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ano oito | nº 45 | janeiro / fevereiro 2015 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE www.plurale.com.br ARTIGOS INéDITOS GORILAS A SALVO EM UGANDA BOAS SOLUçõES NA CRISE HíDRICA FOTO DE MAURíCIO CHICHITOSI (HISTóRIAS PELO MUNDO) – GORILA NO BWINDI IMPENETRABLE NATIONAL PARK, UGANDA

Plurale em Revista

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ano oito | nº 45 | janeiro / fevereiro 2015

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ano oito | nº 45 | janeiro / fevereiro 2015 | R$ 10,00 AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

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Artigos inéditos

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Conheça o projeto que trabalha para recuperar a águaem propriedades rurais no Sistema Cantareira.

Projeto “Semeando Água”, uma iniciativa do IPÊ com patrocínio Petrobras.

www.ipe.org.br/semeandoagua

Realização: Patrocínio:

NÓS SEMEAMOS ÁGUA!

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Carlos Magno – serra da TiririCa (rJ)

uMa edição plural: áGua, artiGos inéditos, Gorilas eM uGanda, norueGa e serra da tiririca

A correspondente de Plurale na Comunidade Euro-peia, Vivian Simonato, esteve na Noruega e descortina toda a diversidade de Oslo. Também do mesmo país, mais ao Norte, Monica Pinho, conta os cuidados e zelo das autoridades com a chegada do frio mais intenso.

Do Estado do Rio, o fotógrafo Carlos Magno exibe a exuberância da Serra da Tiririca, próxima de Maricá e a região oceânica de Niterói, como a foto da página. Não é só. Publicamos o relato emocionante da repórter Nícia Ribas relatando o relevante trabalho de 15 anos da Casa Ronald McDonald no Rio pelo câncer infanto-juvenil, também registrado em livro recém-lançado. Antenada também em ouvir o que vem da alma, esta edição tem o prazer de apresentar o depoimento da jor-nalista Lou Fernandes – Indira Prem e seu encontro com o guru Prem Baba, em retiro espiritual. Confira ainda as colunas tradicionais de Plurale, como Ecoturis-mo, por Isabella Araripe e Cinema verde, por Isabel Capaverde. Que 21015 reserve a todos nós grandes no-tícias e possamos continuar contando com a sua quali-ficada leitura. Namastê!

Procuramos nesta edição traduzir bem o nosso objetivo de apresentar em Plurale um leque amplo e plural de abordagens. Assim, traze-mos um Especial sobre Recursos Hídricos – especialmente agora, diante da crise do recurso

antes abundante em diversas regiões – com cases práti-cos que ajudam a pensar e aplicar soluções no médio a longo prazo.

Temos artigos inéditos de importantes formadores de opinião: Carla Martins, Jorge Félix, Luiz Antônio Gaulia e Maria Elena Pereira Johannpeter. Também “visitamos” diferentes destinos com a ajuda de colabora-dores sempre atentos às belas paisagens preservadas. O casal criador do Blog Histórias pelo Mundo – Giuliana Preziosi e Maurício Chichitosi – compartilha com os leitores de Plurale os bastidores da aventura na selva afri-cana, Bwindi Impenetrable National Park, ao sul de Uganda. Lá estão preservados alguns dos últimos gori-las-de-planície tão ameaçados. É de Maurício a belíssima foto que ilustra a cada desta primeira edição de 2015. Nosso muito obrigada aos generosos parceiros!

Editorial

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 20154 PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 20154

CINEMA VERDEPOR ISABEL CAPAVERDE

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PELAS EMPRESAS

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Meditação, por lou Fernandes - indira prem

40 o relevante trabalho do casal que fundou a casa ronald Mcdonald é relatado em livro

16.

54. 50.

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carla Marins, Jorge Felix, luiz antônio Gaulia e Maria elena Johannpeter

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casal brasileiro do blog histórias pelo mundo

conta a experiência da visita ao Parque de Uganda

que preserva os últimas gorilas do planeta,

Por Giuliana Preziosi e Maurício chichitosi

noruega sustentável, por

Vivian simonato e Monica pinho

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artiGos inéditos:

nícIA RIBAS

Por nícia ribas

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c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b rCartasQuem faz

“Luciana e Sônia, Parabéns pelo excelente material, e agradeço gentilmente pelas citações à Roraima Adventures, a mim e a toda a equipe envolvida. Ficamos bem contentes com o resultado.”Joaquim magno de souza, diretor da roraima Adventures, Boa vista, roraima, por e-mail

“Para a Marinha do Brasil (MB) foi um prazer receber a jornalista Marina Guedes, colaboradora da Plurale em revista, no Arquipélago de Abrolhos, mais precisamente na Ilha de Santa Bárbara, que é administrada pela MB e onde fica situado o Farol de Abrolhos, centenário sinal de auxílio à navegação no sul do estado da Bahia. A matéria produzida pela Plurale certamente contribui para iluminar as importantes questões relativas ao Arquipélago de Abrolhos, Parque Nacional Marinho que é um patrimônio de todos os brasileiros, assim como para registrar o abnegado trabalho dos nossos militares, que trabalham diuturnamente no cumprimento da importante missão de manter o Farol de Abrolhos sempre aceso.”Flávio Francisco Barbosa Almeida, capitão-de-corveta, Assessor de comunicação social do comando do 2º distrito naval, salvador (BA), por e-mail

“Foi com prazer que li a matéria sobre Abrolhos na Plurale. Foi uma das matérias mais completas que já vi e deu voz aos diferentes atores que trabalham na conservação deste patrimônio. Parabéns pela publicação.” milton marcondes - diretor de Pesquisa do instituto Baleia Jubarte, caravelas (BA), por e-mail

diretoresSônia Araripe [email protected] [email protected]

Plurale em site:www.plurale.com.brPlurale em site no twitter e no facebook:

http://twitter.com/pluraleemsite

https://www.facebook.com/plurale

Comercial

[email protected]

arteJurandir Santos e Julio Baptista

Fotografialuciana Tancredo e Eny Miranda (cia da Foto); Agência Brasil e divulgação

Colaboradores nacionaisAna cecília Vidaurre, Isabel capaverde, Isabella Araripe, lília Gianotti, nícia Ribas e paulo lima.

Colaboradores internacionaisAline Gatto Boueri (Buenos Aires),Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (dublin), wilberto lima Jr.(Boston)

Colaboraram nesta ediçãocarla Martins, Elis Monteiro (portal digitaletc.com.br), Fábio Reynol (Agência Fapesp), Fundação Grupo Boticário de proteção à natureza, Giuliana preziosi e Maurício chichitosi (Blog histórias pelo Mundo), IGAM, IpÊ, Jorge Félix, lou Fernandes – Indira prem, luiz Antônio Gaulia, Maria Elena Johannpeter, Mônica pinho, nélson Tucci, pedro Freiria, SoS Mata Atlântica, wwF Brasil.

“Christian, parabéns! Adoro sua forma simples e honesta de escrever. Comecei a ler seu texto e fui me identificando com tudo o que lia. Parabéns pela sensibilidade de poeta. Mais uma vez fiquei emocionada com um artigo ímpar e tão atual. Concordo plenamente com você. Cartola diria dessa maneira que você escreveu. Existe o verdadeiro canto dos passarinhos para apreciar. Mas vamos torcer para que as pessoas tomem consciência de que a tecnologia tem duas faces. Por isso, um texto como o seu teria que ser debatido nas escolas, nos colégios, divulgado pela imprensa, para fazer repensar a sociedade do “smartphone” e alertar às novas gerações. maria steiner – membro de associações educativas e sociais – genebra, suíça, por e-mail

“Excelente artigo, Christian! Eu mesmo preciso me policiar em relação a isso. Também estou ficando viciado em smartphones. É um problema que tende a aumentar cada vez mais, bem como a superexposição das pessoas na Internet.” renato travassos, economista, rio de Janeiro (rJ), pelo site

“Christian, parabéns pelo artigo. Também me causa espécie o momento pelo qual passamos no que diz respeito ao uso e abuso das alternativas de ponta que os gadgets oferecem. Há um quê de falta de noção nas e entre as pessoas. É urgente a tomada de posição pela recuperação de si mesmo, ante o processo em curso.”hélcio de medeiros Junior, economista, rio de Janeiro (rJ), pelo site

“Ótimo artigo, Nelson Tucci! Gosto de acreditar também que a grande maioria ainda possui ética e valores, apesar de tanta corrupção (não somente no meio político).”nayara carmo, estudante de Jornalismo, de são Paulo, pelo site

“Crise de valores, recessão moral. Estamos ou somos corruptos? Belo texto, Nélson Tucci.”luiz gaulia, Professor de comunicação, rio de Janeiro (rJ), pelo site

“Perfeita analogia entre o que poderia ocorrer num tabuleiro de xadrez e a atual situação política do Brasil! Parabéns Nélson Tucci por mais essa detalhada análise temperada com sabedoria e profundidade extremas!”Antônio catelani, são Paulo (sP), pelo site

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSc de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202cEp 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

Impressa com tinta à base de soja

Plurale é a uma publicaçãoda SA comunicação ltdacnpJ 04980792/0001-69Impressão: walprint

os artigos só poderão ser reprodu-zidos com autorização dos editores

© copyright plurale em Revista

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por nélson tucci, especial para plurale De São Paulo

Três em cada quatro mulheres jovens já foram agredidas ou assediadas por seus compa-nheiros, no Brasil. Mas no que depender do Instituto

Entre Rodas & Batom isto vai acabar. A pesquisa, divulgada no último mês de de-zembro pelo Instituto Data Popular, mos-tra uma face cruel da sociedade brasileira e a urgência da mudança.

Criado há pouco mais de um ano, o ER&B (www.entrerodas.org) tem como foco mulheres vulneráveis e os cadeirantes. “Mulheres cadeirantes, ou não, precisam ser acolhidas e conhecer seus direitos”, co-menta Eliane Ozores, diretora de Gestão. Cursos, palestras e oficinas são ministrados por todos o país, no sentido de conscienti-zar pessoas “homens e mulheres, pais, mães, deficientes ou não” e grupos sociais para colocar um fim à discriminação e às várias formas de agressão – física e moral.

“Ser mulher já traz em seu histórico a luta por igualdade de gêneros, questões sé-

rias sobre violência doméstica e familiar e o desrespeito aos direitos básicos como educa-ção, só para citar alguns. Somar a questão da deficiência amplia os desafios e todas preci-sam aprender a dizer não ao desrespeito”, argumenta Eliane, psicóloga especializada no atendimento da pessoa com deficiência e mestre em distúrbios do desenvolvimento.

Para atender o que considera premen-te, o ER&B criou o “Projeto Autoestima” buscando encaminhar as questões acima colocadas. Mas um outro assunto que também é premente, e foco do Instituto, é o cadeirante.

paralímpicosO último censo demográfico realizado

pelo IBGE, em 2010, identificou mais de 45 milhões de brasileiros com alguma de-ficiência. Desse contingente, 6,5 milhões são de crianças e adolescentes entre cinco e 14 anos de idade. “Nossa população me-rece oportunidade, seja ela deficiente ou não”, pontua Adelino Ozores, presidente do Instituto, ao defender a educação in-clusiva e o “Esporte Educação”.

Estamos às vésperas dos Jogos Para-límpicos 2016 e o Brasil começa a olhar para as performances dos atletas de alto rendimento como modelos para as pessoas com deficiência. “Então poderemos cons-truir o legado da acessibilidade que os Jo-gos proporcionarão às cidades sedes, pois terão a oportunidade de realizar uma grande transformação social”, defende, com fervor, Adelino.

A entidade acaba de lançar o Projeto “Jo-gos Paralímpicos 2016: Construindo um le-gado na Educação” que visa o desenvolvi-mento integral das crianças e adolescentes com e sem deficiência, que estudem em esco-las regulares. “Nossa proposta é baseada nos quatro pilares da Educação: aprender a co-nhecer; aprender a fazer; aprender a viver jun-tos; e aprender a ser”, relata o também bacha-rel em direito e jornalista.

No universo inclusivo, é importante que as crianças deficientes possam ter sua cadeira de rodas esportiva. “Iisto vai me-lhorar a autoestima da pessoa com defici-ência por proporcionar maior mobilidade e melhores condições para participar de atividades”, finaliza.

instituto entre rodas & BatoM teM Foco nas Mulheres VulneráVeis e cadeirantes

Social

dIVulGAção

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 20158 PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 20158

EstanteCarlos Franco – Editor de Plurale em revista

são miguel, por Keli Vasconcellos, Editora In House, 140 págs, R$ 25

O portal Jornalirismo, em parceria com a editora In House, lançou, em dezembro, o livro São Miguel (em) uns 20 contos contados, da jornalista Keli Vas-concelos. A obra inaugura a “Coleção Jornalirismo”, dedica-da a livros de comunicação (jor-

nalismo, publicidade, propaganda) e literatura (contos, crônicas, romances, poemas). Em São Miguel (em) uns 20 contos conta-dos, Keli Vasconcelos transforma em narrativa suas vivências pela cidade de São Paulo, nas ruas, no metrô, no trem, no ôni-bus, no lotação, sempre com o bairro de São Miguel Paulista, no extremo leste, como cenário, ponto de origem ou de chegada.

Keli conhece muito bem o que escreve: o dia a dia da gen-te que vive na periferia, isto é, a maioria da população, no deslocamento casa, escola, trabalho, lazer. Um percurso diário, difícil e exaustivo, que pode consumir horas. Natural da Zona Leste, região carente de infraestrutura adequada embora seja a mais populosa de São Paulo, a jornalista é, de verdade, um desses personagens.

Pedagogia do compromisso – responsabilidade na prática do educador, por William Sanches, Editora: Mundo Mirim, 160 págs, R$ 29,90

A Editora Mundo Mirim traz para o público brasileiro um livro escrito pelo profes-sor William Sanches: Peda-gogia do compromisso – Responsabilidade na prática

do educador, uma crítica desenfreada aos problemas existen-tes na educação do Brasil, mesmo porque o educador deve sempre considerar os problemas como ponto de partida em busca da solução. Ao longo das 160 páginas, o autor discute sobre a educação sem a preocupação com termos técnicos, mas procurando demonstrar a responsabilidade, o compro-misso e o amor de cada educador na transformação e na busca do mundo sonhado.

os enleios da tarrafa: etnografia de uma relação transnacional entre ongs, por Catarina Morawska Vianna, Editora EdUFSCar, 230 págs, R$ 47,00

Tarrafas são pequenas redes usadas por pescado-res. Em alusão a elas, o Pro-jeto Tarrafa reúne grupos sociais que atuam com me-

ninos de rua no Recife e em Olinda, como a CAFOD (Catholic Agency for Overseas Develoment – Agência Católica de Desen-volvimento Internacional), da Inglaterra e País de Gales, o Gal-pão de Meninos e Meninas, do Recife, o Grupo Sobe e Desce e o Grupo Comunidade Assumindo suas Crianças, de Olinda.

Para entender como funciona a relação desses dois mun-dos conectados por um aparato burocrático especializado em financiar projetos sociais, a antropóloga Catarina Morawska Vianna visitou  in loco todos eles. O resultado de sua análise pode ser conferido em Os enleios da tarrafa: etnografia de uma relação transnacional entre ONGs, lançamento da EdUFSCar, versão inspirada em sua tese de doutoramento, que obteve menção honrosa no Concurso Capes de Teses de 2011.

o prazer da serrinha: histórias do império serrano, por Bernardo Araújo, R$ 38,50

Em O Prazer da Serrinha: Histórias do Império Serrano, Ber-nardo Araújo conta a história da agremiação mais cultuada desde sua origem. Surgida nos anos 1940, pelas mãos

de estivadores do Porto do Rio de Janeiro, o Reizinho de Madureira, como a escola é carinhosamente chamada, logo se impôs ao ganhar quatro campeonatos consecutivos, tor-nando-se uma das maiores ao lado de Mangueira, Salgueiro e Portela. Sua trajetória, pontuada por altos e baixos, se confunde com a de grandes artistas homenageados no livro, como Silas de Oliveira, D. Ivone Lara, Zaquia Jorge, Aloisio Machado, entre outros. 

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201510 PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201510

Frases

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201510

Em 2015 complEtariam 100 anos vários nomEs rElEvantEs do cEnário cultural brasilEiro. dEstacamos alguns dEstEs artistas E EscritorEs.

como o tradutor E crítico litErário antonio Houaiss, o Escritor José J. vEiga, o Jornalista E crítico adonias FilHo E o gEnial palHaço

carEquinHa. como ElE sEmprE dizia Em sEus sHows, como o quE vi no rio dE JanEiro na década dE 70. ”tá cErto ou não tá?”. Está sim sEnHor. palhaço

careQuinha

“Fui o primeiro na tV. inventei uma nova escola de palhaços. até então as pessoas riam da desgraça do palhaço que apanhava muito. não gostava disso e virei herói. os outros é que se davam mal.” 

“e o palhaço o que é? é ladrão de mulher”

José J. VeiGa

“para que a vírgula? preocupo-me muito com o ritmo. em certos trechos, há mesmo certa musicalidade. tenho muito que ver com música, som, som das palavras. o som delas chacoalhando lá na frase.”

adonias Filho

“é preciso ser velho”

“Quem lê euclides da cunha, desde o primeiro momento vê que há dois Brasis: um inclemente, e outro vítima das inclemências.” 

“sexo é tão importante na vida quanto comer”

antonio houaiss

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Entrevista

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201512

“a previsão, para esse ano, da agência nacional de águas – ana é de que 55% das cidades brasileiras tenham algum tipo de problema com suprimento de água”

por João Vitor santos, do portal ihu Fotos: Greenpeace e Agência Brasil

A crise hídrica que afeta o Brasil, especialmente o estado de São Paulo, traz problemas de toda a ordem. No entanto, mais do que resolver os problemas ge-

rados a partir da crise é preciso encarar o debate que está posto. É o que propõe o coordenador da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace,  Pedro Telles,  em entrevista concedida à IHU On-Line. “É preciso transformar essa crise na possibili-dade de mudança na forma como geríamos a água. (...) Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce. É fato, mas a água é muito mal gerida”, diz.

A  mudança de cultura  proposta por Telles começa, obviamente, com o po-der público. “O principal responsável, sem dúvida, é o governo do Estado de São Pau-lo. Não tomou as medidas adequadas”, des-taca Telles. No entanto, o ativista alerta que também há responsabilidades do governo federal, ainda mais porque o problema não ocorre só em São Paulo. “O governo federal tem se mantido muito calado com relação à crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros outros escândalos estou-rando, caso da Petrobras e a própria crise energética, mas ele não pode se omitir numa crise hídrica que é gravíssima”.

E o colapso também exige mudança de hábitos da  sociedade civil. E, pasme, ainda há quem não acordou para crise. “No dia a dia mesmo, na maioria dos ca-sos, você não vê ainda na rua essa questão

tão forte. Porque, na grande parte do dia, as pessoas ainda têm acesso à água. A par-tir do meio da tarde é que o acesso é restri-to”, alerta. O pior é que as pessoas que mudam seus hábitos tendem a relaxar quando a situação melhora. “Veja o histó-rico de Itu. Recebi relatos de que, quando começou a chover lá, a mobilização dimi-nuiu”. O desafio é transformar a mudança de hábito em mudança de cultura. Meta que cabe tanto ao poder público – que ainda é responsável pela revisão na gestão de todo o sistema em si -, como também às pessoas e a  imprensa, com seu caráter informativo e educativo.

