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A Alegoria da Caverna publicação - Stoa Social · 514 e 517 do livro VII da República (Platão, ... Resumo: Platão (Sócrates) ... sofistas. De forma geral,

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República: A Alegoria da Caverna, Harry Edmar Schulz

São Carlos, 2011. Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.

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REPÚBLICA

A ALEGORIA DA CAVERNA

Harry Edmar Schulz

Esboço inicial de Novembro de 2011 Texto final de Dezembro de 2011

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Prefácio No contexto das possibilidades de discussão

para o texto da República, de Platão, a Alegoria da Caverna apresenta-se como uma parcela do texto que transmite um bom número de elementos de “educação” e de “evolução” ao leitor, no contexto da realidade de Platão. Estando particularmente interessado nesses temas (atuo na docência, portanto buscando cativar pessoas para o estudo direcionado à resolução de problemas no meio por nós habitado), cri ser interessante seguir os argumentos de Platão, ou seus artifícios literários, na transmissão dos conceitos que pretendia transmitir aos ouvintes ou leitores.

O texto foi lido e resumido, sendo depois

comentado de acordo com a percepção pessoal e direcionado em primeira instância pelo texto de Dixsaut (200?).

A alegoria da caverna é descrita entre os itens

514 e 517 do livro VII da República (Platão, edição de 2009), sendo esta localização bastante evidente ao leitor. Segundo Dixsaut (200?), os itens 517 e 518 trazem adicionalmente a interpretação da alegoria, enquanto que os itens 519 a 521 apresentam as suas conclusões. É essa interpretação de estrutura que foi inicialmente acompanha-da ao efetuar a leitura e buscar a sua compreensão.

O diálogo é apresentado entre apenas dois

interlocutores. Mas a pessoa a ser realmente convencida está ausente, ou está apenas atuando como observadora. Nesse caso, a terceira pessoa é o leitor. Este diálogo coloca um personagem apresentando uma imagem idealizada de

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uma situação, que o leitor, como observador, naturalmente colocaria em dúvida. Entretanto, o segundo personagem do diálogo induz as reações do leitor, de forma que a alegoria é apresentada até o final. Apenas atingindo o final é que se pode extrair um sentido desta alegoria. Os passos intermediários, se questionados, destroem-na, bem como impedem a complementação da mensagem.

Para efetuar contato com o presente autor, por favor utilizar [email protected], ou [email protected].

Harry Edmar Schulz São Carlos, 24 de Dezembro de 2011. Projeto: Humanização como ferramenta de aumento de interesse nas exatas.

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Sumário

1 – Livro VII .......................................................5

1.1 – Item 514 a-c...............................................5

1.2 – Item 515 a-e...............................................6

1.3 – Item 516 a-e.............................................11

1.4 – Item 517 a-e.............................................13

1.5 – Item 518 a-e.............................................15

1.6 – Item 519 a-e.............................................16

1.7 – Item 520 a-e.............................................19

1.8 – Item 521 a-e.............................................19

2 – Posfácio........................................................21

3 –- Bibliografia Consultada............................23

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Objeto de Estudo: A República, Livro VII,

Texto: A Alegoria da Caverna

1 – Livro VII

1.1 – Item 514 a-c

Resumo: Platão (Sócrates) propõe uma análise relativa à educação admitindo uma situação com riqueza de detalhes, na qual homens habitam uma caverna aberta à luz, porém sem ver esta luz. Os homens estão em seu interior, algemados de tal forma que permanecem no mesmo lugar olhando para frente. Um fogo distante e elevado os ilumina por trás. A meio-caminho entre fogo e homens, em um caminho ascendente, há um muro. Glauco, o interlocutor de Sócrates, diz que pode “ver” essa imagem.

Comentário: A proposta interessante é a análise relativa à educação. Na seqüência, há a primeira descrição do cenário da alegoria. Os homens algemados são, portanto, mantidos em um ambiente sem ver a luz. Lebrun (200?, pg. 406) diz que “devemos nos colocar no lugar do prisioneiro acorrentado do começo, no lugar daquele que não adivinha nada do que se passa por trás de suas costas...”. Ou seja, a caverna é um ambiente idealizado, no qual nós podemos estar imersos. Esta possibilidade de interação com o texto de Platão também permite que questionemos, o que permite tornar o texto interativo entre leitor e autor uma exposição de dúvidas.

