da Reserva Biológica de Santa Isabel

Segundo o SNUC, a Zona de Amortecimento (ZA) é definida como “o entorno de

uma Unidade de Conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas

e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre

a Unidade” (Lei nº 9.985/00). A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo encontra-se

distante apenas a 3 km da Reserva Biológica de Santa Isabel, o que exigiu dos

profissionais uma maior preocupação com as variáveis ecológicas e sociais do

Foto 3) Reserva Biológica Santa Isabel - Base do Projeto Tamar - Pirambu/SE – Fonte: Ednaldo

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

25

entorno. Cabe salientar aqui que a Zona de Amortecimento da RESERVA

BIOLÓGICA SANTA ISABEL ainda não foi instituída.

2.1.1 - ASPECTOS CLIMÁTICOS

O Estado de Sergipe localizado entre as latitudes 9° 31‟ 00‟‟ e 11° 35‟ 52‟‟ sul e as

longitudes 36° 25‟ 08‟‟ a 34° 14‟ 40‟‟ oeste, é influenciado durante o ano todo pelo

anticiclone do Atlântico Sul, principal gerador de tempo estável e das estações secas

de primavera e verão (figura 2). As invasões dos sistemas de circulação atmosférica

de instabilidade como as Ondas de Leste (E.W.), Frente Polar Atlântica (F.P.A.) e

Linhas de Instabilidade (L.I.) ocorrem periódica e sazonalmente, e são importantes

na manutenção de um regime de chuvas de outono-inverno.

Quadro 3) Mapa Climatológico – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

Sendo o litoral de Sergipe influenciado diretamente pelas correntes perturbadoras

que modificam o clima, há o predomínio das chuvas de outonoinverno.

A ocorrência de chuvas nesse período representa o aumento das precipitações

caracterizando um regime de chuvas marcadas por duas estações: a chuvosa e a

menos chuvosa. A primeira tem início em março e se prolonga até agosto, enquanto

a segunda tem início em setembro, quando passa a ocorrer déficit hídrico ambiental,

prolongando-se até fevereiro. Conforme a Tabela 5, a região onde se encontra a

RPPN possui a mais alta precipitação do Estado.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

26

A máxima pluviosidade anual ocorre nos meses de abril/maio que chega a

concentrar 46% da precipitação total. O período mais chuvoso corresponde aos

meses de abril a julho, caracterizando as chuvas de outono e inverno.

A área da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo em decorrência de sua posição

geográfica, situada numa zona de clima quente e de latitudes e altitudes baixas, está

sujeita à ação estabilizadora do oceano. Este oferece uma situação mais estável,

não havendo, por essa razão, variações térmicas significativas durante o ano como

mostra o Quadro 2.

Tabela 5) Índice pluviométrico mensal 2010 – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

POSTO JAPARATUBA Latitude 10º36´S - LONGITUDE 36º 57´W

MÊS JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ TOTAL

TOTAL mm

51,0 100,4 88,4 426,1 324,2 101,9 212,1 138,5 62,8 53,6 82,4 10,8 1652,3

TOTAL %

3% 6% 5% 26% 20% 6% 13% 8% 4% 3% 5% 1% 100%

MÉDIA Histórica mensal

40,1 44,5 88,3 166,2 245,5 203,1 190,9 119,7 70,6 53,2 40,1 35,8 1298,0

Pela análise da curva ombro térmica (Figura 2), podemos observar que no período

analisado, a área de estudo apresenta aproximadamente quatro meses com déficit

hídrico no ano, correspondendo aos meses de novembro, dezembro, janeiro e parte

de fevereiro.

A análise sobre a direção dos ventos está associada à dinâmica geral dos sistemas

atmosféricos atuantes na costa sergipana e reflete as condições meteorológicas em

nível macro.

Decorrente da posição semifixa do Anticiclone do Atlântico Sul, o regime de ventos

predominante na costa oriental do Nordeste fica condicionado à atividade desse

centro de ação. O deslocamento da Massa Tropical Atlântica (M.T.A.) mais para o

norte, favorece a direção dos ventos de sudeste, os quais são predominantes e

podem atingir velocidades superiores a 8 m/s (Quadro 3).

São ventos considerados moderados a fortes e influenciam a migração de dunas e

transporte de areia.

O posicionamento central da M.T.A. favorece o direcionamento de ventos de leste,

que ocorrem com mais frequência no período de abril a agosto, com velocidades

médias de 3 a 8 m/s, podendo atingir velocidades superiores a 12 m/s. São

considerados ventos moderados a fortes e contribuem no transporte de areia e

modelamento das dunas.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

27

Decorrente da ação da Zona de Convergência Intertropical ocorre o surgimento de

ventos de NE que atuam com maior frequência no período de março a maio.

No período de junho a setembro, com as incursões da F.P.A., há o surgimento dos

ventos de sul.

2.1.2 - GEOLOGIA

O Estado de Sergipe se localiza entre as regiões de três províncias estruturais

definidas por Almeida et al. (1977): a Província São Francisco, a Província

Borborema e a Província Costeira e Margem Continental.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na Província Costeira e Margem

Continental, constituída pelas bacias sedimentares costeiras mesocenozóicas e

suas extensões na margem continental, desenvolvidas a partir do Jurássico. No

Estado de Sergipe, esta província inclui a Bacia Sedimentar de Sergipe e segmentos

restritos da Bacia do Tucano, além de formações superficiais terciárias e

quaternárias continentais, e os sedimentos quaternários da plataforma continental.

2.1.3 - GEOMORFOLOGIA

O Estado de Sergipe possui como característica geomorfológica (Figura 3) altitudes

Quadro 4) Mapa geomorfológico – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

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28

relativamente baixas e regulares. Algo em torno de 86% da área coberta pelo Estado

não ultrapassa os 300 m de altitude. A morfologia encontrada na área da RPPN

Dona Benta e Seu Caboclo é formada pela unidade geomorfológica da Planície

Litorânea e tabuleiros costeiros: localizada ao longo da costa, se caracteriza pela

vegetação de restingas e dunas, cuja altitude não ultrapassa 50 metros.

2.1.4 - SOLOS

O solo é a parte externa do globo terrestre a qual está em contato com as massas

gasosas e líquidas. A formação do solo depende de seu material de origem, que

sofre influência do clima (chuvas), dos organismos presentes no solo e do relevo. O

resultado da decomposição da rocha de origem pode ocorrer como areia, silte e

argila.

Os solos são bem distribuídos ao longo das áreas de cada compartimento geológico

de origem sendo predominantes na área da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo os

Quadro 5) Mapa temático Geologia – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

29

solos podzólicos enquanto que na região central do estado predomina os solos

litólicos, com ocorrências de planosolos conforme figura 4.

2.1.5 - HIDROGRAFIA

Segundo a compartimentação hidrográfica do Brasil, determinada pela Resolução do

CNRH nº 32 de 15/10/2003, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo está inserida na

Região Hidrográfica do Atlântico Leste, que é constituída por diversas bacias

hidrográficas que desaguam diretamente no Oceano Atlântico.

Quadro 6) Mapa das Bacias Hidrográficas – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

Fonte: SEMARH/SRH - Atlas Digital sobre Recursos Hídricos v.2011.1 - Adaptado por Manoel ElielsonNo

contexto estadual, a SEMARH divide o estado em seis bacias hidrográficas (figura

5), porém duas outras possíveis bacias apresenta-se no mapa ainda sem estudos

aprofundados que comprove sua existência. Assim sendo, a RPPN insere-se no

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

30

contexto da bacia do Rio Japaratuba. A bacia hidrográfica do rio Japaratuba é

constituída pelo rio que lhe empresta o nome e tem como principais afluentes: o rio

Japaratuba Mirim, Lagartixo, Siriri, Cancelo e riacho do Prata. Tem sua nascente na

Serra da Boa Vista na divisa entre os municípios de Feira Nova e Graccho Cardoso

e deságua no Oceano Atlântico, no município de Pirambu.

A RPPN, na sua parte Oeste, é margeada pelo Riacho do Sangradouro conhecido

assim pelos moradores, porém na verdade trata-se do Rio Sapucaia que se origina

próximo ao Povoado Sapucaia no município de Japaratuba/SE. O Rio Sapucaia

nasce a 4 Km do Rio Japaratuba, porém entre eles existe um divisor de águas

fazendo com que eles tomem rumos diferentes. Já próximo ao oceano mais

precisamente nas formações dos campos de restinga e pós-praia, o Rio Sapucaia se

encontra com o Rio Aningas formando a Bacia Costeira I, conforme demonstrada no

mapa, porém tal bacia ainda não tem o reconhecimento acadêmico tal qual a bacia

Costeira II.

Tabela 6) Volumes das Bacias hidrográficas de Sergipe – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

BACIAS ÁREAS

(km2)

Participação

(%)

Potencialidade

de água de

superfície

hm3/ano

Quant.

de

Municípios

(abrangência)

São Francisco 7.230,41 33,0 40.335,0 13

Piauí 4.150,00 19,0 6,8 15

Sergipe 3.659,03 16,7 6,6 26

Vaza -Barris 2.559,00 11,6 15,5 15

Real 2.568,00 11,6 42,1 8

Japaratuba 1.734,59 7,65 13,8 20

Dentro da RPPN, existe uma Lagoa perene (Lagoa do Avô / Encantada) rica em

nutrientes, que oferecem condições para a frequência de aves aquáticas de hábitos

continentais e aves limícolas que, em suas movimentações de rotas migratórias, as

têm como refúgio natural de sustentação.

Do mesmo modo, a fauna aquática encontra habitat propício ao seu ciclo biológico,

conferindo a esses ambientes uma peculiar característica única para manutenção da

vida silvestre. Ainda na UC, existem três minadouros onde um deságua diretamente

na lagoa e os outros deságuam no Riacho Sangradouro ainda dentro da UC.

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31

2.1.6 - ESPELEOLOGIA

Em Sergipe, de acordo com Santos & Menezes (2003), existem 22 cavernas

espalhadas pelo Estado, sendo que destas, somente 12 estão cadastrados junto a

Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE). Estão elas distribuídas principalmente

pelos municípios de Simão Dias, Itabaiana, São Domingos, Riachuelo e Laranjeiras.

Mesmo contendo um número considerável de cavidades naturais, o carste sergipano

apresenta dimensões reduzidas quando comparados com as potencialidades

cársticas brasileiras. O endocarste é visualizado em quase toda a sua totalidade, no

entanto, já foi verificada a ocorrência de dolinas, sendo mais restrita.

Apesar dos registros já existentes, e de novos indícios sobre a ocorrência de

condutos cársticos em Sergipe, até o momento ainda não foi realizado de forma

sistemática o levantamento e caracterização das cavernas existentes no Estado.

O Estado de Sergipe encontra-se inserido na Região Cárstica do Supergrupo

Canudos, composto pelos grupos Estância e Vaza-Barris, que possuem em suas

formações rochas graníticas, areníticas, quartzíticas e calcárias.

Todos os jazimentos do grupo Sergipe são tipicamente sedimentares e estão

referidos como calcário, calcário calcítico, calcário dolomítico e dolomito.

Apesar de termos notícias de cavidades naturais em Sergipe desde 1888, e desde

1980 Sergipe estar inserido em uma “área espeleológica” (LYNO & ALLIEVI, 1980)

de importância nacional, existem poucos estudos e apenas duas cavernas foram

registradas junto à Sociedade Brasileira de Espeleologia, (SBE).

2.1.6.1 - HISTÓRICO ESPELEOLÓGICOS EM SERGIPE

Os primeiros registros de cavidades naturais em Sergipe conhecidos até o momento,

foram apresentados por Branner (1888), onde são referenciadas as cavernas do

Urubu e da Pedra Furada, situadas nos município de Riachuelo e Laranjeiras

respectivamente.

Em 1950 o IBGE, em sua Enciclopédia dos Municípios Brasileiros volume XIX, que

abrange os municípios de Sergipe e Alagoas, faz referência às cavernas sergipanas

citando-as como “curiosidades naturais” (FERREIRA, 1950).

Na década de 1970, José Augusto Garcez, um “famoso amador” (Prous, 1992)

sergipano interessado por pré-história, contribuiu para o levantamento espeleológico

em Sergipe, pois explorou e fotografou a Caverna da Pedra Branca, município de

Laranjeiras, às margens da BR 101.

A partir de 1990 as cavernas sergipanas se tornaram um assunto de relevante

interesse para alguns grupos de estudantes e escoteiros, que passaram a fazer

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

32

“expedições” em alguns locais do estado em busca de novas cavernas, mas que por

sua vez, também não transformaram suas “expedições” em estudos científicos.

2.1.6.2 - METODOLOGIA

O registro inicial de cavidades naturais em Sergipe foi obtido a partir da soma de

registros espeleológicos anteriores (pesquisas bibliográficas), depoimentos orais,

análise de mapas geológico-geomorfológicos do estado e principalmente de

prospecções in loco nas áreas onde as evidências se mostraram mais propícias ao

aparecimento de tais cavidades.

Depois de confirmada a existência de tais cavidades foi feitas fotografias internas e

externas, mapas de acesso, localização e distribuição espacial das cavidades no

estado de Sergipe.

2.1.6.3 - RESULTADOS PRELIMINARES

Desde 1999, o CAIS4 e a equipe ESPELEO-SE5 , vem explorando e fazendo de

forma ponderada registros preliminares de cavidades naturais do estado, onde foram

exploradas 14 cavidades até o momento, o que corresponde aproximadamente a

60% do potencial espeleológico de que se tem notícia em Sergipe (Tabela 7).

2.1.6.4 - Cavernas Identificadas

Tabela 7) Cavernas identificadas em Sergipe – Fonte: SEGEO/SE

NOME MUNICÍPIO LOCALIZAÇÃO LITOLOGIA

Abismo de Simão Dias Simão Dias Fazenda São José Calcário

Casa de Pedras Itabaiana Povoado Ribeira Calcário

Casa do Caboclo Japaratuba Pov. São José Calcário

Caverna da Arara Macambira Fazenda Capitão Quartzito

Caverna da Fumaça Lagarto Faz. Quebra do Silva Calcário

Caverna da Miaba São Domingos Fazenda das Araras Calcário

Caverna da Pedra Branca Laranjeiras Pov. Pedra Branca Calcário

Caverna do Urubu Riachuelo Faz. São Joaquim Calcário

Gruta dos Aventureiros Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário

Gruta do Encantado Itabaiana Serra de Itabaiana Quartzito

Gruta da Pedra Furada Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário

Toca do Índio Macambira Fazenda Jacoca Quartzito

Toca da Raposa Laranjeiras Próximo à Igreja da Comandaroba Calcário

Toca da Raposa II Simão Dias Faz. Manoel Roque Calcário

Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ainda não se descobriu cavidades naturais,

todavia, sua existência não é descartada devido existir cavidade catalogadas em

locais próximo à UC. A “Casa do Caboclo” no Município de Japaratuba/SE é um

exemplo.

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33

2.1.7 - VEGETAÇÃO

2.1.7.1 - Introdução

Na RPPN Dona Benta a vegetação predominante é de restinga arbustiva, ocupando

praticamente toda a área da reserva e desenvolvendo-se a sotavento das dunas,

representado por grupamentos de arbustos e palmeiras.

O termo restinga, encontrado na literatura desde 1785 (Reys 1997) é utilizado por

geólogos, historiadores, botânicos ou ecólogos, designando elementos diferentes

(Suguio & Tessler 1984).

Sugiyama (1998) apresenta revisão sobre a utilização do termo restinga em sentido

botânico, considerando “vegetação de restinga” o conjunto de comunidades vegetais

fisionomicamente distintas, sob influência marinha e flúvio-marinha, distribuídas em

mosaico e que ocorrem em áreas com grande diversidade ecológica.

Segundo Freire (1990), a restinga é ambiente geologicamente recente e as espécies

que a colonizam são principalmente provenientes de outros ecossistemas (Mata

Atlântica, Tabuleiros e Caatinga), porém com variações fenotípicas devido às

Foto 4) Vegetação típica na RPPN – Fonte Ednaldo

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34

condições diferentes do seu ambiente original. Essa vegetação possui importante

papel na estabilização do substrato (Lamêgo 1974; Pfadenhauer 1978; Costa et al.

1984). As plantas colonizam a areia logo à linha de maré alta, amenizando, no caso

de planícies arenosas, a ação dos agentes erosivos sobre o ecossistema (Lamêgo

1974), protegendo o substrato principalmente da ação dos ventos, importante agente

modificador da paisagem litorânea.

Nesse contexto, o presente estudo visa descrever os tipos vegetacionais de restinga

na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo (figura 6).

No decorrer dos trabalhos foram encontradas espécies como a Davilla flexuosa (cipó

caboclo), Tetrecera breyniana, Espécies diversas e importantes como Syagrus

schizophyla (palmeira orobeira), Croton sp. (velame), Lantana camara (chumbinho),

Bonisteriopsis sp. (melissa), Pilosocereus catingola (facheiro-da-praia), Schinus

terebinthifolius (aroeira da praia) e o Anacardium occidentale (cajueiro) também

foram catalogados.

Nos ambientes interdunares, devido à redução da ação eólica que esses ambientes

proporcionam desenvolve-se uma vegetação de maior porte e nela ocorrem

espécies, normalmente só identificadas para as áreas mais protegidas porém

observou-se exemplares em toda a área da UC. As espécies catalogadas que se

constituem nos principais representantes arbóreos e arbustivos da restinga na UC

Quadro 7) Tipos de vegetação – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

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35

são a Couepia impressa (oiti da restinga), Byrsonima sericea (murici da mata), Ficus

sp. (gameleira), Protium heptaphyllum (amescla), Capparis flexuosa (feijão de jacu),

Cepropia pachystachya (umbaúba), Clusia memorosa (mangue doce), Pera glabrata

(sete cascos), Myrcia sp. (murta), Emmotum nitens (louro da restinga), Psidium sp.

(araçá), Annona sp. (araticum) e Hancornia speciosa (mangabeira), Eschweilera

ovata (biriba), Manikara salzmani (maçaranduba), Tabebuia avellande (pau d‟arco

amarelo), Cariniana sp. (sapucaia), Andira fraxinifolia (angelim), Tapirira guianenses

(pau pombo), Pisonia tomentosa (pau piranha) e Ocotea aciphilla (louro).

A floresta estacional semidecídua ou floresta de tabuleiros é integrante do domínio

da Floresta Atlântica que ocorre na vegetação ciliar do riacho do Sangradouro que

margeia parte da RPPN.

Epífitas ocorrem nas árvores mais altas, principalmente bromélias e orquídeas. Os

solos são cobertos por uma camada não muito espessa de serapilheira.

2.1.7.2 - METODOLOGIA

Foi utilizado o método de parcelas para a amostragem que se restringiu às espécies

de forma arbustivo/arbórea, excluindo-se indivíduos de caule subterrâneo, como a

palmeira anã (Allagoptera arenaria), e da família Cactaceae.

Nove parcelas de 100 m2 (10m x 10m) foram alocadas, sendo três na vegetação

ciliar margeando o Riacho do Sangradouro, três a 300 m do limite da RPPN

abrangendo formações de mata de restinga e três a 600 m, também em formações

de mata de restinga porém mais próximo de uma lagoa perene denominada Lagoa

do Avô.

Todos os indivíduos lenhosos com diâmetro do tronco à altura do solo (DAS) igual

ou superior a 2, 5 cm foram marcados e numerados com plaquetas de alumínio. O

DAS dos indivíduos perfilhados foi obtido somando o diâmetro de cada perfilho.

Além do DAS anotou-se a espécie (quando reconhecida ainda no campo) e a altura

do indivíduo.

Os parâmetros fitossociológicos estimados foram:

.

100; Dominância Relativa, (DoRi) = ABi / AB .

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36

100; Frequência .

100; Diâmetro Médio (DiaMi), média do diâmetro do tronco das árvores a altura do

solo;

Índice de Valor de Cobertura, (IVC) = DRi + DoRi;

Índice de Valor de Importância, (IVI) = FRi + DRi + DoRi, onde: Ni = número de

indivíduos da espécie i; N = número total de indivíduos; Np = número de parcelas;

ABi = área basal por hectare, ocupada por cada espécie, dada em m2;

AB = área basal total. A comparação estatística dos dados de riqueza de espécies,

número de indivíduos e área basal entre as três faixas de distância amostradas foi

realizada através de ANOVA „one way‟ (Zar 1996).

Os cálculos dos parâmetros fitossociológicos da Formação Mata de Restinga - FMR

foram realizados através do programa para computador FITOPAC 2.1.2. Foram

determinados também, os índices de diversidade de Shannon, na base neperiana

(H‟), diversidade máxima (H‟max) e equitabilidade (J‟) (Brower & Zar 1977). Para a

determinação da diversidade ao longo do transecto, foi calculada a diversidade de

Routledge (Magurran 1988).

2.1.7.3 - RESULTADOS

Ao longo de cada transecto foram encontradas 37 espécies (n=37) distribuídas por

21 famílias. Desse total, quatro espécies não foram identificadas sendo que o

restante foram determinadas ao nível de família, sendo as de maior riqueza

específica: Myrtaceae com 27%, Clusiaceae, Leguminosae, Malpighiaceae e

Sapotaceae cada uma com 5% das espécies, indeterminada com 11% e o restante

42% (Quadro 2).

Quadro 8) Gráfico % das famílias encontradas

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Ce

last

race

ae

An

acar

dia

ceae

An

no

nac

eae

Bo

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Bu

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Eben

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e

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Eup

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ceae

Ind

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e

Mal

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e

Myr

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ae

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tagi

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Po

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nac

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Rh

amn

acea

e

Ru

bia

ceae

Sap

ind

acea

e

Sap

ota

ceae

% FAMÍLIAS

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37

Os valores do índice de diversidade de Shannon foram maiores nas formações mais

distantes do mar (H‟= 1,74 na Formação Praial Graminóide (FPG); 1,35 na

Formação Praial com Moitas (FPM); 2,52 na Formação de Clusia (FC) e 2,81 na

Formação mata de Restinga (FMR). Entretanto, os valores da diversidade medida ao

longo do transecto mostraram redução da diversidade de FC para a FMR (FPG/FPM

= 27.6, FPM/FC =33.3, FC/FMR = 22.8).

Desse total de espécies, 37 (21 famílias) foram amostradas dentro das nove

parcelas, ou seja, considerando apenas os indivíduos lenhosos do estudo

quantitativo. Maytenus obtusifolia apresentou o maior IVC (32,28), seguida por Pera

glabrata (30,63), Protium heptaphyllum (22,55), Coccoloba alnifolia (17,55), Capparis

flexuosa (10,93), Sideroxylon obtusifolium (10,50) e Schinus terebinthifolius (10,03).

Não foram observadas diferenças significativas (p>0,05) nos parâmetros estruturais

(área basal e densidade) e no número de espécies no trecho de mata entre as faixas

de distância analisadas, indicando homogeneidade da mata para estes parâmetros.

Nos três transectos analisados apresentaram variações quanto à altura do dossel.

Na parte de vegetação ciliar a maior parte dos indivíduos (53%) estava na classe

compreendida entre 10 a 15 m de altura, enquanto que nos outros a maioria dos

indivíduos (36% e 38% respectivamente) encontrava-se na classe de 4 a 10m alt.

Tabela 8) Valores de Densidade (Di), Densidade Relativa (DRi) (%), Dominância Relativa (DoRi) (%), Frequência Relativa (FRi) (%), Diâmetro Médio (DiaMi), Área Basal (ABi), Índice de Valor de Importância (IVI) e Índice de Valor de Cobertura (IVC), para as espécies.

Espécie Nome

popular Família Local Di Dri DoRi Fri DiaMi Abi IVI IVC

(100 m2)

(cm) (m2)

Maytenus

obtusifolia Papagaio Celastraceae II 9,42 20,29 11,02 7,38 7,48 0,41 40,66 32,28

Pera glabrata Calombo Euphorbiaceae III 2,44 4,79 24,84 5,28 20,57 0,79 34,92 30,63

Protium

heptaphyllum Almécega Burseraceae I 5,86 11,89 9,65 5,28 8,36 0,31 24,83 22,55

Coccoloba

alnifolia Bolo Polygonaceae II 4,88 10,58 8,37 3,19 8,69 0,28 22,15 17,55

Capparis

flexuosa ---- Capparaceae I 4,28 9,13 2,79 7,38 5,28 0,08 18,31 10,93

Sideroxylon Quixaba Sapotaceae III 1,96 3,63 7,87 7,38 11,99 0,23 18,88 10,50

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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obtusifolium

Schinus

terebinthifolius Aroeira Anacardiaceae II e III 1,58 3,76 7,27 5,28 13,75 0,24 16,32 10,03

Diospyros

inconstans ---- Ebenaceae I e II 2,94 5,95 2,36 5,24 6,60 0,10 15,54 10,31

Eugenia

pluriflora Aperta-cu Myrtaceae I e II 1,96 4,13 3,23 7,38 7,81 0,10 14,25 6,87

Eugenia

ovalifolia

Aperta-cú

vermelho Myrtaceae I e II 2,08 4,42 1,00 1,05 4,73 0,03 5,97 4,92

Campomanesia

sp. ---- Myrtaceae II e III 0,36 0,87 2,31 1,05 15,95 0,10 4,23 4,18

Myrciaria tenella Cambuí Myrtaceae

I , II e

III 0,86 2,02 1,55 3,15 8,91 0,04 5,72 3,01

Manilkara

subsericea ---- Sapotaceae II e III 0,36 0,87 2,48 1,05 15,95 0,08 4,40 3,34

Eugenia uniflora

Pitanga

lagarto Myrtaceae II e III 0,36 0,87 2,40 2,09 16,06 0,07 5,36 3,27

Cupania

emarginata ---- Sapindaceae II 0,24 0,58 2,65 1,05 22,77 0,08 4,28 3,23

Erythroxylum

passarinum ---- Erythroxylaceae

I , II e

III 0,74 1,74 1,21 4,02 8,25 0,03 7,18 2,95

Guapira

pernambucensis

Folha-

miúda Nyctaginaceae I e II 0,86 2,02 0,91 4,54 5,50 0,02 8,17 2,94

Scutia arenicola Quixabinha Rhamnaceae II e III 0,74 1,74 0,51 2,09 5,17 0,01 4,33 2,20

Eugenia sulcata Pitanga Myrtaceae II e III 0,74 1,74 0,41 2,09 4,62 0,01 4,25 2,15

Tocoyena

bullata Rubiaceae I 0,62 1,45 0,36 3,15 5,39 0,01 4,95 1,80

Byrsonima

sericea Murici Malpighiaceae I e II 0,24 0,58 1,10 2,09 11,99 0,03 3,77 1,68

Rapanea

parvifolia Capororoca Myrsinaceae I 0,24 0,58 0,98 1,05 11,66 0,03 2,61 1,56

Pseudobombax

grandiflorum Bombacaceae I e II 0,12 0,29 1,10 1,05 21,34 0,03 2,44 1,40

Inga laurina Ingá mirim Leguminosae I e II 0,12 0,29 1,07 1,05 20,90 0,03 2,40 1,35

Heteropteris sp. Malpighiaceae I e II 0,36 0,87 0,21 2,09 5,28 0,01 3,18 1,08

Marlierea sp. Myrtaceae II e III 0,24 0,58 0,48 1,05 8,80 0,01 2,11 1,07

Clusia hilariana Abaneiro Clusiaceae I 0,24 0,58 0,31 2,09 7,04 0,01 2,98 0,89

Oxandra nitida Annonaceae I e II 0,12 0,29 0,61 1,05 15,73 0,02 1,94 0,89

sp. 4 Indeterminada I 0,24 0,58 0,22 1,05 6,71 0,01 1,85 0,80

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

39

Machaerium

lanceolatum Leguminosae I e II 0,24 0,58 0,21 1,05 6,60 0,01 1,84 0,79

Garcinia

brasiliensis Clusiaceae

I, II e

III 0,24 0,58 0,09 1,05 4,18 --- 1,72 0,66

Eugenia aff.

bimarginata Myrtaceae

I, II e

III 0,12 0,29 0,21 1,05 9,35 0,01 1,55 0,51

Psidium

cattleianum Araçá Myrtaceae

I, II e

III 0,12 0,29 0,10 1,05 6,27 --- 1,43 0,39

Eugenia aff.

arenaria Myrtaceae

I, II e

III 0,12 0,29 0,04 1,05 4,40 --- 1,39 0,34

sp. 6 Indeterminada I 0,12 0,29 0,03 1,05 3,85 --- 1,38 0,33

sp. 8 Indeterminada I 0,12 0,29 0,03 1,05 3,85 --- 1,38 0,33

sp. 7 Indeterminada I 0,12 0,29 0,02 1,05 2,75 --- 1,36 0,31

Total 46,42 100,00 100,00 100,00 ----- 3,23 300,00 200,00

2.1.7.4 - DISCUSSÃO

Devido à escassez de trabalhos sobre o levantamento dos tipos vegetacionais de

restinga no Estado de Sergipe, o estudo realizado na RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo não pode ser comparado com outros a fim de se discutir melhor os

resultados obtidos. Sabe-se, que nos Estados vizinhos de Alagoas e Bahia existe

estudos semelhantes, porém optou-se em não utilizar estes para fins comparativos

devido não se conhecer in loco as áreas estudadas.

A composição florística da restinga na RPPN parece estar sujeita às influências de

formações florestais adjacentes, como a mata atlântica de baixada e a mata de

tabuleiro. Freire (1990) e Fabris & Cesar (1996) ressaltaram a importância de

ecossistemas adjacentes para a composição florística das restingas por eles

estudadas.

