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Luís Manuel da Graça Henriques Política(s) de Saúde no Trabalho: um Inquérito Sociológico às Empresas Portuguesas Tese de candidatura ao grau de Doutor em Saúde Pública na especialidade de Saúde Ocupacional pela Universidade Nova de Lisboa Escola Nova de Saúde Pública. Universidade Nova de Lisboa. Lisboa Janeiro de 2004

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  • Lus Manuel da Graa Henriques

    Poltica(s) de Sade no Trabalho: um Inqurito Sociolgico s Empresas Portuguesas

    Tese de candidatura ao grau de Doutor em Sade Pblica

    na especialidade de Sade Ocupacional pela Universidade Nova de Lisboa

    Escola Nova de Sade Pblica. Universidade Nova de Lisboa.

    Lisboa Janeiro de 2004

  • Lus Manuel da Graa Henriques

    Poltica(s) de Sade no Trabalho: um Inqurito Sociolgico s Empresas Portuguesas

    Tese de candidatura ao grau de Doutor em Sade Pblica na especialidade de Sade Ocupacional

    pela Universidade Nova de Lisboa

    Escola Nova de Sade Pblica Universidade Nova de Lisboa

    Lisboa Janeiro de 2004

  • Lus Graa Poltica(s) de sade no trabalho: um inqurito sociolgico s empresas portuguesas _______________________________________________________________________________________________________________

    _________________________________________________________________________

    De acordo com o disposto no Decreto-Lei n 216/92 de 13 de Outubro de 1992

    e no Despacho Reitoral R/SAc.36/96 de 14 de Agosto de 1996, o presente texto constitui

    a Tese de candidatura ao grau de Doutor em Sade Pblica

    na especialidade de Sade Ocupacional

    pela Universidade Nova de Lisboa.

    A candidatura foi aprovada por deliberao do Conselho Cientfico da Escola Nacional de Sade Pblica

    de 21 de Julho de 1999, tendo os trabalhos decorrido sob a orientao dos Doutores

    Antnio Neves Pires de Sousa Uva, Professor Associado

    da Escola Nacional de Sade Pblica da Universidade Nova de Lisboa

    e Antnio Brando Moniz, Professor Associado com Agregao

    da Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

  • Lus Graa Poltica(s) de sade no trabalho: um inqurito sociolgico s empresas portuguesas ______________________________________________________________________________________________________________

    ______________________________________________________________________________________________________________ ndice

    ndice Dedicatria

    Agradecimentos

    Abreviaturas & Siglas

    Resumo / Abstract / Rsume

    Captulo I Introduo 1

    Captulo II O estado da arte da proteco e promoo da sade no trabalho 9

    2.1. Introduo 9

    2.2. Breve enquadramento histrico da sade no trabalho 10

    2.2.1. Introduo 10

    2.2.2. A emergncia da sade pblica 11

    2.2.3. A proto-histria da legislao sobre a sade no trabalho 11

    2.2.4. Medicina do trabalho ou medicina no trabalho ? 12

    2.2.5. Um sculo de desenvolvimento da SH&ST em Portugal 16

    2.3. Sistema de gesto da sade e segurana no trabalho 20

    2.3.1. A evoluo do conceito e do modelo organizativo 20

    2.3.2. Os servios de SH&ST 23

    2.3.2.1. Introduo 23

    2.3.2.2. Modalidades de organizao e funcionamento 23

    2.3.2.3. Empresas prestadoras de servios e recursos humanos em SH&ST 26

    2.3.3. A situao na Unio Europeia e em Portugal 29

    2.3.3.1. A integrao dos servios de SH&ST 29

    2.3.3.2. Estudos de caso portugueses 30

    2.3.3.3. Cobertura dos servios de SH&ST 31

    2.3.4. Desenvolvimento da SH&ST em Portugal 32

    2.3.4.1. Uma taxa estimada de 40% de cobertura da populao activa trabalhadora 32

    2.3.4.2. Estimativa da cobertura a partir do rcio mdico do trabalho/trabalhadores 35

    2.3.5. Integrar a sade e a segurana dos trabalhadores no sistema de gesto da empresa 37

    2.3.5.1. Qualidade, Ambiente e SH&ST 37

    2.3.5.2. As vantagens do sistema integrado da SH&ST 38

    2.4. Desenvolvimento organizacional e inovao em sade no trabalho 40

    2.4.1. As maiores e as melhores 40

    2.4.2. Supportive (working) environment 43

    2.4.3. A especificidade europeia 47

    2.5. A participao dos trabalhadores no sistema de gesto da SH&ST 49

    2.5.1. Introduo 49

    2.5.2. Um pas com um dfice de participao organizacional 50

    2.5.3. O conceito de participao 51

    2.5.4. Da cooperao co-determinao 53

    2.5.5. Formas de participao 54

    2.5.5.1. Formas indirectas e representacionais 54

    2.5.5.1.1. Conselho de Empresa Europeia (CEE) 55

    2.5.5.1.2. Comisses de trabalhadores (CT) 55

    2.5.5.1.3. Delegado/Comisso sindical 56

    2.5.5.1.4. Representante dos trabalhadores para a rea da SH&ST 57

    2.5.5.1.5.Comisso de SH&ST 57

    2.5.5.1.6. Participao representacional: um balano por fazer 58

    2.5.5.2. Formas directas ou no-representacionais 58

    2.5.5.2.1. Processos de consulta e de delegao 58

    2.5.5.2.2. Os crculos de qualidade 59

    2.5.5.2.3. Os programas de sugestes 59

    2.5.5.2.4. Crculos de sade e segurana no trabalho 59

    2.5.5.2.4.1. Crculos de segurana no trabalho 60

    2.5.5.2.4.2. Crculos de sade no trabalho (CST) 60

    2.5.6. Como participar ? Directa ou indirectamente ? Ou quanto, quando e porqu ? 61

    2.5.7. A participao directa e mudana organizacional 64

    2.5.8. Principais direitos dos trabalhadores em matria de SH&ST 66

    2.5.8.1. Direito informao 66

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    2.5.8.2. Direito formao 67

    2.5.8.3. Direito de representao 67

    2.5.8.4. Direito de consulta 68

    2.5.8.5. Direito de recusar o trabalho 68

    2.5.9. Cooperao ou co-determinao ? Um nvel limitado de participao 70

    2.6. A natureza e a frequncia dos programas e actividades de sade no trabalho 74

    2.6.1. EUA 74

    2.6.1.1. Os wellness programs 74

    2.6.1.2. Confuso semntica e conceptual: WHP versus OSH ? 77

    2.6.1. 3. Exemplos de programas 80

    2.6.1.3.1. O apoio da sade pblica WHP 80

    2.6.1.3.2. Live for Life da Johnson & Johnson 83

    2.6.1.4. Um contexto favorvel 84

    2.6.1.5. tica e sade no trabalho 86

    2.6.2. O papel da Organizao Mundial de Sade 90

    2.6.3. Unio Europeia 91

    2.6.3.1. Um projecto pioneiro 91

    2.6.3.2. Portugal 95

    2.7. A sade da populao trabalhadora 100

    2.7.1. Fontes de informao 100

    2.7.2. Absentismo por doena e acidente de trabalho 101

    2.7.2.1. Morbilidade diferencial no INS 1998/99 101

    2.7.2.2. Segurana Social: sociodemografia da baixa por doena 104

    2.7.2.3. Balano social: O absentismo nas 2 mil maiores empresas 106

    2.7.3. Prevalncia de doenas crnicas 108

    2.7.4. Outros indicadores de sade 109

    2.8. Os principais prompting factors da(s) poltica(s) de sade no trabalho 111

    2.8.1. Controlo dos custos de sade 111

    2.8.2. Filosofia de gesto e cultura de empresa 114

    2.9. Os custos e os benefcios da sade e segurana do trabalho 115

    2.9. 1. Introduo 115

    2.9.2. Os benefcios 115 2.9. 3. Os custos 116 2.9.4. A anlise de custo/benefcio 119 2.9.5. Custos e benefcios da SH&ST: alguns dados internacionais (Japo e EUA) 119 2.9.6. Portugal: dados do Balano Social 124 2.9.6.1. Custos de pessoal 124 2.9.6.2. ndice de SH&ST 127 Captulo III Materiais e mtodos. Populao e amostra 131

    3.1. Introduo 131 3.2. Estrutura e contedo do questionrio 135 3.2. 1. Introduo 135 3.2.2. Seco A (de A1 a A14) 136 3.2.3. Seco B (de B1 a B9) 138 3.2.4. Seco C (de C1 a C2) 139 3.2.5. Seco D (de D1 a D6) 141 3.2.6. Seco E (de E1 a E7) 142 3.3. Modelo de anlise 144

    3.3.1. Variveis independentes 144 3.3.1.1. Sistema integrado de gesto da SH&ST 144 3.3.1.2. Variveis de caracterizao sociodemogrfica e tcnico-organizacional 146 3.3.2. Variveis dependentes 146

    3.3.3. Hipteses de investigao 146

    3.4. Universo empresarial portugus 147 3.4.1. Emprego por sexo e regio (1998) 147 3.4.2. Estrutura das empresas portuguesas 147 3.4.3. As 500 melhores e maiores da Exame (1997) 149 3.4.4. Certificao do Sistema de Qualidade 150

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    3.4.5. O universo do Balano Social (1996-1998) 151 3.5. Populao de referncia: o ficheiro da Dun & Bradstreet (1996) 152 3.5.1. Introduo 152

    3.5.2. Dimenso: volume de emprego e volume de negcio 153 3.5.3. Regio 154 3.5.4. Forma jurdica e controlo accionista 154 3.5.5. Capital social 155 3.5.6. Sector de actividade econmica 155 3.5.7. Actividade exportadora 157 3.5.8. Antiguidade 158 3.5.9. Cargo ou funo 158 3.6. Amostra 159