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1.2 – Item 515 a-e Resumo: Platão (Sócrates) descreve outros

homens que transportam objetos que ultrapassam a altura do muro e que conversam entre si. Glauco, o interlocutor, considera estranhos tanto a situação como os prisioneiros, a que Sócrates responde dizendo que são semelhantes a nós, sugerindo então que os prisioneiros não vêem mais que sombras, de si, dos outros e dos objetos transportados, com o que Glauco concorda. Sócrates sugere que, em conversando, nomeariam as sombras como objetos reais, bem como, considerando ecos na caverna, considerariam que os sons seriam produzidos pelas sombras, com o que Glauco novamente concorda. Sócrates sugere, então, que as sombras seriam tomadas como realidade, e mais uma vez Glauco concorda. Nessa altura Sócrates pergunta o que ocorreria se eles fossem soltos. Sugere que em um sendo solto, endireitado, forçado a voltar-se, andar e olhar a luz, sentiria dor e não se fixaria aos objetos dos quais antes só via sombras. Em sendo informado que estaria mais próximo da realidade agora, e posto diante dos objetos, suporia que as sombras eram mais reais do que esses objetos. Como sempre, Glauco concorda. Mais uma vez Sócrates comenta que a luz magoaria seus olhos e ele julgaria mais nítidos os objetos para os quais podia olhar antes, com a aquiescência de Glauco. Sócrates então sugere o uso da força para fazê-lo subir o caminho rude até a luz do Sol, o que o faria sofrer com a subida e, com a claridade do Sol, nada veria daquilo que é chamado de “verdadeiros objetos”. Na sua característica, Glauco concorda.

Comentário: A alegoria é construída no contexto de um diálogo, mas a sua estrutura realmente só é

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colocada em questão com a segunda intervenção de Glauco, ou seja, ao afirmar ser este um estranho quadro, contendo estranhos prisioneiros. Assim, é antes um monólogo, onde Platão apenas usa a aprovação de Glauco para dar continuidade ao desenvolvimento de Sócrates. O leitor é induzido a aceitar a aceitação de Glauco. Sem dúvida, a alegoria, como está sendo construída nesses dois itens, apenas poderá ter sentido considerando sua visão completa. Ou seja, é preciso que Sócrates termine sem interrupção. Caso contrário, o questionamento de detalhes acerca das situações idealizadas sem dúvida faria com que a alegoria caísse em descrédito. Por exemplo, se ao comentário de Glauco, acerca da estranheza da situação geral, fosse acrescido: Como eles foram levados até lá? Quem os acorrentou? Quem trocou suas correntes enquanto cresciam? Não podendo se mover, como respondiam às necessidades fisiológicas? Essas são algumas situações que imporiam uma interação com terceiros e com o meio, que forçosamente levariam ao reconhecimento de uma realidade diferente da das sombras e dos sons. Outras perguntas podem ser relacionadas com os motivos dos outros homens passarem atrás do muro (porque?). Portanto, o interlocutor DEVE confirmar a alegoria, para que ela possa ser apresentada de forma completa, e é esse o papel de Glauco. Note-se que sem a presença do interlocutor, que se convence pelo leitor, o texto perderia o aspecto “de aceitação” mais imediato, necessário para completar a imagem. Embora não seja expresso dessa forma, Dixsaut (200?, pg 111) também enfatiza que a “interpretação deve ser feita sobre a totalidade, porque só a totalidade dá sentido a cada elemento”.

Dixsaut (200?) menciona que “todas as metáforas da caverna designam o ato de ver, de ser

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deslumbrado, os objetos vistos, as sombras, os reflexos, etc., que devem ser traduzidos e compreendidos como na sua função de designar operações e objetos de conhecimento”. Entende-se que isto deve ser visto dessa forma, após a conclusão do pensamento. A caverna não existe e, portanto, seus elementos são idealizados para um efeito final. Entretanto, para que possa ser visto assim, é preciso que sejamos levados ao final da leitura pela aquiescência do interlocutor, o que mostra que há um artifício literário. Dixsaut (200?, pg 114) expõe que a situação mostra que o que mantém os prisioneiros é a sua própria ignorância, uma doença imposta a nós desde a infância, sendo um estado da comunidade.