2.1.7.5 - Espécies ameaçadas

As atividades humanas impactam negativamente com as formações vegetais da

restinga ocasionando uma constante ameaça. Durante o trabalho de campo, não foi

observada qualquer espécie categorizada como ameaçada de extinção segundo a

Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção – 2008 do

Ministério do Meio Ambiente, entretanto este fato não pode ser interpretado como

inexistência destas espécies. A dificuldade de identificação e coleta de material

botânico de árvores e das epífitas mais altas pode ter mascarado a existência de

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

40

espécies ameaçadas. Somente com um número mais elevado de coletas podemos

definir precisamente esta situação

2.1.7.6 - Ocorrências Novas, de Relevância Regional

Registradas e Interesse Científico e Conservacionista

As espécies encontradas não puderam ser comparadas por motivo de deficiência de

estudos nas áreas de restinga localizada ao norte do Estado de Sergipe. Quanto a

espécies de relevância regional, identificou a Hancornia speciosa, popularmente

conhecida como mangabeira. Dessa espécies, além do seu fruto também se retirava

o látex. Como este segundo produto acabava matando a árvore, foi praticamente

abolido seu uso. Recentemente, a medicina descobriu que a folha e casca da

mangabeira são muito eficazes para o tratamento da hipertensão.

Deve-se ressaltar ainda a necessidade de ampliação das coletas em busca de

espécies menos frequentes, de distribuição mais restrita ou ainda não descritas.

2.1.7.7 - Espécies Exóticas e Potencialmente Danosas

Ao contrário de muitos problemas ambientais que geralmente tendem a se amenizar

com o decorrer do tempo, a invasão biológica se multiplica ou se expande, causando

impactos em longo prazo, não permitindo que os ecossistemas afetados se

recuperem naturalmente. A invasão biológica é caracterizada quando um organismo

ocupa, desordenadamente, um espaço fora de sua área de dispersão geográfica. É

frequentemente relacionada à influência do ser humano, intencional ou não, como

também a processos naturais (Conservação Internacional do Brasil, 2009). Abaixo

listamos as espécies exóticas encontradas no entorno da RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo:

Jaqueira Artorcapus heterophyllus, é uma espécie arbórea com grandes frutos que

são amplamente consumidos pela população do Nordeste in natura ou na fabricação

de doces ou geléias. Ocupa áreas florestais e substitui vegetação natural, inibindo a

germinação de sementes de espécies nativas por alelopatia. Adapta-se facilmente a

uma grande diversidade de ambientes, principalmente em sub-bosque de florestas;

Mangueira (Mangifera indica), originária da Ásia. Esta espécie se adaptou

facilmente ao clima do Nordeste brasileiro e devido aos diversos usos derivados dos

seus frutos foi amplamente disseminado seu cultivo, havendo ainda muitas culturas

que sofreram melhoramento genético para maior produção e aclimatação. A invasão

por esta espécie pode causar graves alterações no Ph das águas e solos das áreas

próximas a córregos e riachos, dificultando a regeneração natural da área;

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41

Amendoeira (Terminalia catappa), introduzida no Brasil como árvore ornamental

compete com a vegetação nativa no processo de sucessão natural. Pode prejudicar

o desenvolvimento da regeneração natural em função de sombreamento causado

pela sua copa. Espécie encontrada nas margens da Unidade, próximos a estradas e

agrovilas, e;

O coqueiro (Cocos nucifera) é um membro da família Arecaceae (família das

palmeiras). É a única espécie classificada no gênero Cocos. É uma árvore que pode

crescer até 30 m de altura, com folhas pinadas de 4-6 m de comprimento, com pinas

de 60-90 cm. Seu fruto posui inúmeras utilidades que vão desde a culinária,

cosmético e artesanato. O coqueiro representa uma grave ameaça para as restingas

brasileiras. Ele prospera em solos arenosos e salinos nas áreas com luz solar

abundante e pancada de chuva regular (75-100 cm anualmente), características

típicas da restinga o que as torna como locais proprícios para a colonização.

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42

2.1.8 - FAUNA

2.1.8.1 - Mastofauna

Populações estão continuamente se modificando ao longo do tempo devido a processos como nascimento, morte e dispersão e a regulação desses depende de interações dos indivíduos tanto com o ambiente como entre si (Ricklefs, 1996). Entender esse comportamento dinâmico e como os processos afetam as populações, principalmente a possibilidade de predizê-los e controla-los, são ferramentas indispensáveis para a conservação das espécies (Townsend et al., 2006). A mastofauna das formações de restinga é formada aparentemente por um subconjunto da fauna da Floresta Atlântica, não havendo uma fauna particular ou endêmica (Cerqueira et al. 1990). Isto parece ser o quadro geral para a fauna de restingas (Cerqueira, 1984). Em Sergipe, a escassez de publicações e estudos relacionados ao litoral norte do Estado demonstra a falta de interesse dos centros de pesquisas/pesquisadores pela região. Sabe-se que nessa região existem importantes fragmentos de mata atlântica, inclusive abrigando espécie pouco conhecida como o primata, Callicebus coimbrai, o macaco Guigó, com registros de incidência no município de Pirambu, Pacatuba e Japoatã. Consta como criticamente em perigo. Há de salientar que o nível de conhecimento sobre a biodiversidade é proporcionalmente bem melhor para a Mata Atlântica do que para os demais biomas (Lewinsohn & Prado, 2002), repercutindo assim também nos Ecossistemas.

2.1.8.1.1 - METODOLOGIA

Foram realizadas seis viagens de campo com uma equipe composta de três

pesquisadores e um funcionário da Fazenda Cordeiro de Jesus que permaneceu de

um a três dias em cada uma das incursões. A necessidade de se colocar um

“mateiro” (conhecedor prático da região) numa equipe de trabalho viabiliza a

logística e torna eficaz e eficiente a busca e as paradas estratégicas.

Todos os habitats foram percorridos, inclusive a área alagada mirando vestígios de

jacaré, capivara e preá, além de outros animais de hábito aquático.

As saídas a campo na RPPN foram realizadas principalmente durante o amanhecer

e o entardecer por serem estes os melhores horários de avistamento de mamíferos.

Também foram realizadas três saídas noturnas.

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43

Nas saídas à campo percorreram-se trilhas para identificar local de abrigo, moradia

ou alimentação dos espécimes e registrar por observação direta ou por método

indireto (através de pegadas, fezes e restos mortais), as espécies que ocorrem na

área, utilizaram-se também ratoeiras para coleta de pequenos mamíferos que após

a identificação foram soltos no mesmo local de coleta.

2.1.8.1.2 - Caracterização Geral da Mastofauna

Entre as várias formas de se caracterizar a mastofauna, optou-se por avaliá-la

segundo três critérios, que sobejamente possuem interações recíprocas. São elas a

massa corporal, a locomoção e a alimentação. Um resumo de todas estas

informações é apresentado na tabela 9 e 10.

Tabela 9) Características Biológicas das espécies

Tabela 10) Lista de espécies de mamíferos registradas RPPN e suas características biológicas

2.1.8.1.3 - RESULTADOS e DISCUSSÃO

Características biológicas das espécies encontradas na RPPN

QUANTO AO PESO HÁBITO (HA)* LOCOMOÇÃO(LO)*

I .... >= 100 g II 101 >= 500 g III 501 >= 1000 g IV 1001 >= 5000 g V 5001 > …

pol = polínivoro ins = insetívoro omn = omnívoro car = carnívoro her = herbívoro fru = frugívoro hem = hematófago PIS = piscívora

arb = arborícola ter = terrestre saq = semi-aquático voa = voador fos = semi-fossorial esc = escansorial

NOME DA ESPÉCIE NOME POPULAR CP HÁ LO

Didelphis aurita Micoureus Travassosi Philander frenatus (Olfers, 1818)

gambá cuíca cuica

III/IV III / IV III / IV

fru / omn fru / omn fru / omn

esc esc esc

Nectomys squamipes Akodom cursor. Cavia aperea Dasyprocta agouti

rato de água rato da mata Preá Cutia

I / II I / II II / III IV / V

ins / omn ins / omn her Her / fru

saq ter saq fos

Glossophaga soricina Artibeus lituratus Platyrrhinus lineatus

morcego morcego

I I I

fru fru / ins

voa voa voa

Cerdocyon thous Pseudalopex vetulus

Cachorro do mato Raposa do campo

IV / V IV / V

omn omn

ter ter

Leopardus tigrinus Gato do mato IV car esc

Callithrix jacchus Sagui II / III omn esc

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44

Os marsupiais identificados na RPPN, como o

gambá (Didelphis aurita) (Foto 5), o Micoureus

Travassosi (cuíca) e o Philander frenatus

(Olfers, 1818), pouco diferem entre si na

aparência, no tamanho e no uso das

diferentes „camadas‟ da mata (chão, sub-

bosque e copas). Necessita de estudos mais

aprofundados sobre os seus comportamentos.

No Brasil existem em torno de 46 espécies

desse grupo, distribuídas nos diferentes

biomas terrestres nacionais. Somente na mata

atlântica podem ser encontradas 23 espécies

de marsupiais, em função da complexa e

heterogênea estrutura desse bioma, que apresenta grande diversidade de micro-

hábitats, ou seja, áreas com características físicas e biológicas particulares.

As espécies de marsupiais são importantes na dinâmica das comunidades da mata

atlântica. Alguns desses animais, como o gambá ( Didelphis aurita ), a cuíca-lanosa

( Caluromys philander ) e a cuíca Micoureus travassosi , são eficientes dispersores

de sementes. Outros, entre eles o gambá, podem atuar como controladores das

populações de roedores silvestres.

A principal característica que diferencia esse grupo dos mamíferos placentários

(como o homem) é a gestação, que dura apenas alguma dias porque uma placenta

verdadeira não é formada. Os filhotes nascem em um estágio precoce de formação

e completam seu desenvolvimento em uma bolsa (denominada „marsúpio‟) ou em

pregas de pele que a fêmea tem no ventre. Existem diferenças também em aspectos

fisiológicos, morfológicos, ecológicos e evolutivos.

O gambá, possui um líquido fétido produzido por glândulas odoríferas que é

utilizado como meio de defesa quando perturbado. Outra estratégia para escapar

dos perigos é o comportamento de fingir-se de morto até que o atacante desista.

Alguns gambás são imunes ao veneno de serpentes, incluindo as jararacas,

cascavéis e corais, podendo atacá-las e ingeri-las. A maioria das espécies possui

hábitos noturnos e uma dieta onívora, que pode incluir frutos, artrópodes, néctar e

pequenos vertebrados.

Foto 5) Philander frenatus (Olfers, 1818) – Foto: L.P. Costa

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45

Estes marsupiais podem pesar até 3 kg.

Apresentam garras em todos os dedos,

exceto no dedo opositor das patas

posteriores usado para agarrar e escalar

galhos. Apresentam vibrissas (pelos

sensoriais) bastantes desenvolvidas. A

cauda é geralmente longa e preênsil.

Sua ocorrência na RPPN Dona Benta e

Seu Caboclo foi anotada através de

visualização na área de mata ciliar e próximo a Lagoa do Avô. Sabe-se também da

sua ocorrência em regiões próximas a habitações humanas, entrando em chácaras,

quintais e até mesmo sobrevive em grandes centros urbanos. São ainda

confundidos por vezes com o cangambá ou zorrilho.

Rato d'água (Nectomys squamipes)

É um roedor pertencente ao gênero Nectomys. Tem coloração marrom escuro com

barriga de tom mais claro espesso e macio. A cauda é mais longa que o

comprimento do corpo e da cabeça. Os membros anteriores são mais curtos que os

posteriores e suas patas apresentam membrana interdigital.

É normalmente encontrado nas margens do Riacho do Sangradouro. Esta espécie

nada com bastante agilidade e constrói ninhos no chão junto a vegetação densa. É

hospedeiro de muitos parasitas perigosos para o homem. Desta forma, a presença

destes roedores nas áreas endêmicas deve sempre ser considerada nos programas

de controle da esquistossomose.

O rato da mata (Akodon cursor) (Foto 6) é uma espécie de roedor silvestre brasileiro

que habita a Mata Atlântica, estendo-se do

Paraná (Sudeste) até a Paraíba

(Nordeste). Geneticistas da Universidade

Federal do Espírito Santo realizaram

estudos de variabilidade genética e

cariotípica e sugerem que existe distinção

genética entre as populações do nordeste

e sudeste. No momento, não existem

evidências de se tratar de mais de uma

espécie, mas acredita-se que este seja um

caso de uma espécie em pleno processo de especiação. Possui hábitos terrestres,

insetívoro-onívoros, incluindo em sua dieta artrópodes e sementes.

Foto 6) gambá ( Didelphis aurita - foto: Maja Kajin

Foto 7) O rato da mata (Akodon cursor) – Foto: L.P. Costa

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46

Sua identificação na RPPN ocorreu próximo à vegetação ciliar do Riacho do

Sangradouro e em parte da mata de restinga.

Glossophaga soricina (Pallas, 1766)

Glossophaga soricina é um morcego de tamanho

pequeno (Foto 8) que apresenta hábitos nectarífago.

Suas fêmeas são maiores que os machos. Esta

espécie se distribui do México ao Paraguai. Ele pode

ser encontrado numa vasta gama de habitats, que

vão de áreas áridas sub-tropicais à florestas tropicais,

estando presentes até em 2.600 metros a cima do

nível do mar. São conhecidos registros fósseis desta espécie do fim do Pleistoceno.

Morcego das frutas (Artibeus lituratus)

Uma de suas espécies em maior abundância de morcegos no Brasil. Possui grande porte, tendo relatos desde a região central do México até o nordeste do Brasil. Geralmente vivem em grupos compostos por 1 único macho e várias fêmeas e atuam no período nortuno. Procuram se refugiar-se nas folhagens ou em pequenas encostas. Na RPPN foram encontrados grupos na área de mata de restinga distante 100 metros da vegetação ciliar. A base da sua alimentação são frutos. Possui coloração parda com 4 listras brancas na cabeça, acima e abaixo dos olhos (Foto 9).

Morcego (Platyrrhinus lineatus) Como característica morfológica externa, apresenta as listras faciais e a dorsal brancas; pelagem de coloração geral cinza escuro e marrom-chocolate; orelhas arredondadas do mesmo tamanho da cabeça; folha nasal desenvolvida e lanceolada. Embora predominantemente frugívora, está espécie também se alimenta também de insetos, néctar, pólen e folhas (Willig & Hollander, 1987; Zortéa,

1993). Abriga-se em grutas e também sob a folhagem densa da floresta, incluindo folhas de palmeiras e outras plantas (Willig & Hollander, 1987). Na espécie já foi diagnosticada com o vírus rábico, a raiva (Foto 10).

Foto 8) Glossophaga soricina

(Pallas, 1766) – Fonte: Roberto

Leonam

Foto 9) Morcego das frutas (Artibeus lituratus) – Fonte: Roberto Leonam

Foto 10) Morcego (Platyrrhinus lineatus) – Fonte: Roberto Leonam

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Na RPPN Dona Benta e seu Caboclo todas as três espécies foram identificadas em encosta e árvores próximo à vegetação ciliar.

O cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) é um mamífero da família dos canídeos, amplamente distribuído pela América do Sul. Tais animais, noctívagos, medem cerca

de 65 cm de comprimento, com pelagem cinza-clara de base amarelada, e faixa dorsal negra, que se estende da nuca à ponta da cauda.

São onívoros e oportunistas, e sua dieta consiste

de frutas, ovos, artrópodes, répteis,

pequenos mamíferos e carcaças de animais mortos. Também são conhecidos pelos nomes de aguaraxaim, cachorro-do-mato, graxaim, graxaim do mato e lobinho.

É comum avistar o animal na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ao entardecer (Foto 11). Não se avistou nenhum animal nas incursões realizadas na madrugada, ao que parece ser um animal que não utiliza toda a noite à procura de alimento. Ele também foi visto por diversas vezes nos povoados do entorno da RPPN geralmente à procura de presas domésticas mais fácil de capturar como galinhas, assim sendo, sua permanência em áreas urbanas constitui ameaça para sua vida pois o hábito dos moradores é proteger sua criação e com isso quase sempre acabam matando o cachorro-do-mato (Foto 12)

Gato-do-mato (Leopardus tigrinus)

Embora semelhante à jaguatirica, com a qual é

confundido, o gato-do-mato se distingue pelo pequeno

tamanho (Foto 13); é o menor dos felinos

silvestres brasileiros, e pelas manchas em

sua pelagem, rosetas parecidas com as da onça, porém

sem o desenho completo, mantendo geralmente um

lado aberto algo que realmente faz o gato-do-mato se

diferenciar da onça, por exemplo enquanto a

jaguatirica tem manchas alongadas, que dão à sua pele

a impressão de possuir listras.

Existem ocorrências de gatos-do-mato inteiramente negros, melânicos, ou seja, há

várias variações de coloração, e algo curioso é que uma gata de pelagem normal,

pintada por exemplo, pode ter filhotes negros, ou até de outras cores, que por sua

Foto 11) cachorro-do-mato ou guaraxaim (Cerdocyon thous) morto

– Fonte:

Foto 12) cachorro-do-mato ou guaraxaim (Cerdocyon thous)

Foto 13) Leopardus tigrinus – Fonte: L. P. Costa

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vez tem descendência de pelagem normal, num processo que os cientistas ainda

não entendem muito bem sobre, mas também acontece com outros felinos como a

onça-pintada e a pantera, que também podem nascer negras (pantera-negra).

Se alimentam de ratos, pássaros e insetos, e medem cerca de 50 centímetros.

Sua gestação dura 70 dias, a prole consistindo de um a dois filhotes. Na RPPN pode

registrar duas vezes a visualização direta dessa espécie, porém não sendo possível

identificar se era o mesmo animal. Não é raro ouvir testemunhos de ataques desses

animais a galinheiro localizados nas propriedades no entorno da RPPN.

Raposa do Campo

Uma raposa pode viver até 10 anos, mas a maioria

sobrevive por apenas 2 ou 3 anos devido à caça,

atropelamentos e doenças. São canídeos ligeiramente

menores que um cão de tamanho médio (Foto 14). Os

machos pesam, em média, 5,9 kg e as fêmeas pesam

um pouco menos, por volta de 5,2 kg. Suas características físicas mais marcantes

são seu focinho fino e alongado, a cauda peluda e as orelhas eretas. Outras

características variam segundo as adaptações ao habitat onde esses animais vivem.

O feneco (uma raposa do deserto), por exemplo, possui corpo pequeno, pelagem

curta e orelhas grandes, que ajudam a irradiar o calor. Por outro lado, a raposa do

ártico, habitante da tundra e do gelo polar, desenvolveu pelagem branca e densa,

além de orelhas curtas.

As raposas são caçadoras oportunistas e apanham suas presas vivas. A técnica de

caça mais comum, aprimorada desde a juventude, é pular sobre a presa para matá-

la rapidamente. A dieta da raposa é ampla e variada e inclui, além de pequenos

mamíferos (como roedores e coelhos), répteis, anfíbios, insetos, aves, peixes, ovos

e frutas silvestres. O excesso de alimento é armazenado pela raposa para consumo

posterior, geralmente enterrado no solo, sob folhas ou sob a neve. Por caçarem

apenas o suficiente para alimentar um animal, as raposas são predadoras solitárias

e não se reúnem em grupos. Ainda pouco se sabe da sua convivência com o

cachorro do mato, porém registraram-se visualmente na RPPN, indivíduos das duas

espécies no mesmo dia ao entardecer distante cerca de 100 metros um do outro.

Foto 14) Pseudalopex vetulus – Fonte: L. P. Costa

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O sagüi-de-tufos-brancos (Callithrix jacchus) é uma espécie de macaco do Novo

Mundo. Sua origem é do nordeste do Brasil, mas atualmente é encontrado também

no sudeste e demais áreas, além de criado em cativeiros em diversos países.

Caracterização

É o sagui mais conhecido e comum.

São animais de pequeno porte com

peso entre 350 e 450 gramas,

pelagem estriada na orelhas e

mancha branca na testa. Coloração

geral do corpo acinzentado-claro com

reflexos castanhos e pretos. A cauda

é maior do que o corpo e tem a

função de garantir o equilíbrio do

animal (Foto 15).

Habita a caatinga e o cerrado, em formações arbóreas baixas. Mas se adaptam

muito bem em outras formações florestais e em áreas urbanas. São animais

agitados e curiosos, podendo se tornar agressivos caso se sintam ameaçados.

Podem se contaminar com doenças comuns a animais domésticos nas áreas

urbanas, inclusive havendo a possibilidade de se tornarem agentes transmissores de

raiva.

Hábitos

Tem hábitos diurnos e costumam viver em grupos. Raramente descem ao solo. São

adaptados à vida saltatória arbórea, com locomoção vertical pelos troncos.

O tamanho da área ocupada por seu bando varia 0,005-0,065 km ² (0,002-0,03 km ²)

e é selecionado com base nas densidades de árvores de goma. Embora eles não

viajem grandes distâncias durante o dia, saguis estão ativos por 11 a 12 horas por

dia, geralmente de 30 minutos após o nascer do sol até cerca de 30 minutos antes

do por do sol (Stevenson & Rylands, 1988; Kinzey 1997). Depois de deixar seu local

de sono, saguis alimentam intensamente durante cerca de uma hora e depois

passam o resto do dia alternando entre alimentação, descanso e socialização

(Stevenson & Rylands, 1988). Eles passam cerca de 35% do seu tempo em

movimento e á procura de alimentos, 10% nas atividades sociais, 12% alimentação

e em 53% de seu tempo permanecem parados (Kinzey 1997). O grupo dorme unido,

em um local em segurança dos predadores.

Alimentação

Alimentam-se de insetos, aranhas, pequenos vertebrados, ovos de pássaros, frutos

e são também gumívoros (alimentam-se da goma exsudada de troncos que roem

com seus incisivos inferiores, de árvores gumíferas). Esta goma serve de fonte

Foto 15) Callithrix jacchus – Fonte: L. P. Costa

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de carboidratos, cálcio e algumas proteínas. Dispende cerca de 25 a 30% de seu

tempo ativo, procurando por alimentos.

Reprodução

Nas fêmeas a maturidade sexual é atingida aos 18 meses e nos machos aos 24. O

período de gestação varia entre 140 a 160 dias, depois de um ciclo estral de cerca

de 15 dias. Nascem dois filhotes a cada gestação. Os filhotes são grandes. Com

duas semanas de vida começam a experimentar frutas maduras, sem deixar a

amamentação (até os 2 meses). O pai, como em outros saguis, ajuda carregando os

filhotes que agarram-se muito bem para qualquer um dos pais, sendo transferidos

para a mãe na hora da alimentação. Aos 21 dias, os jovens começam a explorar um

pouco, mas andam nas costas de seus pais até a idade de 6-7 semanas.

Manifestações sonoras

Quando é ameaçado, emite guinchos muito agudos, alertando o grupo. Protegem o

território de outros grupos com sons fortes.

É comum a presença da espécie em grupo nas áreas da RPPN como também

próximos aos Povoados do entorno. Os animais observados diretamente

apresentavam comportamentos ariscos evitando a aproximação de qualquer

membro da equipe.

O preá (Cavia aperea)

É um roedor de ampla distribuição

na América do Sul, do gênero Cavia,

família dos caviídeos. Mede cerca de 25

cm de comprimento. Possuem pelagem

cinzenta, corpo robusto, patas e orelhas

curtas, incisivos brancos e cauda ausente.

Também é conhecido pelo nome de bengo

(Foto 16). É aparentado com o porquinho-

da-índia (Cavia porcellus).

É predada por aves de rapina, cobras, canídeos e felinos selvagens, bem como cães

e gatos domésticos de propriedades rurais. A base da sua alimentação constitui-se

de gramíneas. Foi registrados próximos a Lagoa do Avô e utilizam bromélias como

refúgio-moradia.

Foto 16) Cavia aperea – Fonte: J.Carraro

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51

Cutia (Dasyprocta acouti)

O gênero Dasyprocta recebe vários nomes

populares: cutia, acuchi, acouti, aguti e acuti.

São mamíferos roedores de pequeno porte, medindo

entre 49 e 64 centímetros. Sete espécies de cutias

habitam o território brasileiro (Foto 17).

As cutias têm apenas vestígio de cauda,

extremidades anteriores bem mais curtas que as

posteriores, e pés compridos com cinco dedos, sendo três desenvolvidos,

com unhas cortantes equivalentes a pequenos cascos e o quinto dedo muito

reduzido. Herbívoras, as cutias se alimentam de sementes e frutos. Costumam fazer

uma coleta cuidadosa na época de abundância para utilização em épocas de

escassez. Sua coloração é variável entre as espécies.

A sua pelagem apresenta um efeito especial, aparentando ser dourada. Cada pelo

possui zonas de várias cores, desde branco a castanho escuro. Este efeito de

zonagem, comum em muitos outros animais tais como o lobo-cinzento, é causado

por uma substância chamada eumelanina, que, durante o crescimento do pelo, é

produzida de forma intermitente, dando origem a esse efeito. Por esta razão, é

usada a designação "aguti" para se referir genericamente a este efeito na pelagem

dos animais. Sua identificação na RPPN se deu de forma direta e indireta sendo que

todos os registros foram anotados próximos a Lagoa do Avô, indicativo que a

espécie utiliza daquela fonte para saciar a sede.

2.1.8.1.4 - DISCUSSÃO

O inventário e os estudos realizados sobre os mamíferos na RPPN enfatizaram

roedores, marsupiais, morcegos, canídeos e felinos, cobrindo toda a sua área e

abrangendo também uma zona de aproximadamente 100 metros pós-limites da

reserva. Tal avanço ocorreu devido à equipe se concentrar em pontos estratégicos

(áreas altas e com boa visibilidade) para possibilitar uma melhor visualização da

área de vegetação ciliar, mata de restinga e vegetação aquática, sendo esta última

em parte na Lagoa do Avô.

Foram identificadas 14 espécies, pertencentes a oito famílias de cinco ordens

(QUADRO 3.25). Entretanto, este número está subestimado, já que faltam coletas

sistematizadas com maior abrangência na RPPN (BERGALLO et al., 2004).

A formação onde se encontrou maior riqueza de espécies (12) foi a mata de

restinga, resultado que reflete a complexidade e heterogeneidade desse ambiente,

que proporciona um maior número de nichos. Em seguida a vegetação ciliar com 10

Foto 17) Dasyprocta acouti – Fonte: J. Carraro

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registros e a vegetação aquática com 3. Acredita-se que uma das prováveis causa

da semelhança de riqueza de espécies da vegetação ciliar com a mata de restinga

seja a preservação das duas formações e a não existência de nenhum separador

entre elas, fazendo uma única formação vegetacional quando vista numa escala

maior.

No Quadro 3, encontram-se os principais tipos de vegetação analisadas e na tabela

11 a lista de todas as espécies de mamíferos registradas até o momento na RPPN.

Quadro 9) Formações Vegetacionais

Formações vegetacionais

vc = vegetação ciliar mr = mata de restinga va = vegetação aquática

Tabela 11) Lista de espécies de mamíferos registradas RPPN e local de registro

Ordem Família Nome da espécie Nome Popular Formação vegetal

Didelphimorphia Didelphidae Didelphis aurita Micoureus Travassosi Philander frenatus

Gambá Cuíca Cuíca

vc + mr vc + mr vc + mr

Rodentia Muridae Caviidae Dasyproctidae

Nectomys squamipes Akodom cursor Cavia aperea Dasyprocta agouti

Rato de água Rato da mata Preá Cutia

va vc + mr mr + va mr

Chiroptera Phyllostomidae

Glossophaga soricina Artibeus lituratus Platyrrhinus lineatus

Morcego morcego

vc + mr vc vc + mr

Carnívora Canidae Felidae

Cerdocyon thous Pseudalopex vetulus Leopardus tigrinus

Cachorro do mato Raposa do campo Gato do mato

vc + mr + va vc + mr mr

Primatas Callitrichidae Callithrix jacchus Mico estrela vc + mr

Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, foram capturadas três espécies de morcegos pertencentes à família Phyllostomidae que possuem ampla distribuição geográfica (BERGALLO et al., 2004). Sendo assim, a região constitui não apenas uma área de interesse para

conservação devido à presença de espécies endêmicas ou de distribuição restrita,

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53

mas ainda como um importante reservatório de espécies de mamíferos terrestres da

Mata Atlântica.

Desta forma, ainda que a capacidade de dispersão e a geralmente vasta extensão de área de vida das espécies que compõe este grupo (Ordens Carnívora, Artiodactyla, Perissodactyla, Xenarthra, Lagomorpha e parte de Rodentia) torne possível sua presença nesta área, a pressão de caça e ocupação humana pode levá-las à extinção local.

2.1.8.1.5 - Espécies Ameaçadas de Extinção

A espécie encontrada e identificada em perigo de extinção foi o carnívoro

Leopardus trigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato, conforme consta na Portaria no-

444, de 17 de dezembro de 2014.

Esta espécie apresenta indícios de que sua população está decrescendo pelo

excesso de exploração e destruição extensiva de habitats ou por outro distúrbio

ambiental, podendo inclusive reduzir a ponto de não apresentarem condições de

recuperação sem a intervenção humana.

2.1.8.1.6 - Espécies Exóticas e Potencialmente

Danosas

As espécies exóticas e cosmopolitas devem ser entendidas aqui como aquelas de

caráter doméstico ou sinantrópico, ou seja, cuja existência na área de estudo tem

haver com a presença humana. Cabe destaque a maciça presença do cachorro

doméstico Canis familiaris, não apenas nas áreas urbanas vizinhas, como no interior

da RPPN. Esta espécie tem sido apontada como uma das principais pragas em

áreas florestais, decorrente de cães que invadem áreas florestais sozinhos ou em

pequenas matilhas (v. Oliveira et al., 2008), quando não conseguem atacar grandes

espécies de animais silvestres, os acuam, causando estresse e fazendo com que se

movimentem para outras áreas, tornando-os mais expostos à caça e atropelamento.

2.1.8.1.7 - Espécies Migratórias

Existem indícios, no entanto, de que os mamíferos neotropicais realizam algum tipo

de deslocamento sazonal, como tem sido suspeitado no caso de espécies de

morcegos. Para a área de estudo, variações populacionais sazonais podem ser

esperadas para algumas espécies de morcegos da família Phyllostomidae por

exemplo o Platyrrhinus lineatus, como já observado para outras regiões do Brasil

(Bianconi, 2003; Bianconi et al., 2004).

