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Caius Brandão 13/05/08 Resumo do Sofista, de Platão O diálogo empreendido pelo Estrangeiro de Eléia e o seu interlocutor, o jovem filósofo Teeteto, busca definir o sofista através de analogias e análises dicotômicas, tendo como objetivo estabelecer sua verdadeira natureza. Ao mesmo tempo, a definição do sofista serve de parâmetro para conceituar o filósofo, explicitando uma radical diferença entre ambos no que concernem os métodos e as motivações de cada um. Nesta obra, ao criticar o sofista como produtor de simulacros da verdade (aparência), Platão atribui ao filósofo a habilidade de produzir discursos verdadeiros (cópia) com base no método dialético. Um discurso falso se refere a algo que seja “contrário” daquilo o que realmente é, ou seja, “são os não-seres, o que a opinião falsa concebe.” Para Platão, esta conclusão serviria de refúgio ao sofista que tentaria refutar sua acusação – que este seria um mero produtor de simulacros – com base na teoria de Parmênides de que o não-ser é impensável e indizível. Desta forma, contrariando a teoria pamenidiana, Platão investe na afirmação do não-ser como alteridade do ser e não necessariamente como o contrário do ser, e assim, demonstrando a possibilidade da existência de falsidade em um discurso. Portanto, o que aparece em primeiro plano neste diálogo de Platão é o debate a cerca do discurso falso em contraposição ao discurso verdadeiro – associado à análise que estabelece o não-ser como alteridade do ser – e a estratégia de relegar a sofística a um plano inferior do conhecimento, em contraste com o saber superior da filosofia.

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Resumo do Sofista, de Platão

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Caius Brandão13/05/08

Resumo do Sofista, de Platão

O diálogo empreendido pelo Estrangeiro de Eléia e o seu interlocutor, o jovem filósofo

Teeteto, busca definir o sofista através de analogias e análises dicotômicas, tendo como

objetivo estabelecer sua verdadeira natureza. Ao mesmo tempo, a definição do sofista serve

de parâmetro para conceituar o filósofo, explicitando uma radical diferença entre ambos no que

concernem os métodos e as motivações de cada um.

Nesta obra, ao criticar o sofista como produtor de simulacros da verdade (aparência),

Platão atribui ao filósofo a habilidade de produzir discursos verdadeiros (cópia) com base no

método dialético.

Um discurso falso se refere a algo que seja “contrário” daquilo o que realmente é, ou

seja, “são os não-seres, o que a opinião falsa concebe.” Para Platão, esta conclusão serviria de

refúgio ao sofista que tentaria refutar sua acusação – que este seria um mero produtor de

simulacros – com base na teoria de Parmênides de que o não-ser é impensável e indizível.

Desta forma, contrariando a teoria pamenidiana, Platão investe na afirmação do não-ser como

alteridade do ser e não necessariamente como o contrário do ser, e assim, demonstrando a

possibilidade da existência de falsidade em um discurso.

Portanto, o que aparece em primeiro plano neste diálogo de Platão é o debate a cerca

do discurso falso em contraposição ao discurso verdadeiro – associado à análise que

estabelece o não-ser como alteridade do ser – e a estratégia de relegar a sofística a um plano

inferior do conhecimento, em contraste com o saber superior da filosofia.

Por outro lado, ao superar as posições contrárias das doutrinas pluralistas e unitárias a

cerca do ser, bem como da irredutibilidade do ser ao movimento (Heráclito) e ao repouso

(Parmênides), Platão afirma que o verdadeiro ser (a idéia, a forma) é, ao mesmo tempo, uno

(em relação às suas cópias finitas no mundo sensível) e múltiplo (em relação à multiciplidade

infinita das formas), propondo assim uma nova teoria do ser, ou seja, a do ser metafísico.

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Fichamento

1) Teodoro, Sócrate, Estrangeiro de Eléia, Teeteto

Teodoro apresenta a Sócrates o Estrangeiro de Eléia, a quem incumbe o desafio de

definir o sofista, o político e o filósofo. Neste diálogo, tendo o jovem filósofo como seu

interlocutor, o Estrangeiro se dedica à definição do sofista.

2) O dialogo entre o Estrangeiro e Teeteto: a definição do sofista

O Estrageiro propõe a Teeteto um método de investigação para se chegar a uma

definição fiel do sofista. Decide também fazer um ensaio deste método com um tema “mais

fácil”, desenvolvendo assim um modelo para se aplicar à investigação do “tema grandioso”, ou

seja, do gênero sofístico.

