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Da esquerda para a direita, Oded Grajew, Helio Mattar, Guilherme de Almeida e Cecília Ugaz “P ara mudar o País, temos que agir onde está o poder. E o poder está no mundo empre- sarial”. Foi com esta frase que Oded Grajew, pre- sidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, abriu a plenária que marcou o início da Conferência Internacional 2006 — Empresas e Responsabilidade Social e antecipou o lançamen- to do Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção (ver pág. 15). “Da agenda empresarial dependem muito as mudanças que queremos fazer, por isso a importância deste enfoque de responsabilidade social. Esta Conferência vai ofe- recer a muitos que estão aqui a oportunidade de serem socialmente responsáveis”. E completou: “somos aquilo que fazemos, não aquilo que fala- mos”, instigando os participantes que lotavam o auditório para assistir a Plenária especialde abertura. A mensagem foi reforçada por Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, que afirmou que o ceticismo de importantes formadores de opinião, constatado no estudo a cerca da cobertura jorna- lística sobre RSE, lançado na Conferência, passa uma mensagem clara: “O que vimos fazendo durante esses oito anos não foi suficiente para construir confiança no setor empresarial, a fim de que ele possa desempenhar o seu importante papel na construção de uma sociedade sustentá- vel. Essa Conferência começa sob esse desafio”. E completou: “O movimento em direção ao desen- volvimento sustentável não será sem dor. Mas o importante não são as contradições e, sim, como nos preparamos para enfrentá-las”. A mesma linha de argumentação foi defendi- da por Guilherme de Almeida, coordenador da Unidade de Direitos Humanos do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): “Não estamos mais no tempo de construir proto- colos, mas num momento de ação coletiva, e a ONU vem buscando uma aproximação cada vez maior do setor privado, de forma a reforçar a capacidade empreendedora no sentido da susten- tabilidade”. Ainda segundo Guilherme, o tema da sustentabilidade une todas as correntes, pois “não há divergências sobre a necessidade de se atingir essa meta, o que de fato deve ser feito, sob pena de se provocar um colapso do sistema social. O que está em discussão é a urgência em se alcan- çar esse objetivo”, disse. A questão do consumo responsável foi intro- duzida por Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, que também compôs a mesa. Para ele, a percepção de interde- pendência é o grande desafio: “Se o principal motivo da expansão da fronteira agrícola da Amazônia é a pecuária, cada vez que comemos um bife estamos colaborando para o aquecimen- to global”. Helio ressaltou a importância de que a produção e o consumo sejam colocados no seu devido lugar, como instrumentos de bem-estar e não um fim em si mesmo: “43% das pessoas acre- ditam que aquilo que consomem define sua iden- tidade, o que é uma completa inversão”. A Plenária contou também com a palestra de Cecilia Ugaz, consultora sênior de política no Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, que apresentou um panorama sobre o direito de acesso universal aos serviços sanitários e abastecimentos de água, em especial, pelas populações de baixa renda nos países em desenvolvimento. “Perto de um bilhão de seres humanos não têm acesso à água para consumo e outros dois bilhões ao saneamento”. Para Cecilia, o tema central dessa discussão deve ser a regula- mentação e a responsabilidade social: “Água é um bem inelástico e os pobres já pagam um preço muito alto pelo acesso a ele. Por outro lado, é um negócio arriscado, com tarifas reguladas, que exi- ge um alto investimento inicial e só dá retorno no longo prazo”. Contradições amazônicas Página 4 Plenária discute sociedade sustentável Ricardo Young, Instituto Ethos ISO 26000 Página 8 Plenária Instituto Ethos Página 15 RSE na Mídia e Prêmio Ethos de Jornalismo Páginas 16 e 17 PLENÁRIA DE ABERTURA PLENÁRIA DE ABERTURA PUBLICAÇÃO ESPECIAL DO INSTITUTO ETHOS SOBRE A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL 2006 — EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, REALIZADA ENTRE OS DIAS 19 E 22 DE JUNHO DE 2006, NO HOTEL TRANSAMÉRICA, SÃO PAULO/SP.AGOSTO, 2006. 19 de junho de 2006

PLENÁRIA DE ABERTURA Plenária discute … segundo dia da Conferência Internacional 2006 – Empresas e Responsa-bilidade Social que a solução para o problema mundial da sobrevivência

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Da esquerda para a direita, Oded Grajew, Helio Mattar, Guilherme de Almeida e Cecília Ugaz

“Para mudar o País, temos que agir onde estáo poder. E o poder está no mundo empre-

sarial”. Foi com esta frase que Oded Grajew, pre-sidente do Conselho Deliberativo do InstitutoEthos, abriu a plenária que marcou o início daConferência Internacional 2006 — Empresas eResponsabilidade Social e antecipou o lançamen-to do Pacto Empresarial pela Integridade e contraa Corrupção (ver pág. 15). “Da agenda empresarialdependem muito as mudanças que queremosfazer, por isso a importância deste enfoque deresponsabilidade social. Esta Conferência vai ofe-recer a muitos que estão aqui a oportunidade deserem socialmente responsáveis”. E completou: “somos aquilo que fazemos, não aquilo que fala-mos”, instigando os participantes que lotavam oauditório para assistir a Plenária especialde abertura.

A mensagem foi reforçada por Ricardo Young,presidente do Instituto Ethos, que afirmou que oceticismo de importantes formadores de opinião,constatado no estudo a cerca da cobertura jorna-lística sobre RSE, lançado na Conferência, passauma mensagem clara: “O que vimos fazendo

durante esses oito anos não foi suficiente paraconstruir confiança no setor empresarial, a fim deque ele possa desempenhar o seu importantepapel na construção de uma sociedade sustentá-vel. Essa Conferência começa sob esse desafio”. Ecompletou: “O movimento em direção ao desen-volvimento sustentável não será sem dor. Mas oimportante não são as contradições e, sim, comonos preparamos para enfrentá-las”.

A mesma linha de argumentação foi defendi-da por Guilherme de Almeida, coordenador daUnidade de Direitos Humanos do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD):“Não estamos mais no tempo de construir proto-colos, mas num momento de ação coletiva, e aONU vem buscando uma aproximação cada vezmaior do setor privado, de forma a reforçar acapacidade empreendedora no sentido da susten-tabilidade”. Ainda segundo Guilherme, o tema dasustentabilidade une todas as correntes, pois “nãohá divergências sobre a necessidade de se atingiressa meta, o que de fato deve ser feito, sob penade se provocar um colapso do sistema social. Oque está em discussão é a urgência em se alcan-çar esse objetivo”, disse.

A questão do consumo responsável foi intro-duzida por Helio Mattar, presidente do InstitutoAkatu pelo Consumo Consciente, que tambémcompôs a mesa. Para ele, a percepção de interde-pendência é o grande desafio: “Se o principalmotivo da expansão da fronteira agrícola daAmazônia é a pecuária, cada vez que comemosum bife estamos colaborando para o aquecimen-to global”. Helio ressaltou a importância de que a

produção e o consumo sejam colocados no seudevido lugar, como instrumentos de bem-estar enão um fim em si mesmo: “43% das pessoas acre-ditam que aquilo que consomem define sua iden-tidade, o que é uma completa inversão”.

A Plenária contou também com a palestra deCecilia Ugaz, consultora sênior de política noEscritório do Relatório de DesenvolvimentoHumano do PNUD, que apresentou um panoramasobre o direito de acesso universal aos serviçossanitários e abastecimentos de água, em especial,pelas populações de baixa renda nos países emdesenvolvimento. “Perto de um bilhão de sereshumanos não têm acesso à água para consumo eoutros dois bilhões ao saneamento”. Para Cecilia,o tema central dessa discussão deve ser a regula-mentação e a responsabilidade social: “Água é umbem inelástico e os pobres já pagam um preçomuito alto pelo acesso a ele. Por outro lado, é umnegócio arriscado, com tarifas reguladas, que exi-ge um alto investimento inicial e só dá retorno nolongo prazo”.

Contradiçõesamazônicas Página 4

Plenária discute sociedade sustentável

Ricardo Young, Instituto Ethos

ISO 26000Página 8

Plenária InstitutoEthos Página 15

RSE na Mídia ePrêmio Ethos deJornalismo Páginas 16 e 17

PLENÁRIA DE ABERTURAPLENÁRIA DE ABERTURA

PUBLICAÇÃO ESPECIAL DO INSTITUTO ETHOS SOBRE A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL 2006 — EMPRESAS E RESPONSABILIDADE SOCIAL, REALIZADA ENTRE OS DIAS 19 E 22 DE JUNHO DE 2006, NO HOTEL TRANSAMÉRICA, SÃO PAULO/SP. AGOSTO, 2006.

19 de junho de 2006

EDITORIAL

Conquistas e desafios

A Conferência 2006, segundo evento em caráter internacional das oitoedições já realizadas, enfrentou o desafio de criar um ambiente onde o

público pudesse debater e refletir sobre os impactos socioambientais queafligem a nossa sociedade. A proposta de discutir ‘O Papel da EmpresaSocialmente Responsável em uma Sociedade Sustentável’, tema central doevento, reforçada pela situação e tendências apontadas pelos indicadores depobreza e miséria, desigualdades, injustiças e degradação das condiçõesambientais, foi absolutamente oportuna.

Cada vez mais esses conflitos e dilemas estão sendo incorporados àsanálises de risco e oportunidades dos negócios. Entretanto, as iniciativasempresariais ainda estão, aparentemente, muito aquém da dimensão dosproblemas. Tornava-se necessário acelerar o processo de troca de informa-ções e conhecimento para aumentar o ritmo das mudanças. Daí, a realizaçãodo evento, estruturado com 35 atividades diferentes, entre plenárias, painéistemáticos, mesas-redondas, oficinas, cafés da manhã e atividades multicul-turais. Durante os quatro dias discutimos como o movimento de RSE pode seconstituir em uma plataforma de convergência de forças econômicas, sociaise políticas para a construção de sociedades sustentáveis. Ressaltamos, emespecial, o Seminário RSE na Mídia, a Cerimônia do 6º Prêmio Ethos de Jor-nalismo — Empresas e Responsabilidade Social, Edição especial, e os lança-

mentos do Fundo de Capital Solidário, do Índice de Desenvolvimento Infan-til Empresarial (IDI-E) e do Pacto Empresarial pela Integridade e contra aCorrupção.

Entre os dias 19 e 22 de junho, a Conferência Internacional reuniu 1.022inscritos (sendo 358 homens e 664 mulheres), 76 palestrantes, 130 jornalis-tas, mais convidados, pessoal de apoio e equipes do Instituto Ethos, UniEthose Instituto Akatu. No total, 1.500 pessoas (16% a mais em relação a 2005)circularam pelo Hotel Transamérica, em São Paulo, movidas pelo interesseem participar e debater os desafios e as oportunidades que o movimento deresponsabilidade social empresarial têm pela frente para a construção deuma sociedade sustentável.

Esta publicação, assim como o hot site (www.ethos.org.br/ci2006), con-tém a cobertura exclusiva do evento, com depoimentos dos participantes,além dos resultados da pesquisa de avaliação realizada pelo Ibope Opinião.De acordo com o estudo, 90% dos 230 entrevistados considerou a CI 2006Ótimo/Boa, e 93% declarou ter grandes chances de participar das próximasedições. Leia os demais resultados na página 20.

Para aqueles que não tiveram a oportunidade de participar ou mesmoquem esteve presente e queira rever as atividades, basta acessar os vídeosgravados em www.tvethos.com.br.

Mérito compartilhadoReconhecemos que o êxito da Conferência Internacional e os seus

resultados positivos só foram possíveis graças ao envolvimento demuitos parceiros, aos quais em nome do Instituto Ethos e do UniEthosagradecemos: o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente e o Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento — PNUD Brasil, pela parceriaestratégica; à Petrobras, patrocinadora master; aos patrocinadores Aché —Biosintética, Banco do Brasil, CPFL, Fundação Vale do Rio Doce; CaixaEconômica Federal, Copesul, Nestlé, que dividiram a categoria apoio, e aCoca-Cola, Fundação Belgo, Infraero, McDonald´s, Repsol YPF, Suzano,que ficaram com a categoria colaboração. Outras participações valiosas:apoio tecnológico: HP, Tribal; apoio de transmissão on line: CTBC, opera-dora de telecomunicações do Grupo Algar; apoio de cobertura on line:Mega Brasil; apoio de cobertura radiofônica: Rádio CBN, apoio de cober-tura de TV: TV Cultura (Programa Balanço Social), apoio organizacional:Francal, Grupo ECO; apoio de divulgação: CDN – Companhia de Notícias,Maxpress Mailing de Imprensa; apoio de papel: Reciclato Suzano, apoio deedição de vídeo patrocinadores: StreamWorks; apoio de edição de vídeossocioambientais: Argumento; apoio agência de viagens: Summit Viagens eTurismo; apoio sessões de cinema: Cine Magia; apoio às instalaçõessocioambientais: Casa Sol e Coopamare, Henrique Heráclio e Ponto Soli-dário; apoio de ambulância: Unimed; apoio na área de inclusão e acessi-bilidade: Escola de Gente - Comunicação em Inclusão; apoio à pesquisa deavaliação: Ibope Opinião; equipe de apoio: Gelre; transportadora oficial:TAM; apoio de veiculação: Abril, acioni$ta.com.br, Adiante, B2B Magazi-ne, Consumidor Moderno, Grupo Full Jazz, Horizonte Geográfico, Nossa

História, OESP Mídia, O Globo, Primeiro Plano, Racine, rádio CBN, RI —Relações com Investidores, TN Petróleo, Valor Econômico.