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2.1.8.1.8 - Espécies Indicadoras de Qualidade

Ambiental

Os mamíferos podem ser divididos segundo sua capacidade de tolerância as

alterações ambientais em espécies estenóicas/aloantrópicas e

eurióicas/sinantrópicas. No grupo das espécies estenóicas, estão os mamíferos

dependentes do ambiente natural, não tolerando grandes alterações no mesmo, por

sua vez as aloantrópicas não toleram a presença humana, quando essa se traduz na

alteração do ambiente; ambos são indicadores de boa qualidade do meio em que

vivem.

No segundo grupo, o das espécies eurióicas e sinantrópicas, estão os táxons com

grande “plasticidade ecológica”, que não só toleram a alteração ambiental como

podem se favorecer da mesma, aumentando suas populações. Este é o caso de

alguns marsupiais, por exemplo o. gambá (Didelphis albiventris) e até mesmo de

carnívoros mais generalistas, como exemplo o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous);

em geral muito comuns e abundantes em ambientes secundários.

Contudo, é importante frisar que não é a presença ou ausência de determinadas

espécies que podem indicar a boa ou má qualidade do ambiente, mas sim a

composição do conjunto ao ser comparada com outras áreas, sabidamente melhor

preservadas, ou com histórico de alteração menos intenso.

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2.1.8.2 - AVIFAUNA

Diversas espécies de aves, migratórias e residentes, utilizam a faixa litorânea

durante seu ciclo de vida, para obtenção de alimento, reprodução e ponto de pouso,

sendo estas indicadoras de condições ambientais (ELLENBERG 1981, HAHN etal.

1989). Apesar de já existir trabalhos sobre as aves do nordeste brasileiro, (e.g.

COELHO 1978), ainda é bastante escasso os estudos avifaunísticos no estado de

Sergipe.

Dentre os ambientes que compõem a faixa litorânea, a avifauna da restinga é

caracterizada por elementos que se encontram também em outras paisagens

abertas e meio abertas.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo não possui uma listagem de suas aves. Neste

sentido, o principal objetivo deste trabalho foi a elaboração da listagem da avifauna

desta unidade de conservação, através da visualização e/ou vocalização,

contribuindo assim, para subsidiar políticas de conservação desses recursos.

2.1.8.2.1 - MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo:

As atividades de campo foram realizadas na Área da RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo e visualmente no seu entorno. A RPPN envolve 24,6 ha, onde ocorrem

diversos ambientes caracterizados pela presença de dunas, vegetação ciliar, mata

de restinga e charcos em expansão. As dunas formam uma barreira de 500 metros

com a largura variando entre 200 e 400 metros. Segundo a classificação de Koppen,

apresenta clima tropical chuvoso com verão seco, seguido por regime pluviométrico

caracterizado por irregularidades tanto mensal quanto anual. O regime de ventos

tem uma orientação E-SE no inverno e NE no verão (MARRA 1989).

Esta pesquisa teve duração de seis meses, compreendendo as estações seca e

chuvosa, com expedições mensais de dois dias cada, entre março de 2011 a

agosto/2011.

O levantamento da avifauna foi realizado por análise qualitativa através de

observações visuais e sonoras, de acordo com (ALMEIDA et al. 1999), com o auxílio

de binóculo (Samsung 10 X 25 mm), entre os horários das cinco às dez horas da

manhã e três as seis da tarde, durante caminhadas pela área da RPPN ou nos

pontos construídos para observação.

Para avaliar a diversidade da avifauna da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo,

utilizaram-se os Índices de Shannon-Wiener e de Eqüitabilidade, de acordo com

MAGURRAN (1988).

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Quanto ao grau de sensibilidade a distúrbios ambientais, as espécies foram

classificadas segundo PARKER III et al. (1996).

As aves migratórias foram identificadas de acordo com HARRISON (1983) e

HAYMAN et al. (1986) e, as demais, foram registradas utilizando SICK (1997). A

listagem das espécies está apresentada conforme o Comitê Brasileiro de Registros

Ornitológicos – CBRO (2006), a ordem filogenética segue SICK (1997).

2.1.8.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 17 famílias e 83 espécies para a RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo (Quadro 4). Espécies observadas em, no máximo, quatro das doze visitas

perfizeram um percentual de 64,7% do total observado, sendo a grande maioria.

A diversidade da avifauna da RPPN foi de (H´= 3,2) e a equitabilidade (E = 78,2%).

Segundo MAGURRAN (1988) o Índice de Shannon-Wiener varia de 1,7 a 3,7,

podendo raramente ultrapassar o valor de 4,5, e a eqüitabilidade varia entre 0 e

100%, onde 100% indica espécies igualmente abundantes no ambiente. Os valores

revelam uma alta diversidade de espécies, as quais apresentam distribuição

relativamente equilibrada.

As espécies migrantes apresentaram um percentual de 17,7% (n=14) do total de

espécies registradas, sendo elas: Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758); Charadrius

semipalmatus (Bonaparte, 1825); Actitis macularius (Linnaeus, 1766); Arenaria

interpres (Linnaeus, 1758); Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789); Catoptrophorus

semipalmatus (Gmelin , 1789); Calidris pusilla (Linnaeus, 1766); Calidris alba (Pallas,

1764); Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758); Limnodromus griséus (Gmelin, 1789);

Stercorarius parasiticus (Linnaeus, 1758); Sternula antillarum (Lesson, 1847); Sterna

hirundo (Linnaeus, 1758) e Thalasseus sandvicensis (Latham, 1787).

ALEIXO & VIELLIARD (1995) consideram o status de vagante (com registro em

apenas uma visita) para Fregata magnifi cens (Mathews, 1914), Actitis macularia

(Linnaeus, 1766), Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789), Numenius phaeopus

(Linnaeus, 1758), Limnodromus griseus (Gmelin, 1789), Stercorarius parasiticus

(Linnaeus, 1758), Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) e Sternula antillarum (Lesson,

1847).

PARKER III et al. (1996), explicam que taxas considerados vagantes ou ocasionais,

com baixa frequência de ocorrência, podem estar relacionadas à sensibilidade

dessas espécies a possíveis alterações ambientais, levando a um registro

esporádico; a baixa densidade populacional na área e espécies com vocalizações

pouco conspícuas.

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57

Os dados obtidos sugerem a importância da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo para

manutenção dessas aves, sendo ainda, sítio de invernada para migrantes boreais,

sua conservação é de extrema importância para estas populações (Tabela 12).

Quadro 10) Gráfico % das famílias identificadas

Tabela 12) Relação das espécies de aves registradas na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, através de observação direta e vocalização, conforme legenda: status = ST, residente = R e visitante sazonal oriundo do hemisfério norte (VN) conforme CBRO (2006), E = espécie endêmica do Brasil; e grau de sensibilidade a distúrbios ambientais = S: baixa sensibilidade = l, média sensibilidade = m e alta sensibilidade = h, segundo PARKER III et al. (1996).

Especies Nome Vulgar ST S

Anatidae

Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) irerê R l

Anatinae

Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) pé-vermelho R l

Anas bahamensis (Linnaeus, 1758) marreca-toicinho R l

Procellariidae

Calonectris diomedea (Scopoli, 1769) bobo-grande R l

Fregatidae

Fregata magnificens (Mathews, 1914) tesourão R h

Ardeidae

Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho R l

Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) garça-vaqueira R l

Ardea alba (Linnaeus, 1758) garça-branca-grande R l

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 QUANTIDADE FAMÍLIAS

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Egretta thula (Molina, 1782 ) garça-branca-pequena R l

Tigrisoma fasciatum (Such, 1825) socó-boi-escuro R

Cathartidae

Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-de-cabeça-vermelha R l

Cathartes burrovianus (Cassin, 1845) urubu-de-cabeça-amarela R m

Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça-preta R l

Falconidae

Caracara plancus (Miller, 1777) carcará R l

Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri R l

Rallidae

Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) frango-d‟agua-azul R l

Charadriidae

Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero R l

Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758) batuirucu-de-áxila-preta VN l

Charadrius semipalmatus (Bonaparte,

1825)

batuira-de-bando VN m

Charadrius wilsonia (Ord, 1814) batuira-bicuda R m

Charadrius collaris (Vieillot, 1818) batuira-de-coleira R h

Haematopodidae

Haematopus palliatus (Temminck, 1820) piru-piru R m

Scolopacidae

Actitis macularius (Linnaeus, 1766) maçarico-pintado VN l

Arenaria interpres (Linnaeus, 1758) vira-pedras VN h

Tringa melanoleuca (Gmelin, 1789) maçarico-de-perna-amarela VN l

Catoptrophorus semipalmatus (Gmelin,

1789)

maçarico-de-asa-branca VN m

Calidris pusilla (Linnaeus, 1766) maçarico-rasteirinho VN m

Calidris alba (Pallas, 1764) maçarico-branco VN m

Numenius phaeopus (Linnaeus, 1758) maçarico-galego VN m

Limnodromus griseus (Gmelin, 1789) narceja-de-costas-brancas VN h

Jacanidae

Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã R l

Stercorariidae

Stercorarius parasiticus (Linnaeus, 1758) mandrião-parasitico VN l

Sternidae

Sternula superciliaris (Vieillot, 1819) trinta-réis-anão R h

Sternula antillarum (Lesson, 1847) trinta-réis-miudo VN m

Sterna hirundo (Linnaeus, 1758) trinta-réis-boreal VN m

Thalasseus sandvicensis (Latham, 1787) trinta-réis-de-bando VN h

Columbidae

Columbina passerina (Linnaeus, 1758) rolinha-cinzenta R l

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Columbina minuta (Linnaeus, 1766) rolinha-de-asa-canelada R l

Columbina squammata (Lesson, 1831) fôgo-apagou R I

Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard,

1792)

juriti-gemedeira R

Psittacidae

Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766) Jandaia-amarela R m

Amazona amazônica Papagaio do mangue R h

Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) tuim R l

Cuculidae

Crotophaga ani (Linnaeus, 1758) anum-preto R l

Guira guira (Gmelin, 1788) anum-branco R l

Accipitridae

Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) gavião-caramujeiro R l

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó R l

Buteo albicaudatus (Vieillot, 1816) gavião-de-rabo-branco R l

Buteo brachyurus (Vieillot, 1816) gavião-de-cauda-curta R m

Trochilidae

Glaucis hirsutus (Gmelin, 1788) balança-rabo-de-bico-torto R l

Chlorestes notata (Reich, 1793) beija-flor-de-garganta-azul R l

Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1818) besourinho-de-bico-

vermelho

R l

Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura R l

Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758) rabo-branco-rubro R m

Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) beija-flor-da-garganta-verde R l

Alcedinidae

Ceryle torquatus (Linnaeus, 1766) martim-pescador-grande R l

Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-verde R l

Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) martim-pescador-pequeno R l

Picidae

Picumnus fulvescens (Stager, 1961) pica-pau-anão-canela R h

Thamnophilidae

Taraba major (Vieillot, 1816) choro-boi R l

Furnariidae

Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) casaca-de-couro-da-lama R l

Tyrannidae

Capsiempis flaveola (Lichtenstein, 1823) marieninha-amarela R l

Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) lavadeira-mascarada R l

Arundinicola leucocephala (Linnaeus,

1764)

frierinha R l

Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi R l

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Myiozetetes similis (Spix, 1825) bentevi-de-penacho-

vermelho

R l

Tyrannus melancholicus (Vieillot, 1819) suiriri R l

Conopias trivirgatus (Wied, 1831) bem-te-vi-pequeno R m

Hemitriccus zosterops (Pelzeln, 1868) maria-de-olho-branco R h

Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio R l

Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica R l

Hirundinidae

Tachycineta albi venter (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio R l

Mimidae

Mimus gilvus (Vieillot, 1807) sabiá-da-praia R l

Fringillidae

Cyanocompsa brissonii (Lichtenstein,

1823)

Azulão R I

Coerebidae

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica R l

Thraupidae

Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento R l

Thraupis palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do-coqueiro R l

Compsothraupis loricata (Lichtenstein,

1819)

carretão R l

Emberezidae

Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo R l

Volatinia j acarina (Linnaeus, 1766) tziu R l

Cardinalidae

Saltator maximus (Statius Muller, 1776) têmpera-viola R l

Strigidae

Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira R l

COTINGINAE

Carpornis melanocephala (Wied, 1820) sabiá-pimenta R E

2.1.8.2.3 - Conservação

A fragmentação da região onde localiza-se RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

representa perda de habitats e grande ameaça à fauna (Sick 1997; Pizo 2001), visto

que os fragmentos restantes podem ser pequenos demais para conter uma área

suficientemente viável que garanta a sobrevivência das espécies originalmente

presentes na região (Ricklefs 2003). Isto pode ser observado na área estudada pela

ausência de espécies indicadoras de equilíbrio ambiental. A expansão da

monocultura do coqueiro juntamente com a falta de alternativa para as comunidades

locais em utilizar sustentavelmente os recursos oferecidos pelo ambiente restinga

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61

são os principais fatores que geram o desmatamento e consequentemente a

fragmentação na região.

2.1.8.2.4 - Espécies ameaçadas de extinção

Foram identificadas 3 espécies ameaçadas (Tabela 13) na área de estudo (CBRO e

Bird Life International / IUCN - 2010):

Tabela 13) Espécies ameaçadas

ESPÉCIE NOME POPULAR GRAU DE AMEAÇA

Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766) Jandaia-amarela Em perigo

Carpornis melanocephala (Wied,

1820)

sabiá-pimenta Vulnerável

Picumnus fulvescens (Stager, 1961) pica-pau-anão-

canela

Quase ameaçada

2.1.8.2.5 - Educação Ambiental e Ecoturismo

Vale salientar que a maioria das espécies identificadas é de fácil observação, o que

estimula o visitante a procurar pelas aves. Sugere-se que pode-se incluir a atividade

de observação das aves em um roteiro de visitação ou até mesmo em paradas

estratégicas nas trilhas dentro da RPPN. Do ponto de vista ornitológico, a RPPN

possui potencial turístico, porém agregando este potencial aos outros atrativos

presentes na área enriquece o roteiro como um todo.

Segundo Souza (1991), a Várzea é constituída por um mosaico avifaunístico, pois

além das espécies comuns nas áreas úmidas alagadas e nas matas de restinga

também encontramos espécies da caatinga e da mata atlântica, o mesmo autor

destaca para o endemismo de Mimus gilvus (sabiá da praia), espécie que poderá

desaparecer do local caso as matas de restingas sejam destruídas.

A área também é parada obrigatória para aves migratórias (devido ao seu conjunto

de ambientes: lagoa, mata de restinga e vegetação ciliar.

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62

2.1.8.3 - "FAUNA MACROBENTÔNICA ASSOCIADA À

MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM LAGOAS COSTEIRAS DO LITORAL

NORTE SERGIPE".

Os ecossistemas da Zona Costeira de maior relevância são: os estuários os

manguezais e as lagoas costeiras, bem como os banhados e as áreas úmidas

costeiras. Dentre eles podemos citar os estuários como extensões de água costeira

com uma comunicação livre como mar, portanto fortemente afetados pela atividade

das marés. Neles se misturam água do mar (em geral de forma mensurável) e água

doce de drenagem terrestre (ODUM et al, 1988).

Segundo Cunha (1999), Zona Costeira é o espaço geográfico de interação do ar, do

mar e da Terra, seus recursos ambientais, aquáticos e terrestres, compreendem

uma grande variedade de ecossistemas, que se apresentam na transição entre

ambientes terrestres e marinhos.

A Zona costeira de Sergipe é caracterizada pela presença de um costão arenoso de

baixa declividade, constantemente batido pelas ondas, com ausência de formações

rochosas.

2.1.8.3.1 - Lagoas Costeiras

No Brasil, lagoas próximas ao litoral apresentam na composição química da água

uma influência marinha, carregada de íons oriundos da evaporação marinha. Lagoas

costeiras demonstram concentrações maiores de Na+, Mg+ e Cl-, em relação aos

lagos interiores. Lagos litorâneos, que recebem aporte de água do mar nos períodos

de marés altas, estão ainda mais concentrados.

No geral as lagoas costeiras possuem pequena taxa de renovação de águas, com

longo tempo de residência, são efêmeras na escala de tempo geológico e sua

existência depende principalmente das flutuações do nível do mar e da interferência

humana (FERNANDEZ, 1994). Existem diversas formas de lagoas em nosso país,

algumas são abertas para o oceano e por isso são lagoas com características de

águas salobras, outras são corpos fechados que, mesmo costeiros, são de água

doce, (NASCIMENTO, 2010).

Para Esteves (1998a), “Lagoas costeiras são ecossistemas presentes em todos os

continentes sendo áreas de acentuada importância para as populações humanas em

função dos recursos alimentares através da pesca e, também, por apresentarem

excelentes áreas de lazer”.

2.1.8.3.2 - Lagoas no Estado de Sergipe

Embora as lagoas costeiras sejam das feições mais típicas do litoral brasileiro,

raramente têm sido estudadas de forma científica.

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63

Os principais estudos foram realizados em lagoas do litoral fluminense (OLIVEIRA,

1948, Oliveira et al, 1955a, b), mas sem incluir aspectos cíclicos de nutrientes. Mais

recentemente estudos abordando aspectos geoquímicos (AZEVEDO, 1984,

PATCHINEELAM et al, 1984) e biogeoquímicos (ESTEVES et al, 1983-84) tem sido

realizados nessas lagoas. São estes últimos trabalhos os primeiros a abordar a

ciclagem de nutrientes nestes ambientes.

Esteves et al (1983-84), ao partir de levantamentos realizados em 14 lagoas

costeiras do litoral norte do Estado do Rio de Janeiro, propôs um modelo para a

ciclagem de nutrientes nesses ecossistemas. Segundo o modelo proposto, a

pequena profundidade das lagoas, as altas temperaturas e o regime de ventos,

resultariam na não estratificação da coluna d‟ água e na mineralização acelerada

dos nutrientes incorporados biologicamente, diminuindo a acumulação de matéria

orgânica nos sedimentos e aumentando a produtividade fitoplanctônica. Resultados

obtidos em outros estudos de sistemas lagunares, tem demonstrado a grande

variabilidade destas condições, de acordo com as características hidrográficas da

lagoa.

Knoppers et al (1984), estudaram a distribuição de matéria orgânica e suspensão de

nutrientes na Lagoa da Conceição em Santa Catarina. Resultados mostraram

grande variação espacial dos parâmetros dosados, indicando a grande influência da

morfologia lagunar sobre a distribuição e também sobre a ciclagem de nutrientes

nestes ecossistemas. Resultados reforçaram a restrição à generalização quanto ao

padrão de ciclagem de nutrientes em lagoas costeiras.

Fazem parte desse estudo, a lagoa A, Encantada, localizada na Unidade de

Conservação RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e duas lagoas, citadas como Lagoa

B (Tamar) e C (Rebio) que estão localizadas na sede da Reserva Biológica de Santa

Isabel em Pirambu e base do Projeto Tamar. Nossa hipótese de estudo verifica se a

oferta de matéria orgânica alóctone (folhas) da flora nativa do entorno das lagoas é

uma oferta recurso que disponibiliza refúgio ou alimento (energia) aos macro

invertebrados bentônicos.

Objetivo geral - Avaliar a composição fauna macro bentônica associada à matéria

orgânica alóctone na Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo, no município de Pirambu litoral Norte Sergipe.

Objetivos específicos

- Medir e avaliar os parâmetros físicos – químico da qualidade na Lagoa Encantada.

- Identificar a fauna macro bentônica associada ao processo de decomposição de

matéria orgânica.

- Avaliar o consumo da matéria orgânica alóctone.

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2.1.8.3.3 - MATERIAIS E MÉTODOS

Localização e caracterização da Área de Estudo

O estudo foi realizado na Lagoa A, Encantada, da RPPN, situada a 10° 38‟51”S e

36º 46‟19,3” W, com altitude de 7.6 metros, (Figura 1), mapa de localização do

município de Pirambu.

A lagoa em estudos são consideradas como: uma lagoa permanente ou perene, de

águas claras, conhecida como lagoa Encantada, localizada na Reserva Particular do

Quadro 11) Mapa de localização do Município de Pirambu com destaque em verde para as áreas de estudo - Fonte: Atlas Digitais-SEMARH

Foto 19) Lagoa Encantada, cheia no início do estudo – Fonte: Augusta

Foto 18) Lagoa Encantada, secando no final do estudo – Fonte: Augusta

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Patrimônio Nacional Dona Benta e Seu Caboclo, no Povoado Lagoa Redonda

município de Pirambu.

2.1.8.3.1.1 - Caracterização da lagoa estudada.

A Lagoa Encantada (Foto 19 e 20) é uma lagoa permanente, localizada no povoado

de Lagoa Redonda, no entorno da Reserva Biológica de Santa Isabel e dentro da

RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.

A lagoa, A, Encantada, assim chamada pelos habitantes do povoado de Lagoa

Redonda, Município de Pirambu possui uma maior área aquática, mais distante do

mar entre as lagoas existentes. Essa lagoa é uma das belas lagoas perenes que

existem na região, considerada um dos cartões postais do município.

No entorno da Lagoa Encantada temos grandes dunas e mata nativa preservada. Os

impactos ambientais observados in loco foram: plantação semi-irrigada de

coqueiros, algumas construções e moradias, estrada vicinal de pouco movimento, e

ocorrência de banhistas turistas. A área é pouco frequentada para banhos e há

ocorrência de introdução de uma espécie exótica da Amazônia, o tambaqui.

Para parametrizar os dados encontrados pesquisou-se também em mais duas

lagoas só ambas temporárias situadas na Reserva Biológica de Santa Isabel.

2.1.8.3.1.2 - Matéria orgânica alóctone da

vegetação do entorno

Para a realização desta atividade dividiu-se em procedimentos de coleta e

identificação das folhas da vegetação do entorno da lagoa, inseridas em 5 bolsas de

telas verdes com malhas de 2 mm por lagoa. Nas coletas de curta duração 1 bolsa

era retirada e repostas novas folhas em nova bolsa em intervalos de 30 dias, nas

bolsas de longa duração a cada intervalo de 90 dias era retirada uma bolsa para

análise das folhas.

Para o experimento, foram utilizados sacos de malha plástica de 20×50 cm, com 2,0

mm de abertura, seguindo as recomendações de Pompêo; Moschini-Carlos (2003),

costurados com nylon e com cinco furos de mais ou menos 3cm em um dos lados

para facilitar o acesso dos macros invertebrados (Foto 20 e 21).

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66

Foram coletadas dez folhas de espécies vegetais diferentes (n=10), presentes no

entorno da lagoa.

Os sacos foram colocados em cada lagoa separados a uma distância de 4 metros

da margem da lagoa e fixados numa estaca a uma profundidade de 30 cm da

superfície. Entre os meses de maio a novembro de 2011, os sacos foram coletados.

Na lagoa foram colocadas três bolsas com as folhas selecionadas, uma sendo

substituída cada trinta dias nos meses de junho a novembro, com novas folhas

verdes, uma bolsa retirada com três meses e a outra com seis meses.

A cada coleta foi realizada a avaliação do consumo e a identificação e quantificação

da fauna macro bentônica associada, (Tabela 14).

Tabela 14) Espécies coletadas durante o estudo na Lagoa Encantada

Planta Nome Científico Nome Popular

01 Curatela americana Cajueiro bravo, caimbé

02 Kielmeyera rugosa Leiteira

03 Tetracera breyniana

04 Sapium glandulosum

05 Coccoloba laevis

06 Manilkara salzmanni Maçaranduba vermelha

07 Myrciasp Murta

08 Lafoensia pacari

09 Harcornia speciosa Mangaba

10 Anonna sp

Bolsa com folhas verdes dentro da lagoa (Fonte:

Augusta)

Foto 21) com folhas verdes dentro da lagoa – Font: Augusta

Foto 20) Bolsa confeccionada para colocar as espécies de folhas – Fonte: Augusta

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67

2.1.8.3.1.3 - Análise dos parâmetros físico-

químico da água

Nos locais onde foram colocadas as bolsas com as folhas também realizou as

medições de pH, temperatura, oxigênio dissolvido e salinidade, condutividade,

sólidos totais e potencial redox (ORP), com o Multiparâmetro HANNA HI 9828. Após

obtenção de dados, foram inseridos em tabelas previamente elaboradas.

A salinidade é um dos mais importantes fatores ambientais que determinam a

colonização e a biodiversidade nas lagoas costeiras devido à introdução de água da

chuva nesses ambientes, fazendo com que a salinidade presente nas mesmas tenha

uma variabilidade estacional, a salinidade também irá variar em função da

contribuição da água costeira (durante a maré alta) por meio de canais abertos

natural ou artificialmente, ou por meio da contribuição de ventos (spray marinho).

Para realização das análises foi utilizado o Laboratório de Conservação e

Biodiversidade da Universidade Federal de Sergipe.

Potencial hidrogeniônico – pH - A medida do pH representa a concentração de

íons hidrogênio em uma solução. Este parâmetro é de grande importância, na

colonização de seres vivos nos ambientes pesquisados e em processos de

tratamento de água.

Temperatura - A variável temperatura tem significativa relevância no estudo da

qualidade da água, influenciando nos processos físicos, químicos e biológicos. A

temperatura afeta as comunidades bióticas. A alteração da temperatura se dá

através de vários fatores, o vento é um fator de grande influência, atua sobre a

superfície da água, transferindo energia para as camadas inferiores das lagoas.

Sólidos Totais-Tds/PPM - Os sólidos se referem a materiais em suspensão ou

dissolvidos no corpo hídrico.

Oxigênio dissolvido – OD - O OD é um parâmetro de grande importância

especialmente por ser o principal elemento no metabolismo dos micro-organismos

aeróbios. Tanto na legislação de classificação das águas naturais como na

composição de índices de água (IQAs). Esse parâmetro foi utilizado para a

determinação da concentração de oxigênio dissolvido em águas.

Salinidade - É um parâmetro indicador da influência marinha ou da abundância de

cloretos decorrentes de processos poluentes.

Condutividade Elétrica - A condutividade elétrica é um parâmetro que fornece uma

relação íntima de sólidos dissolvidos adicionados às águas nos mananciais. Valores

elevados podem indicar a presença de elevadas concentrações de sais na água.

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ORP (Potencial OX-REDOX) - Potencial Redox é a habilidade de uma molécula,

átomo ou íon perder elétrons para outra molécula, átomo ou íon ganhar elétrons.

Redox é uma relação entre oxigênio e nutrientes dissolvidos na água. Um agente

oxidante (no caso, oxigênio) oxida nutrientes; isto significa que o oxigênio será

reduzido, ou seja, ganhará elétrons enquanto que os nutrientes serão oxidados,

perdendo elétrons.

O Potencial Redox é uma medida em milivolts (Mv) da concentração de oxidantes;

em sistemas marinhos deve ser entre 300 e 500 Mv.

Em água salgada quanto mais alta for a temperatura e salinidade, menor será a taxa

de oxigênio dissolvido ; aquários em boas em condições podem apresentar taxas de

oxigênio até 8 mg/l.

Todas as análises foram realizadas através do equipamento HI 9828 Multiparameter

Water Quality Portable Meter, da HANNA Instruments (Foto 22).

Para as análises dos dados coletados foram

aplicados testes estatísticos (ANOVA) e Kruskal-

Wallis.

Análise da fauna macro bentônica associada

Outro procedimento foi realizado no laboratório,

triagem dos vegetais para identificação e

quantificação da fauna macro bentônica

associada, observada nas folhas coletadas nas

lagoas. As triagens dos vegetais foram

realizadas manualmente, lavados com água corrente para a remoção de sedimentos

e de outros detritos aderidos, particularmente nas folhas.

Para essa finalidade foram utilizadas luvas, bandejas rasas, peneiras de malha,

pinças, caixa quadrada de madeira com vidro na superfície e luz dentro, e com uma

bandeja de plástico em cima para separação da fauna, envolvida no processo de

decomposição das folhas coletadas mensalmente. (POMPÊO & MOSCHINI-

CARLOS 2003).

A fauna macro bentônica foi selecionada, quantificada e posteriormente

acondicionada em álcool a 70º para fixação, rotulada com data de coleta, local de

amostragem e unidade amostral (POMPÊO & MOSCHINI-CARLOS 2003).

Foto 22) : Aparelho utilizado para análise da água – Fonte: Augusta

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69

2.1.8.3.4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

2.1.8.3.4.1 - Caracterização físico, químico e

biológica da lagoa

A cobertura vegetal permite a redistribuição da água da chuva no meio físico pois,

influencia no amortecimento, no direcionamento e retenção das gotas das chuvas

que chegam ao solo, afetam a dinâmica do escoamento superficial e o processo de

infiltração (ARCOVA; CICCO,1999).

Na Lagoa Encantada o leito é coberto por espécies de juncos. Observou-se que os

valores de pH ao longo das coletas (Tabela 15), apresentou variação nos valores

mínimos de 6,64 e máximo de 7,81, para Lagoa A. O valor está dentro dos padrões

exigidos para e qualidade de água Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde para

consumo humano e animal. Recomenda que o pH da água esteja na faixa de 6,0 a

9,5 no sistema de distribuição. Já na classe I, águas doces da Resolução CONAMA

357/05 deve manter-se dentro da faixa favorável para o desenvolvimento da biota

conforme estudos realizados por Esteves (1998b), entre 6,0 a 9,0.

Tabela 15) Distribuição dos valores de pH na Lagoa Encantada.

