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PLANTAS TÓXICAS Por Paula Gomes Rodrigues Stella Gomes Rodrigues Denomina-se planta tóxica todos os vegetais que introduzidos no organismo dos homens ou de animais domésticos são capazes de causar danos à saúde ou até provocar a morte do animal. e à vitalidade desses seres (Rosseti & Corsi, 2009). Segundo Afonso e Pott (2000), planta tóxica é capaz de provocar perturbações diretas ou indiretas na saúde do gado, às vezes pouco percebidas. O metabolismo das plantas é capaz de produzir uma ampla variedade de substâncias químicas. Algumas destas substâncias são comuns a todos os seres vivos, usadas no crescimento, na reprodução e na manutenção do vegetal. No entanto, um grande número de compostos químicos produzidos pelos vegetais serve a outros propósitos. Os pigmentos (flavonóides, antocianinas e betalaínas) e os óleos essenciais (monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores. Outras substâncias como os taninos, lactonas sesquiterpênicas, alcalóides e iridóides, além de apresentarem sabores desagradáveis, podem ser tóxicas e irritantes para outros organismos. Estas funcionam como dissuasórios alimentares, e protegem as plantas contra predadores e patógenos. Várias destas substâncias podem causar graves envenenamentos em seres humanos ou em animais domésticos quando as plantas são ingeridas ou entram em contato com a pele. Existem alguns fatores ligados à planta que determina seu grau de toxidez e perigo aos animais: 1. Partes da planta: (raiz, caule, flores, frutos e sementes) freqüentemente contêm diferentes concentrações de substâncias químicas. Como exemplo pode-se citar a mamona ( Ricinus communis), cujas sementes apresentam grandes quantidades da proteína tóxica ricina, enquanto as folhas apresentam apenas traços desta proteína. 2. Idade e estado de amadurecimento dos frutos: contribuem para a variabilidade das concentrações das substâncias. A escopolamina, por exemplo, é o principal alcalóide presente em espécimes jovens de saia-branca (Datura suaveolens L), enquanto a hiosciamina é predominante nas plantas mais velhas. Os taninos estão, em geral, presentes em frutos verdes e praticamente ausentes nos frutos maduros, como é o caso do Sorgo (Sorgum bicolor); 3. Patologias vegetais como ataques de fungos, ataques de bactérias e até mesmo a predação por herbívoros, podem induzir o vegetal a produzir substâncias que normalmente não produz; 4. A intoxicação pode estar limitada à quantidade de vegetal ingerido, ou à maneira de ingestão (bem ou mal mastigado). Algumas plantas da família Oxalidaceae, por exemplo, conhecidas como azedinhas, são normalmente ingeridas sem nenhum tipo de dano à saúde, porém se a quantidade ingerida for muito grande, desenvolve-se um quadro de intoxicação por oxalato de cálcio. tóxicos produzidos pelas plantas Taninos Os taninos condensados compreendem um grupo diverso de compostos polifenólicos hidrossolúveis. Estão presentes nos grãos de sorgo, lentilhas, favas e diversas sementes de leguminosas (Meyer, 1995). Os taninos não são tóxicos, porém, deprimem o apetite e reduzem a digestibilidade de carboidratos de uma forma dependente de pH. No intestino delgado, reagem tanto com as proteínas endógenas quanto as dietéticas, aumentando sua perda fecal (Frape, 2008).

Plantas Tóxicas

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PLANTAS TÓXICAS

PorPaula Gomes RodriguesStella Gomes Rodrigues

Denomina-se planta tóxica todos os vegetais que introduzidos no organismo dos homens ou de animais domésticos são capazes de causar danos à saúde ou até provocar a morte do animal. e à vitalidade desses seres (Rosseti & Corsi, 2009). Segundo Afonso e Pott (2000), planta tóxica é capaz de provocar perturbações diretas ou indiretas na saúde do gado, às vezes pouco percebidas.

O metabolismo das plantas é capaz de produzir uma ampla variedade de substâncias químicas. Algumas destas substâncias são comuns a todos os seres vivos, usadas no crescimento, na reprodução e na manutenção do vegetal. No entanto, um grande número de compostos químicos produzidos pelos vegetais serve a outros propósitos.

Os pigmentos (flavonóides, antocianinas e betalaínas) e os óleos essenciais (monoterpenos, sesquiterpenos e fenilpropanóides) atraem polinizadores. Outras substâncias como os taninos, lactonas sesquiterpênicas, alcalóides e iridóides, além de apresentarem sabores desagradáveis, podem ser tóxicas e irritantes para outros organismos. Estas funcionam como dissuasórios alimentares, e protegem as plantas contra predadores e patógenos. Várias destas substâncias podem causar graves envenenamentos em seres humanos ou em animais domésticos quando as plantas são ingeridas ou entram em contato com a pele.

