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PODER JUDICIÁRIO - conteudojuridico.com.br · AÇÃO MONITÓRIA NOTA PROMISSÓRIA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PAGAMENTO PARCELADO DUAS AÇÕES LITISPENDÊNCIA INOCORRÊNCIA COBRANÇA

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PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2013.0000222885

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0021361-58.2009.8.26.0196, da Comarca de Franca, em que é apelante FERNANDA CRISTINA GARCIA, é apelado FABIO MENDES FERREIRA.

ACORDAM, em 20ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores REBELLO PINHO (Presidente sem voto), ÁLVARO TORRES JÚNIOR E CORREIA LIMA.

São Paulo, 8 de abril de 2013.

Maria Lúcia PizzottiRELATOR

Assinatura Eletrônica

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PODER JUDICIÁRIO 2Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Seção de Direito Privado - 20ª Câmara

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196VOTO 5823

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196 - CRA

APELANTE: FERNANDA CRISTINA GARCIA

APELADO: FÁBIO MENDES FERREIRA

COMARCA: FRANCA

MAGISTRADO PROLATOR DA DECISÃO: DR. HUMBERTO ROCHA

(cra)

EMENTAAÇÃO MONITÓRIA NOTA PROMISSÓRIA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PAGAMENTO PARCELADO DUAS AÇÕES LITISPENDÊNCIA INOCORRÊNCIA COBRANÇA DE PARCELAS DISTINTAS1 Consoante prescreve o parágrafo primeiro do artigo 301, do Código de Processo Civil, “verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada”. E de acordo com o parágrafo segundo do citado artigo, “uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido”. E ainda consoante estabelece o parágrafo terceiro, do artigo 301, “há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso”.2 Não há litispendência se o mesmo autor ajuíza ação contra o mesmo réu com lastro na mesma nota promissória, mas cobrando em cada ação, parcelas diferentes do mesmo débito. Contudo, apesar de afastada a extinção por litispendência, os autos das duas ações devem ser apensados, para aproveitamento da instrução, evitando-se a prolação de decisões conflitantes.RECURSO PROVIDO.

Trata-se de recurso de apelação interposto contra a r. decisão de fls. 61/65, cujo relatório se adota, que julgou extinto o feito, sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, inc. V c.c. art. 268, ambos do CPC. Por consequência, condenou a demandante ao pagamento das custas e honorários advocatícios, arbitrados em R$ 1.000,00 e, ao final, condenou a autora ao pagamento das penas por litigância de má-fé, em quantia equivalente a 20% sobre o valor da causa.

Entendeu, o magistrado a quo, que restou evidenciado o ajuizamento de duas ações idênticas, consoante se verificado do processo nº 1383/09, com a diferença de que um deles foi instruído com o documento original e o outro com fotocópia. Disse que havendo outra ação idêntica em curso na mesma Vara, configurado caso de litispendência, o que autoriza a extinção da segunda demanda, ressaltando que se trata de matéria de ordem pública que pode ser conhecida de ofício. Por fim, asseverou ter se presenciado a litigância

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PODER JUDICIÁRIO 3Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Seção de Direito Privado - 20ª Câmara

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196VOTO 5823

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196 - CRA

de má-fé, uma vez que a autora ignorou a lei com intuito exclusivo de enriquecimento ilícito.

Irresignada, apelou a demandante vencida.

Aduziu, em suma, que a decisão recorrida não se mostrou acertada, pois foi o apelado quem agiu com má-fé ao preencher a nota promissória da maneira que mais lhe beneficiava, descaracterizando, portanto, o título. Disse que o documento representativo do crédito decorrente de prestação de serviço odontológico foi dividido em valores e vencimentos distintos, razão pela qual foram ajuizadas várias ações, de modo que apesar de aparentemente representarem o mesmo crédito, em verdade envolve o pagamento de parcelas de um mesmo título, devendo permanecer as ações em andamento, afastando-se a extinção. Ressaltou que cópias autenticadas são perfeitamente aceitas para ajuizamento de ação monitória, não havendo dúvida da existência do documento e de sua validade. Negou a existência de litispendência, pois apesar de haver idênticos credores, devedores e causa de pedir, os objetos são diversos, evidenciando-se o desmembramento do título original. Argumentou, assim, pela reforma da r. decisão, dando-se provimento ao recurso interposto.

Processado o apelo com o recolhimento do preparo respectivo, não vieram contrarrazões, sendo os autos posteriormente remetidos a este Tribunal.

É a síntese do necessário.

Cuida-se de ação monitória por meio da qual pretende a autora receber valores decorrentes de prestação de serviços odontológicos. O feito foi extinto sem resolução do mérito em razão de litispendência.

