Políticas para o audiovisual no Brasil (1985-2002): Estado, cultura e comunicação na transição democrática

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    Ano 6, nmero 10, semestral, out/2015 a mar/ 2016

    Disponvel em http://www.pragmatizes.uff.br

    Polticas para o audiovisual no Brasil (1985-2002):

    Estado, cultura e comunicao na transio democrtica

    Polticas para el audiovisual en Brasil (1985-2002):

    Estado, cultura y comunicacin durante la transicin a la democracia

    Audiovisual policies in Brazil (1985-2002):

    State, culture and communication in the democratic transition

    Renata RochaI

    Resumo:

    O artigo ora apresentado tem como objetivo discutir as polticas culturaispara o audiovisual e as relaes entre Estado, comunicao e cultura

    no perodo de transio democrtica no Brasil, entre os anos de 1985a 2002, ao longo dos Governos Jos Sarney (1985-1990), FernandoCollor de Mello (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994) e FernandoHenrique Cardoso (1995-2002). Considerando as necessrias relaesentre os campos da cultura e comunicao e as diculdades para suaefetiva consecuo, enfatiza-se, nesta reexo, as principais propostase iniciativas do Governo Federal que envolvem o cinema, as emissorasde televiso dos campos pblico e privado, bem como as necessrias,e muitas vezes frustradas tentativas de regulamentao para o setor.

    Palavras chave:

    Polticas CulturaisPolticas de Comunicao

    Audiovisual

    Brasil

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    Resumen:

    Ese artculo tiene como objetivo discutir las polticas culturales para elaudiovisual y las relaciones entre el Estado, comunicacin y cultura en elperodo de transicin democrtica en Brasil, en los aos de 1985 a 2002,durante los gobiernos de Jos Sarney (1985-1990), Fernando Collor deMello (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994) y Fernando HenriqueCardoso (1995-2002). Teniendo en cuenta las relaciones necesariasentre los campos de la cultura y comunicaciny las dicultades parasu efectivo cumplimiento, se plantean, en esa reexin, las principalespropuestas e iniciativas del Gobierno Federal que involucran el cine,

    las cadenas de televisin de los mbitos pblico y privado, as como lanecesaria y a menudo frustrados intentos de regulacin del sector.

    Abstract:

    This article discusses the cultural policies on audiovisual and theirrelations between state, communication and culture during the Braziliandemocratic transition period, from 1985 to 2002, in the course of theGovernments of Jos Sarney (1985-1990), Fernando Collor de Mello

    (1990-1992), Itamar Franco (1992-1994), and Fernando HenriqueCardoso (1995-2002). Considering the essential links between cultureand communication elds as well as difculties for their effectiveperformances, this reection emphasizes the main proposals andinitiatives of the Federal Government dealing with cinema, public andprivate television broadcasting, and the necessary and often frustratedattempts to regulate the sector.

    Palabras clave:

    Poltica Cultural

    Poltica de Comunicacin

    Audiovisual

    Brasil

    Keywords:

    Cultural Policies

    Communication Policies

    Audiovisual

    Brazil

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    Polticas para o audiovisual no

    Brasil (1985-2002): Estado, cultura e

    comunicao na transio democrtica

    Premissas

    A fim de nos debruarmos sobreas polticas para o audiovisual e as rela-es entre o Estado brasileiro, a comu-nicao e a cultura durante o processode transio democrtica no pas entreos anos de 1985 e 2002, enfatizamos,

    inicialmente, alguns conceitos-chave reflexo proposta.

    Especial ateno merece o concei-to de poltica cultural. Ana Maria OchoaGautier (2003) ressalta que o sintoma deconfuso terminolgica, de fragmentaodiscursiva, de disperso escritural e desentidos, no apenas um produto dasdiferentes prticas s quais a noo depoltica cultural remete, mas parte consti-tutiva do campo na atualidade (p. 65-66,traduo da autora).

    Nesse sentido, adotamos umanoo de poltica cultural abrangente,mas quelogra alcanar a dimenso ins-titucionalizada do campo simblico, in-vocada como:

    [] o conjunto de intervenes realiza-

    das pelo Estado, as instituies civis eos grupos comunitrios organizados, am de orientar o desenvolvimento sim-blico, satisfazer as necessidades cul-turais da populao e obter consensopara um tipo de ordem ou de transfor-mao cultural. (GARCIA CANCLINI,2001, p. 65, traduo da autora).

    Mesmo abarcando uma dimensomais geral do campo simblico, que ultra-

    passa os mbitos da organizao e me-diao cultural, verica-se, no conceito

    utilizado, uma nfase nestes ltimos emdetrimento da primeira. Nesse sentido, necessrio reconhecer que a adoo deuma perspectiva antropolgica da cultu-

    ra implica o risco de ampliar o conceitoao seu extremo, tornando-o pouco ope-racional, inclusive no sentido de orientaruma proposta de poltica. Por outro lado, esta mesma perspectiva que possibili-ta, e impele, a insero da comunicaocomo questo a ser considerada pelaspolticas culturais.

    Sob tal perspectiva, destacamos anoo de campo, tomando como base a

    teoria desenvolvida por Pierre Bourdieu(1990). Este autor organiza os agentese formas institucionais em campos aut-nomos, que funcionam como um sistemaregido por leis especcas. Sua grandecontribuio metodolgica reside na ca-pacidade de mediar a relao entre in-fraestrutura e superestrutura, bem comoentre o social e o individual, expressan-do uma perspectiva relacional da socie-dade, na qual os sistemas de relaesobjetivas (posies), explicariam as pr-ticas, discursos e escolhas dos agentes(tomadas de posio).

    Ao reetir sobre o campo artsti-co na obra La sociedad sin relato, Gar-ca Canclini apresenta a hiptese me-todolgica de que, na atualidade, paraproduzir perguntas no metafsicas, apesquisa desenvolvida em cada campo

    necessita articular-se com os interro-gantes dos outros campos (2010, p. 45,traduo da autora). A assertiva torna--se ainda mais pertinente na discussoproposta, demarcada pela interseoentre os campos das polticas de culturae comunicao. neste intercruzamen-to que ocorrem os principais embatesrelacionados aos meios de comunica-o e so implantadas as iniciativas dedesenvolvimento tecnolgico. E, se au-tores como Barbalho (2005) e Rubim(2003), destacam a importncia da inte-

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    rao crtica entre as polticas culturais,as indstrias culturais e a comunicao,Jess Martn-Barbero (2003, p. 299) ossupera quando prope que a renovao

    da cultura poltica assuma o que est emjogo, hoje, nas polticas culturais, ultra-passando as reivindicaes em prol dainstituio de polticas para a comunica-o. Para o autor, na redenio da cul-tura, fundamental a compreenso desua natureza comunicativa.