Mês / Valor

Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

6,75 6,64 7,29 7,81 7,61 7,36 7,24 0,46

A qualidade de um ambiente aquático pode ser definida como um conjunto de

concentração de substâncias orgânicas e inorgânicas, além da composição e o

estado da biota aquática encontrada no corpo d´água em termos espaciais e

temporais (MEYBECH e HELMER, 1992). Considerando que a qualidade da água

refere-se a padrão tão próximo possível ao natural, torna-se imprescindível a

determinação de parâmetros indicadores de qualidade (BRANCO 1991). Outros

valores tais como temperatura, oxigênio dissolvido, potencial redox, sólidos totais

são variáveis que conferem parâmetros de qualidade da água para a fauna aquática,

(Callixto 2002).

Temperatura

Valores de temperatura das lagoas nos dias de coletas: na A variou de (25,38º C a

29,42º C). Estes valores são característicos para os períodos de coleta e confere

com os dados de literatura do Nordeste do Brasil, ou seja, não possui características

peculiares em relação a sua parte do litoral, conforme valores da temperatura

(Tabela 16).

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70

Todavia, temperaturas elevadas são típicas dos corpos aquáticos tropicais

(KLEEREKOPER, 1994; TUNDISI, 1995; CALIJURI, 1998). De forma semelhante

aos demais corpos aquáticos do Nordeste Brasileiro e aos ambientes lenticos

tropicais em geral. A variação pode ser explicada, conforme Payne (1986), quando

este fenômeno associa-se principalmente à temperatura ambiente, a qual exerce

considerável efeito no metabolismo do corpo aquático, favorecendo o crescimento e

reprodução da biota aquática, proporcionando maior rapidez na reciclagem de

nutrientes e decomposição da matéria orgânica. (ESTEVES et al., 1998; TUNDISI et

al, 1999).

Tabela 16) Distribuição dos valores de temperaturas (º C) na Lagoa Encantada

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

27,68 27,89 25,72 25,58 25,38 29,04 29,42 27,24 1,69

Sólidos Totais - Tds/ppm

Em relação aos sólidos totais, o valor encontrado na Lagoa A Encantada variou de

24,0 ppm em maio, inicio do inverno, e máximo de e 50,0 ppm no verão, (Tabela 17).

Em estudos realizados por Albertone e Esteves (1999), demonstraram que a

decomposição da matéria orgânica vegetal que gera composto (ácidos húmicos e

fúlvicos) estes são mineralizados mais lentamente e, portanto são mais solúveis em

água. Isto ocorre, principalmente, em lagoas cuja alimentação origina-se

basicamente do lençol freático das Dunas, como é o caso da Lagoa Encantada.

Tabela 17) Distribuição dos valores de Sólidos Totais (ppm) na Lagoa Encantada - medidos no Multiparâmetro HANNA HI 9828.

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

24 28 29 30 50 35 34 32,86 8,41

Oxigênio Dissolvido

Na tabela 10 observa-se que as porcentagens dos valores de oxigênio dissolvido

variaram de 59,5 a 66,5 na Lagoa A, 22,4a 50,3 na Lagoa B e 43,1 a 104,6 na Lagoa

C, quando avaliou os valores médios da lagoa A 62 (%), indicam que há

produtividade e solubilidade de oxigênio atmosférico, enquanto as lagoas B e C há

um comprometimento na produção de oxigênio e dissolução, este dado é reforçado

uma vez que as temperaturas e pH estão estáveis (Tabela 18). Há um outlier no

mês de julho, relacionado há possível erro de medição e calibração do

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71

Multiparâmetro. Ao eliminarmos estes outliers as variações desaparecem, indicando

que devemos descartar estas medições.

Tabela 18) Distribuição dos valores em porcentagem de Oxigênio Dissolvido (%) na Lagoa Encantada, com valores temperatura corrigidos tabela 9. Multiparâmetro HANNA HI 9828.

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

62,4 61,0 65,4 66,5 59,5 60,1 61,1 62,29 2,68

Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram

variâncias iguais, onde, H= 8,66, Graus de Liberdade= 2 e (P)= 0,01, sendo

significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, recomendando a retirada dos

outliers, referente às medições de julho.

O oxigênio é um elemento de grande importância para o homem como também para

toda fauna e flora que dele utiliza-se para a sua sobrevivência e manutenção do

meio.

Uma das características mais importantes da água é a capacidade de solubilização

de gases, especialmente o oxigênio, cujas concentrações influem decisivamente no

funcionamento dos ecossistemas aquáticos, em suas comunidades e no balanço de

vários nutrientes (SCHÄFER, apud NASCIMENTO, 2006).

Salinidade - Os valores de salinidade nas lagoas variaram durante o período de

amostragem, com pequena flutuação (Tabela 19). Os valores de salinidades foram

0,02 e 0,05 na Lagoa A, 0,05 e 0,20 na Lagoa B, 0,06 e 0,14 na Lagoa C, segundo a

Resolução CONAMA n° 357/2005 as águas doces devem ter salinidade igual ou

inferior a 0,5 ppm.

Tabela 19) Distribuição dos valores de salinidades (ppm) na Lagoa Encantada

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

0,02 0,02 0,03 0,03 0,05 0,03 0,03 0,03 0,01

Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram

variância, iguais, onde, H = 10,44, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,005, é

significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, A e C.

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72

As características naturais da Lagoa A, com grande contribuição do lençol freático

como também a evaporação, precipitação e isolamento total do mar, sem influência

da maré favorecem baixos valores de salinidades.

Condutividade Elétrica (CE) - Uma determinada solução aquosa tem capacidade

de conduzir corrente elétrica. Essa habilidade pode ser medida que é a

condutividade elétrica, que representa a capacidade da água em conduzir corrente

elétrica.

Segundo Esteves (1998b) a condutividade elétrica está relacionada à capacidade de

uma solução conduzir corrente elétrica, sendo que esta pode variar em função da

concentração de íons presentes na água. Conforme a tabela 20, as Lagoas A,

Encantada, B, Tamar e C, Rebio em suas amostragens apresentaram valores de

condutividade elétrica que variaram de 48 a 100µS/cm, na Lagoa A, 114 a 425,

Lagoa B e 134 a 295, na Lagoa C, esses valores foram crescentes no decorrer das

coletas, porém, não foram muito elevados.

Tabela 20) Distribuição dos valores de condutividade elétrica na Lagoa Encantada.

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

48 56 59 61 100 70 68 66 16,7

Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram

variância, iguais, onde, H = 10,52, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,005, é

significativo. Sua diferença existe nas lagoas A e B, A e C.

A redução destes valores pode estar relacionada à contribuição das chuvas como

também do lençol freático ali encontrado nas dunas que estão ao redor do

manancial. O acúmulo da água da chuva serve como contribuinte direto para a

lagoa.

A Lagoa B, Tamar apresentou os maiores valores, isto pode estar relacionado a

reduzida profundidade da mesma, essa maior concentração dos íons ali presentes

pode estar relacionado a influência da margem e os aportes de sedimentos que

contribuem para o aumento dos íons na coluna d´água.

Os valores de CE e Cl-, também podem estar relacionados a ação dos ventos, pois

a região onde localiza-se a lagoa é litorânea, precisamente a poucos metros do meio

marinho que usualmente esta carregado com íons Na+, Mg2+e Cl-, são arrastados

pela interferência das precipitações marinhas e através do spray marinho chegam ao

continente (Esteves, 1998b).

ORP (Potencial OX-REDOX) - Causas para um baixo potencial redox:

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- aquários superpopulados: - grande produção de nutrientes e, alto consumo de

oxigênio no processo de oxidação.

- baixa movimentação da água principalmente na superfície.

- filtros sujos.

- skimmers ineficientes.

- altos níveis de nitrato.

Tabela 21) Distribuição dos valores de ORP na Lagoa Encantada.

Mês / Valor

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Média Desvio Padrão

129,3 15,1 -9,3 65,0 48,1 55,4 -4,2 42,77 48,05

Através do teste de Kruskal-Wallis, uma vez que os dados não apresentaram

variância, iguais, onde, H = 2,55, Graus de Liberdade = 2 e (P) = 0,27, não é

significativo.

Tabela 22) Condições do tempo na Lagoa Encantada, durante as coletas realizadas.

Mês / Condições do tempo

Mai Jun Jul Ago Set Out Nov

Nublado c/chuvisco

Nublado c/momentos

de sol

Totalmente nublado

Sol Nublado c/muito vento

Sol Sol

2.1.8.3.5 - Análise da fauna macro bentônica

associada

Os macro invertebrados foram identificados e quantificados ao longo das coletas,

realizadas durante os meses de Junho a Novembro nas lagoas estudadas.

As tabelas 23 e 24 a seguir, com a identificação dos macro invertebrados, possuem

na sequência das identificações uma letra significando seu táxon, selecionados por

“C” representando Classe, “O” Ordem, “SF” Super Filo e “SO” Super Ordem,

(BARNES, 2005). A tabela 23 apresenta a abundancia da fauna macro bentônica.

Tabela 23) Identificação da fauna macro bentônica na Lagoa Encantada, Pirambu - SE

Período Jun Jul *Ago Set Out *Nov 3-MESES 6-MESES

Coleoptera (O) -- -- -- -- -- -- 1 --

Crustacea (SF) 1

1 1 1 1 -- 1

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Diptera (O) 15 84 116 75 30 11 88 160

Odonata (O) 3 -- 14 5 2 -- 10 --

Oligoqueta (C) -- -- 4 1 -- -- 4 --

Abundância 19 84 135 82 33 12 103 161

Coleta das folhas que estavam na lagoa durante: * 90 dias -- ** 180 dias

Na lagoa estudada foram identificados macro invertebrados descritos a seguir.

Quantidade de Coleoptera de 01, na coleta de três meses no mês de agosto. As

quantidades de Diptera identificadas apresentaram variação de 11 a 160 na Lagoa.

Em relação aos Odonatas, encontrou-se na Lagoa 02 na quinta coleta e a maior

quantidade de 14 na terceira coleta no mês de agosto, A quantidade de Oligoquetas

identificadas apresentou variação nas quantidades de 01 a 04.

Os macro invertebrados identificados apresentou uma quantidade de Crustacea de

01, na coleta dos meses de junho, agosto, setembro, outubro, novembro e na coleta

de seis meses. Não foi observada a presença de Gastropoda e Hemiptera na Lagoa.

Tabela 24) Abundância da fauna macro bentônica nas Lagoas Encantada e nas Lagoas B e C.

Lagoas Lagoa

Encantada

Tamar

Lagoa B

Rebio

Lagoa C

Diptera (O) 579 541 1662

Oligoqueta (C) 9 466 81

Gastropoda (C) -- 50 62

Odonata (O) 34 52 54

Bivalvia (C) -- 17 34

Coleoptera (O) 1 192 30

Heteroptera (SO) -- -- 19

Hemiptera (O) -- 62 9

Hephemeroptera (O) -- -- 8

Tricoptera (O) -- -- 4

Crustacea (SF) 6 -- 1

Total 629 1380 1964

Em relação à abundância da fauna macro bentônica nas lagoa, observou-se que

apresentou uma valores pequenos com relação a outras Lagoas já estudadas na

região porém mais próximas do oceano. Alguns fatores podem sugerir boas

respostas.

A perenidade, maior volume, maior distância da costa e a presença do cultivo de

uma espécie de peixe exótica são fatores importantes a serem investigados na

Lagoa Encantada. Serem temporárias, maior quantidade de matéria orgânica

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disponível, proximidade com a costa e a presença nos entornos de animais de

criação podem responder o fato da maior abundância nas outras.

Avaliação degradação da matéria orgânica alóctone nas lagoas

O consumo da matéria orgânica, (degradação, decomposição), foi diferente nas três

lagoas avaliadas. Os mesmos fatores responsáveis à maior abundância da fauna

macro bentônica já relatados, podem responder ao maior consumo vegetal nas

lagoas B e C. Como também já citado, uma maior diversidade faunística, representa

mais necessidade tanto alimentar, quanto refúgio de predadores.

A tabelas 25 a seguir, demonstram um menor consumo na lagoa perene e, maior

nas lagoas temporárias, B e C.

As siglas nas tabelas se referem ao nível do consumo de cada espécie vegetal

ofertada, sendo NA (Não Atacada), A (Atacada) e AS (Atacada Superficialmente).

Tabela 25) Análise qualitativa da decomposição foliar na Lagoa Encantada

Planta Nome científico Jun Jul Ago Set Out Nov Ago*

3-meses

Nov**

6-meses

01 Curatela americana NA NA NA NA NA NA NA NA

02 Kielmeyera rugosa NA NA NA NA NA NA NA AS

03 Tetracera breyniana NA NA NA NA NA NA AS AS

04 Sapium glandulosum A A A A A A A A

05 Coccoloba laevis NA NA NA NA NA NA AS AS

06 Manilkara salzmanni NA NA NA NA NA NA NA AS

07 Myrciasp NA NA SA NA NA NA AS AS

08 Lafoensia pacari NA NA NA NA NA NA NA NA

09 Harcornia speciosa NA NA NA NA NA NA AS AS

10 Anonna sp NA NA NA NA NA NA AS AS

Coleta das folhas que estavam na lagoa durante *90 dias -- ** 180 dias

As fotos a seguir demonstram as espécies e seu relativo consumo em cada lagoa

estudada.

Lagoa Encantada - as Fotos 4 e 5, apresentam a espécie Sapium glandulosum

(sapium) da Lagoa A, que foi a mais decomposta nos períodos das coletas.

Foto 24) Sapium glandulosum, no momento da coleta – Fonte: Augusta

Foto 23) Sapium glandulosum, um mês após coleta – Fonte: Augusta

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76

2.1.8.3.5 - CONCLUSÕES

Os resultados obtidos no estudo das Lagoas Encantada, Tamar e Rebio permitiram

avaliar que os ambientes onde as lagoas estão inseridas, são diversificados em

relação à localização, suas temporariedades e aos impactos relevantes a que estão

sujeitas as lagoas. A Lagoa Encantada, permanente, e próxima ao povoado de

Lagoa Redonda, tem a maior área aquática e está em altitude 60 m.a.n.m. pode ser

classificada com lagoa referência, pois apresentou os melhores valores de OD,

variando entre 59.5 a 66.5, esta variação pode estar relacionada com a grande

quantidade da espécie junco que se encontra submersa em uma grande parte da

lagoa. O junco Eleocarys spp é responsável pela assimilação fotossintética e

produção de oxigênio. Podemos mencionar a presença de nascentes de água dos

complexos dunares que dali emerge, com isso pode haver o aumento da

concentração de oxigênio no meio aquático. Também a agitação dos ventos na

superfície provoca trocas gasosas com a atmosfera, e como o referido manancial

encontra-se a alguns metros da ação marinha, este pode ser fator importante para o

aumento do OD.

A identificação da fauna macro bentônica presente nas amostras estudadas revela

também algumas diferenças entre as lagoas. Na Lagoa Encantada, foi identificado o

menor número de táxons (5) e unidades presentes nas amostras coletadas, 658 no

total, com Dípteras, Odonatas e Crustáceos os mais representativos, observando

também a presença de Oligoquetas e um Coleóptero. Vale citar que 91 % da fauna

macro bentônica identificada, pertence à Ordem Diptera. Foi observado a ausência

de Gastrópodes, Bivalves, Heteroptera, Hemiptera, Hefemeroptera e Tricoptera,

presentes nas outras lagoas pesquisadas. Estudos mais focados poderiam revelar

as conclusões obtidas nesse item, mas a perenidade da lagoa, uma maior qualidade

da água aliada à presença impactante de uma espécie exótica cultivada, possam ser

razões conclusivas quanto à diversidade do ambiente aquático.

Na lagoa Encantada, a espécie Sapium glandulosum, foi a visualmente mais

decomposta nas coletas periódicas. Na lagoa B, Tamar, duas espécies foram mais

consumidas, o popular “grageru” Chrysobalanus icaco e a espécie conhecida

vulgarmente por “feijão branco” a Carpparis flexuosa. Já as espécies de “aroeirinha”

Schinus terebentifolius e a “malva” Sida cordifolia foram, como observado nas

coletas, totalmente consumidas ou decompostas. Na lagoa C, Rebio, a espécie

“grageru” Chrysobalanus icaco demonstrou uma decomposição maior nas coletas

periódicas, e a espécie conhecida como “pororoca” ou “acácia amarela”, Sesbania

virgata, sempre estava totalmente decomposta nas coletas realizadas

periodicamente.

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77

2.1.8.4 - LEVANTAMENTO ICTIOLÓGICO NA LAGOA

ENCANTADA

O presente trabalho é um levantamento preliminar para caracterização ictiológica da

Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo município de

Pirambu no Estado de Sergipe.

A área de estudo, apresenta, devido à proximidade com o mar, clima quente e

úmido, exposto aos alísios do sudeste. As temperaturas médias anuais são

elevadas, com máximas em torno dos 27º C e mínimas em torno de 23º C. O índice

pluviométrico médio é de 1.250 mm (Rodrigues,1996) e o maior período de

precipitação ocorre entre março e agosto.

Na área e no entorno da lagoa há predominância dos campos de várzea, compostos

de plantas higrófilas e plantas hidrófilas como a Montrichardia funifera (Aninga) e

Cyperus articulatus (junco) (Franco, 1983).

Em relação aos solos da área de estudo, verifica-se a presença de Podzol e areais

quartzosas marinhas distróficas (Embrapa, 1999).

Os trabalhos de ictiofauna visam subsidiar a confecção do Plano de Manejo na

RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.

2.1.8.4.1 - METODOLOGIA

A captura dos peixes foi realizada com os seguintes petrechos de pesca:

1) Conjunto de redes de emalhar com malhas de 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 cm (entre nós

opostos), visando amostragem quantitativa.

2.1.8.4.1.1 - Processamento em campo

Os peixes capturados foram fixados em solução de formol a 10% e acondicionados

em bombonas plásticas adotando-se os seguintes procedimentos: a) separação dos

peixes para cada tipo de petrecho de pesca, sendo que para as redes de emalhar

isso foi feito para cada tamanho de malha; b) os exemplares pequenos, até cerca de

5-6 cm de comprimento, foram acondicionados inteiros; c) nos exemplares de médio

porte, acima de 6 cm, realizou-se uma incisão abdominal no sentido caudocranial

desde a abertura genital até as brânquias (para facilitar a penetração da solução

fixadora) e ainda procedeu-se a perfuração da bexiga gasosa para se evitar que os

mesmos flutuassem na solução; d) alguns exemplares de porte médio receberam

também injeções com a solução de formol principalmente nas regiões de maior

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78

massa muscular. Para os procedimentos em campo procurou-se levar em conta as

instruções contidas em Britski (1967) e Oyakawa & Esteves (2004).

2.1.8.4.1.2 - Procedimento em laboratório

Todo material ictiológico coletado foi transportado para laboratório, onde passou

pelos os seguintes procedimentos:

a) Todos os peixes capturados por cada tipo de petrecho de pesca (no caso de

redes de emalhar, por tipo de malha), por local, por data, foram identificados

utilizando e principalmente as chaves de identificação contidas em Britski et al.

(1984) e os nomes científicos atualizados de acordo com Reis et al. (2003);

b) Dos peixes capturados por cada petrecho de pesca (no caso de redes de

emalhar, por tipo de malha), por local, por data, foram anotados a quantidade e o

peso por espécie (em kg).

2.1.8.4.1.3 - Capturas por unidade de esforço em

número e biomassa de peixes

A abundância relativa da pesca com redes de emalhar foi determinada através de

captura por unidade de esforço (CPUE), definida como o somatório do número

(CPUEn) ou biomassa (CPUEb, em kg) de peixes/100 m2 das redes empregadas/13

horas (Santos, 1999), conforme as equações abaixo:

CPUEn = captura em número em 100 m2 por unidade de esforço;

CPUEb = captura em biomassa (kg) em 100 m2 por unidade de esforço;

N = número de peixes capturados para um determinado tamanho de malha;

n = tamanhos de malha empregados (3, 6, 7, 10, 12 e 14);

B = biomassa (kg) dos peixes capturados para um determinado tamanho de malha;

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79

E = esforço de pesca para um dado tamanho de malha (área de rede empregada)

durante o tempo de exposição.

2.1.8.4.2 - RESULTADOS

Foi capturado um total de 8 espécies, considerando-se todos os tipos de petrechos

utilizados (tabela abaixo):

Tabela 26) Espécies encontradas na Lagoa Encantada

Existe relatos verbais da ocorrência de introdução da espécie exótica da Amazônia,

o tambaqui (Colossoma macropomum), o qual foi introduzido na Lagoa por pessoas

da Comunidade Lagoa Redonda através de orientação dos Técnicos da

CODEVASF, para combate natural do caramujo.

As espécies mais capturadas, por tipo de malha de rede, estão relacionadas abaixo:

Tabela 27) Espécies capturas por tipo de malha e rede

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Os rendimentos das redes de emalhar utilizadas na captura dos peixes foram os

relacionados na tabela abaixo:

Tabela 28) Rendimento das redes de pesca

Em relação às capturas por unidade de esforço do conjunto das redes de emalhar

(malhas 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 12, 14 e 16 cm), considerando-se o número de peixes

capturados/100 m2 redes/13 horas (CPUEn) e biomassa de peixes capturados/100

m2 redes/13 horas (CPUEb), como mostram a tabela e a figura a seguir, nota-se

que:

Tabela 29) Relação captura e biomassa

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81

Quadro 12) Gráfico Quanto a CPUEn

a) Quanto a CPUEn, as espécies dominantes foram por ordem decrescente:

Astyanax bimaculatus (piaba Marituba) e Cichlasoma sanctifranciscense (cará).

b) Quanto a CPUEb, as espécies dominantes foram por ordem decrescente:

Astyanax bimaculatus (piaba Marituba) e Hoplias malabaricus (traíra).

2.1.8.4.3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho é um levantamento preliminar para caracterização Ictiológico da

Lagoa Encantada localizada na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.

Das 8 espécies capturadas, 7 eram autóctones, 1 alóctones (Metynnis maculatus) e

1 exótica (Oreochromis niloticus).

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82

Salientamos que a tilápia (Oreochromis niloticus) e o pacu (Metynis maculatus) já

estão estabelecidos na Lagoa Encantada.

Quanto ao número de indivíduos capturados, as espécies predominantes foram

Astyanax bimaculatus e Hoplias malabaricus.e quanto à biomassa, as espécies

predominantes foram Astyanax bimaculatus e Hoplias malabaricus.

Verifica-se pelos dados apresentados, uma preocupação de que novas espécies

invasoras estejam se estabelecendo na região, podendo competir ou predar as

espécies nativas, desconfigurando o habitat natural da lagoa em estudo.

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83

2.1.9 - Patrimônio Cultural Material e Imaterial

As áreas do litoral norte do Estado de Sergipe foram ocupadas de modo intensivo

por populações pré-históricas, as quais deixaram vestígios de sua presença em

inúmeros locais, já identificados por pesquisadores. A presença humana remonta-se

à épocas muito anteriores aos registros documentais existentes. Ainda mesmo que

não se tenha descoberto nenhum sambaquis, os sinais da presença de grupos

coletores, pescadores e caçadores, além de horticultores-ceramistas aparecem em

cacos de cerâmicas descobertos em 3 possíveis sítios localizados no pós-praia entre

os Municípios de Pirambu e Pacatuba.

Historicamente, as terras litorâneas que ficavam entre os Rios Japaratuba e São

Francisco eram utilizadas para criação de animais, principalmente bovinos. A RPPN

Dona Benta e Seu Caboclo está contida nessa área.

O primeiro registro de um proprietário da imensa gleba entre os Rios mencionados

cita o nome do Sr. João de Barros Cardoso e sua esposa Beatriz de Lima Barros

que venderam para o Convento do Carmo da Bahia em 26/10/1650 os:

“seis cítios de currais que começão no rio japaratuba na barra delle junto ao

mar, correndo para o Norte, e Rio de São Francisco, a saber: O CITIO DO

CATÚ, O CITIO DE S. ISABEL, o qual é aquele em que esteve o Silveira, o

CITIO DA SUBPESIMA, O CITIO DO TUJUPAR, O CITIO DOS TAPUIAS, O

CITIO DA PPIÓCA...” (SILVA, 2002, p. 47)

Deve ser considerado patrimônio cultural imaterial associado ao Plano de Manejo da

RPPN Dona Benta e Seu Caboclo os saberes mantidos pelas populações locais

sobre práticas tradicionais de manejo ambiental e sobre o uso medicinal, alimentar e

artesanal da flora e fauna protegidas pela UC. Este patrimônio imaterial deve ser

entendido como parte da herança histórica deixada pelos habitantes que interagiram

com os europeus desde o início da colonização deste litoral.

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84

2.1.10 - VISITAÇÃO

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo permitirá a visitação pública com fins de

educação e interpretação ambiental, de recreação e do Ecoturismo.

A visitação na RPPN será desenvolvida com o objetivo de propiciar ao visitante o

contato com a natureza e a oportunidade de conhecer os atributos e valores

ambientais protegidos pela UC. Além destas motivações, vem crescendo nos últimos

anos a demanda de visitas com objetivos específicos de pesquisa.

Além das construções existentes que darão suporte à visitação (casa sede,

alojamento e área de camping), existem trilhas (fotos 26 e 27) que permitem um

conhecimento mais aprofundado do ambiente de restinga juntamente com o

encantamento das paisagens naturais existentes, onde destacamos:

- O Riacho do Sangradouro;

- a vegetação ciliar;

- a mata de restinga;

- a lagoa do Avô;

- o mirante, e;

- a fauna.

A outra partindo da Fazenda Cordeiro de Jesus e terminando no Riacho do

Sangradouro, dentro da UC. A visitação é desenvolvida desde 2001, sendo a

observação de aves e a caminhada o passeio mais procurado. A média de visitas

Foto 26) Visitante na Trilha da RPPN – Fonte: Ju Almeida

Foto 26) Visitante Cadeirante preparando para a trilha - , Fonte: Ju Almeida

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85

em 2011 foi de aproximadamente 650 pessoas, na sua maioria acadêmicos

desenvolvendo trabalhos de campo nas áreas afins.

As trilhas foram caracterizadas obedecendo a critérios técnicos como:

- distância;

- obstáculos encontrados;

- o que o visitante deve levar;

- o que o visitante vai observar;

- idade mínima permitida;

- quantidade máxima de pessoas por grupo/dia, e;

- suporte oferecido ao visitante.

A Fazenda Cordeiro de Jesus, mantenedora da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e

pioneira em recepcionar visitantes na região, oferece serviços diversos e criou

outros atrativos, naturais e artificiais:

- banho de lagoas;

- pescarias;

- trilhas ecológicas;

- interpretação ambiental;

- alimentação;

- hospedagem para trilheiro;

- esquibunda - descida nas dunas sentado em pranchas (sandboard)

- olimpíada ambiental

- eventos acadêmicos relativo ao meio ambiente (seminários)

No entorno da RPPN, os Povoados Aningas, Lagoa Redonda e Santa Isabel

possuem atrativos que agregam ao roteiro proposto pela RPPN:

- cozinha tradicional

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86

- produtos artesanais como bolsas ou outros utensílios da palha do licurí ou da

taboa,

- apreciar a confecção do artesanato e interagir com as artesãs

- apreciar e interagir em rotinas diária dos moradores como por exemplo, colher

mangaba, pescar, interagir no processo da fabricação da farinha de mandioca, etc.

2.1.10.1 - TURISMO DESORDENADO

A área do entorno da RPPN sofre negativamente com o turismo desordenado e a

especulação imobiliária. Nos últimos 5 anos, a procura para construir casa de

veraneio cresceu muito devido a facilitação do acesso para o litoral norte do Estado

consequência da construção da ponte sobre o Rio Sergipe interligando a Cidade de

Aracaju à Barra dos Coqueiros. Em recentes estudos, uma turma de Ecoturismo do

IFS constatou que 97% dos impactos negativos catalogados nos Povoados do

entorno, tais como: lixo diversos, barulho, acidentes e afogamento foram

ocasionados por visitantes. O restante, ou seja 3% fica a cargo dos nativos.

2.1.10.2 - MONITORAMENTO DO IMPACTO DE VISITAÇÃO

Os atrativos naturais existentes na RPPN, tais como: Riacho do Sangradouro,

vegetação ciliar, mirantes, lagoa e fauna, foram objetos de estudo para

monitoramento do impacto de visitação e tomou-se como base a associação de

vários métodos, sendo um desenvolvido para a elaboração de plano de manejo em

parques nacionais nos Estados Unidos, dois desenvolvidos especificamente para o

manejo dos impactos de visitação em áreas naturais protegidas e um importado da

área de acompanhamento de projetos do IAF:

1 – LAC ou Limites de Mudanças Aceitáveis - EUA

2 – Capacidade de Carga de Visitação Recreativa em Áreas Protegidas – Miguel

Cifuentes

3 – VIM – Manejo de Impacto de Visitação - EUA

4 – Monitoramento e Avaliação de Projetos - IAF

2.1.11 - CONVÊNIOS

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo mantém convênios com as seguintes

instituições de Ensino:

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Quadro 13) Convênios mantidos com instituições de Ensino

INSTITUIÇÃO CURSOS

Universidade Federal de

Sergipe - UFS

Biologia, Ecologia, Engenharia Florestal,

Arqueologia, Geografia e Arte Visuais

Universidade Tiradentes – UNIT Biologia, Turismo e Geografia

Instituto Federal de Sergipe –

IFS

Ecoturismo, Gestão de Turismo e

Saneamento Ambiental.

As atividades desenvolvidas pelos Acadêmicos e Pesquisadores são previamente

programadas com os proprietários da RPPN e executadas em conjunto. Compõem

basicamente de:

- levantamento/caracterização preliminar da fauna e flora;

- sinalização de trilhas;

- condução em trilhas;

- trabalho de campo diverso;

- educação ambiental;

- conhecimento de plantas para uso medicinal;

O apoio que a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo oferece aos visitantes conveniados

abrange os aspectos de:

- alojamento

- acompanhamento nas diversas atividades

- palestras

- saber popular

Salienta-se que o apoio oferecido pela RPPN não é cobrado financeiramente porém

em contrapartida a instituição fica obrigada a oferecer posteriormente o resultado /

relatório dos trabalhos realizados.

