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Política Nacional de Atenção Integra a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional - Cenário Nacional I FORTVISA – Seminário de Fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilân Sanitária (SNVS) Brasília, 28 de Maio de 2015

Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional - Cenário Nacional I FORTVISA – Seminário de Fortalecimento

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Política Nacional de Atenção Integral a Saúde das Pessoas Privadas de Liberdadeno Sistema Prisional - Cenário Nacional

I FORTVISA – Seminário de Fortalecimento do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS)

Brasília, 28 de Maio de 2015

Ementa:Sistema prisional e unidades socioeducativas

 Hoje, o Brasil conta com um sistema prisional e com unidades socioeducativas muito distantes do ideal sanitário almejado pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). A superlotação, a precariedade das condições sanitárias, problemas no atendimento médico e na alimentação, por exemplo, transformam este assunto em um dos pontos centrais das ações da vigilância sanitária. No Brasil, existem mais de 600.000 detentos em unidades prisionais e, em torno de 20.000 adolescentes em unidades socioeducativas, o que demanda uma atenção sanitária, que vai muito além da assistência médica estrita. Essas pessoas precisam da garantia da salubridade nos espaços onde comem, dormem, descansam e se socializam diariamente. Garantir mínimas condições de saúde para o usuário do sistema prisional ou das unidades socioeducativas exige uma ação intersetorial, uma equipe multidisciplinar e trabalho intercomplementar, que extrapola o campo da vigilância sanitária. O que se pretende nessa mesa é conhecer experiências de quem faz fiscalização sanitária nesses ambientes e ouvir as instituições que participam da discussão desse tema. Algumas perguntas norteadoras para a condução desta mesa: Quais estratégias a Visa pode adotar para a melhoria da eficiência e da eficácia de suas ações nesses ambientes? Quais possíveis parceiros institucionais poderiam participar dessas estratégias, contribuindo com as ações de Visa?

1. A Constituição Federal, em seu Art. 196 assevera que “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

2. Tal preceito é complementado pela lei 8.080/90 que estabelece princípios e diretrizes para a saúde em nosso país, em seu artigo 2º: “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”.

3. Mediante a criação do SUS pela supracitada Lei, regulamentada pelo decreto 7.508/11 e pela NOAS/96 estabeleceu-se a responsabilidade do SUS pelo âmbito da saúde e uma divisão de tarefas no que tange ao fornecimento de ações de saúde, vigilância e assistência farmacêutica, de maneira que o sistema básico de saúde fica a cargo dos Municípios (ações, vigilância e medicamentos básicos), o fornecimento de ações de média e alta complexidade e os medicamentos classificados como excepcionais compete aos estados federados e ao distrito federal e os medicamentos ditos extraordinários são fornecidos pela União.

4. A Lei 8080/90 indica, claramente, a composição de um sistema único, que segue uma diretriz clara de descentralização, com direção única em cada esfera de governo.

5. Nesse âmbito, foram definidos os papéis das esferas governamentais na busca da saúde, considerando-se o município como o responsável imediato pelo atendimento das necessidades básicas, o estado como responsável pela atenção às necessidades especiais e de caráter hospitalar.

6. Sendo o SUS o titular de obrigações na assistência à saúde, é o responsável pela contratação dos profissionais de saúde que comporão as equipes multiprofissionais de saúde, bem como pela vigilância, assistência laboratorial, farmacêutica e também pela reforma e adequação das estruturas físicas das áreas de saúde, bem como da efetiva inserção da população privada de liberdade na Rede de Atenção à Saúde do SUS.

7. O SUS municipal já é o responsável pela atenção básica de toda a população de seu território. Sem discriminações.

Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;II - garantir o desenvolvimento nacional;III - erradicar a pobreza e a marginalização e

reduzir as desigualdades sociais e regionais;IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de

origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988TÍTULO IDos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democráticode Direito e tem como fundamentos:I - a soberania;II - a cidadaniaIII - a dignidade da pessoa humana;IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;V - o pluralismo político.