Pedro Telles é coordenador da Campa-nha de Clima e Energia do Greenpeace e mestre em Estudos do Desenvolvimento, pelo Institute of Development Studies.

IHU On-Line - Você mora em São Pau-lo? Como é viver nessa grande cidade em meio à crise hídrica?

Pedro Telles – Sim, moro. Eu já estou adotando uma série de medidas para redu-zir de água, tanto em casa quanto no tra-balho, há algum tempo. Hoje, muitas pes-soas estão sem água cerca de 10 ou 12 horas por dia, normalmente no período noturno. Quem tem caixa d’água ainda consegue ter água basicamente o dia intei-ro. Mas, sabemos que o suprimento de água vai acabar em muito pouco tempo. Se não adotarmos um  consumo mais consciente, obviamente vai acabar mais rápido ainda. Muita gente está se adaptan-do a essa realidade e reduzindo o consumo doméstico e no trabalho.

“No Brasil, temos mais de 30% de desperdício

na distribuição”

pedro telles, coordenador da caMpanha de cliMa e enerGia do Greenpeace

GREEnpEAcE/dIVulGAção

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O que estou fazendo em minha casa são medidas tradicionais: tomar sempre banho com um balde de água embaixo, ou captar água da máquina de lavar, para de-pois reutilizar aquela água para outros usos que não precise de água potável. Usar, por exemplo, para descargas na privada. Tam-bém é sempre bom se questionar quando vai usar a água: eu realmente preciso usar água para isso? Eu não posso, por exemplo, usar um álcool gel para limpar minha mão ao invés de colocar debaixo da torneira? No meu prédio, não há consenso entre os moradores para construir uma  cisterna, em função do gasto. No entanto, aqui no Greenpeace, onde trabalho, temos or-çamento para construir uma cisterna. Já estamos implementando a “cota do xixi”. Ou seja, só aciona a descarga depois de três usos do vaso sanitário. Isso tanto aqui no trabalho, como na minha casa. São medi-das de adaptação do seu dia-a-dia que per-mitem a viver com menos água.

IHU On-Line - Se formos circular pela cidade de São Paulo, é possível perceber, pela postura e atitude das pessoas, que está se vivendo uma crise hídrica?

Pedro Telles -  Você não percebe. E isso é um problema muito sério. Em mui-tos restaurantes até se pode perceber. Mui-tos não têm uma caixa d’água que com-porte o volume de consumo deles e, como não tem como lavar a louça, acabam usan-do pratos e copos descartáveis. Ou, ain-da, vai ao banheiro e percebe que a descar-ga está desativada. Eles acionam a descarga

com um balde num determinado tempo. Mas, isso se percebe em alguns estabeleci-mentos comerciais. No dia-a-dia mesmo, na maioria dos casos, você não vê ainda na rua essa questão tão forte. Porque, na grande parte do dia, as pessoas ainda tem acesso à água. A partir do meio da tarde é que o acesso é restrito.

IHU On-Line - Por que o estado de São Paulo e o Brasil vivem uma crise hídrica?

Pedro Telles -  É importante ressaltar essa questão do Brasil. A previsão, para esse ano, da Agência Nacional de Águas – ANA é de que 55% das cidades brasileiras tenham algum tipo de problema com su-primento de água. Esse é um número muito forte. Não necessariamente vão fi-car no nível de um racionamento, mas te-rão algum tipo de dificuldade, de atenção a uma limitação dos recursos hídricos. São Paulo está nesse estágio – final de março

devemos estar chegando a um esgotamen-to ou um racionamento muito forte -, mas o  Rio de Janeiro  já chegou no  volume morto.

Já há uma cidade de Minas Gerais que está pedindo que o governo declare cala-midade pública, porque os agricultores não estão conseguindo produzir o sufi-ciente por falta de água. Precisam do de-creto para renegociar suas dívidas.

O  Maranhão, outra região do país, onde historicamente já há mais problema, está há três anos com regime de chuvas al-terado e não voltando ao normal. Isso está também gerando impactos em produção lá. Ou seja, é uma crise que está no Brasil inteiro. Quais são as causas disso? Temos uma série de deficiências históricas na ges-tão de recursos hídricos no Brasil.

Temos a ideia de que o Brasil é o país com maior acesso a água doce. É fato, mas a água é muito mal gerida. São muitas re-giões diferentes no Brasil e não se pode apontar uma causa única. Olhando para o caso de  São Paulo, vemos que há uma combinação de fatores e os principais são: destruição de áreas de mananciais – que são as florestas de onde vem a água - e construções em áreas de represa que vão avançando cada vez mais e acabando com a capacidade da represa de reter água. Ao mesmo tempo, podemos destacar desper-dício na distribuição. No Brasil como um todo, temos mais de 30% de desperdício, perda de água, na distribuição, nos enca-namentos. E em  São Paulo  isso está na casa de 35%. Muitos países tem esse índi-ce na casa dos 10%, 15%  e até menos. Então, uma reforma no sistema de distri-buição é urgente. Temos ainda a poluição.

Observamos, agora, muitas pessoas ca-vando poços artesianos. Se forem usados de forma sustentável, podem ser uma alter-nativa. Mas se tem inúmeros poços conta-minados pela poluição. Temos o Rio Tie-tê, aqui em São Paulo. Uma relatora da  Organização das Nações Unidas - ONU para a questão da água veio a São Paulo, olhou para esse rio e falou: “a pri-meira coisa que me chocou foi ver este rio enorme, com a quantidade de água absur-da, totalmente poluído, enquanto a cidade não tem água para tomar”. Então, há des-caso com muitas fontes de água que pode-riam ser úteis para a população e que estão extremamente poluídas.

“Muita gente está se adaptando a essa realidade e reduzindo o consumo doméstico e no trabalho.

AGÊncIA BRASIl

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Entrevista

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201514

IHU On-Line - Você aponta uma série de questões e fatores que levaram à crise hí-drica em São Paulo. Podemos fazer uma analogia e afirmar que esses fatores con-tribuem para a crise em todo o Brasil?

Pedro Telles - Sim. A questão de ma-nanciais, por exemplo, é uma questão na-cional. Outra questão nacional é o desma-tamento da Amazônia. Uma coisa interessante para se observar nessa crise da água em nível nacional: ela está escanca-rando a relação entre questões ambientais e sociais. É um exemplo muito concreto de que quando você vai muito além dos limites da natureza, há consequências gra-ves para as pessoas e para a sociedade.

Olhando para a questão da Amazônia, conseguimos conectar muitos pontos cla-ramente. Desmatamos a Amazônia. En-quanto isso, há estudos mostrando que grande parte da chuva que cai no sul, su-deste e no centro-oeste do Brasil vem dire-tamente da Amazônia. Tem um estudo do pesquisador  Antônio Nobre  que fala dos  rios voadores. A água evapora lá na Amazônia e chovem em outros locais do país, inclusive em outros países da Améri-ca Latina. Existe uma relação entre desma-tar a Amazônia e o  ciclo de chuvas  aqui em São Paulo, por exemplo.

IHU On-Line - A crise é atribuída à fal-ta de investimentos do poder público na gestão de recursos hídricos. Porém, sa-be-se que a cultura do desperdício tam-bém é comum na população em geral. Até onde vai a responsabilidade de agente público e onde começa a da po-pulação nessa crise hídrica?

Pedro Telles - Não há dúvida de que, nessa crise, o principal responsável não é uma seca histórica. De fato estamos com menos chuva, mas a seca não é a principal responsável. O principal responsável, sem dúvida, é o governo do Estado de São Pau-lo. Não tomou as medidas adequadas. Existem relatórios há dez anos indicando que, no médio prazo, o sistema de água do estado poderia vir a colapsar. E esse médio prazo chegou, é agora e nada foi feito.

Em janeiro de 2014, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Pau-lo - Sabesp já avisou ao governo do estado que a situação estava grave. Ainda sugeriu um rodízio de dois dias de água e um dia sem. Se tivesse sido cumprido, hoje, tal-

vez, ainda estaríamos acima do  volume morto. Mas o governo falou que não vi-nha ao caso implementar esse raciona-mento. Não implementou e a crise che-gou. Então, o poder público tem a maior responsabilidade.

Se você olhar a média de consumo de água do brasileiro, verá que está notada-mente acima do que a Organização Mun-dial da Saúde - OMS  recomenda como sendo necessário para uma vida digna. São, em média, 165 litros de água por dia consu-midos no Brasil, segundo levantamento de 2013 do Sistema Nacional de Saneamento Ambiental - SNIS (no sudeste são cerca de 190 litros).

A OMS indica que um volume entre 50 e 100 litros é suficiente. É possível que as pessoas passem a consumir menos e es-tressar menos o sistema. Mas, ao mesmo tempo, se olharmos o papel que o governo e que a grande mídia desempenharam ao

longo dessa crise, veremos que só se come-çou a falar muito sério do nível de gravida-de da crise depois das eleições. Tanto por parte do governo como por parte da gran-de mídia. Há até estudos que demonstram isso. Se tivéssemos um esforço maior por parte do governo e da grande mídia, pelo menos desde o começo de 2014, podería-mos estar numa situação bem melhor.

Houve uma redução de 20% no con-sumo, conquistada depois das campanhas de conscientização. Se tivesse medidas de orientações implementadas mais dura-mente e há mais tempo, as pessoas se adaptariam muito melhor. De fato as pes-soas podem reduzir o consumo. Mas é im-portante um apoio por parte do governo e por parte da mídia.

IHU On-Line - Qual a responsabilidade do governo federal nessa crise hídrica?

Pedro Telles - A outorga dos rios, de quem pode usar determinados rios, para captação de água é do governo federal. Além disso, tem a ANA, que é quem regu-la o uso de água em nível nacional. Existe a capacidade de o governo federal agir de forma muito mais consistente e tomar me-didas concretas para, junto com o governo do estado, mudar a forma de captação e distribuição de água. O principal respon-sável, ainda assim, é o governo do estado. Mas o governo federal tem mecanismos, inclusive  regulamentações federais, que

“não há dúvida de que, nessa crise, o principal responsável não é uma seca histórica”

dIVulGAção

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permitiriam forçar o governo do estado a ter uma gestão mais adequada.

E se formos observar, até agora, o go-verno federal tem se mantido muito cala-do com relação à crise. Claro que estamos num contexto que há inúmeros outros es-cândalos estourando, caso da Petrobras e a própria crise energética, mas ele não pode se omitir numa crise hídrica que é gravíssi-ma. Inclusive, a crise hídrica está profun-damente relacionada com a crise energéti-ca. É importante ter isso em mente: a crise energética acontece porque dependemos muito de hidroelétricas que agora estão se-cas, com nível baixo. E o governo não fez investimento em  fontes alternativas de energia. Se tivesse feitos esses investimen-tos, estaríamos muito melhor cobertos para lidar com uma crise hídrica que limi-ta as hidroelétricas.

IHU On-Line - Quando se fala em in-vestimentos na questão hídrica, remon-ta-se justamente esses projetos centra-dos no desvio de cursos de água (transposições), ou na construção de novas barragens, na superexploração dos reservatórios já existentes e das águas subterrâneas. Então, isso não é a solução?

Pedro Telles - Não. Isso pode aliviar a questão no curto prazo. E nem tanto as-sim, pois essas obras, na maior parte das vezes, demoram pelo menos um ou dois anos para começar a dar resultado. E esta-mos com uma crise agora. Então, nem a urgência que temos a maioria das obras atende. E isso é uma terceirização do pro-blema. Você está explorando outra área, ao invés de investir na recuperação de ma-nanciais, na redução das perdas de distri-buição, na despoluição de rios e fontes de água, para investir e manter o sistema como está. Só está trazendo água de outro lugar que pode vir a acabar novamente.

IHU On-Line - Que hábitos as pessoas devem incorporar na rotina para redu-zir o consumo?

Pedro Telles - As medidas incluem ter um estoque de água potável em casa. Esta-mos numa situação em que podemos che-gar, à noite ou de manhã, e o abastecimen-to estar interrompido e não termos água para beber. Muita gente já está tomando banho, lavando louça com um balde de-

baixo para reutilizar essa água em outros usos em que não se precise de água potável. Por exemplo, dar a descarga no vaso sanitá-rio. A terceira medida é, por exemplo, no banho, fechar a torneira. Abre, se molha, fecha e se ensaboa. Depois, abre de novo e enxagua. São banhos mais rápidos. É preci-so se preocupar em usos domésticos em que se fica muito tempo com a torneira aberta.

E essa questão de dar menos descarga no vaso sanitário é importante. Você uri-na duas, três vezes e só depois vai lá e aciona a descarga. Uma das princi-pais  fontes de uso de água potável em casa é no banheiro. É uma média de 16 litros de água que vai embora com cada descarga. É um volume muito grande de água potável. É importante lembrar: a água que sai da descarga é a mesma da torneira. Uma água que poderia servir para outros usos mais nobres.

Muitas pessoas estão começando a construir cisternas. É uma medida que ajuda no longo prazo. É algo que você vai ter para sempre aí na sua casa, no seu pré-dio. E tem muitos escritórios que estão aplicando medidas semelhantes a essas.

IHU On-Line - É possível pensar em práticas que tornem mais eficiente o uso da água pela indústria e pela agricultu-ra, de modo a otimizar seu uso e sem inviabilizar o consumo?

Pedro Telles -  Inclusive precisamos ter leis, ações regulatórias mais firmes nes-se sentido. A indústria é um grande consu-midor de água e agricultura também. Em nível nacional são os maiores. E a regula-

mentação é fraca  mesmo em termos de exigir o reuso, exigir um uso de água não potável para ações que não precisam de água potável. É exigir, por exemplo, que toda grande indústria tenha um piscinão para captação de água de chuva e uma es-trutura de reuso de água.

IHU On-Line - O que o governo do es-tado de São Paulo, governo federal e a sociedade civil podem fazer para que episódios como esse de 2014/2015 não se repita?

Pedro Telles – Temos uma oportuni-dade ímpar com essa crise, com todos os problemas que ela traz, de observar o nível a que chegamos com a nossa atividade de gestão de recursos hídricos. É um nível ex-tremo. Temos que transformar isso em momento de  virada  em termos de como lidamos com a água aqui no Brasil. Tem que haver uma mudança muito estrutural em termos das leis e políticas públicas para a questão de área de manancial, questão de desmatamento – que sofremos um re-vés forte com a questão do Código Flores-tal. Inclusive já tem um filme chamado “A Lei da Água. O Novo Código Florestal” (2014)  que fala exatamente das implica-ções do novo Código sobre a questão da água. Enfim, é preciso mudanças estrutu-rais em como olhamos para essas questões.

Precisamos, ainda, olhar para o que existe na distribuição de recursos hídricos, para políticas de despoluição de fontes que serviriam como recursos hídricos e re-dução de grandes consumidores (indústria e agricultura). Há grande volume de des-perdício por causa desses grandes consu-midores.

Assim, é preciso transformar essa crise na  possibilidade de mudança  na forma como geríamos a água. E, individualmen-te, há a chance das pessoas adotarem me-didas que gerem benefícios de longo pra-zo. Isso pode ser construindo cisternas, ou até construir prédios que tenham sistema de reusos de água usada em máquinas de lavar para descargas de vasos sanitários, por exemplo. Também é preciso ter apoio por parte do governo, das organizações da sociedade civil  e da mídia para que essas medidas adotadas durante a crise se tor-nem de fato uma mudança cultural. Transformar essa crise numa oportunida-de de mudança. É isso em essência.

“a indústria é um grande consumidor de água e agricultura também. em nível nacional são os maiores.”

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ColunistaMaria Elena pereira Johannpeter

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201516

e osO

voluntariado

– objetivos do desenvolvimento sustentável

Em 2015 acaba o prazo definido para as metas dos Objetivos do Milênio – ODM, e, em conti-nuidade, deverão entrar em vi-gor os Objetivos de Desenvol-

vimento Sustentável – ODS. Deve ser ressaltado que os Objetivos do Desenvol-vimento Sustentável – ODS, que estão se apresentando como 17 e 169 metas, ainda estão em discussão, por essa razão, as opi-niões de todos os segmentos da comuni-dade global, incluindo as crianças e ado-lescentes são importantes e deverão ser ouvidas e incluídas. Relembrando que o desenvolvimento sustentável é aquele que permite melhorar as condições de vida no presente, sem que sejam comprometidos os recursos das futuras gerações.

A proposta dos 189 países que com-põem a Organização das Nações Unidas – ONU é atingir os seguintes Objetivos do Desenvolvimento Sustentável de 2015 a 2030: 1 – Acabar com a pobreza, 2 – Acabar com a fome, 3 – Vida saudável, 4 – Educação de qualidade, 5 – Igualdade de gênero, 6 – Água e saneamento básico para todos, 7 – Energia moderna e dura-doura, 8 – Trabalho digno, 9 – Tecnologia em benefício de todos, 10 – Reduzir a de-sigualdade, 11 – Cidades adequadas para viver, 12 – Consumo responsável, 13 – Frear as mudanças climáticas, 14 – Prote-ger o mar, 15 – Cuidar da terra, 16 – Viver em paz, 17 – Conseguir novas parcerias.

Sam Kahamba Kutesa, presidente da Assembleia Geral da ONU, na abertura da 69ª sessão, disse que «esta é uma oportunidade histórica de formular uma agenda de desenvolvimento pós-2015 que seja transformativa, que traga resul-tados tangíveis na luta contra a pobreza e que conduza à melhoria de vida de to-

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dos as pessoas sem excessão», trabalho em progresso nos últimos anos que cul-minará na Assembleia Geral de setem-bro de 2015.

A Conferência Mundial de Juventude de 2014, que aconteceu recentemente no Sri Lanka, foi bem articulada, tendo de lá saído a Carta Colombo, a qual também é conhecida como Plano de Ação Colombo,  resultando no compromisso e consenso entre ONU, governos e jovens, com reco-mendações da juventude na agenda pós-2015, contendo suas demandas, anseios e desejos para que tenha a participação dos jovens em todos os níveis e agendas glo-bais que dialoguem com as prioridades dos jovens de todo o mundo.

O propósito de termos feito a exposi-ção acima, é para mostrar que todos que-rem ser partícipes tanto nas decisões, no advocacy, quanto na implementação, no protagonismo. É assim a participação do voluntariado, tanto em nível nacional quanto internacional. O reconhecimento da ONU é importantíssimo pois, segun-do Helen Clark, administradora do Pro-grama de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP – United Nations Deve-lopment Program), há elos muito fortes entre o voluntariado, o desenvolvimento

humano e a paz. O voluntariado deixou de ser considerado como um fator secun-dário e passou a ser reconhecido como o caminho principal, para a solução de mui-tas mazelas das comunidades.

Até algumas décadas atrás o volunta-riado era visto como uma ação apenas de pessoas com boas condições financeiras e ou pessoas boazinhas. Atualmente, tanto no Brasil, com 25% de sua população se dedicando ao voluntariado, quanto no mundo, o voluntariado é entendido como exercício de cidadania. São cidadãos preo-cupados com as necessidades de suas co-munidades e que compreendem que é

preciso haver a união entre governo, em-presas e sociedade civil para o apoio à bus-ca das soluções dos problemas sociais.

O conceito de voluntariado, em qualquer parte do mundo, diz que é uma ação realizada sem expectativas de recompensa financeira. Que ela, sem dúvida alguma, produz benefícios tangíveis e intangíveis não apenas para os beneficiários, mas também para os voluntários.    E, principalmente deve ser realizado por vontade própria. No Brasil, o  voluntariado já fez a transição, da cultu-ra do «o que eu ganho com isso»? para a cultura «em que eu posso ajudar»?