2.1.12 - PESQUISA

Com a criação da RPPN, começou o despertar da comunidade Acadêmica para o

desenvolvimento de pesquisas na área. A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo já

serviu de suporte para Artigos Científicos e Monografias. Também se tem

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conhecimento que outras pesquisas foram executadas antes da criação da UC,

porém sem ainda sem registros. Atualmente as pesquisas científicas na RPPN

somente podem ser realizadas com autorização dos proprietários da mesma.

Dentre as publicações e trabalhos desenvolvidos em 2011, destacam-se:

- Trabalho de monografia realizado pelo Acadêmico de Gestão em Turismo do IFS,

Ednaldo Martins Pinheiro, com o título “atividades Eco turísticas na UC do tipo RPPN

Dona Benta e Seu Caboclo”, tendo como orientadora a Professora Doutora Mary

Nadja Lima Santos e defendida em 01/06/2011.

- Trabalho apresentado no VIII CONECOTUR – 2011 CONGRESSO NACIONAL DE

ECOTURISMO, e IV ECOUC – 2011 – ENCONTRO INTERDISCIPLINAR DE

ECOTURISMO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO com o título

“PLANEJAMENTO E GESTÃO DO ECOTURISMO: UM ESTUDO DE CASO NA

RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO (SE), forma os autores: Priscila Pereira

Santos, Alessandra Magda dos Santos de Souza, José Wellington Carvalho

Vilar e Manuel Messias Santos-Junior todos do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de Sergipe

- Trabalho de monografia da Acadêmica do curso de Ciências Biológica da UFS

Maria Augusta Barbosa dos Anjos, intitulado: "FAUNA MACROBENTÔNICA

ASSOCIADA À MATÉRIA ORGÂNICA ALÓCTONE EM LAGOAS COSTEIRAS DO

LITORAL NORTE SERGIPE" e submetida ao Departamento de Biologia da

Universidade Federal de Sergipe como requisito necessário para obtenção do grau

de Ciências Biológicas Bacharelado sob a orientação do Prof. Dr. Adauto de Souza

Ribeiro, 2011.

- Trabalho de monografia do Acadêmico do curso de Pós Graduação da UFS em

Ecologia e Conservação de Ecossistemas Costeiros, Manoel Elielson Cordeiro de

Jesus, Intitulado: O LICURIZEIRO (Syagrus coronata (Mart.) Becc.) como produto

Ecoturístico para comunidades costeiras: um estudo de viabilidade para o Povoado

Alagamar - Pirambu/SE, 2006.

- Trabalho de monografia do Acadêmico do curso de Turismo da Universidade

Tiradentes, Manoel Elielson Cordeiro de Jesus, Intitulado: Ecoturismo, uma

alternativa sustentável e viável para o Vale Cordeiro de Jesus. 2004

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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2.1.13 - OCORRÊNCIA DE FOGO

O vento, material combustível (vegetação), topografia (inclinação do terreno),

umidade do ar e do material combustível são os fatores mais comuns que

influenciam no comportamento do fogo. As suas causas podem ser classificadas em

naturais e humanas e essa última é a principal causadora de incêndios florestais.

Seja para fins rudimentar de formação de pastagens, fogueiras, fumantes,

carvoarias, queima de lixo, linhas elétricas, dentre outros, todos contribuem para a

causa.

Na área que é atualmente a RPPN Dona Benta e seu Caboclo, nos últimos 12 anos

tem um registro de incêndio que consumiu cerca de 5% da área que compõe a UC,

tendo como causa a queima de lixo descontrolada por um vizinho.

No caso das áreas de vegetação ciliar conservadas, estas não costumam ser

atingida por incêndios, pois sua vegetação é de difícil combustão e a serapilheira

acumulada no solo permanece úmida durante todo o ano.

A Fazenda Cordeiro de Jesus conta com uma brigada composta de 8 voluntários

oriundos dos Povoados do entorno da RPPN, onde receberam treinamento

preliminar para posteriormente juntamente com os parceiros envolvidos fazerem um

aprofundamento no Órgão Competente. Os brigadistas voluntários estão

comprometidos em auxiliar a RPPN nas ações educativas e nos trabalhos de

sensibilização para se evitar as queimadas ou acompanhá-las nos casos com

autorização.

2.1.14 - OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM CONJUNTO

COM A RPPN

Nos Povoados Aninga e Lagoa Redonda, localizados no entorno da RPPN existe

uma espécie de parceria em assuntos diversos relacionados às comunidades:

Quadro 14) Parcerias RPPN e Comunidades do entorno

INSTITUIÇÃO TIPO DE COOPERAÇÃO

ACOPAL – Associação dos

Povoados Aningas e Lagoa

Redonda

Elaboração de projetos, documentação,

orientação diversas.

Instituto San Rafael Orientação diversas

Grupo de Artesanato Mãos que Orientação diversas, apoio logístico,

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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Geram Renda divulgação do artesanato

Restaurante Bom Paladar Direcionar grupos para almoço

Mercearia do Negão Compras de produtos diversos

Banda de Pífano de Vacilon Divulgação, fardamento, logística

2.1.15 - SISTEMA DE GESTÃO

A administração da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo estar sob a responsabilidade

direta dos seus proprietários. Busca-se um envolvimento participativo das lideranças

das comunidades do seu entorno em todas as suas atividades. As parcerias já

existente com as instituições de ensino superior (UFS, UNIT e IFS) auxiliam o

planejamento e implementação de ações envolvendo fauna e flora. Inicialmente a

RPPN não terá conselho consultivo.

A administração da RPPN atua na região no sentido de assegurar a manutenção

dos atributos ambientais da reserva e do seu entorno, promovendo a divulgação na

região e no Estado através das mídias existentes e fazendo sua devida sinalização

com placas informativas e de advertência, inclusive na interpretação das trilhas.

2.1.16 - PESSOAL

A Fazenda Cordeiro de Jesus mantém um funcionário que trabalha diretamente

monitorando a RPPN. Usou-se como pré-requisito admissional os seguintes itens:

- ser de alguma comunidade do entorno;

- conhecer a região principalmente a fauna e flora popular;

- possuir vocação para trabalhar na área rural, e;

- que seja alfabetizado

Assim sendo, foi admitido uma pessoa capaz, com 53 anos de idade, na função de

Auxiliar e recebeu capacitação para:

- monitorar a área da RPPN;

- recepcionar/conduzir o visitante nas trilhas;

- interpretar o ambiente para o visitante, e;

- Noções básicas de preservação.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

91

No planejamento dos projetos específicos, se prevê a contratação de outros

profissionais de acordo com a necessidade.

2.1.17 - INFRA-ESTRUTURA

A RPPN ainda não possui nenhuma infraestrutura, exceto algumas placas de

sinalização indicando o local da RPPN.

- A sinalização existente é precária, mas todo o projeto de sinalização está em fase

de planejamento e posteriormente será executado através de convênio firmado entre

a RPPN e a Universidade Tiradentes.

- O acesso à RPPN apesar do seu limite ficar próximo à estrada principal ainda é

difícil, pois ela é margeada pelo Riacho do Sangradouro e o espaço da estrada até o

referido Riacho pertence a terceiros. Procurando estes proprietários, obteve-se

autorização para utilização da propriedade a fim de facilitar a entrada para a RPPN.

Sendo que após acessar o Riacho, tem que atravessá-lo com água acima do joelho

para adentrar à RPPN. A outra forma de acessar a UC é via trilha a partir da

Fazenda Cordeiro de Jesus. Encontra-se em fase de negociação para a compra de

um terreno a fim de se fazer um corredor e construir um acesso partindo da estrada

principal e no Riacho construir uma Ponte de madeira.

- 1 Lagoa (Encantada), onde permanece com água durante todo o ano, apropriada

para banho. Semestralmente, são colhidas amostras para análise no laboratório de

microbiologia da UFS, cujo resultados apresentam excelentes para banho e na sua

nascente de ótima qualidade para o consumo humano. Tomou-se o cuidado de

povoá-la com peixe da espécie tambaqui, que mesmo sendo uma espécie exótica é

indicada pelo técnicos da CODEVASF pois são predadores naturais do caramujo.

2.1.18 - EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS:

As infraestruturas presentes em uma UC servem de apoio a serviços e distribuem-se

de acordo com suas finalidades específicas e reais necessidades.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo ainda não possui uma sede própria e toda a

gestão parte da Fazenda Cordeiro de Jesus. Não existe nenhuma instalação

presente na UC.

Tabela 30) Equipamentos de EPI

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

92

2.1.19 - RECURSOS FINANCEIROS:

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo conta com recursos dos proprietários e apoio

da SOS Mata Atlântica, através de contrato de colaboração para conservação do

PROGRAMA DE INCENTIVO ÀS RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO

NATURAL DA MATA ATLÂNTICA.

Buscar-se-á apoio e o financiamento dos projetos para implementação do Plano de

Manejo com os Governos, empresas privadas, universidades, escolas e indivíduos

simpatizantes com a luta em prol da construção de um planeta melhor para todos os

seres.

2.1.20 - FORMAS DE COOPERAÇÃO:

Para a elaboração do Plano de Manejo, os proprietários da RPPN buscaram apoios

e parcerias nas diversas esferas governamental e privadas, do tipo formal e informal,

conforme demonstrado na tabela:

Tabela 31) Parcerias e formas de cooperação

INSTITUIÇÃO/PESSOAS TIPO DE

COOPERAÇÃO COMENTÁRIOS

SOS MATA ATLÂNTICA Apoio Financeiro

Juntamente com os parceiros apoiaram

financeiramente o projeto de elaboração do Plano de

Manejo

Fazenda Cordeiro de Jesus

Apoio Financeiro e logístico

Como entidade mantenedora da RPPN ela preenche todas as lacunas

onde existe deficiências em todos aspectos.

UFS / UNIT / IFS Apoio Técnico e

participativo Tanto na fase de criação

da RPPN quanto na

EQUIPAMENTOS DE EPI QT CONSERVAÇÃO LOCALIZAÇÃO

Primeiros socorros 02 Bom Fazenda Cordeiro de

Jesus

Lanterna 05 Bom Fazenda Cordeiro de

Jesus

Maca 01 Bom Fazenda Cordeiro de

Jesus

Facão 03 Bom Fazenda Cordeiro de

Jesus

Chapéu de palha 10 Bom Fazenda Cordeiro de

Jesus

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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confecção do Plano de Manejo, essas instituições

de ensino superior se fizeram presentes através dos professores e alunos.

RAZÃO AMBIENTAL

Apoio Técnico Levantamento dos

principais dados para confecção do Plano de

Manejo

Acompanhou todas as etapas do Plano de

Manejo

SEMARH / SE Logístico e Técnico

Participou de vária etapas da construção do Plano inclusive de Oficinas do

DRP.

CODEVASF Logístico e Técnico Participação de oficinas e levantamento ictiológico

DESO Técnico e material Participação de oficinas

IBAMA Técnico participativo Participação de oficinas

ICMBio Técnico participativo Participação de oficinas

POLÍCIA AMBIENTAL Técnico participativo Participação de oficinas

ACOPAL Técnico participativo Participação de oficinas

IGREJA BATISTA Técnico participativo Participação de oficinas

EMDAGRO SE Técnico participativo Participação de oficinas

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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2.2 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE

A Fazenda Cordeiro de Jesus, sedia e mantém a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

objeto principal desse Plano de Manejo, está escriturada no Tabelionato de Notas e

Registros de Imóveis da Comarca de Japaratuba, Estado de Sergipe, sob a

Quadro 15 - Mapa ilustrado da Fazenda Cordeiro de Jesus. Fonte: Razão

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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matricula nº 2.925, registro nº 1, livro 2-L, fls. 68, no dia 30 de junho de 2008, no

Registro de Imóveis da Comarca de Japaratuba - SE. no Livro 08, folha 006 com

data de 26/11/2008 e a RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia.

Como infraestrutura de apoio a Fazenda possui:

- duas casas equipada com mobiliário, utilizada para recepcionar/hospedar

visitantes, totalizando 6 UH, ambas com fossas sépticas instaladas;

- 1 alojamento contendo 2 UH e área coberta para barracas/colchonete;

- 1 área ao ar livre para acampamento;

- Estacionamento para 10 automóveis e 3 ônibus;

- Estrutura para fornecimento de alimentação aos visitantes, composta de cozinha

semi-industrial, mobiliário e utensílios necessários para o preparo do alimento e

pessoal das comunidades que foram previamente selecionados e capacitados

capazes de formar uma equipe na medida da existência da demanda;

- Sistema de captação de água para as casas é via bombeamento da Lagoa

Encantada;

- O lixo produzido é separado em vasilhames adequado e posteriormente aqueles

que não são passíveis de serem reaproveitados são levados para o Povoado Lagoa

Redonda onde é recolhido pela Prefeitura de Pirambu;

- A energia elétrica existente é oriunda da hidrelétrica de Xingó, porém encontra-se

já em fase de estudos a construção de uma mini usina para captação de energia

solar para as etapas de implantação e implementação do Plano de Manejo;

- As estradas são de piçarra, porém durante todo o ano possui um bom nível de

conservação e no inverno a prefeitura utiliza os meios disponível para manter a

acessibilidade às localidades.

2.1.1 - USO DA TERRA

Toda a área vegetativa da Fazenda Cordeiro de Jesus possui feições de restinga

sento que a maior família de espécies catalogada pertence a das Myrtaceae,

características típica desse local. Historicamente, a área que hoje pertence a

Fazenda, antes pertencia ao Sítio de Santa Isabel, por volta de 1650, e era utilizada

na criação de animais. Existe vestígios que todo o litoral norte do Estado fora

habitado por grupos diversos. Desses, os registros mais recentes indica a presença

de pescadores temporais que numa determinada época fixam residência, fundando

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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povoados e destes vieram as cidades. Um exemplo desse fato é a Cidade de

Pirambu, município que abriga a Fazenda Cordeiro de Jesus.

Tudo indica, que a partir do pastoreio dos rebanhos estimulou o homem adentrar na

região. O certo é que se descobriu a flora da restinga e a abundância dos seus

frutos e logo serviu de alimentos primeiro para saciar seus exploradores e

posteriormente alimentar os animais. Dente estes frutos, a mangabeira (Hancornia

speciosa) se destacava pela abundância e sabor diferenciado dos seus frutos, muito

apreciado pelos nativos. Não tardou e a indústria descobriu o látex extraído do seu

tronco.

O solo arenoso da restinga possui um alto grau de fragilidade não oferecendo

resistência ao pisoteio de animais de porte (Gado) o qual fez os hábitos dos

descendentes dos primeiros exploradores mudarem em detrimento da perda de

pastagens. Iniciou o ciclo de criação de ovinos e caprinos, por ser de menor porte e

exigir menos cuidados. Como alternativa de renda, a extração do látex aparecia em

primeiro plano, porém exigia muito trabalho pois tinha que percorrer imensas áreas

em busca da planta, acrescentando o lento processo de coleta, além da pequena

quantidade extraída findando com os cuidados na formação da “bola” de borracha

que pesava muito e tinha que ser transportado até o comprador.

Diante de tantos desdobramentos desfavoráveis para os exploradores do látex da

mangabeira, um foi decisivo para acabar com a prática na região: depois de alguns

cortes no tronco para extração a árvore acabava enfraquecida e morria. Atualmente

a mangabeira sustentavelmente explorada na região e faz do Estado o seu maior

produtor, mas, pouco a pouco está cedendo lugar para a monocultura do coco.

2.2.2 - ATIVIDADES DESENVOLVIDA COM RISCOS AMBIENTAIS

Busca-se através da conscientização e da capacitação das pessoas envolvidas,

evitar qualquer prática que venha prejudicar o meio ambiente. Não existe na

Fazenda Cordeiro de Jesus nenhuma atividade que ofereça risco ambiental.

2.2.3 - POTENCIALIDADES

Como já foi anteriormente demonstrada, a Fazenda Cordeiro de Jesus foi planejada

estrategicamente para ser um referencial de preservação primeiramente no litoral

norte e em um segundo plano em todo o Estado de Sergipe. Para isso, as duas UCs

existentes: RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e a RPPN Lagoa Encantada do Morro

da Lucrécia, tiveram suas localizações definidas em áreas que estavam sofrendo

grandes antrofisações, devido a fatores como a especulação imobiliária e a

monocultura do coco.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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A Fazenda Cordeiro de Jesus é pioneira na implementação do Ecoturismo de bases

comunitária. Foi diagnosticado tal aptidão através de estudos realizados em

conjunto com a Universidade Tiradentes que apontou vocação nata na região.

Descobriu-se que o pólo de artesanato sustentável da palha do licurizeiro e da taboa

é o maior do estado. E isso foram fatores preponderantes para implementação de

projetos de geração de renda utilizando o artesanato.

O envolvimento comunitário na vida diária da Fazenda faz-se também presente nos

pequenos estabelecimento comerciais dos Povoados (restaurantes, mercearias,

lanchonetes, diaristas, dentre outros) pois trata-se de prática costumeira adquirir

produtos das comunidades ou direcionar grupos de visitantes para algum dos

restaurantes dos povoados ou para visitarem os centros de artesanatos onde na

maioria das vezes acabam comprando alguma peça.

A Emdagro – Empresa de Desenvolvimento de Sergipe, juntamente com a Fazenda

Cordeiro de Jesus planejam estender o projeto de horta orgânica que já está sendo

desenvolvido na Associação dos Moradores de Aningas e Lagoa Redonda para

criação de mais um na Fazenda. Para isso existe algumas facilidades: área plana,

água em abundância e equipe montada para executar as tarefas braçais.

2.2.4 – RPPN LAGOA ENCANTADA DO MORRO DA LUCRÉCIA

A RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia, criada através da Portaria 92/2011,

também está inserida na Fazenda Cordeiro de Jesus e pertence aos mesmos

proprietários da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.

Como estratégia de conservação, seus proprietários resolveram criar as UCs tendo

como localização os extremos da propriedade pois entende-se que a presença de

uma Unidade de Conservação agrega valores e pode inibir a degradação por parte

das comunidades do entorno.

As RPPNs, mesmo pertencendo ao ecossistema restinga possui fisionomias

diferenciadas. A RPPN Lagoa Encantada do Morro da Lucrécia contém um conjunto

de dunas móveis, semimóveis e fixa enquanto a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

apresenta uma densa vegetação e suas dunas são todas fixas.

A faixa de terra que se encontra entre as duas RPPNs tem aproximadamente 3 Km

de extensão e pertence à Fazenda Cordeiro de Jesus. Sua vegetação possui alto

grau de preservação e serve como corredor ecológico entre as UCs.

2.2.5 - Criadouro de Animais Silvestres

A Fazenda Cordeiro de Jesus abriga o único criadouro de animais silvestres do

Estado para as espécies: preá, mocó, paca, cutia e capivara. Além de possuir

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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profundos vínculos preservacionista tornará mais um atrativo para os visitantes.

Através do criadouro, mais uma parceria está em formação com a Faculdade de

Veterinária PIO X, localizada na Cidade de Aracaju.

2.2.6 - Construção de Chalés

Visando o aumento das Unidades Habitacionais diante do aumento da demanda, a

Fazenda está construindo chalés ecologicamente correto para abrigar até 9

pessoas.

2.2.7 - Reflorestamento do Licurizeiro

Sabe-se que a palha do licurizeiro é a principal matéria prima para várias peças

artesanais confeccionadas pelas pessoas das comunidades do entorno da RPPN

Dona Benta e Seu Caboclo. Sabe-se também que a escassez dessa planta é cada

vez mais frequente. Diante disso, a Fazenda Cordeiro de Jesus, reservou uma área

para se fazer o plantio do Licurizeiro visando assim auxiliar a manutenção de uma

centenária tradição da região além da geração de renda.

Neste contexto apresentado, a Fazenda Cordeiro de Jesus, diante de práticas

sustentáveis cria situações favoráveis não somente para a RPPN como também

para as populações do seu entorno.

2.3 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO

O município de Pirambu está localizado no litoral sergipano. Possui uma área

territorial de 218 Km2, sendo 71 Km2 de área urbano e 147 Km2 de área rural. A

sede do município está localizada há 31 Km de distância da Capital Aracaju via

Rodovia SE-100 e 76 Km pela BR-101. Pirambu encontra-se a 2 metros de altitude.

Faz fronteiros com os seguintes municípios: ao Norte com Pacatuba, ao Sul, Santo

Amaro das Brotas e Barra dos coqueiros, a Leste com o oceano Atlântico e a Oeste

Japaratuba e Carmópolis. Sendo que nenhum deles influenciam diretamente com a

RPPN Dona Benta e Seu Caboclo. O município é composto por 9 (nove) povoados

principais: Aguilhadas, Aningas. Lagoa Redonda, Maribondo, Baixa Grande, Pau

Seco (Água Boa), Bebedouro, Santa Isabel (Lagoa Grande) e Alagamar. Apenas os

Povoados Aningas e Lagoa Redonda fazem parte do entorno direto da RPPN,

porém considera-se os Povoados Água Boa e Santa Isabel por estarem no entorno

da Fazenda Cordeiro de Jesus e suas lideranças fazerem estarem arroladas em

projetos comunitários.

O nome Pirambu vem de um peixe que era bastante comum na região, e o Povoado

originou-se de uma pequena colônia de pescadores que viviam basicamente da

cultura da mandioca, do milho, do feijão e da batata-doce, bem como da pesca nos

rios, lagoas e da beira da praia.

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O Município de Pirambu já foi Povoado de Japaratuba, isso explica ainda algumas

dependências administrativa. Porém turisticamente falando, o desmembramento do

Povoado a partir do decreto que o emancipou também foi impiedoso com a sua

Cidade mãe: toda a faixa litorânea ficou pertencendo a Pirambu.

2.3.1 - DADOS QUE CARACTERIZAM O MUNICÍPIO DE PIRAMBU

Tabela 32) Regionalização e divisão administrativa de Pirambu

REGIONALIZAÇÕES E DIVISÃO ADMINISTRATIVA

Código do Município/Pirambu/SE 2805307

Área Oficial Territorial (Km2) 218,084

Território de Planejamento Leste do Estado

Regiões de saúde Nossa Senhora do socorro

Polos Turísticos Costa dos coqueirais

Regionalização de Educação DR4

Comarca (TJ) Japaratuba

Mesorregiões Leste Sergipano

Microrregiões Geográficas Japaratuba

Tabela 33) Dados Demográfico de Pirambu

DEMOGRAFIA

População Absoluta 2000 7255

População Absoluta 2010 8369

População Relativa 2000 0,004065622

População Relativa 2010 0,004689895

População Urbana 2000 4.148

População Urbana 2010 4906

População Rural 2000 3.107

População Rural 2010 3463

Taxa de Crescimento 2000-2010 1,438686053

Taxa de Urbanização 2000 57,17436251

Taxa de Urbanização 2010 58,62110168

Densidade Demográfica 2000 35,23555124

Densidade Demográfica 2010 40,64594463

Razão de Sexo 2000 1,001931567

Razão de Sexo 2010 1,013230695

Taxa Bruta de Natalidade 2000 19,84838043

Taxa Bruta de Natalidade 2010 13,86067631

Taxa Bruta de Mortalidade 2000 5,099931082

Taxa Bruta de Mortalidade 2010 5,854940853

Mortalidade Infantil 2000 4

Mortalidade Infantil 2000 2

Mortalidade Infantil 2010 27,77777778

Mortalidade Infantil 2010 17,24137931

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Tabela 34) Domicílios e renda

DOMICÍLIOS E RENDA

Total de Domicílios Particulares Permanentes (2010) 2218

Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento

nominal percapita de R$ 1,00 a 70,00 (2010)

289

Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento

nominal percapita de R$ 70,00 a 140,00 (2010)

416

Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento

nominal percapita de R$ 140,00 e mais (2010)

1213

Total de Domicílios Particulares Permanentes sem rendimento

nominal percapita (2010)

300

Total de Domicílios Particulares Permanentes com rendimento

nominal percapita (2010)

318,06

Tabela 35) Domicílios e saneamento

DOMICÍLIOS E SANEAMENTO

Total de Domicílios Particulares Permanentes com abastecimento de

água (2010)

1.886

Total de Domicílios Particulares Permanentes com rede de esgoto

(2010)

332

Total de Domicílios Particulares Permanentes com coleta de lixo

(2010)

1549

Total de Domicílios Particulares Permanentes com banheiro de uso

exclusivo (2010)

1955

Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição adequada

ao saneamento básico (2010)

319

Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição

semiadequada ao saneamento básico (2010)

1.641

Total de Domicílios Particulares Permanentes em condição

inadequada ao saneamento básico (2010)

258

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101

Tabela 36) Indicadores econômicos

INDICADORES DE ECONOMIA

PIB (2009) 45,362

PIB Percapita (2009) 5.269,79

Valor Adicionado da Administração Pública (2009) 21,368

Valor Adicionado da Agropecuária (2009) 4,506

Valor Adicionado da Indústria (2009) 7,953

Valor Adicionado dos Serviços (2009) 31,470

Imposto (2009) 1.433,36

Receita arrecadada total é igual a receita orçamentária incluindo as

deduções

14.889.133,94

A receita corrente liquida é utilizada para efeito de LRF e refere-se

a: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais,

industriais, agropecuárias e de serviços, transferências correntes e

outras receitas correntes

15.439.595,58

Impostos + taxas + contribuições de melhoria 683.793,69

Cota parte do ICMS aos municípios 2.246.671,57

Cota parte do FPM repassados aos municípios pela União 4.676.420,53

Participação do ICMS no Total da Receita Arrecadada % 15,089

Participação do FPM no Total da Receita Arrecadada % 31,408

Despesas orçamentárias que equivale a despesas correntes +

despesas de capital + reservas do RPPS + reserva de contingência

14.429.695,69

Receitas tributárias/população 81,70

Gastos públicos do município com pessoal e encargos sociais 7.490.484,83

Indicador da Lei de responsabilidade fiscal dos municípios

sergipano - limite máximo de gastos com pessoal 60% da receita

corrente liquida

48,51

Investimentos públicos Municipais 577.716,61

Participação dos Gastos com Investimentos na receita Arrecadada

%

3,88

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

102

Tabela 37) Indicadores sociais - Educação

2.3.2 - Aplicação do DRP – Diagnóstico Rápido Participativo para a

avaliação estratégica da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e seu entorno.

Sabe-se que conhecer qualquer realidade não é nada fácil, pois se somam

interpretações, pontos de vista, interesses, métodos, formas, conceitos, objetivos,

prismas, ângulos, anseios, vivências, etc...

Enfim, são muitas interferências, com consequentes efeitos nos resultados finais do

diagnóstico. Tratando-se de comunidades urbanas, este estudo torna-se mais

complexo, porém, mais interessante.

INDICADORES SOCIAIS - EDUCAÇÃO

Taxa de Analfabetismo Geral (pessoas de 15 anos ou mais) (2000) 26,58

Taxa de Analfabetismo Geral (pessoas de 15 anos ou mais) (2010) 20,19

Pessoas maiores de 15 anos que não sabem ler e escrever 1167

Pessoas maiores de 15 anos da cor negra e parda que não sabem ler

e escrever

288

Pessoas maiores de 15 anos da cor branca que não sabem ler e

escrever

861

Pessoas maiores de 15 anos da raça indígena e cor amarela que não

sabem ler e escrever

18

Foto 27) Reunião do DRP com as Comunidades - Fonte:

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

103

O diagnóstico rápido participativo (DRP) é uma ferramenta que tem o objetivo de

auxiliar os interessados em conhecer a complexa teia de relações que permeiam o

cotidiano dos grupos sociais, na medida em que nos permite ter uma visão mais real

dos inúmeros fatores - sociais, econômicos, ambientais e culturais que afetam as

tomadas de decisão nestes sistemas.

Sabemos que não é uma metodologia acabada e completa, mas representa um

avanço em termos de pesquisa socioambiental.

Assim sendo, na busca por uma ferramenta que proporcionasse a coleta de

informações sobre temas diversos em curto espaço de tempo e que auxiliasse o

planejamento estratégico para a construção do Plano de Manejo da RPPN Dona

Benta e Seu Caboclo, optou-se por aplicar o Diagnóstico Rápido Participativo

envolvendo as comunidades do entorno da RPPN, por essa técnica também

apresentar:

- linguagem de fácil assimilação e interatividade com os participantes;

- facilita o diálogo entre equipe e pessoas do local;

- desperta a discussão sobre os problemas e situações do entorno;

- realiza um levantamento de assuntos locais e motiva a análise do coletivo

dos participantes;

- trabalha com percepções locais

- facilita a verificação da informação

- permiti a participação de alfabetizados ou não no mesmo momento

- mobilidade dos elementos conforme a discussão

A Avaliação Estratégica da RPPN considerou os fatores internos e externos, que

impulsionam ou dificultam a execução dos objetivos para os quais a Unidade de

Conservação está sendo proposta.

O objetivo principal desse estudo é fazer um levantamento para identificar os

principais os principais anseios das comunidades do entorno da RPPN e relacionar

aspectos favoráveis ou contrários para o planejamento estratégico para a confecção

do Plano de Manejo da UC.

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104

2.3.2.1 - METODOLOGIA

Foram convidados moradores das Comunidades de Aningas e Lagoa Redonda,

Povoados do entorno da RPPN, mais as Comunidades de Água Boa e Santa

Isabel que mantém ligação direta com a UC através de outros projetos em

desenvolvimentos. A escolha dos participantes obedeceu alguns critérios:

- posição de liderança nas comunidades;

- representatividade com o poder público municipal / estadual e federal;

- Pessoas diretamente ligadas a RPPN

Convidaram-se também Órgãos públicos e empresas privadas que atuam no

entorno da RPPN e podem influenciar/auxiliar de alguma forma com os projetos

derivados do Plano de Manejo.