    Ainda segundo Martn-Barberopensar a poltica a partir da comunicaosignica por em primeiro plano os ingre-

    dientes simblicos e imaginrios presen-tes nos processos de formao do poder(2003, p. 15). A efetividade de qualquerprojeto poltico depende, portanto, de ba-talhas travadas no campo simblico acultura poltica , aspecto que no podeser deixado em segundo plano.

    Ademais, a relao entre polti-cas culturais e comunicaopossui outraperspectiva que no deve ser subdimen-sionada: o fato de que a cena pblicaconstruda pelos meios de comunicaomassivos essencial para a manuten-o do carter participativo da democra-cia. Nas sociedades contemporneas, acomunicao mediada por tecnologias eas indstrias culturais perpassam as re-laes humanas nos diversos mbitos eredenem modos de convvio e de com-preenso social. O papel dos meios no

    interessa apenas por seu carter de difu-sores, e sim pelas operaes de recon-ceitualizao e metaforizao que reali-zam em conexo com outros campos davida social (GARCA CANCLINI, 2010, p.74, traduo da autora).

    Embora o reconhecimento da im-bricao entre a cultura e a comunicaoseja imprescindvel para a efetividadedas polticas culturais, isto no denota

    uma identidade entre esses campos. Se-gundo Jean Caune:

    A aproximao entre as noes decultura e de comunicao no daordem das circunstancias histricasou tcnicas, ainda que a industriali-

    zao da cultura e o desenvolvimentodas comunicaes de massa tenhamcontribudo a deslocar as fronteiras,a modicar os atores e a confundir asfunes. Na verdade, a cultura e a co-municao formam uma estranha par-

    ceria. Uma no se constitui nem se ex-

    plica sem a outra. Os fenmenos noso nem perfeitamente ajustados (umcontendo o outro) a cultura apresen-tando-se como um contedo veiculado

    pela comunicao nem situados emplanos paralelos, em correspondnciaanalgica. (2008, p. 37, grifo nosso)

    Optamos, portanto, por posicionara comunicao no campo das polticasculturais uma opo de cunho terico,metodolgico e poltico , ao partimos dopressuposto de que a cultura s existecomo fato social total devido sua ma-nifestao como expresso de uma expe-rincia individual na qual se combinam opsiquismo e a corporeidade, os signos eos comportamentos, os valores e as nor-mas (CAUNE, 2008, p. 38).

    Reiteramos a importncia da buscapelos fundamentos tericos sobre as in-teraes e contradies entre cultura e acomunicao. No entanto, a produo deum conhecimento cientco que contribua

    para o desenvolvimento de polticas contrahegemnicas exige articular e contextuali-zar os conceitos j assinalados acima e aprxispoltica. Tal aspecto torna-se aindamais destacado pelas constantes tenses,presses e, principalmente, desigualdadede foras inerentes aos debates nestescampos interdependentes.

    No que se refere ao espao na-cional, impossvel mudar a relao do

    Estado com a cultura, sem uma polticacultural integral, ou seja, sem desesta-

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    tizar o carter pblico, ressituando-o nonovo tecido comunicativo do carter so-cial, mediante polticas capazes de mobi-lizar o conjunto dos atores sociais: insti-

    tuies e associaes estatais, privadase independentes, polticas, acadmicase comunitrias (MARTN-BARBERO,2002, p. 74-75). Da mesma forma, as po-lticas de comunicao no podem hojeser denidas apenas pelo Ministrio dasComunicaes, como meras polticas detecnologias ou de meios, mas devemfazer parte de polticas culturais.

    Ainda que o Estado no se congu-

    re como nica possibilidade de promoodas polticas para a cultura, seu papel de grande relevncia, por sua capacidadede normatizar, regulamentar e scalizar,contribuindo para a solidez e permannciadas intervenes. Nesse sentido, o artigoproposto busca reetir sobre as aes em-preendidas pelo poder estatal, sem des-considerar outros agentes implicados emseu impulsionamento e consecuo, bemcomo suas interaes com os diversos se-tores sociais, pois

    considerando que nem o estado,nem outro tipo de organizaes sohomogneas e que se constituematravs de distintos tipos de intera-es, conclumos ento que as prti-cas comunicativas atravs das quaisse constituem essas interaes vocumprir a funo de estruturar as ins-

    tituies e organizaes do espaopblico(OCHOA GAUTIER, 2003, p.84, traduo da autora).

    Tambm para Pierre Bourdieu(2001), o Estado no uma realidade de-nida, delimitada e unitria, que se man-tm em uma relao de exterioridade comforas externas claramente identicveis.Trata-se, concretamente, de um conjuntode campos administrativos ou burocrti-

    cos dentro dos quais agentes diversos ecategorias de agentes governamentais

    e no governamentais lutam pela formaparticular do poder de governar por meioda legislao, regulamentos, medidas ad-ministrativas (subsdios, licenas, restri-

    es etc.), em suma, tudo o que coloca-do sob a rubrica de polticas de Estado.

    Partindo dos aportes tericos apre-sentados e do levantamento bibliogrcosobre o tema, o artigo delineia e analisaas principais polticas culturais relaciona-das comunicao impulsionadas peloGoverno Federal durante a redemocrati-zao do pas (1985-2002), sob uma pers-pectiva social e histrica. Apesar da farta

    bibliograa abordando cada uma destasreas de investigao em separado, aarticulao em uma viso multidisciplinarmostra-se de grande relevncia para o en-tendimentodo momento em questo.