Existem alguns fatores ligados à planta que determina seu grau de toxidez e perigo aos animais:

1. Partes da planta: (raiz, caule, flores, frutos e sementes) freqüentemente contêm diferentes concentrações de substâncias químicas. Como exemplo pode-se citar a mamona (Ricinus communis), cujas sementes apresentam grandes quantidades da proteína tóxica ricina, enquanto as folhas apresentam apenas traços desta proteína.

2. Idade e estado de amadurecimento dos frutos: contribuem para a variabilidade das concentrações das substâncias. A escopolamina, por exemplo, é o principal alcalóide presente em espécimes jovens de saia-branca (Datura suaveolens L), enquanto a hiosciamina é predominante nas plantas mais velhas. Os taninos estão, em geral, presentes em frutos verdes e praticamente ausentes nos frutos maduros, como é o caso do Sorgo (Sorgum bicolor);

3. Patologias vegetais como ataques de fungos, ataques de bactérias e até mesmo a predação por herbívoros, podem induzir o vegetal a produzir substâncias que normalmente não produz;

4. A intoxicação pode estar limitada à quantidade de vegetal ingerido, ou à maneira de ingestão (bem ou mal mastigado). Algumas plantas da família Oxalidaceae, por exemplo, conhecidas como azedinhas, são normalmente ingeridas sem nenhum tipo de dano à saúde, porém se a quantidade ingerida for muito grande, desenvolve-se um quadro de intoxicação por oxalato de cálcio.

tóxicos produzidos pelas plantasTaninosOs taninos condensados compreendem um grupo diverso de compostos polifenólicos hidrossolúveis. Estão presentes nos grãos de sorgo, lentilhas, favas e diversas sementes de leguminosas (Meyer, 1995).

Os taninos não são tóxicos, porém, deprimem o apetite e reduzem a digestibilidade de carboidratos de uma forma dependente de pH. No intestino delgado, reagem tanto com as proteínas endógenas quanto as dietéticas, aumentando sua perda fecal (Frape, 2008).

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A autoclavagem ou a cocção por pressão destroem esses taninos, mas o tratamento prolongado é requerido em temperaturas menores. Adicionalmente, a estocagem de grãos úmidos de sorgo em ambiente anaeróbio tem demonstrado efeito benéfico sobre a desativação dos taninos (Oliveira et al., 2007).

Antiproteases (inibidores de tripsinas) e lecitinas Os inibidores de tripsina deprimem a digestão protéica, mas as lecitinas são consideradas mais perigosas pelo fato de destruírem as vilosidades do intestino delgado, impedindo a absorção de nutrientes e permitindo a absorção de substâncias tóxicas (Frape, 2008). Além disso, podem causar nódulos e câncer pancreático.

As plantas produtoras de inibidores de antiproteases e lecitinas incluem as favas, feijões pretos comuns, branco ou feijão de lima, certos grãos de leguminosas, amendoim, soja e gérmen de arroz também contêm estas substâncias.

A atividade de ambos os grupos é destruída pelo tratamento com aquecimento a vapor.

GossipolO gossipol é encontrado no algodão e, por este motivo, é um alimento não utilizado pela maioria dos criadores de equinos. O pigmento gossipol reage com a proteína do algodão (lisina) para reduzir o apetite e a digestibilidade protéica e por isso reduz a eficiência da utilização de aminoácidos (Frape, 2008). O pigmento também reage com o ferro dietético, precipitando-o nos intestinos.

Entre os meios empregados no processo de retirada do gossipol, o procedimento genético é o mais adequado, por não acarretar perdas no valor nutricional das proteínas. Em pesquisas iniciadas na década de 50, nos Estados Unidos foi desenvolvido um tipo de algodão sem glândulas produtoras de gossipol, possibilitando, assim, a criação de variedades comerciais livres desse composto, denominados “glandless” (EMBRAPA Algodão).

AntivitaminasDiversos fatores antivitamínicos estão presentes em alimentos de origem animal e vegetal. No broto da samambaia (Pteridium aquilinum) e no feijão cru há uma tiaminase, que diminui a absorção da vitamina tiamina. Mesmo dessecada, a planta conserva seus princípios tóxicos.