O Diagnóstico foi realizado na sede da Fazenda Cordeiro de Jesus, o dia 14 de

junho de 2011, com início às 08 h 30 min., com intervalo para almoço de 1 h e

terminou a parte de levantamento de dados e discussão às 16 h 30 min.

Usou-se como para construção do DRP uma união de técnicas já conhecidas como

a matriz SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) o diagrama de

venn e matriz. Essa combinação nasceu a partir do conhecimento prévio de

resistência das comunidades em outros diagnósticos realizados.

Foto 28) Reunião do DRP com as Comunidades - Fonte:

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

105

2.3.2.2 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

A logística para fazer a reunião constou de convite individual e entrego em mãos

para os envolvidos. Utilização do telefone e mensagens via e-mail para reforço do

convite e confirmação de participação até a locação de Van para transporte do

pessoal das Comunidades envolvidas. A reunião contou com a participação de 41

pessoas, sendo que 17 pessoas representaram entidades públicas e 24 às

comunidades.

Fez-se uma explanação sobre a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e informou-se

sobre as características de uma UC do tipo RPPN e da necessidade de ter um Plano

de Manejo. Em seguida foi explicitada a metodologia dos trabalhos:

Confeccionou-se 5 tabelas em folhas de papel tipo cartolina com as seguintes

proposituras:

1 - Atividades locais

2 – Potencialidades

3 – Problemas

4 – Impactos

5 – Ações e projetos previstos.

Foram coladas na parede, em local visível a todos. O moderador conduzia os temas

para os públicos presentes e na medida das interpelações de cada um, o mesmo

sintetizava a fala para um auxiliar que por sua vez escrevia no devido local da tabela

e outro auxiliar transcrevia para o computador.

O DRP foi elaborado em duas etapas: a primeira constou da reunião com as

comunidades e instituições cujo objetivo era de fazer levantamentos de dados. Na

segunda etapa reuniram-se apenas os Moderadores e os Técnicos da Secretaria do

Meio Ambiente de Sergipe para a tabulação dos dados e construção do presente

relatório para posterior apresentação para às Comunidades envolvidas. Quadro 16) Comunidades participantes do DRP – Fonte Seplan/SE – mod. p/RAZÃO

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106

Quadro 17) Instituições participantes do DRP

COMUNIDADES PARTICIPANTES

ANINGAS LAGOA REDONDA

MORRO DA LUCRÉCIA SANTA ISABEL

INSTITUIÇÕES PÚBLICAS PARTICIPANTES

Instituto Federal de Sergipe – IFS Polícia Ambiental do Estado de Sergipe

Secretaria do Meio Ambiente de

Sergipe

Companhia de Águas e Saneamento – DESO

CODEVASF SOCIEDADE SEMEAR

IBAMA Associação dos Moradores de Aningas e

Lagoa Redonda

Igreja Batista em Lagoa Redonda EMDAGRO

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

107

2.3.2.3 - Atividades locais

A base para um diagnóstico é saber o dia a dia das Comunidades com relação aos

aspectos sociais, econômicos, cultural e ambiental. Passa-se a conhecer os usos e

costumes das pessoas do lugar e o que existe de suporte estrutural. Essas

informações subsidiam os projetos específicos colocados no Plano de manejo. As

atividades descritas pelas comunidades foram acrescidas pelos técnicos das

instituições demonstrando inicialmente que o envolvimento deles abrange outras

esferas além daquelas objeto de vivência ou prestação de serviços nas

comunidades.

Quadro 18) Atividades desenvolvidas nas comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições

Atividades locais executadas no dia a dia das comunidades

Apontada pela Comunidade Local

Pesca Artesanato

Coleta da Mangaba Plantação de milho e feijão

Produção do coco Pecuária

Turismo ecológico Pequenas criações ovinos

Produção de farinha de mandioca Agricultura familiar

Amendoim Restaurantes

Atividade industrial (transformação Mercearias

Atividade de pequena produção Pousadas e camping

Atividades culturais (eventos culturais,

festas religiosas e cavalgadas).

Turismo de aventura

Apontada pelos técnicos das Instituições

Pesca artesanal Beneficiamento do coco

Piscicultura Turismo

Apicultura Desenvolvimento

Agricultura familiar Visões ecológicas

Horta comunitária Agricultura Orgânica

Exploração da palha do licurizeiro e

Taboa (artesanato local)

Exploração petrolíferas

2.3.2.4 - POTENCIALIDADES

Na visão da Comunidade, a região apresenta vocação (potencial) para trabalhar com

o turismo. Basicamente todas as falas anotadas se relacionam com alguma

modalidade de turismo ou a algum equipamento ligado diretamente a ele.

Aproveitando o momento, houve diversas interferências por parte de técnicos

enfatizando os benefícios agregados à presença da RPPN quanto à confecção do

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108

Plano de Manejo, pois ajudariam a acelerar o processo desenvolvimentista das

comunidades já que é um objetivo da UC trabalhar com o Ecoturismo de bases

comunitárias como estratégias de preservação.

Os técnicos institucionais, talvez pelo prisma diferenciado em relação aos moradores

das comunidades, conseguem expor para região um potencial mais abrangente e

objetivo, seguindo uma sequencia mais planejada. Por exemplo, enquanto a

comunidade vê o turismo, a valorização, a preservação e harmonia de uma forma

generalizada, os técnicos visualizam o turismo, seguindo o mesmo exemplo, de

forma mais fragmentada, porém com o mesmo objetivo, quando cita a informação e

sinalização turística.

Quadro 19) Potencialidades existentes nas Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições

Potencialidades existentes nas comunidades apontadas pelos participantes

Comunidade Local

Turismo ecológico Pesque e Pague

Centro cultural de artesanato Exploração dos frutos do mar

Grupos musicais Preservação dos recursos hídricos

Sensibilização ambiental Preservação da Fauna e flora

Valorização cultural e ampliação eco

turísticas

Beneficiamento das frutas locais

Áreas naturais e valorização das

frutas nativas

Harmonia entre as comunidades

Técnicos das Instituições

Informação e Sinalização turística Ampliação do Ecoturismo

Valorização da cultural Criação de novas trilhas ecológicas

Sensibilização ambiental Fortalecimento da culinária regional

Valorizações da cultura local (pífanos,

apresentações culturais, artesanatos,

grupos folclóricos).

Práticas ecológicas e turismo náutico

Ampliação das atividades industriais Preservação da fauna e flora (áreas

naturais)

Potencialidades Recursos hídricos

(rios e lagoas)

Assegurar as justiças socioambientais

Divulgação regional Piscicultura familiar

2.3.2.5 - PROBLEMAS

Conhecer a rotina dos moradores das comunidades e sua percepção quanto às

potencialidades que pode gerar emprego e renda, contribui para a solidificação do

diagnóstico, porém quando se pensa estrategicamente, devem-se considerar

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109

também os obstáculos existentes e aqueles decorrentes de ações implementadas.

Observou-se que a visão das comunidades acerca dos problemas existentes

perpassa os anseios individuais do Povoado alcançando melhorias para região.

Também ficou configurado a preocupação dos participantes com os problemas

ligados ao ambiente à sua volta.

No cruzamento dessa tabela com a tabela anterior, tem-se um norteador para a

implementação de qualquer ação/projetos do Plano de Manejo que visem o

envolvimento com as comunidades do entorno. Nesse item não se notou diferenças

significativas com as falas dos técnicos.

Quadro 20) Problemas existentes nas Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições

Problemas existentes nas comunidades apontadas pelos participantes

Comunidade Local

Conflitos legais entre a comunidade e

os poderes públicos

Conflitos com propriedades

particulares (ações impactantes)

Falta de infraestrutura - Estrada

inadequada para transportes

Problemas ambientais (entre as fauna

e flora local) – preservação dos rios e

lagos na localidade

Danos ambientais (desmatamento,

queimadas entre outros).

Centro comunitário fechado

Falta de geração de empregos por

causa das empresas

Falta de sistema de abastecimento de

água e esgoto

Tráficos de animais silvestres Falta de coleta adequada dos

resíduos sólidos

Técnicos das Instituições

Sinalização turística Falta de esgotamento sanitário

Divulgação do produto turístico Carência de educação ambiental do

âmbito formal e não formal

Falta de logística Danos ambientais (desmatamento,

queimadas entre outros).

Caça e exploração florestal Falta de projetos e pesquisa na região

Poluição em geral (água, ar entre

outros).

Exploração indevida dos recursos

hídricos

Descontinuidade de projetos

No entorno da Fazenda, a exploração do petróleo representa a atividade de maior

risco em potencial para o meio ambiente. No Povoado Lagoa Redonda, existe 2

poços terrestres, situados no limites da Reserva Biológica Santa Isabel, sendo

explorados por uma empresa privada. Devido uma série de fatores sua produção é

transportada através de caminhões tanques até o terminal localizado em Aracaju a

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110

cerca de 70 Km de distância. Além do iminente risco de acidente que a atividade de

extração de petróleo representa, é acrescido com o transporte diário, que para

chegar e para sair as carretas cortam todo os Povoados Aningas e Lagoa Redonda.

Em segundo plano, o turismo desordenado representa uma grave ameaça para o

entorno. Existem vários atrativos e frequentemente procurados por visitantes que

querem somente usufruir.

2.3.2.6 - IMPACTOS

Aprofundando na investigação, averiguou-se a percepção dos participantes relativos

aos impactos decorrentes da implementação de algum tipo de projeto,

principalmente daqueles caracterizados sob os critérios da potencialidade das

comunidades (por ex. o Turismo) ou mesmo ações que viesses a sanar problemas

antigos apontados. (por ex. pavimentação asfáltica da estrada). Notou-se também

na tabulação das informações desse tópico, o grau de conscientização local das

devido a facilidade de indicar as potencialidades à sua volta e ao mesmo tempo

enumerar problemas e fazer um aprofundamento dos dois tópicos para as questões

decorrentes dos seus desdobramentos. Observou-se que as falas nasceram com

certo tom de receio já que foram colocados na sua grande maioria impactos

classificados como negativo. Do ponto de vista comunitário pode ser visto como um

aculturamento resistente a pressões externas.

Nesse momento, os técnicos envolvidos puderam colocar diversas intervenções de

cunho informativa/explicativa e esclarecedora, apontando os riscos inerentes ao

desenvolvimento e ao mesmo tempo indicando alternativas que aliava qualquer ação

ou projetos à preservação do meio.

Quadro 21) Impactos consequente de implantação de projetos apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições

Comunidade Local

Sensibilização e mobilização de

comunidade e visitantes

Impactos sociais (Segurança publica,

aumento das drogas e prostituição,

educação, crescimento urbano, saúde

entre outros).

Impactos e destruições da fauna e

flora

Alteração das dinâmicas ambientais

Técnicos das Instituições

Uso indevido das trilhas Solução de continuidade de projetos e

ações

Expansão imobiliária A melhoria das estradas causará

aumento do fluxo de visitação

Geração de emprego e renda na

comunidade

Aumento da gastronomia e

restaurantes

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111

2.3.2.7 - AÇÕES E PROJETOS PREVISTOS

Depois de conhecer os aos aspectos sociais, econômicos, cultural e ambiental

apontados pela própria comunidade, as potencialidades para geração de emprego e

renda da região, os problemas e existentes e a percepção dos impactos negativos

decorrentes da implementação e projetos e ações nas comunidades, vislumbrou-se

nessa etapa conhecer as aspirações dos moradores num contexto mais regional.

Observou-se que eles não querem somente trabalhar, sustentar a si e sua família

através da sua própria renda, eles vão além, querem participar da vida política, das

tomadas de decisão e se capacitarem de acordo com o desenvolvimento local.

Nessa fase, as instituições presentes no DRP e representadas por seus técnicos,

foram motivadas não somente a agregar subsídios aos anseios das comunidades,

mas também, fazer uma previsão clara e exequível das ações que cada instituição

pode desenvolver ou acrescentar às já desenvolvidas nas comunidades.

Quadro 22) Anseios e previsões de projetos para as Comunidades apontadas pelos moradores e pelos técnicos das instituições

Comunidade Local

Criação do projeto de fabricas de

polpas e doces

Capacitação da comunidade (geração

de curso e palestras)

Planejamento participativo do turismo Inserção dos moradores nas tomadas

de decisões

Geração de oportunidades Inserção da comunidade nos projetos

nas atividades econômicas

Incentivo as atividades culturais

Técnicos das Instituições

Fortalecimento do associativismo e cooperativismo

Projetos de capacitação profissional

Criação de centro de referencia em educação ambiental

Especiarias (bebidas caseiras, licores)

2.3.2.8 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca pela adaptação de técnicas para a realização do DRP para nortear a

confecção do Plano de manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo mais a

participação da comunidade envolvendo também as instituições que fazem parte do

dia a dia das pessoas nos Povoados através da prestação de serviços direto ou

indireto encaixou-se sincronizadamente no resultado final. A quantidade de dados

obtidos poderão ser trabalhados em diversas áreas do conhecimento científico

gerando informações que poderão ser aproveitadas na confecção do Plano de

Manejo e também serem revertidos em melhorias para a RPPN e todo seu entorno.

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112

2.3.3 - Projeto Tamar

A Primeira base do Tamar construído no Brasil foi instalada em 1982 em Pirambu

Município do Estado de Sergipe. Com Monitoração de 56 km de praias de

reprodução e alimentação de tartarugas marinhas.

No litoral Sergipano concentram-se a maioria das desovas da tartaruga-Oliva

(Lepidochelys olivacea) existente no Brasil. Em 1988 foi criada uma área da base de

estudo próximo à Cidade de Pirambu e início da Reserva Biológica de Santa Isabel,

que serve de apoio para proteção das importantes classes animais e vegetais, com

destaque as aves e tartarugas marinhas presentes na região, ainda possui um

centro de Educação Ambiental que recebe em média 120 mil visitantes ao ano e

muitos estudantes.

A Base possui quantro tanques com tartarugas marinhas em diversas fases de

desenvolvimento; sala de palestras e projeção de filmes; ante-sala com um aquário

marinho e seis aquários com peixes de água doce, representantes das espécies do

entorno da Reserva; estacionamento e stand de divulgação das atividades culturais

desenvolvidas com as comunidades do entorno; demais materiais educativos. Vale

salientar que atualmente a base encontra-se em fase de reestruturação.

2.3.4 - SERVIÇOS / EQUIPAMENTOS EXISTENTES

Tabela 38) Serviços e equipamentos existentes no Munícipio

SERVIÇOS /PRODUTOS Quant. / LOCALIZAÇÃO

ENTORNO MUNICÍPIO

Hotel -- 7

Pousada 3 11

Posto Médico 2 14

Banco -- 2

Transporte intermunicipal 1 1

Empresa de Táxi -- 1

Restaurante 10 32

Informações Turísticas 1 1

Telefone público 1 55

Operadora telefonia móvel 4 4

Telefonia Fixa 1 2

Resgate / bombeiro 1 1

Centro de artesanato 2 6

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113

2.4 - POSSIBILIDADES DE CONECTIVIDADE

Sergipe é um dos Estados do Brasil com menor percentual de Unidades de

Conservação de proteção integral e das que existem praticamente todas apresentam

irregularidades quando analisadas criteriosamente. As UCs existentes no Estado em

geral apresentam consideráveis distancia uma das outras.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo é uma exceção pois está localizada à apenas

3,5 km da Reserva Biológica de SANTA ISABEL, ou seja, no seu entorno, separadas

apenas por 4 propriedades rurais de pequeno porte.

2.4.1 - RESERVA BIOLÓGICA DE SANTA ISABEL

A RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL foi criada através do Decreto Nº

96.999/1988 e seu objetivo principal está inserido no artigo 1º e seu limite no artigo

2º conforme descritos abaixo:

Art. 1º Fica criada, no Estado de Sergipe, a Reserva Biológica de Santa Isabel, visando à proteção da fauna local, especialmente as Tartarugas Marinhas que encontram na Praia de Santa Isabel, a sua principal área de reprodução. Art. 2º A Reserva Biológica de Santa Isabel, localizada no litoral do Estado de Sergipe, abrangendo terrenos de marinha e acrescidos, nos Municípios de Pirambu e Pacatuba, com área de 2.766,00ha (dois mil, setecentos e sessenta e seis hectares)...

Embora a Rebio tenha nascida visando à proteção da fauna local, esta, permaneceu

no esquecimento dos gestores que aos poucos se voltaram apenas para a espécie

bandeira que é a tartaruga. Segundo De Jesus (2004), 99% dos pesquisados nos

povoados Aguilhadas, Aningas, Lagoa Redonda, Água Boa, Santa Isabel, Alagamar,

Serigy, Tigre, Junça, Piranhas, Boca da Barra e Ponta dos Mangues desconheciam

outro objetivo da Rebio diferente daquele de proteger as tartarugas. Com isso, a

degradação no entorno da UC se acelerou: especulação imobiliária, desmatamento,

caça predatória, tráfico de animais silvestres, etc. Aliando a todos esses males, eis

que falta ações educativas para a população do entorno e sobra truculência, ameaça

e opressão por parte dos primeiros gestores da Rebio Santa Isabel. Com isso nota-

se ter se criado uma antipatia dos nativos para com tudo que se relacionasse à

Unidade de Conservação.

2.4.2 - ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL LITORAL NORTE

Distante 12 km da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo essa APA foi criada pelo

Governo do Estado e Sergipe através do Decreto nº 22.995 de 09 de novembro de

2004. Compreendendo um perímetro de aproximadamente 473,12 km², a unidade

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

114

situa-se nos municípios de Pirambu, Japoatã, Pacatuba, Ilha das Flores e Brejo

Grande e tem como objetivo geral a promoção do desenvolvimento econômico-

social da área, voltada às atividades que protejam e conservem os ecossistemas ou

processos essenciais à biodiversidade, à manutenção de atributos ecológicos, e à

melhoria da qualidade de vida da população.

2.4.3 - PARQUE DAS DUNAS

A 35 km da RPPN, encontra-se o Parque das Dunas, possuindo as mesmas feições

da área da RESERVA BIOLÓGICA SANTA ISABEL e da RPPN. Ele está localizado

nos municípios de Barra dos Coqueiros e Santo Amaro das Brotas. Embora ainda

esteja em fase final de demarcação do perímetro, o Parque já possui atividades de

sensibilização, é reconhecido pelas comunidades do entorno e também é inserido

nas programações normais da Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos

Hídricos Órgão responsável pelo processo de criação.

A possibilidade de conectividade com as UCs já mencionadas, ou em forma de

mosaico ou utilizando qualquer outra estratégia para melhorar a preservação

apresenta-se como elemento inovador e compreende-se que só se terá sucesso

com um planejamento bem articulado entre as UCs envolvidas.

2.5 - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA

Os ecossistemas situados nas planícies litorâneas brasileiras estão entre os mais

degradados e ameaçados do país (ALBERTONI & ESTEVES, 1999). Uma das

causas é crescimento desordenado das regiões costeiras e à expansão das áreas

destinadas às atividades agrícolas e pecuárias, embora, na maioria dos casos, os

solos sejam pobres em nutrientes e impróprios tanto para o cultivo, quanto para

pastagem. Além disso, os corpos d‟ água sofrem pressões dos esgotos urbanos e

despejos industriais.

Atualmente, é cada vez mais restrita a ocorrência de extensas áreas contínuas de

restinga ao longo da costa do Brasil (ROCHA et al., 2004). Embora ainda não tenha

sido feita a quantificação da área de remanescentes de restingas ao longo da costa,

se sabe que, anualmente, considerável porção de áreas de restinga é perdida por

desmatamento (Fundação SOS Mata Atlântica/INPE, 2001). A taxa de perda das

áreas de restinga pode ser considerada alta pelo grau de destruição que se observa

em cada um dos municípios que as incluem (ROCHA et al., 2004). Esta situação se

agrava devido a que os habitats de restinga são ambientes frágeis, e sua

recomposição é lenta após desmatamento (ROCHA et al., 2004). Na maioria dos

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

115

casos, os atuais remanescentes de restinga, além de fragmentados, também estão

isolados uns dos outros (ROCHA et al., 2003).

Mesmo com a criação da Reserva Biológica Santa Isabel em 1988 compreendendo

uma larga faixa de área do litoral norte do Estado de Sergipe, na sua maioria área

de restinga, observa-se um crescente avanço de desmatamento sentido continente –

praia.

Neste contexto, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo torna-se estratégica para a

região por ser a pioneira na região além do fato de situar-se no entorno de uma

Unidade de Conservação de proteção integral que é a Reserva Biológica de Santa

Isabel. Assim, acresce um grande argumento de significância para justificar a

criação e implementação dos projetos decorridos do seu Plano de Manejo.

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo serve de refúgio para diversas espécies de

animais inclusive algumas aves identificados estão na lista da CBRO e do BirdLife

International / IUCN – 2010: Aratinga solstitialis (Linnaeus, 1766), conhecida como

Jandaia-amarela que se encontra em perigo de extinção, a Carpornis

melanocephala (Wied, 1820) - Sabia-pimenta que está com grau de ameaça

classificada como vulnerável para extinção e o Picumnus fulvescens Stager, 1961

cuja espécie encontra-se quase ameaçada de extinção.

A fragmentação da região onde se localiza RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

representa perda de habitats e grande ameaça à fauna, visto que os fragmentos

restantes podem ser pequenos demais para conter uma área suficientemente viável

que garanta a sobrevivência das espécies originalmente presentes na região

(Ricklefs 2003), esse é outro argumento que justifica sua importância ecológica.

A expansão da monocultura do coqueiros juntamente com a falta de alternativa para

as comunidades locais em utilizar sustentavelmente os recursos oferecidos pelo

ambiente restinga foram os principais fatores que geraram o desmatamento e

consequentemente a fragmentação na região. Considerando a atual situação o

turismo sustentável vem como uma das atividades que mais geram oportunidade de

trabalho. Neste contexto, a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo já atua como um

instrumento de mudança de paradigma, mostrando o valor natural da região, não

apenas ao turista, mas sobretudo aos próprios moradores locais. Incentivando a

implementação do Ecoturismo e auxiliando o nascimento de novos

empreendimentos na região. Assim, uma das propostas da RPPN é agregar

esforços no sentido de abrir espaço à comunidade para juntos desenvolver

atividades que contribuam com a geração de renda e conservação do ambiente

onde estão inseridos através do Ecoturismo.

Com todo seu potencial ecológico podendo ser explorado de maneira racional e

sustentável, a RPPN enquadra-se como um local propício para atividades de

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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pesquisa, turismo sustentável e educação ambiental devido o alto grau de

conservação de toda sua área.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

117

3. PLANEJAMENTO

A elaboração do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo teve como

diretriz a realização de um diagnóstico ambiental da área e seu entorno executado a

partir de levantamentos de campo e dados secundários, os quais ampliaram o

conhecimento sobre os meios físico, biótico e socioeconômico relacionados.

Para a elaboração do planejamento buscou - se identificar as forças impulsoras e as

restritivas verificadas na Unidade de Conservação e em seu entorno.

Esta etapa contou com os subsídios produzidos nas Oficinas de Planejamento das

quais participaram representantes das comunidades do entorno, bem como

representantes dos setores públicos, privado e sociedade civil que se relacionam

direta ou indiretamente com a RPPN.

O planejamento da UC envolve a definição de objetivos específicos, o zoneamento e

a proposição de programas, abrangendo as ações a serem desenvolvidas pelos

envolvidos a fim de que a RPPN atinja os seus objetivos de criação.

3.1 - Método Aplicado para o planejamento

A elaboração do planejamento do Plano de Manejo da RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo tomou como base um diagnóstico ambiental executado a partir de

levantamentos de campo e dados secundários (obtidos na literatura).

3.2 - Diretrizes do Planejamento

O planejamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo tem como base,

fundamentalmente, as seguintes premissas:

- Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (MMA, 2004).

− Discussões e conclusões das Oficinas de Planejamento, promovidas pela Fazenda

Cordeiro de Jesus, que resultou em uma Matriz Estratégica de Planejamento, entre

outros indicativos e conclusões.

Na avaliação estratégica da RPPN, foi feita a identificação das variáveis que envolve

a RPPN e seu entorno, determinando os principais aspectos favoráveis ou contrários

ao alcance dos objetivos do Plano de Manejo.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

118

A RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, tomando como referência a Lei 9.985 de 18 de

julho de 2000, no seu Artigo 4º que institui o Sistema Nacional das Unidades de

Conservação da Natureza:

Art. 4º O SNUC tem os seguintes objetivos:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos

no território nacional e nas águas jurisdicionais;

II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito regional e nacional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas

naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no

processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica,

espeleológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica,

estudos e monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a

recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações

tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e

promovendo-as social e economicamente.

O artigo 21 que estabelece o conceito e as permissões para manejo de uma RPPN:

Art. 21. A Reserva Particular do Patrimônio Natural é uma área privada,

gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade

biológica.

§ 1o O gravame de que trata este artigo constará de termo de

compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

119

existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no

Registro Público de Imóveis.

§ 2o Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural,

conforme se dispuser em regulamento:

I - a pesquisa científica;

II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais;

III - (VETADO)

3.3 - Objetivos específicos de manejo

E nos estudos temáticos que embasaram o diagnóstico, foram definidos como

OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO para a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo:

− Preservar a diversidade biológica do remanescente de Mata Atlântica que faz parte

da RPPN;

− Contribuir para a recuperação e manutenção dos remanescentes da Mata Atlântica

em Sergipe;

− Incentivar o desenvolvimento regional integrado através da realização de

atividades recreativas, do Ecoturismo e de práticas preservacionistas;

− Proteger os recursos hídricos existente na RPPN e no seu entorno;

− Proteger as espécies da fauna e da flora existente na RPPN;

− Disponibilizar os recursos naturais à pesquisa científica;

− Incentivar e dar suporte a pesquisas específicas e interdisciplinares que gerem

conhecimento sobre a região e auxiliem na formulação de estratégias de

conservação da Mata Atlântica;

− Contribuir para a promoção do processo participativo das comunidades do entorno

no desenvolvimento de alternativas econômicas sustentáveis e na prática de

atividades sustentáveis;

− Contribuir para a ampliação da oferta turística regional com base no Ecoturismo,

turismo científico, turismo educativo e de Eventos;

− Propiciar a visitação, lazer e recreação de forma ordenada, voltados para a

sensibilização ambiental e a valorização e conservação do patrimônio natural;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

120

− Promover a educação ambiental constituindo-se como espaço difusor de práticas

ambientalmente corretas;

3.4 - ZONEAMENTO

O zoneamento de uma unidade de conservação tem o objetivo de proporcionar o

ordenamento por meio de sua organização espacial, definindo o grau de

interferência permitido para as diferentes áreas da unidade. É definido pela Lei

9.985/2000 como: “definição de setores ou zonas em uma UC com objetivos de

manejo e normas específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as

condições para que todos os objetivos da Unidade possam ser alcançados de forma

harmônica e eficaz”.

Para Milano (1997), o zoneamento é efetuado ordenando-se porções homogêneas

da UC ou sítio em apreço, sob uma mesma denominação, segundo suas

características naturais ou físicas e com base nos interesses culturais, recreativos e

científicos. Assim, o zoneamento constitui-se em um instrumento de manejo que

apoia a administração na definição das atividades que podem ser desenvolvidas em

cada setor, orienta as formas de uso das diversas áreas, ou mesmo proíbe

determinadas atividades por falta de zonas apropriadas.

Na definição do zoneamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo, foram

considerados critérios como: representatividade, riqueza e diversidade de espécies,

grau de conservação da vegetação, suscetibilidade ambiental, relevo, potencial para

visitação e educação ambiental. Baseados nesses critérios e nos objetivos de

manejo da RPPN foram definidas as seguintes zonas: Silvestre, Proteção, Visitação,

Administração e Transição.

Tabela 39) áreas do Zoneamento

ZONA ÁREA (ha) ÁREA (%)

SILVESTRE 18,0 76,27

PROTEÇÃO 0,8 3,38

VISITAÇÃO 3,4 14,41

TRANSIÇÃO 1,0 4,24

RECUPERAÇÃO 0,4 1,70

TOTAL 23,6 100,00

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

121

3.3.1 - ZONA SILVESTRE

Definição e Objetivo Geral

As áreas da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo apresentam-se com um alto grau de

integridade. Como a demanda de pesquisadores e acadêmicos cresceu nos últimos

3 anos, iniciou-se na RPPN um ordenamento espacial destinado essencialmente à

conservação da biodiversidade, delimitando-se algumas áreas. O ZS situa-se em 3

locais na RPPN, porém interligados por corredores abrangendo os locais com maior

fragilidade ambiental. (áreas úmidas, encostas, solos arenosos, margens de cursos

d„água, entre outros), manchas de vegetação única, topo de elevações e outras, que

mereçam proteção máxima. A zona silvestre funciona como reserva de recursos

genéticos silvestres, onde podem ocorrer pesquisas, estudos, monitoramento,

proteção e fiscalização. Ela pode conter infraestrutura destinada somente à proteção

e à fiscalização.