    Perodo democrtico e ausnciascontemporneas

    Em meados da dcada de 1970, om da ditadura militar anunciado comouma abertura democrtica gradual e segu-ra. Um dos marcos que determina o mdesse perodo a eleio, via sufrgio in-direto, de um presidente no militar parao pas. Com a morte do candidato esco-lhido, Tancredo Neves, antes mesmo desua posse, o vice Jos Sarney torna-se oprimeiro civil a reger o pas, desde a depo-sio de Joo Goulart em 1964.

    No campo comunicacional, o Go-verno Sarney que tem como Ministrodas Comunicaes o poltico baiano An-tonio Carlos Magalhes , marcadopela utilizao ostensiva das conces-ses de televiso como moeda de trocapoltica, principalmente em negociaesligadas ao processo de promulgaoda nova Constituio. Entre os anos de1985 e 1988, Sarney outorga 1028 con-

    cesses ou permisses de rdio e televi-so. Isto representa, poca, 30% das

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    concesses feitas no Brasil, desde 1922.(JAMBEIRO, 2002).

    Com raras excees, os benecia-

    dos foram parlamentares, que direta ou in-diretamente (por meio de seus familiaresou scios) receberam as outorgas em tro-ca de apoio poltico a projetos de Sarney,especialmente para a extenso do man-dato do presidente para cinco anos. Dos91 constituintes que foram premiados compelo menos uma concesso de rdio outeleviso, 84 (92,3%) votaram a favor dopresidencialismo e 82 (90,1%) votaram afavor do mandato de cinco anos (INTER-

    VOZES, 2007, p. 6).

    Em relao aos debates sobre osdispositivos que regulamentariam a TV,durante a Constituinte, cabe destacar aintensa polarizao entre entidades li-gadas aos trabalhadores da rea de co-municao, conduzidos pela FederaoNacional dos Jornalistas (Fenaj) tendocomo principais bandeiras a criao deum Conselho Nacional de Comunicaopara regular o rdio e a TV e a restrioda explorao de canais de rdio e televi-so a organizaes sem ns lucrativos e empresrios do setor, liderados, princi-palmente, pela Associao Brasileira dasEmissoras de Rdio e Televiso (Abert),que defendiam a permanncia do contro-le da radiodifuso pelo poder executivo,alm da explorao destes servios pelainiciativa privada (JAMBEIRO, 2002).

    O texto nal do Captulo da Co-municao Social da Constituio de1988 (BRASIL, 1988) se caracteriza pordeterminaes como: a transformaoda proposta de Conselho Nacional deComunicao em Conselho de Comu-nicao Social, um rgo consultivo doCongresso; a extenso da competnciada aprovao de concesses ao poderlegislativo, alm do executivo; a depen-

    dncia de, no mnimo, dois quintos dosdeputados e senadores para reprovar a

    renovao de uma concesso; o estabe-lecimento de prazos para permisses econcesses na televiso, quinze anose na rdio, dez; dentre outras.

    Apesar dos avanos, a maio-ria dos dispositivos criados permaneceaguardando regulamentao. o casodos itens que abordam a regionalizaode programas, a proibio aos mono-plios e oligoplios,os direitos dos te-lespectadores em relao aos serviosprestados pela emissora, e do art. 223,que cria trs modos complementares deexplorao dos servios de televiso:

    privado, estatal e pblico. Para OthonJambeiro (2000, p. 81),

    a televiso, considerada uma das ar-mas mais poderosas para a conso-lidao do regime militar, continuouconstituindo um aparato fundamentalpara a perpetuao das elites polticae econmica do novo regime. A per-manncia dos princpios bsicos da le-gislao, estabelecidos durante a dita-dura, deve-se seguramente ao fato daTV ser um instrumento de poder que ogoverno civil no quis perder.

    Ainda no bojo desse processo,buscando centralizar a comunicao es-tatal e ampliar o poder da Presidnciasobre tais veculos, o Decreto n 95.676,de janeiro de 1988 institui o sistema decomunicao social e divulgao da Ad-

    ministrao Federal, determinando atransferncia da Radiobrs, ento vincu-lada ao Ministrio da Comunicao, e daFundao Centro Brasileiro de TV Edu-cativa (Funtev)II com suas emissoras que integram a estrutura do Ministrioda Educao h 21 anos para o Minis-trio da Justia e para o Gabinete Civilda Presidncia da Repblica, respecti-vamente.Contudo, menos de um ano de-pois de realizada a transferncia,o De-

    creto n. 98.052 de janeiro 1989 devolvea Fundao ao MEC.

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    Tambm durante o Governo Sarney criado o Ministrio da Cultura (MinC),devido s presses dos movimentos so-ciais, intelectuais e artsticos que reivin-

    dicam a institucionalizao da cultura eo reconhecimento de sua singularidade.Uma das mais destacadas instncias demobilizao foi, sem dvidas, o Frum deSecretrios Estaduais de Cultura, criadoem 1983 no bojo do movimento redemo-cratizante das primeiras eleies diretaspara governos estaduais depois do golpede 1964,que resulta na proliferao desecretarias de cultura. A militncia destesgestores atrai e incita a imprensa e o Go-

    verno Federal, tornando irreversvel a ins-tituio do MinCIII(BOTELHO, 2001).

    A despeito da relevante conquista,o Ministrio enfrenta graves problemas,nos seus primeiros anos.

    A sua implantao um exemplocontundente desta tradio de instabilida-de: criado em 1985 por Sarney; desman-telado por Collor e transformado em se-cretaria em 1990; novamente recriado em1993 por Itamar Franco. Alm disto, foramdez dirigentes responsveis pelos rgosnacionais de cultura em dez anos (1985-1994): cinco ministros nos cinco anos deSarney; dois secretrios no perodo Collore trs ministros no governo Itamar Franco.(RUBIM, 2012, p. 36)

    A instabilidade da instituio no

    provm apenas da pouca permannciados dirigentes do ministrio. A atuao narea cultural nestes trs governos entre-meada de descontinuidades. No momentonal da ditadura e durante o Governo Sar-ney (1985-1989), por exemplo, so cria-das diversas instituies da rea cultural.Destas, grande parte extinta no GovernoCollor (1990-1992), que no primeiro e tu-multuado experimento neoliberal no pas,praticamente desmonta a rea de culturano plano federal (RUBIM, 2012, p. 36-37).Esse o caso da Funarte, da Fundao

    Nacional de Artes Cnicas (Fundacen),criada em 1987, e do prprio MinC, queinclui em sua estrutura rgos como aEmbralme e o ConcineIV, e transforma-

    do em um Secretaria. Em seguida, ItamarFranco, em seu Governo (1992-1993), tra-ta de recriar tais rgos.