Esta é a interpretação a que desembocamos seguindo as aquiescências de Glauco. Mas, se formos interagir com o texto, não precisaríamos seguir estas aquiescências. No contexto apresentado, a criança é ignorante, e seu entorno é composto de pessoas que se enganam. E isto não é percebido nem pela criança, nem pelo seu entorno. A pergunta que se pode fazer é: sendo a razão aquilo que diferencia o homem dos outros animais, porque ele não faria uso comum desta razão? Estando esta razão nele, porque ela não se manifestaria naturalmente? Platão sugere o uso de força para tirar o prisioneiro de seu estado “patológico de ilusão” (Dixsaut, 200?, pg 114). Mas porque o uso da força para educar, se a razão já habita o ser humano? Porque esse impulso para o conhecimento tem que ser doloroso? Uma pergunta adicional, interativa, seria: pode-se criar uma alegoria na qual esse impulso nasça do ser humano? Uma alegoria onde a habilidade de perguntar as causas decorre da condição racional? Parece-me que sim, ou seja, de que não há a necessidade do mestre que indica o caminho. Ainda que aquele que estudou os

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intérpretes de Platão que defendem o impulso externo esteja convencido do caminho difícil para o conhecimento, o próprio exercício da razão (na atualidade) deve permitir que se mantenha resguardado isto como apenas uma das possibilidades. Levado ao infinito, tendo que haver um mestre, quem seria o primeiro mestre?

Platão menciona os manipuladores de imagens como “fazedores de sortilégios”, que sabem da condição dos prisioneiros. Dixsaut (200?, pg 114-115) menciona que há muitas interpretações para isto, citando outra obra de Platão (Sofista) na qual o mesmo termo é usado para os sofistas. De forma geral, os prisioneiros são descritos como percebendo apenas aparências, e que “a educação deve arrancar a alma” da “perversão radical do conhecimento” (pg. 116). Assim, há os que conhecem e são sofistas, e há os que conhecem e são educadores. Na descrição de Dixsaut (200?), seguindo Platão, há um choque que arranca o prisioneiro de suas crenças anteriores. Entendo que este pode ser um dos meios para iniciar o caminho do conhecimento. Entretanto não vejo necessariamente como o único meio. Adicionalmente, a aquisição de conhecimento é associada a um sofrimento, a uma pena, mas parece que esse sofrimento e pena também não são ingredientes imprescindíveis.

É importante frisar que não se está, num arroubo de arrogância, imaginando que a descrição de Platão para a aquisição de conhecimento seja a única que tenha sido considerada desde a “República”. Explico que, como o meu interesse pessoal se localiza na educação propriamente dita, a busca do entendimento dos argumentos de Platão naturalmente leva ao seu questionamento, o que faz considerar a possibilidade de outras descrições neste mesmo estudo. Os artifícios

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literários de Platão (aquiescência repetitiva do interlocutor Glauco) nos levam ao final de sua construção, aceitando por partes o que talvez não aceitássemos em conjunto, mas também mostram que sua proposta é possível, em um contexto de ignorância de um segmento majoritário da sociedade, na qual há, entretanto, pessoas não ignorantes que possam educá-la (ou enganá-la). Este aspecto positivo da alegoria não está sendo rejeitado, apenas complementa-do enquanto motivador de questionamentos.

Embora Platão tenha enfatizado o aspecto daquele que se opõe a receber o conhecimento (ele é peno-so, e há a tendência a não querê-lo, devido ao esforço), nessa sociedade ignorante poderiam também haver aqueles que não se oporiam à educação, e a aceitariam com prazer, portanto sem penar. Adicionalmente, saindo do contexto da ignorância primal, volta-se à possibilidade de haver uma predisposição primal ao conhecimento, decorrente da razão associada ao ser humano. Nesse caso, o ser humano tende a evoluir no conhecimento, por ser de sua natureza (e não através de impulsos externos de terceiros). Platão, na apresentação da primeira possibilidade, está conduzindo o seu leitor para que aceite a sua proposta de educação e de participação do educando na sociedade.