    3.6.1. Taxa de resposta (A1) 159 3.6.2. Dimenso: Volume de emprego (A5) e volume de negcio 160 3.6.3. Regio 161 3.6.4. Forma jurdica e controlo accionista 162 3.6.5. Capital social 163 3.6.6. Sector de actividade e volume de emprego 164 3.6.7. Sector exportador 166 3.6.8. Antiguidade 167 3.6.9. Cargo ou funo do respondente 168 3.6.10. As melhores e as maiores (Exame 500/97) 169 Captulo IV Apresentao dos resultados 171 4.1. Sociodemografia (A7) 171

    4.2. Caractersticas tcnicas e organizacionais 173

    4.2.1. Grau de modernizao tecnolgica (A10) 173

    4.2.2. Investimentos nos componentes materiais de trabalho (A9) 173

    4.2.3. Qualificao dos postos de trabalho 174

    4.2.4. Modernizao do sistema tcnico e organizacional de trabalho 175

    4.2.5. Gesto e certificao da qualidade 176

    4.2.6. Anlise estratgica 177

    4.3. Sistema de gesto da SH&ST 177

    4.3.1. Modalidade de servio de SH&ST 177

    4.3.2. Recursos humanos em SH&ST 179

    4.3.2.1. Mdicos do trabalho e tcnicos ou especialistas de S&HT 179

    4.3.2.2. Mdico de clnica geral, enfermeiro do trabalho e outros profissionais 180

    4.3.2.3 Equipa de sade ocupacional 182

    4.3.3. Atitude face s condies de SH&ST (B9.1) 183

    4.3.4. Estratgia de interveno no domnio da SH&ST (B9.2) 184

    4.4. Riscos 185

    4.4.1. Nvel de absentismo (B2) 185

    4.4.2. Percepo das principais causas da incapacidade (B3) 187

    4.4.3. Percepo dos principais problemas de sade, relacionados com estilos de vida (B4) 188

    4.4.4. Principal natureza dos riscos (B5) 191

    4.5. Formas e nvel de participao dos trabalhadores no domnio da SH&ST 191

    4.5.1. Principais formas de participao (B6) 191

    4.5.2. Formas indirectas ou representacionais 193

    4.5.3. Formas directas ou no representacionais 195

    4.5.4. Tipologia das formas de participao (B6) 196

    4.5.5. Grau de importncia atribudo participao do pessoal (B7) 198

    4.5.6. Nvel de participao (B8) 199

    4.6. ndice de integrao do sistema de gesto da SH&ST 201

    4.7.Polticas, programas e actividades de sade 204

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    4.7.1. Higiene & Segurana no Trabalho/Melhoria do Ambiente Fsico de Trabalho (C1.A) 204

    4.7.2. Avaliao de Sade / Vigilncia Mdica / Prestao de cuidados de sade (C1.B) 208

    4.7.3. Preveno de Comportamentos de Risco/ Promoo de Estilos de Vida Saudveis (C1.C) 211

    4.7.4. Intervenes a Nvel Organizacional/Melhoria do Ambiente Psicossocial de Trabalho (C1.D) 214

    4.7.5. Actividades e programas sociais e de bem-estar (C1.E) 218

    4.8. Nmero mdio de actividades de sade e ndice de realizao 221

    4.9. ndice global e especfico de sade 226

    4.10. Processo de desenvolvimento da poltica de sade 230

    4.10.1. Envolvimento dos actores (D2) 230

    4.10.2. Grau de envolvimento dos trabalhadores no planeamento e implementao (D3) 239

    4.10.3 Principais prompting factors (D1) 242

    4.10.3.1. Produtividade, competitividade e/ou qualidade 243

    4.10.3.2. Absentismo 244

    4.10.3.3. Filosofia de gesto/Cultura da empresa 244

    4.10.3.4. Frequncia e gravidade dos acidentes 246

    4.10.4. Principais factores facilitadores (D5) 247

    4.10.5. Principais obstculos (D4) 250

    4.11. Custos e benefcios 253

    4.11.1. Principais benefcios (D6) 253

    4.11.2. Custos 256

    4.11.2.1. Massa salarial 257

    4.11.2.2. Cuidados de sade e SH&ST 258

    4.12. Prioridade atribuda sade como objectivo de gesto 261

    4.12.1. Prioridade actual e futura (E1, E2, E3) 261

    4.13. Grau de implicao dos inquiridos 263

    4.13.1. Atitude das empresas 263

    4.13.2. Comentrios, crticas e sugestes 265

    4.13.3. Elementos de identificao 266

    Captulo V Discusso dos resultados 267 5.1. Introduo 267

    5. 1. 1. Taxa de resposta e validao da amostra 267

    5.1.2. Atitude dos representantes das empresas 271

    5.2. Sociodemografia (A7) 272

    5.3. Caractersticas tcnicas e organizacionais 273

    5.3 .1. Modernizao do sistema de tcnico e organizacional de trabalho 273

    5.3.2. As maiores e as melhores 278

    5.3.3. Certificao da qualidade 279

    5. 4. Sistema de gesto da SH&ST 280

    5.4.1. Existncia de servios de SH&ST 280

    5.4.2. Modalidade de servio de SH&ST 280

    5.4.3. Recursos humanos da SH&ST 283

    5.4.4. Atitude e estratgia no domnio da SH&ST 284

    5.5. Percepo dos riscos e factores de risco 286

    5.5.1. Absentismo 286

    5.5.2. Causas de incapacidade para o trabalho 288

    5.5.3. Problemas de sade relacionados com os estilos de vida 291

    5.5.4. Principal natureza dos riscos 292

    5.6.Oportunidades de participao e consulta 293

    5.6.1. Formas e nvel de participao 293

    5.7. Integrao do sistema de gesto da SH&ST 298

    5.8. Polticas, programas e actividades de sade 300

    5.9. Desenvolvimento das polticas de sade 309

    5.9.1. Envolvimento dos diferentes actores 309

    5.9.2. Envolvimento dos trabalhadores nas fases de planeamento e implementao 311

    5.9.3. Factores condicionantes do desenvolvimento das polticas 312

    5.9.4. Discrepncia entre prompting factors (D1) e principais benefcios (D6) 314

    5.10. Custos e benefcios 316

    5.11. Perspectivas futuras 317

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    ______________________________________________________________________________________________________________ ndice

    Captulo VI Concluses e recomendaes 319

    ndice das Caixas, Figuras e Quadros i-viii

    Bibliografia

    Anexo A Outras Figuras e Quadros I - XXX

    Anexo B Questionrio sobre Poltica de Sade no Trabalho XXXI - XLVb

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    ______________________________________________________________________________________________________________ Dedicatria

    Dedicatria

    minha mulher Alice e aos meus filhos Joana e Joo. Eles tm sido os meus grandes companheiros da aventura da vida.

    E so as nicas pessoas do mundo a quem eu nunca quereria decepcionar.

    Eles foram uma fonte estimulante de inspirao e um ponto fulcral de apoio

    no decurso da realizao deste trabalho. A investigao e a escrita so um longo

    e por vezes doloroso exerccio de solido. Com eles e por eles consegui chegar ao fim

    de mais esta dura etapa da minha vida.Espero que eles tenham orgulho em mim.

    Eu tenho orgulho neles. E sobretudo confiana.

    Eles fazem parte, por inteiro, da ideia de futuro, aqui tecida por um homem de palavra(s) como eu,

    e um dos meus poetas favoritos.

    Ruy Belo: O Portugal futuro

    O portugal futuro um pas aonde o puro pssaro possvel e sobre o leito negro do asfalto da estrada as profundas crianas desenharo a giz esse peixe da infncia que vem na enxurrada e me parece que se chama svel Mas desenhem elas o que desenharem essa a forma do meu pas e chamem elas o que lhe chamarem portugal ser e l serei feliz Poder ser pequeno como este ter a oeste o mar e a espanha a leste tudo nele ser novo desde os ramos raiz sombra dos pltanos as crianas danaro e na avenida que houver beira-mar pode o tempo mudar ser vero Gostaria de ouvir as horas do relgio da matriz mas isso era o passado e podia ser duro edificar sobre ele o portugal futuro

    In Belo, R. (2000) - Todos os Poemas. Lisboa: Assrio & Alvim. 366-367.

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    ______________________________________________________________________________________________________________ Agradecimentos