    A poltica cinematogrca ilustra-tiva do perodo. A extino dos principaisrgos norteadores do setor, como partedo Programa Nacional de Desestatizaodo governo Collor, efetivada sem quehaja um projeto de polticas que substituao modelo anterior. A crise, agravada pelo

    surgimento de novas tecnologias substitu-tivas ao cinema, promove um expressivoretrocesso para o mercado cinematogr-co do Brasil que, em 1993, lana apenastrs lmes. (EARP, SROULEVICH, 2009)

    Delineia-se, j a partir do GovernoSarney, apesar da paradoxal criao dasinstituies culturais acima citadas, a ten-tativa de substituio do Estado pelo mer-cado como agente das polticas culturais.Como principais ferramentas so adota-das de leis de incentivo scal, como a Lein. 7.505 de 1986, a Lei Sarney, posterior-mente substituda pela Lei n. 8.313 de1991, que institui o Programa Nacional deApoio Cultura (Pronac), mais conhecidacomo Lei Rouanet. Tais normas visam aincentivar que pessoas jurdicas ou fsicasapliquem parte do Imposto de Renda, a t-tulo de doaes ou patrocnios, no apoio

    direto a projetos culturais, ou por meio decontribuies ao Fundo Nacional de Cultu-ra. (SALGADO; PEDRA; CALDAS, 2010).

    Cultura e Mercado

    Fernando Henrique Cardoso (FHC)assume a presidncia do pas em 1995.Como parte do processo de reformas decunho liberalizante do seu Governo, est

    a reestruturao do setor de telecomuni-caes iniciada com a promulgao da

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    Emenda Constitucional n. 8 de 1995,que elimina a exclusividade na explora-o dos servios pblicos a empresassob controle acionrio estatal, permitin-

    do a privatizao e introduzindo o regimede competio. Em relao s telecomu-nicaes, as iniciativas se baseiam nasubstituio do Cdigo Brasileiro de Te-lecomunicaes por uma legislao maismoderna, cujos marcos seriam a Lei n9.472, conhecida como Lei Geral de Tele-comunicaes (LGT), aprovada em julhode 1997, e a Lei Geral da ComunicaoEletrnica de Massa (LGCEM), que nochegou a sair do papel. Com a promul-

    gao da LGT, revogada toda a regula-mentao referente s telecomunicaesdo Cdigo Brasileiro de Telecomunica-es, composto atualmente apenas pelosdispositivos que dizem respeito radiodi-fuso, situao anunciada como transi-tria (BOLAO, 2007, p. 42).

    Ainda segundo Bolao (2007), doarcabouo regulatrio da LGT, destaca--se a criao de um organismo regula-dor independente. Agncia Nacionalde Telecomunicaes (Anatel) cabe de-nir a regulamentao do setor, com asmisses de promover a justa competio,defender os direitos e interesses dos con-sumidores dos servios e estimular o in-vestimento privado. A proposta do entoministro das Comunicaes, Srgio Mottaera reintegrar, posteriormente, a regula-mentao do rdio e da televiso hertizia-

    na aos demais servios de telecomunica-es, utilizando-se do poder regulador auma agncia independente que se fun-diria com a Anatel, formando a AgnciaNacional das Comunicaes (Anacom)(idem, ibidem, p. 48).

    Com a morte do ministro SergioMotta, em 1998, sua proposta de uma Leide Comunicao Eletrnica de Massa,em substituio ao antigo Cdigo Brasi-

    leiro de Telecomunicaes abandonadapelo seu sucessor, Luiz Carlos Mendon-

    a de Barros, e posteriormente retomadapor Pimenta da Veiga. Na gesto desteltimo, em setembro de 1999, o jorna-lista Daniel Herz, ento coordenador do

    FNDC, publica uma verso do anteproje-to, a m de derrubar a cortina de silnciocriada pelo ministrio em torno da elabo-rao dessa lei e para contribuir com overdadeiro debate pblico (FOLHA DESO PAULO apud BOLAO, 2007, p42). Cerca de um ano e meio depois, emjunho de 2001, publicado na internet,para consulta pblica, um anteprojeto deLei de Radiodifuso. Mesmo possuindoum carter bastante conservador, con-

    trariando a proposta inicial do ministroMotta, a minuta no logra ser enviada aolegislativo. Segundo Pimenta da Veiga,seu anteprojeto de Lei de Radiodifusoperdeu o timing, no sendo assunto paraser tratado em m de governo (ZANAT-TA, 2002 apudBOLAO, 2007, p.49)

    Para alm das privatizaes nosdiversos setores da economia nos oitoanos do Governo FHC, na rea cultural atransferncia da atuao do estado parao mercado, que d seus primeiros passosainda durante o Governo Sarney, tambmatinge o seu pice. O estmulo atuaopuramente mercadolgica pode ser repre-sentado pelo livreto Cultura um bom ne-gcio, distribudo pelo MinC, na poca ca-pitaneado por Francisco Weffort (RUBIM.A e RUBIM. L, 2004).

    Alis, se houve poltica de cultura,ela se concentrou em ampliar a utiliza-o das leis de incentivo pelo mercado.A utilizao de dinheiro pblico subordi-nado a deciso privadas e ampliou bas-tante. Um estudo sobre nanciamentoda cultura mostrou que o uso de recur-sos sofreu profunda transformao en-tre 1995, 66% das empresas e 34% derenncia scal, e 2000, 35% das empre-sas e 65% de renncia scal. (DRIA,

    2003, p. 101) Em outras palavras, as leisde incentivo ao investimento privado em

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    cultura estavam desestimulando tal ati-tude, pois o dinheiro cada vez mais erapblico (RUBIM, 2012, p. 38).