Colocando-nos como observadores da história (portanto fora do contexto de Platão) e considerando a evolução do conhecimento que temos experimentado ao longo dos séculos, onde as propostas de mudanças se fundamentam na observação, experiência, e exercício do raciocínio para encontrar melhores condições de sucesso, a segunda possibilidade sem dúvida é algo a considerar em um estudo mais amplo. A humanidade tem avançado, e, salvo melhor juízo, parece que este avanço se deve mais ao conjunto que pensa, erra e se corrige, do que a um mestre

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que mostra o caminho salvador. Mas essa é uma visão do leitor que perscruta o texto e o entorno conceitual que ele gera. Platão, de seu ponto de vista, coloca o educador em cena, valorizando-o como o motivador do exercício da razão no aluno, no contexto de sua visão de sociedade.

1.3 – Item 516 a-e Resumo: Platão (Sócrates) descreve o passo a

passo de habituar-se à luz, para enxergar o mundo superior (sombras, reflexos das imagens dos homens e objetos, os próprios objetos, o que há no céu e o céu à noite). Glauco concorda. Finalmente, Sócrates diz que o homem poderia contemplar o Sol, sempre com a aquiescência de Glauco. Daí Sócrates diz que esse homem compreenderia que o Sol é o responsável por aquilo que ele via e vivia, sob a aprovação de Glauco. A partir desse ponto, Sócrates muda a seqüência de “descobertas” do homem, para sugerir que, ao lembrar das origens, ficaria feliz com o que sabe agora, com o que Glauco está de acordo. Então Sócrates descreve alguns “jogos de honrarias e poder” dos quais esse homem se lembraria e pergunta se ele preferiria sofrer tudo, a viver da maneira anterior. Nesse caso, Glauco responde que o homem preferiria sofrer tudo, a viver da maneira anterior, numa repetição da pergunta, agora como afirmação. Na seqüência, Sócrates sugere a volta do homem à caverna, e que ele ficaria cego ao sair de súbito da luz do Sol, com o que Glauco concorda.

Comentário: A seqüência adotada faz com que o homem se habitue com a nova situação paulatinamente, porque há o desconforto da luz. Em habituando-se, ele pode conhecer os objetos de outra maneira, o que seria o contraponto da sombra que via antes. Essa parte da

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alegoria mostra que se pode ver o mesmo mundo de outra forma, ou entendê-lo de outra forma. Dixsaut (200?) também enfatiza este ponto, colocando que “É por isso que os objetos fabricados ficam no interior da caverna, enquanto os ‘reflexos’ percebidos no exterior são o meio de acender às realidades inteligíveis. Efetivamente, não há dois mundos, mas um mesmo mundo: o que faz a diferença não são os objetos em si mesmos, mas antes as maneiras como os conhecemos”.

Lebrun (200?, pg. 407) diz, daquele que sai da caverna, que a “luz o inunda quando não há mais nenhuma confusão para ele entre aparência e realidade.” Embora talvez se possa entender a afirmação de Lebrun, é preciso lembrar que não está clara qual é a busca que está sendo descrita. A realidade, por mais que tenha surgido de um exercício de busca de entendimento, ainda pode ser uma crença.

A comparação entre as duas formas de entender o mundo (pelo prisioneiro que sai da caverna) aparece na lembrança de suas origens, na caverna, onde outros valores estavam em jogo nos diálogos entre seus iguais. No contexto da alegoria, assim como construída por Platão, esse homem prefere viver como está agora, porque o entendimento acerca dos objetos está mais próximo da “realidade”. No entanto, Sócrates faz com que o homem retorne à caverna. Nesse caso, não há um argumento imediato que justifique esta volta.