Agradecemos também a contribuição voluntária dos coordenadores dasoficinas de gestão e dos representantes das empresas que contribuíram paraa construção dos conteúdos apresentados no evento; o trabalho de AndréiaMarques na coordenação de conteúdos e de Manuela Pelletier no apoio econtato com os palestrantes.

Nosso reconhecimento e gratidão aos palestrantes, debatedores, mode-radores e todos os profissionais envolvidos na realização da ConferênciaInternacional 2006 – Empresas e Responsabilidade Social.

Participantes na Plenária do Instituto Ethos

Publicação especial do Instituto Ethos sobre a Conferência Internacional 2006 – Empresas e Responsabilidade Social, distribuídagratuitamente aos seus associados.

Coordenadora Editorial: Andréa de Lima(Instituto Ethos)

Edição: Marco Rossi (Mega Brasil)

Reportagem: Adriana Somma,, Louise Emille,Diogo Cosentino, Mônica Nascimento, RenatoRaposo, Vany Laubé, Mel Frias, Andrea Gruding(Mega Brasil).

Colaboração: Leno F. Silva (Instituto Ethos)

Fotos: André Conti

Projeto e produção gráfica: Planeta Terra Design

Impressão: Margraf Editora e Ind. Gráfica Ltda.Tiragem: 4.000 exemplares

Todos os direitos reservados. Permitida a reproduçãodesta publicação desde que citada a fonte e comautorização prévia, por escrito, do Instituto Ethos.

São Paulo, setembro de 2006.

Instituto Ethos de Empresas eResponsabilidade SocialRua Francisco Leitão, 469, 14º andar,conj. 1407, PinheirosSão Paulo/SP, 05414-020Tel.: (11) 3897-2400Fax: (11) 3897-2424Site: www.ethos.org.br

Esclarecimentos importantes sobre as atividades do Instituto Ethos1. O trabalho de orientação às empresas é voluntário, sem nenhuma

cobrança ou remuneração.2. Não fazemos consultoria, nem autorizamos ou credenciamos

profissionais a oferecer qualquer tipo de serviço em nosso nome.3. Não somos entidade certificadora de responsabilidade social nem

fornecemos “selo” com essa função.4. Não permitimos que nenhuma empresa (associada ou não) ou

qualquer outra entidade utilize a logomarca do Instituto Ethos semo nosso consentimento prévio e expressa autorização por escrito.

Em caso de dúvida ou de consulta, entre em contato conosco.

Impresso em Reciclato Suzano® 150 g/m2 da Suzano Papel eCelulose, o primeiro papel offset brasileiro 100% reciclado produzido em escala industrial.

PLENÁRIA 1

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C om muita simplicidade e parafraseando cientistas e autores do séculopassado, como Albert Einstein, o convidado americano John Renesch,

futurista e autor do livro Getting to the Better Future, mostrou na plenáriado segundo dia da Conferência Internacional 2006 – Empresas e Responsa-bilidade Social que a solução para o problema mundial da sobrevivênciadepende muito mais de vontade política individual do que de intrincadasreuniões com especialistas.

Segundo o escritor, a solução para os problemas do mundo não está eminstituições ou organizações complicadas, está nas pessoas. “Os sistemas quecriamos estão doentes, falhos, acabam por nos fazer crer neles, mesmodepois que as mudanças nos impõem novas atitudes”, disse John. Ele suge-riu que as pessoas passem a “andar no futuro” e ter a consciência de que“estamos todos no mesmo barco”.

Sem entrar no mérito da defesa de um ou outro sistema político, Johnresumiu todo o processo de mudança a conselhos simples e já sabidos detodos nós: “Devemos baixar nossas defesas para buscar a integração de gru-pos de visões diferentes, em uma só direção. Os nossos problemas se resu-mem à sobrevivência e isso implica em uma ação individual de mudança emprol do objetivo maior para multiplicar a mudança”, disse.

O escritor, que tem visitado vários países, dando palestras para váriostipos de públicos, lamenta que o mundo hoje seja cínico, apático e funda-mentalista, especialmente em relação aos negócios, “ao fazer dinheiro”. Omaniqueísmo foi questionado e John Renesch convidou os presentes a enga-jarem-se como aliados em uma mesma causa. As formas de se conseguir issosão, segundo ele, mais simples ainda: começam dentro de nós - “só podere-mos provocar mudanças depois que nós tivermos elevado nossas consciên-cias”. Por fim, continuou, se fecham numa palavra ainda mais simples: diálo-go. “E diálogo não quer dizer dar sua opinião ou impor uma visão, masconhecer como cada tipo de grupo age, reage e integrar-se com esse grupo”,disse. “Para mudar, precisamos nos mudar em primeiro lugar, e começar adialogar. Esta é a verdadeira conexão que pode nos ajudar com as novas prá-ticas que o mundo de hoje nos impõe”, concluiu.

Responsabilidade com os que ainda não nasceram

A segunda participação na plenária Desenvolvimento das sociedades - oPapel do Estado, do mercado e da sociedade civil foi de Jacques Marcovitch,professor de Estratégia Empresarial e de Relações Internacionais da Universi-dade de São Paulo (USP), que reforçou a necessidade de construção de diálo-go abordada por John Renesch. Para o professor, o crescimento populacional

no Brasil representa um enorme desafio: “Precisamos construir um futuro quetranscenda o que o crescimento imediato pode prover”, afirmou, referindo-seaos dados do livro O Choque de 2006, de Michel Godet, que prevê que, até2025, outros 52 milhões de brasileiros serão incorporados a nossa população.

Conciliar o curto, o médio e o longo prazo é uma tarefa conjunta de governo,empresas e sociedade civil, disse o pro-fessor. “Para superar nossos grandespassivos econômicos e sociais e atenderàs grandes expectativas da juventude,devemos focar algumas prioridades naperspectiva social, como educação,eqüidade de acesso, emprego, habitaçãoe rede de proteção social”.

No que se refere à perspectivaeconômica, Jacques lembra, também,da necessidade de se ampliar a infra-estrutura e investimento; bem comopromover a reforma tributária; inova-ção e medidas institucionais; comércio internacional; e serviços financeiros.

Para o professor, o trinômio Valores/Resultados/Poder ilustra bem esseprocesso e, nesse sentido, ele afirma que “cada ator deve pautar sua ação deacordo com a natureza do seu papel: a sociedade civil, em valores; as empre-sas, em resultados; e os políticos, em poder”.

Mas afinal, o que é mesmo essa tal de RSE?

Será a responsabilidade social empresarial (RSE) como o Paraíso, onde todosqueremos chegar, só que... não agora? Se não temos sequer uma definição paraRSE, podemos nos considerar parte de um movimento? Essas foram algumas dasprovocações feitas por Steve Rochlin, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento noCentro de Cidadania Corporativa do Boston College, terceiro palestrante.

Num clima bastante descontraído, Steve brincou com a platéia dizendo quehá dez anos vem tentando explicar o que faz a sua família e seus amigos e,segundo ele, ainda não conseguiu. “Se perguntarmos às pessoas deste auditó-rio onde queremos chegar com a res-ponsabilidade social, cada um de nósterá, provavelmente, uma respostadiferente. Mas como bem colocou oRicardo (numa referência a RicardoYoung, presidente do Instituto Ethos),ontem, na abertura dessa Conferência,nós não construiremos uma sociedadesustentável sem contradições.”

Para o diretor do Boston College,o papel do capital defendido por Mil-ton Friedmann, Prêmio Nobel de Eco-nomia 1976 e considerado um dospapas do pensamento econômicoliberal, o conceito do the business of business is business está ficando rapi-damente para trás: “Responsabilidade social tem a ver com a maneira pelaqual as organizações encaram os seus valores, levando em conta os valoresda sociedade. Responsabilidade social é quando as organizações se relacio-nam com a sociedade de maneira mais ampla e, claro, dando bons lucros aosseus acionistas.”Na visão do palestrante, a velocidade com a qual consegui-remos construir uma sociedade sustentável depende da nossa capacidade deinfluenciar as organizações certas e de catalisar as mudanças numa esferamaior. Um desafio para cada um de nós.

PLENÁRIA 1

Dialogar é preciso

John Renesch Jacques Marcovitch

20 de junho de 2006

Steve Rochlin

MESA-REDONDA 1MESA-REDONDA 1

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Amesa-redonda Desmatamento da Amazônia –como é possível evitar?, moderada por Oded

Grajew, encerrou os trabalhos da manhã dosegundo dia da Conferência, debatendo a realiza-ção de atividades econômicas de alto impacto nomeio ambiente, como pecuária, mineração e agri-cultura, e o desenvolvimento socioambiental daregião amazônica. O confronto entre as políticasmacro-econômicas e políticas ambientais se deucom base em experiências concretas de empresá-rios que se deparam com estes dilemas em suaatuação cotidiana.

Sergio Amoroso, presidente do Grupo Jari-Orsa, o primeiro a se apresentar, focou questões docomprometimento de sua companhia, que destina1% do faturamento bruto em ações de responsabi-lidade social a diversas áreas de atuação, da saúdeà promoção de direitos. Ressaltou, ainda, que asações do Grupo Jari-Orsa influenciam políticaspúblicas, nas áreas de saúde e educação, a exem-plo dos programas de educação infantil, Mãe-Can-guru e GRAAC. “Entendemos a empresa dentro de

um território de ação que envolve universidades,ONGs, governo, setor privado e comunidade, embusca de parcerias participativas”, enfatiza.

Sérgio Barroso, presidente da Cargill AgrícolaS.A. aproveitou o momento para tratar da questãoda competitividade e sustentabilidade, de acordocom a legislação. Questionado durante os traba-lhos sobre alguns posicionamentos que a multi-nacional mantém na região, principalmente emrelação ao plantio da soja e construção de umporto em Santarém (PA) para escoamento da pro-dução em direção à Europa, Sérgio Barroso afir-mou que “a empresa trabalha dentro de princípiosda legalidade”, ainda que tenha algumas questõesem andamento com o Ministério Público e enti-dades civis, como o Greenpeace.

Em contraponto à apresentação do presidenteda Cargill, Eugenio Scannavino Neto, coordenador-geral do Centro de Estudos Avançados de Promo-ção Social e Ambiental do Projeto Saúde e Alegria,arrancou aplausos calorosos da platéia ao exibiruma reportagem feita pelo programa ‘Fantástico’,

N o segundo dia da Conferência Internacional Empresas e ResponsabilidadeSocial 2006, a Rede de Tecnologia Social (RTS) promoveu um café da

manhã com empresários e representantes de órgãos de comunicação paraapresentar a Rede e explicar sua atuação. A RTS, fundada em abril de 2005 como objetivo de difundir e ampliar tecnologias sociais, conta com a participaçãode 350 entidades entre órgãos governamentais, empresas públicas e privadas,além de ONGs. Entre seus desafios está captar recursos para reaplicar as tec-nologias sociais em algumas regiões do País, como o semi-árido nordestino, aAmazônia Legal e periferias de grandes centros urbanos.

Segundo Caio Magri, gerente de Parcerias do Instituto Ethos, a RTS é “oconhecimento construído com a comunidade, o saber coletivo capaz de mudaruma situação”. Trata-se, portanto, da promoção de um processo de interaçãoentre a comunidade e tecnologias como a aplicação de métodos de alfabetiza-ção, construção de cisternas ou ainda a certificação sócio-participativa de pro-dutos agroextrativistas”.

Para o semi-árido nordestino, as principais aplicações de tecnologias sãoa exploração do sistema de cisternas e barragens, que contribuem paramelhorar as condições das famílias do meio rural e diminuem danos ambien-tais como a erosão e o assoreamento, e o incentivo a mini-fábricas de bene-ficiamento de castanha-de-cajú.

Na Amazônia Legal, a RTS está priorizando uma tecnologia de beneficia-mento de cinco produtos: castanha do Brasil, açaí, óleo de andiroba, arte-sanato e azeite de babaçu. O objetivo é a montagem de uma Rede deCertificação Socioambiental que possibilite agregar maior valor aos produ-tos do agroextrativismo familiar. Há também um programa de manejo de

abelhas indígenas sem ferrão para a produção e comercialização do melentre os moradores da região.

Larissa Barros, secretária executiva da RTS, explica que um dos pontospositivos das tecnologias sociais é a sua versatilidade de reaplicação: “elaspodem e devem ser reaplicadas, absorvendo as particularidades de cadacomunidade, buscando a renovação da metodologia e o engajamento dapopulação envolvida”. No caso das periferias de grandes centros urbanos,essa aplicação e adequação se dá na implantação de tecnologias de recicla-gens de resíduos, junto a cooperativas de catadores. Outra iniciativa é aincubação e apoio a empreendimentos solidários na gestão e capacitação degrupos, para que a produção seja bem recebida pelo mercado.

O comitê coordenador da RTS é formado por Petrobras, Caixa EconômicaFederal (CEF), Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério de Desenvolvi-mento Social e Combate à Fome, Fundação Banco do Brasil (FBB), Associa-ção Brasileira das Organizações Não-Governamentais (Abong), Grupo deTrabalho da Amazônia (GTA), Articulação do Semi-Árido (ASA), InstitutoEthos, Financiadora de Estudos e Projetos, Fórum de Pró-Reitores deExtensão das Universidades Públicas Brasileiras, Grupo de Trabalho daAmazônia (GTA) e Sebrae Nacional.