Quadro 23) Mapa do Zoneamento - Fonte Seplan/SE - mod. p/RAZÃO

Descrição e Localização

A Zona Silvestre foi definida considerando-se, principalmente o grau de conservação

da vegetação e presença de fauna. Constituída pelos locais destinados à

conservação in situ de espécies da fauna e flora local. Esta zona contempla 18,0 ha.

equivalente a 76,27% da UC.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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Normas Gerais de Uso

- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de fiscalização,

proteção, pesquisa científica, visitação restritiva e de baixo impacto voltadas ao

monitoramento;

- As atividades necessárias para proteger os recursos naturais da zona serão

restritas às de fiscalização e combate a incêndios florestais;

- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos

naturais;

- As atividades científicas e de monitoramento serão conduzidas desde que não

promovam alteração nos ecossistemas;

- Somente serão permitidas coletas botânicas, zoológicas, geológicas, pedológicas e

arqueológicas (escavações) desde que não interfiram na estrutura e dinâmica das

espécies, das populações e/ou das comunidades naturais. No caso excepcional das

pesquisas arqueológicas envolverem escavações, a recuperação e reconstituição

dos sítios deverão constar no projeto. Em qualquer caso deverá haver autorização

por escrito do gestor da área, o que não exclui a devida licença concedida pelo

IPHAN, para o caso de pesquisas arqueológicas;

- A infraestrutura fixa permitida limita-se àquelas necessárias para a manutenção de

trilhas para fiscalização e às trilhas para uso científico, as quais devem se utilizar

preferencialmente de caminhos já existentes. Somente poderão ser implantadas

novas trilhas, caso seja comprovadamente necessário, desde que atendam às

condições de segurança, aliadas ao baixo impacto ambiental. Estas trilhas não

devem possuir conexão direta com a trilha utilizada pelos visitantes, ou possuir

acesso camuflado;

- É permitido o enriquecimento com espécies nativas, desde que recomendado por

estudos específicos;

- É proibido o tráfego de veículos, exceto em caso de emergência e necessidade

para proteção;

- A extração de sementes dependerá de projeto de pesquisa aprovado pela gestão

da UC, vinculada a não existência de alternativa locacional para retiradas das

mesmas. As sementes coletadas só poderão ser utilizadas na própria Unidade.

3.3.2 - ZONA DE PROTEÇÃO

A característica principal dessa zona é conter áreas naturais ou que tenham

recebido grau mínimo de intervenção humana. Nela pode ocorrer pesquisa, estudos,

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

123

monitoramento, proteção, fiscalização e formas de visitação de baixo impacto

(também chamada visitação de forma primitiva). Será construído nessa zona um

pórtico de entrada a fim de facilitar o controle, dois postos de

observação/monitoramento. Ela será também composta pela área que margeia toda

a trilha de visitação. As formas primitivas de visitação nessa zona compreendem

exemplos como turismo científico, observação de vida silvestre, trilhas e

acampamentos rústicos (também chamados acampamentos selvagens), ou seja,

sem infraestrutura e equipamentos facilitadores.

Objetivos Específicos

- Desenvolver atividades científicas, recreativas, educativas e de monitoramento de

forma compatível com os objetivos de manejo;

- Proteger amostras da Floresta em estágios de recuperação;

- Promover atividade de educação e interpretação ambiental, através de temas como

os ecossistemas e a recursos hídricos presente na Unidade;

Descrição e Localização

Esta zona abrange uma faixa tampão de 1,5 metros contornando praticamente toda

a área de visitação. Ela 0,8 ha, abrangendo 3,38% da RPPN.

Normas Gerais de Uso

- A manutenção de trilhas e de equipamentos de pesquisa deverá ser realizada de

forma a provocar a mínima descaracterização ambiental e paisagística. Quando da

retirada de um equipamento de pesquisa o ambiente deverá ser restaurado de forma

a recuperar sua constituição original;

- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e

à segurança e informação do visitante;

- Todo lixo gerado pelos visitantes e funcionários da RPPN deverá ser depositado

em local adequado e retirado frequentemente da UC;

- Todas as trilhas outrora existentes nessa Zona que não tem uso previsto deverão

ter o processo de recuperação ambiental estimulado;

- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de visitação, educação

e interpretação ambiental, fiscalização, proteção e pesquisa científica;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

124

- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos

naturais, devendo ocorrer de maneira a não conflitarem com os objetivos de manejo

desta zona;

- É permitido e incentivado o desenvolvimento de atividades interpretativas e de

educação ambiental, especialmente para facilitar a apreciação e o conhecimento d a

RPPN;

- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e

à segurança e proteção do visitante, sendo que as trilhas deverão ser sinalizadas

com informações educativas e/ou interpretativas, bem como sobre os cuidados a

serem tomados pelos visitantes.

3.3.3 - ZONA DE VISITAÇÃO

Na RPPN Dona Benta e Seu Caboclo esta zona compreende uma área que de 3,4

ha. equivalente a 14,40 %. Destinadas à preservação e às atividades de visitação.

Seu trajeto inicia no pórtico central e percorre diversos pontos da RPPN já

catalogados como atrativo turísticos. Serão desenvolvidas atividades de educação

ambiental, conscientização ambiental, turismo científico, ecoturismo, recreação,

interpretação, lazer e outros. Serão instalada infraestrutura, equipamentos,

sinalização interpretativa na trilha, painéis, mirantes, torres, trilhas suspensas,

alojamento simples para apoiar pesquisadores, adotando em todas as etapas

alternativas e tecnologias de baixo impacto ambiental.

Descrição e Localização

Engloba as duas áreas com possibilidade de uso intenso pelos visitantes:

(A) A área do pórtico e alojamento de apoio aos pesquisadores onde inicia a trilha

principal da RPP;

(B) A área localizada próximo à Lagoa do Avô.

Objetivos Específicos

- Proporcionar ao visitante informação e compreensão da importância ambiental da

unidade;

- Propiciar acesso ao público em circuitos previamente determinados na Unidade;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

125

- Desenvolver atividades educacionais e recreativas de forma compatível com a

conservação do ambiente;

- Estruturar as áreas destinadas a receber os usos recreativos e eco turísticos de

forma a obter o máximo benefício desse uso, com segurança ao visitante, com o

mínimo impacto sobre o meio ambiente e compatível com os objetivos específicos

desta categoria de Unidade de Conservação;

- Viabilizar o uso público na RPPN através da implantação de infraestrutura de lazer

e do ecoturismo, em todas as modalidades compatíveis com a categoria de manejo

da Unidade;

- Propiciar atividade de visitação, lazer, recreação, educação ambiental e

interpretação, fiscalização, proteção e pesquisa científica.

Normas Gerais de Uso

- As atividades humanas permitidas nessa zona são aquelas de educação e

interpretação ambiental, lazer e recreação, fiscalização, proteção, pesquisa

científica;

- Será permitida a visitação de forma mais intensiva, visando ampliar, diversificar e

ofertar atividades de uso público, diminuindo o impacto sobre os recursos naturais

da Unidade;

- As visitas deverão ser agendadas respeitando o número de pessoas e o grupo de

interesse. Os grupos não devem ser maiores que 30 visitantes, sendo que para um

melhor aproveitamento aconselha-se que sejam divididos em 2-3 grupos;

- Todo visitante, para ter acesso às trilhas e os atrativos, deverá passar pelo Centro

de Visitante onde deverão ser instruídos a respeito das normas e regulamentos d a

RPPN;

- O horário de funcionamento da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo será das 8:00 às

17:00h, sendo o último horário permitido para entrada na trilha às 15:00h. No caso

de pesquisa científica o horário poderá ser ajustado de acordo com o tipo de

pesquisa.

- A recepção e a realização de atividades informativas e de educação e

interpretação ambiental com os visitantes deverão iniciar na sede da Fazenda

Cordeiro de Jesus para no segundo momento no pórtico da RPPN.

- Não será permitida a realização de atividades e a implantação de infraestruturas

em conflito com os objetivos da RPPN;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

126

- Todos os visitantes deverão ser orientados em relação à fragilidade do local, ao

destino adequado do lixo, as normas da UC entre outros procedimentos

necessários, quando de sua recepção no Centro de Vivência e no início do circuito

de visitação;

- Deverão ser instaladas lixeiras nos locais de maior concentração de visitantes,

possibilitando a separação seletiva do lixo (orgânico, recicláveis, comum), à medida

que existam locais para disposição final com essas características. Até o devido

recolhimento, o lixo deverá ser acondicionado e separado em recipientes próprios;

- As trilhas e caminhos deverão ser conservados em boas condições de uso,

fornecendo segurança aos visitantes e aos funcionários;

- As áreas destinadas à permanência de visitantes deverão ser devidamente

sinalizadas;

- Permite-se a instalação de sinalização educativa, interpretativa e/ou indicativa,

desde que atendendo às orientações técnicas dos projetos específicos;

- É vedada a produção de ruídos sonoros artificiais;

- Toda e qualquer construção a ser implantada nesta zona deverá seguir o padrão

de conforto ambiental e estar arquitetonicamente em harmonia paisagística com o

ambiente em que se insere, considerando as condições de fragilidade do solo e o

potencial impacto ambiental;

- Na elaboração e implementação de projeto paisagístico deverão ser utilizadas

apenas espécies nativas componentes dos ambientes locais;

- Será permitida a visitação de forma mais intensiva, visando ampliar, diversificar e

ofertar atividades de uso público, diminuindo o impacto sobre os recursos naturais

da Unidade;

- As atividades permitidas não poderão comprometer a integridade dos recursos

naturais;

- Fica proibido a circulação de veículos particulares de qualquer dentro da RPPN;

- A circulação de pedestres somente poderá ser realizada nas trilhas destinadas a tal

finalidade. Não serão permitidos deslocamentos fora dos locais autorizados;

- A implantação e utilização de infraestrutura será permitida somente quando

necessárias às atividades previstas nos programas e todas as obras e instalações

deverão ter um mesmo padrão arquitetônico, devendo causar mínimo impacto visual

e estar em harmonia com a paisagem e os objetivos da zona;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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- Todas as áreas naturais a serem modificadas deverão receber tratamento

paisagístico com espécies nativas;

- A sinalização admitida é aquela indispensável à proteção dos recursos da RPPN e

à segurança e proteção do visitante;

- O acesso de visitantes às trilhas e caminhos somente será realizado acompanhado

de um guarda-parque ou monitores treinados e credenciados;

3.3.4 - ZONA DE TRANSIÇÃO

Corresponde a uma faixa ao longo do perímetro da RPPN, com área de 1 ha

equivalente a 4,24 % da área da UC, com largura de aproximadamente 2 m, definida

de acordo com os resultados dos estudos e levantamentos durante a elaboração do

plano de manejo. Sua função básica é servir de filtro, faixa de proteção, que possa

absorver os impactos provenientes da área externa e que poderiam resultar em

prejuízo aos recursos da RPPN. Tal zona poderá receber, também, toda a

infraestrutura e serviços da RPPN, quando for o caso. Para o estabelecimento da

Zona de Transição foram considerados os elementos que interferem na proteção

dos recursos naturais da RPPN.

• Localização - A Zona de Transição inicia-se em no pórtico de entrada da RPPN e

percorre todo o perímetro da UC.

3.3.6 - ZONA DE RECUPERAÇÃO

É aquela que contém áreas alteradas pelo ser humano. Tem caráter provisório, pois

uma vez restaurada, será incorporada a uma das demais zonas. As espécies

exóticas introduzidas deverão ser removidas (se comprovada a viabilidade de

remoção) e a restauração deverá ser natural ou estimulada, caso os processos não

sejam eficientes.

Objetivos Específicos

- Promover a recuperação das áreas degradadas;

Descrição e Localização

A Zona de Recuperação compreende uma área de 0,4 ha correspondendo a 1,7 %

da área total da unidade, engloba as áreas de vegetação mais alteradas (estágio

inicial de sucessão). Como consta de uma área degradada, em termos do meio

físico e meio biológico, faz-se necessário a reconstituição tanto de solo, como da

vegetação original com espécies nativas do local, de modo a recompor a paisagem e

os ambientes naturais.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

128

Normas Gerais de Uso

- Serão permitidas técnicas de recuperação direcionadas, indicadas e apoiadas por

estudos científicos compatíveis com os objetivos desta zona e devidamente

autorizados pelos Gestores da RPPN;

- Caso seja indicada a recuperação induzida ou adensamento, esta só poderá ser

realizada com utilização de espécies nativas, conforme a composição florística

original;

- O acesso a esta Zona será restrito aos pesquisadores, pessoas em visitas técnicas

e educativas, e funcionários d a RPPN;

- Se necessário, será permitida a abertura de trilhas para condução de pesquisas e

ações de monitoramento. Também pode ser avaliada a possibilidade de

implementação de interpretação ambiental. A localização destas trilhas deverá levar

em conta as condições de fragilidade do solo e o potencial impacto ambiental;

- As estradas existentes deverão ser desativadas e recomposta naquelas porções

onde não mais se prevê o uso;

- A visitação com finalidade educacional será permitida desde que autorizada pelos

Gestores em áreas previamente estabelecidas e acompanhada por guarda-parque

ou monitor, sendo que as visitas deverão ser previamente agendadas;

Após a recuperação, as áreas que compõem essa zona deverão ser incorporadas a uma das zonas permanentes;

- A extração de sementes dependerá de projeto de pesquisa aprovado pela gestão

da UC. As sementes coletadas só poderão ser utilizadas na própria Unidade.

3.4 - NORMAS GERAIS DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

As normas citadas a seguir são válidas para a gestão e o manejo da área da RPPN

Dona Benta e Seu Caboclo. Elas servem para nortear a prática das atividades nas

zonas internas da UC:

− A entrada de pessoas, veículos e equipamentos estão condicionados a

autorização dos Gestores da RPPN;

− Será proibida a permanência na RPPN fora do horário de visitação, com exceção

dos funcionários e pessoas autorizadas pela administração da mesma;

− A RPPN permanecerá fechada nas segundas-feiras, para que seja possível

realizar trabalhos internos de manutenção. Quando coincidir com feriado na

segunda-feira, o dia de fechamento é o primeiro subsequente ao feriado;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

129

− Os funcionários, pesquisadores e visitantes da RPPN deverão tomar

conhecimento das normas de conduta, bem como receber instruções específicas

quanto aos procedimentos de proteção e segurança;

− Todos os trabalhos e pesquisas realizadas na RPPN deverão ser encaminhados

para a gestão da UC no formato de 1 cópia impressa e 1 digital, no mínimo;

− Os produtos das pesquisas científicas, relatórios e publicações, deverão ter uma

versão em português, devendo ser remetida uma cópia para o acervo da RPPN;

− São proibidas as coletas e apanha de espécimes da fauna e da flora, em todas as

Zonas, ressalvadas aquelas com finalidades científicas, desde que devidamente

autorizadas pelos Gestores da RPPN;

− Todos os exemplares de fauna e flora coletados na Unidade, mediante autorização

dos Gestores da RPPN, devem ser depositados em instituições de pesquisa

credenciadas, conforme legislação vigente que regulamenta a pesquisa científica em

Unidades de Conservação;

− Os guarda-parques e monitores deverão ser treinados em primeiros-socorros e

habilitados para enfrentar situações de risco;

− Todo servidor da UC, no exercício de suas atividades, deverá estar devidamente

uniformizado e identificado e portando radiocomunicador;

− Os usuários, sejam visitantes, voluntários ou funcionários da RPPN, serão responsáveis pelas instalações que ocuparem;

− Atividades de terceiros no interior da UC deverão ser cadastradas e autorizadas

pelos Gestores;

− É proibido o ingresso na RPPN, de pessoas portando armas, fogos de artifício,

materiais ou instrumentos destinados à caça, pesca ou quaisquer outras atividades

prejudiciais à fauna e flora locais;

− A fiscalização da RPPN deverá ser permanente e sistemática em todas as Zonas;

− É proibido o uso do fogo, salvo em condições de controle do mesmo, sendo

estritamente proibido quando possa colocar em risco a integridade dos recursos da

RPPN;

− É permitida a venda de produtos artesanais relacionados à imagem da RPPN e

assuntos de interesses ambiental ou cultural no Centro de apoio ao visitante

destinado a esse fim;

− A soltura ou reintrodução de espécies nativas da fauna e flora, somente serão

permitidas quando autorizadas pelos Gestores da UC, desde que orientadas por

projetos específicos;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

130

− É proibida a permanência e entrada de animais domésticos no interior da Unidade;

− Não é permitido fumar no interior da Unidade;

− É vedada a produção de ruídos artificiais que incomodem os visitantes e a fauna

local.

3.5 - PROGRAMAS DE MANEJO

Os programas de manejo foram estabelecidos de acordo com as recomendações do

Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para RPPNs, com o

objetivo de cobrir todas as zonas estabelecidas e fixar normas e diretrizes para o

desenvolvimento dos projetos da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo.

3.5.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO

Objetivos - O objetivo dos Programas é garantir a funcionalidade da RPPN Dona

Benta e Seu Caboclo, fornecendo a estrutura e infraestrutura necessária para o

desenvolvimento dos demais programas. Também compõe os objetivos da RPPN:

- Gerir a Unidade de Conservação visando o alcance de seus objetivos de criação e

específicos;

- Dotar a UC de pessoal capacitado e proporcionar o bom funcionamento da RPPN

de acordo com seus objetivos de manejo;

- Efetivar o manejo proposto;

- Dotar a RPPN com o pessoal, as instalações e os equipamentos necessários;

Atividades e Subatividades

1. Planejar a implantação dos demais programas.

2. Gerenciar os recursos humanos necessários para a implantação do Plano de

Manejo.

3. Capacitar os funcionários para melhor atuação nas atividades e propiciar

informações mais adequadas aos visitantes.

4. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais

de avaliação e ajustes.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

131

5. Elaborar relatórios mensais e semestrais de atividades, além do relatório anual de

avaliação da área temática.

6. Elaborar e implantar um manual de procedimentos de gestão da RPPN, incluindo

as atividades de: manutenção das estruturas e infraestruturas, escala de serviço e

limpeza.

7. Fazer gestão junto aos parceiros para atender à demanda de pessoal necessário

para compor o quadro mínimo de servidores da RPPN, conforme segue:

- 01 guarda-parques;

- 01 agente de educação ambiental;

- 01 monitor de visitação;

- Recrutamento e seleção de voluntários

- Convênios institucionais para estágios

8. Implantar a Brigada de Prevenção e Combate de Incêndios Florestais.

9. Capacitar recursos humanos para garantir a gestão, proteção e visitação da

RPPN:

9.1. Capacitar para as funções administrativas;

9.2. Capacitar para a função de apoio à pesquisa;

9.3. Capacitar em operação e manutenção de equipamentos;

9.4 Capacitar em atendimento de primeiro socorros;

9.5. Capacitar guarda-parques para a função;

9.6. Capacitar e credenciar agentes de educação ambiental com o seguinte

conteúdo mínimo:

a. Noções básicas de meio ambiente e ecologia;

b. Conceitos de ecoturismo e educação ambiental;

c. Técnicas de condução de grupos;

d. Minimização de impactos da visitação;

e. Utilização de equipamentos como GPS, cordas e outros;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

132

f. Noções de segurança e primeiros socorros.

11. Elaborar e implantar Projeto de Sinalização, tendo como público-alvo a

comunidade, principalmente do entorno da RPPN, visando informar sobre da

mesma, seus atributos, projetos, plano de manejo e normas de manejo, de forma a

estabelecer um canal de comunicação com a comunidade externa; e contribuir para

a proteção do patrimônio natural:

11.1. Definir os locais de implantação das placas de sinalização interna e nos limites

da UC;

11.2. Implantar sinalização em todos os pontos onde há circulação e trânsito de

pessoas na UC e entorno, com placas indicativas e orientativas;

11.3. Instalar placas de sinalização nos limites da UC, identificando-os, bem como

indicando as normas de conduta e circulação no seu interior;

11.4. Implantar placas de sinalização nas rodovias de acesso (SE 100 e SE 400).

12. Adquirir os seguintes equipamentos:

a. Binóculos;

b. Lanternas;

c. Materiais gerais de papelaria;

d. Equipamento audiovisual (filmadora, e aparelho de som);

e. Equipamentos de proteção individual;

f. Ferramentas diversas;

g. Equipamento de radiocomunicação;

h. GPS

i. Outros equipamentos necessários para gestão, fiscalização, proteção entre outros.

13. Implantar marcos de concreto e cercas nos limites da unidade de conservação.

14. Realizar curso para formação de condutores de visitantes (16 h) a ser ofertado

para a comunidade.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

133

15. Implantar a infraestrutura prevista (marcos, cercas) conforme os projetos

específicos. Para as cercas da divisa, considerar 3 fios de arame liso, sendo que o

primeiro fio deve ter uma altura mínima de 0,60 cm do chão.

16. Implementar o Projeto de Sinalização elaborado para a Unidade.

17. Adquirir equipamentos de proteção e combate aos incêndios florestais, de

resgate e suporte básico de vida.

18. Realizar manutenção periódica da infraestrutura existente na unidade,

providenciando a limpeza e os reparos necessários.

19. Articular com a prefeitura municipal a coleta do lixo da Unidade e dos povoados

do Entorno que ainda não tem esse serviço.

20. Fomentar a coleta seletiva no município.

21. Construir um pequeno depósito de lixo nas imediações da estrada na Fazenda

Cordeiro de Jesus.

22. Montar uma biblioteca na Fazenda Cordeiro de Jesus com as pesquisas e

estudos realizados na RPPN.

23. Implementar as trilhas previstas conforme as especificações técnicas.

norma: Todas as interferências realizadas na trilha deverão ser de mínimo impacto,

tanto visual, quanto ambiental. Preferencialmente as árvores existentes ao longo do

caminho devem ser todas conservadas, adequando a trilha à sua localização.

24. Implantar um sistema de controle de acesso de veículos e visitantes junto à

entrada da Fazenda Cordeiro de Jesus e da RPPN.

27. Efetuar o controle e registro dos visitantes na Fazenda Cordeiro de Jesus, além

de estudos de demanda e satisfação visando subsidiar futuros trabalhos na UC.

28. Implementar exposições sobre diferentes temas, com enfoque na RPPN Dona

Benta e Seu Caboclo.

29. Implantar, quando possível, sistema para sustentabilidade da estrutura física da

RPPN.

3.5.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

134

O Programa Temático de Proteção e Fiscalização tem como objetivo implementar

medidas de proteção e fiscalização da UC, levando-a a cumprir com seus objetivos

gerais e específicos. Todos os colaboradores envolvidos com a RPPN receberão

capacitação para atuar como fiscais educadores, levando em consideração:

- Conservar as condições em locais pouco alterados;

- Recuperar as condições naturais em locais degradados;

- Proteger os recursos naturais, culturais e as instalações da unidade;

- Garantir a integridade física do visitante e da unidade.

Atividades, Subatividades:

1. Implementar e coordenar as ações do Programa de Proteção e Fiscalização;

2. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais

de avaliação e ajustes;

3. Elaborar relatórios semestrais de atividades, além do relatório anual de avaliação

da área temática;

4. Elaborar e implementar um manual de procedimentos de fiscalização da RPPN,

incluindo a rotina de fiscalização, a escala de serviço, os responsáveis, e a

programação das operações especiais;

5. Elaborar mensalmente a rotina de fiscalização da UC, compreendendo todos os

dados necessários: responsáveis, escalas mais adequadas, identificação (uniforme)

para os colaboradores; logística necessária, locais prioritários;

6. Formalizar e reforçar parcerias com órgãos públicos, tais como ADEMA, Pelotão

Ambiental, IBAMA, Prefeitura Municipal de Pirambu, para auxiliar na fiscalização e

proteção da RPPN;

7. Promover um Programa de Recuperação Ambiental que contemple a recuperação

de todas as trilhas existentes onde não se prevê utilização; a recomposição

ambiental das áreas de solo exposto existentes e a porção da estrada que não será

mais utilizada.

8. Solicitar que órgãos externos de fiscalização incluam a área em suas rotinas de

modo a que se efetuem vistorias periódicas no local.

9. Manter as linhas de divisa limpas, facilitando a demarcação e delimitação de seus

limites, bem como a fiscalização da unidade.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

135

10. Implementar Plano de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (PPCI) da

Unidade:

11. Implantar o sistema de rotinas e procedimentos de fiscalização definidos no

Plano de Fiscalização e Combate a Incêndios.

12. Instruir os técnicos responsáveis pela fiscalização e controle da Unidade quanto

à observação e primeiras providências a possíveis focos de fogo, principalmente

durante épocas de perigo (verão); Elaborar o PPCI da Unidade, prevendo todas as

medidas e ações de combate ao fogo;

13. Fortalecer a brigada voluntária da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo;

norma: Devem ser indicadas as formas de detecção de incêndios, a rotina de

comunicação, as formas de organização e transporte do pessoal, as alternativas de

abastecimento e transporte de combustíveis, o abastecimento de água, alimentação,

apoio logístico, primeiros socorros, entre outros;

14. Providenciar destinação adequada na Zona de Uso Especial de todo o lixo

recolhido ou gerado na RPPN;

15. Implementar ações de combate à pesca, caça, captura e comércio ilegal de

animais silvestres;

16. Implementar ações de controle de atividades poluidoras.

17. Promover ações para a erradicação de espécies exóticas da fauna e promover

ações para impedir a entrada de animais domésticos no interior da RPPN;

18. Assegurar a recuperação natural ou induzida das áreas inseridas na Zona de

Recuperação;

19. Promover ações para redução dos impactos por atropelamentos no entorno da

RPPN com sinalização preventiva e mecanismos de redução de velocidade no

entorno;

20. Monitorar as atividades das propriedades circunvizinhas à RPPN a fim de

prevenir e minimizar possíveis impactos negativos na RPPN e se preciso for informar

aos Órgãos fiscalizadores externos.

21. Apoiar ciclos de palestras envolvendo Instituições de Pesquisa e Órgãos de

Fomento Agropecuário para que os produtores da região.

22. Implementar medidas de controle de acidentes com óleos, graxas, combustíveis,

etc., dos veículos que trafegam no interior da Unidade;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

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23. Articular com o DER/Prefeitura de Pirambu a criação de medidas de controle e

prevenção de acidentes, mortandade de animais, redução de velocidade, entre

outros que sejam significativos para a gestão da Unidade.

24. Articular com o DER/Prefeitura de Pirambu a criação de medidas de controle de

velocidade para as áreas contíguas a Unidade.

3.5.2.1 - Subprograma de Recuperação de Áreas

Degradadas

O Programa tem como objetivo minimizar os efeitos e o desenvolvimento de

processos erosivos, especialmente nos acessos existentes, que possam influenciar

a dinâmica da RPPN.

São propostos como atividades:

1. Recuperar a área marginais ao riacho do Sangradouro com o plantio direto de

espécies arbóreas nativas, principalmente por espécies cujos frutos são utilizados

pelos animais. Esta medida poderá aumentar a oferta de alimento às populações

animais e garantiria a dispersão das espécies plantadas;

2. Realizar estudos para a verificação de como ocorre a regeneração natural, quais

as espécies pioneiras, secundárias e como estas se organizam em comunidade,

integrando os temas solos e vegetação para replicar a maneira mais simples e

eficiente de recuperação das áreas de solos degradados;

3. Avaliar as condições dos solos nas estradas e trilhas do interior da Unidade

visando adotar medidas para minimização de perda do solo.

4. Realizar estudos fitossociológicos e florísticos com o objetivo de identificar as

melhores espécies a serem utilizadas para recuperação e adensamento de áreas

em recuperação;

5. Definir ações para recomposição da flora local prevendo: definição das espécies e

das proporções entre elas para o enriquecimento da zona de recuperação;

6. Na área de solos degradados é maior a dificuldade de recuperação, pois o solo

não possui a capacidade de comportar uma vegetação de grande porte. Nesta área

devem ser realizados estudos para a verificação de como acontece a regeneração

natural, quais as espécies pioneiras, secundárias e como estas se organizam na

comunidade. Somente deste modo poderemos entender e replicar a maneira mais

simples e eficiente de recuperação desta área de solos degradados.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

137

3.5.2.2 - Subprograma de Controle e Erradicação de

Espécies Exóticas

O objetivo principal deste subprograma é relacionar e ordenar as atividades

necessárias para o manejo de populações de espécies de plantas exóticas

presentes na UC, que interfiram negativamente na manutenção e no processo

natural da sucessão vegetal e da biodiversidade protegida pelo Refúgio.

Para que seja avaliada melhor forma de manejo é necessário realizar as seguintes

atividades:

1. Elaborar projeto específico sobre o manejo de espécies invasoras e exóticas na

Unidade.

1.1 Identificar as espécies exóticas e invasoras;

1.2 Mapear as áreas onde ocorrem espécies invasoras e determinar se são exóticas

ou nativas, assim como seu grau de interferência sobre as comunidades naturais;

1.3 Identificar e monitorar as potenciais vias de dispersão de exóticas como, por

exemplo, estradas, acessos, trilhas de visitação e aceiros.

1.4 Identificar a relação de cultivo de espécies exóticas de flora com as espécies

silvestres de fauna, especialmente o papagaio do mangue;

1.5 Articular com entidades de pesquisa e ensino a realização de estudos sobre o

manejo dessas espécies;

1.6 Avaliar a invasão da borda das áreas florestadas e áreas úmidas próxima ao

riacho do Sangradouro;

1.8 Propor ações que permitam a conservação da área da RPPN o mais próximo

possível das características primárias;

1.9 Monitorar os resultados das ações propostas.

3.5.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO

O Programa Temático de Pesquisa e Monitoramento tem como objetivo:

- Conhecer os recursos naturais e criar condições para que a pesquisa científica se

desenvolva, com a finalidade de subsidiar o manejo da RPPN;

- Aprofundar o conhecimento sobre os recursos naturais, arqueológicos e aspectos

histórico-culturais da RPPN, visando otimizar o manejo da área;

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138

- Obter informações visando embasar ações de manejo e conservação da RPPN e

de seu entorno.