O texto de Platão, neste item, não deixa claro porque teria que haver uma volta. De fato, nada motiva esta volta e ela segue a artificialidade de todo o cenário (enquanto alegoria, bem entendido). A motivação da volta apenas é entendida no item 519, quando Sócrates justifica a

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necessidade da presença daqueles que mais sabem junto à sociedade (cidade). Saindo do contexto da metáfora, mas considerando que se trata de uma pessoa em processo de aprendizado e adquirindo conhecimentos, e que atinge um grau de entendimento acerca das causas que agem no mundo, a pergunta parece ser: esta pessoa teria que abandonar seus conhecimentos para interagir com aqueles que sabem menos?

1.4 – Item 517 a-e Resumo: Platão (Sócrates) sugere que, no

retorno, o julgamento desse homem não seria levado a sério pelos iguais, chegando mesmo a matar aquele que tentasse soltá-los e levá-los para fora da caverna, com o que Glauco concorda. Então Sócrates compara este trajeto de saída da caverna à ascensão da alma ao mundo inteligível. Comenta que a idéia do Bem é vista no limite do cognoscível, quando se compreende que ela é a causa de tudo que é justo e belo: causa da luz no visível e causa da verdade e inteligência no inteligível, novamente recebendo a aprovação de Glauco. Sócrates sugere então que aqueles que chegaram neste ponto não desejam voltar dele, posição naturalmente aprovada por Glauco. Na seqüência, Sócrates comenta que quem volta dessas alturas, estará ofuscado, e parecerá ridículo nas suas contendas com aqueles que não tiveram a sua experiência. Glauco também concorda com isso.l

Comentário: Percebe-se o final da alegoria propriamente dita. A argumentação permite traçar paralelos com pessoas que ascenderam a um estágio de conhecimen-to que os diferencia dos demais, e que isto pode implicar em dificuldades no trato com os semelhantes, uma vez que

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há o desejo de manter esse nível atingido. Segundo Lebrun (200?, pg. 408), “a formação que lhe é imposta não consiste simplesmente em mostrar-lhe novas paisagens, em fazer que visite um domínio desconhecido. O importante para ele é que o lugar em que anteriormente vivia pareça-lhe doravante completamente outro.” A interação seria algo difícil, porque o conhecimento não seria entendido pelos que não seguiram os passos do aprendizado (“arrisca-se muito a ser ridículo”, como expresso por Dixsaut, 200?, pg. 123). O conhecimento atingido, portanto, não se mostra bom para o convício com seus iguais.

Subentende-se que o desejo de quem aprende é, após atingir um certo grau de conhecimento, apenas aprender. Ao leitor causa certa estranheza que o vislumbre do Bem, da causa de todo o justo, levaria a um desejo de permanência inoperante. Eventualmente a condição estática é considerada parte deste Bem (imutabilidade, permanên-cia, etc.), o que poderia levar à estaticidade. Entretanto, pode-se sugerir que a razão presente no ser humano questiona, e este questionamento sempre lança dúvida sobre a “verdade última”: estou vendo a verdade, ou estou sendo iludido por uma crença na verdade? Estou na presença do Bem, ou do que acredito ser o Bem? Ou, de forma mais prática: Ao entender Sócrates, devo acreditar em Sócrates ou devo buscar outros caminhos que possam alternativamente me levar ao conhecimento?

Sócrates é apresentado apontando um vislum-bre para a idéia do Bem, apoiado por Glauco, mas não definindo este Bem. A aprovação de Glauco nos empana o questionamento e nos remete às outras considerações de Platão. Mas, evidentemente, o desconforto de não haver uma definição torna o discurso/monólogo carregado de subjetividade. Diz Dixsaut (200?, pg. 124) “Mas ainda não

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sabemos nada acerca do Bem em si mesmo, a não ser que é ele, na sua realidade, que temos que procurar, e que para ele se deve orientar toda a educação.”

Para alguém a quem a educação é o motivador desta leitura, a ausência desta definição mantém uma lacuna acerca do que se está querendo com a metodologia de crescimento descrita (metodologia, sim, porque há um educador que “arranca” o educando da ignorância, ou seja, o método é intrusivo).