Por Adriana Somma, Mônica Nascimento e Diogo Cosentino

Caio Magri e participantes do Café da Manhã da RTS

Sérgio Amoroso (no alto) e Sérgio Barroso

CAFÉ DA MANHÃCAFÉ DA MANHÃ

Rede de Tecnologia Social

Contradições amazônicas

20 de junho de 2006

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O s principais indicadores da mudança climáticano Planeta, além da necessidade do compro-

misso das empresas com a redução de emissões depoluentes, como forma de se criar uma massa críticana sociedade, suficiente para a reversão dessa ten-dência, foram os principais pontos de debates do pai-nel Mudanças climáticas — compromissos da empre-sa socialmente responsável, que contou com a mod-eração do jornalista Adalberto Wodianer Marcondes,diretor e editor executivo da Agência Envolverde.

O ambientalista Fabio Feldmann deu início a suaparticipação lembrando que “hoje a humanidadeestá diante de um grande desafio para a sua perpe-tuação enquanto espécie: a mudança climática”.Segundo ele, o mundo só tomou conhecimento deproblemas causados pela emissão de gases, como porexemplo o CFC (sigla para clorofluorcarbono, gásusado na refrigeração, em solvente e aerosol), após adescoberta do buraco na camada de ozônio da Terra.Antes disso, as empresas diziam que, enquanto nãohouvesse provas científicas de que aqueles gasescausavam alterações químicas na camada superiorda atmosfera, nada seria feito. Comparando o temada mudança climática com a Copa do Mundo, Fabiodisse que há uma ambigüidade no assunto, pois cadaum vê de uma maneira e aborda o tema do seu jeito.“Nós ultrapassamos o sinal vermelho”, declarou. “Ahumanidade está diante do seu maior desafio. Se, nocomeço dos anos 90, pensávamos que a situação eradramática, hoje é muito pior”, disse.

O diretor do Departamento de Meio Ambiente e

Temas Especiais do Ministério das Relações Exterio-res, Luiz Alberto de Figueiredo Machado, destacou aConvenção de Montreal, que aborda a questão doclima, e que, segundo ele, ataca a causa do proble-ma: “Temos que lidar com os fatos, começar a mudara matriz energética, mas isso não quer dizer que nãotenha a ver com o esforço coletivo”, declarou. LuizAlberto perguntou aos participantes sobre o queaconteceria depois de 2012, ano em que o Protoco-lo de Kyoto demarcou como meta para os países queratificaram o documento cumprirem seu papel. Odiretor deixou claro que tudo ainda está no início,alegou que é difícil prever a política externa, maslembrou que o processo já está em andamento.

Jacques Marcovitch, professor da Faculdade deEconomia, Administração e Contabilidade da Univer-

sidade de São Paulo (USP), participou da mesa-redon-da, questionando como o Brasil poderia se tornar umPaís exemplar para o exterior. Traçando um paralelocom um teleférico, Jacques disse que há várias rodasde diferentes tamanhos movimentando o tema. A pri-meira, maior e mais lenta, começou mais cedo: é a daciência. A leitura científica do assunto é sempre embusca da verdade. A segunda roda, menor e um pou-co mais lenta, é representada pelas ONGs. Elas capta-ram o que os cientistas diziam e passaram a manifes-tar a indignação diante dos fatos. A última, a roda damítica, é a mais rápida e tem maior dificuldade deentender o cientista. Para o professor, as ONGs são as“decodificadoras” entre a ciência e a mítica. Fechousua apresentação dizendo: “O Brasil é capaz de fazera diferença, mas ainda não fez o suficiente”.

PAINEL TEMÁTICO 1PAINEL TEMÁTICO 1

Sobrevivência da espécie: o desafio do século

da Rede Globo, sobre as fronteiras agrícolas naAmazônia, focando particularmente o que vemacontecendo na região de Santarém. Em meio aessa dura realidade de conflitos entre o homem dafloresta e os agricultores vindos do Sul do País,Eugenio coordena sua entidade há, aproximada-mente, 20 anos. “Sempre desenvolvemos ações decidadania com a população local, dentro de umavisão que chamamos de ‘cultura da floresta’, pau-tada na convivência construtiva do homem com o

meio ambiente, a qual, acredito, é um dos cami-nhos para preservação da região”, ressaltou.

Na seqüência, João Paulo Capobianco, secre-tário de Biodiversidade e Florestas, do Ministériodo Meio Ambiente, elogiou a colocação da Ama-zônia no foco das discussões de eventos como opromovido pelo Instituto Ethos. “Há de se discutir,e muito, a realidade socioambiental dessa regiãodo País que, desde os anos 60, vem sofrendo umduro processo de degradação e onde hoje vivem

cerca de 23 milhões de brasileiros, a maioria delesna condição de pobreza absoluta”, disse.

Maurício Reis, diretor do Departamento de Ges-tão Ambiental e Territorial da Companhia Vale doRio Doce aproveitou a oportunidade para apresentarum balanço do que a empresa vem fazendo na região,e reforçou que qualquer ação ali implementada re-quer estudos técnicos e muito aprofundamento. “Émuito mais barato fazer a coisa certa desde o iníciodo que ter que consertar depois”, advertiu.

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Da esquerda para a direita, Fabio Feldmann, Luiz Alberto de Figueiredo Machado, Adalberto Wodianer Marcondes eJacques Marcovitch

20 de junho de 2006

Da esquerda para a direita, Eugenio Scannavino Neto, João Paulo Capobianco e Maurício Reis

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PAINEL TEMÁTICO 3PAINEL TEMÁTICO 3

PAINEL TEMÁTICO 2PAINEL TEMÁTICO 2

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H oje, as mudanças climáticas são uma das principais preocupações dasempresas, isso porque muitos prejuízos financeiros ocorrem após desas-

tres naturais. Esta afirmação ocorreu no painel Valorização e promoção dosnegócios sustentáveis. Segundo os palestrantes esse é o principal motivo queleva as empresas a procurarem projetos que possam diminuir prejuízosfinanceiros, humanos e naturais. “As aplicações financeiras estão sendoinfluenciadas pelos aspectos climáticos”, destacou Edoardo Gai, responsáveldo departamento de pesquisas para a definição do Dow Jones SustainabilityIndexes (DJSI) na Sustainable Assets Managment (SAM).

Para Miguel Martins, integrante do International Finance Corporation (IFC),o Brasil é um dos países que mais investe em sustentabilidade social e asempresas nacionais estão sempre entre as que adotam essa postura. “O País temsido um grande exemplo em relação à aplicação de sustentabilidade”, disse.

O Índice de Sustentabilidade Social (ISE) foi explicado por RicardoNogueira, superintendente executivo de Operações da Bolsa de Valores deSão Paulo (Bovespa) e presidente do Conselho Deliberativo do Índice de Sus-tentabilidade Social. Ele apontou as vantagens financeiras de uma empresaestar integrada ao ISE, mas fez um alerta: “A realidade da globalização atri-bui valor às marcas não só pelo o que as empresas produzem, mas, principal-mente pelo que representam no contexto social”.

O Banco do Brasil foi representado por Izabela Campos Alcântara Lemos,diretora de Relações com Funcionários e Responsabilidade Socioambiental dainstituição, que detalhou os princípios que levaram o banco a investir no desen-volvimento regional sustentável. “Nossas ações nesse setor promovem a gera-ção de trabalho e renda; aplicação no artesanato, na ‘mandiocultura’ e fruticul-tura, entre outras; e fortalecem o associativismo e incentivo a agricultura fami-liar. Cada vez mais, as entidades financeiras tendem a assumir um papel social,devolvendo para a sociedade parte daquilo que capitalizam”, concluiu. O painelteve a moderação de Rubens Mazon, professor em gestão da sustentabilidade.

Os investimentos em sustentabilidade social

Da esquerda para a direita, Izabela Campos Alcântara Lemos, Miguel J. Martins, RubensMazon, Edoardo Gai e Ricardo Nogueira

Opainel Exploração econômica da biodiversi-dade tratou das oportunidades de negócios

sustentáveis, garantidas pela biodiversidade e osdesafios e dificuldades deste tipo de atividade. Umadas questões debatidas foi a regulamentação e aauto-regulamentação do mercado destes produtos.

Antonio Brack Egg, biólogo, educador e escri-tor peruano, fez sua apresentação sobre a explora-ção econômica da biodiversidade, salientandoquais são os limites, as regras dos ecossistemas eos problemas do século XXI. Antonio salientou quea biodiversidade exige novas estratégias para paí-ses subdesenvolvidos, evitando-se conseqüênciaspredatórias para o meio ambiente, como a destrui-ção da floresta, na intenção de ganhar dinheiro.

“Aumentar o conhecimento é muito fácil, masmudar o comportamento é bem mais difícil”. com-pletou Claudio Valladares Padua, fundador do Ins-tituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

Outro tema discutido foi como a biodiversida-de pode trazer riquezas por meio do ecoturismo.Aqui no Brasil, as viagens para Amazônia, voltadasà observação de pássaros, por exemplo, estão setornando cada vez mais comuns. Por ano, a gera-ção de empregos com o ecoturismo traz ao PaísUS$ 33 trilhões em divisas.

Segundo Claudio, a biodiversidade é de extremaimportância para as comunidades rurais, pois elasprecisam dela para sobreviver. “É necessário domi-nar todo o conhecimento sobre a Amazônia para

parar com a biopirataria. Precisamos formar gentenova, em escolas novas, para chegarmos em algumlugar”, completou.

André Lima, advogado do Instituto Socioam-biental (ISA), falou sobre a utilização econômica dabiodiversidade e assinalou que “Os desafios sãopara ontem”. Já Juliana Santilli, promotora de Jus-tiça do Ministério Publico (MP) do Distrito Federal eTerritórios, abordou os projetos de lei que estãoparados na Casa Civil da Presidência, como o elabo-rado pela ministra Marina Silva. Além disso, Julianacontou sobre um projeto aplicado no estado doAmapá, que apresentou resultados bastante satis-fatórios: a Farmácia da Terra, um investimento depolítica pública de incentivo para que a comunida-

de local utilize plantas medicinais daregião. “Apesar da iniciativa bem-sucedida, o pior é que o ConselhoFederal de Medicina entrou com umarepresentação no MP com o objetivode acabar com o programa”, desabafoua promotora. O painel foi mederadopor Maria Zulmira, jornalista da TVCultura e Repórter Eco.

Biodiversidade com inteligência

Da esquerda para a direita, Antonio BrackEgg, Claudio Valladares Pádua, André Limae Juliana Santilli

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PAINEL TEMÁTICO 4PAINEL TEMÁTICO 4

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Numa mesa bastante representativa do que seriam os principais interlo-cutores de um processo de desenvolvimento sustentável, Valdemar de

Oliveira Neto, coordenador regional da Fundação Avina; Luiz Henrique daSilva, diretor do Movimento Nacional dos Catadores de Material Reciclável(MNCR) e da Asmare; Luís Fernando Nery, gerente de ResponsabilidadeSocial da Petrobras; e Vanúzia Gonçalves Amaral, chefe da divisão de coletaseletiva da Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (MG),discutiram a gestão sustentável de resíduos sólidos.

Como representante da iniciativa empresarial, Luís Fernando explicou oscaminhos percorridos pela Petrobras para o desenvolvimento de uma bem-sucedida Rede Nacional de Reciclagem de Resíduos Sólidos, “que focou seusesforços na integração de todos os segmentos do processo de tratamento deresíduos, principalmente na capacitação dos catadores de material reciclávele no aparelhamento dessa indústria de reciclagem”.

Para Valdemar, essa integração, não só do processo, mas também detodos os setores da sociedade, é a chave para a estruturação de uma indús-tria de reciclagem que seja sustentável, ao contrário do modelo atual no quala base, a massa de catadores, é desorganizada e negligenciada, alimentandoo processo de exclusão. “Para construir um modelo de inclusão social, desociedade sustentável, é necessária a plena participação dos setores margi-nalizados. No caso dos catadores, tem sido importante a união da classe emprol de um objetivo”, explica.

Um exemplo dessa união é o Movimento Nacional dos Catadores deMaterial Reciclável, apresentado por Luiz Henrique da Silva. O Movimentotem por objetivo a organização e o fortalecimento do setor, e a legitimaçãoda profissão e de suas demandas. “Grandes conquistas já foram alcançadas,como uma maior articulação política e o reconhecimento da profissãoenquanto ocupação”, lembrou Luiz Henrique. Mas o MNCR enfrenta, ainda,uma grande luta contra o preconceito da sociedade, contra a corrente deintermediários na produção e contra a própria ‘indústria do lixo’, interessa-da no mercado da reciclagem.

Vanúzia Gonçalves Amaral, responsável pela adoção de uma políticapública voltada à gestão de resíduos em Belo Horizonte, afirma que, embo-ra essa preocupação reflita uma necessidade irrevogável da sociedade con-temporânea, a construção desse modelo sustentável deve passar, antes dequalquer coisa, por uma reeducação da população: “Parece que tem umacerta incoerência entre o discurso e o consumo. Você já não consegue abrirmão de certos confortos, independentemente se sabe ou não o destino dosresíduos”.

Vanúzia considerou, ainda, que o grande desafio das gestões públicasneste momento é o de englobar, definitivamente, os catadores e a populaçãonum projeto “que deve ser um meio para uma sociedade mais sustentável, enão um fim a ser atingido”. O painel Gestão sustentável de resíduos foimoderado por Caio Magri, gerente de Parcerias do Instituto Ethos.

