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ano um | nº 6 | maio/junho 2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE plurale CONEXÕES DIGITAIS E CULTURAIS DAS TELES A CAÇA FOTOGRÁFICA À ONÇA PINTADA SUSTENTABILIDADE ISRAEL KLABIN UMA ENTREVISTA HOMENS PLURAIS FURTADO, FREI BETO E CASALDALIGA em revista

Plurale em revista edição 6

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Plurale em revista edição 6

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ano um | nº 6 | maio/junho 2008 | R$ 10 ,00 | AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

plurale

CONEXÕES

DIGITAIS E CULTURAISDAS TELES

A CAÇA

FOTOGRÁFICA ÀONÇA PINTADASUSTENTABILIDADE

ISRAEL KLABINUMA ENTREVISTA

HOMENS PLURAIS

FURTADO, FREI BETOE CASALDALIGA

em rev i s ta

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Oaquecimento global, antes conversa deecologistas, ambientalistas e muitas vezesde eco-chatos, começa a dar sinais visíveisaos homens. A terra treme no Brasil, naChina, em Myanmar. Águas avançam, gelei-ras derretem. E como no filme do magis-tral Luchino Visconti, que ilustra esse edi-torial, a vida do homem começa a sofrer

sérias ameaças. E, de tal e renitente forma, são ameaças nascidas docapitalismo e consumismo selvagens que, se na obra cinematográfi-ca de 1948 aturdia pobres e explorados pescadores da Sicília, agoranão faz diferenciação sócio-econômica: atinge a todos. Um alerta gri-tante de que é preciso crescimento e consumo com responsabilida-de, sobretudo inclusão social e econômica. Uma luta na qual PedroCasaldaliga, nosso homenageado dessa edição, assim como Celso Fur-tado, sempre estiveram engajados.

Ao defender a preservação de rios, mares, geleiras e até da onçapintada, como nos mostra Sergio Lutz em reportagem desta edição,ainda nos será possível preservar o futuro para as próximas gerações,o que é o próprio sentido da expressão sustentabilidade.

O futuro, não podemos ignorar, passa também pelas modernasredes de conexão e de informação. Dez anos após a privatização dasempresas de telefonia, as redes de conexão se espalham e é a infor-mação que nos conecta que possibilitará a todos pulverizar concei-tos de viver melhor, de repensar a educação em novas bases comonos ensina Ana Lagoa em entrevista para Maria Helena Malta.

Da mesma forma, cada vez mais surgem no cenário empresários,como Israel Klabin, dispostos a pensar e traçar o futuro com mais igual-dade. São pontos de reflexão. Idéias que impressas nessas folhas depapel reciclado poderão semear em muitas cabeças uma nova reali-dade, mais digna a todos.

A terra treme e belezas como as do Rio de Janeiro, em belas fotos,nos convidam a preservar para que possamos usufruir e as deixarcomo legado de nossa pssagem pelo planeta. A melhor e mais ricaherança para gerações futuras.

E se a terra treme, tremem também as bases da política. A acrea-na Marina Silva deixou o Ministério do Meio Ambiente e um legadode profundo respeito e defesa de valores morais e ambientais. Prin-cípios que o carioca Carlos Minc promete, mais que honrar, cumprir.Que as falas, o verbo em si mesmo se tranforme em realidade.

A terra treme e faz tremer a todos. É um convite à reflexão madu-ra, menos ideológica, capaz de como as redes de fibras ópticas des-sa capa ligar a todos nós que estamos à deriva daquilo que fizemosde nós e dos outros, inclusive os outros que ainda estão por vir.

editorial

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22..�

Contexto

NO RASTRODAONÇA PINTADA

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�12.

PELO BRASIL30

PERFILCELSO FURTADO34

ENSAIOPLURALE60

PELAS EMPRESAS58 5

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44. 25.PELO MUNDOO LUXO E A

POBREZA DOMUNDO

ARTIGOSFREI BETOE PEDROCASALDALIGA

A VE

LA E

ARO

DA D

E SA

MBA

ANA LAGOAE OS DESAFIOSDA EDUCAÇÃO

48.

1968UM ANOREVISITADOEM LIVROS

21.

12.ISRAEL KLABINE O FUTURO

56. Bazar ético47.

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Quem faz a plurale

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“Paz e Bem! As revistas chegaram. Muito obrigado. São muitoboas. Dividi com as várias paróquias. Um forte abraço”Frei Luiz (Dom Luiz Flávio Cappio)Barra, Bahia

“A equipe está de parabéns pela edição 5 da Plurale: consegui-ram fazer uma bela e interessante revista. Li com prazer e apren-di coisas, como o sistema do microsseguro que eu não conheciae que parece uma avenida nova; boa matéria. Gostei também dever a simpática referência às bordadeiras de Barra Mansa, que euconheço e admiro, na matéria de Isabel Capaverde, sobre a eco-nomia do carnaval. Falta só um pouco mais de esforço de mar-keting; avalio o quanto é difícil. Mas virá. Não desanimem porfavor: o Brasil precisa de vocês.”Saturnino Braga, Presidente do Instituto Brasileiro de Soli-dariedade, Rio de Janeiro

“Ficou muito interessante a matéria sobre microsseguro. Parabéns”Alberto Borges Matias, professor da FEA/USP

”Mando este e-mail mesmo que um pouco atrasado para agrade-cer as matérias enviadas de Plurale. Gostei muito de ler os arti-gos. Aproveito para desejar os melhores votos ao projeto.”Jodie Thorpe, SustainAbility, Londres

“Acuso o recebimento e agradeço o envio da edição 5 de Plura-le em revista”Jorge Khoury, Deputado Federal

“Obrigada. Ótima matéria sobre os 20 anos do Fórum Nacional.Abraço afetuoso para Sônia Araripe e Carlos Franco.”João Paulo dos Reis Velloso, presidente do Fórum Nacional/Instituto Nacional de Altos Estudos

“Gostaria de saber como posso fazer assinatura de Plurale emrevista? A propósito, parabéns à equipe pelas matérias excelen-tes. Gostei principalmente da nota “Recicle suas roupas” (pág. 42edição nº 5). Super interessante!”Nair Nunes, Rio de Janeiro

Prezada Nair, obrigada! Para fazer uma assinatura anual de Plu-rale basta acessar o site www.plurale.com.br

“Recebi a edição 5, de março/abril. Parabéns! Está muito boa. Pau-tas densas, artigos interessantes.”Nélson Turcci, São Paulo

“Recebi esta semana a edição 5 de Plurale em revista. Ainda estouviajando nas matérias. Estou gostando de cada frase ali coloca-da. Um alerta, um apelo, um gesto, uma história, uma maneiranova de viver... Parabéns”Giovanni Frigo, São João del Rey, Minas Gerais

CartasDiretores

Carlos Franco

[email protected]

Sônia Araripe

[email protected]

Comercial

[email protected]

Editor de arte

Marcelo Begosso

[email protected]

Fotografia

Luciana Tancredo, Cacalos

Garrastazu, Agência Brasil e

Maradentro

Colaboradores nacionais

Múcio Bezerra, Isabel Capaverde,

Marcelo Pinto, Vicente Senna, Nícia

Ribas, Geraldo Samor, Sérgio Lutz e

Renata Mondelo

Colaboradores internacionais

Virginia Silveira, Yume Ikeda, Marta

Lage, Ivna Maluly e Rita Bastos

Plurale é a uma publicaçãoda Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75)

em parceria com a SA Comunicação Ltda

(CNPJ 04980792/0001-69)

Impressão: Gráfica Ideal

Revista impressa em papel reciclado

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202

CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932

São Paulo | Alameda Barros, 66/158

CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947

Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala

95

CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708

Os artigos só poderão ser reproduzidos com

autorização dos editores

� Copyright Plurale em Revista

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As metasde todos

pela educaçao.˜

1.Todos de 4 a 17 anos na escola.

3.Todos aprendendo o que é certo para cada série. 4.Todos formados

no ensino médio até 19 anos.

5.Todo investimento em educação bem cuidado e ampliado.

www.todospelaeducacao.org.br

2.Todos lendoe escrevendo até os 8 anos.

Se todos se lembrarem destas 5 metas e se todos lutarem por elas,todos conseguirão melhorar a educação e todos vão ganhar com isso.

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Artigo MAUROAMBRÓSIO

MARKETING SOCIAL

Recentemente fui abordado para responder a umaquestão que me fez parar para pensar: ainda existemmuitas empresas que desconhecem o que é ser susten-tável no mundo corporativo. A pergunta que me fezrefletir foi: - Ser socialmente responsável não é a mes-ma coisa que fazer marketing social? O marketingsocial, propriamente dito, não é uma estratégia merca-dológica adotada por uma empresa com o objetivo devender mais produtos ou serviços.

A história do marketing social começou na déca-da de 60 nos Estados Unidos no setor da saúde, ondeas ações eram exclusivamente promovidas por insti-

tuições sem fins lucrativos. E, definitivamente, não podemos dizer que sersocialmente responsável é ter como objetivo reforçar ou melhorar a imagemcorporativa associando a marca da empresa à causas sociais. É muito maisdo que isso, é uma forma de garantir a sustentabilidade dos negócios e detodos os envolvidos no entorno da corporação.

Apesar de ser um tema muito explorado pela mídia em geral, respon-sabilidade social corporativa ainda é muito confundida com filantropia, queé apenas um dos elos que compõem uma grande corrente da sustentabili-dade. Podemos aqui enumerar diversas ações tomadas por empresas embenefício próprio ou da comunidade ao seu entorno, e que são realizadasisoladamente, mas que não transformam essas empresas em corporaçõessocialmente responsáveis.

Em vários países, empresas de diversos setores vêm se empenhando parafazer parte da carteira de índices de sustentabilidade, instituições como oDow Jones Sustainability Indexes (DJSI). Entre essas empresas está a estatalbrasileira Petrobrás, que conseguiu no ano passado ser indicada para o índi-ce. O DJSI é um indicador que reúne empresas socialmente responsáveis cota-das na Bolsa de Nova York.

O principal objetivo dessas com-panhias, assim como a nossa estatal,é tornar-se mais atrativas para osfundos que investem em empresastidas como socialmente responsá-veis, demonstrando mais transparên-cia e credibilidade; mais governançae, por conseqüência, sua competiti-vidade no mundo dos negócios. NosEstados Unidos esses fundos chegama movimentar mais de US$ 1 trilhãopor ano. E para atrair a atenção dosinvestidores que procuram empresassocialmente responsáveis, é precisomostrar a eles através dos relatóriosde sustentabilidade que apontam asações tomadas diante de cada stake-holders.

A participação num índice desustentabilidade, como o da Bolsa deNova York, é como atestar que acompanhia possui boas práticas degovernança corporativa, de gestãoambiental e de relacionamento comconsumidores, funcionários e forne-cedores, entre outros. Na prática, aparticipação nesses índices vemrepresentando ganhos financeiros.É uma forma de gestão responsável.Talvez seja por isso que muita gen-te vem confundindo responsabili-dade social com marketing.

E por falar em gestão respon-sável, podemos dizer que todas ascorporações que seguem por essecaminho, enfrentam um processointenso de transformação para bus-car a ética nos negócios. Assimcomo em outras regiões do mun-do, o Brasil também tem o seuÍndice de Sustentabilidade Empre-sarial (ISE), criado pela Bovespaem 2005, quando foi compostopor uma carteira de 28 empresasem seu lançamento. Essas com-panhias enfrentaram um processode seleção e tiveram de respondera um questionário que avaliaaspectos econômico-financeiros,sociais e ambientais.

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ouSUSTENTABILIDADE

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Gerar qualidade de vida é um diferencialdesse setor. Portanto, a implementação depráticas e políticas de ResponsabilidadeSocial nas empresas do segmento é de altís-simo valor agregado.

Não há obrigatoriedade legal de qual-quer setor para a implementação das práti-cas de Responsabilidade Social Corporativa.Porém, naturalmente, há sim uma cobrançada sociedade — composta por consumido-res de produtos e serviços de empresas esetores econômicos.

Estamos preparando o 3º Estudo BDOTrevisan de Responsabilidade Social Corpo-rativa (RSC) 2008. Esta nova pesquisa é umaprova viva de que a cobrança da sociedadetraz efeitos práticos na vida das organi-zações. Já encaminhamos questionários edisponibilizamos o site da empresa paraque companhias interessadas possam parti-cipar da pesquisa. No ano passado, ao finalda conclusão do 2º estudo, que foi realiza-do entre dezembro de 2006 e março de2007, com dados coletados entre 113 empre-sas de vários setores, o resultado foi bastan-te positivo em relação ao estudo anterior. Apesquisa tinha um questionário com 44 per-guntas que foram enviadas para 700 corpo-rações dos setores de indústria, comércio,serviços, educação, associações e empresasdo terceiro setor. Este ano, a expectativa éde que os números sejam ainda maiores.

O objetivo da pesquisa é mostrar aopúblico em geral um retrato de como as cor-porações e seus gestores lidam com os con-ceitos de responsabilidade socioambiental.As organizações e seus líderes já perceberamque, num futuro bem próximo, não haverálugar para empresas e negócios isoladosdos conceitos de sustentabilidade, de preo-cupação com os grupos de interesse - oschamados stakeholders - e dos conceitos depilares básicos de sustentação da gover-nança.

* Mauro Ambrósio é sócio-diretor daBDO Trevisan, responsável por audito-rias e consultorias de responsabilidadesocioambiental de entidades e empresas.

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K Não o chamem de empresá-rio. Ex-presidente da Kla-bin Papel e Celulose - queprecisou assumir com ofalecimento do pai, aos 30anos e ainda hoje se man-tém no Conselho de Admi-nistração – e ex-prefeito doRio de Janeiro de 1979 a1980, Israel Klabin gostamesmo é de ser lembradocomo um voluntário na cau-sa da defesa da Sustentabi-lidade do planeta. Presiden-te da Fundação Brasileirapara o DesenvolvimentoSustentável (FBDS), temsido, desde 1992 interlocu-tor privilegiado nos debatessobre clima e Meio Ambien-te em diferentes rodas, sejano Brasil ou no exterior.Viaja muito a convite de

ALBiN

ISRAEL

TEXTO [SÔNIA ARARIPE]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

Enrevista

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DEFENSOR ANATUREZA EDO CLIMAPRESIDENTE DA FBDS

RODA O MUNDO A

CONVITE COMO

CONFERENCISTA

PRIVILEGIADO.

À PLURALE, ELE CRITICA

QUEM DEFENDE A

SUSTENTABILIDADE

APENAS COMO PEÇA

DE MARKETING

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ESTAMOS CAMINHANDO PARA UMA SOCIEDADEDO SABER E NÃO MAIS A SOCIEDADE DO TER

seminários e conferências, dentre as quais aUniversidade Federal do Rio de Janeiro, a Fundação GetúlioVargas, a Harvard University, a Tel Aviv University e a University of Southern California. Engenheiro deformação, se autodefine um acadêmico. Em entrevista à Plurale – concedida de camisa jeans de mangalonga, mas sem esconder a elegância e sobriedade de lorde britânico, concedida no escritório cercado demuito verde - Klabin não usa de meias palavras. Toca o dedo na ferida de um modismo no mundo empre-sarial que passou a incorporar conceitos de responsabilidade socioambiental apenas como estratégia demarketing. “Trata-se do nouveau richismo, seja individual ou corporativo. Isto tudo está relacionado ao mode-lo econômico decadente e não sustentável.” Defende a reforma agrícola e não agrária; assegura que a fomeno Brasil é fácil de ser resolvida e faz sugestões para um planeta mais sustentável. Confira a opinião deKlabin a seguir.

O senhor tem viajado muito para dar palestras e participar de conferências. Que visão o se-nhor tem hoje do cenário mundial do ponto-de-vista da sustentabilidade e como o Brasil se inse-re neste contexto?

Antes de partirmos para este debate, precisamos olhar o Brasil dentro de uma perspectiva históri-ca da evolução de diversos modelos que conduziram o planeta até este ponto em que estamos, no qualo Brasil faz parte. Saímos de uma pré-história que nos originou, quando o homem pré-histórico queera caçador, tornou-se o pecuarista de hoje. Quando o coletor de raízes e frutas da floresta tornou-seagricultor. E o homem que vivia à beira-mar e pescava, tornou-se pescador e um grande predador dereservas do mar.

Uma dependência forte da natureza...Exato. Estas relações todas até hoje eram baseadas sempre na relação do homem com a natureza. Era

o homem que precisava de comida, de fogo, de casa, de um contexto urbano, de se relacionar com outros.Dando um grande salto na História, esta relação foi quebrada quando entramos no século 18, na Revo-lução Industrial. Neste momento, alguns países detentores das matérias-primas essenciais para esta revo-lução do modelo econômico saltaram na frente. Outros procuraram acesso a estas mesmas fontes de maté-rias-primas, que depois foram chamadas de commodities procurando chegar a elas através de guerras oudomínios econômicos. Isso tudo funcionou com um relativo equilíbrio dentro de uma dinâmica que levouo planeta a começar a necessitar de modelos mais sofisticados.

E vieram as várias guerras.Mais até do que isto. Estes modelos foram produzidos pelas guerras, as grandes guerras globais.

Gosto muito da divisão que o grande historiador inglês Arnold Toynbee faz, separando os séculos emquatro fases distintas: as guerras preparatórias, a primeira grande guerra que era prenúncio de uma faseintermediária e logo depois eclodiria em uma guerra total. Vimos isso no século 20 e essas mesmasguerras mudaram de certa forma o acesso dos grandes países aos recursos naturais que eles precisa-vam pra manter a seqüência de sua dominação sobre esses mesmos recursos naturais. Aí começaramas evoluções dos modelos provocadas primeiro pelo acréscimo enorme da demanda desses mesmosrecursos e pela explosão demográfica. Segundo, pela necessidade de posicionamento em relação a recur-sos estratégicos por motivo de defesa e terceiro, provavelmente o mais importante, last but not least,pela dominação dos recursos energéticos.

Enrevista

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EnrevistaComo a crucial questão do petróleo...Isso mesmo. O petróleo, naquela ocasião, chegou a ser cotado a dois dóla-

res. Recordo-me bem da cotação a 25/30 dólares. Hoje está cotado a 130 dóla-res o barril. Esses recursos energéticos foram induzidos a serem utilizados den-tro da Revolução Industrial e os detentores destes recursos estabeleceram seuspróprios modelos econômicos no qual desenvolvimento era o aumento de con-sumo. Até hoje, o conceito de desenvolvimento econômico está intimamen-te ligado ao aumento de consumo. Este aumento de consumo bate de frentecom a limitação dos recursos naturais e também com o uso de recursos ener-géticos oriundos de combustíveis fósseis que são a fonte de mais de 80% dasnecessidades de energia do planeta. Surge aí o divisor de águas: durante o Sécu-lo 20, o mundo avançou rapidamente para um sistema de comunicação glo-bal. O pobre que não sabia, hoje sabe tanto quanto o rico.