    No que diz respeito ao mbito daradiodifuso pblica/educativa, sob osauspcios do Estado, a Funtev, j reno-meada Fundao Roquette Pinto (FRP),e suas emissoras, a TVE-BR e a RdioMEC, enfrentam uma sria crise econ-mica, fruto da diminuio signicativa doapoio tcnico e nanceiro desde 1993,que resulta no declnio de sua programa-o e inuncia. Dois anos depois, o r-go novamente transferido, desta vez

    do MEC para a Secretaria de Estado deComunicao do Governo (Secom). Em1997, iniciam-se as negociaes, no m-bito do Governo Federal para a extinoda Fundao e sua substituio por umaOrganizao Social (OS), fato que se con-cretiza em janeiro de 1998, com a institui-o da Associao de Comunicao Edu-cativa Roquette Pinto (Acerp). Assim, como argumento de maior independncia daspresses estatais, a alterao jurdica re-meteu a emissora lei da selva da sobre-vivncia do mercado miditico. (VALEN-TE, 2009d, p. 273)

    A enftica assertiva do ColetivoIntervozes encontra eco nos dados apre-sentados por outros autores. Liana Mila-nez (2007, p. 167), no livro TVE: Cenas deuma histriarelata que:

    Com as mudanas para organizaosocial, a ento Fundao Roquette--Pinto, detentora de um oramentoanual de R$ 80 milhes, assinou umcontrato de gesto com o GovernoFederal como Acerp e teve sua verbareduzida para R$ 12 milhes. O r-go supervisor, conforme o decretopresidencial (n 1.361 01/01/1995)passou a ser a Secretaria de Comu-nicao do Governo e Gesto Estra-

    tgica da Presidncia da Repblica Secom/PR.

    A iniciativa complementada, ain-da, pela promulgao da Lei n 9.637 de15 de maio de 1998, que dispe sobre aqualicao de entidades como organiza-

    es sociais. Contribuindo para a exibi-lizao da publicidade nas emissoras deservio pblico no Brasil, a norma jurdicadetermina que:

    [as] entidades que absorverem ativi-dades de rdio e televiso educativapodero receber recursos e veicularpublicidade institucional de entidadesde direito pblico ou privado, a ttulode apoio cultural, admitindo-se o pa-

    trocnio de programas, eventos e pro-jetos, vedada a veiculao remunera-da de anncios e outras prticas quecongurem comercializao de inter-valos (BRASIL, 1998, online).

    Esse dispositivo, sem dvidas,abre um importante precedente para aincluso do apoio cultural como fontede recurso das rdios e TVs de serviopblico, ainda que restrinja sua utiliza-o s organizaes sociais que operamemissoras educativas de televiso, aexemplo da Acerp.

    Tambm merece relevo, no pero-do, a promulgao da lei 8.977 de 1995,conhecida como a Lei do Cabo. A promul-gao desta norma jurdica contribui so-bremaneira para a radiodifuso de serviopblico, ao possibilitar a reserva de canais

    gratuitos para a sociedade, possibilitandoa existncia de emissoras legislativas, uni-versitrias e comunitrias, bem como umcanal educativo-culturalVsob responsabili-dade do poder executivo. Posteriormente,a Lei n 10.461, de 2002, determina tam-bm a incluso de um canal do judicirio.

    Trata-se de um passo importanterumo ampliao das ofertas televisivas,ainda que restrito parcela minoritria da

    populao que tem acesso a esse tipo deservio. Parte dessas emissoras conse-

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    varo Moiss, reestruturada. So institu-dos concursos pblicos, linhas de crdito,prmios etc.XI A ao mais signicativa,porm, segundo Melina Marson (2006), se

    refere s restries impostas aos novoscineastas, como a criao de limites paracaptao e a denio de critrios maisrgidos para a emisso de certicados au-diovisuais, atravs da utilizao da ava-liao curricular do proponente (p. 132).Embora aclamada pelos cineastas maisinuentes, a medida contribui para acirrara diviso do setor cinematogrco, devi-do a seu carter restritivo e de priorizaodos cineastas de grandes produes.

    Por outro lado, as iniciativas no logramresponder aos anseios dos prossionaisdo setor audiovisual.

    A crise atravessada pelo cinemanacional pode ser explicitada pela publi-cao, na revista Veja, da matria Caros,ruins e voc paga, de autoria de CelsoMasson(1999), que questiona a viabilida-de e a necessidade do investimento estatalem cinema, fundamentada em fracassosde bilheteria, bem como nos escndalosda interrupo do audacioso lme Chatdo ator Guilherme FontesXII que j ha-via captado o montante R$7,5 milhes docusto estimado de R$ 12 milhes , e daconstatao de irregularidades na utiliza-o dos R$ 2,5 milhes captados para arealizao de O Guarani, de Norma Ben-gell (1996)XIII. Em tom irnico, o texto tam-bm critica as iniciativas de fomento do

    audiovisual.

    Outro episdio ilustra o descompas-so entre o MinC e os prossionais do cam-po cinematogrco no perodo: a propos-ta, apresentada ao presidente FernandoHenrique Cardoso pelo ministro Weffort,j em 2000, de estender o acesso s leisde incentivo s emissoras de radiodifuso,a m de inseri-las na produo cinemato-grca. Neste caso, porm, as consequ-ncias so diversas. Com diculdadespara conseguir patrocnio em virtude da

    crise e em pnico frente perspectiva deuma concorrncia desleal da televiso(MARSON, 2006, p. 139), os cineastas seunem e se mobilizam diante do inimigo co-

    mum: a televiso comercial.

    A insatisfao do modelo estrutu-rado pelas leis de incentivo, da crise eco-nmica que se desdobrava intensamenteno setor e da falta de ao do Ministrioda Cultura em relao a uma poltica efe-tiva para o cinema fez com que cineastaspassassem a se movimentar para umaarticulao poltica que pudessem apro-xim-los do Estado, buscando dialogar

    com outras esferas do governo. (ALVA-RENGA, 2010, p. 49-50).