Inclusão social e reciclagem na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável

Da esquerda para a direita, Luiz Henrique da Silva, Valdemar de Oliveira Neto, Vanúzia Gonçalves Amaral e Luís Fernando Nery

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Todas as atividades da Conferência contaram com intensa participação do público

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O painel temático ISO 26000 de Responsa-bilidade Social, moderado por Paulo D. Branco,

sócio-diretor da Ekobé Sustentabilidade e Res-ponsabilidade Corporativa, debateu os pontos jáaprovados da futura ISO 26000, os desafios e asoportunidades dessa iniciativa, além de propiciaraos participantes informações sobre a norma, antesda sua publicação em 2008.

A ISO 26000 servirá para estabelecer um padrãointernacional de responsabilidade social. Desde2002, a ISO vem estudando esse tema e a discussãodessa nova norma teve início em janeiro de 2005.

O painel foi divido em duas partes. Na primei-ra, Tarcila Reis, gerente de Apoio e Aprofunda-mento do Instituto Ethos, mostrou alguns pontosjá aprovados da norma nas reuniões do Grupo deTrabalho de Responsabilidade Social da ISO econcluiu sua apresentação falando que “a ISO26000 será um mapa integrador das diversas ini-ciativas de responsabilidade social existentes”.

Em seguida, Jorge Cajazeira, gerente de Exce-lência Empresarial da Suzano Papel e Celulose epresidente do Grupo de Trabalho de Responsabili-dade Social da ISO, falou sobre a complexidade ea inserção das normas no mercado e o quantoelas são importantes.

No segundo bloco, foram discutidos os prós econtras sobre a criação da nova norma. “Estouinteressado em ver o sucesso da ISO 26000, mastenho alguns receios quanto a sua criação. Vive-mos num mundo que tem uma aspiração justifica-da de mudar sua condição de vida e lutamos porisso, mas não temos todas as respostas. Não exis-tem respostas rápidas”, diz Ernst Ligteringen,presidente da Global Reporting Initiative (GRI).

Finalmente, Clóvis Scherer, economista doDepartamento de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), explicou a posição da enti-dade, falando dos pontos positivos e negativos dafutura norma. Um dos pontos ressaltados foi a

sub-representação de algumas partes interessa-das e o processo decisório da norma.

Uma preocupação que ficou no ar é a razãopela qual a ISO 26000 não será uma norma certi-ficadora, pois assim, seria uma forma das empre-sas terem maior interesse, já que traz mais com-petitividade ao mercado.

A oficina Gestão de Projetos para a Sustenta-bilidade, conduzida por Aerton Paiva, sócio

diretor da Apel Consultoria Empresarial e PatríciaBarbúscia, consultora da Apel Consultoria Empre-sarial, ofereceu aos participantes uma oportuni-dade de revisitar a relação existente entre asestratégias e os projetos, sob a perspectiva unifi-cada da metodologia PMBOK (PMI—ProjectManagement Institute ®) e dos indicadores dasustentabilidade (Instituto Ethos, Metas do Milê-nio, GRI, entre outros). O público se deparou comdesafios propostos sobre métodos para potencia-lizar os resultados da sustentabilidade, a partirdos investimentos em projetos estratégicos, ecomo repensar o desenvolvimento de produtos eserviços das organizações.

Aerton exemplificou que as empresas investemgrandes valores em projetos e muitos deles não seviabilizam. Diante deste cenário, as metodologias nãotêm como objetivo criar regras ou normas, mas con-solidar boas práticas no gerenciamento de projetos.

Dividido em 25 grupos, o público foi convida-do a pensar soluções para uma empresa fictícia,incluindo os diversos atores da sociedade, tornan-do prático o discurso do valor e da transparência.O desafio, segundo Aerton é “questionar, desde oescopo do projeto de um novo produto, por exem-plo, até se ele foi planejado para minimizar os

impactos ambientais e sociais”. Além dessa ques-tão básica, cabem outros questionamentos comoa integração da cadeia de produção por pequenosfornecedores; a contribuição para a capacitaçãoou formação profissional; e o estímulo ao consu-mo consciente. Porém, alerta o diretor da Apel,“mais importante do que obter as respostas é esti-mular o diálogo e a reflexão, criar a cultura paradefinir um mapa das partes interessadas”.

A oficina trouxe para José Carlos Alves, geren-te nacional de racionalização de gastos e elimina-ção de desperdícios da Caixa Econômica Federal,uma nova perspectiva de atuação para projetosem andamento no banco. “Temos projetos desen-volvidos dentro da metodologia PMI e podemosincorporar também princípios de responsabilidadesocial empresarial, buscando questionar como asações podem contribuir com as Metas do Milênioe a Global Reporting Initiative (GRI), como açõesefetivas em busca da sustentabilidade”.

A experiência também foi positiva para AlcinoVilela, analista de responsabilidade social da ElektroEletricidade. “Adotamos outra metodologia paragerenciamento de projetos, certificada com a ISO9001, e a oportunidade de trocar experiência comprofissionais que utilizam outras técnicas é muitoconstrutiva, pela pluralidade de opiniões de profis-sionais atuantes em diferentes setores”.

Como potencializar os resultadosda sustentabilidade

OFICINAS DE GESTÃOOFICINAS DE GESTÃO

Um banco de melhorespráticas de RSEUma das atividades mais concorridos da terça-feirafoi a apresentação do Global Leadership Network(GLN), um grupo formado por 10 empresas emassociação com o Boston College e o The Institute ofSocial and Ethical AccountAbility, entidadesresponsáveis pela sistematização de um banco demelhores práticas sobre responsabilidade socialempresarial (RSE). As empresas signatárias do GLNsão IBM, General Electric, 3M, Cargill, GeneralMotors, Fedex, Omron, Diageo, Cemex, e Manpower.Conduzido por Steve Rochlin, diretor do Researchand Development Institute at the Center forCorporate Citizenship at the Boston College, opainel contou com a participação de MarkMurphy, do Departamento de Assuntos Corpora-tivos da Cargill EUA.

Por Renato Raposo

ISO 26000 – Uma nova norma

DIÁLOGO COM STEVE ROCHLINDIÁLOGO COM STEVE ROCHLIN

Da esquerda para a direita, Ernst Ligteringen, JorgeCajazeira, Tarcila Reis e Clóvis Scherer

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Oficina de gestão de projetos para a sustentabilidade

PAINEL TEMÁTICOPAINEL TEMÁTICO

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S ob o tema A empresa socialmente responsá-vel — desafios, dilemas e conflitos, Jason Clay,

presidente da Unilever, John Elkington, fundadorda SustainAbility, e John Renesch, escritor e futu-rista, com a moderação de Ricardo Young, Presi-dente do Instituto Ethos, debateram os desafios aserem enfrentados por todo o setor empresarialna adoção de uma política de sustentabilidadecomo estratégia corporativa.

O presidente da Unilever apresentou a formade atuação da empresa na Indonésia, dentro deum trabalho de pesquisa desenvolvido para ava-liar o impacto de suas atividades junto aos seusdiversos públicos locais. Jason falou sobre a gera-ção de valor junto aos diferentes setores dacadeia produtiva, com ações focadas, por exem-plo, nos pequenos produtores, buscando assim odesenvolvimento sustentável da região onde atuae também o combate ao risco de trabalho precá-rio no país, utilizado por seus fornecedores. “Em

uma linha de produção de doces, à base de soja,optamos por ter como fornecedores 15 pequenosprodutores locais, em vez de um grande fornece-dor dos Estados Unidos ou do Brasil. A escolha,que representou um acréscimo de mais de 10%nessa operação, revelou, no médio prazo, umaatitude benéfica em diversos aspectos, a ponto depermitir a redução no custo final de produtos”,detalha o presidente da companhia.

Segundo ele, diante desse sucesso, a iniciati-va foi aplicada em outras cadeias produtivas daempresa, levando os produtos da Unilever a pata-mares da sociedade que antes não tinham acessoa eles. “Hoje, 5,7% da população mais pobre daIndonésia consome produtos Unilever”.

Baseando-se no trabalho prestado pela Sus-tainAbility a diversas empresas, John Elkingtonapontou o que, em sua concepção, será o caminhopara a criação de um modelo de sustentabilidade,passando, necessariamente, pela atenção aos

direitos humanos. “A preocupação com os direitoshumanos passa por uma grande transformação”,explicou, avaliando que essa prerrogativa vai hojemuito além de leis trabalhistas e de liberdades in-dividuais, atingindo temas como produtos maisseguros e a inclinação a questões ambientais comoa prevenção do aquecimento global.

O fundador da SustainAbility apresentoutambém, entre os desafios e conflitos enfrentadospelas empresas para abarcar essas políticas, pre-conceitos dos próprios empresários e questõesmercadológicas, como o caso da Nissan, explana-do pelo moderador Ricardo Young, cujo protótipode um carro movido a hidrogênio não é economi-camente viável no curto prazo. John afirma, porém,que à medida que valores e preocupações de todaa humanidade se tornam parte intrínseca da estra-tégia das grandes empresas, essas iniciativascomeçam a ganhar força.“A sustentabilidade vaimoldar o mercado”, complementa.

A favor desse crescente movimento de huma-nização, John Renesch afirma que “é hora domundo crescer. Temos uma oportunidade únicade, conscientemente, ascender ao próximo passoda evolução”. Sentenciou, como um desafio à pró-pria Conferência que, sendo o setor mais podero-so da sociedade, “se as empresas não mudaremjunto com a sociedade, não haverá mudança”. Oescritor também lembrou que é hora de sermosmais ‘irracionais’ destacando a questão de que foio pensamento racional que levou a todo esse caoscontemporâneo. “Todo o progresso depende dohomem que é pouco razoável”, explicou o futuris-ta norte-americano.

A segunda mesa-redonda, mediada por Ricardo Young, discutiu a Erradi-cação das desigualdades — A contribuição da RSE, ao tratar do alcance

das empresas socialmente responsáveis em relação à estratégia de transfor-mação social, e analisou a sua contribuição para a redução das desigualda-des. O alinhamento do potencial dos negócios com a resolução dos proble-mas sociais igualmente esteve no centro das discussões.

Chris Marsden, presidente do Grupo de Negócios da Anistia Internacio-nal no Reino Unido e presidente da Curadoria do Business and Human RightsResource Centre, lembrou a posição de destaque do Brasil no grupo denomi-nado BRIC, composto também por Rússia, Índia e China.

Salientou também que a base de todo o trabalho é a Declaração deDireitos Humanos das Nações Unidas, ressaltando a importância do PactoGlobal, um documento emitido pela ONU em 1999, no qual mais de 2.000empresas, de 19 países, reconheceram sua responsabilidade no enfrenta-mento das questões ambiental, de trabalho e de direitos humanos. Essa ini-ciativa foi citada como uma das formas de resolver uma questão fundamen-tal: a legitimidade de empresas privadas influírem positivamente em assun-tos de RSE, claramente de responsabilidade de governos. “Mesmo não dese-jando, as empresas precisam pensar e agir em questões públicas como direi-tos humanos, meio-ambiente, práticas éticas de negócios”, disse Chris.

Desafios de uma empresa socialmenteresponsável

Um longo e promissor caminho a seguir

PLENÁRIA 2PLENÁRIA 2

Da esquerda para a direita, John Elkington, John Renesch, Ricardo Young e Jason Clay

MESA-REDONDA 2MESA-REDONDA 2

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PAINEL TEMÁTICO 5PAINEL TEMÁTICO 5

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“A corrupção é um problema mundial que, para ser combatido, exige um conhecimento profundo de suas causas”, diz o diretor da Transparên-

cia Internacional, Jermyn Brooks, um dos palestrantes do painel Pacto Empre-sarial pela Integridade e contra a Corrupção.

O Pacto prevê ações para propagar boas práticas de ética nos negócios,que possam erradicar a corrupção do rol das estratégias empresariais, comresultados econômicos.

Segundo Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor de Relações Institucionaisda Patri Relações Governamentais & Políticas Públicas, a idéia do Pactocomeçou a germinar antes do escândalo do ‘mensalão’. “No Brasil, a corrup-ção sempre é vista como uma coisa feita pelo Estado, e nunca se enfatizaquem alimenta a corrupção”.

Giovanni Quaglia, representante regional do Escritório das Nações Uni-das contra Drogas e Crime (UNODC) no Brasil, diz que “é muito mais fácilpara as empresas tomarem decisões para acabar com a corrupção dentro dosseus elos, que dos políticos”.

O coordenador da Unidade de Direitos Humanos do Programa dasNações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, Guilherme deAlmeida, acredita que a melhor forma de combater a corrupção é buscarbons negócios. “Corrupção é um problema global e nunca relacional, e a úni-ca forma de lidar com ela é por meio desse Pacto”, ressaltou.

O Pacto Empresarial pela Integridade e contra a Corrupção já recebeu aadesão de mais de 200 empresas. Roberto Salas, presidente da Amanco,

apresentou um estudo de caso sobre um acordo feito com algumas empre-sas de fornecimento e distribuição de águas para combater a corrupção nosetor. A Amanco propôs às empresas alguns aprendizados, desafios e solu-ções, como a entrega de informações consideradas confidenciais, criação efunções de um comitê de ética encarregado de supervisionar o cumprimen-to do acordo e definições de penalidades. Com isso, surgiriam alguns bene-fícios como fomentar uma cultura ética entre o público interno; fortalecer areputação e a imagem da empresa; gerar maior confiança no ambienteempresarial; promover a recuperação da estabilidade e construir uma novaforma de interação entre as empresas, as organizações e o Estado.

De acordo com Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, o Pacto estánum primeiro passo, diferente das discussões sobre a água, que estão emprocessos de discussão mais avançados.