Talvez nem tanto. Mas, ao menos estas pessoas passaram a ter algumacesso à informação. Não sei se chega a ser uma competição de igual paraigual ....

Quando falo sabe, quero dizer que estas pessoas passaram a ter acesso,entende? A mobilidade social destruiu conceitos de elite e reformulou este con-ceito de outras formas. Estamos caminhando para uma sociedade do saber enão mais a sociedade do ter. Hoje, o rico não é mais elite. O sábio é a elite.O que vive de acordo com a realidade do dia não é a elite. Aquele que criaa realidade do futuro é a elite.

O divisor de águas foi o acesso às informações, ao conhecimento. Osenhor poderia explicar melhor.

Estava falando sobre o divisor de águas. Em primeiro lugar, a invia-bilização do modelo energético, pelos impactos ambientais que elecausa e que nós temos hoje a certeza absoluta e concreta que o plane-ta não sobreviverá, como nós o conhecemos, ao uso crescente ou mes-mo dentro das emissões atuais da matriz energética. Estou ajudando aorganizar uma conferência em Israel dentro da preocupação de proje-tarmos a matriz energética do futuro. Segundo, o modelo de gerir eco-nomias nacionais evoluiu para modelos sofisticados de gerenciamentodas economias globais provocando outro impacto. A relação de trocasque era baseada em moedas que estavam com seus valores amarradosao valor de recursos naturais, a partir de 1972, quando o presidente Nixonterminou a paridade do dólar pouco a pouco as moedas do mundocomeçaram a desaparecer e a moeda de referência passou a ser odólar. E o mundo inteiro passou a depender, dentro dos seus modelosnacionais, da relação do valor de sua moeda com o valor do dólar.

O impacto desta mudança foi gigantesco.Exato. Modelos econômicos baseados no aumento de consumo esbarra-

ram no limite da capacidade de consumo de certos países como, por exem-plo, os Estados Unidos e o impasse que isso provocou com relação a sua moe-da e da sua virtualidade enfraqueceu todo o resto do modelo. Então, há a invia-bilidade física do modelo da matriz energética. Nós temos a inviabilidade estru-tural do modelo econômico.E finalmente, por causa da comunicação globalnós passamos a ter a inviabilidade de um modelo social cristalizado entrepobres e ricos.

É possível pensar nesse cenárioem crescimento sustentável?

Eu estava falando dos cenários. Senão houver propostas de modificaçãodestes modelos inviabiliza. Nós, aqui naFBDS, estamos trabalhando na mode-lagem dos impactos das mudanças cli-máticas sobre as diversas partes domundo. Os cenários são vários mode-los feitos pelo IPCC (Painel deMudanças Climáticas da ONU), e quemostram dois níveis: a inter-relaçãoentre a mudança climática e a disponi-bilidade de água. Água é o recursofinal sem o qual não há nem sustenta-bilidade, nem viabilidade da vida. Por-tanto a distribuição da água quanto doclima são funções fundamentais impac-tadas pela matriz energética. Quais sãoas três insustentabilidades? Conformevimos da matriz energética, do mode-lo econômico baseado em valores demoedas virtuais e da cristalização domodelo social não inclusivo. Mas vocêquer que eu fale de um cenário pros-pectivo ou analise o Brasil?

O sr. poderia, por favor, com-plementar a resposta à perguntaanterior. É possível imaginar o cres-cimento de maneira sustentada?

Imaginar o crescimento sustentadoé possível. O problema é realizá-lo.Vamos ver o que seria um modelo dedesenvolvimento sustentável. Primeirobaseado em uma evolução tecnológi-ca que permitisse plena oferta de ener-gia oriunda de recursos renováveis ounão poluentes. Como o etanol o bio-diesel e não poluente seria a energia do

HOJE, O RICONÃO É MAISELITE. O SÁBIO ÉA ELITE

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Enrevistavento, o hidrogênio etc. Segundo, o modelo econômico que mudasse os hábitos de consumo que se cana-liza a poupança nacional para o equilíbrio entre oferta e necessidades de bens e serviços. Terceira con-dição, que este modelo direcionasse para o os diversos modelos sociais, nacionais e globais dos excessosde poupança que permitissem caminhar para a equalização de oportunidades. Não estou falando de ren-da. O quarto que também é fundamental através de modelos educacionais e que fosse o catalisador decriatividade e valores. Isso tudo só seria possível com a recriação de uma ética econômica e social. O mode-lo econômico sustentável deve ser baseado nesse quarto item. O resto é tudo mecânico.

E quanto ao Brasil, qual é a sua avaliação?Olhando o Brasil de fora para dentro eu uso a frase que em 1939 Churchil falou sobre a Rússia de então,

ou seja, a União Soviética. Ele disse que o país era “um quebra cabeça embrulhado em mistério e dentrode um enigma.” Ou seja, que o Brasil é menos um país e é mais uma região geográfica que tem um des-tino de enorme importância pela sua realidade física, pelo seu tamanho e pelas diversas realidades regio-nais que se misturaram harmonicamente.

O nosso país tem e terá um papel importante seja pelas energias renováveis, seja pelas ofer-tas de produtos cada vez com maior valor agregado?

Tudo indica que os ativos que o Brasil detém em termos de recursos naturais, sejam eles, de água, terri-tório, clima em relação ao resto dos países desenvolvidos é um horizonte de possibilidades não mais nofuturo, mas no presente. Problema: que a liberdade de ação e do desenvolvimento do país tenha comoparâmetros fundamentais a ordem interna e externa tanto econômica quanto social, que o projeto de inclusãosocioeconômico e cultural seja apressado e que o Estado saiba canalizar os seus recursos sem coibir paraas áreas fundamentais de infra-estrutura e de educação,deixando o setor privado fazer a parte dele.

Estamos na direção certa?Einstein disse: “O mundo não suplantará o atual estado de crises usando os mesmos pensamentos que

criaram esta situação.”Traduzindo Einstein, o anacronismo dos nossos Três Poderes - tanto no Executivo, quanto no Legisla-

tivo e Judiciário - precisa ser repensado tendo em vista as realidades do século 21 se é que queremos aoséculo 22.

Gostaríamos de ouvir sua opinião. Muitos especialistas acreditam que há muito mais modismodo que realmente práticas sustentáveis sendo desenvolvidas. Passada esta fase de modismo da sus-tentabilidade o senhor acha que algumas ações, vão ficar. Há trabalhos sérios?

As áreas que o Brasil tem de importância para o futuro ainda estão relativamente intocadas. O exem-plo mais gritante é a Amazônia. O Brasil depende fundamentalmente da preservação intacta da Amazô-nia. Alguém poderá dizer: mas aquilo lá é um ativo de grande valor se for realizado. Mas é um ativo demuito maior valor se nós não o realizarmos. Isso é modernidade. Veja que coisa extraordinária acontececom este país. Tem uma costa de mais de oito mil kms de extensão, uma bacia hidrográfica enorme, capazde ser transformada em hidrovias diretamente ou através de canais. Não tem barreiras, cordilheiras que nosimpeçam de ter transporte ferroviário. No entanto, copiamos o modelo de transportes de países desenvol-vidos que não tinham as nossas mesmas qualidades e facilidades e temos hoje um modelo de transporteessencialmente rodoviário que é um nó enorme para toda a economia do país. Não precisamos copiar nin-guém. Temos que nos realizar através da reinvenção do Brasil. Então isso tudo é sustentabilidade. A sus-tentabilidade do país se faz através da disconcionante destes itens que falei há pouco, porém, usando aomáximo o nosso potencial local.

Estas ações de vários brasileiros não têm feito diferença? Porque o brasileiro tem cada vez mais encon-trado soluções e tecnologias para a realidade local. Até porque por muito tempo acreditou-se que a tec-nologia estava lá fora e era preciso copiar.

O Brasil tem uma capacidade criativa enorme. A melhor coisa que este país tem é o brasileiro. Isso émuito melhor do que todos os recursos naturais que temos. Porque é inacreditável que um país deste taman-ho, com 180 milhões de pessoas não tenha revoluções internas, guerras externas, nem tendências hegemô-

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Enrevistanicas. É um país abençoado neste sentido, sem dúvida alguma.

Não vivemos quase uma convulsão social principalmente nosgrandes centros?

Não chamaria de convulsão social. Existe uma desordem tanto no con-texto urbano quanto social. Por exemplo: o Brasil não precisa de umareforma agrária, mas precisa sim de uma reforma agrícola, o que é bemdiferente. Se pensar em termos de produtividade, produção e de alocaçãode recursos humanos a um processo evolutivo do ponto-de-vista de con-quista de melhorias de trabalho e renda, é preciso mudar os critérios dasreformas que estão sendo discutidas e feitas. Reforma por desordem nãofunciona. É preciso ter ordem . As revoluções não têm taxa de sucesso.As evoluções têm taxa de sucesso. É isso o que nós precisamos. E as pro-postas ainda não são tão claramente definidas. Vocês publicaram (Plura-le em revista, edição 1, de outubro de 2007) uma entrevista com a ZildaArns. Este projeto foi um avanço enorme! E teve também o Bolsa Esco-la, que basicamente tinha a idéia de ensinar a pescar e não dar o peixe.O Bolsa Família, no meu entender, está dando o peixe, mas não está ensi-nando a pescar.

A própria Dra. Zilda Arns adverte ser preciso atentar para o pro-blema da fome no Brasil. O sr. não concorda?

Fome no Brasil? Não acredito que o problema seja de fome. É preci-so pesquisar os números do IBGE. Ou faça esta pergunta para o SérgioBesserman Vianna (presidente do Instituto Pereira Passos, entrevistado dePlurale em revista, edição 5, de março/abril de 2008). Pergunte para elesobre fome e miséria ano Brasil. E o Sérgio dará também números quedesmistificam este tema. O Brasil não é um país pobre. O País não temmiséria nem tem fome. Vou explicar melhor. É claro que tem, mas nãoesta fome absurda que existe ainda hoje na China, na Índia e em váriospaíses africanos. A fome e a miséria no Brasil são acontecimentos de fácilsolução.

O sr. concorda com estes especialistas que há certo “modismo” exa-gerado, principalmente do setor empresarial, em se vangloriar de boas prá-ticas de responsabilidade socioambiental? No sentido de se autoentitularcomo for melhor para sua imagem. E cada um usa a seu favor a imagemde marketing que melhor lhe apetece: um grupo é o guardião da flores-ta, o outro é amigo das crianças, etc.

Você está falando sobre o nouveau richismo, seja individual ou cor-porativo. Isto tudo está relacionado ao modelo econômico decadente enão sustentável. Sei que tem gente que vai ficar chateado comigo, maspode escrever.

E quando, na sua opinião, estas ações e estratégia realmente saemdo terreno apenas do marketing para se transformar em uma polí-tica realmente sustentável, verdadeira e consistente?

Quando o rico achar que a sua riqueza não lhe pertence. Mas que eladeva ter uma função social e cultural. Sem perder de vista que a riquezaé também um instrumento necessário para a continuidade do processoeconômico. Nós que trabalhamos com Sustentabilidade temos como

paradigma o triple botton line.Todo o desenvolvimento sustenta-do é baseado no tripé no qual osocial, econômico e ambiental temque estar juntos em um modelode governança. Se não tiver, nãoé sustentável.

O senhor poderia lembrarum pouco quando se deu amudança em sua vida para ocaminho da Sustentabilidade edo Terceiro Setor? Porque amaioria das pessoas conhecesua trajetória política e empre-sarial e não este trabalho dosúltimos anos.

Nunca mudei. Fui sempreassim. Minha vida sempre foiacadêmica. Fiz Engenharia, tireiMestrado em Matemática e Física.Depois fui para a França e fizDoutorado no Institut dês SciencePolitique, Paris. Quando volteicomecei a trabalhar em projetosde Desenvolvimento na antigaComissão Mista Brasil-EUA, depoisfui um dos criadores da Sudene. Aítive que assumir a empresa, coma morte prematura do meu pai.Implantei lá toda a parte de Sus-tentabilidade.

Que idade o sr. tinha então?Tinha 30 anos quando passei a

administrar um negócio com cer-ca de 25 mil pessoas. Me distancieium pouco da vida acadêmica,mas, mesmo assim não abandoneios meus estudos. Até que aempresa caminhou para a profis-sionalização. Ainda continuo liga-do, com muito orgulho e muitahonra. É uma empresa que desco-briu o reflorestamento no Brasil,dentro dos conceitos da Sustenta-bilidade, mantendo os recursosnaturais, continuando a ser 100%brasileira. Depois da profissionali-zação eu pude voltar a assumir avida acadêmica, em 1988.

Hoje, o sr. é mais feliz?Muito mais feliz. E acho que

não fiz nada na minha vida quenão tenha me deixado feliz.

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eA professora Lúcia

Maria Lippi Oliveira ,pesquisadora sênior doCPDOC da FundaçãoGetúlio Vargas, lançou,em 17 de maio, na Fun-dação Oscar Araripe,em Tiradentes, Culturaé Patrimônio – UmGuia, da Editora FGV. Aobra oferece um guiapara o leitor conheceros principais capítulosde uma história culturaldo Brasil. Este guia éuma primeira aproxi-mação que apresenta ocaminho, sinaliza mar-cos relevantes, apontatrilhas mais conhecidas,assim como novos tra-jetos a serem aindaexplorados. Se o leitorquiser, poderá se apro-fundar no assunto reco-rrendo à bibliografiaespecífica apresentadaem cada capítulo.O livro procura apre-sentar, discutir e ques-tionar a herança cultu-ral recebida degerações anteriores eque será deixada paraas gerações futuras.Cultura é Patrimônionão foi pensado paraespecialistas, e sim parao público que tem inte-resse em compreendero processo político-cul-tural que deu origem adiferentes matrizes dacultura brasileira.

CULTURA ÉPATRIMÔNIO

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EstantTEXTO [CARLOS

FRANCO] FOTOS

[EVAMDRO TEIXEIRA]

1968

Evandro Teixeira, Regina Zappa e Zuenir Ventura têm mais em comum do queo Jornal do Brasil, no qual todos trabalhamos juntos: acabam de lançar trêsimportantes livros sobre 1968, 40 anos depois. Em "68: Destinos. Passeata dos100 Mil", Evandro revisita aqueles rostos que queriam mudar o mundo e queestão na histórica foto do protesto mais eloqüente contra a ditadura militarno Rio de Janeiro, a passeata dos 100 mil, um marco na vida política brasi-

leira. São pessoas que hoje têm outra vida, outras histórias e, num trabalho de garimpo eraro talento, Evandro fotografou novamente 100 pessoas que participaram daquela passe-ata. Já Regina Zappa e Ernesto Soto em "1968, eles só queriam mudar o mundo" faz umareconstituição daquele tempo, os filmes, os livros, as músicas e depoimentos contundentesde Edu Lobo, Chico Buaraque, Fernando Gabeira e outros que participaram ativamente dacena política e cultural do ano que não terminou, como acentuou Zuenir Ventura que tam-bém lançou uma nova caixa de livros, com o primeiro e com destaque para "1968. O quefizemos de nós".

São livros que nos resgatam e resgatam o Brasil ao trazer de volta a história e asimagens daqueles que continuam, ainda hoje, a sonhar com dias melhores, deigualdade, liberdade, fraternidade, ideais que encerram em si o espírito das revoluçõesque se pretendiam e haverão de ser plurais.

Com o mesmo olhar clínico, Evandro revela toda a sua paixão pela imagem, não a ima-gem estática, sem vida, mas aquela que expressa o movimento. Esse fotógrafo que empres-tou brilho às páginas do Jornal do Brasil e foi responsável por revelar o Brasil onde correo sangue e o mel, fez uma reconstituição mais do que da vida de 100 pessoas, da vida des-se País em constante movimento, em busca permanente de idendidade. A identidade queEvandro empresta às fotos, assim como Maria Adelaíde Amaral na minissérie "Queridos Ami-gos" emprestou aos personages suas memórias. Esses queridos amigos Evandro, Zuenir, Regi-na e Ernesto como bordadeiras, trazem de novo o riscado para que não percamos a linhado tempo que nos une e nem o fio da meada.

Editado pela Textual, o livro de Evandro assim como o de Regina Zappa e Ernes-to Soto (Zahar) bem como o de Zuenir Ventura (Editora Planeta) estão nas melho-res livrarias do País e podem ser comprados, com desconto, pela internet. Ao ler essasobras, tenho certeza, qualquer pessoa se sentirá melhor. E certamente chegará à con-clusão de que o que fizemos de nós é exatamente acalentar o sonho da construçãode uma sociedade plural. Sonhar sempre vale à pena, especialmente, como diriaWilliam Shakespeare, quando se sonha acordado. Boa leitura!

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Meio Ambiente

UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS EM FELINOS DO PAÍS INVESTIGA A

SITUAÇÃO DAS ONÇAS. PESQUISA DEVE LEVAR UM ANO

PETER NO RASTRODA ONÇA

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Começou a investigação da situação doscarnívoros, com ênfase na onça pinta-da, no Parque Nacional da Serra daBocaina (PNSB), que está entre o Rio deJaneiro e São Paulo. Peter Crawshaw, oamigo das onças, um dos maiores espe-cialistas em felinos do Brasil, fez o pri-meiro trabalho de campo no início de

abril. Acompanhado dos biólogos Peonia Pereira e Rafael LuisAaarão Freitas, Peter colocou as primeiras armadilhas foto-gráficas na região mais alta do PNSB (por volta de 1260metros de altitude), encontrou rastros de onça parda e fezesde felinos. Nesta primeira etapa da investigação, que tem oapoio da Fundação Boticário, Peter espera poder mapear osfelinos, entender a dieta dos mesmos, e se possível encon-trar a onça pintada na Serra da Bocaina.