    Agradecimentos Desde h mais de uma dcada que tenho vindo a fazer investigao no mbito da proteco e promoo da sade no trabalho. O meu envolvimento no projecto Innovative Action for Health at Workplace (1990-1992), sob a coordenao da Fundao Europeia para a Melhoria das Condies de Vida e de Trabalho, veio a revelar-se institucionalmente frutuoso e intelectualmente estimulante, no s ao abrir uma nova linha de investigao na rea da sade ocupacional em Portugal, como assegurar a continuidade da minha colaborao e a da Escola Nacional de Sade Pblica em projectos comunitrios subsequentes: (i) Training Specification for Workplace Health Promotion (1993-1998); (ii) Ill-health and Workplace Absenteeism: Initiatives for Prevention (1994-1997); (iii) Workplace Health Promotion in Small and Medium-Sized Enterprises. Identification and Dissemination of Models of Good Practice in Europe (1999-2002). justo fazer aqui uma referncia ao papel que na altura desempenhou o Prof. Dr. Mrio Faria, ento director do Curso de Medicina do Trabalho e membro do Conselho Directivo da ENSP, ao (i) empenhar-se to decididamente na negociao e concretizao do primeiro contrato da Fundao Europeia com a ENSP, ao (ii) confiar na minha capacidade de realizao enquanto investigador e ao (iii) dar-me uma oportunidade que eu entendi tambm como um desafio ao socilogo do trabalho ainda procura, na poca, do seu papel e da sua identidade no campo da sade pblica. A minha primeira palavra de gratido vai, portanto, para ele, o qual de resto foi tambm, para alm de amigo e co-autor de vrios trabalhos por mim publicados, o primeiro orientador da minha tese. Trabalhei e privei com inmeros colegas estrangeiros, comunitrios ou no, no mbito dos quatro projectos acima referidos. Correndo embora o risco de ser injusto ao omitir outros, eu queria aqui citar trs nomes de pessoas que me ajudaram a entender melhor o conceito, os princpios e a metodologia da promoo da sade no trabalho e as grandes virtualidades do trabalho em rede e em equipa: Robert Anderson (Reino Unido), Richard Wynne (Irlanda) e Robert Grndemann (Holanda). A muitos outros homens e mulheres devedor este trabalho e/ou o seu autor. A todos eles e elas cabe uma justa palavra de homenagem, apreo e gratido: (i) Aos meus orientadores, os Professores Drs. Antnio Sousa Uva e Antnio Brando Moniz, de quem tive o privilgio de beneficiar da saudvel cumplicidade que prpria dos amigos que j passaram por estas provas de resistncia do percurso acadmico, a par da sua grande experincia e competncia em termos de apoio terico-metodolgico; ao primeiro, que me dispensou muitas horas do seu precioso tempo, estou particularmente grato pela disciplina, rigor e sentido de urgncia que me imps; (ii) Ao Conselho Directivo da ENSP/UNL, na pessoa do seu presidente, Prof. Dr. Galvo de Melo pelo apoio, institucional, administrativo, logstico e financeiro, que me concedeu, incluindo uma bolsa de investigao de seis meses, permitindo-me no 1 semestre de 2003 dar um impulso decisivo redaco final da minha tese; (iii) ex-Junta Nacional de Investigao Cientfica e Tecnolgica (hoje integrada na Fundao Cientfica e Tecnolgica) que financiou um anterior projecto da ENSP (A promoo da sade nos locais de trabalho e a modernizao das empresas portuguesas, contrato n PCSH/C/SOC/725/93), e com cujas verbas foi possvel adquirir o ficheiro de empresas da Dun & Bradstreet e outros servios como a maquetagem e a impresso do questionrio sobre Poltica de Sade no Local de Trabalho; (iv) Ao Conselho Cientfico da ENSP/UNL pelas provas de confiana que os seus presidentes e os seus membros me fizeram chegar ao longo deste processo, e nomeadamente pela sua aceitao, em 21 de Julho de 1999, da minha candidatura ao grau de doutor no ramo de sade pblica (especialidade: sade ocupacional);

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    ______________________________________________________________________________________________________________ Agradecimentos

    (v) Ao actual e anterior coordenador do grupo de Disciplinas de Cincias Sociais e Humanas da ENSP/UNL, Prof. Dr. Antnio Correia de Campos e Prof. Dr. Joo Pereira, respectivamente, de quem recebi conselhos e incentivos que muito contriburam para reforar a minha motivao, auto-estima e auto-confiana; (vi) Aos meus antigos colegas da extinta cadeira de Cincias Sociais e Humanas, J. C. Ferreira de Almeida, J. Santos Lucas, Antnio Barbosa e Matilde Pereira, com quem em diferentes momentos partilhei a paixo comum pela sociologia da sade e com quem me unem laos de amizade, extensivos s antigas secretrias Maria Joo (infelizmente j falecida) e Encarnao Horta; (vii) mestre Isabel Andrade, sempre pronta a satisfazer os meus inmeros pedidos ou a esclarecer as minhas dvidas, desde a pesquisa bibliogrfica resoluo dos mil e um problemas com que um autor se debate na redaco de um trabalho cientfico e na organizao da respectiva bibliografia (Agradecimento extensivo s suas colaboradoras do Centro de Documentao e Informao da ENSP/UNL); (viii) Ao mestre Pedro Aguiar, tcnico superior principal da ENSP/UNL, pelas sua sugestes e conselhos em matria de tratamento estatstico dos dados do meu inqurito por questionrio, e em especial quanto utilizao da tcnica da Regresso Logstica Mltipla; (ix) Prof. Dr. Isabel Loureiro pela generosidade, simpatia e esprito crtico com que reviu alguns dos captulos da 1 verso da minha tese, a pedido do Presidente do Conselho Cientfico: os seus comentrios, crticas e sugestes foram pertinentes e valiosos, ajudando-me nomeadamente a melhorar a qualidade e a fluncia do meu texto; (x) Aos demais sectores de apoio da ENSP/UNL (secretariado, reprografia, informtica, servios administrativos, financeiros e acadmicos, sem esquecer a portaria e os telefones): a realizao do meu trabalho tambm no seria possvel sem eles, ou pelo menos seria bem mais penoso; (xi) Aos alunos que tm passado pela ENSP/UNL, e em particular aos dos cursos de especializao em medicina do trabalho: eles ajudaram-me, indirectamente, atravs da preparao e realizao das actividades docentes, a ser mais exigente e crtico para comigo prprio; (xii) Aos demais colaboradores das ENSP/UNL, pessoal docente e no docente, de quem tenho recebido, ao longo destes anos, as mais diversas manifestaes de carinho, simpatia e amizade; (xiii) s empresas e gestores que quiseram colaborar comigo respondendo s perguntas , por vezes difceis e incmodas, do meu questionrio; um agradecimento muito especial devido s secretrias da direco ou administrao dessas empresas por no terem mandado para o caixote do lixo o meu questionrio postal; (xiv) Dun & Bradstreet com quem estabeleci uma relao de trabalho que ultrapassou em muito aquilo que poderia ser esperado de uma simples relao comercial entre uma empresa prestadora de servios e um cliente universitrio; (xv) Ao Filipe Rocha, do Observatrio Portugus dos Sistemas de Sade, que teve a pacincia e a competncia de pr em CD-ROM, em formato.pdf, os ficheiros deste documento; (xvi) Last but not the least, aos meus amigos e familiares que me apoiaram e acreditaram em mim.

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    ______________________________________________________________________________________________________________ Abreviaturas & Siglas

    Abreviaturas & Siglas ADM Administrao/direco (da empresa ou estabelecimento) ANET Associao Nacional dos Enfermeiros do Trabalho BKK Bundesverband Federal Association of Company Health Insurance Funds CAE Rev. 2 Classificao Portuguesa da Actividade Econmica, Verso revista 2 (Equivalente NACE 1.1) CEE Comunidades Econmicas Europeias CEE Conselho de Empresa Europeu CEO Chief Executive Officer CEE Conselho de Empresa Europeu CGTP Confederao Geral dos Trabalhadores Portugueses CID Classificao Internacional de Doenas CIP Confederao da Indstria Portuguesa CPCS Conselho Permanente de Concertao Social CS&ST Comisso de Segurana e Sade no Trabalho CSH&ST Comisso de Segurana, Higiene e Sade no Trabalho CST Crculos de Sade no Trabalho CT Comisso de Trabalhadores CUF Companhia Unio Fabril D.L. Decreto-Lei D.P. Desvio-Padro DEEP Departamento de Estatsticas, Estudos e Planeamento do MSST DETEFP Departamento de Estatstica do Trabalho, Emprego e Formao Profissional DRH Director de Recursos Humanos DSI Drug Screening Initiatives D&B Dun & Bradstreet EAP Employee Assistance Program ENWHP European Network for Workplace Health Promotion EPI Equipamento de Proteco Individual EPOC Employee Direct Participation in Organizational Change EUA Estados Unidos da Amrica FCEE Ficheiro Central de Empresas e Estabelecimentos FJAP Federao Japonesa das Associaes Patronais GE Grande Empresa HPM Health and Productivity Management IC 95% Intervalo de Confiana a 95% ICOH International Commission on Occupational Health IOHA International Occupational Hygiene Association IDICT Instituto para o Desenvolvimento e Inspeco das Condies de Trabalho ILO International Labour Organization INCM Imprensa Nacional - Casa da Moeda INS Inqurito Nacional de Sade INSA Instituto Nacional de Sade Dr. Ricardo Jorge ISO International Organisation for Standardization JISHA Japan Industrial Safety and Health Association LCI Labour Compact Index MFCG Mdico de Famlia e Clnica Geral MPE Micro e Pequena Empresa MT Mdico do trabalho MWA Maintenance of Work Ability NP Norma Portuguesa N/R No Responde N/S No Sabe

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    ______________________________________________________________________________________________________________ Abreviaturas & Siglas

    NFOT Novas Formas de Organizao do Trabalho OD Odds Ratio OIT Organizao Internacional do Trabalho OMS Organizao Mundial de Sade ORT rgo Representativo dos Trabalhadores OSH Occupational Safety and Health OSHAS Occupational Safety and Health Assessment Series OSH-MS Occupational Safety and Health Management System PES Representantes do Pessoal (no domnio da SH&ST) PIB Produto Interno Bruto PME Pequena e Mdia Empresa PST Promoo da Sade no Trabalho QP Questionrio Postal RLM Regresso Logstica Mltipla RLVT Regio de Lisboa e Vale do Tejo RU Reino Unido SAP Sistema Antropocntrico de Produo SH&ST Segurana, Higiene e Sade no Trabalho SME Small and Medium-Sized Enterprises SMT (1) Services Mdicaux du Travail SMT (2) Servios de Medicina do Trabalho SSO Servio de Sade Ocupacional SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats TS&HT Tcnico ou Especialista de Segurana e Higiene do Trabalho TQM Total Quality Management UE Unio Europeia UGT Unio Geral dos Trabalhadores VAB Valor Acrescentado Bruto WHO World Health Organization WHA Workplace Health Action WHP Workplace Health Promotion

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    Workplace Health Promotion (WHP) is the combined efforts of employers, employees and society to improve the health and well-being of people at work.

    This can be achieved through a combination of: (i) improving the work organisation and environment; (ii) promoting active participation; (iii) encouraging personal development.

    () WHP contributes to a wide range of work factors which improve employees' health. These include:

    management principles and methods which recognise that employees are a necessary success factor for the organisation instead of a mere cost factor;

    a culture and corresponding leadership principles which include participation of the employees and encourage motivation and responsibility of all employees;

    work organisation principles which provide the employees with an appropriate balance between job demands, control over their own work, level of skills and social support;

    a personnel policy which actively incorporates health promotion issues;

    an integrated occupational health and safety service.