1.5 – Item 518 a-e

Resumo: Platão (Sócrates) então descreve os dois tipos de “ofuscamento”, o primeiro quando se encontra uma alma que não pode ver, não rindo-se dela, mas observando se não está apenas momentaneamente ofuscada, porque sua natureza é mais iluminada. O segundo, quando se observa que essa alma vem de uma região mais ignorante, estando ofuscada de fato pelos brilhos mais fortes de agora. No primeiro caso, a alma seria felicitada, e no segundo caso, seria de ter pena dela. Em todos os casos, não se aplica zombaria, mas seria menos risível o segundo caso do que o primeiro. Glauco considera as palavras de Sócrates exatas. Daí Sócrates diz que, portanto, a educação parece ter definições inexatas, e critica aqueles que dizem que introduzem a ciência em uma alma em que ela não existe, como que implantando olhos na alma, novamente recebendo a aprovação de Glauco. Sócrates diz que este olho, esta faculdade, já existe na alma, que aprende através dele (dela) até poder “suportar a contemplação do Ser e da parte mais brilhante do Ser. A isso chamamos de Bem”, o que Glauco aprova. A educação, para Sócrates, seria então dar meios a este órgão

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de visão para olhar para onde deve, o que Glauco também aprova. Sócrates então diz que a faculdade de pensar parece ter caráter mais divino e que pode ser manuseada positivamente ou negativamente, havendo os perversos ou espertos, que se põe a serviço do mal, coincidindo com a opinião de Glauco.

Comentário: Uma vez que a alma percebe a variação da luz em ambos os sentidos, há algo na alma que percebe e aprende. Essa posição havia sido mencionada nos comentários precedentes, quando a razão foi considerada inerente ao ser humano. Platão também a considera inerente, como um olho que deve ser educado para olhar o que deve, e não algo novo a ser implantado na alma. Mais uma vez, interativamente, menciona-se que ensinar de forma compulsória é uma maneira de ensinar (aquela que Platão descreve), mas que podem haver outras, e pode ainda haver a evolução própria do ser que é dotado de razão.

O parágrafo termina com a conotação negativa de que se pode praticar o mal intensamente, o que fazem os perversos e espertos. Na leitura e no exercício do pensamento ao longo da leitura, é-se induzido a pensar que a educação deve usar a capacidade inata da alma, a faculdade de pensar, para dirigi-la corretamente. Isto entretanto, não está expresso explicitamente neste item, mas é construído imediatamente na seqüência.

1.6 – Item 519 a-e

Resumo: Platão (Sócrates) sugere que, em se operando sobre a alma desde a sua infância, fazendo com

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que ela se voltasse para a verdade, ela também poderia ver a natureza perversa dos homens que assim são, sendo seguido por Glauco. Daí Sócrates sugere que nem os que não foram educados, nem os que assim foram a vida toda, estão aptos a administrar. Os primeiros porque não podem, os segundos porque não querem, novamente sendo seguido por Glauco. Sócrates, portanto, diz que os mais dotados tem que ascender, mas não se pode deixar (há uma pergunta de Glauco: o quê?) que permaneçam lá. Eles devem voltar aos prisioneiros. Glauco, então, se surpreende com isso, perguntando a Sócrates porque os que chegaram ao conhecimento devem levar uma vida inferior? Sócrates responde: pelo bem comum. Não interessa o beneficiamen-to de uma classe com esse conhecimento, mas de toda a cidade, sugerindo que Glauco tinha se esquecido disso, ao que Glauco responde positivamente.

Comentário: O aspecto educativo, desde a infância, é evidenciado. Esse aspecto está totalmente absorvido pela civilização moderna (não necessariamente como resultado apenas das propostas de Platão, porque China, Índia, por exemplo, também irradiavam sua cultura e podem ter influenciado na proposta de transmissão de conhecimentos entre gerações). Mas surge um contraponto acerca do objetivo desta educação. Segundo este item, uma alma pode ser educada e estar capacitada a perceber as limitações de outra. Colocando essas almas no contexto da administração comum, nem aquela limitada, nem aquela educada, estão “naturalmente” vocacionadas, e, nesse caso, a atenção recai sobre a alma educada, que não teria interesse em conviver com as almas limitadas. Portanto, não basta educar, mas também manter esta alma “a serviço” de todos, da cidade. Há um elemento coercitivo, ao que parece, para que o educado “se submeta a gover-

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nar.” Aqui Sócrates permite vislumbrar a aquisição do conhecimento como um estágio de um processo que apenas se conclui quando esse conhecimento é colocado a serviço dos outros. Essa posição seria uma posição “nobre” para a Filosofia, ou seja, aquela que visa uma utilidade voltada a uma sociedade (cidade). Com essa afirmação, Platão justifica, finamente, a necessidade da volta daquele que adquiriu conhecimento para o interior da caverna, ou a sua “descida” de um patamar mais elevado (acima dos demais).