Polemizou ainda mais ao declarar os cinco estágios de crescente amadureci-mento pelo qual as empresas evoluem: “Filantropia faz parte do estágio inicialde ação das empresas na RSE. A ele seguem-se a RSE reativa, a RSE pró-ativa, aempresa como agente ‘desenvolvedor’ e, por fim, como ‘resolvedor’ de problemassociais”. Chris ainda descreveu os cinco poderes corporativos que podem ser uti-lizados em benefício da responsabilidade social: reconhecer o papel de gover-nança ’de fato’ das empresas e da imprensa, de modo a aumentar a sua res-ponsabilidade nesta atuação; informar ao mercado consumidor esse papel eseus resultados, permitindo decisões informadas; observar e assegurar a éti-ca pessoal de líderes de negócios, executivos e demais empregados dasempresas; estimular ONGs a igualmente criticar e condenar empresas; eapoiar e reconhecer boas iniciativas.

Para mostrar a visão do Estado, Floriano Pesaro, secretário Municipal deAssistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, afirmou que “o sucessoda participação do Estado pode estar na economia de custos que se conse-gue com demoradas avaliações e reorientações”. Em sua gestão, suas duasmaiores preocupações são a continuidade às políticas públicas sociais esta-belecidas ao longo dos governos municipais, e estabelecer o norte a serseguido daí para frente. Ele reconhece que o Estado está menor em tama-nho e abrangência, migrando de uma posição de executor para uma de regu-lador e fiscalizador de investimentos. Mas, também, que vem ganhando emconhecimento, capacidade de avaliação, monitoramento e supervisão. Flo-riano também destacou a necessidade de integrar as diversas iniciativas decunho social em execução por entidades parceiras do município, e citou doisprogramas: o Ação Família, de proteção social básica, buscando valorizar ofortalecimento da instituição familiar, em operação fundamentalmente nas

regiões periféricas,onde se concentramos bolsões de po-breza de São Paulo;e o São Paulo Pro-tege, de proteçãosocial especial, cor-rente nas regiõescentrais, cujo obje-tivo é a erradicaçãodo trabalho infantil.

Para concluir,José Lima de Andra-de Neto, presidenteda Petroquisa, apresentou a visão e o exemplo de RSE na Petrobras, que, aolongo dos anos, migrou do assistencialismo para o apoio. ”Ao lado do cres-cimento dos negócios e da rentabilidade, a responsabilidade social e ambien-tal completa o tripé de vetores de evolução da empresa”, disse. E citou comoprojetos que deram certo o Petrobras Fome Zero e o Fundo de Infância eAdolescência. ”Juntos, eles significam investimentos de cerca de R$ 420milhões, somente nos últimos três anos”, completou, listando ainda iniciati-vas junto às demais partes interessadas da Petrobras, como o Siga BemCriança, voltado para clientes caminhoneiros, para erradicar a prostituiçãoinfantil; a inclusão de questões ambientais nos seus requisitos junto a for-necedores; e a crescente inclusão de mulheres (10,7%) e de afro-descenden-tes (3,1%) na ocupação de cargos de chefia.

Da esquerda para a direita, Floriano Pesaro, Ricardo Young(moderador), José Lima de Andrade Neto e Chris Marsden

Da esquerda para a direita, Giovanni Quaglia, Jermyn Brooks, Ricardo Young, CarlosEduardo Lins da Silva e Roberto Salas

Pacto reúne empresascontra à corrupção

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Opainel, moderado por Oded Grajew, presidentedo conselho deliberativo do Instituto Ethos, reu-

niu os palestrantes Cláudio Boechat, gerente de pro-jetos do Núcleo Andrade Gutierrez da Fundação DomCabral; Christiane Stepanek, diretora executiva daDivisão de Investimento, Tecnologia e Desenvolvi-mento Empresarial da Conferência das Nações Uni-das sobre o Comércio e o Desenvolvimento (UNC-TAD); Doris Thurau, diretora da Agência Alemã deCooperação Técnica (GTZ); Elson Valim, diretor exe-cutivo da Fundação Dom Cabral; e Arnaldo Flaks,diretor do Projeto Vínculos.

O conceito e a importância das cadeias produ-tivas na construção de vínculos sustentáveisforam os pontos levantados por Elson e Oded. Aabordagem de ambos foi feita dentro da criaçãode vínculos entre as empresas transnacionais, e aspequenas e médias empresas.

De acordo com Cláudio, “o vínculo só pode sersustentável se a cadeia produtiva também for sus-tentável”. Sustentabilidade que, para Cláudio, só podeser alcançada por meio de investimentos e colabora-ção de todos os interlocutores da cadeia produtiva e

de seu “ambiente produtivo”,que leve em conta a preocu-pação com meio ambiente esociedade.

A diretora da GTZ afirmouque um dos grandes objetivos da aplicação desseconceito é o da obtenção de um ambiente voltado aoestabelecimento de vínculos, por meio de políticaspúblicas favoráveis a iniciativas transacionais. Outrocaminho complementar é o da transformação domercado interno e das entidades da sociedade civil,tornando-os mais competitivos e participativos e,assim, mais atrativos ao capital internacional.

Arnaldo complementou lembrando que o ProjetoVínculos é adaptado de acordo com cada situação eque isso tem, como conseqüência, projetos específi-cos para as regiões, aprimorando seus benefícios.

A representante da UNCTAD apresentou a pro-blemática da criação de vínculos sustentáveis global-mente, e a função da sua entidade, que atuava jun-to a gestores públicos, mas passou a adotar uma par-ticipação mais ligada à iniciativa privada. Christianeapontou, entre outros grandes problemas da adoção

desse conceito, o da “não habilitação de pequenas emédias empresas (por parte do governo) para apro-veitar as oportunidades de criação de vínculos”.

Ao ser questionada sobre se o setor privadoseria, da forma como foi proposto o projeto, o prin-cipal interlocutor num cenário de transformaçãosocial, a diretora da UNCTAD afirmou que o concei-to é o de uma participação colaborativa entre ossetores da sociedade, estabelecendo esquemas deParcerias Público-Privadas (PPPs), porém com a par-ticipação da sociedade civil. “A idéia é a de que cadaum dos interlocutores deveria fazer o que fazmelhor, e o papel da UNCTAD e de propostas comoo Projeto Vínculos é criar plataformas para que ossetores trabalhem juntos”. Ela explicou, ainda, queuma condição fundamental para que a proposta sejabem-sucedida é a de constante diálogo entre ossetores público e privado.

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Vínculos sustentáveis denegócios nascadeias produtivas

PAINEL TEMÁTICO 6PAINEL TEMÁTICO 6

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Christiane Stepanek e Claudio Boechat

Publicações lançadas na Conferência Internacional 2006 - Empreas e Responsabilidade Social,disponíveis no site www.ethos.org.br.

PAINEL TEMÁTICO 8PAINEL TEMÁTICO 8

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A Cooperação intersetorial para o desenvol-vimento local foi abordada por Paulo

Itacarambi, diretor executivo do Instituto Ethos —ao lado dos demais integrantes do Grupo deTrabalho - Responsabilidade Social e Combate àPobreza (GT) — Jacques Pena, presidente daFundação do Banco do Brasil (FBB); GerardZwetsloot, responsável de projetos da InterchurchOrganization for Development Cooperation(ICCO); Nazem Nascimento, professor naUniversidade Estadual Paulista (Unespa) e coor-denador da Regional São Paulo da Fundação

Opainel temático analisou o desafio de dis-seminar melhores práticas de promoção do

trabalho decente. Foram discutidos caminhos paraa implementação das diretrizes da Organização deCooperação e de Desenvolvimento Econômicos(OCDE) para as multinacionais e os desafios para oavanço na aplicação do Pacto de Combate aoTrabalho Escravo.

A socióloga Laís Abramo, diretora da Organiza-ção Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, apre-sentou alguns conceitos criados pela instituição ecolocados na Agenda Nacional do Trabalho Decen-te. Segundo ela, “entende-se por trabalho decenteum trabalho adequadamente remunerado, exercidoem condições de liberdade, eqüidade e segurança,capaz de garantir uma vida digna”. Um empregodecente é o emprego necessário para que as pes-soas tenham uma vida digna, sem exageros, razoá-vel, segundo os padrões básicos de cada sociedade.

Laís reconheceu que o pensamento pode serchamado de utópico, mas acredita que cada socie-dade deve definir quais as possibilidades e neces-sidades que devem ser abordadas e persegui-lascom afinco. ”O trabalho decente é uma condiçãofundamental para a superação da pobreza, aredução das desigualdades sociais, a garantia dagovernabilidade democrática e o desenvolvimentosustentável”, declarou. Apesar de a Agenda propordiversos planos para o combate ao trabalho escra-vo, infantil, entre outros, ela ainda não é um pro-

grama. Para a socióloga, esses são problemas pos-síveis de se eliminar em um horizonte razoável.

O presidente do Instituto Observatório Social,Kjeld Jakobsen, apresentou algumas metas e obje-tivos ligados ao trabalho decente, em que o prin-cipal é verificar e medir os problemas trabalhistas.Kjeld afirmou que não é de responsabilidade doInstituto buscar resolver esses problemas, masapresentá-los de forma a que as empresas e orga-nizações ligadas ao trabalho, como sindicatos, seempenhem na busca pelo trabalho decente.

Para Caio Magri, gerente de Parcerias do Insti-tuto Ethos “o crescimento econômico somente será

sustentável e, portanto, de interesse de toda asociedade, se implementarmos uma agenda de tra-balho decente”.

A Agenda Nacional do Trabalho Decente procu-ra demonstrar quais são os aspectos que devem serabordados para se chegar ao respeito às normasinternacionais do trabalho, à promoção do empregode qualidade, à extensão da proteção social e, prin-cipalmente, ao diálogo social, em que o Brasil temavançado imensamente nos últimos anos. “Nenhumdesses problemas se resolve da noite para o dia, porisso, estamos lutando para acabar com eles de for-ma organizada e multidimensional”, finalizou Laís.

PAINEL TEMÁTICO 7PAINEL TEMÁTICO 7

Trabalho decente: o Brasil avançou,mas os problemas não se resolvemda noite para o dia

Laís Abramo, Caio Magri e Kjeld Jakobsen

Da esquerda para a direita, Jacques Pena, Gerard Zwetsloot, Paulo Itacarambi, Nilson Tadashi Oda, Neylar Lins eNazem Nascimento

Gera

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OFICINA DE GESTÃO 2OFICINA DE GESTÃO 2

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Oficina de Gestão GRI – Global Reporting Iniciative

A segunda Oficina de gestão, que contou com acoordenação de Beat Grüninger, sócio-fun-

dador da BS&D Business and Social Development,Gláucia Térreo, coordenadora do projeto Ferramen-tas de Gestão do Instituto Ethos e Sônia Loureiro,consultora de Responsabilidade Corporativa, tevecomo objetivo esclarecer as principais modificaçõesda terceira geração do modelo de relatório deSustentabilidade da Global Reporting Iniciative(GRI), bem como os desafios e oportunidades em seelaborar relatórios neste modelo.

Antes de dar início aos trabalhos e passar apalavra a Ernst Ligteringen, presidente da GRI,alguns convidados pela coordenação da oficinaexpuseram suas dificuldades para a concretaimplementação de relatórios seguindo o padrãoproposto pela GRI. Cid Alledi, da ONG Transpa-rência Brasil, disse que sob o ponto de vista dedados financeiros, a empresa pode optar por nãodivulgar todos os seus números, “mas sob a óticada sustentabilidade, sob o ponto de vista ético,não deveriam existir concessões: a transparênciadeve ser total”.

Roberto Gonzalez, da Associação dos Analis-tas e Profissionais de Investimento do Mercado deCapitais (Apimec), também defendeu o sigilo dealguns dados, como informação estratégica daempresa, e apontou dificuldades para implemen-tação do modelo proposto pela GRI nas pequenas

e médias empresas. Vivian Smith, da consultoriaERM, enfatizou que o relatório não deve ser vistopelas empresas como a única forma de comunicar.Na sua opinião, as informações nele contidas de-vem ser adequadas a cada público de interesse.

Ernst aproveitou sua participação para justi-ficar que “a GRI é um fator de complementação,gerando um arcabouço comum entre os váriosstakeholders da empresa”. Ele revelou, ainda, queuma das novidades reservadas pela terceira gera-ção da GRI é a inclusão de análise das estratégias,oportunidades e riscos, dirigida especificamenteaos investidores. Esse público reconhece aimportância dos relatórios de sustentabilidade,mas busca informações consolidadas, sem muitosdetalhamentos técnicos.

Com uma proposta bastante dinâmica, a ofici-na propôs aos participantes identificar quais sãoas oportunidades e benefícios ao se desenvolverum relatório GRI e, em seguida, listar as principaisdificuldades e os elementos motivadores para asorganizações, neste contexto. A atividade, desen-volvida em grupos, contou com a intermediaçãode um facilitador, representante de empresas eintegrantes da coordenação da oficina.

Na avaliação de Roberto, “todos saem comuma questão prática, além dos conceitos ereflexões dos demais trabalhos da Conferência,para reportar seus projetos de sustentabilidade

com metodologia e transparência”. Esta é a per-cepção também de Carolina Goulart, da ALLAmérica Latina Logística, que já produz relatóriose buscou na oficina aprofundar conhecimentossobre o modelo proposto pela GRI. “Com a per-cepção das oportunidades, dificuldades e moti-vações, percebo que há maior possibilidade de sebuscar o engajamento dos vários setores daempresa para construção de um modelo detransparência e credibilidade, reconhecido pelomercado”, enfatizou.