    The Luxembourg Declaration of Workplace Health Promotion in the European Union (1997)

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    _____________________________________________________________________ _________________________________________ Resumo / Abstract / Rsume

    Resumo Poltica(s) de sade no trabalho: um inqurito sociolgico s empresas portuguesas A literatura portuguesa sobre polticas, programas e actividades de Segurana, Higiene e Sade no Trabalho (abreviadamente, SH&ST) ainda escassa. Com este projecto de investigao pretende-se (i) colmatar essa lacuna, (ii) melhorar o conhecimento dos sistemas de gesto da sade e segurana no trabalho e (iii) contribuir para a proteco e a promoo da sade dos trabalhadores. Foi construda uma tipologia com cinco grupos principais de polticas, programas e actividades: A (Higiene & Segurana no Trabalho / Melhoria do ambiente fsico de trabalho); B (Avaliao de sade / Vigilncia mdica / Prestao de cuidados de sade); C (Preveno de comportamentos de risco/ Promoo de estilos de vida saudveis); D (Intervenes a nvel organizacional / Melhoria do ambiente psicossocial de trabalho); E (Actividades e programas sociais e de bem-estar). Havia uma lista de mais de 60 actividades possveis, correspondendo a um ndice de realizao de 100%. Foi concebido e desenhado, para ser auto-administrado, um questionrio sobre Poltica de Sade no Local de Trabalho. Foram efectuados dois mailings, e um follow-up telefnico. O trabalho de campo decorreu entre a primavera de 1997 e o vero de 1998. A amostra (n=259) considerada representativa das duas mil maiores empresas do pas. Uma em cada quatro uma multinacional. A taxa de sindicalizao rondava os 30% da populao trabalhadora, mas apenas 16% dos respondentes assinalou a existncia de representantes dos trabalhadores eleitos para a SH&ST. A hiptese de investigao principal era a de que as empresas com um sistema integrado de gesto da SH&ST seriam tambm as empresas com um (i) maior nmero de polticas, programas e actividades de sade; (ii) maior ndice de sade; (iii) maior ndice de realizao; e (iv) maior percentagem dos encargos com a SH&ST no total da massa salarial. As actividades de tipo A e B, tradicionalmente associadas SH&ST, representavam, s por si, mais de 57% do total. Os resultados, correspondentes s respostas da Seco C do questionrio, apontam, para (i) a hipervalorizao dos exames de medicina do trabalho; e por outro para (ii) o subaproveitamento de um vasto conjunto de actividades (nomeadamente as de tipo D e E), que so correntemente levadas a cabo pelas empresas e que nunca ou raramente so pensadas em termos de proteco e promoo da sade dos trabalhadores. As actividades e os programas de tipo C (Preveno de comportamentos de risco/Promoo de estilos de vida saudveis), ainda eram as menos frequentes entre ns, a seguir aos Programas sociais e de bem-estar (E). a existncia de sistemas de gesto integrados de SH&ST, e no o tamanho da empresa ou outra caracterstica sociodemogrfica ou tcnico-organizacional, que permite predizer a frequncia de polticas de sade mais activas e mais inovadores. Os trs principais motivos ou razes que levam as empresas portuguesas a investir na proteco e promoo da sade dos seus trabalhadores eram, por ordem de frequncia, (i) o absentismo em geral; (ii) a produtividade, qualidade e/ou competitividade, e (iii) a filosofia de gesto ou cultura organizacional. Quanto aos trs principais benefcios que so reportados, surge em primeiro lugar (i) a melhoria da sade dos trabalhadores, seguida da (ii) melhoria do ambiente do ambiente de trabalho e, por fim, (iii) a melhoria da produtividade, qualidade e/ou competitividade.

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    _____________________________________________________________________ _________________________________________ Resumo / Abstract / Rsume

    Quanto aos trs principais obstculos que se pem, em geral, ao desenvolvimento das iniciativas de sade, eles seriam os seguintes, na percepo dos respondentes: (i) a falta de empenho dos trabalhadores; (ii) a falta de tempo; e (iii) os problemas de articulao/comunicao a nvel interno. Por fim, (i) o empenho das estruturas hierrquicas; (ii) a cultura organizacional propcia; e (iii) o sentido de responsabilidade social surgem, destacadamente, como os trs principais factores facilitadores do desenvolvimento da poltica de sade no trabalho. Tantos estes factores como os obstculos so de natureza endgena, susceptveis portanto de controlo por parte dos gestores. Na sua generalidade, os resultados deste trabalho pem em evidncia a fraqueza terico-metodolgica de grande parte das iniciativas de sade, realizadas na dcada de 1990. Muitas delas seriam medidas avulsas, que se inserem na gesto corrente das nossas empresas, e que dificilmente podero ser tomadas como expresso de uma poltica de sade no local de trabalho, (i) definida e assumida pela gesto de topo, (ii) socialmente concertada, (iii) coerente, (iv) baseada na avaliao de necessidades e expectativas de sade dos trabalhadores, (v) divulgada, conhecida e partilhada por todos, (vi) contingencial, flexvel e integrada, e, por fim, (vii) orientada por custos e resultados. Segundo a Declarao do Luxemburgo (1997), a promoo da sade engloba o esforo conjunto dos empregadores, dos trabalhadores, do Estado e da sociedade civil para melhorar a segurana, a sade e o bem-estar no trabalho, objectivo isso que pode ser conseguido atravs da (i) melhoria da organizao e das demais condies de trabalho, da (ii) participao efectiva e concreta dos trabalhadores bem como do seu (iii) desenvolvimento pessoal.

    Abstract

    Health at work policies: a sociological inquiry into Portuguese corporations Portuguese literature on workplace health policies, programs and activities is still scarce. With this research project the author intends (i) to improve knowledge on the Occupational Health and Safety (shortly thereafter, OSH) management systems and (ii) contribute to the development of health promotion initiatives at a corporate level. Five categories of workplace health initiatives have been identified: (i) Occupational Hygiene and Safety / Improvement of Physical Working Environment (type A programs); (ii) Health Screening, Medical Surveillance and Other Occupational Health Care Provision (type B programs); (iii) Preventing Risk Behaviours / Promoting Healthy Life Styles (type C programs); (iv) Organisational Change / Improvement of Psycho-Social Working Environment (type D programs); and (v) Industrial and Social Welfare (type E programs). A mail questionnaire was sent to the Chief Executive Officer of the 1500 largest Portuguese companies, operating in the primary and secondary sectors ( 100 employees) or tertiary sector ( 75 employees). Response rate has reached about 20% (259 respondents, representing about 300 companies). Carried out between Spring 1997 and Summer 1998, the fieldwork has encompassed two direct mailings and one phone follow-up. Sample is considered to be representative of the two thousand largest companies. One in four is a multinational. Union membership rate is about 30%, but only 16% has reported the existence of a workers health and safety representative. The most frequent workplace health initiatives were those under the traditional scope of the OSH field (type A and B programs) (57% of total) (e.g., Periodical Medical Examinations; Individual Protective Equipment; Assessment of Working Ability). In SMEs (< 250) it was less likely to find out some time-consuming and expensive activities (e.g., Training on OSH knowledge and skills, Improvement of environmental parameters as ventilation, lighting, heating).

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    _____________________________________________________________________ _________________________________________ Resumo / Abstract / Rsume

    There were significant differences in SMEs, when compared with the larger ones ( 250) concerning type B programs such as Periodical medical examinations, GP consultation, Nursing care, Other medical and non-medical specialities (e.g., psychiatrist, psychologist, ergonomist, physiotherapist, occupational social worker). With regard to type C programs, there were a greater percentage of programs centred on Substance abuse (tobacco, alcohol, and drug) than on Other health risk behaviours. SMEs representatives reported very few prevention-oriented programs in the field of Drug abuse, Nutrition, Physical activity, Off-job accidents, Blood pressure or Weight control. Frequency of type D programs included Training on Human Resources Management, Training on Organisational Behaviour, Total Quality Management, Job Design/Ergonomics, and Workplace rehabilitation. In general, implementation of this type of programs (Organisational Change / Improvement of Psychosocial Working Environment) is not largely driven by health considerations. Concerning Industrial and Social Welfare (Type E programs), the larger employers are in a better position than SMEs to offer to their employees a large spectrum of health resources and facilities (e.g., Restaurant, Canteen, Resting room, Transport, Infra-structures for physical activity, Surgery, Complementary social protection, Support to recreational and cultural activities, Magazine or newsletter, Intranet). Other workplace health promotion programs like Training on Stress Management, Employee Assistance Programs, or Self-help groups are uncommon in the Portuguese worksites. The existence of integrated OSH management systems, not the company size, is the main variable explaining the implementation of more active and innovative workplace health policies in Portugal. The three main prompting factors reported by employers for health protection and promotion initiatives are: (i) Employee absenteeism; (ii) Productivity, quality and/or competitiveness; and (iii) Corporate culture/management philosophy. On the other hand, (i) Improved staffs health, (ii) Improved working environment and (iii) Improved productivity, quality and/or competitiveness were the three main benefits reported by companies representatives, as a result of successful implementation of workplace health initiatives. (i) Lack of staff commitment; (ii) Lack of time; and (iii) Problems of co-operation and communication within company or establishment (iii) are perceived to be the main barriers companies must cope with. Asked about the main facilitating factors, these companies have pointed out the following ones: (i) Top management commitment; (ii) Corporate culture; and (iii) Sense of social responsibility. This sociological research report shows the methodological weaknesses of workplace health initiatives, carried out by Portuguese companies during the last 90s. In many cases, these programs and actions were not part of a corporate health strategy and policy, (i) based on the assessment of workers health needs and expectancies, (ii) advocated by the employer or the chief executive officer, (ii) planned and implemented with the staff consultation and participation or (iv) evaluated according to a cost-benefit analysis. In short, corporate health policy and action were still rather based on more traditional OSH approaches and should be reoriented towards Workplace Health Promotion (WHP) approach. According to the Luxembourg Declaration of Workplace Health Promotion in the European Union (1997), WHP is a combination of: (i) improving the work organisation and environment; (ii) promoting active participation; (iii) encouraging personal development.