O voluntariado no Brasil está provan-do que não importa classes sociais, não importa ideologias. Que ele é sincero e livre, quando nós nos unimos e nos dedi-camos ao outro. Quando colocamos como propósito máximo, a essência hu-mana.  Pois o nosso desenvolvimento só acontece através do desenvolvimento do outro. O conceito de RSI – Responsabili-dade Social Individual, nos mostra que é muito importante criarmos um capital social em nosso país porque   «trabalhar os valores internos, faz despertar na pes-soa o seu verdadeiro valor, o que a torna mais ativa e socialmente transformadora do mundo ao seu redor». Valores, sabemos,passam  pela ética, pela moral, pela idoneidade, pelo respeito em todos os sentidos e pelos nossos direitos e deve-res de cidadania.

Vejam o depoimento forte de uma aluna de 14 anos: «Eu vi que a ONG Par-ceiros Voluntários reúne adolescentes na ação as tribos nas trilhas de cidadania, para aprender a cuidar do mundo, para termos no futuro um mundo melhor. Que temos que ter respeito com às pessoas e com as coisas e também temos que correr atrás dos nossos direitos e sonhos, todavia, praticando os nossos deveres».

O agir ou não agir de cada um, se-gundo o sociólogo Bernardo Toro, é que consolida ou transforma a ordem social em que vivemos. Nos países onde os cida-dãos estiverem engajados e trabalhando para vencer seus próprios desafios, o de-senvolvimento e a paz serão mais dura-douros.

Maria Elena Pereira Johannpeter Presidente (Voluntária) da ONG Parceiros Voluntários

“ nos países onde os cidadãos estiverem engajados e trabalhando para vencer seus próprios desafios, o desenvolvimento e a paz serão mais duradouros”

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ArtigoJorge Felix

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201518

O envelhecimento populacio-nal provoca vertigens quan-do nos debruçamos sobre sua complexidade. O mes-mo ocorre com a questão

ambiental. Logo, a tarefa de buscar a in-terseção entre essas duas megatendências globais é árdua, porém urgente. Há alguns anos, em entrevista ao jornalista Fernando Gabeira, em seu programa de televisão, afirmei que o envelhecimento populacio-nal (o maior percentual de idosos na po-pulação) precisava ser controlado e poster-gado ao máximo por meio de políticas de estímulo ao aumento da taxa de fecundi-dade (o número de filhos por mulher), que teria como consequência uma redu-ção mais lenta da população até meados do século.

Gabeira replicou com a afirmativa de que uma população menor significaria me-lhoria na utilização dos recursos finitos do

planeta. Não se quer aqui criticar Gabeira, conhecedor profundo da temática ambien-tal. Apenas procuro sublinhar como, até então, a visão de especialistas, ambientalis-tas e inúmeros acadêmicos sobre a relação entre população e sustentabilidade ecológi-ca era de culpabilização da primeira pelos problemas da segunda. Aos poucos, estu-dos vêm constatando o descasamento entre o quantum demográfico e a degradação do meio ambiente – pelo menos a sua relação sempre vista como inexorável.

A insistente questão para o futuro, diante das transformações climáticas facil-mente perceptíveis, é como os dois fenô-menos contemporâneos – envelhecimento populacional e aquecimento global – se coadunam em seus aspectos socioeconô-micos. Pesquisadores começam a demons-trar que o envelhecimento populacional por alguns de seus desdobramentos e cau-salidades, entre elas a solidão e a redução da população, pode provocar impactos negativos no meio ambiente. Portanto, se estamos diante desta dinâmica demográfi-ca, novos desafios surgem para as políticas públicas, o setor privado e os indivíduos para mitigar seus efeitos.

O primeiro deles é o controle do ritmo do já chamado superenvelhecimento da população brasileira com a adoção de po-líticas de estímulo à fecundidade. É um ponto polêmico e suscita uma série de ar-

gumentos, quase todos preconceituosos e pouco científicos, porque o Brasil sempre se viu como um país jovem e mais necessi-tado de medidas de “controle populacio-nal”. Nada mais equivocado. O Brasil en-velhece a um ritmo acelerado devido à taxa de fecundidade em franca decadên-cia. Hoje é de 1,7 filho por mulher, como se sabe, abaixo do mínimo para reposição. O casal sem filho ou a família mononucle-ar (filho único) amplia o risco de uma ve-lhice solitária. Uma das principais conse-quências em relação à longevidade humana é o aumento de idosos vivendo sozinhos, sobretudo na área urbana.

No livro “Novo regime demográfico – uma nova relação entre população e de-senvolvimento?”, organizado pela econo-mista Ana Amélia Camarano, e recém publicado pelo Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (Ipea), o pesquisador Camillo de Moraes Bassi utiliza a metodo-logia da “pegada ecológica” para constatar que a composição da dieta dos idosos (com menor presença de carne bovina e maior de frutas e hortaliças) explora me-nos o capital natural em comparação com a dieta dos adultos não idosos. Isso reforça a hipótese, escreve Bassi, de que a quantia, per se, posiciona-se em segundo plano.

O pesquisador utilizou ainda o indica-dor “pegada hídrica”. A metodologia con-sidera três tipologias (água azul, verde e

Superenvelhecimentoe o desafio da

sustentabilidade

IMAGEnS dE dIVulGAção

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cinza), e assume que a produção de ali-mentos de origem animal é mais água in-tensiva. A diferença entre idosos e adultos é de 11% favorável aos primeiros. Ou seja, o quantum, novamente, tem menos peso do que o perfil do consumo, no caso da dieta alimentar.

De acordo com as conclusões de Bassi, o envelhecimento populacional resultaria em uma poupança ecológica. No entanto, no mesmo livro, José Féres nos alerta, em outro capítulo dedicado ao tema, que como a redução da população por queda da fecundidade resulta em famílias mono-nucleares, o Brasil já vive uma explosão de residências com apenas um morador. Do-micílios, lembra ele, são caracterizados por economia de escala. Aliás, o lar é a própria raiz da ciência econômica (oiko-nomía = gestão da casa).

Se o país perde essa escala, por utiliza-ção de recursos (água e energia) tão pulve-rizada, torna-se espiral o crescimento do impacto ecológico. O número de pessoas por domicílio, menciona Féres citando o IBGE, caiu de 5,3 pessoas em 1970 para 3,3 em 2010. O “arranjo familiar” com maior tendência de aumento nas próximas décadas é o de domicilio unipessoal. Ido-sos em destaque. Portanto, embora com menor “pegada ecológica” em referência à alimentação, os idosos apresentam maior “pegada ecológica” em habitação.

“o pesquisador utilizou ainda o indicador “pegada hídrica”. a metodologia considera três tipologias (água azul, verde e cinza), e assume que a produção de alimentos de origem animal é mais água “intensiva. ltos é de 11% favorável aos primeiros.”

De acordo com essas pesquisas, sur-gem dois desafios para uma economia da longevidade. A primeira é, como dito, desacelerar o ritmo do envelhecimento. Segundo alterar o padrão de consumo das populações desde os produtos ma-nufaturados até a alimentação, como o fazem os ecologistas. Em terceiro, os go-vernos precisam estimular a co-habita-ção. O Brasil está atrasado neste modelo. Não estamos falando em asilos. Trata-se

de condomínios com espaços comparti-lhados, intergeracionais, com possibili-dade de otimização do uso de água e energia. Uma sociedade envelhecida pre-cisa revolucionar seu modelo de habita-ção sob pena de ampliar seu risco às ma-zelas ambientais.

O Brasil, por enquanto, apenas assiste sua população envelhecer, ampliar as mo-radias unipessoais sem fazer nada. Da mesma forma que só estimulou, durante décadas, a cada um ter o seu carro. A po-pulação nunca é culpada pela crise am-biental. Antes dela existem as escolhas, a vontade política e o processo de produ-ção. Basta dizer que, segundo a ONU, apenas 8% do consumo hídrico nos países em desenvolvimento é atribuído às resi-dências. A indústria consume 10% e a agricultura 82%. Portanto, é pouco razo-ável afirmar que o envelhecimento popu-lacional ajudará ou prejudicará o meio ambiente. Toda dinâmica demográfica pode ser favorável ao desenvolvimento. Não existe a tal da bomba-relógio. Basta ação e planejamento.

Jorge Felix É jornalista especializado em economia da longevidade, mestre em Economia Política e professor da FESP-SP e da PUC-SP. www.economiadalongevidade.com.br

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Colunistaluiz A. Gaulia

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201520

Qual a contribuição para o mundo de uma empresa com lideranças corruptas? Neste início de 2015 essa pergunta me estimulou a es-crever sobre sustentabilidade,

meu tema de aulas e de pesquisa, partindo de um olhar mais atento para a Ética - em caixa alta - enquanto uma das dimensões que não faz parte diretamente da contabi-lidade das empresas, sejam elas públicas ou privadas. É claro que um desvio de conduta, um furto, um estelionato impac-tam no cálculo final do balanço contábil e trazem prejuízos evidentes ao cofre da em-presa. A Ética pode até ser um conceito cuja definição é complexa, assim como Sustentabilidade ou Responsabilidade So-cial Empresarial, mas merece ser entendi-da muito mais do que uma utopia filosófi-ca.

No Brasil, cuja história nos brinda com vilanias de toda ordem - a começar pela escravidão, o maior exemplo de falta de ética e moral que uma nação poderia ostentar - as empresas deveriam trabalhar a Ética muito além dos códigos impressos ou do esforço departamental localizado de auditorias internas.

Considero a corrupção um grave transtorno antissocial conduzido por psi-copatas no comando de algumas empresas que possuem em seu    a desonestidade como princípio de negociação e a hipocri-

“considero a corrupção um grave transtorno antissocial conduzido por psicopatas no comando de algumas empresas que possuem em seu modus operandi a desonestidade como princípio de negociação e a hipocrisia como modelo de gestão”

A insustentável hipocrisia dos

corruptossil. O que me entristece não só como cida-dão, mas também como professor é a des-coberta diária de que marcas há pouco tempo motivo de minha admiração e or-gulho, usadas como exemplos junto aos meus alunos em sala de aula, estão agora mergulhadas em um pântano de mentiras, farsas e propinas milionárias.

O toque hilário é que muitas dessas grandes empresas, que saíram das notícias de economia diretamente para as páginas policiais, têm em seus murais e painéis co-loridos na recepção de suas sedes, a expo-sição de seus valores institucionais. Ainda estão por lá publicados, entre outros, ter-mos inspiradores como: “Honestidade de Propósitos; “Ética e Transparência”; “Atu-ação Responsável”; “Responsabilidade So-cial Corporativa”; Desenvolvimento Sus-tentável” etc. Valores aprovados pela alta diretoria e que foram extremamente moti-vadores, com certeza, no dia de seus lança-mentos.

Como bom comunicador sei que pala-vras podem inebriar e discursos podem encantar. Mas são as práticas e as ações que gritam muito mais alto do que qual-quer anúncio comercial no horário nobre da televisão.

Então, chegamos ao óbvio ululante e fio condutor desse artigo: esses corruptos e corruptores, de variados calibres e m dife-rentes esferas profissionais corporativas,

sia como modelo de gestão. Diante disso, precisamos ampliar formas de controle sobre esses indivíduos ou grupos, especial-mente nas organizações públicas.

Graças a Deus que é brasileiro, não são todas as empresas e nem são todos os ges-tores públicos nomeados e concursados ou todos os empresários que fazem graduação na ! Ainda temos bons exemplos no Bra-

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“esses corruptos e corruptores, de variados calibres em diferentes esferas profissionais corporativas, escalões de governos e cargos públicos não perderam apenas a moral ou qualquer preceito ético. suas “parcerias degenerativas” como já escreveu o professor clóvis de Barros Filho, bem como sua abjeta hipocrisia dilapidaram valores e perverteram a razão social da existência de suas empresas. se seus discursos sempre foram mentirosos eles nunca poderiam pensar em ser sustentáveis, pois não existe modelo certo quando se busca um objetivo errado ou desonesto.”

somente a economia e as bolsas de valores, mas também a confiança nos negócios e o equilíbrio psíquico de milhares de pessoas que um dia acreditaram no seu trabalho, na missão que tinham pela frente. Seus crimes, iluminados por denúncias trazidas pela imprensa livre e pela delação premia-da, atingiram no longo prazo toda uma geração. E quando isso acontece, compro-vamos que a corrupção é necessariamente intolerável e perigosamente insustentável.

luiz antônio Gaulia é colunista colaborador de plurale. é jornalista, professor, consultor em comunicação empresarial, sustentabilidade e responsabilidade social corporativa e pesquisador.

escalões de governos e cargos públicos não perderam apenas a moral ou qualquer pre-ceito ético. Suas “parcerias degenerativas” como já escreveu o professor Clóvis de Barros Filho, bem como sua abjeta hipo-crisia dilapidaram valores e perverteram a razão social da existência de suas empre-sas. Se seus discursos sempre foram menti-rosos eles nunca poderiam pensar em ser sustentáveis, pois não existe modelo certo quando se busca um objetivo errado ou desonesto.

Talvez esses sujeitos descobertos em suas falcatruas nem percebam, mas a con-sequência de suas imoralidades afetou não

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P elo Brasi l

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201522

por sônia araripe, editora de plurale De São Paulo (*)

Quem milita na área de Susten-tabilidade bem sabe o misto de alegria pelos resultados de transformação obtidos e a ari-dez na captação de recursos e

no dia-a-dia desgastante. Tem sido assim nos últimos anos e, diante de um cenário de incertezas econômicas, dificilmente este quadro irá se alterar no curto a mé-dio prazo. Mas eis que surgem pequenas vitórias para manter o astral positivo e rumar o barco na direção de porto se-guro. Foi lançado, em São Paulo, pelos nossos parceiros do Portal colaborativo 1 Papo Reto, oPrêmio Empreendedor Sus-tentável.

No dia 27 de janeiro, em manhã inspi-radora, os organizadores da premiação reuniram um “time” e tanto de represen-tantes do Terceiro Setor, empresas e con-sultores da área de Sustentabilidade. O evento foi realizado na sede da Samsung Brasil, patrocinadora exclusiva, no sofisti-cado bairro do Morumbi. A região, por si só, já representa bem este caráter transfor-mador e mobilizador: ao lado de prédios refinados e de um dos mais renomados centros de consumo do luxo paulistano, há uma tradicional comunidade de gente simples e trabalhadora.

Pluralidade - Este verdadeiro “caldei-rão” de culturas e - porque não - riqueza in-telectual estava ali representado na entrega do Prêmio. Ao lado de um dos mais repre-sentativos empresários do ramo industrial brasileiro - Jorge Johannpeter Gerdau, fun-dador e hoje presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, um for-tíssimo interlocutor junto ao Palácio do Planalto e ao Congresso - transitavam ale-gremente jovens do Curso de Pré-Vestibu-lar Coletivo Griot XX de Novembro , no qual o fundador de 1 Papo Reto, o jornalis-ta Rosenildo Gomes Ferreira, dá aulas.

A própria história de vida de Rosenildo merece ser premiada: jovem negro de famí-lia simples  do subúrbio carioca, estudou firme, trabalhou intensamente, fez carrreira brilhante em diversas redações, estudou no exterior e não poderia ter melhor coroação de sua trajetória recentemente ao ser consi-derado um dos «100 Jornalistas mais Admi-rados» pela Maxpress e Jornalistas & Cia. Orgulho imenso por termos começado nossas carreiras nas mesma época, no Rio, e termos nos reencontrado nas estradas do Terceiro Setor e termos sido agraciados com o mesmo prêmio jornalístico. Transforma-dor social pelas palavras e ações, Rosenildo é autor de famosa coluna na revista  Isto É sobre ações do bem. Fundou 1 Papo Reto com sua companheira, a também talentosa jornalista Carolina Stanisci e pode medir a força de sua rede ao reunir no evento mui-

tos que acompanharam sua trajetória. Esti-veram ali, por exemplo, o jovem e premia-do chef Maílson da Silva, vários jovens do cursinho do Vestibular e também diversas fontes graduadas que Rosenildo conquistou ao longo de 30 anos de carreira, como a presidente do CEBDS (Centro Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Susten-tável), Marina Grossi e o vice-presidente da Coca-Cola Brasil, Marco Simões.

A seleção dos premiados ficou a cargo de um júri composto por especialistas do Terceiro Setor - do qual tive o orgulho de participar - como Renato Meirelles, funda-dor do Data Popular, Antonio Matias, vice--presidente da Fundação Itaú Social, Mar-co Antonio Rossi, fundador da Mega Brasil Online e Renê Garcia, economista da FGV.

Livro - Alguns destes perfis serão am-pliados e servirão de base para um livro con-tando os desafios vividos por cada um dos perfilados para colocar de pé seu negócio ou sua ideia. A obra será escrita por Rosenildo.”A ambição da equipe de 1 Papo Reto é fazer deste evento uma referência para quem busca boas práticas e também para aqueles que desejam conhecer a capaci-dade inovadora dos brasileiros. De todas as classes sociais e regiões do país”, avaliaram Carolina Stanisci, editora e fundadora, jun-to a Rosenildo Gomes Ferreira, do portal.

(*) A editora viajou a convite dos organizadores do Prêmio.

prêmio reconhece o relevante trabalho transformador de empreendedores sustentáveis

SÔnIA ARARIpE

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da prefeitura do rio

No dia 22 de janeiro, no Palá-cio da Cidade, o prefeito Eduardo Paes apresentou o Rio Resiliente, estratégia pioneira que aponta as

principais orientações da cidade para en-frentar impactos e se adaptar a choques e estresses crônicos causados pelas mudan-ças climáticas e desafios urbanos. Líder do C40 – grupo internacional de cidades que traçam estratégias para enfrentar as mu-danças climáticas e ampliar a resiliência –, o Rio de Janeiro é a cidade que mais inves-te no tema no Brasil e a primeira no He-misfério Sul a lançar um programa voltado para resiliência. Desde 2009, foram aplica-dos R$ 4,3 bilhões em ações nessa área.

O conceito de resiliência envolve tan-to as esferas governamentais quanto a so-ciedade e exige um esforço contínuo para prevenir, monitorar, mobilizar, comunicar e aprender com as experiências. O ponto de partida do projeto foi a produção de

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rio resiliente: cidade é a primeira no hemisfério sul a criar programa para enfrentar desafios urbanos e mudanças climáticas

um documento com extenso diagnóstico sobre o atual cenário de resiliência do mu-nicípio, com a identificação dos principais riscos relacionados com as alterações cli-máticas na cidade, como chuvas e ventos intensos, ondas de calor, elevação do nível do mar e dengue, além de outros tipos de situações que tenham potencial para mo-dificar a normalidade da cidade.

Mais de 100 funcionários de cerca de 40 órgãos municipais estiveram envolvidos na produção do documento. O texto conta com prefácio de Al Gore, ex-vice-presiden-te dos Estados Unidos e Nobel da Paz por sua atuação no combate às mudanças cli-máticas. Com os dados, foi elaborado um inventário de projetos, programas e inicia-tivas concretas de resiliência por parte da prefeitura e de alguns de seus parceiros.