Unitrabalho; Neylar Lins, representante da AvinaBrasil Nordeste; e Nilton Tadashi, assessor daAgência de Desenvolvimento Solidário da CentralÚnica dos Trabalhadores (ADS/CUT) — apresentouo projeto que tem como objetivo estimular acooperação de empresas para o desenvolvimentode cadeias produtivas, gerando trabalho e renda àpopulação das regiões Norte e Nordeste do Brasil.“A idéia, por trás desse objetivo, é promover ainclusão social e gerar condições que façam aspessoas atingirem uma auto-gestão o mais rápi-do possível”, disse Nilton Tadashi. Para isso, são

necessários investimentos nas cadeias de pro-dução de mel, caju, resíduos sólidos, mandioca econfecção.

“Estas áreas de trabalho, foram escolhidasporque são atividades de maior vocação do semi-árido brasileiro”, explicou Jacques Pena.

As cadeias produtivas enfrentam muitas difi-culdades como, por exemplo, falta de capital degiro, políticas públicas que nem sempre favore-cem a iniciativa, organização da infra-estrutura,governança, capacitação dos produtores, falta deassistência técnica e, principalmente, a comer-

cialização, que foi alvo de muito debate. Segundo Paulo, “o GT desenvolve projetos e

programas que foram criados, reestruturados ecomentados no Encontro Internacional doNordeste do Brasil, realizado em março último, noqual o próprio GT se apresentou aos diversosatores sociais presentes (empresas, organizaçõesda sociedade civil, universidades, governos etc.)”.Para o professor Nazem, “o GT busca estabeleceruma economia solidária, começando com odesenvolvimento local, por meio da geração detrabalho e renda”.

Ernest Ligteringen

ção de trabalho e renda

21 de junho de 2006

CAFÉ DA MANHÃCAFÉ DA MANHÃ

14

Durante o café da manhã, o Comitê Gestor do Fundo de Capital Solidário(FCS) reuniu empresas e convidados para apresentar a iniciativa, que é

voltada para empreendimentos da economia solidária na América Latinacomo opção de investimento solidário e sustentável. Francisco Mazzeu, dire-tor executivo da Fundação Unitrabalho, mostrou o plano de trabalho e aagenda de cooperação intersetorial para o desenvolvimento deste Fundo.

O FCS tem por objetivo contribuir para a implementação e o aperfeiçoa-mento de empreendimentos, com elevado potencial de retorno econômico-social, criteriosamente selecionados e monitorados continuamente, visto queo investimento será feito em parcelas, liberadas conforme o atendimento demetas operacionais, financeiras e sociais. Tais empreendimentos já podemcompor a rede de parceria de empresas ou instituições que venham a parti-cipar do fundo.

Francisco explicou que “o FCS é um caminho para a complementação derecursos em novos empreendimentos sociais ou mesmo nos já existentes, que

com novos investimentos podem aprimorar ou ampliar a capacidade produ-tiva e contar com acompanhamento de gestão, que será realizado por pro-fissionais de uma das várias incubadoras de projetos criadas nos projetos daFundação Unitrabalho”.

Quando o empreendimento social atingir a maturidade e se tornar auto-sustentável, geralmente após cinco anos de atividades, o FCS inicia a recu-peração do capital investido, podendo dar início a um novo ciclo de investi-mentos ou retornando o capital aos investidores.

Algumas parcerias ainda estão sendo finalizadas para garantir a elabo-ração do estatuto do Fundo e também dos contratos que serão firmadosentre todas as partes interessadas. “Um dos grandes desafios para consoli-dação desta iniciativa é a adesão ao Comitê Gestor de um agente bancárioque possa assumir a gestão financeira”, finalizou o diretor do FCS.

Por Mônica Nascimento

A plenária Controle social do Estado e do mer-cado — o papel da sociedade civil, contou

com a participação dos palestrantes Sean deCleen, diretor executivo do African Institute ofCorporate Citizenship (AICC), e Eduardo FelipePérez Matias, sócio-advogado do L. O. BaptistaAdvogados, além dos debatedores Luiza CristinaFonseca Frischeisen, procuradora do MinistérioPúblico Federal do Rio de Janeiro, e EduardoCapobianco, presidente do Conselho Deliberativoda Transparência Brasil.

Para Eduardo Matias, o futuro da atuação doterceiro setor é o de substituir, paulatinamente, asfunções do Estado, por meio do fortalecimento

organizacional da sociedade civil. Segundo ele,essa evolução se anuncia pelo tripé “globalização,inovação tecnológica e enfraquecimento do Esta-do” e abre caminho para que os novos atoresassumam e venham cumprir funções até entãodestinadas ao poder público, como promoção dajustiça e desenvolvimento social. O desafio éatuar dentro de um cenário de legitimidade etransparência, buscando-se o interesse coletivo.

Para Luíza, um dos grandes desafios seráencontrar saídas para a inclusão social de umagrande parcela da população mundial que aindanão teve acesso aos benefícios da globalização epermanece às margens do movimento. “É preciso

pensar no âmbito da cidadania e, para isso, énecessário que o Estado esteja presente e quehaja controle social”, explica.

Já Eduardo Capobianco apresentou os riscos dese apostar em um manejo do terceiro setor sobre osmecanismos de governo e de mercado, explicandoque aquele setor também é regulamentado porinteresses que não exclusivamente de colaboração,o que gera uma “disfunção que precisa estar pre-sente quando pensamos em controle da sociedadecivil organizada sobre o Estado e o mercado”. Essadisfunção traz também a necessidade de se esta-belecer critérios precisos de certificação e fiscali-zação dessa atuação.

Sean disse acreditar que “o fluxo de aproxi-mação entre a sociedade civil e o setor privadoformula um novo modelo de mercado, gerandopressão por parte da sociedade e a ampliação denovas tecnologias sociais”. Assim, ele aposta naparticipação ativa do terceiro setor junto à inicia-tiva privada globalizada para a evolução das eco-nomias em desenvolvimento. Além disso, fez umconvite a uma atitude mais esperançosa comrelação a esse movimento: “Trabalho nesse setorhá dez anos e nunca estive tão empolgado comoagora. Até então me sentia um padre no púlpito,explicando o que fazer. Agora sinto que eu e meusinterlocutores falamos a mesma língua”.

A plenária foi moderada por Paulo Itacarambi,diretor executivo do Instituto Ethos.

Fundo de Capital Solidário

PLENÁRIA 3PLENÁRIA 3

Terceiro setor, governo e sociedade

Da esquerda para a direita, Eduardo Felipe Pérez Matias, Luiza Cristina Fonsceca Frischeisen, Paulo Itacarambi, Sean deCleen e Eduardo Capobianco

22 de junho de 2006

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Oencerramento da Conferência culminou com aplenária do Instituto Ethos, onde Oded Grajew,

presidente do Conselho Deliberativo; RicardoYoung, presidente; Paulo Itacarambi, diretor execu-tivo; e Helio Mattar, presidente do Instituto Akatupelo Consumo Consciente, fizeram um grande ba-lanço do encontro de quatro dias.

Oded advertiu que o movimento de responsa-bilidade social empresarial (RSE) “Ainda tem umlongo caminho a percorrer”. Em seguida, Paulo fezuma leitura histórica desse movimento no Brasil,desde a criação do Instituto Ethos, em 1998, apon-tando a agenda e as ações futuras da organização.“A RSE é para nós uma estratégia empresarial detransformação social para atingir negócios susten-táveis e sociedades sustentáveis”, enfatizou.

Ao tomar a palavra, Helio contou que o InstitutoAkatu foi criado há cinco anos dento do InstitutoEthos com o objetivo de induzir o consumidor avalorizar a responsabilidade social como fator decompetitividade entre as empresas. “Iniciamos essetrabalho a partir de temas como recursos naturais eprodutos. Depois, criamos um instrumento, quechamamos de Escala Akatu de ResponsabilidadeSocial para saber o que as empresas estavam fazen-do, por meio de um conjunto de indicadores”.

Na seqüência, depois de comentar os momentos“verdadeiramente históricos” que marcaram esteencontro — como o debate entre jornalistas arespeito da qualidade da cobertura da mídia sobreRSE, a Cerimônia do 6º Prêmio Ethos de Jornalismo,Edição especial e as discussões envolvendo o des-matamento da Amazônia e o controle do Estado,Ricardo ressaltou o quão evidente estão as feridas dequem, no dia-a-dia, enfrenta as contradiçõesintrínsecas a um processo considerado de transição.“Estamos no estágio mais profundo do trabalho dereconhecimento da RSE, como agente transformadordentro das organizações empresariais”, disse.Referindo-se à “berlinda” em que vivem os profis-sionais que atuam em prol da causa da sustentabili-

dade, o presidente do Instituto Ethos lembrou que“ao operar a transição, vivemos as alegrias e as doresdesse processo”, porque há muitas contradições den-tro das empresas. Porém, segundo ele, o saldo é posi-tivo: “Na soma, estamos mais fortalecidos emprocessos de sustentabilidade, seja porque as con-versas estão cada vez mais claras e os casos cada vezmais discutidos, questionados, cobrados. Como ilhasdentro das organizações, temos o desafio de cons-truir pontes para formar um novo tecido social, quenos permita retomar a esperança de criar um mundomelhor, mais ético e responsável”, completou.

Plataformas de diálogo

Para Ricardo, o Instituto Ethos e o InstitutoAkatu são plataformas de diálogo que existem jus-tamente para fortalecer o processo de mudança.Como integrantes da sociedade civil, é fundamentalque cada um cobre mais qualidade também dagestão pública, que não responde à dinâmica dasustentabilidade na velocidade pretendida. “Somen-te com alianças entre as ONGs e as instituições,vamos conseguir mudar isso”, ressaltou, lembrandoainda que, mesmo não querendo, “as empresas pri-vadas devem se conscientizar de que quanto maispoderosa, mais responsável é com o diálogo, a éticae a transparência da sociedade e do Governo”.

“Mecanismos para isso estão sendo criados”,adiantou o presidente do Instituto Ethos. Entre eles,ao lançamento do Fundo do Capital Solidário (FCS),o Índice de Desenvolvimento Infantil Empresarial(IDI-E) e do Pacto Empresarial pela Integridade econtra a Corrupção, viabilizados por meio das muitasparcerias que o Instituto Ethos vem estabelecendocom os diversos atores da sociedade. “Não vamoschegar à utopia da sociedade sustentável se nãoestabelecermos relacionamentos de qualidade. OInstituto Ethos é um espaço de criação desses rela-cionamentos e é por isso que teremos, a pedido dosconferencistas, mais mulheres à mesa, a participaçãodas minorias nas discussões, entre outras sugestões”.

Mecanismos para fortalecer a RSE no Brasil

Para ampliar a influência do movimento deRSE nas políticas macroeconômicas e contribuirefetivamente para reduzir as desigualdades sociais,mantendo o equilíbrio ecológico, promovendo aética e a transparência, foram lançadas na plenáriatrês iniciativas, que visam oferecer às empresasinstrumentos efetivos de apoio à implementaçãode ações práticas: o Fundo de Capital Solidário(FCS), o Índice de Desenvolvimento Infantil —Empresarial (IDI-E) e o Pacto Empresarial pelaIntegridade e contra a Corrupção.

O Fundo de Capital Solidário (FCS) objetivaabrir uma linha de crédito para permitir o cresci-mento das cooperativas, dar ferramentas para queas empresas consigam comercializar seus produtosalternativos e melhorar a gestão empresarial. “OFCS poderá permitir aos empresários acompanharos impactos sociais causados com seu trabalho. Nomédio prazo, espera-se criar um ciclo virtuoso emque a crescente sustentabilidade das práticasincentivadas gerem o retorno do capital investidopelas empresas concessionárias das linhas decrédito”, informou Francisco Mazzeu, diretorexecutivo da Fundação UniTrabalho.

Já o Índice de Desenvolvimento Infantil— Em-presarial (IDI-E) é uma derivação do Índice deDesenvolvimento Infantil (IDI), criado a partir doÍndice de Desenvolvimento Humano (IDH) e quepassou a integrar os Indicadores Ethos deResponsabilidade Social Empresarial a partir daedição 2006. Seu objetivo é estimular as empresasa se preocuparem e agirem diretamente na edu-cação dos filhos de seus funcionários. Marie-PierrePoirier, representante do Unicef no Brasil, disse queapesar da positiva evolução do Índice no País, ain-da há dados com que se preocupar, razão pela qualse requer maior envolvimento das iniciativas pri-vadas. ”Em cerca de 83% dos municípios brasileiros,menos de 70% das mulheres têm acesso às seisconsultas de pré-natal regulamentares”, disse.Igualmente grave é o fato de que apenas 61% dascrianças têm acesso à pré-escola. Finalmentedestacou que a taxa de mortalidade de 2004, queem média no Brasil é de 26 por mil nascimentos,maquia algumas distorções: ”Enquanto criançasbrancas têm uma taxa de 22,9 por mil, quando seanalisa o índice relativo ao nascimento das criançasnegras, esta taxa aumenta para 38 por mil, e para47 por mil em crianças indígenas.