Pelo que se denota da leitura da petição inicial, Fernanda disse ser credora de Fábio pela quantia TOTAL de R$ 15.050,00, em razão do tratamento odontológico e implante de dentes da mãe deste último. Ressaltou que o valor deveria ter sido pago de forma parcelada, ou seja, uma parcela de R$ 3.050,00 e outras quatro parcelas de R$ 3.000,00, sendo que por meio desta ação pretendia receber apenas R$ 6.000,00, uma vez que os demais valores já seriam objeto de cobrança em outra ação.

Esta monitória está alicerçada em nota promissória original, no valor de R$ 12.000,00, constante de fls. 14, e a ação monitória ajuizada anteriormente também foi lastreada na mesma nota promissória, esta em forma de cópia autenticada (fls. 111).

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PODER JUDICIÁRIO 4Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Seção de Direito Privado - 20ª Câmara

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196VOTO 5823

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196 - CRA

De fato, a autora é portadora de uma nota promissória no valor de R$ 12.000,00 e não se sabe por qual razão ajuizou duas ações pretendendo receber R$ 6.000,00 em cada uma. Efetivamente se mostra credora da quantia, mas a técnica utilizada por seu patrono de ajuizar demandas distintas para recebimento do valor afasta-se da lógica e das regras processuais em vigor. Isto porque com o ajuizamento de duas ações distintas fundadas no mesmo fato, no mesmo título e envolvendo as mesmas partes pode ser causa de prolação de decisões conflitantes que inviabilizarão o próprio recebimento do crédito pretendido.

Veja-se que a primeira ação ajuizada já se encontra, inclusive, em fase de instrução, havendo discussão acerca da própria responsabilidade pelo pagamento, uma vez que há alegação de má-prestação do serviço de odontologia, de modo que é inviável a extinção desta segunda ação e a posterior determinação de retificação do pedido daquela demanda, pois já estabilizada a lide. Por outro lado, descabida a extinção desta demanda, obrigando a credora a ajuizar nova ação para reaver crédito já conhecido e objeto de uma monitória em andamento. Assim, em atendimento aos princípios da celeridade e razoável duração do processo, pertinente se mostra o recebimento da petição inicial da segunda monitória, determinando-se a citação do réu, para depois a ação ser apensada à primeira, seguindo-se o andamento na ação principal para julgamento conjunto.

De fato, não pretende a autora receber duas vezes o mesmo crédito, mas pretende dividir um único crédito para recebimento de parcelas em duas ações distintas, o que é pouco razoável e se afasta da boa técnica, mas não caracteriza litigância de má-fé, tampouco litispendência.

Consoante prescreve o parágrafo primeiro do artigo 301, do Código de Processo Civil, “verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada”. E de acordo com o parágrafo segundo do citado artigo, “uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido”. E ainda consoante estabelece o parágrafo terceiro, do artigo 301, “há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso”.

No caso, uma ação tem por objeto o recebimento de algumas parcelas e outra demanda visa ao recebimento das demais. Assim, apesar da falta de técnica processual por parte do i. patrono que distribuiu duas demandas para receber apenas um crédito (que poderia ter sido objeto de uma só ação, até mesmo em observância à celeridade), não se verificou litispendência, de modo que o recurso comporta acolhimento.

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APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196VOTO 5823

APELAÇÃO Nº 0021361-58.2009.8.26.0196 - CRA

Assim, deve ser afastada a sentença de extinção, para que seja recebida e processada a petição inicial da ação monitória. Entretanto, depois de efetivada a citação e oferecida defesa, os autos desta monitória deverão ser apensados aos autos da ação anteriormente distribuída, para aproveitamento dos atos de instrução realizados naqueles autos e julgamento conjunto, em observância aos princípios da celeridade e razoabilidade e também com o fim maior de evitar a prolação de decisões conflitantes e causar dupla oneração das partes para instruir dois processos que possuem iguais fundamentos.

Considerando que em consulta realizada no sítio deste Tribunal disponível na rede mundial de computadores verifica-se que aqueles autos encontram-se no aguardo de julgamento de recurso de apelação pendente de análise pela 28ª Câmara de Direito Privado (III), procedam-se aos atos de citação e defesa.

Destarte, DOU PROVIMENTO ao recurso, para o fim de:

a) Afastar o decreto de extinção, determinando o recebimento da petição inicial, com a citação do réu;

b) Decorrido o prazo de resposta (oferecida esta ou não), os autos deste processo deverão ser apensados ao processo de número 196.01.2009.016234-8, nº ordem 1383/2009, para seja proferida sentença em observância ao conjunto probatório. No caso de o feito não ter retornado do Tribunal, onde se encontra no acervo para aguardo do julgamento de apelação, aguarde-se.

Maria Lúcia Pizzotti Relatora

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