A partir de agora, a Prefeitura do Rio construirá o Plano de Resiliência da cida-de. O plano será construído de forma cola-borativa e contará com a contribuição de outras esferas de governo, de parceiros pri-vados, da sociedade civil e dos cariocas,

além também de promover parcerias com as principais redes internacionais que dis-cutem o tema. A primeira ação concreta já acontece no dia do lançamento do Rio Re-siliente. Um seminário, na parte da tarde desta quinta-feira, reunirá especialistas, representantes de instituições da sociedade civil para debater os pilares do programa.

da sos Mata atlântica

Um estudo publicado na Magno revelou que os ocea-nos recebem, a cada ano, 8 milhões de toneladas de lixo plástico. “Isso equivale a cin-

co bolsas de compras cheias de sacos plás-ticos a cada 30 centímetros no litoral dos 192 países analisados”, disse, em entrevis-

MARcuS ERIkSEn/ AlGAlITA MARInE RESEARch FoundATIon

em apenas um ano, mundo despejou 8 milhões de toneladas de plástico nos oceanos

ta coletiva, Jenna Jambeck, professora de engenharia ambiental da Universidade da Geórgia, que liderou o estudo.

O levantamento analisou dados de resí-duos sólidos recolhidos em 192 países em 2010. Antes deste estudo, a última estimativa sobre lixo plástico nos oceanos foi em 1975.

Os resultados indicam que, das 275 mi-lhões de toneladas de resíduos plásticos ge-rados em 2010, entre 4,8 e 12,7 milhões

chegaram aos oceanos no mesmo ano. A China é o país que mais descarta lixo plásti-co nesses ambientes, são quase nove milhões de toneladas por ano. A Indonésia aparece em segundo lugar, o Brasil é o 16º e os Esta-dos Unidos aparecem na 20ª posição.

A quantidade de resíduos plásticos nos mares vem aumentando a cada ano. De acordo com as projeções do estudo, em 2015 os oceanos receberão cerca de 9,1 milhões de toneladas de plástico.

A equipe de pesquisadores alertou que, caso providências não sejam tomadas, como a diminuição da produção de lixo, a melhora da gestão de resíduos e a ampliação dos siste-mas de reciclagem de plástico, esta quantida-de poderá ter um impacto acumulativo de até 155 milhões de toneladas em 2025.

Além da ação do poder público, cada cidadão também tem responsabilidade na reversão deste prognóstico sombrio para nossos mares.

Plástico amontoado em uma praia de Açores, Portugal.

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P elo Brasi l

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201524

Maior evento brasileiro de conservação

recebe inscrições para trabalhos

técnicos

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Os interessados em enviar tra-balhos técnicos para o VIII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VIII CBUC), maior even-

to sobre o tema no Brasil, poderão inscre-ver seus artigos até 15 de abril de 2015. Os interessados devem preencher um formu-lário online disponível na área de Traba-lhos Técnicos do sitewww.fundacaogrupo-boticario.org.br/cbuc.

O evento é organizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e será realizado de 21 a 25 de setembro deste ano, em Curitiba (PR). Os traba-lhos submetidos devem apresentar ferra-mentas, procedimentos e modelos inova-dores para gestão das Unidades de Conservação, preferencialmente com al-guns resultados. Nesta edição do CBUC, além da disseminação destas informa-ções, são desejáveis discussões sobre estra-tégias inspiradoras, transversais e trans-formadoras em prol da conservação da biodiversidade. Os trabalhos devem ser enquadrados em um dos cinco eixos te-máticos, quais sejam:

1. Planejamento, Gestão e Manejo – experiências de gestão e manejo de Unida-des de Conservação, em especial aquelas que possuam caráter inovador possível de replicação a outras áreas protegidas.

2. Estratégias de Mobilização da So-ciedade – resultados e impactos de ações ou iniciativas cujo alvo principal tenha sido mobilizar, transformar e inspirar pes-soas sobre a importância das Unidades de Conservação, por meio de ações estrutura-das, campanhas e outras metodologias.

3. Políticas Públicas e Marco legal  – processos de criação ou ampliação de Uni-dades de Conservação ou que tenham in-fluenciado na elaboração de instrumentos legais (zoneamento, planos de manejo ou ações emergenciais para proteção de espé-cies e ecossistemas).

4. Serviços ambientais  – metodolo-gias, resultados dos benefícios ambientais, sociais e econômicos gerados com a cria-ção e manutenção das Unidades de Con-servação.

5. Biologia da Conservação – aspectos técnico-científicos que auxiliaram ou pos-sam subsidiar tomadas de decisão s para a

conservação e o manejo de espécies e hábi-tats.

Após o término do período de recebi-mento, as propostas submetidas serão se-lecionadas por consultores voluntários da Fundação Grupo Boticário, organizadora do VIII CBUC. O resultado dos trabalhos aprovados deverá ser divulgado na primei-ra quinzena de julho de 2015.

Em caso de dúvidas ou necessidade de informações adicionais sobre o congresso, entre em contato com a comissão organi-zadora do evento pelo e-mail  [email protected].

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por Fabio reynol da Agência FAPESP

O gás metano é considerado o segundo maior contribuin-te para o aquecimento da Terra, logo depois do dióxi-do de carbono (CO2), e es-

tima-se que 70% das emissões desse gás provenham de atividades humanas, entre as quais a pecuária.

Pesquisadores do Instituto de Zootec-nia de São Paulo (IZ) concluíram recente-mente um trabalho com foco no levanta-mento de indicadores para o melhoramento genético dos bovinos nelore, levando-se em conta a mitigação dos gases de efeito estufa (GEE) gerados na pecuária.

Uma das conclusões do projeto “Sele-ção para produção de carne bovina com reduação de gases de efeito estufa”, coor-denado por Maria Eugenia Zerlotti Mer-cadante, foi a de que bovinos nelore que consomem menos para adquirir peso emi-tem quase tanto metano quanto os ani-

AGÊncIA FApESp

De acordo com o estudo, “bovinos nelore que consomem menos para adquirir peso emitem quase tanto metano quanto os animais que precisam de mais alimento para chegar ao mesmo tamanho”.

pesquisa avalia emissão de metano por bovinosmais que precisam de mais alimento para chegar ao mesmo tamanho.

O trabalho durou de 2011 a 2014 e foi selecionado em um edital voltado a ques-tões de mudanças climáticas na agropecu-ária, com apoio financeiro da FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq) para a consolidação das Redes Nacionais de Pes-quisa em Agrobiodiversidade e Sustentabi-lidade Agropecuária (Repensa).

O principal gás de efeito estufa gerado na pecuária é o metano entérico (CH4), produzido na digestão dos ruminantes e eliminado por eructação (arroto).

Saber quanto o rebanho bovino de corte emite desse gás e os fatores que in-fluenciam nas emissões são informações importantes para a sustentabilidade da ati-vidade e o seu aprimoramento em busca da redução das emissões, de acordo com a pesquisadora. “Ainda há pouca informa-ção a respeito das oportunidades de miti-gação por meio do melhoramento genéti-co animal”, ressaltou Mercadante.

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201526 PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201526

Em tempos de escassez hídrica, fomos buscar estudos de casos de experiências bem sucedidas neste sentido. Trazemos três cases interessantes, com diferentes perfis, para ajudar a refletir melhor sobre o melhor gerenciamento deste recurso natural.

oásis, iniciativa pioneira, que estimula a conservação da natureza por meio do Pagamento por serviços Ambientais (PsA), como foco na proteção de mananciais para a produção de água

estudo de casos

C a s e 1 :

ESPECIAL RECURSOS HÍDRICOS

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da Fundação Grupo Boticário de proteção à natureza

Em tempos de crise da água no Brasil, diferentes setores da so-ciedade buscam estratégias efi-cientes para combatê-la, ten-tando garantir a continuidade

da produção desse patrimônio tão impor-tante para as pessoas. Muitas ações emer-genciais estão sendo tomadas apenas ago-ra, com a segurança hídrica do país já comprometida. Porém, instituições am-bientalistas já investiam em inciativas rela-cionadas à água bem antes disso.  Em 2006, por exemplo, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza lançou o Oásis: uma iniciativa pioneira, que esti-mula a conservação da natureza por meio do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), como foco na proteção de manan-ciais para a produção de água.

Serviços ambientais são aqueles presta-dos pelos ecossistemas naturais bem pre-servados e que fornecem as condições cru-ciais para a manutenção da vida na Terra. São exemplos desses serviços: o forneci-mento de ar puro e água limpa; a mitiga-ção de eventos climáticos extremos, como enchentes e secas; a fertilidade do solo; a regulação climática; a polinização das plantações e da vegetação natural; e o con-trole natural de pragas.

Esses são apenas alguns dos serviços que permitem a manutenção da vida em nosso planeta. Há muitos outros. Portan-to, o pagamento por serviços ambientais é uma ferramenta estratégica em que a pre-miação financeira é feita pela proteção dos ecossistemas que os provêm.

No Oásis, quem recebe a premiação são os proprietários rurais que adotam

do número de propriedades rurais, o papel econômico importante da agropecuária na economia brasileira e que o setor agrícola ocupa o topo do o ranking do consumo hídrico, representando 70% de toda a água utilizada.

“O PSA é uma excelente ferramenta a curto e longo prazos, pois valoriza o pro-prietário que conserva a vegetação nativa protegendo as nascentes e cursos d’água, bem como garante a produção de água em boa qualidade e quantidade, beneficiando milhares de pessoas”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.

A metodologia adotada pelo Oásis, inédita no país, foi desenvolvida pela pró-pria instituição. O resultado é um modelo flexível, capaz de atender a diferentes rea-lidades sociais, econômicas e ambientais em todo o Brasil, podendo ser adaptável a qualquer região do país.

Além de uma forma de cálculo para a valoração ambiental das propriedades, foi elaborado um conjunto de ferramentas e procedimentos que auxiliam as institui-ções parceiras a planejar e estruturar seus projetos, realizar a valoração ambiental para o cálculo do valor da premiação fi-nanceira que será recebida pelos proprie-tários contratados, selecionar os proprietá-rios a serem contratados, monitorar e avaliar os resultados e buscar potenciais fontes de recursos.

Em 2015, o objetivo é disseminar o mecanismo de PSA pelo país, estimulando o investimento em iniciativas similares, ampliando as ações voltadas para a conser-vação da natureza e possibilitando ações de longo prazo, como, por exemplo, o es-tímulo à criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) nas pro-priedades.

O Oásis já foi implantado em municí-pios dos estados do São Paulo, Santa Cata-rina, Minas Gerais, Paraná e Tocantins estando em fase de implementação no Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul. Des-de 2006, mais de 200 proprietários já fo-ram beneficiados pelas premiações finan-ceiras e contribuíram para a proteção de 155 nascentes e cerca de 2.500 hectares de matas nativas. Mais de 8 milhões de pesso-as foram beneficiadas diretamente pela proteção dessas áreas, incluindo morado-res das regiões metropolitanas de Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Palmas.

práticas conservacionistas de uso do solo em suas propriedades, bem como pos-suem uma conduta histórica de proteção à natureza, preservando áreas nativas além do exigido por lei. Trata-se de um aditivo à lógica do “poluidor-pagador” - que pune quem não fez sua tarefa de casa - acrescen-tando a figura do “provedor-recebedor” – que reconhece quem fez além do exigido. Trata-se de uma tentativa de dar um passo adiante na consciência coletiva dos pro-prietários rurais brasileiros, aproximando--os da figura do “provedor-recebedor”, que valoriza quem protege os serviços am-bientais, enquanto reconhece boas práti-cas.

Isso significa que os proprietários que protegem suas áreas naturais nativas e, consequentemente, permitem que elas continuem prestando serviços ambientais, especialmente a água, podem ser premia-dos pelos esforços de manutenção dessas áreas e por abrirem mão de uso dessas áre-as para outros fins. Não é a natureza que está sendo precificada, como alguns críti-cos do PSA indicam, mas a boa conduta que está sendo remunerada.

Essa estratégia é especialmente impor-tante em nosso país, considerando o eleva-

“a metodologia adotada pelo oásis, inédita no país, foi desenvolvida pela própria instituição

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201528 PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201528

do ipÊ

Iniciado em 2013, o projeto “Seme-ando Água” visa superar um grande desafio na região dos municípios “produtores de água” para o Sistema Cantareira: a perda de muitos servi-

ços ecossistêmicos, como a provisão da água, por causa da supressão e da frag-mentação florestal. Para reverter esses pro-cessos, com o patrocínio da Petrobras no Programa Petrobras Socioambiental, o IPÊ atua em oito municípios que abran-gem o Sistema Cantareira de abastecimen-to. Os objetivos são influenciar produto-res rurais a adotarem práticas sustentáveis

Projeto “semeando Água” capacita produtores rurais e envolve estudantes e cidadãos em favor da conservação da água no sistema cantareira

Conheça o projeto que trabalha para recuperar a águaem propriedades rurais no Sistema Cantareira.

Projeto “Semeando Água”, uma iniciativa do IPÊ com patrocínio Petrobras.

www.ipe.org.br/semeandoagua

Realização: Patrocínio:

NÓS SEMEAMOS ÁGUA!

de uso do solo, recompor a floresta que foi suprimida, e envolver a comunidade nas ações do projeto por meio de educação ambiental. As cidades participantes são: Nazaré Paulista, Piracaia, Joanópolis, Ita-peva, Mairiporã, Bragança Paulista, Var-gem e Extrema.

Além de abastecer mais de 14 milhões de pessoas, as cidades que influenciam o sistema Cantareira localizam-se em uma importante área de Mata Atlântica que abriga muitas espécies ameaçadas de extin-ção e conecta dois maciços florestais, as Serras da Cantareira e da Mantiqueira. Tais áreas, entretanto, sofrem grande pressão

em seu entorno, com a ocupação do solo inadequada em muitos casos. Por exemplo, 60% das APPs hídricas – Áreas de Preserva-ção Permanente estão inadequadas, ou seja, ou são pastos (49%), plantações de eucalip-to (11%) ou outros usos, que impactam a qualidade e quantidade de água.

Estudos realizados por pesquisadores do IPÊ indicam, entretanto, que, a melhoria da produção, adequação do uso do solo, me-lhoria das pastagens, regularização das APPs hídricas e restauração florestal, podem re-verter o quadro, porém em longo prazo.

Saiba mais: www.ipe.org.br/semeandoagua

C a s e 2 :

estudo de casos

dIVulGAção/ IpÊ

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do iGaM e wwF Brasil

Em meio à maior crise hídrica do Brasil, responsável por subme-ter mais de dois milhões de mo-radores ao racionamento em São Paulo e deixar em alerta o

Rio de Janeiro, Minas Gerais inova e será o primeiro estado em aplicar o conceito de governança em sua Política Estadual de Recursos Hídricos. A partir de junho de 2015, um conjunto de indicadores, ainda em estudo, será implementado para moni-torar a gestão das águas no estado e verifi-

SISEMA/dIVulGAção

car, por exemplo, se a participação social na agenda do setor é efetiva, se a adminis-tração é transparente e se as ações da polí-tica estadual estão sendo adequadas. O objetivo é investir na prevenção de crises e em um modelo mais sustentável.

A iniciativa pioneira no país contou com o apoio do programa Água para Vida do WWF-Brasil, que, durante todo o ano de 2014, apresentou aos 36 Comitês de Bacias de Minas Gerais, ao Instituto Mi-neiro de Gestão das Águas (IGAM) e ao Conselho Estadual de Recursos Hídricos de Minas Gerais (CERH-MG), um estu-

do, realizado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que lista uma série de índices possíveis para acompanhar a implementação da governança dos recur-sos hídricos.

“Gostamos muito da proposta do WWF-Brasil e decidimos colocá-la em prática. Um grupo de trabalho criado pelo CERH em dezembro de 2014 apresentará em junho uma proposta de indicadores adequados à realidade do nosso estado. A ideia é que Minas Gerais seja mais trans-parentes na gestão da água e ouça mais os Comitês de Bacia, as instituições políticas, as empresas, as organizações e demais usu-ários de água porque acreditamos que as decisões sobre os recursos hídricos devem ser sempre colegiadas e legitimadas pela participação social”, diz Marília Carvalho de Melo, diretora geral do IGAM.

“É muito contraditório termos uma das leis de águas mais avançadas do mun-do e sofrermos com racionamento e crise hídrica. Precisamos da governança no se-tor para fortalecer os Comitês de Bacia, a sociedade civil e os usuários de água. Ou-vir todos os envolvidos é fazer com que a gestão flua melhor, funcione com eficácia. Por tanto, é contribuir para a melhoria da qualidade e da quantidade da água, recur-so cada vez mais demandado no planeta”, afirma Maria Cecilia Wey de Brito, secre-tária-geral do WWF-Brasil.

indicadores para implementação da governança

A publicação “Governança dos Recur-sos Hídricos – Proposta de indicadores para acompanhar sua implementação”, (clique aqui para baixar o estudo na ínte-gra) analisou a Política Nacional de Re-cursos Hídricos, em vigor desde 1997 (Lei 9.443/97), e o Sistema Nacional de Ge-renciamento de Recursos Hídricos (SIN-GREH), responsável por coordenar a ges-tão das águas, arbitrar conflitos e promover a cobrança pelo uso da água. O estudo propõe diversos indicadores, como: a qua-lidade e efetividade das leis e da regulação; se os governos estão atuando de forma co-ordenada e se as metas, diretrizes e reco-mendações do SINGREH estão sendo cumpridas e se os governos estão sendo capazes de articular a Política Nacional de Recursos Hídricos com as políticas esta-duais e municipais relacionadas.

minas gerais inova e aposta na governança das águas

C a s e 3 :

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Responsabilidade social

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Uma avalanche de amor e

solidariedade

Chico nas reuniões da CRM de 1995 e ao lado quando era voluntário do INCA em dezembro de 1991

casa ronald mcdonald completa 20 anos com resultados concretos e relatos mocionantes no atendimento a crianças com câncer. livro relata esta história e os 15 anos do instituto ronald mcdonald

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O título do livro O Amanhã Existe, que conta a história do casal carioca da Tijuca que perdeu seu filho para o câncer e que da imensa dor

tirou força para mergulhar na luta contra a doença no Brasil, não poderia ser mais adequado. Francisco e Sônia Neves cole-cionam mensagens, fotos, lembranças e muitas histórias de sobreviventes que pu-deram se tratar graças ao acolhimento da Casa Ronald McDonald, fundada por eles e seus amigos do bairro. Essa turma soli-dária, que conseguiu recursos para bancar a ida de Marquinhos para Nova York e nunca mais parou de ajudar crianças com câncer, provou que, realmente, o amanhã existe. Mesmo para os mais de 10 mil bra-sileirinhos que a cada ano são diagnostica-dos com o terrível mal.

Apesar da busca do melhor tratamen-to existente na época, Marquinhos não resistiu à leucemia. “Voltamos do Me-morial Hospital de Nova York sem nosso filho, com o coração borbulhando de amor e decididos a levar esperança a ou-tros pais que estivessem passando pelo que nós tínhamos acabado de passar”.

Chico logo se envolveu com o grupo de voluntários do Inca (Instituto Nacional do Câncer) e Sônia, primeiro trabalhou na Casa Anália Franco, para meninas, mas logo foi levada pelo marido para aju-dar na primeira campanha McDia Feliz que teria o valor das vendas do Big Mac revertido para o Inca.

Na primeira oportunidade que surgiu, num evento para anunciar o McDia Feliz de 1991, Chico conseguiu aproximar-se do presidente do McDonald no Brasil, Pe-ter Rodenbeck e perguntar: “O senhor conhece a Casa Ronald McDonald de Nova York?” Ali teve início um longo diá-logo. Chico, que havia se hospedado lá, mostrou a necessidade de se ter no Brasil uma Casa como aquela. Seu sonho virou realidade em 1994, quando foi inaugura-da a primeira Casa Ronald da América Latina, na Rua Pedro Guedes, 44, Tijuca, Rio de Janeiro, onde está até hoje

sônia, dona da casaA Casa longe de casa, com seus 57

apartamentos, cozinha industrial, refeitó-rio, salas de recreação, biblioteca, auditó-rio, sala de reuniões, sala dos adolescentes e até um salão de beleza, funciona como um hotel e dá muito trabalho. Quase todo o serviço é realizado pelo grupo de volun-

tários, em sistema de revezamento. Atual-mente são 500.