    Diante de tal conjuntura, o SenadoFederal instala uma Subcomisso de Ci-nema, a m de investigar a atividade ci-nematogrca no Brasil, diagnosticandoproblemas e propondo alternativasXIV. Asatividades da Subcomisso ocorrem en-tre julho de 1999 e junho de 2000, per-odo em que so convidados a prestaremdepoimento cineastas, produtores, repre-sentantes de grupos exibidores, de distri-buidoras, de associaes de prossionais,pesquisadores, coordenadores de festi-vais de cinema e o prprio Secretrio parao Desenvolvimento do Audiovisual. (ALVA-RENGA, 2010)

    Cabe ressaltar a importncia dostrabalhos da Subcomisso para a intro-

    duo das discusses sobre a situaodo cinema brasileiro no Poder Legislati-vo, fato que contribui para a propagaoe acolhimento das propostas apresenta-das pela corporao cinematogrca, du-rante o III Congresso Brasileiro de Cine-ma (III CBC) em 2000.

    Grande parte das temticas discu-tidas na Subcomisso do Senado foi re-tomada com maior ou menor relevncia

    no III Congresso Brasileiro de Cinema(III CBC), o qual obteve uma represen-

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    tao setorial macia, desdobrando-seno estreitamento das relaes entre acorporao cinematogrca e o PoderExecutivo Federal.

    Mais de quarenta anos aps a rea-lizao dos dois primeiros congressos, realizado, ento, o III CBC, presidido pelocineasta Gustavo Dahl. Prossionais e en-tidades do setor audiovisual incluindoexibidores, distribuidores e representantesde emissoras de TV pblicas e privadas se renem para debater o cinema brasilei-ro, na cidade de Porto Alegre, entre 28 dejunho e primeiro de julho. Dentre as 69 re-

    solues derivadas do evento, constam acontinuidade do CBC como entidade per-manente e o apoio criao, no mbito doGoverno Federal, de um rgo gestor daatividade cinematogrca, que vem a sera Agncia Nacional do Cinema (Ancine),constituda em setembro de 2001.

    Aps a realizao do evento queconta com a participao mais de 40 as-sociaes ligadas ao setor audiovisual, o Presidente FHC, reconhecendo suarepresentatividade, convoca membros domeio cinematogrco e do governo, com ointuito de discutir e viabilizar o atendimen-to das demandas apresentadas. A reunioresulta na criao em 13 de setembro de2000, por um decreto sem nmero, doGrupo Executivo de Desenvolvimento daIndstria do Cinema (Gedic)XV, com o ob-jetivo de articular, coordenar e supervisio-

    nar as aes para o desenvolvimento deprojeto estratgico para a indstria cine-matogrca brasileira.

    Finalizados os trabalhos do Gedic,no dia 23 de maro de 2001 apresen-tado o sumrio executivo do pr-projetode planejamento estratgico do grupo. Otexto sugere a adio de cinco medidas:a) a criao de uma agncia reguladorado setor; b) o fortalecimento da atuao

    da Secretaria do Audiovisual junto s ati-vidades de carter no-industrial, visto

    que agncia caberia as iniciativas re-lativas ao cinema enquanto indstria; c)a ampliao do fomento atividade cine-matogrca, por meio da criao de um

    fundo, da taxao do faturamento publi-citrio nas redes de televiso e de apa-relhos audiovisuais, do recolhimento deum percentual sobre as loterias da CaixaEconmica Federal, bem como do provi-mento de recursos oramentrios gover-namentais; d) modicao da legislaoa m de promover a ao empresarialnos setores da produo, distribuio,exibio e infraestrutura tcnicaXVI; e)taxao das redes de televiso, em 4%

    do seu faturamento publicitrio, visando coproduo e aquisio de direitos deantena dos lmes brasileiros de produoindependente (ALVARENGA, 2010).

    Grande parte das propostas apre-sentadas pelo Gedic, portanto, consi-derada na edio da Medida Provisria(MP) 2228-1XVII, de 2001. O processo deelaborao desse dispositivo legal traz umexemplo bastante ilustrativo do perodoem questo. Em entrevista, Gustavo Dahl(2010, p. 132-133), relata:

    Ento comeou a redao dentro daCasa Civil do projeto de criao da An-cine [...]. Depois houve uma propostade lei, ela foi discutida internamente,mas sempre se achou que ela seriauma Medida Provisria, mas comomexia com vrios interesses, ela foi

    tratada dentro de um sigilo, porm foidiscutida internamente tanto no Gedic,quanto em vrios Ministrios, sobretu-do no Ministrio da Fazenda, em que oSecretrio da Receita na poca era oEverardo Maciel, tambm no Minist-rio das Comunicaes que tinha comoministro o Pimenta da Veiga e o Minis-trio da Cultura tambm participou.

    Ou seja, a m de evitar polmicas e

    embates em torno das propostas apresen-tadas pelo Gedic, a elaborao da norma

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    jurdica se d de forma sigilosa e reduzidaa um pequeno nmero de pessoas. Ade-mais, sua instituio atravs de MP, e node uma Lei que implicaria discusso e

    apreciao pelo Congresso Nacional epelo Senado , tambm revela o carterantidemocrtico do processo.

    Em relao Ancine, por exem-plo, a proposta inicial, segundo Gus-tavo Dahl (2010) de criao de umaagncia reguladora que viesse a abarcartodo o setor audiovisual, e no apenaso cinema. No entanto, as presses dosradiodifusores, naquele momento, so-

    mam-se urgncia para a publicao danorma jurdica, visto que a promulgaoda Emenda Constitucional n. 32, com ointuito de coibir os abusos do poder exe-cutivo em relao s Medidas Provis-riasXVIII, iminente. (BRASIL, 2001a)

    quando a Medida Provisria (MP) es-tava pronta e o Ministrio das Comu-nicaes tinha participado, houve umamanifestao conjunta das emissorasde televiso se recusando em seremreguladas pelo governo e pela MP,elas conversaram com o presidenteFernando Henrique para comunicaremque no estavam de acordo com aspropostas da MP, fazendo uma pres-so violenta, ento o governo federalrecuou e restringiu a MP ao cinemae produo videofonogrca. [...] otermo videofonogrco foi modicado

    dois dias antes da aprovao da MP,numa reunio tensa na Casa Civil coma presena de alguns elementos, dorelator e de grupos da televiso, con-siderando o fato de no haver viabili-dade para a aprovao da MP. (DAHL,2010, pp. 134-135)

    A nova agncia reduz, portanto,seu campo de atuao, excluindo toda equalquer meno regulao televisiva.