Fitinas Altas quantidades de ácido fítico presentes em diversos vegetais podem interferir na absorção de cálcio. O ácido fítico se liga à molécula de fósforo tornando-a indisponível ao organismo, e com um desbalanço na relação cálcio / fósforo a absorção de ambos os nutrientes é prejudicada.

Dietas de equinos são formuladas principalmente com grãos de cereais, e estes apresentam altos teores de fósforo total, porém, dois terços encontra-se na forma de ácido fítico, que é indisponível para absorção nos equinos. Os grãos de cereais são ricos em fitatos, cuja concentração aumenta com o amadurecimento.

OxalatosO oxalato, uma vez ingerido pelos equinos, se liga ao cálcio (Ca) no intestino delgado formando um composto insolúvel denominado de oxalato de cálcio, tornando o Ca indisponível. Assim sendo, para manter a relação fisiológica normal (2:1) entre o Ca e fósforo (P), por meio do paratohormônio o organismo começa a retirar o Ca dos ossos e a lançá-lo na corrente sangüínea, provocando distúrbios na formação óssea, comumente conhecido como osteodistrofias (Puolhi Filho et al., 1999). A mais notória é o hiperparatireoidismo nutricional secundário, conhecido também por osteodistrofia fibrosa ou "cara inchada" (Swartzman et al., 1978).

Altas concentrações de oxalatos são encontradas em gramíneas tropicais, várias espécies de Setária e a Brachiaria humidicola têm grande concentração de oxalatose podem trazer graves problemas aos equinos.

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NitratosO rápido crescimento do pasto após muita chuva e uso excessivo de fertilizantes à base de nitrogênio pode causar a elevada concentração de nitratos nas pastagens e contaminação dos suprimentos de água pela lixiviação dos solos (Frape, 2008). Além disso, temperaturas baixas repentinas durante a fase de crescimento e a utilização de herbicidas favorecem o acúmulo de nitrato. A forragem verde contendo mais de 10g de nitrato/kg de matéria seca, quando esta representa 50% da dieta, pode causar distúrbios digestivos e anormalidades respiratórias e circulatórias (Meyer, 1995). Apesar dos nitratos serem ligeiramente tóxicos, podem ser reduzido a nitritos antes ou após o consumo.

Os nitritos se ligam ao pigmento carreador de oxigênio da hemácea, a hemoglobina, e a transforma em metaemoglobina, que é incapaz de transportar oxigênio, causando a morte.

A principal planta que contém altas concentrações de nitrato é a Tanner grass ou Braquiária do Brejo (Brachiaria radicans). Em função disto, medidas governamentais foram tomadas para impedir o uso, trânsito e multiplicação desta gramínea (Portaria de n° 822, de 11/10/1976)

AlcalóidesPrincipal planta: variadas espécies da leguminosa crotalárias. Batatas verdes contêm o alcalóide solanina. Equinos podem morrer ao ingerirem quantidades de batatas que não afetam ruminantes, mesmo quando os tubérculos não estão aparentemente verdes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, E.; POTT, A. Plantas tóxicas para bovinos. Embrapa Campo Grande,

MS, Dez, n. 44, 2000.

EMBRAPA Algodão. Disponível no site: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br. Acessado em 11/09/2009.

FRAPE, D. Nutrição & alimentação de equinos. 3. ed. São Paulo: Rocca, 2008. 602 p.

MEYER, H. Alimentação de cavalos. 2. ed. São Paulo: Varela, 1995. 303 p.

OLIVEIRA, K. COSTA, C. FAUSTINO, M. G.; GASQUE, V. S.; SANTOS, V. P.; LIMA, M. N.; do NASCIMENTO FILHO, V. F. Valor nutritivo e estudo cinético do trato digestivo de dietas contendo grãos secos ou ensilados de sorgo de baixo e alto tanino para eqüinos. Revista Brasileira de Zootecnia, Belo Horizonte, v. 36, n. 6, p. 1809-1819, 2007.

PUOLI FILHO, J. N. P.; COSTA, M. B. A. C.; SILVEIRA, A. C. Suplementação mineral e mobilização de cálcio nos ossos de equinos em pastagem de Brachiaria humidicola. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 34, n. 5, Maio, 1999.

ROSSETTI, A. C. P. A.; CORSI, M. Plantas tóxicas de interesse pecuário. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 01 – disponível em www.projetocapim.com.br. Projeto CAPIM – Pesquisa e Extensão; Departamento de Zootecnia; ESALQ-USP, Abril, 2009.

Paula Gomes RodriguesMSc. em Produção Animal / equinos (UFLA)

Stella Gomes RodriguesBióloga / UFLA

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