Circulando pelos corredores, a presi-dente Sônia Neves vai espalhando sua ale-gria e sua força entre funcionários, volun-tários e os pequenos hóspedes com seus responsáveis.

-“Sônia, este convívio diário com a dor por mais de 20 anos não te deixa de-primida?”

-“Não, eu torço por eles como se esti-vesse torcendo pelo meu filho”.

Ela e sua equipe têm sempre uma pala-vra de esperança e de incentivo a lutar pela vida. “Quem não joga, não vai ganhar e não adianta chorar por antecedência”, di-zem eles às mães e pais.

Encaminhados pelo Inca, os hóspedes vêm de todo o Brasil, do exterior e até mesmo do Rio, desde que o tratamento exija proximidade do hospital e as pessoas não tenham condições de pagar hospeda-gem. Um dos hóspedes mais antigos, Do-nizete, 16 anos, e sua mãe, Licínia Serafim Silva, vieram em junho de 2013, de Cân-dido Sales, perto de Vitória da Conquista, Bahia. Mãe de seis filhos, sendo cinco me-ninas, Licínia viu seu único menino, aos 12 anos, sofrendo com dores de cabeça e convulsões, numa cidade sem condição nenhuma de tratá-lo. Graças a um jornal da TV local, que exibiu o caso, mostrando o resultado da tomografia que detectava o

nícia ribas, de pluraledo rio de JaneiroFotos de nícia ribas e divulgação

Chico se despedindo da mãe do Giovanni, Silvia Oliveira, quandoeles vão para casa com autorização do médico. No alto, Carlinhos e Marquinhos, juntos, em 1985

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Responsabilidade social

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tumor, ela conseguiu levá-lo para Salvador e depois para o Inca, no Rio.

– “Graças a Deus, existe a Casa Ro-nald, que nos acolhe com todo o conforto e carinho; aqui encontrei uma nova famí-lia”, diz ela no fresquinho do seu aparta-mento do segundo andar, ao lado de Doni, que quando crescer quer ser pastor.

A maior preocupação de Sônia é com a constante captação de recursos para manter a Casa e os programas Cesta de Alimentos e Reconstruir, que garantem a qualidade de vida das famílias durante e depois do tratamento. Isso porque o valor arrecadado durante o McDia Feliz cobre apenas 30% das despesas. “Contamos também com os membros contribuintes e os doadores de alimentos e material de limpeza; mantemos um bazar e uma loji-nha, “ diz ela. Vale tudo. Recentemente, Sônia organizou uma reunião na Casa com os amigos de infância de Marqui-nhos e cada um deles, hoje homens no mercado de trabalho, ficou de ver como poderá ajudar a captar donativos em sua área de atuação.

o sorriso do chico Os bons resultados do trabalho inicia-

do por aquela turma da Tijuca repercuti-ram país afora. Campanhas para combater o câncer infantil começaram a surgir. Em abril de 1999 foi criado o Instituto Ro-nald McDonald para organizar aquelas iniciativas e tocar projetos como as Casas Ronald, que hoje já são seis; o Diagnóstico Precoce, que capacita profissionais da saú-de a detectar a doença; e o Espaço da Fa-mília, instalado em hospitais para acolhi-mento diário. “Com o diagnóstico precoce, temos obtido resultados muito animadores, pois quanto antes se descobre a doença, mais certa é sua cura”, diz Chi-co, lembrando de um caso recém ocorri-do: um enfermeiro treinado pelo Progra-ma Diagnóstico Precoce, desconfiou dos sintomas apresentados por uma menina que estava sendo tratada como portadora de dengue. E não deu outra: era leucemia e a menina está curada.

Há 15 anos, Chico Neves é o superin-tendente do IRM, lidando no seu cotidiano com CEOs de multinacionais, sem perder o seu jeitão de tijucano, sua simplicidade e o famoso sorriso, que já se tornou sua marca

por sônia araripe, editora de plurale

Com a experiência de quem já escreveu e editou diversas histórias impactantes, o jor-nalista Hélio Muniz sabia que tinha “matéria-prima”

em estado bruto quando surgiu a ideia de relatar em livro os 15 anos do traba-lho do Instituto Ronald McDonald. Di-retor de Comunicação Brasil da Arcos Dourados Comércio de Alimentos, a máster franqueada da McDonald`s Cor-poration, que opera os restaurantes pró-prios da rede e administra os seus fran-queados, Muniz contou à Plurale como surgiu este projeto do livro “O amanhã existe - A história de quem transformou a luta contra o câncer infantojuvenil no Brasil “e também falou sobre os investi-mentos sociais da rede.

Qual a relevância para o McDonald`s Brasil do investimento social no com-bate ao câncer infantojuvenil?

O McDonald´s completou 36 anos de operação no Brasil e a Arcos Doura-dos - franquia que, desde 2007, opera a marca McDonald´s no país e na América Latina - fez o maior aporte de recursos para projetos pela cura do câncer infan-tojuvenil por meio do McDia Feliz. Em 2014, a campanha bateu recorde de arre-cadação, com R$ 22,4 milhões. O que orgulha o McDonald’s é ter contribuído para colocar o McDia Feliz na agenda da sociedade. Esta não é mais uma campa-nha do Instituto, é de todos nós. Nossos restaurantes são palco de diversas ações solidárias: pessoas que compram Big Mac apenas nesse dia, doam sanduíches,

hélio Muniz:

“esta obra é contribuição para discussão séria e aprofundada sobre o câncer infantojuvenil”

ajudam a divulgar. Talvez seja o dia em que nossos funcionários mais trabalham, mas saem de lá felizes por estarem aju-dando tantos projetos. É um legado emocional que não tem preço.

- Como surgiu a ideia do livro?O livro O amanhã existe - A história

de quem transformou a luta contra o cân-cer infantojuvenil no Brasil é um projeto nascido e gerenciado pela área de Comu-nicação do McDonald’s, que enxergou na publicação uma forma de sensibilização para a causa do câncer infantojuvenil. Acreditamos que com essa obra, contri-buímos para uma discussão séria e apro-fundada de uma questão que envolve a melhoria de recursos e a capacitação de profissionais de saúde para o diagnóstico precoce. Nossa expectativa com esse livro é chamar a atenção para um cenário que atualmente, felizmente, está diferente. Hoje, a chance de cura está bem maior, desde que, diagnosticado precocemente.

- O trabalho de Francisco e Sônia Ne-ves tornou-se referência nesta área e no Terceiro Setor. Como o McDonald´s Brasil vê este reconhecimento?

Acompanhamos o crescimento da entidade, que realiza um trabalho tão importante, e observo com imenso or-gulho os resultados alcançados. No ano passado, o Instituto completou 15 anos de atuação na causa do câncer infantoju-venil e isso não é para qualquer um. O Chico é um amigo que ganhei, uma pes-soa que me ensina a cada dia. É um or-gulho poder contribuir para que tantas outras pessoas conheçam esse casal de força extraordinária.

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Eu tinha acabado de me aposentar e não sabia bem o que fazer da vida, quando uma amiga, que trabalhava na Casa Ro-nald, me sugeriu o trabalho voluntário. Cheguei lá, achando que já ia começar no mesmo dia a brincar com as crianças. Que nada. Há todo um processo. Primeiro, um tour pela Casa, conhecendo o ambiente, cruzando com crianças amputadas, enfai-xadas, em cadeiras de rodas. Tudo isso para ver se você tem estrutura para supor-tar a dor alheia.

Depois, a gente preenche uma ficha com dados e impressões.

Só então, marcam uma entrevista com a psicóloga para testar sua estrutura emo-cional.

Se você for aceita, faz um treinamento de dois dias lá mesmo.

Passei e lá fiquei por seis anos, todas as manhãs de terça-feira, com muitos mo-mentos de felicidade por poder estar aju-dando aquelas pessoas durante uma tragé-dia em suas vidas. Sentia-me plenamente gratificada e satisfeita comigo mesma e com minha condição humana, constatan-do nossa impotência diante da morte. Era muita adrenalina. É indescritível a sensa-ção causada pelo trabalho voluntário.

Deve ser por isso que há fila de espera para ser voluntária da Casa Ronald, apesar dos pesares. Certa vez, estava no meio de

um trabalho com as crianças, na Bibliote-ca, quando dei pela falta da Carol, que na semana anterior estava entre nós. Quando perguntei por ela, foi aquele silêncio dolo-rido. Menos uma. Dói, mas as estatísticas são animadoras: há 30 anos, a chance de cura era de 15%; hoje, se diagnosticado precocemente, pode chegar a 85%.

Entre as histórias que vivi e ouvi na Casa, lembro a do Pedrinho. Hóspede novo na Casa, oito anos, ele repetia a quem se aproximasse dele:

– Sabia que eu vou morrer? É, vou morrer, ouvi o médico dizer que vou mor-rer.

As voluntárias e os outros hóspedes fi-cavam incomodados com aquilo. O pro-blema foi levado a uma das diretoras, a psicanalista Angela Damásio, que decidiu ter uma conversa com ele. Assim que ela se aproximou, ele já foi dizendo:

Tia Angela, eu vou morrer.Ah é? Eu também vou.Você vai morrer? Está doente?Não, mas eu vou morrer, assim como

todo mundo.Exultante, Pedrinho saiu pelos corre-

dores, gritando para todos ouvirem:A tia Angela vai morrer, a tia Angela

vai morrer!E teve a história da perna da Dani. Do

hospital, onde estava internada para am-

putar sua segunda perna, a menina de 10 anos, ligou para a voluntária Denise, da Casa Ronald, pedindo que ela fosse visitá--la urgente.

Quando Denise entrou no quarto, Dani pediu a sua mãe que saísse e sozinha com a amiga voluntária, disse:

Sabe o que é, tia? Eu quero me despe-dir da minha perna. Ela me levou a tantos lugares, brinquei tanto, pulei tanto, e ago-ra que ela se vai para eu poder viver, quero fazer uma despedida junto com você.

Atônita, sem saber bem o que dizer, Denise abraçou a menina e rapidamente entrou na dela, dispondo-se a ajudá-la na cerimônia de despedida.

Naquele momento embaraçoso, a por-ta se abriu e entrou a médica para conver-sar sobre a cirurgia. Ela nota o clima de emoção e pergunta o que há.

Estamos fazendo a despedida da per-na, disse Dani, aproveitando para pergun-tar o que fariam com a perna dela, se ser-viria para alguma coisa…

Sem saber o que responder, a médica hesitou, respirou fundo e conseguiu dizer que a perna serviria para estudos médicos com o objetivo de evitar que outras crian-ças tivessem, no futuro, que sofrer a am-putação.

Dani ficou satisfeita e na sua cabeci-nha, o problema estava solucionado.

depoimento de uma voluntária

Na porta da Casa, Sônia Neves, recebendo todos com alegria e otimismo. Chico nas reuniões da CRM de 1995

por nícia riBas, de plurale

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Responsabilidade social

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201534

livro, escrito pelo jornalista renato lemos, relata os fatos mais marcantes

Francisco Neves combinou com o jornalista Renato Lemos a feitura de um livro sobre os 15 anos do Instituto Ronald McDonald. “Só que ele começou a pesquisar

e acabou mudando tudo porque resolveu contar também a nossa história pessoal”, explica Chico, com aquele sorriso de quem aprovou a mudança. Realmente, Lemos foi fundo na história e conseguiu colocar emoção no seu livro. Sem ser piegas.

Em 19 capítulos, ele prende a atenção dos leitores pela leveza, sem deixar de fazer o registro dos fatos mais marcantes. Com muita graça, traça o perfil dos personagens

dIVulGAção

e faz os leitores reviverem a Tijuca e o Bra-sil de épocas passadas. Selecionou casos interessantes de hóspedes da Casa Ronald, como o da Edvânia, a mãe-coragem que virou cabelereira e que está lá até hoje, tra-balhando no salão de beleza da Casa.

Das conversas com Chico e com Sô-nia obteve depoimentos comoventes. “Chico diz que estar ali – de cabeça, de coração, com o resto do corpo inteiro – não foi exatamente uma escolha sua, ele foi escolhido. Pelas circunstâncias, pela dor, pelo amor, pela história iniciada com Marquinhos naquele dia em que Sonia tateou em volta do pescoço do menino e

pessoal. Outro dia, entrou num taxi ali na Pedro Guedes e a motorista comentou a im-portância daquela Casa, que acolhia crian-ças em tratamento de câncer, contando para ele que tudo havia começado por causa dos pais de um garotinho que morreu de câncer. “E você sabe que esse pai sou eu?”, disse ele. A taxista ficou tão emocionada que não quis cobrar a corrida, apesar da insistência de Chico, que, decidiu, enfim, levar os R$15,00 para a Casa, como doação.

– Chico, você acha que no mundo em que vivemos hoje, com tanta corrupção, vio-lência e egocentrismo, um mundo em que os valores materiais estão no topo da pirâmide, você teria a mesma demonstração de amiza-de desinteresseira e a solidariedade dos seus amigos da Tijuca, como ocorreu há 20 anos?

– Realmente, os valores mudaram muito, mas posso lhe garantir que o movimento do terceiro setor cresceu e tem muita gente que-rendo fazer a diferença. Nós do IRM coorde-

sentiu o caroço duro como uma pedra na ponta dos dedos. Aquilo o capturou, ain-da que, naquele momento,não fizesse ideia do que tinha pela frente. O câncer (qualquer câncer) era algo longínquo, algo ruim a ser evitado. Mas há coisas das quais é impossível fugir. Quando se deu conta, Chico já estava envolvido pela bola de neve formada em torno da sua família, a massa gelada que os envolvia. A avalanche – com as pedras desmoronan-do em direção à sua vida segura – foi mera consequência.”

Vale a pena ler O Amanhã existe para conhecer essa história e rever os valores.

namos o McDia Feliz em 60 cidades brasilei-ras e temos encontrado muita gente com tesão, paixão, dispostos a mudar o mundo.”

– “E quanto ao seu trânsito fácil entre autoridades governamentais, altos executi-vos, médicos, funcionários, voluntários, pais, mães e crianças doentes, com a mes-mo sorriso e sempre com uma palavra amiga, como você consegue?”

– “Fácil, é só não se deixar morder pela mosca da vaidade.”

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O Brasil registrou um núme-ro recorde de turistas brasileiros e estrangeiros em seus parques na-cionais. Apenas o da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, rece-beu 3,1 milhões de visitantes, número que cresce ano a ano desde 2011. Da mesma forma, o Parque do Iguaçu (PR), fa-moso pelas Cataratas, também alcançou um número inédito:

mais de 1,5 milhão de pessoas. A visitação de parques nacionais passou de 1,9 milhão em 2006 para seis milhões em 2013. Os números de 2014 ainda não foram fechados pelo Instituto Chico Men-des (ICMBio), responsável pela administração dos parques.

A procura pelo turismo de natureza é uma tendência mundial. Segundo a Organização Mundial do Turismo, a expansão do segmen-to está entre 15% e 25% ao ano. A fim de preparar o país para atender a essa demanda, o Ministério do Turismo considera a estruturação dos parques e o aumento das visitações como prioridade estratégica do Plano Nacional do Turismo (PNT).

parques nacionais brasileiros batem recorde de visitações

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Terceiro Setor

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Cdi:Reinventar para renovar

o Brasil, por enquanto, apenas assiste sua população envelhecer, ampliar as moradias unipessoais sem fazer nada. da mesma forma que só estimulou, durante décadas, a cada um ter o seu carro.

por elis Monteiro, especial para plurale Fotos do cdi/ divulgação

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rodrigo Baggio, levou o prêmio de empreendedor social Global de 2014, concedido pelo Fórum Mundial de empreendedores

Este ano, o Comitê para Demo-cratização da Informática (CDI) comemora seus 20 anos em boa forma. Acaba de anun-ciar uma parceria com a The

Bill & Melinda Gates Foundation e, jun-tas, as instituições vão selecionar 50 bi-bliotecas públicas para o programa CDI Bibliotecas. O programa, que tem apoio do Sistema Nacional de Bibliotecas Públi-cas (SNBP), terá duração inicial de dois anos e visa a ajudar líderes e profissionais de bibliotecas a integrar ideias e serviços inovadores nesses espaços em resposta à evolução das necessidades de suas comu-nidades.

As boas notícias não param por aí: seu presidente-fundador, Rodrigo Baggio, le-vou o prêmio de Empreendedor Social Global de 2014, concedido pelo Fórum Mundial de Empreendedores A premia-ção é um dos maiores reconhecimentos que um empreendedor pode receber. Ou-tros premiados foram Anneli Hulthén, prefeito de Gotemburgo, pelo desenvol-vimento de uma cidade empreendedora, e William Drayton, cuja ONG, a Ashoka, é um dos principais exemplos de empre-endedorismo social. Baggio, aliás, acaba de se transferir para Washington para tra-balhar ao lado de Drayton, sem perder de vista o CDI, que continua contando com sua liderança.

pioneira na luta pela inclusão digitaAo longo de seus 20 anos, o CDI foi

reconhecido com mais de 70 prêmios por organizações como Unesco, Banco Mun-dial e Fórum Econômico Mundial. A rede CDI hoje está presente em dez países, com 715 espaços de inclusão digital e mais de mil mil educadores em plena atividade. A tecnologia, como não podia deixar de ser, tem um papel importante nestas cone-xões: ela permite ampliar o impacto do trabalho da ONG.

Muita coisa, no entanto, mudou den-tro do CDI, transformações estas que fo-ram ocorrendo aos poucos nos últimos anos. Para se renovar, a instituição teve um choque de realidade, passou por difi-culdades e acabou encolhendo para se reinventar.

A própria trajetória da instituição tem a transformação como marca. O CDI co-meçou sua atuação, em 1995, levando

computadores para favelas; com o tempo, passou a formar cidadãos e profissionais por meio da inclusão digital. Com a disse-minação da tecnologia, principalmente nas comunidades mais carentes, a institui-ção percebeu a necessidade de investir na formação de empreendedores. Foi assim que nasceu o CDI Lan, braço de negócios do CDI focado na profissionalização das lan houses que norteou o trabalho da ONG nos últimos cinco anos.

Agora, o propósito é crescer e atuar no Brasil e também fora dele – o CDI já está presente em diversos países da América Latina e também na Europa. Em Londres, desenvolve o projeto Apps for Goods.

Atualmente, aliamos a tecnologia a programas educativos e culturais em esco-las, bibliotecas públicas e em organizações sociais. Nosso objetivo é tornar esses espa-ços ambientes onde as pessoas sintam-se convidadas a atuarem como protagonistas do curso de suas vidas e da sociedade na qual vivem – conta Elaine Pinheiro, dire-tora de Cultura e Pessoas da ONG.

Com sua metodologia focada em re-sultados, o CDI Lan foi fundamental na criação de um modelo de desenvolvimen-to de novas formas de fazer negócio e de causar impacto no planeta. Foi com ele que o CDI iniciou sua jornada rumo aos negócios sociais: aprendeu como customi-zar produtos e a co-criar esse tipo de negó-cio então ainda desconhecido no país e, com a demanda do “mercado”, passou a atuar como consultor de negócios sociais.