    O governo tambm suprime da MP a pro-posta de taxao das emissoras, em 4%

    do faturamento bruto, para coproduode obras cinematogrcas. Outra ques-to que merece destaque a vinculaoda Ancine. O texto determina seu atrela-

    mento ao Ministrio do Desenvolvimentoda Indstria e Comercio, no entanto, suapermanncia transitria na estrutura daCasa Civil, prevista para durar um ano, prorrogada em 2002, transferindo aoGoverno posterior as decises, e o con-fronto, entre a poltica cultural e a indus-trial (BRASIL, 2001b). Por outro lado, aMP 2228-1, e as consequentes criaoda Ancine e do Conselho Superior de Ci-nema conguram grandes conquistas da

    corporao cinematogrca.

    Entre 14 e 18 de novembro de2001, realizado, na cidade do Rio de Ja-neiro, o IV Congresso Brasileiro de Cine-ma (IV CBC). Sua carta nal demarca asconquistas da mobilizao resultante do IIICBC, em especial quanto estruturaoda Ancine e de uma poltica pblica para ocinema. Em seu Relatrio Final, o IV CBCenfatiza, ainda:

    O IV Congresso Brasileiro de Ci-nema chama a si a defesa do conte-do audiovisual nacional, absolutamenteconvicto de que o Cinema Brasileiro expresso essencial da criatividade e di-versidade cultural do povo brasileiro. Re-conhecem, os congressistas, que o cine-ma nacional produzido com recursos dopovo brasileiro, que tambm , em ltima

    instncia, o nanciador da TV brasileira,tendo, portanto, o direito de acesso aoseu cinema, em sua TV. intolervel apersistncia do excessivo e quase incon-trolvel poder dos meios de comunicaosocial sobre a vida cultural e poltica danao (IV CONGRESSO BRASILEIRODE CINEMA, 2001,online).

    Ou seja, so reiteradas deman-das, j apresentadas anteriormente eainda no solucionadas: o estmulo construo de salas de exibio, a inter-

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    nacionalizao do cinema brasileiro, e aatuao efetiva do Estado no fomento eregulamentao da articulao entre ocinema e a televiso.

    Consideraes fnais

    A reexo retrospectiva sobre astrajetrias das polticas culturais e de co-municao no Brasil entre 1985 e 2002,conrmam as trs tristes tradies res-saltadas por Rubim (2012): autoritarismo,instabilidade e ausncia. No perodo abar-cado, a despeito de diferenciaes pontu-

    ais, possvel constatar o encadeamento,sem alteraes profundas, das relaesentre a implantao de polticas culturais eautoritarismo e asinstabilidades e ausn-cias nos perodo democrtico.

    Apesar dos avanos obtidos noperodo, as polticas para o setor audiovi-sual so formuladas e implementadas deforma desintegrada e a televiso seguerestrita ao mbito do Ministrio das Comu-nicaes de um ponto de vista eminen-temente tcnico , de modo que:

    as reas de Educao e Cultura poucotiveram a dizer a respeito, exceto nocampo de suas emissoras especcas,de escassa audincia. Assim, quantoao contedo da programao e emespecial quanto ao seu compromissocom valores democrticos, o poder

    pblico pouco tem efetuado, candoas poucas iniciativas positivas e asmuitas duvidosas ao exclusivo arbtriodas emissoras (JANINE, 2001, p. 1).

    Signica dizer que a ausncia deuma poltica pblica efetiva implica nainstituio de uma poltica comunicacio-nal e, portanto, cultural regida ape-nas pelos interesses do mercado. Espe-cialmente no que diz respeito ao mbito

    regulatrio, a instituio de mudanasconjunturais, em especial as que contra-

    riam interesses das empresas de radio-difuso so inviabilizadas por acirradascampanhas, ou ainda por profundos si-lenciamentos, por parte dos meios de co-

    municao tradicionais. Por outro lado, anecessidade de atualizao da legislaopara o setor premente.

    Tal quadro passa a apresentar no-vos matizes apenas a partir do ano de2003, aps a paradigmtica gesto de Gil-berto Gil frente ao Ministrio da Cultura.Por sua relevncia e carter inaugurador,tal perodo, ao contrrio do momento anali-sado ao longo deste texto, vem sendo alvo

    de diversas e relevantes investigaes.

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    Recebido em 16/12/2015

    Aprovado em 07/10/2016

    I Renata Rocha. Centro de Estudos Multidiscipli-nares em Cultura / Universidade Federal da Bahia.Bolsista em Polticas Culturais do Programa Nacional dePs-Doutorado - CAPES/UFBAVice-coordenadora do Centro de Estudos Multidiscipli-nares em Cultura - UFBA

    II Criada em 1967, pela Lei n 5.198, a Fundao Cen-tro Brasileiro de TV Educativa (FCBTV), vinculada aoMinistrio da Educao e Cultura, tinha como nalidadea produo, aquisio e distribuio de material audio-visual destinado radiodifuso educativa. Seis anos de-pois de sua criao, a FCBTVE recebe autorizao paraestabelecer uma estao de televiso aberta, a TVE-BR Canal 2, que utilizaria o canal 2 do Rio de Janeiro,antes ocupado pela TV Excelsior(MILANEZ, 2007). Em1982, a sigla FCBTV alterada para Funtev.

    III A atuao contundente do Frum resulta na indica-o de seu presidente, o Secretrio de Cultura de MinasGerais, Jos Aparecido de Oliveira, para assumir o Mi-nistrio quando de sua criao.

    IV Como rgos componentes da estrutura bsica doento Ministrio da Cultura, quando este foi extinto, tam-bm o foram a Embralme e o Concine, atravs da Me-dida Provisria n. 150 de 1990, posteriormente transfor-mada na Lei 8.028, de 12.4.1990. (SIMIS, 2008)

    V Em 2001, a m de contrapor-se aos gostos domercado (MINC TIRA DO AR..., 2003, online) a Se-cretaria de Audiovisual do MinC cria o canal Cultura eArte. Operado pela TV Cultura, por meio de contrato,o Canal, em seu primeiro ano de existncia, custa aoscofres pblicos cerca de R$ 4,7 milhes. A programa-o, de 60 horas semanais, consiste na exibio de do-cumentrios, lmes e programas de debates, alm deobras nanciadas pelo governo, por meio das leis deincentivo (Lei do Audiovisual e Lei Rouanet). O Canal descontinuado em 2003, antes mesmo de completardois anos de existncia.