Descobrindo rastros dos animais, Peter é capaz de sabera espécie, o tamanho e o sexo dos felinos. Isso se dá pelo

tamanho e formato das pegadas. As armadil-has fotográficas são colocadas ao longo dosrastros e também por onde os moradoreslocais relatam ataques e presença dos felinos.Os rastros são fotografados e se tornam pon-tos de referência no GPS, desta forma vai semapeando os animais e seus caminhos. Como recolhimento das fezes dos felinos, Petercomeça a entender a dieta dos mesmos.Moradores locais se apressam em dizer quenão existe onça pintada na região, mas exis-te a possibilidade do jaguar habitar o localsim. O Jaguar, ou onça pintada, é mais aris-co e sabe se esconder melhor do que asonças pardas. O biólogo Rafael, do InstitutoBiotrópicos, em pesquisa no Parque GrandeSertão Veredas, na Bahia, descobriu rastrosde onça pintada com oito meses de trabal-ho, e a equipe de pesquisa precisou de umano e meio para ter os primeiros registrosfotográficos do jaguar.

O PNSB tem mais de 100 mil hectares,área suficiente para abrigar a onça pintada,que se estima precisar de 14 mil hectarespara seu habitat. Peter espera encontrar aonça pintada na parte mais baixa do PNSB,que se estende até o mar, mas ela pode cir-cular também pela parte mais alta, por ondea investigação se iniciou. Em 2004 uma onçapintada foi avistada em Barra Mansa, Rio deJaneiro, onde poucos poderiam supor suaexistência.

Nesta primeira etapa do trabalho, Petercontou com a ajuda de César da Silva, mora-dor do local, e com o apoio da Fazenda doBonito, que está na fronteira do PNSB, e temmais de 90 porcento de sua área de quase 4mil hectares coberta por mata nativa preser-vada.

Uma técnica para atrair a onça pintadaque Peter utiliza é a de imitar o urro da onçapintada, esturro. Com um pedaço de bambuoco e um cano, ele reproduz o esturro doonça fêmea e macho. Isso pode atrair a onçapara as amadilhas fotográficas instaladas namata. A pesquisa de Peter no PNSB devedurar um ano, com isso ele espera chamar aatenção para a situação das onças e dos feli-nos em geral, e diminuir os conflitos entreeles e os homens.

TEXTO [SÉRGIO LUTZ]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

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Meio Ambiente

A onça-pintada (Panthera onca), também conhecida por jaguar ou jaguaretê, é um mamífero da ordemdos carnívoros, membro da família dos felídeos, encontrada nas regiões quentes e temperadas do continen-te americano. É um símbolo da fauna brasileira. Os vocábulos "jaguar" e "jaguaretê" têm origem no termoguarani "jaguarete". Na mitologia maia, apesar ter sido cotada como um animal sagrado, era caçada emcerimônias de iniciação dos homens como guerreiros.

A onça-pintada se espalhava, inicialmente, desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina. Porém,seu território de ocupação diminuiu sensivelmente. Costuma ser encontrada em reservas florestais e matascerradas do Brasil, bem como em outros locais ermos onde vivam mamíferos de pequeno porte de que sealimenta.

Seu habitat preferencial são zonas selvagens, perto de grande corpos de água, freqüentadas por suaspresas preferidas. Evita as regiões montanhosas, habitat preferido do puma.

UM BELO ANIMAL

OUTROS NOMES DA ONÇA PINTADA: JAGUAR OU JAGUARETÊ

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Artigos FREIBETTO

AS SANDÁLIAS

Brasil é um país de santos e heróis, emborapoucos alcancem reconhecimento público.Talvez seja efeito de nossa baixa auto-estima,tão evidente que, hoje, induz o governo fede-ral a promover campanha publicitária paraque o nosso povo sinta orgulho do que é e doque faz.

Durante séculos, de costas para a AméricaLatina, miramos no espelho dos brancos euro-peus e norte-americanos. O que víamos nãoera o nosso rosto indígena, negro, mestiço. Era

a imagem paradigmática do colonizador a nos convencer de que somos atra-sados, feios, improdutivos e inferiores. Por isso, nossos avós almejavam "puri-ficar-se" dessa fétida brasilidade contraindo matrimônio com imigrantesbrancos, exterminando povos indígenas em nome da civilização e manten-do os negros escravos na senzala e, após a abolição da escravatura (1888),na miséria e na pobreza.

Quantos brancos casados com negras? Quantos negros das classes A eB casados com negras? Impedidas pelo preconceito e pela pobreza de fre-qüentar escola, as negras servem para trabalhos domésticos, onde a chiba-ta é substituída, em geral, por um salário ínfimo. E as mestiças, identificadasàs mulas, tratadas de mulatas, tornaram-se símbolos do hedonismo carna-valesco e dos atrativos turísticos voltados à prostituição farta e barata.

Abrigamos no Brasil o mais longo período de escravidão das três Amé-ricas - 358 anos - e ainda culminamos o processo da abolição com aexclusão dos negros libertos do direito de acesso à terra, entregue aos colo-nos europeus que aqui aportaram empurrados pelo desemprego causado pelarevolução industrial do século XIX e a acelerada urbanização do Continen-te europeu.

Os povos indígenas, calculados numa população de 5 milhões no sécu-lo XVI e, hoje, reduzidos a 700 mil, foram massacrados,desaldeizados, con-taminados pelas doenças dos brancos, pela cachaça dos brancos, pela vora-cidade mercantil dos brancos, pela ambição de minérios e madeiras dos bran-cos. Expulsos de seu ambiente natural e dos livros didáticos, tornaram-se sinô-

Dom Pedro Casaldaliga, Santo e Herói

DO PESCADOR

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nimos de "primitivos" e "selvagens", não no sentido de primeiros habi-tantes dessas terras ou de moradores da selva, e sim de atrasados e bru-tais.

Restrita a nação ao convés da primeira classe, perdemos de vista nos-sos santos e heróis, embora proliferem entre nós tantos artistas, atletas,intelectuais, e também inventores como Santos Dumont. Porém, as coi-sas não existem a partir do momento em que as conhecemos. Indepen-dem, felizmente, de nossa ignorância. A realidade não é o que pensa-mos dela. Transcende nossas limitações.

Não tão conhecido como mereceria, há no Brasil um santo e herói:Pedro María Casaldáliga. Santo por sua fidelidade radical (no sentido eti-mológico de ir às raízes) ao Evangelho, e herói pelos riscos de vida enfren-tados e as adversidades sofridas.

Catalão de Barcelona, onde nasceu em 1928, a 16 de fevereiro, Casal-dáliga ingressou na Ordem Claretiana, consagrada às missões, onde foiordenado sacerdote em 1943. Impregnado da espiritualidade dos Cur-silhos de Cristandade, veio para o Brasil e, em 1968, mergulhou naAmazônia. Em 1971, nomearam-no bispo de uma prelazia amazônica,à beira do suntuoso rio Araguaia: São Félix do Araguaia. Adotou comodivisa princípios que haveriam de nortear literalmente sua atividade pas-toral: "Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo,nada matar". No dedo, como insígnia episcopal, um anel de tucum, quese tornou símbolo da espiritualidade dos adeptos da Teologia da Liber-tação.

São Félix é um município amazônico do Mato Grosso, situado emfrente à Ilha do Bananal, numa área de 36.643 km2. Na década de 1970,a ditadura militar (1964-1985) ampliou a ferro e fogo as fronteiras agro-pecuárias do Brasil, devastando parte da Amazônia e atraindo para aliempresas latifundiárias empenhadas em derrubar árvores para abrirpastos ao rebanho bovino. Casaldáliga, pastor de um povo sem rumo eameaçado pelo trabalho escravo, tomou-lhe a defesa, entrando em cho-que com os grandes fazendeiros; as empresas agropecuárias, minerado-ras e madeireiras; os políticos que, em troca de apoio financeiro e votos,acobertavam a degradação do meio ambiente e legalizavam a dilataçãofundiária sem exigir respeito às leis trabalhistas.

Dom Pedro tem sido alvo de inúmeras ameaças de morte. A mais gra-ve em 1976, em Ribeirão Bonito, no dia 12 de outubro - festa da padro-eira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. Ao chegar àquela localidade emcompanhia do missionário e indigenista jesuíta João Bosco Penido Bur-nier, souberam que na delegacia duas mulheres estavam sendo tortura-das. Foram até lá e travaram forte discussão com os policiais militares.Quando o padre Burnier ameaçou denunciar às autoridades o que aliocorria, um dos soldados esbofeteou-o, deu-lhe uma coronhada e, emseguida, um tiro na nuca. Em poucas horas o mártir de Ribeirão Bonitofaleceu. Nove dias depois, o povo invadiu a delegacia, soltou os presos,quebrou tudo, derrubou as paredes e pôs fogo. No local, ergue-se hojeuma igreja.

Cinco vezes réu em processos de expulsão do Brasil, Casaldáliga moraem São Félix num casebre simples, sem outro esquema de segurançasenão o que lhe asseguram três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito San-

to. Calçando apenas sandálias de dedo e umaroupa tão vulgar como a dos peões que cir-culam pela cidade, Casaldáliga amplia suairradiação apostólica através de intensa ativi-dade literária. Poeta renomado, traz a alma sin-tonizada com as grandes conquistas popula-res na Pátria Grande latino-americana. Erguesua pena e sua voz em protestos contra o FMI,a ingerência da Casa Branca nos países doContinente, a defesa da Revolução cubana e,anos atrás, em solidariedade à Revolução san-dinista ou para denunciar os crimes dos mili-tares de El Salvador e da Guatemala. Hoje,inquietam-lhe a demora do governo Lula emrealizar a reforma agrária e o lastro de misé-ria e destruição que o agronegócio deixa emterras do Mato Grosso.

Dom Pedro tornou-se também pastor dosnegros e dos indígenas, introduzindo suasriquezas culturais nas liturgias que celebra. Emsua prelazia habitam os índios Tapirapé, sal-vos da extinção graças aos cuidados tomadospelo bispo.

Convocado às visitas periódicas ("ad limi-na") que todos os bispos devem fazer ao Vati-cano para prestar contas, Casaldáliga faltou ainúmeras, por considerar os gastos de viagemincompatíveis com a pobreza de sua gente. Noentanto, remeteu aos papas cartas proféticas,exortando-os à opção pelos pobres e ao com-promisso com a libertação dos oprimidos.

Certa ocasião fez uma longa viagem acavalo para visitar a família de um posseiroque se encontrava preso. Chegou sem avisoprévio. Diante de um prato de arroz branco eoutro de bananas, a filha mais velha, constran-gida, desculpou-se à hora do almoço: "Sesoubéssemos que viria o bispo teríamos feitooutra comida". A pequena Eva, de sete anos,reagiu: "Ué, bispo não é mais melhor que nós!"Esta uma lição que ele guardou. E sempre pra-ticou, evitando privilégios e mordomias.

Fundador da Comissão Pastoral da Terra edo Conselho Indigenista Missionário, Casaldá-liga admite que a sabedoria popular tem sidoa sua grande mestra. Indagou a um posseiroo que ele esperava para seus filhos. O homemrespondeu: "Quero apenas o mais ou menospara todos". Pedro guardou a lição, lutandopor um mundo em que todos tenham direito

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Artigos FREIBETTO

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Artigos PEDROCASALDALIGA

ao "mais ou menos". Nem demais, nem de menos.Em setembro de 1985 viajei a Cuba com os irmãos

e teólogos Leonardo e Clodovis Boff. Falamos comFidel que dom Pedro se encontrava em Manágua, par-ticipando da Jornada de Oração pela Paz, e o lídercubano insistiu para que o trouxéssemos a Havana. Tãologo desembarcou na capital de Cuba, a 11 de setem-bro, o bispo foi conduzido diretamente ao gabinete deFidel. Este mostrava-se interessado na literatura sobrea Teologia da Libertação. Dom Pedro observou coma sua fina ironia:

- Para a direita é preferível ter o papa contra a Teo-logia da Libertação do que Fidel a favor.

Na mesma noite, Casaldáliga discursou na abertu-ra de um congresso mundial juvenil sobre a dívidaexterna:

- Não é só imoral cobrar a dívida externa, tambémé imoral pagá-la, porque, fatalmente, significará endi-vidar progressivamente os nossos povos.

Ao reparar que os sapatos do prelado estavam empéssimo estado, o secretário de Fidel lhe ofereceu umpar novo de botas.

- Deixo os meus sapatos ao Museu da Revolução- brincou dom Pedro.

Fomos juntos para a Nicarágua no dia 13. Ali DomPedro participou de inúmeros atos contra a agressãodo governo dos EUA à obra sandinista e batizou oquarto filho de Daniel Ortega, Maurice Facundo

Em sua segunda viagem a Cuba, em fevereiro de

1999, Casaldáliga declarou em público, em Pinar del Río:- O capitalismo é um pecado capital. O socialismo

pode ser uma virtude cardeal: somos irmãos e irmãs, aterra é para todos e, como repetia Jesus de Nazaré, nãose pode servir a dois senhores, e o outro senhor é pre-cisamente o capital. Quando o capital é neoliberal, delucro onímodo, de mercado total, de exclusão de imen-sas maiorias, então o pecado capital é abertamente mor-tal.

E enfatizou:- Não haverá paz na Terra, não haverá democracia

que mereça resgatar este nome profanado, se não hou-ver socialização da terra no campo e do solo na cidade,da saúde e da educação, de comunicação e da ciência.

Em 2003, ao completar 75 anos, Casaldáliga apresen-tou seu pedido de renúncia à prelazia, como exige o Vati-cano de todos os bispos, exceto ao de Roma, o papa. Sóagora, em 2005, o Vaticano nomeou-lhe um sucessor.Antes, porém, enviou-lhe um bispo que, em nome deRoma, pediu que ele se afastasse da prelazia, de modoa não constranger o novo prelado. Dom Pedro não gos-tou do apelo e, coerente com o seu esforço de tornarmais democrático e transparente o processo de escolhade bispos, recusou-se a atendê-lo. O novo bispo, frei Leo-nardo Ulrich Steiner, pôs fim ao impasse ao declarar quedom Pedro é bem-vindo à São Félix.

* Frei dominicano. Escritor.

PARAR A RODA

RAIOSBLOQUEANDO SEUS

Estava eu pensando a circular de 2008, quando meinvade, como um rio bíblico de leite e mel, uma autên-tica enchente de mensagens de solidariedade e carinhopor ocasião dos meus 80 anos. Não podendo respondera cada um e a cada uma em particular, inclusive porqueo irmão Parkinson tem os seus caprichos, peço a vocêsque recebam esta circular como um abraço pessoal,entranhável, de gratidão e de comunhão renovadas.

Estou lendo uma biografia de Dietrich Bonhoeffer,intitulada, muito significativamente, Deveríamos ter gri-tado. Bonhoeffer, teólogo e pastor luterano, profeta emártir, foi assassinado pelo nazismo, no dia 9 de abril de1945, no campo de concentração de Flossenbürg. Ele

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denunciava a «Graça barata» à qual reduzimos muitas vezes nossa fé cristã.Advertia também que «quem não tenha gritado contra o nazismo não temdireito a cantar gregoriano». E chegava finalmente, já nas vésperas do seumartírio, a esta conclusão militante: «Tem que se parar a roda bloqueandoseus raios». Não bastava então socorrer pontualmente as vítimas trituradaspelo sistema nazi, que para Bonhoeffer era a roda; e não nos podem bas-tar hoje o assistencialismo e as reformas-remendo frente a essa roda quepara nos é o capitalismo neoliberal com os seus raios do mercado total,do lucro omnímodo, da macro-ditadura econômica e cultural, dos terro-rismos do estado, do armamentismo de novo crescente, do fundamenta-lismo religioso, da devastação ecocida da terra, da água e do ar.

Não podemos ficar estupefatos diante da iniqüidade estruturada, acei-tando como fatalidade a desigualdade injusta entre pessoas e povos, aexistência de um Primeiro Mundo que tem tudo e um Terceiro Mundo quemorre de inanição. As estatísticas se multiplicam e vamos conhecendo maisnúmeros dramáticos, mais situações infra-humanas. Jean Ziegler, relator dasNações Unidas para a Alimentação, afirma, carregado de experiência, que«a ordem mundial é assassina, pois hoje a fome não é mais uma fatalida-de». E afirma também que «destinar milhões de hectares para a produçãode bio-carburantes é um crime contra a Humanidade». O bio-combustívelnão pode ser um festival de lucros irresponsáveis. A ONU vem alertandoque o aquecimento global do planeta avança mais rapidamente do que sepensava e, a menos que se adotem medidas urgentes, provocará a desa-parição do 30% das espécies animais e vegetais, milhões de pessoas serãoprivadas de água e proliferarão as secas, os incêndios, as enchentes. A gen-

te se pergunta angustiado quem iráadotar essas «medidas urgentes».

O grande capital agrícola, com oagronegócio e cada vez mais o hidrone-gócio, avança sobre o campo, concen-trando terra e renda, expulsando àsfamílias camponesas e jogando-as erran-tes, sem terra, acampadas, engrossandoas periferias violentas das cidades. DomErwin Kräutler, bispo de Xingu e presi-dente do CIMI, denuncia que «o desen-volvimento na Amazônia tornou-se sinô-nimo de desmatar, queimar, arrasar,matar». Segundo Roberto Smeraldi, deAmigos da Terra, as políticas contradi-tórias do Banco Mundial por um lado«prometem salvar as árvores» e por outrolado, «ajudam a derrubar a Amazônia».

Mas a Utopia continua. Como diriaBloch, somos «criaturas esperançadas» (eesperançadoras). A esperança segue,como uma sede e como um manancial.«Contra toda esperança esperamos». Daesperança fala, precisamente, a recenteencíclica de Bento XVI. (Pena que o

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Papa, nesta encíclica, não cita nem uma vez o Concílio Vaticano II,que nos deu a Constituição Pastoral Gaudium et Spes –Alegria e Espe-rança-. Seja dito de passagem, o Concílio Vaticano II continua ama-do, acusado, silenciado, preterido... Quem tem medo do Vaticano II?).Frente ao descrédito da política, em quase todo o mundo, nossa Agen-da Latinoamericana 2008 aposta por uma nova política; até «pedimos,sonhando alto, que a política seja um exercício de amor». Um amormuito realista, militante, que subverta estruturas e instituições reacio-nárias, construídas com a fome e o sangue das maiorias pobres, aoserviço do condomínio mundial de uma minoria plutocrata.

Por sua parte as entidades e os projetos alternativos reagem ten-tando criar consciência, provocar uma santa rebeldia. O FSM 2009 vai-se realizar, precisamente, na Amazônia brasileira e terá a Amazôniacomo um dos seus temas centrais. E o XII Encontro Inter-eclesial dasCEBs, em 2009, se celebrará também na Amazônia, em Porto Velho,Rondônia. Nossa militância política e nossa pastoral libertadoradevem assumir cada vez mais estes desafios maiores, que ameaçamnosso Planeta. «Escolhemos, pois, a vida», como reza o lema da Cam-panha da Fraternidade 2008. O apóstolo Paulo, em sua Carta aosRomanos, nos lembra que «toda a criação geme e está com dores departo» (Rom.8,22). Os gritos de morte cruzam-se com os gritos de vida,neste parto universal.