O CDI Lan foi, por exemplo, a gênese de um movimento de empresas com im-pacto social no Brasil, que culminou com a implementação do Sistema B local, em 2013, apoiada e impulsionada pelo CDI. Atualmente, 30 empresas do Brasil fazem parte do Sistema B, inclusive a Natura,

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primeira empresa de capital aberto a rede-finir seu conceito de negócio.

O CDI Lan foi o grande propulsor da trajetória do CDI para o modelo de negó-cio social. No entanto, a partir da trans-formação do cenário de inclusão digital no Brasil e na América Latina, com a re-dução significativa do número de lan houses e uma direção muito forte para dispositivos móveis, depois de incorporar todo esse aprendizado optamos por des-continuar o CDI Lan – conta Elaine.

Acabou o nome, ficou o aprendizado e o direcionamento. A partir do CDI Lan, a ONG passa a investir nos negócios so-ciais como molas-propulsoras de seus pro-jetos. Interna e externamente.

o desafio da crise econômica mundialO processo de transformação do CDI

não ocorreu sem dor. Após a crise global de 2008, com a escassez de recursos as or-ganizações sociais precisaram se reinventar e correr atrás de novas formas de subsis-tência. Como o CDI já estava no movi-mento rumo ao modelo de negócio social, ela já trabalhava em alternativas para a organização.

– A crise não nos pegou de surpresa e, ao perceber os desafios na captação de re-cursos, reagimos com uma série de inicia-tivas na gestão da organização – garante Elaine.

As mudanças ocorridas no CDI ti-nham por objetivo o ganho de escala e o

aumento do impacto social da organiza-ção. A instituição acabou optando, assim, pela adoção de um modelo de gestão base-ado em quatro frentes de atuação: Gestão de Pessoas e Relações; Processos e Comitês de Gestão; Acompanhamento de custo, prazo e resultados; e Desenvolvimento de novos “produtos” sociais voltados para as necessidades contemporâneas de uso da tecnologia.

A partir da identificação dessas fren-tes, os planos de ação incluíam o estudo da viabilidade de projetos, a elaboração de um modelo de captação de recursos mais focado em produtos em desenvolvimento do que em projetos, a utilização de plata-formas tecnológicas que permitissem acompanhar os resultados dos programas virtualmente, assim como a aproximação da equipe para a elaboração do plano es-tratégico.

Com a mudança no perfil da institui-ção, casada com a crise global, veio a ne-cessidade de redução da equipe.

A atenção que demos às pessoas e às relações com parceiros foi primordial para evoluirmos as práticas de gestão e o pro-cesso decisório da organização. Trabalha-mos de forma colaborativa com o time para a melhoria do clima organizacional e, de forma transparente, envolvemos nossos parceiros estratégicos na decisão de des-continuação de projetos que não se mos-travam viáveis e alinhados com nossa es-tratégia – conta Elaine.

novos tempos, novos modelos de captação

No meio do caminho da mudança surgiram novos desafios do mercado, como a chegada de iniciativas envolvendo crowdsourcing e crowdfunding. Foi assim que, em 2013, a instituição decidiu parti-

O futuro para o qual a organização vem se preparando é dinâmico e exigirá dela um compromisso com a juventude

Terceiro Setor

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cipar do Skoll Social Entrepreneurs Chal-lenge, competição de captação entre em-preendimentos sociais de todo o mundo promovida pela Skoll Foundation, funda-ção americana de incentivo ao empreen-dedorismo social.

O desafio funcionava assim: a institui-ção que conseguisse a maior quantidade de recursos advindos do público ganhava recursos da própria Skoll Foundation. A arrecadação se dava por meio de uma pla-taforma online criada pela Fundação. No ano de 2013 o CDI ficou em terceiro lu-gar no mundo, o que trouxe para a ONG um aprendizado grande a respeito de um modelo de captação de pessoa física.

– Tradicionalmente, mantemos o CDI com recursos de empresas parceiras, e de-senvolver estratégias para mobilizar pesso-as comuns a doar para a nossa causa é algo que ainda estamos aprendendo. Nesse sentido, o Skoll Challenge foi uma grande oportunidade de aprendizado – explica a diretora do CDI.

cortar na “própria carne”Até há alguns anos o Terceiro Setor

desenvolvia seus projetos sociais tendo como base o investimento de responsabi-lidade social das empresas e fundações. Mas as empresas decidiram reorientar seus investimentos para iniciativas inter-nas, visando a corresponder à pressão da sociedade, que espera resultados sociais

positivos das empresas e não somente seus produtos ou serviços.

Segundo Elaine, a mudança tornou necessária uma reinvenção por parte do Terceiro Setor.

Como empreendedores sociais, possa-mos revisitar nossas causas e alinhá-las ao novo cenário global, ao comportamento contemporâneo da sociedade e à realidade social do país. Precisamos estar atentos ao legado que o trabalho de nossas organiza-ções deixará para sociedade e para sua própria evolução como organização – ex-plica ela. – O processo de evolução pelo qual passamos nos dois últimos anos nos revelou que aprimorar a gestão não im-pacta somente na qualidade dos nossos resultados, mas também na releitura do papel que exerceremos na sociedade. Toda instituição do Terceiro Setor vai se benefi-ciar de um processo de transformação como esse.

O processo de reinvenção mexeu com as bases do CDI. Inclusive levou a institui-ção a refletir sobre sua identidade e suas crenças. Assim, a ONG se reposicionou e definiu como nova identidade e visão o conceito de E-topia: o CDI vê um mundo em que os indivíduos se apropriam da tec-nologia para construir uma sociedade mais justa e livre. O compromisso da ins-tituição passa a ser fazer do uso da tecno-logia uma experiência de conexão e mobi-lização de indivíduos que, juntos, criam soluções para a sociedade. E sobre as cren-ças, a Inovação, o Protagonismo, a Valori-zação das Relações e da Diferença, a Hori-zontalidade, a Tecnologia e o Conhecimento e Liberdade.

O futuro para o qual a organização vem se preparando é dinâmico e exigirá dela um compromisso com a juventude. O CDI deseja, assim, estar mais preparado para apoiar os jovens no desenvolvimento das habilidades necessárias no século XXI.

Queremos utilizar a força do nosso empreendedorismo social para compor esta grande rede que está se formando ao redor do mundo e que visa a tornar a so-ciedade mais preparada para criar soluções sociais usando a tecnologia. A programa-ção, os aplicativos e a gameficação nos es-timulam a apoiar nossos multiplicadores (professores, educadores sociais, bibliote-cários) a se tornarem agentes de transfor-mação de suas realidades.

o cdi fez uma parceria com a the Bill & Melinda Gates Foundation e, juntas, as instituições vão selecionar 50 bibliotecas públicas para o programa cdi Bibliotecas

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Bem-estar

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lou Fernandes – prem indira

Ficar cinco dias em silêncio? Mi-nha família achou impossível eu conseguir levar à frente esta faça-nha. Não acreditaram que eu re-almente participasse do Retiro

de Silêncio com Sri Prem Baba, no Spa Maria Bonita, em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. Será que estava tão faladeira as-sim? Foi daí que conclui que realmente precisava viver esta experiência. Reconhe-ço que não foi fácil tomar esta decisão. Nesta época, minha mãe estava muito do-ente e se afastar dela era muito difícil. Vi-via uma rotina alucinante, tentando dar conta de duas casas, trabalho, mestrado, enfermeiras, remédios. Minha mãe desen-volveu uma doença senil que a levou a

perder a articulação das palavras e por fim a fala. Acho que buscava dar conta do seu silêncio falando em dobro. Há dois anos não ouvia mais ela me chamar de filha, ou pelo meu nome. Agora entendo que, por mais que eu falasse não era a voz da minha mãe que ouvia, acho que não conseguia mais ouvir voz nenhuma.

“O silêncio é a base que te prepara para qualquer prática. Tudo o que é belo e verdadeiro nasce do silêncio”, ensina Prem Baba. Tudo em volta me mostrava que algo belo precisava nascer deste sofrimen-to. Sri Prem Baba nasceu no Brasil onde passa alguns meses do ano e onde cons-truiu o Sachcha Mission Ashram (Nazaré Paulista, São Paulo), e divide o restante do tempo entre o Sachcha Dham Ashram em Rishikesh (Índia) e outros lugares do

mundo para onde viaja visitando os diver-sos centros que estão se desenvolvendo com base nos seus ensinamentos. Nos seus retiros vem gente de todo lugar do mun-do. E se sugere carona solidária. Mas fui sozinha de carro, queria treinar o início do processo de silenciar. A viagem do Rio a Friburgo pareceu uma eternidade. Como ficarão as coisas? Será que vou conseguir ficar até domingo sem saber notícias? Ao chegar no spa Maria Bonita encontrei um grupo acolhedor que ajudou a diminuir minha ansiedade. O sorriso de Gabriela Alves e toda a equipe passava confiança. Sem contar que o lugar abrigava uma paz só tocada pelo canto dos pássaros. Aliás, eu nunca havia visto tanta variedade de canto de pássaros passeando livres pelo verde daquela serra.

SILÊNCIONOTUDO PODE MUDAR

Lou Fernandes – Indira Prem no encontro com o guru Prem Baba

depoimento: retiro com Prem Baba em nova Friburgo

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aos poucos a ansiedade passa e começa a dar lugar a outros sentimentos

Prem Baba surge no salão e retira qual-quer apreensão para os principiantes, di-zendo que começaríamos o retiro aos pou-cos. Ou seja, agiu como um pai cuidadoso que ao ensinar seu filho a andar de bicicle-ta sabe que só deve largar quando sentir que pegou o equilíbrio. Desde que o co-nheci, há dois anos na Índia, numa via-gem que seria apenas para encontrar com a minha filha, constatei que encontrei muito mais. Seu nome já diz muito do que ele representa: Pai do Amor , pois em sânscrito Prem significa amor e Baba sig-nifica Pai.

E foi com essas palavras Sri Prem Baba nos conduziu ao começo de uma experi-ência que se tornou um divisor em minha vida:

“Eu os convido a estarem um instante em silêncio, para que possamos concen-trar a atenção. Alinhe sua coluna, feche os olhos suavemente e respire suave e pro-fundamente pelas narinas, e a cada respi-

ração solte o seu corpo. Alinhamento não significa rigidez. O corpo pode estar ali-nhado, mas relaxado. Solte também as pré-ocupações, toda e qualquer expectati-va. Coloque-se completamente presente aqui e agora ocupando o seu corpo, ocu-pando cada célula, cada molécula do seu corpo. Perceba que a cada respiração o seu campo de energia se expande, e desse lu-gar de presença você simplesmente obser-va o que se passa na sua mente e no seu corpo. Assim como o céu observa as nu-vens, as nuvens às vezes são claras, às vezes são escuras, mas sempre passam e o céu permanece. Você, que é o céu, observa o trânsito dos pensamentos, das emoções, das sensações e deixe passar. Olhe e deixe passar. Coloque o foco no espaço vazio entre os pensamentos ou no fluxo da res-piração (o que for mais fácil para você) e fique assim passivo. Evite o diálogo inte-rior, evite julgar, comparar. Fique consigo mesmo só assistindo o que se passa por um minuto ou um instante; não se preo-cupe com o tempo, eu darei o sinal para encerrar a prática”.

Consegui. Mas sabia que tinha sido apenas 5 minutos e ainda teria quatro dias pela frente. Pensava que talvez não devesse ter me afastado ou que estava sen-do egoísta gastando este dinheiro só co-migo. Lembrei da fala de Prem Baba para soltar qualquer expectativa. Soltei. E nes-te momento começou a nascer uma se-mente de paz e um sentimento de amor por mim. Começava a entender quantas exigências fiz para o outro em busca de amor e aceitação.

“Paz e Amor são fragrâncias do Ser Maior que nos habita. Em algum momen-to nessa nossa trajetória evolutiva acaba-mos nos distanciando deste Eu Maior que nos habita e acabamos nos esquecendo de como criar paz, como dar passagem para o amor através de nós. E a consequência deste esquecimento é o caos que vemos hoje no nosso mundo em todos os setores, todos os segmentos. A violência urbana é somente um pequeno aspecto, é um refle-xo da falta de paz interior; é um reflexo da nossa incapacidade de manifestarmos consciência amorosa.”

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Bem-estar

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Você precisa ter disposição para bater na porta da verdade

O segundo dia foi o mais difícil para mim. Sobretudo por que tentava não pen-sar. Impossível. Conclui que assim como o coração foi feito para bombear o sangue, a mente foi feita para pensar. O que precisa-va descobrir era a entidade que sentia o pulsar do coração e ouvia as tagarelices da mente. Ou seja, o dono da casa. Sempre me queixava que os afazeres tiravam o meu sossego. Mas agora estava num lugar lindo e silencioso. Não tinha a quem cul-par. E ainda assim me sentia agitada e muito longe de mim.

‘Você precisa ter disposição para bater na porta da verdade. Verdade sobre você mesmo. Por exemplo: diante de um con-

flito, se você se sentiu perturbado, ao invés de apontar o dedo para o outro, procure em você. Faça a oração para o universo: ‘Me mostre, qual a minha responsabilida-de neste conflito?’ 

O que me tranquilizava era ver que al-gumas pessoas também pareciam que esta-vam sentindo o que eu estava sentindo. Me peguei mais uma vez prestando aten-ção no outro. Esquecendo do cisco no meu olho. Era quase possível ouvir a mon-tanha de pensamentos por trás daquele silêncio. Prem Baba sabia disso e numa tarde reunindo conosco – chamado de sat-sang– disse as seguintes palavras:

“ Temos que trabalhar para desenvol-ver esses valores que eu estou sugerindo e desenvolver a arte da meditação. Isso cabe

a você que é o Eu consciente; você que es-colheu estar aqui numa tarde como esta, feriado; você que fez um esforço. Alguns chegaram a fazer sacrifícios para estar aqui. Quem fez esse esforço, esse sacrifí-cio? Você, Eu consciente. Você é o herói da jornada. É você que identifica o ‘eu’ inferior e escolhe renunciá-lo. Você esco-lhe se identificar com o Eu divino. Isso cabe a você. Autoconhecimento e cultivo de silêncio. Dedicar a bater na porta da verdade e ir se afinando com o êxtase atra-vés do cultivo do silêncio.”

Sai decidida a espancar a porta da ver-dade. Até que tentei, mas o retiro estava organizado para ser um encontro amoro-so. Sem violência. Inclusive tínhamos uma alimentação bem saudável e lá não tinha sinal de celular. Afinal, como um Pai do Amor iria organizar um evento cujo en-contro seria dando murros na porta? Acho que não. Percebi que ainda estava longe de mim mas também notei que a resistência ao encontro estava sendo dissipada porque começava ter consciência disso. E como diria Prem Baba:

“É fundamental que possamos desen-volver a inteligência emocional e que para-lelamente possamos desenvolver a inteli-gência espiritual, que é o reconhecimento da natureza divina em tudo o que é vivo. A inteligência espiritual é a percepção do di-vino em cada um. Essa inteligência é que realmente interrompe qualquer movimen-to destrutivo. Você pode ver a divindade se manifestando em tudo o que é vivo, você reverencia, não ataca, não destrói, não ma-chuca porque você sabe que o espírito de vida que passa numa flor é o mesmo espíri-to de vida que passa através de você. A in-teligência espiritual nos faz perceber a uni-dade dentro da multiplicidade. Somos muito na superfície, mas dentro somos os mesmos. Somos o mesmo! Conforme a nossa inteligência espiritual vai crescendo a gente começa a perceber a unidade dentro da multiplicidade. A vida única por trás do nome, por trás do corpo, por trás da histó-ria e que nos mantém vivos. Esse Eu divino que é único fala em todas as bocas. 

a espiritualidade precisa acontecer na Vida diária

No terceiro dia, na sacada do meu quarto, me deparei com a cena de um ca-sal de ararinhas verdes se afagando na ár-

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vore e aos poucos outros passarinhos se uniam a eles e começavam a cantar, um de cada vez, respeitando o espaço do outro. Ao me conectar com o agora, sem qual-quer julgamento, vivenciei as palavras de Prem Baba quando diz que “a divindade ao se manifestar em tudo que é vivo inter-rompe qualquer movimento destrutivo”. Me senti abraçada e, mesmo que tenha sido por um milésimo de segundos, con-segui perceber a unidade por trás da mul-tiplicidade. À noite realizamos o ritual do fogo, utilizando a lareira, onde tivemos a oportunidade de queimar lembranças que nos impediam de ir em frente, em direção à vida. Todo processo foi me levando a compreender que não era necessário es-pancar nada e nem de muitos sacrifícios para ter um encontro comigo mesma. O fardo precisa ser leve para podermos car-regá-lo. E todo este processo me levou a entrar num estado de aceitação. Na super-fície, a aceitação pode parecer um estado passivo, entretanto ela é ativa e criativa porque traz algo novo a forma de estar no mundo. E para atingir um estado de cons-ciência amorosa e plena, como nos ensina Prem Baba, “ precisamos apenas de um minuto por dia. Começamos com um mi-nuto, para lembrar do espírito, para lem-brar do divino que nos habita”.

No domingo, o último dia do retiro, o silêncio continuava. Foi mais uma vitó-ria porque consegui dividir o quarto com três mulheres, tendo apenas um banheiro, e nos entendemos muito bem sem qual-quer palavra. Neste dia, pela manhã, Prem Baba fez uma Roda de Cura onde se podia expressar o que lhe incomodava, dentro da filosofia que todos somos um e que a cura do outro é também a nossa cura. Numa de suas falas Prem Baba ex-plica melhor esta prática de espiritualida-de quando diz que:

“Nos dias atuais a espiritualidade pre-cisa acontecer de forma prática. Espiritu-alidade prática significa você se relacionar com o outro sem se machucar. Sem se machucar e sem machucar o outro. Esse é o principal   sadhana; esse é o principal desafio para o ser humano nesta fase da jornada evolutiva. É importante que a es-piritualidade também seja sustentável, você precisa equilibrar a vida espiritual com a vida material. Chegou o momento de integrar espiritualidade com a vida prática, a vida material. Acabou o tempo de a espiritualidade só poder acontecer dentro de mosteiros, templos ou Ashram. Esses lugares são centros de sustentação da conexão com a Luz maior, mas a espi-ritualidade precisa se manifestar em todos

os segmentos da sociedade, da vida hu-mana. Espiritualidade precisa se manifes-tar na ciência, na saúde, na educação, na economia, na politica, nas artes, e assim sucessivamente.“ *

Foi um momento muito especial, de carinho por cada história contada. Enten-der como somos iguais e ao mesmo tempo únicos. Precisava voltar para casa. A vida me esperava. O cenário parecia ser igual. No entanto, algo havia mudado dentro de mim. Mas que eu só percebi quando me despedi de minha mãe, no momento de sua passagem, um pouco antes do Natal. Havia silêncio, presença e serenidade em meu coração. Passado dois meses deste re-tiro, pude escrever este depoimento e agora deixo com vocês a palavra do meu querido mestre Sri Prem Baba ao finalizar o retiro :

“Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria iluminem cada passo da sua jornada. Que você possa experimentar o gosto doce da paz. Que você possa ser feliz. Que você possa ter suas necessidades atendidas. Que você possa se tornar um canal deste amor. Um canal do amor.” Prem Baba*

*Muitos destes trechos podem ser lidos no site http://www.sriprembaba.org

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o fotógrafo cArlos mAgno é um apaixonado pelos cantos e recantos do esta-do do rio de Janeiro. A pé ou de carro 4 X 4, já até

perdeu as contas dos inúmeros ro-teiros que desbravou ao lado da fa-mília e amigos também encantados pela exuberância da natureza flumi-nense. Para os leitores de Plurale ele descortina o Parque estadual da serra da tiririca, entre os municí-pios de niterói e maricá. “A trilha é relativamente fácil e a vista é incrí-vel”, conta. Apesar de até crianças costumarem subir as pedras, mag-no adverte, no entanto, que é preci-so sempre fazer uma trilha segura e com guias experientes. “As indica-ções de placas estão degradadas e há sempre o perigo de pedras lisas.