Arthur Ernest Ewert

Arthur E. Ewert (1890-1959); também conhecido como Harry Berger, desempenhou funções no escritório da América Latina do Komintern em Buenos Aires e, juntamente com sua esposa, Elisabeth Saborowsky Ewert foram, no fim de 1934, para o Brasil, onde participaram do levante de 1935. Foram presos e barbaramente torturados. Em consequência das torturas ficou louco. Em 1937 foi condenado a 13 anos de prisão. Em 1947 foi autorizado a deixar o Brasil, voltou para a Alemanha onde passou seus o resto de sua vida em um hospital psiquiátrico.

(Harry Berger)

Heráclito Fontoura Sobral Pinto

Fundado nestes imperativos da nossa consciência coletiva é que venho, Exmo. Sr. Juiz, pedir, na qualidade de defensor de Arthur Ernest Ewert ou Harry Berguer, imediatas e apropriadas providências

para que seja ministrado a esse acusado, no presídio onde se acha, um tratamento à altura da sua condição de homem. Basta lançar a vista sobre esse acusado para que se verifique, desde logo, o seu precário estado de saúde. Sua magreza e palidez não deixam de pairar a menor dúvida, a respeito da fragilidade atual da sua saúde a quem quer que o tenha na sua presença. O local que lhe foi designado para presídio é o menos indicado para um homem dominado por essa pobreza fisiológica que acabo de descrever. Esse local é um acanhado vão inferior de uma das escadas que dão acesso ao pavimento superior do Quartel da Polícia Especial. Nestas condições, cabe-me requerer a V. Exa., no exercício do mandato que me foi confiado, que se digne de providenciar não só para um local apropriado a tão rigorosa reclusão, como também para que lhe seja ministrado um tratamento que mostre que nós brasileiros somos aquilo que o Exmo. Sr. Presidente da República disse que constitui a nossa característica por excelência, isto é, um povo “de alma sempre aberta à ternura e aos comovidos anseios de paz e de fraternidade

Urge, assim, que os juízes e tribunais façam dispensar aos detentos, que vivem nas prisões e cárceres, sujeitos à sua ação e fiscalização, um tratamento que os impeça de se considerarem simples animais hidrófobos ou empestados.

Pois bem, Sr. Juiz, os responsáveis atuais pela guarda de Harry Berger parece que atentaram em todas estas ponderações, mas para aplicar-lhe, precisamente, e com conhecimento de causa, o regime oposto ao que deflui destes postulados, hoje universalmente aceitos e proclamados. Metido no socavão do lance inferior de uma das escadas da Polícia Especial, aí passa Harry Berger os dias e as noites, sem ar convenientemente renovado, sem luz direta do sol, e sem o menor espaço para se locomover. Nem cama, nem cadeira, nem banco. Apenas um colchão sobre o lagedo. De alfaias nenhuma notícia. Absolutamente segregado de todo e qualquer convívio humano, a ouvir, de momento a momento, as passadas dos soldados em trânsito pela escada, – sobre a sua cabeça – não pode usufruir nem os benefícios do repouso, nem os do silêncio. Nenhuma visita, nem de amigos, nem de parentes. Proibição de toda e qualquer leitura, quer de jornais, quer de livros.

Tal é, Sr. Juiz, a prisão que destinaram para Harry Berger. Tal é, eminente Magistrado, o tratamento que lhe vem sendo dispensado. Semelhante desumanidade precisa de cessar, e de cessar imediatamente, sob pena de deslustre para o prestígio deste Tribunal de Segurança, que, para bem cumprir a sua árdua tarefa necessita de pautar a sua ação pelas normas inflexíveis da serenidade e da justiça. Tanto mais obrigatoriamente inadiável se torna a intervenção urgentíssima de V. Exa., Sr. Juiz, quanto somos um povo que não tolera a crueldade, nem mesmo para com os irracionais, como o demonstra o decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, cujo artigo 1º dispõe: “Todos os animais existentes no país são tutelados do Estado”.

Legislação - Decreto lei N° 24.645, de julho de 1934

O chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, usando das atribuições que lhe confere o artigo 1. do decreto n. 19.398, de 11 de novembro de 1930, decreta:

Art. 1. - Todos os animais existentes no País são tutelados do Estado.

Art. 2. - Aquele que, em lugar público ou privado, aplicar ou fizer aplicar maus tratos aos animais, incorrerá em multa de Cr$.. e na pena de prisão celular de 2 a 15 dias, quer o delinqüente seja ou não o respectivo proprietário, sem prejuízo da ação civil que possa caber.