É tempo de paradigmas. Creio que hoje se devem citar, como para-digmas maiores e mais urgentes, os direitos humanos básicos, a eco-logia, o diálogo inter-cultural e interreligioso e a convivência pluralentre pessoas e povos. Estes quatro paradigmas nos afetam a todos,porque saem ao encontro das convulsões, objetivos e programas queestá vivendo a Humanidade maltratada, mas esperançada aindasempre.

Com tropeços e ambigüidades Nossa América se move para aesquerda; «novos ventos sopram no Continente»; estamos passando«da resistência à ofensiva». Os povos indígenas de Abya Yala têm sau-dado com alegria a Declaração da ONU sobre os Direitos dos PovosIndígenas, que afeta a mais de 370 milhões de pessoas em 70 paisesdo Mundo; e reivindicarão a execução real dessa Declaração.

Nossa Igreja da América Latina e o Caribe, em Aparecida, se nãofoi aquele Pentecostes que queríamos sonhar, foi uma profunda expe-riência de encontro entre bispos e povo; e confirmou os traços maiscaracterísticos da Igreja da Libertação: o seguimento de Jesus, a Bíbliana vida, a opção pelos pobres, o testemunho dos mártires, as comu-nidades, a missão inculturada, o compromisso político.

Irmãos e irmãs, que raios vamos quebrar em nossa vida diária?,como ajudaremos a bloquear a roda fatal?, teremos direito a cantargregoriano?, saberemos incorporar em nossas vidas esses quatro para-digmas maiores traduzindo-os em prática diária?

Recebam um abraço entranhável na esperança subversiva ena comunhão fraterna do Evangelho do Reino. Vamos semprepara a Vida.

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IMAGEM | CONSUMO | ATITUDE

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Page 30: Plurale em revista edição 6

PELO BRASIL

Caro presidente Lula,

Venho, por meio desta, comunicar minha decisão em caráter pessoal

e irrevogável, de deixar a honrosa função de Ministra de Estado do Meio

Ambiente, a mim confiada por V. Excia desde janeiro de 2003. Esta difí-

cil decisão, Sr. Presidente, decorre das dificuldades que tenho enfrentado

há algum tempo para dar prosseguimento à agenda ambiental federal.

Quero agradecer a oportunidade de ter feito parte de sua equipe. Nes-

se período de quase cinco anos e meio esforcei-me para concretizar sua

recomendação inicial de fazer da política ambiental uma política de

governo, quebrando o tradicional isolamento da área.

Agradeço também o apoio decisivo, por meio de atitudes corajosas e

emblemáticas, a exemplo de quando, em 2003, V. Excia chamou a si a res-

ponsabilidade sobre as ações de combate ao desmatamento na Amazô-

nia, ao criar grupo de trabalho composto por 13 ministérios e coordena-

do pela Casa Civil. Esse espaço de transversalidade de governo, vital para

a existência de uma verdadeira política ambiental, deu início à série de

ações que apontou o rumo da mudança que o País exigia de nós, ou seja,

fazer da conservação ambiental o eixo de uma agenda de desenvolvimen-

to cuja implementação é hoje o maior desafio global.

Fizemos muito: a criação de quase 24 milhões de hectares de novas

áreas de conservação federais, a definição de áreas prioritárias para con-

servação da biodiversidade em todos os nossos biomas, a aprovação do

Plano Nacional de Recursos Hídricos, do novo Programa Nacional de Flo-

restas, do Plano Nacional de Combate à desertificação e temos em curso

o Plano Nacional de Mudanças Climáticas.

Reestruturamos o Ministério do Meio Ambiente, com a criação da Secre-

taria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental, do Instituto Chi-

co Mendes de Conservação da

Biodiversidade e do Serviço Flo-

restal Brasileiro; com melhoria

salarial e realização de concursos

públicos que deram estabilidade e

qualidade à equipe. Com a com-

pleta reestruturação das equipes

de licenciamento e o aperfeiçoa-

mento técnico e gerencial do pro-

cesso. Abrimos debate amplo

sobre as políticas socioambien-

tais, por meio da revitalização e

criação de espaços de controle

social e das conferências nacionais

de Meio Ambiente, efetivando a

participação social na elaboração

e implementação dos programas

que executamos.

Em negociações junto ao Con-

gresso Nacional ou em decretos,

estabelecemos ou encaminhamos

marcos regulatórios importantes, a

exemplo da Lei de Gestão de Flo-

restas Públicas, da criação da área

sob limitação administrativa provi-

sória, da regulamentação do art.

23 da Constituição, da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, da

Política Nacional de Povos e

Comunidades Tradicionais. Contri-

buímos decisivamente para a

aprovação da Lei da Mata Atlânti-

ca.

Em dezembro último, com a

edição do Decreto que cria instru-

mentos poderosos para o com-

30 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

UM PEDIDO DEDEMISSÃO

MARINA

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Page 31: Plurale em revista edição 6

O novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defendeu a elaboração de uma nova

lei de licenciamento ambiental para o Brasil, “com exigências mais rigorosas, mas que dimi-

nua ao mesmo tempo a burocracia". Durante sua gestão como secretário estadual do

Ambiente do Rio de Janeiro, Minc reduziu pela metade o tempo para aprovar certificações e

licenças de instalação e operação no estado.

"Mais burocracia não significa maior rigor em relação às exigências ambientais", argu-

mentou Minc, em entrevista coletiva na capital francesa. "Ao contrário, a burocracia é a mão

da corrupção", afirmou. Minc disse que vai manter "todas as políticas da ex-ministra Marina

Silva, sem exceções, e aprofundá-las em algumas questões".

bate ao desmatamento ilegal e com a Resolução do Conselho Monetário Nacional, que vin-

cula o crédito agropecuário à comprovação da regularidade ambiental e fundiária, alcança-

mos um patamar histórico na luta para garantir à Amazônia exploração equilibrada e susten-

tável. É esse nosso maior desafio. O que se fizer da Amazônia será, ouso dizer, o padrão de

convivência futura da humanidade com os recursos naturais, a diversidade cultural e o dese-

jo de crescimento. Sua importância extrapola os cuidados merecidos pela região em si, e reve-

la potencial de gerar alternativas de resposta inovadora ao desafio de integrar as dimensões

social, econômica e ambiental do desenvolvimento.

Hoje, as medidas adotadas tornam claro e irreversível o caminho de fazer da política socio-

ambiental e da economia uma única agenda, capaz de posicionar o Brasil de maneira consis-

tente para operar as mudanças profundas que, cada vez mais, apontam o desenvolvimento

sustentável como a opção inexorável de todas as nações.

Durante essa trajetória, V. Excia é testemunha das crescentes resistências encontradas por

nossa equipe junto a setores importantes do governo e da sociedade. Ao mesmo tempo, de

outros setores tivemos parceria e solidariedade. Em muitos momentos, só conseguimos

avançar devido ao seu acolhimento direto e pessoal. No entanto, as difíceis tarefas que o gover-

no ainda tem frente sinalizam que é necessária a reconstrução da sustentação política para a

agenda ambiental.

Tenho o sentimento de estar fechando o ciclo cujos resultados foram significativos, ape-

sar das dificuldades. Entendo que a melhor maneira de continuar contribuindo com a socie-

dade brasileira e o governo é buscando, no Congresso Nacional, o apoio político fundamen-

tal para a consolidação de tudo o que conseguimos construir e para a continuidade da imple-

mentação da política ambiental.

Nosso trabalho à frente do MMA incorporou conquistas de gestões anteriores e procurou

dar continuidade àquelas políticas que apontavam para a opção de desenvolvimento susten-

tável. Certamente, os próximos dirigentes farão o mesmo com a contribuição deixada por esta

gestão. Deixo seu governo com a consciência tranqüila e certa de, nesses anos de profícuo

relacionamento, temos algo de relevante para o Brasil.

Que Deus continue abençoando e guardando nossos caminhos.

Marina Silva"

31

CARLOS MINC: UM COMPROMISSO

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Page 32: Plurale em revista edição 6

Em meio ao boom de iniciativas que sur-

gem dentro e fora do País visando a pro-

teção da biodiversidade, uma delas se distin-

gue como centro de referência no levanta-

mento e na aplicação do conhecimento cien-

tífico para a conservação da diversidade bio-

lógica brasileira: a Fundação Biodiversitas.

Uma organização não-governamental

mineira, criada por um grupo de pesquisado-

res do Instituto de Ciências Biológicas da

UFMG, em 1989.

Localizada em Belo Horizonte, Minas

Gerais, a Biodiversitas tem papel de destaque

no cenário brasileiro, não somente pela qua-

lidade dos trabalhos que desenvolve, mas

também por aportar soluções a seus projetos

e fornecer dados qualificados sobre o meio

ambiente.

Seus estudos altamente acreditados são

realizados por meio de capacitação de pesso-

al, apoio a desenvolvimento de teses e pesqui-

sas, capacitação profissional e educação

ambiental, inventários biológicos, mapea-

mento, zoneamento e ordenamento territorial, desenvolvimen-

to e auxílio a projetos ambientais, projetos de criação e

implantação de programas de unidades de conservação loca-

lizados em parques, reservas particulares e governamentais

espalhados por todo Brasil.

Inclusive, a Biodiversitas possui e administra duas áreas

protegidas: uma de Mata Atlântica no município de Simoné-

sia, em Minas, e a Estação Biológica de Canudos, na Bahia, área

de dormitório e reprodução da Arara-azul-de-lear (Anodorhyn-

chus leari), uma das espécies mais ameaçadas do mundo.

Para ambas iniciativas foi traçada uma linha de ação

que privilegia a sobrevivência de espécies em risco de

extinção. Aliás, cabe aqui informar um dado alarmante e, até

vergonhoso: hoje, o Brasil ocupa a posição de vice campeão

mundial no número de espécies animais ameaçadas de

extinção. Triste, não?

Mas a Biodiversitas não está medindo esforços para mudar

essa realidade e, através de parceiras com órgãos governamen-

tais, iniciativa privada e, até mesmo, por meio de doações par-

ticulares. Em parceria com a Conservação Internacional do

Brasil, a Fundação lançou o livro da lista da fauna brasileira

ameaçada de extinção que pode ser adquirido pelo site

www.biodiversitas.org.br.

PELO BRASIL

EM BUSCA DA PROTEÇÃOMINAS,

32 PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2008

TEXTO [IRENATA MONDEO - BELO HORIZONTE - BRASIL] FOTO [DIVULGAÇÃO]

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Page 33: Plurale em revista edição 6

EU GOSTO DEVIVER. JÁ ME

SENTI FEROZMENTE,DESESPERADAMENTE,

AGUDAMENTE INFELIZ,DILACERADA PELO

SOFRIMENTO, MAS ATRAVÉS DETUDO AINDA SEI,

COM ABSOLUTACERTEZA, QUE ESTARVIVA É SENSACIONAL.

ATÉ CORTAR OS PRÓPRIOS DEFEITOSPODE SER PERIGOSO. NUNCA SE SABE

QUAL É O DEFEITO QUE SUSTENTA NOSSO EDIFÍCIO INTEIRO. CLARICE LISPECTOR

CLARICE LISPECTOR

O QUE VALE NA VIDA NÃO É O PONTODE PARTIDA E SIM A CAMINHADA,

CAMINHANDO E SEMEANDO,NO FIM TERÁS O QUE COLHER.

CORA CORALINA

CORA CORALINA

EIS UM TESTEPARA SABER SE VOCÊ

TERMINOU SUA MISSÃONA TERRA: SE VOCÊ

ESTÁ VIVO, NÃOTERMINOU.

RICHARDBACH

O INVERNO COBREMINHA CABEÇA, MAS

UMA ETERNA PRIMAVERAVIVE EM MEU

CORAÇÃO.

A SOLIDARIEDADEÉ O

SENTIMENTO QUEMELHOR

EXPRESSA ORESPEITO PELA

DIGNIDADEHUMANA.

VICTORHUGO

s

A VERDADEIRASOLIDARIEDADE

COMEÇA ONDE NÃOSE ESPERANADA EM TROCA.

ANTOINEDESAINT-EXUPÉRY

GEORGEBERNARD SHAW

AGHATACHRISTIE

FRANZKAFKA

GOETHE

A VIDA ÉA INFÂNCIA

DA NOSSAIMORTALIDADE.

Frase

OSCARWILDE

VIVER É A COISAMAIS RARA DO

MUNDO. A MAIORIA DASPESSOAS APENAS

EXISTE.

A VIDA NÃO É UMA VELA CURTAPARA MIM. É UM TIPO DE TOCHA

ESPLÊNDIDA A QUAL ESTOU SEGURADOPELO MOMENTO, E QUERO FAZER COM

QUE ELA QUEIME TÃO BRILHANTEMENTEQUANTO POSSÍVEL ANTES DE

PASSÁ-LA PARA AS PRÓXIMASGERAÇÕES.

33

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Page 34: Plurale em revista edição 6

As mãos tremiam, mas aindaassim e recusando a minhaajuda, o mestre insistiunaquela tarde, quando oinverno tomava conta do Riode Janeiro, em ler trechos de"Elogio da Loucura" de Eras-mo de Roterdã. Para Celso

Monteiro Furtado, paraibano de Pombal, nascidoem 26 de julho de 1920, o homem que enxerga pri-meiro a luz, muitas vezes, é um incompreendido, umdesacreditado, mas com sua esperança e o desejo desalvar-se e salvar os seus pares se fortalece, prosse-gue a sua luta na tentativa de conquistar outros parabatalhas sem armas, municiadas apenas pela pala vra,o sonho e o desejo de transformar a realidade.

Naquele dia 9 de agosto de 1997, um dia de co -lheita, ele entendia, com profunda serenidade e cer-ta timidez, ser homenagem a eleição para a cadeirade número 11 da Academia Brasileira de Letras.

CEPerfil

LsoTEXTO [CARLOS FRANCO]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

ELE LUTOU

E SONHOU POR

UM MUNDO MAIS

JUSTO. E NUNCA

DEIXOU DE

LEVANTAR A

VOZ EM DEFESA

DO BRASIL E DOS

BRASILEIROS.

Na primeira entrevista que davaao Caderno B, do Jornal do Brasil,após o pleito, decidira revelar aorepórter a base do seu pensamento.E orgulhava-se do fato de que "a uto-pia do plural" com a qual tanto so-nhara voltaria aos prelos das edito-ras e poderia se espalhar novamen-te. Rosa Freire D'Aguiar, sua mulher,que havia sido correspondente emParis da Istoé, quando eu trabalhavacomo repórter da mesma publicaçãona sucursal do Rio nos idos de 80,saiu para fazer compras, me reco-mendando não esquecer de dar a eleum cumprido num determinadohorário, algo como 30 ou 40 minu-tos depois. Era raro, mas ele reclama-va nesses momentos de tantos medi-camentos e parecia se fortalecer maislendo trechos de livros, sonhandocom esse porvir da luz, do que semedicando.

E naquele dia, Furtado, para mi-nha felicidade e a dos leitores do JB.fez uma análise profunda da econo-mia brasileira, enfatizando que con-siderava "espetacular. Incrível mesmoque no limiar do século 21 homens,mulheres e crianças brigassem porterra para plantar e colher o susten-to e, assim, ampliar a produção agrí-cola brasileira. O Movimento dosSem-Terra (MST) é o que há de maisrevolucionário nas últimas décadasneste País". E me explicava que,enquanto países abandonavam aslavouras em busca da industriali-zação e do conforto das cidades,aqueles que voltavam à terra é queseriam o sustentáculo do futuro.Então para este mestre, brigar pelaterra, pelo plantio e a colheita tinhasabor de futuro, como é hoje aoolhar de muitos dirigentes, exata-mente como fez a OrganizaçãoNacões Unidas (ONU) este ano aocobrar de todos os países que nãoabandonem a produção agrícola.

A sútil, embora importante dife-rença, é que Furtado via essa pro-dução como inclusão social e nãoapenas abastecimento.

O autor do clássico "Formação daEconomia Brasileira", assim comoDarcy Ribeiro, decidira naqueles idos

34 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2008

Furtado

PerfilCelsoFurtado:tecnologia.qxd 18/5/2008 20:29 Page 1

Page 35: Plurale em revista edição 6

se distanciar de Fernando Henrique Cardoso, um de seus discípulos na teoria dosubdesenvolvimento a qual imprimiu sua passagem pela Comissão Econômica paraa América Latina e o Caribe (CEPAL), criada pela Organização das Nações Unidas(ONU) em 1948 para traçar políticas para a região. É que Fernando Henrique Car-doso, justificava Furtado, havia deixado de lado a visão humana da importância dohomem para abraçar teses neo-liberais, onde o homem fica em segundo plano emrelação ao crescimento econômico, como se fosse este a, depois, recompensar essemesmo homem num efeito conhecido como o de crescer primeiro o bolo para depoiso distribuir. Para esse mestre, era preciso olhar primeiro o homem, assegurar o seubem estar e estimular apenas o crescimento que possa dividir-se e não apenas somarpara poucos. A matemática de Furtado nunca foi a de crescer para dividir, mas ade dividir para crescer. Pode parecer sútil, mas faz toda a diferença.

O homem que fora na década de 50, diretor do então Banco Nacional do Desen-volvimento Econômico (BNDE), que ganharia mais tarde o S de Social, sempre teveuma visão muito firme do papel do Estado na distribuição da renda por meio docrescimento. Antes, havia sido superintendente da SUDENE, desenhando políticaspara a região nordestina. A visão de Furtado para atingir os objetivos do crescimen-to plural - humano e econômico - sempre foi a do Planejamento, aquele que per-mitisse a matemática do compartilhar. E foi assim que ele ajudou Juscelino Kubits-chek a elaborar o seu famoso Plano de Metas.

Mas foi como ministro do Planejamento de João Goulart que Furtado pode so -nhar mais, procurar transformar em ações as palavras, mas o período foi curto, inte-rrompido pelo golpe militar que mergulhou o País nas trevas, ainda que Ernesto Gei-sel tenha deixado um legado importante para a sustentabilidade, como a diversifi-cação da nossa matriz energética e a política, enfim, de não-alinhamento com osEstados Unidos, reconhecendo a independência de países africanos e aproximan-do o Brasil da China e de Cuba.

Da fantasia organizada à fantasia desfeita pela ditadura à reconstrução do so nho,Furtado, pôde como Pablo Neruda, confessar que viveu. E viveu plenamente.