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E n s a i o FOTOS:

carlos MaGno

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201546

nunca devemos nos descuidar”, aler-ta. há trilhas fechadas por motivo de segurança, mas a trilha do costão é acessível, desde que seguindo as orientações de quem está habituado com trilhas e guias experientes. estas fotos mostram a diversidade e a bele-za das praias de itacoatiara de um lado e de maricá do outro.

Para mais informações sobre o Parque da serra da tiririca - http://www.inea.rj.gov.br/Portal/Agendas/BiodiversidAdeeAreAsProtegi-d A s / U n i d a d e s d e c o n s e r va c a o /ineA_008600#/sobreoparque

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Fotoscarlos MaGno

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201548

sônia araripeBazar ético |

• este espaço é destinado

à divulgação voluntária

de produtos étnicos e

de comércio solidário de

empresas, cooperativas,

instituições e oNGs.

Projeto e_ayiti, moda étnica

Pedaços de tecido, fragmentos de ferros e cordas de telefone coloridas são transformadas em pulseiras e colares nas mãos habilidosas de artesãos do Projeto e-ayiti, inspirado no nome do Haiti na língua nativa, creole, lançado pelo Instituto-E. As peças e_ayiti são vendidas nas lojas Osklen desde fevereiro de 2014. Todos os acessórios da coleção são gravados com palavras, escolhidas pelos próprios artesãos em creole haitiano.  Nas placas das pulseiras e colares aparecem mensagens como “beni” (abençoa-do),   “mesi” (obrigado), e “espere” (esperança), esta última em braile. O projeto contou com um padrinho/parceiro e tanto: Simone Cipriani _ italiano, da região da Toscana, que sempre trabalhou na indústria do luxo _ e idealizou o projeto Ethical Fashion Initiative (EFI), do International Trade Center. Estilistas globais famo-sas, como Vivienne Westwood e Stella McCartney, também apoiam o EFI, que procurou parceria no Brasil com o Instituto-E. Nina Braga, diretora do Instituto-E, explica que a Organização da Sociedade Civil de Inte-resse Público (OSCIP), presidida por Oskar Metsavaht, diretor criativo da Osklen e embaixador da Boa Vonta-de da Unesco, também apoia projetos no Rio de Janei-ro. Como na Comunidade de Marambaia, em São Gonçalo e em outras comunidades. Nina explica que o Instituto-E “promove a união entre agentes da socie-dade fomentando uma rede de parceiros com o obje-tivo de fomentar iniciativas que elevem o Brasil como referência de desenvolvimento humano sustentável”.

s e r V i ç o

http://institutoe.org.br/

FoToS dE dIVulGAção

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Bazar ético |

tinn

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Vantagem sustentável para uma nova economia.

Porque o nosso futuro está nodesenvolvimento sustentável.

ALÉM DO ÓBVIOCONSULTORIA AMBIENTAL COMPROFUNDIDADE DE ANÁLISE

Impressionado com o calor neste verão? Então se prepare. Mesmo mantendo a atual concentração de poluentes na atmosfera, a temperatura no Brasil aumentará de 2ºC a 3°C nos próximos 50 anos.Fonte: Primeiro Relatório de Avaliação Nacional do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (RAN1)

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Pelo Mundo

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Uma aventura na selva com os gorilas africanos

Você já se imaginou lado a lado com um gorila? Giuliana preziosi, do blog histórias pelo Mundo conta a sua experiência.

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Na luta contra a extinção, os gorilas das florestas da Áfri-ca central representam uma das espécies mais ameaça-das do Planeta. Atualmente

apenas cerca de 600 vivem nas florestas dos vulcões de Virunga, na fronteira de Uganda, Congo e Ruanda, e na floresta de Bwindi, no Sul de Uganda.

Segundo último relatório da UNEP (The Last stand of the Gorilla), é possível encontrar dois tipos de gorilas na África. Os gorilas-das-planícies são os que vivem no Parque Kahuzi-Biega, na República Democrática do Congo, cuja a população estimada é cerca de 5.000 gorilas. E os gorilas-das--montanhas, que ficam Floresta de Bwindi e no Parque Virunga, cuja população gira em torno de 600 gorilas.

Infelizmente, eles estão ameaça-dos por culpa da ação humana. Um filhote de gorila no mercado negro pode valer até 40.000 dólares. Além disso, a situação de pobreza, carência e falta de informação incentiva a po-pulação carente que vive nas proximi-dades a transformá-los em alimento. Outro problema é o avanço das minera-doras, madeireiras e carvoarias no habi-tat natural dos gorilas para construção de estradas.

A boa notícia é que segundo as auto-ridades locais, a população de gorilas au-mentou nos últimos anos em consequên-cia do desenvolvimento e aumento do turismo nas áreas protegidas. A aventura na trilha para encontrar os gorilas é cara, custa 500 dólares por pessoa. O dinheiro é usado para preservação da floresta, da es-pécie e também para projetos sociais com a comunidade local. Tudo é muito bem organizado, mas a trilha é bastante impre-visível.

O Histórias pelo Mundo foi até o sul da Uganda, no Bwindi Impenetrable Na-tional Park, para fazer a trilha dos gorilas. É preciso ter uma permissão especial do governo para acessar o parque e fazer a tri-lha. Chegando lá, fomos alertados sobre alguns pontos relevantes. A trilha pode levar de uma à nove horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rá-pido e estão espalhados pela floresta. Não é permitida a entrada de pessoas com al-

por Giuliana preziosi, do Blog histórias pelo Mundo Fotos de Maurício chichitosi de Bwindi impenetrable national park, uganda www.historiaspelomundo.com/

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Pelo Mundo

gum tipo de doença porque pode conta-minar os gorilas. É preciso estar preparado fisicamente, pois são gorilas-da-monta-nha, isso significa que a trilha é repleta de subidas e descidas íngremes.

Como não se sabe quanto tempo pode levar a aventura, é aconselhável levar no mínimo 3 litros de água por pessoa e tam-bém um lanche e alimentos leves. Além de capa de chuva, repelente e, claro, a máqui-na fotográfica. Só que para carregar tudo isso em uma trilha que pode ser bastante longa, não seria nada fácil se não fosse uma ideia muito bacana para ajudar a co-munidade local. Você pode contratar um carregador para levar sua mochila, por cer-ca de 15 ou 20 dólares. São moradores da região, que estão habituados a andar na selva e fazem disto sua fonte de renda. Dessa forma, a população da região se vê

“a trilha pode levar de uma à nove horas para encontrar os gorilas, uma vez que eles se movem rápido e estão espalhados pela floresta.

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Pelo Mundo

estimulada a preservar os gorilas, em vez de caçá-los para servirem de refeição.

Ainda, há casos de pessoas que não aguentam a trilha depois de muitas horas de percurso e contratam pessoas para lite-ralmente carregá-las no colo. Já esse “servi-ço” pode custar cerca de 500 dólares.

A trilha começa às 7h da manhã, em grupos de oito a 10 pessoas. Cada grupo tem um ponto de início e faz um percurso diferente pela selva adentro. Todos os gru-pos têm o seu guia e mais dois guardas florestais ou “rangers” (como eles cha-mam) para garantir a segurança do grupo pela floresta. Além disso, há rastreadores (ou “trackers”) que vão na frente de cada grupo e que se comunicam por rádio para passarem as coordenadas de qual caminho percorrer na busca aos gorilas.

Depois de todo esse briefing com orien-tações, eu diria um pouco assustadoras, ini-ciamos nossa jornada pela selva. Logo de cara, uma super subida na montanha. Quando estávamos na metade da monta-nha, recebemos a melhor notícia de todas: os gorilas estariam ali no topo da monta-nha. E não fazia nem 1 hora que estávamos na floresta! Ouvir isso foi quase como uma injeção de energia para chegar ao topo.

Quando há indícios que os gorilas es-tão próximos, é preciso deixar as mochilas, água e demais apetrechos com os carrega-dores e seguir o caminho carregando ape-nas a máquina fotográfica. Isso é para não chamar a atenção dos gorilas com comidas e coisas do tipo, pode não ser seguro.

Andamos mais alguns metros e lá esta-va uma família inteira de gorilas em cima das árvores.

Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos mostrem os gorilas como mons-tros ferozes, eles na verdade aceitam pacifi-camente a presença de humanos entre eles. O macho estava comendo frutinhas no topo da árvore, a fêmea descansando em um dos galhos, e um gorila bebê passeando de galho em galho. Ficamos mais de 1 hora observan-do o comportamento deles, até sermos sur-preendidos com uma fêmea grávida passan-do a menos de 5 metros de distância de nosso grupo. Nisso, o gorila macho grande e imponente (o “silver back”) desceu da árvo-re, como se quisesse nos cumprimentar e dizer “quem manda aqui sou eu!”.

Tivemos muita sorte em tê-los encon-trado tão rapidamente e fomos o primeiro grupo a retornar ao ponto de partida. Observá-los assim tão de perto dentro de

seu habitat natural foi uma das experiên-cias mais incríveis que já vivenciamos.

O Projeto Histórias pelo Mundo é uma expedição de 500 dias pelos 5 continentes que visa compreender os desafios e as oportunidades presentes neste Planeta em que vivemos.

Fontes: Nellemann, C., I. Redmond, J. Refisch (eds). 2010. The Last Stand of the Gorilla – Environmental Crime and Conflict in the Congo Basin. A Rapid Response Assessment. United Nations Environment Programme.

Endangered Species International http://www.endangeredspeciesinternational.org/gorillas.html

Embora alguns filmes e histórias em quadrinhos

mostrem os gorilas como monstros ferozes, eles na verdade aceitam

pacificamente a presença de humanos

entre eles.

FoToS dE MAuRícIo chIchIToSI – hISTóRIAS do Mundo

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Por Vivian Simonato, Correspondente de PluraleDe Oslo, Noruega

Diante do imenso bosque que abraça o Palácio Real, onde as folhas amareladas pelo outono fazem con-traste com as folhas ver-

des que ainda teimavam em permane-cer nas árvores, começo minha aventura para explorar Oslo, a capital da Norue-ga. Bela nos mínimos detalhes, a No-ruega também é reconhecidamente um dos melhores lugares no mundo para se viver. Prova disso é que o país está desde 2009 no topo do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia expectativa de vida, educação, renda per-capita, entre outros fatores, é incluído no Relatório de Desenvolvi-mento Humano e publicado anualmen-

explore com Plurale a arrebatadora capital da noruega que é sede do Prêmio nobel da Paz, farta em história para explorar e indiscutivelmente moderna

te pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

No entanto, não somente em termos de qualidade de vida o país se destaca. Nos arredores do Palácio Real está a Galeria Nacional, onde se encontra uma das ver-sões do quadro O grito, o mais famoso do norueguês Edvard Munch. No museu Munchmuseet, dedicado ao artista, está a outra versão da obra que é conhecida mundialmente.

Conhecer Oslo é relativamente fácil pelo fato de ser uma capital de porte pe-queno. A Karl Johans Gate, que vai do Palácio Real a estação, é a principal rua da cidade e é passagem para muitos dos pon-tos turísticos. Partindo da região do Palá-cio Real e seguindo pela Karl Johans Gate até onde ainda é permitida a circulação de carros, está o Grand Hotel, famoso por hospedar os ganhadores do Nobel da Paz.

Viagem

Pequena, adorável e sustentáveloslo

NOBEL PEACE CENtRE

IGREJA GOL StAvE NORSk FOLkEMuSEuM

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FoToS dE pEdRo FREIRIA

Como não poderia ser diferente, assim como Martin Luther King Jr., Nelson Mandela e muitos outros, foi no Grand Hotel que a jovem ativista paquistanesa Malala Yousafzai – que defende o acesso à educação para mulheres – , e o indiano Kailash Satyarthi, ativista na luta contra o trabalho infantil, se hospedaram em De-zembro de 2014, quando aconteceu a ce-rimônia de entrega do Nobel da Paz que foi dividido pelos dois anos passado. Uma curiosidade é que somente a premiação do Nobel da Paz acontece na Noruega, já que os demais “prêmios Nobel” são entregues em Estocolmo, Suécia, país de origem do seu idealizador Alfred Nobel. Nas proxi-midades da Karl Johans Gate, em direção à baía de Oslo, o prédio da Prefeitura e o do Nobel Peace Centre completam o tour do Nobel da Paz. No prédio da Prefeitura, que acontece a cerimônia de entrega do prêmio, é possível fazer uma visita gratui-ta. Já a visita ao Nobel Peace Centre é paga, mas, como era de desconfiar, vale muito à pena. Esse prédio não somente abriga a sede do comitê que avalia e decide sobre o prêmio Nobel da Paz, como tam-bém têm uma mostra permanente sobre a história do prêmio, seus ganhadores, um museu dedicado à vida do sueco Alfred Nobel, além de exposições periódicas ao decorrer do ano.

As muitas opções de restaurantes, ba-res e lojas de grandes marcas estão locali-zadas a partir do meio da Karl Johans Gate, onde o acesso passa a ser exclusivo aos pedestres. É mais no miolo da famosa rua que também está localizada a charmo-sa Catedral de Oslo. Apesar de registros de que a cidade foi fundada em 1048 (sofreu um grande incêndio em 1654, sendo to-talmente reconstruída) e ainda possuir muitos prédios antigos, Oslo também é

PALáCIO REAL

CAtEDRAL DE OSLO

FORtE AkERShuS

NORSk FOLkEMuSEuM

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Viagem

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201556

símbolo de modernidade. O melhor exemplo da moderna arquitetura fica por conta do prédio da Ópera de Oslo (Ope-rahuset), que fica ao final da Karl Johans Gate, em direção ao porto. Inaugurado em 2008, o desenho de linhas retas do Operahuset convida seus visitantes à ex-plorarem totalmente o prédio por suas la-deiras laterais que levam do mar ao seu topo e, de lá, têm-se uma das mais encan-tadoras vistas do Fiorde de Oslo do centro antigo e dos prédios modernos. Outra atração localizada à beira mar é a fortaleza Akershus, construída para proteger o por-to, e que é extremamente bem conservada.

Não muito longe das principais atrações do centro, localizado na pe-nínsula de Bygdøy, ficam o Museu do Navio Viking, que exibe três embarcações originais – Oseberg , Gokstad and Tune –; o Museu Fram, construído especialmente para abrigar o navio Fram e contar a histó-ria dos exploradores nórdicos, e o imper-dível Museu do Folclore Norueguês ou Norsk Folkemuseum. Fundado em 1894, este último é o maior museu de história cultural da Noruega e um dos maiores museus a céu aberto da Europa. O Museu do Folclore impressio-na não somente por reunir artefatos de

todo país, mas, também, casas e edifícios que foram transportados para o local com intuito de ter em um só local elementos que representassem como as pessoas de diferentes regiões, épocas e classes sociais da Noruega viviam a partir de 1500 até o presente. O museu ainda abriga cinco prédios medievais, dos quais o mais importante, e antigo, é prédio da Igreja Gol Stave, que data de 1200, é totalmente feito em ma-deira e entalhado à mão. Tanto cui-dado em colocar num só local tantos elementos históricos já ganha a ad-

miração dos visitantes. No entanto, o encantamento é extrapolado quan-do, por curiosidade, abrimos uma das portas das antiguíssimas casas de madeira, cujos telhados são re-pletos de grama, e, sem esperar, é possível presenciar atores replican-do o dia a dia dos tempos antigos seja tocando instrumentos ou termi-nando de assar o kringla, pão doce norueguês, que é oferecido aos visi-tantes deixando na memória um sa-bor de quero mais e a promessa de voltar a este país fascinante.

PRéDIO DO PARLAMENtO

OPERA hOuSE

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escuridão sim, mas com muito brilho, segurança e responsabilidadepor Mônica Fonseca pinho, especial para plurale de stavanger, noruega

Para quem aterrissa em solo viking no Verão, quando o sol nasce às 5 da manhã e só se põe às 23h30min, tudo parece uma festa! Mas os meses vão passando e quando chega Novembro a gente se dá conta que o dia ficou curtinho - é o tal período da “Escuridão”, que só vai acabar no final de

Fevereiro. Até então, o sol nasce às 9 horas e se põe entre 15 e 16 horas aqui em Stavanger, no sudoeste da Noruega.

Por isso, os noruegueses se preparam com bastante antecedência para os meses de chuva, neve e pouca luz. Já no Outono comecei e ver a movimentação. As pessoas estocam lenha para as lareiras, tomam muita vitamina D e ômega 3 para evitar a depressão causada pela au-sência prolongada da luz do sol, trocam os pneus do carro pelo jogo próprio para neve e gelo e compram muito líquido anti con-gelante para os para-brisas dos carros e as caçambas de sal são abastecidas (para descongelar o gelo das estradas e ruas).

Além disso, existem campanhas de segurança para fazermos uso de roupas e acessórios reflexivos. Não importa se está escuro, chovendo ou nevando, os noruegueses mantém a sua rotina nor-malmente. Nada disso é problema desde que observadas as “regras do Inverno”: se você é um ciclista, muita luz na retaguarda e capas reflexivas para as mochilas. Se gosta de correr, caminhar ou mes-mo se está na rua, utilize sempre as pulseiras e tornozeleiras refle-xivas e ainda os acessórios reflexivos afixados nas mochilas. E pra não escorregar no gelo das trilhas e calçadas, existem umas garras próprias para tênis e sapatos (ice greepers).

Já para as crianças que saem pela manhã das escolas pra to-mar frisk luft (ar fresco) nos parques, é obrigatório o uso dos coletes. Eles parecem uns bonequinhos!

O mesmo acontece com os trabalhadores de rua, todos com roupas especiais para o frio e coletes reflexivos para se tornarem bem visíveis a qualquer hora do dia. E não seria diferente com os animais - cães e cavalos da guarda montada.

É bem verdade que no Inverno temos tendência a hibernar, prin-cipalmente nas casas norueguesas, lindos chalezinhos de madeira, bem equipados com aquecedores e lareiras pra driblar o frio. Dá vontade de ler todos os livros pendentes e assistir a todas as séries de TV, acompanhadas de chocolate quente e guloseimas pecaminosas.

Mas a vida segue lá fora...mesmo com os temporais, nevascas, fortes ventos e breves e raras aparições do astro rei. O espírito de luta e força do povo norueguês é um exemplo para todos os imigrantes.

Apesar de toda a escuridão, quem não se sente iluminado?

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ISABELLA ARARIPEP elas Empr esas

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O Diálogo Jovem, projeto da Fetranspor Social, co-meçou 2015 com várias novidades: cursos, lança-mento da plataforma digital, encontros e visitas às empresas, além de mais jornais produzidos pelos jovens sobre temas importantes para a mobilidade.

Entre janeiro e fevereiro foram oferecidos aos jovens dois cursos sobre comunicação que podem apoiá-los nas atividades nas em-presas, nos meios onde estão inseridos e na vida: um sobre a in-fluência da comunicação no dia a dia e outro sobre jornalismo cidadão. Ambos tiveram como objetivo fornecer ferramentas para argumentação estratégica sobre mobilidade e valorização do transporte público.