Da esquerda para a direita, Ricardo Young, Oded Grajew, Paulo Itacarambi e Helio Matar

22 de junho de 2006RSE: convergência de forças da sociedade para a construção

de naçõessustentáveis

PLENÁRIA INSTITUTO ETHOSPLENÁRIA INSTITUTO ETHOS

19 DE JUNHO

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N a abertura do Seminário, Oded Grajew, presi-dente do Conselho Deliberativo do Instituto

Ethos, salientou que "da mobilização em torno daresponsabilidade social empresarial, do papel de cadaum de nós e do papel da mídia, vai depender muitodaquilo que a gente espera que o Brasil um dia seja",destacando também a importância que o trabalho deanálise realizado na pesquisa tem para o movimen-to de RSE e em especial para os jornalistas, parceirosna construção de uma sociedade sustentável.

Segundo Paulo Itacarambi, diretor executivodo Instituto Ethos, o que motivou a iniciativa doInstituto Ethos e da Rede Ethos de Jornalistas a, emparceria com a ANDI e a Fundação Avina, desen-volver o estudo Empresas & Imprensa: Pauta deresponsabilidade – uma análise da cobertura jor-nalística sobre RSE, foi a importância do papeldesempenhado pela imprensa para a ampliação e oaprofundamento da responsabilidade social dasempresas. As análises e a publicação foram apre-sentadas na primeira parte do evento de aberturada Conferência. "O trabalho inédito no Brasil éresultado de uma pesquisa que avaliou 750 textosde 54 jornais brasileiros.", ressaltou Paulo.

Na visão de Veet Vivarta, secretário executivoda Agência de Notícias dos Direitos da Infância –ANDI, a parceria no estudo ampliou o campo deatuação da ANDI, demonstrando a consistência dametodologia. Segundo Geraldinho Vieira, diretorde comunicação da Fundação Avina e integrantedo Comitê Consultivo da Rede Ethos de Jornalistas,é importante discutir o papel da imprensa emrelação à cobertura de ações de RSE, como formade promover a evolução desse modelo de análise ede suas aplicações, inclusive ampliando o alcancedessa reflexão para a América Latina.

Guilherme Canela, gerente do Núcleo deQualificação e Relações Acadêmicas da ANDI,destacou na sua apresentação que o objetivo do

trabalho foi oferecer um quadro geral do tratamen-to dado pela imprensa brasileira ao tema de respon-sabilidade social empresarial. A pesquisa apresentoudados positivos como a representação do tema em75% do universo analisado, demonstrando ointeresse das redações brasileiras, mas constatoutambém que 24% desse total de textos apresentamo conceito de RSE atrelado à promoção de eventospor entidades ou empresas, o que caracteriza umafalta de espaço para discussões relevantes ou oaprofundamento do tema.

Crise de valores da sociedade brasileira geradiscrepância nas ações de RSE

Após a apresentação da metodologia e dos resul-tados, Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos,moderou o debate com jornalistas convidados.

Quem melhor definiu o tom da acalorada dis-cussão foi Célia Rosemblum, editora de projetosespeciais do jornal ‘Valor Econômico’: “Para mim,o grande problema é o conceito de RSE”. De acor-do com ela, muito da resistência da mídia emrelação ao tema pode residir no fato de que “emúltima instância, a RSE talvez esteja mesmo liga-da ao mercado e por isso há muitas resistências deambos os lados”, ponderou.

O debate levantou variáveis tão diversas quantocomplementares, deixando evidente que falta a todosos segmentos de imprensa que lidam com responsa-bilidade social e ética muito mais do que a isenção dojornalista. Falta também uma maior transparência ecoerência de empresas e de ONGs quando a pautasão as más práticas. Resta, ainda, a questão do pre-conceito de alguns jornalistas, que acreditam quefalar bem de empresas é merchandising.

Para Heródoto Barbeiro, editor do ‘Jornal daCultura’ e gerente de jornalismo do Sistema Globode Rádio-SP, “ainda que os jornalistas persigamisenção, há que se considerar o capitalismo, seus

O Pacto Empresarial pela Integridade e contraa Corrupção é um compromisso das empresas emfavor da cidadania e da democracia, com o obje-tivo de eliminar diversas formas de corrupção,para além do mundo corporativo. Ele é considera-do um dos exemplos do que pode ser feito paramanter um bom relacionamento entre o poderpúblico e as empresas privadas. Trata-se de umainiciativa que tem como promotores o InstitutoEthos de Empresas e Responsabilidade Social, aPatri Relações Governamentais & Políticas Públi-cas, o Programa das Nações Unidas para o Desen-volvimento (PNUD), o Escritório das Nações UnidasContra Drogas e Crime (UNODC) e o ComitêBrasileiro do Pacto Global, que contém um con-junto de diretrizes e procedimentos que deverãoser adotados pelas empresas e entidades signa-tárias no relacionamento com os poderes públicos,que serão divulgados amplamente para o mercadoutilizar como referência no trato com as empresas.

Seus fundamentos estão baseados na Cartade Princípios de Responsabilidade Social doInstituto Ethos, na Convenção da ONU contra aCorrupção, no 10º princípio do Pacto Global e nasdiretrizes para empresas transnacionais daOrganização de Cooperação e de Desenvolvi-mento Econômicos (OCDE). Empresários de diver-sos setores e inúmeras organizações da sociedadepuderam contribuir para a elaboração do conteú-do em dois seminários realizados: em São Paulo eno Rio de Janeiro, em setembro e novembro últi-mos. Além disso, a proposta foi submetida a con-sulta pública durante o período de 90 dias.

Ao assinarem o documento, as empresasassumirão um compromisso voluntário em favorda ética nos negócios, iniciando um novo temponas relações Estado-iniciativa privada, e tambémnas relações das empresas com o mercado.

O lançamento do Pacto no evento contoucom Oded Grajew, Ricardo Young, PauloItacarambi e Helio Mattar; Eduardo Ricardo,diretor de Relações Governamentais da PatriRelações Governamentais & Políticas Públicas;Guilherme de Almeida, coordenador da Unidadede Direitos Humanos do PNUD, e GiovanniQuaglia, representante Regional do Escritóriodas Nações Unidas contra Drogas e Crime(UNODC) no Brasil; além de Nelson Spinelli,vice-presidente da Bolsa de Valores de SãoPaulo (Bovespa) e de dezenas de empresas, dasmais de duzentas que formalizaram a adesão àiniciativa até o seu lançamento, e represen-tantes das entidades signatárias.

Seminário RSE na mídia19 DE JUNHO

Da esquerda para a direita, Giovanni Quaglia, NelsonSpinelli, Eduardo Ricardo, Guilherme de Almeida, RicardoYoung, Oded Grajew, Paulo Itaracambi e Helio Mattar.

Aconteceu n

Da esquerda para a direita, Veet Vivarta, Oded Grajew, Paulo Itacarambi e Geraldinho Vieira

Da esquerda para a direita, Heródoto Barbeiro, Claudia Vassallo, Ricardo Young, Mirian Leitão e Célia Rosemblum

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Depois de cinco anos premiando jornalistas pelo seutrabalho na cobertura de assuntos relacionados àRSE, o 6º Prêmio Ethos de Jornalismo – Edição espe-cial, entregue na noite de 21 de junho, inovou,focando nas iniciativas editoriais da mídia nacional.”Sou um otimista e acredito na renovação das ener-gias em prol da construção de uma sociedade maisjusta. Por isso, resolvemos contemplar os veículosde comunicação que mais contribuem para gerarmudanças na estratégia de negócios das empresas”,explicou o presidente do Instituto Ethos, RicardoYoung, depois da abertura oficial do evento, feitapela coordenadora do prêmio, Inês Berloffa. Con-correram nesta edição, 103 iniciativas editorias dediferentes veículos, mídias e Estados.

Entre os 11 vencedores apresentados e entre-vistados pela jornalista Glória Maria, durante acerimônia de premiação que, pela primeira vez,aconteceu durante a Conferência Internacionaldo Instituto Ethos, duas iniciativas mereceramdestaque pela quantidade de prêmios recebidos: aTV Cultura e o jornal ‘Valor Econômico’. À soleni-dade, transmitida online, seguiu-se a apresenta-ção do espetáculo Samwaad, idealizado e dirigidopelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo com o objetivo detrabalhar a dança como forma de expressão entrejovens desfavorecidos.

Nesta sexta edição, cinco iniciativas forameleitas por um Júri Especial, integrado pelos jorna-listas Caio Túlio Costa, Beth Carmona, CarlosEduardo Lins da Silva, Miguel Jorge, RicardoNoblat e Sinval Medina, e outras cinco escolhidas

objetivos e as mudanças que causaram, na verdade,uma mudança de nomes para as mesmas coisas”.Para ele, jornalismo não é dar somente boas notícias,mas criticar a sociedade.

A necessidade de uma ação crítica sobre asociedade também foi a opinião de Miriam Leitão,colunista do jornal ‘O Globo’, comentarista da ‘RádioCBN’, do ‘Bom Dia Brasil e da Globo-News, quecobrou das organizações não-governamentais(ONGs) um posicionamento mais efetivo para a con-solidação dos princípios da RSE: “As ONGs tambémdevem cutucar, como os jornalistas, questões comoas que envolvem empresas que usam trabalho escra-vo, por exemplo”, enfatizou. Para ela, se uma em-presa que tem ações de RSE está envolvida no‘Valerioduto’, por que quando questionada a respeitoa resposta padrão “A empresa não se pronuncia sobreo assunto” é aceita pela mídia e pela sociedade?

A resposta a esse questionamento foi, de certaforma, feita por Cláudia Vassalo, diretora de redaçãoda revista ‘Exame’, que admitiu que “nenhuma em-presa é perfeita”.

De acordo com Cláudia, “quando estas empresassão abordadas sobre uma matéria mais contun-dente, elas não gostam e não falam, porque são for-madas por pessoas, e, como pessoas, têm defeitostambém. As empresas refletem o que o ser humanoé”. Segundo sua análise, é burrice achar que asociedade não terá acesso a esse tipo de informação,porque a empresa não consegue se esconder da boaimprensa ou do bom jornalista; da imprensa analíti-ca, que tenta achar um equilíbrio em sua cobertura.“A realidade é cheia de matizes e esses matizestodos devem ser considerados. Coisas ruins e coisasboas não são 100% de um lado ou de outro.Jornalistas precisam ser críticos em relação a essemaniqueísmo”, concluiu a diretora de redação.

Ao término do encontro, a conclusão dos profis-sionais pôde ser resumida numa frase de MiriamLeitão: “Estamos com valores inadequados, e isso éo que precisa ser questionado. Precisamos dar umpasso adiante. Eu acho que RSE é uma nova atitude,de cobranças de todo o tipo de informação, e nãosomente as negativas ou positivas”.

Empresários da comunicação poderão participarde um novo debate sobre RSE na mídia

Um dos desdobramentos desse debate pode seruma plenária na Conferência de 2007 com a pre-sença de empresários da mídia.

A possibilidade foi cogitada por Paulo Itaca-rambi, diretor executivo do Instituto Ethos, depois doseminário RSE na Mídia. Questionado sobre a impor-tância de se ter na mesa as pessoas que realmentedecidem o que será ou não retratado pela mídia,disse Paulo: ”O objetivo dessa mesa foi um debatesobre a pesquisa quali-quantitativa publicada nolivro que lançamos hoje, do ponto de vista de quemfaz a notícia. Por isso, chamamos profissionais da ati-va, cujo trabalho é um expoente sobre o tema dentrodas redações de veículos de comunicação. Porém,acho importante, sim, que tenhamos empresários damídia discutindo esse mesmo tema para que pos-samos avançar nesse caminho”, disse.

21 DE JUNHO21 DE JUNHO

6º Prêmio Ethos elege asmelhores iniciativas editoriaisna cobertura da RSE no País

VENCEDORES DO 6º PRÊMIO ETHOS DE JORNALISMO

JÚRI ESPECIALCategoria Mídia DigitalEnvolverde Revista DigitalCategoria Mídia Eletrônica RádioA série especial 15 Anos do Código de Defesado Consumidor, feito pela Rádio Eldorado AMCategoria Mídia Eletrônica TelevisãoDocumentário e programetes Dis Baixo Sul,da TV SalvadorCategoria Mídia Impressa JornalCaderno Empresa & Comunidade, do jornal‘Valor Econômico’Categoria Mídia Impressa RevistaSérie especial Trabalho Escravo, da revista ‘Época’.

JÚRI VIRTUALCategoria Mídia DigitalPortal Setor 3Categoria Mídia Eletrônica RádioPrograma Mundo Sustentável, da Rádio CBN;Categoria Mídia Eletrônica TelevisãoPrograma Balanço Social, da TV CulturaCategoria Mídia Impressa JornalCaderno Empresa & Comunidade, do jornal‘Valor Econômico’Categoria Mídia Impressa RevistaGuia Exame de Boa Cidadania Corporativa, darevista ‘Exame’ e revista ‘Adiante’.

PRÊMIO DESTAQUEPrograma Balanço Social, da TV Cultura

a Conferência

Finalistas e vencedores do 6º Prêmio Ethos de Jornalismo — Empresas e Responsablidade Social — Edição especial

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por um Júri Virtual, composto por associados aoInstituto Ethos, que puderam votar via internet.Com base nos resultados dessa votação eletrônica,somados a uma escolha feita pelos participantesda Conferência, os organizadores criaram maisuma categoria: o Prêmio Destaque.

Consolidando os resultados obtidos no JúriVirtual, o programa Balanço Social, da TV Cultura,conquistou, também o Prêmio Destaque.

Uma festa para os jornalistas engajados emprojetos de RSE

Foi uma premiação descontraída, com direitoa suspense e brincadeiras entre os promotores eapresentadores. O destaque foi para a “mestre-de-cerimônia”, Glória Maria, apresentadora doprograma Fantástico, da Rede Globo.