Do seu legado, fica a visão profundamente humana da sociedade. O respeitoao homem e ao ambiente do homem. A fantasia da qual nunca se desfez até par-tir para o Reino da Passargada de que falava Manuel Bandeira.

E naquela tarde distante de 1997, impossível esquecer esse mestre que me brin-dou com a lição de que devemos sempre acreditar no homem e que essa é a con-dição básica para que possamos acreditar em nós mesmos. Ninguém é uma ilha,precisa, mesmo ao encontrar sozinho e com árduo sacríficio a luz, de compartilharessa descoberta. Até porque sem o outro nada somos. Por isso mesmo e com váriasiniciativas como o Centro que leva seu nome, Furtado, tal qual Fênix, renasce a cadamanhã nordestina, brasileira, global. Seu pensamento não morreu e suas idéias sãosementes jogadas na terra e que oxalá irão germinar. A vida, enfim, ensina a natu-reza, é plantar e colher. Era isso que Furtado via de mais extraordinário na volta dehomens, mulheres e crianças ao campo. Ele viveu no campo das idéias.

35

MATEMÁTICADO DIVIDIRPARACRESCER E NÃO DECRESCERPARA DIVIDIR

PerfilCelsoFurtado:tecnologia.qxd 18/5/2008 20:29 Page 2

Page 36: Plurale em revista edição 6

APOIO DE EMPRESAS DE

TELEFONIA PARA DIVERSOS

PROJETOS SOCIAIS CONFIRMA

PAPEL DE INCLUSÃO DO SETOR

PRIVATIZADO HÁ 10 ANOS

36 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2008

CONEXÕESDIGITAISE

CULTURAIS

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Page 37: Plurale em revista edição 6

Uma guerra de liminares marcou a privatização dastelefônicas há exatos 10 anos. Se, até então, haviafila que podia se arrastar por anos para conseguiruma linha, abrindo espaço até para o mercadoparalelo, e os celulares eram acessíveis apenaspara poucos abastados, o que se vê hoje é umcenário completamente distinto.

O País já tem hoje três vezes mais celulares do que linhas fixas. Deacordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Ana-tel), até março de 2008, eram 125,8 milhões de celulares e 39 milhõesde fixos. Não é só. A competição acirrada permitiu queda de preçose melhoria nos serviços. E as inovações tecnológicas fervilham por todolado. É bem verdade também que as reclamações dos clientes indi-cam ainda haver um bom caminho para melhoria, especialmente nosserviços prestados. Mas não há como negar que desde a privatizaçãomuito se avançou.

37

A avaliação das entidades do setor

As telecomunicações prevêem ain-da um papel social. O projeto de trans-ferência para o setor privado exigiuvárias condicionantes neste sentido,as chamadas metas de universalização,como a instalação de mais orelhões empontos distantes e o atendimento emáreas que nunca haviam sido interliga-das a cidades vizinhas, cão restante dopaís e do mundo. De lá para cá, o quese viu foi não só o atendimento damaior parte destas exigências.

As comunicações cumpriram umpapel de interligar pontos, de conectarpessoas, de dar acesso às informações.Independentemente de renda e classesocial. Foram principalmente os trabal-

Presidentes da Abrafixe Acel analisam papelsocial das operadoras

Mais de 80% dos telefones celulares noBrasil são habilitados em planos pré-pagos – ouseja, de cartões -, que têm a preferência princi-palmente dos clientes das classes de menor ren-da. São linhas que geram uma receita médiaentre R$ 13 e R$ 15 por mês para as operado-ras. Com os créditos de um cartão que custa R$10, é possível manter um celular ativo por umperíodo de até cinco meses.

Ércio Zilli, presidente da Associação Nacio-nal das Operadoras de Celulares (Acel), desta-ca que este pode ser um lado importante do ser-viço prestado pelas empresas. Afirma que éum bom argumento para revidar a crítica dealguns: o de que este não é um nicho apenas do“filé mignon” do mercado. Diante das estatísti-cas, que apresentam quatro vezes mais celula-res do que fixos, o executivo defende que “éresultado da combinação de um ambiente deintensa concorrência, de uma grande variedadede planos de serviço com preços cada vez maisacessíveis e dos pesados investimentos realiza-dos pelas prestadoras.”

Números da Acel mostram que entre 2000e 2007 foram investidos pelas operadoras decelulares mais de R$ 49 bilhões e em 2008serão mais R$ 14 bilhões. “Isso possibilita oacesso de todas as camadas da população,especialmente as de menor renda, às facilidadesde comunicação permitidas pelo telefone celu-

lar e certamente contribuiu para inserir essaspessoas no mercado e melhorar sua qualidadede vida.”

Mas e as queixas tão freqüentes em relaçãoaos serviços prestados? Zilli argumenta que atelefonia móvel é o serviço com o maior núme-ro de relações individuais de consumo no Bra-sil. São cerca de 125 milhões de clientes.Segundo o presidente da Acel, o investimentona melhoria do atendimento aos seus usuáriosé permanente e tem tido resultados positivos. “Onúmero de usuários cresceu 40% entre marçode 2006 e março de 2008, enquanto a taxa dereclamações recebidas pelas operadoras caiupela metade no mesmo período”, afirma.

No caso dos telefones fixos, depois de um“boom” de crescimento nos anos após a priva-tização – diante da grande demanda reprimida- o número tem se mantido praticamente omesmo nos últimos meses. As classes D e Erepresentam hoje 50% dos serviços prestados,mas novos clientes de menor renda têm dificul-dades de adquirir uma linha, principalmente,diante do orçamento apertado. O presidente daAssociação Brasileira de Concessionárias deServiço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix),José Fernandes Pauletti, observa que o poten-cial de novos consumidores interessados emuma linha fixa é imenso. Mas que faltam algu-mas mudanças ou inovações para conseguiratrair novos usuários. Se a reforma tributáriafosse aprovada, acrescenta, também poderiahaver redução nos impostos incidentes sobre ascontas.

“Estou levantando agora a idéia, por exem-plo, de um Bolsa Comunicação, nos moldes doBolsa Família. Seria uma ajuda, vamos supor, deR$ 10 ou R$ 15 por mês para que os menosfavorecidos pudessem ter sua linha.” Pauletti fri-sa que as operadoras não querem receber estedinheiro diretamente, mas os recursos seriamdados, com destino certo para as comunicaçõesa estas famílias. Questionado se o mesmo efei-to não pode ser conseguido na trajetória atual– com a economia em crescimento, gerandomais empregos e renda – o presidente da Abra-fix responde. “Pode ser um caminho. Mas levamuito mais tempo. Um Bolsa Comunicaçãodaria acesso mais rápido para estas famílias.”

Na avaliação do presidente da Abrafix estaprecisará ser uma decisão do Governo Federal.As metas de universalização já foram cumpridas:há oferta, mas não há procura. “Chegamos a 5,5mil municípios e 40 mil localidades. Temos umpapel social enorme. Sem falar nos orelhões. Ocelular chega apenas em 2 mil municípios e nahora de falar, os menos favorecidos usam mes-mo o orelhão que é muito mais em conta.”

Os investimentos realizados pelas empresasdesde a privatização, observa Pauletti, “benefi-ciaram o País e a sociedade, pois possibilitou oalcance da comunicação a todas as localidadese cidadãos, sem distinção de poder aquisitivo.“Hoje, 100% do território nacional possuemacesso público ou dedicado à telefonia fixa,com crescimento de 120% na base de usuáriose salto de 18 a quase 40 milhões de clientes.

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Page 38: Plurale em revista edição 6

hadores das classes C, D e E que tiveram acesso ao que antes parecia artigo de luxo. Celulares – especialmente osde cartão (ou pré-pagos) – não tão somente viabilizaram ligações: ajudaram a garantir empregos de autônomos quepuderam passar a ser localizados onde bem estivessem.

A diarista Mara Rosângela Soares Gomes, 51 anos, que o diga. Moradora da Cidade de Deus (RJ) consegue admi-nistrar a concorrida agenda de trabalho semanal em quatro lugares distantes, que vão do Leme à Niterói, incluin-do a Ilha do Governador. O celular é instrumento de trabalho. “Nem me lembro mais como era complicado antesde ter o celular. É uma mão na roda. As pessoas sempre me localizam e ainda consigo fazer alguns bicos com arte-sanato e congelados.”

Iniciativa própria das empresas, através de Institutos e Fundações, tem contribuído também para reduzir o imen-so abismo digital e cultural entre os diversos filhos de um mesmo Brasil. Mais do que os números, são histórias davida real, relatadas pelos personagens que ajudam ainda mais a contar esta transformação. Plurale em revista con-heceu in loco algumas destas ações, relatadas aqui nesta reportagem especial.

Telefonia

Faz uma década, mas parece um séculoNaquele tempo, ter um amigo dentro da

Telerj valia ouro. Quem não tinha, esperava atétrês anos para conseguir a instalação de umalinha. No mercado paralelo, linhas telefônicaseram cotadas como ações na Bolsa e muitagente ficou rica. Transferência de assinatura,mudança de endereço ou um simples reparo,às vezes, demorava meses. Algumas áreas,como Barra da Tijuca, Ipanema, Copacabana eLeblon eram ainda mais críticas.

A construção do Metrô arrebentou a redetelefônica e levou ao caos o Centro da cidade.Os temporais de janeiro afogavam os cabossubterrâneos, emudecendo os telefones. Assi-nantes desesperados conviviam meses com o“mudinho”, à espera de conserto. Linhas cru-zadas, ruídos e quedas de ligações eramcomuns. Houve até casos de pessoas que seconheceram através de linhas cruzadas, namo-raram e se casaram. Erros nas contas telefô-nicas fermentavam o bolo de reclamações.Ligações para o Telessexo e para localidadesonde o assinante não conhecia ninguém eramcontestadas na Justiça. Os empregados daTelerj se escondiam dos amigos para não rece-berem pedidos de ajuda e os jornais malhavama Empresa apelidada de Telerda pelo ArturXexéo, de O Globo.

Um milhão 500 mil pessoas estavam

numa fila há dois anos, esperando por uma lin-ha celular, quando começou a operar a TelerjCelular, desmembrada da Telerj, no início de1998. Os primeiros aparelhos eram os veicu-lares; depois surgiram os transportáveis, queeram maiores do que um laptop. Logo vieramos mais modernos, pesando cerca de 1kg,com aparência de um tijolo. Para comprar umcelular era preciso pagar uma caução de R$20.000,00. A Taxa de Habilitação era R$ 308,16e foi reduzida para R$ 80,00, mas só paraquem já estava habilitado há certo tempo .Em dezembro daquele ano, a Empresa tinha653.956 clientes, sendo 436.279 analógicos e217.677 digitais. Em dezembro, entrou nomercado a ATL (hoje Claro), explorando a ban-da B da telefonia celular. Já em 2001, o Rio setornou o primeiro estado brasileiro a ter maiscelulares do que telefones fixos.

Quanta emocion!Serão japoneses, alemães, franceses, ita-

lianos, americanos, espanhóis? Que línguateremos que falar com nossos novos chefes?

Desde janeiro de 1998, os 500 emprega-dos da Telerj Celular, recém-separada da ope-radora de telefonia fixa, viviam na expectativa

da privatização das teles. Em 28 de julho, diado leilão na Bolsa, a notícia chegou pelo celu-lar: são os espanhóis da Telefónica. Pela rádio-peão, toda a empresa já sabia da novidade e ohouse organ só veio confirmar e dar maisdetalhes.

Os novos donos chegaram logo. Ordemem espanhol era cumprida sem discussão.Atordoados com as mudanças, os empregadosagiam como autômatos, cada um tratando dese garantir no seu posto, pois pairava no ar omedo da demissão. O clima era de salve-sequem puder, apesar da simpatia e tranqüilida-de dos diretores que chegavam de Madri.

Mudança mesmo só veio com a chegadada concorrência, em dezembro daquele ano. Areestruturação da empresa exigiu, entre outrascoisas, a criação de uma diretoria comercial,para a qual foram contratados profissionais demarketing. Até então o conforto do monopó-lio dispensava marketeiros. Outras áreas, comovendas, sistemas e rede, também captarammão de obra no mercado. Começaram a con-viver três grupos bem distintos: os antigos daestatal, os espanhóis, e os recém-admitidos,jovens que chegavam cheios de gás, MBAs eidiomas.

38 PLURALE EM REVISTA | Maio/Junho 2008

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Page 39: Plurale em revista edição 6

SOMÉ

bom tomar fôlego. São quatro andares, com dois lances de escada cada um, separando o pátio daEscola Soares Pereira, na Tijuca, das salas de oficina de música. No último lance de escada, a balbúr-dia do recreio fica para trás e os primeiros acordes já podem ser ouvidos. Que vêm de diferentes ins-trumentos: teclado, violão, cavaquinho, pandeiro e até mesmo o som forte a partir de passos firmesno chão, como se fossem uma dança. Dependendo do dia da semana, também há aulas de instru-mentos de sopro e percussão. Tudo faz parte das aulas de música promovidas pela Tim, dentro doTim Música nas Escolas.

“Estou realizando um sonho”, revela Paloma Gomes da Silva, 14 anos, que fazia sua segunda aula. Passou nos tes-tes e sonha aprender a tocar sax. Mas quer mesmo é ser cantora. O pai é mestre de obras e a mãe morreu. Lucas Ambró-sio Mota é ainda mais jovem, tem 12 anos, no entanto, já acumula experiência no cavaquinho. Tira um som de ale-grar a alma. “Adoro chorinho. Acho que vou ganhar um do meu pai no meu aniversário”, contava, com os olhos bril-hando. Ícaro Belini, 20 anos, visitava os professores e passava sua experiência para quem está começando. Moradorde Realengo (Zona Oeste do Rio), freqüentou as aulas de bateria em outra escola pública, apoiada pelo Tim Música.“Aprendi a tocar todos os instrumentos de percussão.” Os amigos brincavam que tocar surdo, por exemplo, não che-ga a ser música mesmo. Aluno do curso de tecnólogo em Automação Industrial, Ícaro faz pé firme. “Onde já se viu?Percussão é música sim. E das boas.”

O professor Leandro Braga, músico profissional, dá aula de Harmonia no teclado para a garotada. Ele conta que

JOVENS DE ESCOLAS PÚBLICAS APRENDEMMÚSICA COM O APOIO DA TIM

Usinas de

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alguns já nascem com o dom e pegam mais fácil. Outros, com um pouco maisde esforço, aprendem nas aulas. “Nem todos seguirão carreira como músicos. Mas,certamente, serão ao menos uma platéia atenta.” As oficinas têm ajudado tambémnos estudos. A diretora da Escola Soares Pereira, Maria Araújo, confirma: odesempenho escolar melhorou e a evasão escolar caiu. “As aulas de música con-tribuem para que eles prestem mais atenção e tem ajudado muito no ensino.” Umexemplo é Jefferson Luiz da Silva, 18 anos, aluno do 2º ano do Ensino Médio. Hátrês anos no projeto, ele mesmo confessa ser “um pouco bagunceiro”. Os profes-sores, hoje, se derramam em elogios ao aluno. “Já tinha até repetido e minha mãevivia dizendo que eu não tinha jeito. Não gostava mesmo de estudar. As aulas demúsica mudaram a minha vida”, conta Jefferson. Casos como o dele são freqüen-tes, diz a coordenadora pedagógica do programa Tim Música no Rio, Rita Ker-der. “As atividades ajudam a escutar o outro, a aprender a dialogar.”

A Tijuca é um bairro cercado de várias comunidades, como o Borel, Salguei-ro e tantas outras. A escola pública Soares Pereira, com 1,2 mil alunos, recebe mui-tos destes jovens. Alguns, de facções rivais. “O clima melhorou muito com as ofi-cinas e aulas do projeto”, revela a diretora. Os melhores alunos do Tim nas Esco-las são selecionados pelos professores e tornam-se “embaixadores”, com direitoa aulas ainda mais intensivas e apresentações. Podem até vir a tocar ao lado decelebridades, como Milton Nascimento e Chico Buarque. Está sendo reformadauma casa da Tijuca para abrigar as aulas para estes jovens talentos.

Pesquisa realizada com 8 mil pessoas, entre 2005 e 2006, sob a coordenaçãodo professor Flávio Comim, doutor em Economia, professor da Universidade Fede-ral do Rio Grande do Sul e pesquisador da Universidade de Cambridge, mostrouque o impacto do envolvimento no projeto equivale a um acréscimo de um a doisanos de estudo para os alunos participantes. “Isso é fantástico. Estamos ajudan-do a formar cidadãos”, afirma José Paulo David, dirigente da Tim/Rio. Ele lem-bra que o programa está conectado à estratégia da Tim e alinhado com os negó-

Ser voluntário não é uma missão que possa ser destinada pela chefia para ossubordinados cumprirem. É preciso ter vontade e disposição para fazer sua parteporque quer fazer diferença e não para marcar pontos na empresa. Foi assim quecomeçou o trabalho de voluntários da Vivo, antes mesmo da companhia lançarum programa estruturado. De dentro para fora.

Empregados de São Paulo e também do Rio de Janeiro trabalham com a trans-crição em Braille e com a gravação de audiolivros. Em 2005, o Instituto Vivo estru-

Telefonia

turou, deu foco e apoiou ino-vações no programa de voluntaria-do. As gravações são feitas nosEspaços Vivo Voluntários do Rio ede São Paulo.

E foi lançada também a audio-descrição, no Teatro Vivo, na capi-tal paulista, a primeira casa deespetáculos a oferecer este recur-so para espectadores com defi-ciência visual. Voluntários treina-dos gravam, pelo mesmo sistemade traduções simultâneas, infor-mações para as pessoas especiais.Em um ano, já foram gravadasaproximadamente 600 horas deáudio e impressas mais de 200mil páginas em Braille. São parcei-ras neste projeto instituições detodo o país, como Fundação Dori-na Nowill, Laramra, Audioteca Sal&Luz, entre outras.

Um livro “inclusivo”, mostran-

cios da companhia. O slogan daTim é “Viver sem fronteiras” e amúsica, na opinião de José Pau-lo, cumpre muito este papel.

O Tim Música nas Escolas foicriado em 2003, já beneficioumais de 20 mil crianças e adoles-centes da rede pública de ensino,em 13 cidades brasileiras. Inicia-do na cidade de São Paulo, oprograma atualmente é desenvol-vido em Porto Alegre (RS), Salva-dor (BA), Recife (PE) e Belém(PA), Rio de Janeiro (RJ), SantoAndré (SP), Cuiabá (MT), BeloHorizonte (MG), Manaus (AM) eNatal (RN).