Novamente, interagindo com o texto, pode-se questionar se a posição de Platão manifesta uma verdade geral, ou seja, aquele que detém conhecimento naturalmen-te não almeja o poder. Como mencionado anteriormente, esta “permanência” em um estágio superior do conheci-mento parece pressupor que a imutabilidade esteja aceita como presente no Bem maior. Nesse caso, a tendência à inação atingiria aquele que não precisa mais lidar com aqueles que não vislumbraram esse Bem maior. Mas isso é uma alegoria, é uma estória elaborada para expor especificamente este ponto de vista, justificando a partir daí a coersão para atingir o bem da cidade (sociedade).

Mais uma vez considero que há esta possibili-dade. Mas também considero que há aqueles que adquirem conhecimento para governar, que se alegram em aplicar conhecimentos no ato de administrar, e que podem querer viver junto aos seus no crescimento que cada um experimenta e que contribui no crescimento global.

Em suma, o sofrimento existe para alguns, mas pode não ser um elemento imprescindível na formação do filósofo.

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1.7 – Item 520 a-e

Resumo: Platão (Sócrates) enfatiza que os melhor educados devem envolver-se com os comuns, “habituar-se a observar as trevas”, porque foi para isso que foram educados e são aqueles que poderão enxergar melhor. Ainda mais, Sócrates diz que se o governo for feito por aqueles que menos o querem, a cidade será a melhor e mais pacificamente administrada, com o que Glauco concorda. À pergunta de Sócrates, de que os educandos ficariam convencidos com esses argumentos, Glauco diz que não, que se trata de uma imposição justa a pessoas justas, e que eles iriam ao poder constrangidos.

Comentário: Este item é uma repetição do item anterior, acrescentando o adjetivo de “justos” àqueles que foram educados. Como já foi comentado, o conhecimento, a educação, atua como algo contra a busca do poder. A base apresentada para aceitar isso como uma verdade não me parece suficientemente convincente (o vislumbre do Bem, o desejo de ficar em um estágio superior, ou expressões semelhantes). Apenas esse conhecimento de uma “realidade mais próxima da verdade” agiria no sentido de afastar do poder? Essa proximidade da verdade convidaria à inação?

1.8 – Item 521 a-e Resumo: Platão (Sócrates) diz que a melhor

vida dos que devem governar, é governar. E esses devem abundar em sensatez e boa vida. Os gananciosos apenas

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lutarão pelo poder para amealhar riquezas, e todos perderão, com o que Glauco aquiesce. Sócrates segue, neste item, a comentar que o verdadeiro filósofo despreza o poder político, e então passa a apresentar outra pergunta e buscar suas respostas.

Comentário: Nessa item termina a alusão direta à caverna, mas como a seqüência do capítulo VII é montado a partir desta alegoria, provavelmente a sua presença delineou os argumentos de Platão, de modo que sua influência provavelmente é mais extensa do que os itens lidos.

Como comentário final, concordo com a afirmação de que o melhor àqueles que devem governar, é governar. Essa afirmação é aplicável às demais atividades humanas: o melhor àqueles que devem curar, é curar. O melhor àqueles que devem educar, é educar, e assim por diante.

Entende-se, evidentemente, que, no contexto da alegoria, esses que devem governar precisam ser coagidos a tal, quando atingem um certo nível de conhecimento. Independente do caso considerado e descrito por Sócrates, a aplicação da educação como um direcionamento da capacidade inata do ser humano é um conceito merecedor de defesa.

Friso que a leitura e re-leitura de Platão está sendo continuada, e que os conceitos apreendidos serão melhorados ou modificados à medida que este ato de ler conduzir à interpretação que melhor condiz com a permanente interação entre leitor e autor. Em suma, estou em processo de aprendizado.