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    _____________________________________________________________________ _________________________________________ Resumo / Abstract / Rsume

    Rsume

    Politique(s) de sant au travail: une enqute sociologique aux entreprises portugaises Au Portugal on ne sait presque rien des politiques de sant au travail, adopts par les entreprises. Avec ce projet de recherche, on veut (i) amliorer la connaissance sur les systmes de gestion de la sant et de la scurit au travail et, au mme temps, (ii) contribuer au dveloppement de la promotion de la sant des travailleurs. Une typologie a t use pour identifier les politiques, programmes et actions de sant au travail: A. Amlioration des conditions de travail / Scurit au travail; B. Mdecine du travail /Sant au travail; C. Prvention des comportements de risque / Promotion de styles de vie sains; D. Interventions organisationnelles / Amlioration des facteurs psychosociaux au travail; E. Gestion de personnel et bien-tre social. Un questionnaire postal a t envoy au reprsentant maximum des grandes entreprises portugaises, industrielles ( 100 employs) ou des services ( 75 employs). Le taux de rponse a t environ 20% (259 rpondants, concernant trois centaines dentreprises et dtablissements). La recherche de champ, conduite du printemps 1997 lt 1998, a compris deux enqutes postales et un follow-up tlphonique. Lchantillon est reprsentatif de la population des deux miles plus grandes entreprises. Un quart sont des multinationales. Le taux de syndicalisation est denviron 30%. Toutefois, il y a seulement 16% de lieux de travail avec des reprsentants du personnel pour la sant et scurit au travail. Les initiatives de sant au travail les plus communes sont celles concernant le domaine plus traditionnel (types A et B) (57% du total): par exemple, les examens de mdecine du travail, lquipement de protection individuelle, les tests daptitude au travail. En ce qui concerne les programmes de type C, les plus frquents sont le contrle et la prvention des addictions (tabac, alcool, drogue). Les interventions dans le domaine de du systme technique et organisationnelle du travail peuvent comprendre les courses de formation en gestion de ressources humaines ou en psychosociologie des organisations, lergonomie, le travail post ou la gestion de la qualit totale. En gnral, la protection et la promotion de la sant des travailleurs ne sont pas prises en considration dans limplmentation des initiatives de type D. Il y a des diffrences quand on compare les grandes entreprises et les moyennes en matire de politique de gestion du personnel e du bien-tre (programmes de type E, y compris lallocation de ressources humaines ou logistiques comme, par exemple, restaurant, journal dentreprise, transports, installations et quipements sportifs). Dautres activits de promotion de la sant au travail comme la formation en gestion du stress, les programmes d assistance aux employs, ou les groupes de soutien et dauto-aide sont encore trs peu frquents dans les entreprises portugaises. Cest le systme intgr de gestion de la sant et de la scurit au travail, et non pas la taille de lentreprise, qui aide prdire lexistence de politiques actives et innovatrices dans ce domaine. Les trois facteurs principaux qui encouragent les actions de sant (prompting factors, en anglais) sont (i) labsentisme (y compris la maladie), (ii) les problmes lis la productivit, qualit et/ou la comptitivit, et aussi (iii) la culture de lentreprise/philosophie de gestion. Du cot des bnfices, on a obtenu surtout lamlioration (i) de la sant du personnel, (ii) des conditions de travail, et (iii) de la productivit, qualit et/ou comptitivit

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    _____________________________________________________________________ _________________________________________ Resumo / Abstract / Rsume

    Les facteurs qui facilitent les actions de sant au travail sont (i) lengagement de la direction, (ii) la culture de lentreprise, et (iii) le sens de responsabilit sociale. Par contre, les obstacles surmonter, selon les organisations qui ont rpondu au questionnaire, seraient surtout (i) le manque dengagement des travailleurs et de leur reprsentants, (ii) le temps insuffisant, et (iii) les problmes de articulation/communication au niveau interne de lentreprise/tablissement. Ce travail de recherche sociologique montre la faiblesse mthodologique des services et activits de sant et scurit au travail, mis en place par les entreprises portugaises dans les annes de 1990, la suite des accords de concertation sociale de 1991. Dans beaucoup de cas, (i) ces politiques de sant ne font pas partie encore dun systme intgr de gestion, (ii) il na pas dvaluation des besoins et des expectatives des travailleurs, (iii) cest trs bas ou inexistant le niveau de participation du personnel, (iv) on ne fait pas danalyse cot-bnfice. On peut conclure que les politiques de sant au travail sont plus proches de la mdecine du travail et de la scurit au travail que de la promotion de la sant des travailleurs. Selon la Dclaration du Luxembourg sur la Promotion de la Sant au Lieu de Travail dans la Communaut Europenne (1997), celle-ci comprend toutes les mesures des employeurs, des employs et de la socit pour amliorer l'tat de sant et le bien tre des travailleurs e ceci peut tre obtenu par la concentration des efforts dans les domaines suivants: (i) amlioration de l'organisation du travail et des conditions de travail ; (ii) promotion d'une participation active des collaborateurs ; (iii) renforcement des comptences personnelles .

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    _______________________________________________________________________________________________________________ Captulo I Introduo - 1 -

    Captulo I Introduo O acordo especfico sobre Segurana, Higiene e Sade no Trabalho (abreviadamente, SH&ST), obtido em 30 de Julho de 1991, em sede de concertao social, foi saudado na altura como um acordo histrico (UGT, 1995. 473). Facto indito entre ns, fora obtida a unanimidade das vrias partes em presena, Governo e parceiros sociais, sobre uma matria (i) terica e ideologicamente controversa, (ii) tcnica e juridicamente complexa, e (ii) poltica e socialmente sensvel como era at ento a SH&ST (Portugal. CPCS, 1991 a). Este resultado s se viria a repetir dez anos depois, com o Acordo de 21 de Fevereiro de 2001 (Portugal. Conselho Econmico e Social, 2001). O acordo especfico de 1991 tem de ser visto dentro do enquadramento e desenvolvimento do Acordo Econmico e Social, de 19 de Outubro de 1990 (Portugal. CPCS, 1990), que Rodrigues (1996. 504) qualificou tambm como um marco histrico na nossa incipiente experincia de concertao social. Um e outro foram importantes sobretudo porque abriram as portas ao (i) aggiornamento legislativo, (ii) modernizao conceptual e (iii) experimentao de novas formas de aco e organizao neste domnio. De facto, eles vo estar na origem do novo regime jurdico da SH&ST, estabelecido pelo D.L. n. 441/91, de 14 de Novembro de 1991. Recorde-se que com este diploma legal o nosso pas transps, para a ordem jurdica interna, a Directiva do Conselho 89/391/CEE, de 12 de Junho de 1989, relativa aplicao de medidas destinadas a melhorar a segurana e a sade dos trabalhadores (e, com isso, harmonizar as condies de trabalho no espao comunitrio), ao mesmo tempo que deu cumprimento s obrigaes decorrentes da ratificao, em 1985, da Conveno n. 155 da OIT, sobre Segurana, Sade dos Trabalhadores e Ambiente de Trabalho (ILO, 1981). Duas palavras-chaves marcam o texto dos citados acordos: modernizao e competitividade. O objectivo geral do Acordo Econmico e Social de 1990 era explicitamente o de (i) contribuir para a modernizao da economia nacional, (ii) aumentar a competitividade das empresas e (iii) melhorar as condies de vida e de trabalho dos portugueses. A criao do mercado nico europeu e as mudanas que se estavam a operar no tecido empresarial portugus eram vistas pelos subscritores do acordo (onde no se incluam, na altura, a CGTP-IN e a CIP) como uma oportunidade nica (sic) para a definio de uma poltica concertada e integrada no domnio da melhoria das condies de trabalho, ao mesmo tempo que se condenavam as prticas empresariais associadas ao dumping social e desvalorizao dos recursos humanos (Portugal. CPCS, 1991).

    Pelo menos desde a nossa integrao europeia em 1986, que a modernizao tem surgido como um conceito de tipo caixa preta no discurso ideolgico, poltico, econmico, social, empresarial e sindical no nosso pas. O tema voltar, entretanto, agenda da concertao social em 1996. No documento Concertao Estratgica para Modernizar Portugal: Linhas de Fora para o Emprego, a Competitividade e o Desenvolvimento, lanado pela Presidncia do Conselho de Ministros para discusso pblica, em meados de 1996, partia-se da constatao de que Portugal apresentava um problema geral de competitividade face nova lgica da globalizao. Esse problema decorria sobretudo das fragilidades tecnolgicas e organizacionais do tecido empresarial, mas tambm da sua envolvente socioeconmica

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    _______________________________________________________________________________________________________________ Captulo I Introduo - 2 -

    (sistema de educao e formao, sistema de sade, poltica de I&D, sistema financeiro, administrao pblica) (Portugal. Presidncia do Conselho de Ministros, 1996).

    Em 2001 volta a reafirmar-se o objectivo estratgico de conciliar a modernizao do tecido empresarial com a adopo de medidas visando a melhoria das condies de segurana e sade no trabalho (Portugal. Conselho Econmico e Social, 2001).