Atividades, Subatividades

1. Implantar e coordenar as ações do Programa Temático de Pesquisa e

Monitoramento;

2. Elaborar relatório anual de atividades e avaliação da Área temática;

3. Estabelecer o cronograma de realização de pesquisas em andamento e as

previstas na UC;

4. Implantar um sistema permanente de fomento à pesquisa científica na UC, por

meio de convênios e acordos de cooperação com universidades, instituições de

pesquisa, organismos nacionais e internacionais, tais como, EMBRAPA, CAPES,

CNPQ, FAPESE, SEDETEC, UFS, UNIT, empresas privadas e fundações, dentre

outros;

5. Zelar pelo cumprimento dos métodos e técnicas de observação e coleta

apontadas no Plano de Pesquisa da instituição/pesquisador;

6. Organizar e manter banco de dados das pesquisas realizadas;

7. Promover oficinas e outros eventos com a participação dos pesquisadores, para a

apresentação da produção científica da RPPN;

8. Organizar informações para divulgação da RPPN como campo de investigação da

Mata Atlântica Nordestina;

9. Temas de Pesquisa e Monitoramento prioritários:

- Identificar os efeitos das atividades produtivas do entorno sobre a qualidade da

água;

- Acompanhar junto a DESO o controle da qualidade da água dos Povoados do

Entorno, utilizando-se parâmetros físicos, químicos e biológicos capazes de

identificar diferentes origens de poluentes responsáveis pela perda da qualidade da

água ou biodiversidade. Tal monitoramento deverá abranger o riacho do

Sangradouro e Lagoa do Avô;

- Estudar os efeitos dos eventos climáticos extremos (vendavais e temporais) sobre

a UC principalmente ao longo da vegetação ciliar;

- Estudo sobre potenciais efeitos do uso de agrotóxicos sobre a fauna aquática e

anfíbia;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

139

- Estudo da demografia e variabilidade gênica de espécies da flora e da fauna em

perigo, visando a definir estratégias para conservação a serem adotados;

- Estudos sobre a interferência das espécies exóticas sobre a fauna local, a partir da

potencial invasão das mesmas em ambientes aquáticos externos aos represamentos

estabelecidos;

- Inventário da fauna terrestre da UC e seu entorno imediato, com a correlação das

espécies com diferentes fisionomias, estratos da vegetação, solos e recursos

hídricos.

- Estudos sobre biologia e ecologia de organismos aquáticos, com desenvolvimento

de ferramentas para monitoramento da água.

10. Monitorar as condições físicas das trilhas.

3.5.3.1 - Subprograma de Monitoramento das Espécies de

Aves Ameaçadas

A avifauna tem sido usada como um dos parâmetros de qualidade dos ambientes.

São reconhecidas como bioindicadoras dos ecossistemas terrestres, principalmente

os florestais.

O presente subprograma objetiva avaliar o status populacional das espécies

ameaçadas (Tabela 41) de aves registradas para a unidade, a saber:

Tabela 40) Espécies de aves ameaçadas - Fonte: Razão

ESPÉCIE NOME POPULAR GRAU DE

AMEAÇA

Aratinga solstitialis (Linnaeus,

1766)

Jandaia-amarela Em perigo

Carpornis melanocephala (Wied,

1820)

sabiá-pimenta Vulnerável

Picumnus fulvescens Stager, 1961 pica-pau-anão-canela Quase ameaçada

Para tanto, as seguintes atividades são previstas:

1. Formar parcerias com instituições de pesquisa regionais, estaduais e federais

para desenvolvimento do programa;

2. Definir métodos necessários ao desenvolvimento do programa;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

140

3. Realizar inventário para identificação de espécies de aves com algum grau de

ameaça;

4. Implementar o programa de monitoramento das três espécies ameaçadas de

aves;

5. Estudar a ecologia das espécies, especialmente as relações com a vegetação,

dieta e reprodução;

6. Desenvolver parâmetros para definição de ações de conservação das espécies,

tais como: tamanho mínimo de área em que é possível manter populações viáveis

dessas espécies; principais fontes de alimento e sítios de alimentação; locais de

ninhos de reprodução; quantidade de indivíduos; funcionalidade de corredores

ecológicos para ligação de reservas naturais; permitindo a passagem de exemplares

e troca de material genético;

7. Gerar outras informações que contribuam para conservação das espécies.

3.5.3.2 - Subprograma de Levantamento Arqueológico,

Histórico e Cultural

O Programa tem como objetivo identificar as áreas com vestígios de ocupação e

relevância arqueológica-histórica-cultural existentes RPPN.

São propostos como atividades:

1. Formar parcerias com instituições Públicas para levantamento de sítios

arqueológicos e guarda do acervo encontrado;

2. Realizar levantamento de prospecção arqueológico-histórico-cultural da área e

seu Entorno.

3. Mapear e cadastrar junto ao IPHAN os sítios existentes;

4. Propor ações para conservação ou manejo dos sítios identificados respeitando a

existência da UC e a respectiva zona de inserção;

5. Caso se confirme a existência de sítios, os mesmos poderão ser incluídos em

outros programas como o de educação ambiental e proteção.

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

141

3.5.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO

A possibilidade de utilização dos recursos naturais da RPPN Dona Benta e Seu

Caboclo, aliados a fatores históricos e culturais regionais, faz com que seu potencial

gerador de visitação seja diversificado. Esta possibilidade, no entanto, está atrelada

à salvaguarda das características de tais recursos, o que se constitui no fio condutor

da proposição de seu Programa de Uso Público.

Analisando suas potencialidades e exemplos de programas de uso público de outras

Unidades de Conservação, buscou-se delinear uma proposta que aliasse a

concretização dos princípios da RPPN à satisfação dos envolvidos (órgão

responsável, município, população residente, visitantes, pesquisadores).

Nos subprogramas propostos são apresentados elementos essenciais como seus

objetivos específicos, público-alvo e principais ações, além de normas baseadas nas

Diretrizes para Visitação em Unidades de Conservação (IBAMA, 2006).

Objetivo Principal

O principal objetivo do Programa é a promoção da compreensão do meio ambiente e

de suas inter-relações na RPPN e no cotidiano da população, de modo a permitir

mudanças em seus hábitos e costumes, além de proporcionar a visitação na

Unidade.

Atividades, Subatividades e Normas

1. Implementar e coordenar as ações do Programa de Uso Público na UC;

2. Realizar reuniões semestrais de planejamento das atividades e reuniões mensais

de avaliação e ajustes;

3. Elaborar relatórios semestrais de atividades;

4. Coordenar a elaboração, produção e distribuição de material educativo e

informativo referentes à UC.

3.5.4.1 - Subprograma de Ecoturismo

Ecoturismo é o “conjunto de atividades turísticas que utilizam, de forma sustentável,

o patrimônio natural e cultural, incentivam sua conservação e buscam a formação de

uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o

bem-estar das populações envolvidas” (EMBRATUR, 2004). A priorização deste

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

142

segmento poderá ser um vetor de atratividade regional, enfatizando programações

de menor impacto negativo.

O público alvo se constitui de turistas, pesquisadores, estudantes, melhor idade,

especial e religiosos.

Os objetivos específicos são:

- Priorizar atividades direcionadas à utilização racional dos recursos naturais e que

estimulem a interpretação e proteção do ambiente;

- Evitar saturação de recursos no interior da UC por meio da implementação de

programação compatível com sua utilização adequada.

Para alcance de tais objetivos são propostas como atividade:

1. Ampliar o uso da trilha interna da RPPN, estudando a possibilidade de

observação noturna da natureza;

2. Divulgar e estimular a adoção dos princípios da Campanha Conduta Consciente

em Ambientes Naturais do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os princípios de

conduta consciente em ambientes naturais, de acordo com o folheto Excursionismo

de Mínimo Impacto - Programa Nacional de Áreas Protegidas (MMA), como: ser

responsável por sua segurança, cuidar das trilhas, trazer seu lixo de volta, deixar

cada coisa em seu lugar, respeitar animais e plantas, ser cortês com outros

visitantes, entre outros;

3. Contratar monitores e condutores de visitantes, além de pessoal de manutenção

da trilha, conforme programa de Operacionalização;

norma: As atividades de uso público na unidade poderão ser cobradas: havendo

taxa de visitação fixa para entrada na RPPN (o que pode incluir a visita à trilha

interna), mais adicional pelo roteiro.

norma: Moradores da região, mediante apresentação do comprovante de residência,

estudantes mediante apresentação de carteira estudantil, crianças de até dez anos,

maiores de 60 anos e portadores de necessidades especiais poderão não pagar a

taxa de visitação.

4. Utilizar a trilha principal da RPPN para atividades ligadas ao ecoturismo e

educação ambiental;

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PLANO DE MANEJO DA RPPN DONA BENTA E SEU CABOCLO

143

5. Instalar, ao longo do percurso interno da RPPN, sinalização informativa sobre

temas importantes relacionados a fauna, a vegetação, recursos hídricos, a geologia,

a topografia, a ocupação regional;

6. Estudar a possibilidade de oportunizar os roteiros para diferentes públicos - de

crianças a melhor idade, incluindo portadores de necessidades especiais;

7. Estudar a viabilidade de implementação um roteiro de hikking (caminhada curta),

utilizando as estradas de acesso do entorno da UC;

8. Analisar a viabilidade de construir mirantes (na estrada de acesso, por exemplo),

como elementos diferenciais e complementares a visitação.

3.5.4.2 - Subprograma de Educação Ambiental e

Comunicação Social

A Lei Federal nº 9.795, de 27 de abril de 1999, em seu artigo primeiro, estabelece

que por educação ambiental “os processos por meio dos quais o indivíduo e a

coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum

do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade“.

De igual modo a Lei Estadual nº 6.882 de 08/04/2010, que dispõe sobre a Educação

Ambiental e institui a Política Estadual de Educação Ambiental estabelece que os

órgãos gestores de UC, promovam a Educação Ambiental, utilizando-a como

instrumento para a proteção dos recursos naturais e culturais associados, garantindo

a oferta de bens e serviços ambientais para as presentes e futuras gerações.

O público-alvo são as escolas públicas (municipais e estaduais) e também as

privadas, a comunidade local, os visitantes e os funcionários da Unidade de

Conservação. São elencados como objetivos específicos para o subprograma:

- Articular a participação cidadã na gestão do meio ambiente, entendido como bem

de uso comum dos brasileiros, essencial à sadia qualidade de vida da população,

seguindo as diretrizes da Fazenda Cordeiro de Jesus para a operacionalização do

Programa Estadual de Educação Ambiental (PRONEA);

- Desenvolver junto a comunidade local a conscientização ambiental como forma de

difundir a importância da RPPN e os benefícios diretos e indiretos advindos dele;

- Promover a divulgação da imagem e das atividades desenvolvidas na RPPN, no

intuito de relacionar-se com a comunidade vizinha bem como a sociedade em geral.

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Para alcance de tais objetivos são propostas as atividades:

1. Realizar articulação interinstitucional com a Secretaria de Educação de Pirambu,

e com a Secretaria Estadual de Educação (SEED) visando estimular a integração da

rede de ensino público regional com a RPPN.

2. Realizar interlocução com as escolas da rede de ensino do entorno (povoados)

visando estimular a visitação escolar a RPPN e a inserção da temática ambiental

nos currículos escolares.

3. Promover o envolvimento da população local em programas de educação

ambiental de diversos temas, tais como: a importância da preservação ambiental, da

conservação da biodiversidade e recursos hídricos, da reciclagem de materiais, o

planejamento e recuperação de áreas degradadas, a produção e plantio de espécies

florestais, entre outros.

4. Divulgar conceitos e práticas de educação ambiental nas questões relativas à

preservação da biodiversidade e recursos hídricos e a Unidade de Conservação nos

povoados do entorno buscando a compreensão por parte da população da

importância da conservação da RPPN no contexto regional.

5. Elaborar e confeccionar cartilhas educativas sobre a importância do

remanescente florestal e sua inter-relação com a fauna e a manutenção dos

recursos hídricos.

6. Trabalhar e difundir as informações sobre a RPPN Dona Benta e Seu Caboclo e

seu entorno através da Literatura de Cordel, abrangendo as informações específicas

sobre os flora, fauna, recursos hídricos e histórico-culturais.

7. Elaborar um vídeo educativo contendo informações sobre a RPPN em português,

inglês e espanhol.

8. Definir as informações educativas a serem repassadas aos visitantes pelos

condutores, sobre a unidade, suas formações florestais, fauna, bem como dos

recursos hídricos e suas características.

9. Resgatar aspectos históricos e culturais da área onde se insere a Unidade,

visando sua divulgação na Fazenda Cordeiro de Jesus.

10. Manter profissionais capacitados para fornecer apoio técnico à população do

entorno da UC quanto à solução de seus problemas diários relativos à questão

ambiental, propiciando uma política interativa e de integração;

O Programa de Educação Ambiental proposto deverá atingir o público alvo, a partir

da realização de atividades de educação ambiental descritas na Tabela 42.

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Tabela 41) Programa de Educação Ambiental

ESTRATÉGIA DE PROGRAMAÇÃO

ATIVIDADE OBJETIVO

ESCOLA

Visitas Programadas

Promover aprendizado através da observação direta em relação ao ambiente, como fauna, flora, recursos hídricos, entre outros.

Escolha do Mascote

Proporcionar uma identidade visual e lúdica para incutir a consciência da preservação ambiental

Teatro Ecológico

Incentivar as crianças a refletirem sobre a importância de se cuidar do meio ambiente e do mundo em que vivemos, investindo em mudanças de conceitos e atitudes conscientes.

Palestras

Incrementar conhecimentos sobre resíduos sólidos e reciclagem, biodiversidade e preservação ambiental.

COMUNIDADE LOCAL

Folders e Cartazes

Ter a atenção constantemente voltada aos temas de educação ambiental.

Ações Comunitárias

Promover ações de cunho ambiental com a comunidade.

VISITANTES

Trilhas Interpretativas Guiadas

Promover aprendizado através da observação direta em relação ao ambiente, como fauna, flora e recursos hídricos, entre outros.

Folders e Cartazes

Ter a atenção constantemente voltada aos temas de educação ambiental.

Centro de apoio ao visitante

Propiciar ao visitante local para a reflexão dos aspectos relacionados ao meio ambiente.

FUNCIONÁRIOS

Capacitação Capacitar os funcionários para o adequado recebimento dos visitantes.

Palestras

Incrementar conhecimentos sobre resíduos sólidos e reciclagem, biodiversidade e preservação ambiental.

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3.5.4.3 - Escolha do Mascote da Unidade

Com o objetivo de envolver as escolas de ensino fundamental (1ª a 9ª séries) e de

gerar uma reflexão sobre o meio ambiente e sua preservação, esta atividade propõe

a realização de um concurso entre as escolas para a criação de um mascote

protetor da RPPN. Este deve ganhar um forte carisma, principalmente entre as

crianças, e atingir os objetivos de proteção ambiental de forma lúdica, sendo que

para a sua eleição sugere-se que ele seja uma espécie nativa da região e conste no

Livro Vermelho da Fauna ameaçada no Estado de Sergipe.

As inscrições, normas, regras e critérios de premiação, como criatividade,

originalidade e coerência com o tema apresentado, serão articuladas pela Fazenda

Cordeiro de Jesus.

3.5.4.4 - Teatro Ecológico

Após a escolha do mascote serão realizadas peças teatrais que buscarão resgatar

histórias da região, tendo como narrador o próprio mascote. Estas serão

organizadas e desenvolvidas pela administração da UC em parceria com a

administração pública dos municípios afetados.

Esta atividade possui o objetivo de incentivar as crianças a refletirem sobre a

importância de se cuidar do meio ambiente e do mundo, investindo em mudanças de

conceitos e atitudes conscientes.

3.5.4.5 - Palestras

Serão ministradas por profissionais tecnicamente qualificados que poderão

desenvolver os seguintes itens:

1. Palestra sobre a Poluição do ar: terá o objetivo de conscientizar o aluno sobre a

importância da qualidade do ar, mostrando que a qualidade do ar está diretamente

ligada a problemas respiratórios, cardiovasculares e os problemas ambientais,

transmitindo informações básicas sobre fontes poluidoras e alternativas para reduzir

a poluição atmosférica.

As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:

- A poluição do ar e a saúde;

- A poluição do ar e o meio ambiente;

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- Acidificação ou chuva ácida;

- A ação do ozônio;

- Mudanças climáticas e o efeito estufa;

- Aquecimento global;

- Solução difícil;

- Transporte e consumo de energia;

- O transporte e o lixo;

- O que pode ser feito;

- Atividades.

2. Palestra sobre Lixo: intitulada “O Lixo nosso de cada dia”, terá o objetivo de

discorrer sobre a problemática do lixo nos tempos atuais, tais como superprodução,

doenças causadas, contaminação do solo e água, enchentes, degradação do

ambiente, etc. Além de aspectos como a classificação do lixo e sua origem, tipos de

deposição finais e alternativos para minimizar a quantidade e os impactos causados

pelo lixo.

As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:

- Classificação dos resíduos sólidos (lixo);

- Resíduos perigosos;

- Resíduos indesejáveis;

- Como resolver o problema do lixo;

- Reciclagem: a indústria do presente;

- Para onde vai o lixo

- Tratamento e disposição final do lixo;

- Compostagem;

- Incineração;

- Pirólise;

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- Digestão anaeróbica;

- Reuso e reciclagem;

- Aterro sanitário;

- Aterro controlado;

- Unidades de segregação e/ou compostagem;

- Embalagem: quanto mais simples, melhor;

- A responsabilidade é de quem produz;

- O lixo e o consumo;

- O que você pode fazer;

- Atividades.

3. Palestra sobre a Biodiversidade: terá o objetivo de explicar o que é a

biodiversidade, qual a sua relação com os aspectos sociais, econômicos e

ambientais e mostrar a importância de se preservá-la e de como explorá-la

sustentavelmente, instigando o aluno a pensar sobre alternativa para preservar a

biodiversidade a nível local e regional.

As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:

- A importância da biodiversidade;

- Funções ambientais;

- Polinização e dispersão das plantas;

- A teia trófica ou cadeia alimentar;

- Variabilidade e adaptação;

- Estabilidade do regime hídrico e amenização climática;

- Funções socioeconômicas;

- Fonte de novos produtos e de energia;

- Sustentabilidade na agricultura e pecuária;

- Produtos florestais;

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- A questão sociocultural;

- Lazer e turismo;

- Ecoturismo: uma forma sustentável de utilização dos recursos naturais;

- Florestas: muito mais do que um conjunto de árvores;

- Os biomas brasileiros;

- Desmatamento;

- Preservar a biodiversidade é um dever de todos.

4. Palestra sobre Água: intitulada “Uma gotinha de água pelo amor de Deus”, terá o

objetivo de conscientizar o aluno sobre a importância da qualidade da água,

relacionando as doenças causadas por águas poluídas. Também deverá explicar

como funciona o ciclo da água e seus diversos usos, assim como métodos de

tratamento e prevenção de doenças causadas por consumo de águas impróprias,

assim como mostrar alternativas para prevenir o desperdício e diminuir o consumo

de água.

As sugestões de tópicos a serem abordados são as seguintes:

- Relevância da conservação da água pela RPPN Dona Benta e Seu Caboclo;

- O ciclo da água;

- A distribuição e o consumo de água doce no mundo e no Brasil;

- Água no Brasil;

- Os usos da água;

- Uso doméstico;

- Saneamento básico;

- Uso industrial;

- Uso agrícola;

- Navegação;

- Pesca e lazer;

- Gestão participativa - comitê Bacia Hidrográfica do Rio Japaratuba.

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3.5.4.6 - Folders e Cartazes

Possuem o intuito de proporcionar a consciência ambiental e informativa do público-

alvo (escolas, visitantes e comunidade), para a preservação da qualidade ambiental.

Os temas principais sugeridos para os cartazes e folders são: a importância da água

e da preservação ambiental; tipos de resíduos e reciclagem e implantação e

zoneamento da Unidade de Conservação.

3.5.4.7 - Guia de Espécies

A partir de pesquisas científicas e inventários já realizados na UC e também que

venham a ser desenvolvidos, serão organizados e publicados guias da fauna e flora:

mamíferos de médio e grande porte, aves, anfíbios, morcegos, peixes e vegetação,

valorizando e divulgando a biodiversidade que ocorre na RPPN. Estes guias serão

utilizados em atividades de educação e interpretação ambiental na UC e em escolas

públicas e privadas da região, incentivando aos estudantes conhecer os animais

silvestres e a vegetação nativa que ocorrem em nossos ecossistemas.

3.5.4.8 - Ações Comunitárias

Através de parcerias com entidades governamentais, promover campanhas

educativas, como o plantio de árvores, oficinas de reciclagem, ações de coleta de

lixos nas áreas naturais, entre outras, que tenham como objetivo a manutenção e

recuperação do meio ambiente.

A adoção de campanhas de cunho ambiental poderá ser realizada, como o Dia da

Árvore (21 de setembro), Dia da Água (22 de março), Dia do Meio Ambiente (5 de

junho), Dia Mundial sem Carro (22 de setembro) e o Dia das Crianças (12 de

outubro).

Assim como campanhas educativas de redução do consumo de água e energia,

separação e reutilização corretas de resíduos, entre outros.

3.5.4.9 - Trilhas Interpretativas Guiadas

Para uma trilha ser considerada como um instrumento para a Educação Ambiental,

ela deve despertar no usuário a curiosidade sobre aspectos ambientais. Para que

isso ocorra, a interpretação deve promover em um determinado público alvo o

sentimento de pertinência a natureza, através de sua transformação íntima em

relação aos recursos naturais, da sua compreensão e de seu entendimento, na

esperança de gerar interesse, sua consideração e seu respeito pela natureza, e

consequentemente pela vida.

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Como consta no diagnóstico a UC já dispõe de trilhas, devendo apenas haver

algumas adequações quanto aos aspectos de capacidade de carga e capacitação

dos guias.

3.5.4.10 - Capacitação dos Funcionários

A capacitação e o treinamento dos funcionários ocorrerão através de reuniões e

palestras ministradas por profissionais tecnicamente qualificados. Estes terão por

função orientar e treinar os funcionários sobre diversos assuntos voltados ao meio

ambiente e sua preservação, além das atividades ambientais ofertadas pela UC,

para que estes possam bem informar os visitantes.

Ainda receberão treinamento acerca das práticas sustentáveis diárias a serem

aplicadas durante a realização dos serviços, como o desperdício zero, uso racional

da energia elétrica, água e bens de consumo em geral, dentre outras.

O treinamento deverá abranger de forma ampla todos os responsáveis pela UC,

envolvendo todos os setores: administrativo, monitoramento, manutenção,

recreação, entre outros. O conteúdo e a abordagem deste subprograma podem ser

expandidos para turismo educativo, visando não apenas a sensibilização quanto ao

meio ambiente, mas a melhor apreensão de temas sobre a realidade local e

regional.

3.5.5 - PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

Entende-se que a própria sobrevivência da RPPN Dona Benta e Seu Caboclo

dependerá da boa implementação deste programa. As boas ideias e ações tem

também seus custos para se tornarem viáveis daí a necessidade de se buscar meios

para garantir a sustentabilidade econômica.

Objetivos: Promover o desenvolvimento econômico sustentável da propriedade

através de práticas geradoras de emprego e renda responsáveis.

Atividades e normas:

- desenvolver práticas eco turísticas dentro da RPPN e no seu entorno, promovendo

o desenvolvimento econômico através da valorização da propriedade com a

contemplação das belezas naturais e do conhecimento da biodiversidade;

- Atender aos visitantes com alimentação, hospedagem, guiamento nas trilhas,

sediar eventos diversos;

Ações gerais:

- Elaborar de projetos que buscam captar recursos via editais ou demanda

espontânea, também junto à iniciativa privada que poderão contribuir para a

manutenção da UC e para a implementação do Plano de Manejo;

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- Dar enfoque ao mercado voluntário de carbono, desmatamento evitado,

pagamentos por serviços ambientais e ao ICMS ecológico, já em funcionamento em

alguns estados brasileiros;

- Termos de ajuste de conduta e compensação ambiental poderão ser destinados à

RPPN devido às parcerias e convênios com a iniciativa privada, Ministério Público,

IBAMA, ICMBio, ADEMA, PREFEITURA MUNICIPAL DE PIRAMBU, ONGs, OSCIPs

e quaisquer outras empresa.

3.5.6 - PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO

A implementação de todos os programas mencionados neste Plano de Manejo

dependem do envolvimento do programa de comunicação, tanto no âmbito interno

quanto no externo.

Objetivos: divulgar para os públicos internos e externos da RPPN a importância

estratégica de uma Unidade de Conservação do ponto de vista cultural, educacional

e ambiental.

Atividades: buscar e manter parcerias para ampliar e divulgar os resultados do Plano

de Manejo da RPPN em todos os níveis de governo no Estado de Sergipe, nas

comunidades do entorno, a autoridades diversas, instituições de ensino público e

privadas, ONGs, veículos de comunicação, instituições privadas, dentre outras.

Ações gerais:

- produção de um vídeo institucional;

- produção e distribuição do folder da UC;

- participação em congressos e eventos;

- organização de atividades de divulgação nos meios de comunicação (rádio, jornal,

revistas, TV) e projetos de relações públicas.

Normas e ações para a divulgação do Plano de Manejo:

- A apresentação do plano de manejo será através de oficinas e palestras e também

na participação em eventos da região;

- Sua divulgação será através da publicação de um CD e resumo executivo contento

as principais informações deste documento, para que seja do conhecimento da

comunidade em geral as normas que regulam esta UC;

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- Participação em eventos, congressos, divulgação em instituições públicas e

privadas e nos meios de comunicação (rádio, jornal, revistas, TV e internet);

- Tornar as atividades desenvolvidas na RPPN conhecidas pelo público, visitantes e

comunidade em geral como referência para a região;

- Buscar apoio e convênios junto ao poder público, Secretaria do Meio Ambiente do

Estado do Estado de Sergipe, ONGs e Instituições de Ensino para a divulgação e

incentivo dos trabalhos desenvolvidos na UC;

- Criar uma página na internet, dando acesso ao público às informações sobre UCs,

principalmente RPPNs, conservação da natureza e também sobre as atividades e

pesquisas desenvolvidas na RPPN.

Propõem-se ainda as atividades:

3.6.1 - Ambiente Sustentável

Sistema de captação de água da chuva em todas as construções já existente na

Fazenda (sede da RPPN) e canalizada e armazenada em cisternas para serem uso

da propriedade e da UC; coleta seletiva de lixo, com separação total e destinação

dos resíduos para a reciclagem; compostagem com resíduos orgânicos gerados na

UC e na Fazenda.

3.6.2 - Infraestrutura

Adequar as estruturas existentes na Sede da UC para atingir os objetivos propostos

do zoneamento e programas de manejo. Também a construção e implementação de

novas estruturas e equipamentos dentro da RPPN ou na Fazenda, necessários para

o desenvolvimento das atividades previstas no Plano de Manejo.

3.6.3 - Pórtico de entrada

Instalação de um pórtico na entrada da RPPN, que deverá ser construído de

material rústico, preferencialmente com toros de eucalipto tratado. Isso dará mais

resistência e durabilidade à estrutura. Neste pórtico deverão constar as principais

informações da UC como nome e atrativos.

3.6.4 - Torre de observação

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Construção de uma torre em local alto, dentro da Zona de Visitação da RPPN, que

será utilizada para fiscalização e observação de aves. Será executada mediante

projeto com estrutura, materiais e mão de obra especializada, condizente com as

dimensões e objetivos propostos.

3.6.5 - Bancos de descanso

Instalação de bancos em diversos pontos da Zona de Visitação da RPPN que

servirão de descanso e contemplação da natureza para os momentos de atividades

de Educação Ambiental, utilizando material rústico, preferencialmente de toras de

eucalipto que são razoavelmente duráveis e pouco suscetíveis a vandalismo.

3.6.6 - Pinguela e pontilhão

Construção de uma pinguela sobre o Riacho do Sangradouro e entrada da RPPN,

para facilitar o acesso. Será feita de material rústico, porém resistente, propiciando

segurança dos visitantes.

3.6.7 - Centro de apoio aos visitantes

Construção de um centro de apoio aos visitantes logo após o pórtico de entrada da

RPPN, visando propiciar um momento de preparação antes de adentrar

efetivamente na UC.

3.6.8 - Melhorias no alojamento dos pesquisadores, estagiários e

guarda-parque

A casa que servirá de alojamento para pesquisadores, estagiários e guarda-parque

localiza-se vizinho à sede da RPPN, na Fazenda Cordeiro de Jesus e já está pronta

e disponível, sendo necessário somente cuidados de manutenção. Para sua melhor

utilização, deverão ser feitas pequenas melhorias e adaptações, como a instalação

de diversos equipamentos utilizados nas atividades de pesquisa, estágio e

manutenção.

3.6.9 - Centro de Referência para Estudos da Restinga

Construção prédio próximo à sede da RPPN, na Fazenda Cordeiro de Jesus, que

abrigará o Centro de Referencia para Estudos da Restinga – CRER, visando com

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isso recepcionar diversos estudantes e pesquisadores, enriquecendo o

conhecimento sobre a fauna e flora existente.

3.7 - CRONOGRAMA FÍSICO FINANCEIRO

Tabela 42) Cronograma Físico Financeiro dos Programas de Manejo

PROGRAMAS DE MANEJO EXECUÇÃO/ANOS

CUSTOS R$ 1º 2º 3º 4º 5º

PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO

Contratações 130.000,00

Capacitações 40.000,00

Sinalização 20.000,00

Equipamentos diversos 30.000,00

Cercamento com 3 fios de arame 7.000,00

Construção de depósito de lixo 1.600,00

Montagem da Biblioteca 1.500,00

PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO

Elaboração do manual de

procedimentos para a fiscalização 400,00

Recuperação ambiental na RPPN 6.000,00

Manutenção das trilhas 12.000,00

PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO

Implantar sistema de fomento à

pesquisa 6.000,00

Oficinas 6.000,00

Confecção e distribuição de

informações científicas sobre a RPPN 1.000,00

PROGRAMA DE VISITAÇÃO

Elaborar e distribuir material sobre

Educação ambiental na RPPN 1.000,00

Construção de Mirante 5.000,00

Oficinas com estudantes 3.000,00

Construir um painel sobre educação

ambiental 400,00

Elaborar um vídeo educativo sobre a

RPPN 1.200,00

Folhetos de Literatura de Cordel 2.000,00

Confecção da mascote 500,00

Montagem do teatro ecológico 1.000,00

Palestras 3.000,00

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PROGRAMA DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA

Melhorias na hospedaria 20.000,00

PROGRAMA DE COMUNICAÇÃO

Produção de um vídeo institucional 1.200,00

Divulgação nas mídias 2.000,00

TOTAL R$ 301.800,00

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ANEXOS