§ 1° - A critério da autoridade que verificar a infração da presente lei, será imposta qualquer das penalidades acima estatuídas, ou ambas.

§ 2°. - A pena a aplicar dependerá da gravidade do delito, a juízo da autoridade.

§ 3° - Os animais serão assistidos em juízo pelos representantes do Ministério Público, seus substitutos legais e pelos membros das sociedades protetoras de animais.

Art. 3. - Consideram-se maus tratos:

I - Praticar ato de abuso ou crueldade em qualquer animal;

II - Manter animais em lugares anti-higiênicos ou que lhes impeçam a respiração, o movimento ou o descanso, ou os privem de ar ou luz;

...Art. 16. - As autoridades federais, estaduais e municipais prestarão aos membros das sociedades protetoras de animais a cooperação necessária para fazer cumprir a presente lei.

...

Art. 18 - A presente lei entrará em vigor imediatamente, independente de regulamentação.

Art. 19 - Revogam-se as disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 10 de Julho de 1934,1132. da independência de 1934, 113ª da independência e 46ª da República.

Getúlio VargasJuarez do Nascimento Fernandes Távora

Publicado no Diário Oficial, Suplemento ao número 162, de l4 de julho de 1934.

Estes fatos, que o Suplicante está trazendo, por escrito, ao conhecimento de V. Exa., assumem, neste momento, aspecto de particular gravidade, porque são de molde a prejudicar o valor e a credibilidade da própria palavra oficial. janeiro de 1937

Contexto Prisional595.641 pessoas privadas de liberdade em unidades prisionais

220 mil (34% do total) em SP

Vagas (oficialmente) no sistema prisional: 302 mil Fonte: Geopresidios/CNJ

Em teoria, 1,8 pessoas por vaga; na prática, aproximadamente 11 pessoas por vaga.

Seis unidades brasileiras com medidas do Tribunal Interamericano de Direitos Humanos por violações graves.

Superlotação e violação sistemática dos direitos humanos pelo Estado. Insalubridade generalizada. Emergência sanitária, com prevalência estimada muito alta de doenças

transmissíveis e não-transmissíveis como tuberculose, HIV/aids, sífilis, dermatites, hipertensão, violência. Excesso de mortalidade.

Subfinanciamento e corrupção crônicos. Ausência de informação epidemiológica estratégica. Tortura, tratamentos cruéis e degradantes, desaparecimentos forçados. Processos formativos focados na segurança e pouco focados em inclusão,

ressocialização e direitos humanos. Invisibilização e exclusão.

Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional - PNAISP

1. Extensão de cobertura efetiva do SUS a todas as pessoas privadas de liberdade, independente do ponto em que esteja na trajetória prisional (carceragens de delegacia de polícia, cadeias-públicas/CDPs, Penitenciárias, etc)

2. A pessoa privada de liberdade como titular de direito à saúde integral.3. O SUS como titular de obrigação e de responsabilidade.4. Equipes subordinadas ao gestor municipal, integrando a RAS5. eSUS, prontuário eletrônico, vigilância epidemiológica sistemática.6. Vigilância sanitária do território + VISA estadual7. Educação continuada pela UNASUS8. Pesquisa de âmbito nacional (SENAD/MJ + MS + Universidades) sobre perfil

social, perfil de saúde, uso de drogas e conhecimentos, atitudes e práticas em fase de edital).

9. Oferta rotineira de testagem universal para o HIV com testes rápidos de fluido oral a ser aplicados pelas ONGs, pela Administração Prisional e pelas equipes da Atenção Básica dos municípios e dos estados.

10. Oferta maciça de preservativos.

Suprimiam-nos assim todos os direitos, os últimos vestígios deles. Desconhecíamos até o foro que nos sentenciava. Possivelmente operava nisso uma cabeça apenas [...] Numa perseguição generalizada, éramos insignificâncias, miudezas supressas do organismo social.

Graciliano Ramos, Memórias do cárcere.

Quais estratégias a Visa pode adotar para a melhoria da eficiência e da eficácia de suas ações nesses ambientes?

 Quais possíveis parceiros institucionais poderiam participar dessas estratégias, contribuindo com as ações de Visa?

OBRIGADO !!!

Dr. Francisco Job NetoSISPE/CGGAB/DAB/SAS/MS

[email protected] – 3315 6224