Reconhecendo a sofística como uma arte, a compara com a arte da pesca por anzol:

3) A aplicação do método na definição dos sofistas

Atribui ao pescador por anzol e ao sofista uma arte em comum, a saber, a arte de

aquisição, definindo a ambos como caçadores.

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4) A primeira definição do sofista: caçador interesseiro de jovens ricos

Com o pretexto de ensinar, o sofista se empenha na caça interesseira aos jovens ricos

para obter vantagens econômicas.

5) A segunda definição do sofista: o comerciante em ciências

De acordo com o Estrangeiro, o sofista “de cidade em cidade vende as ciências por

atacado, trocando-as por dinheiro.” Desta forma, coloca a sofística no plano da arte da

aquisição, ou mais especificamente, “da troca comercial, da importação espiritual, que negocia

discursos e ensinos relativos à virtude”.

6) Terceira e quarta definições do sofista: pequeno comerciante de primeira ou de segunda-

mão

Independentemente de a troca comercial ser uma venda de segunda-mão ou venda

pelo próprio produtor, desde que o comércio seja dos ensinos relativos à virtude, está será

sempre a sofística.

7) Quinta definição do sofista: erístico mercenário

O sofista se utiliza a arte da contestação (erística) para ganhar dinheiro em disputas

privadas.

8) Sexta definição: o sofista, refutador

O Estrangeiro reluta, mas acaba definindo o sofista como um refutador que purifica as

almas das opiniões, na medida em que seriam estas um obstáculo às ciências.

9) Recapitulação das definições

Caçador interesseiro de jovens ricos;

Negociante, por atacado e por varejo, das ciências relativas à alma;

Produtor e vendedor destas mesmas ciências;

Mestre na arte da erística;

Refutador, purificador de almas;

Se referindo ao sofista como quem domina a arte da discussão a propósito de qualquer

assunto, indaga a Teeteto se é possível que um homem saiba tudo.

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10) As artes ilusionistas: a mimética

O sofista produz uma falsa aparência de possuir uma ciência universal. Através do

discurso, produz ficções verbais, dando a impressão de ser verdadeiro tudo o que fala.

O Estrangeiro faz a distinção entre dois aspectos da mimética (arte de produzir

imagens): a arte de copiar (proporções fieis ao que copia) e a arte de produzir simulacros

(proporções infiéis ao que copia). Neste momento, mostra-se indeciso onde incluir o sofista.

Dizer algo sem verdade é afirmar o falso. Como pensar e dizer que o falso é real sem

cair em contradição?

11) O Problema do erro e a questão do não-ser

Um discurso falso se refere a algo que seja “contrário” daquilo o que realmente é, ou

seja, “são os não-seres, o que a opinião falsa concebe.” Para o Estrangeiro, esta conclusão

serviria de refúgio ao sofista que tentaria refutar sua acusação – que este seria um mero

produtor de simulacros – com base na teoria de Parmênides de que o não-ser é impensável e

indizível. Mas a imagem produzida pelo simulacro seria um objeto parecido com o verdadeiro.

Sendo o ser o que há de real, a imagem não poderia ser senão na dimensão do irreal, ou seja,

um “não-ser irreal”. Desta forma, o Estrangeiro afirma: “Na falsidade dos discursos e opiniões

o não-ser de alguma forma é”.

12) Refutação à tese de Parmênides

Para falar de discursos ou opiniões falsas, imagens, cópias, imitações ou simulacros

sem cair em contradição, o Estrangeiro propõe demonstrar que o não-ser, em certo sentido é,

contrariando a tese parmenidiana.

13) As teorias antigas do ser. As doutrinas pluralistas

O Estrangeiro desconsidera as antigas doutrinas pluralistas do ser por terem sido

insuficientemente demonstradas por seus defensores. Apresenta o seguinte raciocínio como

evidência de possíveis equívocos:

Se o frio e o quente igualmente são, o que seria o Todo? O somatório dos dois,

portanto o Todo seria três? Ou seria o Todo o par? Mas isto não seria afirmar que dois é um?

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14) As doutrinas unitárias

Os defensores das doutrinas unitárias afirmam que o Todo é uno. Também afirmam

que o ser é uno, empregando dessa forma dois nomes para o mesmo objeto. Como podemos

admitir que há dois nomes quando se acabou de afirmar que só existe o Uno e nada mais?