    Os acordos de concertao social do incio da dcada de 1990, e em especial o de 1991, geraram bastantes expectativas, nos diversos sectores (v.g., institucionais, profissionais, empresariais, sindicais), quanto possibilidade de se dar um salto qualitativo no sistema de gesto da SH&ST, quer a nvel nacional quer a nvel dos locais de trabalho. Com a promulgao do D.L. n. 141/91, de 14 de Novembro de 1991 e a sua posterior regulamentao, comearam a criar-se condies para as empresas portuguesas redefinirem as suas polticas e prticas no domnio da proteco e promoo da sade no trabalho. O novo quadro de referncia conceptual e legal passou a dar maior nfase tanto (i) preveno dos riscos profissionais como (ii) promoo da sade, alm de passar a exigir uma (iii) maior co-responsabilizao tanto dos empregadores como dos trabalhadores e seus representantes. At finais da dcada de 1980, a(s) poltica(s) de sade no local de trabalho resumia(m)-se, em muitos casos, organizao e funcionamento de Servios Mdicos do Trabalho (abreviadamente, SMT), criados, entre ns, a partir de 1962 e sobretudo de 1967. Quanto s oportunidades de participao e consulta dos trabalhadores e/ou seus representantes no sistema de gesto da SH&ST, elas eram muito reduzidas ou praticamente inexistentes. Na vsperas de Portugal integrar as Comunidades Europeias, a problemtica da sade e segurana no trabalho estava longe de ser uma prioridades dos portugueses, a avaliar pelo relatrio elaborado pela misso multidisciplinar do PIACT-OIT (BIT, 1985; Portugal. Ministrio do Trabalho e Segurana Social, 1987). E os investigadores sociais tambm no tinham este tpico na sua agenda (Graa, 1985). Mesmo no ps-25 de Abril de 1974, este tema no foi fonte de grandes conflitos e reivindicaes (Santos, Lima e Ferreira, 1976; Seminrio Sindical sobre Higiene e Segurana no Trabalho, 1980; UGT, 1987; Cerdeira e Padilha, 1988; Mnica, 1990; Santos, 1992; Barreto et al., 2000). Segundo Freire (1999. 63), no perodo de 1987 a 1995, o nmero de greves, no sector privado, com reivindicaes na rea da SH&ST ter rondado os 5% ao ano (2% em 1989 e 9% em 1995). Em 1 de Janeiro de 1992 Portugal assume a presidncia da Conselho das Comunidades Europeias e d-se incio celebrao do Ano Europeu da Segurana, Higiene e Sade no Trabalho. Cerca de trs centenas de iniciativas so registadas nas nossas empresas e demais organizaes (Graa e Faria, 1993). Alm disso, e de acordo com uma sondagem do Eurobarmetro realizada na primavera de 1991, os trabalhadores portugueses tinham expectativas mais altas do que os restantes trabalhadores europeus quanto ao papel que a Comunidade Europeia poderia desempenhar no domnio da SH&ST. De facto, (i) 92% dos portugueses inquiridos mostravam-se mais favorveis do que os europeus em geral (87%), aplicao de legislao no domnio da SH&ST comum a todos os Estados-membros; enquanto (ii) 76% concordavam com a afirmao de que a legislao comunitria iria melhorar as suas prprias condies de sade e segurana no trabalho (contra 48% do total) (Commission of European Communities, 1992).

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    _______________________________________________________________________________________________________________ Captulo I Introduo - 3 -

    O ano de 1991 tambm o da realizao do 1 Frum Nacional de Medicina do Trabalho, organizado pela Sociedade Portuguesa de Medicina do Trabalho. Era, portanto, de esperar, no incio da dcada de 1990, que este contexto favorvel, a nvel nacional e comunitrio, contribusse para (i) aumentar a frequncia das actividades de sade e segurana no trabalho e/ou (ii) alterar a sua natureza, nomeadamente atravs do desenvolvimento de iniciativas inovadoras com o objectivo no s de prevenir a doena como de promover a sade dos trabalhadores e, ao mesmo tempo, melhorar o desempenho econmico e social das empresas. Serve esta introduo para justificar a realizao de um inqurito sociolgico s polticas, programas e actividades de sade no trabalho, levadas a cabo por uma amostra das duas mil maiores empresas portuguesas ao longo da dcada de 1990. Por polticas, programas e actividades de sade no trabalho entende-se (i) todo o tipo de iniciativas, planeadas e implementadas no local de trabalho, (ii) que visem, directa ou indirectamente, melhorar a sade, o bem-estar e a segurana dos trabalhadores, (iii) orientadas quer para o indivduo quer para o ambiente fsico e psicossocial em que este vive e trabalha. Neste conceito cabe um vasto leque de actividades, umas mais estruturadas do que outras, incluindo aquelas que j eram obrigatrias por lei data da entrada em vigor do D.L. n. 441/91, de 14 de Novembro de 1991 (v.g., exames mdicos de admisso, vigilncia das condies ambientais, equipas de primeiros socorros). Numa perspectiva sistmica, estas iniciativas de sade so mais do que a soma das actividades realizadas pelos servios de SH&ST, em conjunto ou separadamente (o servio de sade/medicina do trabalho, por um lado; e o servio de segurana e higiene do trabalho, por outro). Grosso modo, estas iniciativas esto abrangidas pelo conceito de promoo da sade no trabalho (abreviadamente, PST), na acepo que lhe foi (i) dada pela Organizao Mundial de Sade (WHO, 1984 e 1986), (ii) adaptada pela equipa do projecto Innovative Action for Health at Workplace (Wynne, 1989; Wynne e Clark, 1992), e mais tarde (iii) consignada na Declarao do Luxemburgo para a Promoo da Sade no Local de Trabalho (European Network for Workplace Health Promotion, 1997). Para Graa e Faria (1992), o conceito, os princpios e a metodologia da PST ofereciam j na poca um quadro de referncia global e integrado, com potencialidades tericas e prticas para a investigao e a interveno no domnio das condies de trabalho e sade. Mesmo que o conceito fosse difcil de operacionalizar e sobretudo de pr em prtica, entendia-se que a PST no poderia ficar de fora das estratgias de modernizao das nossas empresas e demais organizaes e muito menos das polticas de valorizao estratgica dos seus recursos humanos (Rodrigues, 1991b). O alcance terico e prtico do conceito de PST ser melhor explicitado e desenvolvido na reviso de literatura sobre este tpico. Para alm de se (i) fazer o estado da arte da proteco e promoo da sade no trabalho e o balano das polticas, programas e actividades das empresas portuguesas no domnio da sade no trabalho na dcada de 1990, pretende-se tambm com este estudo (ii) abrir novas perspectivas para a investigao, a educao, a formao e a aco neste campo de problemas e, sobretudo, (iii) aprofundar o conhecimento dos factores, endgenos e exgenos, que podem contribuir para a efectiva e concreta integrao dos servios de SH&ST na estratgia, na poltica e no sistema de gesto da empresa.

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    A tendncia actual, tanto nos EUA e no Canad como na Europa, para alargar e enriquecer o conceito de PST (por ex., proteco e promoo da sade no trabalho) ou at eventualmente integr-lo, tal como o conceito de SH&ST, num modelo mais abrangente e mais prximo do business e da corporate culture: o conceito de sistema de gesto da sade e segurana no trabalho (health management ou OSH management system) (ILO, 2001; OIT, 2002). De qualquer modo, no incio da dcada de 1990, persistiam ainda, em Portugal, uma srie de constrangimentos ou obstculos ao desenvolvimento de experincias inovadoras e ao aparecimento de exemplos de boas prticas no domnio da sade no local de trabalho. Entre outros podiam apontar-se: (i) um enfoque ainda excessivo na reparao ou, quando muito, na simples preveno dos acidentes de trabalho e doenas profissionais; (ii) o conceito redutor do campo coberto pela tradicional expresso higiene e segurana no trabalho; (iii) a desactualizao e disperso do quadro legislativo e regulamentar; (iv) o poder dos especialistas; (v) a natureza medicocntrica dos servios de sade e segurana no trabalho; (vi) a falta de formao em proteco e promoo da sade no trabalho; (vii) o dfice de participao organizacional; (viii) a incipiente experincia de concertao social; (ix) a crnica falta de recursos (humanos, tcnicos, logsticos, financeiros); (x) o receio de politizao das questes de SH&ST; (xi) o economicismo da contratao colectiva; (xii) a inexistncia de anlises de custo/benefcio; (xiii) a ausncia de prticas de marketing e de benchmarking; (xiv) a fraca cooperao intersectorial, dentro e fora da empresa; ou ainda (xv) a pouca visibilidade da sade pblica nos locais de trabalho (Graa e Faria, 1992; Graa, 1995). Os principais objectivos deste projecto de investigao so os seguintes: (i) identificar e caracterizar as polticas, programas e actividades de sade nos locais de trabalho, em termos da sua frequncia, tipologia e ndice de sade; (ii) distinguir as empresas eventualmente mais activas e inovadoras da dcada de 1990 em funo do grau de integrao do seu sistema de gesto da SH&ST; (iii) identificar as razes, de natureza econmica, social ou outra, que levam a empresas a investir no domnio da sade dos seus trabalhadores; (iv) identificar factores, endgenos e exgenos que possam facilitar ou dificultar a aco e a inovao no domnio da sade no local de trabalho; e ainda (v) avaliar sumariamente, em termos de custos e benefcios, as polticas de sade no local de trabalho levadas a cabo. Trata-se de um estudo no experimental, descritivo e transversal, baseado na tcnica do inqurito por questionrio postal. Embora o universo ou populao de referncia se limite s nossas duas mil empresas com 100 ou mais trabalhadores (sendo dos sectores primrio e secundrio) ou com 75 trabalhadores (sendo do sector tercirio), pretende-se saber se h diferenas entre elas em funo do seu (i) sistema de gesto da SH&ST mas tambm de (ii) algumas variveis de caracterizao, quer sociodemogrficas (por ex., nvel de sindicalizao do pessoal) quer tcnico-organizacionais (por ex., modernizao do sistema de trabalho). A principal pergunta de investigao pode ser formulada genericamente nestes termos: Qual o perfil da empresa mais activa e, eventualmente, mais inovadora no domnio da sade e segurana no trabalho? Alguns dos critrios a utilizar tm fundamentao na literatura, outros so meramente intuitivos e exploratrios. A caracterizao sociodemogrfica e tcnico-organizacional das empresas importante para perceber por que que h umas mais activas (e, eventualmente, mais inovadoras) do que outras, em matria de poltica(s) de sade no local de trabalho. De entre essas caractersticas, poderia salientar-se, por exemplo, (i) a certificao da qualidade, (ii) a modalidade de organizao