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2 – Posfácio

Apesar de mencionar que o poder político não é desejado por aquele que atinge um determinado nível de conhecimento, Platão defende a coersão para que o que mais sabe passe a governar. Nesse caso, o processo de aprendizado, no qual há uma ação externa, efetuada prova-velmente por um mestre, é um ato político. Em outras pala-vras, é um ato que visa o bem comum. Educar um indiví-duo é ajudar todos, porque o que aprende passa a ter acesso ao conhecimento e a governar, ainda que compulsoriamen-te.

A figura 1 mostra a caverna e o ambiente de

luz. Metaforicamente, a ignorância primal e o acesso ao conhecimento, respectivamente. A saída é o esforço de educar. O retorno acarreta a imposição para governar.

Vista desta forma, ou seja, como um ato de

educar compulsoriamente para aumentar o “capital de conhecimento” do futuro governante, a educação assume o status de avalizadora da sobrevivência da comunidade. Assim, na visão de Platão, é um ato político e ético, destinado a manter a sociedade.

Apesar de ser possível vislumbrar outras formas

de aprendizado (educação natural por ação da razão, por exemplo), e de direcionamento para o governo (como resultado da vocação, por exemplo), há simpatia à idéia de educar para que o governante não seja ignorante, não seja uma pessoa impregnada de desejos imediatos, sujeita à corrupção para satisfazer esses desejos. A “ignorância no poder” é, em suma, o que desponta como aquilo que se

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deve evitar, nesta leitura da Alegoria da Caverna. Esta é uma postura que pode ser considerada desejável também na atualidade, onde decisões fundamentadas nos apetites pessoais podem prejudicar, atualmente, toda a possibilida-de de sustentabilidade de Estados inteiros e, em conside-rando o meio-ambiente, da vida como um todo.

Figura 1: O modelo de Platão para a educação e o retorno do educando

para governar. Como instrumento de transmissão de idéias, uma

metáfora, ou uma alegoria, pode ser útil. Entretanto, a comunicação, como mostra o texto da Alegoria da Caverna, provavelmente deverá ser artificiosa. Isto porque é preciso que se efetue uma leitura da alegoria até o final, sem suscitar perguntas intermediárias. No texto lido, este artifício foi a inserção de um segundo interlocutor que apenas aprova as proposições do primeiro interlocutor.

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Talvez o ensino em ciências exatas encontre dificuldades com esta combinação artificiosa, uma vez que as quantidades não podem ser tão facilmente manipuladas como as idéias gerais e cenários artificiais apresentados na alegoria. A idéia é essencialmente falsa, mas a mensagem é politicamente forte. Essa combinação é menos provável nas ciências exatas.

Harry Edmar Schulz São Carlos, São Paulo, Dezembro de 2011

3 –- Bibliografia Consultada

Dixsaut, M. (200?)*, Platão: República (livros VI e VII), Trad. Rocha, A.M., Didáctica Editora.

Lebrun, G. (200?)*, A filosofia e sua história (capítulo: sombra e luz em Platão), COSACNAIFY.

Platão, (2009) A República, 7ª reimpressão, Trad. Nassetti, P., Editora Martin Claret Ltda. São Paulo.

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(*) – Os texos foram lidos nas cópias xerográficas obtidas na pasta da disciplina de Filosofia Antiga 1, em 2011, no curso de Filosofia da UFSCar. Quando o rol de referências foi montado, não foi encontrado o ano da publicação, nem a cidade da editora. Isto só foi percebido momentos antes da impressão final. Visa-se sanar esta dificuldade em breve.

Imagem da capa: A alegoria da caverna já foi muito discutida na bibliografia da área. Por se tratar de uma metáfora, de uma pequena “fábula”, tem sido exposta com diferentes ênfases, com base em sua mensagem. Mas a mensagem é mantida. Assim, muitas cabeças sentiram o prazer de ler e entender esta “fábula”, sendo esta multiplicidade de cabeças representada na capa, todas elas reproduzindo a idéia inicial (representado pela repetição da mesma forma da cabeça)