O Estrangeiro afirma que tudo o que foi gerado, veio a ser sob forma de um todo.

Desta forma, não podemos admitir nem a existência, tão pouco a própria geração, se o Uno

não for considerado como Todo no número dos seres. O que tiver alguma quantidade, a terá

como um todo. Serão infinitas as dificuldades para quem definir o ser ou como um par ou

como uma unidade.

15) Materialistas e amigos das formas

O Estrangeiro reconhece o debate entre aqueles que afirmam o corpo e a existência como

idênticos (materialistas) e os que defendem que o “ser verdadeiro” são certas formas

inteligíveis e incorpóreas (amigo das formas).

Buscando contestar os materialistas, o Estrangeiro defende que a justiça, a sabedoria e a

virtude são necessariamente seres incorpóreos e que residem na alma que, por sua vez,

também é incorpórea.

16) Uma definição do ser. Mobilistas e estáticos

Mesmo que provisoriamente, o Estrangeiro define o ser como tudo aquilo que possui o

poder para exercer ou sofrer ação.

Para os amigos das formas, o devir (que implica movimento) participa do poder de sofrer e

de exercer ação, mas este poder não poderia ser atribuído ao ser (eles separam o devir do

ser). Por outro lado, para o Estrangeiro, a vida, a alma e o movimento são definitivamente

seres e assim, conclui que não se poder negar o movimento nem o repouso aos seres.

17) A irredutibilidade do ser ao movimento e ao repouso

O Estrangeiro afirma que o ser não é a reunião de repouso e movimento, mas algo distinto

de ambos. Por outro lado, reconhece ser impossível que o ser revele-se separado do repouso

e do movimento. Esta dificuldade é comparável àquela que eles encontraram anteriormente,

quando tentaram relacionar alguma coisa ao não-ser.

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18) O problema da predicação e a comunidade dos gêneros

O Estrangeiro afirma a relação entre o ser, o movimento e o repouso, introduzindo a idéia

de participação (comunidade). Nada pode existir sem que possua comunidade com o ser. Por

outro lado, conclui que nem todas as coisas participam umas das outras, ou seja, têm mútua

comunidade. O repouso e o movimento não possuem comunidade entre si, pois são

essencialmente contrários um ao outro. Por outro lado, o ser se associa aos dois, caso

contrário os mesmos não existiriam.

19) A dialética e o filósofo

O Estrangeiro atribui ao filósofo, por dominar a arte da ciência dialética, a capacidade de

distinguir quais os gêneros que são mutuamente concordes e quais os outros que não podem

suportar-se.

20) Os gêneros supremos e suas relações mútuas

O Estrangeiro elege cinco gêneros como os mais importantes, a saber, o ser, o

movimento, o repouso, o mesmo e o outro. Em seguida, investiga quais destes gêneros são

mutuamente concordes, concluindo uma vez mais que nem todos os gêneros se prestam à

associação mútua.

21) Definição do não-ser como alteridade

De acordo com o Estrangeiro, quando nos referimos ao não-ser, não estamos

necessariamente afirmando algo contrário ao ser, mas simplesmente qualquer coisa que não o

ser. Desta forma, não admite que a negação signifique contrariedade, mas sim algo diferente.

22) Recapitulação da argumentação sobre a realidade do não-ser

Visto que o não-ser possui uma natureza que lhe é própria, neste caso, de ser algo

diferente do ser, da mesma forma podemos afirmar que o belo é belo e o não-grande o não-

grande. “O não-ser é uma unidade integrante do número que constitui a multidão das formas”.

23) Aplicação à questão do erro na opinião e no discurso

Uma vez estabelecida a existência do não-ser, restava agora analisar a natureza do

discurso e da opinião, e determinar se o não-ser pode se associar a eles.

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A ordem dada aos vocábulos é um fator que determina o sentido de um discurso. Nomes

e verbos usados separadamente não formam um discurso, pois não discorreriam sobre nada.

Da combinação entre nomes e verbos, surge o discurso que necessariamente discorre sobre

algo. O discurso verdadeiro discorre sobre algo como ele realmente é, enquanto que o

discurso falso discorre sobre um outro como sendo o mesmo daquilo que realmente é.

24) Retorno à definição sofista

O sofista é, então, um imitador do sábio, visto que ele nada conhece realmente. Através

de simulacros e de discursos falso, ele produz somente ilusões.