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    e funcionamento dos servios de SH&ST ou (iii) as formas de participao dos trabalhadores. A hiptese de partida tem a ver sobretudo com o grau de integrao do sistema de gesto da SH&ST, dado por um ndice ponderado, constitudo por 15 indicadores que sero explicitados no modelo de anlise. Outra das perguntas de investigao a que se pretende responder relativa ao tipo e ao nmero de polticas, programas e actividades levadas a cabo pelas empresas (ou estabelecimentos), visando directa ou indirectamente a sade, o bem-estar e a segurana no trabalho. Estas iniciativas de sade podem ir dos (i) clssicos exames de vigilncia mdica peridica, efectuados no mbito da medicina do trabalho, at s (ii) mudanas operadas no clima organizacional, na organizao do trabalho ou no tempo de trabalho passando pelos (iii) programas de gesto do stresse at (iv) criao de infra-estruturas, equipamentos ou programas de apoio social (por ex., salas de repouso, de convvio ou de lazer, refeitrios, creches, transportes, clubes de empresa, servios de enfermagem e clnica geral, instalaes para a prtica de actividade fsica). Distinguiram-se cinco grupos principais de polticas, programas e actividades: A (Higiene & Segurana no trabalho / Melhoria do ambiente fsico de trabalho); B (Avaliao de sade / Vigilncia mdica / Prestao de cuidados de sade); C (Preveno de comportamentos de risco/ Promoo de estilos de vida saudveis); D (Intervenes a nvel organizacional / Melhoria do ambiente psicossocial de trabalho); E (Actividades e programas sociais e de bem-estar). Admitia-se, partida, que algumas dessas actividades pudessem ser mais frequentes do que outras, devido historicidade da medicina do trabalho ou s obrigaes legais impostas ao empregador. Nomeadamente, as de tipo A e B (associadas tradicionalmente SH&ST) deveriam ser mais provveis do que as de tipo C, D e E (mais facilmente associadas PST). Na realidade, a medicina do trabalho (que de natureza preventiva), bem como a oferta de cuidados clnicos, tm j uma certa tradio nas nossas empresas de maior dimenso, remontando pelo menos ao incio da dcada de 1960. A higiene e segurana do trabalho, incluindo a proteco contra certos riscos profissionais e a melhoria do ambiente fsico de trabalho, tambm tm alguma tradio no nosso pas: as primeiras preocupaes sociais e as primeiras medidas legislativas neste domnio remontam pelo menos dcada de 1890, altura em que criada entre ns a inspeco do trabalho. Mais recentes so as preocupaes, por parte quer da sade pblica quer dos empregadores, com os comportamentos de risco ou estilos de vida dos trabalhadores (por ex., consumo de tabaco, e droga; controlo do peso, alimentao e actividade fsica). Uma possvel excepo, so os problemas relacionados com o lcool no trabalho. Fora a medicina do trabalho, e as disciplinas com ela relacionadas, tais como a higiene industrial e a patologia ocupacional (Faria e Uva, 1988; Uva, 1998; Miguel, 2000; Silva, 2002), no temos em Portugal uma tradio de work science, ou seja, um conjunto de teorias, mtodos e tcnicas que, fundados na ergonomia, na fisiologia humana, na psicologia, na sociologia, na engenharia de produo e disciplinas afins, possam ser accionados e postos ao servio do desenho dos sistemas e postos de trabalho, da melhoria da interface homem/mquina, da introduo antropocntrica das novas tecnologias, da criao de um

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    supportive environment ou at da simples avaliao e melhoria das condies de trabalho (Graa, 1987; Kovcs e Moniz, 1987; Moniz, 1992a; Cabeas e Graa, 2001). Mais exactamente, no temos uma tradio de interveno sociotcnica nos locais de trabalho, tal como tem vindo a ser defendido pelos socilogos do trabalho e das organizaes (Baptista et al., 1984; Moniz, 1992; Freire, 1993 e 1999). Por essa razo, as mudanas tcnicas e organizacionais visando a melhoria da sade, bem-estar e segurana dos trabalhadores, sero partida as menos esperadas. Finalmente, tirando alguns exemplos pioneiros de industrial welfare (caso da CUF nos anos 40 e 50), tambm no temos uma tradio de programas sociais e de bem-estar. Ser por isso ainda relativamente rara a existncia de tcnicos de servio social ocupacional, fazendo a ligao entre o local de trabalho, a comunidade e a famlia. Como sero raros os Employee Assistance Programs cuja origem remonta, nos EUA, ao ps-guerra. Par alm da prevalncia ou frequncia deste tipo de actividades, interessava saber qual era o seu ndice de sade, ou seja, em que medida visavam a melhoria da sade e do bem-estar dos trabalhadores. Uma outra questo relevante a de conhecer os objectivos, as razes ou as motivaes (prompting factors, em ingls) que levam as empresas portuguesas a tomar iniciativas no domnio da sade dos trabalhadores. Admite-se que o leque de prompting factors seja grande. Nalguns casos sero de (i) sinal negativo (por ex., frequncia e gravidade dos acidentes de trabalho, absentismo, problemas de produtividade, qualidade e competitividade); noutros, de (ii) sinal positivo (por ex., filosofia de gesto, responsabilidade social, preocupao explcita com a sade dos colaboradores, imagem externa). Alm disso, esses prompting factors podem ser complementares: por ex., reduzir a taxa de gravidade dos acidentes, baixar o absentismo, aumentar a produtividade, melhorar o clima organizacional e, ao mesmo tempo, cumprir a lei. Uma distino dever ser feita entre: (i) aces desenvolvidas com o principal objectivo de prevenir a doena e os acidentes e/ou de promover a sade (por ex., insonorizao de uma oficina, exerccio fsico, exames mdicos peridicos, automatizao ou robotizao de operaes perigosas, repetitivas ou montonas, introduo de pausas no trabalho, sistema de sinalizao de SH&ST); e (ii) aces que podem contribuir para a melhoria da sade dos trabalhadores mas em que a sade, o bem-estar e/ou a segurana no so explicitamente tidas em conta (por ex., certificao da qualidade, reestruturao do aparelho produtivo, introduo de novos mtodos de gesto, formao profissional, reorganizao do trabalho, Total Quality Management (abreviadamente, TQM), apoio ao clube desportivo, substituio parcial ou total do parque de mquinas, organizao do trabalho baseada em equipas). Este ltimo tipo de aco, realizada por imperativos de racionalidade tcnico-organizacional, econmica ou outra, s se deve considerar uma iniciativa de sade se os efeitos para a sade, bem-estar e segurana dos trabalhadores forem total ou parcialmente tidos em conta, pelo menos na sua fase de implementao. Da pretender-se medir o ndice de sade das polticas, programas e actividades, em curso nas nossas empresas. Polticas como, por ex., o TQM, o consumo de tabaco ou a preveno e reduo do absentismo, para poderem ser consideradas iniciativas de sade, tm de ter como um dos seus objectivos (mesmo que secundrios ou

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    mediatos) (i) a preveno dos acidentes e da doena; e sobretudo (ii) a melhoria do ambiente (fsico e psicossocial) de trabalho, com reflexos na sade e bem-estar dos trabalhadores. Medidas meramente disciplinares como a proibio de fumar, a restrio das reas de fumo ou o controlo do consumo de lcool, por ex., no podem caber no conceito de polticas, programas ou actividades de sade, a menos que sejam acompanhadas de aces de educao para a sade ou de apoio aos trabalhadores com problemas de sade e/ou de empregabilidade, ou que muito simplesmente querem mudar os seus estilos de vida. Um quarto grupo de questes refere-se estratgia e aos mtodos usados, bem como aos factores que facilitam ou, pelo contrrio, constituem obstculo implementao, com sucesso, das polticas, programas e actividades de sade (Sloan, Gruman e Allegrante, 1987; Griffits, 1995; Wynne, 1998). Toda a estratgia de mudana, seja comportamental seja organizacional, tem basicamente duas grandes etapas com vrias fases: (i) planeamento (estudo, concepo e deciso); e (ii) implementao (aco, avaliao, concluso). A participao dos trabalhadores e/ou dos seus representantes vista como uma varivel crtica em qualquer processo de mudana centrado no local de trabalho, para mais num pas como Portugal que apresenta o mais baixo ndice de participao organizacional no conjunto dos Quinze. Interessa, pois, saber se as estratgias de sade que esto a ser usadas so mais de tipo (i) top-down (de cima para baixo) ou (ii) bottom-up (de baixo para cima), o mesmo perguntar se so (i) tecnocntricas ou (ii) antropocntricas. Da se tentar identificar e caracterizar as formas e o nvel de participao dos trabalhadores. No ciclo de vida destas aces tambm podem (e devem) participar outros actores, a comear pela gesto de topo, a direco de pessoal, os servios de SH&ST e as estruturas de representao como a comisso paritria de segurana e sade no trabalho. igualmente importante para o desenvolvimento da sade ocupacional em Portugal identificar e perceber quais so as barreiras que se deparam s empresas que querem apostar na melhoria da sade, bem-estar e segurana dos seus trabalhadores. Essas barreiras podem ir desde a escassez de recursos (tcnicos, cientficos, humanos ou financeiros) at falta de empenho dos trabalhadores e/ou dos seus representantes (Graa, 1994). Mas h tambm factores facilitadores da aco. Entre outros, poder citar-se, de acordo com a literatura, (i) uma cultura organizacional propcia; (ii) a vontade poltica da direco da empresa e dos representantes dos trabalhadores; (iii) a existncia de equipa de sade multidisciplinar, baseada na empresa; ou (iv) o empenho da administrao/direco. Uma sumria anlise de tipo custo/benefcio ser ensaiada, a partir das respostas a perguntas especficas sobre os benefcios (econmicos e/ou sociais) esperados pela empresa e dos encargos com a sade e a segurana dos trabalhadores. Por fim, sero feitas recomendaes aos principais stakeholders desta rea de conhecimento e de aco colectiva que a proteco e a promoo da sade no trabalho, enquanto parte integrante da nossa estratgia de sade e do nosso desenvolvimento sustentado.