O programa é uma parceriada Tim com as secretarias muni-cipais e estaduais de Educação,que selecionam, com base nasinformações do censo demográ-fico e mapas de exclusão social,as áreas e as escolas que serãobeneficiadas. O objetivo é possi-bilitar aos participantes novas for-mas de aprendizagem, para con-tribuir com a melhoria do desem-penho escolar e estimular odesenvolvimento de uma culturade paz.

VIVO E TELEFÔNICA ESTIMULAMVOLUNTÁRIOS EM SUAS AÇÕES

sentirPara Ouvir e

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A Claro além do apoio ao desenvolvimento cultural, por meio de projetos musicais e de cinema, tem uma açãopremiada de inclusão social desenvolvida em parceria com a entidade SORRI Campinas, que capacita portadoresde deficiência física, mental e pessoas excluídas ao mercado de trabalho.

Esse projeto, batizado de Claro para Todos, atende mais de 250 pessoas com o objetivo de integrar seus par-ticipantes de forma satisfatória no mercado de trabalho e na vida da comunidade.

A parceria é responsável, entre outras ações, por uma série de treinamentos que terão duração de dois anos.Os temas dos cursos são: Informática; Orientação para o Trabalho; Atendimento ao Cliente e Tele-atendimento.O balanço da empresa espelha ações em toda a sua área de cobertura.

CLARO TEM PROJETO PREMIADO DE INCLUSÃO

Apoio ao

do para quem não é deficiente visual como é o mundo deles e uma exposição sensorial, para ouvir, cheirar esentir são algumas ações recentes neste sentido.

“Escolhemos uma causa considerada ingrata por muitas empresas. A maioria quer trabalhar com jovens, comcrianças. Nós também lidamos com este público, mas estamos focando na inclusão de deficientes visuais”, dizKarina Forlenza, diretora de Responsabilidade Socioambiental da Vivo. Como resultado, ela comemora o fatode o Instituto ser considerado uma referência na área e estar sendo chamado inclusive para participar opinan-do em políticas públicas.

O segundo pilar de atuação está ligado ao Programa Soluções Inclusivas, por meio do qual se implantou oResumo da Prestação para os clientes pós-pagos com deficiência visual. As informações sobre a utilização dosserviços e planos da operadora são em Braille. Para os clientes pré-pagos com deficiência visual, há isenção dascobranças para a consulta de saldos de celulares pelo serviço do *5005. A empresa também tem o ProgramaVivo Recicle seu Celular, ou seja, coleta e reciclagem de aparelhos, baterias e acessórios usados para o descar-te adequado.

TELEFÔNICAJovens carentes, assim como os que já estão em processo de recuperação com liberdade assistida ou pres-

tando serviços à comunidade são o foco principal da Fundação Telefônica. O programa chama-se Pró-meninoe se divide em várias ações. Há ainda ações intensas contra o trabalho infantil e contribuição para o financia-mento de projetos de implantação de redes sociais e eletrônicas de informação entre os Conselhos Municipaisde Direitos da Criança e do Adolescente e as entidades de assistência dos municípios.

Para complementar, também os professores recebem atenção especial, através do Educarede. A idéia é valo-rizar os protagonistas de uma narrativa muito interessante: a das escolas. Alunos e professores e pessoas da comu-nidade se juntam para relatar esta história.

Em 2007 foram apoiados 74 projetos, beneficiando 4,2 mil pessoas. “Queremos ajudar a construir um futu-ro melhor para estas crianças”, explica Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação Telefônica. As ações noBrasil integram uma rede de outros tantos projetos sociais do grupo Telefónica, da Espanha, em diversos paí-ses latino-americanos. Isto ajuda a integrar e trocar experiências.

Filho de José Mindlin, que depois de anos de vida empresarial tornou-se referência pela sua biblioteca deobras raras (a maior do país), Sérgio sabe que o conhecimento existe para ser democratizado. E que nem só oscomputadores serão capazes de disseminar todas as informações se não houver uma boa base tradicional deaprendizagem. “O computador ajuda. Mas a educação tradicional ainda é muito importante”, diz Sérgio.

deficiente

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Telefonia

EducaçãoOI PATROCINA FÁBRICA DE JOGOS

Aprender Matemática nunca foi fácil para o jovem pernambucano Juscelino ReisBarbosa, de 17 anos, aluno do Centro Experimental Cícero Dias, escola públicaestadual em Recife. Filho de mensageiro e de recepcionista, o menino tímido acre-ditava que quando crescesse poderia se empregar como porteiro. Ou, se desse sor-te, conseguiria passar para concurso de gari. Hoje, sonha mais alto. “Quero tra-balhar com informática. Processador ou técnico. Quem sabe até, estudando firme,posso vir a me tornar um programador de jogos virtuais.”

Ele está cursando há um ano as aulas na Fábrica de Jogos, implantada no Cen-tro Experimental Cícero Dias. Pioneira no país, a Fábrica ensina os alunos a pro-duzir games, desde a programação até a animação dos jogos. A idéia é transfor-mar a escola em um centro de pesquisa em tecnologia, onde os alunos aprendemnoções de robótica e como criar jogos eletrônicos. Essas disciplinas também sãoincorporadas ao ensino de outras matérias como Matemática, Geografia e Portu-guês, numa proposta que valoriza o ensino multidisciplinar.

Juscelino é a prova viva que o projeto em Recife está mesmo ajudando na apren-dizagem. Se, até então, tinha grande dificuldade com cálculos matemáticos, hojeconsegue entender a lógica da disciplina. “As aulas na Fábrica de Jogos me aju-daram a ter raciocínio matemático”, conta o estudante à Plurale em revista. Na salacolorida de computadores de última geração, ele e outros 260 jovens sonham, deolhos bem abertos, com o que o futuro lhes reserva.

“A realidade destes meninos e meninas é muito dura. A Fábrica está ensinan-do não só a despertar o lado lúdico e tecnológico, mas também o raciocínio e adisciplina”, explica o PHD pela Universidade da Califórnia, Lúcio Meira, professorde Psicologia Cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco. Ele implantoua Fábrica de Jogos em 2006, com o irmão, também PHD, só que por Cambridge,Sílvio Meira, do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (CESAR), em

parceria com o Geração Oi. O Geração Oi é um programa do

Oi Futuro (instituto de responsabili-dade social da operadora de telefo-nia Oi), voltado para a pesquisa edesenvolvimento de soluções educa-tivas que utilizem de forma diferen-ciada as tecnologias da informação eda comunicação no ensino médio. Oobjetivo é formar jovens preparadospara a educação, o desenvolvimen-to cognitivo e para a participaçãoconstrutiva na cultura digital. Criadoem 2004, o Geração Oi é estrutura-do através de parcerias com secreta-rias estaduais de educação, universi-dades e organismos do terceiro setor.

O aprendizado ocupa quatrotempos semanais de 260 alunos.Como a Fábrica só tem dois anos, ea produção de um bom game levatempo para quem não é ainda espe-cialista, a maior conquista dos jovensalunos de Recife é terem alguns jogosaceitos no campeonato nacional doramo. “Isso é um grande feito”, expli-ca Lúcio Meira, coordenador do pro-jeto. Curiosamente, meninas se des-tacam na Fábrica. “Os meninos sãoótimos, mas as garotas também sãobem talentosas”, conta Lúcio. Quan-do estiverem prontos, estes jogosserão disponibilizados para outrasescolas do país.

Em novembro de 2007, alunos eprofessores do Centro de EnsinoExperimental Cícero Dias foram pre-miados na feira "Ciência Jovem" como projeto “banheiro inteligente”, queconcorreu na categoria "Desenvolvi-mento Tecnológico" com outras 22escolas do país. No protótipo, todo ouso da água no ambiente é monito-rado por um computador associadoa placas robóticas, que através desensores controlam o tempo de uti-lização da água, de forma a evitar odesperdício.

O curso agora passou a ser pro-fissionalizante. A intenção é que sejaaberta uma janela de oportunidadesfutura, quem sabe, para que osjovens sigam este segmento – ououtro ligado à Informática. Paraquem não sabe, Recife tornou-se umpólo de produção tecnológica, como Porto Digital.

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on-lineBiblioteca

INSTITUTO EMBRATEL VAI À ESCOLA

Fábio de Souza tem 22 anos. Poderia aproveitar o tempo livre para namo-rar, passear ou simplesmente navegar na rede. Sua agenda tem outros compro-missos prioritários. Não que ele não descanse ou namore. Mas o jovem do Dis-trito de Papucaia, em Cachoeiro de Macacu (RJ), passa a maior parte do seutempo na Escola Estadual Sol Nascente. Seja estudando à noite no terceiro anodo ensino médio, preparando-se para o Vestibular, seja trabalhando como volun-tário.

“Isso aqui é minha segunda casa.” A região, onde vivem também imigran-tes japoneses trabalhando na lavoura, especialmente a da goiaba, viveu dias con-turbados no passado recente. Na década de 60, nascia em Papucaia um dos pro-jetos de reforma agrária no Governo João Goulart. Ferroviários e estudantesapoiaram a iniciativa. Com o golpe militar, acabou não avançando. Agora, umanova “revolução” está em curso no vale verde e ensolarado: desta vez, do con-hecimento, protagonizada por estudantes e professores. E tem tudo para ter umfinal feliz.

Em parceria com o Instituto Embratel, quatro computadores foram instala-dos na biblioteca da escola pública. “Estou aprendendo um mundo de coisasque nem imaginava. Agora, vou poder fazer trabalhos de pesquisa e aprendera mexer direito no computador”, diz Thaisy Lagoas da Silva, 14 anos, recém-chegada para as aulas. Monitores voluntários, mais experientes no mundo dosbytes - como Fábio, Thaynã Cristina e outros - ajudam os colegas a aprendera se conectar ao mundo digital. Orkut e msn – para desolação da garotada –são proibidos. O objetivo é realmente utilizar a rede como uma ferramenta amais de aprendizagem. A Escola funciona em três turnos e atende 1860 alunos.

Mesmo sem sala de bate-papo, o interesse dos alunos foi tanto que tornou-se necessário marcar hora para que todos pudessem ter acesso de ao menosmeia hora nos computadores. Inclusive aos sábados, quando a biblioteca é aber-ta para alunos de outras escolas da região e moradores. “Parece festa. Temosmais gente na escola do que na pracinha”, comemora o diretor da Sol Nascen-te, o professor de Educação Física Rodolpho Monte, 45 anos. Uma boa notíciafoi recebida no dia da visita da equipe de Plurale à escola, junto com o dire-tor do Instituto Embratel, Luiz Bressan: dois novos computadores vão ser ins-talados para ajudar a atender tanta demanda.

Com a pasta cheia de pesquisas dos alunos, o professor de História da SolNascente, João Ferreira, revela que a qualidade dos trabalhos melhorou mui-to com o acesso à rede. “Não aceito copiar e colar. Eles estão aprendendo apesquisar e tirar suas próprias conclusões. Começam a deixar de ser copistaspara serem pesquisadores”, diz. Também voluntário, o Professor João se reve-za com a bibliotecária Ilma de Souza Menegussi para que a biblioteca possaficar aberta no horário noturno e os computadores sejam acessados. Os livros

são procurados – aumentou a procu-ra - mas os computadores são “estre-las” em cena. “Os alunos pesquisamem duplas. Procuramos indicar bonssites e também aconselhar a comple-mentação nos livros”, explica Ilma.

Os resultados podem ser vistos econferidos. “O que mais nos anima éque a evasão escolar diminuiu”, dizLuiz Bressan, diretor do InstitutoEmbratel. A iniciativa em Papucaia éuma em um total de 48 na Amazônia,Bahia, Pernambuco, Tocantins,Goiás, Rio de Janeiro e Minas Gerais,beneficiando cerca de 28 mil alunose professores. Integram o ProjetoEmbratel de Educação, iniciado em2006, com o objetivo de reduzir aexclusão digital através da instalaçãode laboratórios digitais em escolasrurais e em regiões remotas.

Outras 63 escolas do interior doEstad do Rio – sempre públicas,escolhidas em parceria com as secre-tarias municipal e estadual – pas-sarão a integrar o projeto no segun-do semestre de 2008. “Não queremossó doar o computador e dar acessoà rede. Queremos ajudar no desen-volvimento educacional e social dasregiões”, explica Bressan. De acordocom dados recentes da PesquisaNacional por Amostragem de Domi-cílios PNAD), do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE),72% dos alunos rurais de 10 a 14anos estão atrasados nos estudos. Jánas cidades este indicador cai para50%.

A Embratel e a Star One (empre-sa de satélites do grupo) oferecem oacesso via satélite, o que permiteinterligar, por exemplo, a reservaextrativista Chico Mendes, no Acre ouáreas rurais distantes de Norte a Sul.O interior de Garanhuns (PE), cujofilho mais ilustre é o presidente daRepública, Luiz Inácio Lula da Silva,também passará a fazer parte, embreve, da rede. Que inclui aindaacesso à Biblioteca Digital Multimídia,que armazena livros, gravuras e víde-os digitalizados disponíveis paradownload no site do Instituto Embra-tel, canal de TV também do Institu-to e um canal de rádio em parceriacom a Universidade Federal de MinasGerais, além de cursos online.

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Um incidente com a marca Louis Vuitton

acabou chamando a atenção, em todo o mun-

do, para o drama da população de Darfur, no

Sudão. É que a artista dinamarquesa Nadia

Plesner, uma ativista do movimento em defe-

sa das vítimas de Darfur, decidiu usar grifes de

luxo, no caso bolsas da Louis Vuitton, numa

obra que pintou e e que foi transferida para

camisetas e gravuras cuja venda procura mini-

mizar a miséria naquele esquecido país. As

camisetas também são um alerta para o con-

sumismo exagerado enquanto em vários paí-

ses do mundo a fome é a mais contundente

realidade. Os donos e administradores de

Louis Vuitton não gostaram nada, nada da his-

tória e acionaram a artista na Justiça pelo uso

não autorizado de sua imagem. Ao processar,

a grife chamou ainda mais atenção para a obra

da militante, que o fazia em silêncio, divulgan-

do na internet e atingindo apenas pessoas

interessadas na causa. Agora, as camisetas e as

obras de Plesner, que não têm restrição ainda

para a comercialização, estão vendendo como

nunca. As vítimas de Darfur agradecem, é cla-

ro. Para quem quer comprar, basta entrar no

site www.nadiaplesner.com . Em tempo: acei-

ta todos os cartões de crédito internacionais.

A camiseta é o must do momento.

A MISÉRIA DE DARFURE A LOUIS VUITTON

TEXTO [YUME IKEDA DE TÓQUIO]

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PELO MUNDO

T

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O designer francês Philippe Starck assina a criação de do que classificou de "gera-

dor eólico individual, acessível e democrático". O aparelho que pode ser instalado em

jardins e quintais é comercializado pelo grupo italiano Pramac, fabricante de eletro-

domésticos e interessado em energia renovável. Parecido com uma batedeira de cozin-

ha com um motor integrado, simples e de fácil montagem, o gerador chega ao setem-

bro e poderá responder, de acordo com seu tamanho, por 10% a 60% do consumo

de energia de uma residência. O produto deve chegar ao mercado por 300 ou 400 euros.

A grande maioria dos vinhos europeus e de outras parte do mun-

do contêm resíduos de pesticidas, muitos deles potencialmente

cancerígenos, tóxicos ou nefastos ao seu desenvolvimento ou a sua

reproduçao, de acordo com o estudo feito pela instituiçao Pestici-

des Action Network-Europe que tem apoio do grupo dos Verdes do

Parlamento Europeu. O estudo é baseado na análise de 40 vinhos

tintos produzidos em 2002 em cidades da França, Áustria, Alema nha,

Itália, Portugal e também fora da Europa como em cidades da Afri-

ca do Sul, Austrália e Chile. 34 vinhos eram frutos da fabricaçao clás-

sica, convencional e outros seis da produçao biológica. De acordo

com os resultados das análises, o conjunto de vinhos convencionais

estavam contaminados por resíduos de aproximadamente quatro pes-

ticidas diferentes, os mais contaminados continham 10 tipos de resí-

duos, mas nunca além do limite máximo autorizado. Sobre os seis

vinhos bioanalisados, um continha igualmente pesticidas.

COM DESIGNENERGIA

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TEXTO [RITA BASTOS DE LONDRES]

UMA TAÇA DE FELTEXTO [IVNA MALULY DE BRUXELAS]

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PELO MUNDO

A Noruega planeja neutralizar totalmente sua emissão de carbono até 2030,

ou seja, a partir daquele ano todas as emissões do país deverão ser compensa-

das em outros lugares. A meta foi estabelecida em 2008 entre os partidos polí-

ticos e o Governo da Noruega.

Ainda segundo as políticas ambientais acordadas, aproximadamente 2/3 das

reduções totais das emissões serão obtidas pela própria Noruega.

O país também pretender aumentar o esforço na busca por energias reno-

váveis, e desenvolvimento de novas tecnologias.

A Noruega se comprometeu ainda, de acordo com as disposições do Pro-

EXEMPLO NÓRDICOTEXTO [VALÉRIA MACIEL DE OSLO, NORUEGA]

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tocolo de Kyoto, finan-

ciar medidas de reduções

em países em desenvol-

vimento.

Internamente as auto-

ridades informaram que

vão aumentar as verbas

para os transportes públi-

cos a fim de reduzir as

emissões. Eles vão usar o

que chamam de “política

da recompensa e castigo”.

Ou seja, as cidades que

apostarem no transporte

público vão ter o dobro

de recompensas, com a

condição de fazer um

acordo para reduzir o trá-

fego de automóveis. As

autoridades também

anunciaram que deverão

aumentar os impostos dos

combustíveis. O objetivo,

diz o Governo, é estimu-

lar um comportamento

mais ambiental e reduzir

as emissões dos gases

estufa.

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Não é pecado ecologica-

mente ter em casa objetos

de madeira. Só que o

consumidor ético deve

estar atento para a certifi-

cação. Para facilitar, a

organização não-governa-

mental www.florestavivaa-

mazonas.org.br oferece

dicas de lançamentos

como as que você

encontra aqui.