A cerimônia do 6º Prêmio Ethos de Jornalismoreuniu jornalistas de várias mídias, tornandoconhecidos os rostos de quem está por trás dosprodutos que abordam a RSE, mas que nem sem-pre são conhecidos do público. No depoimento decada um, a certeza da conquista dos objetivosincialmente traçados e agora reconhecidos.

“Este prêmio representa uma forma de retri-buição do que vimos fazendo para melhorar einvestir mais em pautas que retratem o que as

empresas estão fazendo em RSE”, disse a editorado Portal Setor 3, do Senac, Daniela Marques.

“Nem sempre voamos em céu de Brigadeiro, mascertamente, o prêmio reconhece uma luta de dezanos”, comemorou o jornalista, Adalberto WoldianerMarcondes, diretor responsável pela Envolverde —Revista Digital de Ambiente, Educação e Cidadania.

“O caderno Empresa & Comunidade completaseis anos agora, juntamente com o ‘Valor’; eles pra-ticamentes nasceram juntos. Queríamos, desde oinício, contemplar um movimento até então novopara a época. A decisão foi acertada e a premiaçãocoroa isso”, disse Rosvita Saueressig, diretora deprojetos editoriais do jornal ‘Valor Econômico’. Ojornal foi considerado o que melhor cobriu as açõesde RSE na categoria de veículo impresso tanto peloJúri Especial quanto pelo Juri Virtual. “Se antes sefalava em apenas terceiro setor, hoje, já evoluímospara sustentabilidade e Metas do Milênio e a idéiaé a de que venhamos a renovar sempre, buscandonovos questionamentos”, complementou Rosvita.

A premiação da mídia Rádio foi a mais descon-traída e informal da noite, feita no estilo talk-show. Ao receber o prêmio, em nome da rádio CBN,a editora Marisa Tavares mencionou a satisfação desaber que seu programa, elaborado com o jornalistaAndré Trigueiro, estava sendo usado em sala de aulapor um arquiteto, para estimular os alunos a pensa-rem em soluções inovadoras de obras arquitetônicaspara o futuro. Por sua vez, a editora Tatiana Ferraz,da rádio Eldorado, declarou-se surpresa ao receber oprêmio, especialmente porque, na edição especialrecentemente lançada, “falei mal de muita empresa,sob a ótica da visão crítica de consumidor”.

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Q uarenta e um jovens da periferia de São Paulo foram selecionados paraintegrar o grupo de dança do projeto Dança Comunidade, criado em

2003, com o objetivo de unir o conhecimento do corpo a relações com asociedade. O movimento tem o apoio do Sesc-Pompéia, de São Paulo; coor-denação de Ivaldo Bertazzo, coreógrafo, bailarino, professor de dança e deterapias corporais; e patrocínio da Petrobras.

Nesse projeto, estiveram envolvidos 13 arte-educadores, durante novemeses, e jovens de 11 a 18 anos que, além das aulas de canto, percurssão,ritmo, origami, lingüística, dança e saúde, ainda receberam atendimentomédico, alimentação balanceada, transporte e bolsa-auxílio.

A versão exclusiva de Samwaad – Rua do Encontro foi apresentada noTeatro Alfa, como atração cultural da Conferência, num oferecimento daPetrobras. Desde a sua estréia o espetáculo já foi assistido por mais de 60 milpessoas e, apesar disso, revela Ivaldo, no início foi necessário muito trabal-ho e dedicação para conquistar esse sucesso: “Foi um investimento de muitotempo, mas que acabou valendo a pena e dando um resultado bastantesatisfatório. Eles têm uma capacidade de aprendizado muito grande,desconhecida pela sociedade”, conta o coreógrafo.

Ivaldo destaca, ainda, que “todo ensino de arte-educação feito por ONGsé, no fundo, uma complementação ao ensino público”.

Para a jovem de 16 anos, Gislene de Sousa, que está no grupo há trêsanos, a dança hoje é mais do que uma diversão, é uma profissão. “Agora

quero continuar dançando. O meu sonho é dar aulas de dança”. Abrir acabeça para o que está acontecendo no mundo, é a dica que Gislene deixapara os jovens que lutam por uma oportunidade.

A arte como passaporte para a cidadania

Aconteceu na Conferência

Cena do espetáculo Samwaad - Rua do Encontro

21 DE JUNHO21 DE JUNHO

Troféu do Prêmio Ethos de Jornalismo 2006

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20 DE JUNHO

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Duas moças e dois rapazes, mudos e apáticos,dispostos um atrás do outro. De repente, ouve-

se uma voz: “A diretoria manda avisar que não hámais lugares disponíveis”. Os quatro reclamam. Avoz continua: “A diretoria manda avisar quelugares podem aparecer”. Voltam para a fila e, aospoucos, começam a cantar. Com uma breve músi-ca sobre inclusão social, o grupo de teatro OsInclusos e os Sisos — Teatro de Mobilização pelaDiversidade inicia a apresentação do espetáculo“Histórias do final da fila”, com pequenas cenassobre o dia-a-dia de pessoas com deficiência.“Portadora não, eu tenho deficiência, mas não por-to nada”, diz uma das personagens. A peça abordao tema com uma visão crítica e, ao mesmo tempo,lúdica, arrancando risadas do público.

O grupo Os Inclusos nasceu de um desafioapresentado pela ONG Escola de Gente — Comu-nicação em Inclusão a seis jovens atores no ano de2003, no Rio de Janeiro. A idéia era de que estu-dassem o conceito de sociedade inclusiva, propos-to pela ONU, e encontrassem meios de utilizar oteatro para disseminá-lo, priorizando os direitos depessoas deficientes. Hoje, o espetáculo é dirigidopor Diego Molina e ainda não tem patrocínio. Apósa questão levantada por um espectador sobre o

modo como as pessoas ‘teoricamente excluídas’encaram a peça, uma participante da platéia comdeficiência visual se manifestou, dirigindo-se aos“Inclusos”: “Vocês pegaram a sutileza dos precon-ceitos, das discriminações. Eu me sinto representa-da por vocês aí no palco”.

Com sutileza, outros tipos de discriminaçãotambém foram abordados durante o espetáculo,como sotaques, preconceito racial e filosofias devida que pregam que todos são iguais. “Somosdiferentes, cada um é de uma forma”,criticava uma das personagens dapeça. O trabalho desperta reflexõessobre o que é discriminar e pode serutilizado para abordar qualquer tema,por isso novos esquetes estarão sem-pre sendo criados. Assim, “Os Inclusose os Sisos” tornam-se, simultanea-mente, uma manifestação social eartística, apontando as dificuldadesque grupos em situação de vulnerabil-idade podem encontrar no cotidiano.

Em uma das cenas do espetáculo,os personagens criam e cantam a mú-sica: “Eu era cego e voltei a enxergar /eu era surdo e voltei a ouvir / eu era —

‘perneta’ e tomei um remédio que fez a pernacrescer / eu era ‘down’ e agora sou um cara legal”.Ao final, um deles diz: “Acho que as pessoas não vãoentender a crítica”. Dessa forma, explicita o assuntotão bem abordado na peça: o de que a inclusão sedá em todas as condições humanas, e não apenasnas pessoas com deficiência. “Utilizamos a deficiên-cia como estratégia para uma coisa maior”, encer-rou Cláudia Werneck, presidente da ONG Escola deGente — Comunicação em Inclusão.

Q uanto vale ou é por quilo?, do roteirista ediretor Sérgio Bianchi, foi uma das películas

apresentadas dentro das atividades culturais pro-gramadas para o encontro. O filme retrata, pormeio de analogia entre o antigo comércio deescravos e a atual exploração da miséria pelomarketing social, a manutenção de um quadrosocial no qual a miséria se tornou fonte de lucropara as empresas. E como produto que vende beme gera lucro, precisa ser mantido.

Um paralelo é traçado entre o dinheiro dos sen-hores de escravos que mantinham o ciclo escravistafuncionando, e o dinheiro de uma ONG criada poruma empresa para que suas ações sirvam de mar-keting e seus dividendos alimentem um “Caixa 2”. Aescravidão permanece, transformando-se na mis-éria que permite às populações pobres serem explo-radas. Desta vez, porém, na forma de assistencialis-mo revertido em boa imagem para as empresas.

O filme é uma crítica ácida e severa, como écostume do diretor, a todo o terceiro setor e às ten-tativas da alta sociedade de se ver livre da culpa deser burguesa em um país miserável como o Brasil.

“Vocês são todos predadores”.Com essas e outras declarações contun-

dentes, Sérgio Bianchi marcou a exibição de seuQuanto vale ou é por quilo?. Criticando a própriaConferência e seus participantes, o diretor eroteirista afirmou, contrariando uma das princi-pais idéias debatidas, que não há como descom-patibilizar ações supostamente de responsabili-dade social de marketing empresarial.

Afirmou ainda, em resposta a um dos partici-pantes, que a adoção de uma postura socialmenteresponsável por empresas, é, “nos momentos atuais,uma boa forma de ganhar dinheiro. Uma forma efi-ciente de transformar a miséria em lucro”.

A CorporaçãoSe as corporações fossem mesmo indivíduos,

que tipo de gente seriam? O escritor Joel Bakan eos cineastas Mark Achbar e Jennifer Abbott ten-taram responder essa questão no documentárioThe Corporation (A Corporação), segundo filmeapresentado na Conferência. Durante a apresen-tação do documentário, foram notórias as reaçõesdo público, como a de André Vitti, administradorda empresa Axial, que achou “ótimo, provocante,e faz com que paremos para refletir sobre nossasações diárias”.

A miséria como fonte de lucropara o marketing social

Sérgio Bianchi

‘Eu me sinto representada por vocês’

Cena da peça Histórias do Final da Fila

Aconteceu na Conferência20 DE JUNHO

Pesquisa de avaliaçãoA Conferência Internacional 2006

SIM NÃO NÃO RESPONDEU

Está apresentando temas de interesse para a sua empresa 96% 3% 1%

Está apresentando idéias que poderão ser implantadas em sua empresa 83% 13% 3%

Está trazendo inovações em termos de idéias, práticas, ferramentas e modelos 73% 24% 3%

Está trazendo inovações em termos de medidas de acessibilidade em relação às pessoas com deficiência 68% 28% 4%

(CASO SIM) Essas inovações poderão ser reproduzidas em sua empresa 88% 6% 6%

Propicia troca de experiências entre profissionais 94% 4% 1%

Oferece tempo adequado para debates 51% 47% 2%

Distribuiu adequadamente palestrantes segundo a diversidade de temas 83% 15% 1%

ATIVIDADE NOTA

Seminário R S E na Mídia 4,3

Plenária especial de abertura 3,8

Plenária 1 4,1

Plenária 2 3,8

Plenária 3 4,1

Plenária Instituto Ethos 4,3

Mesa-redonda 1 4,4

Mesa-redonda 2 3,5

Oficinas de gestão* —

Painel temático 1 4

Painel temático 2 3,7

Painel temático 3 3,8

Nota média das atividades da Conferência Internacional 2006 (0 a 5 - ótimo) Nota geral da Conferência Internacional

2006 (0 a 5 - ótimo)

ATIVIDADE NOTA

Guia do Participante 4,5

Organização geral da Conferência 4,5

Intervalos para café 4,5

Tradução simultânea 4,4

Material de divulgação 4,7

Instalações 4,7

Recepção do evento 4,6

Almoços 4,8

Atendimento prévio ao evento 4,5

Diversidade de atividades 4,3

Cargo dos participantes

CARGO %

Presidente/vice-presidente/superintendente 3%Diretor 5%Gerente 22%Coordenador 20%Analista 19%Sócio/associado 1%Outros 2%

Consultor 7%Assessor 3%Assistente 3%Administrador 2%

Avaliação geral da ConferênciaInternacional 2006

Boa 52%

Ótima 38%

Regular 9%

ATIVIDADE NOTA

Painel temático 4 3,7

Painel temático 5 4,3

Painel temático 6 3,8

Painel temático 7 3,6

Painel temático 8 2,6

Painel temático ISO 26000 de Responsabilidade Social 3,9

Filme Quanto vale ou é por quilo? 4,7

Filme The Corporation 4,8

Peça de teatro Os inclusos e os sisos 4,1

Diálogo com Steve Rochlin – The Global Leadership Network 3,8

Muito grandes

Grandes Pequenas Muito pequenas

50%

44%

4%0%

Perfil dos pesquisadosClassificação de cor e raça

Os três pontos fortes do evento

Prêmio Ethos de Jornalismo

Sim 61%

Não 39%

Você já tinha ouvido falardeste Prêmio?

Você considera uma boa ocasião para votação e entrega do Prêmio?

Sim 86%

Não 11%

Chances de participar de futuras Conferências

Branca

Negra

Parda

Amarela

Indígena

77%

5%

16%

1%

0%

Perfil dos pesquisadospor sexo

Masculino 30%

Feminino 70%

A avaliação do evento, na opinião dos participantesA pesquisa foi aplicada com apoio do Ibope

Opinião e realizada com 230 participantes daConferência.

Metodologia: Utilizamos questionário estru-turado, com perguntas fechadas e abertas. Nesteano, com objetivo de ampliar o número derespostas e extrair mais informações, preferimosaplicar a pesquisa com uma equipe de entrevista-dores, que abordaram os participantes nos dias20 e 21 de junho.

*Avaliação das Oficinas de gestão: esclare-cemos que a pesquisa foi realizada por amos-tragem e a grande maioria dos entrevistados nãoparticipou das oficinas. Por isso, as notas dessasatividades não foram computadas.