O projeto Diálogo Jovem sobre Mobilidade foi idealizado pela área de Responsabilidade Social da Fetranspor em 2012 diante da necessidade de ouvir a voz dos jovens de diferentes áreas do Estado do Rio de Janeiro. O objetivo é dar à juventude a oportunidade de dialogar e relatar experiências através de uma visão positiva do sistema de transporte. Por meio de dinâmicas

O Grupo Boticário está entre as empresas mais susten-táveis do país, segundo o Prêmio Época Empresa Verde – iniciativa que premia as melhores compa-nhias na preservação do meio ambiente – divulgado em dezembro de 2014. A organização foi Destaque

Especial no prêmio, com a iniciativa de redução do consumo de energia elétrica na planta de São José dos Pinhais e pela compra de crédito de logística reversa da BVRio.

“Para o Grupo Boticário, a sustentabilidade permeia todas nossas decisões e processos, desde a pesquisa e desenvolvimento de nossos produtos aos processos de logística reversa, e estar neste prêmio é mais um exemplo que estamos no caminho certo para a manutenção do negócio de forma que contribua para a preserva-ção dos recursos naturais do planeta”, afirma a gerente de susten-tabilidade do Grupo Boticário, Malu Nunes.

Grupo Boticário é destaque no prêmio época empresa Verde

A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janei-ro enviou ao governador do Estado, Luiz Fernando Pezão, no dia 24 de fevereiro, sugestões de medidas para minimizar as consequências da crise hídrica, e preparar a população e as indústrias para o enfrenta-

mento de um período prolongado de escassez.O setor industrial, responsável por 827 mil empregos diretos,

já vem fazendo sua parte: nos últimos dois anos, 56,7% das in-dústrias fluminenses adotaram ações de racionalização do uso

curso de comunicação para integrantes do diálogo Jovem

participativas, o programa traz os jovens ao debate para que dis-cutam o tema junto com diversos grupos e proponham ideias para as diferentes situações que vivenciam.

FirJan lista medidas para minimizar a crise hídrica e seus impactos na indústria fluminense

água, o que levou a uma redução de 25,6% no gasto de água nesse período. Os dados são de uma pesquisa recente realizada pela FIR-JAN.

Desde o início do ano passado, o volume de água dos quatro reservatórios localizados no Rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de 75% do estado do Rio, vem diminuindo e ame-aça o fornecimento constante de água para mais de 12 milhões de pessoas e mais de 3.800 indústrias, somente no território flumi-nense.

dIVulGAção

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ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA [email protected]

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OColetivo Coca-Cola  está com inscrições abertas para o curso de formação na área de varejo no Rio de Janeiro. De-zenove unidades estão ofere-

cendo, ao todo, 2.134 vagas. Para se inscre-ver é preciso ter entre 15 e 25 anos e concluído ou estar cursando o ensino mé-dio. Os jovens interessados podem fazer a pré-inscrição no site www.coletivococaco-la.com.br, onde é possível conhecer o passo a passo para efetivar a matrícula. O curso

Segundo dados do IBGE, até 2008 o Brasil possuía 26 milhões de pessoas com alguma deficiência ou com mobilidade reduzida. Aprofundando-se nes-ta questão, o projeto Vida sem Barreiras, da Uni-versidade Veiga de Almeida (UVA), iniciou um

estudo para melhorar o cotidiano de diversos grupos. Atu-almente, a equipe desenvolve pesquisas para sugerir solu-ções aos portadores de nanismo. O objetivo é analisar e promover um levantamento das principais dificuldades que um anão possui no seu dia a dia, principalmente em casa e no trabalho. A partir disso, desenvolvem-se suges-tões de estratégias que podem diminuir tais dificuldades, como roupas e casas adaptadas.

Além de Design de Moda, a área de Design de Interio-res contribui nessa inclusão dos afazeres diários. Alguns artefatos vêm sendo testados para permitir que pessoas com nanismo tenham mais mobilidade e independência em suas casas e em quaisquer outros espaços físicos. O Vida sem Barreiras existe há oito anos e a primeira linha de pesquisa foi em favor dos idosos. Mais informações: www.vidasembarreiras-br.blogspot.com .

coca-cola abre mais de 2 mil vagas para curso de varejo no rio tem duração de dois meses e novas turmas iniciando a cada três meses.

O  Coletivo Varejo  capacita  jovens e mulheres de comunidades urbanas de baixa renda e os encaminham para o mercado de trabalho formal. Mais do que capacitação, o Coletivo Varejo busca transformação social e aumento de autoestima. Ao final do curso, os jovens são direcionados para processos seleti-vos em empresas parceiras da Coca-Cola ou podem buscar colocação profissional em qualquer empresa do mercado. 

universidade Veiga de almeida apoia o projeto Vida sem Barreiras

adequação de apartamento para casal apenas um deles é portador de nanismo

Para celebrar os 450 anos do Rio de Janeiro, as bicicle-tas do Bike Rio, projeto apoiado pelo Itaú, amanhe-ceram floridas neste domingo, dia 1º de março. Nas cestas das cerca de 2.500 laranjinhas foram coloca-dos buquês de flores brancas e um cartão com uma

mensagem de parabéns ao Rio. “Essa ação foi uma forma de homenagear a cidade e seus 450 anos. O Rio foi onde inicia-mos, em 2011, nosso projeto de mobilidade urbana e que hoje

está presente em outras seis regiões. Desde o início, os cariocas sempre olharam o Bike Rio com muito entusiasmo e nos rece-beram de braços abertos. Investir em mobilidade urbana faz parte da nossa estratégia de transformar o mundo das pessoas para melhor”, diz Luciana Nicola, Superintendente de Rela-ções Institucionais e Governamentais do Itaú Unibanco. A ação, desenvolvida pela agência Africa, contou com a Flores Online como parceira.

com bikes e flores, itaú celebra os 450 anos do rio

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Sustentabilidade Tecnológica

contemporâneo é a melhor palavra para expressar a vida humana. e, neste sentido, não podemos deixar de citar as tecnologias como aliadas indispensáveis, derivando de processos que nos legaram o desenvolvimento sem volta –  para o Planeta e para os humanos.

É certo que me refiro a tecnolo-gias que tiveram o condão de unificar todas as sociedades em diferentes pontos do Planeta; ou seja, criaram um Mundo

Globalizado.Traduzido em parafusos, chips, fios,

peças de metais raros ou comuns, o fato é que o desenvolvimento e aplicação de tan-tos materiais dentro de uma grande e complexa estrutura nos leva concomitan-temente à junção de ideias, estudos e de novas tecnologias, de modo a permitir a interação, com a instantânea comunica-ção, deslocamentos e conhecimentos, que traduzem em passado, rapidamente, todos os dias quando um técnico, cientista, pes-quisador, descobre ou inventa algo novo para o presente e para o futuro. Mas den-

tro dessa nova cadeia evolutiva há uma preocupação: como tornar a tecnologia

sustentável ?

sustentabilidade tecnológica é a maneira mais correta

e viável de Preservação Ambiental, em todos os seus contextos, ao utili-zar os meios de monito-ramento via satélite, as transmissões de infor-mações em tempo real e o intercâmbio com técnicos e conhecedores do mundo inteiro para

trocas de conhecimentos. Mais que adequação, é

uma necessidade que se im-põe para que o Meio sobreviva.Num planeta habitado por se-

res classificado como Humanos, e que ao longo da história vem demons-trando que para sobrevivência e perpetua-ção da sua espécie, tem-se a necessidade do usufruto dos Recursos Naturais exis-tentes na Terra, é indispensável se pensar em sustentabilidade.

Assim, com a evolução natural da raça humana, houve também o crescimento geométrico da população que, sem pro-gramação, produziu um preocupante défi-cit na reserva de recursos naturais. A crise hídrica que assistimos hoje em todo o Bra-sil e em outros lugares do mundo (como o estado da Califórnia, nos EUA, e áreas desérticas que aumentam) acionam o Si-nal Vermelho para uma urgente necessida-de de reavaliarmos os recursos naturais e seu uso, em nível planetário.

É imperioso a contabilização dos re-cursos finitos e a readequação do consu-mo de matérias-primas básicas, para sus-

carla Martins

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Sustentabilidade Tecnológica

tentar o conforto da vida moderna. Sintonizando-se com o mundo moderno, é obrigatório a todo ser humano conscien-te ‘fazer mais com menos’. Mais produti-vidade, mais reutilização de materiais e menos, muito menos extração de recursos naturais.

Seria tudo uma questão de “vontade política”, então ? Vontade somente ? Apenas com esta palavra não seria possível salvar nosso Meio Ambiente, seja o Terrestre ou o Espacial. O que vai resolver são ações práti-cas da Sociedade Global aliadas às Tecnolo-gias. Isto sim deve ser a melhor opção para as Degradações Naturais ou Antrópicas.

As tecnologias servem de alicerces para tomadas de decisões, pois conseguem de-monstrar fatos e trazer informações em tempo real, prevenindo situações que de alguma forma poderiam ser traduzidos em resultados positivos ou negativos para a Sociedade, não importando seu grau de classificação.

Viver ou sobreviver? Este é ‘um dile-ma’ que em algumas regiões do planeta interfere diária e diretamente na vida das pessoas. Muitos seriam os exemplos: vul-cões, furacões, tempestades, maremotos, contaminações diversas, desmatamentos, poluição, lixos espaciais, degradação de nascentes, resíduos urbanos, resíduos ele-trônicos, enfim entre muitos outros, inú-meras variáveis podem colocar em risco a qualidade de vida do ser humano.

Qualidade é a fonte máxima que um ser humano precisa para garantir uma lon-gevidade, neste caos global desenfreado, que vem diariamente interferindo na vida psicológica e física, resultando numa So-ciedade com desequilíbrios emocionais li-gados diretamente ao meio em que vivem.

O advento das novas tecnologias permi-tiu a empresários, governo, entidades e usu-ários criar uma rede tecnológica, propician-do algumas vertentes entre o bem e mal.

A regulamentação seria uma barreira que hoje devemos nos atentar, visto que muitas destas tecnologias ainda não estão definidas legalmente, a exemplo do DRO-NES, nossos ‘espiões’ urbanos e rurais, criados para dar amplitude aos olhos hu-manos. Hoje em dia segue criando polê-micas e dúvidas quanto a real utilização deste equipamento, que além da sua clara utilização para o monitoramento em gran-des áreas é muitas vezes perigoso também.

Poderíamos até começar a pensar em segurança pública tecnológica, e como atender aos requisitos legais sem ferir a Constituição Federal no que segue:

‘Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garan-tindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros resi-dentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...’

Como devemos unificar o Meio Am-biente Digital com os Direitos básicos para com a sociedade e permitir que este desenvolvimento possa ser utilizado por todos com segurança?

Uma questão muito interessante a ser abordada na tecnologia é o comportamen-to humano, como as pessoas reagem fren-te a estas inovações tecnológicas, como por exemplo a cyberfobia (medos desen-volvidos por computadores) e technoes-tress (falta de habilidade para acompanhar as evoluções tecnológicas), como trabalhar com o psicológico de uma sociedade cheia de costumes e alguns pré-conceitos, mas que necessita de inserção em um Globali-zado tecnológico.

O humano poderá atingir o status de um Ser intimamente sustentável visto que a tecnologia foi transportada para dentro do nosso corpo, seja através dos já conhe-cidos transplantes que utilizam vários ma-teriais ou como a última tecnologia inven-tada os chips.

Isto mesmo !!! Homens, mulheres e crianças já são “chipados”, com materiais criados para rastreabilidade, segurança e monitoramento em tempo real.

As indagações que se seguirão são de ordem moral, ética e legal acerca do meio em que estamos inseridos. O desafio agora é reunir as premissas espirituais, tribais e sentimentais em único chip que nos trará mais conforto e adaptabilidade à vida mo-derna, sem gastar o planeta de forma mes-quinha e exagerada.

Carla Martins é colunista de Plurale. Comendadora, Presidente da Comissão de Ítalo Brasileira para desenvolvimento Jurídico Ambiental, Mestranda na área de Direito Ambiental .

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Vida Saudável

PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201562

Já ouviu falar em açúcar de coco? Esta é a novidade em lojas de produtos natu-rais. Segundo nutricionistas, é mais nutri-tivo e saudável que os outros adoçantes, possui elevada quantidade de potássio, magnésio, zinco e ferro, fonte natural de vitaminas B1, B2, B3 e B6, além de seu índice glicêmico (Gi=35) ser muito mais baixo que o açúcar de cana (Gi=68). O produto pode ser usado em substituição ao açúcar em receitas de doces, bolos etc, apresentando semelhança física com açú-car mascavo.

O Vegfest (5º Congresso Vegetariano Brasileiro) ocorre-rá em Recife nos dias 23 a 26 de setembro de 2015 e já conta com a confirmação de um dos maiores ícones mundiais do movimento de direitos dos animais: Tom Regan.

Tom Regan, hoje com 76 anos, é professor emérito de fi-losofia na North Carolina State University e tido como o pai da filosofia dos direitos animais. A publicação de seus livros “The Case for Animal Rights” (1983) e “Jaulas Vazias” (2005) foram marcos imprecedentes para o movimento de direi-tos dos animais e trouxeram atenção para o tema em inúmeros meios acadêmicos e sociais. Em alguns dos seus estudos, Regan argumenta que animais não-humanos são “sujeitos de uma vida”, tais quais os humanos, no sentido de que sua vida importa para eles.

Boa dica para as mães que estão cansa-das de só encontrar comidas industrializa-das e pouco nutritivas para seus bebês. Pensando naqueles que não têm tempo de cozinhar e desejam alimentos de qualida-de para seus filhos, Rafael Almeida e sua mãe, Dulce Almeida, fundaram a loja vir-tual Papinha Gourmet (www.papinha-gourmet.com.br). O site vende papinhas caseiras feitas com produtos orgânicos no Rio de Janeiro.

Com experiência no ramo de comi-das congeladas, os criadores da Papinha Gourmet já pensavam em entrar para o segmento infantil. A ideia concretizou-se quando Rafael soube que sua esposa esta-va grávida da Bruna, hoje com um mês de vida. “Queria garantir que minha filha se alimentasse somente com produtos saudáveis, livres de agrotóxicos, conser-vantes ou corantes”, conta o empreende-dor, que passou a produzir e comerciali-zar papinhas no início do ano.

Saboroso, exótico e ainda ajuda a queimar calorias. Que tal? O hit do momento para vários chefs é o alho negro que tem sido utilizado para temperar e elaborar saladas e risotos. O alho negro ajuda no processo de perda de gordura. Nutricionistas explicam que uma das principais características dele, é o au-mento da temperatura corporal, estimulando o sistema nervo-so, que acelera o metabolismo basal. Com o metabolismo mais acelerado, o corpo é capaz de queimar mais calorias, e conse-quentemente perder mais peso. Quem quiser pode achar o pro-duto pela Internet no site  http://alhonegrodositio.com.br/.

açúcar de coco

hit do momento: alho negro

papinhas orgânicas para

bebês

5º congresso Vegetariano Brasileiro será realizado em recife

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201564

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

cineMa Verde ISABEL CAPAVERDE

em busca da sustentabilidade

O Projeto Setorial FilmBrazil levará dez produtoras brasileiras para participar de reuniões com importantes agências de Nova Iorque e Chicago, nos Estados Uni-dos, a fim de divulgar seus trabalhos no mercado internacional. Realizado pela APRO – Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais em parceria com a Apex-Brasil – Agência Brasileira de Pro-moção de Exportações e Investimentos, a ação é inédita nos Estados Unidos e tem como objetivo promover o país como polo de produção audiovisual.

despertando talentos para a

animaçãoCom patrocínio da Chemtech, criado

pela  Baluarte Cultura  em parceria com o Copa Studio,  o projeto Estúdio Escola de Animação (EEA) quer divulgar a lin-guagem da animação e despertar a atenção de jovens e adolescentes que cursem o ensi-no médio na rede pública de ensino, para um novo universo profissional. Em sua quarta edição, ele chega ao Rio em março onde passará por dez apresentações intera-tivas – batizadas de Animation Shows- de ensino, divulgando detalhes do universo da animação para aproximadamen-te dois mil estudantes. Em seguida, 45 jo-vens serão selecionados através de avaliação de portfólio e entrevistas, para um curso de

formação gratuito, com duração de cinco meses, duas vezes por semana, carga horá-ria de 160 horas, em três turmas diferentes. As aulas ficarão a cargo de profissionais do mercado que em oficinas práticas ensina-rão aos alunos técnicas e o processo de pro-dução de um vídeo de animação. Nesse período, cada turma realizará pelo menos um curta de três minutos, em média.

documentário para conquistar veganosA pegada ecológica causada pela agri-

cultura animal é o tema de “Cowspiracy”, documentário realizado pelos americanos Kip Andersen e Keegan Kuhn. O título é um trocadilho entre as palavras vaca (cow) e conspiração (conspiracy). A partir de da-dos do Worldwatch Institute que revelam que 51% das emissões de gases responsá-veis pelo efeito estufa são causadas pela pecuária e atividades afins, os cineastas questionaram vários ambientalistas a res-peito. ONGs como o Greenpeace tiveram que responder o motivo de não darem atenção ao assunto. É possível assistir o do-cumentário no site http://www.cowspi-racy.com/ pagando a quantia de US$ 9,95.

inscrições para festival de cinema

ambiental em portugal

O CineEco’2015 – 21º Festival Interna-cional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, Portugal que acontece dos dias 10 a 17 de Outubro de 2015, está com as inscri-ções abertas até 1 de junho para produções realizadas em 2014 ou em 2015. As compe-tições ocorrem nas seguintes categorias: In-ternacional de Longas e Médias-Metragens (não inferiores a 40 minutos); Internacional de Curtas-Metragens e séries e reportagens televisivas; Lusófona para Longas, Médias e Curtas-Metragens, incluindo uma categoria Regional; Nacional e Internacional de docu-mentários, séries e reportagens, produzidas por canais de televisão. Sempre dentro da temática ambiental. Interessados em obter mais informações podem entrar em contato pelo e-mail [email protected].

desafio aos cineastas do mundoRealizado no Reino Unido, Colches-

ter Film Festival hospeda o Film Challen-ge 60hr que é quase uma gincana para cineastas de todo mundo. Aqui também o objetivo é descobrir novos talentos. Eles são desafiados a escrever, filmar e editar um filme de no máximo cinco minutos em apenas 60 horas. Aos realizadores é

dado um título, uma linha de diálogo ou uma proposta de ação que deve ser inclu-ída ao filme. O gênero é livre. O Fil-mChallenge acontece de 2 a 5 de outubro de 2015. Finalistas e vencedores são pre-miados. Os dez melhores filmes serão exi-bidos no Colchester Film Festival no dia 25 de outubro de 2015.

FaltaiMaGeM

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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 201566

I m a g e m

A morte do jovem surfista campeão Ricardo dos Santos, de 24 anos, em Palhoça, na Grande Florianópolis, em janeiro, por um policial militar durante uma discussão, chocou não só moradores locais mas toda a comunidade que pratica o esporte. Especialista em ondas grandes e tubulares, o atleta, que nasceu e cresceu na Guarda do Embaú, con-

quistou diversos títulos. Foi assassinado, durante uma discussão, com três tiros – um pelas costas- por um policial militar na frente de seu avô. Surfistas brasileiros e de outras nacionalidades prestaram uma homenagem ao colega no Havaí. A foto de PE-dRO TOjAl, dA REvISTA SuRFAR, gentilmente cedida para os leitores de Plu-rale, mostra esta bela e triste cerimônia.

Foto: pedro tojal/revista surfar

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