Bazar

Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e decomércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs

éticomadeiracertificada

47 >

BazarEtico:tecnologia.qxd 18/5/2008 21:07 Page 1

Page 48: Plurale em revista edição 6

reportagem especial

4488 PPLLUURRAALLEE EEMM RREEVVIISSTTAA || MMaaiioo//JJuunnhhoo 22000088

CUSTA CARO?IGNORÂNCIA

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TEXTO [MARIA HELENA MALTA]

FOTOS [DIVULGAÇÃO]

Afrase rebelde queserve de título, reti-rada de um cartazda última manifes-tação de estudan-tes parisienses con-tra o corte de vagaspara professores

nos liceus da França, está sublinhada emvermelho, num recorte colocado sobre amesa de trabalho de Ana Lagôa, jornalista,educadora e especialista em gestão doconhecimento, em seu pequeno aparta-mento de Ipanema, no Rio, que funcionacomo refúgio e oficina de criação. “Osfranceses têm razão. Eu tenho repetidomuito isso”, diz ela.

Em meio ao emaranhado de livros,papéis, aparelhos de vídeo e áudio, e atémarionetes que bailam ao vento suave quevem da janela, Ana se dedica a inúmerosprojetos, inclusive à edição da revista daONG Planeta.com e ao novíssimo Núcleode Estudos em Comunicação e Educação(Nece), que acaba de fundar com um gru-po de jornalistas e educadores, e onde sepretende utilizar a linguagem e os forma-tos do jornalismo como mediadores naeducação (*).

“Não há como pensar em progressocultural, sustentabilidade ou consciênciaecológica, se não há educação, se algunseducadores não têm a percepção do usodo audiovisual e se não conseguem formarcidadãos com a devida visão crítica a res-peito do que lêem no jornal e na internet,ou assistem na TV”, desabafa ela, diante de

índices e posturas que decididamen-te não enchem de orgulho o Brasildeste século XXI.

Para a especialista, o jornalistatem a obrigação de “levantar cortinaspara desobstruir a visão do público”,algo que a própria Ana começou aperseguir desde que colaborou como primeiro jornal de sua vida - opequeno Opinião, rodado em estên-

cil - ainda no tempo do colégio, quando era uma das melhoresalunas de redação. Ela já queria ser jornalista e, se possível,correspondente de guerra - o que, de acordo com o sonho, seriaa garantia de uma vida de aventuras e emoções.

Mas a paulista Ana Lagoa, carioca por adoção há 35 anos, nãofoi à guerra. Ainda assim, enfrentou pesadas aventuras e emoçõespelo Brasil afora, desde o primeiro emprego no Rio de Janeiro, naÚltima Hora, quando passou uma semana ao lado de um moto-rista de ônibus, colecionando tocantes histórias de vítimas de atro-pelamento. Logo depois, saiu em busca de explicação para as mui-tas capelas abandonadas da cidade e hoje afirma que pouca coi-sa mudou. “Não há preservação de monumentos históricos. Asboas iniciativas nesse sentido estão vindo, em geral, do setor pri-vado. E não se valoriza isso”, lamenta a jornalista, que optou pelobacharelado em História aos 17 anos, com o objetivo de “conse-guir entender o mundo”.

Hoje, além dos 37 anos de jornalismo - em redações como asda Folha de São Paulo, Editora Abril, O Estado de S. Paulo, O Glo-bo, Jornal de Brasília, Isto É e Jornal do Brasil -, Ana leva na baga-gem o tal curso de História, um mestrado em Educação e umaespecialização em Gestão da Inteligência Empresarial. Mas isso nãoimpede que ela ainda se espante com o mundo e, principalmen-te, com o país: “Não é possível que o Brasil continue usando deforma tão incompetente a tecnologia mais avançada. Além disso,não podemos nos resignar a assistir a programas de TV de quin-ta categoria, sobretudo nos canais abertos, e nisso não vai nenhu-ma acusação a esta ou aquela emissora. A Globo, por exemplo,faz coisas muito boas, como as reportagens sobre Educação do Jor-nal Nacional e a minissérie Queridos amigos, que infelizmenteentrava no ar muito tarde...”

Nesta entrevista exclusiva para a Plurale, Ana Lagôa recordao alívio com que trocou a cobertura de política militar pelas edi-torias de educação e lembra, com carinho, sua passagem pela revis-ta Nova Escola, da Editora Abril - que era comprada pelo MEC edistribuída às escolas públicas de todo o país, até o contrato sersuspenso na gestão de Fernando Collor. Além disso, esmiúça o quelhe parece a única chance de mudar o país: priorizar a educação,com o uso adequado das modernas tecnologias. Ana só faz umaressalva: “Morro de medo de campanhas monopolizantes, comoesta recente, prevendo que o governo estabeleceria o que vai serexibido e em que proporções. A última coisa que eu quero é oEstado me dizendo o que eu devo assistir ou não na televisão. OEstado tem é que oferecer educação de qualidade, para que as pes-soas tenham senso crítico e possam se valer com eficácia do seu

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PARA ESPECIALISTA,

NÃO HAVERÁ PROGRESSOCOM SUSTENTABILIDADE SEM INVESTIMENTO EM ESCOLAS

E SEM O USO DAS MODERNAS TECNOLOGIAS

AUDIOVISUAIS.

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poder de escolha”.

Qual é a função principal do Núcleo de Estudos emComunicação e Educação (Nece)?

Temos um leque de desafios. Em consultorias para esco-las e empresas, por exemplo, a idéia geral é mostrar a empre-sários, funcionários, professores, pais e alunos, que é fun-damental ter uma visão crítica daquilo que é publicado namídia. Como interpretar, comprar, trabalhar em cima desseimenso emaranhado de informações que recebemos hoje?Que tipo de mídias desenvolver dentro da empresa, para aformação de seus funcionários, não apenas no sentido dacompetência e eficiência, mas também no quesito cidadania?No momento, o Nece está fazendo a coordenação pedagó-gica do curso de roteiros digitais para novas mídias daONG Planeta.com, que é parceira do Instituto Oi Futuro nacriação da nova escola de ensino médio integrado da Secre-taria Estadual de Educação do Rio de Janeiro. A dobradi nhacomunicação-educação também entra neste projeto pedagó-gico, exatamente como já ocorre - graças à mesma parceriainstituto/ONG - na Escola de Ensino Médio Cícero Dias, noRecife, em Pernambuco.

Você acha que o país perdeu muito temponessa área?

Sim, pelo menos duas décadas. Ainda em 1980, na Con-ferência Nacional de Educação, uma professora veio medizer: “Eu estou perdendo meus alunos porque não tenhocondições de concorrer com a Xuxa”. Se não fosse assim ese nós tivéssemos percebido que este seria o século visual,hoje teríamos um aliado. Mas a verdade é que, em plenoséculo XXI, há professores que ainda resistem à TV ou aocomputador, ou não têm condições financeiras de adquirirum. Enfim, resistem ao uso da tela - isto é, à imagem emmovimento -, que deveria ser a grande companheira de tra-balho no dia-a-dia. Eu diria que a escola, no Brasil, perdeualgo em torno de 20 anos por absoluta falta de visão dos diri-gentes em vários níveis e pela falta de lisura de alguns.

Parece que os investimentos foram localizados...Os estados do Rio, de São Paulo e do Rio Grande do Sul,

além de algumas prefeituras, até se esforçaram, a partir dosanos 80, na criação de núcleos de tecnologia. E recentemen-te o país recomeçou a fazer alguma coisa em termos deinclusão digital. Mas ainda é muito pouco e há graves quei-xas de falta de capacitação para o uso das máquinas. Bastadizer que em muitos cursos de formação docente, porexemplo, nem se menciona a mídia visual ou o uso dosmeios audiovisuais em sala de aula. E não é apenas um pro-blema brasileiro: em Portugal, a disciplina existia, mas foiabolida neste início de ano.

reportagem especial

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Enquanto isso, em outros países, peca-se por excesso.Sem dúvida. Devo frisar que não defendo o exagero do Japão, onde o infer-

no dos estudantes foi muito bem apresentado num programa do GNT e emvárias publicações. Quando o sistema é rígido a ponto de tentar adestrar osbebês; de levar crianças a desistirem da escola, a se esconderem no quarto eaté mesmo a tentar o suicídio, alguma coisa está muito errada. Não há idéiade progresso, desenvolvimento, competitividade ou excelência que justifiqueprocessos de tortura, massificação, estímulo à delação e à violência, ou humi -lhação pública. Devemos dizer sim à tecnologia, mas não à tortura.

No Brasil, apesar do atraso, todo mundo fala em computador, todomundo quer ser técnico de computador. Não é contraditório?

É. Este é o paradoxo: num mundo em que tudo passa pelos meios de comu-nicação, o técnico é quem fica com os louros. Mas é compreensível: todos que-rem ter o seu computador e, nesse contexto, o jovem de menor poder aqui-sitivo deseja ser um técnico, para obter trabalho na área. Ele sabe que preci-sa correr atrás da sobrevivência no mercado de trabalho.

Qual é a proposta específica do Nece para a escola?Nossa proposta é colocar os jovens em contato com a produção midiáti-

ca. A escola é importantíssima porque é onde se forma a cidadania. Você pode,por exemplo, trabalhar a relação imprensa/escola com um projeto de incen-tivo à leitura ou com a montagem de um banco de dados a partir de recortesde jornais e revistas. Crianças e jovens adoram fazer isso. E acabam aprenden-do a classificar a pesquisa e a separar o joio do trigo. Se você desce do Goo-gle uma informação, você pode cruzar os dados e checar cada elemento. Por-tanto, é preciso aprender a usar a tecnologia: o simples acesso não resulta emconhecimento. Eles precisam entender como pesquisar, selecionar e transfor-mar os dados em conhecimento. A proposta do Nece, portanto, é desenvol-ver trabalhos de consultoria e assessoria no campo da Educação/Comunicação.

Em resumo: os alunos precisam aprender a pensar.Exato. O jornalismo de hoje envolve problemas que ameaçam sua credi-

bilidade, pois está exposto a grupos de interesse, plantadores de informaçãoou simplesmente ao eventual descuido com a apuração da notícia, a redaçãoe a edição. Portanto, é preciso ensinar a crianças e jovens, de maneira simples,como separar o joio do trigo. Você pode começar perguntando: qual é a palav-ra-chave deste texto? E, daí em diante, você vai descobrir se a Wikipedia é con-fiável, como se deve lidar com o Google, como é possível selecionar livros etc.Nossa intenção pode ser resumida no seguinte: utilizamos as formas de pro-dução do jornalismo a serviço da educação. Se um aluno fosse ao Jardim Zoo-lógico e, na volta, fizesse pelo menos um relatório ou uma matéria, já seria umaexperiência bem mais enriquecedora do que ficar sentado na sala, assistindoa uma aula burocrática...

E como fazer isso, na prática?Este é o ponto fundamental: ensinar a pensar. As oficinas de mídia tanto

podem ser feitas com os alunos, como podem ser dirigidas aos professores,como ocorre com o curso Por Dentro dos Meios, do Planeta.com, que acabade lançar sua versão para o ensino médio. No caso do repórter, se é uma pes-soa de boa formação, ele sabe que deve ir justamente àqueles lugares aondeninguém vai, para abrir as cortinas que estão obstruindo a visão. Tenho tra-balhado com recém-formados e um dos grandes problemas tem sido a lingua-

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gem da comunicação. Não só a gra-mática e a ortografia, mas até a dificul-dade de contar uma história de formaque todos entendam. Além disso, elesincorporam à escrita termos rebusca-dos, barrocos, sem saber ao certo quetipo de conceitos estão manipulando.Nas oficinas aprendemos a escreveraprendendo a pensar, porque acredi-tamos que não pode haver bons jor-nalistas nem bons educadores, nembons profissionais de qualquer área,que não sejam bons pensadores ebons contadores de histórias. Tendo acomunicação como centro do proces-so, fazemos com que essas habilidadesmigrem para educadores e alunos.Assim, ao dominarem os processosde produção e aperfeiçoarem a leitu-ra e a escrita, eles vão construir umavisão crítica da realidade mais apura-da, mais cidadã.

Você costuma dizer que a tele-visão é um importante meio deeducação e formação. Mas há crí-ticos ferrenhos. Recentemente,por exemplo, andou circulandopela internet uma mensagemagressiva __ e até meio jurássica__ contra a TV em geral. Isso ain-da faz sentido?

Claro que não. O texto que circu-lou realmente demonizava a televisãode uma forma maniqueísta e focavasomente na Globo, como se fazia nosanos 70. Falava de consumo como seo problema se limitasse à telinha. E, noentanto, é preciso perceber que aquestão do consumo é a própria lógi-ca da sociedade atual e não se restrin-ge à TV: a televisão é só um dosmeios de venda. Estão todos imersosna lógica do consumo, do rico aopobre, e este consumo está depre-dando o planeta e as relações huma-nas. Mas, se todos pararem de consu-mir, qual o modelo que vai fazer aroda girar? Precisa ser inventado...Além do mais, se a pessoa se der aotrabalho de ver todos os canais aber-tos, vai concluir que a Globo tem amelhor programação. Os outros canais

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reportagem especial

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exibem coisas de que até Deus duvida e em todos os horários: no geral, é um circo de horrores, onde se faz aapologia do sexo irresponsável, das drogas e da marginalidade. Até mesmo quando a produção é moralista...

E de quem é a culpa?A verdade é que a péssima qualidade do conteúdo é fruto da má formação e da falta de ética dos profissionais

que lá estão. O conteúdo não é imposto pelos anunciantes. É uma opção das pessoas que estão lá fazendo os pro-gramas, que se baseiam numa lógica duvidosa das pesquisas de audiência. Todas as pesquisas que conheço, dafaixa mais rica à mais pobre da população brasileira, mostram que há um clamor por melhor qualidade.

Por que isso não muda?É bastante complexo. O Eugenio Bucci, no seu livro Sobre ética e imprensa, lembra que algumas empresas jor-

nalísticas vivem dizendo que jornal popularesco, sensacionalista, vende mais. Esses jornais custam centavos, entãoé claro que vendem mais. Apelam para a desgraça, que é um elemento que toca a psicologia humana. E o Buccise refere justamente a esse paradoxo: o jornalismo pressupõe um compromisso social e precisa, ao mesmo tem-po, sobreviver. O que não significa que alguns produtores da mídia devam fazer o que fazem. Nós temos um poderimenso: usá-lo para o bem ou para o mal está em nossas mãos. Eu não acredito que pessoas habituadas ao BBBnão possam se acostumar - e ficar até mais felizes - com Queridos amigos.

Tirando as pesquisas de audiência, há pesquisas sobre a qualidade do conteúdo?Sim, há pesquisas que mostram isso: todos, a despeito de origem social ou conta bancária, reclamam uma TV

menos apelativa, com informação mais útil e maior compromisso com a qualidade. Nos espetáculos com ingres-sos acessíveis do Theatro Municipal do Rio, a fila é enorme e depois eles fazem outra fila para cumprimentar osartistas. O desafio, então, é ter coragem para mudar. Precisamos enfrentar essa tensão dos produtores de TV, quese situa entre o fascínio e o medo da mudança. É a mesma tensão que se verifica em relação ao computador. Ainformação circulante na rede mundial dobra a cada período de 90 dias. Basta este dado para percebermos o quan-to será importante educar para o bom uso deste meio.

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Voltando à TV: o que se salva?Ah, muita coisa: o problema é saber escolher e usufruir. Muitos que têm

TV por assinatura não sabem fazer isso. Outro dia, por exemplo, vi o docu-mentário Retirada das Malvinas: estupendo. Mas foi no History Channel, quenão tem muita divulgação. Também acompanhei recentemente a série Por quedemocracia?, uma das melhores produções que já vi sobre política. E tenhoassistido às sessões do Cine Conhecimento Argentina, com filmes maravilho-sos. Mas ambos estão no canal Futura - que não chega totalmente às popu-lações mais pobres e para o qual uma certa intelectualidade torce o nariz.Enfim, eu poderia fazer uma lista imensa de coisas boas. E também é preci-so lembrar que as pessoas se informam é pela TV. Só uma minoria se infor-ma primeiro pelo jornal impresso ou pelas revistas semanais.

E a televisão pública? Você é a favor?As TVs públicas - que não têm a pressão da audiência e dos anunciantes

- em geral só exibem chatices, com gente falando sobre coisas que não inte-ressam a ninguém. Pagam produções audiovisuais com o nosso dinheiro, masexibem programas de rádio. Com as honrosas exceções de sempre, claro, comoé o caso da TV Cultura. Morro de medo de campanhas monopolizantes, comoessa mais recente, prevendo que o governo estabeleceria o que vai ser exi-bido e em que proporções. É uma faca de dois gumes: tanto pode incentivara produção nacional, quando nos tornar reféns dos modelos tipo “programade rádio na TV” (faz o sinal de aspas com as mãos). A última coisa que euquero na vida é o Estado me dizendo o que eu devo assistir ou não. O Esta-do tem é que oferecer educação de qualidade. Esta é a base para qualqueroutra coisa que se possa vislumbrar.

A passagem pela revista Nova Escola deve ter sido marcantepara as escolhas posteriores...

Com certeza. Fui uma das editoras daquele projeto, que chegava mensal-mente a uma tiragem de 350 mil exemplares, comprados pelo MEC e distri-buídos pelas escolas do ensino público fundamental, em todo o país. Foi láque eu descobri que a linguagem do jornalismo era uma excelente mediado-ra do universo da pedagogia para o universo da sala de aula. Este mérito aAbril sempre teve: traduzir as coisas técnicas, científicas, sem perder a serie-dade e o conteúdo, e ser bem compreendida. Pena que o contrato tenha sidocortado pelo Fernando Collor. Eu me lembro de uma vez, foi em outubro de91, em que eu fiz o que seria a matéria mais pungente da minha vida: gravi-dez de adolescentes. Conseguimos fazer um trabalho de profundidade: a revis-ta foi longe e acabou descobrindo o que estava encoberto, desmontando este-reótipos sobre o tema, ouvindo meninas e meninos das 22 cidades onde tí -nhamos correspondentes.

Como foi isso?A idéia era fazer uma matéria que servisse de instrumento ao professor que

lidava com as meninas que engravidavam. O mais alarmante é que, já naque-la época, a maioria das grávidas acabava abandonando a escola. E o precon-ceito era grande - tinha até o caso de pai e mãe de aluno que procuravam aprofessora para cobrar: “Eu soube que tem uma grávida na turma. É um mauexemplo para a minha filha. Vocês não vão fazer nada?” E, ainda por cima,as autoridades responsáveis diziam que as meninas deixavam a escola por-que não tinham informação e ficavam com vergonha das colegas. Era men-

tira: descobrimos que elas não eramtão idiotas assim. Por meio de um tra-balho lento, que envolveu inclusiveuma pesquisa detalhada, chegamos àconclusão de que elas não faziam maisdo que buscar o melhor lugar possíveldentro de sua realidade. Havia o sonhode liberdade, poder sair etc, havia ahistória de repetir o modelo da própriamãe e a visão de que a única possibili-dade de se tornar uma pessoa notávelera ficar grávida do sujeito mais bacanaou mais popular do pedaço __ o que,às vezes, envolvia um bandido, da mes-ma forma que hoje pode envolver umchefe local do tráfico de drogas. E issopor quê? Porque 65% das grávidas ado-lescentes no país vinham da faixa maiscarente da população... E o problemacontinua: hoje, uma em cada 10 mulhe-res que dão à luz no Brasil tem menosde 20 anos.