    VI No ano de 1993, a Associao Brasileira deEmissoras de Antenas Comunitrias (ABRACOM) transformada na ABTA. Segundo Murilo Ramos

    (apud BOLAO, 2007), a mudana representavamais que uma simples alterao no nome e estatutoda organizao, visto que ela ocorre aps a entradade grandes empresas (a exemplo das OrganizaesGlobo, o Grupo Abril e a recm-criada Multicanal) nomercado da televiso por assinatura. Estes trs gru-pos empresariais assumem os cargos principais dadiretoria e do conselho deliberativo da nova entida-de, minimizando a influncia dos pequenos e mdiosempresrios que atuam no mercado da televiso porassinatura, via concesses do servio de distribuiode sinais de TV por meio fsico.

    VII Para mais informaes sobre os embates e nego-ciaes em torno da Lei do Cabo, ver Jambeiro (2002)e Bolao (2007).

  • 7/25/2019 Polticas para o audiovisual no Brasil (1985-2002): Estado, cultura e comunicao na transio democrtica

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    Ano 6, nmero 10, semestral, out/2015 a mar/ 2016

    Disponvel em http://www.pragmatizes.uff.br

    VIII Viabilizado por meio do prmio Resgatecom recur-sos remanescentes da extinta Embralme.

    IX No ano de 1998, as crises sequenciais dos merca-dos emergentes do Mxico, da Rssia e de alguns pa-ses da sia afetaram a economia brasileira. SegundoAlvarenga (2010), como reao, o governo brasileiroestabelece uma poltica cambial de desvalorizao doreal perante o dlar, somada poltica monetria deaumento dos juros, a m de retrair o efeito inacionrioque se seguiria a esta ao.

    X Conforme j mencionado, o nanciamento realizadoera dedutvel do imposto de renda, com base nos lucrosauferidos pelas empresas.

    XI So exemplos destas aes os programas: Mais Ci-nema, com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econmico e Social (BNDES), Banco do Brasil e Ser-

    vio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),que disponibiliza R$ 80 milhes (em valores da poca)em emprstimos para produtores, distribuidores e exi-bidores; a destinao de verbas para marketing de l-mes nacionais; concursos pblicos para novos talentos,curtas-metragens, documentrios e longas-metragensautorais; bolsa virtuose para formao prossional; cria-o do Grande Prmio Cinema Brasil, saudado como oOscar brasileiro (MARSON, 2006).

    XII Cuja pr-estreia ocorreu apenas em novem-bro de 2015.

    XIII Em valores da poca. Ao atualiz-los para o msde dezembro de 2015, levando em considerao o ndi-ce de Preos ao Consumidor Amplo (IPCA), os valoresso de R$ 21.1 milhes, R$ 33.8milhes, e R$7 mi-lhes, respectivamente. Cf: http://calculoexato.com.br/parprima.aspx?codMenu=FinanAtualizaIndice. Acessoem 22 abr. 2014.

    XIV Segundo Marson (2006), em maio de 1999,antes mesmo dos escndalos de Chat e O Guaranitornarem-se pblicos, o senador Francelino Pereira doPartido da Frente Liberal (PFL) solicita a instalao dasubcomisso. Sua criao, porm, aprovada ape-nas no ms seguinte.

    XV O grupo era constitudo pelos ministros PedroParente (Casa Civil), que o coordenou; Aloysio Nu-nes (Secretaria Geral da Presidncia da Repblica);Andrea Matarazzo (Secretar ia de Comunicao deGoverno da Presidncia da Repblica); FranciscoWeffort (Cultura); Pimenta da Veiga (Comunica-es); Pedro Malan (Fazenda); e Alcides Tpias(Desenvolvimento, da Indstria e do Comrcio Ex-terior). Os profissionais do setor audiovisual eramos cineastas Gustavo Dahl, Cac Diegues e LuizCarlos Barreto; alm do ento diretor geral da Co-lumbia Tristar Buena Vista Filmes do Brasil, RodrigoSaturnino Braga e de um representante da indstriatelevisiva, o funcionrio da TV Globo, Evandro Gui-mares (ALVARENGA, 2010).

    XVI As mudanas visam criao da cota de tela paraa produo independente na programao televisiva; ampliao dos segmentos de empresas a pagarem aContribuio para o Desenvolvimento da Indstria Cine-matogrca; e ao prolongamento das leis de rennciascal (ALVARENGA, 2010).

    XVII Dentre as quais: o estabelecimento dos princ-pios gerais da Poltica Nacional do Cinema, a criaodo Conselho Superior do Cinema e da Agncia Nacionaldo Cinema (Ancine), a instituio do Programa de Apoioao Desenvolvimento do Cinema Nacional (Prodecine),a autorizao para criar Fundos de Financiamento daIndstria Cinematogrca Nacional (Funcines) e a alte-rao da legislao sobre a Contribuio para o Desen-volvimento da Indstria Cinematogrca Nacional (Co-decine) (BRASIL, 2001b).

    XVIII Em caso de relevncia e urgncia, o Presi-

    dente pode baixar uma Medida Provisria, que temfora de lei, sem a participao do poder legislati-vo. Para sua converso, de fato, em lei, a MP deveser submetida s duas casas do Congresso Nacionalpara sua aprovao no prazo de 60 dias, prorrogvelpor igual perodo. No entanto, segundo Toshio Mukai(1999 apud PEDRON, 2000, p. 3) o presidente daRepblica [FHC] tomou a reiterao da edio dasmedidas provisrias uma praxe comum e corriqueira,tanto que passou a simplesmente reedit-las, men-salmente, com idntico contedo e a mesma nume-rao. Dessa forma, a utilizao ostensiva e inade-quada deste dispositivo legal impulsiona a edio daEmenda Constitucional n. 32/01, que traz vrias res-tries ao uso do dispositivo, tais como: delimitaodas matrias compatveis com o instituto, mudanasno prazo de apreciao pelo Congresso Nacional efinalmente, a previso legal da impossibilidade da re-edio das medidas provisrias.