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    Captulo II O estado da arte da proteco e promoo da sade no trabalho 2.1. Introduo

    A proteco e a promoo da sade no trabalho tendem a ser vistas, hoje em dia, no tanto em termos de actividades especficas per se como sobretudo em termos de princpios de abordagem. Como socilogo tenderei a v-las como um processo scio-organizacional, inovador, integrado e participativo. Subsiste, no entanto, a tradicional distino entre a promoo da sade (enfoque no indivduo, nos comportamentos de risco e nos estilos de vida saudveis) e a proteco da sade (nfase no ambiente, na preveno dos acidentes e dos riscos profissionais). Prevenir os riscos profissionais e promover a sade dos trabalhadores so os dois principais objectivos do sistema de gesto da segurana, higiene e sade no trabalho (abreviadamente, SH&ST) que, de resto, esto consagrados na legislao portuguesa desde 1991. Uma perspectiva e outra no so disjuntivas. Mas tm diferentes tradies histricas e fundamentaes tericas que importa sumariamente descrever e analisar. Por exemplo, nos Estados Unidos as expresses Occupational Safety and Health (abreviadamente, OSH) e Workplace Health Promotion (abreviadamente, WHP) tendiam originalmente a aparecer dissociadas. Tm sido sobretudo os europeus a procurar integrar os dois conceitos: Two developments provide the basis for current activity in workplace health promotion. The first, the Framework Directive on Safety and Health (Council Directive 89/391) prepared the ground for a reorientation of traditional occupational health and safety (OHS) legislation and practice. The second is the increasing profile of the workplace as a setting in public health (European Networkf for Worplace Health Promotion, 1997). Embora, na Europa, tenha chegado mais tarde aos locais de trabalho, contrariamente ao que se passou na Amrica do Norte, o conceito de promoo da sade no era estranho ao campo da SH&ST. De facto, j em 1950, a primeira sesso do comit misto da OIT/OMS sobre a sade ocupacional, apontava nesta direco, ao propor que o objectivo dos servios de SH&ST deveria ser: (i) a promoo e a manuteno ("promotion and maintenance") do mais elevado grau de bem-estar (fsico, mental e social) dos trabalhadores, qualquer que seja a sua profisso ou ocupao; (ii) a preveno da incapacidade temporria ou definitiva, por motivos de sade relacionados com as condies de trabalho; e (iii) a proteco da sade dos trabalhadores (ILO. WHO, 1950). Ne reviso de literatura sobre a arte de proteger e promover a sade dos trabalhadores, vou debruar-me sobre oito tpicos principais: (i) a histria da sade no trabalho; (ii) o sistema de gesto da sade e segurana no trabalho; (iii) desenvolvimento organizacional e inovao em sade no trabalho; (iv) a participao dos trabalhadores no sistema de gesto da SH&ST; (v) a natureza e a frequncia dos programas e actividades de sade no trabalho; (vi) os principais problemas de sade da populao trabalhadora; (vii) os principais prompting factors das polticas; e, por fim, (vii) custos e benefcios.

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    2.2. Breve enquadramento histrico da sade no trabalho 2.2.1. Introduo Na Europa, e em particular nos Estados-membros que constituem hoje a Unio Europeia, incluindo Portugal, h uma tradio histrica no mbito da proteco e promoo da sade da populao trabalhadora (Schilling, 1973; Murray, 1987; Graa, 2002). Foi na Europa, e muito em particular, na Gr-Bretanha, que emergiu a primeira revoluo industrial e com ela uma nova classe social, a classe operria ou working class (Thompson, 1968). Foi na Europa que surgiram as primeiras preocupaes com as consequncias sociais da industrializao. Foi na Europa que nasceu a legislao laboral, com os primeiros factory acts regulamentando a idade de admisso no trabalho e a durao da jornada de trabalho. Em pases como a Alemanha, a Inglaterra ou a Frana, foi o prprio Estado liberal que acabou por ser obrigado a tomar medidas legislativas e regulamentadoras em domnios como as condies de trabalho, o trabalho infantil e feminino, a inspeco do trabalho ou a reparao mdico-legal nos acidentes de trabalho e doenas profissionais. Mas essas medidas no podem ser desligadas da primeira vaga da integrao econmica europeia, no perodo entre 1850 e 1913 (Huberman e Lewchuck, 2002). Quanto medicina do trabalho propriamente dita, ela foi precedida pela reforma sanitria. O pas que foi bero da Revoluo Industrial, tambm o foi do sanitarismo (Chave, 1984; Murray, 1987; Sellers, 1987) e da epidemiologia (Snow, 1855; Beglehole, Bonita e Kjellstrm, 2003). Convir, porm, aqui dizer que o problema das indstrias insalubres, incmodas e perigosas (como era conceptualizado e verbalizado pela elite emergente do Sculo das Luzes), no se vai pr tanto na perspectiva da (i) sade da populao trabalhadora como sobretudo da (ii) sade pblica e comunitria. As primeiras preocupaes dos observadores e reformadores sociais, dos higienistas, dos mdicos (v.g., Snow, 1855) e dos poderes pblicos vo-se polarizar volta dos novos problemas de salubridade (e, inevitavelmente, de controlo social), postos pelo crescimento industrial, demogrfico e urbano. No seu Report on the Sanitary Conditions of the Labouring Population of Great Britain (1842), Edwin Chadwick (1800-1890) (i) ps em evidncia a relao entre a estratificao socioespacial nas cidades e a incidncia da morbimortalidade; mostrou como a esperana de vida variava em funo da classe social: por exemplo, em Leeds, ia dos 44 anos, para a gentry, aos 19 anos para os workmen (e 27 para os tradesmen); (ii) associou a prevalncia de doenas endmicas e epidmicas (v.g., clera, tifo, tuberculose) misria, sobrepopulao e falta de saneamento bsico e de higiene pessoal nas principais cidades inglesas, em particular as do Norte, que conheceram um crescimento demogrfico exponencial em menos de meio sculo; (iii) avanou, por fim, com a proposta de criao de um sistema de sade pblica, baseado nas figuras do engenheiro sanitrio e do medical officer of health. (i) a misria (e os seus potenciais perigos para a ordem social) mas tambm (ii) a compaixo burguesa que levam realizao dos primeiros inquritos sociogrficos sobre as condies de vida e de trabalho nas cidades industriais emergentes. Poderia citar-se o caso, por exemplo, do mdico L.-R. Villerm (1782-1863) que realizou um vasto inqurito sobre as condies de vida e de trabalho (incluindo a sade) dos operrios franceses das tecelagens de algodo, l e seda (Tableau de ltat Physique et Moral des Ouvriers Employs dans les Manufactures de Coton, de Laine et de Soie, Paris, 1840) (Graa, 2002).

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    Por sua vez, a necessidade de um novo paradigma explicativo para os novos problemas de morbimortalidade, est bem patente na controvrsia que se estabeleceu a propsito da tuberculose no final do Sc. XIX: "Est-elle maladie des taudis, comme le pensait la mdecine ou, comme l'affirmaient les syndicats ouvriers, la maladie de l'usure au travail ?" (Herzlich, 1984. 154. Itlicos meus). 2.2.2. A emergncia da sade pblica A sade pblica vai ter um grande impacto na melhoria das condies de vida da populao europeia, ao preconizar e implementar um conjunto de medidas elementares mas eficazes como o abastecimento de gua potvel, a rede de saneamento bsico, a utilizao de desinfectantes, a recolha do lixo nas grandes aglomeraes urbanas, a pavimentao das ruas, a drenagem de pntanos, a vacinao, a educao sanitria das populaes, a vigilncia epidemiolgica, o licenciamento industrial, etc. (Snow, 1855; Chave, 1984; Lyons e Petrucelli, 1991; Graa, 1996; Sellers, 1997). Chadwick considerado um dos pais fundadores do sanitarismo oitocentista. Formado sob a influncia dos princpios do malthusianismo e do utilitarismo, Chadwick integra a Royal Comission on the Poor Law de que se tornar, a partir de 1834, secretrio e depois chief executive officer. Foi nessa comisso (encarregue de rever a reforma do sistema de assistncia pblica e da represso da indigncia que remontava a 1601) que se reforou a sua ideia fundamental para o desenvolvimento do capitalismo liberal na Gr-Bretanha (Thompson, 1968; Chave, 1984; Geremeck, 1995). No seu j citado General Report, que foi um verdadeiro best-seller no seu tempo, Chadwick ter ento oportunidade de desenvolver a sua sanitary idea, inovadora (e para alguns ameaadora), numa poca em que ainda estavam em vigor as duas ideias-chaves do sanitarismo do Ancien Rgime: a segregao e a quarentena. A nova concepo do sanitarismo pode ser resumida em trs pontos: (i) uma teoria da causalidade; (ii) um sistema de drenagem dos esgotos e de abastecimento de gua; e, por fim, (iii) a criao da figura do engenheiro sanitrio e do Medical Officer of Health (MOH) (Chave, 1984). Na sequncia da epidemia de clera de 1847, promulgado em 1848 o primeiro Public Health Act, criado o General Board of Health e nomeado o primeiro MOH da cidade de Londres, John Simon (1816-1904), o qual ir continuar a desenvolver, na esteira de Chadwick, as embrionrias estruturas de sade pblica. O Public Health Act of 1875 veio criar, por sua vez, o verdadeiro national public health service, de que o nosso Ricardo Jorge (1858-1939) era um entusistico admirador (Correia, 1960; Graa, 1996). 2.2.3. A proto-histria da legislao sobre a sade no trabalho

    costume atribuir-se ao Health and Morals of Apprentices Act of 1802 o incio de uma produo legislativa especfica no domnio da proteco social dos trabalhadores. Mas esta lei no teve efeitos prticos por falta de instrumentos para a sua aplicao efectiva e concreta. , em todo o caso, a primeira tentativa para obrigar o relutante Estado liberal a intervir na proteco dos menores, quebrando assim o tabu do laissez faire, laissez passer. O diploma no estabelecia restries quanto idade mnima de admisso ao trabalho. Em todo o caso vinha: (i) limitar a um mximo de doze as horas de trabalho dirio dos aprendizes; (ii) proibir o trabalho nocturno; (iii) ordenar a limpeza das paredes dos estabelecimentos fabris duas vezes por ano bem como a ventilao dos dormitrios; e (iv) criar a funo de inspeco do trabalho.

  • Lus Graa Pol