E a preservação dos monumentoshistóricos?

Foi no tempo da Última Hora. E foichocante, tal era a quantidade de cape-las abandonadas no Rio de Janeiro. Aimprensa teve papel imenso na recupe-ração, por exemplo, das estruturas deEllis Island, que havia sido a porta deentrada dos imigrantes nos Estados Uni-dos na passagem do século XIX para oXX. Foi fruto de uma campanha... Entrenós, é complicado: parece que já nosacomodamos ao fato de haver poucosrecursos públicos e pouca consciênciadas pessoas a respeito da necessidadede uma política conseqüente nessa área.Não há preservação de monumentoshistóricos. As boas iniciativas nesse sen-tido estão vindo, em geral, do setor pri-vado. E não se valoriza isso. Aliás, nãohá nem consciência do espaço públicoou respeito pelo ambiente que nos cer-ca, e isso independentemente de clas-se social. Basta olhar em volta e ver opobre jogando garrafas de plástico nasubida do morro, enquanto o rico, semnenhuma cerimônia, atira latinhas derefrigerante pela janela do carro ou doapartamento...

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Você nunca mais saiu da educação?Não, nunca mais me desliguei dessa área. Depois de percorrer as coberturas escabrosas __ incluin-

do assassinatos em série, execuções, chacinas, enchentes etc __ e de ter sido setorista de política mili-tar na época da ditadura, fiquei muito sensível a esse lado pesado do trabalho do repórter e, assim quetive autonomia, procurei sair. Era uma fonte de profunda infelicidade pessoal lidar com os excluídosdaquela forma. Eu não via, na época, nenhum sentido social. E aí tomei consciência da utilidade dojornalismo como ferramenta para educar e até para combater o caráter excludente do nosso sistemaeducacional, que envolve repetência, evasão, preconceito, abandono, desânimo e baixa auto-estima,sem falar em professores que odeiam seus alunos ou selam o destino de uma criança ao não se esforçarpara resgatá-la.

E como foi esta virada? Depois que abri mão da cobertura política, fui assessora de imprensa do Ibase, na época da fun-

dação; depois fui para São Paulo, onde tive a oportunidade de trabalhar na revista Nova Escola. Devolta ao Rio, estive na Fundação Roberto Marinho, onde trabalhei com avaliação de roteiros sob o pon-to de vista dos conceitos da educação, participando de reuniões de pauta e definição de projetos edi-toriais; editei o caderno de Educação e Trabalho do velho JB; passei pelo portal Klick Educação, diri-gido a professores e alunos, e também pela MultiRio, empresa de multimeios da rede municipal de edu-cação.

Aliás, os bons cadernos de educação desapareceramda maioria dos jornais...

Pois é. A imprensa teve inúmeros cadernos sobre o assunto no passado, principalmente entre osanos 60 e 80. Outro dia, o Alberto Dines lembrou o Perseu Abramo, um mestre do jornalismo brasi-leiro, que chefiou a editoria de Educação da Folha de S. Paulo nos anos mais combativos do regimemilitar, com denúncias e análises críticas à política educacional brasileira. Antes dele, a mesma Folhafez um suplemente histórico, um balanço dos problemas de educação no país, a cargo do WashingtonNovaes. E houve milhares de outros: no JB (lembro do Jornal Mural do Brasil e do Jornal do Profes-sor), no Correio da Manhã, no Diário de Notícias, mais recentemente em O Dia etc. Hoje, infelizmen-te, isso é muito raro. Há apenas algumas revistas a serem citadas: a Nós da Escola, feita pela MultiRio;Educação, da Editora Segmento; Escola e Família, da Secretaria de Educação da Prefeitura do Rio, e aPresença Pedagógica, da Editora Dimensão, de Minas.

Mas nenhuma delas é da chamada grande imprensa. Justamente. E, por isso, o alcance é limitado. No caso das produções ligadas a órgãos de governo,

há outro problema: correm o risco de extinção a cada vez que o governo muda de mãos. A situação,no geral, é muito triste. E, no entanto, a educação é o único caminho para o país sair do atraso. É comodizem os estudantes franceses: “A educação é cara? Tentem a ignorância”. Porque a educação é o cen-tro de tudo, é a fábrica da democracia, como dizia o Anísio Teixeira.

reportagem especial

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Cultura

RODA DETEXTO [LÍVIA ESTEVES, SÃO PAULO]

FOTO [DIVULGAÇÃO]

COMUNIDADE SAMBA DA VELA: HÁ OITO ANOS A VELA DETERMINA

O COMEÇO E O FIM DO CULTO AO SAMBA

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samba

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Todas as segundas-feiras, às 20h30, uma vela éacesa na Casa de Cultura de Santo Amaro, nazona sul de São Paulo. Mais de 200 pessoasacompanham semanalmente este ritual quetem o começo e o fim determinado pela cha-ma de uma vela acesa. Em julho a Comunida-de completará oito anos de fundação e a fes-ta promete ser grande.

Nas rodas, tudo acontece com muito respeito. Nenhum tipo dealimento ou bebida é permitido ali dentro e os fumantes tambémdevem ficar do lado de fora, uma vez que a comunidade recebepessoas de todas as idades, com o intuito de curtir uma roda desamba de primeira qualidade.

Ao contrário da chamada melodia moderna, muito utilizada nosanos 90 por grupos de pagode romântico, as músicas do Sambada Vela seguem a linhagem dos sambas de terreiro. Amor, políti-ca, educação, cidadania e, até mesmo desigualdade social e violên-cia, são alguns dos temas abordados nas canções. Com o uso dosurdo, do cavaquinho, do pandeiro e do tamborim na composiçãodo samba, as melodias são ouvidas e acompanhadas pelas batidasna palma da mão.

Ninguém menos do que a sambista Beth Carvalho para abraçaresta causa e ser a madrinha da Comunidade, que surgiu em julhode 2000, e tem entre os seus fundadores integrantes do grupo Quin-teto em Branco e Preto e moradores da periferia de Santo Amaro.Chapinha, Paqüera, Magnu e Maurílio são os responsáveis por fazero Samba da Vela acontecer e pela criação destas reuniões que háquase oito anos acontecem na Casa de Cultura de Santo Amaro,zona sul da capital.

Muita alegria, samba e integração são os ingredientes principaisdo Samba da Vela. Um outro ingrediente que funciona tão bem éa vela, que hoje adquiriu uma carga extra de significados. Toman-do como parâmetro as cores da Comunidade, o azul e o rosa, criou-se então um calendário no qual a vela, mais uma vez, dita os pas-sos.

Por um mês, com a chama da velarosa acesa, os compositores apresentamapenas sambas inéditos ao público.Passadas as quatros semanas, é a velaazul que rouba a cena. Os músicoscantam os sambas apresentados nomês anterior e, assim, a comunidadeaprende a cantá-los. Logo, os melhoressambas são editados e escolhidos paraintegrar o caderno de composições doSamba da Vela, que é distribuído aosfreqüentadores da casa, sob a chamaacesa de uma vela branca.

E nesses anos, mais de 100 compo-sitores tiveram a oportunidade de divul-gar seu trabalho na Casa de Cultura. Eentre as melodias criadas ali, Beth Car-valho, Jair Rodrigues, Reinaldo (o Prín-cipe do Pagode), Fabiana Cozza, Tobiasda Vai-Vai e o próprio Quinteto emPreto e Branco tornaram as cançõesdivulgadas pelas primeiras vezes naComunidade Samba da Vela ainda maisconhecidas em suas vozes. E o novoCD do Quinteto, denominado “Patrimô-nio da Humanidade”, lançado em abrilpela Trama, traz um Pout-Pourri com asmelhores canções do Sambas da Vela.

Para encerrar a roda do Samba daVela, uma deliciosa sopa é servida atodos que prestigiaram o ritual. E écom esse tempero e com o patrocínioda empresa Natura (projeto NaturaMusical), que o Samba da Vela atrai ver-dadeiros admiradores do samba brasi-leiro. A entrada é gratuita e quem qui-ser, pode contribuir voluntariamente.

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A Caixa entrou de vez na

busca por construções mais

sustentáveis. O banco, em par-

ceria com a Prefeitura de Jaú

(SP), entregou 10 moradias

construídas com tijolos ecoló-

gicos produzidos pelos pró-

prios beneficiários, que tra-

balham em regime de mutirão

assistido. As casas foram cons-

truída no Jardim Cila de Lúcio

Bauab, em terreno doado pela

prefeitura local. O tijolo ecoló-

gico utilizado no empreendi-

mento, além de não lançar

resíduos de queima no ar e

não provocar o desmatamen-

to, pode reduzirem até 50% o

custo total de uma obra. Para

a fabricação do tijolo, a olaria

ecológica utiliza uma mistura

de solo, cimento e água que

apósserem compactados sob

pressão, passam por um pro-

cesso de cura e secagem.

PELAS EMPRESAS

Acaba de ser lançado um carrinho de supermercado ecológi-

co. Ao invés da cesta fixa dos modelos tradicionais, o Transvoll (que

significa transportador de volumes) permite a acomodação de

bandejas de papelão recicláveis e biodegradáveis que o cliente rece-

be ao entrar na loja. Além de dispensar o uso das sacolas plásti-

cas, a compra fica muito mais prática, já que o consumidor pode

organizar os produtos nas bandejas, passar pelo caixa e guardá-las

diretamente no carro, sem a necessidade de carregar e descarre-

gar o carrinho.

TIJOLOECOLÓGICO

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CARRINHO SUSTENTÁVEL

A fusão da Bolsa de Valores de São Paulo com a Bolsa de Mer-

cadorias & Futuro resultou na criação da maior bolsa de valores

da América Latina, com movimento diário superior a US$ 65

bilhões. Responsabilidade social e ambiental darão mais brilho às

ações e papéis negociados.

A MEGABOLSA DE VALORES

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A Odebrecht divulgou seu balanço social. Em 2007, a empresa registrou 57

mil empregos diretos e 131 mil indiretos. O investimento social do grupo foi de

R$ 41,1 milhões, investidos em 47 projetos culturais, 176 projetos sociais e 30

ambientais. Só para lembrar: a Odebrecht é a maior construtora e petroquímica

da América Latina, além de maior exportadora de serviços do Brasil.

O Instituto Votorantim abriu

as inscrições para a 3ª seleção

pública do Programa de Demo-

cratização Cultural Votorantim,

que selecionará projetos que

objetivem a fruição, experimen-

tação e vivência de conteúdos

culturais pelo público, princi-

palmente pelos jovens entre 15

e 24 anos. Em 2008, a 3ª seleção

pública do Programa de Demo-

cratização Cultural selecionará

projetos cuja soma totalize R$ 4

milhões. O limite do investimen-

to será de R$ 600 mil por proje-

to. A inscrição de projetos deve

ser feita pelo site www.instituto-

votorantim.org.br/democratiza-

caocultural. O processo é gratui-

to e aberto a pessoas físicas e

jurídicas entre os dias 24 de abril

e 08 de agosto deste ano

CRESCIMENTO SOCIAL

A Vale e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) assinaram proto-

colo de intenções para desenvolver estudos inéditos nas áreas de mudanças cli-

máticas, mitigação e vulnerabilidades no Brasil. O foco principal será a região Nor-

te, onde a Vale está expandindo seus negócios. Dentro de um ano e meio, o

convênio deve resultar na ampliação do conhecimento sobre os impactos das ati-

vidades da empresa nas áreas em que atua. O investimento para o período é de

cerca de meio milhão reais. O gerente-geral de Projetos Institucionais e respon-

sável pelo tema de mudanças climáticas da Vale, Flávio Montenegro, explica que

o trabalho vai envolver uma análise de efeitos secundários das ações atuais no

meio ambiente.

VALE FAZ PARCERIA COM O INPE

VOTORANTIMAPÓIA CULTURA

O Grupo AES, controlador entre outras empresas da AES Eletropaulo, entra,

neste início de ano, em nova fase. Mostra, em campanha assinada pela DIM Pro-

paganda, os investimentos que tem feito, ao longo dos anos - mais pesadamen-

te de 1998 até agora - na criação de valor sustentável e de longo prazo para

suas empresas. O que implica respeito ao meio-ambiente, à sociedade, aos fun-

cionários e aos investidores.

GRUPO AESRESPONSABILIDADE

E ENERGIA

ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS.

ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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PLURALE 60 >

Cor

EnsaioO Rio de Janeiro que encantou a Corte há 200 anos é revisitado pelojornalista Fernando Gonçalves, que se descobriu fotógrafo. Seja nasimagens de paisagens naturais, seja na poesia de balanços ao vento etantos outros pontos genuinamente cariocas eternizados. O jovemFernando sempre apreciou a fotografia, mas foi apenas em 2005 queestreitou estes laços através de um curso. “Viagens, saídas,

RIO DE JANEIRO, FEVEREIRO, MARÇO,

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Cordilheira de Sal: região de colorido incomum e intenso apesar da aridez de suas mutantes crateras

aniversários, concursos, reuniões em famílias, tudo passou a ser motivopara empunhar a câmera e começar os disparos”, conta. De lá para cá,uma coleção de cliques. A primeira exposição foi no virada de 2007 para2008 na Casa do Porto, no Shopping da Gávea. Muitas outras certamentevirão. Confira o belo trabalho de Fernando Gonçalves neste ensaioem Plurale em revista.

ABRIL, MAIO, JUNHO ...

61 >

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PLURALEEnsaio 62 >

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63 >MA COLEÇÃO DE CLIQUESETERNIZANDO PAISAGENSCARIOCAS

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s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

CARBONO NEUTRO SÔNIA ARARIPE

Levantamento da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, por meio da Cetesb, apontou as cem maiores

indústrias emissoras de gases causadores do efeito estufa do Estado de São Paulo. A Companhia Siderúrgica

Paulista (Cosipa), do grupo Usiminas, foi a primeira colocada e responsável por 6,35 milhões de toneladas de

CO2 (dióxido de carbono de origem fóssil).

As primeiras oito colocadas no ranking respondem por 18,26 milhões de toneladas por ano, ou 63% do total.

As empresas citadas procuraram logo se explicar e anunciar ações. Bom saber, mas estamos atentos. A Cosipa

anunciou que vai substituir o óleo combustível por gás natural, que tem um fator de emissão 20% menor, rea-

proveitará gases gerados no processo produtivo e outras medidas.

Tio Sam, quem diria, tor-

nou-se ecológico. A disparada

dos preços da gasolina nos

Estados Unidos empurrou para

números recordes as vendas de

automóveis que utilizam com-

bustíveis alternativos. Em 2007,

os carros movidos com esses

tipos de combustível atingiram

1,8 milhão de unidades, 250 mil

a mais que em 2006, segundo

dados compilados pela consul-

toria R.L. Polk. Para este ano, as

empresas do setor prevêem

que serão vendidos mais de

dois milhões de veículos que

utilizam combustíveis

alternativos.

Por falar no mercado automobilístico, as empresas estão estudando um

“pneu verde”. Os testes começaram em 1992, com a inclusão de sílica na

banda de rodagem. Agora, segundo anunciou recentemente o vice-presiden-

te mundial de pesquisas da Michellin, Didier Miraton, está sendo preparada

para os próximos anos a quarta geração de pneus verdes, que permitem

economizar quase 0,2 litro de combustível a cada 100 quilômetros, reduzin-

do em 4 graus as emissões de CO².

NA LISTA NEGRA

NA TERRADO TIOSAM

PNEU VERDE

Um projeto brasileiro foi o primeiro do mundo a ser aprovado nas

Nações Unidas para receber créditos de carbono pela modalidade "MDL Pro-

gramático". O programa 3S do Instituto Sadia, localizado em Santa Catarina,

reúne mil fazendas de suinocultura que reduzem as emissões de metano

através do uso de biodigestores nas granjas para tratamento dos dejetos gera-

dos pelos suínos. Cada unidade promove a redução de 389 toneladas de dió-

xido de carbono equivalente (CO2e), o que levará os produtores a recebe-

rem um total de 3.894 créditos de carbono para cada ano de execução dos

projetos. O período total para recebimento de créditos é de 10 anos, com iní-

cio previsto para agosto deste ano.

BOM EXEMPLO

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Isto não significa, porém, que é hora de descansar e comemorar os melhores resultados da colheita de cana da história.

A mecanização avança, mas, infelizmente ainda há práticas terríveis na produção do álcool, como mão-de-obra escrava e

condições péssimas de trabalho, sem falar em transporte ainda inadequado. E o que fazer dos bóias-frias que não puderem

ser aproveitados no novo modelo mecanizado? Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) confirmou

ainda que a cana está sendo plantada em antigas pastagens, mas já começa a ocupar áreas cultivadas com soja, milho, café

e laranja na região centro-sul do país: ao menos 27% da expansão da área de cana no ano-safra 2007/08, segundo decla-

ração dos próprios produtores, ocorreu em regiões antes ocupadas por esses culturas.

DEVER-DE-CASA

GARAPANão é preciso ser doutor no assunto para entender que há muito mais do que sobra de cana, boa para

garapa, em torno da polêmica envolvendo os biocombustíveis. Todo cuidado é pouco antes de sair tomando

partido de um lado ou de outro. Como vários especialistas brasileiros já demonstraram é falso o debate que a

produção sustentável de álcool ou biodiesel possam estar aumentando a fome da África e de outros países.

Há que se levar em conta vários outros fatores, como os subsídios dos ricos produtores da Europa e EUA; a

disparada do petróleo empurrando para cima o diesel das máquinas agrícolas e toda cadeira produtiva; a ciu-

meira causada pela tecnologia desenvolvida no Brasil; etc

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PLURALE

PEDALAPARA INCENTIVAR O USO DE BICICLETAS, O MINISTRO DAS CIDADES, MÁRCIO FORTES, PEDALOU

NA ESPLANADA DOS MINISTÉRIOS, EM BRASÍLIA, JUNTO AO SECRETÁRIO DE TRANSPORTES DO

RIO, JÚLIO LOPES, LANÇANDO O PROJETO RIO – ESTADO DA BICICLETA

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ministro66

por Marcello Casal Jr./Abr

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